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FARMACOEPIDEMIOLOGIA

A farmacoepidemiologia estuda a efetividade, segurança e uso de medicamentos após a comercialização, evoluindo através de três eras que vão de avaliações rudimentares a métodos rigorosos e observacionais. Ela é crucial para entender o uso real de medicamentos, monitorar reações adversas e promover o uso racional, que é frequentemente comprometido por práticas inadequadas. O Brasil, com um sistema de saúde descentralizado, enfrenta desafios na promoção do uso racional de medicamentos, especialmente entre populações vulneráveis.

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A farmacoepidemiologia estuda a efetividade, segurança e uso de medicamentos após a comercialização, evoluindo através de três eras que vão de avaliações rudimentares a métodos rigorosos e observacionais. Ela é crucial para entender o uso real de medicamentos, monitorar reações adversas e promover o uso racional, que é frequentemente comprometido por práticas inadequadas. O Brasil, com um sistema de saúde descentralizado, enfrenta desafios na promoção do uso racional de medicamentos, especialmente entre populações vulneráveis.

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INTRODUÇÃO A FARMACOEPIDEMIOLOGIA

É o estudo da efetividade, segurança e utilização de medicamentos pós-comercialização nas


populações

Histórico e Evolução do Conceito de Farmacoepidemiologia

A avaliação de medicamentos evoluiu através de três eras distintas:

Primeira Era: Até meados do século XX, a avaliação de medicamentos era baseada em experiências
pessoais e amostras limitadas, sem vigilância pós-comercialização. Medicamentos eram lançados sem
avaliação rigorosa, como a aspirina, que foi "testada" de forma rudimentar.

Segunda Era: Essa fase trouxe uma abordagem mais rigorosa, com a introdução de ensaios clínicos
randomizados e duplo-cegos, minimizando a subjetividade e a confusão. Tornou-se o padrão-ouro para
avaliação de medicamentos, com ênfase na medicina baseada em evidências. Um marco foi o ensaio de
1948 que demonstrou a eficácia da estreptomicina para tuberculose.

Terceira Era: Sobrepondo-se à segunda, esta era reconhece a importância da avaliação em ambientes de
uso real. A farmacoepidemiologia emerge dessa conscientização, focando na utilização prática e nos
efeitos dos medicamentos na população.

Importância e Aplicações da Farmacoepidemiologia

A avaliação clínica de medicamentos antes da aprovação segue uma metodologia rigorosa, com ensaios
clínicos divididos em três fases:

 Fase I: Realizada com voluntários saudáveis.

 Fase II: Envolvendo os primeiros ensaios em pacientes.

 Fase III: Realizada em ensaios multicêntricos. (estudo realizado de acordo com um único
protocolo, em mais de um centro de ensaio e/ou em mais do que um país)

Após a comercialização, é essencial a realização de estudos de farmacoepidemiologia, que investigam a


efetividade, segurança e utilização de medicamentos nas populações.

Vigilância Pós-Comercialização: Vai além da farmacovigilância e abrange:

 Condições de uso e mau uso.

 Análise de fatores clínicos e econômicos.

 Verificações de eficácia a longo prazo.

 Quantificação de reações adversas a medicamentos (RAM).

 Qualidade da informação sobre medicamentos.

 Monitoramento da automedicação.

A farmacoepidemiologia, portanto, refere-se à prescrição de medicamentos após a aprovação


regulatória (fase IV), estudando o uso em condições reais e visando descrever e explicar o uso de
medicamentos fora das limitações dos ensaios clínicos. Seus três objetivos principais são estudar a
efetividade, segurança e utilização dos medicamentos na prática clínica.

Métodos em Farmacoepidemiologia

A farmacoepidemiologia utiliza métodos observacionais, contrastando com os métodos experimentais


das fases I, II e III dos ensaios clínicos. Ela desenvolve duas abordagens principais:

1. Abordagem Descritiva (Não Comparativa)


 Objetivo: Observar fenômenos de maneira retrospectiva, prospectiva ou transversal.
Retrospectiva: Estuda eventos passados, analisando dados já disponíveis, como prontuários.

Prospectiva: Acompanha indivíduos ao longo do tempo para observar eventos futuros.

Transversal: Coleta dados de um único momento, oferecendo uma "fotografia" de uma situação
atual.

 Exemplo: Análise de dados sobre a utilização de medicamentos em uma população sem


comparações formais entre grupos.

2. Abordagem Analítica (Comparativa ou Etiológica)

 Objetivo: Investigar associações entre a ocorrência de efeitos (positivos ou negativos) e a


exposição a um ou mais medicamentos.

 Exemplo: Estudo de reações adversas a medicamentos (RAM) usando o método caso/não caso.
Esse método analisa a desproporcionalidade entre o número de RAM associado a um
medicamento específico e a média de RAM de outros medicamentos. Essa validação inicial
pode ser seguida por estudos mais rigorosos, como caso-controle ou coorte, para confirmar os
achados.

Essas abordagens complementares permitem uma análise abrangente da segurança e eficácia dos
medicamentos na prática clínica.

CASO CONTROLE: Permite medir a associação entre um fármaco e um evento (desejável ou não)
indetectável durante os ensaios clínicos. Os estudos de caso-controle incluem primeiro os casos para a
análise. Eles permitem especialmente a detecção de eventos raros ou de início tardio.

COORTES: É o método de escolha para estudar um evento relacionado ao medicamento de alta


frequência.

METANÁLISE: É a referência cruzada de banco de dados ou estudos de população de casos

Campos de Aplicação da Farmacoepidemiologia

A farmacoepidemiologia complementa os dados de ensaios clínicos e se concentra em três áreas


principais:

1. Estudos de Prescrição e Consumo de Fármacos

 Definição: Investiga o uso real de medicamentos após a comercialização, incluindo marketing,


distribuição e práticas de prescrição.

 Aspectos: Analisa características dos pacientes, prescritores e as quantidades prescritas,


considerando variações regionais e fatores que influenciam a prescrição, tanto racionais quanto
irracionais.

 Exemplo: A alta prescrição de benzodiazepínicos em idosos, apesar dos riscos conhecidos.

2. Estudo da Eficácia do Medicamento

 Foco: Avalia a eficácia a longo prazo dos medicamentos em condições reais, considerando
critérios clínicos, como:

o Diminuição da morbidade.

o Diminuição da mortalidade.

o Melhora da qualidade de vida.


 Diferenciação: A eficácia se relaciona a dados intermediários (biológicos) enquanto a
efetividade é avaliada por resultados clínicos.

 Exemplo: Estudos demonstrando a efetividade de anticoagulantes na prevenção de


tromboembolismo venoso.

3. Riscos Associados a Medicamentos

 Objetivo: Complementa a farmacovigilância, quantificando riscos em nível populacional.

 Métodos: Usa bancos de dados de farmacovigilância para identificar e investigar mecanismos


de reações adversas, como o risco de diabetes associado a certos neurolépticos.

 Relevância: A farmacoepidemiologia é fundamental para entender o uso real de medicamentos


e prevenir reações adversas, assegurando uma melhor prescrição.

Esses campos de aplicação demonstram a importância da farmacoepidemiologia na promoção do uso


racional de medicamentos, contribuindo para a segurança e eficácia no tratamento de pacientes na
prática clínica.

ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO DO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS

O uso racional de medicamentos pode ser definido como a prescrição do medicamento certo, em dose
suficiente para a duração apropriada e adequada às necessidades clínicas dos pacientes, ao menor custo.
mas a realidade mostra que o uso irracional é comum, com mais de 50% dos medicamentos prescritos
de forma inadequada. Isso impacta significativamente os orçamentos de saúde, com os medicamentos
representando de 10% a 40% desses gastos, dependendo do país. Embora o uso racional tenha se
tornado mais importante, a literatura revela que muitos pacientes ainda não utilizam os medicamentos
de forma adequada.

motivos que levam ao uso irracional dos medicamentos: Pouca informação sobre os medicamentos.
Treinamento e educação defeituosos e insuficientes dos profissionais da saúde. Comunicação
desprivilegiada entre profissionais da saúde e pacientes Ausência de serviços de diagnósticos. Insistência
do paciente. Sistema de fornecimento de medicamentos abaixo do padrão e sem regulamentação.
Marketing promocional das indústrias farmacêuticas.

O uso irracional de medicamentos pode ser subdividido nos seguintes tipos:

Uso de muitos medicamentos por paciente (polimedicação). Uso inadequado de antimicrobianos, muitas
vezes em condições inadequadas de doses e para infecções não bacterianas. Uso excessivo de injeções
quando as formulações orais seriam mais apropriadas. Falha em prescrever de acordo diretrizes clínicas.
Automedicação inadequada, muitas vezes sem orientação.

As razões para o uso irracional de medicamentos incluem falta de conhecimento, fácil acesso a
medicamentos, sobrecarga dos profissionais de saúde, promoção inadequada e preços elevados. Apesar
dos avanços recentes na promoção do uso racional, é crucial quantificá-lo e garantir que essa abordagem
seja aplicada em todas as situações médicas. Isso é vital para melhorar o acesso a cuidados de saúde e
garantir os direitos humanos relacionados à saúde.

consequências para o uso irracional de medicamentos: Aumento da morbidade e da mortalidade.


Desperdício de recursos. Aumento da incidência de reações adversas a medicamentos. Resistência
antimicrobiana por uso indevido e excessivo. Aumento de doenças infecciosas devido a injeções
contaminadas e desnecessárias.

A falta de acesso a medicamentos e doses inadequadas podem causar sérias consequências de saúde,
especialmente em doenças crônicas, resultando em alta morbidade e mortalidade. O uso excessivo e
inadequado pode levar a reações adversas e aumentar a demanda por medicamentos desnecessários,
afetando o estoque para outros pacientes.
Para combater o uso irracional, é essencial monitorar a prescrição, dispensação e uso de medicamentos,
focando em três aspectos: tipos e quantidades de uso irracional, e razões subjacentes para esses
padrões. Métodos estabelecidos na literatura podem ajudar a medir e entender esses problemas,
permitindo o desenvolvimento de estratégias eficazes.

