Português
Foco na linguística
PROFESSOR: Leonardo Cravo
LINGUÍSTICA
“No início do século XX com a divulgação dos trabalhos de Ferdinand
Saussure, professor da universidade de Genebra, a linguística passa a
ser reconhecida em 1916. Dois alunos através das anotações das aulas
publicaram o livro curso de linguística geral.”
Linguística: Se detém na investigação científica da linguagem verbal humana.
A Linguística é, portanto, uma parte dessa ciência geral; estuda a principal
modalidade dos sistemas signos, as línguas naturais, que são a forma de
comunicação mais altamente desenvolvida e de maior uso. A linguística é
empírica porque trabalha com dados verificáveis por meio da observação, o
linguista busca sistematizar suas observações sobre a linguagem, formando
teorias linguísticas e a partir disso criam-se métodos rigorosos para descrição
das línguas. (tudo é comprovado através das observações “CORPUS” conjunto
de dados organizados com uma finalidade de investigação) Ela tem um objeto
de estudo próprio: a linguagem verbal humana, que é observado através de:
enunciados falados escritos. É objetiva porque examina a língua de forma
independente, livre de preconceitos sociais ou culturais, pois respeita qualquer
variação que uma língua apresente, seja crenças ou regiões.
Linguagem: Apresenta vários sentidos. No geral, é usado para referir-se a
qualquer processo de comunicação, como a linguagem dos animais, a
linguagem corporal, das artes, da sinalização, a linguagem da escrita, da
pintura, da dança, da escultura, da caricatura, dos sinais do telégrafo, do
trânsito, da matemática, fotografias, entre outras. Damos o nome linguagem a
todos os sistemas de sinais convencionais que nos permitem realizar atos de
comunicação. Linguagem é uma habilidade e costuma-se dividir em linguagem
verbal e não verbal.
Língua: Língua é definida como um sistema de signos vocais utilizados entre
outros membros de um grupo social. Assim, língua é a linguagem que utiliza a
palavra como sinal de comunicação. Portanto, a língua é um aspecto da
linguagem. Pertence ao um grupo de indivíduos que usa signos (palavras)
como comunicação, que se concretiza na fala, que é um ato individual de
vontade e inteligência.
Convém lembrar que a semiótica estuda todo tipo de linguagem
(animal, arte, fotografias, etc...) e já a linguística estuda somente a
linguagem verbal humana.
Para Saussure, linguagem é uma faculdade humana, uma capacidade que
os homens têm para produzir, desenvolver, compreender a língua e outras
manifestações simbólicas semelhantes à língua. A linguagem é heterogênea
e multifacetada: ela tem aspectos físicos, fisiológicos e psíquicos, e pertence
tanto ao domínio individual quanto ao domínio social. Para Saussure, é
impossível descobrir a unidade da linguagem. Por isso, ela não pode ser
estudada como uma categoria única de fatos humanos. A língua é diferente.
Ela é uma parte bem definida e essencial da faculdade da linguagem. Ela é
um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções
necessárias estabelecidas e adotadas por um grupo social para o exercício
da faculdade da linguagem. A língua é uma unidade por si só. Para
Saussure, ela é a norma para todas as demais manifestações da linguagem.
Ela é um princípio de classificação, com base no qual é possível estabelecer
uma certa ordem na faculdade da linguagem. (Vocês devem estar pensando
que isso tudo é muito complicado. De fato, não estamos lidando com
conceitos fáceis. Mas vamos retomar essas ideias de Saussure de uma
maneira mais informal). O que Saussure pensa é que os homens têm uma
capacidade para produzir sistemas simbólicos, ou seja, sistemas de
conceitos associados a uma determinada forma, como a língua, as artes
plásticas, o cinema, o teatro, a dança. Essa capacidade é a linguagem. Para
Saussure, a capacidade da linguagem não pode ser o objeto de estudo de
uma única ciência como a linguística, na medida em que, tem características
de naturezas diversas: física, fisiológica, antropológica, etc. O objeto da
linguística deve ser a língua, que é um produto social da faculdade da
linguagem, e que é uma unidade. Introdução aos Estudos Linguísticos. Uma
pergunta que talvez vocês estejam querendo fazer neste momento é: --“O
que significa dizer que a língua é um produto social da faculdade da
linguagem? Por que social?” A língua é um fenômeno que está além do
domínio individual de cada um de nós. Ela não é minha, nem de cada um de
vocês, nem de nenhuma outra pessoa considerada individualmente. Ela é
produto de uma comunidade, ela é parte do domínio dessa comunidade. O
português brasileiro é a língua de uma grande comunidade de pessoas
ouvintes, nascidas no Brasil. A LIBRAS é a língua de uma grande
comunidade de pessoas surdas nascidas no Brasil. Essas línguas não se
limitam a uma ou outra pessoa. Elas nascem e se desenvolvem no âmbito
de um grupo social, não no âmbito individual. Uma consequência do fato de
a língua ser social é ela ser também convencional: ela existe e se mantém
por um acordo coletivo tácito entre os falantes. Isso significa que um falante
de uma língua não pode fazer modificações nessa língua a seu bel prazer.
Imaginem, por exemplo, um falante do português que não goste de chamar
os dias da semana de segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira,
sexta-feira, sábado e domingo. Ele resolve, então, sozinho, chamar esses
dias de, por exemplo, lual, martal, mercural, toral, livral, saturnal e solal. Daí
ele liga para o médico para marcar uma consulta, e diz que prefere ser
atendido no próximo mercural, porque em todos os martais e torais ele
trabalha o dia inteiro. Vocês acham que a recepcionista do consultório vai
entender? Certamente que não. A comunicação humana seria impossível se
a língua não fosse convencional. Mas vamos voltar à diferença entre língua
e linguagem. Saussure entende que, de todas as manifestações da
faculdade da linguagem, a língua é a que mais bem se presta a uma
definição autônoma. Por isso, ela ocupa um lugar de destaque entre as
manifestações da linguagem, e, como tal, deve ser tomada como base para
o entendimento de todas essas outras manifestações. Por isso, hoje em dia,
a Semiótica, que é a ciência que estuda todas as manifestações da
faculdade da linguagem, parte sempre de análises feitas sobre a língua.
Baseados nessas análises linguísticas, os semanticistas estudam outras
manifestações da faculdade da linguagem, como o cinema, a pintura, a
escultura, a música, as tatuagens e uma variedade de manifestações da
linguagem. Vocês devem estar ansiosos, querendo me dizer o seguinte:
--“Bem, você falou um tempão sobre a diferença entre linguagem e língua,
mas, até agora, não explicou exatamente o que é língua para Saussure!”
Sim, vocês têm um pouco de razão. É preciso ter calma, que ainda falta
muito o quê explicar. Mas nós já vimos várias características da língua.
Primeiro, vimos que língua e linguagem são bastante diferentes: a
linguagem é uma capacidade humana, da qual a língua é um produto.
