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Apge Juris Direito Constitucional Direitos e Garantias Fundamentais

Este e-book apresenta julgados relevantes do STF e STJ sobre direitos e garantias fundamentais, organizados por ano e tipo de repercussão. Inclui uma metodologia de estudo sugerida e destaca a importância da leitura e revisão dos materiais. O conteúdo abrange temas como liberdade de expressão, direitos da personalidade, e a dignidade da pessoa humana.

Enviado por

DanyCrawford
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Este e-book apresenta julgados relevantes do STF e STJ sobre direitos e garantias fundamentais, organizados por ano e tipo de repercussão. Inclui uma metodologia de estudo sugerida e destaca a importância da leitura e revisão dos materiais. O conteúdo abrange temas como liberdade de expressão, direitos da personalidade, e a dignidade da pessoa humana.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


APGE JURIS - DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

ORGANIZAÇÃO DO MATERIAL
Neste e-book você encontrará os julgados importantes do STF e do STJ sobre o tema objeto de estudo.

O critério de seleção dos julgados foi o seguinte:

JULGADOS DOS ANOS 2023, 2024 e 2025 Constam no material, ainda que não definam teses
de repercussão geral do STF ou estabeleçam teses
em recursos repetitivos do STJ.
JULGADOS DOS ANOS ANTERIORES Em sua maioria são julgados que definem teses de
repercussão geral do STF ou estabelecem teses em
recursos repetitivos do STJ. Ou seja, é possível
constar julgados que não definiram teses, desde
que possuam relevância.

O critério de definição da formação das tabelas foi o seguinte:

TABELA VERDE Repercussão geral do STF


TABELA AMARELA Recurso repetitivo do STJ
TABELA BRANCA Julgado importante que não possui repercussão
geral ou definiu tese em recurso repetitivo

A ordem disposição dos julgados é cronológica, sendo os mais recentes aqueles que estão no início de cada
tópico.

O símbolo indica que o julgado possui vídeo explicativo no Youtube.

Sugestão de metologia de estudo:

• Estude este material no final de semana seguinte ao estudo da doutrina respectiva.


• Inicialmente, faça a leitura do índice, obtendo, assim, uma visão ampla das teses firmadas.
• No primeiro estudo, realize a leitura completa do material, fazendo grifos e anotações.
• Quando for revisá-lo, faça a leitura somente das teses. Na hipótese de surgirem dúvidas, faça a
novamente a leitura dos fundamentos da decisão.

Bons estudos!
Equipe AprovaçãoPGE

DATA DE ÚLTIMA REVISÃO / ATUALIZAÇÃO DO MATERIAL: 12/01/2025

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APGE JURIS - DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

SUMÁRIO
SUMÁRIO ............................................................................................................................................................................................ 3

DIREITO CONSTITUCIONAL........................................................................................................................................................ 6

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ....................................................................................................................... 6

» Desde que não ultrapassados os limites relativos à privacidade ou à intimidade daquele, cujas
características são evidenciadas por meio de representação de caráter humorístico, não há falar em ofensa
aos direitos da personalidade e, consequentemente, em dano moral indenizável. ........................................... 6

» A homologação de sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça não é, por si só, óbice à
propositura de ação de modificação de guarda em território nacional quando aqui estabelecidos os
menores cujo interesse se discute em juízo. .................................................................................................................... 6

» A transferência da execução de pena de brasileiro nato para ser cumprida no Brasil, imposta em outro
país, não viola o núcleo do direito fundamental contido no art. 5º, inciso LI, da Constituição Federal. ....... 7

» Embora não configure o crime de abuso de autoridade, mesmo que realizada a diligência depois das 5h
e antes das 21h, continua sendo ilegal e sujeito à sanção de nulidade cumprir mandado de busca e
apreensão domiciliar se for noite. ....................................................................................................................................... 7

» A imprescritibilidade não se aplica às ações em que se pretende a responsabilização direta do agente


público que praticou ato de tortura durante o regime militar. ................................................................................... 8

» As mesmas garantias e prerrogativas outorgadas aos Desembargadores dos Tribunais de Justiça devem
ser estendidas aos Conselheiros estaduais e distritais, no que se inclui o reconhecimento do foro por
prerrogativa de função durante o exercício do cargo, haja, ou não, relação de causalidade entre a infração
penal e o cargo. ......................................................................................................................................................................... 9

» O Ministério da Saúde, em observância aos direitos à dignidade da pessoa humana, à saúde e à


igualdade (CF/1988, arts. 1º, III, 3º, IV, 5º, caput, e 6º, caput), deve garantir atendimento médico a pessoas
transexuais e travestis, de acordo com suas necessidades biológicas, e acrescentar termos inclusivos para
englobar a população transexual na Declaração de Nascido Vivo (DNV) de seus filhos. ............................... 9

» É inconstitucional — por violar a dignidade da pessoa humana (CF/1988, art. 1º, III), o princípio da
isonomia (CF/1988, art. 5º, caput) e o direito à licença à gestante, (CF/1988, arts. 7º, XVIII, e 39, § 3º) —
norma estadual que limita o direito à licença-adoção a apenas um dos adotantes quando se tratar de
casal formado por servidores, civis ou militares. ......................................................................................................... 10

» É constitucional norma que permite o acesso, por autoridades policiais e pelo Ministério Público, a dados
cadastrais de pessoas investigadas independentemente de autorização judicial, excluído do âmbito de
incidência da norma a possibilidade de requisição de qualquer outro dado cadastral além daqueles
referentes à qualificação pessoal, filiação e endereço (art. 5º, X e LXXIX, da CF)............................................ 11

» É constitucional — na medida em que não viola os princípios da publicidade, da primazia do interesse


público, da segurança jurídica e do direito à informação — norma que dispensa a publicação dos atos
societários das sociedades anônimas no Diário Oficial, mas mantém a obrigatoriedade de divulgação em
jornais de ampla circulação, tanto no formato físico, de forma resumida, quanto no formato eletrônico, na
íntegra. ...................................................................................................................................................................................... 12

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

» As escolas públicas e particulares têm a obrigação de coibir o bulimento e as discriminações por gênero,
identidade de gênero e orientação sexual, bem como as de cunho machista (contra meninas cisgêneras e
transgêneras) e homotransfóbicas (contra homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais), em geral.
..................................................................................................................................................................................................... 13

» Em observância ao princípio da unicidade sindical, previsto no art. 8º, inciso II, da Constituição Federal
de 1988, a quantidade de empregados, ou qualquer outro critério relativo à dimensão da empresa, não
constitui elemento apto a embasar a definição de categoria econômica ou profissional para fins de criação
de sindicatos de micros e pequenas empresas. .......................................................................................................... 13

» A falta de lei regulamentadora do adicional de penosidade aos trabalhadores urbanos e rurais (CF/1988,
art. 7º, XXIII) constitui omissão inconstitucional por parte do Congresso Nacional. ....................................... 14

» Constitui assédio judicial comprometedor da liberdade de expressão o ajuizamento de inúmeras ações


a respeito dos mesmos fatos, em comarcas diversas, com o intuito ou o efeito de constranger jornalista
ou órgão de imprensa, dificultar sua defesa ou torná-la excessivamente onerosa ......................................... 15

» É inconstitucional a prática de desqualificar a mulher vítima de violência durante a instrução e o


julgamento de crimes contra a dignidade sexual e todos os crimes de violência contra a mulher, de
maneira que se proíbe eventual menção, inquirição ou fundamentação sobre a vida sexual pregressa ou
o modo de vida da vítima em audiências e decisões judiciais. ................................................................................ 16

» Em se tratando de menor de idade, além das balizas fixadas na Súmula Vinculante nº 11, a necessidade
de utilização de algemas apresentada pela autoridade policial deve ser avaliada pelo Ministério Público
e submetida ao Conselho Tutelar, que se manifestará a respeito das providências relatadas. .................. 17