O monitoramento do uso de medicamentos é realizado através de várias abordagens. A coleta de dados


sobre o consumo pode identificar medicamentos caros com baixa eficácia e comparar o uso real com o
esperado, com base em dados de morbidade. A classificação ATC/DDD é uma metodologia que permite
comparar o consumo entre diferentes instituições, regiões e países. Os indicadores de uso de
medicamentos da OMS ajudam a identificar problemas de prescrição e qualidade nos atendimentos em
unidades de saúde. Além disso, a avaliação específica do uso de medicamentos, como revisões em
hospitais, pode detectar problemas relacionados ao tratamento de doenças. Métodos qualitativos, como
grupos focais, entrevistas e questionários estruturados, são úteis para explorar as razões subjacentes ao
uso irracional. Os dados coletados são essenciais para projetar intervenções e medir seu impacto no uso
de medicamentos.

PRÁTICAS ESSENCIAIS PARA PROMOVER O USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS

Um órgão nacional para multidisciplinar é crucial coordenar políticas de uso racional de medicamentos,
abordando fatores sociais e do sistema de saúde. Esse órgão deve implementar regulamentações, como
a ANVISA, e envolver o governo, profissionais de saúde, academia, indústria farmacêutica, grupos de
consumidores e ONGs. A eficácia das intervenções aumenta quando são realizadas de forma
coordenada, pois ações isoladas geralmente têm impacto limitado. Isso destaca a necessidade de uma
abordagem colaborativa na promoção do uso racional de medicamentos.

As diretrizes clínicas são orientações sistemáticas que auxiliam prescritores na escolha de tratamentos
adequados para condições específicas, sendo essenciais para promover o uso racional de medicamentos.
Elas oferecem referências de diagnóstico e tratamento, permitindo comparações com outras opções. As
diretrizes são eficazes porque são desenvolvidas de forma participativa, são de fácil leitura, e são
acompanhadas de treinamento e ampla divulgação. Além disso, são reforçadas por auditorias de
prescrição. Devem ser elaboradas para todos os níveis de atendimento, considerando as condições
clínicas prevalentes e as habilidades dos prescritores, com recomendações baseadas em evidências e
atualizações regulares para garantir credibilidade e aceitação.

Medicamentos essenciais são aqueles que atendem às principais necessidades de saúde da população.
Uma lista de medicamentos essenciais (LME) facilita o gerenciamento, compras, armazenamento e
prescrição, simplificando o trabalho dos profissionais. A LME nacional deve ser baseada em diretrizes
clínicas e servir como base para listas em estados e municípios. A seleção dos medicamentos é feita por
um comitê central, usando critérios acordados que consideram eficácia, segurança, qualidade, custo e
relação custo-benefício. As LME devem ser atualizadas regularmente, com sua utilização acompanhada
por lançamentos oficiais, treinamento e divulgação.

As Comissões de Farmácia e Terapêutica (CFT) são grupos responsáveis por garantir a segurança e
eficácia no uso de medicamentos, promovendo seu uso racional e econômico, especialmente em
hospitais. O sucesso das CFTs depende de objetivos claros, apoio da alta direção, transparência,
representação diversificada, competência técnica e recursos adequados. No Brasil, além dos hospitais, as
CFTs também atuam em órgãos do SUS, como o Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde.

A informação sobre medicamentos que os médicos recebem frequentemente é fornecida pela indústria
farmacêutica, o que pode ser tendencioso. Portanto, informações imparciais são essenciais, sendo os
Centros de Informação de Medicamentos (CIM) e boletins de medicamentos duas formas eficazes de
divulgação. Esses serviços podem ser geridos pelo governo, hospitais universitários ou ONGs, sempre
sob a supervisão de profissionais de saúde treinados.

Para promover o uso racional de medicamentos, além das práticas já mencionadas, podem ser
implementadas várias estratégias, como:
- Treinamento em farmacoterapia na graduação e educação continuada para profissionais de saúde.

- Controle, auditoria e comentários sobre prescrições.

- Educação pública sobre medicamentos.

- Prevenção de incentivos financeiros inadequados.

- Regulamentação obrigatória.

Organizações que promovem a saúde e o uso racional de medicamentos incluem o governo, que realiza
investigações e avalia programas, e a OMS, que recomenda ações e coordena esforços regionais. ONGs
também desempenham um papel importante ao interpretar dados e envolver a população.

O uso inadequado de medicamentos é uma preocupação, especialmente entre as populações


vulneráveis, podendo levar a hospitalizações e mortes. Para enfrentar esse problema, estratégias
incluem:

- Medir o impacto e realizar análises de custo-benefício.

- Formar alianças e fornecer informações à comunidade.

- Comunicar atualizações sobre as consequências do uso irracional.

- Empoderar consumidores com informações sobre medicamentos.

- Promover boas práticas e experiências bem-sucedidas.

- Integrar o uso racional no currículo educacional e informar políticos sobre o tema.

- Abordar globalmente o problema, buscando resoluções e alocação de fundos.

- Lidar com excessos da indústria farmacêutica para reduzir seu impacto negativo.

Essas ações visam garantir um uso mais seguro e eficaz de medicamentos em benefício da saúde pública.

Modulo 3

O Brasil é o 5º maior país e 10ª maior economia do mundo, com uma população de mais de 209,5
milhões, 81% vivendo em áreas urbanas. A expectativa de vida média é de 76,3 anos, com um aumento
na população idosa e no surgimento de doenças crônicas, como doenças cardíacas e diabetes, que são
responsáveis por quase 27% das mortes. Apesar da diminuição das doenças infecciosas, elas ainda
impactam, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece cobertura integral a todos os cidadãos e é descentralizado, com
a gestão da saúde em nível municipal. A coleta de dados é realizada pelo DATASUS, e a evolução do
sistema de saúde no Brasil tem se intensificado desde a década de 1990, culminando na criação do SUS
em 1988, que estabeleceu a saúde como um direito universal.

Historicamente, a partir dos anos 1970, houve esforços para organizar a política de saúde, levando à
Reforma Sanitária e à definição de princípios que guiam o SUS. A informatização no setor de saúde tem
avançado, mas ainda enfrenta desafios, especialmente no setor privado, onde menos de 7% dos
hospitais têm sistemas de informação.

Os sistemas de informação em saúde no Brasil têm sido fragmentados, mas estão se integrando com
iniciativas do Ministério da Saúde. Estatísticas de mortalidade são frequentemente mais confiáveis do
que as de morbidade, e eventos significativos na década de 1970, como a regulamentação do registro
civil e a criação de sistemas de informação, foram cruciais para o desenvolvimento do setor. Hoje, o
Ministério da Saúde e outras fontes complementares produzem dados importantes para entender a
saúde da população.
O DATASUS é a divisão de informática do SUS, responsável por coordenar a implantação do Sistema
Nacional de Informação em Saúde. Sua missão inclui auxiliar estados e municípios na utilização da
informática, proteger as bases de dados nacionais de informação sanitária, disponibilizar dados ao
público e definir padrões para o intercâmbio de informações entre os sistemas de saúde público e
privado. Os principais usuários do DATASUS são: secretarias e conselhos de saúde federais, estaduais e
municipais; funcionários de unidades de saúde, universidades e centros de pesquisa; órgãos de
fiscalização; instituições judiciais e policiais; sociedade civil; ONG; imprensa; e cidadãos.

O fluxo de informações em saúde inicia na unidade de atendimento, onde os dados são coletados
manualmente ou por software do DATASUS. Esses dados são enviados à Secretaria Municipal de Saúde,
que os digita e encaminha à Secretaria Estadual de Saúde. Esta última agrega as informações do estado,
utilizando softwares do DATASUS, e envia os dados para a própria entidade. O DATASUS também
disponibiliza software e acesso ao banco de dados nacional pela internet. Além disso, desenvolveu
diversos sistemas de informação para facilitar esse processo: O Sistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM) foi implementado em 1975, inspirado em experiências bem-sucedidas de estados
como Rio Grande do Sul e São Paulo. O SIM visa criar um quadro epidemiológico nacional e desenvolveu
um formato padrão para a declaração de óbito, adotado em todo o Brasil. Desde sua criação, o
Ministério da Saúde é responsável pela coleta e publicação regular de dados sobre mortalidade no país.

O Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SINASC) foi instituído pelo Ministério da Saúde em 1990
para coletar informações epidemiológicas sobre todos os nascidos vivos no Brasil. O sistema utiliza a
declaração de nascido vivo, padronizada em todo o país, que é preenchida tanto para partos hospitalares
quanto domiciliares. Além de sua função estatística, essa declaração ajuda a localizar mães e recém-
nascidos, facilitando o planejamento de ações de saúde. As informações do SINASC são particularmente
úteis para analisar e apoiar intervenções na saúde materno-infantil, como acompanhamento da gravidez
e cuidados com recém-nascidos.

O Sistema de Notificação de Agravos de Notificação (SINAN) foi implementado a partir de 1993 como
parte da vigilância epidemiológica no Brasil, regulamentado pela Lei 6.259 de 1975. Seu objetivo é
coletar, transmitir e divulgar dados sobre doenças e agravos listados como de notificação obrigatória,
recebidos de relatórios e investigações nas três esferas de governo. Os dados são registrados, por
exemplo, na folha de investigação de caso individual. O SINAN possibilita uma análise dinâmica das
doenças na população, ajudando a identificar riscos e oferecendo explicações causais, o que contribui
para um entendimento mais abrangente das condições epidemiológicas em diferentes regiões do país.