Também vimos que Introdução aos Estudos Linguísticos, a língua é um
fenômeno social e convencional. Vamos explicitar isso melhor, distinguindo
língua da fala.
Nós vimos, há pouco, que a língua é coletiva e social. A fala, por outro lado,
é a manifestação ou concretização da língua, por um indivíduo. Na língua,
está o que é essencial; na fala está o que é acessório e mais ou menos
acidental. A língua não é uma função do falante. A fala, diferentemente, é
um ato individual de vontade: ao falar, o falante precisa fazer opções por
uma ou outra maneira de dizer a mesma coisa, fazer escolhas sobre o
vocabulário que vai usar, entre outras coisas. Cada pessoa nascida no
Brasil que tem o português como língua materna pode narrar o mesmo
acontecimento de maneiras muito diferentes. Cada pessoa vai produzir uma
fala diferente. Mas a língua vai ser sempre a mesma: português. E é
justamente o fato de que a língua é a mesma que faz com que as pessoas
consigam se comunicar. Para ilustrar a diferença entre língua e fala,
Saussure se vale do fato de que existem inúmeras línguas mortas. O latim,
por exemplo, é uma língua morta. Ninguém mais usa o latim. Não há mais
“falas” do latim. Mas a língua continua a existir. Neste momento de todo
curso de Introdução aos Estudos Linguísticos, é muito comum os alunos
fazerem a seguinte pergunta: --“Então a fala é o som produzido pelas
línguas orais, ou os gestos produzidos pelas línguas de sinais?” Não. A fala
é a língua posta em uso, mas ela não se limita ao meio-- sonoro, gestual,
escrito--que usamos para colocar nossa língua em uso. Ela é a prática da
língua, e apresenta várias propriedades, que vão muito além do som, do
gesto, ou da grafia. Para Saussure, a fala não devia ser estudada pela
linguística, justamente porque ele pensava que ela era secundária e
assistemática. Hoje em dia, a visão que se tem da fala é muito diferente.
Seu estudo é extremamente interessante e é considerado de grande
importância na linguística moderna. Quando vocês cursarem as disciplinas
chamadas. Para Saussure, a língua é um sistema. Um sistema é um
conjunto organizado de elementos, que se define pelas características
desses elementos, e no qual cada elemento se define pelas diferenças que
apresenta em relação a outro elemento, e por sua relação com todo o
conjunto. --“Isso parece complicado!”, vocês devem estar querendo me
dizer. Não, não é. Vamos pensar em uma escola, por exemplo. O que é uma
escola? É um conjunto de elementos, que são os estudantes. E o que são
os estudantes? São os elementos de uma escola. Aí temos parte de nossa
definição de sistema: o conjunto (escola) definido por sua relação com as
partes (estudantes), e as partes (estudantes) definidas por sua relação com
o todo (escola). Mas podemos ir além. Cada grupo de estudante pode ser
definido por oposição a um outro grupo de estudante: os da 1a . série são
definidos por oposição aos da 2a . série; os do período da manhã são
definidos por oposição aos do período da tarde; e assim por diante. Uma
outra metáfora usada pelo próprio Saussure para esclarecer essa questão é
a de uma rede de pescar. A rede é formada de nós, e cada nó se relaciona
com todos os outros nós que formam a rede. A rede, que é o conjunto, é
definida como um sistema de nós; os nós, que são as partes, são definidos
por sua relação com o todo, porque formam a rede, e por sua relação com
todos os outros nós. Assim é a língua, para Saussure. Na língua, só existem
diferenças. “O que significa dizer que na língua só existem diferenças?” Significa o
que nós acabamos de ver: que cada elemento da língua se define pela diferença
que apresenta quando comparado a outro elemento. Vamos dar um exemplo do
português para esclarecer essa noção. Pensem na palavra /pata/. Como é que eu
posso definir o fonema /p/ que aparece no início da palavra? Eu posso dizer que ele
não é /b/. Vejam que, se eu substituir /p/ por /b/ eu obtenho outra palavra: /bata/.
Eu também posso dizer que /p/ não é /m/. De novo, se eu substituir /p/, em /pata/,
por /m/, eu obtenho ainda uma outra palavra do português: /mata/. Eu posso ir
além, e dizer que /p/ não é /l/. Se eu substituir /p/ por /l/ eu obtenho /lata.
Principais tarefas do linguista
Falar sobre as línguas, conhecer princípios, funcionamentos,
semelhanças e diferenças.
Explicar os fatos, sem regras padrões.
Analisar sempre empiricamente.
Os estudos linguísticos não se confundem com o aprendizado de muitas
línguas: o linguista deve estar apto a falar "sobre" uma ou mais línguas,
conhecer seus princípios de funcionamento, suas semelhanças e
diferenças. A Linguística não se compara ao estudo tradicional da
gramática; ao observar a língua em uso o linguista procura descrever e
explicar os fatos: os padrões sonoros, gramaticais é lexicais que estão
sendo usados, sem avaliar aquele uso em termos de um outro padrão:
moral, estético ou crítico.
Diacrônica: estudo das transformações, por que passavam as
línguas, na tentativa de explicar mudanças linguísticas. (século XIX)
Sincrônica: as línguas são analisadas sob a forma em que se
encontram num determinado momento histórico. (século XX)
Ferdinand Saussure.
Linguística e gramática tradicional
A gramática tradicional foi criada e desenvolvida por filósofos
gregos. Representa uma tradição, que se iniciou com Aristóteles, de
estabelecer uma relação entre a linguagem e lógica, buscando
sistematizar, através da observação das formas linguísticas, as leis de
elaboração do raciocínio. Essa tradição tem suas raízes na filosofia e
predominou nas bases dos estudos gramaticais até o século XIX,
quando se desenvolveram novas teorias sobre a linguagem que
caracterizaram o surgimento de uma nova ciência: a linguística. (vale
ressaltar que a linguística procura analisar e descrever a estrutura do
funcionamento da língua e não prescrever regras do uso da língua)
Gramática Normativa: conjunto de normas a serem seguidas e exigidas
no contexto social, baseada na tradição. A escola deve preservar essa
gramática, mas não a colocar como o centro das aulas de língua
portuguesa, nesse caso, um tipo de ensino. Vale também enfatizar que
esses tipos de gramáticas correlacionados com tipos de ensino, se inter-
relacionam; A gramática normativa/prescritiva, existe só uma maneira
correta.
Os gregos – preocupavam-se em definir as relações entre o conceito e a
palavra que o designa. (Relação entre a palavra e o seu significado)
Os latinos – dedicaram-se à gramática, esforçando-se por defini-la como
ciência e arte.
Língua e variação
As línguas variam?
R: Em sentindo bastante amplo, podemos de início pensar nas
diferentes línguas que existem no mundo. Falamos português no Brasil.
Praticamente em qualquer região de fronteira em que estejamos no
nosso país, sabemos que do outro lado falam outra língua o espanhol.
