Doenças Dermatológicas no
Doente com HIV/SIDA
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Introdução
• As doenças dermatológicas são muito frequentes nos
doentes HIV+, e são mais persistentes ou graves do que
em pacientes HIV-
• Correlacionam-se com o status imunológico do paciente e
com a progressão da doença
• Muitas vezes, são condições de estadio clínico da OMS
• Pelos motivos acima mencionados, é pertinente
diagnosticá-las precocemente, fazer o diagnóstico
diferencial de todas elas e o tratamento adequado para
curá-las e/ou para evitar complicações
Objectivos
No final desta unidade, os formandos devem ser capazes de:
• Identificar os sinais e sintomas de complicações no HIV/SIDA que
afectam a pele
• Explicar a etiologia das doenças da pele
• Fazer o exame da pele
• Tratar os problemas comuns da pele nos doentes HIV+
• Identificar os casos e situações onde se recomenda a transferência
para Unidades de Saúde especializadas
Problemas Dermatológicos no Doente com
HIV/SIDA (1)
• Causados pelo HIV
• Erupção cutânea generalizada associada à seroconversão (infecção
aguda pelo HIV)
• Causados por uma infecção oportunista
• Infecção criptocócica disseminada
• Doenças associadas à infecção pelo HIV
• Sarcoma de Kaposi
• Complicações da medicação
• Reacção Adversa a Medicamentos (RAM): Sulfamidas, NVP, ABC,
EFV
• SIR (Síndrome de Imuno-Reconstituição)
Problemas Dermatológicos no Doente com
HIV/SIDA (2)
• Outras Doenças
• Dermatite Seborreica
• Prúrigo Nodularis
• Psoríase
• Lepra
• Herpes Zóster
• Sífilis
• Verrugas Genitais
• Escabiose
• Infecções bacterianas: celulite, impetigo, abcesso
• Angiomatose Bacilar
• Molluscum Contagiosum
Problemas Causados pelo HIV
• Erupção Cutânea Generalizada
• Ocorre com a infecção aguda pelo HIV, é uma erupção
eritematosa, maculopapular que se localiza na face,
tronco, extremidades, e que pode envolver as palmas das
mãos e planta dos pés.
Também pode incluir: lesões muco-cutâneas (incluindo
úlceras) da boca, genitália e/ou esófago.
Problemas Causados por uma Infecção
Oportunista
Infecção criptocócica disseminada
• Não afecta exclusivamente a pele, pode também afectar
os pulmões e as meninges
• Causada pelo Cryptococcus neoformans var. neoformans
• A infecção inicial ocorre no pulmão
• A infecção disseminada pode resultar em foco meníngeo,
lesões ósseas e cutâneas
Infecção Criptocócica Disseminada (2)
• A infecção criptocócica disseminada é uma doença
que define o Estadio IV do SIDA da OMS,
geralmente ocorre com contagens de CD4 <100
cels/mm3
• Caso apareçam lesões suspeitas de criptococose e
o paciente esteja iniciando TARV, deverá
suspeitar-se de SIR (Síndrome de Imuno-
Restauração)
Anamnese e Exame Físico
• Anamnese:
• Perguntar ao paciente sobre a duração e o
aparecimento da erupção cutânea e sobre quaisquer
sintomas neurológicos.
• Exame Físico:
• Erupção papular disseminada, lesões ulcerosas,
umbilicadas em alguns casos (semelhantes ao
molluscum).
Infecção Criptocócica Disseminada
Diagnóstico e Tratamento
• Diagnóstico clínico:
• Diferenciar do molluscum contagiousum, Sarcoma de
Kaposi
• Verificar CD4
• Tratamento:
• Deverá ser referido para a confirmação do diagnóstico
pelo médico
• Antifúngicos de acordo com as directrizes nacionais
Problemas Causados por outras Doenças
• Dermatite Seborreica
É um distúrbio papulo-eritematoso com escamas gordurosas
predominantemente encontrado nas áreas da pele, ricas em sebum
(escalpe, face, tronco) comum no paciente com SIDA.
A forma generalizada (eritrodérmica-esfoliativa) pode ocorrer com
maior frequência.
