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Doenças do urucuzeiro
Ruth Linda Benchimol
Introdução
o urucuzeiro (Bixa orellana L.) é uma planta rústica, perene, originária
da América Tropical, possivelmente da flora amazônica. O interesse pelo cultivo
é em função dos pigmentos produzidos no revestimento externo dos grãos, cujo
princípio corante é a bixina, que dá origem à norbixina, as quais apresentam
váriaspossibilidades de utilização nos setores industriais de alimentos, cosméticos,
madeiras, têxteis, cromatografia e tintas, além da utilização na culinária caseira,
como colorífico.
No Brasil, até 1991, há registros de cerca de 610.000 pés da cultura,
sendo 390.000 plantados em diversos municípios do Estado de São Paulo
e 220.000 em São Francisco do Pará, Estado do Pará. Atualmente, as
perspectivas comerciais do urucu no mercado interno e externo são promissoras,
em função da ampla utilização da bixina na elaboração de produtos derivados
da indústria leiteira, além de a planta oferecer a vantagem de poder ser cultivada
em áreas decadentes e ser usada a mão-de-obra familiar (Castro, 1994).
Tanto no estádio de viveiro como nas áreas de plantio definitivo,
o urucuzeiro sofre o ataque de diversos patógenos que, até há bem pouco tempo,
eram de importância secundária para a cultura. Com o aumento dos monocultivos,
essas doenças vêm provocando perdas diretas à cultura (Santos, 1990).
Nesse capítulo, serão descritas algumas das mais importantes doenças
em viveiro de mudas e em plantas adultas de urucuzeiro na Amazônia.
OÍDIO
o mildio pulverulento tOidium bixae Viegas e Oidium sp.), é uma das
principais doenças da cultura do urucuzeiro na Amazônia, sendo também
conhecida pelos nomes de mancha branca, cinza, mofo branco ou oídio. Essa
doença se inicia nas folhas jovens das partes mais baixas da planta, progredindo
rapidamente para as partes superiores da copa. Observam-se, em ambas as
faces da folhas atacadas, colônias fúngicas pulverulentas constituídas de micélio
e de conídios do patógeno. As plantas afetadas sofrem desfolhamento,
principalmente na época mais chuvosa, ficando bastante debilitadas.
A remoção das folhas caídas durante o ataque do patógeno na estação
chuvosa e a poda dos ramos mais baixos da planta durante o período mais seco
são medidas de controle cultural que ajudam na redução da intensidade de ataque
do oídio na próxima estação chuvosa (Kobayashi & Oniki, 1993). O controle
do oídio pode ser iniciado quando cerca de 20% das plantas apresentarem
sintomas da doença. A proteção dos lançamentos novos sob condições de viveiro
e no campo pode ser feita na época de pós-frutificação e de colheita dos frutos,
através de aplicações quinzenais e mensais de enxofre molhável, dinocap
e benomyl (Ferreira, 1989 b; Santos, 1990).
QUEIMA FOLIAR
A queima foliar ou mancha de Alternaria é provocada pelo fungo
Alternaria sp. Os sintomas se iniciam por uma queima foliar partindo do ápice,
conferindo coloração de tonalidade marrom ao tecido. Os danos provocados
por essa doença têm sido severos, principalmente após a germinação das
sementes, até quando as plantas atingem quatro a cinco folhas definitivas.
Aplicações com fungicida à base de iprodione (0,2% do produto comercial) em
intervalos semanais, têm se mostrado eficientes no controle dessa doença.
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MANCHAS FOLIARES
Em viveiro, manchas foliares associadas à Mycoleptodiscus sp.,
provavelmente M. terrestris, foram constatadas em viveiros na área experimental
da Embrapa Amazônia Oriental, por Albuquerque & Duarte (1988). Os sintomas
se caracterizam por lesões foliares arredondadas, com o centro necrosado,
de coloração pardo-clara, circundadas por halo pardo escuro. Não há
referências sobre o controle dessa doença, mas acredita-se que as medidas
preconizadas para as outras manchas foliares possam mantê-Ia sob controle.
