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Livro Feriados em Portugal

O livro 'Feriados em Portugal: Tempos de Memória e de Sociabilidade' explora a evolução dos feriados em Portugal, desde a época das monarquias constitucionais até a República e o Estado Novo. A obra analisa a laicização do calendário, a relação entre feriados cívicos e religiosos, e as reações sociais às mudanças propostas, especialmente em tempos de crise. Através de uma abordagem histórica, os autores discutem a importância dos feriados na construção da memória coletiva e da identidade nacional.

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Sofia Soares
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Livro Feriados em Portugal

O livro 'Feriados em Portugal: Tempos de Memória e de Sociabilidade' explora a evolução dos feriados em Portugal, desde a época das monarquias constitucionais até a República e o Estado Novo. A obra analisa a laicização do calendário, a relação entre feriados cívicos e religiosos, e as reações sociais às mudanças propostas, especialmente em tempos de crise. Através de uma abordagem histórica, os autores discutem a importância dos feriados na construção da memória coletiva e da identidade nacional.

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Feriados

P em ortugal
Tempos de Memória e de Sociabilidade

LUÍS
OLIVEIRA
ANDRADE
LUÍS REIS
2.ª edição TORGAL
Direcção da Colecção História Contemporânea
Maria Manuela Tavares Ribeiro

Coordenação Editorial da Colecção


Maria João Padez Ferreira de Castro

Edição
Imprensa da Universidade de Coimbra
Email: [email protected]
URL: http://www.uc.pt/imprensa_uc
Vendas online: http://www.livrariadaimprensa.com

Concepção Gráfica
António Barros

Tema Capa
“Feriadophobia”, Caricatura de Moraes (Alfredo Januário de Moraes)
no jornal O Século. Suplemento Illustrado, 1 de Junho de 1911.

Infografia da Capa
Carlos Costa

Infografia
Xavier Gonçalves

Execução Gráfica
Coimbra Editora

ISBN
978-989-26-0537-1

ISBN Digital
978-989-26-1163-1

DOI
http://dx.doi.org/10.14195/978-989-26-1163-1

Depósito Legal
352356/12

1.ª Edição • Setembro 2012

© DEZEMBRO 2012, IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA


LUÍS OLIVEIRA ANDRADE
LUÍS REIS TORGAL

F ERIADOS E M P ORTUGAL
Tempos de Memória e de Sociabilidade

2.ª Edição

2 0 1 2 • C O I M B R A
(Página deixada propositadamente em branco)
À Ana Maria, ao Miguel e à Ana
(Página deixada propositadamente em branco)
Sumário

Prefácio..................................................................................................................................13

INTRODUÇÃO

História da história.................................................................................................................19

Tempo e celebração do tempo – a matriz cristã na “Civilização Ocidental”....................... 22

Memória e comemoração – as tentativas de laicização do calendário.............................. 27

O surto dos Centenários........................................................................................................33

Século e Centenário.........................................................................................................33

Os Centenários em Portugal (1880–1910).......................................................................35

Outros centenários e outras formas de celebração.......................................................41

A comemoração do tempo e os feriados............................................................................. 44

1. OS “FERIADOS” NAS “MONARQUIAS CONSTITUCIONAIS”.


Dias de gala, dias santos e dias civicopolíticos

O Vintismo e os feriados civicopolíticos..............................................................................51

Os dias santificados.............................................................................................................. 54

Os dias comemorativos no quadro da Regeneração (1851–1910).......................................59

2. A LAICIZAÇÃO DO TEMPO NA REPÚBLICA.


Feriados “contra” dias santos

Os feriados republicanos.......................................................................................................65

O 10 de Junho de Camões e o 14 de Agosto de Aljubarrota..............................................73

7
Os feriados extraordinários...................................................................................................81
E os dias santos?.....................................................................................................................85

3. NADA DE NOVO…
A “ditadura nacional”

Continuidade republicana.................................................................................................... 89
Os feriados excepcionais: a memória da
Grande Guerra e o regresso de Santo António....................................................................91

4. O NACIONALISMO DO ESTADO NOVO.


Novos feriados e regresso dos dias santos nacionais

Festas do Estado salazarista................................................................................................. 97


Os “feriados da República” no salazarismo........................................................................105
A longa espera… O (re)aparecimento de um dia santo como feriado nacional.............110
1952 e o regresso dos feriados religiosos: Estado versus Igreja........................................113

5. O 25 DE ABRIL, OS FERIADOS E OS DIAS SANTOS.


Entre a revolução e o consenso com a igreja

Revolução e contenção: continuidade, adaptações e acrescentos....................................125


A reciclagem do 10 de Junho e o 25 de Abril como “Dia da Liberdade”........................132
Feriados: datas cívicas ou dias de lazer?............................................................................133
Novo “acordo” entre o Estado e a Igreja............................................................................136

6. OS FERIADOS MUNICIPAIS.
Entre o sagrado e o profano

As tradições locais e as festas.............................................................................................141


Os feriados municipais: recordando a legislação e outras realidades..............................144
Feriados municipais: festas religiosas e festas cívicas........................................................149

À MANEIRA DE EPÍLOGO.
O fim do “sistema”

Economicismo versus cultura, sociabilidade e religiosidade............................................157


A proposta da extinção de feriados e as reacções da Comunidade e da Igreja..............159
Lá se vai a História… – a mudança de paradigma............................................................166

8
ANEXOS

I. CRONOLOGIA DOS CENTENÁRIOS E DE OUTRAS COMEMORAÇÕES


1. O surto comemorativo – Europa (séculos xviii–xix)......................................................175

2. Alguns marcos comemorativos em Portugal..................................................................175


Monarquia constitucional..............................................................................................175
I República......................................................................................................................176
“Ditadura nacional”........................................................................................................176
Estado Novo...................................................................................................................176
Após o 25 de Abril de 1974...........................................................................................177

II. OS FERIADOS NA MONARQUIA LIBERAL.


“Dias de festividade nacional” ou “de regozijo público”,

“de gala” ou de “grande gala” e “dias santos”

1. Quadro de dias santos, galas e dias sem despacho


em 1820, segundo o almanaque oficial..............................................................................179
2. Dias santos de guarda (pastoral de 14 de Março de 1785, do Patriarca de Lisboa,
após a autorização pedida ao papa Pio VI) e dias santos dispensados (em 14 de Junho
de 1844, pelo papa Gregório XVI, e em 2 de Julho de 1911, pelo papa Pio X)..............182
3. Dias de “festividade nacional”, de “regozijo nacional”, de “grande gala”
(na designação do tempo) ou feriados civicopolíticos (na denominação actual)
– períodos de revolução e de contra-revolução (1820–1838)............................................183
3.1. No Vintismo (1821–1823)........................................................................................183
3.2. Depois da queda do regime constitucional (1823)...............................................183
3.3. Setembrismo (1836–1838).......................................................................................183
4. Calendário da Regeneração e da Monarquia Cartista (1851–1910)
– dias mais estáveis: dias de gala ou grande gala, feriados de carácter
real ou civicopolítico e festas religiosas de carácter nacional..........................................184

III. DOCUMENTAÇÃO SOBRE OS FERIADOS (1910–2012)


1. Criação dos primeiros feriados da República (12 de Outubro de 1910).......................185
2. Criação do feriado de 3 de Maio, comemorativo
da “Descoberta do Brasil” (1 de Maio de 1912).................................................................185
3. Criação da “festa nacional” de 10 de Junho,
“Dia de Portugal” (25 de Maio de 1925).............................................................................186

9
4. Confirmação dos “feriados da República”
pela Ditadura Militar (29 de Julho de 1929).......................................................................186
5. “Restabelecimento” (ou criação) do feriado de
8 de Dezembro, Imaculada Conceição (5 de Junho de 1948)..........................................187
6. Os feriados cívicos e o (re)aparecimento dos feriados
religiosos no Estado Novo (4 de Janeiro de 1952).............................................................188
7. Posição da Igreja acerca da legislação salazarista
sobre os feriados religiosos (11 de Janeiro de 1952)..........................................................189
8. Criação do feriado nacional de 1 de Maio,
“Dia do Trabalhador” (27 de Abril de 1974).......................................................................193
9. Tentativa de generalização dos feriados municipais (21 de Agosto de 1974)..............194
10. Criação do feriado de 25 de Abril, “Dia de Portugal” (18 de Abril de 1975).............194
11. Decreto do Ministério do Trabalho em que se fixam os direitos do
trabalhadores, incluindo férias e feriados – extracto (16 de Junho de 1975)...................194
12. Igualização da situação de trabalho do sector público e do sector privado,
com relação dos feriados a serem cumpridos (19 de Dezembro de 1975).......................196
13. Uniformização de soluções quanto a feriados alternativos
previstos em 19 de Dezembro de 1975 e oficialização do
feriado de Sexta Feira Santa (12 de Abril de 1976)............................................................197
14. Unificação de legislação com relação dos feriados
– extracto (28 de Dezembro de 1976)................................................................................198
15. O 10 de Junho considerado o “Dia das Comunidades”
(4 de Março de 1977)...........................................................................................................199
16. O 25 de Abril promovido a “Dia da Liberdade” (2 de Março de 1978)..................... 200
17. 10 de Junho, “Dia de Portugal”, dedicado a Portugal, a Camões
e às Comunidades portuguesas no estrangeiro (2 de Março de 1978).............................201
18. Código do Trabalho, lei n.º 99/2003 – extracto (27 de Agosto de 2003)...................202
19. Código do Trabalho, alteração, lei n.º 53/2011 de 14 de Outubro
(14 de Outubro de 2011), em vigor em 2012 – extracto....................................................202
20. A mudança de paradigma. A supressão de quatro feriados: proposta de
alteração do Código do Trabalho de 2012 – extracto (2 de Fevereiro de 2012)..............203
21. (Nova) Concordata de 2004 – extracto (18 de Maio de 2004)................................... 206
22. Documento de historiadores em protesto contra a anunciada proposta
de supressão de quatro feriados (5 de Dezembro de 2011)..............................................207

10
23. Manifesto da Comissão Cívica de Coimbra para as Comemorações
do Centenário da República (8 de Dezembro de 2011).................................................... 209
24. Protesto da Associação Cívica “República e Laicidade”
sobre os feriados (27 de Janeiro de 2012)..........................................................................210
25. Manifesto assinado por várias personalidades e aberto à subscrição pública
sobre a supressão do feriado do 1.º de Dezembro (5 de Março de 2012).......................211
26. Comunicado e Carta de Missão da Sociedade Histórico da Independência
de Portugal em defesa do feriado do 1.º de Dezembro (9 de Março de 2012)................213
27. Comunicado da Nunciatura Apostólica em
Lisboa sobre os feriados religiosos (8 de Maio de 2012)...................................................215
28. Comunicado dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Economia e
do Emprego sobre a extinção dos feriados, nomeadamente sobre a
abolição ou suspensão dos feriados religiosos (8 de Maio de 2012)................................215
29. Comunicado da Presidência da República sobre a promulgação do Código
do Trabalho, resultante da alteração proposta pelo Governo e aprovada
por maioria pela Assembleia da República (18 de Junho 2012).......................................216
30. Lei de altereação do Código do Trabalho que elimina quatro feriados
– extracto (25 de Junho de 2012)........................................................................................216

IV. FERIADOS NO MUNDO. ALGUNS EXEMPLOS


1. Países católicos da Europa..............................................................................................219
Bélgica
Espanha
França
Irlanda
Itália
Polónia
2. Países cristãos “protestantes” da Europa........................................................................222
Reino Unido
Países Baixos
Dinamarca
Finlândia
Noruega
Suécia
3. Países de maioria ortodoxa.............................................................................................224
Rússia
Grécia
Roménia

11
4. Alemanha, Áustria, Hungria e República Checa............................................................225
Alemanha
Áustria
Hungria
República Checa
5. Estados Unidos da América e Canadá............................................................................227
Estados Unidos da América
Canadá
6. Países da América Latina................................................................................................ 228
Brasil
Argentina
México
Venezuela
7. Japão................................................................................................................................ 230
8. Dois países lusófonos africanos – Angola e Cabo Verde..............................................231
Angola
Cabo Verde
9. Países comunistas............................................................................................................232
Coreia do Norte
Cuba
10. Portugal...........................................................................................................................233

V. FERIADOS MUNICIPAIS
1. Relação dos feriados municipais.....................................................................................237
2. Festas cívicas – quadro tipológico..................................................................................253
3. Festas religiosas – quadro tipológico..............................................................................254

VI. FERIADOS E OUTRAS COMEMORAÇÕES EM IMAGENS


Imagens................................................................................................................................257
Legendas.............................................................................................................................. 277

12
P refácio

Este livro é, na verdade, uma obra escrita a duas mãos, mas a primeira mão
é muito mais importante.
O Luís Oliveira Andrade – o Luís, para os amigos, ou o “Professor Luís”,
como os alunos carinhosamente o chamavam na Universidade de Aveiro – era
muito mais, para mim, do que um antigo aluno, da licenciatura (anterior à licen-
ciatura de Bolonha), e do que um orientando de pós-graduação. Neste caso foi-o,
primeiro, das “provas de capacidade científica e de aptidão pedagógica” e de
mestrado (de História Moderna), ambas sobre o jurista da Restauração João Pinto
Ribeiro. Como dizia o Luís, só eu o poderia levar a fazer (“aconselhar”, seria a
palavra certa) as duas provas públicas, uma em Aveiro e outra em Coimbra, porque
pensava, num tempo em que os graus correspondiam a verdadeiros graus, que
só o mestrado o era afinal, ao contrário da outra prova, que seria apenas de
acesso universitário de assistente estagiário a assistente. E, finalmente, o Luís foi
meu orientando de doutoramento em História Contemporânea. Mas era, como
dizia, muito mais do que um aluno e um orientando. O Luís era um Amigo – e
está tudo dito.
Um dia, a 23 de Abril de 2002 – já prestara provas de doutoramento na
Universidade de Aveiro havia dois anos –, em Santa Bárbara, um dos pólos
da Universidade da Califórnia (UCLA), numa sessão, realizada pelo Center for
Portuguese Studies, promovida pela Doutora Patrícia Vieira, hoje na Universidade
de Georgetown, proferimos algumas conferências relacionadas com o 25 de
Abril. Para além de nós os dois, estava também a Maria Manuela Tavares Ribeiro.
Os três vínhamos de Los Angeles onde participámos na Symposium on Portu-
guese Traditions, que o infatigável Professor Claude Hulet teima em organizar

13
F eriados em Portugal

anualmente no Sunset Recreation Center, num esforço notável ao serviço da


cultura de língua portuguesa.
O Luís Andrade falou sobre o tema “Os feriados em Portugal”. Fiquei fascinado
pela temática, cuja primeira abordagem tinha lido com atenção, na sua tese de
doutoramento, História e Memória. A Restauração de 1640: do Liberalismo às
Comemorações Centenárias de 1940, mas sem o apelo que provoca, ou pode
provocar, uma conferência. Nessa mesma altura, sugeri ao Luís que escrevesse
um livro sobre o tema. E essa ideia foi amadurecendo na nossa viagem para São
Francisco, onde visitámos o pólo de Berkeley da UCLA e preparámos um proto-
colo que, infelizmente, nunca foi posto em prática, e na louca viagem de São
Francisco e Nova Iorque para Lisboa, de Lisboa para Coimbra e… de Coimbra
para Felgueiras, onde fomos ver a Académica jogar com o clube local. Refiro-me
à Associação Académica de Coimbra – OAF (Organismo Autónomo de Futebol),
antigo “clube dos estudantes” (que já não é, neste mundo em que todos são
profissionais de qualquer coisa, seja do futebol ou da política), que preparava
então a subida à primeira divisão.
Entretanto, sobreveio a morte inesperada e rápida do Luís, em 15 de Março
de 2005. É uma hora que nunca esquecerei. Porém, a ideia de publicar o livro
subsistiu. Foi um compromisso que assumi, em homenagem à sua memória – à
memória de alguém que nos leva a pensar na injustiça deste mundo e a ter
esperança que possa haver algum outro melhor, que ninguém sabe o que é.
Na posse do texto-base informatizado do Luís, que me foi facultado pela sua
Mulher, a minha colega Ana Maria Machado, que tem acompanhado sempre esta
tentativa de construção difícil de um livro de co-autoria, de alguém que já não
se tem junto de nós, comecei o trabalho aí por volta de 2007. Depois de muitas
interrupções e de partidas em falso, aqui apresento a obra, que só ajudei a compor
e a completar. Por vezes os nossos alunos vêm a ser nossos mestres. Mas aqui
não gostaria que tivesse acontecido, pelo menos desta forma. Sempre preferia
que o Luís tivesse continuado a ser aquele orientando de sempre (mesmo depois
de doutorado), que aceitava as minhas sugestões, que com prazer me ajudava,
com um sorriso aberto para a Vida. É com esse sorriso, embora com uma
lágrima fugidia, que escrevo estas linhas de abertura.
Não é, sem dúvida, o livro que o Luís teria escrito se tivesse podido prosseguir
o seu trabalho, mas é, no essencial, aquele que ele pôde produzir, há mais de

14
P refácio

dez anos, agora actualizado, com a minha colaboração. Jamais ele e eu imagina-
ríamos que teria de ser assim e também que o seu tema se iria tornar tão actual
como polémico. Com efeito, tentando apagar a memória, segundo critérios eco-
nomicistas (que nem sequer trarão vantagens económicas), o Governo procura
agora extinguir oficialmente alguns desses dias de memória e de lazer nacional,
repartindo essa morte de modo equitativo – dois feriados laicos e dois feriados
religiosos ou “dias santos” (de acordo com a linguagem da Igreja Católica, que
nunca desapareceu do espaço público).

Aqui está, pois, a obra que, de certa maneira, planeámos – a obra possível e
passível de correcções e aprofundamentos.
Apenas (re)escrevi a Introdução, com base em algumas partes do livro do
Luís e de alguns dos seus apontamentos e olhando para a actualidade dos
problemas. Acertei e completei o texto referente aos feriados nacionais (os cinco
primeiros capítulos), cuja investigação é basicamente da sua autoria, e fiz algumas
pesquisas e interpretações sobre os feriados municipais (capítulo 6). Neste caso,
a ajuda da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, nomeadamente
do seu Secretário-Geral, Engenheiro Artur Trindade, e do meu amigo jornalista
Cabral Oliveira, e de vários municípios, que me enviaram informações, e por
vezes livros e DVDs, foi fundamental. Para todos o nosso Bem-hajam. Finalmente,
escrevi o Epílogo, que interpela o presente, e procurei e seleccionei os elementos
que constam dos Anexos. As ilustrações, como sempre, nos livros que tenho
ultimamente publicado, foram escolhidas, com a minha orientação, pelo especia-
lista no estudo da imagem Alexandre Ramires, que era também amigo do Luís.
Agradeço ainda a leitura crítica do meu filho Luís Filipe e dos meus amigos Luís
Bigotte Chorão, José Antunes, Evelina e Telmo Verdelho e à Lina Madeira por me
ter oferecido o livro Santos de cada dia, fundamental para estudar o sentido de
alguns feriados municipais. A minha mulher, Maria João, está sempre presente
nos meus trabalhos, corrigindo-os e aconselhando-me, como costuma dizer,
mais por amor ao historiador do que à História. À Imprensa da Universidade,
agora dirigida pelo Professor Delfim Leão e pela Dr.ª Maria João Padez, o meu
agradecimento por mais esta prova de confiança no meu trabalho. Não esqueço,
obviamente, nesta saudação amiga, os funcionários dessa casa, que constitui um
exemplo na produção universitária, que nem sempre é devidamente destacada,

15
F eriados em Portugal

num país que esquece a importância da cultura e da ciência e que normalmente


valoriza mais para o que se faz lá fora do que cá dentro. Também uma referência
especial à grande amiga Maria Manuela Ribeiro, que esteve presente no momento
em que eu e o Luís Andrade pensámos este livro e que quis integrá-lo na colecção
que dirige, “História Contemporânea”, a qual tive a honra de abrir com a obra
Estados Novos, Estado Novo.
Devo ainda um esclarecimento ao público leitor e aos historiadores. Apesar
de, no final dos anos 80, no livro História e Ideologia (Coimbra, Minerva, 1989),
me ter iniciado no estudo da memória, da memória histórica, nas suas relações
com a ideologia, reflectindo especialmente sobre o sentido dos manuais escola-
res e da “história contada às crianças” no tempo do Estado Novo, o que me levou
mais tarde a entusiasmar os meus colegas Amado Mendes e Fernando Catroga a
escrevermos a História da História em Portugal (1.ª edição: Lisboa, Círculo de
Leitores, 1996) – também faziam parte desse projecto colegas brasileiros, que
não puderam concluir o seu trabalho para publicação – e a orientar a tese do
Luís Andrade, não continuei a trabalhar de forma continuada e sistemática nas
questões complexas do tempo histórico e da sua comemoração. Essa temática
tem sido analisada de forma privilegiada por outros colegas que citarei no início
da Introdução. No entanto, procurei aqui abordar este tema com o maior rigor,
o que não excluiu uma reflexão crítica sobre algumas medidas tomadas na
actualidade em relação aos feriados. De resto, para além de ter assinado um
manifesto de muitos historiadores, escrevi alguns artigos sobre o assunto, no
Diário de Coimbra, no Público e no Jornal de Letras. Essas notas críticas vêm ao
de cimo sobretudo nos capítulos que escrevi, mas também poderão sobressair
nos capítulos que são da autoria de Luís Andrade em que trabalhei da forma
acima explicada. Não sei o que o Luís pensaria sobre as minhas reflexões se
pudesse ter presenciado essas medidas polémicas do Governo, próprias de um
tempo de crise (particularmente de crise cultural), mas estou certo que me per-
doará esta minha forma de tratar as questões, que, como se verá, nunca perdem
o sentido da objectividade, que defendo como modo de abordar a história.
Finalmente, quero esclarecer que, não sendo esta uma obra académica, não
é também uma obra simplista de divulgação ou de divulgação de oportunidade,
ou… oportunista, que costumo criticar. Seguiu sempre uma linha de investigação
atenta, embora, como sempre sucede, passível de diversos erros, que procurarei

16
P refácio

ir corrigindo, e de desactualizações, que tentarei ultrapassar, no caso de virem a


ser publicadas outras edições. Considerei também que não se justificava uma
Bibliografia final. Tanto o Luís como eu fomos citando as obras de consulta e
fomos referindo as fontes que analisámos. No meu caso, inclusivamente, fui vendo
muitos sites e portais (nem sempre referidos explicitamente) que serviram de
base à informação e à reflexão, ainda que sempre de modo crítico, dado que os
seus dados foram geralmente confirmados de múltiplas formas.

Espero, portanto, que este livro seja útil num tempo em que muito se fala
sobre os feriados, mas nem sempre se conhece o tema com rigor e profundidade,
e que seja uma homenagem merecida ao Luís Miguel Oliveira Andrade, pois era
um daqueles professores e investigadores que tudo dão à Universidade sem dela
esperarem nada em troca. Nunca é essa, afinal, a expectativa dos idealistas, que
pensam sobretudo na Comunidade. Mas tem-se provado que, se assim fosse,
essa seria uma expectativa frustrada.

Termas de São Pedro do Sul – Figueira de Lorvão – Coimbra


Outubro de 2009 – Junho de 2012

Luís Reis Torgal

17
(Página deixada propositadamente em branco)
I ntrodução

História da história

Ninguém melhor que Fernando Catroga estudou em Portugal o fenómeno da


“comemoração”, entendendo que “comemorar” significa afinal dar vida à morte
ou, por outras palavras, ao recordar aquilo que sucedeu, a nível pessoal, local,
nacional ou transnacional, deseja-se valorizar um acontecimento ou uma persona-
lidade, procurando avivar a memória presente e fazer com que ela se prolongue
no futuro. Se no ritual católico se recorda o defunto, pelo menos, ao 7.º dia, ao
30.º dia e no dia do aniversário da morte, para que os familiares e amigos o
tornem “vivo”, se a liturgia católica, que faz parte da tradição cultural portugue-
sa, recorda, em cada dia, um dogma, uma ocorrência sagrada ou um santo da
Igreja1, a nível nacional escolhe-se um acontecimento ou uma personalidade
para “imortalizar” (no seu sentido literal, de tornar “não mortal”) algo ou alguém
que diz respeito, ou se pensa que diz respeito, à “consciência da Pátria”. É assim
que surgem os feriados cívicos ou os centenários, que hoje continuam a celebrar-
se, como, recentemente (2010–2011), o Centenário da República. No entanto,
nem sempre estas comemorações calam fundo na consciência individual, social
ou política, sobretudo quando adquirem um carácter repetitivo, como sucede
nos feriados que, neste mundo pragmático, aparecem mais como simples dias de
lazer do que de comemoração. Ainda que a “comemoração oficial” se realize,

1 Ver Calendário Litúrgico, todos os anos publicado por Paulus Editora (Lisboa), e José Leite S.J.
(org.), Santos de cada dia, 3 volumes, Braga, Editorial A.O. – Secretariado Nacional do Apostolado
da Oração, 2003 (4.ª edição).

19
F eriados em Portugal

passa, todavia, muitas vezes, quase à margem dos próprios meios públicos
de comunicação.
Como dizíamos, Fernando Catroga foi o historiador português que melhor e
mais profundamente analisou este fenómeno, sendo os seus livros e os seus
artigos imprescindíveis para o seu estudo. A começar no seu artigo “Os inícios do
Positivismo em Portugal. O seu significado político-social”, que surge no volume
I da Revista de História das Ideias, de 1977, revista que, aliás, viria a dirigir. Aqui
abordou a visão laica ou cívica das comemorações, tal como foi vista, com as
suas contradições, pela filosofia positivista de Comte. Depois, abordou o assunto
noutras perspectivas na sua tese de doutoramento, apresentada e defendida em
1988, intitulada A militância laica e a descristianização da morte em Portugal.
1865–1911, de que veio a publicar, em 1999, uma parte, a que deu o sugestivo
nome de O céu da memória2. Antes, porém, na obra de co-autoria História da
História em Portugal. Séculos xix–xx, após abordar de forma mais sistemática a
questão dos Centenários e outras comemorações não anuais, tratou de “A auto-
comemoração das revoluções: a festa cívica”, com destaque para a Revolução
Liberal, o 5 de Outubro, as «décadas da Revolução Nacional», o 1.º de Maio,
terminando com «os feriados cívicos»3. Por isso, foi nosso objectivo completar e
precisar alguns aspectos desta pioneira e sugestiva visão panorâmica, necessa-
riamente breve, dado o plano da obra em que se incluía, apesar de Fernando
Catroga ter vindo mais recentemente a voltar a abordar temas necessariamente
ligados a essas questões4.
Pouco mais se veio a escrever sobre o assunto, para além da significativa tese
de doutoramento de Maria Isabel João, Memória e Império: comemorações em
Portugal. 1880–1960, apresentada em Lisboa, em 1999 (depois publicada em
20025), sensivelmente ao mesmo tempo que era apresentada na Universidade de

2 O Céu da Memória. Cemitério romântico e culto cívico dos mortos (1756–1911), Coimbra,
MinervaCoimbra, 1999.
3 Ver Luís Reis Torgal, José Amado Mendes e Fernando Catroga, História da História em
Portugal. Séculos xix–xx, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996. Na segunda edição, por que passaremos
a citar, em 2 volumes, Lisboa, Temas e Debates, 1998, vol. 2, capítulo 5, “Ritualizações da História”
(F. Catroga), pp. 221-361.
4 Entre Deuses e Césares. Secularização, laicidade e religião civil. Uma perspectiva histórica,
Coimbra, Edições Almedina, 2006.
5 Memória e Império: comemorações em Portugal. 1880–1960, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 2002.

20
I ntrodução

Aveiro a dissertação, História e Memória. A Restauração de 1640: do Liberalismo


às Comemorações Centenárias de 1940, depois publicada em Coimbra em 2001,
onde foi abordada, de forma introdutória, a questão dos feriados6. Continuando
o filão iniciado no final da década de 80 e nos anos 907, Sérgio Campos Matos
tem sido um dos historiadores que mais se tem interessado pelos problemas da
relação entre História, Memória e Ensino, que supõe necessariamente, de forma
directa ou indirecta, a questão dos feriados8.
Em relação aos feriados municipais – que passaram a surgir, ao lado dos
feriados nacionais, em algumas agendas de cada ano – só foram referidos no
plano historiográfico em raros textos de história local. Se se conhece facilmente
os dias desses feriados, já não se identifica com a mesma facilidade a motiva-
ção e a data em que foram fixados por cada município. José Hermano Saraiva
publicou, em 2004, uma obra de divulgação, em vários volumes, sobre os con-
celhos e as freguesias9. Nela nada se diz sobre os feriados municipais. Apenas
se referem os oragos, ou seja, os padroeiros ou as padroeiras de cada aldeia,
vila ou cidade. No livro de César Oliveira sobre o municipalismo português10,
também não encontramos dados referentes ao tema. Foi preciso, portanto,
desvendar esse problema em dicionários, enciclopédias e monografias, mas
sobretudo em sites e em portais recentes, ou através da consulta directa aos
municípios, que nem sempre estão prontos a responder a questões culturais
desta ordem.
Antes, porém, de entrar no tema, convém apresentar alguns elementos intro-
dutórios que, de forma directa ou indirecta, possam ajudar a explicar o sentido
de “feriado”, que provém do adjectivo latino feriatus, transformado em subs-
tantivo, com o sentido de dia ou tempo em que se suspende o trabalho para

6 Luís Oliveira Andrade, História e Memória. A Restauração de 1640: do Liberalismo às Come-


morações Centenárias de 1940, Coimbra, MinervaCoimbra, 2001.
7 Ver História, Mitologia, Imaginário Nacional. A História no Curso dos Liceus (1895–1939),
Lisboa, Livros Horizonte, 1990.
8 Ver, por exemplo, Consciência Histórica e Nacionalismo. Portugal, séculos xix e xx, Lisboa,
Livros Horizonte, 2008. No âmbito da comemoração do dia 1 de Dezembro, Sérgio Campos Matos
tem orientado alguns trabalhos e escrito alguns artigos.
9 História das Freguesias e Concelhos de Portugal, 20 volumes, Matosinhos, Edições Con-
teúdos, 2004.
10 História dos Municípios e do Poder Local. Dos finais da Idade Média à União Europeia, Lisboa,
Círculo de Leitores, 1996.

21
F eriados em Portugal

descanso ou festa comemorativa. De resto, já na civilização romana havia as


feriae com esse mesmo sentido, de festas em honra dos deuses11.

Tempo e celebração do tempo – a matriz cristã na “Civilização Ocidental”

É costume dizer-se – sobretudo depois das reflexões de Mircea Eliade – que,


no espaço da nossa civilização dita “ocidental”, a matriz religiosa do Cristianismo
determinou uma representação do tempo que rompeu com as concepções cícli-
cas do mito do eterno retorno, conferindo-lhe uma dimensão linear, progressiva,
“arqueo-escatológica”, ou seja, marcando-lhe um princípio e um fim, alfa e omega
(a primeira e última letras do alfabeto grega). O tempo e os acontecimentos nele
inscritos são únicos, irrepetíveis e irreversíveis. As próprias teofanias (manifes-
tações do “sagrado”) ocorrem num tempo histórico e não num tempo mítico,
cósmico, o illud tempus das “origens”. O sagrado manifesta-se na história,
dando-lhe um sentido, uma finalidade, o horizonte salvífico.
Se esta concepção já vinha do judaísmo, nas palavras de Mircea Eliade o Cristia-
nismo ainda vai mais longe na valorização do tempo histórico. No seu dizer: “Visto
que Deus encarnou, isto é, visto que assumiu uma existência humana historica-
mente condicionada, a História torna-se susceptível de ser santificada”12. Toda a
história e todo o tempo são, assim, sacralizados, traduzindo-se esta santificação na
marcação, pela Igreja, através do ciclo litúrgico, do calendário do ciclo anual da
natureza. Se o tempo litúrgico é, sobretudo, associado aos ciclos natalício e pascal,
cujos momentos centrais são o Natal e a Páscoa, estes são apenas constitutivos do
ciclo cristológico, já que o ciclo litúrgico anual se completa com um outro, o “tem-
po comum”, compreendendo as festas consagradas aos mistérios de Cristo, de
Nossa Senhora e ao culto dos Santos, que assinalam todos os outros dias do ano13.

11 Em Roma havia as feriae statae ou stativae, ou seja, as festas fixas, e as feriae indictae ou in-
dictivae, as festas móveis, sendo as mais importantes as feriae latinae, no Lácio, em honra de Júpiter.
12 M. Eliade, O Sagrado e o Profano. A essência das Religiões, Lisboa, «Livros do Brasil», s.d.
(1958?, tradução portuguesa do original de 1956), pp. 122-123.
13 Em brevíssimo e simples resumo: O calendário litúrgico principia com o I domingo do
Advento, que dura quatro semanas e termina no sábado antes do Natal. Começa então o “ciclo do
Natal”. A Quaresma inicia o “ciclo da Páscoa”. O “tempo comum” é a celebração dos mistérios de
Cristo, da Virgem e dos santos (“ciclo santoral”). Mas deve assinalar-se que em cada dia há a “liturgia
das horas” e em cada semana há o domingo que é assinalado pelas “vésperas” (a parte da tarde do
sábado) que prepara as solenidades do “dia do Senhor”.

22
I ntrodução

O sentido universalista da religião cristã – na qual a totalidade espácio-


-temporal é uma Criação absolutamente regida pelo plano da Providência divina
–, conferido pela promessa salvífica de toda a Humanidade, determinou este
monopólio do domínio do tempo (onde decorre a existência humana) por parte
da Igreja, já que o tempo é o da história sagrada e está sacralizado pela economia
da Salvação. Em consequência, implica também o controlo da vida de cada ser
humano – pelo menos, dos seus momentos mais marcantes: o nascimento, o
acasalamento e a morte –, quer numa dimensão mais espiritual (com os sacra-
mentos do baptismo, do matrimónio e da extrema unção), quer numa vertente
mais institucional (com os registos dos baptizados, casamentos e óbitos e com
os enterros nas igrejas, por exemplo). A posse do sentido do tempo, litúrgico e
histórico – comemoração litúrgica do passado histórico –, permite à Igreja o
poder de determinação do que é memorável, em suma, a imposição de uma
memória (o culto dos santos começou por ser, justamente, a intenção de manter
a memória dos mártires) que a (co)memoração pelo calendário, na sua repetição
anual, obriga a conservar.
Não foi, porém, fácil a imposição pela Igreja de um novo “calendário”14. A era
de Cristo, que contava os anos a partir da data do suposto nascimento de Jesus,
já proposta por Dionísio o Exíguo, no século vi, só lentamente se integrou na
consciência dos povos cristãos. Por exemplo, em Portugal usava-se a era his-
pânica, de César ou de Augusto, que se iniciava em 38 a.C., supostamente a
altura em que se concluiu a conquista romana e se adoptou o Calendário Juliano
(de Júlio César), só iniciado em 45 a.C., altura em que Júlio César inaugurou
a ditadura. Só no reinado de D. João I, por carta de 22 de Agosto de 1422, se
instituiu a era cristã, pelo que, para antes dessa data, se tem de deduzir 38
anos à datação que se encontra nos documentos15. Mesmo o início do ano,

14 Recorde-se que a palavra “calendário” provém do termo calendae (ou kalendae), “ca-
lendas” (em português), ou seja, os primeiros dias de cada mês, quando ocorria a lua nova.
Para além das calendae, havia mais dois dias fixos: as nonae, isto é, o nono dia antes dos idos,
portanto o 5.º dia do mês, salvo em Março, Maio, Julho e Outubro, que é o 7.º, e os idus, idos
(em português), ou seja, o dia 15 nos meses de Março, Maio, Julho e Outubro, e o dia 13 nos
restantes meses. Estas designações ainda se utilizam no século xx (e provavelmente no século
xxi) nas inscrições epigráficas.
15 Por exemplo, o documento de D. Dinis que criou em Lisboa a Universidade (que mais tarde
se transferiu para Coimbra) vem datado de Leiria “prima die martii. […]. Era milesima trecentesima
uicesima octaua” (1328), que corresponde a 1290 da era cristã.

23
F eriados em Portugal

em 1 de Janeiro, dia da Circuncisão de Cristo (segundo a crença cristã), não foi


considerado de imediato em todas as regiões da Cristandade, como começou
cedo a ser adoptado na Península Hispânica. Foi necessária a reforma do ca-
lendário pelo papa Gregório XIII, em 1582, para que lentamente se considerasse
o 1.º de Janeiro como início do ano, ainda que a adopção desse calendário,
imediatamente em vigor em Itália, Espanha, Portugal, nos Países Baixos e em
França, sofresse resistência em outros países da Cristandade, como na Polónia
ou na Hungria.
Os doze meses do Calendário Gregoriano – que se segue ao Calendário
Juliano, de que é uma alteração, conservando basicamente a sua estrutura –
mantiveram a nomenclatura romana, com tributo aos deuses, à excepção dos
meses de Setembro a Dezembro, que se denominam em função do número
ordinal, ou seja, do sétimo ao décimo mês do ano, visto que o ano (pelo
calendário de Júlio César) se iniciava em Março.16
Para os dias da semana a Igreja só muito exiguamente conseguiu impor uma
nova designação. O papa São Silvestre, no século iv, determinou que na liturgia
se substituísse a nomenclatura pagã pela enumeração dos dias ligada à palavra
feria (feria secunda até feria sexta), iniciando a semana pelo domingo (ao contrário
dos judeus que consideram o dia do Senhor o sábado, Sabbath, que é, para eles, o
último dia da semana). No entanto, manteve-se em quase toda a Cristandade a
designação astral ou teológica ligada aos dias da semana17. O caso português é
uma excepção. Mesmo se em muitas línguas se salvaram as designações judaica

16 Janeiro, Januarius – mês dedicado a Janus, deus das portas, de duas faces, uma voltada
para a frente e outra para trás; Fevereiro, Februarius – dedicado a Februus, deus etrusco da morte
e da purificação; Março, Martius – dedicado a Marte, deus da guerra; Abril, Aprilis – ligada ao
verbo “abrir”, numa referência às culturas, ou, noutra interpretação, palavra proveniente de Aprus,
designação etrusca de Vénus; Maio, Maius – provavelmente em honra de Maia, mãe de Hermes
(da mitologia grega), assimilado ao deus romano Mercúrio; Junho, Junius – dedicado à deusa Juno,
esposa de Júpiter; Julho, Julius (no calendário juliano, Quintilis, por ser o quinto mês) – em honra
de Júlio César; e Agosto, Augustus (antes chamado Sextilis, por ser o sexto mês) – dedicado ao
imperador Augusto.
17 Nalgumas línguas europeias mais divulgadas os dias da semana (com excepção do sábado
e do domingo) têm uma designação de origem teológica romana (cuja mitologia, como se sabe, se
cruza também com a mitologia grega). Por exemplo, na língua francesa ou na língua espanhola:
lundi – lunes (segunda-feira, em português): dia da Lua; mardi – martes (terça-feira): dia de Marte;
mercredi – miercoles (quarta-feira): dia do deus Mercúrio; jeudi – jueves (quinta-feira): dia de Júpiter;
vendredi – viernes (sexta-feira): dia de Vénus.

24
I ntrodução

e cristã do sábado e de domingo18, não sucede isso, por exemplo, na língua


inglesa, em que os dias da semana mantêm as designações teológicas ligadas às
antigas tradições anglo-saxónicas19. A marcação das festas cristãs veio, no entanto,
substituir as antigas festividades pagãs, cujo carácter e vestígios ainda hoje se
podem detectar em muitas delas.20

Falámos da “descoberta” do tempo dito rectilíneo na chamada civilização


“ocidental”, que, por outro lado, tem a complementá-lo uma interpretação provi-
dencialista e uma concepção, por assim dizer “totalitária” do tempo, que leva ao
uso de um calendário cristão e ocidental mesmo em países situados em hemis-
férios diferentes e em zonas onde não se verificam condições naturais idênticas
àquelas que estão impressas em alguma nomenclatura dos meses e dos dias.
Tudo é complexo se aprofundarmos a representação da realidade. Não deve-
mos esquecer, por exemplo, que, na consciência do curso do tempo histórico,
sobrevém insistentemente, sobretudo em determinados momentos mais críticos,
a ideia, se não de um tempo circular, de um tempo em espiral, ao modo da
interpretação da história antiga por Giambattista Vico, na célebre obra Principi
di una Scienza Nuova (1725). Se a reflexão de Vico originou o despertar da ideia
entre os contra-revolucionários antiliberais21, que procuravam opor-se ao sentido
rectilíneo do tempo, que se afirmou, num contexto societário e laico, com a
ideologia iluminista-liberal, representada, por exemplo por Condorcet – a ideia

18 Sábado (de origem hebraica, que vem a dar Sabbath ou simplesmente Sabat, na transcrição
portuguesa) significa dia de repouso; domingo (em ilaliano, mais próximo do latim, Domenica)
significa “dia do Senhor”, em latim dies Dominicus.
19 Sunday (domingo), dia do Sol; Monday (segunda-feira), dia da Lua; Tuesday (terça-feira),
derivado do inglês antigo Tiwesdæg, o dia do deus Tyr ou Tiw, identificado com Marte, deus da
guerra; Wednesday (quarta-feira), dia do deus Woden (Odin), identificado com Mercúrio; Thursday
(quinta-feira), dia de Thor, identificado com o deus romano Júpiter; Friday (sexta-feira), dia da deusa
Frige, identificada com a romana Vénus; e Saturday (sábado), dia de Saturno.
20 Sobre a temática analisada, ver Jacques Le Goff, “Memória” e “Calendário”, in Enciclopédia,
vol. 1, “História – Memória”. Edição portuguesa da obra editada por Einaudi, Lisboa, Imprensa
Nacional – Casa da Moeda, 1984, pp. 11-50 e 260-292; Avelino de Jesus Costa, “Calendário”, in Joel
Serrão (dir.), Dicionário de História de Portugal, vol. I, Livraria Figueirinhas – Iniciativas Editoriais,
1963 (1.ª edição), pp. 435-438; e A. H. Oliveira Marques, “Era”, in Dicionário de História de Portugal,
vol. II, 1971 (1.ª edição), p. 67. Ver também o estudo clássico de M. Paiva Boléo, O nome dos dias da
semana em português, Coimbra, Coimbra Editora, 1941.
21 Cfr. José da Gama e Castro, O Novo Príncipe, Rio de Janeiro, 1841, sobretudo secção II. Ver
Luís Reis Torgal, Tradicionalismo e Contra-Revolução. O pensamento e a acção de José Gama e Castro,
Coimbra, Seminário de Cultura Portuguesa, 1973, sobretudo, parte II, cap. II.

25
F eriados em Portugal

de “Progresso”, tendo como objectivo a Felicidade terrena22 –, ela surge constan-


temente na desilusão que se sente perante as mudanças, que surgem de uma
forma idealista e logo se transformam em práticas de destruição de ideais, movidas
pelo pragmatismo individualista. Tal foi sucedendo, sucessivamente, no fim do
“antigo regime”, na sociedade liberal, no mundo socialista ou mesmo, como hoje
acontece, com a própria democracia neoliberal. Daí que apareça constante-
mente, no horizonte da palavra e do sentimento, a frase de Giuseppe Tomasi di
Lampedusa (1896–1957), através da personagem do Príncipe de Salinas, no livro
Il Gattopardo (O Leopardo), que se passa durante o Risorgimento, livro que foi
adaptado ao cinema na obra-prima de Luchino Visconti (1963): “Se vogliamo
che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi”23, «Se queremos que tudo
permaneça como está, é necessário que tudo mude». Ou, como mais vulgarmente
se diz, “É preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma”.
Por outro lado, deve destacar-se que se a “celebração do tempo” se impôs no
Ocidente, e não só, segundo critérios cristãos, ou mesmo católicos, o certo é que,
numa lógica de globalização, esses critérios foram estranhamente transpostos
para sociedades que nada têm a ver com essas celebrações, não tanto ditados
pela evangelização católica, mas por razões mercantilistas. Veja-se o caso do
Natal, que chega a ter algum significado comercial em civilizações cujas raízes
religiosas não são as cristãs e para as quais não tem significado o nascimento
de Cristo, embora o tenha a afluência às compras que o Natal desperta, numa
lógica consumista. Num plano menos importante, mas não menos significativo,
recorde-se a relevância que se pretende hoje dar em Portugal ao dia de São
Valentim (dia dos namorados), em 14 de Fevereiro, que nunca teve aqui qualquer
representatividade, apenas por motivações comerciais, ou mesmo ao Halloween
(noite das bruxas), em 31 de Outubro, de origem pagã, que se chega a celebrar
em algumas escolas como forma de diversão para as crianças, secundarizando
as velhas tradições nacionais do “dia de finados” (2 de Novembro).
Mas também não deve deixar de se salientar o esforço – ainda que com
pouco impacto – de afirmação da diversidade, que se verificou em 2010 (Ano

22 Ver Esquisse d’un tableau historique des progrès de l’esprit humain (1795).
23 G. Tomasi Di Lampedusa, Il Gattopardo, Feltrinelli, Milão, 2002 (1.ª edição póstuma:
1958), p. 50.

26
I ntrodução

Internacional da Biodiversidade) com a edição de um calendário que constituísse


a junção dos calendários mais significativos, a que se chamou precisamente
Celebração do Tempo. Ali se referem os dias considerados mais importantes de
celebração cívica e de celebração religiosa, tendo em conta não só o Cristianismo,
com o “Calendário Gregoriano”, mas ainda o Hinduísmo, o Judaísmo, o Budismo,
o Islão, a Fé Bahá’í e o calendário chinês de Huang Di24.

Memória e comemoração – as tentativas de laicização do calendário

É esta hegemonia do calendário cristianizado e comemorado religiosamente


pelo “único oficiante legítimo”, a Igreja ou as Igrejas, que vai ser posta em causa
na Europa na emergência da contemporaneidade, marcada pela “era das revolu-
ções” (na expressão de E. Hobsbawm25), a segunda metade do século xviii ea
primeira do xix. De Vico a Hegel, de Rousseau a Condorcet, de Herder a Comte,
das Revoluções Americana e Francesa ao triunfo do Liberalismo ocidental, o
conjunto das novas concepções do Homem e da Sociedade, da Política e da Nação,
do Tempo e da História, determinou o desígnio da construção de outras memórias
e da descoberta de outros passados, traduzidas em outras marcações do calendário
através de novas propostas comemorativas.
Embora acabassem por falhar, nas mudanças radicais instituídas pelos revo-
lucionários franceses, em 1792–1793, tornou-se evidente o propósito da fundação
de um novo tempo, com um novo calendário, uma nova datação e uma nova
celebração. Todavia, a ruptura com o passado anterior originou fundamental-
mente uma celebração do presente e a visão radiosa do futuro e não do passado
histórico, como vai mais tarde suceder.
Com efeito, o Calendário Republicano durou em França cerca de treze anos,
sendo abolido por Napoleão em 1806, que voltou a pôr em prática o Calendário
Gregoriano. Esse calendário decretado pela Convenção, o período revolucionário

24 Ver Celebração do Tempo, Paulinas Editora e ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e
Diálogo Intercultural), 2010, Ano Internacional da Biodiversidade, com apresentação e supervisão
editorial de Peter Stilwell e investigação e organização de textos de Paulo Mendes Pinto e Rui A.
Costa Oliveira.
25 Ver Eric Hobsbawm, A Era das Revoluções: 1789–1848, Lisboa, Presença, 1978 (1.ª edição:
The Age of Revolution: Europe 1789–1848, 1962).

