10o Ano Filosofia
10o Ano Filosofia
A filosofia é uma atividade crítica, onde se exige Proposições simples: proposição que não está ligada
reflexão crítica e imparcial na procura de boas por conectivas proposicionais a mais nenhuma
razões para aceitar as crenças. Dessa forma, atitude outra. (Exemplo: Todos os filósofos estudam Lógica.)
crítica é importante na procura da verdade, pois,
quando se critica uma doutrina, há que fazê-lo Proposição complexa: proposição construída
tentando apresentar boas razões para a rejeitarmos, combinando duas proposições numa só, usando
libertando-nos, assim, de preconceitos e crenças conectivas proposicionais. (Exemplo: Todos os
acríticas. filósofos estudam Ética e Lógica.)
Não se baseia em dogmas, doutrinas cuja verdade é
tomada por garantida e que não pode ser questionada. Proposição categórica: proposição que afirma ou
nega algo de forma absoluta. (Exemplo: Todos os
A filosofia é uma atividade conceptual, pois dedica-se filósofos são pensadores.)
à análise de conceitos fundamentais recorrendo ao Esta proposição tem uma forma lógica: Quantificador +
pensamento (a priori). Termo Sujeito + Cópula + Termo Predicado
Em filosofia, o trabalho inicia-se com a Este tipo de proposição classifica-se pela quantidade
problematização: os problemas filosóficos são de e pela qualidade.
natureza conceptual e não empírica, pois
resolvem-se recorrendo ao pensamento. Tipo Quantidade Qualidade Forma canónica
Os problemas filosóficos são, geralmente, formulados
através de questões filosóficas, relativas às nossas A Universal Afirmativa Todos os S são P.
crenças fundamentais. São de natureza conceptual,
a priori e são abertas, porque não tem uma solução E Universal Negativa Nenhum S é P.
previamente determinada.
I Particular Afirmativa Alguns S são P.
Envolve a criação de teses, possíveis respostas aos
problemas da filosofia. De modo a defender a tese, O Particular Negativa Alguns S não são P.
são propostos argumentos, isto é, razões e
fundamentos que sustentam a ideia que se pretende Negar proposições categóricas
provar.
Argumentos e proposições
A proposição P é a antecedente, e a proposição Q é a A validade e a força não são suficientes para tornar o
consequente. A antecedente é uma condição argumento num “bom argumento”, pois interessa-nos
suficiente para a consequente, enquanto que a argumentos que sejam válidos ou fortes cujas
consequente é uma condição necessária para a premissas sejam efetivamente verdadeiras.
antecedente (a verdade da antecedente garante a
verdade da consequente, e vice-versa). Argumento sólido → Validade + Premissas
verdadeiras = Conclusão necessariamente
Para negar uma proposição condicional, temos de verdadeira
afirmar a verdade da antecedente e a falsidade da
consequente.
Argumento forte → Força + Premissas verdadeiras =
Conclusão provavelmente verdadeira
Proposições consistentes: se várias proposições são
consistentes entre si, então é possível que sejam
todas verdadeiras.
Avaliar argumentos dedutivos: lógica
formal
Proposições inconsistentes: se várias proposições são
inconsistentes entre si, então pelo menos uma delas é Como formalizar argumentos
falsa.
A lógica formal visa determinar a validade dos
Como avaliar argumentos? argumentos unicamente a partir do estudo da sua
forma, ignorando o seu conteúdo.
Avaliar argumentos implica começar por inspecionar a Na lógica proposicional é preciso formalizar os
sua validade e força, e, de seguida, verifica-se a argumentos:
veracidade das premissas, a sua validade (se são
todas verdadeiras). A validade e a força reside na 1. Identificar as premissas e a conclusão, e reescrever
relação de justificação entre as premissas e a o argumento na forma padrão.
conclusão (se as premissas apoiam suficientemente a
conclusão), que permite diferenciar argumentos Exemplo:
dedutivos de não dedutivos. P1- Se está a chover, o chão fica molhado.