» São nulas as provas obtidas a partir de dados preservados em contas da internet (com o congelamento
e a consequente perda da disponibilidade), mediante requerimento do Ministério Público, sem a prévia
autorização judicial de quebra de sigilo e fora das hipóteses legais. ................................................................... 17

» A reserva legal de percentual de vagas a ser preenchido, exclusivamente, por mulheres, em concursos
públicos da área de segurança pública estadual, não pode ser interpretada como autorização para impedir
que elas possam concorrer à totalidade das vagas oferecidas. ............................................................................. 18

» A reserva de vagas para candidatas do sexo feminino para ingresso na carreira da Polícia Militar,
disposta em norma estadual, não pode ser compreendida como autorização legal que as impeça de
concorrer à totalidade das vagas disponíveis em concursos públicos, isto é, com restrição e limitação a
determinado percentual fixado nos editais. .................................................................................................................. 19

» Há um estado de coisas inconstitucional no sistema carcerário brasileiro, responsável pela violação


massiva de direitos fundamentais dos presos. Tal estado de coisas demanda a atuação cooperativa das
diversas autoridades, instituições e comunidade para a construção de uma solução satisfatória. ............ 20

» É compatível com o sistema normativo-constitucional vigente, norma estadual que veda a promoção ou
a participação de policiais em manifestações de apreço ou desapreço a quaisquer autoridades ou contra
atos da Administração Pública em geral. ...................................................................................................................... 22

» É inconstitucional a lei estadual que preveja o arquivamento de materiais genéticos de nascituros e


parturientes, em unidades de saúde, com o fim de realizar exames de DNA comparativo em caso de
dúvida. ....................................................................................................................................................................................... 23

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

» As empresas de tecnologia que operam aplicações de internet no Brasil sujeitam-se à jurisdição nacional
e, como tal, devem cumprir as determinações das autoridades nacionais do Poder Judiciário — inclusive
as requisições feitas diretamente — quanto ao fornecimento de dados eletrônicos para a elucidação de
investigações criminais, ainda que parte de seus armazenamentos esteja em servidores localizados em
países estrangeiros. .............................................................................................................................................................. 24

PRINCÍPIO DA IGUALDADE E SISTEMA DE COTAS ............................................................................................... 24

» É constitucional — na medida em que configura discrímen razoável — lei distrital que estabelece a
obrigatoriedade de: (i) serem mantidas, no mínimo, 5% (cinco por cento) de pessoas com idade acima de
quarenta anos, obedecido o princípio do concurso público, nos quadros da Administração Pública direta
e indireta; e (ii) ser firmada cláusula, nas licitações para contratação de serviços com fornecimento de mão
de obra, que assegure o mínimo de 10% (dez por cento) das vagas a pessoas com mais de quarenta anos.
..................................................................................................................................................................................................... 25

LIBERDADE RELIGIOSA ..................................................................................................................................................... 25

» A presença de símbolos religiosos em prédios públicos, pertencentes a qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, desde que tenha o objetivo de manifestar a tradição
cultural da sociedade brasileira, não viola os princípios da não discriminação, da laicidade estatal e da
impessoalidade. ..................................................................................................................................................................... 25

» Testemunhas de Jeová, quando maiores e capazes, têm o direito de recusar procedimento médico que
envolva transfusão de sangue, com base na autonomia individual e na liberdade religiosa. Como
consequência, em respeito ao direito à vida e à saúde, fazem jus aos procedimentos alternativos
disponíveis no Sistema Único de Saúde - SUS, podendo, se necessário, recorrer a tratamento fora de seu
domicílio .................................................................................................................................................................................... 27

» É permitido ao paciente, no gozo pleno de sua capacidade civil, recusar-se a se submeter a tratamento
de saúde, por motivos religiosos. A recusa a tratamento de saúde, por razões religiosas, é condicionada à
decisão inequívoca, livre, informada e esclarecida do paciente, inclusive, quando veiculada por meio de
diretivas antecipadas de vontade. É possível a realização de procedimento médico, disponibilizado a todos
pelo sistema público de saúde, com a interdição da realização de transfusão sanguínea ou outra medida
excepcional, caso haja viabilidade técnico-científica de sucesso, anuência da equipe médica com a sua
realização e decisão inequívoca, livre, informada e esclarecida do paciente. .................................................... 27

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

JULGADOS DO STJ

» Desde que não ultrapassados os limites relativos à privacidade ou à intimidade daquele, cujas
características são evidenciadas por meio de representação de caráter humorístico, não há falar
em ofensa aos direitos da personalidade e, consequentemente, em dano moral indenizável.

JURISPRUDÊNCIA DO STJ

FUNDAMENTOS:

O direito de paródia, previsto no art. 47 da Lei 9.610/1998, estende-se à imitação humorística de


comportamentos e características pessoais de figuras públicas, protegendo a livre expressão. A
representação humorística, mesmo com exagero ou sátira, não viola direitos da personalidade
desde que respeite limites de privacidade e intimidade.

Na ADI 4.815/DF, o STF declarou desnecessária a autorização de pessoas biografadas ou


retratadas, valorizando a liberdade de expressão e criação artística. A censura prévia, incluindo
tutelas inibitórias para proibir ofensas, é inadmissível, pois configura restrição à liberdade de
pensamento e expressão, conforme entendimento do STJ no REsp 1.388.994/SP.
REsp 1.678.441-SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, por maioria, julgado em 16/5/2024. INFORMATIVO 815.

» A homologação de sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça não é, por si só, óbice
à propositura de ação de modificação de guarda em território nacional quando aqui estabelecidos
os menores cujo interesse se discute em juízo.

JURISPRUDÊNCIA DO STJ

FUNDAMENTOS:

Os pais australiano-brasileiros acordaram a guarda compartilhada das filhas, nascidas na


Austrália, com residência junto à genitora naquele país. Posteriormente, a genitora, com
autorização do pai, deslocou-se ao Brasil com as filhas, onde permaneceram por mais de um ano,
com alegada adaptação ao contexto social e familiar brasileiro. A genitora propôs ações no Brasil
envolvendo divórcio, guarda, visitas e alimentos, com participação do genitor, mas a ação inicial

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

foi extinta após a homologação de sentença estrangeira. Posteriormente, ela ajuizou ação
revisional de guarda.

O STJ entende que a homologação de sentença estrangeira não impede a propositura de ação de
modificação de guarda no Brasil, quando os menores estão estabelecidos aqui. Além disso, a
Convenção de Haia não prevalece automaticamente sobre a jurisdição nacional, sendo o foro de
residência das crianças competente para decidir sobre guarda em caso de mudança para o Brasil.
Foi determinada a suspensão provisória de ordem de busca, apreensão e retorno das crianças ao
país de origem até audiência presencial para análise da modificação de guarda pela autoridade
judicial competente.
Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 5/3/2024, DJe 18/3/2024.
INFORMATIVO 805.

» A transferência da execução de pena de brasileiro nato para ser cumprida no Brasil, imposta
em outro país, não viola o núcleo do direito fundamental contido no art. 5º, inciso LI, da
Constituição Federal.

JURISPRUDÊNCIA DO STJ

FUNDAMENTOS:

HDE 7.986-EX, Rel. Ministro Francisco Falcão, Corte Especial, por maioria, julgado em 20/3/2024. INFORMATIVO 805.

» Embora não configure o crime de abuso de autoridade, mesmo que realizada a diligência depois
das 5h e antes das 21h, continua sendo ilegal e sujeito à sanção de nulidade cumprir mandado
de busca e apreensão domiciliar se for noite.

JURISPRUDÊNCIA DO STJ

FUNDAMENTOS:

O Governo da Itália solicitou a transferência de execução de pena de brasileiro nato condenado


por estupro em 2013. O Brasil, ao adotar o sistema de contenciosidade limitada, não permite a
rediscussão do mérito da condenação estrangeira. A transferência de execução penal, prevista na
Lei 13.445/2017 e em tratados internacionais, permite que brasileiros condenados no exterior
cumpram pena no Brasil, respeitando o art. 5º, LI, da Constituição, que proíbe a extradição de
brasileiros natos.