O Sistema de Informação Hospitalar (SIH) foi criado em 1976 pelo Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS) com foco no gerenciamento financeiro dos pagamentos de serviços intra-hospitalares. Além
de sua função original, o SIH também é utilizado para fins epidemiológicos. O principal documento de
entrada é a Autorização de Internação Hospitalar (AIH), que reúne dados sobre internações no Sistema
Único de Saúde (SUS) em todo o país.

O VigiMed é um sistema eletrônico disponibilizado pela ANVISA desde dezembro de 2018, destinado a
coletar informações sobre eventos adversos relacionados a medicamentos e vacinas no Brasil. O sistema
permite à ANVISA avaliar e monitorar esses eventos para minimizar riscos e aumentar a segurança no
uso de medicamentos. Vantagens incluem um fluxo melhor de notificações, modernização das
funcionalidades e facilitação na divulgação de dados. O VigiMed substituiu o Notivisa para eventos
adversos, enquanto este último continua a ser utilizado para queixas técnicas sobre qualidade. O foco é
garantir a qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos e vacinas.

A Epidemiologia é a ciência que estuda os processos de saúde e doença em populações, permitindo


identificar fatores determinantes de doenças e prever seus impactos. Esse conhecimento é fundamental
para ações de controle e prevenção, além de fornecer dados para planejamento e avaliação de serviços
de saúde. O diagnóstico em saúde envolve a coleta de dados sobre características econômicas,
socioculturais e ambientais da população, ajudando a identificar problemas e formular intervenções.
Medidas de frequência, como incidência e prevalência, são essenciais para mensurar a ocorrência de
doenças. A incidência refere-se ao número de novos casos de uma doença em uma população durante
um período específico, focando em indivíduos inicialmente saudáveis que se tornam doentes. Essas
medidas ajudam a entender a dinâmica de doenças e orientar estratégias de saúde pública.

A prevalência é uma medida que indica a frequência de casos existentes de uma doença em uma
população em um determinado momento. Ela é calculada pela soma dos casos antigos e novos (casos
incidentes) em um período específico. A prevalência é influenciada pela incidência e é especialmente útil
para identificar a necessidade de recursos e estratégias de saúde, principalmente em relação a doenças
crônicas ou de longa duração. Medir a prevalência permite a formulação de ações terapêuticas e
diagnósticas que beneficiam populações vulneráveis.

Os indicadores em saúde são cruciais para a avaliação das condições de saúde da população e o
planejamento de ações em saúde. Eles podem ser positivos, relacionados à expectativa de vida, ou
negativos, refletindo taxas de mortalidade. Além disso, podem ser gerais ou específicos, considerando
variáveis como sexo, idade e causa.

**Indicadores de Mortalidade:**

- **Taxa de Mortalidade Geral (TMG)**: Mede o número total de óbitos em relação à população total,
refletindo a saúde coletiva.

- **Taxa de Mortalidade Específica (TME)**: Avalia o risco de óbito em grupos específicos da população,
como por faixa etária, causa ou gênero.

A Taxa de Mortalidade Infantil (TMI), uma subcategoria da TME, é um importante indicador do


desenvolvimento humano. Para investigações epidemiológicas, é fundamental definir claramente o
objetivo e escolher o método adequado para responder à pergunta de pesquisa.

Os estudos em Epidemiologia são fundamentais para investigar questões de saúde em populações. Eles
se dividem em dois tipos principais: estudos experimentais, onde o investigador realiza intervenções, e
estudos observacionais, onde não há intervenção.
Estudos Observacionais

1. Descritivos:

o Ecológicos: Comparam doenças entre populações. Fáceis de realizar, mas a


interpretação pode ser difícil.

o Relatos de Casos: Descrevem eventos clínicos raros e ajudam a formular hipóteses,


embora possam levar a conclusões equivocadas.

o Transversais: Medem a prevalência de doenças em um ponto específico no tempo. São


econômicos e úteis, mas limitados para doenças raras.

2. Analíticos:

o Estudos de Coorte: Longitudinais, com acompanhamento de grupos expostos e não


expostos para calcular riscos de doenças.

o Estudos de Caso e Controle: Comparam casos (indivíduos doentes) e controles (não


doentes) para identificar fatores de risco. Fáceis e rápidos, mas dependem de uma boa
seleção de controles.

Estudos Experimentais

 Ensaios Clínicos: Avaliam intervenções terapêuticas, com alocação aleatória de participantes


em grupos de intervenção e controle. Oferecem evidências sólidas, mas podem ser caros e
enfrentar barreiras éticas.

Esses métodos são cruciais para entender e melhorar a saúde da população, formulando e testando
hipóteses sobre a relação entre fatores de risco e doenças.

Vantagens dos Ensaios Clínicos

 Avaliam intervenções terapêuticas.

 Reduzem vieses e conclusões equivocadas.

 Podem resultar em novas terapias.

 Fornecem evidência científica robusta.

Desvantagens dos Ensaios Clínicos

 São caros e demorados.

 Questões éticas podem inviabilizá-los, especialmente em casos raros.

Medidas de Associação em Estudos Epidemiológicos

A pesquisa epidemiológica busca identificar relações causais entre exposições e desfechos. As principais
medidas de associação incluem:

1. Risco Relativo (RR): Compara o risco de desenvolver uma doença entre expostos e não
expostos.
2. Razão de Chances (RC): Mede a chance de um evento ocorrer em um grupo em relação ao
outro.

3. Risco Atribuível (RA): Indica a proporção de casos que podem ser atribuídos a uma exposição
específica.

4.

5. Redução de Risco Relativa (RRR): Avalia a diminuição do risco em um grupo tratado em


comparação com um grupo controle

6. Número Necessário para Tratar (NNT): Quantidade de pacientes que precisam ser tratados para
prevenir um evento adverso.

7. Número Necessário para Causar Efeito Colateral (NNEC): Quantidade de pacientes que
precisam ser tratados para observar um efeito colateral.

8. A redução absoluta de risco (RAR) expressa a redução do risco no grupo que sofreu a
intervenção (no caso do nosso estudo hipotético, a intervenção de interesse é utilizar o novo
medicamento) em relação ao grupo controle

9. número necessário para causar dano ou efeito colateral (NND) serve para definir quantos
indivíduos deverão sofrer exposição a determinado fator de risco em um período e que tenha a
capacidade de causar algum dano. Em termos práticos, o NND, a partir do total de pessoas
tratadas, estipula em quantas haverá a manifestação de um evento adverso

Razão de Chances (Odds Ratio - OR)

A razão de chances (OR) é uma medida de associação utilizada em estudos epidemiológicos,


especialmente em estudos de caso e controle. Ela compara as chances de um evento ocorrer entre
indivíduos expostos a um fator de risco e aqueles não expostos.

- **Interpretação**: Mede as odds de ocorrência de uma doença.

- **Diferença do Risco Relativo (RR)**: A OR foca nas chances, enquanto o RR considera a probabilidade.
A OR é calculada pela razão das odds de exposição entre casos e controles, sendo útil quando não é
prático calcular o risco diretamente.

Essas medidas ajudam a compreender a magnitude da associação entre exposição e desfecho em


estudos epidemiológicos, especialmente em estudos de coorte.

Ensaios Clínicos Randomizados

Os ensaios clínicos randomizados são estudos de intervenção onde o pesquisador aplica


intencionalmente uma intervenção para avaliar seu efeito. Eles são considerados o padrão-ouro em
estudos epidemiológicos e podem ser controlados (randomizados ou não).

Princípios e Fases

 Objetivo: Comparar a eficácia de uma intervenção terapêutica ou profilática.

 Randomização: Atribuição aleatória dos participantes aos grupos de intervenção e controle,


garantindo a eliminação de vieses.

 Fases: Após estudos pré-clínicos, os ensaios clínicos são geralmente classificados em quatro
fases, cada uma com objetivos específicos, incluindo a avaliação em larga escala e a
comparação com tratamentos padrão.

Principais características dos ensaios clínicos controlados randomizados

Estudos Experimentais: Envolvem questões éticas e são sempre conduzidos de forma


prospectiva.

Estrutura Semelhante a Estudos de Coorte: Utilizam randomização para alocar participantes


em grupos semelhantes.

Grupos: Um grupo recebe o novo tratamento (intervenção) e o outro atua como controle,
recebendo o tratamento padrão.

Controle Rigoroso: Necessário para comparar os efeitos entre os grupos de intervenção e


controle.

Randomização: Distribuição aleatória entre os grupos, assegurando que as diferenças


observadas sejam devidas à intervenção.

Tamanho da Amostra e Organização dos Ensaios Clínicos

 Tamanho da Amostra: Deve ser suficiente para garantir resultados robustos e poder estatístico,
permitindo que os achados sejam aplicáveis na prática clínica.

 Planejamento e Monitoramento: É crucial definir critérios de inclusão/exclusão, tratamento a


ser avaliado e desfechos de interesse. O monitoramento deve garantir a adesão dos
participantes, evitar perdas e registrar eventos adversos.

 Mascaramento e Placebo: O mascaramento (duplo cego) evita viés de observação. Placebos


devem ser semelhantes aos tratamentos para garantir a validade dos resultados.

 Ética nos Estudos: Ensaios clínicos devem seguir diretrizes éticas rigorosas, como a Declaração
de Helsinki, e serem aprovados por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Consentimento
informado é essencial.
Revisões Sistemáticas e Metanálises

 Revisão Sistemática: Estratégia para identificar, avaliar e sintetizar estudos relevantes,


reduzindo vieses.

 Metanálise: Técnica estatística que combina dados de estudos similares, proporcionando uma
estimativa quantitativa da eficácia da intervenção.

 Para realizar uma revisão sistemática, deve-se primeiramente elaborar uma pergunta de
pesquisa que guiará a busca por estudos clínicos relevantes em diferentes bases de dados. A
seleção dos artigos deve ser baseada nessa pergunta e na similaridade das metodologias
empregadas. Após a seleção, procede-se à extração de dados e à análise da qualidade dos
estudos. A metanálise é então realizada para sintetizar os dados dos artigos escolhidos,
avaliando as evidências. Por fim, os resultados da revisão sistemática são compilados,
desenvolvidos, redigidos e publicados.

