ESPIRITISMO
RESPONDE
Wagner Gomes da Paixão
e
Marcio Cabral Monteiro
OS DESAFIOS COMUNS EM
NOSSA JORNADA
RAETV – Rede Amigo Espírita
Copyright © 2024 RAETV - Rede Amigo Espírita TV
Todos os direitos da primeira edição são reservados á
RAETV – Rede amigo Espírita TV
Esta obra foi realizada a partir das perguntas enviadas pelo
público ao apresentador do programa Espiritismo Responde, da
RAETV – Rede amigo Espírita, Marcio Cabral Monteiro e
respondidas por Wagner Gomes da Paixão.
Transcrição de áudios dos programas, organização de conteúdo,
revisão e diagramação: Carlos Weiner e Cinthia Sena.
Projeto gráfico/capa e fotografia: Carlos Weiner
RAETV – Rede Amigo Espírita
1
Gratidão ao Márcio Cabral Monteiro, pela idealização do
programa Espiritismo Responde e por ter convidado o
Wagner Gomes da Paixão. Nossos agradecimentos
também ao José Aparecido por disponibilizar a RAETV
que transmitiu por quase 5 anos este momento espírita-
cristão!
2
Agradecimentos
Aos participantes do programa Espiritismo Responde,
nosso mais profundo agradecimento. Cada um de vocês,
com sua generosidade, foi essencial para que este projeto
ganhasse vida. A troca de ideias e experiências enriqueceu
e deu forma a este trabalho. Este livro é um reflexo da
contribuição única de cada um!
3
Sumário
Prefácio ……………………………………………………10
O Pensamento ………………………………………….....13
A Natureza Espiritual e as Patologias………………...... 18
Segundo a doutrina Espírita, somos compostos por corpo, mente
e espírito. O desequilíbrio em qualquer uma dessas partes pode
se manifestar como uma doença física?................................19
Meu pai foi diagnosticado com uma demência severa de rápida
evolução. Qual é o entendimento do espiritismo em relação à
evolução do espírito em processos de adoecimento desse tipo?
………………………………………………………………20
Em que consiste a Síndrome do Pânico? Trata-se de uma espécie
de animismo em que pessoa recorda de encarnações
passadas?................................................................................23
Minha mãe tem Alzheimer há 12 anos e meu pai tem demência
senil, ambos com mais de 80 anos. Do ponto de vista espiritual,
o que se pode dizer sobre as características de personalidade de
uma pessoa que tende a desenvolver esse tipo de doença?....28
Hoje vemos um número crescente de transtornos mentais.
Gostaria que falasse um pouco sobre o transtorno bipolar, na
perspectiva da Doutrina Espírita………………………….....33
Tive várias vezes o que é conhecido como paralisia do sono,
nesse quadro ouço tudo, mas não consigo mexer um músculo.
4
Trata-se de um processo de desdobramento/experiência fora do
corpo? ……………………………………………………….36
Qual a visão espírita sobre aqueles que reencarnam com fobia
social? ………………………………………………………38
Um alcoólatra que frequentemente entra e sai do ciclo de
abstinência relata ver demônios sempre que deixa de beber.
Essas visões podem ser causadas pela abstinência ou são
resultado de obsessores espirituais? ………………………..41
Qual a origem do comportamento narcisista, especialmente,
aqueles que são ocultos? ……………………………………43
A depressão pós-parto é um distúrbio físico ou espiritual?....49
Mesmo sabendo que não faz sentido, convivo com o complexo
de culpa. O que fazer frente a isso? …………………………50
Repetição de palavras como "me desculpe", "gratidão" e até
mesmo mantras é uma prática suficiente para superar traumas e
erros do passado?.....................................................................54
Como a depressão é vista pelo espiritismo? …………………58
O Estado da Alma e do Psiquismo…………………………65
Comecei a frequentar centros espíritas com minha esposa, mas
ela tem notado que, desde então, nossa vida, que já não era
tranquila, passou a enfrentar mais desafios. Essa percepção está
incorreta ou estamos realmente enfrentando ataques
espirituais?...............................................................................66
5
O período da pandemia trouxe à tona muitas emoções e
instabilidades. O novo mundo que se vislumbra parece mais
fluido e incerto. Como podemos lidar com essa realidade?......71
Tenho depressão e frequentemente me vêm à mente
pensamentos de que morrer seria uma bênção, além de
recorrentes pensamentos pessimistas que surgem de repente.
Recentemente, recebi um diagnóstico de câncer de mama. Não
tenho medo de morrer, mas sim de viver no mundo atual.
Embora eu me esforce para manter uma atitude positiva durante
os tratamentos, às vezes, esses pensamentos melancólicos
tentam dominar minha mente. Peço recomendações sobre como
lidar com esse quadro………………………………………..75
Quando era adolescente consumia muita pornografia e praticava
a masturbação, em um dia de excesso de ambos comecei a
passar muito mal. Gostaria de entender esse mal-estar à luz da
doutrina espírita……………………………………………...77
Se a reencarnação envolve um planejamento, podemos
considerar que a cirurgia de redesignação de sexo seria
renunciar a compromissos assumidos no plano espiritual?......83
Gostaria de entender por que na terapia de vidas passadas a
pessoa, em geral, tem memórias seletivas de outras encarnações,
jamais remetendo a passagens pelo umbral, por exemplo?......87
Sou uma pessoa focada nas questões espirituais e, ultimamente,
tenho me sentido desanimada, desmotivada e desinteressada em
relação às questões materiais de modo geral, bem como da
conflituosidade do mundo em que vivemos. Há algo errado
comigo?...................................................................................89
6
Sou uma pessoa melancólica e tudo me fere com facilidade. Já
pensei em suicídio, hoje faço terapia e tenho buscado me
aprofundar na doutrina espírita. Esses seriam sinais de que eu
estaria fracassando em minha jornada reencarnatória?............94
Em favor das outras pessoas renuncio a tudo, até mesmo ao meu
bem-estar. Estou sempre me sabotando. Como explicar esse
comportamento?......................................................................98
Pensamentos negativos e pessimismo são fruto de traumas do
passado ou problema mental que pode ser tratado via apoio
psicológico?...........................................................................101
Sinto desânimo de continuar lutando pela vida, mesmo sabendo
que há pessoas que dependem de mim. Tenho dúvidas se isso
seria uma forma suicídio indireto e quais as suas
consequências?.....................................................................109
Desafios e Superações no Ambiente Familiar…………..116
O que se pode falar, à luz do espiritismo, sobre os conflitos
familiares de modo geral (entre pais, pais e filhos, entre irmãos),
e até mesmo sobre filhos tramando e por vezes executando a
morte de pais?.......................................................................117
Como explicar o comportamento de uma criança que aparenta
ser dócil e amável, ao mesmo tempo em que dá sinais práticos
de uma índole hostil e destrutiva?.........................................125
Aos 9 anos de idade, a separação dos meus pais me levou, junto
com meus irmãos, a vivenciar muito sofrimento na relação com
eles. Sofri assédio por parte do meu pai, abandono por parte da
minha mãe e, ao longo da vida, enfrentei convivências
7
conflituosas e dolorosas. O que poderia ser dito para acolher um
coração como o meu?.............................................................128
Como a doutrina espírita nos ajuda a compreender estupro e
outras formas de abuso sofrido por crianças, realizado,
frequentemente, por pais e outros parentes?...........................132
Como conviver com pessoas que, embora façam parte do núcleo
familiar, são motivos constantes de profunda tristeza,
perseguição e decepção? Como encontrar ou trazer paz ao lar,
no convívio com esses espíritos encarnados?........................136
Minha mãe adotiva, que sofre de depressão, fala coisas ruins o
dia todo (morrer, tomar veneno, lamenta a vida e a perda de um
irmão). Guarda muito rancor, mágoas, principalmente, do pai
dela já falecido. Como é possível compreender essa
situação?................................................................................139
Reencontrei um grande amor e assumimos nossa relação. Nesse
processo, ele saiu de uma relação de submissão a mãe, assim
como sua filha que tinha uma relação abusiva com um namorado.
Embora tenhamos construído uma relação saudável, tempos
depois ele retornou e optou por voltar a viver com sua mãe. O
que se pode dizer sobre essa situação?..................................141
Considerando que, dentre os desafios reencarnatórios, há
compromissos relacionados aos núcleos familiares, como
podemos explicar o comportamento de pessoas que agem de
maneira obsessiva, que se expressam pelo isolamento e
agressividade?.......................................................................145
Considerando que, mesmo após a pandemia da COVID-19,
ainda observamos desequilíbrios morais em muitas pessoas,
uma nova pandemia ou outro evento significativo poderia levar
8
ao despertar das consciências que ainda permanecem
adormecidas?.........................................................................148
Deus usa o tempo, não a violência………………………..159
Deixe Brilhar a Vossa Luz……………………………….. 161
Links para acesso gratuito às obras citadas neste livro.
9
PREFÁCIO
A jornada que culminou na criação deste livro
começou há alguns meses, impulsionada pelo desejo de dar
mais visibilidade ao conhecimento proporcionado pela
doutrina espírita, com ênfase nas relações entre
comportamento, adoecimento e a trajetória de vida de cada
um de nós como espíritos imortais.
O ponto de partida e a fonte dos conteúdos aqui
sistematizados são originários de um programa de
entrevistas, cuja veiculação teve início em 13 de junho de
2020, no canal do YouTube Rede Amigo Espírita (RAE).
Nele, Márcio Cabral Monteiro conduz a interlocução do
público com o médium e pesquisador espírita Wagner
Gomes da Paixão. Após mais de quatro anos de exibição
contínua, o programa possui um vasto acervo de temas
abordados e esclarecimentos enriquecedores.
Ao longo das páginas seguintes, vocês serão
convidados a explorar as questões que abordam as
10
experiências vividas e as suas relações com o campo
espiritual, principalmente, no que se refere às formas de
adoecimento mental, aos desafios enfrentados nas relações
familiares conflituosas, entre outras questões selecionadas
que tratam dos aspectos morais de nossa existência.
As perguntas selecionadas foram inspiradas
naquelas enviadas pelos espectadores do programa. Nesse
sentido, embora tenham sido originadas em vivências
particulares, seus conteúdos trazem esclarecimentos para
um coletivo muito maior. Acreditamos que essa pequena
seleção possui potencial transformador para nossa
compreensão acerca da época em que vivemos e da
extrema importância dos aspectos psicológicos que nela
podem ser evidenciados.
Gostaríamos de expressar nossa profunda gratidão
àqueles que tornaram o projeto Espiritismo Responde
possível, a José Aparecido, criador da Rede Amigo
Espírita, a Márcio Cabral e a Wagner Gomes da Paixão,
que dedicam seu tempo a esta relevante tarefa de espalhar
conhecimento e conforto. E ainda, aos participantes do
11
programa que enviam dúvidas e considerações, permitindo
que o espaço de diálogo e reflexão esclareça muitos
corações.
Esperamos que este trabalho não apenas informe,
mas também contribua para que cada um que por ele se
interessar possa ampliar sua compreensão sobre a vida e os
desafios de nossa jornada como espíritos imortais.
Com gratidão e entusiasmo,
Carlos Weiner Mariano de Souza
Cinthia Maria de Sena Abrahão
12
O PENSAMENTO
O pensamento é o produto da mente, nossa cripta
mental, existente apenas nos seres humanos. A mente é
uma das manifestações do espírito, representando-o na
jornada evolutiva por meio das reencarnações, organizada
em valores intelectuais e morais.
Nos animais, a mente não existe, resultando em
pensamentos descontínuos e na incapacidade de
construção e desenvolvimento inteligente do pensamento.
Este, constituído por ondas eletromagnéticas, é vital
porque retrata o que adquirimos e essencialmente somos.
Existimos porque temos consciência de nós
mesmos e das coisas ao nosso redor. Insistir em uma ordem
de pensamento nos aprofunda mais nela. Os pensamentos
podem ser libertadores ou escravizadores, relacionados ao
aprendizado moral. Segundo o espírito André Luiz1, temos
200 mil anos de atividade mental que refletem a formação
das regras de conduta, moral e conceitos de cada pessoa.
13
Assim, o que pensamos nos expressa e atrai aquilo que
representa.
A mente também estrutura o períspirito, o veículo
sensível que dá forma ao espírito, utilizando o fluido
cósmico característico da Terra. Essa estrutura do
períspirito tem sua origem na mente.
Quando falamos da mente, nos referimos ao corpo
mental. Se o espírito precisar e tiver mérito e competência
para ir a outro planeta habitado, deixará o períspirito na
Terra e irá em corpo mental. Experiências conhecidas por
relatos de médiuns, como Waldo Vieira e Chico Xavier,
são explicadas por André Luiz, com lógica.
A mente é, portanto, uma expressão sintética e
dinâmica que nos permite conhecer e sondar. Paulo de
Tarso ressaltou a necessidade de renovar a mente
conforme o evangelho 2 . Martins Peralva 3 , da União
Espírita Mineira, propôs que a renovação do ser se dá pela
renovação da mente, reestruturando crenças e valores para
estabelecer princípios éticos e morais.
14
A mente opera nossa capacidade de sentir, ver,
ouvir, interagir e intercambiar, catalogando o movimento
de vida e experiência que formará um painel de
conhecimento adquirido. A consciência, vinculada ao
conhecimento, só é possível porque temos uma mente.
As aquisições mentais permitem que entendamos a
vida, o que chamamos de consciência, mas ela é relativa,
pois depende do patamar de construção e aquisições do
indivíduo.
Emmanuel descreve a mente como o espelho da
vida em toda parte4. Pode ser um espelho cristalino, de um
espírito puro, ou um espelho obnubilado, refletindo uma
consciência restrita. Algumas pessoas encarnam com
limitações mentais, indicando o grau de primitividade do
espírito. A maturidade espiritual está vinculada ao
conjunto de experiências acumuladas que despertam o
indivíduo para os valores morais.
Quanto mais claramente enxergamos, psicológica,
espiritual e moralmente, mais inteligência possuímos. A
consciência, em que razão e emoção se unem, abre um
15
universo de possibilidades. A mente é, portanto, a
identidade do ser. Dessa cripta mental saem os
pensamentos, que representam nossa capacidade de
enxergar, sentir, refletir e formar nosso arcabouço
consciente, despertando-nos para outros valores do infinito.
16
1
ANDRÉ LUIZ. Evolução em Dois Mundos. Psicografado
por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. 1. ed. Rio de Ja
neiro: FEB,1958.
Segundo o Espírito André Luiz, o processo de evolução
espiritual envolve milhões de anos de atividade mental.
Descreve como o princípio espiritual, ao longo de muitas
encarnações, desenvolve diversas faculdades e habilidades por
meio de uma constante repetição e aprendizado.
2
BÍBLIA. Novo Testamento. Romanos 12:2.
Paulo de Tarso escreve: “Não vos conformeis com este mundo,
mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus”.
3
PERALVA, José Martins. O pensamento de
Emmanuel. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira
, 2006.
4
EMANUEL. Pensamento e Vida. Psicografado por Chico Xav
ier. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1958.
17
A NATUREZA ESPIRITUAL E AS
PATOLOGIAS
18
Segundo a doutrina Espírita, somos compostos por
corpo, mente e espírito. O desequilíbrio em qualquer
uma dessas partes pode se manifestar como uma
doença física?
Trata-se de manifestação de distúrbios psíquicos,
que podem ser desta mesma vida ou de outras. Há
desarmonias mentais ou emocionais que são promotoras de
sintomas físicos, como as dores errantes cujos exames
clínicos nada detectam.
Contudo, existem processos que são mais
profundos e que vêm de outra existência. Há situações em
que o períspirito pode ter sido lesado. Ainda que tenha
ocorrido uma recuperação relativa, é compreensível que
tenha restado algum registro do fato.
Um exemplo disso é um caso em que um paciente
com psoríase foi tratado e curado com medicação
homeopática. O homeopata acertou no medicamento, e o
tratamento ocorreu em várias etapas. Durante esse período,
o paciente começou a sonhar com chagas, até que se viu
'leproso' (adoecido pela hanseníase), um resquício de outra
19
época. A homeopatia acelerou o processo de erradicação
de uma doença que era, na verdade, em reflexo de algo
vivido em uma existência anterior.
Atualmente, estamos vendo muitas doenças de
bases psíquicas, oriundas de desajustes de fundo
emocional.
Meu pai foi diagnosticado com uma demência severa
de rápida evolução. Qual é o entendimento do
espiritismo em relação à evolução do espírito em
processos de adoecimento desse tipo?
Há sempre dois aspectos a se observar nesses casos,
especialmente, de enfermidade mental ou de desgaste
mental. Particularmente, chamamos a atenção para esses
quadros quando estamos vivendo. Existem os desgastes
físicos, mas todos os tipos de adoecimento mental
obedecem a padrões espirituais, porque, por vezes, a
própria mente do indivíduo se encarrega de desgastar seu
cérebro.
20
Podemos exemplificar essa interação espírito-
corpo da seguinte forma: quando cultivamos muita
ansiedade, desespero, ira, nos destemperamos por falta de
confiança. Ou seja, temos uma sucessão de instabilidades
mentais e a tendência do cérebro é o pane, de modo que
chega a um momento em que ele se desgoverna. Afinal, o
corpo é mata-borrão do espírito.
Estamos lidando com muitas sombras, todos nós
lutamos com muitas sombras, com induções do passado,
com o meio de uma Terra em que o mal predomina, o que
nos leva a sentir ameaças e induções. Se não buscamos
amparo espiritual em boas fontes, torna-se difícil
sobreviver em relativo equilíbrio.
Existem enfermidades atualmente, classificadas
cientificamente, cujas causas efetivas, por vezes, são
difíceis de delimitar de modo efetivo.
À luz da doutrina espírita, podemos perceber que
isso é o próprio carma da pessoa. Em essência é um carma,
ainda que se tenha avançado em vários aspectos da vida, é
possível que chegue um momento em que venha um
21
desgaste, uma catarse, o encontro da pessoa consigo
mesma, o encarceramento do espírito.
São processos típicos de mundos de expiação e
provas. Ainda que tenhamos nomenclaturas bonitas, fato é
que se trata de processos espirituais de almas que carreiam
problemas do passado em sua estrutura perispiritual e
vibratória. Os desajustes se expressam nesses distúrbios
mentais, revelando um conjunto de elementos que
desgastaram o corpo, embora ele não seja a causa primária,
mas reflete
Não é o corpo que bloqueia o espírito, ele sofre as
consequências da carga vibratória que o espírito traz. Mas,
o despertamento e a busca por um caminho de superação
no bem é o elemento que pode sublimar essa
potencialidade do desgaste e encarceramento.
Atitudes e comportamentos que se distinguem pela
excelência moral constituem o verdadeiro remédio para
recodificar o que foi impresso nessas células como
tendência e que levará o corpo ao adoecimento e mesmo
ao encarceramento. O cérebro pode ser nutrido de
22
elementos dinâmicos e morais, deixando o comodismo e o
lugar comum, porque a natureza espiritual é sempre
determinante em qualquer tipo de patologia.
