0% acharam este documento útil (0 voto)
18 visualizações17 páginas

Resumos de Direito Da União Europeia I

O documento discute a evolução do Direito da União Europeia, destacando o papel histórico de figuras como Kant e Churchill na promoção da integração europeia. A União Europeia é apresentada como uma 'União de Direito', onde os tratados constitutivos funcionam como uma constituição, estabelecendo um sistema jurídico autônomo que vincula os Estados-Membros. Além disso, enfatiza a importância do princípio democrático e da convivência do pluralismo no exercício do poder político na UE.

Enviado por

xana droggys
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
18 visualizações17 páginas

Resumos de Direito Da União Europeia I

O documento discute a evolução do Direito da União Europeia, destacando o papel histórico de figuras como Kant e Churchill na promoção da integração europeia. A União Europeia é apresentada como uma 'União de Direito', onde os tratados constitutivos funcionam como uma constituição, estabelecendo um sistema jurídico autônomo que vincula os Estados-Membros. Além disso, enfatiza a importância do princípio democrático e da convivência do pluralismo no exercício do poder político na UE.

Enviado por

xana droggys
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 17

Direito da União Europeia

Princípio da União do Direito

 O Hino à Alegria da Nona Sinfonia de Beethoven foi reconhecido como hino da união
europeia, apesar de não estar reconhecido oficialmente como símbolo da UE (nem no
Tratado que estabelecia uma Constituição para a Europa, nem no Tratado de Lisboa)
 O objetivo da unidade política europeia foi alimentado ao longo do tempo por vários
políticos, filósofos, fatores económicos, etc:
o Contributo cientifico mais emblemático: Kant, em 1795, defendeu a ideia da
celebração de acordos entre os representantes dos povos liberais da Europa de
modo a atingir-se a ambicionada Paz Perpétua.
o Contributo literário mais eloquente: Victor Hugo fala sobre dois grandes grupos – os
Estados Unidos da América e os Estados Unidos da Europa – nos seus versos.
o Foi o colapso das economias europeias que condicionou favoravelmente a
integração europeia
o Em 1976, Winston Churchill apela à reconciliação da França e Alemanha através da
criação dos Estados Unidos da Europa
o Em 1950, Robert Schuman (Ministro dos Negócios Estrangeiros Francês) propõe
que toda a produção franco-alemã do carvao e do aço (setor produtivo fundamental
na época) fosse posta sobre uma autoridade comum a que Estados, empresas e
cidadãos. Os governos belga, alemão, italiano, holandês e luxemburguês acolhem
esta proposta e nasce a Comunidade Europeia do Carvao e do Aço
 Os impulsos que moveram os pais fundadores da união europeia (Jean Monnet, Robert
Schuman, Konrad Adenauer, etc) tinham a ver com o facto de todos estes homens terem um
ódio comum à guerra e ao espirito de dominação. Por isso, a integração europeia constituía
para eles o único caminho de esperança:
o Primeiro deu-se a integração de todo um setor económico (carvao e aço)

o Depois, integração económica, monetária e política do continente

 Com isto feito, estavam lançadas as primeiras bases concretas de uma federação europeia
indispensável á preservação da paz – tal como decorre da leitura da Declaração Schuman
de Maio de 1950
 Os pais fundadores acreditavam que o mercado comum seria um instrumento de
transformação não so económico mas também psicológico. Entendiam que a soberania só
sobrevive se esta for transferida para um espaço maior, no qual se funde com outras
soberanias igualmente em evolução, donde todas saem reforçadas. Estes homens
propunham a criação de instituições comuns que unissem os europeus num mundo de
mudança. O método adequado para tal era, então, criar progressivamente interesse comum
entre os europeus, gerado por instituições democráticas comuns, nas quais se delega a
soberania necessária.
 Os pais fundadores sabiam, porém, que teriam resistências, pois procuravam mudar a
forma tradicional de autoridade, que sempre foi nacional. Mas, mesmo assim, as forças
postas ao serviço da integração europeia venceram a inércia e as resistências.
 A partilha de poderes soberanos relativamente ao setor produtivo do carvao e do aço
restou bem-sucedida – mas insuficiente para os Estados-Membros envolvidos. Por isso, em
1957 é assinado o Tratado constitutivo da Comunidade Europeia da Energia Atómica e o
Tratado constitutivo da Comunidade Económica Europeia (é neste tratado que os Estados-
Membros fazem um compromisso de solidariedade, segundo o qual se comprometem a
adotar todas as medidas necessárias ao cumprimento dos objetivos dos Tratados).
 Nos 50 anos seguintes à assinatura desses tratados, a europa já tinha muito que
comemorar – atingiu-se a reunificação de um continente assolado por dois grandes
conflitos bélicos do séc. XX.
 Atualmente são 27 os Estados-Membros da EU. Os alargamentos foram:
o 1973: Reino Unido, Irlanda e Dinamarca

o 1981: Grécia

o 1986: Portugal e Espanha

o 1995: Áustria, Finlândia, suécia

o 2004: Hungria, Polónia, República Checa, Eslováquia, Letónia, Lituânia, Estónia,


