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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA –
IFSP, CAMPUS SÃO PAULO.
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM FORMAÇÃO DE
PROFESSORES – ÊNFASE MAGISTÉRIO SUPERIOR
ALINE BOTELHO SILVA AGUIAR
A ATUAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO DIANTE
DAS MUDANÇAS SOCIAIS
SÃO PAULO
2014
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ALINE BOTELHO SILVA AGUIA
A ATUAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO DIANTE
DAS MUDANÇAS SOCIAIS
Monografia apresentada ao Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia – IFSP, Campus São
Paulo, para aprovação no Curso de Pós-graduação
Lato Sensu em Formação de Professores – Ênfase
Magistério Superior.
Orientador: Prof. Dra. Diva Valério Novaes
SÃO PAULO
2014
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A227a Aguiar, Aline Botelho Silva.
A atuação do professor universitário diante das mudanças sociais /
Aline Botelho Silva Aguiar. São Paulo: [s.n.], 2014.
51f.
Orientadora: Profª. Dra. Diva Valério Novaes.
Monografia (Especialização Lato Sensu em Formação de
Professores com Ênfase no Magistério Superior) - Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, IFSP, 2014.
1. Formação docente 2. Universidade 3. Discente e
mudanças sociais I. Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de São Paulo II. Título
CDU 370.0
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DEDICATÓRIA
Dedico esta realização a minha família e amigos que estiveram
ao meu lado durante todo este processo de formação.
Querer e poder ensinar são grandes dádivas, e esta necessidade
que tenho de me aprimorar como docente, deve-se ao exemplo
que sempre tive em casa, e aos bons professores/ mestres que
estiveram na minha trajetória. Dedico a vocês a minha
especialização como docente.
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AGRADECIMENTO
Agradeço aos meus professores e também aos colegas docentes
por terem me proporcionado um grande aprendizado durante a
jornada desta especialização.
Agradeço também à minha Orientadora, a senhora Professora
Doutora Diva Valério Novaes, por acreditar neste projeto e
também por ter compartilhado seus conhecimentos comigo.
Obrigada a todos.
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"Como Platão o disse há muito tempo: para ensinar é preciso o Eros. O Eros não se resume
apenas ao desejo de conhecer e transmitir, ou o mero prazer de ensinar, comunicar ou dar: é
também o amor por aquilo que se diz e do que pensa ser verdadeiro. É o amor que introduz a
profissão pedagógica, a verdadeira missão do educador."
Edgard Morin
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RESUMO
Quando se fala em atividade docente no ensino superior, assim como outros níveis de ensino,
outras qualidades são requeridas, que não apenas o dom. O profissional docente do ensino
superior era visto até meados da década de 80, como a pessoa graduada, que está inserida na
atividade de sua graduação e se possível, que tivesse uma boa oratória para transmitir seu
conhecimento. Em outras palavras, quem sabe fazer, sabe ensinar. No entanto, o que se
percebeu nas últimas décadas, foi necessidade da formação pedagógica para a atuação na
educação superior. Sendo assim não bastava mais os saber prático para a atuação na teoria.
Até mesmo a LDB, nº 9394/96, descreve em seu texto legislativo, a necessidade de uma
qualificação adequada para a atuação de profissionais na atuação do ensino superior. As
instituições de ensino superior sejam públicas ou privadas analisaram o impacto da falta de
formação adequada do profissional docente e avaliaram os índices quanto a qualidade na
formação do aluno e as expectativas destes mesmos alunos. O professor não deve ser mero
instrumento de transmissão do conteúdo, este profissional deve ter meio e práticas didáticas
para a atuação no processo de ensino-aprendizagem.
O docente que tem em sua formação o entendimento sobre as práticas didático-pedagógicas
poderá ter maior facilidade em atuar junto às universidades, discentes e mudanças sociais. A
universidade é o local onde há a “universalidade” de ideias, onde os alunos de diferentes
formações convivem a fim de obter sua graduação ou qualquer outro nível de formação. Na
verdade há um público muito diverso dentro da área da universidade, a formação inicial do
discente tem que ser observada, porém, a questão social deve ser ainda mais avaliada.
A questão social e as mudanças na estrutura social do país, estão, sendo pontos a serem
avaliados pelas universidades e pelos docentes. Neste sentido, entender quais são essas
mudanças e quais são as interferências (positivas ou negativas) dentro das universidades, é
importante para manter uma boa qualidade de formação. Sendo assim, justifica-se esta
pesquisa para avaliar quais são as funções do docente diante das mudanças tão evidentes
dentro das universidades. O objetivo central é analisar como essa atuação do docente pode ser
benéfica para a qualidade das formações e estudos dos discentes dentro das universidades.
Quanto à metodologia desta pesquisa bibliográfica, foram utilizados legislações, documentos
e referencial teórico. Com base na bibliografia acerca da questão sobre a formação do docente
de ensino superior e as mudanças sociais, que é vasta, analisamos estas mudanças e as
interferências que podem interferir na atuação do professor universitário.
Palavras Chaves: Formação Docente, Universidade, Discente e Mudanças Sociais.
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ABSTRACT
When it comes to teaching activity in higher education, as well as other levels of education,
other qualities are required, not only the gift. The professional teaching higher education was
seen until the mid 80's, as a graduate, which is embedded in the activity of your graduation
and if possible, have a good oratory to transmit their knowledge. In other words, who knows
how to do, know how to teach. However, it was realized in recent decades, was the need for
teacher training for the work in higher education. Thus it was not enough the more practical
knowledge to act in the theory. Even the LDB, No. 9394/96, describes in his legislation, the
need for an appropriate qualification for practicing professionals in higher education
performance. Higher education institutions whether public or private analyzed the impact of
lack of proper training of teaching professional and rated the indexes as the quality of
education of students and the expectations of these same students. The teacher should not be
mere content of the instrument of transfer, this professional must have means and teaching
practices for performance in the teaching-learning process.
The teacher who has in his training the understanding of the didactic and pedagogic practices
may find it easier to work with universities, students and social changes. The university is the
place where the "universality" of ideas, where students from different backgrounds live
together in order to get their graduation or any other level of training. In fact there is a wide
range of people within the university area, the initial formation of the student must be
observed, however, the social issue should be further evaluated.
The social question and changes in the country's social structure, are being points to be
evaluated by universities and teachers. In this sense, understand what these changes are and
what interference (positive or negative) within universities, it is important to maintain a good
quality training. Thus, justified this research to assess what teaching functions on the changes
so evident within universities. The main objective is to analyze how this teacher's
performance can be beneficial to the quality of training and studies of students within
universities.
As for the methodology of this literature, laws were used, documents and theoretical
framework. Based on the literature on the question of the training of teachers of higher
education and social change, which is vast, we analyze these changes and interference that
can interfere with the action of the university teacher.
Key Words: Teacher Training, University, Student and Social Change.
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Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8
1.A Função da Universidade........................................................................................... 11
1.1. Breve Histórico .............................................................................................................. 13
1.2. Atuação da Universidade ............................................................................................... 18
2.A Formação e o Papel do Docente Universitário ....................................................... 20
2.1. Formação do Docente Universitário .............................................................................. 21
2.1.1. O Professor Reflexivo no Ensino Superior ............................................................ 24
2.2. A Formação Docente Diante do Contexto Social .......................................................... 26
2.3. A Atuação do Docente ................................................................................................... 28
3. As Mudanças Sociais e a Prática Docente ................................................................. 30
3.1 Conceitos de Mudança.................................................................................................... 32
3.1.1. As Mudanças Sociais no Ensino Superior .............................................................. 33
3.2 O Mal-Estar Docente ...................................................................................................... 34
3.3 A Relação Educacional ................................................................................................... 37
3.4 A instituição de Ensino Diante dos Contextos Sociais em Transformação .................... 39
3.4.1 A Participação Crítica como Responsabilidade da Cidadania................................. 40
4. A Mudança Social e o Docente ................................................................................... 41
4.1 Atitudes e Repercussão dos Professores Perante a Mudança Social .............................. 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 43
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INTRODUÇÃO
O tema proposto neste presente trabalho é a atuação do professor universitário diante
das mudanças sociais.
Por tanto cabe analisar quais são estas mudanças e que interferências podem surgir na
atuação do professor universitário. O estudo do tema está delimitado na atuação de
profissionais da educação do ensino superior, com informações qualitativas sobre essa
atmosfera, sem aprofundamento quantitativo quanto ao campo de observação.
Desta forma, Nóvoa determina que a simples constatação das mudanças sociais
bastaria para a reforma no ensino. Nesta mesma linha esse autor afirma que:
A evolução do contexto social faz mudar o significado das instituições
escolares, com a consequente necessidade de adaptação à mudança, por parte
de professores, alunos e pais, que devem mudar as suas expectativas em
relação ao sistema de ensino. (NÓVOA, 1995, p.103).
Nos dias de hoje, o professor universitário pode entrar muito cedo em sala de aula,
sem a formação necessária, ou o conhecimento pedagógico necessário. Por vezes estes
profissionais da educação não conseguem compreender que a sua volta há mudanças sociais
profundas. Se isso ocorre nos dias de hoje, podemos supor que também ocorria nos tempos
remotos, pois o docente muitas vezes não fora preparado para exercer tal atividade e apenas
cabia ter o prestígio e o conhecimento técnico para atuar como professor universitário. Para
ser docente do ensino superior não basta somente ser pesquisador, intelectual, conhecedor do
seu conteúdo específico, é necessário que seja conhecedor das técnicas e teorias do ensinar,
que tenha conhecimento necessário para a profissão de professor universitário. O fundamental
é saber como ensinar e não somente saber o que ensinar.
Schon (1992, p.91), faz um comentário sobre a formação do professor e a “practium”
reflexivo.
Na formação de professores, as duas grandes dificuldades para a introdução
de um praticum reflexivo são, por um lado, a epistemologia dominante na
Universidade e, por outro, o seu currículo profissional normativo: Primeiro
ensinam-se os princípios científicos relevantes, depois a aplicação desses
princípios e, por último, tem-se um praticum cujo objetivo é aplicar à prática
cotidiana os princípios da ciência aplicada. Mas, de fato, se o praticum
quiser ter alguma utilidade, envolverá sempre outros conhecimentos
diferentes do saber escolar (SCHON, 1992, p. 91).
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O mesmo autor enumera quatro atuações do docente para que haja uma boa
convivência entre alunos e professores e assim o processo ensino-aprendizagem seja realizado
de forma satisfatória, são eles: 1) ouvir o que os alunos sabem e o que têm a dizer; 2)
combater os efeitos das crenças que permeiam o saber escolar e se deixar surpreender pelo
aluno; 3) refletir sobre o ocorrido durante a aula; 4) e, sempre que necessário, reformular
o problema proposto e efetuar uma experiência para testar sua nova hipótese. (SCHON, 1995,
p.80).
Pimenta (2006, p.32), também faz a observação necessária quanto a formação do
professor em qualquer nível de ensino e também da postura reflexiva que faz com que o
profissional tenha mais condições de se relacionar em seu meio “a formação de professores,
não apenas para a escola básica, mas também as demais séries [...] a ausência de pesquisa e
projeto formativo causam o desprestígio do exercício profissional”.
Não é fácil expressar os conhecimentos, desta forma não adianta apenas saber,
conhecer, fazer na prática, mas obviamente saber fazer junto aos seus alunos e junto às novas
realidades presentes na sala de aula. A instituição de ensino superior poderá ter seus objetivos
modificados pelas mudanças que ocorrem na sociedade, todavia, seus valores sempre serão os
mesmos, pois sua função maior é proporcionar conhecimento e tecnologias aos estudantes e
estes têm a missão de transformar a sociedade.
O perfil do aluno mudou e desta forma o professor não é apenas o mestre educador,
mas muitas vezes é o amigo, psicólogo e orientador dessa nova safra de alunos. Isso significa
dizer que o professor deve ter a formação específica de sua área, mas também uma formação
mais humanística a fim de se adequar ao perfil dos alunos por conta das mudanças sociais que
ocorrem. Segundo Masetto, (2003), a relação professor-aluno e aluno-aluno no processo de
aprendizagem, deve ser esmiuçada. O professor deve deixar o papel de transmissor do
conhecimento e passar a ser um orientador, que irá estimular seus alunos no processo de
aprendizagem, fazendo com que este se desenvolva e possa saber quando estão errados. Um
bom profissional da área da educação deverá dar feedback1, montar grupos de estudos,
incentivar a aprendizagem. E ainda, desenvolver parcerias com corresponsabilidades, pela
formação. O trabalho do professor em sala de aula, seu relacionamento com os alunos é
expresso pela relação que ele tem com a sociedade e a cultura. Abreu & Masetto (1990,
p.115) afirmam que “é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas
características de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos;
1
Retorno sobre as atividades realizadas.