Sabemos também que dentro do nosso país ainda há indígena que se
comunicam, quando estão em suas aldeias, em suas línguas, e não em
português.
Detectámos diferenças entre o português que falamos sem São
Paulo e o português que se fala na cidade do Rio de Janeiro ou em
Salvador e Porto alegre. É claro que tais diferenças não nos impedem
que nos comuniquemos entre nós.
É preciso ter em mente que a língua é um sistema inerentemente
variável no tempo, no espaço geográfico, no espaço social e nas
diferentes situações da vida cotidiana, ou seja, existem várias “línguas
portuguesas” O português do rio de janeiro, por exemplo, não é idêntico
do nordeste.
Podemos dizer, então, que a língua apresenta, pelo menos, três
tipos de diferenças internas:
Variações diatópicas- (processo que faz com que a língua varie de acordo com o
lugar/região/país ) representam as variações que ocorrem pelas diferenças
regionais. As variações regionais, denominados dialetos, são as
variações referentes a diferentes regiões geográficas, de acordo com a
cultura local. Um exemplo deste tipo de variação é a palavra “mandioca”
que, em certos lugares, recebe outras denominações, como “macaxeira”
e “aipim”. Nesta modalidade também estão os sotaques, ligados às
marcas orais da linguagem.
São os modos de falar nas diversas regiões do país (variedades regionais da nossa
língua). Por exemplo, aqui, no estado de São Paulo, região Sudeste, usamos a palavra
“menino”. Para os gaúchos, “menino” é “guri”. No Paraná, é “piá”.
Variações diastráticas- (processo que faz com que a língua varie de
acordo com quem fala/ classe social que o falante ocupa) São as
variações ocorridas em razão da convivência entre os grupos sociais. As
gírias, os jargões e o linguajar caipira são exemplos desta modalidade
de variação linguística. É uma variação social e pertence a um grupo
específico de pessoas. As gírias pertencem ao vocabulário específico de
certos grupos, como os policiais, cantores de rap, surfistas, estudantes,
jornalistas, entre outros.
Dependendo da idade (criança, jovem, idoso), grupo social (rapper, punk, rockeiro), gênero
(homem, mulher), escolaridade (não alfabetizados, acadêmicos), as pessoas se expressam de
maneiras diversas, aproximando a sua fala à norma-padrão da língua ou distanciando-se desta,
usando gírias, jargões (o jargão do advogado, do médico, por exemplo) e etc. Esse é o campo de
maior discussão e polêmicas, pois a NORMA-PADRÃO é a variedade criada e imposta pelos
grupos de prestígios sociais e considerada “correta”. Ao passo que a variedade usada por
grupos sem status social (analfabetos, rapper, funkeiros, favelados etc) é desconsiderada e
vista como “incorreta”. As gramáticas normativas são os documentos que descrevem o modo
de falar dos grupos privilegiados, as variedades de prestígio social, mais próximas da norma-
padrão. Felizmente, hoje já existem muitos estudos na área da Linguística, que esclarecem que
não há “CORRETO” ou “INCORRETO” quando usamos a língua. Ou seja, os modos de falar dos
mais variados grupos devem ser considerados e são perfeitamente “ADEQUADOS” em diversas
situações, além de ser elemento essencial da identidade desses grupos. É claro que,
socialmente, a NORMA-PADRÃO é a modalidade de prestígio e deve ser usada em situações
que a exigem.
Variações diafásicas- (processo que faz com que o falante adapte a oralidade ou
a escrita de acordo com a situação, aproximando-se ou distanciando-se da norma-
padrão) são as variações que se dão em função do contexto
comunicativo, isto é, a ocasião determina o modo como falaremos com o
nosso interlocutor, podendo ser formal ou informal.
Outro fator que influencia no uso do idioma é a situação de comunicação com que nos
deparamos. Ao falar ou escrever, devemos considerar o lugar de onde falamos, a
pessoa (interlocutor) com quem falamos, o assunto sobre o qual discorremos. Por
exemplo, ao conversar com um amigo (interlocutor) em um bar (lugar) sobre esporte
(assunto), temos uma situação INFORMAL, cotidiana, que não exige o uso da NORMA-
PADRÃO. Portanto, podemos nos comunicar, nesse caso, sem grandes preocupações
com regras gramaticais. A comunicação na internet, entre amigos, também é uma
variedade situacional da língua, porque depende das circunstâncias, do meio
(internet), do interlocutor (amigos ou outros), do assunto. Se a conversa se der em um
bate-papo, em redes sociais, geralmente há o uso da variedade INFORMAL. Mas,
atenção, nem sempre se usa o “internetês” na internet. As empresas usam muito o e-
mail como forma de comunicação e se você tiver que escrever um e-mail para um
cliente, preze pelo uso da norma-padrão. Por outro lado, se a situação é uma conversa
com o chefe (interlocutor) de uma empresa (lugar) sobre um emprego (assunto),
temos uma situação FORMAL, que exige o emprego da norma-padrão da língua.
Variações históricas- como já foi dito, a língua é dinâmica e sofre
transformações ao longo do tempo. Um exemplo de variação histórica é
a questão da ortografia: a palavra “farmácia” já foi escrita com “ph”
(pharmácia). A palavra “você”, que tem origem etimológica na expressão
de tratamento de deferência “vossa mercê” e que se transformou
sucessivamente em “vossemecê”, “vosmecê”, “vancê”, até chegar na
que utilizamos hoje que é, muitas vezes (principalmente na Internet),
abreviado para “vc”.
A linguística vem provar que as línguas sofrem variações em
função do seu caráter dinâmico.
1) Língua – conglomerado de variantes que se interseccionam,
havendo, pois, uma base comum a todas as variantes. Uma
variedade chamada língua contém a soma de todos os dialetos. O
contraste entre língua e a dialeto é uma questão de prestigio: uma
língua tem o prestigio que falta a um dialeto. Língua materna (ou
primeira língua) é uma língua em uso no país de origem do
falante e que o falante adquiriu desde a infância, durante a
aprendizagem da linguagem.
2) Dialeto – em sua origem toda língua é um dialeto, que por
circunstâncias várias, conseguem predominar. É uma variante de
uma língua, distinta em termos sociais ou regionais, identificada
por um conjunto particular de palavras e estruturas gramaticais.
Diz-se que as pessoas falam línguas diferentes quando não
podem entender-se e comunicar-se. Porém, muitos dialetos são
investigados na sua forma falada. O dialeto inclui diferenças de
gramática e de vocabulário, além de pronúncia. Forma de língua
que tem o seu próprio sistema léxico, sintático, fonético e que é
usada num ambiente mais restrito do que a própria língua. Os
dialetos que identificam a terra natal de umas pessoas são
chamados dialetos regionais (locais, territoriais, geográficos). Os
dialetos que identificam uma pessoa em termos de escala social
são chamados de dialetos socais ou dialetos de classes.