Eslovénia, Chipre e Malta
o 2007: Bulgária e Roménia

 Mas os alargamentos demandam adaptações dos tratados constitutivos – especialmente no


que respeita ao funcionamento das instituições europeias:
o A 1ª revisão dos tratados das Comunidades deu-se em 1986, com o Ato Único
Europeu, onde ficou estabelecido como objetivo prioritário a construção de um
mercado interno ate Dezembro de 1992
o A 2ª revisão deu-se com o Tratado de Maastricht de 1992 – criou a Uniao Europeia
fundada nas 3 Comunidades existentes e em dois pilares intergovernamentais:
Politica externa de segurança comum (PESC) e Cooperação judicial e em matérias de
assuntos internos (JAI), relativamente aos quais aa decisões eram tomadas pela
unanimidade dos EM.
o Outras revisões pelo Tratado de Amsterdão 1997 e pelo Tratado de Nice 2001: não
atingiram os resultados desejados no que toca à reforma das instituições europeias
de modo a adaptá-las ao alargamento da EU aos países da Europe central e oriental.
↳ Foi por isso que o Conselho Europeu reunido e Laeken, em 2001, convocou uma
Convenção para elaborar um documento que previsse soluções para as seguintes
questões: 1) A delimitação mais precisa de competências entre a UE e os Estados-
Membros (atendendo ao principio da subsidiariedade – art. 5/3 do TUE); 2) O estatuto da
Carta dos Direitos Fundamentais da EU; 3) A simplificação dos tratados (para torná-los
mais claros e compreensíveis ao cidadão comum); 4) O robustecimento do papel dos
Parlamentos nacionais na arquitetura europeia. Em 2003, a mesma Convenção apresenta
ao Conselho Europeu um projeto de Tratado Constitucional. Tal projeto serviu de base ao
tratado que seria assinado pelos Chefes de Estado e Governo dos EM reunidos em Roma
em 2004. Todavia, o Tratado Constitucional não entrou logo em vigor por conta das
rejeições referendárias de 2005 na Holanda e França. A crise constitucional em que a
União esteve mergulhada durante 2 anos só foi resolvida pelo empenho das presidências
alemã e portuguesa da EU que culminou com a assinatura do Tratado de Lisboa em 2007.

União Europeia enquanto União de Direito

‣ A ideia de Estado soberano tem recuado para uma posição mais modesta. Ou seja, os
tradicionais elementos do Estado (teoria clássica de Jellinek) – um povo, um território e um
poder político – já não são têm o mesmo significado que tinham antigamente.
‣ No fundo, como refere G. Canotilho, temos observado uma transição de Estados soberanos
para “Estados não soberanos”, isto é, Estados internacionalmente orientados (pelo direito e
politica internacional) e supranacionalmente vinculados (pelos objetivos de construção
europeia).
‣ A interdependência globalitária e a integração europeia transformaram as ordens jurídicas
nacionais em ordens jurídicas parciais, pois o Direito da UE prima sobre as normas
constitucionais dos Estados-Membros.
‣ A UE não é um Estado mas cria direito como se fosse – cria normas jurídicas que
vinculam obrigatoriamente os Estados-Membros e seus cidadãos.
O sistema europeu funciona enquanto ordem jurídica
‣ Neste sentido, no Acórdão Costa/ENEL de 1964, o TJUE lembrou que, diferentemente dos
demais tratados internacionais, os tratados constitutivos instituíram um ordenamento
jurídico autónomo que cumpre as autoridades nacionais fazer respeitar: “através da
instituição de uma Comunidade sem limite de duração, dotada de órgãos próprios, de
personalidade e capacidade jurídica, de capacidade de representação no plano
internacional, e de poderes efetivos provenientes da limitação de competência ou da
transferência de atribuições dos Estados à Comunidade, estes limitaram, ainda que em
campos circunscritos, os seus poderes soberanos e criaram um complexo de direito
vinculativo para os seus cidadãos e para os próprios”.
‣ Assim, da mesma forma que um Estado, a União Europeia cria direito e vincula-se ao
direito que ela própria cria.

‣ A União Europeia é dotada de:


Instituições próprias
Processos para emitir e interpretar as normas europeias
Mecanismos para sancionar a sua eventual violação
‣ É por isso que se diz que a UE funciona como uma União de direito (por alusão à expressão
Estado de direito). Isto basicamente significa que o exercício do poder público da União
deve estar submetido ao direito.
‣ A base jurídica da União de direito encontra-se nos tratados constitutivos, tal como a base
jurídica de Estado de direito está na respetiva Constituição. Os tratados constitutivos
preveem:
Os objetivos a serem realizados pela UE
Um quadro institucional que obedece ao princípio do equilíbrio dos poderes (em vez
do da separação dos poderes, como entendemos a nível nacional)
Um sistema de contencioso próprio
Um sistema de atos jurídicos/normas que afetam diretamente os particulares

‣ Todos os atos do poder público europeu devem conformar-se formal e materialmente com
as disposições dos tratados constitutivos, podendo os atos das instituições europeias que
não lhes sejam conformes ser anulados pelo TJUE.