Em que consiste a Síndrome do Pânico? Trata-se de
uma espécie de animismo em que pessoa recorda de
encarnações passadas?
Há muito do animismo5 no processo de síndrome
de pânico que, em geral, possui raízes profundas e remonta
a vidas passadas. Vamos citar algumas obras espíritas que
podem nos ajudar a compreender melhor o tema: no livro
Passos da Vida 6 , há uma mensagem do espírito Sheilla,
intitulada Pontos Mortos. Eles são as fragilidades, buracos
psíquicos (emocionais e psicológicos) que estão no
perispírito, ou no campo mental.
Outra obra é No Mundo Maior 7 que aborda a
psiquiatria iluminada, revelando os 3 andares da
estruturação mental (que corresponde aos cérebros básicos
23
ou reptiliano; o mediano ou sistema límbico; e os lobos
frontais ou cérebro superior)8.
Nesse livro, o caso Marcelo, referia-se a uma
pessoa que sofria permanentemente com crises epiléticas e
sistema de pavor. Não se trata de um obsessor, a crise
epilética decorria de uma inteligência muito apurada que
foi usada de modo nefasto. Ele esteve muito tempo em
zonas inferiores e ficou com sequelas. Tal como no caso
das psicopatias que hoje é possível checar as lesões
cerebrais.
No caso Marcelo, a pessoa sentia o vazio de alma
que o levava a uma espécie de pane. Isso atraía obsessores
que o rondavam, embora não fossem eles os causadores do
distúrbio mental. A pane do sistema nervoso (tensão
mental) levava à epilepsia.
O pânico não é muito distinto disso, porque se
refere a um buraco vibratório da alma. Para compreender
as patologias modernas, novas em termos de denominação
considerando que são muito antigas, é preciso
24
compreender que estamos vivendo uma era em que as
questões psicológicas estão muito afloradas. Além disso,
houve muito avanço, tanto em termos científicos como
filosóficos e mesmo religiosos.
Desde a Modernidade, desenvolvemos capacidade
de atribuir novos nomes, o que pode ser marcado desde o
Iluminismo 9 , como marco de libertação do pensamento.
Foi uma etapa essencial para que o espiritismo pudesse
chegar à Terra. Atualmente, há pesquisas e descobertas
que estão avançando significativamente e corroboram com
as revelações da espiritualidade.
Nesse sentido, o pânico tem a ver com a
autodescoberta. É um estado emocional cujos efeitos
podem ser desencadeados por diversos fatores. A exemplo
das situações de ordem material, quando a pessoa se vê
frente a vários compromissos financeiros, por questões de
relacionamento, conflitos familiares ou insegurança geral
de sociedade.
25
Depende da história da pessoa, mas,
espiritualmente, o pânico está relacionado aos buracos da
alma. A cura está na autorrenovação. O que reflete a
conclamação de Jesus ao abandono das velhas práticas e
costumes para seguirmos uma nova forma de viver,
baseada no amor, na humildade e na misericórdia (Mateus
5:7 – Sermão da Montanha).
Do ponto de vista da medicina material também há
recursos. Existem os inibidores, os medicamentos de
suporte. No entanto, não são suficientes porque são
escoras. O que significa dizer que a superação efetiva
demanda da pessoa que ela trabalhe outros aspectos
paulatinamente, especialmente, o desenvolvimento
espiritual.
Passes, preces, boas leituras, consciência dilatada
em relação à sua evolução vão permitir que a superação
real ocorra. São recursos que nos auxiliam para
avançarmos em autoconhecimento, autoaceitação e
transformação.
26
O que propomos às pessoas com o espiritismo é o
mesmo que as ciências psicológicas propõem, no sentido
de se conhecer, de trazer à tona o inconsciente, de
confessá-lo e trabalhá-lo. Jesus, visitando Lázaro e suas
irmãs, afirmou que "os pobres sempre os tendes convosco”
(Mateus 26:11), afirmativa que justifica o pânico. Pânico
que também acometeu Adão e Eva quando se viram nus e
lançaram mão de folhas de figueiras para tapar as
"vergonhas".
Trata-se de um símbolo, quando nos lançamos no
desespero e agarramos em algo ou alguém, quando
precisamos de um remédio que bloqueie, estamos usando
as folhas de figueira, o que é uma providência imediatista
e não de profundidade. A providência de profundidade, por
sua vez, é trabalhar-se internamente, se conhecer
terapêutica e espiritualmente, isso é o caminho.
27
Minha mãe tem Alzheimer há 12 anos e meu pai tem
demência senil, ambos com mais de 80 anos. Do ponto
de vista espiritual, o que se pode dizer sobre as
características de personalidade de uma pessoa que
tende a desenvolver esse tipo de doença?
Podemos abordar a questão desse ponto de vista da
espiritualidade, no que se refere à prova que vivencia o
indivíduo: o que envolve tanto a pessoa que é acometida
pelo adoecimento, como as pessoas envolvidas nos
cuidados.
Notamos que a estrutura cerebral tem uma
capacidade dinâmica e uma sobrevida quando a existência
da pessoa se pauta pela busca de harmonia, o que não quer
dizer religião externa, mas a interiorização da proposta
religiosa.
Claro que a religião externa, institucional, possui
um papel na condição de uma escola espiritual, mas,
frequentemente, é pervertida tanto por dirigentes como por
aqueles que usufruem dela. Uns em busca de vantagens,
28
trocando o céu pela Terra, outros pela busca de favores no
seu cotidiano.
Já a proposta do evangelho com Jesus nunca foi
essa cristalização das práticas institucionalizadas da
religião, mas a transformação íntima. Ele nunca enganou
ninguém a respeito da luta evolutiva de modo consciente.
Até a vinda de Jesus, conforme suas próprias palavras, o
reino de Deus era tomado pela violência, as pessoas tinham
que se violentar muito para se preparar para o Reino.
Quando Jesus chega, ocorre uma mudança nessa
ordem, o indivíduo não sofre mais essa violência. Ele é
convidado a fazer o que sabe que tem que ser feito, como
o sacrifício pessoal, a abnegação, a caridade, a humildade
de coração, a simplicidade nos seus processos.
O Evangelho muda a configuração! Então,
observando que as pessoas estão envelhecendo e
imprimindo no cérebro os distúrbios das inseguranças, dos
medos, dos recalques, das frustrações, das revoltas, das
insatisfações e das inconformidades, o que se pode esperar
29
de um cérebro bombardeado por esse tipo de carga é a
perturbação! Ele é exaurido, deixando de se comportar
harmonicamente.
É possível indagar se os fatores ambientais não
seriam determinantes, mas o que vemos é que eles
contribuem. O determinante, de fato, é o estado psíquico
da criatura. O jargão "mente sã, corpo são" é uma síntese
muito assertiva para o qual precisamos voltar a nossa
atenção. Uma mente sã, no entanto, não será encontrada na
paz da inutilidade e sim na luta diária e edificante, nas
bases do Evangelho.
Na luta que empreendemos, podemos nos
qualificar e encontrar paz e a capacidade de reparação do
cérebro, no sono restaurador. É como se houvesse um
combate ativo que se empreende por meio da ação no
mundo em prol do bem e da sua própria edificação.
A negatividade sobrecarrega o cérebro, órgão feito
para lutar. Na sua característica física, a luta é uma forma
de positivar essa estrutura cerebral. A síndrome, portanto,
30
que o indivíduo adquire, nesse sentido, é reflexo de seu
histórico espiritual.
Na ciência do futuro ficará mais clara a relação
entre as respostas emocionais e os estados mentais. Elas
estabelecem relações com o corpo físico, se instalando em
determinados campos de sua estrutura. Entendemos que a
grande ciência do futuro será aquela que estuda a mente e
o comportamento, superando o interesse individual e
corporativo, em prol da busca de soluções.
Considerando esses aspectos, ao observarmos o
adoecimento de muitos entes queridos, pais, avós, vemos
que é um reflexo das questões íntimas que foram mal
trabalhadas. Isso ocorre mesmo que, muitas vezes, tenham
sido amparados por religiões. O amparo religioso, por sua
vez, frequentemente baseado em dogmas, pode
impulsionar o conformismo e a negação das questões que
requerem enfrentamento do indivíduo em relação a si
mesmo.
31
O conformismo se torna uma fonte de
adoecimento, porque mantém a condição de uma infecção
camuflada, em detrimento do enfrentamento e
transformação. No caso da pessoa que está na condição de
cuidar de outras pessoas que, em função do adoecimento,
tornam-se almas interditadas de se comunicar, presas em
um corpo danificado, há a necessidade também de se
indagar sobre em que estado ela própria se encontra, se
acolhedora e consciente ou não.
Ao assumir-se no estado de abnegação, de modo
consciente, é importante saber que opera o auxílio em
caridade. Quando conseguimos estar bem nessa condição,
é um estado de bem-aventurança, porque é um custo alto
em sacrifício individual. O mérito está em fazer de
coração, enfrentando o alto grau de dificuldade que
representem situações como essas que a vida nos
apresenta.
32
Hoje vemos um número crescente de transtornos
mentais. Gostaria que falasse um pouco sobre o
transtorno bipolar, na perspectiva da Doutrina
Espírita.
Podemos falar sobre o tema em termos genéricos.
Isso porque são distúrbios psíquicos que denotam
processos obsessivos, ou, influência obsessiva.
A bipolaridade pode ser estudada como
características de algumas pessoas. Temos obras espíritas
muito interessantes que sugerem que a pessoa pode ter o
seu psiquismo coabitado por entidades, bem como
interferências mais permanentes. Um livro do Hermínio
Miranda, intitulado Condomínio Espiritual 10 é muito
expressivo em estudos que corroboram essas ideias.
Muitas vezes, observa-se que o psiquismo não é
expressão apenas do indivíduo, embora seja delicado
abordar o tema. As pessoas podem se sentir assustadas,
mas fato é que estamos vivenciando um período de
aferição que é fechamento de um ciclo, com evidentes
sinais de influencias diversas na mente.
33
Nesse momento, muito espíritos que viviam em
zonas espirituais inferiores estão na crosta terrestre. Eles
se tornam hóspedes de muitas mentes que estão ligadas a
eles ou ao seu tipo de conduta, ao mesmo gosto.
Por que se observa inversões na perspectiva do
certo e do errado, guerras de opinião, paixões cegas,
apostas em situações de vida como se estivéssemos
torcendo por times de futebol?
Na verdade, com a liberação desses espíritos,
alguns deles reencarnados e outros associados ou guiando
os encarnados, o padrão moral declinou. Muitos deles não
reencarnavam há séculos. Assim, vivenciamos um período
de condomínio espiritual, de coabitação de mentes. Muitas
vezes, percebe-se que há não apenas um espírito que
acompanha e influência, mas muitos.
O espiritismo trouxe uma resposta científica ao
mundo, embora ainda não tenha sido plenamente
absorvido. Podemos recordar a época em que a máquina
de Kirliangrafia, que registrava a imagem da aura do
34
indivíduo, estava em voga. Nesse contexto, era comum
captar energias intrusas, representando processos
obsessivos de forma física, registrados na coloração da
aura.
O tema é antigo, mas houve um agravamento nos
últimos 40 anos. O benfeitor Emanuel deu sinal de que nos
últimos 20 anos do século XX começaria uma prova muito
difícil para muitos espíritos, o que corresponde ao período
em que passamos a conviver com uma safra de espíritos
que não encarnava há muito tempo e que tornou mais densa
a atmosfera espiritual da Terra.
Trata-se de um período de aferição, de separação
entre aqueles que têm condições de seguir um mundo
melhor e os que não têm, quadro claro da transição
planetária. Também se refere ao respeito de Deus em
relação ao livre-arbítrio mais que propriamente uma
punição.
35
Tive várias vezes o que é conhecido como paralisia do
sono, nesse quadro ouço tudo, mas não consigo mexer
um músculo. Trata-se de um processo de
desdobramento/experiência fora do corpo?
O que se chama paralisia do sono é a incapacidade
de quem desdobra conscientemente ou relativamente
consciente, de se encaixar novamente no corpo. O grande
problema é a posição mental do indivíduo, ocorrendo
quando a pessoa entra em pânico.
Deve-se esquecer a ideia de morte. Trata-se de um
recurso anímico ou mediúnico. No último caso, quando
houver a comunicação dos espíritos. É um tipo de
sonambulismo, embora consciente, mas que avança para a
mediunidade porque vai permitir a comunicação entre
dimensões (entre o além e o aquém).
Eu conheci uma pessoa, quando frequentei o
Centro Espírita Irmã Alcione, em Belo Horizonte, muito
perturbada, parecia uma pessoa louca, ela não dormia e
tinha pavor de dormir. Isso ocorria porque saía do corpo
36
consciente, achava que ia morrer e começava a perceber
coisas horríveis.
No processo de auxílio, no caso citado, fomos
realizando um trabalho com essa pessoa, até que ela tivesse
mais consciência para lidar com a mediunidade. Como
nesse exemplo, podemos observar que o processo possui
vários ângulos, sendo que ela precisa adquirir confiança
em si mesma, o que não é algo simples.
Existem algumas práticas que a pessoa pode ir
realizando para vivenciar o desdobramento. Um deles seria
o exercício de buscar isolar o sentimento de pavor, pensar
que irá voltar por partes. Ela pode ir mentalizando parte a
parte do corpo, a começar pelos dedos dos pés e vai
progredindo, sentindo as partes do corpo. A última parte é
a cabeça.
É um aprendizado importante, afinal trata-se de
algo mais comum que parece, um desajuste entre o corpo
espiritual e o corpo físico. Tudo gerado pelo pavor da
37
mente. Acalmar a mente é a grande chave para perder o
pânico gerado pela ideia da morte.
Qual a visão espírita sobre aqueles que reencarnam
com fobia social?
Alan Kardec usou o termo misantropia, que é
exatamente a fobia social. A condição em que o indivíduo
não gosta de estar e de ver outras pessoas. Isso pode ser
uma característica daqueles que lidaram com o poder em
encarnação anterior. Nessa circunstância, administraram
muitos interesses e cometeram alguma espécie de abuso.
O resultado pode ser um pavor.
Outra situação hipotética, são pessoas que tenham
sido lançadas a papeis sociais que as sufocaram. Isso
frequentemente acontece aqueles que foram muito
famosos.
Vamos nos colocar na condição daqueles que se
tornam ícone de algum campo artístico. Muito
frequentemente, perdem sua vida própria, como se
38
interpretassem, permanentemente, um papel. Nessa
condição, as pessoas que a admiram ou a acompanham
exigem que ela se comporte de determinada forma. Isso
pode causar depressão, alienação, vários tipos de fobia,
que na sua origem, reflete o medo.
Então, ela pode ficar avessa às situações que
exigem interação social. No desencarne ela pode carregar
esse desejo de anonimato. Em alguns casos, se pudesse
viver apenas com animais e em meio a natureza, ela optaria
por essa vida.
Claro que são exemplos, mas temos que dizer que
a fobia social não é algo natural e sim um sintoma de
adoecimento, porque a nossa lei é a de sociedade. O trato
social é inerente à nossa vida humana, quando fugimos
disso é sintoma de algum problema. Trata-se de uma
patologia da alma.
Temos também a história que conhecemos por
intermédio de Chico Xavier, de Alberto Santos Dumont,
pai da aviação, que se suicidou quando percebeu que a
39
invenção da aeronave tinha sido empregada como arma de
guerra. Chico chegou a receber mensagens dele
desencarnado. Posteriormente, ele renasceu como filho de
grandes amigos do Chico, Clóvis Tavares e Hilda Tavares.
Esse rapaz, reencarnação de Santos Dumont, ficou
paraplégico. Viveu até uma idade próxima a 14 anos e
desencarnou.
Nas mensagens que ele havia transmitido como
Santos Dumont, afirmou que tinha tanto pavor da
notoriedade, que o que mais queria era esquecer aquela
encarnação de pai da aviação. Então, nesse caso, observa-
se que ele desenvolveu uma fobia de notoriedade e fama.
O suicídio, como o de Santos Dumont, não o
impediu de enviar mensagens do além. Dada a
circunstância especial que o levou ao desespero, conseguiu
inclusive participar do planejamento de sua reencarnação,
para a qual levou esse desejo de não ter uma vida que o
levasse a qualquer excesso de exposição social. Depois
disso, inclusive, não se sabe de outras encarnações que ele
40
tenha tido. Em suma, as fobias são decorrência de um
pavor desenvolvido por abusos que cometemos no passado.
Um alcoólatra que frequentemente entra e sai do ciclo
de abstinência relata ver demônios sempre que deixa
de beber. Essas visões podem ser causadas pela
abstinência ou são resultado de obsessores espirituais?
O caso da alcoolista é, muitas vezes, múltiplo. Em
psicanálise temos algumas fases de desenvolvimento da
criança, uma delas é a fase oral, quando a criança é
amamentada pela mãe.
Dependendo da forma como essa fase ocorreu ou
deixou de ocorrer, pode estabelecer uma espécie de
trauma. Isso porque a mãe não dá apenas o leite, mas
segurança, harmonia, pacificação, estimulação emocional,
psicológica.
A amamentação é um quadro muito profundo de
interação entre mãe e filho ou filha. Se ocorrer uma
interrupção, falta de vontade ou uma supressão sem
compensação – como no caso de uma mãe que não tem
41
leite e amamenta o bebê com mamadeira, mesmo com todo
o carinho – pode haver a formação de um trauma.
Na fase adulta, esse processo traumático que
impactou a formação de seu aparelho psíquico, pode expor
a pessoa a alguns vícios de compensação. Um deles é o
cigarro ou a bebida em excesso. Em ambos os casos, existe
um problema psicológico do indivíduo que requer
beneficiamento.
Mas, existe também, correlacionado a isso, uma
espécie de fuga em que a pessoa busca o anestesiamento
dos medos e inseguranças. Como eu falei no início, na fase
oral, a criança recebe os estímulos de segurança, de
harmonia. Desequilíbrios nesse campo, podem remetê-la,
na fase adulta, à procura de escoras que compensem essa
ausência, numa espécie de determinismo psíquico.
Por isso, não é possível retermos simplesmente à
influência de espíritos. Até porque, ela dependeria da pré-
existência de lesão, da arranhadura, que possibilitasse a
conexão com outros espíritos. O obsessor não cria o que
42
não existe, ele agrava. Quando o indivíduo entra em pane,
com medo, nas suas fobias, pode estar repetindo a criança
aflita com medo porque não tem a mãe que é seu primeiro
universo de segurança.
Trata-se de um pavor que a pessoa pode trazer
desde a infância, o que vai ganhando dimensão ao longo
da vida. Temos que trabalhar esses aspectos para
compreender que a obsessão é uma conexão entre
encarnados e desencarnados, mas que depende de elos
comuns. Ou seja, importante tratar a questão trazendo
também o viés científico dos problemas humanos.