Dialeto: é a linguagem peculiar de alguma região, a variação
regional de determinada língua. Devido a alguns fatos históricos e ao
vasto território do nosso país, o português brasileiro possui diversas
diferenças dialetais, inclusive no léxico, porém, surpreendentemente
mantém uma norma unificada proporcionando a manutenção de uma
mesma língua em todo o país.
Vejamos algumas outras variedades do português brasileiro:
Dialeto sertanejo: falado nas regiões do Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Goiás e parte de Minas Gerais.
Dialeto baiano (baianês): falado na região geográfica que abrange o
estado da Bahia, além de Sergipe, norte de Minas Gerais, leste de
Goiás e Tocantins.
Dialeto nordestino: falado nos estados do Nordeste, porém com
claras subdivisões e variações entre estados, regiões ou até mesmo
cidades. Contém, contudo, características bem semelhantes e por
isso se mantém em um mesmo grupo.
Outros dialetos, pertencentes a áreas menores, podem ser
distinguidos, por possuírem características próprias no seu falar:
Dialeto Carioca: região metropolitana do Rio de Janeiro. O falar traz
muitas características do português lusitano, como o “s” chiado e o
uso das vogais mais abertas mesmo em contextos que favorecem o
fechamento da mesma.
Dialeto Mineiro (montanhês): região central de Minas Gerais.
Facilmente distinguível dos demais dialetos brasileiros,
principalmente pelas características fonéticas bem particulares.
Entre outros...
É chamada de dialeto a variedade de uma língua própria
de uma região ou território. Devem ser consideradas
também as diferenças linguísticas originadas em virtude da
idade dos falantes, sexo, classes ou grupos sociais e da
própria evolução histórica da língua: pessoas que se
identificam e utilizam uma linguagem mais ou menos
comum, com vocabulário, expressões e gírias próprias do
grupo. As diferenças regionais, no que diz respeito ao
vocabulário, são exemplos de variação territorial. É caso,
por exemplo, da raiz que em determinadas regiões é
conhecida como “mandioca”, mas que em outras áreas
recebe o nome de “aipim” ou “macaxeira”.
3) Norma – O sentido geral do termo é usado em linguística como
referência a uma prática padronizada na fala ou na escrita. A
norma em questão pode ser aplicada a grupos de vários
tamanhos dentro de uma comunidade de fala ou à comunidade
como um todo. Por exemplo, o linguajar científico utiliza
construções impessoais muito mais de que a língua usada em
conversas, o que pode ser cisto como uma norma para propósitos
de comparações estilísticas. Muitas vezes, as normas de
diferentes grupos entram em conflito e um grupo pode impor
regras normativas. O conjunto dessas regras é chamado de
gramática normativa. A linguística hoje enfatiza a descrição do
uso real da comunidade, em oposição à preocupação prescritiva
de manter um conjunto de padrões linguísticos.
A gramática normativa não é uma ciência, ou seja, ela não
tem a preocupação de mostrar como funciona a língua,
quais são suas regras intrínsecas, aquelas que nos
permitem a formação de frases possuidoras de
significados. (norma) Norma, portanto, é um conjunto de
regras que impõem um padrão de linguagem a ser
seguidos pelos falantes. O modo coletivo de usar a língua,
isto é, o conjunto de realizações fonéticas, morfológicas,
lexicais e sintáticas, produzido e adotado mediante um
acordo tácito entre os membros de uma comunidade.
CONCEITO DO ERRO
A língua portuguesa, como qualquer língua, tem o certo e o errado somente em
relação à sua estrutura. Com relação a seu uso pelas comunidades falantes,
não existe o certo e o errado linguisticamente, mas o diferente. Por exemplo,
um falante do português dizer: “ Carta eu longa escrevi uma” em vez de
“Escrevi uma carta longa” é um erro, porque o sistema da língua não permite
que as palavras fiquem nessa ordem. Se em vez de dizer cavalo alguém diz
panela é um erro linguístico com relação ao português. Esses são erros porque
vão contra o sistema, a estrutura da própria língua. É bom observar que um
falante nativo não controle erros linguísticos a não ser em situações raríssimas
e, mesmo nesse caso, sabe que errou e procura se corrigir imediatamente.
Agem dessa forma não só os adultos como também as crianças.
O português como qualquer outra língua, não é propriamente de um indivíduo
ou de um grupo fechado de pessoas, mas é um fenômeno social, é um bem
cultural de um povo e se espalha por todos os níveis da estratificação social. O
português, como qualquer língua, é um fenômeno dinâmico, não estático, isto
é, evolui com o tempo. Pelos usos diferentes e tempo e nos mais diversos
agrupamentos sociais, as línguas passam a existir como um conjunto de
falares diferentes ou dialetos, todos muitos semelhantes entre si, mas cada
qual apresentando suas peculiaridades com relação a alguns aspectos
linguísticos.
Os dialetos de uma língua são como que línguas especificas, com sua
gramatica ou usos próprios, todavia muito semelhantes entre si. No momento
em que se diferenciarem muito uns dos outros tomarão, de fato,
reconhecidamente, línguas diferentes, como aconteceu com o latim, que
através de dialetos gerou o português, o francês, o espanhol Etc... O uso
linguístico dialetal não é por si errado, é apenas diferente do uso de outro
dialeto
dialeto.
Dentro de um dialeto também existe o certo e o errado linguisticamente. Por
exemplo, no dialeto caipira, não se pode chamar o milho de (mio) de batata,
nem se pode dizer “ Vai mio prió guarda pra fazer um pra nois” , porque está
errado linguisticamente, nesse dialeto, dizer as coisas nessa ordem. Se alguém
disser “Nós vamos plantar milho” não estrará seguindo as regras desse dialeto
e soará ao falante do dialeto caipira tão diferente quanto soa diferente, para um
falante do dialeto carioca, não-caipira, ouvir “Nois vai prantar mio” , nesse caso
não houve erro linguístico propriamente dito, mas apareceu em uso diferente,
de um outro modo perfeitamente aceitável de falar português, só que próprio de
uma comunidade especifica, onde esse dialeto existe.
PRECONCEITO LINGUISTICO
Há um mito que sobrevive, entre nós brasileiros, há muito tempo, o de que não
sabemos utilizar a língua portuguesa “corretamente”. Não é incomum ouvirmos
o disparate de que só o nativo de Portugal é quem conhece bem a língua. E
isso se dá por questões obvias: trata-se do país onde a língua se originou e,
por isso, não foi “contaminada” por influencia de outros povos e culturas.
Língua é uma criação humana de símbolos convencionais que conta com
variadas contribuições de grupos diversas utilizadas pelo homem para a
promoção de intercomunicação, cultura e progresso.