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fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete
valores e padrões da sociedade”.
Entender e analisar essas mudanças são de suma importância para que este professor
aprimore seus conhecimentos e possa exercer sua atividade de forma mais positiva possível,
entrando em contato com a realidade do aluno e suas dificuldades.
Mais quais são essas mudanças que atingem o professor universitário? A própria
exigência de uma formação específica para a docência e de um perfil reflexivo, já se
apresentam como mudanças da realidade social; as tecnologias, que não fazem parte do
estudo desta pesquisa, mas que também são consideradas como interferências na atuação
docente; e por fim a faixa etária na composição da sala de aula. (NOVAES, 2014).
Mediante as mudanças sociais que englobam um novo perfil de alunos universitário,
novas tecnologias e novas didáticas, justificam-se verificar como o docente universitário
deverá agir e como se preparar para atuar no ensino superior.
O docente universitário sempre estará sujeito às mudanças que ocorrem ao seu redor,
mas a mudança social é uma das interferências mais sérias para a atuação do docente,
causando, como determina Esteve (1992, p.115), o “mal-estar docente”, que consiste em
fragilizar a atuação do professor por não estar preparado para as interferências sociais em seu
cotidiano de trabalho. Segundo Nóvoa, (1995, p.117), as mudanças no papel do professor e as
profundas modificações no contexto social e as relações interpessoais ao nível de ensino
obriga-nos a repensar o período de formação deste professor. Neste sentido o professor não
tem apenas que acompanhar as mudanças que ocorrem dentro do ensino superior, mas
também reconhecer que as práticas ensinadas, quando da sua formação, podem ser hoje
ultrapassadas e sem utilidade para esta nova leva e gama de jovens em formação.
Cabe então analisar a atuação do docente universitário diante das interferências da
mudança social, observar o contexto histórico da atuação do professor universitário,
diagnosticar as mudanças sociais, quais são as interferências para atuação do professor e
compreender a relação do docente com o discente na sala de aula.
A análise da atuação do professor na prática em sala de aula, quanto às mudanças
sociais serão observadas, junto a material bibliográfico, legislação referente à docência,
documentos e tratados sobre a atuação do professor buscando demonstrar que as mudanças
são elementos que devem ser trabalhados tanto para o professor, quanto para a universidade e
o aluno.
Masetto, (2003), aponta-nos quatro mudanças na docência do ensino superior, são
elas: 1) No processo de ensino – capacidade de incentivar os alunos a construírem seu próprio
11
conhecimento; 2) Incentivo à pesquisa – desenvolvimento do ensino com pesquisa, do ensino
por projetos e da introdução das tecnologias da informação; 3) parceria e coparticipação entre
professores e alunos – o aluno percebe no professor um aliado para sua formação; e 4) perfil
do professor – formação adequada para a docência superior. Coerência com o que o professor
exige e o que faz. Para o autor acima citado, essas mudanças seriam eficazes para a atuação
do professor universitário e também para alcançar de forma positiva seus alunos.
Assim sendo, busca-se com este estudo responder à seguinte questão: Como as
mudanças sociais ocorridas na sociedade e na universidade, podem interferir na atuação
do professor universitário?
Como objetivo central desta pesquisa, buscamos refletir sobre o papel do docente
universitário diante das interferências da mudança social.
Para tanto analisamos: a função da universidade; a formação e atuação do profissional
docente universitário; a relação entre docentes e discentes; as mudanças sociais que atingem a
relação professor-aluno-instituição de ensino; e, como as mudanças sociais repercutem na
atuação docente.
Quanto à metodologia utilizada para esta monografia, o meio escolhido foi a pesquisa
qualitativa, apresentando assim dados primários e secundários, abrangendo a pesquisa
bibliográfica e documental.
A pesquisa qualitativa é um aspecto importante em uma análise sobre a atuação do
professor e a relações interpessoais. A pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental são
suficientes para responder a atuação do professor universitário diante das mudanças da
sociedade, pois abrange, leitura, análise e interpretação de livros, periódicos, documentos,
revisão bibliográfica, etc. Todo material recolhido foi submetido a uma triagem, a partir da
qual foi possível estabelecer um plano de leitura e estratégia para a realização desta
monografia.
1. A Função da Universidade
Segundo o artigo 522 da Lei de Diretrizes e Bases, uma universidade é uma instituição
pluridisciplinar de formação dos quadros de profissionais de nível superior, de pesquisa,
2
Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível
superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por:
I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes,
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado;
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de extensão e de domínio e cultivo do saber humano. Uma universidade provê educação tanto
terciária (graduação) quanto quaternária (pós-graduação). A universidade é um local onde
diferentes pessoas de diversas gerações e culturas convivem quase sempre de forma
harmoniosa. Essa aproximação das heterogeneidades propicia um embate crítico da produção
do conhecimento. O embate da diversidade de concepções proporciona ao processo de ensino-
aprendizagem uma gama de ferramentas e saberes.
A Constituição Federal C.F. de 1988, em seu artigo 6º, apresenta a educação como um
direto social, aplicado a todos os níveis de educação, ainda no texto constitucional3, As
universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e
patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão. Todavia este direito não proíbe o Estado de verificar o uso desta prerrogativa nas
atividades que lhes são próprias.
A função da universidade não pode ser descrita em apenas uma palavra, pode-se então
destacar como principais, a formação de cidadãos, a difusão da cultura, o ensino das
profissões, além do desenvolvimento da pesquisa científica4. Quanto a somatórias destas
principais características afirma-se que a universidade tem importante papel social, onde cada
participante deste mundo universitário veja-se como ator principal da universalidade.
O Professor Edevaldo Alves da Silva, em seu artigo intitulado “A função social da
universidade”, descreve a ação humanizadora e a atuação dos jovens dentro e fora da
universidade. Ensina o autor:
À universidade cumpre contribuir de forma decisiva para que os jovens
recuperem a capacidade de sonhar e se libertem do imediatismo de hoje,
quando parecem “aprisionados no agora” (Alvin Toffler apud Edvlado Alves
da Silva). Cabe à universidade garantir que os jovens se tornem cidadãos
conscientes de um mundo globalizado.
Os cidadãos de amanhã recusarão, sem dúvida, o leite das velhas ideologias.
Serão amamentados pelas mães, nunca pelos Estados. Exigirão comida
saudável de preferência natural. Desenvolverão novas formas de raciocínio e
novos sistemas de associação de ideias. Não serão saudosistas nem
preconceituosos. Repelirão qualquer forma de tutela, defenderá a
democracia, a liberdade de imprensa, a biodiversidade; combaterão o efeito
estufa e a falta de água potável. Saberão que o autoritarismo deturpa a
verdade e o totalitarismo cria a sua própria verdade. Terão sensibilidade e
III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades especializadas por campo do saber .
3
Artigo 207, C. F.
4
Artigo, 205, C.F. - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.
13
vontade para reagir à banalização da violência e da morte.
A universidade tem o dever de formar os filhos do futuro, esclarecendo que a
sobrevivência de todos só estará assegurada quando substituirmos a retórica
da confrontação pela busca da parceria, da cooperação e do entendimento
entre os povos.
Cabe à universidade ajudar os habitantes do século 21 a redimi-lo. Cumpre
ensinar que o vocabulário da sobrevivência começa com a palavra
diversidade. É preciso que haja diversidade de espécies, de povos, de
opiniões. Mas não apenas isso.
A universidade deve estender sua ação humanizadora a todos os espaços
sociais, aos sindicatos, às associações, às academias, ao ensino básico, ao
ensino médio, aos museus, às casas de cultura. Ela deverá estar onde
estiverem as pessoas, deverá contribuir para a proteção de cada ser humano,
de cada ser vivo, na grande família das espécies.
Além disso, à universidade caberá escrever um novo capítulo da história. O
capítulo da criatividade, da reinvenção, da reconstrução. Ela sugerirá novos
caminhos, indicará atalhos, iluminará as zonas de penumbra com a pesquisa,
a discussão, a informação e a reflexão. Essa deve ser e será certamente a
função social da universidade. (SILVA, 2009, p.1).
Para que ela cumpra integralmente a sua função social, a universidade precisa
acompanhar as grandes mudanças que vêm ocorrendo no mundo.
“São as Universidades que fazem, hoje, com efeito, a vida marchar. Nada as substitui.
Nada as dispensa. Nenhuma outra instituição é tão assombrosamente útil.” (TEIXEIRA, 1999,
p. 55).
A universidade é um local de convivência de grupos heterogêneos, mas que buscam o
mesmo fim, qual seja, a formação, a busca pelo conhecimento e aperfeiçoamento. Assim,
afirmamos que a universidade tem a função de ligar os estudos a todas as mudanças que
ocorrem na sociedade a sua volta. Assim como o docente, a instituição de ensino superior tem
como pilar a transformação da sociedade, para uma convivência pacífica, harmoniosa e
reflexiva.
1.1. Breve Histórico
Dentro de uma visão ocidental pode-se afirmar que as universidades surgiram por
volta do século 12 e 13 na Europa. Foi na Itália e na França que surgiram as primeiras
universidades para o ensino de Direito e Medicina. No fim do século XII a universidade de
Bolonha incorporou o primeiro curso de Direito com as disciplinas de retórica, gramática e
lógica.
A segunda universidade mais antiga é a Universidade de Paris (Sorbonne), fundada em
1214.
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No entanto, em uma visão mais abrangente, encontra-se por volta de 350 a.C., na
Grécia, a academia de Aristóteles, onde eram debatidas as questões sobre a vida. Os filósofos
clássicos foram os responsáveis por libertar a sociedade da época do misticismo excessivo,
discutir os melhores meios de ordenar o conhecimento e dar forma ao pensamento lógico e à
ética e ao conhecimento do universo.
O surgimento das universidades na Europa possibilitou a disseminação do pensamento
crítico que acabaria por desencadear o Renascimento e, mais tarde o Iluminismo.
No Brasil, apenas fala-se em ensino universitário, por meados do ano de 1820 no Rio
de Janeiro, com a intenção de diversos cursos, mas, em 1808, surge a primeira escola de
ensino superior no Brasil.
(...) existia na época, a Universidade do Rio de Janeiro, mas só no papel. Ela
foi criada pelo Presidente Epitácio Pessoa para, numa demonstração de
status cultural, receber o Rei Alberto da Bélgica. Mas o rei foi embora,
passou poucos dias aqui e a Universidade do Rio foi fechada: já tinha
cumprido seu papel (AZEVEDO apud FÁVERO, 1977, p.30).
Historicamente o Brasil distingue-se nos países colonizados da América,
principalmente no que concerne à América Espanhola, estas colônias tinham o incentivo de
estudos do país colonizador, enquanto que Portugal atrelava os colonizados às universidades
da capita (Coimbra e Évora).
As primeiras escolas de ensino superior, como Medicina, Direito e Politécnica surgem
pela presença da coroa em solo brasileiro, conforme comenta Cunha (1986), “estes cursos
visavam a formação de burocratas e profissionais liberais”.
Oliven (1990) menciona que a universidade brasileira se consolidou tardiamente, na
segunda metade da década do século passado, sendo que, num período anterior, a estrutura de
ensino superior no país era formada por escolas superiores isoladas, as quais tinham como
objetivo a formação profissional dos seus alunos.
O atraso da criação da universidade no país deve-se em grande parte à influência dos
positivistas, os quais consideravam a universidade uma instituição decadente e anacrônica
para as necessidades no Novo Mundo, advogando, neste sentido, os cursos técnicos
profissionalizantes (OLIVEN, 1990, p. 118).
Já no século 20, o ensino superior brasileiro manifestou-se de forma mais abrangente,
com centros formadores de várias áreas.
15
Em 1934, a USP5 desempenha um papel importante enquanto instituição de pesquisas
no Brasil.