 A metanálise é uma análise estatística que combina os resultados de diferentes estudos


independentes para obter uma estimativa de efeito mais precisa. Ela permite avaliar de maneira
mais robusta os resultados de intervenções com metodologias semelhantes. A partir dos
resultados das metanálises, novas perguntas de pesquisa podem ser formuladas, contribuindo
para o desenvolvimento de novos estudos epidemiológicos e investigações, além de gerar novas
hipóteses.

Farmacovigilância

 Importância da Farmacovigilância: A farmacovigilância é fundamental para monitorar a


segurança dos medicamentos após sua comercialização, pois os ensaios clínicos pré-venda não
são representativos de todos os pacientes e não revelam completamente os efeitos adversos,
especialmente em grupos vulneráveis. O monitoramento pós-comercialização permite identificar
reações adversas raras e graves, o que é vital para a segurança dos usuários.
 Objetivos da Farmacovigilância: Visa melhorar a segurança e a eficácia no uso de
medicamentos, identificar problemas, comunicar descobertas rapidamente e promover o uso
racional e seguro dos medicamentos. Ela também educa profissionais de saúde e a sociedade.
 Histórico da Farmacovigilância: Embora recente, a farmacovigilância começou a evoluir no
século XIX, com o primeiro caso de reação adversa grave ao uso de clorofórmio. Ao longo do
tempo, eventos como o uso da heroína e da talidomida revelaram riscos significativos, levando
ao desenvolvimento de leis de segurança e à criação de sistemas de monitoramento de
medicamentos.
 Sistemas de Farmacovigilância: Existem diferentes sistemas de farmacovigilância ao redor do
mundo, todos baseados nas diretrizes da OMS. Na Europa, o sistema é coordenado pela Agência
Europeia de Medicamentos (EudraVigilance), enquanto nos EUA a FDA supervisiona as
atividades. No Brasil, a ANVISA desempenha um papel central com o sistema VigiMed e a
Rede Hospitalar Sentinela para garantir a segurança no uso de medicamentos.
 As Reações Adversas aos Medicamentos (RAM) são uma causa significativa de morbidade e
mortalidade evitáveis, apesar dos avanços da terapia moderna. Estudos indicam que as RAM são
a quarta principal causa de morte nos EUA, além de representarem 10% de todas as
hospitalizações, com impacto em internações prolongadas, aumento de custos e baixa satisfação
dos pacientes.
 No momento da comercialização de um medicamento, sua segurança ainda é limitada, pois os
ensaios clínicos envolvem poucos participantes, o que dificulta a detecção de RAM raras. A
diversidade genética da população também não é refletida nos ensaios, tornando a avaliação de
RAM uma etapa crucial no uso de medicamentos.
As Reações Adversas a Medicamentos (RAM), segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), são respostas prejudiciais e não intencionais que ocorrem em doses normais usadas para
prevenção, diagnóstico, terapia de doenças ou modificação de funções fisiológicas.
Diferentemente dos eventos adversos, as RAM possuem uma relação causal estabelecida com o
medicamento. Elas também são distintas dos efeitos colaterais, que podem, em alguns casos, ser
benéficos. O Evento Adverso de Medicamento (EAM) é qualquer ocorrência clínica
indesejada que surge durante o tratamento com um medicamento, sem que haja,
necessariamente, uma relação causal direta com o fármaco. O EAM envolve qualquer resultado
negativo durante o uso de um medicamento, mas sem que seja obrigatoriamente provocado pela
ação do fármaco. Já a Reação Adversa a Medicamento (RAM) é um tipo específico de EAM
em que a gravidade e natureza do efeito não correspondem ao que está previsto na rotulagem ou
caracterização do medicamento. O efeito colateral é um efeito indesejado de um medicamento
que ocorre nas doses usuais administradas ao paciente e está relacionado às propriedades
farmacológicas e ao mecanismo de ação do fármaco. Diferente das reações adversas, os efeitos
colaterais podem, em alguns casos, ser benéficos. Por exemplo, um β-bloqueador utilizado para
tratar hipertensão pode, além de seu efeito principal, também aliviar a angina, demonstrando um
efeito colateral positivo. Um evento sentinela é um incidente grave que resulta em dano
significativo, representa um risco de dano, ou prejudica a imagem institucional. Esses eventos
requerem uma investigação detalhada, normalmente realizada por meio de análise de causa raiz,
para entender suas causas e evitar recorrências no futuro. Um evento adverso grave é uma
ocorrência clínica indesejada que, independentemente da dose, pode levar a consequências
sérias, como morte, necessidade de hospitalização ou prolongamento da internação já existente,
além de resultar em deficiência persistente ou significativa ou anomalia congênita. Erro de
medicação é qualquer evento evitável que pode causar o uso inadequado de medicamentos ou
danos ao paciente enquanto o medicamento está sob controle do profissional de saúde ou do
paciente. Pode estar relacionada à prática profissional, aos procedimentos de cuidado à saúde
como prescrição, dispensação, manipulação, rotulagem, distribuição, administração,
monitoramento e uso de medicamentos.
Fatores Predisponentes a Reações Adversas a Medicamentos (RAM)
As RAM são influenciadas por múltiplos fatores, que podem ser classificados em:
1. Fatores Relacionados ao Medicamento
 Dose e Frequência: A dosagem e a hora da administração impactam a eficácia e a ocorrência de
RAM. Por exemplo, a aspirina é mais eficaz se tomada à noite, enquanto diuréticos não devem
ser administrados à noite.
 Politerapia: A prescrição de múltiplos medicamentos aumenta o risco de interações e RAM,
especialmente em idosos, que costumam usar vários fármacos.
 Erro de Medicação: O uso de medicamentos da mesma classe para tratar uma condição pode
causar RAM.
2. Fatores Relacionados ao Paciente
 Idade: Pacientes em extremos de idade (crianças e idosos) são mais suscetíveis a RAM.
Cálculos inadequados de dosagem pediátrica e alterações fisiológicas em idosos podem
contribuir para isso.
 Gênero: Diferenças fisiológicas entre homens e mulheres afetam a farmacocinética e
farmacodinâmica dos medicamentos.
 Gravidez: Mudanças fisiológicas podem alterar a resposta a medicamentos, afetando mãe e feto.
 Desenvolvimento Fetal: Fetos são sensíveis a medicamentos, podendo ocorrer teratogenicidade
dependendo do tipo e quantidade de fármaco.
 Função Renal: Doenças renais afetam a depuração e metabolismo de medicamentos,
aumentando o risco de toxicidade.
 Alergia: Sensibilizações a fármacos, como sulfonamidas, podem levar a reações alérgicas.
3. Fatores Relacionados à Doença
A presença de múltiplas condições de saúde pode aumentar a probabilidade de interações
fármaco-doença, elevando o risco de RAM.
4. Fatores Sociais
 Polimorfismo Genético: Diferenças genéticas influenciam a metabolização de medicamentos e
a predisposição a RAM.
 Álcool: O consumo de álcool pode interagir com medicamentos, provocando RAM, como
hemorragias internas.
 Tabagismo: Fumantes podem necessitar de doses maiores de insulina e estão em maior risco
para várias condições de saúde.
Classificação de Eventos Adversos a Medicamentos
Os eventos adversos podem ser classificados de várias formas. Um evento adverso pode ocorrer
durante a terapia medicamentosa sem ter relação causal direta com o medicamento, enquanto
uma reação adversa está diretamente relacionada ao uso do fármaco. A literatura apresenta uma
variedade de sistemas de classificação, sem consenso sobre o mais adequado.
Classificação de Reações Adversas a Medicamentos
1. Reações Relacionadas com a Dose:
o Descrição: Ocorrem com doses normais ou em casos de sobredose.
o Exemplos:
 Síndrome da serotonina (associada ao uso excessivo de antidepressivos).
 Efeitos anticolinérgicos dos antidepressivos tricíclicos.
2. Reações Não Relacionadas com a Dose:
o Descrição: Qualquer exposição ao medicamento pode desencadear a reação,
independentemente da dose.
o Exemplos:
 Reações alérgicas.
 Anafilaxia.
3. Reações Relacionadas com a Dose e com o Tempo:
o Descrição: Resultam do acúmulo do medicamento ou do uso prolongado.
o Exemplos:
 Supressão adrenal causada pelo uso prolongado de corticosteroides.
4. Reações Relacionadas com o Tempo:
o Descrição: Ocorrem após uso prolongado de medicamentos que não se acumulam.
o Exemplos:
 Discinesia tardia associada ao uso de antipsicóticos.
5. Reações de Abstinência:
o Descrição: Efeitos indesejados que surgem com a interrupção do uso do medicamento.
o Exemplos:
 Síndrome de abstinência de opiáceos.
6. Falha Inesperada da Terapia:
o Descrição: Ocorre quando um medicamento aumenta ou diminui sua eficácia de
maneira indesejada.
o Exemplos:
 Diminuição da depuração de um medicamento durante a diálise.
 Redução do efeito de antibióticos devido à resistência bacteriana.
Classificação de Reações Adversas a Medicamentos (RAM) segundo a OMS
A classificação das RAM pela OMS é dividida em quatro categorias, que variam de acordo com
a probabilidade de relação com o medicamento:
1. Definida (Certeza):
o Evento ou anormalidade com clara relação temporal com a ingestão do medicamento.
o Não explicável por outras doenças ou medicamentos.
o Resposta clara à retirada do medicamento.
o Evento reconhecido farmacologicamente ou como uma desordem clínica objetiva.
o Reutilização do medicamento confirma a relação, se necessário.
2. Provável:
o Evento ocorre em tempo razoável após o uso do medicamento.
o Atribuição a outra doença ou medicamento é improvável.
o Resposta à retirada é clinicamente razoável.
o Reutilização do medicamento não é necessária para confirmar a relação.
3. Possível:
o Evento tem relação temporal adequada, mas pode ser explicado por outras doenças ou
medicamentos.
o Informações sobre a resposta à retirada são ausentes ou pouco claras.
4. Improvável:
o Evento ocorre em um tempo que não sugere forte relação com o uso do medicamento.
o Outras doenças ou medicamentos oferecem explicações mais plausíveis.
Existem classificações de reações adversas a medicamentos que se baseiam na possibilidade de
ocorrência em qualquer paciente ou em populações suscetíveis.
1. Reações que podem ocorrer em qualquer pessoa:
o Overdose de medicamentos: Resulta de dose excessiva ou excreção prejudicada.
o Efeito colateral: Efeitos farmacológicos indesejáveis nas doses recomendadas.
o Interação medicamentosa: Alteração na eficácia ou toxicidade de um medicamento
por outro.
2. Reações que ocorrem apenas em pessoas suscetíveis:
o Intolerância a drogas: Baixo limiar para a ação farmacológica normal.
o Idiossincrasia: Reação anormal devido a fatores genéticos ou metabólicos.
o Alergia: Reação imunológica específica, transferível por anticorpos e recorrente.
o Reação pseudoalérgica: Sem especificidade imunológica, mas com manifestações
semelhantes à alergia.
o Reações esperadas: Extensões de efeitos terapêuticos e efeitos colaterais indesejáveis.
o Reações inesperadas: Incluem anafilaxia, reações alérgicas, erros de prescrição e
administração.
o Interações em cuidados intensivos: Ações como diálise ou plasmaferese e interação
com dispositivos médicos