De ocorrência tanto em viveiro como em plantios definitivos,
a cercosporiose ou mancha parda das folhas, provocada por Cercospora bixae
Allesch. et Noack causa manchas circulares, de coloração variando de marrom
a cinza, com bordas púrpuras e halo amarelado (Fig. 13.1). Na época mais
chuvosa, essa doença pode ocasionar desfolhamento intenso. Deve-se evitar
excessos de sombreamento e de umidade no viveiro, bem como diminuir
a densidade de plantio.
Em nível de campo, as manchas foliares na cultura do urucuzeiro podem
ser causadas por diversos patógenos. Entre os mais importantes estão C. bixae,
Stilbum sp., Phyllosticta sp. e Phoma sp., além de um Ascomiceto não
identificado. Geralmente, as manchas foliares variam de circulares a irregulares,
com coloração marrom a cinza, rodeadas por halo amarelado ou escuro.
Iniciam-se pelas bordas das folhas, provocando perfurações e desfolhamento.
As medidas de controle preventivo incluem podas e tratos culturais recomendados
para a cultura. A aplicação de fungicidas deve ser feita de acordo com o agente
causal da doença. Freqüentemente, são recomendados fungicidas à base de
benomyl (1 g!l), cobre (3gll) ou tiabendazol (lgll). Em alguns casos, a utilização
de plantas resistentes é recomendada (Falesi, 1987; Santos, 1990; Castro, 1994.)
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Fig. 13.1 Sintomas de mancha parda das folhas do urucuzeiro, causados por Cercospora bixce.
ANTRACNOSE OU RAMULOSE
o agente causal da antracnose é o fungo Colletotrichum gloeosporioides
Penz, de ocorrência bastante comum nos plantios de urucuzeiro com deficiências
nutricionais. Observa-se, a princípio, a queima das extremidades das folhas e
dos ramos novos, que ficam quebradiços. Como conseqüência, observa-se um
brotamento excessivo de ramos laterais, motivo pelo qual essa doença também
é conhecida como ramulose.
Como prevenção, devem ser realizados tratos culturais de rotina,
adubação balanceada, bem como a escolha de plantas matrizes resistentes.
Quando a doença já se espalhou no plantio, o controle pode ser feito com
aplicações semanais ou quinzenais com fungicidas à base de cobre, dependendo
da intensidade do ataque do patógeno.
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FERRUGEM
A ferrugem do urucuzeiro é provocada pelo fungo Uredo bixae Arth.,
cuja característica é a formação de pústulas purpúreas sobre a superfície das
folhas. O tratamento da ferrugem pode ser feito com fungicidas à base de cobre
(3 g / 1de ingrediente ativo), além de tratos culturais adequados.
MANCHA DE ALGA
Esta doença, causada pela alga Cephaleuros virescens Kunze, pode
ser reconhecida pela presença de crostas circulares pequenas, de cor alaran j ada,
sobre as folhas e ramos. Geralmente, a presença de algas significa baixa condi-
ção nutricional das plantas. O controle é feito com fungicidas cúpricos a 3%
(3 gI1de ingrediente ativo), além dos tratos culturais recomendados para a cultura.
FUMAGINA
A fumagina tem como característica o revestimento das folhas e dos
ramos por uma camada negra resultante da esporulação do fungo Capnodium
sp., o qual geralmente está associado à presença de insetos de carapaça
(cochonilhas). O controle deve ser feito aplicando-se uma mistura de fungicida
cúprico (3 g/I) + inseticida organo-fosforado a 1%.
PODRIDÃO DAS CÁPSULAS
Provocada por Fusarium sp., a podridão dos frutos se manifesta na forma
de manchas necróticas de forma e tamanho variados, sobre a superfície dos frutos,
cujas sementes se decompõem e ficam recobertas por um micélio cotonoso de
cor branco-acinzentada, podendo ficar expostas através de rachaduras, nos frutos
bastante afetados. Além dos tratos culturais recomendados, devem ser aplicados
fungicidas à base de benomyl ou tiabendazol (1 g/I).