Qual a origem do comportamento narcisista,
especialmente, aqueles que são ocultos?
O narcisismo se manifesta de diversas maneiras.
Muitas vezes, o problema de uma pessoa pode estar
relacionado a um desajuste na harmonia do lar. Posso citar
um exemplo, sem a intenção de esgotar o tema, pois ele
pode ser abordado de diferentes ângulos, especialmente,
43
no contexto da análise terapêutica e, em particular, da
psicanálise.
Imagine um menino cuja família o trata como um
deus, no sentido de que ele não pode sofrer qualquer
repreensão, dor ou trauma. Ele é criado como se fosse, de
fato, um pequeno deus. Nesse processo, a família está
transformando essa criança em um narcisista por
excelência, alguém que agirá como uma espécie de ditador
ao longo da vida. Essa formação resultará em uma
personalidade desprovida dos cortes necessários para a
construção da psique, como afirmam os grandes nomes da
psicanálise.
O complexo de édipo é exatamente o desequilíbrio
das forças. Freud afirmava que desde nosso nascimento
desenvolvemos neuroses porque temos medo, somos
expostos ao sofrimento. Para a criança, o nascimento, dar
o primeiro choro depois de ser retirada da condição de
conforto no útero, é um primeiro trauma11. Nesse sentido,
44
são cortes de todas as formas, criados pela própria
necessidade de sobrevivência.
Para o bebê, o universo é o seio materno, pelo qual
ele é nutrido, afagado, mas também é onde repousa, de
modo que a mãe é tudo para ele. A amamentação promove
um processo de fusão, claro quando há consciência. Isso se
dá até que surge a figura do outro, o pai, o companheiro da
mãe. Lacan fala do surgimento desse outro, a lei. Isso é um
corte substancial porque vai implicar em um processo de
negociação.
O bebê vai ver que a mãe não é uma extensão dele,
ela interage com esse outro, que por mais que ele também
seja objeto de afeto, o é em outra dimensão das relações.
No primeiro momento, essa figura paterna representa um
corte entre o bebê e o seio materno. Isso impõe um
sofrimento muito grande. Essa sucessão de cortes é
necessária. Ela é responsável por compor o conjunto de
dificuldades que formam a personalidade.
45
Jesus afirma "não resistais ao mal" (Mateus, 5:39),
o que significa o quão sabia é a vida, mais sábia que
podemos imaginar. Estamos muito aquém de compreender
o plano cósmico, o plano da vida, por meio do qual
precisamos nos ajustar e começamos a aprender isso na
infância.
Frente a tudo isso, podemos afirmar que, ao
promover essa espécie de endeusamento da criança, ao
invés de fazer-lhe bem, os pais estão cultivando a
monstruosidade. Na verdade, precisamos ensinar a criança
a ser uma pessoa justa e não impedir que os sofrimentos
que nos educam sejam vivenciados. Refiro-me aos
sofrimentos do plano da vida para cada ser.
Nesse sentido, o narcisismo tem facetas diversas,
mas depende muito da infância para prosperar
exageradamente ou ficar em níveis aceitáveis. Digo isso
porque, quando você se cuida, se afaga e mostra afeto por
si mesmo, trata-se de narcisismo também, mas uma faceta
46
positiva dele. Porque é importante que você se enxergue e
goste de si mesmo.
Certa feita ouvi de um terapeuta, algo muito
acertado, a afirmação de que ninguém pode estar no centro
de nossa vida. Somos nós mesmos que precisamos estar
nessa posição.
Frequentemente vemos essas relações doentias que
trazem tanta aflição. Em geral elas ocorrem porque a
pessoa não se colocou no centro da própria vida. Fazer isso
não é ser egoísta, até porque, se existe um caminho de
sofrimento é o caminho do amor. Isso porque a todo
momento você precisa trabalhar seus excessos. Mas não há
circunstância que permita você se mostrar tanto quanto no
amor.
E aí, você precisa se conhecer, considerando que
não temos apenas as belezas, mas também muitas coisas
para aprimorar. Afinal, estamos no caminho do
aprimoramento. Quanto mais afinidades as pessoas têm,
mais lutas elas vão enfrentar porque não podemos nos
47
acomodar. O sonho de realização plena não é para um
mundo como o que temos na Terra.
Vale fazer a ressalva de que o narcisista não é
necessariamente o psicopata, embora possa ser, porque há
narcisismo de toda forma. Existem pessoas que não
aprenderam a amar e se tornam fechadas.
Quando Chico Xavier explica sobre psicopatia,
aponta se tratar de uma espécie de alteração cerebral, um
transtorno de personalidade caracterizado por falta de
empatia, ausência da capacidade de afeto e gerenciamento
inadequado da raiva. Já o narcisista é uma pessoa que se
endeusa com exclusividade.
Refiro-me aqui ao quadro clássico de psicopatia. O
que implica dizer que é preciso separar os distúrbios,
ressalvando que podem ser combinados em algum grau,
quando não se trata da psicopatia clássica.
O mito de narciso, considerada uma das versões
mitológicas, diz que ao morrer nasce uma flor. O que
significa que há esperança, embora ele enxergue apenas a
48
si mesmo. É justamente isso que torna problemática sua
interação com as outras pessoas. Nesse sentido,
destacamos que, quando a pessoa que sofre desse distúrbio
narcisista quer se tratar, há meios para fazê-lo.
A depressão pós-parto é um distúrbio físico ou
espiritual?
A depressão pós-parto está relacionada a
problemas de vinculação com o espírito que está
retornando de experiências do passado. Esse filho que
nasce está vindo do passado dessa mãe e desse pai e,
muitas vezes, traz consigo energias de problemas que
vivenciaram em outras encarnações.
Comumente, as depressões pós-parto e outros
transtornos similares são fruto de lembranças emocionais
que podem desequilibrar aquela mãe que acabou de ter um
filho. O que passa por um conjunto de emoções que ela não
sabe explicar.
49
Ainda teremos condições de estudar e compreender
melhor, nos passos mais adiantados da ciência, como essa
o perispírito do encarnante, em processo de hipnose, é
agregado ao perispírito da mãe, numa espécie de enxertia.
Trata-se de uma materialização de longo curso, de 9 meses.
Mesmo sabendo que não faz sentido, convivo com o
complexo de culpa. O que fazer frente a isso?
O complexo de culpa é um processo realmente
delicado, pois enraíza-se na alma. A pessoa precisa se
sentir compensada e ver-se livre desse sentimento por
meio de algum esforço ou sacrifício. No entanto, não se
trata de sofrer o mesmo que causou ao outro, pois isso
contrariaria o evangelho. Trata-se, na verdade, da lei da
compensação: a cada um segundo suas próprias obras.
No ensinamento de Jesus, temos que "acima de
tudo, amem profundamente uns aos outros, pois o amor
cobre multidão de pecados" (Pedro 4:8). Ele traz a chave
para o processo de compensação verdadeiro, capaz de
50
curar o complexo de culpa enraizado. O que está no
exercício do amor.
Geralmente, a pessoa precisa abraçar uma causa
com muita devoção, talvez até se sacrificando, trabalhando
em prol de pessoas que sofreram como ela mesma. Nesse
processo de doar-se, ela pode convencer a si própria,
superando seu processo consciencial de culpa. Isso porque
sentirá que está indo além ou à altura da lesão praticada.
É o amor que faz isso, e ele é tão poderoso que,
quando você o sente e se dispõe a praticá-lo, manifesta-se
na forma de caridade. É importante destacar que a caridade,
como doação de si, ocorre mesmo diante da ingratidão, da
dor e das dificuldades. Com o tempo, a pessoa supera o
sentimento de culpa, promovendo uma espécie de
equiparação e trazendo mais leveza à sua vida.
Há outro processo, que também é amplamente
comprovado, envolvendo a aceitação do
autoconhecimento. Para isso, a pessoa deve se propor à
autoanálise profunda, por meio da terapia psicanalítica.
51
Nessa escavação de si mesma, a pessoa pode revisitar esses
sítios que marcaram sua alma.
É claro que haverá dor, muitas vezes irá chorar e se
sentir mal, como se estivesse lá. Mas, bem conduzido, esse
processo permite que ela volte e passe a ter outra visão da
situação, do outro e de si mesmo: isso se chama
ressignificação. O retorno por meio desse processo
possibilita estar mais em paz consigo mesmo, o que
permite fazer um trabalho com a consciência mais
tranquila.
Reconhecer as coisas não significa não ter ônus,
mas significa combinar consigo mesmo providências de
autoaceitação, de avaliação mais justa do ocorrido,
redimensionando a realidade que tende a ser
superdimensionada. De modo que no campo da vida a
pessoa possa operar na contramão do delito. É, geralmente,
isso que ocorre com as pessoas que conseguem fazer o
encontro consigo próprias. Ao caminhar na vida de modo
52
mais leve, ficam mais generosas, conseguindo ajudar
outras pessoas.
Na verdade, todos nós, no processo de
reencarnação, estamos lidando com complexos de culpa,
em maior ou menor grau. Se não o temos em uma área,
temos em outra. Se não temos com muitas pessoas, temos
com poucas. O lar é o retrato disso, de modo que os
espíritos nunca deixaram de enfatizar os desafios que estão
contidos na convivência no lar.
Pode-se dizer o mesmo acerca da luta social, que
para muitos é a maior expiação, conviver com aquilo que
não pode mudar. As pessoas sensíveis sofrem frente ao
mundo no qual ainda existe muita brutalidade. Não poder
viver no mundo que desejamos, pode ser nossa expiação.
O desafio é construir um mundo mais harmônico em nós
mesmos.
Se considerarmos o exemplo de Chico Xavier,
podemos ver quão difíceis foram as situações com as quais
ele conviveu, tanto dentro quanto fora de casa, enfrentando
53
provas significativas. Assim, mesmo carregando
complexos de culpa, o autoconhecimento e a autoaceitação
nos trazem leveza. No entanto, para atingir esse estado, é
necessário ter paciência consigo mesmo - um conselho de
Emmanuel que vale sempre recordar.
Isso é o que dá sentido às reencarnações, pois elas
se explicam pela busca da transformação moral,
permitindo que os valores do bem conduzam uma estrutura
anteriormente complicada.
Repetição de palavras como "me desculpe",
"gratidão" e até mesmo mantras é uma prática
suficiente para superar traumas e erros do passado?
Em primeiro lugar, é importante destacar que a
palavra tem grande importância e poder. Portanto, não
deve ser vulgarizada, como frequentemente ocorre nos
dias de hoje. As palavras podem estabelecer um carma,
seja ele negativo ou positivo. Ao pesquisarmos, podemos
constatar que, desde os tempos mais remotos, homens e
mulheres aprenderam a repetir palavras, o nome de Deus,
54
de Jesus, de um avatar, ou frases reveladas por grandes
mestres - esses são os mantras
Os orientais, por exemplo, trabalham a
verbalização original com o OM ou AUM, que promove
uma vibração poderosa. Quando a pessoa se concentra e se
permite vivenciar essa experiência, sente a força dessa
prática.
Da mesma forma, quando alguém te olha e diz 'eu
te peço perdão', mobilizando essa palavra que tem uma
ressonância muito importante, podemos dizer que ela 'faz
milagres'. Frases que expressam o poder da gentileza e do
sentimento de gratidão, como 'obrigado' e 'por favor',
possuem vibrações positivas, assim como existem as
expressões malditas. Muitas pessoas evitam proferir
palavras como 'desgraça' porque acreditam que elas estão
associadas a maldições em seu psiquismo.
No Livro “o Evangelho Segundo o Espiritismo, há
uma mensagem em que o espírito menciona a palavra
'desgraça', e muitas pessoas evitam repetir esse trecho de
55
qualquer maneira. Tudo depende muito do que se acredita
e do que se atribui às palavras, pois elas representam algo
registrado na própria pessoa. Quando estudamos os
arquétipos, como o de mãe, geralmente associamos à
figura de Maria, e no arquétipo de pai, associamos a Deus.
Essas associações nos levam a divinizar pai e mãe em
função dos arquétipos, ou seja, de algo que foi construído
ao longo do tempo.
Hoje em dia, as pessoas se permitem questionar
figuras como padres, pastores e palestrantes, o que está
relacionado ao movimento de fé raciocinada. Em tempos
antigos, mesmo com argumentos aberrantes, essas figuras
eram vistas como inquestionáveis. Agora, caminha-se para
compreender que cada um de nós é o artífice da própria
evolução. Jesus nunca impôs nada nem exerceu coerção de
qualquer forma. Por isso, é importante desconfiar de
qualquer religioso cuja prática envolva coerção ou
imposição, pois Jesus ensinou a respeitar o arbítrio das
pessoas e a compreender o momento de cada um frente ao
que ele apresenta.
56
É fundamental reconhecer o poder das palavras,
desde que você se sinta confortável ao proferi-las. Por
exemplo, em ambientes espiritualizados e terapêuticos,
quando uma pessoa confia e visita sua dor, ela libera algo
que estava represado, num processo de catarse.
Nesse processo, é normal que a pessoa chore, fique
constrangida ou sinta raiva, mas o importante é liberar o
que estava preso. Ao falar, a pessoa se liberta e permite
ressignificar a vida, de modo que deixe de sentir dor ao
revisitar o que antes causava sofrimento. Isso ilustra o
poder das palavras. A psicanálise, ciência fundada por
Freud, é conhecida por estabelecer que falar, cura.
O que de fato ocorre, desde que a pessoa esteja sob
as condições ideias para promover esse processo de cura.
Não é uma fala em qualquer contexto, é necessário que
haja um propósito, uma energia própria. Mantras como o
Ho’oponopono têm propostas que vão nessa linha.
Muitos psicanalistas adotam a prática de fornecer frases
para que a pessoa repita ao longo do dia, com o objetivo
57
de ressignificar ou induzir o psiquismo a se libertar de
determinadas amarras. Isso se baseia no poder da palavra,
pois, conforme afirma André Luiz, espírito autor de obras
recebidas por Chico Xavier, a palavra fixa o conceito.
Muitas vezes pensamos em algo, mas se não falamos sobre
isso, não fixamos nem memorizamos. A palavra tem poder,
afinal, tudo é energia.
Como a depressão é vista pelo espiritismo?
Sem dúvida, a depressão trata de um desequilíbrio
químico do cérebro, no entanto, não vamos abordar a
questão por esse prisma. Até porque entendemos que o
desequilíbrio eletroquímico, como tudo, possui uma
natureza moral, espiritual. As coisas não surgem
aleatoriamente, nem os males, tampouco os bens. Há
sempre uma origem.
Dr. Sério Felipe de Oliveira, psiquiatra e
pesquisador em São Paulo, já conseguiu revelar para a
comunidade científica e para aqueles que acompanham seu
58
trabalho, que os neurônios são estimulados por algo
externo, que representa a alma, para nós que possuímos
esse conceito. É ela que estimula os neurônios, portanto é
o agente-motor. Mas o faz por fatores que ainda não são
compreendidos pela medicina comum.
As pesquisas neurocientíficas, como a linha do Dr.
Sérgio, confirmam que somos alma vivente em um corpo.
Sempre que ela não estiver bem e em harmonia, o corpo
sentirá os reflexos.
Nesse sentido, o processo depressivo, como as
síndromes de várias ordens, dentre elas o pânico, possuem
natureza moral. Isso significa que há necessidade de
estímulo na alma. Estímulo do tipo que não se encontra no
mundo material. É uma necessidade de algo especial.
Em Mateus 5:47, Jesus pergunta o "que fazeis de
especial". Faz isso em uma parábola na qual está ensinando
sobre a necessidade de busca desse elemento que pode ser
traduzido como algo que alimente a sua alma em particular.
59
O que vai ao encontro da recomendação que muitos
profissionais e mesmo orientadores espirituais trazem que
é entender o altruísmo como contraponto à condição de
depressão. Ela faz com que a pessoa se feche em si mesma,
o que indica que para diluir essa condição é necessário
começar a desenvolver empatia com aqueles que sofrem
das mesmas ou padecem de outras dores.
Não significa desmerecer os tratamentos
medicamentosos que funcionam com um o caráter
emergencial, ainda que muitas vezes também cobrem um
preço alto da pessoa que os adota.
Chico Xavier, que enfrentou muitas dificuldades ao
longo de sua vida, costumava contar que, em momentos de
grande abatimento, Emmanuel, seu guia, o incentivava a
deixar de lado a tarefa da psicografia para visitar as
periferias e ajudar irmãos ainda mais necessitados. Chico
dizia que não tinha nada material para oferecer àquelas
pessoas, mesmo assim, ia visitar aqueles em extrema
necessidade.
60
Nessas visitas, ele fazia preces, fluidificava água,
consolava doentes, fazia orações, brincava com crianças,
ouvia o lamento de mães que não tinham o que oferecer a
seus filhos, abraçava fraternalmente. Ele dizia que ao
retornar para casa, entendia que não tinha problemas, por
sentir a empatia com os problemas dos outros.
A partir dessas experiências é que ele passou a
estimular que as pessoas fossem para os locais onde
estavam aqueles que necessitavam mais que elas mesmas.
Considerava que atuar nesses espaços era uma forma de
colaborar com a cura do processo depressivo. Isso porque
se trata de um meio pelo qual conseguimos nos tornar úteis,
de encontrar formas de amar, o que permite que o próprio
ego, então afetado, se reestruture. Nos sentimos mais
importantes quando nos comprometemos com o amor
daqueles com que nos conectamos nesse trajeto.
É claro que não precisa ser uma condição de
extrema necessidade, mas pode ser a atenção dada a
alguém que esteja ou seja carente. Não necessariamente
61
são carências materiais, mas de qualquer tipo, até mesmo
a ajuda a alguém sobrecarregado no seu ambiente de
trabalho pode ser enquadrado nessa situação.
Tais atos permitem que a pessoa sinta uma pulsão
de vida! O que é uma forma de possibilitar que a pessoa
lide até mesmo com as cargas do passado que ela recebe.
Graças a elas, por vezes, se sente desajustada no ambiente
familiar e nas relações cotidianas.
É, portanto, um caminho para ver o amor pelo
prisma da gratidão e de alguém que a enxergue como uma
benfeitora. Sentirá que está falando em nome de Deus, não
de modo religioso, mas espiritual. É sentir Deus te usar
para atingir ao próximo, cuja alegria se torna a sua. Não
acredito que haja algo capaz de superar essa experiência.
62
5
O termo animismo é usado para designar um tipo de fenômeno
produzido pelo próprio espírito encarnado, sem que este seja um
instrumento mediúnico da ação espiritual e sim o artífice dos
fenômenos em questão.
6
XAVIER, Francisco Cândido (Médium). Passos da Vida. 1.
Ed., Araras.
