ARTE DO PERÍODO CONTEMPORÂNEO
A industrialização agora fato consumado modifica os hábitos e
populariza os bens de consumo. A máquina fotográfica substitui a pintura
retrato. A arte tem que se reinventar.
1 Impressionismo
Entre o final do século XVIII e início do século XIX, o mundo ocidental
é tomado por uma onda de revoluções liberais, políticas e industriais. Todo
este contexto provoca uma série de mudanças tanto na política como na
economia, e neste momento se consolida a classe burguesa e sua
supremacia sobre a nobreza. O desenvolvimento industrial provocou o
aprimoramento técnico, assim tudo deveria ser substituído.
O advento da máquina fotográfica, sua versão portátil fez dela um
bem comum. Não se tinha mais necessidade do pintor para pintar a
realidade. Diante disso, o artista teve que repensar seu momento e mudar
sua arte, ao mesmo tempo em que estava livre para retratar o mundo da
sua maneira.
Uma nova tendência artística surge na França, aproveitando que Paris
se tornara o centro cultural do mundo ocidental e recebe o nome de
impressionismo, isso por volta de 1870. A pintura é seu foco principal. Com
um cunho antiacademicista ela propõe o abandono das técnicas e temas
tradicionais, sair dos ateliês de iluminação artificial e pintar ao ar livre a
natureza, assim como ela era, ou melhor, de acordo com a impressão que
cada pintor tinha sobre ela, daí o nome de impressionismo, que inicialmente
era uma crítica.
Foi o crítico Louis Leroy, na primeira exposição do grupo do café
Guerbois (onde os pintores se reuniam), ao ver a obra de Monet, Impressão
Sol Nascente (Fig. 101), começou sarcasticamente a chamar esses artistas
de impressionistas. E assim foi por muito tempo, eram bastante criticados e
não aceitos pela sociedade burguesa da época. Os intelectuais de Paris não
conseguiam compreender e nem aceitar seus quadros, era estranho aquele
comportamento não acadêmico.
Figura 101 – Impressão Sol Nascente, Monet
Fonte: http://migre.me/rIMW0
Embora a fotografia tenha sido uma das grandes rivais da arte,
também foi uma das fontes de inspiração do movimento impressionista
juntamente com a gravura japonesa (ukiyo-e Fig. 102). No caso da
fotografia, o fato de captar um determinado momento é compartilhado com
os pintores impressionistas e as gravuras japonesas propunham uma
temática urbana de acontecimentos cotidianos, realizados em pinturas
planas, sem perspectiva.
Figura 102 -"Shiba Benten Pond" by Kawase Hasui, 1929
[2000x1361]
Fonte:http://migre.me/s6HG1
Representantes mais importantes do impressionismo foram:
Manet(Fig. 103), Monet(Fig. 104), Renoir (Fig. 105), Degas (Fig. 106) e
Gauguin. No restante da Europa isso ocorreu posteriormente. Outros
movimentos seguiram a este, como o pós-impressionismo (Van Gogh Fig.
107, Cézanne), o simbolismo (Moreau, Redon), e o fauvismo (Matisse,
Vlaminck, Derain, entre outros) e o retorno ao princípio, ou seja, a arte
primitiva (Gauguin). Todos apostavam na pureza cromática, sem divisões de
luz.
Figura 103 – Tocador de Pífaro, Figura 104 – Giverny, Ponte nos
Manet Jardins, Monet
Fonte: http://migre.me/rIN1t Fonte: http://migre.me/rIN4R
Figura 105 – Almoço dos canoeiros, Figura 106 – Bailarinas de Rosa,
Renoir Degas
Fonte: http://migre.me/rINaP Fonte: http://migre.me/rINeK
Figura 108 – O Pensador, Rodin
Figura 107 – Quarto de Vicent van Fonte: http://migre.me/rINRq
Gogh
Fonte: http://migre.me/rINQo
O que mais interessou aos pintores impressionistas foi a captação
momentânea da luz na atmosfera e sua influência nas cores. Já não existiam
a linha ou os contornos nem a perspectiva, a não ser a que lhes fornecia a
disposição da luz. A poucos centímetros da tela, um quadro impressionista é
visto como um amontoado de manchas de tinta, ao passo que a distância as
cores se organizam opticamente e criam formas e efeitos luminosos.