‣ A ideia de união de direito aponta para a necessidade da ordem jurídica europeia procurar
fundamento/legitimidade num conjunto de normas fundamentais que organize o poder
político europeu. Foi o TJUE que deduziu jurisprudencialmente este princípio da União de
direito – é um princípio que funciona como: 1) Limite à atuação das instituições europeias;
2) Garantia dos direitos dos particulares afetados pelas disposições europeias. E o TJUE fê-
lo no Acórdão Os Verdes de 1986 quando decidiu que toda a atuação das instituições
europeias está subordinada ao direito. Os tratados estabelecem um sistema completo de
vias de recurso e procedimentos destinados a fiscalizar os atos das instituições europeias.
‣ A forma de poder europeu é predominantemente constitucional. Ou seja, a União Europeia
evolui e comporta-se como se a sua base jurídica fosse uma Constituição e não um tratado
governado pelo Direito Internacional. Como o TJUE já referiu várias vezes: os Estados
Membros, através dos tratados constitutivos, criaram uma ordem jurídica autónoma
relativamente ao Direito Internacional e ao direito interno dos Estados Membros.
‣ Então, é possível afirmar que a UE tem uma Constituição, pois os tratados constitutivos
funcionam como uma.
‣ Mas é um constitucionalismo novo que procura superar a ideia de que o poder político e a
sua Constituição estão obrigatoriamente vinculados a um território e a um conceito de
povo homogéneo. A UE não tem os elementos tradicionais do Estado moderno (povo,
território, soberania, autoridade hierárquica), podendo ser entendida como a primeira
fórmula política pós-moderna. Assim, a UE colhe elementos de vários modelos de
organização política (desde o Estado nacional ao modelo federal, confederal, etc). Por isso
há quem defenda que a Constituição Europeia é muito diferente da Constituição nacional –
porque resulta do diálogo entre todas as Constituições dos Estados-Membros.
o É por este motivo que G. Canotilho vai defender que o processo de integração
europeia deve ser estudado a partir de uma “teoria da interconstitucionalidade” –
rede de Constituições nacionais a conviverem no mesmo espaço político.
‣ Os conceitos jurídicos não têm o mesmo conteúdo no Direito da UE e nos direitos nacionais:
As instituições europeias não refletem o mesmo modelo tripartido de
separação dos poderes dos sistemas estaduais
 Na União Europeia não há uma distinção inequívoca entre função legislativa e
executiva, sendo a primeira exercida por várias instituições europeias
 Não há uma hierarquia entre atos normativos
 Os atos jurídicos europeus (diretivas, regulamentos, decisões) não têm
paralelo a nível nacional
As relações entre a Constituição Europeia e os ordenamentos nacionais não
são hierárquicas
 A nível nacional, a Constituição do Estado goza de supremacia, pelo que
qualquer norma infraconstitucional que viole o disposto na Constituição é
nula e será afastada do ordenamento jurídico pelo TC. Ora, a relação da
Constituição Europeia com os ordenamentos nacionais não é uma relação
hierárquica nestes termos, pois são ordenamentos jurídicos separados.
 O TJUE não declara inválida uma norma nacional por violação dos
tratados constitutivos, declarando apenas o incumprimento do EM
(ação de incumprimento – arts. 258º a 260º do TFUE) por manter essa
norma inconforme com o Direito da União;
 O juiz nacional, quando estiver perante uma norma europeia e uma
norma nacional que lhe seja desconforme, vai aplicar a norma
europeia e afastar a nacional, mas não vai julgar a norma nacional
inválida porque não há uma hierarquia das normas
 O juiz nacional não é competente para decidir autonomamente sobre
a validade de uma norma europeia, sendo obrigado a reenviar
prejudicialmente a questão para o TJUE
Conclusão: as relações entre o ordenamento europeu e o ordenamento
nacional regem-se pelo princípio da competência e não pelo princípio da
hierarquia.
O contencioso da União Europeia não estuda apenas litígios que possam ser
resolvidos mediante a aplicação do Direito da União
 O reenvio prejudicial, por exemplo, não é um procedimento contencioso em
sentido estrito, pois não há propriamente um litígio;
 Portanto, o contencioso da UE é composto pelas vias de direito e pelas regras
de processo aplicáveis perante os tribunais europeus – de resto, podem não
ser apenas tribunais organicamente europeus, mas também os tribunais
funcionalmente europeus (nacionais), porque a organização judicial europeia
integra os dois.
‣ Permanece então a seguinte perplexidade: se o TJUE empenhou-se no processo de
constitucionalização dos tratados e se estes já funcionavam como a “carta constitucional
base” da UE, então porque é que se decidiu avançar para uma Constituição formal, isto é,
para um Tratado Constitucional (assinado em 2004 e depois rejeitado em 2005)? Ora, o
objetivo era simplificar a UE aos olhos do cidadão através da adoção de uma Constituição
formal. Todavia, como já foi falado, o Tratado Constitucional foi rejeitado em referendos na
França e Holanda, fazendo com que a UE caísse numa crise constitucional de 2 anos que só
seria resolvida com a assinatura do Tratado de Lisboa em 2007.
‣ O Tratado de Lisboa foi o arranjo possível. Mas, comparativamente com o Tratado
Constitucional, perdemos em termos de simplificação, democraticidade e agregação.

Princípio Democrático

‣ A democracia é uma forma de legitimação do exercício do poder político que permite a


