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10 - Rimas de Camões - Com Soluções

O documento aborda a obra lírica de Luís de Camões, destacando temas como amor, natureza, desconcerto e mudança, além de discutir a influência do Renascimento e do Humanismo na sua poesia. A análise inclui a estrutura e linguagem utilizadas, como redondilhas e sonetos, e a representação do eu poético em relação à vida e ao amor. Também são apresentados exercícios de interpretação de sonetos, enfatizando a reflexão sobre o tempo e a fidelidade amorosa.

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Leticia Sousa
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O documento aborda a obra lírica de Luís de Camões, destacando temas como amor, natureza, desconcerto e mudança, além de discutir a influência do Renascimento e do Humanismo na sua poesia. A análise inclui a estrutura e linguagem utilizadas, como redondilhas e sonetos, e a representação do eu poético em relação à vida e ao amor. Também são apresentados exercícios de interpretação de sonetos, enfatizando a reflexão sobre o tempo e a fidelidade amorosa.

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REVISÕES | EDUCAÇÃO LITERÁRIA

PORTUGUÊS
10.º ano

Rimas de Camões
Tópicos – 10.º ano
– Contextualização histórico-literária.

Redondilhas Temas
– A reflexão sobre a vida pessoal.
Sonetos
– A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.
– A representação da amada.
– A representação da Natureza.
– O tema do desconcerto.
– O tema da mudança.

Linguagem, estilo e estrutura


– lírica tradicional;
– a inspiração clássica;
– discurso pessoal e marcas de subjetividade;
– soneto: características;
– métrica (redondilha e decassílabo), rima e esquema
rimático;
– recursos expressivos: a aliteração, a anáfora, a antítese, a
apóstrofe e a metáfora.

1
RENASCIMENTO, HUMANISMO, CLASSICISMO

O século de Camões é marcado pelo grande movimento cultural do Renascimento, cuja génese está no
desenvolvimento do comércio, das atividades industriais e das cidades. A velha cultura clerical da Idade Média não
consegue satisfazer as novas necessidades e aspirações do Homem. Ao teocentrismo medieval sucede o
antropocentrismo, em que o Homem passa a ser o polo central, o valor máximo. O Homem assume o papel de sujeito
da História e do progresso.

O renascimento do espírito crítico é acompanhado por um cada vez maior interesse pela cultura greco-latina. Aos
poucos, a cultura humanista vai-se consubstanciando num conjunto de valores e de ideias que dão pelo nome de
humanismo.

A LÍRICA CAMONIANA

Camões é considerado não só o maior lírico português, mas até um dos maiores de todos os tempos, coexistindo,
na sua lírica, a tradição poética nacional e a novidade do «estilo novo» renascentista.

Temas e formas
Na lírica camoniana predomina o tema do amor, cantado em todos os tons: do ligeiro, espirituoso ou picante, até
ao tom sério (a maioria das composições), quando não trágico, complicando-se então com a temática da saudade, da
insatisfação, da morte e com o sentimento do pecado.

Além dos temas amorosos, salienta-se também o do desconcerto ou do absurdo. Temos ainda composições de
temática religiosa, mais ou menos motivadas por influências bíblicas.

Quanto à forma, a variedade da lírica camoniana não é menor. Usou a redondilha (medida velha) em composições
de estilo semelhantes a textos do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Contudo, a maioria das composições
adotam a medida nova que o Renascimento põe em voga.

2
As formas tradicionais

(cantigas, vilancetes,
esparsas, etc.)
Além da métrica, as redondilhas aproveitam os temas da tradição: aqui

A medida velha encontramos as pastorelas, o tema da donzela que vai à fonte, o dos olhos a quem
se dirige o próprio sujeito, o da cantiga saudade.
as redondilhas
(versos de 5 e 7 sílabas
métricas)

O estilo novo

É no soneto que Camões atinge a mais admirável e rara variedade rítmica. O soneto
(soneto, canção, ode,
elegia, écloga, etc.) camoniano desenvolve-se frequentemente como uma tese apresentada na
primeira quadra, conduzindo a uma síntese surpreendente e condensada no
A medida nova
desfecho (último terceto).

decassílabos
(versos de 10 sílabas
métricas)

3
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

Renascimento, Humanismo e Classicismo


✓Nova conceção do Homem e do Mundo.
✓Privilégio da razão e da experiência.

✓Sobreposição do antropocentrismo ao teocentrismo medieval.

✓Crença no saber do Homem e na sua experiência.

✓Recuperação dos clássicos por influência de Dante e Petrarca (nos temas, nas formas e na mitologia).

✓Coexistência de formas medievais e renascentistas na literatura.