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

O STJ e o STF reconhecem que a homologação de sentença estrangeira evita a dupla incriminação
(non bis in idem), assegurando que o condenado não seja julgado novamente pelos mesmos fatos.
A transferência também reforça a cooperação internacional e a efetividade da jurisdição criminal,
permitindo o cumprimento da pena no território nacional sem violar direitos fundamentais.

A aplicação imediata das normas de cooperação internacional, conforme a LINDB, não fere o
princípio da irretroatividade penal. O instituto também protege os direitos humanos das vítimas e
garante maior efetividade à jurisdição penal, sem exigir que processos estrangeiros sigam normas
brasileiras, conforme tratados firmados entre Brasil e Itália. Assim, a homologação da
transferência de execução da pena promove a cooperação internacional e resguarda os direitos de
todas as partes envolvidas.
Processo em segredo de justiça, Rel. Ministra Laurita Vaz, Rel. para acórdão Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por maioria,
julgado em 5/12/2023, DJe 15/12/2023. INFORMATIVO 800.

» A imprescritibilidade não se aplica às ações em que se pretende a responsabilização direta do


agente público que praticou ato de tortura durante o regime militar.

JURISPRUDÊNCIA DO STJ

FUNDAMENTOS:

A controvérsia trata da prescrição da pretensão indenizatória por danos morais decorrentes de


atos de tortura e abuso de poder praticados por agente do DOI-CODI durante a ditadura militar,
resultando na morte de preso político. A ação não possui natureza declaratória, mas condenatória,
diferindo de casos anteriores em que a prescrição foi afastada.

A Súmula 647/STJ estabelece a imprescritibilidade de ações indenizatórias contra o Estado por


atos de perseguição política durante o regime militar, com base na responsabilidade objetiva
estatal. O STF, na ADPF 153, confirmou a anistia penal concedida pela Lei 6.683/1979 a agentes
de repressão, mas destacou que isso não afasta a responsabilidade civil do Estado.

Contudo, a imprescritibilidade não se aplica a ações que busquem responsabilização direta de


agentes públicos, para evitar perpetuidade de conflitos entre indivíduos, respeitar os princípios de
reconciliação nacional e honrar o processo histórico de transição democrática e anistia. O STF, no
RE 669.069/MG (Tema 666), também decidiu que a imprescritibilidade prevista no art. 37, § 5º,
da CF não se aplica a reparações de danos civis.

No caso, a ação foi ajuizada em 2010, mais de 22 anos após a Constituição de 1988, que garantiu
direitos de anistia, sem qualquer obstáculo para o ajuizamento no período.

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REsp 2.054.390-SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. para acórdão Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, por maioria, julgado em
29/11/2023. INFORMATIVO 799.

» As mesmas garantias e prerrogativas outorgadas aos Desembargadores dos Tribunais de


Justiça devem ser estendidas aos Conselheiros estaduais e distritais, no que se inclui o
reconhecimento do foro por prerrogativa de função durante o exercício do cargo, haja, ou não,
relação de causalidade entre a infração penal e o cargo.

JURISPRUDÊNCIA DO STJ

FUNDAMENTOS:

O STF estabeleceu que o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas a crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas (QO na APn 937/DF).
Contudo, o STJ, ao interpretar normas constitucionais sobre sua competência, afastou esse
requisito em casos excepcionais, como para Desembargadores, visando garantir a independência
do órgão julgador (QO na APn 878/DF), e para membros do Ministério Público, com base na
equiparação prevista no art. 96, III, da CF (CC 177.100/CE e HC 684.254/MG).

Essas exceções refletem a necessidade de salvaguardar a independência e liberdade de cargos


públicos relevantes, conforme as garantias constitucionais, e não como privilégios pessoais. Nesse
contexto, o art. 73, § 3º, da CF assegura aos membros dos Tribunais de Contas as mesmas
garantias e prerrogativas da magistratura. Assim, deve-se reconhecer que o foro por prerrogativa
de função para membros dos Tribunais de Contas, no STJ, não depende de a infração penal ter
relação com o exercício do cargo.
Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Raul Araújo, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 16/8/2023. INFORMATIVO
783.

JULGADOS DO STF

» O Ministério da Saúde, em observância aos direitos à dignidade da pessoa humana, à saúde e


à igualdade (CF/1988, arts. 1º, III, 3º, IV, 5º, caput, e 6º, caput), deve garantir atendimento médico
a pessoas transexuais e travestis, de acordo com suas necessidades biológicas, e acrescentar
termos inclusivos para englobar a população transexual na Declaração de Nascido Vivo (DNV)
de seus filhos.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Cabe ao órgão competente tomar as medidas necessárias para adequação de seus sistemas, de
modo a permitir o acesso às políticas públicas de saúde existentes sem a imposição de barreiras
burocráticas, que, além de comprometer a própria efetividade da política pública, são aptas a
causar constrangimento, discriminação e sofrimento à pessoa trans.

Nesse contexto, o Ministério da Saúde deve garantir aos homens e mulheres trans o acesso
igualitário às ações e aos programas de saúde do SUS, em especial aqueles relacionados à saúde
sexual e reprodutiva, como o agendamento de consultas nas especialidades de ginecologia,
obstetrícia e urologia, independentemente de sua identidade de gênero.

Além disso, com o intuito de contemplar as identidades de gênero das pessoas transexuais, a
Declaração de Nascido Vivo (DNV) expedida por hospitais no momento do parto de uma criança
que nasce com vida, deve ter seu layout atualizado para que conste a categoria “parturiente/mãe”
de preenchimento obrigatório e o campo “responsável legal/pai” de preenchimento facultativo.
ADPF 787/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 17.10.2024 (quinta-feira) INFORMATIVO 1.155.

» É inconstitucional — por violar a dignidade da pessoa humana (CF/1988, art. 1º, III), o princípio
da isonomia (CF/1988, art. 5º, caput) e o direito à licença à gestante, (CF/1988, arts. 7º, XVIII, e
39, § 3º) — norma estadual que limita o direito à licença-adoção a apenas um dos adotantes
quando se tratar de casal formado por servidores, civis ou militares.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

Conforme jurisprudência desta Corte, é incompatível com o texto constitucional qualquer norma
ou interpretação que implique diferenciação entre o vínculo biológico e o adotivo. Os prazos da
licença-adotante e da licença-gestante devem ser equiparados, na medida em que se impõe a
igualdade entre os filhos e os direitos da mulher, afastando-se qualquer vinculação à condição
biológica de gestante (1).

Nesse contexto, caso haja adoção por casal formado por servidores, civis ou militares, ambos
poderão usufruir de licença remunerada, ainda que por prazos distintos, isto é, um gozará da
licença-adotante, ao passo que o outro desfrutará da licença-paternidade, nos exatos moldes do
Regime Jurídico Único dos servidores públicos civis do estado.

Ademais, qualquer interpretação que abra margem à diferenciação, sem justificativa plausível e
razoável, ou que fomente a desigualdade entre servidoras ou servidores, ofende o princípio
constitucional da igualdade (CF/1988, art. 5º, I) e o da proteção integral e sem discriminação à

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

criança (CF/1988, arts. 226, § 8º e 227, § 6º), revelando-se desproporcional em virtude da proteção
insuficiente.

A inexistência de norma expressa autorizativa do usufruto de licença ao servidor público


monoparental por prazo compatível com o da licença à gestante não pode ser utilizada como
fundamento para negar a sua fruição, diante do atual cenário constitucional normativo e da
jurisprudência firmada por esta Corte, a qual estabeleceu, inclusive, o conceito único e abrangente
de licença-parental, em superação à inadequada distinção entre licença-maternidade e licença-
paternidade (2).
ADI 7.518/ES, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 13.09.2024 (sexta-feira), às 23:59 INFORMATIVO
1.150.