27
F eriados em Portugal

mais extremista, não só alterou a nomenclatura da era, substituindo, a partir de


21 de Setembro de 1792, a era cristã (contada a partir do nascimento de Cristo
– por exemplo, 1792 d.C. ou, em latim, p.C., post Christum) pela era republica-
na (ano I da República) –, mas modificou mesmo a essência da organização do
calendário. Dividiu o ano em 12 meses de 30 dias, divididos em três décadas
(que impossibilitavam a celebração do domingo), sendo os 5 ou 6 dias que
faltavam para completar os 365 ou 366 dias do ano os chamados inicialmente
sans-culottides, consagrados à Virtude, ao Trabalho, etc., e, de quatro em qua-
tro anos (ano bissexto), um sexto considerado o “dia da Revolução”. Mas, para
além disso, terminou com as festividades religiosas e atribuiu mesmo um nome
diferente aos meses do ano (que – note-se – nem sequer tinham na língua
francesa uma designação religiosa ou eclesiástica), relacionando-os com os ciclos
da natureza26.
Quer a reacção de algum cepticismo e mesmo de oposição relativamente aos
excessos provocados pela Revolução Francesa, quer a frustração nascida dos des-
vios do messianismo jacobino, não chegaram a minar a crença na perfectibilidade
e no progresso da Humanidade, organizada na forma, atingida ou a atingir, de
sociedades livres de cidadãos livres, ou seja, de nações. Mais prudente, e por
isso também mais viável, o liberalismo triunfante da primeira metade do século
xix vai gradualizar a realização do ideal do Progresso e visionar a obtenção da
felicidade, não “já”, como “decretava” a França jacobina, mas num horizonte mais
distante, embora ainda necessariamente próximo, dado que o optimismo liberal
oitocentista ainda não desesperara perante as consequências das forças que

26 A designação dos dias e dos meses deve-se ao poeta Fabre d’Églantine, tendo como apoio o
jardineiro do Jardin des Plantes de Paris. Apenas referindo a designação dos meses, recorde-se que
o ano começava no equinócio do Outono, 22 de Setembro, tendo os meses as seguintes designa-
ções: Vendémiaire (correspondente ao período de 22 de Setembro a 21 de Outubro, no Calendário
Gregoriano), mês das vindimas; Brumaire (22 de Outubro a 20 de Novembro), mês das brumas; Fri-
maire (21 de Novembro a 20 de Dezembro), mês do frio; Nivôse (21 de Dezembro a 19 de Janeiro),
mês das neves; Pluviôse (20 de Janeiro a 18 de Fevereiro), mês das chuvas; Ventôse (19 de Fevereiro
a 20 de Março); Germinal (21 de Março a 19 de Abril), mês das sementeiras; Floréal (20 de Abril
a 19 de Maio), mês das flores; Prairial (20 de Maio a 18 de Junho), mês dos prados; Messidor (19
de Junho a 18 de Julho), mês das colheitas; Thermidor (19 de Julho a 17 de Agosto), mês do calor;
Fructidor (18 de Agosto a 20 de Setembro), mês das frutas. Não deixa de ser curioso e contraditório
o facto de as datas que ficaram mais gravadas na memória histórica serem exactamente aquelas
que representam o passo para trás no radicalismo revolucionário, ou seja, 9 de Thermidor (27 de
Julho de 1794), a queda de Robespierre e o fim do “Terror” e da fase mais radical da Revolução, e
o 18 de Brumaire (9 de Novembro de 1799), 18 de Brumário (na versão portuguesa), o derrube do
Directório pelo golpe de Bonaparte, que iniciou o cesarismo napoleónico.

28
I ntrodução

julgava dominar. Gradual, mas contínuo, embora não constante e uniforme, o


progresso é historicizado e a História passou a ter a sua marcha.
A meio do caminho, sabendo a direcção, tornou-se evidente a consciência da
importância dos passos já dados, isto é, a atenção à totalidade do processo his-
tórico, a “descoberta da História” concomitante ao tempo do Romantismo e do
Liberalismo que, assim, construiu o historicismo dominante nos últimos séculos.
Portanto, e socorrendo-nos de novo de Mircea Eliade, as concepções historicistas
que anunciam um Homem quer produto, quer produtor da História e cuja facul-
dade que lhe é específica, a Razão, permite desvendar o sentido do seu próprio
devir, só podem desvincular os acontecimentos históricos de qualquer valor
soteriológico, ou, por palavras mais simples, salvacionista27. Ao recusar o compro-
misso da finalidade transcendente da História em que a religião do Cristianismo
a circunscrevia, o historicismo oitocentista, embora necessariamente tributário
da concepção judaico-cristã sobre o desenrolar do tempo, resultava numa visão
dessacralizada deste e daquela – dessacralizada, note-se, no sentido da dimen-
são salvífica que a Encarnação lhes tinha fixado –, irrompendo como uma das
expressões mais inelutáveis do desenvolvimento do processo global de seculari-
zação que as sociedades ocidentais conheciam28. É esta autonomia do Homem
e da História que vai exigir uma contraposição laica ao domínio do tempo e do
calendário que a Igreja até aí detinha. Mais, com a anulação do Deus criador e
interventor, impõe-se, mesmo, uma substituição. Daí que nas novas propostas
comemorativas, cuja matriz encontramos na “festa revolucionária” francesa,
possamos “detectar um significativo transfert de sacralidade”29.
Como intérprete desta exigência determinada pelo progresso, pela autono-
mia da consciência e pela capacidade do Homem, justamente numa época em
que o desenvolvimento industrial e os avanços da ciência surgiam com as suas

27 Segundo Mircea Eliade: “Efectivamente, a partir de Hegel, todo o esforço tende a resgatar e a
valorizar o acontecimento histórico como tal, o acontecimento em si mesmo e por si mesmo” (O Mito do
Eterno Retorno, tradução portuguesa da 1.ª edição francesa, de 1969, Lisboa, Edições 70, 1981 p. 160).
28 Para um tratamento, ainda que em síntese, mais fundamentado do que o que aqui consegui-
mos alinhavar sobre esta problemática, ver a excelente “Introdução” da tese de Fernando Catroga,
A militância laica e a descristianização da morte em Portugal. 1865–1911, 2 vols., Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, 1988 (polic.), vol. I, pp. 3-75.
29 Ver F. Catroga, idem, e os estudos já clássicos de Mona Ozouf, La Fête Révolutionnaire.
1789–1799, Paris, Gallimard, 1976, e de Jean-Pierre Sironneau, Sécularisation et Religions Politiques,
La Haye-Paris-New York, Mouton Editeur, 1982.

29
F eriados em Portugal

inquestionáveis demonstrações, o positivismo de Augusto Comte (1798–1857)


revela, assim, toda a sua lógica, mesmo – ou, talvez, sobretudo? – na questão
controversa da proposta da fundação da nova “Religião Universal” da Humani-
dade, que, todavia, provocou dissidências no seio da família positivista30, ainda
que também adesões apaixonadas, como sucedeu no Brasil, onde foi fundada
uma Igreja Positivista. Este culto da Humanidade – derivado da necessidade de um
novo consenso, só passível de funcionar pela comunhão de crença, de “religião”,
no seu sentido primordial de religare, isto é, ligar ou prender – implicava-se no
reconhecimento por tudo o que o “Grande Ser” já realizara no passado e concre-
tizava-se na veneração quer dos mortos, já que “a humanidade se compõe mais de
mortos do que de vivos”, quer, em particular, dos “verdadeiramente superiores”,
cuja exemplaridade e cujo contributo na realização da humanidade essencial (“os
mortos governam os vivos”) caucionavam a acção dos que viviam no presente e
organizavam o futuro31. Mesmo tendo presente o fracasso do calendário revolu-
cionário, um tal culto não resistiu à exigência de que uma nova religião pede,
no mínimo, uma nova marcação do já existente – aqui a Igreja cristã foi mais
prudente, como já vimos, face à força da inércia do herdado da Roma pagã – ou,
na máxima coerência, um calendário totalmente novo com uma nova significação.
Se a Igreja dispôs o exército hagiográfico dos Santos pela totalidade dos dias do
ano, Comte vai seleccionar uma substituta hagiografia humanitária dos tais
“grandes homens” para a mesma distribuição.
Ao longo do ano, estavam previstas as modalidades e os temas do culto, as
manifestações das tendências da sociabilidade natural do homem. Quanto ao
calendário propriamente dito, Comte mantinha o ano de 365 dias, mas dividido
em 13 meses de 28 dias, mais 1 dia complementar. O mês teria 4 semanas que
continuavam, obviamente, com 7 dias. Cada mês teria o nome de um “grande
homem” e seria dedicado a uma das grandes épocas da história da Civilização

30 Foi o caso da dissidência de Littré e de outros discípulos. Na verdade, pareceu a alguns


positivistas que, depois de Comte ter elaborado a “lei dos três estados”, a qual considerava que
a humanidade passara primeiro por um “estado teológico”, depois por um estado “metafísico” e
finalmente por um “estado positivo”, era uma contradição o aparecimento de uma religião, mesmo
que se tratasse de uma “religião da Humanidade”. Para uma clara síntese do pensamento de Comte,
sublinhando a sua global coerência, ver a parte que lhe dedica Raymond Aron, As etapas do pensa-
mento sociológico, 3ª edição, Lisboa, D. Quixote, 1994 (original francês de 1965), pp. 79-138.
31 Cfr. F. Catroga, idem, “Positividade e Religiosidade”, pp. 107-113.

30
I ntrodução

representada por essa figura. Eram elas: Moisés, Homero, Aristóteles, Arquimedes,
César, São Paulo – como exemplo, neste caso, diga-se que o 6.º mês, o de “São
Paulo”, evocava o “Catolicismo”, e 28 personalidades da Igreja marcavam os 28
dias, as quatro mais importantes assinalando os domingos –, Carlos Magno, Dante,
Gutenberg, Shakespeare, Descartes, Frederico II e Bichat. O dia complementar era
para a “Festa Universal dos Mortos” (junção do 1 e 2 de Novembro, Todos os Santos
e Finados) e, nos anos bissextos, o dia adicional para a reprovação dos principais
reaccionários (Julião, o Apóstata, e Napoleão, o primeiro por tentar atrasar o
desenvolvimento necessário do Cristianismo, e o segundo por estabelecer um
anacrónico cesarismo militar), mas, após quatro celebrações reprováveis, seria nor-
malmente destinado ao culto abstracto da Humanidade (numa outra proposta, a
Festa das Santas Mulheres). Consciente, mas só aqui, do fracasso do calendário
republicano na alteração da semana e dos nomes dos dias desta, manteve Comte
a nomenclatura tradicional (de Lundi a Dimanche), embora considerasse, para
depois a recusar, a proposta de um seu discípulo para uma nova denominação dos
7 dias da semana, derivada igualmente da sociabilidade natural do homem, agora
a família (Maridi, Patridi, Filidi, etc.); o antigo domingo seria Humanidi, e não
deixa de ser significativa esta substituição do dia do Senhor pelo da Humanidade.
Obviamente procurava jogar – como, aliás, em 1792, já que a década começava a
Primidi e acabava a Decadi – com uma certa homofonia que poderia funcionar na
língua francesa (Lundi, Mardi, etc.). Depreende-se, também, que Comte continua-
va a datar o ano pela era revolucionária (mais um motivo de crítica a Napoleão?),
mas contando a partir de 1789: o “Catecismo Positivista” é assinado em “Paris, le 5
Gutenberg 64” (Gutenberg era, como se deduz, o 9.º mês, evocando “A Indústria
Moderna”), e essa data correspondia a segunda-feira, 6 de Agosto de 185232.
O calendário de Auguste Comte não deixou, curiosamente, de atender à
realidade histórica portuguesa. A título de curiosidade, na galeria de “grandes
homens” que Comte escolheu, no 7.º mês, de Carlos Magno, lembrando a “civili-
zação feudal”, o dia 12 é o de Afonso de Albuquerque (em alternativa, W. Raleigh);
no 8.º, de Dante, o da “Europa Moderna”, 16 é dia de Camões; no 9.º, o já referido
de Gutenberg, o dia 3 é dedicado a Vasco da Gama (em alternativa, ainda outro

32 Cfr. Auguste Comte, Cathécisme positiviste ou Sommaire de la Religion Universelle, Paris,


Garnier, s.d. (c. 1966; 1.ª edição: 1852), pp. 226-233.

31
F eriados em Portugal

português, Fernão de Magalhães); finalmente, no 12.º, para a “política moderna”,


personificada em Frederico II, o grande monarca prussiano, o dia 19, em alter-
nativa ao espanhol D’Aranda, evocava o Marquês de Pombal. Talvez não seja
mera coincidência o facto de, mesmo em relação a Fernão de Magalhães, cujo
feito é ao serviço de Espanha, todos virem a ser objecto de comemorações cen-
tenárias: Camões (1880), a grande matriz, Pombal (1882), Vasco da Gama (1898),
Afonso de Albuquerque (1915) e Magalhães (1921), embora estas duas últimas já
sem a grandiosidade das anteriores. Se exceptuarmos o de Vasco da Gama, que
comemora mais o “grande acontecimento histórico” da chegada à Índia, todos
os outros se reportam à data da morte dos “grandes homens”, embora cedo se
tenha generalizado também a comemoração dos seus nascimentos, e hoje seja
prática celebrar, para cada um dos grandes vultos do passado, tanto o centenário
da morte como o do nascimento. O arquetípico 10 de Junho – em 1880, o dia
apoteótico das festas com o grandioso cortejo – é também, a respeito de um
aspecto particular, bem revelador do processo global de laicização do modelo
celebrativo-comemorativo da Igreja. Com efeito, por norma, o dia da festa de um
santo é o que se atribui à sua morte, pois é o seu dies natalis, ou seja, o dia em
que nasce para a glória do céu, sendo o princípio da vida no Paraíso. O momento
da morte do “grande homem” é, assim, de igual modo, o do início da sua imor-
talização na memória da Humanidade – cuja capacidade tão bem exemplificou
–, memória essa, que os ritos da liturgia da (co)memoração cívica, regular e
periodicamente, pretendem (re)presentar e actualizar, ou seja, tornar presente.
Em 1882 repetiu-se o princípio, pois os estudantes e a colónia portuguesa do
Brasil escolheram o 8 de Maio, dia da morte do ministro de D. José33.
Se em Portugal, ao contrário do Brasil34, a religião positivista não teve pra-
ticamente qualquer influência, foi muito significativo o positivismo entre os
republicanos, tendo, pois, um significado particular os centenários. Capitalizando
o êxito do centenário de Camões, ocorrido, portanto, em 1880, Teófilo Braga
assumia explicitamente o sentido das “festas cívicas dos Centenários”, numa

33 Ver T. Braga, Os Centenarios como syntese affectiva nas sociedades modernas, Porto, 1884,
cap. V, “O Centenario do Marquez de Pombal”, pp. 181-231
34 No Brasil existem, ainda hoje, templos positivistas, no Rio de Janeiro, em Curitiba e em Porto
Alegre. A casa onde morou Comte em Paris (Maison d’Auguste Comte, na rua Monsieur-le-Prince)
esteve durante muito tempo ligada a brasileiros. E, no túmulo de Comte, no Cimetière du Père
Lachaise, podem ler-se importantes inscrições de prosélitos brasileiros.

32
I ntrodução

perspectiva laica e anti-católica, as quais, no seu entender, “venerando aqueles


que universalizaram ideias” ou os “que exerceram uma acção construtiva na
colectividade social”, se propunham deixar “cair no esquecimento esses outros
seres egoístas chamados Santos que a Igreja comemora pelo seu feroz egoísmo”35.

O surto dos Centenários

Século e Centenário

Se a comemoração fixa e anual em dias de aniversário de datas relativas a


“grandes homens” do passado e a acontecimentos históricos considerados deter-
minantes para a evolução da Humanidade ou para a vida da Nação, concretizada
na instituição dos feriados cívico-políticos, se apresentou como uma secularização
do modelo da celebração de dias santificados pela religião cristã, a comemoração
extraordinária por ocasião da passagem de um ciclo temporal mais longo é, de
igual modo, uma clara laicização de um processo já há muito tempo formalizado
pela Igreja Cristã medieval.
A voga dos centenários como liturgias cívicas que se impôs no século xix – se
sustentada pelo apelo à religião da Humanidade de Comte, a ideia é, contudo,
anterior – é manifestamente retirada da marcação solene de momentos extra-
ordinários, mas regulares, que dividiam o tempo em períodos cronológica e
numericamente certos e homogéneos, introduzida pela Santa Sé na Baixa Idade
Média. Como nos revelam as celebrações realizadas em 2000, em Roma, trata-se
dos Anos Santos ou Jubileus. Se, a partir dos fins do século xv, se estabeleceram
para assinalar cada período de 25 anos – assim se mantém, tendo sido os últimos
em 1950 e 1975 –, note-se que a subdivisão é relativa a um lapso de tempo de
100 anos36. A sua primeira institucionalização, em 1 de Janeiro de 1300, pelo

35 Ver Teófilo Braga, ob. cit., cap. IV, pp. 163-180.


36 Estes são os Jubileus, ou Anos Santos, maiores ou ordinários. Podem ser decretados e cele-
brados sem periodicidade certa e, então, designam-se extraordinários ou menores, como o de 1933,
XIX Centenário da Redenção pela morte de Cristo. Há ainda os particulares, concedidos a locais
ou santuários específicos, como é o caso do Ano Jubilar Compostelano ou Jacobeu, em Santiago de
Compostela, ano em que a festa do Santo (Tiago Maior), 25 de Julho, calha a um domingo. O último
verificou-se em 2010 e o próximo será em 2021.

33
F eriados em Portugal

Papa Bonifácio VIII, foi justamente concebida para ocorrerem apenas em cada
ano centenário, e traduzia-se na concessão de indulgência plenária aos peregrinos
que visitassem as basílicas de São Pedro e de São Paulo em Roma37.
Esta celebração centenária – e que ainda se poderia decompor pela subdivisão
por quatro e por dois – já implicava a imaginação do século, concebido, por uma
restrição semântica, como um período de cem anos exactos, ou centúria38, prepa-
rando, assim, o nosso século, quer como medida de divisão do tempo da História
e critério de situar os eventos (a partir do nascimento de Cristo), quer, por analo-
gia, como um tempo perfeito decorrido a partir de um acontecimento memorável
cujo termo obrigava à respectiva marcação39. A tensão estabelecida pelo Cristianis-
mo entre a opção meramente pelo século ou pela perspectiva da sua consumação
acabou por proporcionar ao historicismo decorrente da afirmação da acção autó-
noma da Humanidade a operação da completa descristianização, ou secularização,
do tempo. Os séculos da História e os marcos comemorativos dos centenários
exprimem, assim, a manifesta vontade de domínio de um tempo laicizado 40.

37 Terá havido alguma confusão pela memória das indulgências concedidas por altura das
Cruzadas que, em rigor, eram peregrinações. Por parecer demasiado longo o espaçamento de 100
anos, foi determinado que se celebrassem cada 50 anos e, depois, como vimos, cada 25. Daqui
também as comemorações de datas históricas que, normalmente, se realizam por ocasião do meio
centenário ou do quarto de século ou, ainda, do centenário e meio (150, 250, etc.). A base bíblica
vinha do Antigo Testamento que instituía o ano jubilar de 50 em 50 anos. Aqui, não por ser metade
de cem, mas por se seguir a um ciclo de 7 anos sabáticos (7x7=49). O júbilo, ou a alegria, pela passa-
gem do tempo, que é o da Criação, manifesta-se no dever de o santificar regularmente (sábado, ano
sabático, ano jubilar). Não apenas interiormente, mas de forma exterior e pública com benefícios
para o conjunto dos fiéis: libertação dos escravos, resgate das dívidas, etc. Daí, depois, pela prova
de fé, o perdão, ou indulgência, dos pecados concedido, também, geral e publicamente.
38 Ver a relação entre o Jubileu de 1300 com o actual século de 100 anos em J. Le Goff,
“Calendário”, Enciclopédia Einaudi. 1. Memória-História, IN-CM, Lisboa, 1984, pp. 260-292.
39 Seculum ou saeculum, em latim, significava dominantemente tempo, duração variável, mas
vinculado à ideia de uma vida, ou geração humana. Conservará este sentido, nas línguas românicas,
até bem tarde, como mostram as designações de “o século de Péricles”, ou de Augusto. Ainda no sé-
culo xviii, Voltaire escreve Le Siècle de Louis XIV (1751), referente ao tempo do reinado do Rei-Sol que
decorreu em dois séculos (1643–1715). Embora mantendo o último sentido, o cristianismo conferiu-
lhe a acepção de vida terrena, existência no Mundo, em contraste com a vida plena no além, ou
orientada para o reino celeste. Daí que o monaquismo se proponha retirar-se do mundo, do tempo
(do século), o que origina a divisão entre clero secular e regular (sujeito à regra de uma ordem).
Quem ingressa neste, muda de condição, o que se traduz, por exemplo, na mudança de nome.
40 Em Rafael Bluteau, Vocabulario Portuguez & Latino, além das indicações sobre o século
como “espaço de cem anos” (já se está no século “decimo-oytavo”), mantendo ainda a referência
ao marco do nascimento de Cristo, surge também a palavra “centenário”, neologismo formado de
“centena”, usado apenas como adjecivo numeral, sem alusão exclusiva a um ciclo de cem anos e
sem o significado de evocação memorial celebrativa. Ver t. II, Coimbra, Colégio das Artes, 1712,
p. 239, e t. VII, Lisboa, Of. de Pascoal da Silva, 1720, pp. 539-540.

34
I ntrodução

O carácter de “perfeito” atribuído a um período de 100 anos virá do sentido de


“completo”, fechado ou acabado. Pelo sistema de numeração de base decimal –
que se impôs no Mediterrâneo, na Antiguidade, utilizado desde os egípcios aos
romanos, passando pelos fenícios, hebreus e gregos –, cem e mil, como potên-
cias imediatas da dezena, figurados geometricamente, apresentam-se com essa
dimensão de “perfeição”, sentido que a Igreja recolhe e que é claramente enun-
ciado, por exemplo, nos inícios do século v, por Santo Agostinho, um dos pilares
da Igreja Cristã latina.

Os Centenários em Portugal (1880–1910)

A primeira grande comemoração centenária em Portugal, o referido 300.º


aniversário da morte de Camões, em 1880, teve como modelo os centenários
que, na década de 70 se celebraram em Itália e em França. Na citada obra de
1884, Os Centenários, Teófilo Braga assume claramente esses antecedentes, ins-
crevendo-os numa prática da “corrente da civilização moderna” e referindo-os
explicitamente como uma resultante da previsão de Comte41.
No entanto, se o Centenário de Camões, em 1880, foi, indubitavelmente, o
primeiro que envolveu um apelo público à celebração cívica e nacional, não foi,
seguramente, a primeira comemoração realizada, de forma assumida, em Portugal.
Em 1872, portanto oito anos antes, a Universidade de Coimbra tinha já assina-
lado o I Centenário da Reforma Pombalina, instituída pelos Estatutos de 177242.
Se este processo celebrativo se impôs nos anos 70, já tinha, pois, conhecido re-
alizações nas décadas anteriores. A primeira parece ter sido a manifestação com

41 Ver Anexos, I, O Surto Comemorativo. Cfr. Teófilo Braga, ob. cit., em especial “Prolóquio”,
pp. V-X e IV; “O Centenário de Diderot”, pp. 163-180. Refere, no entanto, que “há quasi quarenta
anos se sucedem estas festas cívicas dos centenários”, o que nos remeteria para a segunda metade
da década de 1840, tendo em mente, por hipótese, uma outra comemoração de Lutero, desta vez o
III centenário da sua morte (1846).
42 Na verdade, lentes de cada uma das faculdades, à excepção do Direito, publicaram as suas
memórias, correspondentes ao período que se seguia à reforma de 1772 até 1872. O Dicionário
Bibliográfico Português, de Inocêncio F. da Silva, nos Índices que compõem o vol. XXIII (p. 672),
não menciona, no entanto, este de 1872, nem qualquer outro anterior ao camoniano de 1880. Sobre
este último, para uma análise interpretativa, ver F. Catroga, História da História em Portugal, vol. 2,
pp. 226-230. Note-se que Inocêncio Francisco da Silva, dedicou todo o vol. XV do seu dicionário
ao centenário de Camões.

35
F eriados em Portugal

que os estudantes alemães celebraram, em 1817, o III Centenário da afixação


das “95 teses” por Lutero em 1517, dirigindo-se a Wartburg – cidade onde o
reformador produzira a sua tradução da Bíblia – e iluminando festivamente o
lugar onde trabalhara43.
Na proposta positivista, os Centenários, como “síntese afectiva”, traduziam
uma das tendências progressistas das sociedades modernas que lideravam a
marcha da Civilização produzida pela Humanidade. Assim como as Exposições,
realizadas espontaneamente, decorriam, na sua matriz, da actividade económi-
ca caracterizada pela sociedade industrial e constituíam a “síntese activa”, os
Congressos científicos iam realizando a “síntese especulativa”, como “reconhe-
cimento geral do poder espiritual da ciência” – logo, substituto do exercido pela
Igreja –, que, pela natureza aberta do conhecimento, necessariamente interna-
cional, cumpria o ideal universalista “em que a pátria se alarga na humanidade”.
Os Centenários, convocando para um culto colectivo, satisfariam as “necessi-
dades de sentimento”, ao mesmo tempo que iriam “substituindo as religiões”,
como Teófilo Braga claramente doutrinou44. Daí que, justamente, no Programa
definitivo, aprovado pela Comissão Executiva da Imprensa que organizou o
Centenário de 1880, não tenha havido um único acto de natureza religiosa e,

43 Ver William Johnston, Post-Modernisme et Bimillénaire. Le culte des anniversaires dans


la culture contemporaine, Paris, P.U.F., 1992, pp. 116-122. Em 1865, dois outros centenários
tinham tido já algum impacto: o VI do nascimento de Dante (1265–1321) e o 450.º aniversário
do martírio de Jan Huss (1415), comemorado pelos checos (ainda hoje o dia 6 de Julho, dia da
morte de Huss, é comemorado na República Checa). Na Alemanha, ainda antes da unificação li-
derada pela Prússia, tiveram já um carácter nacional os 50 anos da vitória sobre Napoleão (1813)
em Leipzig, em 1863, e o I centenário do nascimento do grande poeta Schiller (1759–1805), em
1859. Talvez devido a gralhas, algumas datas indicadas por este autor estão manifestamente
erradas.
44 Ver T. Braga, idem. O espaço público em que se desenrolavam as manifestações religiosas
deveria, por isso, ser também o palco privilegiado dos Centenários, entendendo-se, assim, o
Cortejo, préstito cívico, como o momento central da celebração, a exemplo da procissão, que
exteriorizava colectivamente o sentimento religioso. Daí o reparo que fez, comparando-os com o
português de Camões, aos centenários de Petrarca, em 1874, e de Voltaire, em 1878–1879, por terem
acumulado erudição académica em demasia. 1880 teria sido mais popular, cívico, colectivo e
democrático (História das Ideias Republicanas em Portugal, publicada nesse ano). No entanto, o
próprio programa das comemorações camonianas, ao incluir conferências literárias e exposições
bibliográficas, acabou por combinar, mesmo que de forma incipiente, três dos elementos básicos
que, doravante, se reuniriam em qualquer grande comemoração: Cortejo, Exposição e Congresso.
Curiosamente, o primeiro programa do Centenário de Camões, apresentado por Teófilo Braga, era
bem tímido e não previa o Cortejo, proposto pelo Centro Republicano Federal de Lisboa, de clara
orientação positivista.

36
I ntrodução

mais, no Cortejo do dia 10 de Junho, a Igreja tenha sido a única instituição


excluída45.
Se, quer já na matriz republicana da “Grande Nação” prometida pela Revolução
Francesa, quer, depois, na doutrinação positivista, as comemorações, celebração
de dias feriados ou de centenários, se inscreviam num projecto laicista ecuménico,
tendo como horizonte a Humanidade, como instrumento da realização da
“fraternidade universal” entre os povos, o consenso colectivo seria dificilmente
alcançável, para não dizer impossível, dada a dimensão fracturante, em termos
internos, do sentido de cada celebração singular. Não só pelo claro carácter con-
flitual do objecto comemorado, mas também, na eventualidade de este ser, à
partida, mais consensual, pelo indisfarçável aproveitamento político-ideológico
do processo celebrativo. Na primeira vaga do surto comemorativista em Portugal,
no início da década de 80, podemos ver exemplos destes dois casos na politiza-
ção do centenário de Camões de 1880 pelo movimento republicano e no sentido,
desde logo manifestamente anticlerical, da comemoração do I Centenário da
morte do Marquês de Pombal em 1882.
Por outro lado, a perspectiva ecuménica e universalista da evocação da me-
mória dos grandes homens e dos grandes acontecimentos históricos acabou por
ceder ao sentido nacionalista, aliás já evidenciado em muitas das comemorações
que referenciámos a partir dos meados de Oitocentos, um pouco por toda a
Europa46. Quanto mais as datas comemoradas são susceptíveis de receber uma
unanimidade em termos internos, mais as celebrações evidenciam o particula-
rismo, na medida em que são utilizadas como vontade de afirmação nacional,
manifestada, em especial, quando inseridas numa conjuntura de crise provocada
por um perigo identificável ou por um sentimento de frustração resultante de um
choque sofrido pela Nação. Mesmo as de 1880 revelavam essa vertente, não só
como sinal de uma “revivescência” nacional para uma nacionalidade decaída,
mas também porque se seguiu ao tratado de Lourenço Marques de 1879 com a
Inglaterra, objecto de uma campanha de grande contestação dado que se julgava

45 O que poderá explicar o (auto?)afastamento do Visconde da Juromenha que, pelo seu prestígio
como o grande camoniano da época, chegou a ser eleito para a Comissão da Imprensa, sendo-lhe
mesmo dado o cargo de Presidente Honorário. Além de católico, Juromenha era miguelista.
46 Ver W. Johnston, ob. cit..

37
F eriados em Portugal

demasiado subserviente aos interesses britânicos nas possessões coloniais que


reivindicávamos em África.
É precisamente a questão colonial que vai marcar a segunda vaga das grandes
comemorações centenárias dos finais do século xix47, agora na década de 90,
com o V Centenário do nascimento do Infante D. Henrique em 1894 – celebrado
fundamentalmente no Porto, onde nascera em 1394 – e com o III Centenário da
viagem de Vasco da Gama à Índia em 1897–189848, se não incluirmos a participa-
ção portuguesa, da responsabilidade da Academia Real das Ciências de Lisboa,
nas comemorações do IV Centenário da Descoberta da América por Colombo,
celebradas em Espanha, em 1892. O trauma do Ultimatum inglês de 1890 im-
plicou naturalmente um maior investimento na legitimação histórica da missão
colonizadora e imperial da Nação portuguesa. Mais estranha será a obscuridade
da comemoração, em 1900, do IV Centenário da Descoberta do Brasil por Pedro
Álvares Cabral, não assinalado a nível oficial49.
A prioridade dos temas ultramarinos – exigida pela consciência da fragilidade
de Portugal na tarefa de concorrer com os projectos de expansão colonial das
grandes potências, sobretudo depois das resoluções da Conferência de Berlim
de 1884–1885 – poderá ter estado na base do relativo esquecimento dos cente-
nários que caíram em meados da década de 80. Mesmo estando já assinalado
por Teófilo, foi praticamente ignorado o V Centenário da Batalha de Aljubarrota,
em 1885. Esbatida a “Questão Ibérica”, particularmente aguda nos anos 60 e 70,
a afirmação da independência nacional não se apresentava tão premente. Daí,
plausivelmente, a modéstia da comemoração do VII Centenário da morte de

47 Ver sobre esse sentido imperial das comemorações, para o século xix mas também para o
século xx, a obra já citada de Maria Isabel João, Memória e Império: comemorações em Portugal.
1880–1960, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.
48 As celebrações estavam previstas para começarem em 1897, mas acabaram por se concentrar
no último ano. Sobre estes centenários, incluindo-os no ciclo nacionalista-imperialista, ver também
F. Catroga, História da História, vol. 2, pp. 226-301.
49 Talvez devido à dimensão dos centenários henriquino e da Índia que terão consumado o mo-
delo. De qualquer modo, as publicações da comissão portuguesa para o centenário de Colombo, como
se tratava da América, continham alguns estudos sobre a viagem de Cabral, o que poderia constituir
uma base erudita e académica para 1900. Um dos poucos registos é a sessão solene – e talvez não por
acaso, dados os interesses que a burguesia mercantil do Porto e do Norte continuavam a ter no Brasil,
– realizada no Teatro de São João, promovida pelas Associações Comerciais, Industriais e Agrícolas do
Porto, que “festejaram solenemente o 4.º centenário do descobrimento do Brasil” com a presença de
António Cândido como orador. Sobre os centenários de 1892 e de 1900, ver os elementos indicados no
Dicionário Bibliográfico Português, respectivamente, vols. XVIII, pp. 326-327, e XXII, p 216.

38
I ntrodução

D. Afonso Henriques, também em 1885, talvez a primeira data oferecida pelo


calendário, nesta época, à virtualidade comemorativa respeitante à fundação da
nacionalidade. Teve apenas um carácter local, restrito a Coimbra – onde se en-
contra sepultado na Igreja de Santa Cruz – e a Guimarães, a “Cidade-Berço”, que
assistiu à colocação da pedra fundamental da célebre estátua do “Fundador”, da
autoria de Soares dos Reis, inaugurada em 1887.
Entre 1894 e 1898 realizou-se a outra grande comemoração, em termos de
impacto público, da década de 90, o VII Centenário do nascimento de Santo
António, em 1895, embora a data de nascimento fosse conjectural50. Marcou,
poder-se-á dizer, a recuperação, por parte da Igreja e dos sectores católicos, do
modelo comemorativo que tinha sido usado contra ela pelos movimentos laicistas
e anticlericais51. A Igreja já tinha promovido em 1884, embora com um âmbito
necessariamente local, o I Centenário do templo do Real Santuário do Bom Jesus
do Monte, em Braga (1784–1884), mas, a partir de 1895, não vai deixar de apro-
veitar todas as efemérides que se lhe ofereceram. Logo em 1897, é comemorado
o II Centenário da morte do Padre António Vieira. A par dos artigos e das
notícias que o lembravam como um vulto das letras portuguesas, uma Comissão
executiva para o Centenário do jesuíta foi constituída – fazendo parte dela José
Fernando de Sousa (Nemo), uma das mais destacadas figuras, durante décadas,
do jornalismo católico e monárquico –, tendo iniciado a publicação das obras
completas de Vieira em edição comemorativa e que contou com a colaboração
da alta hierarquia católica portuguesa. Em 1898 e 1899 foram comemorados os
Centenários (IV) da Fundação das Santas Casas das Misericórdias de Lisboa
(1498) e do Porto (1499) pela Rainha D. Leonor, com a publicação de uma série
de memórias históricas e em cuja organização se destacaram elementos do clero.
Finalmente, em 1900, a imprensa católica e legitimista assinalou o I Centenário
do nascimento do diplomata António Ribeiro Saraiva (1800–1890), um dos mais
combativos e fiéis militantes da causa de D. Miguel52.

50 Na vigência da Monarquia Constitucional, estes três centenários, Infante D. Henrique, Santo


António e Vasco da Gama, foram os únicos que mereceram da parte do Estado, que tutelava os
Correios, a emissão de selos postais comemorativos.
51 Para conhecer a dimensão conflitual das festas de Santo António, tendo chegado os militantes
anticlericais quase a sabotar o Cortejo, ver F. Catroga, idem, vol. 2, pp. 309-312.
52 Para mencionar apenas os que o Dicionário de Inocêncio regista. Sobre o de Vieira, ver vol.
XXII, p. 379 e ss.. Para o de 1884 e estes últimos, ver vol. XVIII, pp. 35-38.

39
F eriados em Portugal

O Centenário de António Vieira, em 1897, se não contarmos com o de Camões


(que teve um sentido mais amplo), marca o início de uma outra vaga de comemo-
rações que se pode subordinar ao signo da evocação dos grandes vultos da lite-
ratura portuguesa. Logo em 1899, comemorou-se o I Centenário do Nascimento
de Almeida Garrett, celebração centrada no Porto, sua terra natal, e de onde
partiu a campanha para que lhe fosse também concedida a entrada para o
Panteão dos Jerónimos, o que veio a concretizar-se em 190353. Neste ano, em
Lisboa, organizou-se um grandioso cortejo, composto pelas colectividades popu-
lares e associações profissionais e pelos representantes dos municípios do país,
para acompanhar a transladação dos restos mortais do escritor até Belém. Um
ano antes, em 1902, a imprensa e as escolas de arte dramática tinham comemo-
rado o IV Centenário de Gil Vicente ou do Teatro Nacional54. Por último, em
1910, meses antes do 5 de Outubro, celebrou-se o I Centenário do Nascimento
de Alexandre Herculano com manifestações em todo o país e cujo ponto alto foi
o cortejo cívico em sua memória realizado na capital. Neste foi mais vincado o
protagonismo dos sectores positivistas e republicanos, que procuravam um efeito
como o de 1880, numa altura em que a questão religiosa estava de novo na
ordem do dia pela subida de tom da campanha anticlerical nos últimos anos da
Monarquia Constitucional55.
Além do de Herculano, o último centenário programado antes da República,
para ter início em 1908, foi o da I Guerra Peninsular, que comemorava a partici-
pação portuguesa na vitória sobre os exércitos de Napoleão. Significativamente
ausentes, até aí, da comemoração cívica e nacional – recorde-se o silêncio até
sobre os 500 anos de Aljubarrota –, as datas das grandes batalhas e das guerras

53 Terá sido a declaração de celebrar o centenário garrettiano, que culminaria uma intensa dé-
cada comemorativa, a motivar a resolução dos estudantes da Universidade de Coimbra em realizar,
como paródia, o “Centenário da Sebenta”. Ver Inocêncio, ob. cit., vol. XVIII, pp. 38-40.
54 Não se referia ao nascimento nem à morte do dramaturgo, evocando-o como “o fundador
do teatro nacional”. O critério para a escolha da data foi a da representação, na Corte de D. Manuel
I, da primeira peça da sua autoria, o Auto da Visitação (ou Monólogo do Vaqueiro), em 1502. Diver-
gências entre os eruditos quanto à legitimidade do critério e da data fizeram com que a Academia
das Ciências de Lisboa propusesse celebrar o centenário em 1905 ou 1908, correspondentes a 1505
e 1508, anos das peças Quem tem farelos e Auto da Alma, consideradas, pela linguagem vicentina,
mais genuinamente portuguesas. Ver Inocêncio, ob. cit., vol. XVIII, pp. 304-306.
55 Ao contrário de Garrett, cujo centenário precedeu a sua panteonização, Herculano já figurava
nos Jerónimos desde 1888. Para uma síntese interpretativa dos dois centenários, ver F. Catroga,
História da História, vol. 2, pp. 339-343.

40
I ntrodução

que Portugal travara eram recuperadas para a memória, num momento em


que o país glorificava o heroísmo militar dos soldados que comandavam as
campanhas de ocupação nas colónias africanas. Essa exaltação tivera o seu tempo
primordial com os feitos de Mousinho de Albuquerque em Moçambique, em
1895, e continuava ainda nessa primeira década do século, com as sucessivas
operações dos militares africanistas.
Previstas as comemorações para se desenrolarem entre 1908 e 1914 (derrota
dos franceses já em Toulouse), a implantação da República em Outubro de 1910
não permitiu a sua realização. D. Manuel II terá a sua última cerimónia oficial
como rei de Portugal justamente na sessão comemorativa dos cem anos da
Batalha do Buçaco, em Setembro de 1910. A perpetuação em pedra da memória
da expulsão do invasor francês foi decidida pela construção de dois Monumentos
à Guerra Peninsular, em Lisboa e no Porto. As obras arrastaram-se por longas
décadas: o da capital só veio a ser inaugurado em 1933, enquanto o do Porto
ainda teve de esperar até 1952 para ver o seu acto inaugural56.

Outros centenários e outras formas de celebração

Falámos, sobretudo, dos centenários até 1910, porque eles têm um significado
inaugural dentro da ordem positivista e laicista versus a ordem religiosa cristã e
eclesiástica, que por sua vez ainda lhes respondia com outros centenários. Todavia,
estes centenários do “fim de século” até à implantação da República são os
primeiros de uma longa lista que se prolonga até aos nossos dias, a que fazemos
agora apenas uma breve referência57.
Pouca importância relativa teve o centenário da nossa primeira revolução
liberal de 1820 e, curiosamente, teve mais repercussão na nossa imagética a
comemoração do centenário da independência do Brasil (Setembro de 1922), não
só pela importância ali da colónia portuguesa, mas sobretudo por dois factos de
grande repercussão: a visita do primeiro chefe de Estado português ao pais

56 Ver idem, pp. 644-646.


57 Ver a relação de alguns dos centenários realizados até ao presente em Anexos I, Alguns
marcos comemorativos em Portugal.

41
F eriados em Portugal

irmão, António José de Almeida58, mas ainda pelo facto singular de se ter então
realizado a primeira viagem aérea entre Lisboa e o Rio de Janeiro, por Gago
Coutinho e Sacadura Cabral. O nosso nacionalismo ultramarino – que marcara
sempre a mentalidade republicana – revia-se no “país de sucesso” que se previa
vir a ser o Brasil.
Durante o Estado Novo, deve salientar-se o Duplo Centenário da Fundação e
da Restauração da Nacionalidade, cujas datas se fez coincidir, um pouco artifi-
cialmente (no caso da Fundação), com 1940 (1140–1640–1940)59. Pretendeu este
centenário reforçar, em tempo de guerra (se bem que ele fosse preparado anos
antes60), o nacionalismo português, muito caro ao regime de Salazar, que se
pretendia que fosse um nacionalismo brando e não agressivo, o qual poderia
congregar a presença de todos os países “ocidentais”, ao contrário do nacionalismo
expansionista e bélico nazi, que, no entanto, teve em Portugal algum eco.
Depois de 1974, a maioria dos centenários teve um sentido científico, limitando-
-se a organizar conferências e congressos comemorativos, com a publicação por
vezes das respectivas actas.
No entanto, deve destacar-se a importância conferida aos Descobrimentos
dos séculos xv e xvi, para cujas comemorações foi organizada oficialmente uma
Comissão, que iniciou as suas actividades em 1986 e terminou em 2002. Essas
comemorações se corresponderam, em certo sentido, ao redespertar do naciona-
lismo ultramarino ou, noutro sentido, à ideia dramática do “retorno”, por assim
dizer, ao “regresso das caravelas”61, procuraram ter também e sobretudo um

58 Ver Luís Reis Torgal, António José de Almeida e a República, Lisboa, Círculo de Leitores,
2004 (2.ª edição: Lisboa, Temas e Debates, 2005), sobretudo cap. 7.
59 Ver Luís Reis Torgal, Ideologia politica e teoria do Estado na Restauração, 2 vols., Coimbra,
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1981–1982, vol. I, Introdução, e, principalmente, Luís
Oliveira Andrade, História e Memória. A Restauração de 1640: do Liberalismo às Comemorações
Centenárias de 1940, Coimbra, MinervaCoimbra, 2001.
60 Só para ter uma ideia geral do quotidiano dos centenários, em 1939–1940, ver Revista
dos Centenários, Lisboa, Comissão Executiva dos Centenários, 31 de Janeiro de 1939 – Dezembro
de 1940.
61 A frase ou a ideia aparece na obra As Naus, de António Lobo Antunes (Lisboa, Dom Quixote
– Círculo de Leitores, 1988). Foi utilizada igualmente por João Paulo Guerra como subtítulo do seu
livro Descolonização portuguesa: o regresso das caravelas (Lisboa, Dom Quixote, 1996). Foi também
uma instituição cultural dedicada aos problemas de África, fundada por Maria Barroso: Associação
Regresso das Caravelas. Recentemente foi publicada uma interessante novela de Dulce Maria
Cardoso, intitulada precisamente O Retorno (Lisboa, Tinta da China, 2011).

42
I ntrodução

carácter universalista, que culminou em 1998 com a Exposição Mundial, realizada


em Lisboa, dedicada aos Oceanos. Só praticamente essas comemorações tiveram,
pois, um carácter que ultrapassou a comemoração científica, para se tornarem
uma manifestação de rua, o que acompanhou afinal a afirmação da mundialização
da cultura, que em breve dava lugar, todavia, a uma globalização economicista
que acompanhou a afirmação do neo-liberalismo na Europa e no Mundo.
Por sua vez, deve destacar-se o significado nacional que se pretendeu dar às
comemorações da República, em 2010 e 2011, cujo efeito não terá sido significativo
nos meios políticos, cada vez mais conservadores se não contra-revolucionários,
a ponto de se falar, por critérios também economicistas, da extinção do feriado
mais significativo dessas comemorações, o 5 de Outubro, ou seja, o dia da pro-
clamação da República e da queda da Monarquia, acto esse que não tem apenas
o sentido da afirmação de um regime, o regime republicano, que adoptou a
bandeira e o hino, mas sim de um sistema, o sistema democrático, a Respublica.
Com efeito, em 2 de Fevereiro de 2012, o Conselho de Ministros deliberou enviar
à Assembleia da República a proposta de lei de alteração do Código do Trabalho,
que entre outras medidas laborais, propunha a extinção do feriado nacional de
5 de Outubro e, também, o “dia da Restauração”, 1 de Dezembro, para além de
propor a abolição de dois feriados religiosos, decididos em acordo com a Santa Sé.
Quanto ao Carnaval (ou, mais exactamente “à terça-feira de Carnaval”, dado
que o período do Carnaval abrange liturgicamente o tempo que vai do dia de
Reis à “quarta-feira de cinzas”, mas sobretudo o domingo, a segunda-feira e terça-
-feira, dias chamados “gordos”, por se poder comer carne)62, nunca foi feriado
oficial fixo. No entanto, pode dizer-se que, ao longo do tempo, em Portugal, tem

62 O Carnaval tem origem nas festas da Antiguidade dita “pagã” que marcavam o final do In-
verno, estando na Grécia ligadas ao culto de Diónisos, deus do vinho, pelo que são comuns alguns
excessos, que tinham então, todavia, um sentido ritual. Mais tarde o período do Carnaval foi cristia-
nizado, sendo considerado liturgicamente o período posterior à Epifania até “quarta-feira de Cinzas”,
que inicia a Quaresma, período este ligado à morte de Cristo, e que só termina no domingo da
Ressurreição (Páscoa). No Carnaval pode comer-se carne (daí falar-se de domingo ou de “terça-feira
gorda”), ao invés da Quaresma onde se verificava (e hoje mesmo, em certos dias, segundo a liturgia
cristã) a sua abstinência. Aliás, a palavra parece ter a sua origem etimológica em carnem levare ou,
como substantivo, carne levare, ou seja, “tirar a carne”, abstenção de carne, que se verifica logo a
seguir a 3.ª feira, não parecendo então ser correcta a origem etimológica de carne vale, com o sig-
nificado de “adeus à carne” (ver Houaiss, Dicionário da Língua Portuguesa, I, p. 815). Popularmente
também se utiliza como sinónimo de Carnaval a palavra Entrudo, que vem do substantivo latino
introitus, ou seja “início”, dado que o Entrudo marcava o final do Inverno e o início da Primavera.