Também a escultura começa a se inspirar no impressionismo e já se
considera também parte deste movimento. De fato, os escultores tentaram
uma nova maneira de plasmar a realidade. Grandes nomes deste
movimento são Rodin (Fig. 108) e suas esculturas inacabadas, inspiradas
em Michelangelo, e os esboços dinâmicos de Carpeaux, com resquícios do
rococó. Já não interessava a superfície polida e transparente das ninfas
delicadas de Canova. A preocupação era desnudar o coração de pedra para
demonstrar o trabalho do artista.
Um olhar sobre o outro
O Oriente e os povos mais distantes em geral sempre despertaram a
curiosidade dos europeus. Por parte dos artistas – em especial os pintores e
escritores -, havia o desejo de tomar contato com culturas e ambientes
naturais exóticos; por parte de governantes e empreendedores, havia a
intenção de conhecer lugares fora da Europa para expandir o domínio
político e o poder econômico.
Durante o século XIX, muitos artistas plásticos visitaram o Oriente ou
povos de cultura oriental, pelo fato de países como França e Grã-Bretanha
terem criado colônias na África e na Ásia. As pessoas dessas regiões
assimilaram alguns costumes europeus e passaram a desfrutar das
inovações técnicas europeias, como trens e linhas férreas. Muitos aspectos
das culturas locais, porém, mantiveram-se intocados.
Assim como muitos artistas retrataram cenas de países de cultura
oriental, artistas locais, muitos deles anônimos, retrataram a presença dos
estrangeiros em seus países. (PROENÇA, 2014)
2 Modernismo
Corrente artística que vai surgir no final do século XIX, exatamente na
última década deste século e que foi uma resposta artística à
industrialização, pois tinha como objetivo a revalorização da arte em sua
forma manual. Esse movimento tem vários nomes, na França, tem seu
nome vinculado a uma loja inaugurada em Paris em 1895 chamada Art
Nouveau (Fig. 109), já na Espanha é denominado Modernismo, na Alemanha
chama-se Jugendstil, na Áustria tem o nome de Secessão, chamado também
de Modern Style na Inglaterra e na Escócia.
Figura 109 - Litografia em estilo Art Nouveau, as Quatro Estações
Fonte: http://migre.me/rINTO
O importante foi que em cada local tinha uma característica própria e
sua maneira inovadora de acontecer. Exposições internacionais nas capitais
europeias contribuíram para forjar uma certa homogeneidade estilística. A
arquitetura modernista foi a disciplina integral à qual se subordinaram as
outras artes gráficas e figurativas. Reafirmou-se o aspecto decorativo dos
objetos de uso cotidiano, mediante uma linguagem artística repleta de
curvas e arabescos, de acentuada influência oriental.
O movimento artístico, que inicialmente era contrário ao poder do
dinheiro e o criticava, com o tempo adere à alta burguesia, que apoia
entusiasticamente essa nova estética de materiais exóticos e formas
delicadas. Sendo assim, o objetivo dos novos desenhos vai se reduzindo
meramente ao decorativo, e seus temas, como que surgidos de antigas
lendas, não tinham nada em comum com as propostas vanguardistas do
início do século. Mais uma vez a arte fica subjugada ao poder aquisitivo da
burguesia industrial, o Mecenas do século.
Figura 110 – Cadeira idealizada por Morris
Fonte: http://migre.me/rINW4
Entre os precursores da arte modernista estava William Morris (Fig.
110). Seus desenhos, elaborados com espírito artesanal, se contrapunham à
produção industrial. Nos escritórios da empresa criada por ele, a Morris &
Co. eram determinadas as formas elegantes e sinuosas, típicas do
modernismo, bem como definidos os materiais nobres usados na criação de
objetos de uso cotidiano. Sua apresentação na exposição de Bruxelas de
1892 produziu um grande impacto e determinou a difusão desse novo
estilo.
2.1 Pintura
A inspiração para a pintura modernista é uma mistura das delicadas e
elegantes formas do gótico com o simbolismo romântico de dois grupos
importantes da Europa do século XIX: os pré-rafaelistas ingleses -Millais,
Rossetti, Hunt e Brown- e os nazarenos alemães Overbeck, Pforr e
Cornelius. O resultado foi uma pintura de um erotismo e uma naturalidade
surpreendentes. A idealização da mulher manifestou-se em figuras meio
ninfas e meio anjos; corpos etéreos e pele translúcida. A natureza assumiu a
forma de bosques aquáticos, com plantas de ramos ondulados e longos,
mimetizados com os arabescos dourados e os frisos decorativos.
Figura 111 – Gustav Klimt, The Kiss
Fonte: http://migre.me/rINZB
O artista Gustav Klimt (Fig.111) é um dos principais representantes
da pintura modernista (ou arte-nouveau para alguns) cuja obra inicialmente
produziu grande agitação nas exposições da Secessão austríaca. No
entanto, seu ousado erotismo transformou-se em pouco tempo no
paradigma indiscutível da pintura modernista.