» É constitucional norma que permite o acesso, por autoridades policiais e pelo Ministério
Público, a dados cadastrais de pessoas investigadas independentemente de autorização judicial,
excluído do âmbito de incidência da norma a possibilidade de requisição de qualquer outro dado
cadastral além daqueles referentes à qualificação pessoal, filiação e endereço (art. 5º, X e LXXIX,
da CF)

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

Conforme jurisprudência desta Corte, é incompatível com o texto constitucional qualquer norma
ou interpretação que implique diferenciação entre o vínculo biológico e o adotivo. Os prazos da
licença-adotante e da licença-gestante devem ser equiparados, na medida em que se impõe a
igualdade entre os filhos e os direitos da mulher, afastando-se qualquer vinculação à condição
biológica de gestante (1).

Nesse contexto, caso haja adoção por casal formado por servidores, civis ou militares, ambos
poderão usufruir de licença remunerada, ainda que por prazos distintos, isto é, um gozará da
licença-adotante, ao passo que o outro desfrutará da licença-paternidade, nos exatos moldes do
Regime Jurídico Único dos servidores públicos civis do estado.

Ademais, qualquer interpretação que abra margem à diferenciação, sem justificativa plausível e
razoável, ou que fomente a desigualdade entre servidoras ou servidores, ofende o princípio
constitucional da igualdade (CF/1988, art. 5º, I) e o da proteção integral e sem discriminação à
criança (CF/1988, arts. 226, § 8º e 227, § 6º), revelando-se desproporcional em virtude da proteção
insuficiente.

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A inexistência de norma expressa autorizativa do usufruto de licença ao servidor público


monoparental por prazo compatível com o da licença à gestante não pode ser utilizada como
fundamento para negar a sua fruição, diante do atual cenário constitucional normativo e da
jurisprudência firmada por esta Corte, a qual estabeleceu, inclusive, o conceito único e abrangente
de licença-parental, em superação à inadequada distinção entre licença-maternidade e licença-
paternidade (2).
ADI 4.906/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado em 11.09.2024 (quarta-feira) INFORMATIVO 1.150.

» É constitucional — na medida em que não viola os princípios da publicidade, da primazia do


interesse público, da segurança jurídica e do direito à informação — norma que dispensa a
publicação dos atos societários das sociedades anônimas no Diário Oficial, mas mantém a
obrigatoriedade de divulgação em jornais de ampla circulação, tanto no formato físico, de forma
resumida, quanto no formato eletrônico, na íntegra.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

As sociedades anônimas submetem-se a um regime de ampla publicidade desde sua constituição,


durante seu funcionamento, até sua extinção. Além da necessária transparência fiscal, a
publicação dos atos societários confere aos acionistas, credores, concorrentes, empregados, Poder
Público e sociedade em geral a faculdade de fiscalizar o trabalho dos administradores, permitindo-
lhes a tomada de decisões de maneira informada e a observância do devido cumprimento da
função social da empresa.

Na espécie, não se verifica obstáculo evidente ao acesso dos dados pertinentes nesse âmbito
pelos atores do mercado e da sociedade nem prejuízo à integridade da informação, visto que a lei
impugnada exige a certificação digital da autenticidade dos documentos por meio da
infraestrutura de chaves públicas brasileiras (ICP-Brasil).

Nesse contexto, além da modernização na escolha do veículo publicitário, da diminuição do custo


e do maior alcance do público em geral, a alteração normativa preservou a segurança jurídica das
atividades impactadas, na medida em que o período para a entrada em vigor (vacatio legis) da
nova redação do art. 289 da Lei nº 6.404/1976 foi bastante estendido.
ADI 7.194/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 28.06.2024 (sexta-feira), às 23:59. INFORMATIVO 1.143.

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

» As escolas públicas e particulares têm a obrigação de coibir o bulimento e as discriminações


por gênero, identidade de gênero e orientação sexual, bem como as de cunho machista (contra
meninas cisgêneras e transgêneras) e homotransfóbicas (contra homossexuais, bissexuais,
travestis e transexuais), em geral.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

O Estado tem o dever constitucional de agir positivamente para concretizar políticas públicas, em
especial as de natureza social e educativa, voltadas à promoção de igualdade de gênero e de
orientação sexual, na medida em que o Estado Democrático de Direito é definido por um sentido
expandido de igualdade, o qual também se materializa com o combate às desigualdades baseadas
na construção social do gênero (CF/1988, art. 3º).

Conforme a jurisprudência desta Corte (1), apesar de a orientação sexual e a identidade de gênero
estarem incluídas nos motivos de não discriminação consagrados na Convenção Americana de
Direitos Humanos e abrangidas pela proteção dos princípios constitucionais da igualdade
(CF/1988, art. 5º, caput) e da dignidade da pessoa humana (CF/1988, art. 1º, III), o Brasil vive uma
situação de catástrofe concernente às violências de gênero, homofóbica e transfóbica.

Nesse contexto de circunstâncias extremamente graves, é necessária uma explicitação


interpretativa do Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005/2014) com a finalidade de elucidar
que a lei está orientada para o combate das discriminações de gênero e de orientação sexual, já
que a ausência de clareza quanto a esses objetivos torna a norma tecnicamente inadequada e a
conduz a uma proteção insuficiente.
ADI 5.668/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 28.06.2024 (sexta-feira), às 23:59. INFORMATIVO
1.143.

» Em observância ao princípio da unicidade sindical, previsto no art. 8º, inciso II, da Constituição
Federal de 1988, a quantidade de empregados, ou qualquer outro critério relativo à dimensão
da empresa, não constitui elemento apto a embasar a definição de categoria econômica ou
profissional para fins de criação de sindicatos de micros e pequenas empresas.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

O número de funcionários ou o porte da instituição não podem ser utilizados como critérios
para a constituição de sindicatos de micro e pequenas empresas, pois o parâmetro

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

constitucional para a criação de sindicatos é a categoria econômica ou profissional dos


empregadores ou trabalhadores, a qual é caracterizada pela similitude ou
complementariedade das atividades por ele exercidas.

Conforme jurisprudência desta Corte (1), o sistema de liberdade sindical plena, previsto na
Convenção OIT nº 87/1948, não foi incorporado ao ordenamento jurídico pátrio. A
representatividade encontra limite expresso no texto constitucional, consubstanciado no princípio
da unicidade sindical (CF/1988, art. 8º, II), segundo o qual é vedada a criação de mais de uma
organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na
mesma base territorial (2).

A finalidade dessa limitação é evitar que uma mesma categoria econômica ou profissional seja
representada por sindicatos diferentes, circunstância que pode gerar insegurança jurídica.

Na espécie, o Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Tipo Artesanal do Estado de São Paulo
(SIMPI) possui a sua representação baseada em número específico de empregados de micro e
pequenas empresas (até 50 funcionários), independentemente da atividade que exerçam. Trata-
se da atribuição de um quantitativo de empregados como critério para a sua criação, o que não
encontra respaldo na legislação — em especial porque vai de encontro aos conceitos previstos na
CLT/1943 (3) — nem na jurisprudência deste Tribunal.
RE 646.104/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento finalizado em 29.05.2024. INFORMATIVO 1139.

» A falta de lei regulamentadora do adicional de penosidade aos trabalhadores urbanos e rurais


(CF/1988, art. 7º, XXIII) constitui omissão inconstitucional por parte do Congresso Nacional.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

O texto constitucional incluiu entre os direitos sociais fundamentais dos trabalhadores urbanos e
rurais o adicional de remuneração para atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da
lei (1). Essas atividades geralmente estão associadas a um labor árduo e degradante que agride a
saúde, a integridade física, psíquica, social e, consequentemente, a dignidade humana do
trabalhador.

Com a finalidade de mitigar os riscos associados ao trabalho pelas empresas, o referido dispositivo
delegou ao legislador infraconstitucional a responsabilidade de criar uma lei que conceda
aumento remuneratório aos trabalhadores que exercem tais atividades e que, paralelamente a
isso, seja capaz de incentivar as empresas a ofertarem condições de trabalho hígidas e saudáveis.