43
F eriados em Portugal

sido entendido como um dia em que o Governo confere (ou pode conferir)
“tolerância de ponto” aos funcionários públicos, por decreto-lei, no início de
cada ano. Mas também tem sido normalmente considerado como fazendo parte
do período de suspensão da vida escolar – não só a terça-feira, mas o período
de domingo a terça-feira. De resto, curiosamente, nem no Brasil é entendido
como “feriado oficial”, mas somente como “feriado regional”. Todavia, salvo
raras excepções, tem sido concedida entre nós essa tolerância, pelo que a to-
mada de posição negativa por parte do Governo em 2012, ligada já à intenção
de extinguir os dois feriados oficiais referidos, originou alguma polémica. Por
sua vez, foi igualmente polémica a atitude de alguns municípios – sobretudo
aqueles em que a tradição carnavalesca é mais significativa – ao conferirem
essa “tolerância”, usando do direito de autonomia, em alternativa à decisão
nacional do Governo.

A comemoração do tempo e os feriados

Conforme se viu, é muito complexa a questão do calendário, mesmo através


da análise necessariamente simplificadora que apresentámos, como é complexa
a questão da comemoração do tempo.
O nosso ano – o presente ano de 2012 – começou em 1 de Janeiro, numa
contagem cristã (de acordo com o Calendário Gregoriano), contagem essa que se
tornou praticamente universal em termos do tempo oficial do mundo, embora o
processo de passagem dos vários calendários para o gregoriano tivesse sido
lento e faseado63. Contudo, mantêm-se outras contagens simbólicas ligadas às
várias religiões (afinal são as religiões, ultrapassados que foram os calendários
laicos, que maior importância têm na celebração do tempo) ou à natureza. O ano
chinês de 4710, por exemplo, começou no nosso 23 de Janeiro de 2012 e é dedi-
cado ao animal mítico que é o Dragão, tendo no dia anterior (dia 22) terminado

63 Recorde-se que só em 1923 foi adoptado na URSS o calendário gregoriano, tendo vigorado
até então o Calendário Juliano. Por isso, a famosa revolução bolchevique de 25 de Outubro de 1917
(segundo o Calendário Juliano) – vulgarmente também conhecida por “Revolução de Outubro” –
deu-se efectivamente (segundo o Calendário Gregoriano que adoptamos) em 7 de Novembro do
mesmo ano.

44
I ntrodução

o ano do Coelho64. Por sua vez, as organizações internacionais, para além de


celebrarem os dias de forma especial (como referiremos), celebram também os
anos. Assim, a Assembleia Geral da ONU proclamou 2012 como Ano Internacional
das Cooperativas, talvez como resposta à crise da sociedade neoliberal e de
concorrência desenfreada.
Mas onde se verifica actualmente de forma mais intensa a celebração do tempo
é nos dias do ano. Os feriados cívicos criados por cada país são os mais comuns
e tradicionais. Por exemplo, em quase todos os Estados se celebram os dias da
independência ou da fundação nacional65. Nos Estados Unidos é em 4 de Julho,
no Brasil em 7 de Setembro, e, se em Portugal, pelas próprias características da
sua história milenária e do processo complexo da fundação da nacionalidade e
da formação precoce de fronteiras, não existe propriamente um “dia da indepen-
dência”, criou a República, na sua fase mais nacionalista, o dia de Portugal ou
da “Raça”, 10 de Junho, que surgiu no âmbito das comemorações de Camões de
1924, para além de existir – desde o início do regime republicano, com anteceden-
tes na Monarquia – um dia da dedicado “à autonomia da pátria”, 1 de Dezembro.
Na França da Revolução, o dia da tomada da Bastilha (14 de Julho) continua a
ser o dia nacional mais significativo.
Alguns outros feriados ocorridos no estrangeiro tornaram-se muito conheci-
dos, como, nos Estados Unidos, o dia de Acção de Graças (Thanksgiving Day),
realizado na quarta quinta feira de Novembro, que começou a ser celebrado no
século xvii para dar graças pelas boas colheitas. O 25 de Abril em Portugal é
conhecido, sobretudo nos outros países, como o da “Revolução dos Cravos” e,
no mesmo dia, curiosamente, celebra-se na Itália o importante feriado do “dia da
Libertação” (Liberazione), ou seja, o fim da guerra em 1945. De resto, nos países
da Europa que foram vítimas da II Guerra Mundial e nela participaram tornou-se
comum o dia em que ela terminou ou que marcou o dia da libertação do jugo
nazi. No caso da França, onde a memória da I Guerra Mundial é muito forte,
celebra-se, para além do dia da vitória na II Guerra (Fête de la Victoire – 8 de
Maio), anunciada por De Gaulle, a festa do armistício de 1918 (Armistice 1918 –

64 Os outros animais a que são dedicados os anos chineses são os seguintes: Serpente, Cavalo,
Cabra ou Carneiro, Macaco, Galo ou Galinha, Cão, Porco, Rato, Boi e Tigre.
65 Ver Anexos, IV, Feriados no Mundo. Alguns exemplos.

45
F eriados em Portugal

11 de Novembro), que é ainda festejado também em outros estados que se


envolveram no conflito.
Mesmo alguns calendários oficiais não deixaram de considerar como feriados
nacionais e cívicos alguns dias comemorativos de santos, sobretudo em estados
onde a religião tem um grande significado, como sucede com São Patrício na
Irlanda (17 de Março) ou com a Senhora Aparecida no Brasil (12 de Outubro). De
algum modo o nosso 8 de Dezembro tem também esse significado, pois não é
apenas o dia que assinala o dogma da Imaculada Conceição (fixado em 8 de
Dezembro de 1854 pelo papa Pio IX), mas é também a data que recorda o
facto de Nossa Senhora da Conceição ter sido consagrada por D. João IV como
Padroeira de Portugal.
O dia do Trabalho ou do Trabalhador tornou-se em quase todos os países um
feriado nacional. Todavia, enquanto na maioria dos casos se celebra em 1 de
Maio e tem um sentido e uma memória, por assim dizer, sindical e revolucionária
– recorda a manifestação dos trabalhadores em Chicago, de 1886, em luta pelas
8 horas de trabalho e foi considerado pela primeira vez como feriado pelo Senado
da República Francesa em 23 de Abril de 1919, sendo no ano seguinte proclamado
pela Rússia soviética, e em Portugal só celebrado depois de 25 de Abril de 1974
–, em alguns países tem um sentido completamente diferente. Nos Estados
Unidos, onde se verificou essa histórica acção operária, recusou-se até hoje o
significado dessa data, em que, em consequência, morreram alguns manifestantes
devido à carga da polícia. No entanto, com um carácter não revolucionário
pretende-se também celebrar o Labor day, na primeira segunda-feira de Setembro,
procurando mesmo considerar as suas origens anteriores a 1886, ligadas à pro-
posta feita por Matthew Maguire, operário e secretario da CLU (Central Labor
Union) de Nova Iorque. No Japão – outro caso exemplar – celebra-se o dia de
Agradecimento ao Trabalho.
As datas religiosas, conforme dizíamos, continuam a marcar a celebração dos
dias, não só na liturgia da Igreja, mas mesmo na marcação de alguns feriados
oficiais de países do “Ocidente” cristão, assim como também sucede, com outras
referências evidentemente, por exemplo nos países islâmicos ou no estado de
Israel. Em Portugal, até ao momento, são “dias santos” considerados feriados
nacionais a “sexta-feira santa”, dia comemorativo da morte de Cristo, o Domingo
de Páscoa, o dia do Corpo de Deus – festa móvel realizada na quinta-feira da

46
I ntrodução

segunda semana após o Pentecostes, festa originária do século xiii e que em


Portugal tem uma tradição única entre os países católicos –, a Assunção de
Nossa Senhora (15 de Agosto), Todos os Santos (1 de Novembro), a Imaculada
Conceição (8 de Dezembro) e o Natal (25 de Dezembro). Noutros países domi-
nantemente católicos há alguns destes feriados, celebrando-se outros que não se
verificam em Portugal. Assim, na França celebram-se a Páscoa, a Ascensão de
Cristo (chamada normalmente em Portugal “quinta-feira da Ascensão” e que aqui
tinha e tem, sobretudo em determinadas zonas e localidades, um amplo signifi-
cado popular), Pentecostes (festa móvel que celebra, na tradição cristã, a descida
do Espírito Santo sobre os apóstolos e que ocorre cinquenta dias depois do
domingo de Páscoa), a Assunção de Nossa Senhora, Todos os Santos e o Natal.
Em Espanha e na Itália, países ainda mais fortemente católicos do que a França,
não se celebra o Pentecostes – que surge em muitos países protestantes, onde o
cristocentrismo é evidente –, mas celebram-se todas as outras datas, e ainda a
Epifania e os Reis Magos (6 de Janeiro) e as datas ligadas a Nossa Senhora, ou
seja, a Assunção e a Imaculada Conceição. Nos Estados protestantes, como se
dizia, é notória a celebração das datas referentes a Cristo, ou seja, a “sexta-feira
santa”, a Ascensão, o Pentecostes e, evidentemente, a Páscoa e o Natal. De resto,
é curioso notar que em alguns deles, como na Alemanha (em que alguns estados
são católicos) ou nos Países Baixos (Holanda) ou na Noruega, são considerados
feriados os dias a seguir à Páscoa, ao Pentecostes e ao Natal.
Há, no entanto, países onde predominam os feriados cívicos. Nos Estados
Unidos, fazem-se normalmente coincidir os feriados com segundas-feiras. Assim,
para além do New Year’s day (1 de Janeiro) e do Christmas day (25 de Dezembro)
são ali feriados: o aniversário de Luther King, Birthday of Martin Luther King Jr.
(nascido em 15 de Janeiro, de 1929, o feriado é, pois, celebrado na terceira
segunda-feira desse mês); o Washigton’s Birthday, comemoração do nascimento
de George Washington (22 de Fevereiro de 1732), é festejado na terceira segunda-
-feira de Fevereiro; o Memorial day (na última segunda-feira de Maio), instituído
primeiro para recordar os mortos da Guerra Civil Americana e, mais tarde, todos
os mortos em combate; o Independence day (4 de Julho); o já citado Labor day
(como se disse, nos inícios de Setembro); o dia em que se celebra a viagem de
Cristóvão Colombo, que terá chegado às Américas a 12 de Outubro de 1492,
Columbus day (a segunda segunda-feira de Outubro), feriado que se verifica

47
F eriados em Portugal

também em outros países da América; o Veterans day, que comemora o armis-


tício da I Guerra Mundial e os seus combatentes (11 de Novembro de 1918),
embora hoje tenha alargado o sentido aos “veteranos” de outras guerras; e o
citado Thanksgiving day (quarta quinta-feira de Novembro).
No caso da Rússia actual, para além dos cinco dias de Ano Novo (de 1 a 5 de
Janeiro) e do Natal, no dia 7 desse mês, de acordo com o calendário juliano,
adoptado entre os cristãos ortodoxos, celebra-se o dia da Defesa Russa (23 de
Fevereiro), o dia da Mulher (8 de Março), o dia da Primavera e do Trabalhador
(1 de Maio), o dia da Grande Vitória (que se celebra em 9 de Maio), na que
foi chamada a “Guerra Patriótica”, ou seja, a II Guerra Mundial, o dia da Rússia
(12 de Junho), feriado recente, que celebra a soberania russa, independente do
Estado Soviético, e o dia da Unidade Nacional (4 de Novembro).
Por vezes, ou sempre, a ideologia está bem marcada, como sucede nos países
que ainda reivindicam a sua herança e o seu estatuto “revolucionário” de sistema
socialista. Assim, na Coreia do Norte – onde se celebra o Ano Novo (1 de Janeiro)
e o Ano Novo Coreano (móvel, de acordo com o ano lunar), o que mostra o
entrelaçar de calendários, como já verificámos noutros casos –, para além de
se celebrar os aniversários de Kim Jong Il (16 de Fevereiro) e de Kim Il-Sung
(15 de Abril), comemora-se, por exemplo, o dia da Fundação do Partido dos
Trabalhadores da Coreia (10 de Outubro). Em Cuba no dia 1 de Janeiro não se
celebra propriamente o Ano Novo, mas o Triunfo da Revolução, liderada por
Fidel de Castro, e nos dias 25 a 27 de Julho, recorda-se o dia anterior ao Assalto
ao Quartel de Moncada, o dia do Assalto e o dia posterior.
Noutros casos, como no Japão, celebra-se predominantemente a natureza, os
ciclos do homem e os dias relacionados com o Estado e com a família imperial.
Alguns são em dias fixos e outros acomodam-se aos fins de semana ou resultam,
obviamente, da diferença das datas dos equinócios e dos solstícios, de acordo
com os ciclos astrais. São assim: o dia de Ano Novo, o dia da Chegada à Idade
Adulta (na segunda-feira, 9 de Janeiro, em 2012), o dia da Fundação Nacional (11
de Fevereiro), o Equinócio da Primavera (20 ou 21 de Março), o Aniversário do
Imperador Showa ou Hirohito (29 de Abril – nasceu nesse dia em 1901), o dia da
Constituição (3 de Maio), o dia do Verde, em agradecimento à Natureza (4 de
Maio), o dia das Crianças (5 de Maio), o dia do Oceano (16 de Julho, segunda-
-feira, em 2012), o dia do Respeito pelos Idosos (na segunda-feira, 17 de Setembro,

48
I ntrodução

em 2012), o dia do Equinócio do Outono (22 ou 23 de Setembro), o dia dos


Desportos (em 2012, na segunda-feira, 8 de Outubro), o dia da Cultura (segunda-
-feira, dia 3 de Novembro, em 2012), o dia de Agradecimento ao Trabalho (23 de
Novembro, sexta-feira em 2012) e o dia do Aniversário do actual Imperador,
Akihito (23 de Dezembro – nasceu nesse dia e mês em 1933).
No caso do Reino Unido, o seu carácter pragmático impôs os holidays bank,
feriados bancários, ou seja, os dias em que não se fazem transacções comerciais
e, por isso, os bancos estão fechados. Na verdade, são assim conhecidos todos
os feriados, que se concentram nos fins de semana, mas há alguns que têm
especificamente essa designação: New Year’s Bank Holiday (1 de Janeiro), Early
May Bank Holiday (feriado bancário de Maio), Spring Bank Holiday (feriado
bancário da Primavera), Summer bank Holiday (feriado bancário de Verão),
Boxing Day’s Bank Holiday (feriado bancário do Natal – em dia a seguir ao
Natal), dia em que, tradicionalmente, os patrões punham na caixa (box) dos seus
criados as ofertas e que nas igrejas se colocavam esmolas, também numa caixa,
para os pobres.
Como se disse, para além dos feriados oficiais, tornou-se hábito das orga­
nizações internacionais, nomeadamente a ONU e a União Europeia, criarem os
“dias mundiais” ou “internacionais”, que os países vão adoptando e adaptando à
sua sensibilidade e ao seu calendário comemorativo. Assim, como meros exem-
plos, em Portugal e em 2012, a 27 de Janeiro celebrou-se o dia do Holocausto,
em 21 de Fevereiro o dia internacional da Língua Materna e a 22 o dia europeu
da Vítima do Crime, a 8 de Março o dia das Nações Unidas para os Direitos da
Mulher, em 7 de Abril o dia mundial da Saúde, em 25 de Maio o dia internacional
das Crianças Desaparecidas e a 31 o dia mundial do Não Fumador, a 1 de Junho
o dia mundial da Criança, em 11 de Julho o dia mundial da População, a 9 de
Agosto o dia internacional da Juventude e a 19 o dia mundial da Fotografia, a
22 de Setembro realiza-se o dia europeu Sem Carros e a 27 o dia mundial do
Turismo, a 1 de Outubro o dia internacional das Pessoas Idosas, a 17 o dia
internacional da Erradicação da Pobreza, a 21 de Novembro o dia mundial das
Vítimas da Estrada e a 1 de Dezembro o dia mundial da SIDA (AIDS). Também
são proclamados dias nacionais, de que os mais antigos e mais consolidados na
consciência social são o dia do Pai (19 de Março) ou o dia da Mãe (primeiro
domingo de Maio).

49
F eriados em Portugal

Conforme se vê, a celebração do tempo manifesta-se de múltiplas maneiras,


até de uma forma “mercantilista”, se bem que se verifique igualmente de modo
“humanitário” e “idealista”, ainda que a prática desminta muitas vezes as procla-
madas boas intenções. A ideia de diminuir em Portugal os feriados, proposta
pelo Governo à Assembleia da República no início de 2012 (extinguir-se-ão,
como se disse, os feriados de 5 de Outubro, data da Implantação da República,
e 1 de Dezembro, dia da Restauração da Independência, ocorrida nesse dia em
1640, e dois feriados religiosos), se tem como afirmado objectivo, a nível público,
aumentar a produtividade e combater a crise financeira e económica portuguesa,
tem sido considerada uma falsa razão, quer por historiadores, quer por partidos
da oposição, quer por movimentos cívicos e sindicais. Portugal tinha treze feriados,
sensivelmente o mesmo número de outros países, que oscilam, normalmente,
entre oito ou nove e treze ou catorze, apesar de haver casos excepcionais de
países com mais (Chipre tem 16 feriados). A Finlândia, considerada muitas vezes
um modelo (em Portugal elege-se em cada época um modelo – noutras ocasiões
foi a Suíça ou a Holanda), tem treze feriados e o Japão tem quinze.

Mas vejamos como surgiram e foram evoluindo os feriados em Portugal e o


significado social que possuem ou não possuem.

50
1

OS “FERIADOS” NAS “MONARQUIAS CONSTITUCIONAIS”


dias de gala , dias santos e dias civicopolíticos

O Vintismo e os feriados civicopolíticos

Falemos agora dos feriados no caso português. A baliza mais recuada será o
quadro da Monarquia Constitucional: num primeiro momento, na curta experi-
ência liberal vintista (o triénio de 1820-1823) e, depois, no período mais longo
regido pela Carta Constitucional até à implantação da República (1851-1910).
Mas não era propriamente uma inovação a comemoração anual ou o festejo
excepcional de datas consideradas fundamentais para a Nação ou para a Monarquia,
se é que se poderiam separar, na medida em que a segunda era entendida como
a própria expressão da primeira, ambas representadas pela Dinastia e personifi-
cadas no Rei. O modelo e o carácter é que eram diferentes daqueles que mais
tarde se pretendeu conferir-lhes. Desde logo, porque o objectivo que importava
seria reafirmar a fidelidade ao poder legítimo da coroa e a permanência deste
era assegurada pela pessoa do monarca. É esta personalização que faz actualizar
a manifestação dessa fidelidade pela festa pública por ocasião dos momentos
mais essenciais da vida do rei, “públicos” ou “privados” (nascimento, juramento
como herdeiro, aclamação, casamento e, mesmo, a morte). Por outro lado, a
legitimidade do monarca decorria também, e fundamentalmente, da sua missão
de conservar a religião do Reino. Independentemente da modalidade da outorga,
a origem divina do poder assinalava-lhe a função de manter a paz e a justiça
entre os súbditos na sua existência terrena, indispensáveis para a finalidade

51
F eriados em Portugal

transcendente da salvação. A representação do Rex imago Dei não chegava a ser


desmontada pela longínqua tradição conflitual entre a Coroa e a Igreja – aliás,
mais de carácter “jurisdicional” –, se bem que, com a política regalista e anticlerical,
melhor, antijesuíta, no século xviii, algumas brechas se começassem a abrir na ple-
na identificação do Reino com a Religião. Daí que os festejos públicos ou, mesmo,
as comemorações, se intencionalmente concorriam para o prestígio do soberano,
da dinastia e da monarquia, ainda não podiam dispensar a caução religiosa. O seu
último sentido sacralizado só poderia ser conferido pelo envolvimento da Igreja,
visível pela centralidade do aparato litúrgico das cerimónias solenes.
O exemplo do 1.º de Dezembro de 1640 é, a este título, bem ilustrativo.
Entronização da dinastia de Bragança que libertou Portugal do domínio espanhol,
a sua comemoração é determinada logo nas Cortes de 1641: a 20 de Janeiro, foi
decidido mandar “celebrar anualmente Te Deum no 1.º de Dezembro em todas
as Sés de Portugal”1. Pelo menos na Sé de Lisboa, continuava a celebrar-se desta
forma no início dos anos 60 do século xix, antes de ser retomado civicamente
como culto patriótico.
É a Revolução liberal de 1820 que decreta os dias festivos para a sua própria
comemoração. Estes vão ter de coexistir com outros provenientes das coordena-
das que acabámos de traçar, bem como, naturalmente, com os dias santificados
pela Igreja.
Foram, efectivamente, os liberais vintistas que inauguraram o modelo da festa
política autocomemoradora. Para serem celebrados anualmente, declararam as
datas dos acontecimentos históricos mais significativos do processo revolucioná-
rio como “dias de festividade nacional” ou “dias de regozijo público”, expressão
que também se tornou comum ao longo de todo o século xix2. Assim, durante o

1 Ver História da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. 1861 a 1940, composta por
E. A. Ramos da Costa, Lisboa, 1940, p. 12. Como é sabido, um Te Deum usa-se nas celebrações parti-
cularmente solenes como hino de acção de graças. Esta Sociedade é a herdeira da Comissão Central
1.º de Dezembro, associação patriótica privada, formada em 1861, e que deu início aos festejos cívicos,
não oficiais, de comemoração da data da Restauração de 1640. A alteração do nome dá-se em 1927-1928.
2 Embora não tenham tocado no calendário e os dias escolhidos evoquem acontecimentos
políticos e não valores mais abstractos do projecto republicano, como sucedeu com o efémero
Calendário Revolucionário francês, o jovem Almeida Garrett, em 1821, a terminar ou já terminado
o seu curso de Direito na Univer­sidade de Coimbra, num texto em que visava demonstrar a legiti-
midade da Junta Provisional para convocar as Cortes com vista à elaboração de uma Constituição,
decorrente da Revolução do Porto, intitulado O Dia Vinte e Quatro de Agosto (Pelo cidadão J. B. S. L.
A. Garrett), datou-o de “Lisboa – 1821 – Ano I”, da nova era da Liberdade, entenda-se. Ver Obras de
Almeida Garrett, 2 vols., 2.ª ed., Porto, Lello & Irmão, Editores, s.d. (1ª, 1963), vol. I, pp. 1043-1066.

52
O s “feriados” nas monarquias constitucionais

ano de 1821, mais precisamente em 7 de Agosto, depois de propostas feitas


anteriormente por vários deputados, as Cortes Constituintes seleccionaram: o 24
de Agosto (de 1820), dia da Revolução no Porto; o 15 de Setembro (de 1820),
quando a revolta do Porto foi secundada pela de Lisboa; o 26 de Janeiro (de
1821), dia da instalação das Constituintes; e o 26 de Fevereiro (de 1821), quando
D. João VI, ainda no Brasil, jurou aceitar a Constituição que viesse a ser elaborada
pelas Cortes. Em 26 de Setembro de 1821, as mesmas Cortes elegeram como dia
de “festividade nacional” ainda o dia 1 de Outubro (de 1820), união da Junta do
Porto com o governo interino de Lisboa. Em 1822, significativamente já com a
presença física do Rei em Portugal, acrescentaram: o 6 de Fevereiro (de 1818),
data da cerimónia de aclamação do monarca depois da morte de D. Maria I (em
20 de Março de 1816); o 13 de Maio, justamente o aniversário de D. João VI (já
celebrado antes de 1820); e o 4 de Julho (de 1821), desembarque de D. João VI
em Portugal3.
Com o fim do triénio liberal, foram todos revogados, com excepção, precisa-
mente, daqueles que não tinham qualquer vínculo com o período vintista, o 13
de Maio e o 6 de Fevereiro, que permaneceram como “dias de grande gala” na
Corte, outra denominação que se irá manter até 1910. De resto, deve dizer-se que
eram numerosos os dias de “gala” já existentes antes da Revolução de 1820, cor-
respondentes aos dias importantes, dias santos ou dias de celebração da família
real, como se pode verificar através da leitura do Almanaque oficial de 18204. Ainda
eram frequentes os dias em que “Não há despacho”, correspondentes a dias “de
gala” ou que, por qualquer motivo, não havia serviço administrativo: por exemplo,
na segunda-feira e na terça-feira de Carnaval e na “quarta feira de cinzas”.
Não deixa de ser relevante o facto de a Revolução de Setembro de 1836 ter
reposto os primeiros quatro dias indicados (26 de Janeiro, 26 de Fevereiro, 24 de
Agosto e 15 de Setembro), numa clara afirmação do retomar da legitimidade da
soberania nacional, declarada em 1820 e “interrompida” depois, quer obviamente
com D. Miguel, quer com as duas anteriores vigências da Carta Constitucional,
1826–1828 e 1834–1836.

3 Cfr. Isabel Vargues, A aprendizagem da cidadania em Portugal (1820-1823), Coimbra, Minerva,


1997, pp. 272-276.
4 Cfr. Almanach para o anno de M.DCCC.XX, Lisboa. Na Offic. de J. F. M. de Campos. Com
licença da Mesa do Desembargo do Paço e Privilégio Real, pp. VIII-XIX. Ver Anexo, II, 1.

53
F eriados em Portugal

Antes de continuarmos a nossa análise dos “feriados cívicos”, no quadro mais


estável da restauração definitiva da Carta, sobretudo, depois da “Regeneração”
de 1851, dediquemos algumas páginas à questão dos dias santificados, que cons-
tituíam afinal as datas que faziam parte do calendário religioso, de mais longa
duração, em certos casos de origem longínqua e mesmo indefinida.

Os dias santificados

Em rigor, e como já referimos, para além do domingo que, sem alteração e


sem excepção, é – no ritual cristão, mas integrado civicamente como dia de
descanso – o dia da semana consagrado ao Senhor, todos os dias são santos
porque todos o podem ser, pois não há nenhum que não comemore um ou
vários exemplos de santidade que garantem a eterna salvação. Mas só alguns vão
ser equiparados aos domingos na obrigatoriedade de os fiéis os “guardarem” –
daí a expressão “dia santo de guarda” –, como o fazem sempre no “dia do Se-
nhor”, isto é, observarem o preceito (que originou a outra denominação que lhes
é aplicada, “dias de preceito”) de assistência à “Santa Missa” e a abstenção de
trabalhos servis.
A impossibilidade da cessação total da actividade laboral é a razão óbvia para
a Igreja, numa posição pragmática, os reduzir apenas a um determinado número.
Mas, justamente porque todos os dias são passíveis de equiparação, esses “dias
santos” não são fixos e uniformes para toda a Cristandade, nem imutáveis ao
longo dos tempos. Isto é, variam com o lugar e com a época. A autoridade para
decretar quais os dias que são santificados, bem como para os alterar, compete
unicamente à Santa Sé5. Esta terá, naturalmente, em consideração as condições
particulares da Igreja de cada nação católica como, por exemplo, as tradições
litúrgicas próprias, a normal preferência por santos “nacionais”, a relativa maior

5 Quando um dia deixa de ser considerado “santo”, neste sentido de “guarda”, passa à categoria
de “dispensado”. Neste caso, os fiéis são, por isso, dispensados das referidas obrigações. No entanto,
se já não impõe, a Igreja recomenda-lhes que procurem, na medida das suas possibilidades, continuar
a assistir à “Santa Missa” e a não trabalhar em obras servis. Caso não possam, que façam tudo para, ao
menos, assistirem à missa. As especiais solenidades exteriores que se realizassem nestes dias seriam
transferidas para o domingo imediatamente a seguir.

54
O s “feriados” nas monarquias constitucionais

importância de um culto num dado país e, mesmo, as concessões aconselhadas


para se chegar a acordo na negociação com os Estados.
Como não se justifica um maior recuo no tempo, no nosso país, em pleno
Antigo Regime, o número total de dias santos era de três dezenas e meia6. Este
número tinha resultado de uma primeira decisão da Santa Sé, em meados do
século xvii e reafirmada nos inícios do seguinte, com vista a uma desejada uni-
formização. Mas, em breve, Roma teria de voltar a atender à situação específica
de cada Igreja nacional. Por alguns indícios, em muitos destes dias, os preceitos
eram com frequência desrespeitados, o que, provavelmente, motivou, em 1785, a
que terá sido uma primeira grande redução7.
Com efeito, por uma pastoral de 14 de Março desse ano, depois da autoriza-
ção do papa Pio VI, o Patriarca de Lisboa, D. Fernando de Sousa, dispensava
dezasseis dias santos8, mas fazia cumprir rigorosamente os não dispensados. Ou
seja, à redução correspondia uma maior severidade na observação dos que se
mantinham9. Com todas as conturbações que se verificaram desde as Invasões
Francesas até à Restauração da Carta, contando igualmente com a longa ausência

6 O que, com os 52 domingos, poderá parecer um número enorme. Mas não tanto, se compa-
rarmos com os nossos 104 dias de fim-de-semana, mais, em média, 22 dias úteis de férias, mais os
13 feriados anuais que podemos gozar. Para não falar nas “pontes” e “tolerâncias de ponto”.
7 Ver, sobre esta temática, Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, nova edi-
ção dirigida por Damião Peres, 4 vols., Porto - Lisboa, Livraria Civilização, 1967–1971 (1.ª edição:
1910–1928), vol. III, Livro IV, Cap. XVI, pp. 459-463. Ver também, para o período da Monarquia
Constitucional, Vítor Neto, O Estado, a Igreja e a Sociedade em Portugal (1832–1911), Lisboa,
Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998, parte II, cap. IV, pp. 474-482.
8 Acabaram por ser só quinze, porque um deles foi recuperado: o 3 de Maio, dedicado à inven-
ção da Santa Cruz, ou seja, à descoberta da cruz de Cristo por Santa Helena. Segundo a tradição,
que vem do séc. iv, Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, empreendeu uma viagem aos
lugares santos, tendo “inventado”, isto é, encontrado a “vera”, ou seja, a verdadeira cruz onde Cristo
morrera. Daí as designações de “Santa Cruz” ou de “Vera Cruz”.
9 Ao todo vinte: 1 de Janeiro (Circuncisão), 6 de Janeiro (Epifania ou Dia dos Reis), 22 de
Janeiro (dia do mártir São Vicente, mas só para o Patriarcado de Lisboa e no Algarve), 2 de Fevereiro
(Purificação de Nossa Senhora e Apresentação de Jesus no Templo), 19 de Março (São José), 25 de
Março (Anunciação da Virgem Maria), Quinta-Feira de Endoenças (segundo parece, a palavra pro-
vém de indulgentiae, em latim, indulgências, em português, pois os povos pediriam indulgência
nesse dia de oração: é a quinta-feira santa, que celebra a última ceia de Cristo com os apóstolos),
3 de Maio (Invenção da Santa Cruz), quinta-feira da Ascensão (móvel), Corpo de Deus (móvel),
Santíssimo Coração de Jesus (móvel), 13 de Junho (Santo António, só no Patriarcado de Lisboa), 24
de Junho (nascimento de São João Baptista), 29 de Junho (Apóstolos São Pedro e São Paulo), 25
de Julho (Apóstolo São Tiago Maior), 15 de Agosto (Assunção de Nossa Senhora), 8 de Setembro
(Natividade de Nossa Senhora), 1 de Novembro (Todos os Santos), 8 de Dezembro (Imaculada
Conceição) e 25 de Dezembro (Natal).

55
F eriados em Portugal

da Corte no Brasil e com a introdução e posterior abolição dos festejos cívico-


-políticos, alguma confusão se deve ter ocasionado, uma vez que a rainha D.
Maria II solicitou a Roma uma nova determinação. Em 14 de Junho de 1844, o
papa Gregório XVI expediu o breve Quum ex Apostolici Nostri com a lista dos
dias santificados para Portugal e seus domínios que eram, agora, dezassete10.
A questão, no entanto, estava longe de ficar esclarecida, nomeadamente
quanto ao grau de intervenção do Estado na imposição da observância do
preceito. Por um lado, a Carta Constitucional (artigo 6.º), aliás como as outras
anteriores leis fundamentais do Reino, declarava o Catolicismo como “Religião
do Reino”, impondo-o como confissão pública, procurando, em contrapartida,
segundo o ideário liberal anti-ultramontano, submeter a esfera eclesiástica ao
poder civil através de mecanismos de controlo, como o Beneplácito Régio ou a
nomeação da hierarquia secular pelo Estado. Naturalmente, aceitando esta lógica
de oficialização/submissão, a Igreja esperava do Estado a indispensável força
legal para fazer respeitar pela sociedade a plena observação dos deveres religiosos
da maioria dos fiéis que a constituíam. Por outro lado, uma denunciada interven-
ção do poder político neste sentido colidiria com o princípio da liberdade de
consciência. Contornando a incompatibilidade última destas duas lógicas, o
Estado liberal português limitou as consequências da confessionalidade consti-
tucional por uma atitude tendencialmente abstencionista, visível, justamente,
nesta questão do estatuto conferido aos dias santos.
Importa, desde já, salientar que quase nenhum deles foi instituído quer como
“dia de grande gala” ou mesmo de “gala” na Corte, quer como feriado11. A partir
da década de 50, repetem-se as queixas pela não observação do preceito, nomea-
damente na actividade comercial. Alguns sectores dos comerciantes, naturalmente
dos mais católicos, com o apoio do Patriarcado, solicitam do governo medidas
que ponham termo ao trabalho aos domingos e nos dias santificados. Sublinhe-
-se, pois, que nem o descanso dominical era imposto pelo Estado. Os governos

10 Em rigor, dezasseis, pois foram dispensados quatro: 19 de Março, 3 de Maio (Invenção da


Santa Cruz), 25 de Julho (São Tiago) e 8 de Setembro (Natividade). O 19 de Março (dia de São José),
em data que não poderemos precisar, foi recuperado. Este elenco permaneceu durante toda a
Monarquia Constitucional.
11 Como veremos, chegou-se à situação de que os dias de “grande gala” eram sempre feriados,
mas observavam-se feriados que não eram dias “de grande gala”. Os de “gala”, normalmente não
eram feriados.

56
O s “feriados” nas monarquias constitucionais

recusaram normalmente comprometer-se ou envolver-se no assunto e remetiam


à Igreja a responsabilidade de convencer os fiéis12. E, perante a apresentação de
casos concretos um pouco por todo o país, ia sendo sugerida a resolução a nível
camarário, através de “posturas” ou regulamentos municipais, dos problemas
que se fossem levantando13.
Em suma, o Estado permitia mas não obrigava os cidadãos ao cumprimento
do preceito dos dias santos. Se, no mundo rural, a Igreja, pela sua posição do-
minante, mantinha a capacidade de influência sobre as populações e, mesmo,
sobre as autoridades locais, nas cidades e à medida que o tempo ia passando,
essa capacidade era, claramente, mais reduzida.
Com efeito, em 1850, o governador civil de Bragança, a pedido do bispo, D.
Joaquim Pereira Ferraz, ainda podia mandar os administradores dos concelhos
punir quem abertamente trabalhasse aos domingos e dias santos. Provavelmente
pela continuação das pressões por parte da Igreja, e em reacção a elas, em 1865,
o Ministro da Justiça e dos Cultos, António Aires de Gouveia, manifestava, no
entanto, uma atitude na defesa da independência da esfera civil, determinando,
por portaria de 23 de Março, que o poder judicial só poderia actuar face ao
“propósito de ofender a religião do Estado”, pois o respeito desta não “envolvia
o dever de observar” os seus preceitos e “a abstenção de trabalho nos dias
santificados não era ordenada na lei civil”14. Daí que a Igreja tivesse, ela própria,
de tomar a iniciativa de procurar uma concertação directamente com os repre-
sentantes das actividades económicas, particularmente em relação ao comércio.

12 Ver Vítor Neto, ob. cit, idem.


13 Entendia-se, por exemplo, que as Câmaras Municipais não poderiam mandar executar tra-
balhos em dias santificados. Ver F. de Almeida, idem, a propósito de uma questão colocada em
1855. Pelo conhecimento do caso de Anadia, que nos foi facultado por um nosso colega, Nuno
Rosmaninho, as posturas municipais de 1854-1855 determinavam que “Ninguém poderá trabalhar
ou exercer serviço mecânico nos domingos ou dias santos actuais”. Mas abria-se excepção para os
“seareiros pobres” que precisavam de trabalhar toda a semana para “manter seus filhos”, sem ultra-
passar a “quinta parte do dia santo ou domingo”. Ver “Posturas Municipais de Anadia. 1838-1865”,
in Aqua Nativa, n.º 15, Anadia, Dezembro de 1998.
14 Ver F. de Almeida, idem. Curiosamente, Aires de Gouveia (1828-1916), lente na Faculdade
de Direito da Universidade de Coimbra, veio a tomar ordens sacras daí a poucos anos, em 1869,
sendo nomeado bispo do Algarve em 1871, cargo a que depois renunciou, recebendo a dignidade
de bispo de Betsaida em 1884. Fez parte, outra vez como ministro da Justiça, do governo extra-
partidário de José Dias Ferreira, em 1892, com Oliveira Martins na pasta da Fazenda. Ver também
Vítor Neto, A. Aires de Gouveia: da ideologia humanitária ao regalismo liberal, Coimbra, Faculdade
de Letras, 1989.

57
F eriados em Portugal

O que, efectivamente, tentou fazer, como mostra o exemplo dos contactos do


bispo do Porto, D. Américo dos Santos Silva, em 1875, com uma delegação
dos negociantes de ourivesaria e contrastaria da cidade, tendo estes concor-
dado em que nenhuma das suas casas comerciais abrisse aos domingos e
dias santos.
Como se disse, as queixas da Igreja eram motivadas também pelo trabalho
realizado aos domingos. Nas aldeias, as massas camponesas, ao participarem na
actividade religiosa do domingo, acabavam por usufruir do descanso semanal.
As classes urbanas, em particular as ligadas ao comércio e à indústria, não
tinham, por seu lado, esse direito expressamente garantido. Daí que se estabele-
cesse uma certa convergência, embora não exactamente pelas mesmas razões,
entre todos os sectores sociais e ideológicos, no apoio à sugestão para que um
dia de pausa semanal no trabalho fosse consagrado por lei. De modo significa-
tivo, alguma relutância foi mais notada no campo republicano que, nos primeiros
anos do século xx, tinha retomado a questão religiosa. De facto, a força da tradição
indicaria naturalmente o domingo exigido pela Igreja, o que acentuaria o controlo
por parte desta do ritmo da vida do trabalhador. A defesa do descanso semanal,
para os liberais mais radicalmente anticlericais e para os republicanos, funda-
mentava-se, antes, em razões de ordem fisiológica, moral e social15. A atitude
“neutral”, mas pragmática, do Estado liberal pode detectar-se na primeira lei
geral que, em Portugal, o decretou, publicada pelo governo de João Franco
(decreto-lei de 3 de Agosto de 1907). Se o domingo era o escolhido para a pausa
hebdomadária, a lei permitia excepções se acordo houvesse, quer por parte da
administração pública (Câmaras Municipais ou Governos Civis), quer entre as
Associações patronais e de classe. A possibilidade de um outro dia que não o

15 V. Fernando Catroga, A militância laica e a descristianização da morte. 1865–1911.


Dissertação de doutoramento. Coimbra, Faculdade de Letras, 2 vols., vol. I, parte I, cap. V, so-
bretudo o título “O descanso dominical e a laicização do calendário”, pp. 549-573. Como caso
exemplar de argumentação republicana, ver o discurso de António José de Almeida sobre o
descanso semanal proferido na Câmara dos Deputados em 1 de Fevereiro de 1907 (Diário da
Câmara dos Senhores Deputados, 1 de Fevereiro de 1907, p. 8 ss.). Como estudo interpretativo
desse discurso, ver Luís Reis Torgal, António José de Almeida e a República, Lisboa, Círculo de
Leitores, 2004 (2.ª edição: Temas e Debates, 2005), cap. 4, “Medicina «escola de políticos»”, título
“Entre a prática médica e a acção política – o descanso semanal e os hospitais”, sobretudo
pp. 73-76.

58
O s “feriados” nas monarquias constitucionais

domingo mantinha a tensão entre o descanso dominical e o descanso semanal,


originando as críticas que os católicos não deixaram de fazer16.

Os dias comemorativos no quadro da Regeneração (1851–1910)

Regressemos ao quadro das festividades anuais, de índole mais cívico-política,


vigente no mesmo período, mormente a partir do compromisso estabilizador
conseguido pela “Regeneração”.
Tal como já tinha acontecido no Vintismo, o quadro revela a coexistência de
festas por ocasião do aniversário dos factos relativos à pessoa do rei e daquelas
que visam conservar a memória dos acontecimentos históricos instituintes do
sistema político que se queria legitimar. Pela própria natureza das primeiras, se o
modelo permaneceu estável por mais de sessenta anos, a sucessão dos reinados
implicava necessariamente a alteração das datas a celebrar.
Impõe-se, desde já, um breve esclarecimento a respeito dos termos utiliza-
dos e do sentido deles decorrente. Nos nossos dias, a designação de “feriado”
acabou por compreender a totalidade dos dias oficialmente celebrados com a
cessação do trabalho, quer os dedicados à comemoração de natureza cívico-
-política, quer os dias santos reconhecidos pelo Estado. Na época, não tinha
esta dimensão solenemente celebrativa nem este carácter exclusivo, embora
implicasse, por norma, a interrupção das actividades das instituições públicas.
Com efeito, aparece-nos a designar igualmente os períodos que hoje são de
“férias” (escolares ou judiciais, por exemplo) e alguns dias de cessação do
trabalho que não decorriam de datas memoráveis (que, embora previstos com
maior antecedência, porque anunciados geralmente para as imediações das
quadras festivas, se poderão aproximar da actual prática de “tolerância de
ponto”). No entanto, para a perspectiva que aqui nos interessa, parte deles eram
também dias consagrados à memória, constituindo, com esta denominação de
“feriados”, apenas um escalão na hierarquia dos dias para este efeito observados
pelo Estado monárquico.

16 Ver Vítor Neto, idem.

59
F eriados em Portugal

Conforme já aludimos, no topo estavam os “dias de grande gala”, necessaria-


mente feriados, que se celebravam na Corte por um cerimonial mais solene,
realizando-se no Paço uma recepção às várias autoridades civis, políticas, militares
e religiosas17. Apenas dois dias eram dedicados à memória da instituição do
regime do constitucionalismo monárquico liberal: o 29 de Abril, data em que D.
Pedro IV, já Imperador do Brasil mas reconhecido herdeiro do trono português
depois da morte de D. João VI, em 1826, outorgou ao Reino de Portugal a Carta
Constitucional; e o 31 de Julho, ainda relativo a 1826, quando o Marechal Saldanha
a fez jurar pela Regência provisória, na menoridade de D. Maria II, então a cargo
da Infanta D. Isabel Maria. Também de “grande gala” foi sempre o 1 de Janeiro,
nunca se precisando que era dia santo, Circuncisão do Senhor, mas por “Boas
festas e entrada do Ano Novo”. Os restantes, em número que nunca ultrapassou
os quatro, e variáveis pelas razões já apontadas, eram os dias de aniversário do
nascimento das pessoas mais importantes da família real, do rei e da rainha que
efectivamente reinavam, das que tinham reinado, mas ainda vivas (por exemplo,
o de D. Maria Pia, viúva do rei D. Luís) e da que iria reinar, e do herdeiro do
trono, o “príncipe real”.
Vejamos, em seguida, os dias de “simples gala” respeitados na Corte e que,
como se disse, nunca eram feriados. No Paço, realizar-se-ia um cerimonial mais
discreto: normalmente a família real assistiria a um Te Deum e os aniversários
teriam um carácter mais reservado e íntimo, talvez para os elementos que
desempenhavam cargos oficiais na Corte. Neste conjunto, que permaneceu
igualmente estável, incluem-se alguns dias santos, além do domingo de Páscoa:
o do Corpo de Deus, o do Coração de Jesus (ambos móveis), o 8 de Dezembro

17 As indicações são retiradas dos seguintes Almanaques: Almanach de Lembranças para


1852, ilustrado por Alexandre M. de Castilho, Paris, 1851; Almanak Familiar para 1864, compi-
lado pelo P. Vicente Ferreira, Imprensa Nacional, Lisboa, 1863; Almanach Primeiro de Dezembro
para 1897, oferecido pelo Directório administrativo das comissões dos festejos das diversas fre-
guesias de Lisboa no dia 1.º de Dezembro de 1896, Lisboa, 1896; Almanach Bertrand, 1900
a 1910, coordenado de Fernandes Costa, Lisboa; Almanach Primeiro de Dezembro para 1908,
publicado pela Comissão Primeiro de Dezembro da Freguesia de Santha Catarina, Lisboa, 1907;
idem, 1908 (para 1909). Em 1907, o Almanaque Bertrand informa que “há muitos anos” que as
recepções no Paço foram reduzidas, tendo deixado de se realizar por ocasião do dia 31 de Julho
e do 16 de Outubro (aniversário natalício da rainha D. Maria Pia). Assim, nos finais do reinado
de D. Carlos, festejavam-se na corte apenas o 1 de Janeiro, o 21 de Março (nascimento de D. Luís
Filipe), o 29 de Abril e o 28 de Setembro (aniversário do rei D. Carlos e da rainha D. Amélia, pois,
curiosamente, faziam anos no mesmo dia).