Define o ESTADIO II de acordo com a OMS, e geralmente ocorre
com contagens de CD4 <500 cels/mm3.
A dermatite seborreica pode ser a manifestação cutânea inicial da
doença por HIV
Dermatite Seborreica
Prúrigo Nodularis (1)
• Uma das primeiras manifestações da infecção pelo HIV.
• Dermatose muito pruriginosa, de carácter crónico e recidivo.
• É caracterizado por erupção de pápulas ou nódulos,
centrados por vesícula ou crosta, localizados simetricamente
sobre as faces de extensão dos membros, dorso e, por
vezes, na face, que provocam muita coceira.
• É uma condição do estadio II da OMS.
Prúrigo Nodularis (2)
• Normalmente evolui com
cicatriz
hiperpigmentada. Às
vezes complica-se com
infecção bacteriana.
• O tratamento é com anti-
histamínicos via oral e
administram-se loções
de Calamina e
esteróides tópicos. Se
for muito intenso e
resistente, referir ao
médico. Muitas vezes, o
tratamento não tem
sucesso e só acaba
melhorando com TARV.
Psoríase
• Comum nos pacientes com
HIV como nos pacientes não
infectados pelo HIV, no
entanto, as apresentações
tendem a ser mais graves nos
primeiros, e são difíceis de
tratar.
• O tratamento anti-retroviral
pode melhorar a psoríase,
mas a doença pode não estar
curada.
• Em Moçambique, não estão
disponíveis tratamentos
avançados para esta doença
e os casos complicados
devem ser encaminhados.
Psoríase
Psoríase
Herpes Zóster
(Zona, lume da noite, etc.)
• É uma das primeiras
manifestações da
infecção pelo HIV
• O agente causal é o
vírus da varicela zóster
(VVZ)
• Erupção de vesículas e
bolhas unilateral, com
dor local intensa e
distribuição ao longo do
trajecto dum nervo
cutâneo
• É comum no peito, mas
também ocorre nas
pernas, nos braços ou
no rosto
• Define estadio II da OMS
Tratamento Herpes Zóster
• Limpeza e desinfecção local com anti-sépticos
• Analgésicos: AAS, Paracetamol, Diclofenac ou
Iboprufeno
• Aciclovir oral: 800mg por “os”, de 4/4 horas (5 vezes ao
dia) durante 7 a 10 dias. Deverá ser prescrito dentro das
primeiras 72 horas da após a aparição das vesículas
• Antibioterapia se infecção secundária
Sífilis
A sífilis pode apresentar-se com lesões:
• Primárias (chagas) nas áreas de exposição inicial
(lábios, órgãos genitais)
• Ou como manifestações secundárias, mais
dispersas (condiloma lata, manchas mucosas...)
Sífilis Secundária
• Condiloma lata: lesões dermatológicas indolores, simétricas,
altamente infecciosas, elevadas, planas, semelhantes às
verrugas, de cor rosa acinzentada pálida.
• Tipicamente não coçam e o envolvimento das palmas e das
plantas é comum.
• Superfície aparentemente lisa, frequentemente associada a
outros sinais de sífilis secundária: febre, adenopatias.
Diagnóstico e Tratamento
• Diagnóstico
• Clínico e de laboratório (testes para sífilis)
• Tratamento
• Penicilina Benzatínica, conforme as normas nacionais
Condiloma Lata: Lesões da Mucosa na Sífilis
Secundária
Verrugas Genitais
• Infecção transmitida por via sexual causada pelo vírus do
papiloma humano (VPH)
• A via de transmissão mais comum é sexual, também de
uma verruga activa para outras superfícies corporais
• O tratamento local é possível para reduzir as dimensões.
Os condilomas grandes e/ou recidivos são de difícil
controle em pacientes imunodeprimidos
Tratamento das Verrugas Genitais
•O tratamento local (Podofilina, Ácido
Tricloroacético, crioterapia com nitrogénio líquido,
etc.) pode controlar as lesões de pequenas
dimensões, enquanto os condilomas grandes e/ou
recidivos são de difícil controlo em pacientes com
imunossupressão (podem precisar de cirurgia).
Verrugas Genitais
Escabiose ou Sarna
• É uma infecção dermatológica causada pelo Sarcoptes scabiei,
cujo ácaro da pele é transmitido por via do contacto prolongado e
ocasionalmente pela roupa de cama, etc.