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Nesse contexto, o direito de aferir esse adicional encontra-se suspenso até que se edite uma lei
que defina ou caracterize a atividade penosa e fixe os seus termos, condições e limites. Ademais,
o descumprimento pelo Congresso Nacional deve ser avaliado não só em relação ao início do
processo legislativo, mas também quanto à procrastinação da sua discussão e efetiva deliberação
(2).
ADO 74/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024 (terça-feira), às 23:59. INFORMATIVO 1139.

» Constitui assédio judicial comprometedor da liberdade de expressão o ajuizamento de


inúmeras ações a respeito dos mesmos fatos, em comarcas diversas, com o intuito ou o efeito de
constranger jornalista ou órgão de imprensa, dificultar sua defesa ou torná-la excessivamente
onerosa

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

A responsabilidade civil de jornalistas, ao divulgar notícias sobre figuras públicas ou assuntos de


interesse social, só ocorre em casos de dolo ou culpa grave (manifesta negligência profissional na
apuração dos fatos), não se aplicando a opiniões, críticas ou informações verdadeiras de interesse
público.

Esta Corte considera a liberdade de expressão uma liberdade preferencial pela sua importância
para a dignidade da pessoa humana, sendo imprescindível para a democracia, que depende da
participação esclarecida das pessoas. Essa posição preferencial da liberdade de expressão
protege a atividade jornalística, somente cabendo atribuir a responsabilidade civil ao jornalista ou
ao veículo de comunicação nas hipóteses explícitas de dolo ou culpa grave, esta última
caracterizada pela evidente negligência profissional na apuração dos fatos.

Nos casos de assédio judicial a jornalistas, a parte ré poderá solicitar a reunião de todas as
demandas judiciais para serem julgadas no foro de seu domicílio.

O assédio judicial verifica-se quando inúmeras ações são ajuizadas sobre os mesmos fatos em
comarcas diversas com o objetivo de intimidar jornalistas, impedir sua defesa ou torná-la
extremamente dispendiosa. É uma prática abusiva do direito de ação, com notório intuito de
prejudicar o direito de defesa de jornalista ou órgão de imprensa.

Nesse contexto, quando identificado o assédio judicial, a proteção da liberdade de expressão


legitima a fixação de competência no foro do domicílio do réu, que é a regra geral do direito

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

brasileiro (CPC/2015, art. 46) (1). E há várias leis que estabelecem expressamente a reunião de
ações com os mesmos fundamentos em um único foro (Lei da Ação Popular, Lei da Ação Civil
Pública, Lei de Improbidade Administrativa). Para unificar as ações que forem iniciadas em
tribunais distintos, bastará que a defesa solicite a sua remessa e redistribuição, tornando-se
prevento o juiz do domicílio do réu no qual a primeira ação for distribuída.

Além disso, nas situações em que restar evidente o assédio judicial, o magistrado competente
poderá reconhecer de ofício a ausência do interesse de agir e, consequentemente, extinguir
sumariamente a ação sem resolução do mérito.
ADI 6.792/DF, relatora Ministra Rosa Weber, redator do acórdão Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento finalizado em 22.05.2024.
INFORMATIVO 1138.

» É inconstitucional a prática de desqualificar a mulher vítima de violência durante a instrução e


o julgamento de crimes contra a dignidade sexual e todos os crimes de violência contra a mulher,
de maneira que se proíbe eventual menção, inquirição ou fundamentação sobre a vida sexual
pregressa ou o modo de vida da vítima em audiências e decisões judiciais.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

Apesar da evolução legal e constitucional, o Estado e a sociedade brasileira continuam aceitando


a discriminação e a violência de gênero contra a mulher na apuração e judicialização dos atentados
contra ela, principalmente nos crimes contra a dignidade sexual. De fato, é comum que, nas
audiências, a vítima seja inquirida quanto à sua vida pregressa e aos seus hábitos sexuais para
que tais elementos sejam utilizados como argumentos para justificar a conduta do agressor.

Essas práticas não possuem base legal nem constitucional e foram construídas para relativizar a
violência contra a mulher e gerar tolerância em relação a estupros praticados contra aquelas cujo
comportamento fugisse do que era considerado aceitável pelo agressor. Nesses casos, culpa-se a
vítima pela conduta delituosa do agente.

Nesse contexto, todos os Poderes da República devem atuar conjuntamente para coibir a violência
de gênero, especialmente a vitimização secundária da pessoa agredida em sua dignidade sexual.
ADPF 1.107/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 23.05.2024. INFORMATIVO 1138.

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

» Em se tratando de menor de idade, além das balizas fixadas na Súmula Vinculante nº 11, a
necessidade de utilização de algemas apresentada pela autoridade policial deve ser avaliada
pelo Ministério Público e submetida ao Conselho Tutelar, que se manifestará a respeito das
providências relatadas.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

O uso de algemas é medida excepcional e que deve ser fundamentada para evitar abusos pelas
autoridades. Nesse contexto, as seguintes condições também devem obrigatoriamente ser
observadas quando se tratar de adolescente menor de dezoito anos: (i) uma vez apreendido e não
sendo o caso de liberação, o menor será encaminhado ao representante do Ministério Público
competente (ECA/1990, art. 175), que deverá avaliar e opinar sobre a eventual necessidade de
utilização de algemas apontada pela autoridade policial que estiver realizando a diligência em
questão; (ii) não sendo possível a apresentação imediata do menor ao órgão ministerial, ele será
encaminhado à entidade de atendimento especializada, que deverá apresentá-lo em vinte e quatro
horas ao representante do Parquet (ECA/1990 art. 175, § 1º); (iii) nas localidades em que não
houver entidade de atendimento especializada para receber o menor apreendido, ele ficará
aguardando a apresentação ao representante do Ministério Público em repartição policial
especializada e, na falta desta, em dependência separada da destinada a maiores (ECA/1990, art.
175, § 2º), não podendo assim permanecer por mais de vinte e quatro horas (1); (iv) apresentado
o menor ao representante do Parquet e emitido o parecer sobre a eventual necessidade de
utilização das algemas, essa questão será submetida à autoridade judiciária que deverá se
manifestar de forma motivada sobre a matéria no momento da audiência de apresentação do
menor; e (v) o Conselho Tutelar deverá ser instado a se manifestar sobre as providências relatadas
pela autoridade policial, para decisão final do Ministério Público.

Na espécie, reputa-se lícito o uso de algemas pela adolescente, pois a necessidade de sua
manutenção durante a audiência de apresentação foi devidamente justificada pelo juízo da Vara
Única de Sapucaia/RJ com base em elementos fático-probatórios, os quais não podem ser
reexaminados nesta instância. Como o magistrado possui fé pública, seria necessário, para revisar
os fatos, desfazer a presunção de veracidade dos dados por ele trazidos.
Rcl 61.876/RJ, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 07.05.2024. INFORMATIVO 1136.

» São nulas as provas obtidas a partir de dados preservados em contas da internet (com o
congelamento e a consequente perda da disponibilidade), mediante requerimento do Ministério
Público, sem a prévia autorização judicial de quebra de sigilo e fora das hipóteses legais.

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

O “Marco Civil da Internet” (Lei nº 12.965/2014) exige, em regra, autorização judicial para
disponibilizar dados pessoais, comunicações privadas ou informações relativas a registro de
conexão e acesso, tendo em vista o direito à preservação da intimidade, da vida privada, da honra,
da imagem e dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais (CF/1988, art. 5º, X e LXXIX).

O Parquet pode requerer, entretanto, de forma cautelar, que apenas os registros de conexão e de
acesso a aplicações de internet sejam guardados antes da autorização judicial, por determinado
período, desde que limitados ao conjunto de informações referentes à data e à hora de uso de uma
específica aplicação e a partir de um determinado endereço IP (1).