60
O s “feriados” nas monarquias constitucionais

(Imaculada Conceição) – recordemos que o Papa Pio IX tinha declarado univer-


salmente a sua definição dogmática em 1854, mas que em Portugal esta datava
do reinado de D. João IV, das Cortes de 1646, ano em que o Restaurador elegeu
Nossa Senhora da Conceição como Padroeira do Reino – e, naturalmente, o 25
de Dezembro (Natal). Celebrado era também o 31 de Dezembro, que nos aparece
como o “Último dia do Ano”18.
Falta referir o 1.º de Dezembro. Sublinhe-se que o dia da Restauração da
“Independência” e da subida ao trono da dinastia de Bragança – e o único re-
portado ao passado histórico e que significava a libertação nacional – era, ao
longo de toda a Monarquia Constitucional, apenas “dia de “simples gala”. Em
1892, a Comissão Central 1.º de Dezembro, face aos tempos difíceis, “momento
de provação, de abatimento e de perigo” – desde o Ultimatum às crises política
e financeira –, convocou as energias da nação para a defesa da independência
e, no sentido de avivar o patriotismo, propôs um maior investimento na co-
memoração da data da Restauração. Entre outras sugestões, solicitou ao rei D.
Carlos e ao governo, então o extrapartidário de José Dias Ferreira, que o 1.º
de Dezembro fosse promovido a “dia de grande gala”. Não foi atendido o
requerimento. Da parte da Coroa, não se conhece nenhuma outra iniciativa
comemorativa, para além da eventual comparência ao tradicional Te Deum na
Sé19. Poder-se-á acrescentar que, a nível oficial, não era determinada nenhuma
outra manifestação para este dia.
Para completar os “dias de simples gala”, temos, ainda, o dia do casamento
do rei e da rainha, o aniversário do nascimento dos outros filhos dos monarcas,
os infantes e as infantas, e, finalmente, os dias “pronome” – ou seja, o dia do
santo com o mesmo nome, como é tradição, ainda hoje e em alguns casos,
em França e noutros países, em que uma prenda de anos é oferecida no dia

18 Ver Almanach Bertrand (de 1901). Em 1852, ainda era “dia de São Silvestre” e “Assistem SS.
MM. ao Te Deum de instrumental na Sé, em acção de graças pelos benefícios recebidos no decurso
do ano”.
19 Ver Almanach Primeiro de Dezembro para 1897. Neste Almanaque, de “Homenagem aos
Heroes de 1640”, o dia era assim apresentado (mantemos neste caso o texto e a ortografia originais,
com a explicitação entre parênteses rectos): “Quart. [quarta-feira] S. Eloy. Acclamação de D. João
4.º em 1640. Te Deum na Sé. Festa na erm[ida] da Victoria e na Matriz da Ilha de S. Miguel, para
commemorar este dia da restauração de Portugal aos hespanhoes. – Simp. Gala. – Q. cresc[ente] ás
2 h. e 38 m. da m[anhã] – Vento e neve”.

61
F eriados em Portugal

do santo do mesmo nome do aniversariante – de todos aqueles cujas datas de


nascimento já eram dias de “grande gala” (por exemplo, o 10 de Julho era o dia
da Santa Amélia, ou seja, o nome da santa correspondente ao nome da rainha
D. Amélia, esposa de D. Carlos I)20.
Agora, os feriados. Além dos períodos já referidos, normalmente eram feria-
dos os dias em que fazia anos que os Reis tinham falecido, guardando-se, deste
modo, a memória dos dias de luto para a Corte e, por isso, para o Reino. Assim,
para estes anos, foram feriados o 24 de Setembro (morte de D. Pedro IV, como
regente, em 1834), o 11 de Novembro (de D. Pedro V, em 1861), o 19 de Outubro
(de D. Luís, em 1889) e o 1 de Fevereiro (de D. Carlos, em 1908). Note-se que, à
medida que iam deixando de ser observados os mais antigos, sempre que se
iniciava um novo reinado, o 24 de Setembro manteve-se até ao fim, traduzindo
a necessidade de conservar a memória do “dador” da Carta e do vencedor
comandante do campo liberal na Guerra Civil, factores instituintes e fundadores
do regime político, conservação a que se procurou dar o suporte da pedra com
as estátuas que lhe foram levantadas no Porto e em Lisboa nos finais da década
de 60, concluídas em 1866 e 1870, respectivamente21.
Nos últimos anos da Monarquia, passou a constar da lista de feriados o dia
24 de Julho, comemorativo da entrada em Lisboa do exército liberal em 1833.
Este dia começou a ser festejado em 1872, fruto da iniciativa autónoma de sec-
tores da sociedade civil, mas com um claro objectivo político conjuntural, pelo
menos a acreditar em Eça de Queirós, que lhe dedicou uma das Farpas. Eça,
no seu tom jocoso e irónico, afirmava que esse feriado surgira depois de uma
viagem de D. Luís ao Porto, onde festejara a vitória liberal de 8 de Julho22 .

20 Assim, respectivamente, em 1901, 22 de Maio (casamento de D. Carlos e D. Amélia em


1886); 17 de Fevereiro (aniversário de nascimento da infanta D. Antónia, filha de D. Maria II, tia do
rei D. Carlos e casada com o Príncipe alemão Leopoldo de Hohenzollern, irmão de D. Estefânia) e
15 de Novembro (aniversário do nascimento do então infante D. Manuel); 1 de Maio (Pronome do
Príncipe Real), 10 de Julho (da rainha D. Amélia), 8 de Setembro (da rainha D. Maria Pia) e 4 de
Novembro (do rei D. Carlos). O dia de anos do Infante D. Afonso, irmão de D. Carlos, coincidia com
o Juramento da Carta Constitucional, 31 de Julho, já dia de “grande gala”.
21 Ver Fernando Catroga, “O culto cívico de D. Pedro IV e a construção da memória liberal”,
in Revista de História das Ideias, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de
História e Teoria das Ideias, vol. 12, 1990, pp. 445-470.
22 Ver Eça de Queirós, Uma Campanha Alegre, 2 vols., Europa-América, Lisboa, 1987, vol. II,
LXXXIV, “À Alma de D. Pedro IV, nos Elísios”, Agosto 1872, pp. 119-125.

62
O s “feriados” nas monarquias constitucionais

A sua institucionalização, contudo, pode significar uma tentativa de reafirmar


o consenso liberal, recordando a união no combate contra o inimigo comum, o
Absolutismo ultramontano23.
Por último, os “dias em que são proibidos os espectáculos ou divertimentos
públicos”, parcialmente coincidentes com alguns dos feriados. Além dos impre-
vistos “dias de luto na Corte por morte de Rei, Rainha ou Pessoa Real”, o quadro
foi-se reduzindo, a partir da década de 60, aos seguintes: quarta-feira de cinzas
(por vezes, também aparece como feriado), os três dias antes do domingo de
Páscoa (normalmente, “quarta-feira de Trevas”, “quinta-feira de Endoenças” e
“sexta-feira de Paixão”), o 2 de Novembro (dia da comemoração dos “fiéis defun-
tos”) e os dias que já eram de luto por morte dos reis anteriores e, como tal,
feriados. Entre 1897 e 1910, foram o 24 de Setembro, o 19 de Outubro e, depois
de 1908, o 1 de Fevereiro.
Já se poderá, assim, entender a origem da expressão “quando o Rei faz anos”,
ainda hoje vulgarmente utilizada. Pelo exposto, na época, referia-se não só
ao dia em que fazia anos que tinha nascido, mas também que casara e, mesmo,
que morrera. Neste último caso, se não podiam ser de “grande” ou “simples
gala”, porque estes eram de “regozijo”, declaravam-se feriados e proibiam-se os
“divertimentos públicos”, porque eram de luto.
Em conclusão, a fidelidade ao modelo matricial da festividade pública por
parte do Estado durante a Monarquia Constitucional, se levou a uma estabilidade
do quadro comemorativo, permitiu que fossem sectores da sociedade civil e,
depois, movimentos ideológicos marginais ao sistema político a desencadearem
autonomamente outras propostas de comemoração, acabando por originar um
curto-circuito entre as instâncias representativas do Reino e o significado da
aspiração colectiva da comemoração nacional. Além dos dois dias para a Carta,
só se institucionalizou o 24 de Julho. A Coroa deixou, mesmo, que o seu “confi-
dencial” 1.º de Dezembro se mantivesse separado do comemorado pela iniciativa
particular de um movimento de cidadãos, situação passível de criar um distan-
ciamento entre dois sentidos celebrativos que denunciavam uma divisão. Se
não controlou o alcance da data que, mais do que qualquer outra, era mesmo

23 Ver F. Catroga, in História da História em Portugal, vol. 2, pp. 315-317.

63
F eriados em Portugal

“sua”, só vai poder assistir, ilusoriamente serena, à vaga dos centenários “nacio-
nais” e “patrióticos”, sem suspeitar que a invocação do passado histórico, de que
ela era a máxima expressão simbólica, podia tornar-se também numa munição
para a arma que a acabou por derrubar.

64
2

A LAICIZAÇÃO DO TEMPO NA REPÚBLICA


feriados “contra” dias santos

Os feriados republicanos

A implantação da República, a 5 de Outubro de 1910, provocou uma ruptura


com o quadro que acabámos de descrever. A ideologia laicista do republicanismo,
para quem a devoção ao bem público só poderia decorrer da autonomia da
consciência do cidadão, e a exigência da identificação do novo regime com a
Nação, que implicava a criação de novas simbologias, constituíram as coordenadas
que justificaram o corte efectuado, que só não foi total pela prudência, aconse-
lhada pelo fracasso de outras experiências inspiradoras, demasiado radicais.
A política anticlerical é, desde logo, uma das imagens de marca da República,
conduzida pelo ministro da Justiça do Governo Provisório, Afonso Costa, e que
culminou, como se sabe, com a lei da separação do Estado das Igrejas de 20 de
Abril de 1911.
Assim, os primeiros meses do novo regime experimentaram a publicação
vertiginosa de uma série de decretos visando a laicização do Estado e da
Sociedade: logo a 8 de Outubro de 1910 a República pôs em vigor as leis de
Pombal e de Joaquim António de Aguiar que expulsavam os jesuítas e as outras
ordens religiosas; a 18, aboliu o “juramento com carácter religioso” no âmbito
das instituições civis; a 22, suprimiu nas escolas primárias e normais o ensino da
doutrina cristã; a 23 terminou o juramento da Imaculada Conceição, a que os
estatutos da Universidade de Coimbra obrigavam, e anulou as matrículas no

65
F eriados em Portugal

1.º ano da Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra (faculdade implici-


tamente extinta); a 3 de Novembro, publicou a lei do divórcio; a 14, extinguiu a
cadeira de Direito Eclesiástico da Faculdade de Direito; a 28, proibiu aos milita-
res a participação em solenidades de carácter religioso; e, a 25 de Dezembro,
saíram as “leis da Família” que consideravam o casamento como “contrato pura-
mente civil”. Poder-se-ia, deste modo, dizer que as medidas tomadas traduziam
mais a submissão da esfera religiosa e eclesiástica ao controlo da autoridade
política do que uma verdadeira separação das duas instâncias1. De resto, o
próprio espaço público deveria ser laicizado. Daí as restrições às procissões, à
inserção de símbolos religiosos nos edifícios públicos, ao uso de hábitos talares
na via pública e ao livre toque dos sinos das Igrejas.
Na perspectiva que aqui nos interessa – a marcação simbólica do tempo –,
este programa de integral laicização teria de ter a necessária concretização.
Assim, em 28 de Fevereiro de 1911, um decreto obriga que nos documentos
oficiais (de tribunais, repartições e cartórios) não mais se refira que “o ano
adoptado é o da era vulgar chamada de Cristo”, porque “ridículo e poder ser
atentatório da liberdade de consciência o especificar a circunstância da era por
circunlóquios como o do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo e de outros
análogos”2 . Ou seja, sem substituir cronologicamente a era cristã, como a I
República Francesa pretendeu, a I República Portuguesa procurou apenas des-
cristianizar o vocabulário atribuído à era.
A mesma prudência revelou no “decreto com força de lei”, de 26 de Outubro
de 1910, da Presidência do Governo Provisório da República3. Através desta
legislação, abolia-se a faculdade de guardar o preceito dos dias santos, determi-
nando-se peremptoriamente: “Os dias até agora considerados santificados serão
dias úteis e de trabalho para todos os efeitos”. Mas, no artigo 1.º, ao reconhecer
o direito ao descanso semanal, acabava por se optar pelos domingos, conside-
rando que esses dias da semana eram “geralmente consagrados ao descanso

1 Ver F. Catroga, O Republicanismo em Portugal. Da formação ao 5 de Outubro de 1910, 2 vols.,


Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1991, vol. II, pp. 433-440.
2 Idem. A designação de “vulgar”, ou “comum”, omitindo propositadamente a qualificação
de “cristã”, laicizava o sentido da passagem do tempo. Daí também a tendência dos historiadores
para rebaptizarem a era cristã como Common Era (ver William M. Johnston, Pós-modernisme et
bimillénaire. Le culte des anniversaires dans la culture contemporaine, Paris, PUF, 1992, pp. 58-60).
3 Diário do Governo, n.º 19, quinta-feira, 27 de Outubro de 1910.

66
A laicização do tempo na R epública

hebdomadário”. O advérbio “geralmente” parecia, no entanto, denunciar que não


se pretendia que essa prática tivesse um carácter obrigatório. Como veremos, foi,
de facto, interpretado no sentido de permitir a continuação das excepções.
Idêntica estratégia vai também evidenciar o Governo Provisório republicano
na questão dos feriados que seleccionou. Com efeito, outro anterior decreto com
força de lei, de 12 de Outubro de 1910, estabelecia os novos feriados da República
Portuguesa. Como é óbvio, foram abolidos não só os relacionados com a Família
Real, mas também os de cariz político da Monarquia Constitucional. Inicialmente
em número de cinco, passariam a ser os seguintes, de acordo com o próprio
texto da legislação: “1 de Janeiro – consagrado à fraternidade universal; 31 de
Janeiro – consagrado aos precursores e aos mártires da República; 5 de Outubro
– consagrado aos heróis da República; 1 de Dezembro – consagrado à autonomia
da pátria portuguesa; 25 de Dezembro – consagrado à família”4.
Portanto, dois feriados prescreviam a autocomemoração do próprio regime
republicano: o passado heróico de luta, o 31 de Janeiro, trazendo à memória o
Porto, onde a República tinha chegado a ser proclamada pela primeira vez em
Portugal, e o obrigatório momento fundador de “uma nova era de liberdade”, o
5 de Outubro. Dois outros denunciavam a laicização de anteriores dias santos: o
1 de Janeiro e o 25 de Dezembro. É verdade que o primeiro há muito que não
era realçado como dia santo, pela Circuncisão do Senhor, mas mais assinalado
como de “ano bom” ou de “boas festas”. Mesmo assim, reafirmou-se a sua secu-
larização, dedicando-o à componente internacionalista do ideário republicano.
Quanto ao segundo, a força da tradição do Natal obrigava à sua manutenção,
mas também aqui se aproveitou uma das suas vertentes, a reunião familiar, a que
melhor poderia ser recuperada pela moral republicana, decorrente da sociabili-
dade natural do homem que dispensava qualquer sacramento.
A inclusão do 1.º de Dezembro poderá obrigar a uma mais elaborada expli-
cação porque, numa primeira análise, pode parecer um paradoxo o facto de o

4 Diário do Governo, n.º 7, quinta-feira, 13 de Outubro de 1910. No art.º 2.º, permitia-se que as
Câmaras, para a área dos seus municípios, pudessem instituir um dia feriado por ano, “escolhendo-o
de entre os que representam as festas tradicionais e características” do concelho. Mais uma vez,
procurava-se não afrontar a província rural e católica, não lhe proibindo as imemoriais festividades
e romarias por ocasião dos dias dos santos padroeiros. Por outro lado, o feriado concelhio poderia
decorrer da fidelidade à matriz do federalismo municipalista do pensamento republicano.

67
F eriados em Portugal

dia da Restauração da Monarquia Portuguesa pela Dinastia de Bragança se


instituir como feriado nacional precisamente por um dos primeiros decretos da
República. Poder-se-á dizer, em primeiro lugar, que o regime republicano, com
o seu nacionalismo, o que quereria relevar era afinal uma data que era um
símbolo da independência nacional. Em segundo lugar, deverá supor-se que,
desta forma, se compensava o “internacionalismo” do significado do 1 de Janeiro,
mas, fundamentalmente, se desarmava a acusação, há muito formulada, de que
o movimento republicano, por via da matriz federalista do seu programa, envol-
veria Portugal num projecto iberista, como etapa de uma aglutinação latina e
depois europeia, até ao horizonte final da “fraternidade universal”5. Por último,
se quanto aos dois feriados republicanos (31 de Janeiro e 5 de Outubro) se
criava necessariamente uma fractura, o 1.º de Dezembro poderia convocar uma
união nacional em volta de um sentimento transversal às várias opções políticas,
fossem monárquicas fossem republicanas, sob o lema fundamental da “liberdade
da Pátria”. Assim, o 1.º de Dezembro não só foi mantido como marco memorial,
como se lhe deu, inclusivamente, um estatuto que antes nunca possuía, tendo,
porém, o cuidado de, previamente, o “republicanizar”6.
Na imposição da nova simbologia da República, não se aceitou o risco de
manter a bandeira azul e branca, apenas despojada da coroa (como defendiam
alguns republicanos, entre eles Guerra Junqueiro), optando-se, pois, pela bandeira

5 Este sentido universalista é evidente, por exemplo, entre os professores primários, que
constituíram um dos grupos profissionais mais sensíveis ao republicanismo e que maior impor-
tância acabaram por ter na expansão da sua ideologia e da sua moral. Num artigo do periódico
Federação Escolar de 1909, é muito evidente essa ideologia. Tomando uma posição crítica relati-
vamente ao culto à bandeira (nessa altura a bandeira azul e branca da Monarquia) e contrariando
até uma determinação da Direcção-Geral do Ensino Primário, o seu autor achava essa devoção
“perigosa, porque uma tal cerimónia pode despertar no espírito das crianças um exagerado
amor patriótico, e reavivar-lhes sentimentos atávicos de hostilidade contra o estrangeiro, o que
vai de encontro aos princípios da moral nova, segundo os quais todos os povos devem frater-
nizar, como se constituíssem uma só família” (in A Federação Escolar, 2ª fase, I ano, n.º 44,
13-XI-1909, p. 1).
6 Mais tarde, na sua “autobiografia”, a Sociedade Histórica da Independência de Portugal,
que, como dissemos, era ainda em 1910 identificada como Comissão Central 1.º de Dezembro, vai
reivindicar para si a iniciativa de ter conseguido que o Governo Provisório publicasse o decreto
determinando ser o dia 1.º de Dezembro considerado feriado: “Foi uma aspiração da nossa colec-
tividade realizada no regime republicano e nunca conseguida no tempo do regime monárquico”
(História da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. 1861 a 1940, composta por E. A.
Ramos da Costa, Lisboa, 1940, p. 153). Obviamente, só por si, esta solicitação não seria suficiente.
Importaram, com certeza, outras motivações, que procurámos descortinar.

68
A laicização do tempo na R epública

verde-rubra da tradição revolucionária do 31 de Janeiro. O hino nacional também


se afirmou, mas este sem grande discussão, dado o limitado carácter “institucio-
nal” do Hino da Carta. Quanto à moeda, ao passar o “escudo” a ser considerado
como a unidade fundamental (substituindo os “réis”), retomava-se afinal uma
antiga designação portuguesa. Neste contexto de republicanização de símbolos,
o Governo Provisório decidiu então comemorar, por decreto da Presidência de
22 de Novembro7, o 1.º de Dezembro, já considerado feriado em 12 de Outubro
de 1910 (conforme vimos), como dia da “festa da Bandeira Nacional”. A Comissão
para escolher a bandeira fora nomeada em 15 de Outubro de 19108, mas só em
29 de Novembro apresentou o projecto votado, que foi aprovado de imediato
pelo Governo Provisório9.
Todas as atenções estariam, portanto, concentradas naquela que seria a pri-
meira apresentação pública e solene do novo estandarte, em 1 de Dezembro,
permitindo captar para o símbolo do novo regime o significado que o dia evocava.
Note-se que o texto do decreto não limitava a esse ano de 1910 a solenidade
consagrada à bandeira que, pelo articulado, se devia manter daí em diante. Logo
no ponto 1.º, prescrevia-se: “Que se solenize o dia 1.º de Dezembro com a festa
da Bandeira Nacional, que é a representação objectiva da Pátria e o precioso
símbolo que resume as suas aspirações, sentimentos nobres e energia”. E a
“republicanização” da Restauração ganharia visível concretização pelo modus
faciendi da pública celebração comemorativa, definida no ponto 4.º: “Que na
capital seja incumbida a respectiva câmara municipal de organizar e dirigir um
grande cortejo cívico que saúde a Bandeira Nacional arvorada junto ao monu-
mento dos Restauradores”10. Mas era nos considerandos que se denunciava, aliás
explicitamente, a intenção de privilegiar a propaganda. A celebração deveria
realizar-se “em todas as escolas do país”, visando inculcar, desde logo nos mais

7 Diário do Governo, quinta-feira, 24 de Novembro de 1910.


8 Era constituída por Abel Botelho, Columbano Bordalo Pinheiro, João Chagas, pelo capitão de
artilharia José Afonso Pala e pelo oficial da Armada António Ladislau Parreira.
9 Só em 19 de Junho de 1911 a bandeira foi confirmada como símbolo pela Assembleia
Legislativa.
10 Apesar de uma necessária concertação com a Comissão Central 1.º de Dezembro que era
quem, tradicionalmente, organizava os festejos, é notória a intenção de controlar as comemorações,
uma vez que, não só em Lisboa, mas também “nas diversas cidades e vilas da República”, a direc-
ção da festa era confiada às municipalidades, todas elas, naturalmente, da confiança política do
Governo Republicano.

69
F eriados em Portugal

jovens, o novo sentido da festa. O grande objectivo consistia em capitalizar o


consenso patriótico que existiria para além das meras divisões políticas: “não só
o desenvolvimento das virtudes cívicas como as conveniências do comércio, das
artes, das indústrias e mais partes da riqueza pública, aconselham a conveniência
de escolher para a comemoração anual da autonomia nacional um dia em que
todos os cidadãos portugueses, sem distinções de credos ou opiniões políticas,
possam associar-se às grandes festas cívicas que nele se efectuem, esquecendo
rivalidades para somente se recordarem que são portugueses e que há de ser
pela união de todos que se poderão vencer os perigos que a ambição estranha
ou a imprevidência própria, porventura nos prepare”.
Registe-se, igualmente, que pela primeira vez era consagrado como feriado
nacional um dia que evocava uma data de um passado histórico já longínquo,
em relação ao qual se tinham operado irreversíveis soluções de continuidade.
Embora tivesse existido nos finais do século xix – como vimos atrás – uma
verdadeira “febre centenarista”, de comemoração recuperadora de memória e
de afirmação de ideologias e o 1.º de Dezembro fosse comemorado, nunca se
tinha inscrito uma celebração oficial de consenso na agenda anual. A República
Portuguesa procurava, assim, afirmar-se como (pode dizer-se desta forma retó-
rica, própria da época) “garante da perenidade da Pátria” e “guardiã da sua
independência”.

A estes cinco primeiros feriados nacionais republicanos, veio juntar-se, pas-


sado cerca de ano e meio, um novo feriado. Em 1 de Maio de 1912, por decreto
do Congresso da República, era “declarado feriado oficial o dia 3 de Maio, data
gloriosa do Descobrimento do Brasil”11.
Não se apresentam muito óbvias as razões que levaram à escolha deste acon-
tecimento e, mesmo, da data que lhe era atribuída. Com efeito, como é sabido, a
armada de Pedro Álvares Cabral avistou terra brasileira a 22 de Abril de 1500.
Parece, no entanto, que uma tradição de séculos tinha considerado a descoberta
como tendo ocorrido naquela data e daí que, ainda em 1912, se continuasse a
associar, em alguns sectores, a chegada ao Brasil ao dia 3 de Maio, embora, em

11 Publicado no Suplemento ao Diário do Governo, n.º 103, 2 de Maio de 1912, quinta-feira, e


repetido no n.º 104, 4 de Maio, sábado.

70
A laicização do tempo na R epública

termos historiográficos, a documentação disponível já não permitisse este erro


de cronologia12.
Relativamente à primeira questão, Fernando Catroga contextualiza, assim, a
decisão pelo 3 de Maio: “inseria-se no calendário português a comemoração de
um grande acontecimento ligado aos Descobrimentos; o que não surpreende
tendo em vista o uso historicista da «questão colonial» e sabendo-se a importân-
cia que o Brasil tinha nesse discurso, ao mesmo tempo que crescia o número dos
que, como João de Barros, sonhavam com uma aliança atlantista entre Portugal
e a sua antiga colónia”, não esquecendo que surgia numa conjuntura de forte
emigração para aquelas paragens13.
Para além da pertinência desta interpretação, outras motivações se poderão
acrescentar, a título de hipótese. A desconfiança de uma Europa totalmente
monárquica (com excepção da França e do caso singular da Suíça), não obstante
o reconhecimento que o regime republicano ia obtendo, pode ter levado a um
esforço de legitimação externa, visando as repúblicas americanas, particular-
mente através de um laço com a grande “irmã” brasileira14. Por outro lado, e
apesar da actividade de alguns centros republicanos de emigrantes portugueses,

12 A célebre Carta de Pero Vaz de Caminha relata a estadia da armada na nova terra de 22 de
Abril a 1 de Maio de 1500. É assinada pelo autor neste dia. A 2 de Maio dá-se a largada da armada
para a Índia e de uma nau para Lisboa que levaria a notícia. Esta Carta só terá tido as primeiras
edições impressas em 1817 (precisamente no Brasil) e em 1826 (em Lisboa). Ver Jaime Cortesão, A
Carta de Pêro Vaz de Caminha, «Obras Completas», Lisboa, Portugália, 1967. A tradição do 3 de Maio
virá de Gaspar Correia, autor das Lendas da Índia, obra dos meados do século xvi, que não conhe-
ceria o texto de Caminha. A referência terá passado a outros autores, embora as próprias Lendas
tenham também permanecido inéditas até aos meados do século xix. Aliás, no Brasil considerava-se
igualmente o 3 de Maio, pelo menos ainda nos primeiros anos de independência, pois a abertura da
Assembleia Constituinte brasileira, em 1823, é marcada para este dia, assinalando o aniversário da
descoberta. Ver Sérgio Buarque da Holanda, História Geral da Civilização Brasileira, t. I, A Época
Colonial, 5.ª ed., São Paulo - Rio de Janeiro, Difel, 1976, vol. I, cap. III, pp. 48-49. É possível que
esta tradição se tenha mantido no Brasil, influenciando a decisão dos republicanos portugueses.
Como um dos processos de baptizar as novas terras era designá-las pelo nome da festa religiosa ou
do santo evocado no dia da descoberta (Ascensão, Trindade, São Tomé, Natal, etc.), Gaspar Correia,
perante o primeiro nome do Brasil, “Vera Cruz”, e, logo, “Santa Cruz”, concluiu que seria 3 de Maio,
dia santo, dedicado, como vimos, à festividade da “Invenção da Santa Cruz” (ver supra, cap. I, nota
8). A designação de Vera Cruz terá originado o nome da constelação em forma de cruz, o Cruzeiro
do Sul, que orientava a navegação no Atlântico austral, e daí que Cabral tenha chamado “Terra de
Vera Cruz” ao Brasil.
13 História da História em Portugal, vol. 2, p. 330.
14 O Brasil e a Argentina foram, justamente, os primeiros países a reconhecer a República
portuguesa. Aliás, como é sabido, a implantação da República no Brasil, em 1889, destronando,
precisamente, o outro ramo dos Braganças liberais, tinha dado um novo alento ao republicanismo
em Portugal.

71
F eriados em Portugal

o escol da numerosa colónia lusitana no Brasil manteria algum distanciamento


em relação ao radicalismo republicano de Lisboa, sendo mesmo conotado com
tendências pró-monárquicas. A simpatia e o apoio que dera ao projecto político
de João Franco originaram até o termo “talassa”, aplicado à “reacção” monárquica
e clerical15. Pelo menos, alguns sectores monárquicos, que desde logo se dispu-
seram a conspirar para o derrube da República, contavam com o apoio financeiro
dos “talassas” do Brasil16. O objectivo de neutralizar esta eventual hostilidade,
pela celebração de uma data que constituísse um símbolo do vínculo entre a
pátria de origem, representada pela República, e a segunda pátria dos emigrantes
portugueses, pode ter estado na base da instituição do feriado de 3 de Maio,
tanto mais que as remessas da colónia emigrada no Brasil continuavam a ser um
recurso financeiro indispensável à economia do país.
Como outro factor tido em conta, não afastaríamos, por agora, a possibilidade
da sua relação com a questão da fractura entre as autoridades republicanas e o
movimento operário, um dos mais graves conflitos que rebentaram logo a seguir
ao 5 de Outubro e com o qual os dirigentes da República tiveram, inesperada-
mente, que se confrontar. O Inverno de 1910-1911 assistiu a um surto de greves
sem precedentes que levou os chefes republicanos à mobilização da sua massa
popular de apoio para enfrentar, com o recurso à violência, os trabalhadores
grevistas. O movimento operário português, no seio do qual eram dominantes
as correntes anarquistas e sindicalistas revolucionárias, entrou em ruptura com a
prioridade política do novo regime e Afonso Costa, pela repressão contra os diri-
gentes sindicais em 1913, veio mesmo a receber o cognome de “racha-sindicalistas”.

15 Embora os dados não sejam conclusivos, parece que o regicídio suscitou inequívocas ma-
nifestações de pesar na comunidade portuguesa no Brasil, onde, aliás, era esperada com grande
expectativa a anunciada visita do rei D. Carlos. Percorrendo a Ala dos Braganças em São Vicente
de Fora, deparamos com a origem “brasileira” da maior parte das lápides ali colocadas em memória
de D. Carlos e do Príncipe Real. Logo em 1911, começou a publicar-se a Restauração, jornal que se
apresentava como o “Orgão da Colonia Portugueza no Brazil”, contra “os desmandos e violências”
de uma “ditadura caricata” que oprimia 5 milhões e meio de portugueses (cfr. n.º 9, 30 de Março de
1911). Distantes da agitação política que envolvia o monarca, os emigrantes portugueses olhariam
para este mais como um símbolo ainda venerado da terra que saudosamente recordavam. Em con-
clusão: “talassa” (proveniente da palavra grega que significa “mar”), teria surgido num documento
enviado do Brasil a João Franco e teve a sua evolução semântica, vindo a ajustar-se à ideia de
“reaccionário monárquico”.
16 Ver Rui Ramos, “As Guerras da República (1911-1917)”, in José Mattoso (dir.), História de
Portugal. Sexto Volume. A Segunda Fundação, Lisboa, Círculo dos Leitores, 1994, p. 458.

72
A laicização do tempo na R epública

Aquelas correntes vão pretender dar o carácter de jornada de luta à festa do 1.º
de Maio que, desde o início da década de 1890, era já celebrada pelo operariado
português. Os responsáveis republicanos, que, aliás, acusaram de antipatrióticas
as greves desencadeadas, poderão ter querido minimizar o alcance do 1.º de
Maio – festa “internacionalista” que simbolizava a memória dos mártires da
classe operária mundial, em homenagem (como se disse) às vítimas que morre-
ram nas jornadas de luta pelas oito horas de trabalho em Chicago, em 1886, e
com este sentido decretada pelos Congressos operários internacionais de Paris
de 1889 – pela marcação, para apenas dois dias depois, de um feriado que
reuniria um consenso patriótico ao comemorar um feito “glorioso” da história
nacional17.
Com o 3 de Maio, completava-se, pois, o quadro dos feriados nacionais, com
carácter anual e oficial, estabelecido pela I República.

O 10 de Junho de Camões e o 14 de Agosto de Aljubarrota

Relativamente ao 14 de Agosto, dia da batalha de Aljubarrota, a dimensão


religiosa da figura de Nuno Álvares Pereira, sublinhada pelo ingresso na Ordem
do Carmo, terá sido um dos factores da sua ausência na vaga do comemorativismo
historicista dos fins do século xix.

Teófilo Braga, na obra de 1884 em que fazia o balanço dos Centenários,


sobretudo os de 1880 e 1882, propunha já a comemoração dos 500 anos de
Aljubarrota, em 1885, dos 400 de Bartolomeu Dias e da dobragem do Cabo da
Boa Esperança, em 1887, e de Vasco da Gama e da descoberta do caminho

17 Sobre a violência no conflito entre republicanos e grevistas, ver Rui Ramos, idem, pp. 447-450
e 469. O carácter festivo do 1.º de Maio tinha-se casado com as festas tradicionais das “Maias”, rito
ancestral de Primavera que, embora de origem obviamente rural, se continuaria a manifestar nas
populações urbanas e no modo como os trabalhadores festejavam a data (o passeio e a merenda
campestre, por exemplo). Para uma síntese da comemoração do 1.º de Maio em Portugal, ver F.
Catroga, História da História, vol. 2, pp. 324-328. Como feriado nacional, logo geral, o 3 de Maio
até poderia integrar-se melhor nesta tradição das “Maias”, estabelecendo-se, além disso, um feriado
a meio do ano, uma vez que, com a abolição dos dias santos – recordemos a série que ia desde
a Páscoa aos Santos populares do mês de Junho –, de 31 de Janeiro a 5 de Outubro, não havia
nenhum outro. Sobre a festa das “Maias”, comum a toda a Europa (geralmente nos inícios, no 1 de
Maio ou no 1.º domingo deste mês, por exemplo), ver M. Eliade, Tratado de História das Religiões,
nova ed., Lisboa, Cosmos, 1977 (original francês: 1970), pp. 371-381.

73
F eriados em Portugal

marítimo para a Índia, em 1898. No entanto, se a passagem do Cabo da Boa


Esperança e a descoberta do caminho marítimo para a Índia se representam pela
evocação dos “grandes homens” que tais feitos comandaram, a figura de Nuno
Álvares Pereira é, de modo significativo, silenciada para Aljubarrota, batalha que
decidiu a independência da Pátria, privilegiando Teófilo a soberania nacional
reivindicada pelo povo português na eleição de D. João I, o que remeteria mais
para o acto jurídico-político das Cortes de Coimbra, realizadas alguns meses
antes, em Março/Abril18.
Algo incómodo para o liberalismo anticlerical e para o republicanismo,
não surpreende que tenha sido a Igreja a recuperar D. Nuno no sentido de
uma resposta católica à dimensão político-ideológica que estes sectores im-
primiram ao culto das grandezas da história pátria. As “Festas Antoninas”,
comemorando o VII Centenário do nascimento de Santo António, em 1895,
inseriram-se já neste desígnio. Justamente um ano antes, em 1894, sendo
cardeal patriarca D. José Sebastião Neto, tomara-se a iniciativa de reiniciar o
processo de beatificação do Santo Condestável19. O modelo da perfeita combi-
nação entre o Nacionalismo e o Cristianismo que Nuno Álvares representava
não podia ser desaproveitado pela Igreja portuguesa que insistia em não deixar
cair o propósito da beatificação20.

18 Os Centenários, Porto, 1884, pp. 230-231. Teófilo sempre insistiu na prioridade conferida
aos fenómenos políticos da revolta popular de Lisboa, em 1383, com a atribuição ao Mestre de Avis
da função de “Regedor”, e da sua eleição como Rei pelas Cortes de Coimbra, em 1385, relativamente
à vitória militar em Aljubarrota. A “revolução de Lisboa” foi – no seu dizer – “o primeiro sintoma de
vida consciente” do “génio nacional”, pela qual a “soberania popular, avocando o poder supremo,
delega-o no Mestre”, “elegendo-o” Rei “nas cortes de Coimbra”. A heroicidade de Nuno Álvares é
desvalorizada, na medida em que a sua aura é fruto do “espírito popular, que se manifestara na re-
volução de Lisboa” e que, “animado de uma profunda poesia”, foi “idealizando o Condestável como
o Cid português”. Ver, neste caso, T. Braga, História da Literatura Portuguesa. 1.º volume. Idade
Média, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984 (1ª ed. de 1909), pp. 119-120.
19 Com D. João IV, nas Cortes de 1641, os representantes dos três estados dirigiram um primeiro
pedido ao Papa Urbano VIII. Dado o não reconhecimento da Restauração por parte da Santa Sé
até à paz com a Espanha em 1668, as cortes reunidas em Lisboa, em 1674, sob a regência do futuro
D. Pedro II, pelo braço da Nobreza, voltaram a formular o requerimento para a beatificação de D.
Nuno Álvares Pereira ao Papa Clemente X.
20 Em 1894, iniciaram-se os trabalhos de inquirição das testemunhas e análise dos documen-
tos, mas foram interrompidos pela morte ou pela saída de Lisboa dos elementos do tribunal para
esse efeito nomeado pelo Patriarca. Retomado o processo em 1914, já com D. António Mendes Belo
e em pleno contexto do conflito entre a República democrática e a Igreja, foi, por fim, apresentado
à Congregação dos Ritos em 7 de Junho de 1917.

74
A laicização do tempo na R epública

No seio do laicismo republicano tentava-se a desmontagem crítica do alegado


“misticismo” e da “santidade” do Condestável. Curiosamente ela aparece no artigo
que o jovem, mas já consagrado, dramaturgo Júlio Dantas – que teria um
percurso sinuoso, servindo todos os regimes – escreveu para a Ilustração
Portuguesa, em 1906, intitulado “O Libelo do Cardeal Diabo”21. Com a “autoridade
científica” de médico, concluía que o “misticismo casto” era característico de “um
degenerado profundo” e que a “temeridade lendária do suposto santo, que,
de resto, nunca se bateu pela fé nem pela Igreja”, era “facilmente integrável no
quadro clássico da epilepsia”.
Acabou, porém, por se verificar a vitória da Igreja portuguesa e a Sagrada
Congregação dos Ritos confirmou oficialmente o culto público imemorial prestado
a Nuno Álvares por decreto de 15 de Janeiro de 1918, confirmado pelo Papa
Bento XV a 23 do mesmo mês e ano. Um ano depois, foram aprovados o ofício
e a missa para 6 de Novembro, para o uso de Portugal e da Ordem do Carmo22.
Paralelamente, a direita tradicionalista e católica apropria-se da figura do
Condestável, embora se tentasse igualmente impor um certo nacionalismo con-
sensual. Declarado padroeiro da Nação pelos monárquicos integralistas em 1913,
em 1918 surge a Cruzada Nacional Nuno Álvares Pereira, movimento nacionalista
heterogéneo, mas mais tarde dinamizado por figuras da direita radical, como
Henrique Trindade Coelho, Martinho Nobre de Melo e Filomeno da Câmara,
entre outros23, embora alguns republicanos históricos tenham aderido, como
o próprio António José de Almeida. De Coimbra, Oliveira Salazar e o padre
Manuel Gonçalves Cerejeira, em 1922, integraram-se na Cruzada.
Com o sidonismo e o pós-sidonismo, período em que os republicanos
conservadores tentaram uma alternativa ao monopólio governativo do Partido
Democrático, ensaiou-se uma aproximação entre as autoridades republicanas e

21 Dantas estava em trânsito do Partido Progressista de José Luciano, pelo qual tinha sido de-
putado entre 1905 e 1906, para o republicanismo. Foi sugerido que esta viragem e a provocação do
artigo se ficaram a dever ao facto de J. Dantas não ter sido nomeado médico da Casa Real. O texto
foi publicado em volume na 1ª edição, de 1909, da obra Outros Tempos; ver 3ª ed., Lisboa, Portugal
– Brasil Companhia Editora, s.d., pp. 77-88.
22 V. Manuel M. Wermers, O Santo Condestável. Santidade e Culto, Fátima, Edições Carmelitanas,
1960, pp. 44-46.
23 Ver Ernesto Castro Leal, Nação e Nacionalismo. A Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira
e as origens do Estado Novo (1918–1938), Lisboa, Cosmos, 1999.

75
F eriados em Portugal

a Igreja, tendente a atenuar o diferendo que vinha da “República Velha”24. Daí


que, em 1920, sendo o Governo presidido por António Granjo, do novo Partido
Liberal (resultante da fusão dos partidos Evolucionista e Unionista), um dos
elementos da representação parlamentar católica, o senador cónego José Dias
de Andrade, visando cimentar essa aproximação, apresentasse no Congresso
da República um projecto de lei para que o dia 14 de Agosto fosse celebrado
como a festa do Patriotismo25. Aprovada a lei, declarava-se no artigo 1.º que “A
República Portuguesa celebra anualmente as festas de Nuno Álvares Pereira,
festa do patriotismo” e que será “celebrada no dia 14 de Agosto, aniversário da
batalha de Aljubarrota”26.
Convém, no entanto, acrescentar que o 14 de Agosto nunca foi instituído ofi-
cialmente como feriado nacional, pois a lei não lhe concedia esse carácter e a
celebração da festa a tal não obrigava. Este cuidado dever-se-á às inultrapassadas
reticências que os republicanos tinham em relação a Beato Frei Nuno de Santa
Maria. O Governo, se o entendesse, podia decretar feriado excepcional, mas
sempre caso a caso, para cada ano, por ocasião dos festejos, ficando com a
possibilidade de não o fazer, deixando, assim, cair o “perigoso” culto do Santo
Condestável.
Justamente, depois da celebração de 1921, que ainda contou com a colabora-
ção de alguns vultos republicanos, mas cuja organização pertenceu à Cruzada

24 Apesar disso, mesmo com Sidónio, quando a Igreja, em Fevereiro de 1918, pretendeu expor
as relíquias de Nuno Álvares à veneração do povo, o Governo não permitiu a sua transladação para
a Capela do Carmo nem para o Panteão Nacional dos Jerónimos. Quando a autorização veio, uma
campanha anticlerical impediu que saíssem de São Vicente, onde estavam, na Sacristia. Quando os
carmelitas quiseram inaugurar o culto ao Santo Condestável, em 14 de Agosto, o Governo voltou a
hesitar, mas a transladação para o Carmo acabou por se fazer sem incidentes. Ver M. Wermers, ob. cit..
25 Lei n.º 1.012, de 13 de Agosto, publicada no Diário do Governo, I Série, n.º 156, de sexta-
-feira, 13 de Agosto de 1920, e promulgada, justamente, pelo Presidente da República que era, então,
António José de Almeida. É impressionante o paralelismo do “trajecto” de Nuno Álvares Pereira
com o que se passou com Joana d’Arc em França, a sugerir uma estratégia comum dos católicos
dos dois países (e de Roma?) face às duas Repúblicas. Proposta definitivamente para canonização
também nos fins do século xix, Joana é beatificada em 1909, canonizada em 1920 e, em 1922,
declarada padroeira de França, onde, cada ano, por lei de 1920, tem festa nacional, também sem
ser feriado. Lembremos que esta lei de 1920 é de 10 de Julho, cerca de um mês antes da referente
a Nuno Álvares.
26 No art.º 2.º ficava consagrada a ideia de um monumento comemorativo: “No local desta
batalha será levantado em sua honra e por subscrição pública um monumento com a seguinte
legenda: A Nuno Álvares Pereira – Defensor da independência nacional – A Pátria reconhecida”.
Essa estátua equestre só será inaugurada em 1968, sendo da autoria de Leopoldo de Almeida.

76
A laicização do tempo na R epública

Nuno Álvares e na qual participaram associações do campo católico e nacio-


nalista27, foi o que aconteceu em 192228. O Governo, então presidido pelo
democrático António Maria da Silva, não fez uso dessa faculdade, embora não
tivesse revogado a legislação que considerou a existência da festa, jamais consi-
derando que 14 de Agosto deveria ser feriado29. Daí as críticas que recebeu, por
exemplo, do jornal católico-monárquico A Época, que lamentou a abstenção
relativa ao “dia consagrado por lei – que o governo menosprezou – à festa de
Nun’Alvares”30. Na República podia festejar-se o 14 de Agosto, mas o Estado
republicano nunca o instituiria como feriado.

27 Como a Ordem Terceira do Carmo, a Federação Académica, a Juventude Católica, o Núcleo


de Ressurgimento Nacional e a Associação dos Arqueólogos.
28 Como o dia 14 de Agosto de 1921 calhou a um domingo, o Governo concedeu “tolerância de
ponto” na segunda-feira, dia 15 (ver, para 1921, “As Festas da Patria”, Diário de Notícias, domingo,
14 de Agosto de 1921, p. 3, e de segunda-feira, 15 de Agosto, que relata as comemorações do dia
anterior, com destaque para uma parada e um desfile, bem como para a Sessão Solene na Socie-
dade de Geografia que contaram com a presidência de António José de Almeida). Um decreto com
força de lei, de 30 de Dezembro de 1910, permitia que os feriados que calhassem a um domingo
poderiam ser gozados no dia seguinte. Esta possibilidade irá ser anulada pela lei n.º 1.845, de 1
de Março de 1926 (Diário do Governo, I Série, n.º 42, de segunda-feira, 1 de Março de 1926), do
governo de novo presidido por António Maria da Silva, que o revogava, proibindo “a concessão da
chamada «tolerância de ponto»”.
29 Consultada a legislação do governo de António Maria da Silva no Diário do Governo de
1922, não encontrámos decreto, lei ou portaria que revogasse anterior legislação, como também
não encontrámos qualquer referência a feriado nesse dia 14 de Agosto. É de salientar, aliás, que
nenhum Almanaque, relativo a estes anos de 1920-1922, indicou o 14 de Agosto como feriado. Os
muito úteis Índices do Diário do Governo colocados no final dos volumes da Colecção Oficial de
Legislação Portuguesa publicados pela Imprensa Nacional (consultámos os anos de 1910 a 1940 –
dois por ano, pois são semestrais, publicados entre 1911 e 1954), de igual modo não o referem.
Note-se que “Feriados” é, justamente, um dos assuntos que tem rubrica própria nos Índices. Dado
o atraso na publicação dos volumes, indicaremos, a seguir à sigla COLP o ano da legislação e o
semestre (I ou II).
30 A Época, quarta-feira, 16 de Agosto de 1922, 1ª página. O jornal não saiu a 14 pela greve
da C.G.T.. Na quinta-feira, dia 17, vinha explicar melhor “O aniversario da Batalha de Aljubarrota.
Porque não foi feriado o dia 14”: “consta que o governo não efectivou a disposição legal referente à
comemoração do aniversario da batalha de Aljubarrota para evitar um feriado parlamentar. Parece
que chegou a estar redigido um decreto confirmando a festa nacional de 14 do corrente mas, pelo
motivo que apontamos, não chegou a ser submetido à assinatura presidencial”. A mesma atitude
verificou-se em 1923, limitando-se o Diário de Notícias, de segunda-feira, 13 de Agosto, a noticiar
que a Juventude Católica de Lisboa iria realizar uma Missa na Capela do Carmo no dia 14, não
mencionando, nos números seguintes, qualquer feriado ou “tolerância de ponto”. Note-se que o
director de A Época era J. Fernando de Souza (Nemo) que publicou uma conferência proferida na
Liga Naval, Joanna d’Arc e Nun’Alvares (Lisboa, 1916), realçando a similitude dos dois símbolos do
patriotismo cristão.