Na década de 1930, surge a Universidade de São Paulo (USP) com duas
grandes bandeiras em busca de modificar o paradigma dos cursos superiores
existentes: a integração de diferentes áreas do saber e dos conhecimentos, e a
produção de pesquisa por parte dos docentes e alunos desses cursos. Não se
poderia continuar formando apenas profissionais técnicos e divulgando
pesquisas fora do país. Professores e estudantes desses cursos deveriam se
voltar para fazer pesquisa, produzir conhecimento (...). (MASETTO, 2003,
p. 20).
Já um ano após a Universidade da Capital expõe “(...) a expansão da cultura, a
indissolubilidade entre ensino e pesquisa, a autonomia expressa na liberdade de investigação e
na formação crítica” (OLIVEN, 1987, p. 118).
A Universidade do Brasil em 1937 tornou-se o expoente do Estado Novo. As diretrizes
deveriam ser seguidas por todas as universidades do país, sendo assim, esta fase ficou
conhecida como autoritária e centralizadora.
Com o fim do Estado Novo, o país passa por uma transformação econômica, deixa de
ser agroexportador e passa a ser importador. É a ascensão para o consumo dos anos 60. Essa
mudança na economia também traz mudanças significativas para a educação. Antes educação
voltada para as classes mais favorecidas economicamente, agora, com o intuito de
qualificação para consumo, as classes menos favorecidas poderiam ter acesso ao ensino
superior. A comunidade acadêmica entre 1945 e 1964, favoreceu os movimentos sociais.
Esta política populista voltou-se para o ingresso da classe média no ensino
superior, por meio de alguns fatores, como: a oferta de vagas no ensino
médio público, as leis de equivalência que propiciou um maior número de
cursos secundários dando acesso aos vestibulares, a intensificação da
escolaridade das mulheres e a gratuidade do ensino superior oficial
(OLIVEN, 1987, p.219).
Durante o Regime Militar, as universidades tornaram-se centros para discussões
estudantis, a fim de buscarem apoios aos seus movimentos contra o Regime Militar.
Entretanto, mediante às palavras de Oliven (1990, p.75):
Com a Lei 5540/68, a relevância da universidade passou a ser aferida tendo
como critério principal o comportamento do mercado. Assim ensino e
atividade de extensão passaram a ser percebidos como mercadorias que
5
Universidade de São Paulo.
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podiam ser adquiridas por aqueles que almejassem um diploma, um
certificado de aperfeiçoamento, ou um serviço qualquer a ser prestado pela
universidade (OLIVEN, 1990, p. 75).
Durante o governo do Presidente Sarney, foi constituída a Comissão Nacional para a
Reformulação da Educação Superior, que produziu um documento intitulado “Uma nova
política para a educação superior”, porém, essa reformulação não obteve êxito. Foi apenas
no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso que uma grande reforma educacional
foi instituída. A LDB6, Lei 9394/96, trouxe inovações para o ensino superior e formação
docente.
Todavia, comenta Anísio Teixeira:
“...a verdadeira reforma universitária não pode ser feita de fora, pela
imposição de atos legislativos, tem de nascer de dentro dela, por meio do
debate e do consenso do magistério, para que ocorra uma efetiva mudança
nas práticas desenvolvidas no cerne das universidades.” (TEIXEIRA, 1999,
p. 45)
Nos últimos 12 anos no Brasil, incentivos foram criados para o acesso às
Universidades, como redução de impostos e fundo de financiamento estudantil (Fies),
ProUni7. Também foram criadas avaliações institucionais como o Sinaes8 e Conaes9. Para que
se possa frequentar a universidade no Brasil, há a necessidade segundo o art. 51 da LDB, de
que todos os níveis de ensino (infantil, fundamental e médio) sejam concluídos pelos
estudantes.
6
Lei de Diretrizes e Bases, L. 9.394/96. O Capítulo IV – Da Educação Superior, da referida lei, expõe do artigo
43 ao 57 os regramentos impostos ao Ensino Superior. O artigo 43 apresenta as finalidades da Educação
Superior.
Art. 43º. A educação superior tem por finalidade:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e
para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio
em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente
concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora
do conhecimento de cada geração;
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais,
prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII -
promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. .
7
Programa Universidade para Todos.
8
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior.
9
Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior.
17
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de
1996, orienta tanto sobre a educação básica quanto sobre a educação superior. Em seu artigo
4310, aponta as finalidades do ensino superior. A referida lei delega à União a competência
para definir normas específicas para esse tipo de ensino. A LDB explicita a função do ensino
superior e das universidades, como tendo a finalidade de estimular a criação cultural, o
desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, incentivando o trabalho de
pesquisa e investigação científica, com o objetivo de desenvolvimento da ciência e da
tecnologia, criação e difusão da cultura. (LDB, art. 43, I e II)
Nos artigos 46 e 47, a referida lei trata sobre a descentralização e a autonomia para as
escolas e universidades, além de estabelecer um processo de avaliação das instituições, e
também sobre a valorização do magistério.
Para o Professor Romualdo Portela de Oliveira, em seu artigo, “A Transformação da
Educação em Mercadoria no Brasil”, o senário atual da educação superior no Brasil, estaria
voltada diretamente a uma mercantilização, onde as instituições de ensino superior agiriam
com um propósito apenas de crescimento. Então para os dias atuais este seria o cenário mais
próximo da realidade brasileira.
A forma mais visível desse crescimento é a compra de outras instituições e
seu aperfeiçoamento, por meio da implantação de uma gestão mais
profissionalizada. Tal processo tem propiciado o crescimento acelerado de
algumas instituições, generalizando a educação como uma mercadoria, assim
como a tendencial oligopolização da oferta. Conclui-se afirmando que é
cabível falar-se em uma financeirização da educação, posto que é o setor
financeiro que assume a hegemonia na educação privada no país.
10
Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores
profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua;
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio
em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio
da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a
correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual
sistematizadora do conhecimento de cada geração;
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais,
prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;
VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e
benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.
18
1.2. Atuação da Universidade
Pensar na atuação da universidade é analisar que seu papel é plural e diverso, isto
porque, conforme anteriormente mencionamos, a universidade é composta por uma
heterogeneidade, são pessoas diferentes, com culturas, classes sociais contrárias, no entanto,
como objetivos próximos, qual seja, a formação acadêmica de nível superior.
A Educação Superior, até pouco tempo, tinha caráter humanístico, era
privilégio de poucos, quase todos provenientes de famílias dominantes no
cenário político e econômico do país. Os estudantes buscavam mais um
“aprimoramento pessoal” do que uma profissão. Mas hoje a importância que
adquirem, as questões da ciência, tecnologia e comunicação no mundo
globalizado provoca sensíveis transformações nas sociedades
contemporâneas em todos os sentidos, sinalizando a construção de uma nova
sociedade, uma nova realidade social, obrigando a educação escolar a
vincular-se às práticas sociais e ao mundo do trabalho. (BARBOSA, 2011, p.
11).
Neste contexto, é possível percebermos que a universidade assim como outras
instituições são “artefatos” sociais que devem ser compreendidos como produtos da história
humana.
A universidade é uma produção social e histórica; sua função social não está dada por
uma definição natural.
A existência da universidade dá-se para produzir o conhecimento, gerar pensamento
crítico, organizar e articular os saberes, formar cidadãos, profissionais e lideranças
intelectuais. De modo concreto, não podemos pensar que a construção do conhecimento é
entendida como individual. O conhecimento é produto da atividade e do conhecimento
humano marcado social e culturalmente. O papel do professor consiste em agir com
intermediário entre os conteúdos da aprendizagem e a atividade construtiva para formação do
conhecimento acadêmico .
A universidade não é perfeita e tão pouco inquestionável, ela funciona bem ou mal,
cumpri com maior ou menor efetividade suas atribuições e está na vivência de uma sociedade
e não acima dela.
A universidade tem luz própria, é o local de transformação e crescimento,
independentemente de qual época, sociedade ou Estado estejam inseridas.
A instituição de ensino universitário se dedica à pesquisa e a transmissão de
conhecimento. Quando se trata sobre a transmissão de pensamento as universidades são
afetadas as épocas históricas e as sociedades entendem o conhecimento. O conhecimento é
19
aquele que liberta, promove e emancipa, ou ainda pode ser considerado como instrumento de
desenvolvimento profissional ou ajuste com a qual as pessoas melhoram suas vidas. Hoje,
todavia, por conta da globalização, o conhecimento também se tornou um bem de mercado.
Com isso, na universidade que tem como fim transmitir e produzir o conhecimento sofre uma
grade alteração. A relação professor – aluno- instituição fica abalada, pois a produção torna-se
mais importante que a transmissão.
Cunha (1989) proclama a autonomia da Universidade, quase que afirmando sua
soberania, ao afirmar que:
"(...) a universidade produz e dissemina a ciência, a cultura e a tecnologia
mediante procedimentos que lhe são próprios, desde a escolha dos temas de
estudo até o ensino, forma predominante de disseminação. (...) Se outra
forma de prestação de serviços - a extensão- desligar-se da produção
acadêmica e do ensino, teremos um serviço governamental de assistência
social (saúde, desfavelamento, alfabetização) ou uma agência de fomento às
empresas (treinamento de pessoal, projetos, assistência técnica,
etc)”. (CUNHA,1989 p. 70/71).
A universidade está situada em uma posição importante dentro da sociedade. A
Declaração Universal sobre Educação Superior11 reconhece em seu preâmbulo a importância
indiscutível da universidade para qualquer sociedade. Afirma em seu texto a importância do
conhecimento e da pesquisa para que haja um desenvolvimento cultural, socioeconômico e
sustentável.
Diante do exposto, a universidade é um espaço de formação e de produção de
conhecimento, não sendo um “meio”, mas sim um “fim”. Seu papel fundamental é
desenvolver e promover a pesquisa, estudos em áreas específicas, com vistas ao
desenvolvimento humano, científico e tecnológico. A universidade deve retomar a questão de
sua função social na questão da cultura e da profissionalização. É necessário encontrar um
novo caminho entre a formação técnico/profissional e a formação humanista/cultural. Para
11
Conferência Mundial sobre Educação Superior - UNESCO, Paris, 9 de outubro de 1998.
“(...) Enfatizando que os sistemas de educação superior devem aumentar sua capacidade para viver em
meio à incerteza, para mudar e provocar mudanças, para atender às necessidades sociais e promover a
solidariedade e a igualdade; devem preservar e exercer o rigor científico e a originalidade, em um
espírito de imparcialidade, como condição prévia básica para atingir e manter um nível indispensável
de qualidade; e devem colocar estudantes no centro das suas preocupações, dentro de uma perspectiva
continuada, para assim permitir a integração total de estudantes na sociedade de conhecimento global
do novo século. (...)”.
20
isso, é necessário que a universidade leve a sério em todas as áreas de atuação, sua função
cultural.
2. A Formação e o Papel do Docente Universitário
A questão sobre a formação do docente universitário está atualmente em pauta. A
sociedade e a universidade questionam-se quanto à qualidade da formação para a docência no
ensino superior. Isso explica-se pelos conflitos que ocorrem entre professores e alunos.
É neste sentido que a professora Selma Garrido Pimenta, no livro, “Saberes
pedagógicos e atividade docente” expõe a necessidade de uma formação inicial e continuada
a partir das práticas pedagógicas e docentes (PIMENTA, 2002, p.15). É necessário que o
docente tenha uma formação adequada, pois na sociedade contemporânea cada vez mais se
torna necessário o seu trabalho de mediação nos processos construtivos da cidadania dos
alunos, um trabalho de orientador e facilitar quanto a busca da pesquisa e a construção do
conhecimento. Para tanto a análise da formação inicial e continuada é necessária para a
construção da prática docente e da relação professor-aluno. A formação inicial deveria ser
mais voltada para a prática das atividades docentes enquanto a formação contínua deveria agir
para as mudanças na relação de ensino.
Anteriormente, como aponta Masetto (2003), os professores universitários, ainda que
possuíssem alguns títulos acadêmicos, pouca importância reservava à sua formação enquanto
professores e à preparação para a docência e o processo de ensino-aprendizagem; o docente
acabava se especializando em seu campo de conhecimento, uma vez que isto era pré-requisito
para a atuação como docente. Muitas vezes foi possível pressupor que apenas seria necessário
que o profissional conhecesse bem o assunto para que pudesse ser um bom professor.
