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10o Ano Filosofia

O documento aborda a filosofia como uma atividade crítica e conceptual, focando na análise de proposições e argumentos. Ele descreve diferentes tipos de proposições, como simples, complexas e categóricas, além de discutir a validade e força dos argumentos. Também explora a lógica formal e informal, destacando como avaliar argumentos e as falácias que podem surgir.

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10o Ano Filosofia

O documento aborda a filosofia como uma atividade crítica e conceptual, focando na análise de proposições e argumentos. Ele descreve diferentes tipos de proposições, como simples, complexas e categóricas, além de discutir a validade e força dos argumentos. Também explora a lógica formal e informal, destacando como avaliar argumentos e as falácias que podem surgir.

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10º ano Filosofia

Filosofia (Escola Básica e Secundária Artur Gonçalves)

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O que é a filosofia? Tipos de proposições

A filosofia é uma atividade crítica, onde se exige Proposições simples: proposição que não está ligada
reflexão crítica e imparcial na procura de boas por conectivas proposicionais a mais nenhuma
razões para aceitar as crenças. Dessa forma, atitude outra. (Exemplo: Todos os filósofos estudam Lógica.)
crítica é importante na procura da verdade, pois,
quando se critica uma doutrina, há que fazê-lo Proposição complexa: proposição construída
tentando apresentar boas razões para a rejeitarmos, combinando duas proposições numa só, usando
libertando-nos, assim, de preconceitos e crenças conectivas proposicionais. (Exemplo: Todos os
acríticas. filósofos estudam Ética e Lógica.)
Não se baseia em dogmas, doutrinas cuja verdade é
tomada por garantida e que não pode ser questionada. Proposição categórica: proposição que afirma ou
nega algo de forma absoluta. (Exemplo: Todos os
A filosofia é uma atividade conceptual, pois dedica-se filósofos são pensadores.)
à análise de conceitos fundamentais recorrendo ao Esta proposição tem uma forma lógica: Quantificador +
pensamento (a priori). Termo Sujeito + Cópula + Termo Predicado

Em filosofia, o trabalho inicia-se com a Este tipo de proposição classifica-se pela quantidade
problematização: os problemas filosóficos são de e pela qualidade.
natureza conceptual e não empírica, pois
resolvem-se recorrendo ao pensamento. Tipo Quantidade Qualidade Forma canónica
Os problemas filosóficos são, geralmente, formulados
através de questões filosóficas, relativas às nossas A Universal Afirmativa Todos os S são P.
crenças fundamentais. São de natureza conceptual,
a priori e são abertas, porque não tem uma solução E Universal Negativa Nenhum S é P.
previamente determinada.
I Particular Afirmativa Alguns S são P.
Envolve a criação de teses, possíveis respostas aos
problemas da filosofia. De modo a defender a tese, O Particular Negativa Alguns S não são P.
são propostos argumentos, isto é, razões e
fundamentos que sustentam a ideia que se pretende Negar proposições categóricas
provar.

Argumentos e proposições

Em filosofia, os argumentos são as razões para


sustentar as teses. Os argumentos são constituídos
por proposições, frases geralmente declarativas que
são expressas por uma frase com valor de verdade,
isto é, uma frase que é verdadeira ou falsa.

Para construir um argumento, organizamos as


proposições de modo a que uma seja justificada
pela(s) outra(s). Para isso, identificamos a conclusão 1. Relação de contradição: proposições contraditórias
(a tese) e as premissas (as razões que visam a têm sempre valores de verdade opostos.
sustentar a tese). 2. Relação de contrariedade: proposições contrárias
não podem ser ambas verdadeiras, mas podem ser
Exemplo: “A Joana, que é amiga do Pedro, adora ambas falsas.
automóveis elétricos, porque prefere sempre opções 3. Relação de subcontrariedade: proposições
ambientalmente sustentáveis.” subcontrárias podem ser ambas verdadeiras, mas não
podem ser ambas falsas.
1. Identificar as premissas e a conclusão; 4. Relação de subalternidade: se a proposição
2. Revelar premissa(s) omitida(s): neste exemplo, a universal é verdadeira, a particular também é
premissa omitida é “Os automóveis elétricos são uma verdadeira. Se a particular é falsa, a universal também
opção ambiental,ente sustentável.”; é falsa.
3. Afastar ruído, isto é, informações irrelevantes: neste
exemplo, a informação de a Joana ser amiga do Pedro Proposição condicional: proposição complexa que
é irrelevante; afirma uma relação especial entre as proposições
4. Reescrever o argumento na sua forma padrão: que a constituem — a verdade de uma implica a
verdade da outra. Estabelecem condições necessárias
P1- A Joana prefere sempre opções ambientalmente e suficientes entre proposições simples.
sustentáveis. Pode ser expressa com a forma “Se P, então Q.”
P2- Os automóveis elétricos são opções (Exemplo: “Se está a chover, então o chão fica
ambientalmente sustentáveis. molhado.”
C- A Joana prefere automóveis elétricos.