77
F eriados em Portugal

O 10 de Junho, dia de Camões, tinha atrás de si uma verdadeira tradição


celebrativa desde 1880. Conforme o estudo de Maria Isabel João, não admira,
pois, que a Câmara de Lisboa tenha decidido em 1911 celebrar o dia como feriado
municipal, realizando-se a comemoração todos os anos, como misto de festa
cívica e arraial, ainda que em 1913 um grupo de operários lhe quisesse conferir
o carácter de acção de protesto, contra a fome e o desemprego, o que acabou
por redundar numa morte, em feridos e em prisões. A guerra fez depois com que
adquirisse maior significado patriótico, o que sucedeu em 1916 e 1917. Nos anos 20
o nacionalismo acendeu ainda mais o carácter cívico da comemoração, sobretudo
em 1924, considerado o do IV Centenário do nascimento de Luís de Camões31.
No rescaldo destas comemorações, da iniciativa da Câmara Municipal de
Lisboa e que contou com a adesão do Governo, era aprovada pelo Congresso da
República e promulgada pelo presidente Manuel Teixeira Gomes, estando à frente
do governo Vitorino Guimarães, a lei n.º 1.783, de 25 de Maio de 192532. No
artigo 1.º, decretava-se: “É considerada nacional a Festa de Portugal, que se cele-
brará no dia 10 de Junho de cada ano” e estabelecia-se que a organização da
festa caberia a uma “comissão nomeada anualmente pelo Governo”33. A Comissão
de 1924, onde ainda figurava um sobrevivente da Comissão do Centenário de
1880, Sebastião Magalhães Lima, não podia deixar de se confrontar com a com-
paração entre os dois centenários, pois a modéstia do segundo parecia pôr em
causa as esperanças anunciadas pelo primeiro e prometidas pela República. No
entanto, ainda eram de esperança os dias desta República em crise e, assim,
continuava a pensar-se em Camões como motor de reabilitação do regime.
Num balanço de catorze anos, considerava a Comissão que não podiam “atri-
buir-se aos partidos militantes as perturbações que a República tem sofrido, no
seu esforço de revivescência nacional”. Camões continuava, pois, como a expressão
do génio português e fonte da garantia de uma regeneração. Daí que o seu culto
cívico reafirmasse a identidade da “Raça” que nele tinha encontrado a plena

31 Sobre as comemorações do 10 de Junho, na Republica e, depois, no Estado Novo, ver Maria


Isabel João, Memória e Império. Comemorações em Portugal (1880-1960), Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2002, pp. 126-141.
32 V. Diário do Governo, I Série, n.º 114, segunda-feira, 25 de Maio de 1925.
33 Num § 2.º e transitório, decidia-se que, naquele ano de 1925, seriam atribuídas essas funções
de organização da festa do 10 de Junho “à comissão encarregada da consagração nacional de Luís
de Camões”, prolongando, assim, por mais um ano, a equipa do centenário do ano anterior.

78
A laicização do tempo na R epública

manifestação. Estas comemorações decorreram, assim, sob o signo da “Festa


da Raça”, designação cada vez mais utilizada para apreender colectivamente os
valores de um povo (no sentido de “Nação”) ou mesmo os feitos épicos dos
seus heróis34. Embora a lei de 1925 não consagre a expressão – é a “Festa de
Portugal”, já o referimos –, J. Fernando de Souza, nas páginas do seu jornal A
Época, preconizou que o dia 10 de Junho, porque dedicado a Camões, passasse
a ser considerado “Dia da Raça Portuguesa”, designação que se fixará e irá mesmo
manter-se até ao fim do Estado Novo35.
Também neste caso, como no de Aljubarrota, a instituição anual da festa de
Portugal não a tornava oficialmente feriado nacional, sendo necessário que o
Governo, ano a ano, assim o decidisse. Mas, nem isso chegou a fazer. Nem se-
quer para 1924, o ano das comemorações. Aliás, no ano do Centenário, e como
se tratava do nascimento do poeta, foi escolhido o dia 5 de Fevereiro para feriado
excepcional, segundo a lei n.º 1.540, de 2 de Fevereiro de 1924, do governo de
Álvaro de Castro e promulgada pelo presidente Manuel Teixeira Gomes36. Por
sua vez, a lei de 1925, ao instituir a celebração anual do 10 de Junho, acabou por
criar alguma indeterminação, pela razão muito simples de que o dia de Camões
já era feriado municipal em Lisboa. Com efeito, abolidos os dias santos – recor-
demos que na diocese de Lisboa se festejava o 13 de Junho, dia de Santo António
– e criado um feriado municipal, pelos já referidos decretos de 1910, a republicana
Câmara de Lisboa escolheu o 10 de Junho para o do seu município, retomando

34 Apenas dois anos antes, em 1922, Gago Coutinho e Sacadura Cabral tinham demonstrado
na primeira travessia aérea do Atlântico Sul, essa “hora gloriosa da raça” (cfr. F. Catroga, História
da História, vol. 2, pp. 245-248).
35 Ver História da Sociedade da Independência de Portugal, p. 209. Esta associação patriótica
elegeu-o sócio honorário, justamente por essa sugestão.
36 Diário do Governo, I Série, n.º 25, sábado, 2 de Fevereiro de 1924. Dizia o seu artigo único:
“O dia 5 do mês de Fevereiro de 1924 é, para todos os efeitos, feriado nacional, em homenagem ao
imortal poeta Luís de Camões”. Como é sabido, o ano de nascimento de Camões continua incerto.
1525 ainda reúne um maior consenso e já em 1880 se preconizava o Centenário do nascimento para
1925. No entanto, uma interpretação de Teófilo Braga – discutível, como todas as outras – propunha
recuá-lo para 1524, provavelmente em Fevereiro, calculando, mesmo, aqui sem grande fundamento,
que teria ocorrido na noite de 4 para 5, com base nuns versos “autobiográficos” do poeta. O peso do
prestígio republicano de Teófilo Braga, presidente do Governo Provisório (1910–11) e, depois, pre-
sidente interino da República (1915), terá levado à opção por 1924 para o centenário do nascimento
de Camões. Ver a “demonstração” do 5 de Fevereiro de 1524 como data de nascimento de Luís de
Camões na obra de Teófilo Braga, Os Amores de Camões, Porto, edição da «Renascença Portuguesa»,
s.d. [1917], pp. 38-43 (pelo menos, já explanada no vol. II, dedicado à “Renascença”, da História da
Literatura Portuguesa, publicado no Porto, em 1914).

79
F eriados em Portugal

a identificação da capital da República com o Camões “republicanizado” pelo


centenário de 1880, celebrado entusiasticamente em Lisboa, cidade, aliás, apontada
como o mais provável local de nascimento do grande poeta37.
Feriado na capital, que detinha praticamente a hegemonia da propaganda
política e que concentrava o grosso dos corpos burocráticos da administração
pública, e no único verdadeiramente grande aglomerado urbano – apenas com
a alternativa do Porto – num país essencialmente rural, a ligação do 10 de Junho,
agora festa anual de Portugal, a feriado nacional, não seria, de facto, muito
estranha. Mas, em rigor, durante a I República, não o foi38. Ou melhor, chegou
a sê-lo uma vez, excepcionalmente, antes desta lei de 1925. Justamente no ano
da instituição do “14 de Agosto” como Festa do Patriotismo, em 1920. Neste
ano, e relacionado com o desígnio de perpetuar a memória da participação
portuguesa na I Guerra Mundial, questão que abordaremos mais adiante, o 10
de Junho é declarado “feriado nacional”, fazendo-se coincidir o dia da morte
de Camões com o “dedicado à inauguração dos monumentos concelhios em
homenagem aos portugueses mortos pela Pátria na Grande Guerra em África,
na França e no Mar”39.

37 O fim do culto dos Santos populares deixou a capital sem a sua grande festa tradicional. O
Governo e a Câmara de Lisboa, conscientes dessa la­cuna, procuraram, em 1913, compensá-la com
as “Festas da Cidade”, uma “grande festividade cívica em honra de Camões”, abrangendo uma sema-
na com­pleta (9 a 15 de Junho), naturalmente a partir do dia 10, feriado munici­pal. Pensadas com um
claro “objectivo de propaganda do regime republicano”, visavam igualmente “mostrar a todo o país
e ao estrangeiro que Lisboa, re­flexo do viver da Nação, gozava de uma atmosfera de calma, ordem
e prospe­ridade, que os adversários do regime se compraziam em negar como verda­deira” (no dizer
de A. H. de Oliveira Marques, História do Selo Postal Português. 1853-1953, 3 vols., 2ª ed., Lisboa,
Planeta Editora, 1995, vol. II, t. II, pp. 179-91). Para custear as despesas, o governo de Afonso Costa
recorreu a uma emissão de uma estampilha comemorativa e de aposição obriga­tória.
38 Também nenhum Almanaque o regista como tal, aparecendo sempre ao longo destes anos,
como feriado municipal em Lisboa. Os Índices do Diário do Governo de 1924 a 1926, quanto ao
tema “feriados”, não referem, de igual modo, qualquer determinação relativa ao 10 de Junho. Mais:
vincando bem a distinção, a lei n.º 1.783 aparece, sim, na rubrica “Festas” – ver. COLP, 1925-II. Em
1926, obviamente, já depois do 28 de Maio, não terá surgido qualquer comemoração de vulto, dado
o período conturbado que se seguiu ao movimento militar que, a 9 de Junho, dissolveu o Congresso
da República.
39 Lei n.º 983, de 4 de Junho de 1920, D.G. n.º 116, decretada pelo Congresso e pela Presidência
do Ministério, então ocupada pelo coronel António Maria Baptista, do Partido Democrático, com
António José de Almeida como Presidente da República – ver COLP, 1920-I. Pode ter marcado
o momento da colocação da primeira pedra, pois parece que o primeiro a ser inaugurado foi o
de Condeixa, no ano seguinte. Sobre esta questão, ver F. Catroga, História da História, vol. 2,
pp. 334-336.

80
A laicização do tempo na R epública

Os feriados extraordinários

O conturbado período de fins de 1917 a 1920 – contestação a Afonso Costa,


a “República Nova” com a Revolução de Dezembro de Sidónio Pais, fim da Grande
Guerra e do sidonismo, “Monarquia do Norte” e regresso da “República Velha”
– vai criar condições favoráveis para intensificar a declaração de feriados nacionais
extraordinários, processo que evidencia o vínculo da celebração e da comemora-
ção como reforço ou instauração de novas legitimidades políticas. Sidónio, em
especial, utilizou-o com a manifesta intenção de conferir a maior solenidade
possível aos momentos políticos mais marcantes da “República Nova” e que,
naturalmente, se apresentavam, também, como actos refundadores.
Assim, o 9 de Maio de 1918 é considerado “feriado nacional”, porque “assume
as suas funções o primeiro presidente da República Portuguesa eleito por sufrá-
gio universal directo”40. O 22 de Julho é “Feriado Nacional e de Grande Gala”
para a abertura “solene” do 1.º Congresso da República depois da Revolução do
5 de Dezembro41. O fim da Grande Guerra, com Portugal no campo dos Aliados
vencedores, foi aproveitado por Sidónio Pais para capitalizar para a “República
Nova” a “Vitória”, para a qual a Nação portuguesa tinha contribuído. Assinado o
Armistício a 11 de Novembro, Sidónio decreta o dia seguinte, 12 de Novembro
de 1918, como “Feriado e Festa Nacional”. Duas semanas depois, como deve
ter sido acordado entre os Aliados, era também declarado “Feriado” e “Festa
nacional” o dia 28 de Novembro – que corresponde ao dia da abdicação do
Kaiser Guilherme II – como “Festa Internacional entre as Nações Aliadas para
celebração da Vitória”42.
Não obstante toda esta sucessão de feriados extraordinários, a nova República
“nacional” vai ainda não só assinalar o seu primeiro aniversário, mas também
proceder à instituição, daí em diante, da sua própria autocomemoração. Com

40 Decreto do Ministério do Interior n.º 4.222, de 8 de Maio de 1918, D.G. n.º 99-Supl.. Ver
COLP, 1918-I.
41 Decreto da Secretaria de Estado do Interior n.º 4.687, de 19 de Julho de 1918, D.G. n.º 161-Supl..
Ver COLP, 1918-II.
42 Cfr., respectivamente, decretos da Secretaria de Estado do Interior n.ºs 4.951, de 11 de
Novembro de 1918, D.G., n.º 244, e 4.997, de 25 de Novembro de 1918, D.G. n.º 256. Ver COLP,
1918-II.

81
F eriados em Portugal

efeito, Sidónio Pais chegou mesmo a acrescentar um feriado fixo anual aos seis
que já vinham de 1913. Poucos dias antes de ser assassinado (14 de Dezembro
de 1918), publicava-se o decreto n.º 5.028 de 4 de Dezembro, da Presidência da
República, pelo qual eram declarados, apenas com três dias de intervalo, mais
dois dias feriados e “de festa nacional”: 5 de Dezembro, para “comemorar o glo-
rioso aniversário da Revolução” de Dezembro de 1917; e 8 de Dezembro, “o dia
da sua vitória”. Não só nesse ano de 1918, mas também “nos anos futuros” deve-
ria ser feriado nacional o 8 de Dezembro43.

A Grande Guerra e o valor militar português motivariam ainda o primeiro


feriado extraordinário declarado pela nova “República Velha”. O Congresso aprovou
a lei n.º 843, do Ministério do Interior, de 11 de Julho de 1919, que considerava
“Feriado Nacional” o dia 14 de Julho, com vista a uma “condigna celebração das
festas nacionais” a realizar “em comemoração da Paz e em honra do Exército e da
Marinha”. Depois de longos meses de negociações na Conferência de Versalhes,
tinha-se, finalmente, assinado o Tratado de Paz com a Alemanha em 28 de
Junho. A República Portuguesa escolhia para os festejos a data que coincidia
com a festa emblemática da República Francesa, a tomada da Bastilha. Embora
com o almirante Canto e Castro na Presidência da República – monárquico mas
que sempre jurou fidelidade à República –, esta lei é do governo de Ernesto Sá
Cardoso, o primeiro ministério inteiramente democrático, já sem qualquer
elemento ligado à situação dezembrista-sidonista. Para vincar bem o retorno à
“República Velha”, é este governo que, pouco tempo depois, faz aprovar a lei n.º
846, do Ministério do Interior, de 24 de Julho, que expressamente revogava o
decreto n.º 5.028 de 4 de Dezembro de 1918, com que Sidónio Pais tinha instituído

43 Ver art.º 2.º, D.G. n.º 262, COLP, 1918-II. Os dois dias (5 e 8) foram feriados, mas o dia 8
calhou a um domingo, tendo, aqui, sido expressamente impedida a possibilidade, prevista na lei,
de ser gozado na segunda-feira, dia 9. Não deixa de ser significativo o facto de Sidónio ter optado
pelo 8 de Dezembro para marcar o início da “República Nova”, dia da demissão de Bernardino
Machado e do triunfo da Revolução desencadeada a 5. A “República Velha” também se implantara
a 5 de Outubro de 1910, quando triunfou a Revolução iniciada na noite de 3 para 4 de Outubro.
Ao demitir à força Bernardino Machado, Sidónio Pais, violando a Constituição de 1911, abolia-a e
rejeitava a legitimidade republicana do 5 de Outubro encontrando-se, assim, perante a exigência de
instaurar uma nova legitimidade. No entanto, a nova Constituição só estaria pronta em Dezembro
de 1918, por altura do seu assassinato (ver Armando Malheiro da Silva, Sidónio e Sidonismo, vol. 2,
Coimbra, Imprensa da Universidade, 2006, pp. 401-413.

82
A laicização do tempo na R epública

o 8 de Dezembro como feriado nacional, data que nunca chegou, assim, a ser
comemorada como tal44.
De um governo dos democráticos, agora de Domingos Leite Pereira, e já com
António José de Almeida na Presidência, vai partir a iniciativa de comemorar o
primeiro aniversário da reafirmação da República com a derrota da “Monarquia
do Norte” em Janeiro – Fevereiro de 1919. O Congresso decreta feriado nacional
o dia 24 de Janeiro de 1920 e, em Fevereiro, é considerado feriado o dia 13 nos
seguintes distritos: Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Viseu e
Aveiro. Os textos legislativos não apresentavam qualquer fundamentação, julga-
da dispensável, mas não deixa de ser curioso que se dê expressão nacional à
derrota das forças monárquicas na capital, em Monsanto (24 de Janeiro), acres-
centando-se um feriado, talvez para “emendar” o esquecimento do esforço dos
resistentes republicanos no Norte, restrito às zonas do país que tinham estado
sob domínio da regência de Paiva Couceiro até à sua rendição definitiva no
Porto (13 de Fevereiro)45.
Para terminar este rol de feriados extraordinários que a I República foi de-
cretando, resta-nos mencionar o 18 de Outubro de 1917 que, com o já referido
5 de Fevereiro de 1924 relativo ao nascimento de Camões, foi o único declarado
oficialmente por ocasião da passagem de centenários46. O governo democrático
de Afonso Costa, já depois do rompimento da “União Sagrada”, leva o Congresso
a decretar que o “18 de Outubro de 1917, primeiro centenário da execução do
patriota Gomes Freire de Andrade e da dos seus companheiros de acrisolado
patriotismo”, é “feriado nacional, em homenagem à memória do brioso e valente
soldado, dos patriotas insignes e dos mártires augustos da Pátria e da Liberdade”,

44 Ver COLP, 1919-II, D.G. n.ºs 136 e 145. Conforme já fizemos referência, como se tratava
de um feriado para comemoração anual, era necessário um acto legislativo que explicitamente
revogasse o que o tinha fixado.
45 Leis n.º 930, da Presidência do Ministério, de 23 de Janeiro, D.G., n.º 19, e n.º 937, do
Ministério do Interior, de 12 de Fevereiro, D.G., n.º 32. Ver COLP, 1920-I. A Monarquia foi proclamada
no Porto a 19 de Janeiro, revoltando-se as tropas monárquicas em Lisboa a 22. Aqui rapidamente
neutralizadas, mesmo depois de os republicanos retomarem o poder no Porto, os últimos redutos
monárquicos dispersos pelo norte só foram totalmente eliminados a 25 de Fevereiro.
46 Não teremos em conta os motivados por circunstâncias imprevistas, como o falecimento de
algum vulto nacional. Apenas a título de exemplo, o governo de José Domingues dos Santos, sendo
Manuel Teixeira Gomes Presidente da República, decretou feriado, e de luto nacional, o dia 15 de
Dezembro de 1924, em memória de A. Sacadura Cabral, que havia pouco antes desaparecido numa
viagem aérea. Ver COLP, 1924, II (lei 1694, de 13 de Dezembro, D.G., n.º 278).

83
F eriados em Portugal

pela lei n.º 814 de 6 de Setembro de 1917, da Presidência da República, ainda


ocupada por Bernardino Machado47.
A conspiração de 1817 e a figura de Gomes Freire sempre suscitaram os mais
extremados juízos, determinados por posições ideológicas claramente antagónicas.
Resumindo: sem lugar para qualquer atenuante, Freire foi exaltado à esquerda
– liberalismo radical, vintista e setembrista, e republicanismo – e execrado à
direita, desde o legitimismo aos integralistas e ao nacionalismo tradicionalista
e conservador48. A evocação da memória do sacrifício do “soldado”, que tinha
combatido os alemães ao serviço da França napoleónica e que se tinha revoltado
contra a tutela inglesa sobre Portugal traduzida no poder de Beresford, revelava
o sentido, no fundo antibritânico, da política democrática de beligerância na
frente franco-belga. João Chagas resumiu claramente a situação quando considerou
a Inglaterra como o principal inimigo de Portugal na Grande Guerra. A posição
inglesa, contrária à participação portuguesa no teatro europeu, visava impedir,
no entendimento de Afonso Costa e dos intervencionistas, a plena “independên-
cia” de Portugal como igual parceiro no concerto da comunidade internacional.
Por outro lado, em Setembro - Outubro de 1917 já não era possível ignorar, face
às condições precárias da sua organização e à não rendição das tropas na frente,
o descontentamento e a desmoralização do Corpo Expedicionário Português
(CEP), atolado há já longos meses na lama das trincheiras49, que apenas teve
algumas celebrações locais.

47 Diário do Governo, I Série, n.º 152, quinta-feira, 6 de Setembro de 1917.


48 Teófilo Braga, na História das Ideias Republicanas em Portugal (1880), classifica a conspi-
ração de 1817 como “o primeiro gérmen da liberdade em Portugal” (ed. da editorial Vega, Lisboa,
1983, pp. 33-34). À instituição do feriado, António Sardinha reagiria deste modo: “O dia de hoje (18
de Outubro de 1917), feriado nacional, é um insulto cuspido à dignidade e ao respeito de todos os
portugueses”, considerando Gomes Freire “mau carácter, mau soldado e mau patriota” (cfr. “Gomes
Freire. Revisão dum Processo”, in Ao Princípio era o Verbo. Ensaios & Estudos, Lisboa, Portugalia,
1924, pp. 43-88).
49 Para a interpretação da opção beligerante do Partido Democrático, determinada por razões
de pura política interna e como instrumento de pressão diplomática, bem como para o abandono
e o “exílio” do CEP, muito antes da revolução sidonista, ver. V. Pulido Valente, A «República Velha»
(1910–1917). Ensaio, Lisboa, Gradiva, 1997, e Rui Ramos, “As Guerras da República”, História de
Portugal, vol. 6, pp. 493-527. Entretanto, foram saindo outras obras sobre a entrada de Portugal na
Primeira Guerra Mundial, a começar pela tese de Nuno Severiano Teixeira, O Poder e a Guerra
1914-1918. Objectivos nacionais e estratégias políticas na entrada de Portugal na Grande Guerra,
Lisboa, Estampa, 1996.

84
A laicização do tempo na R epública

Não deixa de ser assinalável a lembrança de 1817, que procurámos contex-


tualizar, se a compararmos ao esquecimento a que foi votada a passagem do
primeiro centenário da Revolução liberal de 1820. Nem festa, nem feriado nacio-
nal, nem comissão oficial. O governo de António Granjo – no poder desde 19 de
Julho (cairá a 19 de Novembro) –, que tinha aceitado a “Festa do Patriotismo”
para o 14 de Agosto da vitória de Nuno Álvares Pereira, já não encontrou lugar
para comemorar o 24 de Agosto da revolução vintista do Porto50.

E os dias santos?

Vejamos, entretanto, o que se tinha passado relativamente aos dias santos.


Se, nos nossos dias, como temos dito, o termo “feriado”, em sentido lato,
engloba tanto os dias consagrados às festividades cívico-políticas como os dedi-
cados às celebrações de cariz religioso (a exemplo de outras línguas, com uma
só palavra para as duas dimensões, holiday ou jour férié), a situação criada pela
I República – em parte, já viria da Monarquia constitucional, mas por outras
razões – operou uma distinção que veio a resultar numa tensão que opunha os
dois termos, feriados versus dias santos. Por um processo de restrição semântica,
os feriados eram só os da Nação, comunidade cívico-política, excluindo os dias
santificados pela Igreja, dias que o Estado não reconhecia.
Não os reconhecendo, não os fazia desaparecer. Surgiam e sucediam-se na
marcha inexorável do calendário, continuando a Igreja a conferir-lhes a máxima
solenidade possível e os fiéis a tentar minimamente observá-los.
Retomando o quadro dos dias santos, verifica-se que, por mera coincidência,
logo a seguir à implantação da República vai haver uma nova e profunda remo-
delação por parte da Igreja. Com efeito, a Santa Sé, denunciando, de novo, um
claro objectivo de uniformização do rol dos dias santificados, vai proceder a uma
significativa redução dos dias de preceito. Impunha-se um elenco fixo e geral das
festividades religiosas e exigia-se, para estas, um mais rigoroso cumprimento de

50 Nesse ano de 1920, de facto, além dos seis feriados fixos e da celebração de Aljubarrota, já
tinham sido gozados, recordemos, o 24 de Janeiro e o 13 de Fevereiro (este só no Norte) e o 10 de
Junho, associado à evocação dos mortos na Grande Guerra.

85
F eriados em Portugal

assistência à missa e da abstenção de “trabalhos servis”. A resolução pontifical,


de 2 de Julho de 1911, do papa Pio X, decretava como dias santos unicamente
os oito seguintes: Circuncisão (1 de Janeiro), Epifania (6 de Janeiro), Ascensão
(móvel), Apóstolos São Pedro e São Paulo (29 de Junho), Assunção de Nossa
Senhora (15 de Agosto), Todos os Santos (1 de Novembro), Imaculada Conceição
(8 de Dezembro) e Natal (25 de Dezembro)51.
Era manifesta a intenção uniformizadora, pois fazia-se expressa menção à
queda dos dias consagrados aos padroeiros das várias Igrejas. Contudo, o do-
cumento previa a possibilidade de os bispos poderem recorrer à Santa Sé, se
julgassem “conveniente conservar algumas das festas abolidas”. Devem ter sido
imediatos os recursos porque, logo a 24 do mesmo mês de Julho, a Congregação
dos Ritos, em atenção aos pedidos de “alguns” bispos, revogava a transferência
das solenidades das festas de São José (19 de Março) e do Corpo de Deus (quinta-
-feira móvel), embora dispensados do preceito. Em 2 de Dezembro de 1911, o
Patriarca de Lisboa, D. António Mendes Belo (que seria exilado durante dois
anos, em Gouveia, pelo governo da República), publicava a provisão que punha
em vigor a resolução papal52.
Anos mais tarde, por meados da década de 1920, as duas festas que Roma
tinha acedido em manter nos dias habituais, a de São José (19 de Março) e a do
Corpo de Deus (móvel), voltam a aparecer plenamente como dias santos53.
Recordemos que o Corpo de Deus era uma das mais tradicionais e exteriores
solenidades da Igreja, e, em Portugal, a procissão no dia desta festa era uma das
mais importantes e espectaculares, contando sempre com uma grande participação,
sendo especialmente notável a de Lisboa.

51 Portanto, no caso português, mais de metade eram dispensados, suprimidos ou transferidos


para o domingo imediatamente a seguir. Na diocese de Lisboa, caíam logo os dois, o 22 de Janeiro
(São Vicente, também para o Algarve) e o 13 de Junho (Santo António). Para o país em geral eram
suprimidos a Purificação (2 de Fevereiro), São José (19 de Março), Anunciação (25 de Março), as
meias Quinta e Sexta-Feiras de Páscoa, o Corpo de Deus e o Coração de Jesus (móveis) e o São
João (24 de Junho).
52 Ver todos estes documentos no Almanach Bertrand, 1913, Lisboa, pp. xxx-xxxv. Este
Almanaque é, de todos, o mais “católico”, isto é, o que dá a informação mais pormenorizada sobre as
festas religiosas ao longo de todo o calendário anual, precisando, por exemplo, quais os dias santos
em vigor. A partir deste número, os dias santos dispensados aparecem assinalados como “antigos”.
53 De facto, embora não possamos precisar a data, o Almanach Bertrand, a partir de 1926,
volta a marcar estes dois dias como santos.

86
A laicização do tempo na R epública

Fixemos, portanto, que era este o elenco dos dias santificados pela Igreja, ao
tempo do derrube da I República e da instauração da Ditadura Militar. Uma vez
que não conhecerá qualquer alteração nas décadas seguintes, irá permanecer em
vigor muito para além da institucionalização do Estado Novo, em 1933. Numa
lógica de separação do Estado da Igreja, esses dias santos não eram, porém,
considerados feriados oficiais pela República e, como veremos, o próprio regime
corporativista de Salazar demorou a recuperá-los como dias de “feriado nacional”.

87
(Página deixada propositadamente em branco)
3

NADA DE NOVO…
a “ ditadura nacional”

Continuidade republicana

A autodenominada “Ditadura Nacional” ou Ditadura Militar (ditadura sem


ditador) não mexeu, praticamente, no quadro herdado do período anterior ao
28 de Maio de 1926. Como hoje é notório, depois de alguns trabalhos significa-
tivos sobre o período, a imagem de uma ruptura total operada pelo movimento
militar iniciado em Braga é uma construção posterior e ideologicamente marcada.
Curiosamente, foi inculcada – embora por razões diametralmente opostas –, quer
pelos sectores republicanos que permaneceram na oposição a Salazar, quer pelos
ideólogos do Estado Novo, interessados em vincar o carácter irreversível da era
do Salazarismo e que chegaram a datar a “Revolução” a partir desse ano de 1926.
Não obstante o envolvimento de forças e individualidades católicas, monárqui-
cas e integralistas no movimento que levou ao derrube da República “demoliberal”
– e as várias tentativas para dele se apoderarem –, a componente republicana
permanece central, particularmente decisiva, nas chefias militares da situação ins-
tituída pela acção do 28 de Maio, quer por parte do republicanismo conservador,
que acatava uma solução ditatorial “transitória” em busca de uma reforma da
República, quer por sectores mais à direita, que acabaram por aderir à ideia da
necessidade de um regime autoritário institucionalizado, recusando qualquer tipo
de retorno ao sistema partidário. Daí que a componente “republicana” venha a ser
estruturante no equilíbrio político primordial do Estado Novo. A República é,

89
F eriados em Portugal

como se sabe, um regime, onde poderia ser inserido qualquer sistema político e
económico-social. Mesmo depois de a tendência autoritária e corporativa se vir a
tornar predominante, o que só é evidente a partir de 1930 (depois de Salazar se
tornar ministro das Finanças em Abril de 1928), o certo é que se poderia manter um
regime republicano, assim como, ao invés, Mussolini, apesar de tendencialmente
republicano, veio a construir o seu sistema fascista num regime monárquico.
Por isso, compreende-se que se a Ditadura Militar procurou ter um novo re-
lacionamento com a Igreja, que passou pela abertura à colaboração política dos
“católicos”, e se depois do Acto Colonial (1930) concedeu mesmo, formalmente,
alguns direitos aos missionários no domínio da educação e da assistência, certos
princípios laicos permaneceram “intangíveis”. A conveniência “nacional” em su-
perar a crispação característica do tempo dos “democráticos” – aliás, o próprio
António Maria da Silva, que dominou os arranjos governativos nos últimos anos
da I República em virtude do “exílio” de Afonso Costa, já a tinha procurado
atenuar –, não impediu uma vigilância por parte da sensibilidade republicana,
atenta a certas movimentações e medidas que pusessem em causa o Estado
aconfessional e laico.
O incidente da “portaria dos sinos” seria bem sintomático dessa situação.
Mário de Figueiredo, ministro da Justiça e dos Cultos (denominação que vinha
da República e que se manteve até 1933, início legal do Estado Novo) e amigo de
Salazar, emitiu a portaria n.º 6.259, de 26 de Junho de 1929, que dava algumas
liberdades a manifestações públicas do culto católico, como o tradicional toque
dos sinos. Surgiram logo protestos de carácter anticlerical, mesmo no seio de
ministros do governo, chefiado por José Vicente de Freitas. Mário de Figueiredo
pediu a demissão, que lhe foi concedida em 8 de Julho. Salazar, evidenciando já o
seu pragmatismo (que constituía uma das características do seu comportamento
político), continuou no governo, a partir de então chefiado por Artur Ivens Ferraz1.

1 Ver sobre os temas sintetizados Luís Bigotte Chorão, A crise da República e a Ditadura Militar,
Lisboa, Sextante, 2009, António de Araújo, Sons dos sinos. Estado e Igreja no advento do Salazarismo,
Coimbra, Fenacitas, 2009, Manuel Braga da Cruz, O Estado Novo e a Igreja Católica, Lisboa, Bizâncio,
1998, “Introdução”, pp. 11-16 e A. Ivens Ferraz, A Ascensão de Salazar. Memórias de Ivens Ferraz.
Prefácio e notas de César Oliveira. Lisboa, O Jornal, 1988, pp. 106-107. Note-se que durante o gover-
no de Ivens Ferraz, no segundo semestre de 1929, foi criada a “Junta Liberal” – com a qual o chefe
do Governo simpatizava, embora tivesse confessado que não permitiu a sua oficialização –, “da
qual poderiam fazer parte todos os republicanos liberais”, Junta essa que se destinava “a defender as
prerrogativas do Estado laico” e se apresentava “como instituição anticlerical mas não anti-religiosa”.

90
Nada de novo…

Daí que a questão do reconhecimento dos dias santos não fosse sequer
colocada e não se alterasse o quadro das festas republicanas, expressão simbó-
lica de garantia da continuidade da República, agora considerada em vias de
“regeneração” e verdadeiramente “nacional”, isto é, não partidária, mas, funda-
mentalmente, laica. A Ditadura Militar procedeu somente à fixação definitiva
de um novo feriado, mas cuja introdução se apresentou mais como uma precisão
ou um esclarecimento. Foi, justamente, o 10 de Junho. A eventual “confusão”,
atrás referida, terá levado a oficializar como feriado nacional o dia, já feriado
em Lisboa, da celebração anual da “festa de Portugal”. Data passível de receber
a unanimidade da Nação, sublinharia o carácter “nacional” do programa de
saneamento da República.
O próprio texto do decreto (n.º 17.171, de 29 de Julho de 1929) promulgado
pelo Presidente Carmona, era evidente2. “Considerando que dúvidas de vária
ordem se têm levantado sobre quais são os feriados gerais da República” e “consi-
derando assim que é necessário fixar de vez quais são os únicos feriados gerais da
República, para que tais dúvidas não possam tornar a surgir”, eram especificados
os, agora, sete feriados nacionais, incluindo o 10 de Junho, “Comemorativo da
Festa de Portugal” (artigo 1.º). Os outros mantinham a evocação das datas e valores
para que tinham sido instituídos. Apenas o 1.º de Dezembro, antes dedicado à
“autonomia da Pátria”, era, agora, em tempos mais nacionalistas, vincadamente
“Comemorativo da restauração da Independência”. Só em 1929, portanto, o dia
de Camões se tornou verdadeiramente feriado nacional.

Os feriados excepcionais:
a memória da Grande Guerra e o regresso de Santo António

Além deste reajustamento, temos notícia, no período da Ditadura Militar, da


declaração de dois feriados excepcionais que merecem alguma atenção.
Um pouco aleatoriamente, logo em 1926, o então presidente do Ministério,
general Carmona, na véspera do “8.º aniversário do armistício, e atendendo à

2 Publicado no Diário do Governo, I Série, n.º 174, quinta-feira, 1 de Agosto de 1929. Só a partir
de 1930, e sem dúvida com base nesta lei, os Almanaques começam a registar o 10 de Junho como
feriado nacional – ver Almanach Bertrand. 1930, Lisboa.

91
F eriados em Portugal

solenidade do dia”, decretava que era “considerado feriado o dia 11 de Novembro”


do ano então em curso3. Poderá ser inserido no já referido movimento de culto
aos Mortos da Grande Guerra, iniciado nos princípios da década de 1920 e que
se traduziu na construção, um pouco por todo o país, de cerca de cinquenta
monumentos dedicados aos soldados portugueses tombados na I Guerra Mundial4.
Outras motivações terão estado na base desta decisão. Por um lado, ao co-
memorar o dia da vitória, evocando “o heroísmo do Exército no sacrifício pela
Pátria”, o Governo militar procuraria uma legitimidade para a missão patriótica,
que “o dever” lhe tinha “imposto”, de “salvar o regime e regenerar a Nação”. Por
outro lado, recordando a unidade no combate nas trincheiras, lançaria um apelo
à coesão das Forças Armadas, no seio das quais estava longe de existir uma
concórdia política, como, de resto, já se tornara evidente pelas lutas nos basti-
dores logo a seguir ao 28 de Maio, com o sucessivo afastamento de Mendes
Cabeçadas e de Gomes da Costa, e como os anos seguintes iriam revelar,
especialmente com as revoltas militares de 1927 e de 1931.
O outro feriado extraordinário, concedido em Junho de 1931, de Santo António,
terá talvez outras implicações, sobretudo decorrentes da clara intenção de afir-
mar, por parte do Estado, uma primeira caução à celebração de uma festividade
de cariz religioso, tanto mais que se poderá relacionar com algumas disposições
de um decreto saído menos de três meses antes. Com efeito, visando a regu-
lamentação da “comparência dos funcionários e das suas faltas ao serviço”, o
decreto n.º 19.478, da Presidência do Ministério, então a cargo do general
Domingos de Oliveira, confirmava os sete feriados fixados pelo citado decreto
n.º 17.171 de 1929 e, no artigo 32.º, definia os momentos em que seria possível,
embora cabendo a decisão aos ministérios, a dispensa da “comparência dos fun-
cionários nos serviços públicos”. Estas facultativas tolerâncias de ponto poderiam

3 Decreto n.º 12.635, de 10 de Novembro, publicado no Suplemento ao Diário do Governo, I


Série, n.º 252, quarta-feira, 10 de Novembro de 1926.
4 Tinha esta comemoração uma inspiração dominantemente republicana, como refere F. Ca-
troga, pois o presidente da Comissão dos Padrões de Guerra foi, durante muitos anos, o general
Norton de Matos, um dos executores da política de guerra do Partido Democrático. O 11 de Novem-
bro era já comemorado, naturalmente, em França e, como já se aludiu, ainda hoje é ali feriado. Em
Portugal, no entanto, era, e será, como veremos, tão ou mais, evocada a data da batalha de La Lys
(9 de Abril de 1918). Por outro lado, 1926 não coincidia com o final de um período certo ou perfeito
de anos (lustro, década, 25 anos, etc.). Ver também Jorge Pais de Sousa, O fascismo catedrático de
Salazar, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2011, sobretudo pp. 207-228.

92
Nada de novo…

ser observadas “na terça-feira de Entrudo” e na “Sexta-Feira de Paixão” e as


repartições encerrar “às catorze horas, na Quinta-Feira Santa e no dia 24 de
Dezembro”5.
Com esta medida de carácter administrativo, o “Estado republicano”, pela
primeira vez desde 1910, ao conceder a possibilidade de os funcionários públicos
festejarem mais intensa e prolongadamente as quadras da Páscoa e do Natal
– embora alargando-a também à do Carnaval –, acabava por permitir que se
retirassem consequências públicas, por parte dos fiéis, da celebração das mais
importantes datas do calendário religioso.
Aberta esta brecha, a Ditadura Militar associou-se, pois, à comemoração do
VII Centenário da morte de Santo António, que, ao fim de vinte e um anos, vol-
tava a ser festejado oficialmente em Portugal. O impacto das festas do centenário
do seu nascimento, em 1895, terá levado a assinalar o da sua morte, em 1931
– a exemplo do sucedido com Camões –, como marco de uma nova resposta
católica ao laicismo da República. Com data de 30 de Maio, o ministro do
Interior, coronel Lopes Mateus (o mesmo que havia discursado, com o presidente
do ministério, general Domingos de Oliveira, e Salazar, ministro das Finanças,
aquando da apresentação do manifesto da União Nacional, em 30 de Julho de
1930), publicava o decreto n.º 19.860 que considerava “feriado nacional o dia
13 de Junho” desse ano. O Governo procurava estar em sintonia com o sentir
profundo da Nação e ia mais além da simples neutralidade6.
Não deixa de ser interessante a escolha, se nos lembrarmos que este ano de
1931 foi particularmente agitado e decisivo no processo de ascensão política de
Salazar. Logo em Janeiro, o Governo do general Domingos de Oliveira publica
uma nota oficiosa, reafirmando a obediência aos princípios da União Nacional e
a impossibilidade de qualquer tipo de retorno à situação anterior ao 28 de Maio;
em Abril, paralelamente à implantação da República em Espanha, que se seguiu
à queda da ditadura do general Miguel Primo de Rivera e que deu um novo

5 Decreto n.º 19.478, publicado no Diário do Governo, I Série, n.º 64, quarta-feira, 18 de Março
de 1931. Pelos Índices da COLP, o dia de Carnaval já tinha sido feriado nos anos de 1914, 1915, 1916
e 1918, mas apenas para os funcionários do Ministério da Justiça.
6 Ver Diário do Governo, I Série, n.º 132, segunda-feira, 8 de Junho de 1931. Nesse decreto o
Governo considerava essas manifestações de “carácter nacional”, afirmava querer associar-se a essa
“comemoração” e desejava criar condições no sentido de permitir que a data “em toda a Nação”
pudesse ser “festejada”.

93
F eriados em Portugal

alento aos republicanos oposicionistas, eclodem as revoltas na Madeira, nos Açores


e na Guiné e nota-se uma agitação estudantil nas Universidades; em Maio, Porto
e Lisboa conhecem manifestações contra a Ditadura e, mesmo depois da reacção
governamental, os distúrbios prolongam-se na capital, com rebentamento de
bombas, sendo efectuadas prisões; finalmente, em Agosto, fracassa uma revolta
militar, após combates violentos. O governo e a União Nacional, já sob a orien-
tação de Salazar, decidem contra-atacar em 17 de Maio com uma manifestação
de força em Lisboa7. O 5.º aniversário do 28 de Maio é, igualmente, aproveitado
para esta reacção da Ditadura. Depois dos encarniçados recontros na capital no
“26 de Agosto”, a inauguração do Monumento aos Mortos na Grande Guerra na
Avenida da Liberdade poderia proporcionar um novo apelo a umas Forças
Armadas unidas, garantes dos interesses superiores da Nação, evocando os sa-
crifícios na Flandres e em África. Assim, o 11 de Novembro desse ano de 1931
voltou a ser declarado feriado, para que nesse dia, do Armistício ou da Vitória,
fosse inaugurado o monumento8. Naquela data – que se augurava de mau tempo
– ainda se verificaram desfiles e marchas militares. Todavia, a inauguração da
estátua, presidida pelo presidente Óscar Carmona, só se veio a verificar em 22
de Novembro9.
Face à confessada ameaça que a República espanhola constituiria – e as elei-
ções de Junho confirmaram o novo regime no país vizinho –, pelo apoio que
daria às tentativas dos republicanos exilados com vista ao derrube da Ditadura
Militar, o que voltou a provocar as acusações de manobras republicanas iberistas,
teria lógica o aproveitamento, por exemplo, do 14 de Agosto, vincado como
feriado oficial, ainda que fosse só excepcionalmente. Acrescente-se que 1931

7 Aclamação de Carmona em Belém, concentração junto ao monumento dos Restauradores


repudiando a “união ibérica”, desfile fluvial no Tejo, sessão no Teatro São Carlos e, culminando,
uma jornada de “doutrinação e de afirmação política” no Coliseu, com a presença dos dirigentes
máximos da União Nacional, pertencendo a Salazar a intervenção política de fundo (cfr. “O inte-
resse nacional na política da Ditadura”, in Oliveira Salazar, Discursos, vol. I, 1928-1934, Coimbra,
Coimbra Editora, 1935, pp. 113-134). Ver também Franco Nogueira, Salazar. Vol. II. Os tempos áureos
(1928–1936), Coimbra, Atlântida, 1977, pp. 115-121.
8 Decreto n.º 20.487 de 6 de Novembro de 1931, D.G. n.º 259; ver COLP, 1931-II. O Governo,
ainda presidido pelo general Domingos de Oliveira, não apresenta fundamentação para a decisão.
Embora a cerimónia fosse só relativa ao Monumento da capital, pretendeu-se dar um carácter nacio-
nal ao acto comemorativo, uma vez que o texto refere, com alguma aparente contradição, “Feriado
Nacional, em Lisboa”.
9 O Século. 23 de Novembro de 1931.

94
Nada de novo…

era também o ano do V Centenário da morte de D. Nuno Álvares Pereira (teria


falecido em 1 de Novembro)10. Aliás, embora deixada cair pelos governos “demo-
cráticos”, como vimos, nunca teria sido revogada, ao que julgamos, a celebração da
“Festa do Patriotismo” no dia 14 de Agosto11.
A comemoração do Centenário teve, com efeito, um grande relevo, quer em
Lisboa, particularmente dirigido à instituição militar, quer no perímetro “sagrado”
de Ourém, Batalha e Aljubarrota e que se alargou a Fátima, pois as cerimónias, de
13 a 15 de Agosto, coincidiram com a peregrinação habitual deste mês na Cova da
Iria. O tom que os sectores católicos deram à “Festa da Pátria” privilegiou a ex-
pectativa de um novo relacionamento entre a Igreja e o Estado, visando superar
o laicismo até aí dominante, pelo laço que o exemplo da união do patriotismo
e da fé no Santo Condestável poderia inspirar12. Mas não se insistiu na oficia-
lização do 14 de Agosto como feriado. A Igreja por certo também não estaria
demasiado interessada nessa formalização, dado que estaria sim na expectativa
da negociação dos seus dias santos mais significativos.

Ainda justificam referência duas outras datas que, neste período, nos apare-
cem pontualmente como feriados: o 28 de Maio, que já referimos e de que nas
próximas páginas trataremos mais especificamente, e o 9 de Abril, este a suscitar
algumas considerações.
Já aludimos ao facto de a política intervencionista na I Guerra Mundial ter
sido, essencialmente, representada pelo Partido Democrático e por sectores do
Partido Evolucionista, entre eles o seu líder, António José de Almeida, que che-
fiou o governo da “União Sagrada” (1916–1917). Perante a pressão das oposições,
quer republicana quer do desarticulado, mas vasto, campo conservador, católico
ou monárquico, Afonso Costa terá encarado a intervenção na guerra como forma

10 É neste contexto, como no início do século xx, com o opúsculo de Júlio Dantas, que surge
também uma conferência polémica, contra D. Nuno Álvares Pereira, da autoria do republicano e
intelectual anticlericalista Tomás da Fonseca. A santificação em 2009 de Nuno de Santa Maria – bea-
tificado em 1918 e que já se chamava vulgarmente “O Santo Condestável” –, originou a publicação do
texto de T. da Fonseca: O Santo Condestável. Alegações do Cardeal Diabo (Lisboa, Antígona, 2009).
11 Em 1931, a designação dos festejos foi esta. E, em 1947, o Almanaque de “O Século”, assina-
lando os feriados nacionais com o cariz republicano (ainda eram os sete já referidos), marcava o 14
de Agosto, embora não sendo feriado, como “Consagrado a D. Nun’Alvares Pereira”.
12 Sobre o sentido destas comemorações, com base na cobertura do jornal católico Novidades,
ver F. Catroga, ob. cit., vol. 2, p. 251-254.