Todavia, essa situação está modificando-se gradativamente, o professor universitário está
tendo uma visão crítica quanto à sua atuação, quanto à relação com os discentes e a sociedade.
Para que a atuação no ensino superior seja efetiva, o profissional docente deve ter em mente
que é necessário ter uma visão enquanto educador, que seja uma pessoa ativa e sensível às
atualidades, seja no sentido social ou tecnológico, e que tenha uma prática didático-
pedagógica para atuar na docência.
Quanto a formação docente nas universidades, algumas instituições têm buscado
implementar programas de capacitação e formação contínua. Esses programas favorecem o
oferecimento de bolsas para programa de mestrado, doutorado ou pós-graduação, tanto no
Brasil quanto fora dele. Há, como exemplo, na Universidade Federal do Rio de Janeiro
21
(UFRJ), o incentivo a pesquisa com o PICDT12 e na Universidade Federal de Goiás (UFG), o
PROIN13, oferecendo bolsas de curta duração, com o objetivo, de induzir a formação pessoal
e a geração de conhecimento.
Seguindo estes pressupostos para a atuação docente, as universidades deveriam criar
um corpo docente com estas qualidades, onde haja um verdadeiro incentivo para a função
docente. O professor também deverá ter conhecimento e percepção quanto aos apoios e
incentivos por parte das instituições de ensino. O conhecimento virá também pela formação
continuada, que é considerada como sendo uma atividade profissional, “algo que se refaz
continuamente por meios de processos educacionais formais e informais variados, cujo
desenvolvimento consiste em auxiliar qualquer tipo de profissional a participar de atividades
do mundo que o cerca incorporando tal vivência ao conjunto de saberes da sua profissão”
(ROSEMBERG, 2002, p.47).
2.1. Formação do Docente Universitário
Na última década vem-se discutindo a formação do professor universitário. Até a
década de 70, via-se como profissional da área de docência superior, a pessoa com formação
(graduação) e/ou com especialização, seguindo neste sentido a expressão do Professor
Masetto: “quem sabe, automaticamente, sabe ensinar”, e isto se explica pelo modo como as
aulas eram ministradas, o docente em suas aulas expositivas ou palestras explicava na teoria
como se faz na prática. Este profissional deveria estar inserido em sua área de trabalho e
assim ter competências práticas para serem exemplificadas em sala de aula.
Masetto, em seu livro: “Competência pedagógica do professor universitário”, levanta a
questão sobre a devida formação do docente, não sendo suficiente apenas a graduação e a
inserção no mercado de trabalho, mas também, sendo necessária uma formação específica
quanto à didática e as práticas educativas. Explica o autor:
Em primeiro lugar refletir sobre a estrutura organizativa do ensino superior
no Brasil, que desde seu início (e até hoje...) sempre privilegiou o domínio
de conhecimentos e experiências profissionais como os únicos requisitos
para a docência nos cursos superiores. (MASETTO, 2003, p.11)
12
Programa Institucional de Capacitação Docente e Técnico.
13
Programa de Apoio à Integração Graduação/Pós-graduação.
22
Portanto, na prática verifica-se que a formação específica do bacharel não é suficiente
para prepara-lo para o exercício da docência, sendo assim não há justificativas para se
dispensar uma formação didático-pedagógica.
Em 1971, a Lei 5692, mobilizou uma reforma na educação e também quanto a
formação do docente. Todavia a formação continuada ficou apenas como uma “reciclagem”
do que o professor já tinha como formação. E esta formação específica do bacharel já não
seria mais suficientemente capaz de prepará-lo para a docência, e, este despreparo pela falta
de conhecimentos pedagógico veio a dificultar o processo de ensino-aprendizagem.
Na década de 80 com a “praxis educativa”, que é atuação reflexiva e crítica sobre a
educação apontada por Nóvoa (1992), surgiram os primeiros questionamentos quanto a
formação dos docentes do ensino superior. Masetto (2003), em sua literatura aborda o
problema da má formação dos professores universitários. Afirma que a educação em nível
superior ou de pós-graduação teria mais qualidade desde que fossem ministradas aulas por
professores altamente qualificados.
A questão quanto a formação de professores universitários e dos demais professores é
levada a análise para que haja uma melhoria significativa na educação, no sentido de
melhorias da qualidade de ensino ministradas nas instituições escolares.
Segundo Pimenta e Anastasiou (2002, p.23):
A formação de docentes para o ensino superior no Brasil não está
regulamentada sob a forma de um curso específico como nos outros níveis.
De um modo geral, a LDB admite que esse docente seja preparado nos
cursos de pós-graduação tanto stricto como lato sensu, não se configurando
estes como obrigatórios (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 23).
A atuação para o exercício docente no ensino superior exige uma vasta gama de
saberes que vai além dos conhecimentos específicos do profissional, o profissional docente do
ensino superior pode atuar por dois modos: atuação profissional prática ou
teórico/epistemológico (decorrente do exercício acadêmico). Exige-se dos docentes uma
apropriação de novos saberes e de novas competências para saber como agir em situações
pertinentes a atuação docente. Essas exigências partem tanto de demandas internas quanto
externas. Constantemente o profissional docente do ensino superior é desafiado a lidar com
mudanças sociais, tecnológicas e comportamentais, portanto sua preparação para a atividade é
essencial.
23
No entendimento de Veiga (2010), o termo formação é um elemento integrante do
processo de desenvolvimento profissional do professor universitário e de aperfeiçoamento do
seu “fazer” didático-pedagógico.
Nesse sentido, Nóvoa (1992, p.25) comenta:
A formação deve estimular uma perspectiva reflexivo-crítica, que forneça
aos professores os meios de um pensamento autônomo que facilite as
dinâmicas de autoformação participada. Estar em formação implica um
investimento pessoal, de um trabalho livre e criativo sobre os percursos e
projetos próprios; com vistas à construção de uma identidade que é também
uma identidade profissional (NOVOA, 1992, p. 25).
A formação reflexivo-crítica atua juntamente com a formação continuada, e estas
devem agir conjuntamente visando, sobretudo o desenvolvimento e a produção do professor e
também o desenvolvimento das instituições. O desenvolvimento do professor deve ser tanto
na questão pessoal quanto profissional. Para Nóvoa (1992) são enunciadas cinco teses sobre a
formação de professores em serviço, são elas: a formação contínua deve alimentar-se de
perspectivas inovadoras; valorizar as alternativas de formação participada e de formação
mútua alicerçar-se numa reflexão na prática sobre a prática; incentivar a participação de todos
os professores na concepção, realização e avaliação de programas de formação contínua; e
capacitar as exigências inovadoras e as redes de trabalhos que já existem. As universidades
seriam as principais instituições que proporcionariam que estas teses se realizassem.
Conforme já apresentado, é a instituição de ensino superior que proporcionará, segundo a
legislação, o incentivo a busca do conhecimento acadêmico e a produção de pesquisas.
Neste contexto então se verifica que a formação do docente universitário é tão
importante quanto para qualquer outra profissão. A docência não é acima de tudo uma
vocação ou aptidão inerente, não basta apenas achar que sabe como lecionar, é preciso estar
pautado por técnicas e teorias sobre a didática educativa. O professor não deve ser um mero
reprodutor das teorias e sim um profissional comprometido com o mundo em sua volta. É
essencial que saiba transmitir seus conhecimentos, porém, pautado em sérias pesquisas sobre
o “fazer docente”. Então, este fazer docente constituirá em ter uma formação adequada,
relacionar-se com os alunos e a instituição de ensino. Fundamenta Isaia:
[...] tornar-se docente se realiza em um processo de aprendizagem que
acompanha toda a trajetória do professor, indicando sua incompletude como
ser humano e como docente. A aprendizagem seja qual for, faz parte da
natureza humana. Cada um nasce na condição de aprendiz e o que faz com
essa ferramenta humana depende de inúmeros fatores, tanto exógenos quanto
24
endógenos. Aprender durante toda a vida e em toda a trajetória profissional é
uma construção que todo professor precisa aceitar, para poder construir-se
como docente (ISAIA, 2007, p. 157).
Sem que haja uma efetiva formação para a construção do docente superior, pouco
mudará o contexto institucional. Acreditamos que para o profissional docente exercer sua
atividade deverá estar pautado pela didática do ensino superior, pois sem esta, será sempre um
mero expositor de conhecimento.
Valer-se de uma formação adequada para a docência fará com que este professor sinta-
se mais confiante e preparado para a atuação no ensino superior.
Lidar com alunos não é apenas estar em sala de aula e “palestrar” sobre determinado
tema é ir além, é exercer seu papel de cidadão na formação de seres críticos.
2.1.1. O Professor Reflexivo no Ensino Superior
A universidade parece ser o lugar, por excelência, da reflexão e do pensamento crítico.
Pode-se então ser tentado a dizer que formar professores segundo seu paradigma é uma tarefa
“natural” das universidades. (PERRENOUD, 1999).
Porém, a universidade hoje ainda não está preparada integralmente para a formação
reflexiva dos docentes. (PIMENTA, 2002, p.17).
Os maiores desafios do educador numa sociedade que se transforma aceleradamente são
a importância das competências e da reflexão do processo educativo.
Donald Schon (2000), apresenta noções para o nascimento do professor reflexivo, são
elas: conhecimento na ação, reflexão na ação, reflexão sobre a ação e reflexão sobre a
reflexão na ação. A ação reflexiva resulta assim, nas atitudes de abertura da mente.
Conhecimento na ação é o conhecimento que os profissionais demonstram
na execução da ação; é tácito e manifesta-se na espontaneidade com que uma
ação é bem desempenhada. [...] Se refletirmos no discurso da própria ação,
sem a interrompermos, e reformulamos o que estamos a fazer, estamos a
realizá-lo, tal como na interação verbal em situação de conversação perante
um fenômeno de reflexão na ação. Se construímos mentalmente a ação para
tentar analisá-la retrospectivamente, então estamos a fazer uma reflexão
sobre a ação. [...]a reflexão sobre a reflexão na ação, processo que leva o
profissional a progredir no seu desenvolvimento e a construir a sua forma
pessoal de conhecer[...] ajuda a determinar as ações futuras, a compreender
futuros problemas ou a descobrir novas soluções. (ALARCÃO, 1996, p. 16-
17).
25
Um profissional reflexivo da educação é aquele que se encontra diariamente em contato
com a realidade essa atividade de reflexão é a atuação inteligente e flexível. Neste sentindo a
atuação do decente é definida como um saber-fazer sólido, teórico e prático, inteligente e
criativo, como ensina (ALARCÃO, 1996, p.13).
A formação e a construção dos saberes dos docentes que atuam na educação superior
são constituídas de um processo que deve abranger as questões políticas e pedagógicas, e
estas deverão sempre estar relacionadas ao desenvolvimento pessoal e institucional. Para tanto
as universidades deverão ter uma estrutura curricular que se comprometa com a atuação
crítico-reflexiva deste docente.
Visualiza-se então um docente facilitador da aprendizagem, quando o processo
formativo é baseado na prática e na experimentação como fonte permanente de conhecimento,
assim, o aluno será direcionado a construir o seu saber e o seu saber-fazer de forma criativa e
pessoal, tendo na reflexão a instância integradora de conhecimentos. As aulas dialogadas e até
mesmo as aulas práticas facilitariam o entrosamento entre professor-aluno e assim a proposta
de facilitação do ensino seria alcançada.
Todavia, conforme apresenta Perrenoud (1999), a prática reflexiva não é uma
metodologia de pesquisa. A simples formação acadêmica não prepara para a prática reflexiva;
a iniciação para a pesquisa não deve ser considerada como fundamental para a formação
acadêmica docente, só poderá ser considerada como tal, se desenvolver dispositivos
específicos, como por exemplo, análise de práticas e estudos de caso.
Quanto a universidades e docentes reflexivos, Perrenoud comenta:
Se a universidade se preocupasse mais em formar “pesquisadores reflexivos”
encontrar-se-iam numerosas convergências, mas a preocupação
metodológica é infelizmente, em geral, mais localizada no eixo do
tratamento de dados do que sobre a negociação com o campo e a
regulamentação de atividades e do trabalho (PERRENOUD, 1999).
