Anexo 12 – Sítios Arqueológicos
Mapeamento dos Sítios Arqueológicos da região: Trabalho de Pesquisa e levantamento da
Arqueóloga Jussara Louzada Becker e Edílio Maximiliano Becker
“Tradições Arqueológicas em Três Cachoeiras – RS
As tradições Arqueológicas aqui representadas foram pesquisadas durante o trabalho de cam-
po (levantamento arqueológico) com vistas ao Plano Diretor deste município:
Tradição Humaitá- São grupos humanos caçadores-coletores, considerados de floresta, pois
são em geral encontrados seus sítios arqueológicos em ambientes florestados.
Na Argentina são denominados Alto-Paranaense e no Brasil chama-se Tradição Hu-
maitá, originada durante o “Òtimo Climático” 6.500-4.000anos a.P(antes do Presente).
São portadores de material lítico característico desta tradição arqueológica – macha-
dos-de- mão (bifaciais retos ou curvos), percutores de aresta e raspadores que, a tornam in-
confundível.
De todo o Litoral Norte do RS, somente neste município encontrou-se sítios arqueológi-
cos desta Tradição até este momento. Apresentem-se como sambaquis (concheiros ou cas-
queiros), compostos de fauna marinha predominantemente. Foram datados pela Geologia em
3.000 anos a.P., são considerados, além de arqueológicos, depósitos marinhos de idade holo-
cênica, possivelmente marcadores ou indicadores da última transgressão do Oceano Atlântico
(transgressão marinha).
Os sítios arqueológicos desta Tradição ainda estão sendo pesquisados, pois envolvem
diversos aspectos de ciências multidisciplinares- Biologia Marinha, Climatologia, Geologia Ma-
rinha, Antropologia, Paleobotânica, etc.
Tradição Umbu- Grupos humanos caçadores-coletores-pescadores, cujos materiais arqueoló-
gicos compõem-se de instrumentos líticos, sobreviventes ao passar dos anos- pontas de projé-
til, bifaces, talhadores, buris, raspadores e percutores.
Nesta pesquisa até este momento, neste município, encontrou-se raros materiais líticos
em abrigos-sob-rocha. De formas que, a Tradição continua em estudo.
Em tempos aproximados ao final da Tradição Umbu, aparecem em seus sítios arqueo-
lógicos, materiais que, comprovam o contato cultural com diversos grupos horticultores – frag-
mentos de cerâmica Tupiguarani e Taquara.
As datas mais antigas da Tradição Umbu estão situadas ao redor de 4.000 anos a.C.
até mais ou menos 500 anos d.C., segundo as primeiras pesquisas dos arqueólogos pioneiros
no RS –Miller, Schmitz e Mentz Ribeiro.
Tradição de Caçadores-Coletores do Sambaqui Raso- Os sítios arqueológicos desta Tradição
caracterizam-se pelo acúmulo de restos de conchas marinhas e/ou águas mixohalinas, ossos
de peixes, de caça, vestígios de sementes de frutos silvestres, somados a sepultamentos hu-
manos e materiais líticos. Tais restos formam montes mesclados à areia que, à primeira vista,
parecem constituídos somente de conchas. Representam os hábitos alimentares e culturais de
grupos humanos pré-históricos denominados caçadores-coletores.
Os sambaquis são encontrados nos mais diversos litorais do planeta Terra, portanto,
trata-se de um fenômeno arqueológico mundial. Além dos restos de alimentação representam o
aspecto místico desta tradição, pois no sambaqui eram sepultados os mortos e os respectivos
acompanhamentos funerários, alguns representativos da arte do grupo humano – colares de
vértebras de peixes e de conchas perfuradas, asperção de laterita (ocre vermelho) ralada sobre
o morto marcações de local do túmulo com pedras e conchas terrestres, marinhas ou lacus-
tres. Diversos aspectos dos sepultamentos e rituais ainda estão sendo pesquisados, pois de-
vem revelar muito da vida mística deste grupo pré-histórico.
Calcula-se pela Geologia e acúmulo dos materiais no sambaqui, que, devem datar de
2.000 anos a.P. até praticamente a chegada do homem branco europeu a região litorânea.