95
F eriados em Portugal

de uma estratégia de nacionalizar a República radical13. Se, na altura, a contes-


tação à beligerância de Portugal no conflito e, em especial, ao envio do CEP para
a frente europeia ocidental, foi generalizada e virulenta – o que, em parte, po-
derá ter precipitado o sidonismo –, o próprio facto de, ainda que relutantemente,
o Exército ter combatido nas trincheiras levava-o, naturalmente, anos depois, a
não poder rejeitar o esforço de construção da memória do heroísmo dos comba-
tentes portugueses. Inicialmente, e como já vimos, este esforço foi justamente
liderado pelos democráticos, no sentido de capitalizar para a República a mística
do valor militar ao serviço da Nação. Com o regresso da “República Velha”, logo
em 1921, o 9 de Abril de La Lys é declarado feriado nacional pelo Congresso.
Para este dia, o governo de Bernardino Machado – a Presidência era de António
José de Almeida – marcou a transferência para o Panteão da Batalha de dois
cadáveres de soldados mortos em combate, um em África, outro na Flandres,
instituindo-se em Portugal o culto do “Soldado Desconhecido” que se verificou
em todos os países beligerantes14. Mas, pelo seu próprio conteúdo, esta memória
era passível de apropriação pelo republicanismo militar conservador, investido
numa missão “nacional” e “patriótica”, precisamente contra o partidarismo identi-
ficado com o monopólio do poder exercido pelos democráticos, até para veicular
um desígnio de unidade que as Forças Armadas idealmente representariam. Esta
potencialidade poderá estar na base da decisão de comemorar o 9 de Abril, com
o carácter de feriado nacional, nos dois primeiros anos da Ditadura Militar, 1927
e 192815.

13 Recorde-se, para esta interpretação do belicismo democrático, o ensaio de V. Pulido Valente,


A «República Velha» (1910-1917), pp. 75-104.
14 Lei n.º 1.140, de 6 de Abril, D.G. n.º 70 – ver COLP, 1921-I. Como veremos, nesta primeira
metade da década de 20, os governos democráticos, perante as primeiras propostas de celebrar o
Duplo Centenário em 1940, terão o cuidado de as integrar na evocação da memória do heroísmo
militar português e, particularmente, da participação na Grande Guerra.
15 Pelo decreto n.º 13.422, de 6 de Abril de 1927, D.G. n.º 71, ainda com Carmona como chefe
do Governo, é declarado feriado “em homenagem aos mortos da Grande Guerra”. A mesma fun-
damentação surge em 1928 – o Governo era presidido pelo general José Vicente de Freitas, sendo
Carmona presidente da República –, com o decreto n.º 15.319, de 4 de Abril, D.G. n.º 79 (ver COLP,
1927-I e 1928-I). O facto de o 9 de Abril ter sido feriado nestes dois anos consecutivos pode ter
concorrido igualmente para as “dúvidas” que se instalaram e que levaram o Governo, em 1929, a
esclarecer quais os feriados gerais da República, com o já referido e tratado decreto n.º 17.171, de
29 de Julho.

96
4

O NACIONALISMO DO ESTADO NOVO


novos feriados e regresso dos dias santos nacionais

Festas do Estado salazarista

Com a institucionalização do Estado Novo, em Abril de 1933, após a nomeação


de Salazar para a chefia do governo no ano anterior (5 de Julho de 1932) e com
a aprovação da nova Constituição mediante o plebiscito de Março de 1933, a
relação entre o Estado e a Igreja pautou-se, no essencial, pela manutenção do
equilíbrio conseguido no período da Ditadura Militar. Se uma certa ideologia
católica constitui um dos fundamentos do salazarismo e se a colaboração entre
o poder político e a hierarquia eclesiástica acabou por marcar indelevelmente
a imagem do regime, o acordo constitucional de 1933 manteve um regime de
separação formal do Estado da Igreja1. A heterogeneidade da convergência polí-
tica que levou ao movimento militar de derrube da I República, após algumas
eliminações, à esquerda e à direita, manteve-se no compromisso fundador do
Estado Novo2.

1 Cfr. Constituição de 1933, artigo 46.º. Ver, para além de outros textos entretanto publicadas,
as obras clássicas de Manuel Braga da Cruz sobre este tema, em especial: As origens da Democracia
Cristã e o Salazarismo, Lisboa, Presença, 1980, e O Estado Novo e a Igreja Católica, Lisboa Editorial
Bizâncio, 1998. Ver também Luís Reis Torgal, Estados Novos, Estado Novo, vol. I, parte II, cap. 2,
“Estado Novo, Igreja e católicos”, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2009 (2.ª edição).
2 Para o sistema de alianças entre os representantes das várias correntes políticas e ideológicas
conseguido por Salazar, e estruturante na génese do Estado Novo, ver Fernando Rosas, “Da Ditadura
Militar ao Estado Novo: a «longa marcha» de Salazar”, in José Mattoso (dir.), História de Portugal.
Sétimo Volume: O Estado Novo, Círculo dos Leitores, Lisboa, 1994, pp. 184-188.

97
F eriados em Portugal

Como vimos, uma das componentes essenciais do bloco de apoio a Salazar


foi o republicanismo conservador, dominante nas Forças Armadas, que eram, em
última instância, o sustentáculo decisivo do regime, garantia que a figura de
Carmona simbólica e efectivamente representava3. Dever-se-á ao peso desta
condicionante a resistência a qualquer confessionalização do Estado, bem como,
obviamente, a continuidade inquestionável do regime republicano em que a
nova ordem político-constitucional se formalizou. Daí que fosse natural uma
particular sensibilidade na defesa da expressão simbólica de certos valores e
princípios que demonstravam essa continuidade na que por vezes se tem chama-
do, polemicamente aliás, “II República”.
Só isto poderá explicar o facto de o Estado Novo, durante quase vinte anos
(a que se pode juntar os sete do período da Ditadura Militar), praticamente não
ter tocado no calendário comemorativo republicano. Com a matriz laica do
regime formalizada constitucionalmente em 1933, e apesar de alguma legislação
importante afirmar o valor da religião católica, como se passou no domínio da
“Educação”, sobretudo a partir de 1936, nem com a Concordata de 1940 – em
parte respeitadora do princípio da separação – se procedeu a qualquer mudança.
De resto, o Estado, nessa Concordata, mantinha a garantia de dar o seu acordo
político à nomeação episcopal (artigo X) e, pese embora as liberdades que con-
cedia à Igreja em matéria de educação (artigo XX), o certo é que criou sempre
dificuldades à pretensão de o Vaticano criar uma Universidade Católica, o que só
se verificou (e de modo imperfeito) no fim do salazarismo. Houve, no entanto,
como se sabe, um princípio que marcou uma certa subordinação da sociedade
civil aos valores éticos da Igreja – trata-se, na prática, da proibição do divórcio
aos casais que contraíram o matrimónio pela Igreja (artigo XXIV), que lesou um
dos direitos essenciais adquiridos logo no início da I República.
Mas, se o Estado Novo manteve a laicidade do calendário republicano e não
fez renascer logo os dias santos, não deixou, porém, de acordo com o texto da
referida Concordata (artigo 19.º), de se obrigar a facultar a todos os católico que
estivessem ao seu serviço o cumprimentos dos seus deveres religiosos. Por outro
lado, também é certo que não chegou sequer a impor oficialmente a evocação
da sua memória pela instituição de feriados anuais comemorativos das datas

3 Ver Telmo Faria, Debaixo de fogo! Salazar e as Forças Armadas, Lisboa, Cosmos, 2000.

98
O Nacionalismo do E stado Novo

consideradas mais relevantes para a sua construção. Ou, pelo menos, não fez
desse propósito uma questão prioritária. Basta dizer que nem o 28 de Maio,
considerado oficialmente como início da “Revolução Nacional”4, se tornou feriado
fixo. Já durante a Ditadura Militar, como se viu, apenas uma vez – logo no ano
seguinte, 1927 –, se tinha comemorado como feriado nacional5.

Tal não impediu, no entanto, o grande investimento nas comemorações por


ocasião do seu aniversário. As realizações procuravam apresentar o 28 de Maio
como o início de uma nova era de ressurgimento nacional que tinha cortado
definitivamente – como se afirmava – com a anarquia, a esterilidade e a de-
cadência da I República parlamentar e partidária. Daí a ênfase colocada na
propaganda das obras realizadas pelo regime. Em 1936, a apoteose do que era
considerado o esforço transformador do Estado Novo é visível na “Exposição
Comemorativa do Ano X da Revolução Nacional”6 e em 1937 surge o primeiro
filme oficial de propaganda, entre o documentário e a ficção, de António Lopes
Ribeiro, justamente intitulado A Revolução de Maio7. Nesse filme, para além de
se retratar as decorações do bairro da Graça, em Lisboa, no dia em que se
celebravam os dez anos do 28 de Maio, data na qual se verifica a conversão do
revolucionário bolchevista César Valente ao nacionalismo do Estado Novo,
também se apresenta, dias antes, a Festa das Cruzes de Barcelos, que ocorria (e
ocorre) nos primeiros dias de Maio (em outros países o dia 1.º de Maio já era o
dia do Trabalhador) como lugar da festa do trabalho e das corporações e de
apoio popular ao regime de Salazar.
Justamente em 1936, aproximando-se o aniversário do 28 de Maio, o deputado
monárquico Augusto Cancela de Abreu, mais tarde ministro e presidente da

4 Ver a construção da memória da “Revolução Nacional” pelo Estado Novo na obra dirigida por
João Ameal, dos anos 40, Anais da Revolução Nacional, 5 volumes, Barcelos, Companhia Editora do
Minho, s.d.. Cfr. a sua interpretação histórica em Estados Novos, Estado Novo, vol. 1, pt. I, cap. IV.
5 Decreto n.º 13.665, de 25 de Maio, D.G. n.º 107, promulgado por Carmona, dado que ocorria
o primeiro aniversário do “movimento nacional” – ver COLP, 1927-I. Tratou-se, certamente, de uma
reafirmação da Ditadura, após dominar as revoltas de 3 e de 7 de Fevereiro, no Porto e em Lisboa.
6 Ver, para a comemoração do 28 de Maio, outros elementos em F. Catroga, História da História
em Portugal, vol. 2, pp. 320-324, e, de uma forma mais específica e desenvolvida, a obra recente de
José Augusto França, O “Ano X”, Lisboa 1936. Estudos de factos socioculturais, Lisboa, Presença, 2010.
7 Ver Luís Reis Torgal (Coordenador), O cinema sob o olhar de Salazar, 3.ª edição: Lisboa,
Círculo de Leitores / Temas e Debates, 2011, sobretudo cap, 2, “Propaganda e «Educação Popular»”.

99
F eriados em Portugal

Comissão Executiva da União Nacional, apresentou na Assembleia Nacional, em


Fevereiro, uma proposta para que fosse decretado feriado o dia 28 de Maio.
Concluindo a sua argumentação, afirmava: “Ao fim de dez anos de larga, profunda,
segura e salvadora reconstituição de Portugal pelo novo Estado, o 28 de Maio não
pode deixar de ser feriado oficial desse Estado Novo a que se deu origem”. A
Câmara Corporativa não apoiou a proposta por razões constitucionais e económicas.
Quando muito, aceitaria a troca pelo 31 de Janeiro, mas o deputado não concor-
dou, retirando o projecto8. De qualquer modo, neste ano X, o 28 de Maio voltou
a ser assinalado, a título extraordinário, como feriado nacional, pelo decreto-lei
n.º 26.612 da Presidência do Conselho, de 20 de Maio de 19369. Da directa respon-
sabilidade de Salazar – com toda a certeza já conhecedor da recepção pouco
entusiasta das Câmaras à proposta de Cancela de Abreu –, o documento legal é
revelador do melindre da questão da alteração do quadro dos feriados herdado da
I República. O “Chefe” incontestado do Estado Novo confessa abertamente que
ainda não foi possível fazer-se o que também era a sua vontade, “apesar das ins-
tantes solicitações anualmente formuladas”, para que o 28 de Maio, “acontecimento
de tão grande vulto na história pátria”, fosse “considerado feriado”, lamentando
que, deste modo, “muitos portugueses não têm podido associar-se às manifestações
festivas que de norte a sul de Portugal se realizam anualmente em comemoração
do início da Revolução Nacional”. Embora sem um compromisso preciso, Salazar
não deixa de afirmar que o Governo julgava “necessário rever a lista dos feriados
nacionais, devendo aproveitar tal oportunidade para entre eles fazer incluir aquele
dia”. Como se sabe, nunca será incluído e a própria revisão global ficará muitos
anos na gaveta. Registe-se, no entanto, que, desde o 11 de Novembro de 1931 até
ao ano de 1940, o dia 28 de Maio de 1936 foi a única celebração comemorativa
extraordinária que teve oficialmente o estatuto de feriado nacional.
Outras datas frequentemente assinaladas pelos apoiantes do Estado Novo,
estas especificamente dirigidas ao culto da figura de Salazar, foi o 27 de Abril,
dia da sua nomeação e tomada de posse como ministro das Finanças em 1928,
e mesmo o dia 28 de Abril, aniversário do seu nascimento, ocorrido em 1889.

8 Em 1938, Cancela de Abreu tornou a levantar a questão do feriado, já aceitando a troca do


31 de Janeiro pelo 28 de Maio, mas as Câmaras voltaram a não considerar oportuna a revisão do
elenco de feriados em vigor.
9 Diário do Governo, n.º 117 – ver COLP, 1936-I.

100
O Nacionalismo do E stado Novo

A primeira, considerada como marco decisivo para o regime, era normalmente


comemorada com uma homenagem prestada ao chefe do Governo pelas chama-
das “forças vivas da Nação” (União Nacional, grémios, sindicatos, municípios,
associações diversas, etc.), aproveitando-se a efeméride para uma intervenção
política de reafirmação doutrinária10. Nela colaborava activamente Salazar. Já
a segunda era por ele evitada, dado tratar-se de uma data demasiado pessoal,
embora também acabasse em muitos casos por colaborar, devido à sua lógica
pragmática.
Assim, logo em 1933, ano do início oficial do Estado Novo, em 27 de Abril,
houve uma “grande manifestação patriótica”, organizada pelas comissões da UN
no Coliseu dos Recreios, em que Salazar fez o importante discurso intitulado
“É esta a Revolução que esperávamos?”11. Dez anos depois, quinze anos após a
tomada de posse, Salazar discursou aos microfones da Emissora Nacional12. Mas
já em 1941, foi no dia seguinte à celebração da tomada de posse de Salazar, ou
seja, no dia do seu aniversário, que se deu uma grande “manifestação popular”
no Terreiro do Paço, onde o presidente do Conselho se fez ouvir13.
Em 1948, no 20.º aniversário do 27 de Abril, verificou-se uma grande home-
nagem nacional, na qual se destacou o “cortejo dos lentes” da Universidade de
Coimbra, que se deslocaram a Lisboa14. Em 1953, pelo 25.º aniversário, as come-
morações programadas pela União Nacional decorriam da consideração de que
o 27 de Abril reunia “uma unanimidade” que já não se produzia quanto ao 28 de
Maio. Numa clara percepção de que o regime era, essencialmente, o salazarismo,
ou seja, o carisma de Salazar como governante, a sugestão do próprio “Chefe”

10 Esta data é particularmente marcada na biografia de Salazar escrita por Franco Nogueira.
11 Cfr. Discursos, vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 1935, p. 217 ss.. A obra oficiosa Discursos,
de Oliveira Salazar, depois do volume II intitulada Discursos e Notas Políticas, foi editada em 6
volumes, sendo o último de 1967. Nas citações seguintes não referiremos as datas dos respectivos
volumes que forem citados.
12 Cfr. “O princípios e a obra da Revolução no momento interno e no momento internacional”,
in Discursos, vol. III, p. 381 ss.
13 Ver “Todos não somos de mais…”, in Discursos, vol. III, p. 295 ss.
14 Ver “À Universidade de Coimbra”, in Discursos, vol. IV, p. 321 ss.. Ver também Maximino
Correia, Ao Serviço da Universidade de Coimbra, 1939-1969, Coimbra, Por ordem da Universidade,
1963, “Salazar e a Universidade de Coimbra (Artigo publicado no «Diário da Manhã»), 10-VI-1957”,
sobretudo pp. 527-529. É curioso ler também a referência irónica de Luís Cabral Moncada (apoiante de
Salazar, mas sempre com algum distanciamento) a este acontecimento, nas suas Memórias (Memórias.
Ao longo de uma vida. Pessoas, factos, ideias. 1888-1974, Lisboa, Verbo, 1992, pp. 203-206).

101
F eriados em Portugal

para se transferir a manifestação para o dia da “Revolução Nacional”, não foi


aceite, pois – segundo se dizia – teria “inconvenientes políticos”15.
No ano seguinte, também em 27 de Abril, Salazar foi cumprimentado pelos
“indianos residentes em Lisboa”, aos quais respondeu com um breve discurso16.
Recorde-se que se agudizava a crise de Goa, a qual se iniciara nos últimos anos
da década de 40.
Em 1959, no aniversário de Salazar e no dia da sua jubilação como professor,
pois perfazia no dia 28 de Abril 70 anos, a Universidade de Coimbra quis home-
nageá-lo. Salazar aceitou receber uma representação das Faculdades de Direito e
de Letras, já que esta lhe concedera o doutoramento honoris causa. Para além,
contudo, dessa visita de circunstância, a Universidade teve manifestações de
grande reconhecimento a Salazar, através do Senado, ligando-se umbilicalmente à
sua posição política. E, entre outras iniciativas, mandou que fossem gravadas a
letras de bronze algumas palavras do seu discurso de 1948 dirigido à Universidade
de Coimbra, na entrada da Sala dos Capelos17. Também no próprio dia do 70.º
aniversário Salazar recebeu na sua residência oficial no palácio de São Bento
uma representação das mulheres portuguesas18.
Em 1965 o 27 de Abril ainda era festejado em São Bento, numa homenagem
que era prestada a Salazar pelos antigos graduados da Mocidade Portuguesa19.
Outras cerimónias se terão realizado noutros anos, mas as que descrevemos são
suficientes para entendermos a importância destas “festas do regime”.

Embora, como vimos, o 14 de Agosto, dia de Aljubarrota, nunca tenha chegado


a ser feriado, o exemplo dessa batalha e o modelo de Nuno Álvares Pereira e de

15 Salazar procurou, então, limitar a dimensão das comemorações, afirmando que se recusava
“a ser canonizado civicamente”. Ver, para a discussão no Governo e na União Nacional do signi-
ficado de uma e outra data e para a descrição das múltiplas realizações da homenagem, Franco
Nogueira, Salazar, vol. IV, O ataque, pp. 288-293.
16 Ver Discursos, vol. V, p. 201 ss.
17 Ver Maximino Correia, Ao Serviço da Universidade de Coimbra, 1939-1969, “A Universidade
de Coimbra e o limite de idade do Doutor Salazar. 27-4-1959”, pp. 558-562. Cfr. Luís Reis Torgal,
A Universidade e o Estado Novo, Coimbra, Minerva, 1999, cap. III.
18 Ver “Agradecimento às mulheres portuguesas”. Palavras dirigidas às senhoras portuguesas
que, de todos os pontos de Portugal, foram à residência do Presidente do Conselho levar-lhe flores,
no dia 28 de Abril de 1959, data do seu 70.º aniversário”, in Discursos, vol. VI, p. 49 ss.
19 Ver Discursos, vol. VI, p. 385 ss.

102
O Nacionalismo do E stado Novo

D. João, Mestre de Avis, eram particularmente adequados e adaptados aos valo-


res do Estado Novo, pelo nacionalismo que representavam, como imagem una e
afirmada da Nação, contra os partidos, e como aliança entre a Cruz e a Espada,
a Fé e a Pátria. O Santo Condestável tornou-se, assim, uma das figuras mais
invocadas pelo regime como exemplo proposto, como era, de resto, desde o
tempo da República, figura simbólica do Integralismo Lusitano, da arma de
Infantaria e da Cruzada Nacional justamente chamada D. Nuno Álvares Pereira. De
resto, se a bandeira da Mocidade Portuguesa, instituída em 1936, assumiu como
símbolo o estandarte de D. João I, a Legião Portuguesa tomou como emblema a
cruz de Aviz.
A “Festa do Patriotismo”, a 14 de Agosto, só era, porém, claramente reactivada
em conjunturas bem precisas que denunciavam as motivações do aproveitamento
da data. Por exemplo, em 1935, perante a continuação da instabilidade política
da República espanhola (em Outubro de 1934, o general Franco tinha esmagado
o levantamento grevista dos mineiros das Astúrias que tinham na sua posse
material de guerra pertencente a exilados portugueses), Salazar envia a todas as
escolas do país um discurso para ser lido, juntamente com outros, nas sessões
comemorativas dos 550 anos da batalha de Aljubarrota. Reafirmando que a inde-
pendência de Portugal era “um imperativo histórico”, apela à “mocidade” para
que siga o exemplo do jovem Nuno Álvares, que tinha 23 anos de idade quando
se deu a “revolução em Lisboa” contra o domínio espanhol e 25 em Aljubarrota.
Apesar do significado nacionalista que imprimiu ao 1.º de Dezembro (e que teve
ainda mais importância depois de 1940), chega mesmo a afirmar que o 14 de
Agosto é “a verdadeira festa da independência da pátria”, considerando-a como
“festa popular, festa da mocidade”. E considerava os sítios de Aljubarrota e da
Batalha como lugares para as “grandes peregrinações patrióticas” – ao contrá-
rio do igreja do Escorial de Filipe II, “lúgubre e apropriada para as exéquias de
um grande rei”, a igreja do convento da Batalha era “clara e triunfal, como se
não fosse feita para a oração de todos os dias mas apenas para o solene Te
Deum das grandes e magníficas vitórias”20. No ano seguinte, 1936, logo após

20 Cfr. “Aljubarrota - Festa da Mocidade”, Discursos, vol. II, pp. 47-56. Para uma análise mais
detalhada e contextualizada das comemorações do 14 de Agosto nestes anos de 1935 e 1936, ver
Fernando Rosas, “O 14 de Agosto. As Aljubarrotas do Estado Novo”, in História, Ano XX (Nova
Série), n.º 3, Lisboa, Junho, 1998, pp. 46-53.

103
F eriados em Portugal

o início da Guerra Civil de Espanha, em Julho, Salazar organiza para 14 de


Agosto uma “peregrinação nacional” ao mosteiro da Batalha, onde ele próprio
profere novo discurso num dos seus terraços, convocando o “espírito heróico
de Nun’Álvares”, que pairava sobre “Portugal inteiro”, e que era a garantia de
que ninguém faltaria à chamada se viesse a ser necessário lutar outra vez pela
bandeira da Pátria21.
Esta “reactivação” do 14 de Agosto, em 1935 e 1936, motivada pelo contexto
da situação em Espanha, não impediu que o jovem Estado Novo, no primeiro
daqueles anos, comemorasse também outra data directamente relacionada com
um dos grandes desígnios do nacionalismo salazarista, a defesa do Império
colonial. Aproveitando a efeméride do 40.º aniversário da batalha de Chaimite
(1895), o dia 28 de Dezembro de 1935 foi celebrado como o “Dia de Mousinho”.
Embora excepcional e, obviamente, sem se tornar feriado, a evocação do hero-
ísmo de Mousinho de Albuquerque, símbolo do decisivo retomar da missão
imperial em África, constituiu, ao que julgamos, uma das primeiras comemora-
ções especificamente vinculadas à questão ultramarina – e, não por acaso,
particularmente à africana – realizadas pelo Estado Novo que, assim, se apre-
sentava como o herdeiro da vocação histórica colonizadora de Portugal 22 .
Como veremos, esta preocupação tornar-se-á cada vez mais central ao longo
da sua vigência e terá o seu reflexo no sentido celebrativo de alguns feriados
(concretamente, o 10 de Junho) e de outras datas comemoradas forçosamente
com carácter extraordinário, nomeadamente os sucessivos centenários que o
regime não vai deixar de assinalar.

21 Cfr. “Sempre o mesmo milagre”, idem, pp. 173-179.


22 Em 1945, serão comemorados os 50 anos de Chaimite e o ponto culminante será 1955, com
o centenário do nascimento de Mousinho de Albuquerque (12 de Novembro de 1855). Para o culto
e a apropriação de Mousinho por parte do Estado Novo, ver F. Catroga, História da História em Por-
tugal, vol. 2, pp. 336-339, e Douglas L. Wheeler, “Joaquim Mouzinho de Albuquerque (1855-1902) e
a política do colonialismo”, in O Século XIX em Portugal, Lisboa, Gabinete de Investigações Sociais
- Editorial Presença, 1979, pp. 325-48. Ver também, relativamente ao caso do cinema – recorde-se
que o filme Chaimite de Jorge Brum do Canto surgiu em 1953 –, Jorge Humberto Seabra, Cinema,
Império e Memória no Estado Novo. O caso Chaimite de Jorge Brum do Canto. Tese de mestrado
policopiada. Coimbra, Faculdade de Letras, 1993 (ver ainda a síntese do mesmo autor, in O cinema
sob o olhar de Salazar, p. 235 ss., e, num plano mais alargado, África Nossa. O Império Colonial na
ficção cinematográfica portuguesa.1945-1974, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2011).

104
O Nacionalismo do E stado Novo

Os “feriados da República” no salazarismo

Dos feriados herdados da I República e da Ditadura Militar, e considerada a


especificidade dos “laicizados” 1 de Janeiro e 25 de Dezembro, o Estado Novo
vai privilegiar o 10 de Junho e o 1 de Dezembro, mas, numa primeira fase,
particularmente este último. “Neutro” e pouco significativo, em termos internos,
é o 3 de Maio, sendo o mais possível desvalorizados, como seria óbvio, o 31 de
Janeiro e o 5 de Outubro23.
Se o Estado Novo se manteve formalmente republicano (“uma República
unitária e corporativa”, como acentuava o artigo 5.º da Constituição de 1933) e se
procurava retoricamente respeitar a concepção de “República”, o certo é que
tanto os manuais escolares como as “histórias contadas às crianças” e “ao Povo”
tentavam mostrar que a I República, saída afinal do 5 de Outubro de 1910 e
preparada em 31 de Janeiro de 1891, destruíra a “unidade da Pátria”. Lançara as
sementes do partidarismo, que Salazar e os salazaristas procuravam extinguir,
criara uma ideologia individualista e demoliberal à qual se queriam opor, assim
como ao socialismo, numa lógica de “terceira via”, o que os levava à construção
de um Estado autoritário e corporativo24.

23 Marcello Caetano recorda-nos que “ninguém o viu nunca [a Salazar] em qualquer comemoração
dos fastos revolucionários”, estando todos os anos em Santa Comba Dão pelo 5 de Outubro (Marcello
Caetano, Minhas Memórias de Salazar, Verbo, Lisboa, 1977, pp. 368-369). Para uma hipotética prova
fotográfica desta “invisibilidade” de Salazar nas comemorações do 5 de Outubro, ver Damião Peres,
História de Portugal, Suplemento I, Porto [Barcelos], Portucalense Editora, 1954, pp. 452-453: logo nas
de 1928, está ausente na tribuna onde figuram Carmona e todos os outros ministros do governo de J.
Vicente de Freitas. Um outro testemunho menos citado, mas dos mais conclusivos, é o do general Artur
Ivens Ferraz, A ascensão de Salazar, Lisboa, O Jornal, 1988, pp. 127-128, que nos relata que Salazar, seu
ministro em 1929, “só visivelmente contrariado” acedeu a que, numa nota oficiosa do Governo, redigida
pelo próprio ministro das Finanças e onde se declarava que a Ditadura Militar visava o “engrande-
cimento da Nação”, se acrescentasse “e prestígio do regime”. Segundo o memorialista, “não se pode
exigir que prestigie o regime a quem não professa o credo republicano”. Era a ideia muito difundida,
mas não facilmente provada, que Salazar era originariamente monárquico e terá aderido ao sistema re-
publicano por razões pragmáticas. Na verdade, para um “católico”, que ele era, e como político católico
antes do 28 de Maio, a questão de regime era relativamente indiferente desde que fossem respeitados
os princípios fundamentais da Igreja e a consciência dos católicos. A posição de indiferença em relação
ao regime republicano justificar-se-ia por outros motivos, conforme dizemos no texto.
24 Sobre estes e outros assuntos, ver Luís Reis Torgal, História e Ideologia, Coimbra, Minerva,
1989, Luís Reis Torgal e Fernando Catroga, História da História em Portugal, vol. 1, sobretudo caps.
6 e 7, e vol. 2, sobretudo caps. 3 e 4, e o já citado cap. 5, e Luís Reis Torgal, Estados Novos, Esta-
do Novo, Coimbra, Imprensa da Universidade, Coimbra, 2009 (2.ª edição). E ver, de Luís Oliveira
Andrade, a obra também já citada História e Memória, A Restauração de 1640: do liberalismo às
Comemorações Centenárias de 1940, Coimbra, Minerva, 2001.

105
F eriados em Portugal

Ao invés, o 1.º de Dezembro (tal como Aljubarrota) era revalorizado como dia
do nacionalismo, da “Pátria unificada”, no contexto de uma ideia de “União
Nacional” e por acção de instituições defensoras da ideologia do Estado Novo,
instituições de propaganda cultural, como o Secretariado de Propaganda Nacional
(SPN) e, depois, as organizações paramilitares, como a Mocidade Portuguesa e a
Legião Portuguesa, a que nos referimos.
Como sintoma dessa prática de revalorizar o “dia da Restauração” (como
também ficou conhecido), mas ainda de forma conjuntural, devido ao “perigo”
iberista proveniente da República espanhola, é publicado, em 1934, o decreto-lei
n.º 24.706, de 30 de Novembro, que terá sido a primeira medida legislativa de
Salazar, como presidente do Conselho, relativa à questão dos feriados25. Se o
feriado do dia 1.º de Dezembro já era, obviamente, observado pelas instituições
do Estado, deduz-se que o mesmo não aconteceria com outras actividades de
carácter privado, sobretudo com o comércio, que encarariam a data da Restaura-
ção com alguma indiferença, mantendo-se em laboração, sucedendo o mesmo
com outros feriados. Por isso, o referido decreto-lei, destacando o caso do “dia
da Independência”, afirma especificamente que o “ressurgimento da consciência
nacional impõe que certas datas sejam comemoradas com solenidade e com
respeito” e, estando “o dia 1.º de Dezembro nessas condições porque foi dedicado
à festa da Independência Nacional e o Estado Novo tem o dever de manter bem
vivo no coração do povo português o culto dos heróis e o sentimento sagrado
da integridade da Pátria”, esse feriado “deve ser observado em todo o território
da Nação Portuguesa, sendo para todos os efeitos equiparado ao domingo ou ao
dia excepcionalmente designado para descanso semanal”26. O “ressurgimento
da consciência nacional” e a “integridade da Pátria” justificavam, pois, o destaque
do 1.º de Dezembro relativamente aos outros feriados oficiais.
Nesse esforço de conferir uma maior projecção à data da Restauração de
1640, incluir-se-ia a sua institucionalização como “dia da Mocidade Portuguesa”,
jornada em que esta organização nacionalista de juventude realizava os seus
desfiles, e a sua solenização em certos institutos ou agremiações culturais como,

25 Ver Diário do Governo, I Série, n.º 282, sexta-feira, 30 de Novembro de 1934.


26 No artigo 2.º, fazia-se referência concreta aos “estabelecimentos comerciais”, mas abria-se
excepção para as “padarias”.

106
O Nacionalismo do E stado Novo

por exemplo, a Academia Portuguesa de História, criada (ou alegadamente


“restaurada”) em 1936, por altura da importante lei de bases sobre a Educação
Nacional (lei n.º 1.941, de 11 de Abril), que abria o ano de actividades académicas
em 1 de Dezembro, e, obviamente a Sociedade Histórica da Independência
de Portugal.
O Regulamento da MP conferia logo em 4 de Dezembro de 1936 uma impor-
tância significativa à valorização aos seus “heróis”, bem como a outros heróis
representativos da Pátria27. Impôs-se, inclusivamente, a todos os estudantes do
ensino liceal, sobretudo aos mais novos, alunos dos primeiros anos, a obriga-
toriedade de se integrarem numa marcha, que poderia ser, por exemplo, em
Lisboa, na avenida da Liberdade até à estátua dos Restauradores, e, em Coimbra,
ao panteão que é o mosteiro de Santa Cruz, onde estão sepultados D. Afonso
Henriques e D. Sancho I. Neste caso assistiam ali a uma missa, com um sermão
em se louvava o Santo Condestável e os “famosos de quarenta que lutaram com
ardor”, como se cantava no Hino da Restauração28.
A Restauração, apesar do perigo teórico que poderia representar como sím-
bolo monárquico (a Causa Monárquica viria a celebrar o “beija-mão” ao duque de
Bragança no dia 1 de Dezembro), foi assim erguida em monumento ao espírito
nacionalista do Estado Novo, articulando-se, de resto, com conceitos diversos
divulgados pelo regime, como “restauração nacional”, “restauração geral do
País”, “restauração dos valores espirituais” ou mesmo “restauração financeira”.
A nota oficiosa de Salazar de 27 de Maio de 1938, sobre as comemorações do
centenário da Restauração e também da Fundação de Portugal, é um verdadeiro
programa nacionalista e de defesa do património ou da sua modernização29.

27 Ver o Regulamento da MP (sobretudo artigo 2.º, onde são citados Nuno Álvares, o Infante
D. Henrique e D. João I) ou em Organização Nacional Mocidade Portuguesa. Boletim, Lisboa, 1937,
ou na obra de divulgação de Lopes Arriaga, Mocidade Portuguesa. Breve história de uma organização
nacionalista, Lisboa, Edições Terra Livre, 1976, pp. 135-141.
28 De acordo com as informações recentes de José Ribeiro e Castro, o Hino da Restauração
é originariamente de 1861, tendo nessa altura outra letra, que foi modificada posteriormente (ver
1 de Dezembro, dia de Portugal, Lisboa, Principia, 2012, pp. 81-86). Fazia parte do cancioneiro da
Mocidade Portuguesa (ver Lopes Arriaga, ob. cit., p. 185).
29 “Comemorações Centenárias. Nota oficiosa da Presidência do Conselho sobre a comemoração
dos Centenários da Independência e da Restauração” (Publicada nos jornais de 27 de Março de
1938), Discursos, vol. III, p. 41 ss..

107
F eriados em Portugal

A Comemoração dos dois centenários, da Fundação (1940) e da Restauração


da Nacionalidade (1640), foi-se organizando ao longo do tempo para culminar
em 1940 e continuar em anos seguintes. A Revista dos Centenários30 ia dando
conta da evolução da organização, a par da publicação de artigos patrióticos,
e realizaram-se exposições (Exposição do Mundo Português), congressos (Con-
gresso do Mundo Português) e cortejos históricos, numa verdadeira celebração
à maneira de um positivismo nacionalista de direita.31 Portanto, pode dizer-se
que a comemoração do centenário (ou dos centenários) em 1940 deu grande
alento e relevo ao feriado de 1 de Dezembro, que se prolongou ao longo do
Estado Novo.

Quanto ao 10 de Junho, e apesar de ser considerado o “dia de Camões”, mas


também o “dia de Portugal” ou o “dia da Raça”, não teve, até certa altura, uma
importância muito significativa na memória do Estado Novo. Ao contrário do que
veio a ser interpretado, à direita e à esquerda, o termo “raça”, que já aparece no
vocabulário republicano, não era necessariamente associado a uma noção “racista”,
embora o fosse a uma noção “nacional” ou mesmo “nacionalista”, dado que “raça”
tinha o sentido de uma Nação exemplar, de que era modelo o nosso grande
poeta Camões, autor de Os Lusíadas, o nosso imortal poema épico que cantava
a Pátria e a descoberta de “novos mundos” (ideia que ainda hoje vai surgindo
no sentimento de alguns portugueses). Introduzida no final da República, mas
consolidada na Ditadura Militar, a noção de dia festivo, e depois feriado, estava
afinal ligada a uma afirmação nacionalista de liberais, mas sobretudo de republi-
canos, não tanto no centenário do hipotético nascimento de Camões, 1924,
mas sim no centenário da sua morte, 1880. No entanto, a sua estátua mais signi-
ficativa, a do largo do Chiado, é anterior a esse centenário, pois foi lançada a sua
primeira pedra em 1862 e inaugurada em 9 de Outubro de 1867. O Ultimatum
(Janeiro de 1890) e a sua “geração republicana” são reveladores afinal desse sen-
tido nacionalista e imperialista que se reafirmou no Estado Novo, sob influência
dos nacionalismos fascistas – em que (a nosso ver) Portugal se integrou –,

30 Revista dos Centenários, vols 1 e 2, Comissão Nacional dos Centenários, 1938-1939.


31 Ver Margarida Acciaiuoli, Os anos 40 em Portugal – o país, o regime e as artes: “restauração” e
“celebração”. Dissertação de doutoramento. 2 volumes. Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1991.
Ver também Exposições do Estado Novo: 1934/1940, Lisboa, Livros Horizonte, 1998.

108
O Nacionalismo do E stado Novo

embora sob a forma de um imperialismo defensivo e de um “nacionalismo


brando”. Foi esta vertente nacionalista e imperialista que fez com que muitos
salazaristas mantivessem a linha republicana e jamais tivessem pensado na
mudança do regime, do hino ou da bandeira, mudança que, de resto, se reduz,
no caso da bandeira, ao nazismo, que ocupa um lugar especial nos “fascismos
genéricos”, bem distinto do caso modelar do fascismo italiano, que afinal deu o
nome a este sistema político.
Na verdade, no início do Estado Novo, nenhum grande discurso de Salazar
terá sido proferido a 10 de Junho e o feriado só teve especial significado como
memória simbólica em alguns momentos:
Apresente-se como exemplo a inauguração do Estádio Nacional, que ficou
depois presente, para além do dia, no documentário de António Lopes Ribeiro,
desse mesmo ano de 1944, produzido pela Sociedade Portuguesa de Actualidades
Cinematográficas (SPAC)32. Aí o locutor, ou seja, o próprio realizador, refere-se
explicitamente ao dia como a “festa da Raça e de Camões” e a cerimónia consti-
tuiu uma das mais completas homenagens ao regime e aos seus dois obreiros,
Carmona e Salazar, apresentado como “o Chefe”, “campeão da Pátria” e “atleta
número um daquela festa de campeões”. Já em momento de crise ou de morte
dos fascismos, ainda se fazia, pois, uma cerimónia marcada pelo espectáculo das
grandes paradas paramilitares e desportivas (já não sendo necessário – como
dizia Lopes Ribeiro – olhar com “patriótico ciúme” para as paradas dos sokols
de Praga33, dos alemães, dos americanos e dos finlandeses), com a presença de
3.600 filiados da MP, “raparigas da FNAT”, representantes dos “clubes do país”,
atletas de todas as modalidades, que culminou com um discurso apoteótico feito
por um estudante do Instituto Nacional de Educação Física (INEF), que consti-
tuiu um hino de louvor a Salazar, à “continuidade da Revolução” e à “vitória da
paz e unidade nacionais”. E a inauguração do “estádio nacional dos portugueses”,
depois de outras actividades desportivas, terminou com um desafio de futebol
Benfica - Sporting, ganho por este. A obra de Duarte Pacheco, há pouco tempo

32 Ver o filme de António Lopes Ribeiro, 10 de Junho de 1944 – Inauguração do Estádio


Nacional, SPAC, 1944. Pode visionar-se no vídeo-sharing website You Tube.
33 Sobre os sokols e a sua influência em Cabo Verde durante o Estado Novo, ver o artigo de
Maria Adriana Carvalho in Fazer História Contemporânea, n.º 11 da revista Estudos do Século XX,
Coimbra, Imprensa da Universidade, 2011.

109
F eriados em Portugal

falecido num desastre de viação, era emoldurada por bandeiras nacionais, por
bandeiras de D. João I ou da MP e estandartes com as cruzes de Avis e de
Cristo. Ou seja, pretendia-se demonstrar que o regime não estava morto nesse
final da guerra e renovava-se assim uma filmografia de clara inspiração totalitá-
ria, como sucedera com Olympia (1938), sobre os Jogos Olímpicos de Berlim, de
Leni Riefenstahl.

A longa espera… O (re)aparecimento de


um dia santo como feriado nacional

Como se viu, o Estado Novo quis manter quanto aos feriados a mesma atitude
laica da República, embora quase esquecesse alguns e desse o seu cunho nacio-
nalista a outros. Por outro lado, já se reparou no facto de o descanso semanal
ainda não ser obrigatoriamente ao domingo, permitindo-se excepções que, aliás,
já estavam previstas na lei de 1907, de João Franco, e que a já referida lei de 1910,
ao estabelecê-lo “geralmente” aos domingos, continuou a sustentar. O citado
decreto de 30 de Novembro de 1934 seguia nesse aspecto o que tinha sido de-
terminado por outro decreto saído cerca de três meses antes, o n.º 24.402, de 24
de Agosto, sobre o “horário de trabalho nos estabelecimentos comerciais e
industriais”, que também definia o gozo do descanso semanal34.
A expectativa da Igreja quanto à possibilidade de revisão dos feriados estava
agora dirigida para a assinatura de uma Concordata entre o Estado português e
a Santa Sé que viesse, por uma vez, resolver o problema, atenuado, mas ainda
suspenso e em aberto, da “questão religiosa” em Portugal. Após intermitentes,
hesitantes e infrutíferos contactos, a partir de 1933, as negociações arrancaram
seriamente em Março de 1937. Contudo, as esperanças quanto a este aspecto
particular da reentrada dos dias santos cedo ficaram defraudadas, pois o grupo
de trabalho que Salazar constituiu, logo na 4.ª fórmula que apresentou ao cardeal
patriarca Manuel Gonçalves Cerejeira, a 15 de Maio, eliminou a proposta do

34 Diário do Governo, I Série, n.º 199, sexta-feira, 24 de Agosto de 1934, da Presidência do


Conselho e do Sub-Secretariado de Estado das Corporações e Previdência Social.

110
O Nacionalismo do E stado Novo

estabelecimento obrigatório de dias festivos, ou seja, de reconhecimento oficial


de dias santos por parte do Estado35.
Após três anos de longas e difíceis negociações – esteve-se à beira da rup-
tura já na parte final do processo, devido à recusa intransigente de Salazar em
consagrar a organização da Acção Católica nos termos que Roma propunha e
em conceder efeitos civis aos casamentos celebrados apenas religiosamente,
tendo a Igreja acabado por recuar nestas duas matérias –, a Concordata veio a
ser assinada a 7 de Maio de 1940, um mês antes do início das Comemorações
do Duplo Centenário da Fundação e da Restauração da Nacionalidade. A memória
da Restauração nas festas do “Ano Áureo” de 1940 foi, como vimos, sublinhada.
Todavia, apesar de se ter celebrado a história de Portugal no seu todo e nas suas
fases (“Medieval, Imperial e Brigantina”), com necessária referência à tradição
cristã, não se procurou afirmar particularmente nenhuma outra data para além
do obrigatório ponto de referência do 1.º de Dezembro, que tinha fornecido o
pretexto para a decisão de comemorar os centenários.
No entanto, a primeira alteração significativa que o Estado Novo faz relativa-
mente aos feriados oficiais, poucos anos depois, ainda se poderá integrar no ciclo
comemorativo do Centenário da Restauração. Com efeito, em 1946, depois da
grandiosidade das festas de 1940, não se perdeu a oportunidade de comemorar
o tricentenário da eleição de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de
Portugal, como já vimos decidida por D. João IV em 1646, a par do dogma da
Imaculada Conceição, celebrado no calendário litúrgico a 8 de Dezembro desde
1476 por iniciativa do papa Sisto IV. Era, aliás, um dos “troféus” do nacionalismo
religioso português, pois, pela complexidade teológica da questão, na Igreja

35 Ver sobre toda esta questão, M. Braga da Cruz, O Estado Novo e a Igreja católica, Lisboa,
Bizâncio, 1998, III, “As negociações da Concordata e do acordo missionário”, pp. 53-92, e Rita
Carvalho, “Concordata”, in António Barreto e Maria Filomena Mónica (coordenadores), Suplemento
ao Dicionário de História de Portugal (direcção de Joel Serrão), vol. VII, Porto, Figueirinhas, 1999,
pp. 388-391. Não esquecendo o peso da posição de Salazar, que acompanhou de perto todo o
processo, este grupo era composto – com excepção do republicano Manuel Rodrigues, ministro da
Justiça – por personalidades salazaristas ao mesmo tempo católicas e, curiosamente, monárquicas:
Mário de Figueiredo, que foi quem o chefiou, colega de Salazar no Seminário de Viseu, no CADC
de Coimbra e na Faculdade de Direito, futuro ministro da Educação e presidente da Assembleia
Nacional e um dos responsáveis pela tentativa de restauração monárquica em 1951; Luís Teixeira de
Sampaio, monárquico, secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros e “braço direito” de
Salazar nesta área; e Fezas Vital, também da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e
futuro lugar-tenente de D. Duarte Nuno de Bragança.

111
F eriados em Portugal

Católica não houve nunca unanimidade. Como dissemos, só em 8 de Dezembro


de 1854, se deu a definitiva proclamação dogmática do privilégio de Maria –
livre do pecado original no primeiro momento da sua existência, isto é, na sua
“imaculada concepção” – pela bula Ineffabilis Deus, de Pio IX. Passado ano e
meio depois da celebração de 1946, a Assembleia Nacional aprovava a lei n.º
2.029 da Presidência do Conselho, que Carmona promulgou a 5 de Junho de
194836. Esta lei é de fundamental importância por várias razões:
Em primeiro lugar, porque, no seu dizer, era “restabelecido o feriado nacional
do dia 8 de Dezembro” (artigo 1.º)37. Ou seja, pela primeira vez, em 38 anos
(desde a implantação da República), era reconhecido pelo Estado como feriado
anual um dia santificado pela Igreja.
Em segundo lugar, porque se decretava taxativa e obrigatoriamente que o
domingo era “o dia de descanso semanal em todo o País” e que seria “da exclusiva
competência do Governo autorizar as excepções” (artigo 2.º). Ou seja, não mais
eram permitidas as excepções “privadas” de comum acordo, cujo reconhecimento
era, até aí, atribuído às Câmaras Municipais, sem expressa anuência do Governo.
O descanso semanal, finalmente, coincidia, em termos legais, com o descanso
dominical, o “dia do Senhor” (significado que tem a palavra “Domingo”).
Por último, perante a mais do que provável continuação das pressões por
parte da Igreja e dos sectores católicos, também pela primeira vez o Estado
se comprometia a proceder à “revisão dos feriados nacionais” no sentido do
“seu possível ajustamento aos dias santos que a Igreja Católica julgue não dever
dispensar”, mas também ponderando as “grandes datas da história nacional”
(artigo 3.º). Ou seja, ia-se tentar chegar a um acordo, que não se antevia fácil,
uma vez que, tirando os dois dias “comuns”, apenas encarados de maneira dife-
rente e que, de qualquer modo, se manteriam (1 de Janeiro e 25 de Dezembro), e
agora o também “comum” 8 de Dezembro, o Estado tinha ainda cinco feriados
(31 de Janeiro, 3 de Maio, 10 de Junho, 5 de Outubro e 1 de Dezembro) e a
Igreja pelo menos também cinco dias santos (Epifania, 6 de Janeiro; Ascensão,

36 Diário do Governo, I Série, n.º 130, sábado, 5 de Junho de 1948.


37 Há alguma incorrecção nesta ideia de “restabelecimento” do feriado, pois o dia da Imaculada
Conceição nunca chegou a ser propriamente feriado. Dava-se agora esse carácter – como já foi dito
– a um dia santo observado nos tempos da Monarquia como “Dia de pequena Gala”.