TEMÁTICAS DA POESIA LÍRICA DE CAMÕES


A representação da amada A representação da Natureza
– por influência petrarquista, surge a imagem de uma – espaço alegre, tranquilo, sereno, propício ao amor
mulher: (locus amoenus);
• angélica, um ser divino, de pele e cabelos claros, – espelho da alma do poeta, refletindo os seus
elementos físicos reveladores das qualidades da sentimentos;
alma; – confidente, testemunha da dor provocada pela
• com um poder transformador da Natureza e do ausência / separação da amada;
Homem. – espaço onde o «eu» pode projetar os seus sentimentos
negativos.
– do contacto com outras culturas, nasce um novo
conceito de beleza feminina, distante do de Petrarca
(pele e cabelos escuros) capaz de provocar fascínio e
tranquilidade no amador.
A experiência amorosa e a reflexão sobre o amor A reflexão sobre a vida pessoal
– poeta dividido entre a fascinação do amor espiritual e – o poeta reflete sobre:
a atração de um amor carnal, entre a mulher que admira • o Destino (que nunca lhe foi favorável);
e a que deseja; • os erros que cometeu;
– à luz do petrarquismo, a ausência da mulher amada é • o amor (fracassado).
ocasião de purificação amorosa; no entanto, por vezes,
essa situação origina sofrimento, saudade e ânsia de
reencontro físico;
– o poder transformador do amor e os seus efeitos
contraditórios.

4
TEMÁTICAS DA POESIA LÍRICA DE CAMÕES (continuação)

O tema do desconcerto O tema da mudança


– reflexão sobre o desconcerto do mundo, ao nível social – consciente da irreversibilidade do tempo, o poeta
e moral. Assim, este resulta: reflete sobre:
• da errada distribuição dos prémios e dos • a renovação cíclica da Natureza;
castigos (os maus são galardoados, os bons • a mudança da vida e das coisas.
severamente castigados);
• dos contrastes entre a «opulência» e a
«miséria»;
• do crescente interesse dos homens por valores
materiais.

LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTRA DA POESIA LÍRICA CAMONIANA


Estilo Estrutura Linguagem
– engenhoso (redondilhas: a – redondilha menor (5 sílabas métricas) – uso de construções curtas a glosar
medida velha). – redondilha maior (7 sílabas métricas): um mote, com uma linguagem sóbria,
• com mote: mas engenhosa, servindo-se de:
vilancete • jogos de palavras;
cantiga • trocadilhos;
• sem mote: • antíteses;
esparsa • ...
trova ou endecha
Clássico (a medida nova — verso – soneto (2 quadras e 2 tercetos). – o uso da linguagem ao serviço da:
decassilábico). • descrição;
• reflexão;
• confissão.
– uso diversificado de recursos
expressivos, com predomínio para a
linguagem figurada (metáforas,
hipérboles,...) e a sonoridade
(aliteração);
– uso de vocabulário e frase de
influência latinizante.

5
LÍRICA CAMONIANA EM EXAME

2016 | 639 | 1.ª FASE

Leia o soneto.
Oh! como se me alonga, de ano em ano,
a peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano!

Vai-se gastando a idade e cresce o dano;


perde-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança;


no meio do caminho me falece,
mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo;


e, na tardança, se os olhos ergo a ver se inda parece,
da vista se me perde e da esperança.

Luís de Camões, Rimas, edição de Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005, p. 129

1. Nas duas quadras, o sujeito poético reflete sobre os efeitos da passagem do tempo na sua vida.
Refira quatro dos aspetos que integram essa reflexão.

2. Relacione o sentido do verso «qualquer grande esperança é grande engano» (v. 8) com o conteúdo dos dois
tercetos.
2017 | 734 | 1.ª FASE

Leia o soneto.

Sete anos de pastor Jacob servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,


passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida,

começa de servir outros sete anos,


dizendo: – Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.

Luís de Camões, Rimas, ed. Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994, p. 131.

1. O tema central deste soneto é a fidelidade amorosa.


Justifique esta afirmação, ilustrando a resposta com citações do poema.

2. Indique quatro das características que compõem o retrato psicológico de Jacob. Fundamente a resposta
com elementos do texto.

3. Explicite o sentido do quinto e do sexto versos: «Os dias, na esperança de um só dia, / passava,
contentando-se com vê-la».

4. Refira a importância que a fala de Jacob assume no soneto, salientando dois aspetos que considere
relevantes.

7
2014 | 734 | 1.ª FASE

Leia o soneto de Camões a seguir transcrito. Em caso de necessidade, consulte a nota e o glossário apresentados.

O céu, a terra, o vento sossegado…


As ondas, que se estendem pela areia…
Os peixes, que no mar o sono enfreia…
O noturno silêncio repousado…

O pescador Aónio, que, deitado


onde co vento a água se meneia,
chorando, o nome amado em vão nomeia,
que não pode ser mais que nomeado:

– Ondas (dezia), antes que Amor me mate,


tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo
me fizestes à morte estar sujeita.

Ninguém lhe fala; o mar de longe bate,


move-se brandamente o arvoredo;
leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.

Luís de Camões, Rimas, edição de Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994, p. 169

Nota e Glossário

enfreia (verso 3) – domina; subjuga.

Ninfa (verso 10) – neste contexto, termo usado para designar a amada; mulher jovem e formosa; divindade que habita o campo, os bosques
e as águas.

se meneia (verso 6) – se move; se agita.

tornai-me (verso 10) – trazei-me de volta.