Tradição Taquara- Os sítios arqueológicos desta Tradição foram encontrados inicialmente em
casas subterrâneas no Planalto Meridional, junto a materiais cerâmicos (tigelas, potes e paneli-
nhas) de cor preta ou marrom escura, decoradas externamente ou alisadas.
A casa subterrânea é um tipo de habitação Neolítica encontrada em diversas partes
frias da Terra, porém nos mais variados modelos e materiais usados na construção das mes-
mas, por diversas culturas pré-históricas.
Neste município, ainda não foram encontradas casas subterrâneas, pois elas são en-
contradas somente na serra, porém alguns fragmentos da cerâmica Taquara, foram descober-
tos nos sambaquis rasos abundantes na planície e zona lacustre de Três Cachoeiras.
Tais sítios arqueológicos estão assentados sobre dunas próximas às lagoas, rios e
algumas áreas de banhados. Representam um tipo de adaptação às condições litorâneas da
última regressão marinha, a pelo menos 2.000 anos a.P.
Contatos culturais comprovados de gupos de caçadores-coletores coma Tradição Ta-
quara, é tema ainda de estudo e aprofundamento, dada a sua importância e descoberta inédita
dos contatos.
Tradição Tupiguarani- Identifica esta tradição, os sítios arqueológicos que, apresentam material
cerâmico em forma de vasilhames uilitários: urnas, panelas e pratos, os quais foram utilizados
nas mais diversas atividades culturais ( preparação e cozimento de alimentos, rituais, sepulta-
mentos humanos e armazenamento).
Para efeitos de estudos arqueológicos, em 1969, o Prof.Dr. José Proença Brochado
reuniu e classificou as cerâmicas dos grupos de índios horticultores-ceramistas numa tradição
cultural: a tradição cerâmica Tupiguarani, coincidindo em nomenclatura com o grupo lingüístico
Tupi-guarani.
Sob o aspecto lingüístico, a pesquisa recai nos estudos de Glotocronologia, ciência que
indica o local de origem do tronco lingüístico Tupi-habitantes da floresa tropical, a Amazônia
Meridional.
Estudos geomorfológicos apontam as condições climáticas e pressões adaptativas
sobre grupos humanos pré-históricos da periferia do sudoeste amazônico – como fatores mi-
gratórios. Grupos teriam se deslocado, migrando em busca de ambiente semelhante ao ama-
zônico.
Em data aproximada ao nascimento de cristo, os primeiros grupos humanos ter-se-iam
fixado nas florestas subtropicias ao longo dos rios Paraná e Uruguai, entraram no Estado do rio
Grande do Sul, possivelmente através do rio Ijuí (Louzada Becker, 1983).
Dentro do estado, o provável caminho e colonização, teria ocorrido através dos rios
Uruguai-Ijuí-Jacuí, e dali alcançaram o litoral norte em sucessivas levas humanas.
A orientação cultural deste grupo horticultor-ceramista era povoar áreas ribeirinhas,
lagoas e proximidades da orla marinha, em locais mais altos, sobre dunas e terraços marinhos.
O padrão de subsistência deste grupo tinha grupo tinha na mandioca o principal produ-
to da horticultura indígena, plantada no modo costumeiro- a coivara no interior da floresta sub-
tropical.
Os demais itens da alimentação: coleta de frutos e moluscos terrestres, caça e pesca
nos rios, lagoas e mar.
As aldeias eram compostas de casas, em geral, de linguagem comunal, confecciona-
das com estacas, cobertas de palhas variadas oferecidas pelo ambiente litorâneo. Muitas ve-
zes, construíam paladiças ao redor das aldeias para proteção contra atqques de outros grupos.
O Tupiguarani foi o último grupo pré-histórico a se instalar no município, e o mais nu-
meroso em termos de aldeias, porém aqui chegou possivelmente como conquistador: capaci-
dade adaptativa aos trópicos e antropófago.”
Arqueóloga – Jussara L. Louzada Becker
S.A.B nº 018
Mapa dos Sítios Arqueológicos