Métodos de Farmacovigilância e sua Relação com a Segurança do Paciente:


As Reações Adversas a Medicamentos (RAM) representam um grave problema nos cuidados de
saúde, figurando entre as quatro a seis principais causas de morte e gerando custos hospitalares
diretos de US$ 1,56 a US$ 4 bilhões anualmente nos EUA. A metodologia de detecção e
monitoramento das RAM varia consideravelmente, e diversas abordagens de Farmacovigilância
foram desenvolvidas nas últimas décadas para melhorar a segurança do paciente.

métodos mais utilizados na Farmacovigilância:

A notificação espontânea é um método fundamental para relatar potenciais Reações Adversas a


Medicamentos (RAM), onde membros da equipe de saúde ou cidadãos reportam casos. Este é o
principal método global, embora a subnotificação seja um desafio. O Programa da OMS, International
Drug Monitoring, coleta relatórios de mais de 100 países, incluindo o Brasil, para criar uma base de
dados global sobre a relação entre medicamentos e RAM.

O monitoramento intensivo é considerado o padrão-ouro, com equipes de especialistas avaliando


prospectivamente pacientes hospitalizados para identificar e classificar RAM. Contudo, esse método é
caro e demanda tempo. O Brasil aplica essa abordagem na Rede de Hospitais Sentinela da ANVISA.

A revisão de gráficos epidemiológicos, seja prospectiva ou retrospectiva, é outra estratégia válida,


embora também consuma tempo e recursos. Os sistemas computadorizados podem gerar sinais de RAM
em grupos de pacientes, mas precisam de algoritmos específicos para evitar altos custos e são limitados
por dados estruturados e pela dificuldade em usar informações narrativas.

Os bancos de dados administrativos não são amplamente utilizados, mas podem ser vantajosos ao
aproveitar dados existentes. Na Europa, o relato espontâneo é frequentemente o único método aplicado
devido ao baixo custo, enquanto o monitoramento prospectivo também é comum. Nos EUA, métodos
computadorizados e a análise de grandes bancos de dados de seguros são prevalentes.

Atualmente, não há formação específica para profissionais de saúde sobre monitoramento prospectivo
ou intensivo para RAM. Contudo, com a RDC 36/2013 da ANVISA, os hospitais brasileiros são obrigados a
notificar RAM e outros eventos adversos em sistemas oficiais, como NOTIVISA e VIGIMED.

**Resumo sobre o Sistema de Notificação Espontânea de Reações Adversas a Medicamentos:**

A **notificação espontânea** de reações adversas a medicamentos (RAM) é um método voluntário


crucial para que órgãos reguladores coletem informações sobre RAM logo após a introdução de
medicamentos no mercado. Exemplos incluem o uso de cartões amarelos na Jordânia e no Reino Unido,
que documentam casos individuais de RAM.

### Quem deve notificar?

Os **profissionais de saúde** (médicos, farmacêuticos, enfermeiros) são as fontes primárias de


informações, mas **cidadãos** também podem relatar reações. O titular do registro do medicamento é
obrigado a notificar RAM graves. Todos os dados obtidos em testes clínicos devem ser incluídos na bula
do medicamento.

### Mecanismos de notificação online

A ANVISA desenvolveu um **formulário de relatório unificado** para facilitar e garantir a coleta de


informações essenciais sobre RAM. Relatos de qualidade são fundamentais e devem incluir detalhes
sobre a reação, medicamentos envolvidos, diagnóstico, curso clínico e características do paciente.

### Importância da Farmacovigilância

A farmacovigilância é crucial para a detecção e prevenção de eventos adversos. A **Portaria nº 696** de


2001 estabeleceu a ANVISA como o centro nacional de farmacovigilância, e o sistema **Notivisa** foi
criado para coletar dados de forma eletrônica. No entanto, a incompatibilidade do Notivisa com padrões
internacionais levou à adoção do sistema **VigiFlow** (VIGIMED) em 2018, que oferece uma solução
mais robusta e econômica para a gestão de dados de farmacovigilância.

### Definições Importantes

- **Queixa Técnica:** Notificação sobre irregularidades de produtos que podem afetar a saúde.

- **Inefetividade Terapêutica:** Diminuição do efeito do medicamento.

- **Uso Abusivo:** Uso inadequado de medicamentos sem orientação profissional.

### Desafios e Avanços na Detecção de RAM

Embora o sistema de notificação espontânea seja vital, ele possui limitações que exigem métodos
complementares. As **ferramentas de gatilho** foram identificadas como eficazes na detecção de
RAM, sendo 50 vezes mais eficazes que o sistema de notificação espontânea. Essas ferramentas
automatizam a detecção de RAM a partir dos prontuários dos pacientes, permitindo uma análise mais
precisa e rápida.

A segurança do paciente, especialmente em neonatos e bebês, é uma preocupação significativa, dado


que eles têm maior risco de desenvolver RAM devido a fatores como comunicação limitada e
farmacocinética diferente. A implementação de métodos mais eficientes para detectar RAM é essencial
para melhorar a segurança do paciente e a qualidade do cuidado em saúde.

**Resumo sobre Medicamentos e Segurança do Paciente:**

Os medicamentos são frequentemente identificados como gatilhos para reações adversas a


medicamentos (RAM) e eventos adversos a medicamentos (EAM). Farmacêuticos desempenham um
papel crucial na detecção dessas reações, buscando sinais nos prontuários de pacientes que usam
medicamentos como:

1. **Hidrocortisona e Difenidramina:** Relacionados a hipersensibilidade; o farmacêutico deve


monitorar sinais de reações alérgicas.

2. **Flumazenil e Naloxona:** Antídotos que podem causar depressão cardiorrespiratória; é importante


avaliar a redução do nível de consciência.
3. **Vitamina K e Protamina:** Associados a anticoagulantes; devem ser observados resultados de INR
elevado e possíveis sangramentos.

### Farmacoepidemiologia

Estudos em farmacovigilância utilizam métodos quantitativos, como sinais de antídoto e dados


laboratoriais, especialmente em grandes bancos de dados clínicos. Essas abordagens oferecem amostras
amplas, são econômicas e minimizam preconceitos pessoais, ajudando na identificação de RAM
incomuns e graves.

### Erros na Assistência à Saúde

O relatório "Errar é Humano" destaca que aproximadamente 98.000 mortes anuais nos EUA são
atribuídas a erros de assistência em saúde. A OMS, em 2004, enfatizou a necessidade de programas de
segurança do paciente, e o Brasil lançou o **Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP)** em
2013.

### Segurança do Paciente

A segurança do paciente refere-se à prevenção de danos evitáveis durante os cuidados de saúde. Um


"mínimo aceitável" de segurança depende do conhecimento atual, recursos disponíveis e do contexto do
cuidado prestado. Para melhorar a segurança, são essenciais políticas claras, liderança organizacional,
dados que impulsionem melhorias, profissionais qualificados e o envolvimento efetivo dos pacientes.

### Iniciativas Internacionais

A segurança do paciente foi discutida pela primeira vez na Assembleia Mundial da Saúde em 2002.
Desde então, várias iniciativas foram lançadas, focando em:

- Reconhecimento internacional da excelência em segurança do paciente.

- Assistência a países em áreas-chave.

- Desenvolvimento de normas e padrões globais.

- Promoção de políticas baseadas em evidências.

- Estímulo à pesquisa.

### Erros de Medicação

Os erros de medicação são uma das principais causas de lesões evitáveis nos sistemas de saúde, com um
custo global estimado em US $ 42 bilhões anuais. Eles podem ocorrer em qualquer etapa do processo de
uso de medicamentos, sendo frequentemente exacerbados por sistemas fracos e fatores humanos,
como fadiga e falta de pessoal.

### Terceiro Desafio Global da OMS

A OMS lançou o **Desafio Global para a Segurança do Paciente: Medicação sem Dano**, visando
envolver os Estados Membros e organizações profissionais para reduzir danos associados à medicação. O
objetivo é abordar os obstáculos atuais para garantir práticas de medicação seguras e eficazes.