P2- Está a chover.
Argumentos dedutivos válidos: C- Logo, o chão fica molhado?
● São aqueles em que é impossível que as premissas
sejam verdadeiras e a conclusão seja falsa; 2. Construir o dicionário do argumento, isto é,
● Porém, um argumento válido pode ter premissas identificar as proposições simples que o constituem e
falsas e/ou conclusão falsa; designar cada uma delas por uma letra.
● Num argumento dedutivamente válido, existe uma
relação de implicação entre as premissas e a P- Está a chover
conclusão. As premissas implicam a conclusão, e, por Q- O chão fica molhado.
isso, a verdade das premissas garantem a verdade da
conclusão. 3. Usar as conectivas proposicionais nas proposições
Argumentos não dedutivos fortes: complexas.
● São aqueles em que, se as premissas forem Forma Conectivas proposicionais
verdadeiras, é muito improvável, mas não Lógica
impossível, que a conclusão seja falsa;
● Num argumento indutivamente forte, existe uma Negação ¬P não; é falso que; não é
relação de confirmação entre as premissas e a verdade que
conclusão. As premissas confirmam a conclusão num
Conjunção P∧Q e; mas
grau elevado, e, desta forma, apoiam suficientemente
a conclusão.
Disjunção P∨Q ou; a não ser que;
Inclusiva a menos que
Verdade, validade e solidez
Disjunção P⊻Q ou - ou
A validade está relacionada com a verdade: um Exclusiva
argumento válido é aquele em que, se as premissas
forem verdadeiras, é garantido que a conclusão Condicional P→Q se - então; desde que;
também seja verdadeira. apenas se
A validade e a força são propriedades dos Bicondicional P↔Q se, e apenas se; se, e
argumentos. Um argumento pode ser válido ou somente se
inválido, mas não verdadeiro ou falso.
A verdade e a falsidade são propriedades das Se está a chover, o chão fica molhado.
proposições. O argumento é válido ou inválido, mas Se P, então Q.
só as premissas e a conclusão é que são verdadeiras P→Q
ou falsas.
F V V F V F Contraposição
P- proposição condicional.
● Contingente: a proposição pode ser verdadeira ou C- A negação da consequente da premissa implica a
falsa dependendo das situações. negação da antecedente, pois a consequente é
condição necessária para a antecedente.
Falsa relação causal: Acontece quando se pensa que humana de agir sem sermos determinados a isso, isto
um evento A causou um evento B apenas porque este é, prova que possuímos livre-arbítrio.
ocorreu a seguir ao primeiro.
Objeção
Ad hominem / Ataque ao homem: Consiste em O argumento da experiência não prova que o
ataques pessoais. Para mostrar que uma certa livre-arbítrio realmente existe, pois existe uma
proposição é falsa, ataca-se quem defende que ela é diferença entre aquilo que se experiencia e aquilo que
verdadeira. é verdadeiramente real.
Por exemplo, temos a experiência direta do movimento
Ad populum / Apelo ao povo: O simples facto da do Sol e de o ver a afundar-se no oceano, mas
generalidade das pessoas acreditar numa proposição sabemos que essa experiência não corresponde à
é tomado como prova de que essa proposição é realidade. Por isso, experienciar algo não prova a sua
verdadeira. existência.
juízos morais têm um valor de verdade objetivo, isto é, 1. Argumento da diversidade cultural
que são objetivamente verdadeiros. São apenas ● Não há verdade moral objetiva: certo e errado
juízos de valor. dependem das perspetivas da sociedade e dos seus
códigos culturais, logo não faz sentido condenar uma
Tese: prática só porque é diferente da nossa. Todas as
● Os juízos morais são subjetivos: exprimem práticas culturais estão corretas.