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A proposição P é a antecedente, e a proposição Q é a A validade e a força não são suficientes para tornar o
consequente. A antecedente é uma condição argumento num “bom argumento”, pois interessa-nos
suficiente para a consequente, enquanto que a argumentos que sejam válidos ou fortes cujas
consequente é uma condição necessária para a premissas sejam efetivamente verdadeiras.
antecedente (a verdade da antecedente garante a
verdade da consequente, e vice-versa). Argumento sólido → Validade + Premissas
verdadeiras = Conclusão necessariamente
Para negar uma proposição condicional, temos de verdadeira
afirmar a verdade da antecedente e a falsidade da
consequente.
Argumento forte → Força + Premissas verdadeiras =
Conclusão provavelmente verdadeira
Proposições consistentes: se várias proposições são
consistentes entre si, então é possível que sejam
todas verdadeiras.
Avaliar argumentos dedutivos: lógica
formal
Proposições inconsistentes: se várias proposições são
inconsistentes entre si, então pelo menos uma delas é Como formalizar argumentos
falsa.
A lógica formal visa determinar a validade dos
Como avaliar argumentos? argumentos unicamente a partir do estudo da sua
forma, ignorando o seu conteúdo.
Avaliar argumentos implica começar por inspecionar a Na lógica proposicional é preciso formalizar os
sua validade e força, e, de seguida, verifica-se a argumentos:
veracidade das premissas, a sua validade (se são
todas verdadeiras). A validade e a força reside na 1. Identificar as premissas e a conclusão, e reescrever
relação de justificação entre as premissas e a o argumento na forma padrão.
conclusão (se as premissas apoiam suficientemente a
conclusão), que permite diferenciar argumentos Exemplo:
dedutivos de não dedutivos. P1- Se está a chover, o chão fica molhado.
P2- Está a chover.
Argumentos dedutivos válidos: C- Logo, o chão fica molhado?
● São aqueles em que é impossível que as premissas
sejam verdadeiras e a conclusão seja falsa; 2. Construir o dicionário do argumento, isto é,
● Porém, um argumento válido pode ter premissas identificar as proposições simples que o constituem e
falsas e/ou conclusão falsa; designar cada uma delas por uma letra.
● Num argumento dedutivamente válido, existe uma
relação de implicação entre as premissas e a P- Está a chover
conclusão. As premissas implicam a conclusão, e, por Q- O chão fica molhado.
isso, a verdade das premissas garantem a verdade da
conclusão. 3. Usar as conectivas proposicionais nas proposições
Argumentos não dedutivos fortes: complexas.
● São aqueles em que, se as premissas forem Forma Conectivas proposicionais
verdadeiras, é muito improvável, mas não Lógica
impossível, que a conclusão seja falsa;
● Num argumento indutivamente forte, existe uma Negação ¬P não; é falso que; não é
relação de confirmação entre as premissas e a verdade que
conclusão. As premissas confirmam a conclusão num
Conjunção P∧Q e; mas
grau elevado, e, desta forma, apoiam suficientemente
a conclusão.
Disjunção P∨Q ou; a não ser que;
Inclusiva a menos que
Verdade, validade e solidez
Disjunção P⊻Q ou - ou
A validade está relacionada com a verdade: um Exclusiva
argumento válido é aquele em que, se as premissas
forem verdadeiras, é garantido que a conclusão Condicional P→Q se - então; desde que;
também seja verdadeira. apenas se

A validade e a força são propriedades dos Bicondicional P↔Q se, e apenas se; se, e
argumentos. Um argumento pode ser válido ou somente se
inválido, mas não verdadeiro ou falso.
A verdade e a falsidade são propriedades das Se está a chover, o chão fica molhado.
proposições. O argumento é válido ou inválido, mas Se P, então Q.
só as premissas e a conclusão é que são verdadeiras P→Q
ou falsas.

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4. Formalizar o argumento Inspetores de circunstâncias (argumentos)


Exemplo: P→Q, Q∴P
P→Q
P P→Q, P Q P→Q Q ∴P
∴Q P∴Q
V V V V V
Tabelas de verdade (proposições)
V F F F V
Negaçã Conjunçã Disjunção F V V V F
o o Inclusiva
F F V F F
P ¬P P Q P∧Q P∨Q

V F V V V V Este argumento é inválido, pois há uma possibilidade


de as premissas serem verdadeiras e a conclusão ser
F V V F F V falsa.

F V F V Nota: na avaliação de argumentos em inspetores de circunstâncias,


vê-se o resultado na horizontal
F F F F
Formas de inferência dedutiva válidas e falácias
formais
Disjunção Condiciona Bicondicional
Exclusiva l Formas válidas

P Q P⊻Q P→Q P↔Q Silogismo disjuntivo Silogismo hipotético

V V V V V (P∨Q) (P∨Q) (P→Q)


¬P ou ¬Q (Q→R)
V F F V F ∴Q ∴P ∴(P→R)
F V F V F Contraposição Leis de De Morgan

F F F F V (P→Q) ¬(P∨Q) ¬(P∧Q)


∴(¬Q→¬P) ∴(¬P∧ ∴(¬P∨¬
Nas tabelas de verdade, podemos obter três tipos de ¬Q) Q)
proposições:
● Tautologia: a proposição é verdadeira em todas as Silogismo disjuntivo
situações; P1- proposição disjuntiva.
● Contradição: a proposição é falsa em todas as P2- negação de uma das proposições simples de P1.
situações; C- proposição simples que não foi negada em P2.