VASSOURA-DE-BRUXA
A vassoura-de-bruxa do urucuzeiro, causada pelo fungo Crinipellis
perniciosa (Stahel) Singer, foi detectada em 1985, no município de Tomé-Açu,
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Estado do Pará (Bastos & Andenbrhan, 1986). Os sintomas caracterizam-se
pela proliferação anormal de brotos laterais, hipertrofia e intumescimento na
base dos ramos. O controle consiste em podar os ramos afetados 20 em abaixo
do ponto de intumescimento e evitar plantios próximos a áreas onde existam
grandes plantios de cacaueiro, principal hospedeiro desse patógeno.
ESTRANGULAMENTO DO COLETO
Um tipo de vírus é o agente causal do estrangulamento do coleto, que
provoca a morte da planta. As plantas atacadas devem ser imediatamente
erradicadas e vistorias periódicas devem ser realizadas na sementeira e no viveiro.
PODRIDÃO DO COLETO
A podridão do colo, também chamada podridão basal do urucuzeiro
é provocada pelo fungo Sclerotium rolfsii Sacc .. Os sintomas dessa doença são
o amarelecimento e a murcha das plantas, e a presença de sinais do patógeno na
base do caule, na forma de um micélio branco e espesso e de corpos esféricos
marrons (escIeródios), que são considerados formas de resistência do fungo.
O controle preventivo da podridão do colo é feito evitando-se o
sombreamento e a umidade em excesso no viveiro. O controle químico pode ser
feito com o fungicida PCNB, na proporção de 30 g a 50 g/rn? de solo.
PODRIDÃO VERMELHA DAS RAÍZES
A podridão vermelha, causada por Ganoderma philippii (Bres. &
P.Henn.) Bres., é caracterizada pelo amarelecimento generalizado da folhagem,
murcha e morte das plantas, ficando as folhas presas à copa por algum tempo.
Há o apodrecimento do sistema radicular, no qual se encontram rizomorfas
marrom-avermelhadas, resultantes do crescimento do patógeno. Há registros
de podridão de raízes em mudas de urucuzeiro no primeiro ano de plantio no
campo, em Minas Gerais, provocada por Cylindrocladium clavatum Hodges
& May, geralmente em plantas com sistema radicular mal formado ou enovelado
(Almeida et al., 1983).
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Como medida de controle no viveiro, deve-se eliminar as plantas afetadas
e manter a área arejada. Nas áreas de plantio definitivo, deve ser feito o
destocamento, o arranquio e a queima das plantas afetadas, adição de calcário
na cova e pousio por dois a três meses, antes de se efetuar o replantio na mesma
cova. Trincheiras de isolamento (30 a 40 em de profundidade) podem ser feitas
entre as plantas sadias e as doentes.
TOMBAMENTO DE MUDAS
O tombamento é uma doença de ocorrência comum em viveiros de
mudas de urucuzeiro. O agente etiológico dessa doença é o fungo Rhizoctonia
solani Kuhn, o qual provoca a murcha da base do caule, causando o
tombamento da planta. O controle dessa doença pode ser feito com aplicações
quinzenais de fungicidas à base de cobre (3g/l), alternadas com mancozeb
(2g/I), até o desaparecimento dos sintomas.
PARASITA EPÍFITA (Erva de passarinho)
Embora não seja considerada agente patogênico, a erva de passarinho
(Loranthus sp.), parasita epífita dos ramos do urucuzeiro, é um dos principais
problemas para a cultura na região amazônica. A dispersão das sementes é feita
por pássaros silvestres. Ao cair sobre os ramos e sob condições de umidade
e temperatura adequadas, as sementes germinam e emitem ramos e folhas.
As raízes contém estruturas semelhantes a haustórios, cuja função é sugar
o conteúdo celular. A planta parasitada pode vir a morrer, caso não seja feito
o controle adequado da erva de passarinho, que consiste no arranquio tanto da
planta jovem quanto da adulta, com raízes sugadoras e folhas bem desenvolvidas,
durante a colheita dos frutos, que se verifica no decorrer do ano. A poda drástica
dos ramos parasitados também é aconselhada, o que permite a brotação de
uma copa mais vigorosa e produtiva.
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