XAVIER, Francisco Cândido. Passos da Vida. 1. ed. Araras:
IDE, 1959.
7
XAVIER, Francisco Cândido. No Mundo Maior. Psicografado
pelo espírito André Luiz. 35ª ed. Brasília: FEB, 2015.
8
No livro No Mundo Maior, André Luiz, psicografia de Chico
Xavier, são explorados conceitos espirituais e psicológicos que
ajudam a entender a mente humana e sua relação com a
espiritualidade. Um dos conceitos centrais do livro é a
"psiquiatria iluminada", que aborda a estruturação da mente e
propõe uma divisão metafórica em três "andares" ou "níveis" da
mente, correspondendo a diferentes áreas e funções do cérebro
humano: 1. Primeiro Andar: Cérebro Básico (ou Cérebro
Reptiliano), nível que corresponde às funções mais primitivas e
instintivas, associadas ao cérebro reptiliano. Ele governa as
funções automáticas e instintivas, como sobrevivência, reações
de luta ou fuga, fome, sede, sono e defesa. No contexto
espiritual, André Luiz sugere que este andar está relacionado aos
instintos mais básicos e primitivos que ainda carregamos e que
influenciam nossas ações de modo inconsciente. 2. Segundo
Andar: Cérebro Mediano (ou Sistema Límbico) que está
associado ao sistema límbico, que controla as emoções e a
memória. Esse nível reflete os sentimentos e os laços afetivos,
como amor, ódio, ciúmes e empatia. No campo espiritual, André
Luiz destaca a importância deste andar no equilíbrio emocional
63
e em como as emoções e memórias moldam a experiência de
cada espírito. Esse andar é onde ocorre a interação entre o ser e
suas emoções, determinando sua reação afetiva ao ambiente e às
relações interpessoais. 3. Terceiro Andar: Lobos Frontais (ou
Cérebro Superior) – nível mais elevado, associado aos lobos
frontais, responsáveis pelo raciocínio, planejamento, tomada de
decisões, e autocontrole. No plano espiritual, este andar
representa o campo da consciência superior, do discernimento,
da moralidade e da espiritualidade. Segundo André Luiz, é nesse
nível que o espírito desenvolve o autodomínio e alcança a
compreensão dos valores éticos e morais, fundamental para o
crescimento espiritual.
9
O Iluminismo foi o um movimento intelectual e filosófico que
se desenvolveu na Europa Ocidental, entre os séculos XVII e
XVIII.
10
MIRANDA, Ermínio Corrêa. Condomínio Espiritual. 1. ed.
Rio de Janeiro: Instituto Lachatre, 2021.
11
FREUD, Sigmund. Inibição, Sintomas e Ansiedade. 1. ed. Ri
o de Janeiro: Imago, 1936.
64
O ESTADO DA ALMA E DO
PSIQUISMO
65
Comecei a frequentar centros espíritas com minha
esposa, mas ela tem notado que, desde então, nossa
vida, que já não era tranquila, passou a enfrentar mais
desafios. Essa percepção está incorreta ou estamos
realmente enfrentando ataques espirituais?
Ao longo da vida, vamos nos adaptando psíquica e
moralmente. Nos ajustamos aos arquétipos12, ao percurso
de vida e experiência proposto para essa encarnação, ao
patrimônio que trazemos do passado e de outras vidas.
Assim, vamos nos acomodando e até nos acostumando a
alguns sintomas, como dores e incômodos.
O processo narrado diz respeito a um agravamento
desses sintomas. Quando deliberadamente decidimos nos
cuidar espiritualmente, portanto, moralmente, esbarramos
em muitas resistências, até porque não vivemos sós.
Observe que é comum vivermos muito tempo com
sintomas de ansiedade, sem nominar que se trata de um
quadro de ansiedade, ou depressivo, sem nomear como
depressão. Quando encaramos esses quadros também
temos a percepção de que ocorre um agravamento.
66
A patologia, é preciso que se diga, consiste na
exacerbação de um comportamento. O que, muitas vezes,
se torna objeto central das preocupações e dos discursos,
até mesmo no dia a dia (considerando que atualmente
muito se fala de psiquiatria e questões psicológicas, além
de haver uma tendência crescente de catalogar estados de
alma como patologias).
No livro dos Espíritos 13, Kardec aborda os "vícios
e virtudes", o que implica em analisar comportamentos.
Nessa obra basilar da doutrina espírita, pode-se ver como
os princípios da vaidade, do orgulho e outros são salutares,
mas a exacerbação de qualquer deles é patológica. É aí que
se encontra o vício, a neurose ou a psicose, em alguns
casos. Por isso, precisamos compreender o que é excesso
e o que é necessário. Quando combatemos tudo, corremos
o risco de comprometer a própria sobrevivência.
Há quadros que precisamos reconhecer e aceitar,
enquanto há outros em que se torna necessário retirar pelo
excesso. A ciência revelada pelos espíritos esclarece isso.
Esse entendimento também pode ser encontrado em
67
processos terapêuticos saudáveis, que são focados no
sujeito e em suas experiências, buscando acolher o
indivíduo e ajudá-lo a dar os passos que necessita.
Nesse sentido, na situação mencionada na pergunta
remontamos ao quadro de agravamento psíquico. Quando
passamos por situações nas quais, aparentemente, houve
um agravamento das situações difíceis de vida, é preciso
ter bastante coragem.
O que se conecta à fala de Jesus, segundo o qual
"aquele que perseverar até o fim, será salvo" (Mateus
24:13) 14 . A coragem está no fato de que você terá que
enfrentar seus fantasmas, que são seus medos,
inseguranças, suas manias, mas também seus obsessores.
Temos que destacar que esses últimos, os
obsessores, não são responsáveis pelo aumento dos
desafios da vida. Isso porque eles só se aproximam e
exercem algum tipo de influência quando abrimos espaço
e nos conectamos a eles. Por mais que haja obsessores
interessados em entrar na sua vida de alguma forma, se não
68
houver a porta aberta, não haverá oportunidades para
entrarem.
Se investimos em bons pensamentos e ações,
preenchemos a casa com elementos que não são
compatíveis com a energia deles. O que vai na contramão
do que Jesus afirmou ao indicar que o espírito imundo sai
e a casa fica adornada, o que significa uma casa sem uso.
Em Mateus (12:43-44): "Quando um espírito imundo sai
de um homem, vai para lugares desertos durante algum
tempo, procurando repouso, sem achar. Então diz: 'Vou
voltar para a casa de onde saí'. Assim ele volta e encontra
a casa desocupada, varrida e arrumada!"15
Essa casa sem uso, adornada, representa a nós
mesmos quando não nos ocupamos de tarefas mais
elevadas, de pensamentos melhores, é aí que abrimos
espaço não apenas para voltarmos a ser obsediados, mas
para que a obsessão seja reiterada, ainda mais reforçada.
Na parábola de ensinamento do Cristo16, o espírito retorna
acompanhado de outros 7 espíritos, ainda piores que ele.
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Portanto, nessa vivência relatada na questão, trata-
se de um período de diagnóstico, no qual está se
confrontando com questões que, até então, estavam
incorporadas ao cotidiano. Elas já existiam, mas estavam
normalizadas. O que ocorreu, de fato, foi um agravamento
que as tornaram amedrontadoras.
Quando começamos a nominar os quadros com os
quais convivíamos como se fossem normais e os
chamamos do que realmente são, traumas, tristezas (e
tantos outros), ocorre uma movimentação da energia no
psiquismo. O que provoca uma alteração no
correspondente espiritual.
Ambas as energias, espiritual e psíquica, estão
intimamente vinculadas, até porque não existe
seccionamento na realidade do ser. Por isso, costumo
afirmar que ao fazermos um processo terapêutico sério,
estamos mexendo com nossos obsessores. O que vale não
apenas para os quadros neuróticos, que são aqueles que
70
estão no inconsciente, e que você passa a nomear, mas os
seus correspondentes espirituais.
Vivemos em um mundo de comunhão, seja na treva
ou na luz, quando migramos de uma para a outra,
realmente há sofrimento, em decorrência desse
agravamento. Aconselho que a pessoa tenha paciência para
vivenciar, intensifique a confiança no poder divino,
procure abstrair ao invés de focar nas dificuldades.
Lembrando a fala de Emanuel para Chico Xavier, "tudo
tem um preço, por isso tenha bom ânimo", intensifique as
preces e o carinho.
O período da pandemia trouxe à tona muitas emoções
e instabilidades. O novo mundo que se vislumbra
parece mais fluido e incerto. Como podemos lidar com
essa realidade?
O período da pandemia foi o início de uma etapa
em que houve uma quebra no modo de vida. Modo de vida
este que se apresentou na virada do século XX para o XXI
e que ainda se apresenta de modo exacerbado. Houve uma
sofisticação do materialismo em um grau muito exagerado,
71
no qual perdemos, de algum modo, a noção da ética e da
moral.
Estávamos em busca das profundezas do abismo
moral, embora não faltassem as advertências, descobertas
e outros sinais claros da necessidade de revisão, a ponto da
insensibilidade humana.
A importância dada às formas, aos sistemas, àquilo
que está no externo e não no interno estava dando a tônica
de uma etapa da história humana.
Nesse contexto, a pandemia da COVID-19 foi a
resultante dessa toxidez, como um momento insalubre,
tanto psicológica como fisicamente. O Vírus é decorrente
dessa alteração energética característica de uma mudança
de padrão.
Existem os vírus e bactérias bons, mas também os
perversos, que atendem à drenagem da toxidez ou de sua
exacerbação. Afora isso, o vírus assume um processo de
72
variações que representa um comportamento reflexo das
necessidades dos encarnados.
Tal contexto promove uma inquietação crescente.
Frente a situações desse tipo, encontrar apaziguamento
requer a busca pela harmonia íntima. Ser o mais harmônico
possível, torna-se um requisito.
Também se torna necessário combater informações
que ampliam os desequilíbrios emocionais, como aquelas
que chegaram a afirmar que o vírus contagiaria aqueles que
fossem moralmente questionáveis. Na prática, o vírus não
tem a menor correlação com o estado moral do indivíduo,
ele não é um ser capaz de triagem nesse nível.
Vale lembrar, nessa linha de pensamento, sobre a
trajetória do médium Eurípedes de Barsanulfo que faleceu
de gripe espanhola. No entanto, podemos inferir que ele
foi, em sua época, um dos espíritos mais evoluídos entre
os encarnados na Terra.
73
No entanto, quando estamos mais harmônicos,
sem dúvida, possuímos maior capacidade física e mental
de enfrentar um estado pandêmico. Arnaldo Rocha17, em
mensagem psicográfica, ratificou essa tese. Acrescentou,
ainda, que a contaminação é algo a que todos se sujeitam,
mas a desencarnação é fruto da lei de causa e efeito.
Espiritualmente, a paralisação de muitas das
atividades e fluxos que foram vivenciados durante a
pandemia constituiu um modo de desarticulação, de
ruptura. O que contribui para mudanças serem
desencadeadas em todos os níveis, como um dos passos da
transição planetária. Trata-se de mais um momento de
prova coletiva, para o que se recomenda paciência, oração
e fé.
74
Tenho depressão e frequentemente me vêm à mente
pensamentos de que morrer seria uma bênção, além de
recorrentes pensamentos pessimistas que surgem de
repente. Recentemente, recebi um diagnóstico de
câncer de mama. Não tenho medo de morrer, mas sim
de viver no mundo atual. Embora eu me esforce para
manter uma atitude positiva durante os tratamentos, às
vezes, esses pensamentos melancólicos tentam dominar
minha mente. Peço recomendações sobre como lidar
com esse quadro.
Considerada a sistemática vigente no mundo, pode-
se afirmar que de fato promove-se um desalento para a
alma. Principalmente, quando a pessoa ama a justiça, a
correção e a fraternidade. Vê-se muita coisa baseada no
egoísmo, no orgulho e na vaidade, o que é traumático para
as almas. É natural que as pessoas sintam um desencanto.
Podemos chamar aqui um episódio em que Chico
Xavier foi indagado sobre ser uma pessoa feliz. Nessa
oportunidade ele afirmou que se sentia uma pessoa feliz,
mas para sê-lo teve que se apegar. Tendo sido alguém que
compartilhava de muitas dores, suas e de tantos que lhe
75
procuravam, encarnados e desencarnados, para não se
tornar alienado do mundo, ele dizia ter se apegado aos seus
animais, à sua tarefa no espiritismo e aos amigos,
colocando muito amor nisso.
Em outra circunstância, o mesmo Chico
acrescentou que a vida é mesmo exigente, porque o
processo reencarnatório é constituído de desafios. Por isso,
afirmava que a vida na Terra pediria um "pouco de ilusão".
O que pode ser representado por aquelas pequenas coisas,
pequenos encantos.
Devotar-se a alguma coisa, alguma causa ou
pessoas é uma forma de encontrar encantamento. Duas
obras podem ser lembradas para nutrir essas reflexões. A
primeira delas é "Cinquenta anos depois" 18 e a outra
"Renúncia" 19 . São romances do benfeitor Emanuel, nos
quais você poderá ver o heroísmo de duas mulheres cristãs,
Célia e Alcione.
76
Quando era adolescente consumia muita pornografia e
praticava a masturbação, em um dia de excessos de
ambos, comecei a passar muito mal. Gostaria de
entender esse mal-estar e a consequência moral dessas
práticas à luz da doutrina espírita.
Abordar esse tema demanda lançar mão dos
recursos da lógica psicanalítica, do entendimento da
psiquê humana. Trata-se de algo que é visto como tabu por
muitas pessoas. O que vem dos mitos criados ao longo da
história religiosa, imersa em muitos valores que não são
essenciais à religião.
Considerados os estudos sociológicos e históricos,
tem-se que o catolicismo criou algumas proibições e
incluiu nas perversões muitos prazeres, como forma de
inibir a erótica. O próprio Emanuel trata no livro Vida e
Sexo 20 sobre os problemas decorrentes do bloqueio da
erótica.
Se considerarmos que o processo do encanto
sexual, do desejo, é inerente à vida, ao reprimi-lo, a pessoa
fica sobrecarregada com a erótica entranhada na alma. O
77
que pode induzir ao puritanismo ou à perversão. A
verdadeira perversão é tamponar o que é uma força de
vida.
A negação da sexualidade, promovida pelas
religiões, acabou estimulando o caminho da perversão.
Reforço que essa força sexual representa uma força de vida
e não está circunscrita aos órgãos sexuais. Ela tem várias
funções, portanto, sua repressão extrema é adoecedora.
Fazemos uma ressalva em relação à repressão da
interação sexual em condições de consaguinidade. Nesse
caso, é importante que se diga, que a religião promoveu
algo muito positivo porque muitos problemas de saúde
decorriam daí, pois, afetava os planos reencarnatórios,
como decorrência do comprometimento genético das
gerações.
Afora isso, a proibição do prazer promove mais
malefícios que benefícios. Destacamos aqui que a
repressão continua sendo mais severa sobre as mulheres.
78
O que se vê ainda em formas perversas em diversas
manifestações religiosas ainda hoje.
Nesse momento, muito psicológico, que estamos
vivenciando, percebe-se a necessidade de revisão de
instituições e leis e de nós próprios.
Nos estudos psicanalíticos, observamos os
preconceitos que Freud enfrentou para divulgar suas
descobertas. O que ocorreu, mesmo considerando que suas
descobertas foram realizadas em profundas bases
científicas. Frente a todo o respeito e rigor científico,
vivendo em Viena, ele teve enorme dificuldade de falar
sobre questões essenciais do ser.
Freud pagou um preço alto para colocar suas teses
em pauta. Mas, abriu caminho para vários outros
pesquisadores que deram curso às suas ideias.
Contribuindo, assim, para a construção de uma psicologia
analítica, que é capaz de escavar o inconsciente,
associando psiquê e neurologia.
79
Nessas conquistas o que se vê é a progressiva
emancipação sexual do homem e da mulher. Nesse
percurso, se destaca o trabalho de Wilhelm Reich21, que
estudou o papel curativo do orgasmo feminino em um
momento e sociedade em que as mulheres não tinham esse
direito, por convenção religiosa e social.
Apesar de Reich ter enfrentado grandes
consequências por divulgar suas teses, incluindo ser
condenado à prisão nos EUA, seu trabalho possibilitou
avanços significativos no entendimento de questões como
a pornografia. Segundo ele, quando a pessoa exercita o
sexo pornográfico, o que ela tem é uma ejaculação. O sexo
pornográfico, especialmente naquele modelo em que a
mulher é objeto, é simplesmente ereção e ejaculação.
Segundo sua explicação, a pornografia é um
caminho de ejaculação, que é um processo de liberação de
uma carga, alivia a libido da pessoa, seja o homem ou a
mulher. Já o orgasmo só existe quando há toque entre as
80
pessoas, inclusive peitoral, que envolve o que definiu
como energia orgônica.
O sexo vivenciado de modo completo é curativo,
contribuindo para a autorrealização das pessoas. Mas, os
abusos da ereção, ejaculação e de consumo de pornografia
são adoecedores, por que excessivos.
A ciência espírita, por sua vez, possui compromisso
em seguir a ciência e respeitar os avanços que dela advêm.
O que implica respeitar e refletir os conhecimentos que se
propõem ao avanço dos seres humanos, em termos físicos
e psíquicos.
Nesse campo do conhecimento, sem dúvida, quem
mais avançou foi Reich. Propôs que, se a pessoa não tem
um parceiro ou parceira, que ela aprenda a se masturbar,
mas com respeito a si própria e com consciência. O que
significa atender a uma necessidade individual.
Na definição de André Luiz, o instinto sexual
representa o amor em expansão. Podemos acrescentar,
81
ainda, que a pessoa busque em si mesmo/a o estímulo,
considerando as energias intrusas que advém do comércio
dos estimuladores sexuais. Não se pode repreender o
indivíduo por expressar uma necessidade íntima, o desafio
é administrar nossos desejos e orientá-los para o melhor!
Vejamos o exemplo de Maria Madalena, que em
nenhum momento foi repreendida por Jesus. Ela lhe disse
que tinha muita sede de amor, e em determinada
oportunidade ele, delicadamente, argumentou: "mas estás
buscando o amor em águas contaminadas"22.
Precisamos ressignificar o sexo, como algo que é
gerador de muitos benefícios, dentre eles, a alegria de viver
da pessoa. Tudo isso é autonomia do espírito, trata-se de
sua vida íntima. Algo que se refere ao que cada um de nós
tem que resolver. Afinal, se você se ama, nada vai ser sujo!
82
Se a reencarnação envolve um planejamento, podemos
considerar que a cirurgia de redesignação de sexo seria
renunciar a compromissos assumidos no plano
espiritual?
Primeiramente, é importante ressaltar que nem toda
reencarnação é planejada. O planejamento ocorre para
espíritos com algum merecimento, enquanto muitos outros
reencarnam sistematicamente, já vinculados à Terra e a
grupos de encarnados. Para esses, a reencarnação
geralmente não envolve um processo de planejamento.