Na espécie, o órgão ministerial, sem autorização judicial, expediu ofícios a provedores de internet
para determinar a preservação dos dados e IMEIs, informações cadastrais, histórico de localização
e pesquisas, conteúdo de e-mails e iMessages/hangouts, fotos e nomes de contatos de pessoas
investigadas. Assim, a subtração do controle do cidadão sobre suas informações sem a devida
observância das regras de organização e procedimento, além de afrontar a legislação pertinente
e alguns dos direitos e garantias fundamentais, ofende o direito à autodeterminação informativa
do indivíduo.
HC 222.141 AgR/PR, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em
06.02.2024. INFORMATIVO 1123.

» A reserva legal de percentual de vagas a ser preenchido, exclusivamente, por mulheres, em


concursos públicos da área de segurança pública estadual, não pode ser interpretada como
autorização para impedir que elas possam concorrer à totalidade das vagas oferecidas.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

É vedada a interpretação que legitime a imposição de qualquer limitação à participação de


candidatas do sexo feminino nos referidos certames, visto que é inadmissível dar espaço a
discriminações arbitrárias, notadamente quando inexiste, na respectiva norma, qualquer
justificativa objetiva e razoável tecnicamente demonstrada para essa restrição (1).

Nesse contexto, a solução da controvérsia considerou principalmente: (i) o objetivo fundamental


da República Federativa do Brasil de promover o bem de todos, sem preconceitos de sexo
(CF/1988, art. 3º, IV); (ii) o direito de amplo acesso a cargos públicos, empregos e funções públicas;

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

(iii) a clara preocupação da Constituição Federal em garantir a igualdade entre os gêneros (art. 5º,
caput e I); (iv) a ausência de especificidade no texto constitucional relativa à participação de
mulheres nos certames de ingresso aos cargos; (v) a necessidade de incentivo, via ações
afirmativas, à participação feminina na formação do efetivo das áreas de segurança pública, com
a finalidade de resguardar a igualdade material; e (vi) a inexistência de previsão legal devidamente
justificada que possa validar a restrição, total ou parcial, do acesso às vagas.
ADI 7.480/SE, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 10.05.2024 (sexta-feira), às 23:59; ADI
7.482/RR, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 10.05.2024 (sexta-feira), às 23:59; ADI 7.491/CE,
relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 10.05.2024 (sexta-feira), às 23:59. INFORMATIVO 1136.

» A reserva de vagas para candidatas do sexo feminino para ingresso na carreira da Polícia
Militar, disposta em norma estadual, não pode ser compreendida como autorização legal que as
impeça de concorrer à totalidade das vagas disponíveis em concursos públicos, isto é, com
restrição e limitação a determinado percentual fixado nos editais.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

A Constituição Federal estabelece o dever de inclusão de grupos historicamente vulnerabilizados.


Desse modo, descabe aos poderes públicos estabelecer restrições, proibições ou impedimentos
para a concretização do direito de acesso a cargos públicos. Ao contrário, cabe ao Estado incentivar
e fomentar medidas direcionadas à inserção das mulheres (que compõem a maioria da população
brasileira) na vida pública e laboral, especialmente, quando o tema envolve a sua integração nas
forças de segurança, historicamente ocupadas por pessoas do sexo masculino.

No caso, a interpretação restritiva resultaria em distorção do objetivo de proteção inicialmente


estabelecido pela norma estadual. Ao invés de se fixar uma cota mínima às mulheres na
corporação, a reserva de vagas de 10% seria compreendida como limite máximo, configurando
desvio da finalidade da lei como política de ação afirmativa.

Uma interpretação dessa espécie viola diversos dispositivos e princípios constitucionais, como o
direito à não discriminação em razão de sexo (CF/1988, art. 3º, IV); o direito à isonomia e à
igualdade entre homens e mulheres (CF/1988, art. 5º, caput e I); o direito à proteção do mercado
de trabalho da mulher (CF/1988, art. 7º, XX); a proibição à adoção de qualquer critério
discriminatório por motivo de sexo, quando da admissão em ocupações públicas (CF/1988, art. 7º,
XXX); a universalidade do concurso público, em que o direito de acesso a cargos, empregos e
funções públicas é conferido a todas as brasileiras e a todos os brasileiros que cumprirem os
requisitos previstos em lei (CF/1988, art. 37, I); além da reserva legal para o estabelecimento de

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

eventuais requisitos diferenciadores na admissão de servidores públicos, quando exigido pela


natureza do cargo (CF/1988, art. 39, § 3º) (1).
ADI 7.492/AM, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado em 09.02.2024 (sexta-feira), às 23:59. INFORMATIVO
1123.

» Há um estado de coisas inconstitucional no sistema carcerário brasileiro, responsável pela


violação massiva de direitos fundamentais dos presos. Tal estado de coisas demanda a atuação
cooperativa das diversas autoridades, instituições e comunidade para a construção de uma
solução satisfatória.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

A situação de grave violação em massa de direitos fundamentais dos presos enseja o


reconhecimento de um estado de coisas inconstitucional do sistema prisional brasileiro. A
superação desse problema de natureza estrutural exige do Poder Público a elaboração de um
plano nacional e de planos locais que prevejam um conjunto de medidas e a participação de
diversas autoridades e entidades da sociedade.

A proteção dos direitos fundamentais é inerente à condição humana. Nesse contexto, as normas
constitucionais e os tratados internacionais de direitos humanos de que o Brasil é parte proíbem
a existência de penas cruéis, garantem ao preso o respeito à sua integridade física e moral, bem
como preveem que a pena será cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com a natureza
do delito, a idade e o sexo do apenado.

No âmbito infraconstitucional, a Lei de Execução Penal assegura a assistência material, jurídica,


educacional, social, religiosa, além do acesso à saúde, aos alojamentos com ocupação e dimensões
adequadas, ao trabalho e ao estudo (Lei 7.210/1984, arts. 40, 41 e 126).

Esse cenário normativo, em conjunto com as sistemáticas violações desses direitos, afasta
eventuais contornos políticos ou de discricionariedade administrativa, tornando o problema do
sistema carcerário brasileiro essencialmente jurídico, motivo pelo qual o estrito cumprimento das
normas acima citadas deve ser assegurado por esta Corte.

A superlotação dos presídios, o descontrole na entrada e as condições da saída do sistema


prisional, e a má qualidade das vagas disponibilizadas impedem a prestação de serviços e bens
essenciais que integram o mínimo existencial. Essas circunstâncias comprometem a capacidade
do sistema em cumprir seus fins de ressocialização e de funcionar a favor da segurança pública.

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APGE JURIS - DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Com base nesses e outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente
a ADPF para:

(a) reconhecer o estado de coisas inconstitucional do sistema carcerário brasileiro;

(b) determinar que juízes e tribunais:

(b.1) realizem audiências de custódia, preferencialmente de forma presencial, de modo a viabilizar


o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária em até 24 horas contadas do momento
da prisão;

(b.2) fundamentem a não aplicação de medidas cautelares e penas alternativas à prisão, sempre
que possíveis, tendo em conta o quadro dramático do sistema carcerário;

(c) ordenar a liberação e o não contingenciamento dos recursos do FUNPEN;

(d) determinar a elaboração de plano nacional e de planos estaduais e distrital para a superação
do estado de coisas inconstitucional, com indicadores que permitam acompanhar sua
implementação;

(e) estabelecer que o prazo para apresentação do plano nacional será de até 6 (seis) meses, a
contar da publicação desta decisão, e de até 3 anos, contados da homologação, para a sua
implementação, conforme cronograma de execução a ser indicado no próprio plano;

(f) estabelecer que o prazo para apresentação dos planos estaduais e distrital será de 6 meses,
a contar da publicação da decisão de homologação do plano nacional pelo STF, e implementado
em até 3 anos, conforme cronograma de execução a ser indicado no próprio plano local;