P ¬ (P∨¬ P ¬P (P∧¬P) Silogismo hipotético


P P) As premissas e a conclusão são proposições
condicionais. A consequente de P1 é a antecedente
V F V V F F de P2.

F V V F V F Contraposição
P- proposição condicional.
● Contingente: a proposição pode ser verdadeira ou C- A negação da consequente da premissa implica a
falsa dependendo das situações. negação da antecedente, pois a consequente é
condição necessária para a antecedente.

P Q P∧(P→Q) Primeira Lei de De Morgan


P- negação de uma proposição disjuntiva.
V V V F C- conjunção entre a negação de cada uma dessas
proposições.
V F F F
Segunda Lei de De Morgan
F V F V P- negação de uma proposição conjuntiva.
C- disjunção entre a negação de cada uma dessas
F F F V
proposições.

Nota: na avaliação das proposições numa tabela de verdade, vê-se


o resultado na vertical.

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ocorrerá no futuro. Parte do conhecimento que temos


Formas válidas Falácias
formais do passado e/ou do presente para justificar a
conclusão de um facto ainda não observado.
Negação Modus ponens Afirmação da
dupla (afirmação da consequente Quanto maior e mais diversificada foi a amostra
antecedente) referida na premissa, mais esta confirma a conclusão.

¬¬P (P→Q) (P→Q) Argumentos por analogia — comparação


∴P P Q
∴Q ∴P Um argumento por analogia é uma inferência baseada
numa comparação.
Modus tollens Negação da
Existem dois critérios para determinar se as premissas
(negação da antecedente
consequente) de uma analogia confirmam a conclusão:
● Uma analogia não é forte se os objetos comparados
(P→Q) (P→Q) não forem semelhantes nos aspetos relevantes;
¬Q ¬P ● As semelhanças têm de ser numerosas e
∴¬P ∴¬Q diversificadas, pois quanto mais semelhanças
relevantes forem apresentadas nas premissas, mais
estas confirmam a conclusão.
Negação dupla
P- dupla negação de uma proposição.
Argumentos de autoridade
C- afirmação dessa proposição.
Num argumento de autoridade, conclui-se que uma
Modus ponens
determinada proposição é verdadeira porque uma
P1- proposição condicional.
certa autoridade defende que essa proposição é
P2- afirmação da antecedente de P1.
verdadeira.
C- afirmação da consequente de P1.
Para que as premissas de um argumento de
Modus tollens
autoridade possam confirmar a conclusão, é
P1- proposição condicional.
necessário que a autoridade invocada seja:
P2- negação da consequente de P1.
● competente no que respeita ao assunto em causa e
C- negação da antecedente de P1.
não podem existir autoridades igualmente
competentes que o contradigam (tem de existir um
Avaliar argumentos não dedutivos: lógica entendimento consensual);
informal ● imparcial sobre o assunto em causa.
Nos argumentos não dedutivos, não se consegue Falácias informais
avaliar a relação de justificação entre as premissas e
a conclusão olhando apenas para a sua forma lógica Generalização precipitada e amostra não
— é necessário analisar o seu conteúdo. representativa: Extrai-se uma conclusão geral a partir
de uma amostra demasiado reduzida e que não é
A relação de justificação entre as premissas e a suficiente e proporcionalmente diversificada.
conclusão não garante que esta seja verdadeira, mas
torna improvável a sua falsidade. Por isso, apesar de Falsa analogia: Ignoram-se as diferenças relevantes
não possuir validade dedutiva, este argumento é forte. entre os objetos comparados ou as semelhanças nas
premissas não são relevantes ou em número
Argumentos por indução suficiente para fundamentar a conclusão.
Premissa: “Todos os sapos que vi até hoje eram Apelo ilegítimo à autoridade: Invoca-se uma
verdes.” autoridade que não é imparcial ou não é especialista
● Generalização: Todos os sapos são verdes. no assunto do argumento, ou ignora-se não haver
● Previsão: O próximo sapo que observar será verde. consenso entre as autoridades mais qualificadas e
imparciais.
A premissa partilhada por estes argumentos diz
respeito àquilo que se observou em diversos casos Petição de princípio / Falácia da circularidade: Falácia
particulares, que constituem a amostra. Em ambos os que se comete sempre que usamos nas premissas a
casos, a conclusão ultrapassa a informação contida mesma proposição que queremos justificar. Ou seja,
na(s) premissa(s). pressupõe-se nas premissas aquilo que se quer provar
com o argumento.
Uma generalização indutiva é um argumento com uma
conclusão geral extraída de casos particulares. Parte Falso dilema: Falácia que se comete sempre que
do conhecimento que temos sobre uma amostra de omitimos, nas premissas, opções quando, na
um universo para afirmar na conclusão algo acerca realidade, elas existem.
desse universo todo.