O mito de ser o falante luso aquele que sabe utilizar a língua corretamente é
uma posição servil que nos remete à colonização. É como se nós, brasileiros,
nunca tivéssemos nos libertado de nossa condição de colônia, e , por isso,
continuamos a reivindicar a metrópole a dever-lhe obediência. Esse
preconceito certamente data do decreto de Marques de pombal, quando, numa
politica de repressão linguística, proibiu o uso de outra língua que não fosse
lusitana. Se não usarmos estruturas morfológicas, sintáticas, fonéticas etc...
não quer dizer que deixamos de falar “corretamente” o português.
O português brasileiro é, portanto, a língua da hegemonia em todo território
nacional e constitui a nossa identidade linguística.
TRECHOS DE PRECONCEITOS linguísticos
• “A LÍNGUA PORTUGUESA FALADA NO BRASIL APRESENTA UMA UNIDADE
SURPREENDENTE”, ESSE MITO CONSISTE EM O BRASILEIRO FALAR UMA MESMA
LÍNGUA, MESMO SENDO DESCENDENTE DE POVOS DIFERENTES, OU SEJA,
INDEPENDENTE DA DIVERSIDADE E DA VARIABILIDADE. NESSE CONTEXTO DE LÍNGUA
MATERNA SER COMUM A TODOS OS BRASILEIROS, MUITOS TEM UMA VISÃO DE
UNIDADE, MAS NÃO O É, NA REALIDADE NOS DEPARAMOS COM O PRECONCEITO
COM AS CLASSES DESPRIVILEGIADAS.
• “BRASILEIRO NÃO SABE PORTUGUÊS/SÓ EM PORTUGAL SE FALA BEM PORTUGUÊS”, O
PESAMENTO DESSE MITO RESULTA DE UMA MISCIGENAÇÃO. O POVO BRASILEIRO, DE
ACORDO COM OS PARADIGMAS PORTUGUESES, NÃO CONSEGUE FALAR O
PORTUGUÊS LEGÍTIMO. NO ENTANTO, ESTA AFIRMATIVA DE QUE OS BRASILEIROS
NÃO SABEM FALAR CORRETAMENTE A LÍNGUA PORTUGUESA NÃO É VERDADEIRA,
POIS A LÍNGUA FALADA EM PORTUGAL É DIFERENTE DA BRASILEIRA.
• “PORTUGUÊS É MUITO DIFÍCIL”, NESSE MITO A GRAMÁTICA NORMATIVA DISCORDA
DO PORTUGUÊS FALADO INFORMALMENTE PELA MAIOR PARTE DA POPULAÇÃO
BRASILEIRA, E OS GRAMÁTICOS TRADICIONALISTAS AJUDAM NA PROLIFERAÇÃO DESSE
MITO POR MEIO DA MÍDIA.
• “AS PESSOAS SEM INSTRUÇÃO FALAM TUDO ERRADO”, DE ACORDO COM A VISÃO DA
GRAMÁTICA NORMATIVA, O QUE NÃO ESTIVER NELA ESTÁ ERRADO E NÃO É
PORTUGUÊS. ALÉM DO PRECONCEITO EM RELAÇÃO ÀS CLASSES DESFAVORECIDAS.
• “O LUGAR ONDE MELHOR SE FALA NO BRASIL É NO MARANHÃO”, ESSE MITO EXISTE
POR HAVER EM MARANHÃO UMA CONSERVAÇÃO DE UM ASPECTO ÚNICO DE
LINGUAGEM CLÁSSICA LITERÁRIA, QUE MANTÉM RELAÇÕES COM A LÍNGUA FALADA
EM PORTUGAL, POIS LÁ SE USA O PRONOME TU SEGUIDO DAS FORMAS VERBAIS
CLÁSSICAS. ENTRETANTO, APÓS UMA REORGANIZAÇÃO DO SISTEMA PRONOMINAL,
SUBSTITUIU-SE O TU POR VOCÊ. A VALORIZAÇÃO DESSE MITO DESRESPEITA A
VARIEDADE QUE A LÍNGUA SOFRE.
• “O CERTO É FALAR ASSIM PORQUE SE ESCREVE ASSIM”, JÁ NESSE MITO É PROPAGADO
PELO ENSINO TRADICIONAL, QUE DETERMINA A PRONÚNCIA DA PALAVRA DE ACORDO
COM A FORMA ESCRITA, SUPERVALORIZANDO A ESCRITA E DESVALORIZANDO A
VARIEDADE DA LÍNGUA FALADA.
• “É PRECISO SABER GRAMÁTICA PARA FALAR E ESCREVER BEM”, SE ASSIM FOSSE
TODOS OS ESCRITORES SERIAM ESPECIALISTAS EM GRAMÁTICA, E GRAMÁTICOS
SERIAM ÓTIMOS ESCRITORES. A GRAMÁTICA É REGRA, JÁ A LÍNGUA É FORMA DE
EXPRESSÃO DE UM POVO, DE UMA SOCIEDADE.
• “O DOMINIO DA NORMA CULTA É INSTRUMENTO DE ASCENSÃO SOCIAL”, A NORMA
CULTA DE NADA ADIANTA A UMA PESSOA QUE NÃO TENHA DIREITOS, INSTRUÇÃO OU
BOAS CONDIÇÕES FINANCEIRAS.
NA SEGUNDA PARTE DO LIVRO, O AUTOR DESCREVE O CÍRCULO VICIOSO DE
PRECONCEITO LINGUÍSTICO, QUE É COMPOSTO POR TRÊS ELEMENTOS: A GRAMÁTICA
TRADICIONAL; OS MÉTODOS TRADICIONAIS DE ENSINO; E OS LIVROS DIDÁTICOS.
AS ESCOLAS SÓ ENSINAM NORMA PADRÃO DA LÍNGUA, QUE É MUITO POUCO USADA
PELA MAIOR PARTE DA POPULAÇÃO. OUTRO PROBLEMA É A CORREÇÃO ANTES DE SE
ENTENDER O QUE O ALUNO QUIS DIZER COM O SEU TEXTO.
A PARTIR DA TERCEIRA PARTE DA OBRA, O AUTOR MOSTRA-SE MAIS PRAGMÁTICO E
PROCURA SOLUÇÕES QUE QUEBREM O CÍRCULO VICIOSO DO PRECONCEITO
LINGUÍSTICO. EXPONDO QUE NÃO EXISTEM SAÍDAS IMEDIATAS PARA OS PROBLEMAS
E QUE PARA SUPERÁ-LOS SERIAM NECESSÁRIAS TRNASFORMAÇÕES RADICAIS DA
SOCIEDADE. PARA TAIS TRANSFORMAÇÕES O AUTOR PROPÕE QUE SE RECONHEÇA
ESSA CRISE QUE AFETA O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA QUE SE INICIE UMA
DESCONSTRUÇÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO.
NA ÚLTIMA PARTE DO LIVRO, O AUTOR ABORDA O PRECONCEITO CONTRA A
LINGUÍSTICA E CONTRA OS LINGUÍSTAS, O AUTOR TRATA DE APRESENTAR UM POUCO
DO QUE É ESTA CIÊNCIA E DE FAZER CRÍTICAS.