convivência do pluralismo: diferentes opiniões no mesmo espaço político, fundamento ao
bom funcionamento do ordenamento jurídico.
‣ A congregação de consensos existe quando há um mínimo de interessados que concordem
com uma tomada de decisão num determinado sentido. Assim, as decisões em democracia
são tendencialmente partilhadas e não devem ser unilateralmente impostas. Apesar de não
ser a melhor solução do ponto de vista democrático, a democracia hoje assenta numa regra
da maioria, só que para que a democracia possa funcionar numa congregação de maioria,
tem de existir um sistema de “checks and balances”, que possa possibilitar a tal alternância
no poder.
‣ A vontade da maioria só é legítima quando há uma possibilidade constitucional de que
essas maiorias se alterem, oferecendo uma possibilidade real para que as minorias se
convertam em maiorias. Diz também a doutrina autorizada que o processo democrático só
funcionará se o cidadão tiver conhecimento das matérias que estão em processo de decisão
(clara crise democrática nos dias de hoje).
‣ A noção de democracia é um conceito estanque e assumiu diversas manifestações ao
longo do tempo, desde a democracia direta à democracia representativa, passando
por uma democracia participativa e tendo desbocado numa democracia
supranacional.
‣ Democracia supranacional: É uma democracia que pressupõe uma complexa rede de
autores envolvidos no processo de formação de uma vontade europeia, e que se baseia num
sistema decisório policêntrico, que é também uma forma de exercício interdependente, que
se caracteriza pela ausência de hierarquia.
O conceito de democracia foi moldado para um conceito supranacional de modo a
dar resposta às influências externas e às crescentes formas de comunicação e
circulação globalitárias, porque se depreende que o modelo democrático nacional
não supera determinadas necessidades que surgem no contexto supranacional,
portanto, o conceito de democracia tenta adaptar-se no tempo às necessidades do
homem.
Neste contexto a UE funciona como um complexo emaranhado de redes de
governação multinível onde se demanda uma coordenação institucional e
intergovernamental.
A ideia prosseguida na UE passa por uma governação ausente de liderança, que
combina procedimentos formais e informais de mediação de representantes
públicos e representantes privados. Para o efeito, os cidadãos europeus controlam
os respetivos governos nacionais através da participação democrática ao nível
nacional, uma vez que estes governos participam no processo decisório europeu.
Os governos nacionais podem fiscalizar a atuação das instituições Europeias, quer
perante os tribunais, quer quando estas atuam como Administração Pública através
do provedor de justiça europeu, quer politicamente pelo exercício do direito de voto
na eleição dos representantes ao Parlamento Europeu.

Princípio do respeito aos direitos fundamentais

O Tratado de Lisboa atribuí força juridicamente vinculativa à Carta dos Direitos Fundamentais da
União Europeia. Desde então, os particulares podem invocar as disposições da Carta junto dos
tribunais nacionais para fazerem valer os seus direitos fundamentais protegidos pela ordem
jurídica europeia. Daqui decorre que a força juridicamente vinculativa da Carta reequaciona a
ausência do efeito direito horizontal de normas constantes de diretivas que concretizam direitos
fundamentais.
O princípio do efeito direto prende-se com a suscetibilidade de invocação de uma disposição
europeia por parte daquele a quem confere direitos ou obrigações, ou seja, serve para que o
particular possa invocar uma disposição europeia junto das autoridades nacionais para questionar
o incumprimento do DUE por parte das autoridades nacionais. No entanto, há critérios a
preencher para que a disposição europeia goze de efeito direto:
‣ Deve ser suficientemente clara ou precisa
‣ E apta para produzir os seus efeitos de forma incondicionada (ou seja, não sujeita a termo,
prazo ou medida complementar)

Efeito direto vertical Efeito direito horizontal


Relações entre os particulares Relações entre particulares
e o Estado

O efeito direito distingue-se da aplicabilidade direta, a qual seria a suscetibilidade de aplicação da


norma europeia, sem necessidade de transposição por parte de um Estado Membro.
Com o efeito direto, o Tribunal de Justiça visa reforçar a tutela jurisdicional efetiva dos
particulares relativamente aos direitos consagrados pela ordem jurídica europeia. Atualmente,
também as obrigações de facere podiam gozar de efeito direto se os Estados Membros não
dispusessem de qualquer margem de apreciação quando a cumprisse.
Para que o efeito direto possa ser aplicado, este tem de cumprir 3 critérios:
 Clareza
 Inconstitucionalidade
 Desnecessidade de medidas de concretização para a sua execução
Quando Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia entra em vigor, em dezembro de
2009, adquire força jurídica vinculativa. Muitos Direitos Fundamentais consagrados na carta
gozam de efeito direto horizontal e são concretizados através de diretivas.
A jurisprudência do Tribunal de Justiça segundo a qual as disposições constantes de uma diretiva
não gozam de efeito direto horizontal foi questionado ao longo do tempo. Para cumprir o artigo
288º, o Tribunal de Justiça entende que não se pode invocar a disposição de uma diretiva contra
outro particular. A carta traz assim um problema adicional porque muitas das suas disposições
gozam de efeito direto horizontal.
Se o Tribunal de Justiça não admitisse exceções à ausência de efeito direto horizontal das diretivas
estaria a romper com a lógica na qual se baseia o Acórdão Mangold de 2005.