Uma previsão indutiva também parte de casos


particulares, mas a conclusão inferida é a de que algo

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Falsa relação causal: Acontece quando se pensa que humana de agir sem sermos determinados a isso, isto
um evento A causou um evento B apenas porque este é, prova que possuímos livre-arbítrio.
ocorreu a seguir ao primeiro.
Objeção
Ad hominem / Ataque ao homem: Consiste em O argumento da experiência não prova que o
ataques pessoais. Para mostrar que uma certa livre-arbítrio realmente existe, pois existe uma
proposição é falsa, ataca-se quem defende que ela é diferença entre aquilo que se experiencia e aquilo que
verdadeira. é verdadeiramente real.
Por exemplo, temos a experiência direta do movimento
Ad populum / Apelo ao povo: O simples facto da do Sol e de o ver a afundar-se no oceano, mas
generalidade das pessoas acreditar numa proposição sabemos que essa experiência não corresponde à
é tomado como prova de que essa proposição é realidade. Por isso, experienciar algo não prova a sua
verdadeira. existência.

Apelo à ignorância: Esta falácia usa na premissa a 2. Argumento da causalidade do agente


ausência de prova acerca de algo para fundamentar o ● Uma ação é livre se, e somente se, for causada
seu contrário: se não se sabe se certa proposição é pelo próprio agente e não por fatores externos a ele
verdadeira, esta é considerada falsa, e vice-versa. (princípio do controlo).
● Os deterministas defendem a existência de uma
Boneco de palha: Consiste em distorcer a posição do cadeia infinita de causas e efeitos, interligando, assim,
oponente de modo a atacá-lo mais facilmente. os acontecimentos. Os libertistas, porém, acreditam
que o ponto inicial dessas cadeias é o agente, já que,
Derrapagem / Bola de neve: Comete-se quando, na tomada de decisão, foi influenciado pelos estímulos
invocando uma cadeia causal implausível, se defende nervosos, e, dessa forma, não tem causa.
que não devemos aceitar algo porque, se o fizermos, ● Se existem algumas ações que não são causadas
esse será o primeiro passo para algo terrível. por fatores externos, mas que são causadas pelo
próprio agente, então o ser humano possui
Determinismo e liberdade da ação livre-arbítrio.
humana
Objeção
O problema do livre-arbítrio Não existem provas científicas de que existem eventos
no nosso cérebro que não são causados por outros
O problema do livre-arbítrio consiste em saber se eventos. Por isso, embora não seja possível rejeitar
algumas das nossas ações são livres ou se estão essa ideia, não a podemos aceitar sem reservas:
todas casualmente determinadas. devemos ser cautelosos na sua aceitação, já que o
Ou seja, pretende descobrir se o ser humano tem argumento não dá boas razões para aceitarmos a sua
alguma liberdade genuína de decisão e de ação ou se conclusão.
todas estão inteiramente determinadas por fatores que Este argumento também não resolve verdadeiramente
ele não controla. a questão: se admitirmos que a causalidade do agente
existe, temos de explicar como ela funciona e se
Incompatibilista — “Se o determinismo é verdadeiro, existem leis que a explicam . Se não existem, então é
então não temos livre-arbítrio.” aleatória?
● Libertismo: temos livre-arbítrio, logo o determinismo
é falso. Determinismo radical
● Determinismo radical: o determinismo é verdadeiro,
logo não temos livre-arbítrio. O determinismo radical defende que todos os
acontecimentos estão interligados por cadeias causais
Compatibilista que explicam os fenómenos da Natureza. Assim, o
● Determinismo moderado: acredita que o livre arbítrio livre-arbítrio é apenas uma ilusão.
e o determinismo são compatíveis. Os deterministas dizem que as nossas ações são
quase sempre influenciadas ou condicionadas por
Libertismo causas psicológicas, naturais e sócio-culturais.

O libertismo defende a existência do livre-arbítrio e a 1. Argumento da ciência


falsidade do determinismo. Considera que, ao ● As descobertas científicas e o seu sucesso
contrário de todos os outros acontecimentos, as ações explicativo aumentam a confiança de que todos os
humanas não são determinadas, mesmo que essas acontecimentos possuem causas determinadas.
decisões sejam influenciadas pela personalidade, ● Sempre que a ciência encontra um acontecimento
desejos e/ou valores de uma pessoa. Ou seja, os sem, pensa-se que ainda não descobrimos a sua
seres humanos têm a capacidade de controlarem as causa.
suas ações perante alternativas reais de escolha.
1. Argumento da experiência Objeção científica — mecânica quântica
● O livre-arbítrio existe, pois sentimos que cada ação A física quântica mostrou que existem eventos com
que realizamos é controlada pela nossa vontade; causas indeterminadas. Os acontecimentos quânticos
● A força e intensidade desta experiência de liberdade não se seguem necessariamente uns a seguir aos
é tão forte que prova que existe uma capacidade outros com efeitos de causas. Existe apenas a