OBRA DE GRANDE IMPORTÂNCIA, O LIVRO PRECONCEITO LINGUÍSTICO: O QUE É,
COMO SE FAZ, É UMA OBRA CAPAZ DE ACENTUAR O SENSO CRÍTICO DO LEITOR, ALÉM
DE NOS LEVAR A UMA REFLEXÃO E NOS LEVAR A ENTENDER QUE O PRECONCEITO
LINGUÍSTICO ESTÁ FORTEMENTE LIGADO AO PRECONCEITO SOCIAL E ATÉ MESMO A
DESVALORIZAÇÃO DO POVA BRASILEIRO COMO PAÍS INDEPENDENTE. MARCOS
BAGNO CONSEGUE RESUMIR E, PROPOR SOLUÇÕES PARA O PRECONCEITO
LINGUÍSTICO.
Marcos Bagno – Preconceito linguístico.
Erro gramatical ou preconceito linguístico?
A noção do erro gramatical e de preconceito linguístico social, existe no
primeiro caso, em que se busca encontrar em toda e qualquer manifestação
linguística, seja falada ou escrita, a língua ideal cujo padrão é preestabelecido
como forma de lei na gramática.
Mas como analisar o indivíduo que, de forma bastante inteligente, se utiliza de
diferentes normas? Seria ele alguns momentos culto e em outros inculto?
“ Certa vez ao fechar a porta da sala de aula pois o sinal do recreio havia
soado, ouvi duas estudantes conversando. Elas disseram:
-A gente vamos descer agora pro recreio?
A outra retruco / -Nós vamos pro recreio.
Que percepção fantástica essa aluna teve de normas de uso linguístico. Em
sua comunidade, o uso de “a gente vamos” é regular. Ela, para não parecer
pedante ou fora da norma linguística adotada lá, faz essa concordância.
Por outro lado, na escola, a forma exigida é outra, é a normativa/prescritiva. Ela
deve, portanto, empregar a concordância a gente vai ou nós vamos. O fato de
a falante usar a gente vamos com os seus próximos em sua comunidade deve
rotulá-la como inculta? Claro que não!
As variedades devem ser respeitadas de acordo com o contexto em que os
responsáveis pela comunicação, emissor e receptor, se encontram inseridos.
(adequação).
O professor deve está ciente, que ao usar a norma padrão
ele pode querer que o aluno substitua o seu saber, a sua
variedade, mas cabe ao professor dá mais instrumentos
para o aluno e explicar que a forma padrão pode ser
beneficiada em outro lugar pode ser exigida.
Quando temos um erro gramatical inaceitável, dizemos que
se chama *agramatical. * A GENTE VAMOS À PRAIA.
Se cairmos na tentação de considerar erro todo e qualquer
desvio às regras prescritas pela gramática normativa, todos
estaremos sujeitos ao erro, pois quem sabe todas as
regras da gramática de sua língua ou, ainda quem nunca
fez a opção, em algum momento de sua vida por um desvio
motivado por uma situação qualquer.
O estruturalismo
O estruturalismo é uma teoria linguística que surge no início do século
XX, a partir da publicação do célebre Cours de Linguistique Générale (1916),
de Ferdinand de Saussure. Tal livro é, na verdade, um recorte de notas das
aulas lecionadas por Saussure no período de 1907-1911, na Universidade de
Genebra, trabalho organizado por dois de seus alunos e publicado três anos
após a sua morte. É no Curso que se tornam públicas as ideias de Saussure,
precursor do estruturalismo, que defendia a hipótese de que a língua
funcionava como um sistema, um todo coerente e organizado. Para o estudo
efetivo dessa língua, era preciso, portanto, uma análise detalhada de como o
sistema se estrutura, revelando assim as unidades mínimas constituintes desse
todo. Tais pensamentos sustentam o desenvolvimento da linguística estrutural
no século XX.
A corrente estruturalista entende a língua como um sistema articulado e
homogêneo, onde existem elementos coesos e inter-relacionados que
funcionam a partir de um conjunto de regras estabelecidas dentro do próprio
sistema. Por consequência dessa ideologia, surge outro princípio do
estruturalismo:
[…] a língua deve ser estudada em si mesma e por si mesma. É o que
chamamos estudo imanente da língua, o que significa dizer que toda
preocupação extralinguística deve ser abandonada, uma vez que a estrutura da
língua deve ser descrita apenas pelas suas relações internas. (COSTA, 2008,
p. 115)
Ou seja, só interessa à perspectiva sistêmica aquilo que é puramente
imanente, a língua como um sistema de signos independentes, dispensando
qualquer preocupação extralinguística. Compreende-se, dessa maneira, que a
língua deve ser analisada como forma (estrutura) e não como substância
(matéria da qual ela se manifesta).
Essa visão sistemática da língua para Saussure foi duramente criticada
por muitos estudiosos que o sucederam. Esses teóricos passam a buscar uma
compreensão do fenômeno da linguagem que não está mais centrado apenas
na própria língua, nesse sentido, os elementos excluídos por Saussure, como a
fala, o sujeito e a história, que foram trazidos para os embates linguísticos com
o intuito de pensar a língua de modo mais amplo, onde exista uma ligação
entre o nível propriamente linguístico e o extralinguístico.
Ao estudarmos Saussure é muito comum encontrarmos diversas
dicotomias relacionadas ao pensamento do linguista. Entre as principais estão:
língua x fala; sincronia x diacronia; significante x significado; paradigma x
sintagma. Dentre essas, a que mais se destacou no estruturalismo foi a que
estabeleceu uma diferença entre língua (langue) e fala (parole). A língua,
vertente social da linguagem, seria uma construção coletiva, um sistema de
valores que se opõem uns aos outros e que está depositado, como produto
social, de cada falante de uma comunidade; contrariamente à fala, que constitui
o uso individual do sistema e está sujeita a fatores externos, muitos desses não
linguísticos, portanto, não passíveis de análise científica. Desse modo, apesar
de entender a importância da fala, Saussure escolhe a língua como objeto de
estudo específico da linguística estrutural. O linguista faz também uma
diferenciação sobre o método de investigação a ser adotado pelo pesquisador:
sincrônico e/ou diacrônico. Um estudo sincrônico em linguística diz respeito à
análise de uma língua num determinado momento, independentemente da sua
evolução histórica; em oposição, a diacronia é o estudo através do tempo, que
busca estabelecer uma comparação entre dois momentos da evolução histórica
de uma determinada língua. Em mais uma de suas dicotomias, Saussure
afirma que a língua é um sistema de signos. O signo linguístico constitui-se
numa combinação de significante e significado, no qual um não se concebe
sem o outro; o significante é uma imagem acústica (cadeia de sons/impressão
psíquica desses sons), enquanto o significado é o conceito e reside no plano
do conteúdo. Em mais uma de suas considerações, Saussure enfatiza que a
linguagem se constrói a partir de dois eixos: paradigma e sintagma. O
paradigma é o eixo vertical (das escolhas, por meio do qual se escolhe a
sequência de palavras que constituirá o discurso), já o sintagma seria o eixo
horizontal (das combinações, das múltiplas possibilidades de combinação das
palavras em frases).