• Os principais sintomas são o prurido (dia e noite) e as resultantes
escoriações da pele e do corpo
• Uma constatação comum são as lesões em cova nos espaços
entre os dedos
• O diagnóstico é clínico; o tratamento inclui o uso de loções que
contenham Permetrina.
Escabiose
Imagens da Incrustação Extensa da
Escabiose
Imagem do Envolvimento Grave nos Locais
Típicos
Tratamento Tópico para a Escabiose
• Emulsão com 20-25% benzoato de benzilo,
• Loção 1% gammabenzeno hexaclorado (Scabine, Lindane),
• É muito eficaz, mas apresenta um pequeno risco de toxicidade
• Evitar nas crianças <2 anos de idade e nas mulheres grávidas
• Creme 5% permetrina (Elimite, Acitin),
• Crotamiton 10%(Eurax), é menos eficaz
• Além do paciente, é preciso tratar todas as pessoas que tenham
tido contacto íntimo com ele
• Em caso de sarna com sobreinfecção secundária, esta deve ser
tratada com antibióticos antes de aplicar o tratamento tópico
Infecções Bacterianas
• Infecções dermatológicas por bactérias são comuns nos doentes HIV+
como nos HIV-.
• As infecções graves como a piomiosite constituem doenças que
definem o Estadio III da doença.
• Aparecem como foliculite, impetigos, eczemas, erisipela, abcessos
subcutâneos, celulites, piomiosites e hidrosadenites supurativas.
• Os agentes que as provocam são sobretudo Estafilococos, mas
quaisquer outras bactérias podem ser culpadas por estas infecções.
• Tratamento: Limpeza e desinfecção das lesões. Pomada antibiótica.
Antibióticos
Molluscum Contagioso
• Provoca uma infecção dermatológica viral benigna (Poxvirus).
• Diagnóstico diferencial com:
• Criptococcus (em contagens de CD4 <100 cels/mm3 e
aparecimento de sinais meníngeos);
• Raramente o histoplasma causa lesões dermatológicas
semelhantes.
• Tratamento:
• Geralmente não precisa de nenhuma intervenção, às vezes pode-se
considerar a remoção do núcleo;
• O TARV melhora a infecção.
Molluscum Contagioso
Dermatofitoses, Tínea
• Os dermatófitos são um grupo de fungos que provocam a tínea.
• Dependendo da sua localização, chamamos a tínea de diferentes
formas:
• Tinea capitis: infecção do cabelo e escalpe
• Tinea corporis: infecção do tronco e extremidades
• Tinea manuum/Tinea pedis: infecção das palmas, solas e redes
interdigitais
• Tinea cruris: infecção da virilha
• Tinea barbae: infecção da área da barba e pescoço
• Tinea faciale: infecção da face.
• Tinea unguium (onicomicose): infecção da unha
Anamnese e Exploração Física
• Anamnese:
• O principal sintoma é o prurido. Pode-se verificar a
queda de cabelo na infecção do escalpe
• Exame Físico:
• Dependendo da sua localização
Tratamento das Tíneas
• Ketoconazol creme para grande parte das infecções.
• A infecção da unha e do escalpe pode ser mais difícil de
tratar. Nestes casos, é preciso recorrer ao tratamento
oral prolongado com Griseofulvina, Fluconazol ou
Itraconazol.
Tínea Capitis
Tínea Corporis
Tínea Pedis
Tínea Manuum
Tínea Cruris
Tínea Barbae
Tínea Unguium
Pontos-chave (1)
• As lesões dermatológicas são frequentes nos pacientes
seropositivos e podem ser um sinal de:
• Doença comum semelhante a que podem apresentar os
pacientes seronegativos
• Lesões definitórias de um estadio clínico da OMS
• Doença relacionada com HIV (IO, Sarcoma de Kaposi)
Pontos-chave (2)
• O conhecimento das características clínicas das lesões pode
ajudar o TMG no diagnóstico diferencial
• Nos casos em que a lesão dermatológica seja consequência da
presença de doença de estadio avançado, ele deverá encaminhar
o paciente ao médico