Para que haja enfim uma reestruturação do sistema de formação de professores,
acreditamos que seja necessária a valorização da prática que poderá ser entendida em reflexão
sobre a prática, a investigação sobre a prática e a partilha de experiências. E esta só alcançará
seus plenos objetivos, uma vez, que a atenção do professor esteja voltada para dentro e para
fora da instituição de ensino, que sua reflexão seja considerada uma prática social, e que essas
práticas serão sempre garantidas. Da mesma forma, a formação pedagógica do profissional
docente deve levar em consideração uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática docente, de
26
tal forma que possam ser analisadas todas as teorias implícitas e seus esquemas de
funcionamento. A docência no ensino superior então deveria ser apontada para reflexão
quanto a aplicação das suas atividades, facilitando a construção do conhecimento acadêmico e
proporcionando a pesquisa.
A formação de professores na tendência reflexiva se configura como uma
política de valorização do desenvolvimento pessoal-profissional de
professores e das instituições escolares, uma vez que supõe condições de
trabalho propiciadoras da formação como contínua dos professores, no local
de trabalho, em redes de auto formação, e em parcerias com outras
instituições de formação. (PIMENTA, 2002, p.31)
Verificamos, portanto, o professor reflexivo no ensino universitário deve comprometer-
se antes de tudo com sua formação adequada para a docência e diante deste contexto, terá
condições de analisar suas atividades e assim propiciar um bom relacionamento com seus
discentes, como também desenvolver sua atividade de forma clara. A coparticipação entre
professor e aluno no processo de ensino aprendizagem se intensifica. O aluno começa a ver no
professor um aliado para a sua formação. Pois, a aprendizagem desejada engloba além dos
conhecimentos necessários, habilidades, competências e análise do desenvolvimento de
valores.
2.2. A Formação Docente Diante do Contexto Social
No contexto da educação superior, a universidade deve acompanhar de forma muito
crítica, as mudanças que ocorrem no mundo. É necessário que as universidades favoreçam de
forma comprometida a formação dos agentes de transformação.
A instituição de ensino superior tem por excelência a obrigação de acompanhar as
sociedades nas quais está inserida, desta maneira, não é possível aceitar uma educação
retrógrada e sem embasamentos. Os sujeitos sociais são outros, não cabendo mais discursos
atrasados ou retrógrados. Todavia, quando se fala em mudança, há de se observar uma
mudança pautada em diretrizes e estudos, não devendo ocorrer o descarte total, pois a
universidade deve estar inserida na realidade das sociedades e não viver fora dela.
Diante da função da universidade em propiciar uma educação voltada para o
crescimento real da sociedade, é necessário verificarmos se o docente tem uma formação
adequada para também acompanhar essas mudanças.
27
Como já apresentado anteriormente na formação docente, o professor do ensino
superior não deve ser aquele apenas com uma formação específica, que sabe ensinar na teoria
o que faz na prática, não basta tão somente ser um pesquisador ou um intelectual, é necessário
que conheça as dinâmicas quanto as técnicas de ensinar e saber acima de tudo, como ensinar.
O professor universitário, para exercer a docência necessita de especializações lato e
strictu senso14 para apenas um terço do corpo docente, mas mesmo com essas especializações,
isso não é garantia de a formação para a docência atingirá sua plenitude.
A formação prática incluída no período da formação inicial deveria permitir
ao futuro professor:
1. Identificar-se a si próprio como professor e aos estilos de ensino que é
capaz de utilizar, estudando o clima da turma e os efeitos que os
referidos estilos produzem nos alunos.
2. Ser capaz de identificar os problemas de organização do trabalho na sala
de aula, com vistas a torna-lo produtivo. Os problemas de disciplina e de
organização da classe são mais agudos durante o primeiro ano de
exercício da profissão.
3. Ser capaz de resolver os problemas decorrentes das atividades de ensino-
aprendizagem, procurando tornar acessíveis os conteúdos de ensino a
cada um dos seus alunos. (ESTEVE, 1992, p.119)
Ainda o mesmo autor aponta que para que o professor evite o mal-estar docente e
supere o “choque de realidade”, é necessário agir com a aprendizagem, ainda que seja na
tentativa e erro e assim as tensões tenderão a diminuir. E é neste momento que a auto
realização no trabalho docente começa a surgir. Quando o professor está cercado por
orientação quanto a sua atuação, sente-se preparado a encarar os alunos, a universidade e toda
a sociedade.
O professor dessa sociedade contemporânea precisa compreender que a figura do
detentor do saber já está ultrapassada, no exercício de sua atividade docente, este profissional,
deve propiciar um ambiente de experiências positivas para a aprendizagem, conteúdos
contextualizados com a realidade e as alterações sociais dessa sociedade, ser o instigador, para
que o aluno seja estimulado a buscar o conhecimento.
A formação docente para a docência no ensino superior deve ser encarada com muita
atenção. A universidade tem a função da universalidade das informações e das ideias e, se ela
não tiver em seu quadro de profissionais, docentes, que estejam preparados para essa função,
a universidade perde sua principal característica.
14
Art. 52, II, LDB: - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou
doutorado.
28
Valorizar a formação docente é muito importante, pois a sociedade exigirá cada vez
mais que estes profissionais possuam habilidades e conhecimentos para a atuação na docência
superior e também para lidar com as complexidades das relações interpessoais e das relações
sociais.
Um docente que tenha uma boa formação quanto as técnicas de aprendizados, das
práticas didático-pedagógicas, poderá acender a função da universidade assim como poderá
fazer com que seus alunos tornem-se sujeitos críticos e atuantes da sociedade, pois esta,
sempre estará em mudanças, seja no contexto político, econômico ou social.
2.3. A Atuação do Docente
Com base em Esteve (1992), acreditamos que, para que o professor universitário
possa aplicar sua prática à docência (agir de forma facilitadora e reflexiva) é necessário que
esteja pautado em três pontos principais, – o conteúdo da área na qual é especialista; sua visão
de educação, do homem e de mundo; e as habilidades e conhecimentos que lhe permitam uma
efetiva ação pedagógica em sala de aula -, existindo uma total interação e influência recíproca
entre esses diferentes polos.
Algumas pesquisas para dissertações vêm dedicando-se a entender o papel do
professor universitário, e o que percebemos é que a qualificação deste profissional muito está
defasada para que se possam enfrentar os problemas educacionais da contemporaneidade.
Estes problemas devem-se pela formação inicial do docente e a realidade da educação
universitária. O docente torna-se apenas continuísta, quando da falta de formação adequada,
os alunos esperam mais interatividade com o professor, e a universidade busca o bom
relacionamento entre as partes, para que assim seu objetivo seja alcançado.
Para tanto, iniciativas do início dos anos 2000, tentam preencher estas defasagens. São
iniciativas tanto públicas quanto privadas, e o foco está na Formação Continuada, conforme
explicita (PIMENTA, 2006, p. 34).
Esta formação continuada tem a função de ligar a formação inicial do docente, com as
mudanças advindas da área da educação.
A atividade docente está inteiramente ligada a formação pedagógica, e esta implicam a
um movimento de relação entre professor, aluno e conteúdo de ensino, tratam-se então sobre a
“troca” de conhecimentos, experiência e vivências.
29
Shulman (2005), em seu texto: “Conocimento Y Enseñanza: Fundamentos de La
Nueva Reforma”, faz apontamentos relevantes sobre o exercício da docência, como, o
conjunto de conhecimentos, compreensão, habilidades e motivação. Os professores têm
dificuldades para articular o que conhecem e como conhecem. E o que seriam esses
conhecimentos para a atuação docente? Seriam apenas a habilidade da oratória?
Conhecimentos específicos? Com o intuito de responder e organizar os conhecimentos do
professor, o referido autor traz a seguinte lista:
Conhecimento do conteúdo - O saber, a compreensão, as habilidades e as
disposições que devem adquirir os alunos. Essa responsabilidade coloca de
maneira especial tanto uma profunda compreensão das estruturas da matéria,
por parte do professor no que se refere ás atitudes, ao entusiasmo do
professor frente ao que está ensinando e aprendendo. Conhecimento
didático geral - Princípios e estratégias gerais de manejo e organização da
classe que transcende o âmbito da disciplina. Conhecimento do currículo -
Considera-se no conhecimento do currículo, seus âmbitos e sequências. Os
princípios, as políticas e as circunstâncias de funcionamento. Testes e
materiais para sua aplicação e os programas que servem como ferramentas
para o ofício do docente. Conhecimento didático do conteúdo - O elo entre
a matéria e a pedagogia que constitui uma esfera exclusiva dos mestres ou
seja, sua forma especial de compreensão profissional. Conhecimento dos
alunos e de suas características - O professor não somente deve conhecer a
fundo a matéria específica que ensina como também deve possuir uma ampla
formação humanista, que facilita a aquisição de novas compreensões. Frente
à diversidade dos alunos, o professor precisa de uma compreensão que lhe
permita explicações alternativas para um mesmo princípio ou conceito.
Conhecimento dos contextos educativos - Engloba desde o funcionamento
do grupo ou da classe, da gestão e financiamento dos distritos escolares até o
caráter das comunidades e culturas. Conhecimento dos objetivos, das
finalidades e dos valores educativos e dos seus fundamentos filosóficos e
históricos - Muitos trabalhos que difundem os resultados de investigações
empíricas, também servem como fontes de divulgação dos conhecimentos de
base. Algumas pesquisas se concentram na identificação dos
comportamentos e estratégias do professor, que com maior probabilidade,
vão suscitar um progresso e rendimento acadêmico dos alunos. Tais
conclusões podem estar mais associadas ao ensino de destrezas.
(SHULMAN, 2005).
A atuação do docente deve ser interligada com as propostas da instituição de ensino –
currículo e projetos - e com a realidade social a sua volta. A docência do ensino superior
exige do professor um domínio em uma determinada área de conhecimento e também na área
pedagógica, que neste último ponto há grande defasagem. Por fim, o objetivo máximo da
docência é a aprendizagem dos alunos. O docente tem que ter total entendimento sobre o
“aprender”, quais são as teorias sobre a aprendizagem, as mais importantes e o que se deve
aprender atualmente. O aprendizado deve ser significativo e integrador. Compreender no
30
processo de aprendizagem o desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional, de habilidades e
a formação de atitude.
Quanto à atuação em sala de aula, o docente precisa comunicar-se de forma clara,
abranger as técnicas de aprendizagem como, trabalhar em equipe, relatórios, pesquisas em
bibliotecas entre outras, e também valorizar o conhecimento e sua atualização, a pesquisa, a
crítica, a cooperação, os aspectos éticos do exercício da profissão, os valores sociais,
culturais, políticos e econômicos, a participação na sociedade e o compromisso com a
evolução.
Precisa aprofundar-se no conhecimento e na prática de uma relação com os
alunos de forma a colaborar com eles em sua aprendizagem. Precisamos de
um professor que assuma o papel de orientador das atividades que permitirão
ao aluno aprender, que seja um elemento motivador e incentivador do
desenvolvimento de seus alunos, que esteja atento para mostrar os
progressos deles, que forme com eles um grupo de trabalho com objetivos
comuns, que incentive a aprendizagem e estimulem o trabalho em equipe, na
busca de solução para problemas, usando técnicas em sala de aula que
facilitem a participação. (CUNHA, 2009)
Para a atuação do docente no ensino superior a reflexão crítica e a sua adaptação são
fundamentais para que este profissional possa compreender como se pratica e como se vive a
cidadania nos dias atuais; e isso se dá no momento em que o professor incorpora em suas
aulas a reflexão, textos de leitura e escolhendo outras estratégias para que o processo de
ensino-aprendizagem ocorra da forma prevista, reconstruindo o conhecimento. O professor
precisa aprofundar-se no conhecimento e na prática de uma relação com os alunos de forma a
colaborar com eles na aprendizagem assim como as universidades devem estar preparadas
para responder às mudanças da contemporaneidade.
Shulman (2005) defende que o ensino exige habilidades básicas, conhecimento do
conteúdo e habilidades didáticas gerais. Portanto, o docente deve estar atento a todas atitudes
dentro da sala de aula, e assim propiciar a expansão do conhecimento.