Sob o título de estruturalismo, a linguística moderna conhece duas vertentes
principais: a europeia (a qual abordamos até aqui) e a norte-americana.
O estruturalismo norte-americano tem como principal referência
intelectual as ideias de Leonard Bloomfield, que desenvolve seus trabalhos de
acordo com a corrente da linguística distribucionalista, apresentada nos
Estados Unidos com a publicação de Language, em 1933. A linguística de
Bloomfield tem por objetivo a descrição total de um estado sincrônico de língua
e baseia-se na psicologia behaviorista, que tem Skinner como um de seus
maiores teóricos. Assim, de acordo com sua teoria, um sujeito só é capaz de
identificar o objeto “cadeira”, por exemplo, se ele estiver perto desse objeto
para entender o que é realmente. Com isso, na perspectiva de Skinner, termos
como “conteúdo”, “significado” ou “referente” devem ser desprezados enquanto
utilizados em respostas verbais. É importante ressaltar que a teoria proposta
por Bloomfield, dominante nos Estados Unidos até aproximadamente 1950, é
apresentada de maneira independente no momento em que o pensamento
saussuriano começa a ser difundido na Europa.
É inegável, que as teorias estruturalistas foram de grande importância para o
desenvolvimento das pesquisas em linguística moderna. Tanto os
estruturalistas europeus quanto os americanos contribuíram imensamente para
o desenvolvimento da ciência da linguagem, porém, não podemos deixar de
citar o nome de Ferdinand de Saussure cujas teorias, embora muitas vezes
criticadas, são consideradas o “ponta-pé” inicial, pois foi justamente partindo de
seus pressupostos que os linguistas puderam ampliar os conhecimentos, bem
como acrescentar novas concepções acerca dos estudos linguísticos.
Saussure (1973) deixou inúmeras contribuições, entre elas as famosas dicotomias:
língua e fala, sintagma e paradigma, sincronia e diacronia, significante e
significado.
Língua e fala Saussure (1973) definiu o objeto de estudo da linguística moderna. Para ele, a fala
é assistemática, heterogênea e concreta; já a língua é sistemática homogênea, abstrata e,
portanto, passível de análise interna. A língua (langue) passou a estabelecer uma oposição à
fala (parole). Sendo assim, Saussure promoveu o corte que deixa de fora as questões relativas
à fala. Em sua concepção, a língua faz a unidade da linguagem, ficando no âmbito da
homogeneidade e do abstrato, sem considerar a exterioridade. O objeto da linguística é uma
língua na qual se possam examinar as relações sistêmicas, abstraindo-se totalmente o uso. O
corte saussureano excluía a subjetividade na linguagem, as unidades transfrásticas, as
variedades linguísticas, o texto, as condições de produção, a história, o sujeito e o sentido.
Língua: Social, homogênea, sistemática, abstrata, constante,
conservadora, ideal, supra individual, psíquica, instituição,
potencialidade, sistema, forma, etc...
Fala: Individual, heterogênea, assistemática, concreta, variável,
inovadora, real, individual, psicofísica, realidade, realização, substancia.
Os conceitos de língua e fala são a segunda dicotomia do linguista suíço. Para
Saussure, a oposição desses dois conceitos se deve ao fato de a língua ser uma
construção coletiva, enquanto a fala é uma propriedade individual. A primeira é definida
como sistemática, enquanto a segunda como assistemática. Aí reside um fato
interessante: a língua sendo um sistema, abre-se toda uma miríade de possibilidades
analíticas, visto que sistema pressupõe inter-relação absoluta entre tudo na língua,
justamente por um ponto se definir apenas pela existência dos outros. A importância
desse conceito é o fato de que Saussure, através dele, estabelece o objeto de estudo
da linguística, ao afirmar que esta deve se preocupar apenas com a língua. Através
dessa dicotomia chega-se à próxima, que, apesar de simples a primeira vista,
possibilita novos entendimentos sobre muitos fatos. O primeiro deles é sobre a própria
língua, que antes sendo vista como um catálogo de nomenclaturas, passa a ter uma
relação que foge a essa entre "palavras" e "coisas", partindo para uma entre "imagens
acústicas" e "conceitos". A dicotomia Significado versus Significante redefine a língua e
a emancipa. Significante e significado, juntos, formam um signo, cujo estudo
denominou-se "semiologia".
Sintagma e paradigma
A linguagem tem dois modos de funcionamento: a combinação (relações sintagmáticas) e a
seleção (relações associativas ou paradigmáticas). Isto é, funciona a partir do encontro, na
cadeia linguística, do eixo das relações sintagmáticas com o das relações. O eixo sintagmático
(mecanismo de combinação) é a realização da língua, representando a fala; o eixo
paradigmático (mecanismo de seleção) representa o plano da língua, sistema disponível na
memória do falante.
1. O eixo do PARADIGMA é vertical das escolhas por meio do qual eu
escolho sempre a próxima palavra que contribuirá o meu discurso,
constituir as milhões de palavras na nuvem de nossa mente;
semelhantes, sinônimas ou associadas.
2. O eixo do SINTAGMA é horizontal do discurso (fala), as múltiplas
possibilidades de combinação das palavras em frases. O eixo do
sintagma corresponde a materialização do meu pensamento, ou seja, eu
escolho as palavras no eixo do paradigma para, então construir a minha
fala (sintagma)
Sincronia X Diacronia
Saussure, por meio dessa relação dicotômica retratou a existência
de uma visão sincrônica – o estudo descritivo da linguística em
contraste à visão diacrônica - estudo da linguística histórica,
materializado pela mudança dos signos ao longo do tempo. Tal
afirmação, dita em outras palavras, trata-se de um estudo da
linguagem a partir de um dado ponto do tempo (visão sincrônica),
levando-se em consideração as transformações decorridas mediante as
sucessões históricas (visão diacrônica), como é o caso da palavra
vosmecê, você, ocê, cê, vc...
Sincronia: Estática, descritiva, interessa-se pelo sistema, descreve o estado da língua
e suas relações, abstrai o tempo.
Diacronia: Evolutiva, retrospectiva, interesse-se pela evolução e suas causas, leva em
conta o tempo, estuda o processo da evolução da língua.
linguística moderna, com Saussure, rompe com o estudo histórico e comparativo da
linguística do século XIX. O mestre genebrino propõe estudar não mais como as línguas
evoluem, mas como se estruturam. Foca não mais a evolução, mas um determinado
estado da língua, ignorando sua história. A linguística, portanto, pode abordar a língua
nas perspectivas sincrônica (estuda a língua em um dado momento) ou diacrônica
(estuda a língua através dos tempos). Saussure adotou a sincronia. Preocupou-se em
compreender como funcionam e não como se modificam as línguas.