Por outro prisma, há muitos espíritos em prova,
embora possa ser expiação também. Nesses casos,
observamos situações de conflito entre a estrutura
psicológica e o corpo conferido na reencarnação. Quando
esses espíritos realmente se encontram em profundo
sofrimento devido a esse conflito, considerando os
avanços da medicina e da legislação, a redesignação de
sexo é uma escolha saudável. Isso se deve à pluralidade da
evolução! Aqueles que estudam o espiritismo têm plenas
condições de compreender isso.
83
O próprio codificador, Allan Kardec, ao se referir
ao casamento, questiona sobre a união entre dois seres, e
não especificamente entre um homem e uma mulher. Ele
já compreendia isso naquela época. Emmanuel, consultado
por intermédio de Chico Xavier sobre as relações
homoafetivas, recorreu a essa questão no Livro dos
Espíritos, afirmando que os espíritas estariam preparados
para entender o tema sem preconceitos.
Trata-se, de fato, de uma evolução de conceitos.
Claro que isso não é o que os fundamentalistas religiosos
apregoam, mas devemos sempre lembrar como Jesus os
combateu. No capítulo 23 de Mateus, Jesus chama a
atenção para a atitude punitiva desses religiosos, que
exigem dos seguidores que carreguem fardos pesados
sobre os ombros, enquanto eles mesmos não estão
dispostos a fazer o mesmo.
Jesus, por sua vez, não veio para ensinar a religião,
mas o exercício da religiosidade, baseada na moral divina.
Nesse sentido, a pessoa que passa por essa prova de
84
conflito entre psiquê e o seu físico e pode mudar essa
condição, considerando os avanços da ciência e do campo
jurídico, deve fazê-lo. Seria impor-lhe um fardo pesado
demais, impedir que ela promovesse essa ressignificação
da própria vida. Se ela tem meios de se sentir por fora,
como ela é por dentro, trata-se de um processo de
harmonização.
O evangelho existe para ajudar a cada um a
compreender que é muito mais e que pode superar aquilo
que valorizava como definitivo. Jesus nunca foi cárcere
para ninguém, tanto menos motivo de demonização e
inferno para ninguém. Ao contrário, sua prática foi sempre
a de abolir todos os tipos de pessoas.
Podemos entender que, na existência física, quando
estamos felizes e bem conosco mesmos, somos excelentes
para todos ao nosso redor. No entanto, quando estamos
chateados, amargurados e infelizes, nos tornamos um
problema para a sociedade. É fundamental buscar resolver
85
nossas questões internas, e, nesse sentido, o evangelho atua
como uma verdadeira libertação.
86
Gostaria de entender por que na terapia de vidas
passadas a pessoa, em geral, tem memórias seletivas de
outras encarnações, jamais remetendo a passagens pelo
umbral, por exemplo?
Brian Weiss23 psiquiatra e escritor estadunidense,
foi o criador do método de Terapias de Vidas Passadas
(TVP) e formou muitos terapeutas ao redor do mundo para
aplicar suas técnicas. Trata-se de um trabalho muito bonito.
Nesse campo da regressão, também temos dialogado com
pessoas que possuem vasta experiência, entre elas destaco
Fátima Mora, psicanalista que fundou o método Mora e
está vinculada à Sociedade de Psicanálise Integrativa.
Mora é uma pessoa com forte lastro e muita
abertura para o conhecimento. Mesmo não sendo espírita
ela observa e conclui, ao longo de sua experiência com
técnicas de regressão, que a pessoa só vai ao passado
quando precisa acessar a fonte e o início do problema.
Ela busca nesse processo o que a pessoa precisa
para que seja possível ressignificar suas experiências.
87
Chegou a essa conclusão, depois de experimentar e
pesquisar amplamente todas as técnicas existentes.
Acredito que essa perspectiva se harmoniza com minha
orientação como espírita e amante da obra de Chico Xavier
e Allan Kardec. Isso porque, compreendi que Emanuel não
recomendou a prática da regressão, exatamente, para evitar
as especulações, movidas pela curiosidade.
Existe uma regulação do mundo psíquico, das
potências psíquicas, espirituais, que estão relacionadas ao
moral da pessoa. O que justifica que pesquisadores do
campo da regressão, como Weiss e outros, apenas tenham
atuado sobre aquelas áreas em que o sujeito da terapia
precisasse para resolver problemas e não para especular.
Assim, pode-se compreender por que a terapia foca
em outras vidas e não em experiências relacionadas ao
umbral. Até porque, o motivo pelo qual a consciência leva
a pessoa a experimentar a tormenta umbralina está nas
escolhas realizadas durantes as existências físicas. Nesse
sentido, existência física é causa, enquanto o mundo
88
espiritual é efeito. Enquanto estivermos na condição de
tomar um corpo, de encarnar, estaremos promovendo
causas e as consequências se expressam no plano espiritual.
No âmbito terapêutico o foco são as causas, o que
explica porque na TVP, como em outras abordagens, a
pessoa é conduzida para uma vida pretérita, com vistas a
ressignificar as ações que causaram ou geraram sequelas
que ela vivência na atualidade, mas que não foram geradas
na vida presente. A partir daí, ela pode desenvolver e
trabalhar moralmente a questão.
Sou uma pessoa focada nas questões espirituais e,
ultimamente, tenho me sentido desanimada,
desmotivada e desinteressada em relação às questões
materiais de modo geral, bem como da conflituosidade
do mundo em que vivemos. Há algo errado comigo?
Podemos dizer que casos como o descrito nessa
questão, revelam que a pessoa tenha encontrado na
espiritualidade a desativação das aflições e tormentas: o
que, geralmente, estimula as pessoas no mundo.
89
Esse estado é crescente, apresenta desafios
permanentes, mas é dadivoso. Porque uma alma que se
encontra e passa a se sentir, começa a perceber que não
precisa mais de tantas coisas.
Isso me faz recordar de Gandhi24, em um episódio,
apreciando joias e as pessoas imaginando que ali havia
algum tipo de cobiça. Sem julgar o uso delas, afirmou que
estava apenas apreciando quantas coisas lhe eram
totalmente desnecessárias para a vida.
É preciso ter bastante equilíbrio para abordar esse
assunto, sem diminuir ninguém, nem excluir ninguém de
suas experiências. Afinal, como disse Jesus, "no mundo
tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo"
(João 16:33) 25 . Revela, assim, como o mundo tem
seduções e estimula a promoção das consequências morais,
após cada investimento, após a vivência de cada
experiência.
O dinheiro, o sexo, os títulos e tudo o mais que há
por aí são todas condições do processo reencarnatório.
90
Enquanto somos homens e mulheres, estamos sendo
provocados pelas situações. Aqueles que se apegam ao
dinheiro, por exemplo, partem do egoísmo que se
manifesta pela usura.
Cada situação permite que a pessoa experimente à
exaustão até que ela se desencante, porque desapegou. O
que pode ocorrer por um drama ou pelo falecimento. Mas,
nesse último caso, não é incomum que a pessoa permaneça
apegada àquilo que ela já estava quando encarnada, seja
dinheiro, poder, propriedades, até se conscientizar de que
não está mais no plano material.
Portanto, trata-se de um sofrimento significativo e
por vezes longo demais para que a pessoa avance no campo
do aprendizado moral. Todas as coisas têm encanto,
exatamente para atrair os que necessitam daquela prova
como experiência e aprendizado moral.
Quando percebemos que as pessoas ao nosso redor
estão o tempo todo correndo atrás dessas mesmas coisas,
isso ocorre porque eles carecem disso, ou melhor, ainda
91
carecem disso. O que ocorre para que haja um esgotamento
de algo que está em seu íntimo. Mas, quando chegar a esse
ponto, a pessoa é chamada a prestar atenção a outros
valores.
Aquele que já venceu tudo isso ou que passa
voluntariamente a ver as coisas de outra forma, abraça a
simplicidade. O que o permite trilhar seu caminho pela
Terra de modo menos apaixonado, seguindo um estado de
alma daqueles que se espiritualizam verdadeiramente.
Importante ressaltar, que nada é proibido, porque
tudo que foi criado por Deus ou que os humanos criaram
com a permissão de Deus, existe como instrumento que
auxilia o amadurecimento dos indivíduos. Mesmo havendo
perversidade, é preciso que se diga que necessitamos da
perversão para compreender o equilíbrio.
A explicação dos espíritos é que o problema está no
usufruto de cada coisa. Ao criar artifícios, o ser humano se
opõe a Deus, coagula a luz, a densifica. Mas, essa oposição
92
também o maltrata de alguma forma, a adoração ao
dinheiro, como outros excessos, também fustiga a pessoa.
Tudo tem um limite, que se revela quando a pessoa
começa a se perder nos excessos. A exacerbação da
necessidade leva-a a esse ponto. A partir do processo de
esgotamento, surge a possibilidade de se tornar mais
humilde, sendo levado a um período de tratamento e,
eventualmente, a um ponto de equilíbrio. Digo, então, o
seguinte: não podemos difamar o que existe, nem nos
apaixonar cegamente por isso. O espírito existe sem a
matéria, o que explica a necessidade de ser senhor e não
escravo da matéria.
Se o espírito consegue se colocar na situação de
senhor da matéria, encontrará a paz. Na situação contrária,
ele se torna um escravo que vai realmente precisar passar
por situações que o levem ao despertamento.
Podemos criar uma espécie de metáfora, é como se
vivêssemos um momento em que o gado antes confinado,
está vivendo sem a situação de confinamento, isso é
93
transição. É tempo de viver sem cerceamento, tempo de
aferição, no qual cada um tem que conhecer por si, o que
pode e o que não é bom.
É a hora da emancipação. As pessoas podem estar
iludidas, mas elas não são isso. O que ocorre é que estão
se compensando com fugas, envoltas por sistemas que
estimulam. Entretanto, haverá sempre um momento em
que poderão dizer que não querem mais, mesmo sem ter
chegado ao excesso. Trata-se de despertamento.
Sou uma pessoa melancólica e tudo me fere com
facilidade. Já pensei em suicídio, hoje faço terapia e
tenho buscado me aprofundar na doutrina espírita.
Esses seriam sinais de que eu estaria fracassando em
minha jornada reencarnatória?
Quando resolvemos fazer uma caminhada de
evolução consciente, seja pela via terapêutica e ou pela
espiritual, é importante insistir no aprofundamento do
estudo de nós mesmos. O que envolve sua história de vida,
infância, juventude, vivências e momentos que atravessou.
94
Trata-se de uma base terapêutica na qual a palavra
tem centralidade. Todo processo terapêutico analítico visa
a cura por intermédio da fala. Isso porque a própria pessoa
precisa se escutar, se sentir e se ressignificar. Tomar a
atitude em prol dessa perspectiva, representa estar no
caminho certo.
Considerando minha experiência com a doutrina,
com a busca do autoconhecimento, e do ponto de vista
terapêutico, é necessário compreender que tudo isso requer
paciência. Ter paciência conosco mesmo é um requisito. Ir
com calma, mesmo que tudo pareça muito lento, é algo do
qual não podemos prescindir.
Assim como uma caminhada longa inicia com o
primeiro passo, não se deve dar tanta importância ao todo,
mas nos aplicarmos àquilo que nos cabe a cada dia. Nessa
perspectiva, comece a perceber cada passo que foi dado,
buscando se satisfazer com isso.
Se considerarmos simbolicamente uma
reencarnação, temos que ela começa na gestação, passa
95
pelo nascimento, as várias fases da infância, compreendida
pelos espíritos até os 7 anos de vida. Depois disso, ainda
são mais 7 anos de ambientação, que antecedem a fase
adolescente.
Na fase adolescente, a partir dos 14 anos ocorre um
ciclo de abertura do passado, em que se misturam
elementos da sua existência atual com as precedentes, fase
na qual emerge uma conflituosidade (para alguns mais
enfática que outros).
Aos 21, ao menos teoricamente, a pessoa está
pronta para a idade adulta. Fase de muitas decisões e
escolha de caminhos, até que entramos na etapa do
envelhecimento, em que ocorre o declínio das forças
físicas.
Nessa última etapa, as possibilidades já não são
tantas, mas há um acervo de vida, que pode te induzir a
meditar, a escolher melhor, a pensar melhor. Há liberações
de substâncias no cérebro que só acontecem nessa fase do
96
envelhecimento, e, elas te ajudam a ser você mesmo, a ter
escolhas maduras nesse final de existência.
Remetemos ao trabalho da reencarnação porque ele
é um exemplo muito caro do exercício de paciência. Cada
pessoa tem que passar por suas fases de vida, não lhe é
dada a possibilidade de saltar, de sair da infância para a
velhice.
Chico Xavier, certa vez, brincou com isso, ao dizer
que sempre que imaginava que teria que reencarnar e
passar por todos os processos, enfrentar a adolescência,
clamava por mais tempo naquele corpo para que pudesse
aproveitar mais a existência.
Costumo afirmar que demoramos, em geral, cerca
de 20 anos das nossas vidas para, aí sim, iniciar uma fase
mais consciente da vida. Paciência é o segredo! Se você já
encontrou na terapia e na espiritualidade as portas, resta
cultivá-la. Realmente difícil é quando a pessoa ainda não
encontrou esses caminhos.
97
Em favor das outras pessoas renuncio a tudo, até
mesmo ao meu bem-estar. Estou sempre me sabotando.
Como explicar esse comportamento?
O tema abordado reflete um problema de
autorreconhecimento, o que nos remete às vivências dessa
pessoa, especialmente, na fase da infância. Esse
comportamento, tecnicamente se origina da vivência no
que Sigmund Freud classificou como fase fálica, que se
refere ao período entre os 3 e 6 anos de idade.
Se for realizada uma pesquisa no histórico da
pessoa, muito provavelmente, iremos vê-la não sendo
capaz de se enxergar, de se sentir importante.
Nessa fase da vida, a criança começa a se
sociabilizar e precisa mostrar que tem habilidades, que
sabe fazer algumas coisas. É o contexto no qual precisa se
ver para se achar competente. Tal estímulo vem,
principalmente, do pai e da mãe, como suprimento
essencial.
98
Ainda que outras pessoas busquem compensar, a
fonte principal são os pais. Trata-se da raiz psíquica desse
ser. O que significa dizer que, se ela foi estimulada, mas
foi excessivamente, sem realização de cortes e limites,
cultiva-se o narcisismo, podendo se tornar uma espécie de
ditador. Mas, sob um outro enfoque, se os pais não a
enxergavam e estimulavam, a pessoa não consegue se ver,
se dar importância.
As pessoas que vivem esse quadro, desenvolvem a
prática de buscar, de algum modo, conquistar afetos de
todos. De um modo mais incisivo, pode-se até mesmo falar
em tentar comprar o afeto dos outros. Porque esse
procedimento instintivo se torna uma forma de receber
migalhas do reconhecimento que não obteve de seus pais,
no momento correto. Isto é, na etapa de vida em que esse
aspecto é formado na psiquê.
Trata-se de algo mais sério e mais comum do que
parece. Muitas pessoas entendem que por serem adultos já
superaram desafios vividos na infância. No entanto, tudo
99
isso fica guardado no inconsciente e permanece sem ser
processado. De outra forma, ao buscarmos enfrentar e
trabalhar esses aspectos do psiquismo nessa existência,
tornamos mais fácil o trabalho dos espíritos em relação a
nós, após o desencarne.
É preciso que se diga, que o trabalho terapêutico
não se restringe ao gabinete do analista. No trato com a
doutrina espírita, a pessoa tem possibilidades de realizar as
reflexões que irão colaborar para sua revisão íntima. Pode
conseguir trazer do passado seus traumas e trabalhá-los.
Isso porque o espiritismo tem recursos para isso.
Especialmente, quando são criados laços de amizade e um
grupo fraterno com pessoas com as quais essas questões
poderão ser partilhadas. Trata-se também de um processo
terapêutico.
Acima de tudo, o Evangelho representa uma terapia
de iluminação interior. Resumidamente, existem dois
caminhos possíveis, que podem ser complementares. Um
deles é lançar mão dos recursos técnicos profissionais que
100
permitam a regressão aos momentos traumáticos para
atribuir-lhes novo significado.
O outro está no próprio ambiente espiritualizado,
suportado pelos princípios doutrinários, que possibilitam
criar espaço para rever o passado, dar visibilidade a ele e
revisá-lo.
Seguindo um desses caminhos ou ambos, com
certeza, é necessário rever e ressignificar os pontos mortos
que foram herdados, para, assim, poder se enxergar e se
sentir. Esse é o caminho da cura!
Pensamentos negativos e pessimismo são fruto de
traumas do passado ou problema mental que pode ser
tratado via apoio psicológico?
O pessimismo é sempre fruto do chamado
complexo de culpa. Quando a pessoa não consegue se
afirmar, porque esbarra na menos-valia, ou, na baixa
autoestima, ela deve buscar identificar a causa disso para
ressignificar.
101
Todos nós somos egressos de muitas vidas. Reflexo
disso, no nosso inconsciente (se adotarmos uma
denominação freudiana), ou nosso self 26 (na designação
junguiana), sempre estaremos aquém, insuficientes,
porque trazemos gravado nele as escolhas infelizes ou
menos felizes que fizemos ao longo dessa e das demais
existências.
No entanto, quando reencarnamos, isso é
importante ser salientado para compreendermos a
relevância do processo terapêutico e de ressignificação, o
nosso lar se constitui como centro essencial de nossos
reflexos, conforme explica Emmanuel em Pensamento e
Vida27.
Isso significa que ali (no lar), a pessoa tem,
resumidamente, o mérito ou demérito do passado, que
estará configurado no tipo de pai e mãe, bem como de todo
o grupo familiar que está constituído. Trata-se de uma
herança. Ao imergir no processo reencarnatório, recolhe-
se as características do sistema dominante da família. Na
102
concepção freudiana, é o que se chama de Complexo de
Édipo.
Nesse sentido, torna-se herdeiro ou herdeira de mãe
e de pai, especialmente dela, da figura materna. Ela tem a
primazia porque gera, constitui o primeiro universo da
criança. Nesse sentido, o pai é o que chega depois, como
lei, como o outro, aquele que vai fazer o corte edípico,
levando-a a perceber que a mãe não lhe pertence. Trata-se
de um processo muito sábio.
Lembro de uma fala do Chico Xavier, no antigo
programa Pinga Fogo 28 , no qual dá uma aula sobre
complexo de Édipo e o vincula às questões que o ser traz
de seu passado, de suas vidas pretéritas. Em passagens
como essa podemos reconhecer o quanto Emmanuel, por
intermédio do Chico, trouxe reflexões e explicações,
pautando-se na psicanálise freudiana. De modo que o
indivíduo irá crescer cercado de condições de si mesmo.
Quaisquer que sejam suas reclamações, relações com pais,
103
irmãos, e, por aí afora, representam reclamações de si
mesmo.