112
O Nacionalismo do E stado Novo

móvel; São Pedro e São Paulo, 29 de Junho; Assunção de Nossa Senhora, 15 de


Agosto; e Todos os Santos, 1 de Novembro). Se os portugueses gozavam até aí,
ao todo, de sete dias feriados por ano, com este “sinal” de boa vontade negocial
de 1948, o 8 de Dezembro, já ficavam com oito (nove, com o municipal, se ele
se verificasse).

1952 e o regresso dos feriados religiosos: Estado versus Igreja

No termo de 1951 – depois do Ano Santo de 1950, celebrado em todo o


mundo católico, incluindo em Portugal38 – foi, finalmente, alcançado um acordo,
depois de mais de três anos de negociações entre o Governo português e a Santa
Sé. Devem ter sido muito duras e complicadas, tanto pelo tempo que demoraram
como, sobretudo, pelo indisfarçável ressentimento com que, na altura, ambas as
entidades avaliaram o resultado. Apesar do acordo global, parece ter sido um
acordo de conveniência, afirmando publicamente cada uma das partes que
cedeu em demasia à outra. De qualquer modo, 41 anos depois da implantação
da República, quase 26 depois do 28 de Maio e 20 depois da subida de Salazar
a Chefe do Governo, era publicado o decreto n.º 38.596, da Presidência do
Conselho, datado de 4 de Janeiro de 195239. Os dias santificados pela Igreja
voltavam a ser reconhecidos oficialmente pelo Estado, na que constituiu, até
então, com a legislação republicana de 1910, a mais profunda remodelação do
quadro dos feriados nacionais em Portugal.

38 O “Ano Santo” tem a sua origem na tradição cristã medieval em que a participação nas
Cruzadas, a peregrinação a um lugar santo ou a colaboração na edificação de uma igreja davam
direito a indulgências, ou seja, ao perdão de todos os pecados. Daí terem surgido os anos jubilares
ligados a toda a Cristandade ou a certos santuários, como o de Santiago de Compostela. O Ano
Santo de 1950 foi particularmente celebrado, sendo anunciado pelo papa Pio XII, na bula Non mai
forse, de 24 de Dezembro de 1949, como o “ano do grande retorno [a Deus, dos incrédulos] e do
grande perdão”. Em Portugal foi celebrado de forma particular em Fátima e deu origem a um selo
do correio com a Nossa Senhora.
39 Diário do Governo, I Série, n.º 1, 4 de Janeiro de 1952. Não necessitou de aprovação na
Assembleia Nacional, uma vez que a lei n.º 2.029 de 1948 tinha atribuído ao Governo competência
para decidir sobre esta questão. O articulado do decreto – até pelo estilo do texto – deve ser, pois,
da inteira responsabilidade de Salazar.

113
F eriados em Portugal

Embora o compromisso já viesse, como vimos, de 1948 e a reivindicação


dessa “reparação” por parte dos católicos nunca tivesse cessado, o momento da
concessão poderá ser inserido no contexto de uma conjuntura política e religiosa
específica. Com efeito, em Abril de 1951, falecia o marechal Carmona e estava-se,
na Assembleia Nacional, em pleno processo de revisão constitucional, para além
de se ter verificado (conforme foi notado) o Ano Santo.
A Constituição de 1933 fixou, como dissemos, o aconfessionalismo do Estado
e a sua separação da Igreja Católica (artigo 46.º), precisando, por exemplo, que
o ensino público seria “independente de qualquer culto religioso” (artigo 43.º,
§3.º). Essa “neutralidade religiosa” manteve-se até ao fim da sua vigência, no do-
mínio formal, apesar de algumas alterações que foram introduzidas. Tal princípio
nunca foi bem aceite por alguns influentes católicos e pela sua hierarquia. Por
isso, numa carta dirigida a Salazar, de 27 de Janeiro de 1933, o Cardeal Patriarca
– ainda se tratava apenas de uma reacção ao projecto da Constituição e não
propriamente à lei fundamental – verberava a situação, dizendo: “[…] os direitos
da Igreja e da consciência católica não foram devidamente assegurados, ainda
dentro do princípio que se tem por fundamental no projecto, a neutralidade do
Estado. […] Num país de tradição e sentimentos católicos, nós não podemos deixar
de lamentar que o Estado se declare praticamente ateu, não reconhecendo
expressamente a soberania de Deus, causa eficiente, exemplar e final do universo,
fundamento da moral e do direito.”40
Por isso, entende-se que nas sucessivas revisões da Constituição, os “católi-
cos” tentassem que o facto de a religião católica ser professada pela esmagadora
maioria da população portuguesa encontrasse tradução no texto constitucional.
Se foram conseguindo alguns avanços, em termos legais e em termos práticos,
foi sempre em aspectos limitados e sem violar o princípio fundamental.
Assim, logo na revisão de 1935 (lei n.º 1.910, de 23 de Maio), o ensino público
passou a orientar-se “pelos princípios da doutrina e moral cristãs, tradicionais
do país” (alteração do § 3.º do artigo 43.º). Na sequência desta remodelação,
fora da moldura constitucional, surgiu a lei n.º 1.941, de Carneiro Pacheco,
que alterou a estrutura da Instrução Pública, no sentido de lançar as bases da

40 Cfr. IAN/TT, OAS/CO/PC-5ª, pt. 5.

114
O Nacionalismo do E stado Novo

“Educação Nacional” (designação que seria usada a partir daí, mesmo no que
concerne ao nome do referido Ministério). A base XIII mandava colocar por
detrás da cadeira dos professores do ensino primário infantil e elementar “um
crucifixo, como símbolo da educação cristã”. Só, porém, na revisão constitucio-
nal de 1951, justamente concluída em Junho (lei n.º 2.048, de 11 de Junho), se
reconheceu que a religião católica era a “religião da nação portuguesa”41. Esta
expressão viria no sentido de satisfazer as aspirações dos católicos, numa altura
em que eram cada vez mais evidentes os sinais de algum distanciamento de
certos sectores daqueles em relação ao regime42. Por outro lado, esta alteração
da lei fundamental do país permitia fornecer uma base justificativa do decreto
de Janeiro de 1952.
Voltando a este decreto, logo a abrir, o presidente do Conselho começa por
fazer notar que, quanto “aos dias santos”, “pela letra da Concordata”, o Governo
não estava “obrigado a decretar a sua equiparação a feriados oficiais”, mas reco-
nhece que acabavam por estar “em perfeita harmonia com as nossas tradições
seculares, sobretudo relativamente aos dias santos mais fortemente vincados nos
usos e costumes do País e de mais viva devoção na alma do povo português”.
Prosseguindo, considera que o Governo procurara honrar o compromisso de
1948, mas “na medida do possível”, e nas negociações com a Santa Sé teve a
preocupação de chegar a acordo “sem que todavia resultassem da fórmula
encontrada apreciáveis prejuízos para a economia nacional com grande au-
mento de dias de inactividade obrigatória”. Cumprido este duplo objectivo,
Salazar dá a entender que o Estado fez demasiadas concessões, pois, quanto
ao parâmetro das “grandes datas da história nacional”, que o compromisso de
1948 também obrigava a ter em conta, “aceita-se de boa vontade que não fica

41 Ver M. Braga da Cruz, ob. cit., pp. 17-8, e o cap. IV, do vol. XII, da Nova História de
Portugal (direcção de J. Serrão e A. H. Oliveira Marques) Portugal e o Estado Novo (1930-1960),
coordenado por Fernando Rosas, Lisboa, Editorial Presença, 1992, pp. 201-255. É curioso que o
parecer da Câmara Corporativa, elaborado por Marcello Caetano, foi contrário a esta disposição.
Note-se também que, apesar de alguma insistência – propostas nesse sentido foram rejeitadas
–, o nome de Deus só surgiu na Constituição na revisão de 1971 (lei n.º 3/71, de 16 de Agosto,
artigo 45.º), devido talvez a uma campanha pública de assinaturas organizada por uma comissão
composta por um padre católico e por um dirigente de cada uma das comunidades judaica e
islâmica de Lisboa.
42 Ver M. Braga da Cruz, idem, parte IV, “A II Guerra Mundial e a progressiva desagregação do
apoio católico ao regime”, pp. 93-112.

115
F eriados em Portugal

perfeitamente realizado”. Tendo Portugal “uma História tão rica de grandes


fastos”, seguiu-se o critério, “não sem hesitação”, de não escolher datas que não
fossem até aí comemoradas e, ainda assim, para a necessária redução, teve
de se “sacrificar algumas” das que o eram. Ficavam aquelas “de mais vincada
significação histórica ou de maior sentido político” e, a “exemplo do que su-
cede em outros países”, uma das datas instituir-se-ia “em Dia de Portugal”. A
escolha recaiu no 10 de Junho, “comemorativo de Camões, pelo alto valor
nacional e pela projecção universal da obra do nosso grande épico, na qual
se consubstanciam as maiores glórias dos Descobrimentos”. Embora já fosse
“Comemorativo da Festa de Portugal”, é com este decreto que o 10 de Junho
se torna afinal o dia simbólico por excelência da Nação, “denominado «Dia de
Portugal» e consagrado à Festa Nacional”. Como se vê, não se alude à designação
corrente do “dia da Raça”, próprio de uma época de nacionalismos mais fortes e
até violentos.
Recorde-se que, cerca de dez anos depois, em momento já trágico do regime,
ou seja, quando se verificou a guerra da África (“Guerra Colonial”, como hoje se
diz, ou “Campanhas Ultramarinas”, na linguagem oficial do tempo), renovou-se
o 10 de Junho, em cerimónia de louvor aos novos “heróis do Ultramar”, vivos e
mortos. Com efeito, depois de 1963 era nesse dia que se distribuíam as condeco-
rações aos soldados, por vezes a título póstumo às suas famílias, com discursos
de circunstância de ministros e professores universitários, que recordavam a
história de Portugal e de Camões.
Mantinham-se, também, o 5 de Outubro, “comemorativo da implantação do
regime republicano” (antes, “consagrado aos heróis da República”), e o 1 de
Dezembro, “comemorativo da Restauração da Independência”. Caíam, como
seria óbvio, os politicamente mais dispensáveis, de acordo com a filosofia do
Estado Novo, e de menor carga nacionalista, ou seja, o 31 de Janeiro e o 3 de
Maio. Como vimos, já se tinha pensado na substituição do 31 de Janeiro pelo
28 de Maio em 1936 e 1938, o que não sucedeu, e a supressão do 3 de Maio
até permitia apagar um erro historiográfico evidente. No entanto, terá sido
ponderado se a sua eliminação não afectaria a normalidade das boas relações
com o Brasil que caracterizou a política externa de Salazar ao longo da década
de 1950 e cujos pontos altos foram a ratificação do Tratado de Amizade e
Consulta Luso-Brasileiro em 1954, as visitas de Café Filho a Portugal em 1955

116
O Nacionalismo do E stado Novo

e de Craveiro Lopes ao Brasil em 1957, culminando com a presença especial de


Juscelino Kubitschek de Oliveira nas Comemorações Henriquinas de 1960 43.
Mas este decreto de 1952 pode marcar também a substituição do 1.º de De-
zembro pelo 10 de Junho como data privilegiada do regime salazarista, conforme
acabámos de ver pela institucionalização deste último como “Dia de Portugal”.
Esta troca era, mesmo, explícita e traduzia-se em benefícios legais, na medida em
que só no 10 de Junho e nos dias santos “equiparados a feriado oficial” era “obri-
gatória a cessação de todas as actividades não permitidas por lei aos domingos”,
sendo, por isso, aos “assalariados de carácter permanente”, incluindo os das
fábricas do Estado, “devido o pagamento de salários”44. Traduzindo-se numa
clara desvalorização do 5 de Outubro e até do 1 de Dezembro, nestes, não só
era tolerada a actividade laboral como, no caso de paragem, os trabalhadores
não receberiam, com excepção óbvia para as repartições do Estado e para os
funcionários públicos45.
A relativa subalternização do 1.º de Dezembro afigurava-se, em certa medida,
consequente, tendo em atenção o desfecho da crise resultante da tentativa res-
tauracionista de 1951, “o ano de todas as esperanças” monárquicas. De facto,
assente a continuidade da República, ressentidos os monárquicos mas, por outro

43 A ideia de um dia simbolizando o vínculo entre os dois países não foi abandonada depois
da supressão do feriado de 3 de Maio. Em 1967, a 22 de Março, a Assembleia Nacional recomenda
que o governo institua o “Dia da Comunidade Luso-Brasileira” e idêntica iniciativa é tomada pelo
Congresso brasileiro. O dia escolhido é o 22 de Abril, a data certa do descobrimento do Brasil. Sem
o tornar feriado, o decreto é publicado pelo Presidente da República nesse mesmo ano, simbolica-
mente no dia instituído (ver Franco Nogueira, Salazar, vol. VI, O último combate, pp. 272 e 276).
Em plena “guerra colonial” e condenado nas instâncias internacionais pela sua política ultramarina,
o laço com o Brasil legitimaria a missão histórica de Portugal como povo evangelizador, civilizador
e colonizador, ao mesmo tempo que reforçava a relação com o Brasil que, nos anos 50 e 60, com
excepção do período de Jânio Quadros e João Goulart (1961-64), apoiou, por norma, a política
colonial portuguesa, como, por exemplo, no caso das votações na ONU.
44 Para compensar o patronato, “o número de horas de trabalho correspondentes aos feriados
será distribuído pelos dias imediatamente antecedentes e subsequentes, não podendo todavia o
período de trabalho diário ser aumentado mais de duas horas” (artigo 3.º).
45 Repare-se no facto de expressamente se revogar o decreto-lei n.º 24.706 de 1934, já por
nós analisado, e que contemplava o 1.º de Dezembro com a observância agora conferida ao 10 de
Junho. Foram revogados também o decreto n.º 17.171 de 1929 e os artigos relativos a feriados do
decreto-lei n.º 19.478 de 1931. Os Almanaques religiosos não deixaram de registar a posição espe-
cial dos dias santos e do 10 de Junho. Por exemplo, o Almanaque da Juventude (ou Almanaque
de Santa Teresinha), Porto, 1956, indicava, expressamente, em Nota, a nova hierarquia: “Os dias
santificados e o dia da Festa Nacional (10 de Junho) são feriados obrigatórios. Os dois restantes são
facultativos (excepto para o funcionalismo)”.

117
F eriados em Portugal

lado, reanimados com o regresso de D. Duarte Nuno de Bragança, que fixou


residência em Portugal, impunha-se uma maior discrição em relação ao dia da
Restauração, e da Casa de Bragança, de forma a não poder ser aproveitado
para reabrir uma questão que Salazar e Caetano tinham fechado com a eleição
de Craveiro Lopes e com o Congresso de Coimbra da União Nacional, onde
Marcello, intrinsecamente monárquico, viera dizer, num discurso significativo,
que o Estado Novo era, ele próprio, um regime e que não era tempo para voltar
à Monarquia46. O apagamento expressamente imposto por Salazar ao duque
de Bragança viria a traduzir-se, pelo menos no que diz respeito à evocação da
memória do 1.º de Dezembro de 1640, na prática de uma comemoração sepa-
rada. A actual tradição da sessão monárquica paralela às celebrações oficiais da
“Restauração da Independência” é herdeira das romagens a São Marcos (palá-
cio próximo de Coimbra, onde a família de Bragança passaria a habitar47) por
ocasião do 1.º de Dezembro, que durante muitos anos se realizaram, a partir da
segunda metade da década de 50. Tratava-se de uma recepção pela qual o
herdeiro do trono português recebia a homenagem dos seus mais fiéis apoiantes.
Os monárquicos acabaram, assim, por materializar, embora mais a contragosto
do que de modo voluntário, uma comemoração com um carácter “confidencial-
mente” privado48.

46 Cfr. este discurso (supomos em versão integral) – que não se encontra publicado nas actas
do Congresso – in Diário de Notícias, 24 de Novembro de 1951. Ver, de Luís Reis Torgal, a reflexão
sobre Marcello Caetano no livro Estados Novos, Estado Novo, vol. 1, parte II, cap. 7.
47 Este palácio é actualmente propriedade da Universidade de Coimbra, que o adquiriu por
um preço simbólico.
48 Embora as leis do banimento de 1834 (para o caso de D. Miguel I, a cuja linha sucessó-
ria pertencia D. Duarte Nuno, pois era seu neto e filho de D. Miguel II) e de 1910 já não fossem
observadas – D. Duarte Nuno esteve em Portugal várias vezes ao longo dos anos 40 –, em 1949 o
deputado Jorge Botelho Moniz apresentou um projecto de lei na Assembleia Nacional que expres-
samente as revogava. Apesar do imediato manifesto desacordo de Salazar quanto a uma residência
permanente do Duque de Bragança no país, depois de aprovada a lei, em Abril de 1950, este
apressou-se logo a preparar a sua instalação definitiva em Portugal. Terá vindo, de vez, em 1952 e,
depois de habitar provisoriamente numa quinta próxima de Vila Nova de Gaia, passou a viver, na
segunda metade dos anos 50, no palácio de São Marcos, perto de Coimbra, entretanto restaurado,
por proposta de Salazar, à custa de rendimentos da Fundação da Casa de Bragança. Aí permaneceu
até 1975, vindo a falecer no ano seguinte, já em Lisboa. Para os inequívocos avisos de Salazar para
D. Duarte Nuno se manter “discreto”, até pela “guerrilha” entre sectores monárquicos e Craveiro
Lopes, ver F. Nogueira, Salazar, IV, O ataque, p. 372 e 484-485. Sobre D. Duarte Nuno, pai do
actual duque de Bragança, D. Duarte Pio, ver D. Duarte Nuno de Bragança. Um Rei que não reinou,
Lisboa, s/ed., 1992.

118
O Nacionalismo do E stado Novo

Liquidadas, deste modo, as veleidades de uma restauração monárquica, está-


veis e, mesmo, boas as relações com Espanha – era Portugal, aliás, um dos poucos
países do Mundo a reconhecer o regime de Franco49, não alinhando com o iso-
lamento internacional a que este tinha sido votado –, a grande preocupação de
Salazar era cada vez mais a garantia da manutenção do Império Ultramarino,
posto em causa pelos princípios orientadores da nova ordem internacional saída
da II Guerra Mundial. O começo dos processos de descolonização na Ásia e
na África do Norte, pelo fim dos anos 40 e início dos anos 50, e de que tinha
resultado a reivindicação da Índia portuguesa pela União Indiana de Nehru,
toldavam o horizonte de Portugal alegadamente como “Nação multirracial e
pluricontinental”. O investimento no 1.º de Dezembro podia, nesta medida, ser
transferido, como dissemos, para o 10 de Junho, “dia de Portugal” e do seu génio
colonizador, de que Camões era o intérprete como o “grande épico” que, assim,
não deixou de lhe dar este sentido.
Em suma, dos cinco feriados “histórico-nacionais”, continuavam três (10 de
Junho, 5 de Outubro e 1 de Dezembro). Em relação aos outros três (1 de Janeiro,
8 de Dezembro e 25 de Dezembro), a Igreja, naturalmente, quereria a sua manu-
tenção e “conversão” e foram recuperados mais três dias santos (Corpo de Deus,
móvel, 15 de Agosto, Assunção de Nossa Senhora, e 1 de Novembro, Todos os
Santos). A soma dos feriados acabou por ficar em nove. Se antes eram oito
(nove, com o concelhio), Salazar conseguiu que o número de dias sem trabalho
aumentasse o mínimo possível ou mesmo não aumentasse.
Na verdade, com esta revisão, “aproveita-se a ocasião para se resolver em
termos diferentes” o problema “dos feriados municipais, que não têm tradição
apreciável”. Salazar entendia que, pela lei de 1910, confirmada pela de 1929, muitas
Câmaras tinham inventado “festas tradicionais e características” no seu município.
Apenas se admitia a continuação de alguns, “poucos”, como frisou, e “que
andem ligados a verdadeiras festas tradicionais e características dos concelhos”.
Deste modo, igualava realmente, em muitos casos, o número que passaria a
vigorar ao que estava anteriormente.

49 Recorde-se que em 1949 Franco visitou Portugal, tendo sido doutorado honoris causa pela
Universidade de Coimbra.

119
F eriados em Portugal

Ainda por esta revisão revia-se “também o regime da até agora chamada to-
lerância de ponto e redução de horas de trabalho nos serviços oficiais, em deter-
minados dias não considerados de feriado”50.
Além do mais, tendo já concedido à Igreja o 8 de Dezembro, dia da Imaculada
Conceição, em 1948, devolvia-lhe, agora, os dois dias que a República tinha lai-
cizado, para serem de novo sacralizados, tanto mais que estavam incluídos no
elenco dos dez dias santos que a Santa Sé tinha definido. Assim, o 1 de Janeiro
deixava de estar consagrado “à fraternidade universal” para ser celebrado como
dia da Circuncisão do Senhor; o 25 de Dezembro, antes oficialmente “consa-
grado à família”, voltava a ser plenamente festejado como dia de Natal, ou da
Natividade de Jesus Cristo. Para Salazar, escrupuloso defensor dos interesses do
Estado, o “sacrifício” parecia-lhe evidente.
Mas as contas da Igreja não eram exactamente as mesmas. Em 11 de Janeiro
desse ano de 1952, uma “Nota Oficiosa do Episcopado Português” informava os
fiéis do acordo realizado e fazia o balanço geral do ponto de vista da Igreja por-
tuguesa, determinando que era para ser “lida e convenientemente explicada à
estação da Missa em domingos consecutivos”51.
Tendo já três dias santos instituídos e não vendo possibilidade de conseguir
mais do que outros três reconhecidos como feriados, dos sete que gostaria de
fazer observar, teve a Igreja de solicitar a Roma a dispensa de quatro dias de
preceito para os católicos portugueses. A Santa Sé e a Igreja de Portugal optaram
por indicar ao Governo os seguintes três dias santos a oficializar como feriados
nacionais: o da quinta-feira do Corpo de Deus (móvel), o da Assunção de Nossa
Senhora (15 de Agosto) e o de Todos os Santos (1 de Novembro). Passavam à
categoria de dispensados, com a respectiva solenidade externa a ser transferida
para o domingo imediatamente a seguir, os quatro dias restantes: o dia da Epifania
ou de Reis (6 de Janeiro), o dia de São José (19 de Março), o dia da Ascensão do
Senhor (móvel) e o dia dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (29 de Junho).

50 Pelo revogado decreto de 1931, como vimos, a tolerância de ponto era concedida na terça-
feira de Carnaval e na sexta-feira santa, e para o período da tarde na quinta-feira santa e na véspera
de Natal. Agora, pelo artigo 5.º, era limitada à véspera de Natal e à tarde de quinta-feira santa, não
a concedendo, portanto, na sexta-feira de Páscoa e no Carnaval.
51 Publicada integralmente, sob o título “Dias santos e feriados nacionais”, in Lumen. Revista de
Cultura do Clero, vol. XVI, fasc. III, Março, Lisboa, 1952, pp. 169-75 (inclui a reprodução do decreto
da Presidência do Conselho). Ver Anexo, III, 7.

120
O Nacionalismo do E stado Novo

A nota oficiosa começava por realçar o sinal da “predilecção” da Santa Sé por


Portugal, demonstrado pela anuência do Papa Pio XII em tornar os dias santos
dispensados, que só se justificava pela prioridade da “cessação do escândalo
proveniente do trabalho em dias festivos”, escândalo que não se verificava “até
em países protestantes” e tanto mais chocante quanto a “Nação Portuguesa é um
país católico” (lembrava que no censo de 1940, 93,1 % da população se declarou
católica). Daí que “a vida social, económica e política da Nação devia estar
organizada por forma a facilitar a todos o cumprimento das exigências da sua
consciência religiosa”. Pela “legislação sectária” de 1910, “a despeito dos princí-
pios democráticos professados pelo regime [...], a esmagadora maioria da Nação
[...] longe de encontrar aquela facilidade, só encontrava dificuldades”. Tendo esta
“dolorosa experiência” durado longos “41 anos”, a hierarquia da Igreja portuguesa,
nessa nota oficiosa, não perdia também a oportunidade de visar directamente
as “pessoas responsáveis do actual regime” que afirmaram “pretender repor a
Nação na linha pura da tradição” e, no fundo, permitiram que chegasse “intacta
até nós” aquela “legislação sectária”. Isto, apesar de a Igreja, a cuja voz “veio
juntar-se a da imprensa católica”, nunca ter deixado de “reclamar”. Nos 16 anos
de República jacobina ainda era compreensível que tal sucedesse, mas nunca nos
25 do Estado Novo nacionalista, com um antigo dirigente do Centro Católico
Português ao leme da Nação.
Aceitar a dispensa de quatro dias santificados era, pois, em rigor, uma “muito
grave resolução” que ia “de encontro a uma tradição multissecular da cristandade
inteira” e reduzia, “em muito, a oração pública e oficial da Igreja”, e não “foi sem
sacrifício, e grande” que a tal acedeu “para Portugal”, pois “estes quatro dias [...]
para os católicos de outros países” continuavam “a ser de preceito”. Só mesmo
“no intuito de evitar um mal maior” e “constrangida pelas circunstâncias” é que
a “Santa Igreja” acabou por firmar um acordo que, no seu entender, era uma
muito má solução. Na contabilidade do Episcopado português, “ao passo que o
Estado reduzia a sua lista de oito a seis52, a Igreja reduzia a sua de dez a seis”53.

52 Abolia-se, assim, o 31 de Janeiro (revolução republicana do Porto ou “mártires da República”)


e o 3 de Maio (comemorativo da descoberta do Brasil).
53 Dispensava-se, deste modo, a Epifania e dia de Reis (6 de Janeiro), o dia de São José (19 de
Março), a Ascensão do Senhor (móvel) e o dia de São Pedro e São Paulo (29 de Junho).

121
F eriados em Portugal

No final, o “Estado ficou com mais um feriado do que já tinha54; a Igreja ficou
com menos quatro dias santos”. Com esta aritmética, a hierarquia episcopal
queria significar que os três dias que já estavam consagrados (Ano Novo, Natal
e Imaculada Conceição) tinham sido decretados feriados oficiais por exclusiva
e autónoma decisão do Estado que, assim, lhes conferira dimensão nacional,
independentemente de qualquer acordo.
Para além desta polémica em que cada parte alegou as suas razões, se os
“regimes” da Ditadura Militar, iniciada em 28 de Maio de 1926, e o autoritário
Estado Novo, durante mais de 25 anos, praticamente não tocaram na questão
dos feriados da República, a profunda mudança de 1952 também só poderá
entender-se por completo, para lá dos factores que fomos indicando, por uma
alteração significativa, ainda que pouco visível, da relação de forças no inte-
rior da nomenklatura, bem como pelas novas prioridades e estratégias das
oposições.
Terá pesado, por um lado, o progressivo desaparecimento, até por razões de
idade, dos elementos de sectores republicanos vindos do período anterior a 1926
e para os quais, embora aderindo ao Estado Novo, a “questão religiosa” era mais
sensível. Será, decerto, mera coincidência, mas não deixa de ser curioso, como
já sugerimos, que o decreto de 1952 tenha sido promulgado depois da morte
do presidente Óscar Carmona, justamente o representante militar dessa direita
republicana, autoritária e conservadora, mas laica. Aliás, como é sabido, Carmona
havia sido membro da Maçonaria.
Por outro lado, sem esperanças numa restauração da Monarquia e afastada
progressivamente grande parte da “elite” monárquica, alguns católicos mantive-
ram-se como base de apoio a Salazar, numa lógica “republicana”. Mas também
é verdade, que católicos mais conservadores ou mais progressistas lutaram
contra o Estado com as suas próprias armas, ou seja, tentando mostrar que o
regime não estava a cumprir a sua tendência natural para um corporativismo
cristão, para o cumprimento de uma educação católica (a luta pela Universi-
dade Católica foi uma luta da hierarquia, mas também de grupos católicos, até

54 Deveria querer referir-se ao dia da Imaculada Conceição, que em certa medida era
considerado também um feriado do Estado, pois recordava Nossa Senhora como “Padroeira de
Portugal”.

122
O Nacionalismo do E stado Novo

claramente tradicionalistas55), nem mesmo para aceitar o nome de Deus na


Constituição. Assim, se o Estado acabava por aceitar pragmaticamente a pressão
dos católicos, alegando que o fazia não sem prejudicar as “razões de Estado”,
estes, e mesmo a hierarquia, criticavam o Estado pela “falta de respeito” em
relação aos seus deveres.56
Ainda se deve assinalar que não parece haver sinais muito nítidos de a opo-
sição não aceitar esta tendência para o Estado Novo se revelar permissivo em
relação à força da Igreja relativamente aos feriados. Mesmo certos movimentos
socialistas, democráticos ou de sistema, não pretendiam ressuscitar a velha
“questão religiosa” que se revelara, na I República, pouco eficaz em termos polí-
ticos. E o certo é que católicos progressistas estiveram com os mais variados
grupos de oposição nas lutas eleitorais e nas revoltas contra o Estado Novo.
Aliás, superados alguns aspectos pontuais mais restritivos (como a possibilidade
do divórcio para o casamento católico, que, de resto, também foi defendida por
padres católicos mais avançados57), esta percepção estará na origem do facto de
nenhuma força política – nem mesmo, na esquerda marxista, o Partido Comunista
– ter agitado, de novo, a questão religiosa a seguir ao 25 de Abril de 1974.

Salvo um ou outro reajustamento pontual, foi o quadro estabelecido pelo


citado decreto n.º 38.596, de 4 de Janeiro de 1952, que vigorou nos últimos vinte
e dois anos do Estado Novo, até ao seu derrube pelo Movimento das Forças
Armadas no dia 25 de Abril de 1974. Marcello Caetano que, em Setembro de
1968, foi nomeado presidente do Conselho em virtude da doença de Salazar, não
procedeu, pois, a qualquer modificação no elenco dos dias feriados. O artigo 5.º
do decreto-lei n.º 94/70 de 12 de Março, veio apenas alterar a tolerância de ponto.
Deveria verificar-se na véspera de Natal e, em vez da tarde de quinta-feira santa,
era concedida para a tarde de sexta-feira santa e para o dia seguinte, o sábado
anterior ao domingo de Páscoa.

55 Ver Fernando de Aguiar, Por uma Universidade Católica. Uma campanha do Espírito, Lisboa,
Sigma, 1951.
56 Ver, para além de outras obras já citadas, o capítulo do livro já referido Estados Novos, Estado
Novo, vol. I, parte II, cap. 3, “Estado Novo, Igreja e católicos”.
57 Ver Lígia Inês Gambini, Urbano Duarte: Igreja, apostolado de estudantes e jornalismo, do
Estado Novo ao pós-25 de Abril, Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, 2009.

123
(Página deixada propositadamente em branco)
5

O 25 DE ABRIL, OS FERIADOS E OS DIAS SANTOS


entre a revolução e o consenso com a igreja

Revolução e contenção: continuidade, adaptações e acrescentos

O 25 de Abril de 1974, com o seu programa de democratização (e também


de descolonização e desenvolvimento), foi, em Portugal, o momento em que se
operou no século xx a maior transformação política, a ponto de se considerar
que se verificou uma verdadeira “revolução” (conhecida como “Revolução dos
Cravos”), ainda que – como em outros momentos ditos revolucionários – tudo
tenha começado com uma acção essencialmente militar, neste caso um movi-
mento conhecida pelo “Movimento das Forças Armadas” (MFA).
Com efeito, se em 5 de Outubro de 1910 se deu uma mudança de regime, ou
seja, a passagem de uma Monarquia para uma República, não se pode dizer que
se tenha operado uma mudança de sistema. Essa ocorreu, sim, com a Revolução
de 1820 – a passagem de uma Monarquia Absoluta a uma Monarquia Liberal
– que constitui talvez, pese embora o carácter efémero do vintismo, a maior
transformação política portuguesa da época contemporânea. Ou seja, o que
havia em 4 de Outubro era uma Monarquia Constitucional – ainda que o país
tivesse como lei fundamental não uma Constituição votada por uma Assembleia
Constituinte, mas sim uma Carta Constitucional outorgada pelo rei (D. Pedro IV),
com sucessivos Actos Adicionais – e pluripartidária, com base essencialmente
numa lógica “rotativista” de dois partidos principais, o regenerador e o pro-
gressista. Havia, por outro lado, liberdades civis, que, de resto, possibilitaram

125
F eriados em Portugal

a afirmação e a propaganda da República (parlamentares republicanos estiveram


na Câmara dos Deputados), mesmo que episodicamente tivessem surgido gover-
nos de “ditadura” (de que a ditadura de João Franco foi um caso exemplar), como,
aliás, veio a acontecer durante a República. Portanto, o regime republicano, assente,
a partir de 1911, numa Constituição elaborada por uma Assembleia, se tinha como
novidade um Presidente eleito (e não um Rei hereditário), embora pelo Congresso
e não eleito por sufrágio directo, e se desenvolveu a actividade política, depois de
1911-1912, a partir da acção dos partidos (sobretudo três, até 1919, isto é, o demo-
crático, o evolucionista e o unionista), pode dizer-se que apenas conheceu outro
tipo de liberdades diferentes das que, todavia, foram experimentadas no regime
monárquico liberal. Afirmou-se através de ideais renovadores e até revolucionários
demoliberais, naturalmente imperfeitos e nem sempre realizados.
O mesmo não se pode dizer do sistema saído do 25 de Abril, em que se dá
uma mudança de sistema. Na verdade, o que havia no dia anterior era um sistema
de corporativismo autoritário, ainda que o marcelismo tivesse trazido uma apa-
rência de abertura, logo a seguir fechada pelos ultra-salazaristas, com aceitação
do novo presidente do Conselho. Não havia partidos, eleições livres, nem liber-
dades cívicas, desde 1933 consideradas no artigo 8.º da Constituição mas logo
negadas por legislação regulamentadora e, sobretudo, por uma acção repressiva
política e policial. Depois de um período marcado por um activismo socialista
revolucionário, conhecido por PREC (Processo Revolucionário em Curso), nunca
contudo concretizado, ainda que ensaiado em muitas situações (nacionalizações,
reforma agrária, saneamentos, etc.), uma Assembleia Constituinte elaborou uma
Constituição (de 1976) criadora de um sistema democrático de tipo “ocidental”,
apesar de alguns artigos de tipo marxista, que foram sendo revogados e subs-
tituídos em várias revisões constitucionais. A Junta de Salvação Nacional, de
carácter militar, que se manteve como garantia das “promessas de Abril” (dife-
rentemente consideradas pelos seus membros) até 1975, depois do 11 de Março
foi substituída pelo Conselho da Revolução, também de carácter militar, que
veio a ser extinto aquando da primeira revisão constitucional, em 1982. Até
a Presidência da República deixaria em breve de ser assumida por um militar,
o que veio a acontecer em 1986, com Mário Soares. Neste processo complexo,
primeiro de características militares e revolucionárias, deu-se, logo após o 25
de Abril, uma acção descolonizadora, eleições directas e universais, formação

126
O 25 de A bril , os feriados e os dias santos

de partidos, veleidades de desenvolvimento económico e de nivelamento social


(onde se vislumbrava um vocabulário de raiz socialista) e, depois, o nem sempre
pacífico pedido de integração de Portugal na Comunidade Europeia, em breve
União Europeia, confirmado em 1986.
Portanto, pode dizer-se que houve uma mudança de sistema, com a consoli-
dação de uma democracia que passou por crises diversas e teve a sua grande
crise, crise económica, mas também política (complexa, que envolve diversos
aspectos de natureza cívica), sobretudo já no século xxi, como em todas as
democracias europeias e do Mundo, embora cada uma de modo diferente, pois
o seu percurso é também diverso. A falta de independência e a subordinação
aos poderes económicos mundiais, a crise social, com uma taxa de desemprego
galopante, transportam-nos a outra imagem de mudança de sistema, de que
se vai falando, mas de difícil definição.

Esta síntese apenas pretende registar, por um lado, a ideia da mudança de


sistema político que o 25 de Abril implicou, mas, por outro, tem também o
sentido de mostrar que, apesar disso, em alguns aspectos, as modificações não
foram tão profundas como se poderia pensar, devido a algumas razões já suge-
ridas e a outras motivações que podem ser induzidas e deduzidas. E, como se
sabe, algumas transformações tendem a conhecer um processo regressivo.
A separação do Estado das Igrejas, bem como separação da educação pú-
blica e dos partidos das religiões e das Igrejas, é afirmada e reafirmada em
vários artigos da Constituição e das suas revisões1. Por outro lado, a questão
do divórcio ficou logo resolvida em 1975, fazendo letra morta do artigo 24.º da
Concordata, para o caso dos casamentos católicos. Mas nada se afirma explici-
tamente no que concerne à decisão sobre os feriados, ainda que, naturalmente,
fosse óbvio o princípio que competia ao Estado confirmar como feriados na-
cionais os dias santos, cuja escolha era da competência da Igreja. No entanto
desde a Concordata de 1940 era também verdade – como já se notou – que
competia ao Estado a providência “no sentido de tornar possível a todos os
católicos, que estão ao seu serviço ou que são membros das suas organizações,

1 Olhando agora, apenas, a versão inicial da Constituição, ver: artigo 41.º, n..º 3, artigo 43.º,
sobretudo n.ºs 2 e 3, artigo 47.º, n.º 3.

127
F eriados em Portugal

o cumprimento regular dos deveres religiosos nos domingos e dias festivos”


(artigo 19º). Desta forma, não admira que o Estado, mesmo em fase mais revo-
lucionária, tenha tocado o menos possível no calendário festivo, quer cívico,
quer religioso. Na sua essência, as alterações introduzidas configuram-se ape-
nas como um acrescento, exigido para marcar a nova legitimidade, ou como
reajustamentos.
É, assim, compreensível que a primeira novidade decidida quanto aos feria-
dos o tenha sido em relação ao dia 1.º de Maio, feriado que, como dissemos, se
iniciou na França e veio a ser a pouco e pouco institucionalizado na maioria dos
países, em momentos diferentes, ainda que permaneça como data polémica e
não considerada feriado nos Estados Unidos, que, contudo, criou (como vimos)
um Labor day noutra data. Com efeito, logo a 27 de Abril de 1974, pelo decreto-
-lei n.º 175/74, a Junta de Salvação Nacional instituía como “feriado nacional
obrigatório o dia 1 de Maio, considerado o «Dia do Trabalhador»”2. Foi verdadei-
ramente a única manifestação que, nesse início da Revolução, uniu a esquerda,
tendo estado lado a lado nas grandes manifestações que então se realizaram
Mário Soares e Álvaro Cunhal.
Outra relativa inovação disse respeito aos feriados municipais, mais ligados
directamente aos interesses populares locais. Pelo decreto n.º 394/74 de 21 de
Agosto, já com Vasco Gonçalves (representante do radicalismo revolucionário) à
frente do Governo Provisório, e tomando como base o decreto de 4 de Janeiro
de 1952, que continuava em vigor, alargavam-se os critérios da criação dos fe-
riados municipais3. Depois de uma prática centralista durante o Estado Novo,
permitia-se o sinal de uma restituição de vida própria às autarquias locais.
Com a radicalização do processo revolucionário depois do 28 de Setembro
de 1974 (oposição à manifestação da “maioria silenciosa”), que levou Spínola
a demitir-se, e, sobretudo, após o 11 de Março de 1975 (alegada tentativa de
golpe militar da direita, que levou a um reforço da esquerda revolucionária), e

2 Ver Diário do Governo, I Série, n.º 99, sábado, 27 de Abril de 1974.


3 Ver Diário do Governo, I Série, n.º 200, quarta-feira, 28 de Agosto de 1974. Da responsa-
bilidade do Ministério da Administração Interna, alterava a redacção do artigo 4.º do Decreto n.º
38.596, de 4 de Janeiro de 1952, aceitando para feriados municipais, a “festa tradicional característica”
e também “dias de significado histórico para a vida do concelho”. A autorização seria ainda do
Governo, por portaria do MAI. Mas, em tempos não muito propícios a restrições, muitas Câmaras
aproveitaram para instituir o seu feriado municipal.

128
O 25 de A bril , os feriados e os dias santos

aproximando-se o primeiro aniversário do 25 de Abril, o governo do coronel


Vasco Gonçalves, com o general Costa Gomes na Presidência da República, vai,
não só instituir a data da “Revolução dos Cravos” como “feriado nacional”,
mas, inclusivamente, considerar o 25 de Abril como o “Dia de Portugal”, retirando
esta celebração ao 10 de Junho, demasiado “comprometido”, como vimos, com
a política colonial do Estado Novo. Pelo decreto-lei n.º 210-A/75, de 18 de
Abril, o Estado revolucionário legitimava-se pela identificação com a Nação
portuguesa da data com que iniciara a sua acção, tendente à formação de uma
“sociedade sem classes”4.
Como nenhum feriado vindo do Estado Novo (ou do “Estado Social”, designa-
ção preferida por Marcello Caetano) tinha sido abolido, e tendo já sido instituídos
mais dois feriados – com o municipal, em alguns casos, seriam três –, apenas
no curto período de um ano, alguma restrição, ainda que mínima, teria de ser
colocada. No decreto-lei n.º 292/75, de 16 de Junho, do Ministério do Trabalho,
destinado a fixar o salário mínimo (na altura, 4.000 escudos), dizia-se que,
“além do feriado municipal da localidade” e dos “legalmente obrigatórios”, ape-
nas poderia haver tolerância de ponto, “a título de feriados”, agora na sexta-feira
santa ou, em opção, na segunda-feira posterior ao domingo de Páscoa, e no dia
24 de Dezembro5.
Talvez porque esta expressão “a título de feriados” tivesse originado alguma
confusão, com o efeito contrário àquele que pretendia obter – uma certa conten-
ção –, por resolução do Conselho de Ministros, à frente do qual estava, agora, o
almirante Pinheiro de Azevedo (já representante de uma linha moderada da revo-
lução), e até porque se aproximava a “quadra do Natal” desse ano, os Ministérios
da Administração Interna e do Trabalho publicaram o decreto-lei n.º 713-A /75,
de 19 de Dezembro, com o objectivo, precisamente, de uniformizar o número
de feriados para todos os trabalhadores e de esclarecer as “dúvidas e lacunas”

4 Ver Diário do Governo, I Série, n.º 91, Suplemento, sexta-feira, 18 de Abril de 1975.
5 Ver Diário do Governo, I Série, n.º 136, segunda-feira, 16 de Junho de 1975. Não havia,
em termos reais, qualquer perda em tolerâncias de ponto pois, no total, eram dois dias e, antes,
com base no decreto de 1970, eram dois e meio, mas só para os que trabalhassem todo o dia
de sábado. Além do mais, era aplicado apenas nas “Empresas públicas e nacionalizadas bem
como nas privadas”, depreendendo-se que o não era para os funcionários públicos ou que estes
implicitamente já tinham essas tolerâncias. Tratava-se mais de estabelecer limites prévios, face a
prováveis futuras reivindicações.

129
F eriados em Portugal

suscitadas pela “tolerância de ponto”6. Aí eram definidos os onze “feriados obriga-


tórios”, sem qualquer alteração, e dizia-se que poderiam ser observados, além do
feriado municipal da localidade, a sexta-feira santa ou a segunda-feira posterior ao
domingo de Páscoa, e, em opção também, o 24 ou o 26 de Dezembro. Estes dois
dias concedidos para as quadras da Páscoa e do Natal seriam fixados anualmente
por despacho do Ministro, mas depois de “ouvidos os trabalhadores”.
Nesta sequência, passados poucos meses, já no fim do último governo provi-
sório, chefiado pelo referido almirante Pinheiro de Azevedo, com a publicação
do decreto-lei n.º 274-A/76, de 12 de Abril – legando ao próximo governo uma
situação difícil de alterar sem correr riscos de impopularidade –, atingia-se quer
o número máximo de feriados obrigatórios, quer, com os facultativos (tolerâncias
de ponto e feriado municipal), o mais elevado número de dias de paragem no
trabalho que alguma vez se gozou em Portugal, 13 e 15, respectivamente. Torna-
ram-se fixos e obrigatórios, para além dos onze anteriores, o dia de sexta-feira
santa e a véspera de Natal, 24 de Dezembro. Mantinha-se, como se disse, a
faculdade do feriado municipal e era, agora, também concedida tolerância de
ponto para a terça-feira de Carnaval que, assim, regressava após um longo
período de esquecimento, iniciado com o decreto de Salazar de 19527.
Estas regalias poderiam parecer excessivas e caberá a Mário Soares, líder do
Partido Socialista e primeiro-ministro do I Governo Constitucional (23 de Julho
de 1976 a 28 de Agosto de 1978), e já com o general António Ramalho Eanes na
Presidência da República (14 de Julho de 1976 a 9 de Março de 1986), proceder
a uma redução, ainda que mínima, de acordo, aliás, com a necessidade exigida
por aqueles tempos de austeridade. Com o decreto-lei n.º 874/76 de 28 de
Dezembro, do Ministério do Trabalho, que definia o regime jurídico de “férias,
feriados e faltas”, era estabelecido, praticamente, o quadro que ainda hoje vigora.
Mantinha-se a sexta-feira santa, mas caía o 24 de Dezembro. Em suma, os doze
feriados nacionais obrigatórios, o feriado municipal e o “feriado facultativo” do

6 Ver Diário do Governo, I Série, n.º 292, 2.º Suplemento, de 19 de Dezembro de 1975. Dava-se
nova redacção ao artigo que referimos do decreto n.º 292/75, de 4 de Junho.
7 Ver Diário da República, I Série, n.º 87, Suplemento, segunda-feira, 12 de Abril de 1976. Daqui
o fundamento para a polémica decisão do primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva, em 1993, que não
concedeu tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval, que, na verdade, nunca foi instituída como
feriado fixo obrigatório, sendo a sua concessão sujeita à decisão do governo.