3. As Mudanças Sociais e a Prática Docente
Nóvoa, Perrenoud (1999), Pimenta e Ghedin (2006) são alguns dos autores que mais
se expressão sobre a atuação do professor universitário diante das mudanças sociais. Pimenta
e Ghedin (2006) tratam especificamente a atuação do professor como ser reflexivo, onde a
31
reflexão é entendida como a superação dos problemas cotidianos vividos na prática docente e
assim a efetiva elevação do estatuto da profissionalidade docente e para a melhoria das
condições escolares. Perrenoud (1994) faz uma profunda investigação na formação de
professores em contextos sociais em mudanças. Alguns questionamentos são sublimados,
como: a escola pode manter-se estagnada diante das mudanças? Quais são as práticas
reflexivas? Como se dão as participações críticas como responsabilidade da cidadania? Como
se dá a formação docente dentro deste contexto de mudanças? Há que se ter uma análise
crítica diante da formação docente e as constantes mudanças. As instituições de ensino não
devem ter mudanças profundas e constantes, por conta de troca de governos ou políticas
públicas, mas deve-se manter atualizada quanto os conceitos destas mudanças, de fato, os
objetivos poderão ser modificados, porém seus valores nunca serão.
Quanto a Nóvoa (1992) em sua coletânea sobre a profissão docente, juntamente com
Esteve (1992), exprimem sérias preocupação quanto às mudanças sociais e o mal-estar
docente; as mudanças nas instituições de ensino; da ruptura do consenso social sobre a
educação; mudanças de expectativas em relação ao sistema educativo; a falta de apoio da
sociedade; as mudanças nas relações “professor-aluno”; e por fim, as atitudes dos professores
perante a mudança social.
Esta pesquisa aborda apenas a relação da profissão docente universitária diante de
mudanças que são percebidas no contexto social, o objetivo não é fazer um estudo sociológico
acerca do tema. A sociedade está em constante alteração, transformação, e entender como
essas mudanças afetam a relação “professor-aluno” e a formação docente, são os objetivos
norteadores desta pesquisa.
Como ponto de partida é possível analisar as mudanças sociais em quatro
características:
1. São fenômenos coletivos que afetam as condições e/ou as formas de vida da sociedade;
2. As transformações não devem ser superficiais e necessitam possuir provas de certa
permanência;
3. São possíveis de se identificar pelo tempo. A partir do tempo que se tem como referência é
possível verificar o que é que mudou;
4.São mudanças que devem afetar a estrutura da sociedade, pois assim a sua observação se
torna possível.
Acredito que a Educação vai virar um valor social quando mais gente – não
importa a área de atuação, empresário, sindicalista, intelectual – perceber
32
que é preciso melhorar a qualidade do ensino e que esse engajamento tem
impacto sobretudo na vida das famílias humildes. [...] Infelizmente, essa é a
realidade do país, mas devemos continuar lutando para fazer com que a
Educação assuma esse papel fundamental que tem para mudar a realidade da
população. (HADDAD, 2009).
As atitudes dos professores perante a mudança dos sistemas de ensino não diferem em
muito das atitudes gerais dos seres humanos face à mudança social acelerada. (ESTEVE,
1992, p. 109). Isto quer dizer, que o docente será afetado como qualquer outra pessoa que
vive em sociedade, porém, essas mudanças poderão recebidas de forma mais suave se o
docente universitário estiver preparado para elas.
3.1 Conceitos de Mudança
Algarte (1994), o conceito de mudança é interpretado como “revolução”, que é a
“quebra repentina e de longo alcance na continuidade do desenvolvimento de um sistema
social”. Os obstáculos são de difícil superação porque não estão apenas no âmbito das
dificuldades materiais, mas das ideias, da consciência e dos valores intrínsecos do homem.
(ALGARTE 1994, p.189)
A sociedade está em constante mudança, isto, tanto no contexto social como
tecnológico. A medicina e engenharias são dois bons exemplos no contexto das mudanças. O
aprimoramento dessas áreas contribui em muito para a transformação da vida das pessoas. No
entanto quando fala-se em mudanças para a educação, essas não são tão rápidas, e as vezes
essas mudanças são confundidas com as mudanças tecnológicas e não mudanças da atuação
docente e da instituição de ensino.
A sala de aula ainda continua a mesma, ainda há o triângulo educacional: “professor,
aluno e sala de aula”, a sociedade muda, mas a forma como a educação é encarada, ainda
continua a mesma. Haja vista que existam transformações na sociedade, é necessário que haja
também uma reforma na educação. “A simples constatação destas mudanças basta para
justificar as tentativas de reforma do ensino” [...] Nóvoa (1992, p.95).
Para Wittizorecki, a mudança fundamenta-se:
As mudanças sociais, políticas e econômicas que nos afetam a todos, são
produzidas pelos sujeitos a partir do tipo de relação que estabelecem na
sociedade. Em diferentes momentos históricos, vamos construindo
determinados saberes, pautas de comportamento, estratégias de ação que
buscam dar sustentação e significado aos nossos atos cotidianos, coletivos e
individuais. Os sujeitos que se envolvem hoje, parecem chocar-se com
33
parâmetros, papéis e crenças que até então entendiam como legítimos ou
ainda, os encontra defasados, carentes de sentidos ou obsoletos. Em outras
palavras, sempre houveram mudanças sociais. A questão que pode
encaminhar uma melhor compreensão é: enquanto professores, que
mudanças mais nos tocam nos dias de hoje e como estamos lidando com
elas? (WITTIZORECKI, 2009)
Na prática da atividade docente, principalmente quanto a qualidade do seu agir, está a
capacidade de estimular, motivar e acreditar cada vez mais nas relação entre aos seres da
sociedade, portanto as mudanças podem ser benéficas para a realização do desenvolvimento
de um ser humano crítico e reflexivo.
3.1.1. As Mudanças Sociais no Ensino Superior
O objetivo central desta pesquisa é analisarmos a atuação do docente universitário
diante das interferências da mudança social, no entanto cabe verificarmos quais são essas
mudanças que estão atuando dentro do ensino superior.
Nóvoa (1992) e Esteve (1992), fazem algumas considerações acerca do tema.
Conforme afirmado anteriormente, ocorre a mudança social quando surge uma alteração que
modifica um estado anterior de uma realidade social.
A Educação Superior, até pouco tempo, tinha caráter humanístico, era
privilégio de poucos, quase todos provenientes de famílias dominantes no
cenário político e econômico do país. Os estudantes buscavam mais um
“aprimoramento pessoal” do que uma profissão. Mas hoje a importância que
adquirem, as questões da ciência, tecnologia e comunicação no mundo
globalizado provoca sensíveis transformações nas sociedades
contemporâneas em todos os sentidos, sinalizando a construção de uma nova
sociedade, uma nova realidade social, obrigando a educação escolar a
vincular-se às práticas sociais e ao mundo do trabalho. (BARBOSA, 2011, p.
11).
O professor universitário na atualidade está enfrentando alguns dilemas sobre a sua
atuação. A universidade assim como a sociedade exige deste profissional uma nova atitude
diante da sala de aula, pois não aceitam mais um professor conteudista e sem prática docente
no processo de ensino aprendizagem. Neste momento o docente entra em contradição, pois,
realmente sua formação não foi para a docência, sendo assim, a dificuldade em se relacionar
com o aluno pode ser a causa do mal-estar docente, que será explicado a seguir.
34
As novas tecnologias, o uso de mídias, o ingresso de diferentes pessoas com diferentes
culturas, e a expectativa para a formação voltada para a ciência e tecnologia, podem deixar o
profissional do ensino superior coagido.
A heterogeneidade etária dentro de uma mesma sala de aula podem causar conflitos
em relação ao docente. Até 2030, segundo o IBGE15, a população será muito diferente dos
dias atuais. Haverá mais idosos e menos jovens, sendo assim, estas pessoas com mais idades
poderão voltar à sala de aula para ter outra formação, pois necessitarão estar inseridas no
mercado de trabalho. (NOVAES, 2014).
Em um mundo globalizado como o de hoje, faz-se necessário rever com
urgência os conceitos sobre educação. Não se trata simplesmente de inventar
novas tecnologias para melhorar o que existe. É necessário repensar, desde
as raízes, de todo o sistema de educação. De nada adianta a reformulação dos
métodos e dos meios, se a educação oferecida não corresponde ao homem
moderno. (BARBOSA, 2011, p. 42).
Quanto às mudanças sociais ainda cabe-nos acrescentar a questão mercadológica e o
perfil do aluno. Anteriormente o aluno entrava na universidade com a finalidade única de uma
formação social, hoje, todavia, há o ingresso em universidade a fim de que consigam
melhores qualificações, o aluno estuda para competir no mercado de trabalho.
Portanto se as mudanças sociais afetam o mercado de trabalho, isso reflete diretamente
na universidade que forma este profissional. Neste sentido o docente toma ainda uma maior
carga de preocupação.
No entanto, as mudanças não podem ser entendidas como negativas. Há mudanças
positivas, principalmente no que se refere à formação docente. Se a sociedade exige um
profissional melhor formado, é obrigação tanto da universidade de dar condições de que este
profissional se qualifique, quanto do docente perceber a necessidade de uma formação
específica.
3.2 O Mal-Estar Docente
O docente em qualquer nível de ensino é obrigado a passar por situações conflituosas e
a resolver estes conflitos, porém nem sempre estão devidamente preparados para estas
situações.
15
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
35
Para Perrenoud, um sentimento de fracasso, de impotência, de desconforto, de
sofrimento desencadeia uma reflexão espontânea para todos ser humano e também para o
profissional docente; a ação positiva também pode desencadear o seu trabalho da melhor
maneira eficaz e próxima a ética.
A transformação da prática dos professores deve se dar, pois, numa
perspectiva crítica. Assim, deve ser adotada uma postura cautelosa na
abordagem da prática reflexiva, evitando que a ênfase no professor não
venha a operar, estranhamente, a separação de sua prática do contexto
organizacional no qual ocorre. (PIMENTA, 2006, p24).
A vivência do docente diante das mudanças sociais não é tarefa fácil. O sistema
educativo é clássico e também pode ser entendido como severo. A formação docente se dá
nestes contextos, porém, quando em atividade, o professor depara-se com alunos afoitos pelas
mudanças e novos paradigmas. Ainda que o docente não tenha provocado o mal-estar pelo
“choque” das expectativas dos alunos e a realidade das universidades quanto ao trabalho
docente, é o professor que deverá amenizar a situação. A expressão “mal-estar docente”
(Esteve, 1987) aparece como um conceito da literatura pedagógica que pretende resumir o
conjunto de reações dos professores como grupo profissional desajustado devido à mudança
social. O “mal-estar docente” é uma “doença contemporânea e internacional”. Do
descompasso entre as novas exigências e demandas colocadas pela sociedade à escola e
consequentemente ao professor derivam características do “mal-estar”.
O mal-estar docente frente ao ensino não deve ser entendido apenas de forma negativa,
e sim como um indício para a melhoria da educação. O professor vive ainda um dilema:
mesmo discordando da forma como funciona e dos valores que pretende transmitir a
instituição em que trabalha, aos olhos dos alunos é o representante daquela instituição e da
sociedade. Segundo Esteve (1992), três fatores explicam quais são as alternativas para a
mudança desta situação vivida pelos professores, são elas:
1. Ajudar ao professor e eliminar o desajustamento – se houveram mudanças, o professor
poderá refletir para tentar achar uma solução;
2. O estudo da influência da mudança social sobre a função docente pode servir como
chamada de atenção à sociedade, para que compreenda as novas dificuldades com que se
debatem os professores;
3. Só com o estudo dos fatores que geram o mal-estar docente é que será possível traçar
linhas no sentido de amenizar ou extinguir o problema.
36
Para Nóvoa, há diversos indicadores que refletem o rebaixamento da qualidade de
ensino, as tecnologias e mídias estão registradas como principais fatores. Sendo assim, o
docente tem de aceitar as mudanças profundas na concepção e desenvolvimento da profissão e
evitar o desajustamento e a desmoralização do professor.
O professor caminha de forma vagarosa para a incorporação das mudanças sociais em
seu cotidiano.