preferências pessoais, sentimentos de aprovação ou
desaprovação dos sujeitos. Como tal, quando uma Objeção
pessoa profere um juízo moral, não pode estar Há juízos morais partilhados por todas as sociedades,
enganada. Trata-se de uma questão de gosto. sobretudo os que estão relacionados com os direitos
● Não há juízos morais objetivamente verdadeiros ou humanos, porque tais regras são necessárias para que
falsos. a própria comunidade exista. Algumas sociedades
● Defende que, a respeito dos juízos morais podem estar enganadas nas suas avaliações morais.
subjetivos, só há desacordo e que devemos respeitar Além disso, o relativismo impede o progresso e o
a liberdade moral individual. diálogo intercultural, uma vez que não podemos
questionar os valores da nossa sociedade e de outras.
1. Argumento do desacordo
● Não há verdades morais objetivas, uma vez que é 2. Argumento da tolerância
muito frequente haver desacordos ou opiniões ● Devemos ser sempre tolerantes relativamente à
divergentes. Se houvesse, não existiria um desacordo diversidade de práticas culturais.
tão forte. ● Se admitirmos que ninguém está objetivamente
certo nem errado acerca dos valores, não teremos
Objeção tendência em impor aos outros os valores da nossa
Não consegue explicar o consenso que há em torno comunidade.
dos direitos fundamentais (vida, igualdade e, ● Assim, o relativismo cultural promove a tolerância
sobretudo, direitos humanos). entre as culturas, impedindo o etnocentrismo.
sentido, já que cada sociedade orienta-se apenas certas. A boa vontade é a que age com uma intenção:
pelos padrões morais do seu tempo. cumprir o dever.
2. Argumento da tolerância
● A tolerância é um valor objetivo, não é um valor Imperativo hipotético: mandamento condicional e
relativo às sociedades. No entanto, essa tolerância, de exprime a necessidade de fazer algo com a condição
modo algum, pode justificar práticas injustas e de atingir um determinado objetivo.
violadoras dos direitos humanos. Não podemos tolerar
sociedades intolerantes. Imperativo categórico: ordem ou obrigação absoluta e
incondicional que representa o nosso dever: diz-nos
Objeção aquilo que todo e qualquer agente moral deveria
A tolerância é um valor relativo às sociedades e não fazer nas mesmas circunstâncias, independentemente
ser tolerante é um sinal de incompreensão das seus desejos e preferências subjetivas.
relativamente a outras culturas. Além disso, não
respeitar as diferenças culturais e cair numa visão A fórmula da lei universal
etnocentrista. ➢ Antes de agirmos, fazemos esta pergunta a nós
mesmos: será que a regra que orienta esta ação
O que torna uma ação moralmente poderia converter-se em lei universal? Se a resposta
correta? for sim, trata-se de uma ação moral.
➢ “Age apenas segundo uma máxima tal que possas
O problema da moralidade de uma ação ao mesmo tempo querer que ela se torne universal.”
imparcialmente a felicidade ou o bem-estar geral. Isto As condições necessárias para uma sociedade
quer dizer que não há ações boas ou más em si justa
mesmas, só as consequências as tornam boas ou
más. Rawls incita-nos a imaginar quais os princípios
Assim, não há deveres morais absolutos, pois organizadores de uma sociedade justa: posição
maximizar a felicidade geral pode implicar que se original, uma situação hipotética apresentada para
violem direitos das pessoas. escolher os princípios de justiça, garantindo a
imparcialidade e a racionalidade.