Gravidade do Problema

Práticas inseguras e erros de medicação são causas principais de danos evitáveis na saúde global,
destacando-se por:
 Fatores Humanos: Erros ocorrem devido a sistemas de medicação fracos e fatores humanos
como fadiga e ambiente inadequado, afetando as etapas de prescrição, transcrição,
dispensação, administração e monitoramento.

 Desigualdade Global: Pacientes em países de baixa renda enfrentam um risco duas vezes maior
de danos devido a medicamentos em comparação aos de alta renda.

 Custos Elevados: O custo global estimado associado a erros de medicação é de US$ 42 bilhões
anuais.

Objetivos do Desafio Global sobre Segurança de Medicamentos

O Desafio visa fortalecer sistemas e práticas que possam promover ações corretivas em diversos países,
com os seguintes objetivos específicos:

1. Criar uma Estrutura de Ação: Direcionada a pacientes, profissionais de saúde e Estados


Membros, facilitando melhorias nas práticas de pedido, prescrição, preparação, dispensação,
administração e monitoramento de medicamentos.

2. Capacitar Pacientes e Cuidadores: Envolver ativamente os pacientes e seus cuidadores nas


decisões sobre tratamento, incentivando perguntas e a gestão eficaz de seus medicamentos.

3. Avaliar Danos Evitáveis: Avaliar o escopo e a natureza dos danos associados a medicamentos,
além de fortalecer sistemas de monitoramento para detectar e rastrear esses danos.

4. Desenvolver Diretrizes e Ferramentas: Criar materiais, tecnologias e orientações que suportem


a implementação de sistemas de medicação mais seguros e reduzam os erros.

5. Engajar Partes Interessadas: Mobilizar parceiros e a indústria para aumentar a conscientização


e promover esforços conjuntos para melhorar a segurança dos medicamentos.

Problemas Fundamentais

Quatro problemas fundamentais que embasam a estratégia do Desafio são:

 Conhecimento dos Pacientes: Pacientes frequentemente são receptores passivos de


medicamentos e não estão plenamente informados ou envolvidos no processo de decisão.

 Complexidade dos Medicamentos: A confusão em relação aos nomes e embalagens dos


medicamentos pode resultar em erros.

 Práticas dos Profissionais de Saúde: Prescrições e administrações podem aumentar os riscos de


danos aos pacientes.

 Sistemas de Medicação: Sistemas e práticas de medicação são complexos e podem ser


aprimorados para reduzir riscos e danos.

Principais Áreas de Ação

As ações prioritárias propostas pelo Desafio visam proteger os pacientes em três áreas principais:

1. Situações de Alto Risco: A maior incidência de erros de medicação ocorre em ambientes


hospitalares, onde as condições são mais críticas.

2. Politerapia Medicamentosa: O uso de múltiplos medicamentos (quatro ou mais) aumenta os


riscos de efeitos colaterais e interações.

3. Transições de Cuidado: Transferências entre diferentes instalações ou equipes aumentam o


risco de erros de comunicação, levando a possíveis erros de medicação.

Conclusão
O terceiro Desafio Global para a Segurança do Paciente se propõe a ser um catalisador para mudanças
significativas na segurança do uso de medicamentos, visando a implementação de práticas seguras e a
redução de danos evitáveis em todo o mundo. A mobilização global e o compromisso de todos os
envolvidos são fundamentais para o sucesso deste esforço.

Estudos de Utilização de Medicamentos

História da Farmacovigilância

A história da farmacovigilância tem raízes profundas na década de 1960, em um período em que a


indústria farmacêutica estava em plena expansão. O aumento no número de medicamentos disponíveis
no mercado trouxe à tona a necessidade de monitorar a performance desses produtos, tanto para
estratégias de marketing quanto para identificar novas oportunidades de pesquisa. No entanto, essa
busca incessante pelo lucro resultou em um uso irracional de medicamentos e em sérios conflitos éticos,
exemplificados pela trágica história da talidomida.

A Tragédia da Talidomida

A talidomida, que começou a ser comercializada no final dos anos 1950, era amplamente utilizada como
um medicamento para tratar náuseas, dores de cabeça e insônia. Especialmente famosa por seu efeito
antiemético, tornou-se um tratamento comum para o enjoo matinal durante a gravidez. Contudo, logo
após sua introdução no mercado, foram relatados milhares de casos de malformações congênitas graves,
como a focomelia, em bebês cujas mães haviam usado o medicamento durante a gestação. Essa tragédia
expôs a necessidade urgente de sistemas robustos de farmacovigilância para monitorar e garantir a
segurança dos medicamentos.

Farmacovigilância e sua Evolução

Em resposta à crise gerada pela talidomida, em 1961, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
reconheceu a necessidade de esforços internacionais focados na segurança de medicamentos. A
Farmacovigilância é definida pela OMS como “a ciência e atividades relativas à detecção, avaliação,
compreensão e prevenção de eventos adversos ou quaisquer outros problemas relacionados a
medicamentos” (WHO, 2005).

Iniciativas e Programas Internacionais

A 16ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em 1963, adotou uma resolução que enfatizava a
importância da comunicação rápida sobre reações adversas a medicamentos, o que levou à criação do
Projeto de Pesquisa Piloto para a Monitorização Internacional de Medicamentos da OMS, em 1968.
Desde 1978, o Programa Internacional de Monitorização de Medicamentos é coordenado pelo Uppsala
Monitoring Centre (UMC), na Suécia, e atualmente abrange mais de 140 países.

Em um simpósio de toxicologia em Moscou, em 1964, os impactos devastadores da talidomida no uso


por gestantes foram discutidos, evidenciando a necessidade de estudos públicos sobre a utilização de
medicamentos. Dois especialistas em saúde pública, Arthur Engel e Pieter Siderius, realizaram pesquisas
que mostraram disparidades significativas na venda de antibióticos entre seis países europeus,
evidenciando a falta de consenso sobre métodos de comparação do consumo.

Desenvolvimento de Sistemas de Medição

Reconhecendo a importância de medir o uso de medicamentos para iniciar a batalha pelo uso racional, a
OMS organizou em 1969 o primeiro encontro sobre consumo de medicamentos na Noruega. Esse
encontro ressaltou a necessidade de um método padronizado e aplicável internacionalmente para a
realização de estudos de utilização de medicamentos. Isso levou ao desenvolvimento do sistema de
Classificação Anatômica Terapêutica Química (ATC) e à unidade de medida Dose Diária Definida (DDD),
que continuam a ser utilizados amplamente.

Conclusão
A história da farmacovigilância, impulsionada por tragédias como a da talidomida, destaca a importância
da segurança no uso de medicamentos. As iniciativas internacionais e o desenvolvimento de sistemas de
monitoramento e avaliação são fundamentais para garantir a proteção dos pacientes e promover o uso
racional de medicamentos no mundo todo. A farmacovigilância continua a evoluir, adaptando-se às
necessidades e desafios da saúde pública contemporânea.

Estudos de Utilização de Medicamentos

Os estudos de utilização de medicamentos foram definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
em 1977 como “estudos que tratam da comercialização, distribuição, prescrição e uso de medicamentos
na sociedade, com ênfase especial sobre as consequências médicas, sociais e econômicas resultantes”
(OMS, 1977). Em 2008, uma definição mais abrangente foi proposta, descrevendo-os como uma
“coleção eclética de métodos descritivos e analíticos para a quantificação, compreensão e avaliação dos
processos de prescrição, dispensação e consumo de medicamentos e para o teste de intervenções que
objetivem aumentar a qualidade destes processos” (WETTERMARK et al., 2016).

Objetivos dos Estudos de Utilização de Medicamentos

De acordo com a OMS, o principal objetivo dos estudos de utilização de medicamentos é facilitar o uso
racional de medicamentos nas populações. O uso racional de medicamentos é definido pela OMS (Brasil,
s.d.) como:

"O uso racional de medicamento ocorre quando pacientes recebem medicamentos para suas condições
clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor
custo para si e para a comunidade."

No entanto, o uso irracional ou inadequado de medicamentos é um dos maiores problemas em nível


mundial. A OMS estima que mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou
vendidos de forma inadequada, e que metade de todos os pacientes não os utiliza corretamente.

Relação com a Farmacoepidemiologia

Os estudos de utilização de medicamentos, assim como a farmacovigilância, estão inseridos no campo


da farmacoepidemiologia, que é a ciência que estuda o uso e os efeitos dos medicamentos em grandes
populações. Esses estudos visam esclarecer questões como:

 Padrões de Prescrição: Quais medicamentos são mais frequentemente prescritos e quais são as
justificativas para essa escolha?

 Adesão ao Tratamento: Qual é a taxa de adesão dos pacientes aos tratamentos prescritos?

 Efeitos Colaterais e Interações Medicamentosas: Quais são os efeitos adversos mais comuns e
como as interações entre medicamentos afetam a eficácia do tratamento?

 Acesso aos Medicamentos: Existe um acesso adequado aos medicamentos essenciais na


comunidade?

 Custos: Quais são os custos associados ao uso de medicamentos para os pacientes e o sistema
de saúde?

Essas questões são cruciais para o desenvolvimento de estratégias que promovam a qualidade no uso de
medicamentos, assegurando que a terapia medicamentosa seja eficaz e segura para a população. O
entendimento e a avaliação contínua dos padrões de utilização de medicamentos ajudam a identificar
áreas que necessitam de intervenção e a promover políticas de saúde mais efetivas.

Fatores Influenciadores do Uso de Medicamentos

O uso de medicamentos é frequentemente influenciado pela formação e experiência dos profissionais


de saúde, principalmente no que diz respeito à avaliação de tecnologias em saúde e à interpretação
crítica das evidências científicas. Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, a falta de adesão a
práticas clínicas baseadas em evidências resultou no uso excessivo de medicamentos "off-label", ou seja,
fora das indicações aprovadas, como foi o caso de medicamentos para os quais não havia comprovação
de eficácia no tratamento da infecção pelo SARS-CoV-2.