Princípio da lealdade europeia e seus corolários

Da união entre Estados deriva logicamente a necessidade de cooperação entre os mesmos, com o
intuito de atingir os seus objetivos comuns. Assim, os atores políticos envolvidos no processo de
integração europeia estabelecem entre si um compromisso de cooperação resulta decomposto nos
Tratados que funcionam como a Constituição da UE. Ora, é deste compromisso que decorre o
princípio da lealdade europeia ou cooperação legal, atualmente previsto no art. 4.º do TUE,
segundo o qual os EM devem respeitar-se e assistirem-se mutuamente no cumprimento das
missões do interesse público primário, que se encontram estabelecidos nos Tratados. Daqui
decorre que este vínculo de lealdade se estabelece:
i. entre os Estados-Membros;
ii. dos Estados-Membros com a UE;
iii. da UE para com os Estados-Membros
Assim, os EM são obrigados a adotar as medidas necessárias ao cumprimento dos objetivos dos
tratados, mas também têm uma imposição de não adotar medidas que ponham em causa tais
objetivos. Por sua vez, a União Europeia tem de respeitar a igualdade dos Estados Membros, as
suas identidades constitucionais e as suas funções essenciais.
É a partir deste princípio que o TJUE decompôs uma série de outros princípios que densificam a
lealdade e se revelam indispensáveis à própria sobrevivência do sistema federativo europeu:
↳ Princípio do primado do direito da União Europeia sobre o direito nacional: Implica
a não aplicação do direito nacional incompatível com o Direito da União Europeia e a
obrigação de os Estados Membros fazerem respeitar o Direito da União Europeia
↳ Princípio do efeito direto das normas europeias: Autoriza os particulares a
invocarem as normas europeias que imponham deveres ou reconheçam direitos de
forma suficientemente clara e incondicionada, inclusive contra normas nacionais
violadoras do Direito da União Europeia
↳ Princípio da efetividade do Direito da União Europeia: Postula que as autoridades
nacionais devem garantir o efeito útil das disposições europeias
↳ Princípio da equivalência: Postula que as autoridades nacionais devem assegurar que
as pretensões decorrentes do Direito da União resultam tão protegidas quanto as
pretensões decorrentes do direito nacional
↳ Princípio da interpretação conforme: Postula que o intérprete e aplicador do direito
nacional deve atribuir às disposições nacionais um sentido conforme ou compatível com
o Direito da União
↳ Princípio da responsabilidade do Estado por violação das obrigações europeias:
Impõe a indemnização dos particulares afetados e inclui todos os seus órgãos e
instituições
↳ Princípio da tutela jurisdicional efetiva: Postula que a efetividade do Direito da União
Europeia depende da garantia judicial das suas normas; integra o direito de acesso à
justiça, a um processo equitativo e a um recurso efetivo; e implica a aplicação de
providências cautelares pelo juiz nacional tendentes a evitar danos irreparáveis nos
direitos dos particulares decorrentes do Direito da União Europeia, mesmo que tais
providências não estejam previstas ou sejam proibidas pelo direito nacional
O princípio da lealdade serve para reintroduzir o equilíbrio quando uma das componentes
sistémicas ameaça romper o delicado sistema constitucional de contrapesos. Portanto, do
princípio da lealdade europeia decorrem obrigações concretas para as autoridades nacionais,
nomeadamente a obrigação de fortalecer e dar efetividade do Direito da União Europeia.
Nota: O princípio do primado não consta dos tratados nem é imperioso que conste – porque o
princípio da lealdade já basta para que a justiça europeia dele derive a exigência do primado do
Direito da União. Resumindo, quando se aplica o princípio do primado está-se a aplicar o princípio
da lealdade.
Vários exemplos jurisprudenciais conferem o desenvolvimento federativo da justiça europeia,
ancorado no principio da lealdade. Teve de ser assim porque os EM ainda jogavam nos dois
campeonatos (nacional e europeu). No fundo, o TJUE tem ajudado a salvaguardar a igualdade
jurídica dos cidadãos europeus em todo o território da federação a partir da lealdade europeia.

Novos desdobramentos da lealdade


‣ A ausência de efeito direto horizontal das diretivas, ou seja, a impossibilidade de invocação
de disposições constantes de diretivas não transpostas nos litígios entre particulares deu
mote ao desenvolvimento jurisprudencial do princípio da interpretação conforme. O
Tribunal de Justiça da União Europeia tem entendido que, se num litígio entre dois
particulares, o juiz não consegue proceder à interpretação conforme do direito nacional
aplicável, então o particular lesado pela não transposição da diretiva pode exigir
responsabilidades ao Estado Membro.
‣ Decorre, ainda, da jurisprudência do TJUE que uma diretiva não pode, por si própria, impor
obrigações a um particular, pelo que não lhe é oponível enquanto tal.
‣ Se o Estado Membro transpõe deficitariamente uma diretiva, as autoridades nacionais
responsáveis pela interpretação e aplicação do direito interno teriam de o fazer em
conformidade com a letra e o espírito da diretiva deficitariamente transposta.
‣ Se a diretiva não foi transposta, ou foi incorretamente transposta, e uma das suas
disposições reunir as condições do efeito direto (clareza e incondicionalidade), o particular
pode invocá-la judicialmente contra o Estado-Membro incumpridor.

Princípio do primado do direito da União

‣ Donde surge a necessidade do primado? Ela surge dos conflitos de competência. Por
exemplo, se os EM estiverem encarregados de competências sobre o ordenamento do
território, o urbanismo e a habitação, e a UE estivesse encarregue da defesa, é fácil de ver
como é que possa brotar um conflito de competências entre ambas as esferas de poder
(porque ambas incidem sobre o território). É verdade que em grande parte dos casos de
conflitos competenciais nos sistemas federativos resultam da ilegítima invasão das
competências de outrem, ou seja, são casos de conflitos de delimitação que se resolvem
através da consignação do objeto discutido a apenas um dos pretendestes. Mas também
haverá conflitos de sobreposição, e é aqui que o primado produz os seus efeitos.
‣ Como explica Garcia de Enterría, a prevalência da ordem geral sobre a de todos os
subsistemas que integram qualquer sistema federal não se trata de uma questão dogmática
ou ideológica, mas de uma “necessidade funcional da qual depende a própria sobrevivência
do sistema”. No caso da UE, a hipótese de cada EM fazer prevalecer a sua ordem jurídica
interna à ordem jurídica europeia aceite por todos, minaria os fundamentos jurídicos da
União e comprometeria a fundamental igualdade dos seus cidadãos.
‣ Ora, não há razões para desconfiar do primado do Direito da UE porque a própria União,
por força da lealdade, respeita a identidade nacional dos seus EM e não pode violar a sua
identidade constitucional. Ou seja, a primazia não qualifica todo e qualquer ato jurídico
europeu, mas apenas aqueles emitidos em conformidade com os tratados constitutivos –
qualquer ato europeu que invada as competências dos EM é inválido (e o TJUE trata de o
declarar).
‣ O primado também não converte a UE em superior hierárquico dos EM porque a lógica da
pluralidade de ordenamentos o impede – só há hierarquia entre normas procedentes do
mesmo sujeito. O primado apenas resolve o problema da convivência entre normas
provenientes de distintas fontes (designadamente europeia e nacional), não comprometendo a
supremacia da Constituição dos EM sobre as restantes normas nacionais. Assim, o primado não
se fundamenta na hierarquia, mas na aplicação preferente de umas normas sobre outras de
distinta fonte, sendo todas (em princípio) válidas.
‣ Como já foi dito, do princípio da lealdade europeia decorrem obrigações concretas para as
autoridades nacionais, como a obrigação de fortalecer e dar efetividade ao Direito da União
Europeia. As autoridades nacionais estão proibidas de aplicar uma norma nacional
incompatível com os Tratados, sendo obrigadas a tomar as medidas que facilitem a efetividade
do Direito da União Europeia. Assim, quem assegura a prevalência da norma europeia
sobre a norma nacional é a Administração Pública e o juiz nacional.
‣ O percurso evolutivo da jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia no que
concerne ao primado tem início com o Acórdão Costa/ENEL de 1964, no qual as jurisdição
europeia assentou as bases da prevalência das normas europeias sobre as normas nacionais.