(g) prever que a elaboração do plano nacional deverá ser efetuada, conjuntamente, pelo
DMF/CNJ e pela União, em diálogo com instituições e órgãos competentes e entidades da
sociedade civil, nos termos explicitados acima e observada a importância de não alongar
excessivamente o feito;

(h) explicitar que a elaboração dos planos estaduais e distrital se dará pelas respectivas unidades
da federação, em respeito à sua autonomia, observado, todavia, o diálogo com o DMF, a União,
instituições e órgãos competentes e entidades da sociedade civil, nos moldes e em simetria ao
diálogo estabelecido no plano nacional;

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

(i) prever que, em caso de impasse ou divergência na elaboração dos planos, a matéria será
submetida ao STF para decisão complementar;

(j) estabelecer que todos os planos deverão ser levados à homologação do Supremo Tribunal
Federal, de forma a que se possa assegurar o respeito à sua decisão de mérito;

(l) determinar que o monitoramento da execução dos planos seja efetuado pelo DMF/CNJ, com
a supervisão necessária do STF, cabendo ao órgão provocar o tribunal, em caso de
descumprimento ou de obstáculos institucionais insuperáveis que demandem decisões específicas
de sua parte; e

(m) estipular que os planos devem prever, entre outras, as medidas examinadas neste voto,
observadas as diretrizes gerais dele constantes, sendo exequíveis aquelas que vierem a ser objeto
de homologação final pelo STF em segunda etapa.
ADPF 347/DF, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento finalizado em 4.10.2023.
INFORMATIVO 1111.

» É compatível com o sistema normativo-constitucional vigente, norma estadual que veda a


promoção ou a participação de policiais em manifestações de apreço ou desapreço a quaisquer
autoridades ou contra atos da Administração Pública em geral.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

Apesar da imprescindibilidade da liberdade de expressão, enquanto direito fundamental que visa


evitar a prática de censura pelo Estado, é possível restringi-lo como qualquer outro, ante a
inexistência de direitos intocáveis (1).

As carreiras da área de segurança pública devem obediência aos princípios da hierarquia e da


disciplina, que regem a corporação, incumbindo-lhes a manutenção da segurança interna, da
ordem pública e da paz social.

Nesse contexto, as restrições da lei estadual impugnada são adequadas, necessárias e


proporcionais. Isso porque os policiais civis são agentes públicos armados cujas manifestações de
apreço ou desapreço relativamente a atos da Administração em geral e/ou a autoridades públicas
em particular podem implicar ofensa ao art. 5º, XVI, da CF/1988, segundo o qual se reconhece a
todos o direito de reunir-se pacificamente e “sem armas” (2).

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Assim, cumpre conciliar esses valores constitucionais: de um lado, a liberdade de expressão dos
policiais civis e, de outro, a segurança e a ordem públicas, bem como a hierarquia e a disciplina
que regem as organizações policiais.
ADPF 734/PE, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às 23:59. INFORMATIVO 1090.

» É inconstitucional a lei estadual que preveja o arquivamento de materiais genéticos de


nascituros e parturientes, em unidades de saúde, com o fim de realizar exames de DNA
comparativo em caso de dúvida.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

A lei estadual impugnada, a pretexto de proteger o direito à filiação biológica, viola o direito à
privacidade de pessoas em estado de extrema vulnerabilidade, uma vez que há coleta e
armazenamento de material genético sem prévio consentimento. Nesse contexto, infringe a
autonomia da vontade da parturiente ao se valer de instrumento coercitivo desproporcional para
a tutela de interesse eminentemente privado do destinatário da norma, além de comprometer a
autodeterminação informativa dos titulares desses dados, pois os impede de decidir sobre sua
divulgação e utilização.

Os dados genéticos são classificados como sensíveis, de modo que, mesmo que houvesse
consentimento da parturiente, o direito à privacidade ainda estaria violado, visto que o texto da lei
impugnada é vago em relação ao tratamento dos dados genéticos armazenados, o que constitui
severo risco à integridade digital dos indivíduos.

A ausência de previsão quanto à destinação dos dados, bem como aos mecanismos para
sistematizar a coleta, a guarda eficaz e a sua posterior exclusão, permite a utilização do material
coletado para quaisquer interesses, como a mercantilização e o perfilamento dos dados, o que
pode ocasionar uma série de violações a direitos fundamentais, como, por exemplo, a
discriminação genética de pessoas com doenças congênitas.

Além disso, há medidas mais efetivas e menos custosas e interventivas na esfera privada dos
indivíduos para se evitar a troca de bebês nas unidades de saúde. Exemplos disso são o uso de
pulseiras numeradas na mãe e no filho, o uso de grampo umbilical, a identificação da gestante no
momento da admissão, em conjunto com a posterior identificação do recém-nascido no momento
do nascimento, e a possibilidade da permanência do pai no momento do nascimento do filho. De
qualquer forma, o mais adequado é que o material genético seja coletado a partir do instante em
que ocorrer a dúvida sobre possível troca.
ADI 5.545/RJ, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 13.4.2023. INFORMATIVO 1090.

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

» As empresas de tecnologia que operam aplicações de internet no Brasil sujeitam-se à jurisdição


nacional e, como tal, devem cumprir as determinações das autoridades nacionais do Poder
Judiciário — inclusive as requisições feitas diretamente — quanto ao fornecimento de dados
eletrônicos para a elucidação de investigações criminais, ainda que parte de seus
armazenamentos esteja em servidores localizados em países estrangeiros.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

A utilização apenas de mecanismos diplomáticos de obtenção de prova, por se revelarem acordos


complexos e morosos, dificulta a apuração de delitos cometidos em ambiente virtual, razão pela
qual, uma vez considerado o avanço tecnológico, não devem ser ignoradas outras formas de
cooperação jurídica internacional, previstas em tratados e convenções internacionais que
objetivem dar maior celeridade à preservação da prova, tendo em vista que a demora na obtenção
dos dados pode ensejar a sua supressão.

Nesse contexto, nos termos do artigo 11 da Lei 12.965/2014, conhecida como “Marco Civil da
Internet” (1), cuja previsão encontra respaldo na Convenção sobre Crimes Cibernéticos de
Budapeste (art. 18), deverá ser obrigatoriamente respeitada a legislação brasileira relativamente
a qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados
pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de aplicações de internet, em que pelo
menos um desses atos ocorra em território nacional.

Ademais, inexiste inconstitucionalidade no procedimento do Acordo de Assistência Judiciária em


Matéria Penal, previsto pelo Decreto 3.810/2001, nem nas normas fixadas em dispositivos do
Código de Processo Civil e do Código de Processo Penal que tratam da cooperação jurídica
internacional e da emissão de cartas rogatórias, em especial nos casos em que a comunicação ou
a prestação de serviços tenham ocorrido fora do território nacional.
ADC 51/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 23.2.2023. INFORMATIVO 1084.

PRINCÍPIO DA IGUALDADE E SISTEMA DE COTAS

JULGADO DO STF

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

» É constitucional — na medida em que configura discrímen razoável — lei distrital que


estabelece a obrigatoriedade de: (i) serem mantidas, no mínimo, 5% (cinco por cento) de pessoas
com idade acima de quarenta anos, obedecido o princípio do concurso público, nos quadros da
Administração Pública direta e indireta; e (ii) ser firmada cláusula, nas licitações para contratação
de serviços com fornecimento de mão de obra, que assegure o mínimo de 10% (dez por cento)
das vagas a pessoas com mais de quarenta anos.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

As ações afirmativas antidiscriminatórias e a elaboração de políticas públicas que promovam o


pleno emprego estão compreendidas nas competências comuns das unidades federativas. Nesse
contexto, os estados e o Distrito Federal podem suplementar as hipóteses trazidas pelas normas
gerais de competência da União, estabelecendo percentuais mínimos conforme as necessidades
e prioridades locais, desde que não contrariem o regramento federal.