Significado e significante
Outro aspecto básico dos postulados saussurianos é a do signo linguístico. O signo é o
resultado de significado mais significante .
(i) Significado: conceito ou ideia;
(ii) (ii) Significante: elemento sensível ou plano de expressão.
Toda palavra que possui um sentido é considerada um signo linguístico. Ex: “livro”. Quando se
observa o signo “livro”, percebe-se que ele é a união de som (ou escrita) econceito, ou seja,
significante e significado, respectivamente.
O signo apresenta duas características básicas:
(i) arbitrariedade: uma das características do signo linguístico é o seu caráter arbitrário. Não
existe uma razão para que um significante (plano de expressão) esteja associado a um
significado (plano do conteúdo ou ideia). Isso explica o fato de que cada língua emprega
significantes diferentes para um mesmo significado (conceito). Ex.: “mesa” (português); “table”
(inglês);
(ii) linearidade: os componentes que integram um determinado signo se apresentam um após
o outro, tanto na fala como na escrita. É o eixo sintagmático.
A partir da dicotomia significante e significado, constroem-se dois planos (expressão e
conteúdo), subdivido cada um em forma e substância:
(i) Plano da expressão (significante):
1. forma da expressão: campo da fonologia;
2. substância da expressão: campo da fonética.
(ii) Plano do conteúdo (significado):
1. forma do conteúdo: campo da morfossintaxe;
2. substância do conteúdo: campo da semântica, das ideias.
Para Saussure, o signo linguístico se compõe de duas faces
básicas: a do significado – relativo ao conceito, isto é, à
imagem acústica, e a do significante – caracterizado pela
realização material de tal conceito, por meio dos fonemas e
letras. Falando em signo, torna-se relevante dizer acerca do
caráter arbitrário que o nutre, pois, sob a visão
saussuriana, nada existe no conceito que o leve a ser
denominado pela sequência de fonemas, como é o caso da
palavra casa, por exemplo, e de tantas outras. Fato esses que
bem se comprova pelas diferenças existentes entre as línguas,
visto que um mesmo significado é representado por
significantes distintos, como é ocaso da palavra cachorro (em
português); dog (inglês); perro (espanhol); chien (francês)
e cane (italiano).
Competência X desempenho
Correspondendo à dicotomia língua-fala de Saussure, Chomsky , estabeleceu a
dicotomia “competência-performance”. Competência linguística seria o conhecimento
internalizado que os falantes possuem de uma língua para permitir o uso do conjunto de
regras que se encontram presentes em sua mente no uso da linguagem. A performance, por
sua vez, refere-se ao modo que o falante vai utilizar a linguagem, envolvendo aspectos
extralinguísticos, como o ambiente, a sociedade e os interlocutores. Da mesma forma que
Saussure foca a língua, a teoria gerativa vai centrar-se na competência, de caráter universal,
relacionada à mente ou ao cérebro do falante. Para Chomsky (1957), a formulação dos
enunciados é, em parte, determinada pelo cérebro do falante, na esfera responsável pela
linguagem. Com isso, o Gerativismo defende a tese do inatismo: a linguagem como uma
propriedade inata ao homem. Para o estruturalismo americano, a linguagem é fruto de um
processo de aquisição a partir da práxis (prática social), como demonstrou Bakhtin (1992) com
o dialogismo: a formação do ser pelas relações sociais. Com isso, a linguagem seria social e não
biológica (ou mental). Chomsky, no entanto, ao defender o inatismo afirma que o homem já
nasce com a linguagem. Com o objetivo de investigar o conhecimento implícito do falante,
Chomsky inaugura a teoria da gramática gerativa, a partir da obra Syntactic structures,
publicada em 1957.
Competência linguística: É a porção do conhecimento do sistema linguístico do falante,
que lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua língua. É um conjunto de regras que
o falante construiu em sua mente pela aplicação de sua capacidade inata para a aquisição da
linguagem aos dados linguísticos que ouviu durante a infância.
Desempenho linguístico: Corresponde ao comportamento linguístico que resulta não
somente da competência do falante, mas também de fatores não linguístico de ordem variada,
como: convenções sociais, crenças, atitudes emocionais do falante em relação ao que diz com
o funcionamento do mecanismo psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção do
enunciado. É a imperfeita manifestação do sistema, é o uso real da língua em situação
concreta. Habitual ocasionalmente adotada por um tipo de comportamento.
A competência gramatical é o saber linguístico abstrato que temos em nossa mente.
Esse saber é acessado toda vez que precisamos produzir ou compreender frases. É o
conhecimento das regras gramaticais de nossa língua materna. O uso da competência
em situação de fala específica é que constitui o desempenho linguístico:
a competência é um saber e o desempenho é um fazer.
Esse caminho tão rápido para a adultidade linguística partiu de uma
capacidade inata, condição ingênito do ser racional.
A tese inatista proposta por Noam Chomsky defende que os seres humanos já nascem com
uma espécie aparelho de carácter biológico responsável pelo desenvolvimento da
linguagem, e que possui uma estrutura gramatical universal, que possibilita os homens a
construírem infinitas sentenças que nunca foram ditas anteriormente em sua língua
materna e que essas formulações só dependem de sua criatividade. “[...] as crianças
produzem muitas frases que jamais poderiam ter ouvido adultos produzirem” E que a
capacidade de se desenvolver a fala não seria determinada por estímulos do meio em que
o individuo estar inserido, e sim pela herança genética que segundo ele é comum a toda
espécie humana, Chomsky se opõem ao behaviorismo na ideia de que a criança aprende a
falar somente por meio de imitação de outras pessoas ou por meio do processo estímulo-
resposta, ele acredita que todas as crianças consideradas normais serão capazes de
desenvolver estruturas gramaticais muito difíceis de forma rápida sem que sejam
ensinadas, elas escolhem as regras que supostamente variam fazer parte de sua
linguagem, Por isso, esse processo não pode ser concebido como um repertório de
respostas, ele afirma que o cérebro deve conter um dispositivo que consiga construir um
número infinito de frases a partir de uma lista finita de palavras. Perante esses fatores
apresentados Chomsky chegou à conclusão que a linguagem é quase completamente
inata. “... a criança, que é exposta normalmente a uma fala precária, fragmentada, cheia
de frases truncadas ou incompletas, é capaz de dominar um conjunto complexo de regras
ou princípios básicos que constituem a gramática internalizada do falante. “(...) Um
mecanismo ou dispositivo inato de aquisição da linguagem (...)”, que elabore hipóteses
linguísticas sobre dados linguísticos primários (isto é, a língua a que a criança está
exposta), gera uma gramática especifica, que é a gramática da língua nativa da criança, de
maneira relativamente fácil e com um certo grau de instantaneidade. Isto é, esse
mecanismo inato faz “ desabrochar o que já está lá”, através da projeção, nos dados do
ambiente, de um conhecimento linguístico prévio, sintático por natureza”.