Princípio da interpretação conforme ou compatível com o direito da UE

‣ Este princípio postula que o intérprete e aplicador do direito nacional (o juiz e a


administração) devem atribuir às disposições nacionais um sentido conforme ou
compatível com as disposições europeias.
‣ A obrigação de interpretação conforme decorre da conjugação dos art. 4º/3 do TUE com o
art. 288º/3º do TFUE
‣ A exigência de interpretação conforme não se limita à obrigação de interpretar as normas
nacionais que transpõem as diretivas para a ordem interna, mas ao reconhecimento de que
todo o direito nacional aplicável deve ser interpretado em conformidade com o
Direito da União Europeia.
‣ Cumpre aos tribunais nacionais interpretar e aplicar a legislação adotada para a
implementação da diretiva em conformidade com as exigências da ordem jurídica europeia.
Esta obrigação impõe o juiz nacional a dar prioridade, dentro dos métodos de interpretação
permitidos pela ordem jurídica interna, ao método que lhe permita dar à disposição de
direito nacional em causa uma interpretação compatível com a diretiva. Esta obrigação, no
entanto, não existe só relativamente às disposições nacionais que visam dar cumprimento à
diretiva, mas relativamente a todo o direito nacional.
‣ A interpretação conforme prima sobre as normas de interpretação admitidas no
ordenamento interno – o primado exige que se considerem excluídas todas as regras de
interpretação que possam impedir o resultado desejado pela diretiva.
‣ Se o resultado prescrito pela diretiva não puder ser atingido por via de interpretação do
direito nacional pelo órgão jurisdicional, o Direito da União impõe ao Estado Membro a
reparação dos danos causados aos particulares pela não transposição de uma diretiva
quando:
 O resultado prescrito pela diretiva tenha como objetivo atribuir direitos a
particulares
 O conteúdo desses direitos possa ser identificado com base nas disposições da
diretiva
 Exista um nexo de causalidade entre a violação da obrigação que incumbe ao Estado
Membro e o dano sofrido pelo particular
‣ O TJUE decidiu que na falta de transposição completa de uma diretiva, as autoridades dos
EM não podem invocar tais disposições contra os particulares. Embora os Estados não
sejam obrigados a adotar as medidas de uma diretiva antes de expirar o prazo de
transposição, devem abster-se de adotar disposições suscetíveis de comprometer o
resultado prescrito pela diretiva em causa.
‣ O TJUE exorta os tribunais nacionais a interpretarem o direito nacional num sentido
conforme ao Direito da União Europeia antes de afastarem, através do princípio do
primado, a norma nacional incompatível com a norma europeia.
‣ Se uma diretiva não foi transposta nos prazos previstos e as suas disposições preenchem os
requisitos do efeito direto (atribuem direitos ou impõem deveres de forma suficientemente
clara e incondicionada), o particular pode invoca-la jurisdicionalmente contra o Estado
Membro incumpridor.
‣ Se uma diretiva não foi transposta nos prazos previstos e as suas disposições não
preenchem os requisitos do efeito direto, resta a hipótese de interpretação conforme ao
Direito da União Europeia que obriga o juiz nacional.
‣ Assim, todas as disposições nacionais que, de alguma forma, se relacionem com disposições
europeias devem ser interpretadas à luz das últimas (interpretação conforme). Mas se tal
interpretação não for suficiente para salvaguardar um direito que a ordem jurídica
europeia confere ao particular e que tenha sido invocado em juízo (efeito direto), o juiz
nacional deve aplicar o Direito da União Europeia e afastar o direito nacional que lhe é
incompatível (primado).