Esteve (1999), aponta que essa vagarosidade dá-se também pela contraposição do agir
docente e da falta de recursos para essa realização. O professor tem a ilusão de uma renovação
didático-pedagógica e vê o seu trabalho limitado pela falta de material didático ou de recursos
para adquiri-los e o prolongamento dessa espera acaba por prejudicar a efetivação de um bom
desempenho do professor: Quando essa situação se prolonga a médio e longo prazo, costuma-
se produzir uma reação de inibição no professor, que acaba aceitando a velha rotina escolar,
depois de perder a ilusão de uma mudança em sua prática docente que, além de exigir-lhe
maior esforço e dedicação, implica a utilização de novos recursos dos quais ele não dispõe
(ESTEVE, 1999, p. 48).
Para compreender quais as situações que são determinantes na vivência educacional,
Esteve (1992), elenca doze fatores. Esses fatores estão divididos em primeira ordem, (incidem
diretamente na ação do professor na sala de aula, referente aos sentimentos e emoções que
provocam tensões e o mal-estar docente) e a segunda ordem, (referente as questões
ambientais). Os doze fatores são:
1. Aumento das exigências em relação ao professor;
2. Inibição educativa de outros agentes de socialização;
3. Desenvolvimento de fontes de informação alternativas à escola;
4. Ruptura do consenso social sobre a educação;
5. Aumento das contradições no exercício da docência;
6. Mudança de expectativas em relação ao sistema de ensino;
7. Modificação do apoio da sociedade ao sistema educativo;
8. Menor valorização social do professor;
9. Mudança dos conteúdos curriculares;
10. Escassez de recursos materiais e deficientes condições de trabalho;
11. Mudança na relação professor-aluno; e
12. Fragmentação do trabalho do professor.
Esses doze fatores sintetizam o mal-estar docente nas instituições de ensino e na
sociedade como um todo. O profissional da educação fica muitas vezes sem saber como agir
37
diante desta difícil realidade. Repensar a atividade docente é necessidade de toda uma
sociedade.
3.3 A Relação Educacional
A relação professor-aluno na educação superior, pode ser descrita como aquela que
surge no cotidiano da vida universitária, transpondo assim um contrato que se estabelece entre
as partes, com regras acerca do comportamento esperado de ambos.
Embora complexas, as relações humanas são peças importantes na realização
comportamental e profissional dos indivíduos, na esfera da educação, a relação entre
professores e alunos tem fundamental importância quanto ao desenvolvimento e agregação de
valores.
No ensino superior a relação entre docentes e discentes, está sujeita a normas, escolhas
pedagógicas, objetivos dos alunos, professores e do curso. Analisando o contrato entre estes
dois sujeitos, verificamos a importância das instituições de ensino superior, como agentes
sociais, com a responsabilidade da formação do sujeito, não apenas, por meio da pesquisa ou
do ensino, mas também por meio da transmissão da cultura.
O diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se
solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser
transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar
ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de
ideias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, 1996, p.91).
Na educação superior há necessidade de verificação do diálogo entre os agentes, o
educador para pôr em prática o diálogo, o docente não deve colocar-se na posição de detentor
do saber, deve antes ter consciência que todos temos competências e/ou habilidades em
determinados assuntos.
[...]ensinar não é transferir conteúdo a ninguém, assim como aprender não é
memorizar o perfil do conteúdo transmitido no discurso vertical do
professor. Ensinar e aprender têm que vir com o esforço metodicamente
crítico do professor de desvelar a compreensão de algo e com o empenho
igualmente crítico do aluno de ir entrando como sujeito em aprendizagem,
no processo de desvelamento que o professor ou à professora deve deflagrar.
(FREIRE, 1996, p.118-119).
38
Lima (2002) salienta, que quando o professor percebe-se como indivíduo em contínua
formação, ele muda a relação que tem com o saber, porém ele tem que ver-se na posição de
aluno, para imaginar como é aprender em outra perspectiva.
Seguindo as orientações da LDB em seu artigo 43 e incisos, a instituição de ensino
superior não poderá ter em seu corpo docente, profissionais conteudistas, apenas preocupados
com o resultado final, há a necessidade de um professor ético, justo, solidário, que se
preocupe com a aprendizagem, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da
criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio
em que vive; na vivência em sala de aula, os alunos buscam que a prática dos professores
sejam coerentes com o seu discurso. O docente é um modelo a ser seguido, e o elo do aluno
ao conhecimento.
O professor não deve preocupar-se com a absorção de informações pelo aluno para
atingir o conhecimento, mas sim, se preocupar com o processo de construção da cidadania do
aluno. O papel do professor em sala de aula é de facilitador da aprendizagem, um meio
utilizado pelas instituições de ensino. Este profissional deverá estar aberto às novas
experiências, em uma relação empática, onde o aluno será favorecido.
Ainda segundo Freire (1996), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer
o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento”. O bom professor é aquele que
tem a relação com o aluno, que compreende a necessidade de sua formação, para que o aluno
seja beneficiado. Cada professor tem suas vivências na formação acadêmica e constrói sua
identidade vocacional e profissional na interação com os alunos através de uma prática
reflexiva.
Uma relação humanizadora deve ser o principal elemento no ensino superior, partindo
da função da universidade, que é preparar para vivência em sociedade, o professor e o aluno,
deve ter um bom diálogo, afim de que experiências sejam trocadas, sem, no entanto, ter a
quebra na estrutura professor-aluno. Para se formar cidadãos críticos e conscientes, o
professor do ensino superior deverá ter conhecimentos específicos da área com os
conhecimentos específicos pedagógicos.
Quanto à mudança social que recai sobre os dois sujeitos, podemos apresentar as
atitudes em sala de aula. Anteriormente o aluno era submisso ao professor, todavia, este
aluno hoje tem outra atitude em sala de aula. Por conta do acesso mais facilitado a informação
(mídias e novas tecnologias), este aluno chega em sala de aula, muitas vezes, questionando o
professor sobre seu conhecimento. Este questionamento, segundo Esteve (1992) pode ser
39
encarado como agressivo e vem a deixar o professor na situação vexatória, partindo então
para o mal-estar docente.
Todavia, o profissional da educação que está preparado para enfrentar estes desafios,
consegue contornar a situação e trazer este aluno para o seu convívio. Uma formação
específica para a docência promove condições de que este professor atue de forma mais
positiva na relação com seu aluno. Quando o professor, valendo-se do processo de
aprendizagem e valorizando a instituição de ensino, chama o aluno e o envolve com a matéria
que está sendo lecionada, ele quebra a barreira da imposição da informação levantada pelo
aluno e consegue com isso construir um elo com o discente. (MASETTO, 2003, p. 23).
A relação professor-aluno, pode ser conturbada, porém, também gratificante. É o
docente que deverá estabelecer o funcionamento desta relação. É ele também que deverá
educar para a mudança, para a autonomia e para a liberdade de atividades, e assim formar
cidadãos com deveres e responsabilidades sociais, conforme determina o artigo 205 da
Constituição Federal de 1988.
3.4 A instituição de Ensino Diante dos Contextos Sociais em Transformação
A sociedade está dentro da escola tanto quanto o inverso. A instituição de ensino tem
uma autonomia relativa e a missão de educar a sociedade. No entanto a missão não seria
cumprida a contento, se a instituição de ensino fosse mudada a cada crise ou mudança de
governo. Os valores de uma instituição de ensino de nível superior, jamais serão alterados. A
escola é um “santuário”, onde a cidadania e o saber não têm o objetivo de se tornarem facção
ou entidade repressora. No entanto, compete ao sistema educativo encontrar um caminho
entre uma abertura destruidora dos conflitos e sobressaltos da sociedade e um fechamento
mortífero, que isola o restante da vida coletiva (Perrenoud, 1992).
As instituições de ensino não devem ficar imóveis em contextos sociais em
transformação, porém, o agir quanto estas transformações não se dão de forma ágil. A
evolução dos problemas e dos contextos sociais não se traduz por uma evolução das práticas
pedagógicas.
Os centros educacionais existem e existiram em qualquer sociedade, seja ela urbana ou
rural, com mais possibilidade aos recursos tecnológicos ou não. E, é neste momento que as
instituições se questionam se cabe formar um professor diferenciado, se sua prática será
sempre igual.
40
Neste sentido Perrenoud (1999) comenta:
Minha argumentação não é crítica. Ela visa somente demonstrar que a
vontade de mudar a escola para adaptá-la a contextos sociais em
transformação, ou melhor, democratizar o acesso ao saber, não é bem
partilhado e que essa vontade frequentemente é frágil e se limita a discursos
que não passam de ação.
[...] a ideia de que a escola deva formar o maior número de pessoas levando
em conta a evolução da sociedade não é compartilhada abertamente, mas ela
só é um princípio motor para aqueles que a tomam verdadeiramente a sério e
fazem disso uma prioridade.
Seria, então, absurdo sustentar que porque a sociedade muda, a escola vá
mobilizar toda sua inteligência em segui-la, isto é, antecipar essas mudanças.
Sem dúvida, as evoluções demográficas, econômicas, políticas e culturais
transformam os públicos escolares e as condições de escolarização e acabam
por “obrigar” a escola a mudar. Ela se adapta, então, mas o mais tarde
possível, de modo defensivo. (PERRENOUD, 1999).
Portanto, percebe-se que as instituições de ensino não estão apáticas quanto os
fenômenos de mudanças sociais, porém, não são essas as mudanças que mais afetam o
cotidiano da vida acadêmica. Outras transformações, como as tecnológicas, por exemplo,
expõe os centros educacionais a se mobilizarem mais rapidamente para adaptação, bem como,
o envelhecimento da população e a busca por nova formação. (NOVAES, 2014).
3.4.1 A Participação Crítica como Responsabilidade da Cidadania
Para que o profissionalismo possa se expressar de forma mais latente, o professor
reflexivo deverá manter uma relação de envolvimento com a sua própria prática docente. Esse
envolvimento refere-se a um compromisso crítico no debate sobre as finalidades da escola e
seu papel na sociedade.
Existem quatro níveis citados por Perrenoud quanto à participação ativa e crítica dos
professores, são elas:
1. Aprender a cooperar e a atuar em rede – deixar o individualismo de lado e agir em
grupo para que assim o agir docente torne-se mais fácil;
2. Aprender a viver a escola como uma comunidade educativa – é preciso formar os
professores nesse sentido, prepará-los para negociar e conduzir projetos;
41
3. Aprender a sentir-se membro de uma verdadeira profissão e responsável por ela -
entender a atividade docente como profissão emergente para a mudança das contextualidade
sociais;
4. Aprender a dialogar com a sociedade – engajar-se como militante da profissão docente
e não como meros indivíduos da sociedade.
A instituição necessita de profissionais que alimentem as questões da transformação.
Um professor crítico também poderá ser um professor reflexivo.
Pimenta (2006), declara em seu texto sobre o professor reflexivo no Brasil a prática
dos professores.
A transformação da prática dos professores deve se dar, pois, numa
perspectiva crítica. Assim deve ser adotada uma postura cautelosa na
abordagem da prática reflexiva, evitando que a ênfase no professor não
venha a operar no contexto organizacional no qual ocorre. (PIMENTA,
2006, p. 223).
Neste sentido a atuação crítica do professorado favorecerá a busca de soluções,
minimizando os impactos que as possíveis mudanças possam ter dentro e fora das
universidades.
4. A Mudança Social e o Docente
No decorrer resta pesquisa, foi abordada a função essencial da universidade, a
formação docente e a relação professor aluno. Agora é necessário fazer a exposição das
atitudes e da repercussão das mudanças sociais perante o trabalho docente dentro das
instituições de ensino.
O docente universitário como já exposto anteriormente por Masetto (2003), era o
profissional que explicava na teoria o que sabia fazer na prática. Após mudanças na educação
principalmente após a década de 70, se percebeu que o professor universitário necessitava de
uma formação adequada para a atuação na função docente. Esta formação didático-
pedagógica auxilia no desenvolvimento das aulas e traz uma proximidade do professor com o
aluno, não havendo o distanciamento apenas porque um tinha uma formação a mais.
Quanto a relação do professor e do aluno no ensino universitário, Santos (2001), expõe
os sete princípios para a boa prática educativa. As fundamentações teóricas seguida do
processo de ensino e do processo de aprendizagem auxiliam nesta relação. As boas práticas
42
são: Encorajar o contato entre o aluno e o professor; encorajar a cooperação entre alunos;
aprendizagem ativa – não deixar haver uma postura passiva por parte dos alunos; fornecer
feedback imediato; enfatizar a tarefa; comunicar altas expectativas; e respeitar os diversos
talentos e as diferentes formas de aprendizagem.