Impacto da Pandemia de COVID-19

A pandemia destacou como o uso irracional de medicamentos pode ser exacerbado em situações de
emergência, muitas vezes pela falta de diretrizes claras e de evidências robustas. Isso resultou em um
aumento do uso de medicamentos sem comprovação, reforçando a necessidade de práticas baseadas
em evidências e da disseminação de informações confiáveis para guiar tanto profissionais de saúde
quanto o público em geral.

Portanto, os EUM são essenciais para otimizar o uso de medicamentos, ajudando a garantir que sejam
prescritos e utilizados de maneira segura, eficaz e racional, minimizando os riscos e maximizando os
benefícios para a saúde da população.

A Prática Baseada em Evidências (PBE) é uma abordagem que integra a experiência clínica do
profissional de saúde com os melhores dados disponíveis da pesquisa científica para tomar decisões de
tratamento mais eficazes. A PBE exige um compromisso das instituições em promover as melhores
práticas e garantir acesso a bases de dados atualizadas. Depender apenas da experiência pessoal pode
levar a erros sistemáticos e comprometer a qualidade do cuidado. Ao utilizar evidências científicas
confiáveis, os profissionais aumentam a efetividade terapêutica, reduzem erros e fazem uma gestão mais
racional dos recursos. A PBE orienta os profissionais a refletirem criticamente sobre suas ações,
perguntando-se: "O que é melhor fazer, para este paciente, nesta situação específica?". O Sistema de
Classificação Anatômica Terapêutica Química (ATC) organiza os fármacos em grupos com base no órgão
ou sistema que eles afetam e suas propriedades químicas, farmacológicas e terapêuticas. Esse sistema é
dividido em cinco níveis:

1. Primeiro nível: 14 grupos principais que indicam o órgão ou sistema em que o fármaco age.

2. Segundo e terceiro níveis: Classificação baseada nas características farmacológicas e


terapêuticas.

3. Quarto nível: Especifica ainda mais as características farmacológicas, terapêuticas e químicas.

4. Quinto nível: Identifica a substância química específica (fármaco).

Fármacos podem receber múltiplos códigos no sistema ATC, dependendo de seus diferentes usos
terapêuticos. Esse sistema é utilizado em diversos países, como no Brasil na Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais (RENAME). A ATC é atualizada regularmente, e a consulta à versão mais
recente da OMS é essencial para estudos sobre o uso de medicamentos.

A Dose Diária Definida (DDD) é a dose média de manutenção diária de um fármaco utilizada para sua
principal indicação em adultos. É uma unidade de medida padronizada que permite a comparação de
consumo de medicamentos independentemente de variáveis como preço, tamanho da embalagem ou
concentração do fármaco. A DDD é associada ao quinto nível da classificação ATC.

Cuidados ao consultar a DDD:

 Algumas associações de medicamentos podem ter sua DDD listada separadamente.

 A DDD pode variar de acordo com a via de administração do medicamento.

 Ao realizar estudos, é importante registrar o ano da consulta à classificação.

 No Brasil, a notificação do consumo de antimicrobianos em hospitais com leitos de UTI utiliza a


DDD.
 Estudos de utilização de medicamentos frequentemente utilizam a DDD para estimar dias de
tratamento em diversos cenários (hospitais, cidades, países).

Esse sistema é essencial para medir e comparar o uso de medicamentos em diferentes contextos e
períodos.

O conceito de Dose Diária Definida (DDD) ajuda a medir o consumo de medicamentos como antibióticos
em unidades de terapia intensiva (UTI). No exemplo fornecido, o consumo de meropeném foi de 4.500
frascos de 1g, resultando em 4.500g utilizados. A DDD para o meropeném é de 3g, portanto, o consumo
em DDD é 1.500 DDD (4.500g / 3g). Isso estima 1.500 dias de tratamento com meropeném na UTI.

Entretanto, a DDD oferece uma estimativa baseada em doses médias e, portanto, não reflete variações
de dosagens individuais, como doses maiores para infecções graves ou doses menores para pacientes
com insuficiência renal. Assim, a DDD é mais útil para medicamentos de uso crônico ou para quando as
indicações terapêuticas e posologias não variam muito.

Para comparações entre unidades, o consumo é normalizado usando a medida "paciente-dia". No


exemplo, houve 1.500 DDD de meropeném consumidos em um total de 3.000 pacientes-dia. Para
padronizar, a quantidade é ajustada para cada 1.000 pacientes-dia, resultando em 500 DDD por 1.000
pacientes-dia. Isso significa que, diariamente, 50% dos pacientes dessa UTI usaram meropeném.

Essa metodologia de normalização permite comparações mais claras entre diferentes hospitais ou
unidades.

Como farmacêutico, sua tarefa é explicar a metodologia usada e analisar os dados sobre o uso de
antimicrobianos, destacando suas limitações. A equipe utilizará esse conhecimento junto com sua
experiência para desenvolver estratégias de intervenção. A OMS e a ANVISA recomendam a
implementação do gerenciamento de antimicrobianos (Antibiotic Stewardship) nas instituições de saúde.

Métricas no estudo de utilização de medicamentos

Outras métricas para aferir o consumo de medicamentos, especialmente antimicrobianos, foram


desenvolvidas, mas têm limitações: não consideram variações individuais dos pacientes (como peso, tipo
e gravidade da doença, e comorbidades), não avaliam a eficácia de terapias combinadas em contextos
específicos e não se aplicam à pediatria, onde as doses variam conforme o peso da criança.

DOT (Dias de Terapia)

A métrica DOT, recomendada pelo CDC, contabiliza um dia de terapia para cada dose de antimicrobiano
recebida em 24 horas. Por exemplo, se um paciente está em tratamento com três antimicrobianos por
10 dias, contabiliza-se 30 DOTs (10 DOTs para cada fármaco).

Exemplo Prático: Se, na UTI clínica do Hospital A, um paciente recebe 6 g de meropeném diariamente
(em vez de 3 g, que corresponde à DDD), a contagem da DDD superestima o uso do antibiótico. Com a
métrica DOT, se todos os pacientes da UTI recebem 6 g/dia, o consumo real de meropeném seria de 250
DOTs para 1.000 pacientes-dia, significando que 25% dos pacientes recebem o antibiótico a cada dia, em
contraste com os 50% estimados pela DDD.

LOT (Duração da Terapia)

LOT refere-se ao número de dias em que um paciente recebe antimicrobianos sistêmicos,


independentemente do número de fármacos. Embora não permita a comparação entre medicamentos
específicos, oferece uma avaliação mais precisa da duração do tratamento antibacteriano. A LOT
também pode ser normalizada utilizando denominadores, como 1.000 pacientes-dia.

Exemplo: Em um tratamento com três antimicrobianos durante 10 dias, contabiliza-se 10 LOTs.

Aplicação de Estudos de Utilização de Medicamentos


Diversos métodos estão disponíveis para a realização de estudos de utilização de medicamentos, com a
escolha do método dependendo da pergunta de pesquisa, além de considerar questões éticas, práticas,
tipos de dados disponíveis, orçamento e habilidades do pesquisador.

Um DOT corresponde a um dia de tratamento, enquanto uma DDD é uma estimativa de um dia de
tratamento.

Farmacoeconomia

Histórico e Evolução do Conceito de Farmacoeconomia

A Farmacoeconomia surgiu da necessidade de entender como os recursos em saúde são utilizados para
satisfazer o consumo ilimitado de bens e serviços. A economia, nesse contexto, é vista como o estudo da
relação entre a produção e o consumo. Inicialmente, até a década de 1980, os estudos econômicos na
saúde utilizavam ferramentas tradicionais, como análise de oferta e demanda, para informar políticas
governamentais sobre reembolso de serviços e medicamentos.

Surgimento do Movimento de Saúde Baseada em Evidências

Com o advento do movimento de saúde baseada em evidências, a partir da década de 1980, começou
uma pressão crescente para que medicamentos e terapias comprovassem sua eficácia, tanto do ponto
de vista clínico quanto econômico. Em 1993, na Austrália, foi estabelecido que as empresas
farmacêuticas deveriam apresentar um estudo econômico ao introduzir novos medicamentos para
consideração de reembolso. Esse padrão se espalhou para outras regiões, como Ontário no Canadá, e
mais tarde, para a Holanda.

Desenvolvimento da Disciplina de Farmacoeconomia

A Farmacoeconomia se consolidou como uma disciplina que aplica princípios econômicos ao estudo da
utilização e eficácia dos medicamentos. A partir desse contexto, muitos profissionais da área da saúde,
especialmente farmacêuticos e médicos, começaram a migrar para essa nova disciplina. Com isso, a
Farmacoeconomia começou a incorporar novas ideias e métodos provenientes de áreas como farmácia,
epidemiologia, medicina clínica e psicologia. Assim, a Farmacoeconomia pode ser entendida como a
descrição e análise dos custos associados à terapia medicamentosa, identificando e comparando custos
e consequências dos produtos e serviços farmacêuticos.

Vertentes da Economia em Saúde

Hoje, a economia em saúde se divide em duas vertentes:

1. Macroeconomia: Esta vertente tradicional examina a provisão do governo e as estruturas de


mercado. É frequentemente ocupada por economistas da saúde com formação clássica, mas
não tem experimentado um crescimento significativo.

2. Avaliação Econômica da Saúde: Esta vertente é muito mais ativa e multidisciplinar, absorvendo
profissionais de diversas áreas, incluindo farmacêuticos e médicos. A avaliação econômica da
saúde lida com o uso de medicamentos, a qualidade de vida e a medição dos custos de forma
adaptada às estruturas econômicas básicas.