Assim, se a pessoa se mostra menos sorridente e
mais mal-humorada (pessimista) e encontra situações que
não a estimulam à recomposição, isso pode ser devido ao
fato de que, no processo reencarnatório, ela está colhendo
frutos de modo expiatório. Como resultado, ela pode
manter-se em um padrão de negatividade.
São muitos os exemplos. A vivência no núcleo
familiar pode promover a interação entre uma mãe
agressiva, que desdenhe da criança, chamando-a de burra.
Em outra circunstância, pode conviver com pais
embriagados e irresponsáveis, e, por qualquer coisa, a
criança é espancada.
Núcleos familiares conturbados, nos quais há
muito desrespeito com as crianças são a realidade de
muitas pessoas e foram assim ao longo do tempo.
104
Há pouco tempo começamos a olhar para a infância
e dar novo significado e respeito a ela. Mesmo assim, ainda
se trata da vivência de muitas pessoas. Por isso
predominam as relações neuróticas e violentas, por vezes,
excessivamente patológicas.
O sofrimento traz perdas evidentes para aqueles
que estão submetidos a ele. Mas, também há ganhos,
porque todo o sofrimento que é compreendido e superado
torna-se um ganho para a alma. Isso porque o buril não fere
aleatoriamente. Se a pessoa perdeu o prumo moral, não foi
exatamente o lar que promoveu isso, mas que permitiu a
continuidade de algo que ela já realizava.
A partir daí, há um mecanismo, explicado pelos
espíritos, que é o de saturação. Nesse processo, mesmo que
a reencarnação não seja planejada, ocorrerá por afinidades
e a convivência promoverá a oportunidade de esgotamento.
Tudo se dá no tempo, como o tempo da rebeldia, da vilania,
e, por aí afora.
105
Deus usa o tempo e não a violência. Nessas
experiências em que existe a ausência do planejamento
reencarnatório, os elementos que dela participam vão
esgotando, andam juntos até o esgotamento. No entanto, a
espiritualidade está sempre atenta porque ainda que a
reencarnação se dê sem preparos maiores, não significa
ausência de amparo, ele sempre existe.
Afinal, conforme apontou Paulo de Tarso, "em
Deus existimos e nos movemos”29, tudo é Deus e o próprio
espírito foi por ele criado. E ainda, as atribuições que
temos e desenvolvemos, essencialmente, são divinas,
mesmo que sejam maculadas por um tempo, que as
deixemos tortuosas temporariamente.
Ocorre que isso se dá por um tempo e não por todo
o tempo. Isso posto, à medida em que ocorre o processo de
saturação, vai abrindo espaço e nele há sempre alguém
para levar uma mensagem.
Quando a pessoa consegue enfrentar essa energia
de revolta, de trauma e se propõe a revisar sua vida, sua
106
infância e suas relações com o apoio psicoterapêutico
responsável, ela se torna mais serena, mais equilibrada. O
poder disso é comprovado todos os dias para aqueles que
procuram a cura.
A pessoa precisa retornar! Jesus mesmo disse isso
no evangelho, quando se refere a Nicodemos, afirmando
que "não subiu senão aquele que desceu" (João 3:13)30.
É preciso revisar, afinal temos bases muito
suspeitas, de valores e concepções que foram sendo
sedimentadas umas sobre as outras. De modo que, quando
conhecemos a Doutrina Espírita, ficamos admirados
porque ao estudar a obra de Kardec e dos espíritos por
meio de Chico Xavier, fica evidente o quanto estamos em
processo de revisão de conceitos, como família, pátria,
cultura religiosa.
Essa revisão propõe a renovação mental, sem a qual
não mudamos. Em síntese, buscamos evidenciar que o
pessimismo e o mau-humor expressam a estrutura
comprometida, refletindo uma visão distorcida de si
107
mesmo. Afinal, quando temos uma visão distorcida de nós
mesmos, maléfica e pervertida, não conseguimos enxergar
nada com equilíbrio e sanidade.
É um tema da saúde mental, para a qual o mundo
só agora está mais atento, compreendendo o quanto ela é
relevante. Inclusive, por ser responsável pelos malefícios
que se expressam em nosso corpo. Um problema estrutural,
por sua vez, exige revisão. Tudo que está inconsciente
precisa ser trazido à tona, tornar-se consciente.
Esse é o objetivo da profunda espiritualidade que
se refere à experiência de Deus e pode contar com o
recurso terapêutico, quando possível. Nesse sentido, o
espiritismo é precioso para nos ajudar nessa revisão
profunda da alma, porque vai além dessa existência, nos
auxiliando na tarefa de repensar a nós mesmos.
Se chegamos ao plano da humildade e nos
recolocamos como aquele que deseja a regeneração, é
porque o processo aconteceu. Ressignificamos em outro
108
padrão, o da verdade espiritual, que passa a dinamizar
nossa vida nos permitindo um olhar otimista sobre ela.
Sinto desânimo de continuar lutando pela vida, mesmo
sabendo que há pessoas que dependem de mim. Tenho
dúvidas se isso seria uma forma suicídio indireto e
quais as suas consequências?
31
A psicosfera da nossa Terra evidencia
perturbações que se agravaram nos últimos anos, como se
fosse uma enchente que traz as águas do esgoto para a
superfície, contaminando tudo. Frente a isso, é natural que
as pessoas se sintam afetadas por esse quadro.
No entanto, há casos em que a pessoa se sente sem
energias para lutar pela vida, quando ela apresenta
inúmeros desafios, ainda que seja consciente do momento
e das dificuldades que nos afeta a todos. Em geral,
costumam ser sintomáticos de alguém que não se revisitou
em profundidade, buscando ressignificar os
acontecimentos que marcaram sua vida pessoal.
109
As cargas de mágoa, tristeza, sentimento de
abandono vão ficando acumuladas, como se a pessoa
estivesse e, de fato está carregando muitas coisas. Daí que
se arraste na vida. Frente a isso, importante ponderar que,
uma pessoa que consegue abrir o coração para Deus, em
uma proposta de espiritualidade, de religiosidade, que se
entregue, irá exonerar essa carga.
No cristianismo, temos vultos que representam isso,
como a entrega de Maria de Magdala que assombrou o
mundo. O que se deu por sua capacidade de encontrar a si
mesma, depois de ter visto o Mestre e aceitar o holocausto
no próprio corpo, na feição da lepra.
Pedro, mais turrão, conseguiu se entregar por meio
da obra cristã na Casa do Caminho. João, em sua
ingenuidade, o último a partir, nos ensinou a enxergar o
Cristo divino e a pureza do espírito de Jesus.
Tomé que não acreditava em nada sem provas,
acabou também encontrando seu caminho. Assim também
110
a humanidade vai sendo honorificada com figuras que vão
se despertando.
Aprendi isso com meus mestres (Sr. Honório
Abreu, Sr. Agripino, Arnaldo Rocha, pessoas das quais
jamais irei me esquecer) sobre a importância de prestar
atenção naquilo que é de Deus para podermos nos inspirar
e fazer o melhor.
A questão também nos remete a um episódio
elucidativo, quando em 1981, Chico Xavier concedeu uma
entrevista na Fundação Marietta Gaio (no Rio de Janeiro).
Na ocasião, relatou que tinha muita alegria de ver e
conviver com os espíritos quando era jovem, mas todos
diziam que ele conversava com o demônio.
Chegava a receber penitências para sua depuração.
Embora ele tentasse mostrar à família e aos sacerdotes que
não se tratava de demônios, mas de pessoas da família,
pessoas que expressavam amor e ternura, isso o levava a
viver um conflito muito grande, sentindo-se muito
castigado e oprimido.
111
Na ocasião da entrevista, ele revela que, mesmo
depois de tanto tempo de vida espírita, somente então se
sentia liberado de todo aquele sofrimento. O que significa
que foi aos 70 anos, quando conseguiu se exonerar
daqueles sentimentos e marcas causados pela profunda
opressão. O que implica em uma vida com sentimento de
culpa, de não reconhecimento de si próprio, cuja superação
levou muitos anos.
Digo isso porque pela fé é possível superar os
traumas causados por essa vivência. Mas, é importante
dizer que o apoio psicanalítico contribui de modo muito
significativo para impulsionar essas liberações,
permitindo ressignificar muitos passos da infância, da
adolescência e até mesmo da fase adulta que ainda não se
conseguiu digerir.
Portanto, há muitos recursos para que o indivíduo
possa despertar sua consciência e assim, nada no mundo
irá lhe doer da mesma forma. É importante lutar por isso!
112
12 Segundo o psicanalista Carl Jung, os arquétipos são padrões
de comportamento, imagens, símbolos e temas que estão
presentes no inconsciente coletivo da
humanidade. Representam as motivações básicas dos seres
humanos, que são transmitidas de forma inconsciente e coletiva,
e são considerados "heranças psicológicas" dos antepassados.
13
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Brasília:
Federação Espírita Brasileira, 2013.
14
BÍBLIA. Novo Testamento. Mateus 24:13.
15
BÍBLIA. Novo Testamento. Mateus 12:43-44.
16
BÍBLIA. Novo Testamento. Mateus 12:43-45
17 Arnaldo Rocha é uma figura conhecida no movimento
espírita brasileiro. Ele foi o marido de Irma de Castro Rocha,
conhecida como Meimei, uma médium e educadora brasileira.
Arnaldo Rocha também colaborou com Chico Xavier e foi um
dos fundadores do Grupo Espírita Meimei, que tem como
objetivo promover a Doutrina Espírita.
18
XAVIER, Francisco Cândido. Cinquenta Anos Depois. 1.
ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1940.
19
XAVIER, Francisco Cândido. Renúncia. 1. ed. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944.
20 XAVIER, Francisco Cândido (Emmanuel). Vida e Sexo. 1ª
Edição. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB),
1970. O livro "Vida e Sexo" é atribuído ao Espírito
Emmanuel, aborda temas relacionados à vida sexual e
emocional sob a perspectiva da Doutrina Espírita, oferecendo
orientações sobre como lidar com questões como casamento,
divórcio, relacionamentos, e outros aspectos afetivos e sexuais.
21
Wilhelm Reich foi um psiquiatra, psicanalista e escritor
austríaco-americano, conhecido por suas teorias sobre a
sexualidade e a bioenergética. Foi uma figura controversa, e
113
suas ideias foram amplamente debatidas e criticadas durante
sua vida. Ele foi preso e morreu em 1957, enquanto estava na
prisão.
22 CAMPOS, Humberto de (Espírito). Boa Nova. 1ª Edição.
Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB), 1941.
23Brian Weiss é um psiquiatra e escritor americano, conhecido
por suas obras
sobre reencarnação e terapia de vidas passadas. Ele
começou a explorar essestemas após uma experiência com um
a paciente chamada Catherine, que relatou
experiências de vidas passadas durante sessões de hipnose.
Isso levou Weiss acreditar na sobrevivência da alma após a
morte e a desenvolver a terapia de vidas passadas como uma
forma de tratamento para fobias e outras condições.
24
Mahatma Gandhi, cujo nome completo é Mohandas
Karamchand Gandhi, foi um líder político e ativista indiano,
conhecido por seu papel crucial na luta pela independência da
Índia do domínio britânico. Ele é amplamente reconhecido por
sua filosofia de não-violência (Satyagraha) e desobediência
civil. foi assassinado em 30 de janeiro de 1948. Ele foi baleado
por três vezes por Nathuram Godse, um nacionalista hindu,
enquanto subia as escadas da Casa Birla, em Nova Deli, Índia.
A morte de Gandhi abalou profundamente a nação e o mundo,
e ele é lembrado como um símbolo de paz e resistência não-
violenta.
25
BÍBLIA. Novo Testamento. João 16:33.
26
Carl Gustav Jung foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço,
fundador da psicologia analítica. Ele é conhecido por conceitos
como inconsciente coletivo, arquétipos, sombra, anima e
animus, e individuação. O conceito de Self em Jung é central à
sua psicologia analítica. Ele representa o total de nossa psique,
englobando tanto o consciente quanto o inconsciente. O Self é
a totalidade do ser e a essência verdadeira de uma pessoa,
114
simbolizando o ponto de integração de todos os aspectos da
personalidade.
27
XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida. 1. ed. Rio
de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2013.
28 Pinga-Fogo foi um programa de televisão veiculado pela
extinta TV Tupi São Paulo. O programa Marcou a história da
televisão no Brasil ao entrevistar Francisco Cândido Xavier em
28 de julho de 1971, alcançando a maior audiência já
registrada na história da TV brasileira, com 75% dos
televisores brasileiros ligados no programa.
29
BÍBLIA. Novo Testamento. Atos 17:28.
30
BÍBLIA. Novo Testamento. João 3:13.
31
A psicosfera é um termo utilizado principalmente na
literatura espírita para descrever a "atmosfera psíquica" ou
"campo mental" que envolve uma pessoa ou um ambiente.
Essa "atmosfera" é composta pelos pensamentos, emoções e
energias que são emanadas por indivíduos e coletivos.
115
DESAFIOS E SUPERAÇÕES NO
AMBIENTE FAMILIAR
116
O que se pode falar, à luz do espiritismo, sobre os
conflitos familiares de modo geral (entre pais, pais e
filhos, entre irmãos), e até mesmo sobre filhos
tramando e por vezes executando a morte de pais?
O espírito Emmanuel, no livro “Pensamento e
Vida”, quando se refere a família, indica que o lar é o
centro essencial de nossos reflexos. Essa afirmativa pode
ser considerada como uma equação divina. Para
compreendê-la, vamos pensar em um lago de águas
tranquilas em que se transmite equilíbrio, refletindo o céu
azul.
Ao jogar uma pedra no meio desse lago haverá um
rasgo, produzido no local em que ela cair. A pedra causa
uma erupção de água, a primeira onda levanta água e passa
a propagar, com força cada vez menor do centro para a
borda.
O centro essencial de nossos reflexos é exatamente
esse ponto de onde propagam as ondas de energia
promovidas pelo desequilíbrio. Se colocarmos a família
nesse raio a partir de onde se propagam as ondas, teremos
117
aqueles elementos com os quais temos maior ou menor
cota de problemas em relação a nós mesmos. O que
significa que atraímos aquilo que construímos no passado,
que pode ser negativo ou positivo. Portanto, teremos nesse
núcleo familiar, tanto o lado bom como o lado conflituoso
e desafiador, exigindo a convivência, por vezes, muito
conturbada.
No livro “Vida e Sexo” e em outras obras, como
um pequeno livro intitulado “Família” 32 , Emmanuel
mostra como a paternidade e a maternidade representam
uma forma de devolver vidas que, em muitos casos, foram
retiradas em outras existências.
Em outros casos, os pais assumiram o
compromisso de trazer o espírito para perto de si, para
dedicar-lhe cuidados, em forma de abnegação, paciência e
dedicação. Dessa forma, restaurando o que tiraram em
outras existências.
Indica ainda, que comumente, filhos homens são
almas que já estiveram em outras vidas ao lado dessa mãe
118
como parceiros, o que também se dá para pai e filhas. O
exercício da paternidade e da maternidade, portanto, os
coloca em outro tipo de relação, na qual é possível resgatar
erros do passado, tecendo novas formas de amor.
Também existem aquelas relações que são
construídas com valores harmoniosos, laços profundos e
que puderam encarnar no mesmo núcleo familiar. Esses
amigos de muitas vidas, ao reencarnarem como filhos ou
filhas podem assumir o papel de auxiliares na missão
daqueles que estão na posição de seus pais. Auxiliam com
os outros irmãos, por exemplo, que são desafios e que
exigem dos pais ou da família mais esforço na execução de
sua tarefa.
A amplitude de possibilidades e desafios para
pensar lar e família já havia começado a ser esclarecida
pelos espíritos no Evangelho Segundo o Espiritismo. O
capítulo XIV trata da ingratidão dos filhos e os laços de
família.
119
Kardec publicou o texto que permite compreender
o quão amarga é a ingratidão de filhos em relação aos pais,
mas também que ela trata de um resgate do passado, que
exige humildade e paciência.
Nas palavras do doutrinador, “os laços de família
não sofrem destruição alguma com a reencarnação, como
o pensam certas pessoas. Ao contrário, tornam-se mais
fortalecidos e apertados”.33
A família é, antes de tudo, um laboratório de
experiências reparadoras, na qual a felicidade e a dor se
alternam, programando a paz futura.
A título de exemplo, citamos uma orientação que
solicitamos aos espíritos para uma família que enfrentava
muitas dificuldades com o filho. Sobre esse caso, nos foi
esclarecido que aquele pai era um grande devedor do filho
e que ainda não havia entendido que o resgate deveria ser
por meio do amor e da paciência.
120
Todo o amparo material, com acesso à educação,
dinheiro, exigências de dedicação seria em vão sem a
expressão sincera do amor. O esforço de superar a
agressividade e o ímpeto da opressão seria o único
caminho para quebrar as resistências inatas que o espírito
trazia gravada em sua alma.
Trata-se de uma busca de convencimento do
espírito sobre, nessa vida, o compromisso ser diferente.
Mesmo inconscientemente, a energia do passado é
percebida e o comportamento do filho rebelde é uma
reação a ela.
Sob outra perspectiva, muitos pais expressam de algum
modo a ausência de afinidades com filhos, ainda que não o
confessem. No seu íntimo, muitas vezes, resiste a admitir
que está obrigado a se dedicar ao filho.
O que significa que, onde prevalece o orgulho e a
presunção, não há espaço para a transformação. Ela vem
da aceitação, da humildade, da paciência. Nessa
121
perspectiva, Chico Xavier orientava pais e mães sobre a
necessidade de ganhar tempo, a importância da paciência.
Para mudar a ideia de suicídio de um filho,
explicava Chico, só o tempo e o investimento de paciência
dos pais geram efeitos reais. Não existe trabalho de
desobsessão ou sessões de passes que realizem
transformação sem esses ingredientes, porque elas são
instrumentos de auxílio.
A mudança ou a superação da ideação suicida
requer que sejam tratadas as causas, que estão colocadas
no tipo de relação estabelecida no lar. Nessa relação
doentia que ali foi estabelecida, filhos podem se tornar
obsessores dos pais e vice-versa.
E ainda, mães ou pais superprotetores podem
encarcerar seus filhos. Muitas vezes sufocando-os com
afeto exclusivista e egóico, até mesmo orgulhoso.
No livro dos Médiuns, Kardec deixa claro que a
obsessão só pode ser curada com dois ingredientes,
paciência e oração. Paciência é necessária porque se trata
122
de uma reconstrução de laços partidos na trajetória de
existência desses espíritos. É necessário caminhar muitas
milhas para que se sintam realmente convencidos das boas
intenções da experiência presente.
Nessa mesma linha, um exemplo que é bem
conhecido, se refere à relação do médium Divaldo Franco
com o espírito que o obsediou por muitos anos, mais de
duas décadas, e, que ficou conhecido como Máscara de
Ferro.