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probabilidade de tal acontecimento suceder àquele Objeção do determinismo “envergonhado”


outro acontecimento, e, como é uma probabilidade, o Para os deterministas moderados, o controlo que o
Universo não é totalmente determinista. agente tem não abrange os acontecimentos passados
e as leis da Natureza. Porém, para alguns filósofos,
2. Argumento da ilusão controlar uma decisão que não foi “criada”
● Muitos filósofos argumentaram que a sensação de exclusivamente por nós não é um verdadeiro controlo,
agirmos livremente não passa de uma ilusão criada é apenas executar ações que as cadeias causais que
pelos nossos cérebros, e que essa ilusão dá sentido governam o Universo determinam.
às nossas ações. É chamado de determinismo “envergonhado”, pois
● Se essa sensação é uma ilusão, então temos de defende a causalidade do determinismo, mas não
concluir que o determinismo defende fielmente a assume a rejeição do livre-arbítrio.
realidade.
O problema da natureza dos juízos morais
Objeção do autocontrolo
O livre-arbítrio não é ilusório, pois ser livre é termos Juízos de facto e juízos de valor
controlo sobre as nossas ações e, quando as
controlamos, esse controlo é real. Exercemos a Os valores estão materializados em padrões de
capacidade de livre-arbítrio cada vez que agimos. comportamentos e em normas na sociedade que
definem como se deve comportar e o que se deve
Determinismo moderado apreciar e rejeitar.
Temos os juízos de facto (objetivos, neutros e
O determinismo moderado defende que o imparciais), que se limitam a descrever a realidade e
livre-arbítrio não significa existir sem causas, mas sim tem valor de verdade (verdadeiros ou falsos), e os
agir sem coação. Os nossos processos de decisão juízos de valor (subjetivos) que pretendem avaliar a
estão enraizados no nosso cérebro, por isso, não realidade e exprimem opiniões e preferências.
podem escapar à causalidade e ao determinismo.
Mas, desde que sejam decisões nossas, estão sob o O subjetivismo e o relativismo defendem que os
nosso controlo. valores são relativos, no sentido de não poderem ser
Dessa forma, acredita que o livre-arbítrio e o objetivamente e universalmente verdadeiros. Já o
determinismo são compatíveis. objetivismo afirma que podem sê-lo, ainda que
desconhecemos a verdade sobre eles.
1. Argumento de Frankfurt (rejeição do princípio das O subjetivismo e o relativismo defendem que os
alternativas possíveis) juízos de valor exprimem a avaliação de uma ação,
● O livre-arbítrio apenas exige que tenhamos controlo podendo ser avaliada de modo diferente dependendo
sobre as nossas ações, mesmo que o agente não da pessoa. Para o objetivismo, o juízo de valor ou é
tenha possibilidades alternativas. um facto ou não é, pois depende das características
● Portanto, o determinismo pode ser verdadeiro (tudo da ação, das circunstâncias e do autor.
tem uma causa determinada, incluindo as nossas Dessa forma, para o objetivismo, os juízos de valor
ações) e ainda assim posso confirmar que sou livre ( a são um subconjunto dos juízos de facto, pois visam a
ação foi realizada por mim, sem coações). descrever os factos da realidade, tal como os últimos.

Objeção O problema da natureza dos juízos morais


Nos “casos de Frankfurt”, não se encontra nada que
se assemelhe ao livre-arbítrio. Só estamos perante O problema da natureza dos juízos morais consiste
duas cadeias causais que provocam o mesmo em saber se os juízos morais são objetivos ou se
resultado. Uma vez que em nenhum dos dois casos dependem do ponto de vista de cada sociedade ou
encontramos a manifestação do livre-arbítrio, os casos indivíduo.
de Frankfurt não provam nada acerca do livre-arbítrio.
Os juízos morais são subjetivos
2. Argumento das razões e orientação ● Subjetivismo: a verdade moral é individual, não
● Alguns filósofos, a partir dos casos de Frankfurt, havendo, assim, verdade moral objetiva.
procuram definir o livre-arbítrio usando os conceitos de ● Relativismo cultural: a verdade moral depende da
razão e orientação. Ser livre implica ser capaz de agir perspetiva da sociedade em que o indivíduo encontra.
por razões e ser capaz de responder pela
orientação que damos às nossas ações, apesar delas Os juízos morais são objetivos
serem determinadas. ● Objetivismo: os juízos morais são independentes de
● Quando se fala de livre-arbítrio e responsabilidade, o qualquer perspetiva, tendo, assim, valor moral
que importa é o controlo de orientação, expresso em objetivo.
termos de respostas baseadas em razões.
● Eu posso estar determinado a orientar o meu Subjetivismo
comportamento e a responder por ele de uma certa
maneira, mas sou eu quem o está a fazer, logo sou O subjetivismo defende que, a respeito dos juízos
responsável. morais, não há uma verdade objetiva, uma vez que o
● O agente deve assumir responsabilidade, ou seja, desacordo nada mais é do que uma diferença de
reconhecer que as suas ações alteram o mundo e que gosto. A verdade moral é individual. Neste sentido,
as pessoas reagem a elas. não há quaisquer argumentos que nos provem que os