As contratações públicas representam meio eficaz para o fomento de diretrizes sociais e


econômicas. Ademais, a criação de reserva de vagas para faixa etária que encontra dificuldades
de empregabilidade está em consonância com o princípio da igualdade material, de modo que a
diminuição do desemprego dessas pessoas impacta na cadeia econômica e protege o núcleo
familiar.

A lei distrital impugnada, ao instituir as referidas cotas de contratação pelo Poder Público,
objetivou fomentar o desenvolvimento econômico e social na localidade, densificando comandos
constitucionais de proteção integral ao trabalhador e de respeito à isonomia. Há a necessária
correlação lógica entre o fator discriminatório e a finalidade pretendida, pois os critérios fixados
têm lastro constitucional e suas consequências são condizentes com os fundamentos e objetivos
republicanos.
ADI 4.082/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 30.8.2024 (sexta-feira), às 23:59 INFORMATIVO 1.148.

LIBERDADE RELIGIOSA

JULGADOS DO STF

» A presença de símbolos religiosos em prédios públicos, pertencentes a qualquer dos Poderes


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, desde que tenha o objetivo de
manifestar a tradição cultural da sociedade brasileira, não viola os princípios da não
discriminação, da laicidade estatal e da impessoalidade.

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APGE JURIS - DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

É compatível com a Constituição Federal de 1988 — e não ofende a proibição de discriminação


(CF/1988, arts. 3º, IV, e 5º, caput), o postulado da laicidade estatal (CF/1988, art. 19, I) e o princípio
da impessoalidade na Administração Pública (CF/1988, art. 37, caput) — a presença de símbolos
religiosos em espaços públicos, pertencentes ao Estado, nas hipóteses em que se busca
representar tradição cultural da sociedade brasileira.

A lealdade aos valores e princípios democráticos defendidos pelo texto constitucional ensejam a
identificação e o compromisso com os ideais de igualdade, liberdade e justiça nele contidos,
independentemente de diferenças culturais ou religiosas.

Muitas expressões que, originariamente, continham natureza intrinsecamente religiosa,


transcendem o espaço divino para se fundirem ou se transformarem em exteriorização da história
cultural de um povo. Assim, uma vez considerado que a cultura e a tradição também se
manifestam por símbolos religiosos, deve-se reconhecer o marcante aspecto histórico-cultural
presente na construção da sociedade brasileira.

Ademais, a controvérsia em debate se distingue daquela versada em precedentes nos quais a


presença de símbolos religiosos em espaços públicos se deu por determinação legal, ou seja, em
que a vontade do Estado se manifestou de forma impositiva e generalizada a partir de lei em
sentido formal (1).

Nesse contexto, a presença de símbolos religiosos (i) não retira a legitimidade da ação do
administrador público ou da convicção do julgador; (ii) não impõe concepções filosóficas ao
cidadão nem o constrange a renunciar à fé ou lhe retira a faculdade de autodeterminação e de
percepção mítico-simbólica; bem como (iii) não fere a liberdade de ter, não ter ou deixar de ter
uma religião.

Na espécie, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública com o objetivo de retirar todos
os símbolos religiosos — especialmente crucifixos e imagens cristãs — dos locais proeminentes,
de ampla visibilidade e de atendimento ao público nos prédios públicos da União situados no
Estado de São Paulo, sob a alegação de serem ofensivos ao caráter laico do Estado brasileiro.
ARE 1.249.095/SP, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado em 26.11.2024 (terça-feira), às 23:59 INFORMATIVO
1160

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APGE JURIS - DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

» Testemunhas de Jeová, quando maiores e capazes, têm o direito de recusar procedimento


médico que envolva transfusão de sangue, com base na autonomia individual e na liberdade
religiosa. Como consequência, em respeito ao direito à vida e à saúde, fazem jus aos
procedimentos alternativos disponíveis no Sistema Único de Saúde - SUS, podendo, se
necessário, recorrer a tratamento fora de seu domicílio

» É permitido ao paciente, no gozo pleno de sua capacidade civil, recusar-se a se submeter a


tratamento de saúde, por motivos religiosos. A recusa a tratamento de saúde, por razões
religiosas, é condicionada à decisão inequívoca, livre, informada e esclarecida do paciente,
inclusive, quando veiculada por meio de diretivas antecipadas de vontade. É possível a realização
de procedimento médico, disponibilizado a todos pelo sistema público de saúde, com a interdição
da realização de transfusão sanguínea ou outra medida excepcional, caso haja viabilidade
técnico-científica de sucesso, anuência da equipe médica com a sua realização e decisão
inequívoca, livre, informada e esclarecida do paciente.

JURISPRUDÊNCIA DO STF

FUNDAMENTOS:

Desde que atendidas as balizas fixadas pelo STF, é legítima a recusa a tratamento de saúde
por motivos religiosos, cabendo ao Estado, em respeito à fé religiosa do paciente, oferecer, no
lugar da medida refutada em razão do credo, procedimento médico alternativo disponibilizado
a todos no SUS.

A liberdade de crença e de culto constitui uma das principais garantias individuais que alcançaram
a condição de direito fundamental na Constituição Federal de 1988 (CF/1988, art. 5º, VI). O fato
de o Estado brasileiro ser laico (CF/1988, art. 19, I) não lhe impõe uma conduta negativa diante
da proteção religiosa, cabendo-lhe assegurar a diversidade em sua mais ampla dimensão, incluída
a liberdade religiosa, segundo a qual as pessoas vivem de acordo com os ritos e dogmas de sua
fé, sem ameaça ou discriminação.

A interdição à transfusão de sangue é um dogma religioso para os que professam a crença das
testemunhas de Jeová, motivo pelo qual não se pode impor a medida a uma pessoa maior e capaz
que, de forma voluntária e consciente, se negue ao tratamento dessa natureza, mesmo quando
haja risco para a sua vida, sob pena de ferir a sua crença religiosa e o seu direito à
autodeterminação.

Nesse contexto, a manifestação da vontade pela recusa da transfusão de sangue, para que seja
considerada válida, deve (i) ser manifestada por paciente maior, capaz e em condições de

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APGE JURIS - DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

discernimento; (ii) ser livre, voluntária, autônoma, sem nenhum tipo de pressão ou coação; (iii) ser
inequívoca, realizada de forma expressa, prévia ao ato médico, atual, podendo ser revogada a
qualquer tempo; (iv) ser esclarecida, ou seja, precedida de informação médica completa e
compreensível sobre diagnóstico, tratamento, riscos, benefícios e alternativas; e (v) dizer respeito
ao próprio interessado, sem estender-se a terceiros.

Quando não for possível colher a manifestação atual do paciente, por incapacidade de se
comunicar, prevalecerá a posição manifestada anteriormente, seja pela diretiva antecipada de
vontade em documentos autênticos ou através de um testamento vital.

Ademais, com base no princípio constitucional do melhor interesse para a saúde e para a vida da
criança e do adolescente, em geral, não é válida a invocação de convicção religiosa por parte dos
pais para recusar tratamento em favor de seus filhos menores. No entanto, caso exista tratamento
alternativo eficaz e seguro, conforme avaliação médica, os pais podem escolhê-lo para seus filhos.

Desde que não represente ônus desproporcional, é legítima a imposição, ao Poder Público, do
custeio do deslocamento e da permanência, pelo tempo necessário, de paciente
hipossuficiente para realização de procedimento alternativo — compatível com as suas
convicções religiosas — em instituição credenciada pelo SUS situada em local diverso do seu
domicílio.

Como uma das principais finalidades do Estado é a promoção de políticas públicas destinadas à
saúde, havendo viabilidade técnico-científica e consentimento da equipe médica, é possível
realizar um procedimento médico disponível no SUS em substituição à transfusão de sangue ou
outra medida excepcional recusada por motivos religiosos. Em hipótese alguma, o médico será
obrigado a realizar procedimento alternativo contra a sua autonomia profissional.
RE 979.742/AM, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento finalizado em 25.09.2024 (quarta-feira)
RE 1.212.272/AL, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 25.09.2024 (quarta-feira) INFORMATIVO 1.152.

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