Princípio da responsabilidade do Estado por violação do DUE

‣ As condições da responsabilidade do Estado-juiz por violação do DUE têm sido densificadas


pelo TJUE deste 2003, através dos acórdãos Köbler de 2003, Comissão contra Republica
Italiana de 2003 e Traghetti del Mediterraneo de 2006, onde o mesmo se viu confrontado
com algumas questões, agrupáveis nos seguintes termos:
I. Este princípio é aplicável quando a violação em causa resulta da decisão de um
tribunal nacional que julga em última instância? A independência da justiça,
autoridade do caso julgado e imparcialidade do juiz nacional excluem a
responsabilidade do Estado por ação ou omissão de um tribunal supremo?
O TJUE esclarece, no Acórdão Köbler, que para fins de responsabilidade, o EM deve
ser considerado na sua unidade – ou seja, o princípio da responsabilidade do EM
estende-se ao exercício da função jurisdicional (mesmo em tribunais que decidam
em última instância). A resposta é sim.
Quanto à independência do juiz, o TJUE esclareceu que não estaria em causa a
responsabilidade pessoal do juiz, mas a do Estado. E quanto à autoridade do caso
julgado, o TJUE diz que um processo destinado a responsabilizar o Estado não te o
mesmo objeto e não envolve as mesmas partes que o processo que deu origem à
decisão que adquiriu a autoridade de caso julgado. Ou seja, o princípio da
responsabilidade “exige o ressarcimento mas não a revisão da decisão judicial que
causou o dano”. O TJUE defende que a existência de uma via de direito que permita a
reparação de efeitos danosos de uma decisão judicial errado é um sinónimo de
qualidade de uma ordem jurídica. A resposta é não, nenhum destes argumentos
exclui a responsabilidade do EM por ação ou omissão de um tribunal supremo.
II. O EM em questão e obrigado a indemnizar os particulares pelos prejuízos que daí
resultem?
No Acórdão Francovich, o TJUE valeu-se do princípio da lealdade europeia previsto
no art. 4.º do TUE para fundamentar a obrigação de reparação de danos causados
aos particulares pelos EM que violem o DUE, nomeadamente o dever de indemnizar
o particular lesado pela não transposição de uma diretiva. A resposta é sim.
III. A quem cabe designar o órgão jurisdicional competente para resolver os litígios
relativos a tal reparação?
Cumpre à ordem jurídica de cada EM designar os órgãos jurisdicionais competentes
para tal. Cabe aos EM prever um sistema de vias de recurso e procedimentos que
permitam assegurar o respeito do DUE e, a este propósito, as modalidades
processuais destinadas a salvaguardar os direitos conferidos aos litigantes pelo DUE
não devem ser menos favoráveis do que as que respeitam a ações similares de
natureza interna (p. da equivalência) e não devem tornar impossível ou muito difícil,
na prática, o exercício de direitos conferidos pelo DUE (p. da efetividade)
IV. Em que condições existe essa responsabilidade?
O EM é obrigado a ressarcir os prejuízos causados ao particular em decorrência do
incumprimento do DUE desde que:
1) a norma jurídica violada confira direitos aos particulares (esta exigência
não implica que a norma seja provida de efeito direito ou aplicabilidade direta);
2) a violação seja suficientemente caracterizada;
3) e exista um nexo de causalidade entre a violação da obrigação que
incumbe ao Estado e o dano sofrido pelo particular.
Mas estas condições são mínimas, podendo o EM ser responsabilizado em condições
menos estritas, com base no direito nacional.
V. Que elementos devem ser tidos em conta pelo Juiz nacional competente para
resolver da reparação – quando tiver de apurar se houve ou não violação manifesta
do Direito da União Europeia por parte de um órgão jurisdicional nacional que
decide em última instância?
Os elementos fornecidos pelo TJUE ao juiz nacional para apurar a natureza da
violação e assim determinar o ressarcimento, são:
a) o grau de clareza e de precisão da norma violada
b) o caráter intencional ou involuntário verificado ou do prejuízo causado
c) o caráter desculpável ou não de um eventual erro de direito
d) o facto de as atitudes atotadas por uma instituição comunitária erem
contribuído para a adoção ou manutenção de medidas ou praticas nacionais
contrárias ao Direito Comunitário
e) bem como o não cumprimento da obrigação de reenvio prejudicial
por força do artigo 234.º/3 do Tratado da Comunidade (especificamente
adicionada para o juiz que tem que apurar sobre a violação de um tribunal que
decida em ultima instância)
VI. Há uma violação suficientemente caracterizada do DUE, passível de acarretar
ressarcimento de danos, quando a decisão de um tribunal supremo (ou que decida
em última instância) desrespeita manifestamente a jurisprudência do TJUE na
matéria?
Uma violação do DUE é suficientemente caracterizada quando a decisão em causa
foi tomada violando manifestamente a jurisprudência do TJUE na matéria.
VII. A hipótese de incumprimento da obrigação de reenvio prejudicial por parte de um
tribunal que decide em última instância configura uma violação manifesta do Direito
da União Europeia — nomeadamente no que respeita ao direito à tutela
jurisdicional efetiva?
O TJUE reconhece a frustração das pretensões inerentes à tutela jurisdicional efetiva
(ou proteção efetiva dos direitos individuais derivados da ordem jurídica
comunitária), algo que compete aos EM assegurar. E, afinal, o reenvio prejudicial
inscreve-se na lógica de recurso aos tribunais.
VIII. Uma prática jurisdicional nacional contrária ao Direito da União Europeia permite a
declaração de que um Estado-Membro não cumpriu as obrigações que lhe
incumbem por força dos tratados, na aceção do art.º 258.º do TFUE?
A independência do poder judicial não obsta que se declare o incumprimento do
DUE por parte dos tribunais porque este funciona como um aparelho do Estado e
está obrigado a contribuir ativamente para a boa execução do DUE. Mas, para que tal
declaração de incumprimento se manifeste nos termos da ação prevista no art. 258.º
do TFUE é preciso que o EM demonstre uma postura de clara e frontal resistência à
jurisprudência do TJUE. Nestes casos, declara-se o incumprimento do Estado-juiz,
pois decorre da interpretação dos tratados constitutivos: art. 19.º/1 do TUE + o
TJUE tem a ultima palavra na matéria de DUE.
IX. A violação manifesta do Direito da União Europeia aplicável, passível de acarretar a
responsabilidade do Estado-Membro por danos causados aos particulares, limita-se
aos casos de dolo ou culpa grave do Juiz, ou integra também as violações resultantes
da interpretação de disposições normativas e da apreciação de factos e provas?
A responsabilidade do EM não se limita aos casos de dolo ou culpa grave do juiz,
porque tal exclui a responsabilidade em outros casos em que se verifique a violação
manifesta do direito aplicável – quando esteja em causa, p. ex., o caráter
indesculpável do erro de direito ou o não cumprimento da obrigação de reenvio.