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juízos morais têm um valor de verdade objetivo, isto é, 1. Argumento da diversidade cultural
que são objetivamente verdadeiros. São apenas ● Não há verdade moral objetiva: certo e errado
juízos de valor. dependem das perspetivas da sociedade e dos seus
códigos culturais, logo não faz sentido condenar uma
Tese: prática só porque é diferente da nossa. Todas as
● Os juízos morais são subjetivos: exprimem práticas culturais estão corretas.
preferências pessoais, sentimentos de aprovação ou
desaprovação dos sujeitos. Como tal, quando uma Objeção
pessoa profere um juízo moral, não pode estar Há juízos morais partilhados por todas as sociedades,
enganada. Trata-se de uma questão de gosto. sobretudo os que estão relacionados com os direitos
● Não há juízos morais objetivamente verdadeiros ou humanos, porque tais regras são necessárias para que
falsos. a própria comunidade exista. Algumas sociedades
● Defende que, a respeito dos juízos morais podem estar enganadas nas suas avaliações morais.
subjetivos, só há desacordo e que devemos respeitar Além disso, o relativismo impede o progresso e o
a liberdade moral individual. diálogo intercultural, uma vez que não podemos
questionar os valores da nossa sociedade e de outras.
1. Argumento do desacordo
● Não há verdades morais objetivas, uma vez que é 2. Argumento da tolerância
muito frequente haver desacordos ou opiniões ● Devemos ser sempre tolerantes relativamente à
divergentes. Se houvesse, não existiria um desacordo diversidade de práticas culturais.
tão forte. ● Se admitirmos que ninguém está objetivamente
certo nem errado acerca dos valores, não teremos
Objeção tendência em impor aos outros os valores da nossa
Não consegue explicar o consenso que há em torno comunidade.
dos direitos fundamentais (vida, igualdade e, ● Assim, o relativismo cultural promove a tolerância
sobretudo, direitos humanos). entre as culturas, impedindo o etnocentrismo.

2. Argumento do respeito pela liberdade moral Objeção


● O subjetivismo promove o respeito entre pessoas Não podemos tolerar sociedades que têm práticas que
com convicções morais diferentes, pois todos têm a violam os direitos humanos e que são, elas próprias,
liberdade de expressarem os seus sentimentos intolerantes. Como tal, essas sociedades precisam de
morais. aperfeiçoamento moral.
● Uma vez que não há juízos morais certos ou
errados, todos são legítimos e, por isso, temos de Objetivismo
aceitar e respeitar a individualidade de cada um,
mesmo que discordemos dela. O objetivismo defende que os juízos morais são
objetivos, que o seu valor de verdade é independente
Objeção de qualquer perspetiva e que há alguma regras morais
Ao focar-se nos sentimentos, o subjetivismo ignora o que todas as sociedades têm em comum.
papel da razão, deixando de fora a possibilidade de Esses juízos de valor são, na verdade, juízos de
um pensamento moral e a tentativa de encontrar os facto.
melhores princípios éticos. Também coloca em
questão direitos fundamentais, já que permite que Tese:
qualquer ponto de vista seja aceite. ● Os juízos morais são objetivos. Existem verdades
morais objetivas e universais, ou seja, independentes
Relativismo cultural dos sujeitos ou das culturas.
● Quando uma sociedade ou indivíduo aceita ou
O relativismo moral defende que o que é moralmente condena determinadas práticas, pode estar enganada.
certo ou errado depende da perspetiva de cada ● Argumenta que há coincidência de valores e que a
sociedade ou cultura, estando associado aos seus tolerância é um valor objetivo (embora seja uma
hábitos ou modos de pensar, sejam eles quais forem. tolerância limitada pelos direitos humanos).
São apenas juízos de valor.
1. Argumento da coincidência de valor
Tese: ● As verdades morais são objetivas e há um acordo
● Os juízos morais são relativos à cultura, ou generalizado relativamente ao respeito pelos direitos
sociedade, o que significa que não há padrão objetivo humanos. A argumentação racional no processo de
e moral do que é certo e errado. descoberta de valores corretos permite o
● Não há juízos morais objetivamente verdadeiros ou aperfeiçoamento moral.
falsos.
● A moral é uma construção social: diferentes Objeção
sociedades têm códigos morais diferentes. É o código Não existem verdades morais objetivas, mas apenas
moral de uma sociedade que vai determinar o que é padrões morais diferentes, já que nenhuma sociedade
certo dentro daquela sociedade. possui o monopólio das verdades morais. A ideia do
● Defende que, no que diz respeito aos juízos morais, progresso moral é errada, porque estamos a julgar
só há diversidade cultural, e que, como tal, devemos práticas de sociedades anteriores em função da
ser tolerantes. realidade e dos padrões morais atuais, e isso não faz

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sentido, já que cada sociedade orienta-se apenas certas. A boa vontade é a que age com uma intenção:
pelos padrões morais do seu tempo. cumprir o dever.
2. Argumento da tolerância
● A tolerância é um valor objetivo, não é um valor Imperativo hipotético: mandamento condicional e
relativo às sociedades. No entanto, essa tolerância, de exprime a necessidade de fazer algo com a condição
modo algum, pode justificar práticas injustas e de atingir um determinado objetivo.
violadoras dos direitos humanos. Não podemos tolerar
sociedades intolerantes. Imperativo categórico: ordem ou obrigação absoluta e
incondicional que representa o nosso dever: diz-nos
Objeção aquilo que todo e qualquer agente moral deveria
A tolerância é um valor relativo às sociedades e não fazer nas mesmas circunstâncias, independentemente
ser tolerante é um sinal de incompreensão das seus desejos e preferências subjetivas.
relativamente a outras culturas. Além disso, não
respeitar as diferenças culturais e cair numa visão A fórmula da lei universal
etnocentrista. ➢ Antes de agirmos, fazemos esta pergunta a nós
mesmos: será que a regra que orienta esta ação
O que torna uma ação moralmente poderia converter-se em lei universal? Se a resposta
correta? for sim, trata-se de uma ação moral.
➢ “Age apenas segundo uma máxima tal que possas
O problema da moralidade de uma ação ao mesmo tempo querer que ela se torne universal.”