Chico chegou a receber esse espírito que tinha um
caderno cheio de anotações de tudo o que ele havia feito
ao Divaldo, em uma trajetória de perseguição. Esse ódio
vinha de uma relação muito negativa em outras
experiências de vida.
No entanto, ele só se convenceu de que aquele a
quem perseguia já não era o mesmo e que estava dedicado
a se redimir de erros do passado por meio de suas ações.
O que ocorreu quando Divaldo recebeu uma criança
123
abandonada, em condições muito precárias, para ser
acolhida na Mansão do Caminho.
Nessa ocasião, a instituição estava complemente
sem recursos para receber mais uma criança. Mas
provocado por sua mentora a pensar como Jesus faria
naquela circunstância, ele resolveu acolher a criança. Foi
então que o obsessor, finalmente, se sentiu convencido de
que não havia mais sentido persegui-lo. Se sentiu grato,
revelando que aquela criança era reencarnação de sua mãe.
A solução das lutas familiares está na necessária
vibração do amor, do acolhimento, da compreensão. Jesus
trata dessa questão, incitando-nos a receber os estrangeiros
em seu nome (em Mateus 25:35).
Afinal, quem são os estrangeiros a quem Jesus se
refere? São aqueles com os quais não nos sintonizamos
plenamente, não temos afinidade, mas que recebemos
como filhos, filhas, irmãos, irmãs.
124
O convite é para o acolhimento, para amar de
verdade, aceitando-os como são. Aceita e abraça, esse é o
caminho da mudança e da harmonia. Tolerância e
humildade são chaves desse processo.
Quando queremos impor conduta e pensamento,
ampliamos o conflito e a desconfiança, afastamos aqueles
com quem nos comprometemos. A luta familiar é plena de
laços comprometidos, cuja união constitui oportunidade de
reconstrução.
Como explicar o comportamento de uma criança que
aparenta ser dócil e amável, ao mesmo tempo em que
dá sinais práticos de uma índole hostil e destrutiva?
É preciso ter muito cuidado no caso de uma criança.
São 3.000 dias de hipnose profunda. Até os 7 anos, ela está
sob um estado de hipnose que restringe sua forma
espiritual. O que ocorre para que possa constituir, desde a
forma embrionária, até a formação de um novo ser
corpóreo.
125
Então, é difícil dizer que uma criança nessa fase da
vida tenha consciência. Existe a possibilidade de que
alguns traços da vida espiritual pretérita sejam
visibilizados nessa etapa da infância (até os 7 anos).
Efetivamente, isso vai ser possível mesmo na etapa
seguinte, dos 7 aos 14 anos, e, principalmente, dos 14 anos
em diante.
O que é mais provável nessa etapa da infância, é
que a criança esteja demonstrando, refletindo, o que ela
capta do lar. Se o lar é desarmônico, se tem muito atrito,
muita mentira, infidelidade ou outros quadros, a criança
funciona como um escoadouro desse ambiente.
Quando essa criança é levada a um médico
homeopata, ou ao orientador espiritual na Casa Espírita,
tanto um como outro tendem a apontar um estado de
tormenta que é reflexo do lar. Isso porque ela reflete
psíquica e espiritualmente o lar.
De fato, nós podemos começar o estudo do espírito
reencarnante desde o momento em que inicia sua jornada.
126
No entanto, é preciso compreender que nessa primeira
etapa ele ainda está muito bloqueado. Claro que ele pode
ter uma série de problemas, revoltas, recalques que vêm
consigo na alma. Inclusive, pode sentir ameaças por estar
em contato com os espíritos que o receberam como pais.
O processo reencarnante na configuração do lar
reúne afetos, mas também desafetos, muitas vezes
profundos. Portanto, por vezes, a rebeldia dessa criança
pode ser uma espécie de febre moral que expresse o
desconforto com o pai ou com a mãe, até mesmo com a
união daquele casal.
O que significa dizer, que não é propriamente uma
questão de índole, mas de uma trama que expressa que
existe algum tipo de problema na união desse grupo,
demandando evangelho, terapêuticas, muito amor e
compreensão para vencer isso.
127
Aos 9 anos de idade, a separação dos meus pais me
levou, junto com meus irmãos, a vivenciar muito
sofrimento na relação com eles. Sofri assédio por parte
do meu pai, abandono por parte da minha mãe e, ao
longo da vida, enfrentei convivências conflituosas e
dolorosas. O que poderia ser dito para acolher um
coração como o meu?
Trata-se de um quadro complexo, que representa
um resgate do passado. Esse núcleo familiar, cuja
interação foi doentia, são espíritos para os quais você
colaborou de algum modo para que tivessem essas marcas
dos vícios e da perversão no comportamento.
Refere-se a um pai pervertido e uma mãe
desequilibrada, que expressam um quadro que se repete no
mundo todo. Isso porque ainda não aprendemos a ter
dignidade nas posições que a vida nos coloca, seja na
paternidade ou na maternidade.
Por isso, ainda existem muitos casos em que
prevalecem o caráter instintivo e da predominância da
sensação. Somos muito sexualizados, frequentemente,
128
buscando satisfação sem consciência e sem harmonia
interna.
Ao par disso, do entendimento dessa prova,
considerando que você avançou, está amadurecida, deve-
se ter em conta que estas lutas e marcas são benditas. Isso
porque, mesmo que muito dolorosas, elas quebraram
sistemas ou atitudes que você já teve no passado.
Atuam como se te ajudassem a decodificar a dor
que determinadas atitudes estabelecem para quem as
comete e aqueles que são vítimas delas. São marcas de
aprendizado que, essencialmente, são iluminativas.
Afinal, quem não passou por agruras e pelejas, não
sabe viver. Só aqueles que passaram por vivências amargas,
duras e dolorosas, aprendem a viver. Nesse processo é que
a pessoa tem o terreno interno do psiquismo preparado e
passa a ter discernimento, tornando-se seletiva. É o que
permite que consiga atingir um padrão moral que, de outra
forma, não teria.
129
A pregação religiosa não é capaz de promover tais
mudanças. Isso porque ela não promove a real
internalização dos valores. Apenas a experiência
proporciona adesão à alma. Os dogmas religiosos,
frequentemente, tentam incutir princípios, mas, sem a
experiência, no máximo conseguem cercear a pessoa.
A vivência e travessia por tantos desafios, trabalha
toda a engrenagem energética do ser, possibilitando que se
modifique. Atua como se quebrasse áreas fechadas de seu
psiquismo ou da sua alma, como preferir.
Assim, compreende-se que uma jornada como a
mencionada na pergunta foi muito rica. A riqueza advém
desse conjunto de experiências que foram acumuladas,
enquanto é pobre aquele que não acumula vivências,
passando ileso pela vida.
Por mais doloroso que tenha sido o processo, ele
promove diversas aberturas para a vida. Daí que Jesus
tenha afirmado que seriam “bem-aventurados os que
130
sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o
Reino dos Céus” (Mateus, 5:10).
O sentido dessa bem-aventurança é o de ter o
terreno preparado, de tal modo que qualquer semente possa
germinar.
Considerando tudo isso, o que se pode dizer sobre
a relação com os pais a partir dessas experiências? É
importante compreender que honrar pai e mãe como uma
34
obrigação sagrada (Efésios, 6:2-4) , não significa
compactuar com eles em seus vícios ou bajulá-los.
Se abordarmos pelo viés psicológico, aprendemos
que filhos não resgatam pai e mãe, mas o inverso é que é
verdadeiro. Tanto assim que eles te deram uma nova vida,
assumiram o compromisso de te educar.
O que compete aos filhos é respeitar e honrar os
pais. O que se efetiva quando têm uma vida muito melhor
que a dos progenitores. Melhor em condutas, em buscas e
realizações.
131
É nisso que devemos pensar para seguir em frente
na jornada da vida, porque ao ser alguém melhor que seus
pais, do ponto de vista moral, promove-se uma quebra no
circuito expiatório e de condicionamento vicioso.
Como a doutrina espírita nos ajuda a compreender
estupro e outras formas de abuso sofrido por crianças,
realizado, frequentemente, por pais e outros parentes?
A Doutrina Espírita não trata especificamente de
questões como estas, mas nos proporciona os instrumentos
para compreender a Lei de Causa e Efeito em operação.
É preciso ressaltar, dentro desse tema, que existem
leis da sociedade, nas quais tanto a pedofilia, como o
estupro são considerados crimes hediondos. O que
significa que na Terra, por meio do que está consolidado
no Direito e expresso nas leis, não se admite que tais atos
sejam considerados aceitáveis.
Portanto, quem os prática está transgredindo uma
lei social, tripudiando sobre as regras da sociedade em que
vive. Quando ocorre, no entanto, e, de fato ocorre,
132
constitui um sintoma de que ainda estamos dentro do
processo expiatório. Isso porque apenas em um estado
expiatório, aberrações como estas acontecem.
Em Mateus 18:6-7, Jesus alerta que “é necessário
que venha o escândalo, mas ai daquele por quem o
escândalo vem”. Nesse sentido, pode-se dizer que na Terra
ainda se vê crimes como estes porque existem bolsões de
miséria moral, oriunda de desequilíbrios sexuais. Estamos
pensando, pois, pelo lado daqueles que praticam os atos.
Ao analisarmos o lado daqueles e daquelas que são
vítimas desses atos hediondos, trata-se de algo bastante
delicado. Mas, ainda que seja muito agressivo abordar o
tema de modo mais literal, na verdade o que se tem é um
mecanismo da lei de causa e efeito concedendo a cada um
segundo suas próprias obras.
Precisamos pensar os seres como espíritos eternos.
O que significa que, embora tenha sofrido o abuso na
infância, o espírito reencarnado possui uma trajetória de
outras vidas, trazendo um histórico vibracional.
133
Mesmo criança em tenra idade, essa vibração pode
atuar como uma forma de denúncia para fragilidades ou
vícios de comportamento do passado. Os “abutres” morais
são atraídos por essa vibração. O que remete à fala de Jesus
quando afirmou que “onde estiverem os cadáveres, aí se
ajuntarão os abutres” (Mateus 24:28)35. Essa afirmação é
muito profunda. Afinal, o que seriam os cadáveres nessa
afirmativa, se a pessoa está viva?
Significa que, mesmo ela não estando morta, há
algo dentro dela que está. São esses pontos mortos que se
tornam atraentes para aqueles que se alimentam da
infelicidade, do vício, da fragilidade ou da culpa do outro.
Podemos trazer para o diálogo o caso da
condenação tardia de sacerdotes que abusaram de crianças,
tanto meninos como meninas, e, que por vezes são
julgados já no limiar da vida.
Alguns podem pensar que seria tarde demais para
pessoas que já estão próximas ao desencarne. No entanto,
precisamos ter clareza que a lei divina não se cumpre em
134
uma existência, mas ao longo do percurso existencial do
espírito, proporcionando oportunidades para superação e
expurgo de suas ações e dos males praticados.
Sobre isso, podemos trazer a fala de Caim com
Deus, que é sua própria consciência, e, que ocorre quando
assassina seu irmão: em Gênesis (4: 13-14)36, afirma que
“é maior a minha maldade que a que possa ser perdoada.
Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me
esconderei; e serei fugitivo e vagabundo na terra, e será
que todo aquele que me achar, me matará”.
Ao se referir ao futuro, Caim está apontando para
as encarnações futuras. Mas, na sequência do diálogo
(Gênesis, 4: 15-16), tem-se que o Senhor Deus “pôs um
sinal em Caim para que, se alguém viesse a encontrá-lo,
não o matasse”. Que providência é essa?
Considerando que Deus não quer que ninguém seja
vilão, então o que ele permite é que o espírito possa
reencarnar com enfermidade, com limitações, em
situações muito precárias, por vezes rejeitado. Mas, como
135
se sabe, na Terra há muitos vilões, que vão querer abusar
dessas pessoas.
Podemos dizer que aqueles que caem nas mãos
desses abusadores de toda ordem, na verdade são aqueles
que estão marcados em suas almas, em suas consciências,
por delitos pretéritos.
Claro que é um tema muito delicado, mas de
acordo com o entendimento do Espiritismo, pensando sob
o prisma do espírito em sua vida eterna, tais delitos
expiatórios refletem a lei de justiça.
Como conviver com pessoas que, embora façam parte
do núcleo familiar, são motivos constantes de profunda
tristeza, perseguição e decepção? Como encontrar ou
trazer paz ao lar, no convívio com esses espíritos
encarnados?
Chico Xavier, como Emmanuel, tinham uma forma
diferente de abordar o merecimento de cada um, o
merecimento de enfrentar situações difíceis, de sacrifícios,
situações que poderiam ser enquadradas em expiação e
prova.
136
Eles as tomavam como merecimento, frente à sua
visão justa da lei e da misericórdia de Deus. Para ambos,
um caminho áspero, de renúncia, de humildade e paciência,
não era encarado como detestável. Aí está o clima da
verdadeira religiosidade.
Avoco essa lembrança, para lhes dizer que
situações desafiadoras no lar constituem nosso
merecimento. No sentido de serem oportunidades de
revisão de relações difíceis, como forma de atingimento de
um caminho de autoiluminação.
Não há nada igual no mundo, porque o que
laboramos dentro do lar, é mais ou menos idêntico ao que
fazemos dentro de nós mesmos. Isso porque o lar é o
cadinho purificador das almas.
Assim, ao invés de classificarmos outros membros
da convivência como ruins ou perversos, nossa tarefa é
envolvê-los com o “algodão da caridade e interná-los na
clínica da oração”.
137
Recebendo o benefício vibratório da oração,
podemos ajudar a nós mesmos contribuindo para o outro.
Nessa linha, Jesus afirmou "não resistais ao mal"37, porque
não é mal, é oportunidade de crescimento. Fazer esse
exercício te possibilita avançar e recusá-lo te deixa sem
adquirir o novo que lhe é oportunizado.
Aqueles que podem estar se sentindo vítimas,
podem se ver como operários de Deus, com compromisso
de auxiliar outra pessoa a ser melhor. Ela será tanto melhor
quanto mais a sua paciência avança, pouco a pouco, cada
dia mais.
Se você quer se trabalhar, alongue sua paciência e
sua humildade. O caminho da oração e o apoio de bons
espíritos constituem mecanismos capazes de desativar
ambientes de conflito e destruição.
138
Minha mãe adotiva, que sofre de depressão, fala coisas
ruins o dia todo (morrer, tomar veneno, lamenta a vida
e a perda de um irmão). Guarda muito rancor, mágoas,
principalmente, do pai dela já falecido. Como é possível
compreender essa situação?
O quadro dessa mãe revela a cronicidade das
neuroses sustentadas ao longo da vida, como se ela desse
notícias dos fantasmas que carregou na sua história. É um
momento revisional, que se dá em uma fase da vida de
grande desgaste dada a idade que avança.
Trata-se de um momento muito doloroso, mas
também de oportunidade de passar por isso ainda
encarnada. O que configura um grande benefício porque
possibilita fazer essa catarse, por mais difícil que seja para
aqueles que acompanham.
Recomenda-se aos filhos e familiares que não
olhem para ela como era há anos, mas como se visse uma
espécie de aparelho em desmontagem. Na verdade, esse
estado da alma e do psiquismo da mãe, que não foi
trabalhado no tempo, está realizando uma catarse.
139
Nessa aparente loucura, essa energia vai saindo, vai
sendo drenada. Parafraseando Chico Xavier,
recomendamos que a interne na clínica da oração e use o
algodão da caridade, visando filtrar e amenizar esses
dramas que ela tem vivido.
É importante permitir que ela viva esse processo
porque assim, de algum modo, ela está enfrentando o que
estava preso dentro dela e que, de outra forma, a levaria
para o Umbral que é um espaço para esgotar neuroses e
perturbações.
Fazendo isso no ambiente familiar, mesmo que o
corpo não esteja em suas plenas capacidades, a alma que
está encarcerada nele vai desmontando uma vida de medo,
de insegurança, de ira, de frustrações.
Portanto, não é algo ruim. Se de fato fosse algo
ruim, a lei divina, que é de amor e misericórdia, não
permitiria que as pessoas passassem por experiência
semelhante. A justiça divina caminha de mãos dadas com
a misericórdia.
140
Se ela tinha necessidade da catarse e tem o
ambiente em que possa fazê-la, cabe a nós respeitarmos o
momento de dissolução daquilo que para ela foi muito
ruim. Ela está gastando tal energia, o que implica dizer que
ao deixar o corpo estará mais aliviada.
Reencontrei um grande amor e assumimos nossa
relação. Nesse processo, ele saiu de uma relação de
submissão a mãe, assim como sua filha que tinha uma
relação abusiva com um namorado. Embora tenhamos
construído uma relação saudável, tempos depois ele
retornou e optou por voltar a viver com sua mãe. O que
se pode dizer sobre essa situação?
Sobre essa situação relatada, pode-se dizer que é
um processo de obsessões que vêm do passado. Quando se
fala em obsessão, o intuito não é de diminuir a situação e
tudo a que a ela remete. Tampouco caricaturar o esforço
das pessoas.
Fato é que, quando reencarnamos, existem linhas
de contato que estão definidas e nós todos carregamos
processos de fixação, apegos, ciúmes, assim por diante,
que definem nossas neuroses.
141
Isso posto, a pessoa já vem de suas vivências
familiares, suas experiências pessoais em construção. Mas,
aí você encontra um grande amor do passado, que é um
encontro de afinidades profundas, representado por uma
capacidade de entendimento e interação, o que é
reconfortante. Isso não significa ser caminho pleno de
felicidade.
Nessa situação, a pessoa com a qual se relacionou
possui um outro relacionamento de mãe e filho que é
carregada de apegos. O que pode expressar que, em vidas
pretéritas, tenha sido a parceira desse espírito hoje seu
filho. Ela vivencia a prova de sublimação de seu
sentimento, agora como mãe.
Ocorre que esse processo não é simples, não se
pode dizer que o exercício desse novo papel seja fácil para
ela, constitui um desafio. Sua reflexão seria compreender
o contexto, e, transitar por ele sem ampliar as dificuldades.
142
Para tanto, é possível que o amparo espiritual e
emocional, por meio de recurso terapêutico seja
necessário. Pode-se indicar o mesmo para ele.
O desafio psicanalítico é ressignificar as relações e
vivências, sem alongar as neuroses de pai e mãe que
herdamos ao longo da nossa interação. Sobretudo, no
período da infância. Na própria experiência da filha dele,
percebe-se um alongamento dos problemas que ele tem
com a mãe, de dependência e submissão. Evidencia um
reflexo. Ocorre que as pessoas têm que querer se curar, não
podemos curar pai, mãe, irmão, filhos, mas somente a nós
mesmos. Quando eu decido, eu quero, torna-se possível.