Princípio da tutela jurisdicional efetiva

‣ Postula que a efetividade do Direito da União Europeia depende da garantia judicial das
suas normas; integra o direito de acesso à justiça, a um processo equitativo e a um
recurso efetivo; e implica a aplicação de providências cautelares pelo juiz nacional
tendentes a evitar danos irreparáveis nos direitos dos particulares decorrentes do Direito
da União Europeia, mesmo que tais providências não estejam previstas ou sejam proibidas
pelo direito nacional.
a. Do novo Tribunal de Justiça da UE
‣ O Tratado de Lisboa introduz várias alterações na estrutura jurídica da UE, particularmente
acerca da organização e competências do TJUE, que agora é composto por 3 jurisdições:
 O Tribunal de Justiça
 O Tribunal Geral
 O Tribunal da Função Pública da UE
‣ As câmaras jurisdicionais são substituídas por tribunais especializados, encarregados de
conhecer em 1ª instância de certos recursos em matérias específicas (art. 257.º TFUE). As
suas decisões cabe recurso para o TG limitado às questões de direito e deste para o TJ em
casos excecionais.
‣ As decisões do TG podem ser objeto de recurso para o TJ limitado às questões de direito
(art. 256.º/1,2 TFUE)
‣ Outra alteração introduzida pelo TdL é que desaparecem as restrições à competência
prejudicial do TJUE no domínio do espaço de liberdade, segurança e justiça.
‣ Ademais, a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (CDFUE) adquire força
juridicamente vinculativa, significando que esta já pode ser invocada por particulares junto
dos tribunais nacionais contra o EM que esteja a aplicar o DUE (art. 51.º/1 da CDFUE). Ora,
isto vai gerar um diálogo frequente entre os tribunais nacionais e o TJUE através de reenvio
prejudicial.
b. Do reenvio prejudicial ao serviço da tutela jurisdicional efetiva
O reenvio prejudicial é um mecanismo ao serviço da tutela efetiva – ou seja, a doutrina tem
ressaltado a dimensão subjetiva do reenvio que releva para a defesa dos direitos dos particulares.
O reenvio prejudicial previsto no art. 267.º do TFUE permite que a uniformidade da interpretação
das disposições e da validade dos atos jurídicos de DUE sejam garantida pelo TJUE, sempre que
surja alguma dúvida sobre tal num processo a decorrer perante tribunais nacionais.
O juiz pode necessitar de definir o sentido de uma disposição europeia por várias razões:
 porque tem de aplicar um ato jurídico que goza de aplicabilidade direta ou de efeito direito
 ou porque tem de assegurar o primado do DUE sobre o direito nacional numa situação
concreta
 tem de interpretar o direito nacional à luz do DUE
Para o fazer, o juiz pode submeter questões prejudiciais de interpretação ou de validade ao TJUE.
Mas há situações em que o tribunal nacional está obrigado a reenviar, nomeadamente se decidir
em ultima instância (art. 267.º, 3.º do TFUE), exceto quando:
 já existe jurisprudência do TJUE na matéria
 quando o sentido da disposição é tao claro e simples que não deixa lugar para qualquer
dúvida razoável
Tem sido assim desde o Acórdão Cilfit, jurisprudência entretanto confirmada no Acórdão
Intermodal, onde o TJUE lembrou que o conceito da dúvida interpretativa razoável deve ser
apreciado pelo tribunal nacional em função 1) das características próprias do DUE 2) das
dificuldades da sua interpretação e 3) do risco de se criarem divergências jurisprudenciais na UE.
No nº 13 da Nota Informativa do TJUE diz que, mesmo que o tribunal nacional não esteja obrigado
a reenviar, um reenvio prejudicial pode revelar-se particularmente útil quanto
 se trata de uma questão de interpretação nova que apresente um interesse geral para a
aplicação uniforme do DUE em todos os EM ou
 quando a jurisprudência existente não se afigure aplicável a um quadro factual inédito
Em suma, é através do reenvio prejudicial que o TJUE procura dar resposta útil para a resolução
de um litígio em que surjam questões de DUE, e cabe ao tribunal nacional retirar as devidas
conclusões dessa resposta, nomeadamente afastar o direito interno incompatível com a disposição
europeia. Nada obsta, portanto, que o juiz nacional reenvie prejudicialmente a fim de obter um
juízo de conformidade das disposições nacionais com o DUE – e assim assegurar a unidade do
ordenamento jurídico europeu e a tutela jurisdicional efetiva do particular. O TJUE limita-se a
esclarecer o sentido da norma europeia, mas oferece ao juiz nacional todos os elementos
necessários à conclusão sobre a compatibilidade da norma nacional com o DUE.
c. Da competência prejudicial do TJUE à luz do Tratado de Lisboa

Você também pode gostar