Outro nome a ser mencionado é o do alemão Franz von Stuck, que se
aproxima da estética klimtiana, ainda que com temas resgatados das telas
do inglês Alma-Tadema, importante precursor da pintura modernista. Suas
obras retomaram os temas do classicismo antigo, com uma nova
expressividade, à beira do romantismo. No resto da Europa encontramos os
espanhóis Casella, Rusiñol e Casa, embora sua obra reflita um forte espírito
antiacademicista na direção do impressionismo parisiense.
2.2 Arquitetura
Caracterizada pela estrita coerência entre as formas sinuosas das
fachadas e a ondulante decoração dos interiores, a arquitetura modernista
adota a chamada construção honesta, que permitia vislumbrar vigas e
estruturas de ferro combinadas com cristal. Dentro da arquitetura
modernista existiram duas tendências: as formas sinuosas e orgânicas, de
um lado, e as geométricas e abstratas, precursoras da futura arquitetura
racionalista, de outro.
O arquiteto espanhol Gaudí (Fig. 112) revolucionou a arquitetura com
uma obra totalmente simbolista e natural, constituindo por si só um estilo.
Na França e na Bélgica, os elegantes edifícios de ferro, cristal e mosaicos de
Guimard e Horta criavam espaços de uma força lúdica irresistível, embora
mais prosaicos que os catalães. Os americanos, enquanto isso, inauguravam
o século XX com os primeiros arranha-céus do arquiteto Sullivan e seu
discípulo Frank Lloyd Wright.
Viena representou quase com exclusividade a corrente mais
racionalista do modernismo. Os arquitetos Wagner e Olbrich retiraram suas
formas do rigoroso gótico inglês e do inovador e visionário arquiteto escocês
Mackintosh. Dessa forma, conseguiram uma construção volumétrica, de
formas retangulares, com uma ornamentação bem dosada, embora sem
chegar ao extremo de seu contemporâneo Loos, que considerava a
decoração uma aberração arquitetônica.
Figura112 - Catedral da Sagrada Família, Barcelona
Fonte: http://migre.me/rIO0Q
2.3 Escultura
A escultura modernista permaneceu estreitamente ligada à
arquitetura e teve, antes de tudo, uma função decorativa. A criação
tridimensional foi representada, melhor ainda do que pela escultura, pelos
objetos de uso diário, produzidos com materiais nobres, com um desenho
que os elevava à categoria de obras de arte. O modernismo implicou uma
revalorização do artesão e, por conseguinte, dos produtos feitos à mão, em
oposição aos industrializados.
Formaram-se ateliês de artesãos, como a Arts & Crafts, de Londres,
na qual se fabricavam móveis caros e raros, ou a Escola de Nancy, onde se
produzia o mobiliário do desenhista Gallé e a já então prestigiada cristaleira
e joalheria de René Lalique. Em Viena, destacaram-se as criações de
baixelas de ouro e prata da Wiener Werkstätte, de Hoffmann, e na Espanha
a refinada joalheria dos Masriera. Na América alcançaram sucesso os
desenhos em cristal da Comfort Tiffany (Fig. 113).
Figura 113 - Lustre Louis Comfort Tiffany
Fonte: http://migre.me/rIO1F
Outra das grandes criações da corrente modernista foi a arte gráfica
publicitária, que se iniciou com os cartazes. Coloridos e artísticos,os
cartazes cobriam os muros das cidades, tentando convencer os cidadãos da
qualidade de determinados produtos ou da grandeza de certos espetáculos -
de exposições a apresentações de teatro e circo. O primeiro grande artista a
se dedicar ao desenho de cartazes foi Toulouse-Lautrec (Fig. 114), seguido
dos mais importantes pintores da época.
Figura 114 - Cartaz Moulin Rouge, Toulouse-Lautrec
Fonte: http://migre.me/rIO3e
Muito em breve seriam criados os escritórios de publicidade, semelhantes
às atuais agências. Usava-se um grafismo simples, mas elegante, sendo ao
mesmo tempo atraente, de acordo com os padrões estéticos da época. O
cartaz modernista guardava, no desenho, certas semelhanças com os
quadros de Klimt ou com a ornamentação arquitetônica de Gaudí. Entre os
cartazistas mais importantes podem se citar: Casas, na Espanha, Von Stuck,
na Alemanha, Auchentaler, em Viena, e Mucha, na França