O tripé formador do processo ensino-aprendizagem - professor, aluno e instituição -,
cabe à última prover a estrutura necessária e, ao mesmo tempo, cobrar os resultados de todos
os demais envolvidos, assumindo um papel de liderança na implantação de um processo de
melhoria.
Sendo assim, a tarefa de ensinar implica não apenas em um domínio pedagógico de
conhecimentos específicos, mas também em opções éticas, em professores sensíveis e
preocupados com os resultados do ensino e das relações entre instituição, professor e aluno.
Desenvolver a sensibilidade diante das mudanças sociais dentro da universidade, é ainda um
papel difícil para este profissional docente em formação constante.
4.1 Atitudes e Repercussão dos Professores Perante a Mudança Social
A questão sobre a reforma da educação e a formação do docente universitário pode ser
considerada como indícios de mudanças sociais. O choque de realidades e gerações
descrevem a ruptura da imagem ideal do ensino.
O docente e suas atitudes diante das mudanças sociais e do sistema de ensino serão,
iguais às atitudes de qualquer cidadão diante das mudanças aceleradas da sociedade.
Esteve (1992), analisa que o professor vive uma crise de identidade. Essa crise refere-
se a contradição do eu real (o que eles são diariamente nas escolas) e o eu ideal (o que eles
queriam ser ou pensam que deveriam ser).
Neste contexto as atitudes seriam a abundância de contradições, a incapacidade para
suportar a ansiedade, depreciação do “eu” e equilíbrio.
Quanto a repercussão na personalidade do docente está em primeiro lugar o mal-estar
docente.
O stress é a principal causa de transtornos à saúde dos profissionais da educação.
Diante das diversas formas de tensão presentes no ensino e ativadas pelas mudanças
do contexto social, os professores põem em jogo diversos mecanismos de defesa (inibição,
rotina, absenteísmo laboral etc.), que baixam a qualidade da educação, mas que servem para
aliviar a tensão a que o professor está submetido.
43
Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social
da profissão; da revisão das tradições. Mas também da reafirmação de
práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas.
Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às
necessidades das realidades. Do confronto entre as teorias e as práticas, da
análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de
novas teorias. Constrói-se também, pelo significado que cada professor
enquanto ator e autor, confere à atividade docente no seu cotidiano a partir
de seus valores, de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida,
de suas repercussões, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido
que tem em sua vida o ser professor. Assim como a partir de sua rede de
reflexão com outros professores, nas escolas, nos sindicatos e em outros
agrupamentos. (PIMENTA, 2002, p.19)
Desta forma, o que se encontra como resposta sobre a mudança social e atuação do
profissional docente universitário, é que as mudanças existem e sempre irão existir. De uma
forma geral a instituição não é afeta de forma tão drástica, pensando como um todo. Porém, o
docente que está à frente da sala de aula, com muitas vezes mais de 40 alunos, é afetado
rapidamente e sem condições de se preparar legitimamente para estas mudanças. É necessário
que haja políticas institucionais a fim de proteger o professor universitário deste embate.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade está em constante transformação, sendo assim, as instituições e pessoas
que compõem esta sociedade serão afetadas de forma positiva ou negativa por essas
mudanças. Esta pesquisa busca mostrar uma linha de entendimento sobre “Como as
mudanças sociais ocorridas na sociedade e na universidade, podem interferir na atuação do
professor universitário?”.
Quanto às mudanças sociais ocorridas na sociedade e na universidade, verificamos que
na primeira não é possível falar em estagnação da sociedade, pois esta está em constante
alteração, seja tanto no campo político, econômico, tecnológico ou social. As mudanças que
ocorrem na sociedade podem interferir direta ou indiretamente na instituição de ensino
superior e também no docente universitário. Todavia, as mudanças aqui apresentadas não
refletem apenas alterações negativas, mas também positivas.
A instituição de ensino de nível superior é um local de produção de conhecimento,
onde se gera o pensamento crítico, a organização dos saberes e formação de cidadãos críticos
e reflexivos. A Declaração Universal sobre Educação Superior reafirma a importância da
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universidade para a sociedade, pois esta desenvolve o conhecimento e a pesquisa, assim,
possibilitando o desenvolvimento cultural, socioeconômico e sustentável.
A universidade pode ser alterada pelas mudanças que ocorrem na sociedade, porém
seus valores não serão modificados, por seu objetivo ser a transmissão do conhecimento e a
reflexão sobre valores dentro da sociedade, como já explicitado por Masetto (2003) e
Shulman (2005). A universidade é uma das propiciadoras do conhecimento. O conhecimento
é aquele que liberta, promove e emancipa para que a população universitária melhore suas
vidas. É na instituição de ensino superior que se propicia o favorecimento da vida pessoal,
profissional e científica e o amalgamar, trabalho-ciência-tecnologia e cultura. Assim como
determina o preceito constitucional e o infraconstitucional.
Cabe acrescentar que a universidade é um local de heterogeneidades, pessoas, culturas
e saberes diferentes. O perfil do aluno universitário está modificando-se constantemente e é
este sujeito que traz os maiores elementos de mudanças para a universidade. Seja quanto a sua
facilidade em ter informação, o auxílio da tecnologia, a faixa etária ou formação para o
mercado e não apenas para satisfação pessoal. É a mudança no perfil do aluno que mais altera
a universidade, porém essa mudança não afeta a universidade de forma negativa, apenas faz
com que esta molde-se a atender este novo aluno e assim continuar a desenvolver seus valores
na sociedade.
O mais relevante nesta pesquisa foi a descrição da formação e da atuação do
profissional docente do ensino universitário diante das mudanças sociais. Esse fato
demonstrou como este docente age na universidade e com seus alunos.
A formação docente é de extrema importância para determinarmos o perfil do docente
universitário. Historicamente o professor universitário foi sempre àquele profissional que
tinha sua atuação no mercado de trabalho e/ou pesquisas e que transmitia na teoria o que
realizava na prática, não havia a necessidade de uma formação para a docência. No entanto, as
universidades e até mesmo os docentes, por conta da alteração do perfil do aluno, perceberam
que não mais seria possível à docência universitária sem a formação pedagógica deste
profissional. Todavia, essa formação contínua e reflexiva, como aponta a autora Pimenta, vai
depender da universidade e do próprio profissional, pois conforme a LDB, em seu artigo 52,
II, o docente universitário, para a sua atuação, apenas necessita do título de mestre ou doutor,
a legislação infraconstitucional não determina para a docência universitária uma formação
pedagógica.
A formação pedagógica do docente universitário é uma alteração advinda da mudança
social. A má formação docente causa inúmeros problemas para o exercício da profissão. Não
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havendo o conhecimento sobre a pedagogia e a didáticas aplicadas, o professor entrará em
conflito com os alunos e o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem não
cumprirá seu objetivo.
Os docentes universitários que anteriormente eram visto como os detentores do saber e
s transmissores do conhecimento, agora são cercados pela necessidade de uma formação
acadêmica adequada, pois o objetivo da docência universitária é compartilhar experiências,
formar cidadãos críticos e reflexivos. Essa mudança na formação docente surge para que o
docente profissional tenha maior controle sobre as suas atividades e assim possa obter um elo
maior com a instituição de ensino e seus alunos. É com a formação específica para a atuação
da docência, que o professor estará preparado para perceber e receber as alterações das
mudanças que ocorrem cotidianamente e assim não cairá sobre os efeitos do mal-estar docente
que apresenta Esteve. O mal-estar docente trata sobre a posição do profissional diante das
mudanças que ocorrem na sociedade e refletem na universidade, e então o docente sente-se
desmotivado e incapaz de realizar sua atividade.
Constantemente o profissional docente do ensino superior é desafiado a lidar com
mudanças sociais, tecnológicas e comportamentais, portanto sua preparação para a atividade é
essencial. Neste contexto o docente do ensino superior, além de uma formação específica para
a docência, também, deverá estar preparado para encarar essas mudanças dentro e fora das
instituições de ensino superior.
O docente na prática de sua atividade terá uma relação muito tênue com seus alunos e,
por isso mesmo, as contradições quanto ao desejo dos alunos e o que o professor pretende
transmitir deverão estar superadas. É neste momento que a atitude reflexiva do professor
deverá surgir e, deste modo, os conflitos serão dirimidos. Entretanto, após a realização desta
pesquisa, verificamos que a questão do professor reflexivo no ensino superior ainda começa a
dar seus primeiros passos, assim como a formação contínua. Verificamos que o professor
reflexivo no ensino universitário deve comprometer-se antes de tudo com sua formação
adequada para a docência e diante deste contexto, terá condições de analisar suas atividades e
assim propiciar um bom relacionamento com seus discentes. A coparticipação entre professor
e aluno no processo de ensino aprendizagem se intensificará. O aluno começará a ver no
professor um aliado para a sua formação, pois a aprendizagem desejada engloba além dos
conhecimentos necessários, habilidades, competências e análise do desenvolvimento de
valores.
Diante do exposto, podemos concluir que faz-se necessária a aplicação de uma
formação específica para a docência superior, para que assim propiciem uma reforma ou até
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mesmo uma melhoria nas atividades docentes dentro das universidades. Deverão existir
projetos de formação contínua de professores, e que acima de tudo, tenha uma preocupação
mais abrangente em relação à reflexão no ensino superior, quanto as atividades desenvolvidas
nas universidades e no contexto social no qual a universidade está inserida.
O professor é o alicerce da relação professor – aluno – instituição de ensino, este
agente é determinante para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra da melhor maneira
possível.
Além da formação contínua e da reflexão quanto as questões sobre educação, o bom
docente será aquele que estará preparado para responder sobre as complexidades da realidade
social, pois estas interferem no agir em sala de aula.
Portanto, a atuação do professor universitário sempre será cheia de expectativas e
controvérsias, contanto que este profissional esteja bem formado, atualizado e tendo total
apoio da instituição de ensino, realizará uma ótima atividade junto aos seus alunos e a
sociedade, os conflitos poderão ser dirimidos e assim a vivência escolar será plena e eficaz.
Quanto as mudanças sociais que interferem na atuação docente, elencamos: o perfil do
novo aluno, a faixa etária do aluno, a formação para o mercado de trabalho, a formação
pedagógica do professor universitário e o mal-estar docente. São estas as principais mudanças
que irão interferir na atuação do professor universitário.
Por último, analisamos como o professor universitário age mediante a interferências
dessas mudanças. Verificamos que para a realização da atividade docente, o profissional
deverá estar aberto a essas mudanças. As mudanças sociais afetam o mercado de trabalho, e
isto reflete diretamente na universidade que forma este profissional. Neste sentido, o docente
recebe uma carga ainda maior de preocupação, o que pode ser um sinal para que a atuação do
docente seja modificada. Como demonstrado no teor desta pesquisa, o perfil do docente já
está alterado, o mal-estar docente terá uma diminuição, haja vista, que um professor bem
preparado estará menos pré-disposto a embates com os alunos e desmotivações por questões
externas. A formação deve estimular uma perspectiva reflexivo-crítica que forneça aos
professores meios de pensamento autônomo e facilitem a auto formação participativa.
Portanto, acreditamos que é necessária a valorização da prática que poderá ser entendida em
reflexão sobre a prática, a investigação sobre a prática e a partilha de experiências.
Concluímos que as mudanças para a atuação docente não são negativas. Porém, só
serão de fato positivas, se o professor e a instituição de ensino superior estiverem dispostos a
esta mudança. A docência só existe para que haja o compartilhamento de conhecimentos. O
agir do professor, para os dias atuais, estará condicionado a uma formação pedagógica,
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contínua e reflexiva. E desta forma, tanto professores quanto a instituição de ensino superior,
poderão proporcionar o que preconiza o artigo 6º da Constituição Federal de 1988, ou seja, a
“função social da educação”, transformando a sociedade e o cidadão.
Em suma, necessitamos de professores que tenham domínio do conhecimento
específico e da didática em sala de aula. Estes profissionais deverão ser pesquisadores e
também aplicadores da prática de ensino. Por fim, a docência é uma atividade gratificante,
que proporciona a todos os sujeitos da relação, um desenvolvimento reflexivo e crítico quanto
a sua atuação na sociedade.
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