É o que o espiritismo ensina por meio do
evangelho, e o que o processo terapêutico da psicanálise
ensina com os seus recursos, que vieram de Freud, Jung e
tantos outros. Agora, o grande investimento a se fazer é na
pessoa mesma, porque ninguém salva ninguém.
Viemos aqui para nos entregar, para nos tornar
luminosos. O liberto que é algo que vem do âmago. O que
143
precisamos almejar, mesmo que isso se dê sem a
companhia do ser amado, ainda preso em suas
dificuldades.
É desafiador? Sem dúvida. Trata-se de tomar conta
de si, de seu corpo, sobre o que podemos referenciar as
reflexões do Dr. Sérgio Felipe de Oliveira38. Segundo esse,
cada um precisa se assumir, sem capas, sem subterfúgios.
O que permitirá enxergar os outros sob um prisma melhor.
Isso porque carente e com muitas neuroses, sempre
estaremos com uma visão tendenciosa.
Portanto, encontrar-se por meio de um trabalho de
espiritualização, pelo caminho do bom senso e do resgate
da dignidade própria, também se torna uma chave para
outros. O recado é se cure, se trabalhe!
144
Considerando que, dentre os desafios reencarnatórios,
há compromissos relacionados aos núcleos familiares,
como podemos explicar o comportamento de pessoas
que agem de maneira obsessiva, que se expressam pelo
isolamento e agressividade?
Esse tipo de situação é recorrente, trata-se de uma
aversão que expressa a leitura vibratória do espírito que
está ali com novo corpo. Pode ocorrer de um filho para os
pais, para um deles ou ambos, bem como o inverso de um
dos pais em relação ao filho ou filha.
Atendemos muito casos em Centros Espíritas de
mães que se sentiam inconsoláveis porque não sabiam
explicar a aversão que sentiam por um de seus filhos. A
explicação era o desafio reencarnatório.
A alteração de cada um tem que se dar nesse
desgaste, como se duas pedras friccionassem, rolando
como seixos de um rio. Movimento que vai lhes
permitindo criar a lisura que vemos no leito dos rios,
quando as pedras perdem as arestas.
145
Esse estranhamento é muito comum entre casais.
No início se apaixonam e, muitas vezes, à medida em que
se esvai a paixão entra o processo friccional.
Nesses casos, se não houver a priorização do lado
bom de cada um, a relação se torna completamente
desgastada, levando ao processo de separação. O que
também pode acontecer com pais e filhos, mas existe um
período expiatório. Porque não é possível abandonar pai e
mãe, enquanto se depende deles.
Desenvolver a paciência torna-se o verdadeiro
desafio. Tiago (1:4) em sua carta universal, no Novo
Testamento, diz o seguinte: "a paciência faz a sua obra
perfeita"39.
Especialmente no clã familiar, temos muitos
compromissos, sempre tem um ou outro elemento com o
qual temos diferenças. O que pode se expressar de modo
mais severo como aversão, e, até mesmo o sentimento de
ódio inexplicável.
146
Há filhos que odeiam mãe ou pai, e o fazem
visceralmente. Por vezes sentem isso desde cedo. Não tem
como deixar de vivenciar isso, é como o bem e o mal sofrer
que está no capítulo V do Evangelho Segundo Espiritismo.
O mal sofrer é escolhido por aquele que reclama o
tempo inteiro por algo que não há o que fazer. Por uma
realidade com a qual tem que conviver. Mas, ao assumir
que, se não há alternativa, a escolha deve ser tornar
convivência o melhor possível, opta-se pelo bem sofrer.
Trata-se da colheita! Muitas pessoas jogam fora
relacionamentos que a vida oportunizou, desconsiderando
a natureza moral do vínculo. O desafio é cultivar o bem no
outro, porque ao dar amor se recebe amor.
O ensinamento de Jesus nos induz a acordar cada
dia e fazer o nosso melhor. É um mecanismo desafiador no
lar, mas eleva à maior altura da dignidade. E, quando nos
afastamos, sentimos falta porque se descobre que há o
amor, mesmo com muitas dificuldades.
147
É comum vermos mães que perderam filhos ou
filhos que perderam pais e que descobrem que amavam
depois de terem perdido. Onde existe ódio é porque houve
muito amor. Trata-se de uma reconquista. Afinal, o ódio é
o amor que enlouqueceu, se contaminou. O medo é antítese
do amor, mas o ódio não!
Considerando que, mesmo após a pandemia da
COVID-19, ainda observamos desequilíbrios morais
em muitas pessoas, uma nova pandemia ou outro
evento significativo poderia levar ao despertar das
consciências que ainda permanecem adormecidas?
É importante analisar essa questão pelo prisma da
evolução, que a doutrina espírita explicita de modo
fenomenal. Em linguagem psicanalítica, diríamos que a
humanidade ainda está presa ao princípio do prazer. E é
preciso fazer uma transposição desse para o da realidade,
o que não é fácil. Lembramos que Deus usa o tempo e não
a violência.
Ao observarmos a reedição das festas populares e
mesmo as aglomerações realizadas em comemorações
148
privadas em bares, boates, frente a restrições de
mobilidade, tal como ocorrido no período da pandemia da
Covid-19, nota-se que o princípio do prazer fala mais alto.
O que remete ao momento em que a criança vê que sua
mãe, fonte de prazer e alimentação, desaparece. Nessa
situação ela chora e grita.
Isso quer dizer que continuamos ainda muito
infantis, em termos morais e espirituais. O que se busca
nessas circunstâncias, considerada a inversão de valores
que o materialismo nos impõe, é a pulsão de morte. Tal
como ocorre quando a pessoa procura a droga, ou, o sexo
sem amor, sem respeito a si e ao outro.
Destacamos que ao longo da vida, no trabalho de
atendimento e orientação, ouvimos muitos relatos de
pessoas que dizem que passaram a vida nesse processo de
busca do sexo, mas que diziam não sentir nada. Afirmavam
que sentiam a necessidade de usufruir desse prazer
momentâneo.
149
Sem querer macular o direito do livre arbítrio de
cada um, temos que entender que as pessoas desenvolvem
mecanismos de compensação e fuga.
Lembro-me de uma entrevista que assisti no
Programa do Jô Soares, no qual um psiquiatra renomado
explicava os estudos que havia realizado. Dentre os casos
analisados destacava-se o de um homem que vivia na
condição de mendicância. Essa pessoa vivia na rua por
deliberação própria, embora tivesse família e casa. Vivia
sob um viaduto em São Paulo, um lugar de muito barulho,
com os carros passando de modo ininterrupto. Ao estudar
o seu psiquismo, e as causas de sua insistência em ficar
naquele lugar, mesmo com a tentativa de realocá-lo,
compreendeu que o barulho daquele lugar era uma forma
de sobrepor o que ele carregava por dentro de si próprio.
Era, assim, uma forma de compensação.
Cito esse caso para refletirmos sobre muitas
situações que levam as pessoas a se entregarem a prazeres,
chamados de licenciosos, de modo desequilibrado. Em
150
geral, trata-se de uma forma de compensação de um vazio
que existe dentro de si, uma forma de fuga.
Responsabilizamos o materialismo, institucional,
social e das famílias, que vige por toda parte. Por exemplo,
quando um pai e uma mãe castram um filho ou filha que
tenha aptidões artísticas porque querem reproduzir um
padrão social ou de tradição familiar, trata-se de uma
violência. Esse é o retrato da prática materialista, em uma
de suas faces.
Busca-se impor um comportamento com vistas a
vantagem financeira, status ou até renome, mas feito de um
modo a violentar aquele que é direcionado para algo que
não está em suas aptidões. Da mesma forma, podemos
dizer que um espírita que se considera superior a outros por
seus esclarecimentos do campo espiritual, também está
sendo materialista ao valorizar títulos do mundo, posições
do mundo.
É preciso entender que o materialismo é endêmico
na Terra, por isso, quando vemos comportamentos
151
desequilibrados em momentos festivos como carnaval e
outras festas populares, a grande responsabilidade está no
sistema que adotamos e nutrimos ao longo do tempo.
O que indica que precisamos aguardar o tempo de
desgaste e saturação, não é uma pandemia que faz uma
mudança. É como um transatlântico cruzando o mar da
vida. Não é possível impor-lhe uma mudança brusca e
repentina de direção.
A mudança ocorre em um processo paulatino, em
que vão sendo desativadas algumas forças, planejando
novos cursos. Esse plano é o que os espíritos revelaram na
obra espírita. Ele está em curso, mas não haverá uma
alteração repentina de padrões e comportamentos.
Enquanto as pessoas estão sem se autoconhecerem,
sem respostas íntimas, sem se trabalharem, no campo
moral, no campo da consciência desperta, não há como
evitar, conviveremos com os desequilíbrios. O que é algo
ainda necessário. Embora, isso provoque danos, porque
152
muitas pessoas não ficam bem, sobretudo porque está
sendo nutrida a inversão de valores.
Mas, reitero que Deus usa o tempo e não a violência.
Evolução é algo que precisa ser contada em perspectiva de
anos e não de um momento para outro. A pandemia da
Covid-19 foi uma das reações, teremos outras, mas não se
trata de uma maldição.
Trata-se de processos que permitem drenar toxinas.
Se recorrermos à visão homeopática, quando um vírus ou
bactéria entra no organismo, ele faz uma espécie de
varrição das toxinas. Nesse caso, incluem-se as mentais,
vibratórias e energéticas que estão acopladas ao ser.
Esses organismos contribuem para as mudanças, ao
mesmo tempo que são uma reação natural aos
desequilíbrios de várias ordens. Não adianta querermos
transferir para o externo, trata-se de um problema interno,
de evolução humana.
153
A evolução é algo sofrido, que requer que se viva o
dia a dia, a hora a hora, o minuto a minuto. Portanto, não
adianta queremos pular etapas. Todos aqueles que
acreditaram que poderiam saltar etapas, ficaram no mesmo
lugar, não avançaram.
A título de exemplo, imaginemos uma pessoa que
tenha sido abandonada por seu companheiro ou
companheira, após constituir sua família e terem filhos. Se
essa pessoa não tiver estrutura moral, de humildade, de
paciência e resignação, ela pode se tornar inconformada,
vivendo o resto de sua existência de luto, por não aceitar o
abandono.
Mesmo que ela continue sua vida, há um
estancamento, como se a vida tivesse se encerrado quando
ocorreu o abandono. São quadros psicológicos e
emocionais que observamos na vida. O que fazer com essa
pessoa? Em casos assim, muitas vezes, o trabalho de
revisão terá que ser objeto de encarnações futuras.
154
Há obsessões, processos em que a cura não se dá
em uma existência. É preciso que a pessoa permita a
mudança e a ressignificação, porque se ela não o fizer,
ninguém fará por ela. É isso que precisamos compreender
em termos sociais.
Mas, o que vemos são muitas críticas aos
comportamentos, em particular quando se trata de
momentos como das festas de carnaval. Nesse sentido,
lembramos Chico Xavier que sempre dizia que "a vida é o
que é e as pessoas são o que são".
Portanto, não podemos obrigar a pessoa que viva o
princípio do prazer, a assumir o princípio da realidade. De
chofre não ocorre a mudança, o processo é transformação.
Na qualidade de espíritas, como cristãos, como
aqueles que buscam espiritualidade e religiosidade,
precisamos parar de querer controlar o externo e fazer o
trabalho íntimo de transformação.
155
Não há festa, não há filme, não há pop star que
opere aquilo que somente o indivíduo pode fazer por si.
Isso está no Evangelho, quando ele diz "de modo que cada
um dará conta de si mesmo a Deus" (Romanos, 14:12). O
que reforça que cada um deve trabalhar o seu próprio
íntimo.
Chico Xavier tinha uma fala muito pertinente,
afirmava que a vida era como um grande mercado, cheio
de barracas, na qual ele tinha uma barraquinha. Ele nos
ensinou com isso que a vida é um processo de escolhas, de
opções, dentro dela precisamos ter as nossas, aquelas que
irão nos bastar.
Eu não tenho que, a ferro e fogo, mudar ninguém
porque a evolução é um processo natural, no qual a pessoa
se sente mobilizada por circunstâncias que permitem que
ela floresça. Todos vamos florescer, mas cada a um a seu
tempo.
Não podemos entrar na horda dos amaldiçoadores,
como várias vertentes religiosas que assumem que apenas
156
a sua ótica é a correta. Afinal o que salva é a caridade, "fora
da caridade não há salvação". O que é a caridade? É o amor
que não discrimina, cor da pele, opção sexual, posição
social ou econômica.
A caridade envolve atuar, independentemente, da
circunstância. Esse é o caminho daqueles que estão com
Jesus. Ele que fez de todos os painéis sombrios do mundo,
oportunidade de iluminação, sem dogmatismo, sem
julgamentos, sem críticas, sem perseguição, sem exclusão.
É por aí que podemos ver essa questão.
157
32
XAVIER, Francisco Cândido. Família. 1. ed. São Paulo:
FEB/CEU, 2014.
33
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1. ed.
Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1864.
34
BÍBLIA. Novo Testamento, Epístola de Paulo aos Efésios.
Tradução de João Ferreira de Almeida. Almeida Revista e
Corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
35
BÍBLIA. Novo Testamento, Evangelho de Mateus, capítulo
24, versículo 28. Tradução de João Ferreira de Almeida.
Almeida Revista e Corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do
Brasil, 1999.
36
BÍBLIA. Antigo Testamento, Livro de Gênesis, capítulo 4,
versículos 13 a 14. Tradução de João Ferreira de Almeida.
Almeida Revista e Corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do
Brasil, 1999.
37
BÍBLIA. Novo Testamento. Mateus 5:39.
Jesus afirmou: "Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal;
mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-
lhe também a outra".
38
Sérgio Felipe de Oliveira é um médico e pesquisador brasilei
ro, conhecido porseus trabalhos na área de psicobiofísica e me
diunidade. Ele é diretor clínico do Instituto Pineal Mind e presi
dente da Associação Mèdico-Espírita de São Paulo (AMESP).
39
BÍBLIA. Novo Testamento. Tiago 1:4.
158
DEUS USA O TEMPO E NÃO A
VIOLÊNCIA
159
Deus opera de maneira paciente e compassiva, usando o
tempo para realizar mudanças e promover o crescimento
espiritual, em vez de recorrer à violência. Por meio do
tempo e das experiências, as pessoas aprendem, evoluem e
se tornam melhores. Essa é uma mensagem de esperança e
paciência, ressaltando a importância de confiar no
processo divino e no tempo como instrumentos de
transformação.
160
DEIXE BRILHAR A VOSSA LUZ!
161
A frase "Deixe Brilhar a Vossa Luz" é uma
poderosa exortação para que cada pessoa revele o seu
verdadeiro potencial e bondade. Ela sugere que todos têm
uma luz interior, simbolizando nossas melhores qualidades,
talentos e virtudes. Ao permitir que essa luz brilhe,
contribuímos para um mundo mais iluminado e positivo,
inspirando e ajudando os outros a fazer o mesmo.
O título que encerra este trabalho é um chamado
para vivermos de maneira autêntica e generosa,
espalhando positividade e influência benéfica ao nosso
redor. Encontra-se no final do Sermão da Montanha,
quando Jesus define as bem-aventuranças: “Resplandeça a
vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas
boas obras e glorifiquem a Deus, vosso Pai que está nos
céus”.
Jesus acrescenta que: “Não se acende uma candeia
e a coloca debaixo da cama; deve-se colocá-la no velador,
porque não se pode esconder uma cidade edificada sobre
um monte 40 . O que ele está tentando explicar é que a
162
evolução é um fenômeno imprescritível; a verdade é a
verdade sempre, e ela vai se estampar.
André Luiz tem uma frase que elucida bem esse
sentido: “Cuida dos teus pensamentos e das tuas palavras,
porque as pessoas te conhecem pela tua conversação”, o
que significa que você se revela. Mesmo que não fale, você
se posiciona, inclusive pelo corpo e pelo comportamento.
Isso quer dizer que você não se esconde. No campo
psicológico, explicita-se que isso é exteriorizado por meio
de atos falhos, manias e cacoetes, o que revela coisas que,
por vezes, você esconde de si próprio.
Então, quando Jesus conclama a resplandecer a
vossa luz, ele está falando do seu melhor, da sua
consciência, do seu sentimento nobre, chamando-nos a
deixar que isso resplandeça. É um recado muito
interessante, porque podemos regatear o amor,
condicionando-o ao ato do outro; nesse sentido, tentamos
negociar. Jesus nos convida a amar sem essa negociação,
porque o privilégio é de quem ama!
40 BÍBLIA. Novo Testamento. Mateus 5:16.
163
Links para acesso gratuito às obras citadas neste livro:
1. ANDRÉ LUIZ. Evolução em Dois Mundos. Psicografado por
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. 1. ed. Rio de Janeiro:
FEB,1958.
https://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/chicoxavi
er/evolucaoemdoismundos.pdf
2. PERALVA, José Martins. Estudando a Mediunidade. 1. ed. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006.
https://www.larbomrepouso.com.br/wp-
content/uploads/2020/04/MARTINS-PERALVA-ESTUDANDO-A-
MEDIUNIDADE.pdf
3. EMANUEL. Pensamento e Vida. Psicografado por Chico Xavier. 1.
ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1958.
https://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/chicoxavi
er/pensamentoevida.pdf
4. XAVIER, Francisco Cândido (Médium). Passos XAVIER, Francisco
Cândido. Passos da Vida. 1. ed. Araras: IDE, 1959. D
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5. XAVIER, Francisco Cândido. No Mundo Maior. Psicografado pelo
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6. MIRANDA, Ermínio Corrêa. Condomínio Espiritual. 1. ed. Rio de
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7. FREUD, Sigmund. Inibição, Sintomas e Ansiedade. 1. ed. Rio de
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8. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Brasília: Federação
Espírita Brasileira, 2013.
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9. XAVIER, Francisco Cândido. Cinquenta Anos Depois. 1. ed. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1940.
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10. XAVIER, Francisco Cândido. Renúncia. 1. ed. Rio de Janeiro:
Federação Espírita Brasileira, 1944.
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11. XAVIER, Francisco Cândido (Emmanuel). Vida e Sexo. 1ª Edição.
Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB), 1970.
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12. CAMPOS, Humberto de (Espírito). Boa Nova. 1ª Edição. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB), 1941.
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13. XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida. 1. ed. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2013.
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14. XAVIER, Francisco Cândido. Família. 1. ed. São Paulo: FEB/CEU,
2014.
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Obras do pentateuco da Doutrina Espírita
1. Livro dos Espíritos
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2. Livro dos Médiuns
https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/136.pdf
2
3. Evangelho Segundo O Espiritismo
https://espirito.org.br/wp-content/uploads/2017/05/o-evangelho-
segundo-o-espiritismo.pdf
4. A Gênese
https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/WEB-A-
Genese-Guillon.pdf
5. O Céu e o Inferno
https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2014/05/ceu-e-
inferno-Manuel-Quintao.pdf