O problema da moralidade de uma ação consiste em A fórmula da humanidade


saber o que determina a moralidade de uma ação. ➢ Devemos respeitar as outras pessoas, tratando-as
Ou seja, pretende descobrir que critério se usa para como fins em si (seres autónomos) e não como
determinar se uma ação é moralmente correta. instrumentos ao serviço dos nossos objetivos.

Teoria intencionalista Autonomia da vontade (por puro dever)


● Ética deontológica de Kant: o critério da moralidade A vontade autónoma é uma vontade que se
de uma ação depende da intenção do agente. autodetermina por princípios que são universalmente
aceites e que não estão relacionados com
Teoria consequencialista sentimentos, impulsos e inclinações.
● Ética teleológica / utilitarista de Stuart Mill: a ação
correta é a que promove as melhores consequências, Heteronomia da vontade (conforme ao dever)
correspondendo estas a maior felicidade para o maior A vontade heterónema sujeita-se a algo exterior a si
número. mesma e suporta-se em imperativos hipotéticos (que
nos sugerem ações para atingir determinados fins).
A ética deontológica de Kant
Críticas
Tese: 1. É demasiado fria e racional ao ignorar os
● O que determina a moralidade de uma ação é a sentimentos que, muitas vezes, estão na base das
intenção do agente. nossas ações. Segundo Kant, devemos apenas agir
● A única motivação / intenção genuinamente boa é o por puro respeito ao dever.
cumprimento do dever, sem qualquer influência 2. Desvaloriza as consequências da ação. As
sensível e não submetida a qualquer autoridade consequências dessas ações podem ser desastrosas
exterior e superior a essa ação. por mantermos o foco inabalável do dever pelo dever.
● Temos o dever incondicional de tratar qualquer 3. Nem sempre permite resolver conflitos entre
pessoa como fim em si e não como mero maio, deveres morais, uma vez que a ética é demasiado
independentemente das consequências que daí formal. Há alguns deveres morais que, em
resultem. determinadas situações, colidem.
4. Fórmula da lei universal: se a máxima for “Eu
Tipos de ação: mentirei para salvar a vida de alguém”, pode tornar-se
❖ Ações contrárias ao dever: ações que decorrem de uma lei universal. Assim, a ideia de que “mentir” é
máximas imorais e ilegais e que estão em total sempre errado não é apoiada pela própria teoria.
contradição com o dever.
❖ Ações conformes ao dever: ações que estão de A ética utilitarista de Stuart Mill
acordo com o dever, mas que têm por base interesses
pessoais, sentimentos e consequências (imperativo Tese:
hipotético, heteronomia moral). ● O que determina a moralidade de uma ação são as
❖ Ações por puro respeito ao dever: ações que consequências da ação.
decorrem da exigência racional de agir por dever: ● A ação correta é aquela que, tendo em conta as
cumprimento do dever pelo dever (imperativo alternativas, resulta numa maior felicidade geral.
categórico, autonomia moral). ● Hedonismo: considera a felicidade geral como
prazer e a ausência de dor.
Ter boa vontade é querer fazer aquilo que se deve
fazer, aquilo que é moralmente certo, e pelas razões Para Mill, os deveres morais não decorrem de deveres
absolutos. Uma ação é moral se maximizar