Qualidade dos prazeres:
❖ Prazeres inferiores: ações voltadas para a Para garantir a imparcialidade na escolha dos
satisfação dos prazeres corporais e relacionados com princípios da justiça, os contratantes estão sob um véu
apetites animais, comuns a humanos e não humanos. da ignorância, o que significa que desconhecem a
❖ Prazeres superiores: estão ligados aos prazeres do sua situação de classe ou estatuto social e
pensamento, da imaginação, do sentido, da emoção e desconhecem os seus talentos naturais, como a
dos sentimentos morais, e que nem todos os homens inteligência, força, e outras qualidades.
participam igualmente, tornando-os, assim, mais
importantes. No momento da escolha dos princípios que vão
orientar a sociedade, as partes deste contrato supõem
Princípio da imparcialidade: que lhes vai acontecer a pior situação possível, ou
No momento de decidir qual ação praticar, exige-se seja, adotam a regra maximin. Esta regra consiste na
que se faça um cálculo em função do interesse da maximização do mínimo de bens sociais primários que
maioria das pessoas, impondo ao indivíduo total cada indivíduo pode obter, jogando, assim, pelo
imparcialidade. seguro e evitando correr riscos.
Segundo Rawls, estes princípios garantem que
Críticas ninguém seja privado das suas liberdades básicas.
1. Argumento da máquina: o argumento da máquina
da experiência de Nozick, que refere uma máquina Os princípios de justiça
capaz de produzir apenas experiências boas sem
termos consciência de que são simulações. O O primeiro princípio de justiça é o princípio da
utilitarismo escolheria ligar-se a essa máquina, mas, liberdade, que exige igualdade na atribuição dos
no entanto, segundo Nozick, uma vida não é boa direitos e deveres básicos, bem como a máxima
apenas porque produz experiências agradáveis, essas liberdade para cada indivíduo, não pondo em causa
experiências têm de ser autênticas. uma liberdade igual para todos.
2. Argumento do bode expiatório: o utilitarismo pode
colocar em causa os direitos individuais em nome da O segundo princípio subdivide-se em dois — o
maioria, permitindo determinadas ações que nenhuma princípio da igualdade de oportunidades e o princípio
pessoa parece considerar correta, sobrepondo-se a da diferença — e surge pela existência de uma “lotaria
considerações morais que são uma parte integrante da social” (condições sociais de nascimento) e de uma
sociedade. “lotaria natural” (aptidões naturais de cada um) que
3. É demasiado exigente, já que devemos sempre pôr condicionam a atribuição de direitos e deveres
de lado os interesses individuais e pensar no básicos.
bem-estar geral, devido ao princípio da imparcialidade.
É exigido que estejamos constantemente a calcular as ● Princípio da igualdade de oportunidades: o Estado
consequências das ações, o que nem sempre é deve intervir para garantir que todos tenham as
possível — podem ser imprevisíveis e é difícil mesmas oportunidades no acesso à saúde, à
comparar a felicidade de diferentes pessoas. educação, à cultura, etc., de forma a compensar os
que se encontram numa situação social menos
Como organizar uma sociedade mais favorecida e os menos talentosos.
justa?
● Princípio da diferença: as desigualdades
A teoria da justiça como equidade de John Rawls económicas e sociais são aceitáveis apenas se
resultarem em vantagens compensadoras para todos
John Rawls pretende mostrar que a justiça é a e, em particular, para os membros mais
primeira virtude, ou seja, é o alicerce moral que desfavorecidos da sociedade.
permite avaliar se uma sociedade está bem
organizada. O propósito é perceber como as Concluindo, é com base nos princípios de liberdade
instituições sociais distribuem os direitos e os deveres. e equidade que deve ser feito um contrato social justo
que atenda às necessidades de todos os indivíduos,
Rawls é um liberal igualitário, porque defende que sendo eles tratados de forma igual, promovendo,
as liberdades básicas do indivíduo não podem ser assim, a Justiça Social.
sacrificadas em nome dos princípios distributivos.
Rawls é um contratualista. Para os contratualistas, os 1. Crítica libertarista de Nozick
princípios que regem uma sociedade resultam de um ● A crítica libertarista de Nozick incide sobre o
contrato ou acordo (real ou hipotético) estabelecido princípio da diferença e a distribuição de riqueza.
entre as partes interessadas. ● A interferência do Estado na utilização dos bens dos
indivíduos é uma violação do direito de propriedade,