1. Caracterize o espaço físico representado na primeira quadra e a atmosfera nele predominante.

2. Descreva o estado de espírito do pescador Aónio, com base na segunda e na terceira estrofes.

3. Refira um dos efeitos expressivos da aliteração presente no último verso do poema.

4. Interprete a reação da natureza ao apelo do pescador.

8
CENÁRIOS DE RESPOSTA

Exercício 1 – Cenários de resposta


1. De acordo com as duas quadras, o sujeito poético:
– entende a vida como uma experiência longa e cada vez mais penosa;
– toma consciência da aproximação do termo da sua vida;
– faz um balanço negativo da existência com base na experiência passada;
– toma consciência de que a vida vai perdendo qualidade; – encara toda a esperança como mera ilusão.

2. O verso «qualquer grande esperança é grande engano» (v. 8) sugere que, para o sujeito poético, toda a
esperança acaba por se revelar ilusória. Esta ideia concretiza-se nos dois tercetos. O bem desejado é
representado como um objetivo que se persegue, num caminho em que o sujeito cai e se levanta, até que o
próprio bem desejado se perde de vista e o desânimo vence.

Exercício 2 – Cenários de resposta


1. O tema central do soneto é o da fidelidade amorosa, na medida em que:
− Jacob servira Labão como pastor, durante sete anos, na expectativa de que este lhe desse como «prémio»
(v. 4) a sua filha Raquel, provando assim a sua devoção amorosa pela jovem;
− ludibriado pelo pai da amada, que lha negou, dando-lhe outra filha («em lugar de Raquel lhe dava Lia» – v.
8; «como se a não tivera merecida» – v. 11), o pastor, fiel à sua amada, retoma com pertinácia novo período
de servidão (v. 12);
− o serviço de amor é marcado pela utilização reiterada de formas do verbo «servir» (vv. 1, 3, 12 e 13),
constituindo uma manifestação da fidelidade do amor de Jacob por Raquel.

2. Jacob é caracterizado como um homem:


− apaixonado, uma vez que aceita servir pacientemente o pai da sua amada, para assim a merecer;
− «triste» (v. 9), pelo facto de Labão, findo o ciclo de sete anos de trabalho, não lhe dar Raquel, mas a sua
filha Lia (vv. 7-8);
− persistente, já que não perde a esperança («começa de servir outros sete anos» – v. 12);
− fiel, porque demonstra o seu amor excecional por Raquel, dispondo-se a esperar por ela quanto tempo for
necessário (vv. 13-14);
− nobre, porque revela a elevação do seu sentimento amoroso pela jovem (vv. 13-14).

3. O quinto e o sexto versos salientam a devoção amorosa do pastor que, durante os dias de longa espera, se
limita a amar, contemplativamente, Raquel («contentando-se com vê-la» – v. 6), sempre na «esperança de
um só dia» (v. 5), ou seja, o do momento, tão desejado, em que terá a sua amada.

4. A fala de Jacob (vv. 13-14) assume uma importância crucial no soneto, na medida em que: − cria um intenso
efeito dramático, ao apresentar, na primeira pessoa, emoções e sentimentos; − define o amor como sendo
puro, sublime e intemporal; − acentua a exemplaridade da história, evidenciando o facto de ser o amor por
Raquel o único propósito da sua vida; − sublinha a vivência do tempo, marcada pela antítese presente nos
adjetivos «longo» e «curta» (v. 14).

9
Exercício 3 – Cenários de resposta
1. O espaço físico representado na primeira quadra corresponde ao de uma noturna paisagem marinha («As
ondas, que se estendem pela areia…» – v. 2). Predomina uma atmosfera de tranquilidade, de quietude e de
silêncio («O céu, a terra, o vento sossegado...», «Os peixes, que no mar o sono enfreia…», «O noturno silêncio
repousado...» – vv. 1, 3 e 4).

2. O pescador Aónio está dominado por um sentimento de profunda tristeza devido à morte da amada. Num
estado de desalento, patente na atitude de abandono em que se encontra («deitado / onde co vento a água
se meneia» – vv. 5-6), exprime o seu desespero chorando, clamando pelo «nome amado» (v. 7) e suplicando
às «Ondas» (v. 9) a graça do retorno à vida da sua «Ninfa» (v. 10).

3. Entre outros, destacam-se os seguintes efeitos expressivos da aliteração (predominância do som <v>)
presente no último verso do poema:
− confere uma tonalidade musical harmoniosa;
− cria um efeito que sugere o som do vento;
− marca o ritmo sincopado do verso;
− acentua a importância da relação simbólica entre voz e vento.

4. A reação da natureza sugere indiferença relativamente ao pescador Aónio, pois aquela não responde à sua
súplica. Assim, à completa ausência de resposta, segue-se a indiferença do mar («de longe bate» – v. 12), o
movimento brando do «arvoredo» (v. 13) e do «vento» (v. 14) que, soprando, torna inaudível a «voz» (v. 14)
da figura central.

10

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