Aplicações e Relevância da Farmacoeconomia

A literatura farmacoeconômica é uma fonte valiosa de informações para farmacêuticos e outros


tomadores de decisão sobre produtos e serviços. Um bom estudo farmacoeconômico pode ser utilizado
para decisões em áreas como:

 Tratamento individual de pacientes

 Gerenciamento de formulários
 Desenvolvimento de diretrizes para uso de medicamentos

 Avaliação de serviços farmacêuticos

No Sistema Único de Saúde (SUS), onde existe a diretriz de acesso universal, a Farmacoeconomia se
torna fundamental devido ao orçamento limitado. Ela oferece ferramentas para que gestores tomem
decisões informadas sobre intervenções ou tratamentos baseados em dados econômicos.

Importância na Gestão de Recursos

A Farmacoeconomia é essencial para:

 Selecionar e padronizar medicamentos em hospitais e sistemas de saúde.

 Estabelecer protocolos clínicos de prescrição de medicamentos.

 Orientar médicos e pacientes na escolha da farmacoterapia.

 Informar a pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos.

 Auxiliar na aprovação de novos medicamentos por agências reguladoras.

As implicações farmacoeconômicas têm um impacto direto no uso racional de medicamentos, afetando


a adesão e a continuidade do tratamento pelos pacientes. Estudos farmacoeconômicos ajudam a prever
variações econômicas na utilização de medicamentos, contribuindo para a farmacoterapia racional em
serviços de saúde.

Abordagem de Cobertura Universal de Saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) defende a implementação da cobertura universal de saúde


(CUS), garantindo que todos tenham acesso a serviços de saúde sem dificuldades financeiras. A CUS
requer sistemas de saúde bem administrados e métodos sustentáveis de financiamento.

Com o aumento dos gastos com medicamentos em países de baixa e média renda, a Farmacoeconomia
se torna uma ferramenta crítica para:

 Identificar gargalos no acesso a medicamentos.

 Melhorar a acessibilidade e o uso adequado de medicamentos.

 Estabelecer prioridades justas para inclusão de medicamentos em listas essenciais.

 Determinar preços e estratégias de financiamento para medicamentos.

Evolução da Farmacoeconomia

A Farmacoeconomia se tornou uma disciplina reconhecida globalmente e influente na formulação de


políticas de saúde. Através de métodos de pesquisa variados, como análise de custo-benefício e
avaliação de custo-utilidade, a Farmacoeconomia examina o impacto de terapias e serviços com
medicamentos nos resultados de saúde.

Marco Histórico

 Década de 1960: A Farmácia começa a se estabelecer como disciplina clínica.

 Década de 1970: Introdução de análises de custo-benefício na pesquisa farmacêutica.

 1986: O termo "farmacoeconomia" aparece pela primeira vez na literatura.

A Farmacoeconomia continua a evoluir, semelhante à Farmacocinética, e sua aplicação na prática clínica


é vital para seu reconhecimento e valorização na profissão farmacêutica. Quando aplicada à tomada de
decisões terapêuticas, a Farmacoeconomia poderá influenciar positivamente os resultados dos pacientes
e se tornar um componente crítico na prestação de cuidados de saúde.

Os tomadores de decisão utilizam métodos de Farmacoeconomia para avaliar e comparar os custos e


resultados de diferentes opções de tratamento. Essa análise pode ser visualizada como uma equação
com dois lados: (1) os insumos (custos) para aquisição e uso do medicamento e (2) os resultados em
saúde associados.

Equação da Farmacoeconomia

 O medicamento é representado como "Rx".

 Se apenas os custos forem considerados, trata-se de uma análise de custo (análise econômica
parcial).

 Se apenas os resultados forem avaliados, é um estudo clínico, não uma análise econômica.

 Uma verdadeira análise farmacoeconômica exige a consideração e comparação de ambos os


lados da equação, envolvendo a pesquisa de resultados.

Relação com Pesquisa de Resultados

A pesquisa de resultados busca identificar, medir e avaliar as consequências dos serviços de saúde,
incluindo aspectos clínicos, econômicos, estado de saúde do paciente e satisfação com o atendimento.
Embora a Farmacoeconomia seja um tipo de pesquisa de resultados, nem todas as pesquisas de
resultados são farmacoeconômicas.

Modelos de Análise Farmacoeconômica

Existem quatro tipos de análises farmacoeconômicas que seguem um modelo semelhante, medindo
custos e avaliando resultados associados. Essas análises são categorizadas de acordo com o método
utilizado para avaliar os resultados.

AMC: Se os resultados forem considerados equivalentes, o estudo é chamado de Análise de


Minimização de Custos.

ACB: Se os resultados são medidos em valor monetário, o estudo é chamado de Análise de Custo-
Benefício.

ACE: Se os custos são medidos em unidades naturais (por exemplo, curas, anos de vida, pressão arterial),
o estudo é chamado de Análise de Custo-Efetividade.

ACU: Tipos de Custos

Os custos nos estudos farmacoeconômicos são categorizados em quatro tipos:

 Custos Diretos Não Clínicos: Relacionados ao tratamento, mas não clínicos (ex: transporte,
alimentação).

 Custos Indiretos: Resultantes da perda de produtividade devido à doença.

 Custos Intangíveis: Relacionados a dor e sofrimento, que são difíceis de quantificar.

Um exemplo de análise de custos inclui os gastos de uma cirurgia, que podem envolver custos diretos
médicos, não médicos, indiretos e intangíveis. A maioria dos estudos costuma relatar apenas os custos
médicos diretos, que podem ser suficientes dependendo do objetivo da pesquisa.

Perspectiva do Estudo
A perspectiva adotada no estudo é crucial. A teoria econômica sugere que a melhor perspectiva é a da
sociedade, que abrange custos para pacientes, seguradoras e perda de produtividade. Entretanto, as
perspectivas mais comuns nos estudos farmacoeconômicos são:

 Perspectiva da instituição de saúde.

 Perspectiva do pagador (custos de terceiros e pacientes).

Avaliação de Resultados

Os métodos para medir resultados (lado direito da equação) incluem AMC, ACB, ACE e ACU. Cada
método possui vantagens e desvantagens:

 AMC: Simples, mas só pode ser usado quando os resultados são equivalentes.

 ACB: Permite a comparação de alternativas com resultados diferentes, mas é difícil atribuir
valores monetários a resultados como dor e sofrimento.

 ACE e ACU: Consideram resultados em termos de utilidade e qualidade de vida. A ACU utiliza
QALYs, mas é desafiador determinar um valor preciso e essa medida não é amplamente
aceita.

Existem três métodos para determinar QALYs: Escalas de Avaliação, Aposta Padrão e Compensação de
Tempo. Cada método busca capturar as preferências dos pacientes em relação a diferentes estados de
saúde.

Se os resultados levarem em consideração as preferências do paciente (ou utilidades), o estudo é


denominado Análise de Custo-Utilidade. Para esse método, cada disciplina tem duas alternativas:

Alternativa 1: É o tratamento com dois resultados possíveis: o retorno à saúde normal ou a morte
imediata.

Alternativa 2: É o resultado certo de um estado de doença crônica para o resto da vida.

A probabilidade (p) de morrer em uma alternativa é ajustada até que o indivíduo se torne indiferente
entre duas opções de tratamento. Por exemplo, se uma pessoa enfrenta a escolha entre um transplante
de rim, que apresenta 20% de chance de morte durante a operação (alternativa 1), e a diálise para o
resto da vida (alternativa 2), esse percentual é o ponto de indiferença. Se a probabilidade de morte for
superior a 20%, a pessoa não optaria pelo transplante. Neste caso, o QALY é calculado como 1 - p,
resultando em 0,8 QALY.

A terceira técnica para medir as preferências de saúde é o método de Compensação de Tempo (CT),
onde a pessoa é apresentada com duas alternativas:

 Alternativa A: Um estado de doença por um tempo específico (t) seguido da morte.

 Alternativa B: Um período de saúde (x), que é menor que t.

Resumo sobre Ajustes de Tempo para Custos e Análise de Custo-Efetividade (ACE)

Ajustes de Tempo para Custos:

 Custos devem ser ajustados para o ano atual se forem baseados em dados coletados há mais de
um ano ou projetados para o futuro.

 O ajuste por "desconto" é necessário, pois o valor do dinheiro no tempo implica que um real
recebido hoje vale mais do que um recebido no futuro.

 A taxa de desconto considera a inflação e as taxas de juros, permitindo calcular o valor presente
das despesas e economias futuras, utilizando a fórmula: fator de desconto=1(1+r)n\text{fator
de desconto} = \frac{1}{(1 + r)^n}fator de desconto=(1+r)n1.
Análise de Custo-Efetividade (ACE):

 A ACE é uma análise farmacoeconômica comum, medindo custos em dinheiro e resultados em


unidades de saúde, como vidas salvas ou curas.

 As alternativas comparadas devem ser mensuráveis nas mesmas unidades. Se múltiplos


resultados forem relevantes, uma razão de custo-efetividade deve ser calculada para cada um.

 A análise pode ser apresentada como:

o Análise de Custo-Consequência (ACC): lista custos e resultados sem proporções.

o Relação Custo-Efetividade (RCE): calcula o custo por unidade de benefício clínico.

Exemplo Prático:

 Comparando dois medicamentos redutores de colesterol, o medicamento atual custa R$ 1000 e


reduz o LDL em 25 mg/dL, enquanto o novo medicamento custa R$ 1500 e reduz o LDL em 30
mg/dL.

o Relação Custo-Efetividade Média (CEM): O custo por redução de 1 mg/dL de LDL é R$


40 para o atual e R$ 50 para o novo.

o Razão de Custo-Efetividade Incremental (RCEI): calcula o custo adicional por unidade


de benefício adicional; no exemplo, o custo extra é R$ 100 por cada redução adicional
de 1 mg/dL de LDL.

Considerações Finais:

 A ACE e a RCEI são fundamentais na tomada de decisões sobre tratamentos, considerando os


custos e benefícios associados.

 A ACE é preferível quando se busca comparar efetividades de intervenções, enquanto a RCEI é


usada para determinar a viabilidade de diferentes opções terapêuticas.

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