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imparcialmente a felicidade ou o bem-estar geral. Isto As condições necessárias para uma sociedade
quer dizer que não há ações boas ou más em si justa
mesmas, só as consequências as tornam boas ou
más. Rawls incita-nos a imaginar quais os princípios
Assim, não há deveres morais absolutos, pois organizadores de uma sociedade justa: posição
maximizar a felicidade geral pode implicar que se original, uma situação hipotética apresentada para
violem direitos das pessoas. escolher os princípios de justiça, garantindo a
imparcialidade e a racionalidade.
Qualidade dos prazeres:
❖ Prazeres inferiores: ações voltadas para a Para garantir a imparcialidade na escolha dos
satisfação dos prazeres corporais e relacionados com princípios da justiça, os contratantes estão sob um véu
apetites animais, comuns a humanos e não humanos. da ignorância, o que significa que desconhecem a
❖ Prazeres superiores: estão ligados aos prazeres do sua situação de classe ou estatuto social e
pensamento, da imaginação, do sentido, da emoção e desconhecem os seus talentos naturais, como a
dos sentimentos morais, e que nem todos os homens inteligência, força, e outras qualidades.
participam igualmente, tornando-os, assim, mais
importantes. No momento da escolha dos princípios que vão
orientar a sociedade, as partes deste contrato supõem
Princípio da imparcialidade: que lhes vai acontecer a pior situação possível, ou
No momento de decidir qual ação praticar, exige-se seja, adotam a regra maximin. Esta regra consiste na
que se faça um cálculo em função do interesse da maximização do mínimo de bens sociais primários que
maioria das pessoas, impondo ao indivíduo total cada indivíduo pode obter, jogando, assim, pelo
imparcialidade. seguro e evitando correr riscos.
Segundo Rawls, estes princípios garantem que
Críticas ninguém seja privado das suas liberdades básicas.
1. Argumento da máquina: o argumento da máquina
da experiência de Nozick, que refere uma máquina Os princípios de justiça
capaz de produzir apenas experiências boas sem
termos consciência de que são simulações. O O primeiro princípio de justiça é o princípio da
utilitarismo escolheria ligar-se a essa máquina, mas, liberdade, que exige igualdade na atribuição dos
no entanto, segundo Nozick, uma vida não é boa direitos e deveres básicos, bem como a máxima
apenas porque produz experiências agradáveis, essas liberdade para cada indivíduo, não pondo em causa
experiências têm de ser autênticas. uma liberdade igual para todos.
2. Argumento do bode expiatório: o utilitarismo pode
colocar em causa os direitos individuais em nome da O segundo princípio subdivide-se em dois — o
maioria, permitindo determinadas ações que nenhuma princípio da igualdade de oportunidades e o princípio
pessoa parece considerar correta, sobrepondo-se a da diferença — e surge pela existência de uma “lotaria
considerações morais que são uma parte integrante da social” (condições sociais de nascimento) e de uma
sociedade. “lotaria natural” (aptidões naturais de cada um) que
3. É demasiado exigente, já que devemos sempre pôr condicionam a atribuição de direitos e deveres
de lado os interesses individuais e pensar no básicos.
bem-estar geral, devido ao princípio da imparcialidade.
É exigido que estejamos constantemente a calcular as ● Princípio da igualdade de oportunidades: o Estado
consequências das ações, o que nem sempre é deve intervir para garantir que todos tenham as
possível — podem ser imprevisíveis e é difícil mesmas oportunidades no acesso à saúde, à
comparar a felicidade de diferentes pessoas. educação, à cultura, etc., de forma a compensar os
que se encontram numa situação social menos
Como organizar uma sociedade mais favorecida e os menos talentosos.
justa?
● Princípio da diferença: as desigualdades
A teoria da justiça como equidade de John Rawls económicas e sociais são aceitáveis apenas se
resultarem em vantagens compensadoras para todos
John Rawls pretende mostrar que a justiça é a e, em particular, para os membros mais
primeira virtude, ou seja, é o alicerce moral que desfavorecidos da sociedade.
permite avaliar se uma sociedade está bem
organizada. O propósito é perceber como as Concluindo, é com base nos princípios de liberdade
instituições sociais distribuem os direitos e os deveres. e equidade que deve ser feito um contrato social justo
que atenda às necessidades de todos os indivíduos,
Rawls é um liberal igualitário, porque defende que sendo eles tratados de forma igual, promovendo,
as liberdades básicas do indivíduo não podem ser assim, a Justiça Social.
sacrificadas em nome dos princípios distributivos.
Rawls é um contratualista. Para os contratualistas, os 1. Crítica libertarista de Nozick
princípios que regem uma sociedade resultam de um ● A crítica libertarista de Nozick incide sobre o
contrato ou acordo (real ou hipotético) estabelecido princípio da diferença e a distribuição de riqueza.
entre as partes interessadas. ● A interferência do Estado na utilização dos bens dos
indivíduos é uma violação do direito de propriedade,

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pois, para distribuir corretamente a riqueza, teria de


retirar a uns uma parte do que ganharam
legitimamente para que outras pessoas sejam
beneficiadas.
● Cada indivíduo investe a sua riqueza de forma
diferente e, dessa forma, a economia não obedece ao
princípio da diferença, obrigando o Estado a interferir
constantemente.
● Não cabe ao Estado fazer a redistribuição de
riqueza. Nozick defende uma conceção do Estado
Mínimo, como um vigilante que promove a segurança
dos cidadãos e as liberdades políticas, mas não
interfere na vida económica. O Estado Mínimo é o
único poder legítimo e cada indivíduo é titular absoluto
do que ganha e adquire.

2. Crítica comunitarista de Sandel


● A crítica comunitarista de Sandel incide sobre a
posição original e o véu da ignorância.
● A proposta do véu da ignorância coloca os
indivíduos numa situação anterior à moral, exigindo
que as escolhas sejam feitas por seres racionais que
não tenham em consideração apenas os seus
interesses pessoais. Mesmo que se chegue a um
acordo, Sandel considera que não basta que as
nossas escolhas sejam imparciais para serem boas:
têm de ser justas. A avaliação das nossas escolhas é
uma questão moral, por isso, primeiro temos de saber
o que é bom e só depois saberemos o que é justo.
● Rawls vê as pessoas na posição original como seres
humanos abstratos, mas as pessoas têm identidades.
A posição original e o véu da ignorância são
hipotéticos, mas Rawls perde o contacto com a
realidade, e as conclusões neles baseadas não são
transferíveis para a realidade social. Sandel segue o
comunitarismo, filosofia política para a qual a
aplicação de princípios liberais individualistas e
conceções de pessoas geram isolamento, perda de
laços comunitários e desagregação da sociedade.

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