130
O 25 de A bril , os feriados e os dias santos

Carnaval8. Ainda assim, dadas as concessões anteriores, algumas dúvidas perma-


neceriam, o que vai obrigar o governo de Mário Soares a reafirmar em 1977 a
validade do quadro que tinha definido no fim do ano que passara. Referindo
uma eventual “indeterminação legislativa” e visando, então, especificar “quais os
feriados obrigatórios para os trabalhadores da função pública”, foi publicado o
decreto-lei n.º 335/77, de 13 de Agosto, que indicava exactamente a mesma lista
do anterior, apenas anulando, agora, as excepções relativas à sexta-feira santa9.
Com este acto legislativo, traduzindo a estabilidade democrática constitucio-
nal, punha-se termo à intensa série de sucessivos acrescentos ou reajustamentos
que vinha desde 1974. Eram pequenas alterações que decorriam sobretudo
do próprio clima de instabilidade criado pela dinâmica política do período
revolucionário e pós-revolucionário. Como já vimos, as únicas e significativas
alterações, ideologicamente marcadas de carga simbólica, foram a celebração do
1.º de Maio e não só a celebração do 25 de Abril, mas também a sua acepção
como “Dia de Portugal”. Mas, travado o curso revolucionário que, pelos seus
dirigentes, num processo de apropriação, tinha sido identificado com esta data
– associação que ainda hoje não é totalmente disfarçável –, o 25 de Abril, assim
marcado, estava longe de reunir o consenso. Deste modo, 1977 foi o último ano
em que o 25 de Abril foi celebrado como “Dia de Portugal”. Aliás, foi também o
primeiro em que a data foi objecto de comemorações organizadas, por decisão
do governo presidido por Mário Soares, através da criação de uma comissão
executiva oficial com a competência de as coordenar, conforme ao decreto-lei
n.º 99-A/77 de 17 de Março10.

8 Ver Diário da República, I Série, n.º 300, terça-feira, 28 de Dezembro de 1976. Com este de-
creto, tornava-se praticamente extensivo a todo o país o gozo do feriado municipal, mesmo que, na
altura, algumas Câmaras ainda não o tivessem considerado, uma vez que o texto permitia, quanto ao
“feriado municipal da localidade”, no caso de “este não existir”, observar “o feriado distrital”. A sexta-
feira santa não ficava ainda definitivamente instituída com carácter fixo, visto que, em alguns pontos
do país, talvez para respeitar tradições específicas, contemplava-se a possibilidade de “o feriado de
sexta-feira santa” poder “ser observado num outro dia com significado local no período da Páscoa”.
9 Ver Diário da República, I Série, n.º 187, sábado, 13 de Agosto de 1977. Para que não surgis-
sem mais dúvidas, afirmava-se inequivocamente que o decreto-lei n.º 874/76, de Dezembro, tinha
revogado o 713-A/75 e o 274-A/76.
10 Ver Diário da República, I Série, n.º 64, Suplemento, quinta-feira, 17 de Março de 1977.
Recorde-se que em 1975 e 1976, o dia 25 de Abril foi celebrado talvez de maneira mais sentida, com
a realização das eleições para a Assembleia Constituinte e com as primeiras eleições legislativas
para a Assembleia da República.

131
F eriados em Portugal

A reciclagem do 10 de Junho e o 25 de Abril como “Dia da Liberdade”

Entretanto, o 10 de Junho já tinha sido revisto. Uns dias antes, em 4 de Março


de 1977, tinha sido publicado o decreto-lei n.º 80/77, da Presidência do Conselho
de Ministros (assinado pelo ministro de Estado, Henrique de Barros), no qual foi
determinado que o “Dia de Camões comemorado a 10 de Junho passe a ser
dedicado também às comunidades portuguesas no estrangeiro”11. Era o início do
processo de “reciclagem” do 10 de Junho.
Com efeito, a 2 de Março de 1978, ainda com o general Ramalho Eanes na
Presidência da República e com Mário Soares como primeiro-ministro – tornan-
do-se, assim, estas duas personalidades responsáveis pela definitiva fixação,
quer do elenco, quer do sentido, dos feriados que até 2012 continuávamos a
comemorar –, eram publicados simultaneamente dois decretos-lei, também pela
Presidência do Conselho de Ministros, que procediam à substituição, voltando o
10 de Junho a reocupar o seu lugar, como “Dia de Portugal”, e dando-se um
outro sentido mais conveniente, mas também especial, ao 25 de Abril.
Assim, pelo decreto-lei n.º 39-A/78, considerando-se que esta data “histórica”
representava “a libertação de Portugal e do povo português da feroz repressão
de um regime totalitário e antidemocrático e o começo de um tempo novo, que
restituiu aos Portugueses a liberdade e a democracia”, devia “ser anualmente
comemorada com dignidade e relevo correspondente ao alto significado que
assume para o Portugal renovado”. Nestes termos, pelo artigo 1.º, “O dia 25 de
Abril passa a designar-se Dia da Liberdade, devendo ser comemorado em todo
o País, ao nível das comunidades locais, por forma a dar a devida projecção à
data histórica do 25 de Abril”.
O decreto-lei n.º 39-B/78 começava por afirmar que o 10 de Junho “Dia de
Camões e das Comunidades, melhor do que nenhum outro, reúne o simbolismo
necessário à representação do Dia de Portugal”. Justificava depois: “Nele se aglu-
tinam em harmoniosa síntese a Nação Portuguesa, as comunidades lusitanas
espalhadas pelo Mundo e a emblemática figura do épico genial”. E concluía:
“Daí que, de ora avante, o dia 10 de Junho passe a ser o Dia de Portugal”. Pelo
artigo 1.º, a sua celebração passava a ser dedicada “a Portugal, a Camões e às

11 Ver Diário da República, I Série, n.º 53, sexta-feira, 4 de Março de 1977.

132
O 25 de A bril , os feriados e os dias santos

comunidades portuguesas no estrangeiro” e, pelo artigo 2.º, a ser comemorado,


quer em Portugal, quer junto destas12.

Feriados: datas cívicas ou dias de lazer?

Apesar destas iniciativas formais de afirmação ou reafirmação dos dias cívicos


do 25 de Abril e do 10 de Junho, e de manifestações sindicais no 1.º de Maio,
o certo é que, tirando algumas excepções e ocasiões, os feriados nacionais
(incluindo os dias santos) têm aparecido mais como dias de lazer do que como
dias de memória. Alguns são, porém, uma e outra coisa.
O 25 de Abril pode dizer-se que tem tido impacto em algumas instituições,
lugares e actividades, como nas escolas, nas associações cívicas, nos partidos ou
nos municípios, e não só (nem talvez sobretudo) no próprio dia mas nas datas
próximas. Por exemplo, professores e alunos têm organizado exposições, recitais
de poesia, audições musicais e por vezes sessões em que convidam historiadores,
assim como intervenientes directos na “Revolução dos Cravos” (recorde-se que
se organizou a Associação 25 de Abril, formado por esses interveniente e não só),
deficientes das Forças Armadas (que criaram também a sua própria Associação:
ADFA), oposicionistas ao Estado Novo e até ex-prisioneiros políticos, que não só
contam o que se passou nesse dia, nas vésperas e nos dias seguintes, como re-
flectem sobre a realidade anterior, o Estado Novo, ou o “fascismo à portuguesa”,
a repressão, a “guerra colonial” e os seus efeitos físicos e psicológicos. Esse tipo
de celebração tem tido tal ressonância pedagógico-didáctica que o Centro de
Documentação 25 de Abril – organizado em Coimbra, em 1985, no âmbito da
Universidade e presidido primeiro pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos,
para preservar a memória documental (escrita, oral13, etc.) da revolução –

12 Ver Diário da República, I Série, n.º 51, Suplemento, quinta-feira, 2 de Março de 1978.
Mantinha-se para o 25 de Abril e alargava-se para o 10 de Junho o processo de nomeação de uma
“Comissão organizadora” para a coordenação das comemorações. Pelo artigo 4.º do decreto-lei n.º
39-B, a escolha, em cada ano, da localidade para a realização das comemorações do Dia de Portugal,
competiria ao Presidente da República.
13 Maria Manuela Cruzeiro organizou o programa de “História Oral”, com entrevistas a vários
militares de Abril, de que têm saído alguns volumes. Apresentemos como exemplo: Costa Gomes. O
último Marechal, Lisboa, Círculo de Leitores, 1998, ou Melo Antunes. O Sonhador Pragmático, Círculo
de Leitores / Centro de Documentação 25 de Abril (Arquivo de História Oral), 2004.

133
F eriados em Portugal

organizou uma “mala pedagógica” para apoiar os professores nessa actividade14.


A bibliografia sobre o 25 de Abril tem sido significativa, mas muito mais a sua
fonografia (recordem-se as “canções de Abril”, de que são exemplo Grândola,
vila morena, de José Afonso, ou a canção que constituiu a senha da revolução,
E depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, ou muitas outras “canções de liber-
dade”, produzidas antes e depois dessa data) e mesmo o seu documentarismo,
apresentado na maioria das vezes na televisão, em especial por altura do 25.º e
do 30.º aniversários da revolução, e mesmo a sua filmografia, de que é exemplo
mais significativo Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros. Jornais, revis-
tas, estações de rádio e de televisão, e mais recentemente sites e blogues, têm,
apesar das desilusões do presente, desempenhado um papel importante na di-
fusão da ideia e do sentimento de Abril, a ponto de tornar esta data conhecida,
embora de forma diferente, ainda que nem sempre com um sentido de reflexão
crítica, como a democracia necessariamente implica.
Em síntese, pode dizer-se que o 25 de Abril tem ainda um carácter verdadei-
ramente comemorativo a nível nacional, mesmo que se diga que a crise por que
o país passa leve por vezes a entendê-lo como uma esperança não concretizada
ou então como um momento de luta pelos princípios originários da revolução.
De modo diferente é encarado o 1.º de Maio. Apesar de se procurar dar-lhe
um sentido nacional, a sua comemoração tem-se localizado mais em Lisboa,
onde normalmente são realizadas, pelo menos com maior significado, as mani-
festações de luta dos trabalhadores. No entanto, deve ter-se em conta que, com
excepção do primeiro 1.ª de Maio (de 1974), a que já aludimos, normalmente essas
manifestações têm revelado uma separação entre trabalhadores, divididos pelos
partidos ou pelas centrais sindicais (CGTP / Intersindical e UGT), que, só perante
a gravidade da crise e da perda de direitos que se consideravam uma “conquista
de Abril”, se têm procurado juntar, embora por vezes inconsequentemente.
Já o 10 de Junho se tem revelado como um feriado mais formal e de menor
impacto, organizado pela Presidência da República. Como “dia de Portugal, de
Camões, e das Comunidades” tem apenas tido uma certa importância como

14 Direcção de Boaventura Sousa Santos, coordenação de Maria Manuela Cruzeiro e organização


de Augusto José Monteiro, Maria Eliana Teixeira, Maria Isabel Lemos e Maria Manuela Cruzeiro, 25
de Abril – uma aventura para a democracia. Caixa pedagógica. Coimbra, Centro de Documentação
25 de Abril, 2000.

134
O 25 de A bril , os feriados e os dias santos

manifestação popular nas comunidades portuguesas do estrangeiro e nos locais


onde em cada ano se tem realizado o cerimonial.
O 5 de Outubro teve sobretudo verdadeiro impacto nacional por altura das
celebrações do seu centenário, em 2010-2011, ainda que grupos “republicanos” e
algumas autarquias não tivessem deixado antes e depois de comemorar o dia
com palestras, sessões públicas e homenagens aos “heróis da República” junto
das suas campas ou das suas estátuas. Foram então difundidas, não só no dia
mas durante cerca de dois anos, em que se realizaram as comemorações, que
tiveram uma Comissão Nacional15 e uma sessão na Assembleia da Republica,
exposições (mesmo uma exposição itinerante)16, colóquios, conferências, peças
de teatro, representações de rua, séries e documentários de televisão, programas
de rádio e actividades cívicas de toda a espécie. Pode dizer-se que – a contrapor
à situação de um feriado esquecido no Estado Novo e só celebrado pela oposição
em lugares simbólicos – a data comemorativa da implantação da República adqui-
riu uma autêntica repercussão nacional. Daí ter-se acabado por ver a República
menos na sua vertente de “regime”, criado em 1910 contra a Monarquia (por isso
os monárquicos aproveitam a data para festejar a chamada conferência de Zamora,
ao que se supõe realizada em 5 de Outubro de 1143 entre Afonso Henriques e o
rei de Leão e Castela Afonso VII, com a presença do arcebispo de Braga D. João
Peculiar), mas mais como Respublica, ou seja, como “coisa pública”, património
comum frente ao individualismo neoliberal que grassa na sociedade de hoje.
A outra data de celebração histórica, o 1.º de Dezembro, embora seja a que
há mais tempo se celebra, de forma particular, semi-oficial ou oficial, e embora
tenha atrás dessa celebração figuras de proa entre a elite política e cultural por-
tuguesa, como Alexandre Herculano, José Estêvão ou Fontes Pereira de Melo,

15 Foi ela a responsável por um site que foi dando notícias das várias actividades que se foram
realizando no país. Ver http://centenariorepublica.pt
16 Apenas para referir algumas da exposições que se apresentaram, e sobre as quais foram
editados os respectivos catálogos, citem-se as seguintes: Viva a República 1910-2010, Comissão
Nacional para as Comemorações do Centenário da República, 2010; Resistência (Da alternativa
republicana à luta contra a Ditadura 1891-1974), CNCCR, 2010; Corpo, Estado, Medicina e Sociedade
no tempo da I República, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2010; Viajar. Viajantes e turistas à
descoberta de Portugal no tempo da I República, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2010; Educar
(Educação para todos. Ensino na I República), CNCCR, 2011; Ver a República, Universidade de
Coimbra / Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra / Museu da Ciência da Universidade
de Coimbra / Museu Nacional Machado de Castro, 2010. Além destas importa também referir a
exposição itinerante Viva a República… em digressão.

135
F eriados em Portugal

tem sido a mais esquecida depois do 25 de Abril de 1974, sendo já (como vimos)
subalternizada no fim do salazarismo e do marcelismo. É certo que, episodica-
mente, houve um esforço oficial para afirmar esta data – assim sucedeu com
o 1.º de Dezembro do ano 2000 em Alcobaça, um dos lugares simbólicos da
Restauração, por iniciativa do presidente da República, Jorge Sampaio17 –, mas o
certo é que não se logrou grandes resultados em termos de entusiasmo popular
e os meios de comunicação mantiveram quase sempre essa data adormecida.
Ainda que se deva salientar o esforço da Sociedade Histórica da Independência
de Portugal, sediada exactamente no palácio dos Almadas, ao Rossio, conhecido
por palácio da Independência (porque ali, numa sala situada no jardim, se
reuniram os conjurados), no sentido de celebrar esse dia da “Independência de
Portugal”, agregando pessoas de todas as ideologias, a verdade é que se tornou
sobretudo uma data simbólica para monárquicos e nacionalistas, nomeadamente
em momentos de afirmação revolucionária e internacionalista.
Em conclusão, quanto aos feriados cívicos, nem sempre se perdeu de vista o
sentido da celebração de uma memória ou de um presente com memória. No
entanto, o pragmatismo e a falta de consciência cultural dos dias de hoje, apesar
da importância da informação (do seu excesso ou da sua ausência), tornaram os
feriados fundamentalmente, pelo menos para muitos cidadãos, dias de lazer. Mas
isso seria natural desde que se concedesse ao lazer um lugar importante na civili-
zação e na cultura e desde que o lazer tivesse o significado de pausa no trabalho,
dado que, cada vez para mais cidadãos, tendo em conta a subida constante e
vertiginosa do desemprego, o lazer não tem qualquer significado. Só há lazer, o
otium (que no fundo é um estádio cultural), quando há trabalho ou necotium.

Novo “acordo” entre o Estado e a Igreja

Também o pragmatismo da sociedade dita “moderna” e o formalismo re-


ligioso – questão, todavia, recorrente, contra o qual já pregava Erasmo no

17 Nessa cerimónia proferiram discursos, para além das autoridades representativas e do Presi-
dente da República, em sessão solene realizada no refeitório do mosteiro, Eduardo Prado Coelho e
Luís Reis Torgal. Ver o texto deste, “Acerca da Restauração. Reflexões sobre a Memória e a História”,
in Revista de História das Ideias, n.º 21, Coimbra, 2000, pp. 509-518.

136
O 25 de A bril , os feriados e os dias santos

século xvi – originaram igualmente, em muitos casos, a perda de consciência


do “sagrado” e do significado dos dias santos, que, quando muito, “obrigam”
os católicos à frequência da missa. Seria interessante fazer um sério inqué-
rito social ao conhecimento do simbolismo de alguns feriados cívicos e de
alguns dias santos. Assim, como por certo muitos cidadãos não conhecem
o significado do 1.º de Dezembro, constataríamos também, certamente, que
muitos católicos não conhecem, e muito menos com consciência crítica, o
sentido das festas do Corpo de Deus, da Assunção de Nossa Senhora ou da
Imaculada Conceição. A crescente indiferença ao apelo celebrativo da Igreja
e à convocação cívico-política comemorativa da história nacional (quando
esse apelo se verifica…) acabou por igualizar ou, pelo menos, por tornar se-
melhantes, na ausência de simbolismo, a dimensão dos feriados, sejam de
que tipo forem.
Por outro lado, no plano dos “responsáveis” pelos dias cívicos e dias santos,
verificou-se uma certa insensibilidade na decisão de acrescentar ou extinguir
qualquer dia cívico ou dia santo. Há, assim, uma “concertação” que permite um
normal convívio entre dias cívicos e dias santos, ao nível dos emissores e dos
receptores (que em certos casos também são emissores). Superou-se qualquer
potencial conflito porque, a uns e a outros, se vai progressivamente obliterando
o sentido primordial dos dias festivos, cívicos ou religiosos.
O Estado, que se pretende laico e garante do carácter arreligioso da socie-
dade, deixa-se envolver em argumentos de estatística religiosa, do tipo de que
o povo português é maioritariamente católico, ou de natureza política, no
sentido de não dever reabrir qualquer tipo de conflito como o da “questão
religiosa” da I República, para fazer cedências em relação à Igreja, resultem ou
não de reivindicações activas ou meramente passivas. Assim sucedeu, como
vimos, no pós-25 de Abril, com a aceitação dos dias santos que vinham do
Estado Novo, só decididos em 1948 e 1952, em momentos de cedência do
salazarismo. Mais ainda: aceitou que se lhe acrescentasse ainda como feriado
outro dia santo, a sexta feira santa, que é – não sem certa ironia – uma “con-
quista revolucionária” de Abril. Por outro lado, para além de representantes do
Estado, e como tal, terem estado presentes em Fátima na última visita, em
2000, de João Paulo II a Portugal, a fim de assistir à beatificação de Francisco
e de Jacinta, o Estado concedeu tolerâncias de ponto extraordinárias por altura

137
F eriados em Portugal

da visita de Bento XVI, na tarde de 11 de Maio em Lisboa, na manhã de 14 no


Porto e, a nível nacional, no dia 13 de Maio. Noutras circunstâncias, a Presidên-
cia da República, a Assembleia da República, através de alguns deputados, e o
Governo deram realce especial à canonização de D. Nuno Álvares Pereira, em
Abril de 2009, que tem, como vimos, suscitado a polémica desde o início do
século xx18.

A Igreja, por sua vez, que não deixou em 1952 de manifestar o seu ressenti-
mento perante a “avareza” do Estado Novo, apesar de ter recebido do Estado,
como feriados nacionais, alguns dias santos de guarda, após o 25 de Abril acei-
tou pacífica, ou politicamente (como era de esperar), a sua manutenção. De
modo não muito diferente poderá acatar a extinção pelo Estado, como feriado
nacional, de qualquer dia santo, ainda que seja ela a designá-lo. De resto, apesar
da afirmação dos seus princípios espirituais, não é com grandes protestos que
tem olhado para processo de laicização, motivado pelo consumismo, do dia santo
do Natal, tal como aceita (neste caso sem se tratar de um dia santo de guarda,
mas em todo o caso um dia santo, pois, em função da Religião Cristã, todos os
dias deveriam assim ser considerados) que seja utilizado o nome do mártir São
Valentim para ser usado como emblema do “dia dos namorados”, que nem faz
parte sequer da tradição portuguesa. De modo idêntico mas diferente, movida
por razões práticas (a “razão de estado” da Igreja), tem aceitado que o dia de uma
das festas “mais formosas e alegres”19, o dia 1 de Novembro, dia de Todos os
Santos, se tenha transformado no dia de defuntos, que no calendário litúrgico
deveria ser no dia seguinte.
O caso do 1.º de Janeiro é eloquente. Reivindicado como dia santo, recor-
dando a Circuncisão de Cristo (assim o era ainda em 1952), nos nossos dias

18 Foram então publicadas várias obras apologéticas e de circunstância – citamos. como exem-
plo, Jaime Nogueira Pinto, Nuno Álvares Pereira, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2009, e J. Pinharanda
Gomes (selecção e apresentação), S. Nuno de Santa Maria – Nuno Álvares Pereira. Antologia de
documentos e estudos sobre a sua espiritualidade, Lisboa, Zéfiro, 2009 –, assim como surgiram
alguns textos polémicos de discussão da canonização ou contra a intervenção do Estado nesta ma-
téria. Foi também nesse contexto que foi reeditada a palestra de Tomás da Fonseca, já atrás referida
(ver supra, cap. 3, nota 10). Um dos autores desta obra havia participado num colóquio organizado
na Ericeira em 2004 sobre a figura de Nuno Álvares: Luís Oliveira Andrade, “D. Nuno Álvares
Pereira na(s) memória(s) da nação”, Colóquio “D. Nuno Álvares Pereira: o homem e a memória”, 27
de Março de 2004, Textos on line in www.icea.pt.
19 Ver José Leite S.J. (organizador), Santos de cada dia, vol. III, Braga, Editorial A.O., 2004
(4.ª edição), pp. 235-237.

138
O 25 de A bril , os feriados e os dias santos

dificilmente será identificado com esse “momento sagrado”, apesar dos esforços
de sectores da Igreja20. Com a proclamação de “Santa Maria, Mãe da Igreja”,
por Paulo VI, em 1964, no Concílio do Vaticano II, o calendário litúrgico, em
1969, voltou a festejar, assim o 1 de Janeiro. Acentuava-se o culto mariano, com
principal realce para Portugal, que foi visitado em 1967 pelo Papa Paulo VI, por
ocasião do 50.º aniversário das aparições de Nossa Senhora em Fátima. E é
assim que ainda hoje aparece no calendário dos santos, a par com a designa-
ção, “politicamente correcta”, de “Dia Mundial da Paz”, numa curiosa fusão
da laica “fraternidade universal” republicana com a Paz de Cristo entre os
homens21. Aliás, no início dos anos 70, a nova celebração do Dia Mundial da
Paz foi aproveitada por católicos oposicionistas ao regime para a denúncia do
prosseguimento da guerra colonial, com as conhecidas celebrações na Igreja
de São Domingos, na passagem de ano de 1968 para 1969, depois das cerimó-
nias oficiais, e na vigília de oração pela paz na capela do Rato, também em
Lisboa, na passagem de ano de 1972 para 197322. “Dia de Ano Novo”, festejado
pelo ritual dessacralizado da “passagem de ano”, é, todavia, a designação mais
comum no calendário dos países cristãos, católicos ou protestantes, mesmo em
calendários da Igreja23.
Nesta espécie de “eterno presente” dessacralizado e relativamente amnésico,
da parte do Estado, e com alguma colaboração da Igreja, criou-se um sistema de
relações diferente do anterior. É um novo “acordo” que, como veremos, pode
supor a extinção de feriados cívicos e dias santos de modo matemático: a extin-
ção de dois feriados cívicos e de dois dias santos. O Governo decidiu livremente,
apenas tendo consultado, de forma indirecta, enviesada e pouco transparente, a
Assembleia da República, sobre os feriados a extinguir, e a Igreja deu a indicação
ao Estado sobre os dias santos que deixarão de ser futuramente considerados
feriados nacionais, passando a celebrá-los no seu templo, no próprio dia, ou

20 Para a sucessão das festas litúrgicas do 1.º de Janeiro, ver Dionísio Borobio (ed.), La celebración
en la Iglesia, vol. III, Salamanca, 1990, pp. 193-194 e 228-229; e A. G. Martimort (ed.), La Iglesia en
Oración. Introducción a la liturgia, Barcelona, Herder, 1987, pp. 973-974.
21 Ver Santos de cada dia, vol. I, Braga, A.O., 2003 (4.ª edição), pp. 11-12.
22 Ver M. Braga da Cruz, O Estado Novo e a Igreja Católica, pp. 185-189.
23 Os Almanaques religiosos vão registando a alteração do carácter da festa do 1 de Janeiro,
mas, até num deles, começa a aparecer só como Dia de Ano Novo (ver Almanaque das Missões,
Lisboa, Editorial LIAM, 1978).

139
F eriados em Portugal

publicamente, no domingo seguinte. Todavia, não deixou, ainda assim, de guardar


para si a última cartada, pressionando o Estado até quanto pôde e procurando
demonstrar assim a sua superioridade.

140
6

OS FERIADOS MUNICIPAIS
entre o sagrado e o profano

As tradições locais e as festas

Os feriados, festas civis ou festas religiosas, assumem, conforme fomos notando,


um carácter simultaneamente memorial e de lazer. Ou seja, nem sempre a memória
de um facto cívico ou religioso é o mais importante no feriado. O mais significa-
tivo é muitas vezes a possibilidade de se descansar das fadigas do trabalho, criar
um programa de encontro com a família ou com os amigos, de simples lazer e
divertimento ou de ócio cultural. O Estado ou a Igreja, e os seus meios de in-
formação, cada vez mais sofisticados, complexos e aparentemente mais “perto
de nós”, deveriam avivar a memória do povo, não tanto como uma forma de
“propaganda”, mas sim como um modo de conhecimento, conhecimento crítico, o
que normalmente não sucede. Os chamados “feriados obrigatórios” sucedem-
-se, assim, em muitos casos, como “dias iguais aos outros, mas em que não se
trabalha”. Os ingleses, sintomaticamente, deram a alguns feriados simplesmente
o nome mercantil de holidays bank.
Desta maneira, o facto de existirem ou não feriados não constitui um problema
para muitos. Isso apenas afecta aqueles que trabalham (e o desemprego e o su-
bemprego atingem índices cada vez mais elevados), não provocando, se não em
cidadãos e em católicos conscientes, um sentimento de defesa dos feriados ou
de revolta pela decisão de os abolir. Na maioria dos casos, devido à amnésia ou
à falta de conhecimento, uma alteração do calendário dos feriados apenas cria um

141
F eriados em Portugal

sentimento de que alguma coisa vai mudar, contra os que trabalham ou mesmo
contra aqueles que estão desempregados, como é costume suceder. Pouco mais
ou pouco menos.
Notava um jornalista, num artigo bem humorado, mas muito crítico da sen-
sibilidade e da consciência cívica dos portugueses, que, em face do desejo
governamental de extinguir alguns importantes feriados (tema que abordaremos
no final deste livro), o “povo” não reagiu (nem os órgãos de informação procuraram
saber se essa reacção se deu – acrescentemos nós), mas veio a terreiro em
defesa do Carnaval, quando o Governo resolveu não dar a tolerância de ponto
em 2012 na terça-feira de Entrudo1. Como se Portugal tivesse uma forte tradição
dessa festa mundana, como sucede em alguns países americanos, de que o Brasil
é o caso exemplar – “o país do Carnaval”, na terminologia de Jorge Amado.
Esse interessante texto de descontraída opinião talvez não tenha, porém,
captado, em toda a sua extensão, o sentido memorial do Entrudo, como festa de
passagem, que existe talvez mais fundo (ou mais rotineiro) do que se possa pensar
no sentimento dos portugueses. Assim como sucede também com a Páscoa ou
com o Natal, cuja memória está sempre um pouco presente em todos, mesmo
entre aqueles que não são crentes. Digamos que são estados de alma, plasmados
socialmente e em cada um ao longo dos tempos e desde o fundo dos tempos,
correspondendo afinal, primeiro, às festas dos solstícios e dos equinócios e,
depois, ao ciclo anual Natal – Carnaval – Quaresma – Páscoa – Festas (ou Férias)
de Verão, à mudança de estação, ao sentimento de passagem de um para outro
momento, em que é necessária uma interrupção, mesmo que simbólica e formal.
Por isso, é mais difícil tornar consciente uma festa cívica do que uma festa
religiosa, ou fazer sentir uma festa religiosa simbólica de uma realidade signifi-
cativa na história do Cristianismo e da Igreja do que uma festa simbólica menos
importante, em termos dogmáticos ou litúrgicos, mas que é vivida na pequena
comunidade ou na região. É afinal esse o sentimento que se expira nas festas
populares, sejam de religiosidade, sejam de expressão cívica. Desta maneira, são
menos importantes para o comum dos cidadãos as “festas da Pátria” ou mesmo
as “festas cristãs”, desde que não correspondam à rotina anual (por exemplo, o

1 Ver José Manuel Diogo, “O país das matrafonas”, in Diário de Coimbra, 22 de Fevereiro
de 2012, p. 9.

142
Os feriados municipais

Corpo de Deus ou a Assunção de Nossa Senhora), do que as “suas festas”, que


afinal são verdadeiramente as suas festas da “Pátria” (no sentido literal de “terra
dos pais”).
As “festas tradicionais” têm, assim, uma importância significativa na vida das
gentes, sobretudo em ambientes rurais e piscatórios, próximos da natureza, mas
também em ambientes urbanos, de tipo operário, pequeno-burguês e de classe
média, como sucede com as festas de Santo António em Lisboa, do São João no
Porto ou em Braga ou mesmo as festas da Rainha Santa (que só se realizam
como festa completa de dois em dois anos) em Coimbra. E só falamos desses
estratos sociais, porque os outros grupos sociais têm a suas próprias festas,
“especiais” e “recriadas” (pelas revistas de jet set), nada tendo a ver, a não ser por
snobismo ou por demagogia, com as “festas tradicionais”.
Por este motivo, as festas ditas “religiosas” tanto têm interessado historiadores
da Igreja e das religiões, como sociólogos e antropólogos2. A festa, que em
muitos casos se radica na sociedade pagã e que sofreu depois um processo de
cristianização, é um misto de religioso e de profano, de procissão e missa (pre-
ferivelmente cantada e com sermão) e de romaria ou baile (e, por vezes, com
espectáculos de cançonetistas ou de “artistas” de sabor falsamente “popular”,
de grande sucesso), de promessas e sacrifícios e de excessos gastronómicos, de
apolínio e de dionisíaco (falando em termos eruditos).
Ora, foram estas festas que iniciaram o processo dos “feriados” populares,
dos dias sem trabalho, de oração e de divertimento. Elas existem, antes de serem
oficializadas, como simples “costume”, que se repetia e repete cada ano, nas vilas
e cidades, nos municípios, mas também nas freguesias e até nas mais pequenas
aldeias, onde há uma pequena capela, invocando, lendariamente, uma aparição
ou um santo (ou a sua imagem que alguém um dia ofereceu) que nem se sabe
quem é – São Caetano, São Gonçalo (ou São Gonçalinho), São Mamede, Santa
Rita ou Santa Eufémia. Não importa quem foi, nem muitas vezes se quer saber,

2 Ver o artigo de José da Silva Lima, e a bibliografia ali referida, “Festas”, in Carlos Moreira
Azevedo, Dicionário de História Religiosa de Portugal, vol. II, Lisboa, Círculo de Leitores, 2000,
pp. 251-263. Ver também o artigo do mesmo autor “”Religiosidade Popular”, in ob. cit., vol. IV.
Acrescente-se à bibliografia o livro de Ernesto Veiga de Oliveira, Festividades cíclicas em Portugal
(colecção Portugal de Perto), Lisboa, Dom Quixote, 1984, e, do mesmo autor, outros estudos sobre
o tema e sobre romarias.

143
F eriados em Portugal

embora se acredite nos seus milagres, mais, por vezes, do que na Providência
divina ou na mãe de Cristo, “Nossa Senhora” (se ela não é a padroeira). E, se for,
só se acredita “numa certa Nossa Senhora”, da Lapa ou da Rocha ou dos Prazeres,
particularmente na sua imagem, tal como está na igreja ou na capela, por vezes
ligada a uma lenda ou a uma tradição.
Foi, portanto, a partir destas festas que se formaram, em certos casos, os
“feriados municipais”. A República laica, que não atendeu às “festas religiosas”
mas apenas às “festas patrióticas”, teve de transigir com as festas populares e
até incentivou a que se estabelecessem feriados nos concelhos, embora pensasse
neles mais como feriados cívicos do que religiosos. O Governo, actualmente, que
usou frios argumentos de austeridade e em defesa do desenvolvimento para
extinguir feriados, também não teve coragem de atentar contra os “feriados
municipais”, embora eles se efectuem ao longo do ano, interrompendo a se-
mana de trabalho. O certo é que a consequência de uma eventual abolição
desses feriados poderia ser uma reacção popular e o poder político, seja ele
qual for e como for, é “demagógico”, pois sabe quão difícil é lidar com a re-
volta das populações. Afinal o novo esquema judicial ou o novo sistema de
freguesias poderá vir a ser tão perigoso para o poder político central como
qualquer greve geral e será, sem dúvida, mais perigoso do que a abolição dos
feriados nacionais, mesmo que eles coincidam com datas históricas ou religiosas
significativas.

Os feriados municipais: recordando a legislação e outras realidades

A importância conferida aos municípios em Portugal vem de longe, pelo que


os trabalhos historiográficos mais antigos sobre a organização municipal dizem
respeito à Idade Média. E se Alexandre Herculano ou José Félix Henriques
Nogueira, bem como os políticos de acção, como Mousinho da Silveira, Passos
Manuel, Costa Cabral, Rodrigues Sampaio ou João Franco, lhes concederam um
significativo papel político, em função da sua ideologia, o certo é que os repu-
blicanos lhes deram também um importante significado, tendo em conta a
nova organização conferida ao país e a necessidade de nele espalharem o seu
ideal ou a sua ideologia. Também essa relevância lhes foi concedida de outro

144
Os feriados municipais

modo pelo Estado Novo, numa lógica de organização corporativa, tendo sido
Marcello Caetano um dos seus principais juristas, ideólogos e historiadores. E a
democracia do pós-25 de Abril enquadrou-os na sua concepção política de raiz
popular, tanto na altura mais revolucionária como na sua fase constitucional. Os
municípios foram assim entendidos (e são ainda) como afirmação do poder local
ou como instrumento do poder central, da ideia de “união nacional” ou dos
movimentos e partidos políticos.
A organização municipal no período que nos importa, ou seja, depois da
revolução liberal de 1820, não foi ainda profunda e minuciosamente analisada,
apesar de se terem produzido recentemente algumas obras de referência, mas
poderemos dizer, com algum rigor e em síntese, que o papel concedido aos
municípios e aos seus órgãos foi variando de momento a momento, assim como
o número de municípios. Seja como for, poderá dizer-se que as várias leis que
foram surgindo, como os diferentes códigos administrativos, desde o Código de
1836, composto após a reforma do ano anterior, foram tentando dar uma certa
estruturação à organização municipal, com passos para a frente e passos para
trás. Nessa sequência, muitos municípios foram sendo eliminados (alguns virão
depois a ser restaurados) e outros foram surgindo. Segundo o cômputo de
estudiosos do tema3, há uma diminuição efectiva de concelhos logo desde os
primeiros anos do liberalismo: 806 em 1827, 351 em 1836 e 411 em 1842, altura
em que foi elaborado novo código, ao qual se seguiram outros no século xix (em
1878, em 1886 e em 1896). Em 1878 eram em número de 290 concelhos e em
1900 existiriam 291. Durante a República contabilizaram-se 296 municípios em
1920 e no Estado Novo, por altura do seu Código Administrativo de 1940, 302
concelhos. Desta forma, poderá dizer-se que o seu número vai-se aproximando
a pouco e pouco do número actual. Em 1970, ainda no tempo do Estado Novo
(já na sua fase marcelista) seriam 304 municípios, e mais um (305) em 1981 e em
1991, para serem hoje 3084.

3 Fomos seguindo o cômputo que vai sendo apresentado, não sem algumas contradições (no
caso do ano de 1842, ver pp. 208, quadro 11, 216, quadro 12, e 538), na obra dirigida por César
Oliveira, História dos Municípios e do Poder Local da Idade Média à União Europeia, Lisboa, Círculo
de Leitores, 1996.
4 Ob. cit., p. 545.

145
F eriados em Portugal

Não é, porém, tanto a questão do número dos municípios ou da sua organi-


zação o que prioritariamente aqui nos interessa, mas sim a questão dos feriados
municipais, cuja legislação fomos referindo ao longo desta obra. Mas convém
agora apresentar sobre ela uma sinopse, para melhor entender o sentido que se
quis dar aos seus feriados.
Logo no Diário da República de 13 de Outubro de 1910, em decreto do
dia anterior, surgiu o naipe dos primeiros feriados nacionais, conforme vimos.
E logo, como também constatámos, no artigo 2.º afirmava-se que as “municipa-
lidades” poderiam instituir um feriado nacional por ano, escolhendo-o entre as
“festas tradicionais e características do município”.
Mesmo depois de afirmada a Ditadura Militar, embora ainda em fase de
hesitação quanto ao rumo a seguir (era presidente do Ministério o general
Ivens Ferraz), o decreto n.º 17.171, de 29 de Julho de 1929, também no artigo
2.º, confirmava idêntica intenção com a mesma linguagem. O espírito repu-
blicano ainda estava no ar e pode vislumbrar-se na evolução quanto ao dia
do feriado de Lisboa um certo objectivo laicizador, tendo em conta que, se
festas de Santo António eram mais celebradas no tempo da Monarquia Cons-
titucional, veio depois a conceder-se maior importância ao 10 de Junho, dia
de Camões.
Mesmo no Estado Novo o município de Lisboa, presidido geralmente por
um militar republicano conservador, não deixou de considerar como feriado o
13 de Maio, dia do nascimento do Marquês de Pombal. Assim sucedeu em
1934, data em que foi inaugurada em Lisboa a estátua da Rotunda. Em 1947 o
feriado foi a 25 de Outubro, comemorativo da tomada de Lisboa aos mouros
(acontecimento que foi objecto de grandes espectáculos populares, como um
cortejo histórico). Mas já então se impunham outra vez os festejos de Santo
António, passando o dia 13 de Junho a ser, e até hoje, o feriado de Lisboa. De
resto, desde 1932, com a organização de Leitão de Barros, cineasta e director
do Notícias Ilustrado, começaram a organizar-se as marchas populares, que
se pretendia radicadas numa tradição urbana mais antiga, primeiro a pedido
do Parque Mayer, que procurava assim animar aquela área central lisboeta e
depois com um carácter mais oficial. Desta forma, as marchas acompanharam
os grandes acontecimentos memoriais, quer fosse a comemoração dos Centená-
rios de 1940, quer fosse o citado Centenário da Tomada de Lisboa aos Mouros,

146
Os feriados municipais

de 19475. E assim subsistem até hoje, apenas tendo sido interrompidas devido a
momentos difíceis da vida do país, como o da Grande Guerra, ou, mais tarde,
em momentos políticos mais significativos de cunho popular, como sucedeu no
pós-25 de Abril. Mesmo em relação à guerra, funcionou nesse caso a propaganda
através do cinema, como se pode ver no arraial do “pátio do Evaristo” no filme
O Pátio das Cantigas (1942), de Francisco Ribeiro, que propõe o exemplo de um
povo pacífico e alegre com pequenos conflitos que sempre se resolvem, em
confronto com o mundo em combates sangrentos.
Voltando à legislação, o decreto-lei n.º 38.596, de 4 de Janeiro de 1952, foi,
como se disse, o instrumento legal mais importante do Estado Novo. Marca afinal
uma certa cedência à Igreja, abandonando o carácter de defesa de uma certa
laicidade republicana, que se coadunava, aliás, com o autoritarismo do regime,
na medida em que não tolerava que nenhuma instituição, nem mesmo a Igreja
Católica, interferisse nas razões do Estado. Relativamente aos feriados munici-
pais, sentiu-se, contudo, o peso do poder político centralizador, considerando o
decreto, no seu preâmbulo (n.º 5), que os feriados municipais deixam de existir
“como regra”, “admitindo-se apenas a subsistência de alguns, poucos, que andem
ligados a verdadeiras festas tradicionais características dos Concelhos”. Neste
sentido, admite-se, no artigo 4.º, que o Governo, por decreto do Ministério do
Interior ou do Ultramar, possa “autorizar que as respectivas Câmaras municipais
considerem feriado o dia especialmente consagrado a tais festas”.
Só depois do 25 de Abril, no tempo do “poder popular” de Vasco Gonçalves,
pelo decreto n.º 394/74 de 21 de Agosto, se pretendeu reabrir as possibilidades
de escolha do feriado municipal pelas respectivas câmaras. Assim, tomando
como base o decreto-lei de 1952, mas desejando dar-lhe um outro sentido,
alterou-se o artigo 4.º, passando a admitir-se que fossem aceites como feriados
municipais não só a “festa tradicional e característica”, mas também “dias de
significado histórico para a vida do concelho”. No entanto, essa decisão munici-
pal continuaria a ser confirmada pelo Governo, agora através de portaria do
Ministério da Administração Interna.

5 Sobre este e outros temas, e sobre o enquadramento da “cultura popular” na época do Estado
Novo, ver Daniel Melo, Salazarismo e Cultura Popular (1933-1958), Lisboa, Instituto de Ciências
Sociais, 2001. Acerca do estudo do caso das marchas populares de Lisboa, ver pp. 278-294.

147
F eriados em Portugal

Foram as Assembleias Municipais a escolher os seus feriados, normalmente


por proposta da Câmara, com confirmação governamental6. Desta forma, como
veremos, alguns municípios escolheram datas laicas para feriados ou datas
religiosas que estivessem mais de acordo com os interesses e os sentimentos
da comunidade. Se os oragos ou qualquer data religiosa continuaram a ser os
mais frequentemente considerados para datas festivas, a escolha recaía normal-
mente numa festa comunitária já existente, que tinha muito de religiosidade
popular mas também de manifestação profana. Aliás, em alguns concelhos em
que não se verifica esta situação, torna-se menos importante o feriado municipal,
marcado por cerimónias formais, do que as “festas” que se realizam ali, em geral
no Verão.
As leis do trabalho, que se sucederam depois de 1975, e depois o Código do
Trabalho, a partir de 2003, não deixaram de dispensar atenção aos feriados e
também aos feriados municipais. Assim, o decreto-lei n.º 292/75, de 16 de Junho,
do governo de Vasco Gonçalves, no artigo 19.º, na referência aos feriados que
poderiam ser gozados pelos trabalhadores das empresas públicas e nacionalizadas
e pelas empresas privadas, incluía o “feriado municipal da localidade”. E o mesmo
viria a suceder no governo de Pinheiro de Azevedo, com o decreto-lei n.º 713-
A/75, de 19 de Dezembro (artigo 1.º, n.º 2), como também num decreto unifica-
dor da legislação sobre o trabalho (decreto-lei n.º 874/76, de 28 de Dezembro),
já do governo constitucional de Mário Soares, onde era considerado, agora ex-
plicitamente como “feriado facultativo” – em alternativa aos “feriados obrigató-
rios” –, o “feriado municipal da localidade ou, quando este não existir, o feriado
distrital” (artigo 19.º, n.º 1). O Código de Trabalho de 2003 (lei n.º 99/2003, de
27 de Agosto) – tinha a maioria o PSD com o CDS e o governo era chefiado por
Durão Barroso – mantém a mesma designação de “feriados facultativos”, conside-
rando, sem qualquer outra alternativa de “feriado distrital”, o “feriado municipal da
localidade” (artigo 209º, n.º 1). E o mesmo acontecerá nas sucessivas alterações
ao citado Código, não havendo qualquer mudança quanto a este ponto, na

6 Na prática muitos feriados foram escolhidos por Câmaras ou Assembleias ad hoc, no


período posterior ao 25 de Abril de 1974, mas o direito de escolha passou a ser, de acordo com
a lei que estabelece o quadro de competências dos órgãos dos municípios, das Assembleias
Municipais (cfr. lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, alterada pela lei n.º 5-A/2002, de 11 de Janeiro,
artigo 53.º, n.º 2, r).

148
Os feriados municipais

polémica proposta de lei de 2 de Fevereiro de 2012, a que nos referiremos no


Epílogo com que este livro termina.

Feriados municipais: festas religiosas e festas cívicas

A história dos feriados municipais merecia um livro autónomo, embora de


difícil concretização. Com efeito, apesar do apoio que nos foi concedido pela
Associação Nacional dos Municípios Portugueses, apenas cerca de um terço dos
municípios respondeu ao nosso inquérito, muito simples e muito directo, ou seja,
dos 308 municípios existentes actualmente, somente 103 (33,44%) enviaram os
questionários preenchidos. Mesmo a simples perguntas que enviámos expressa-
mente aos vereadores da Cultura de algumas câmaras acerca de feriados sobre
os quais tínhamos algumas dúvidas, não dirimidas com o contributo de sites e
portais oficiais ou particulares, recebemos poucas respostas. No entanto, alguns
municípios enviaram-nos vasta documentação, informações detalhadas de espe-
cialistas, livros ou material informático, que nos fizeram crer no interesse desta
temática e que lamentamos não ter podido usar de uma forma mais completa,
pelo menos por agora.
Para além do registo dos dias do feriado de cada município – que está em
algumas agendas (no popular Borda d’Água há uma lista de “Festas e Feiras”),
numa relação oficial que nos foi oferecida pela ANMP e em material informático
da Internet –, há que ter em conta a sua motivação e a sua história, o que é mais
difícil de identificar. Mas há igualmente que prestar atenção a outros feriados ofi-
ciais que existiram (alguns dos quais foram sendo sucessivamente substituídos),
desde pelo menos 1910, e ainda a existência desde há muito tempo de festas
tradicionais nas localidades ou nos concelhos. É este o caso exemplar do feriado
do Porto com os festejos de São João, que remontam à Idade Média.
Por outro lado, na sequência de estudos antropológicos, como os de Veiga de
Oliveira7, deve estudar-se a forma como os feriados são celebrados ou não são,
pois existem alguns que foram instituídos muito recentemente e que, tirando a
sua importância simbólica, não têm grande significado entre a população, sendo,

7 Ver a referência a uma das suas obras na nota 2 deste capítulo.

149
F eriados em Portugal

como atrás se disse, “dias como os outros”, mas em que não há trabalho. Parafra-
seando Hobsbawm8, há como que uma “invenção das tradições” ou “invenção
dos símbolos”, como, aliás, sucede noutras situações, de que são casos exemplares
os “costumes académicos” das novas universidades ou algumas “praxes” das
novas e mesmo das antigas.

Através de um estudo dos feriados municipais cujos dias e motivações são


relacionados em Anexo9, pode concluir-se (ver gráficos) que os feriados cívicos
constituem apenas cerca de um terço da totalidade, ocupando um lugar mais
significativo, por razões já atrás aludidas, os feriados religiosos. Os primeiros estão
em geral relacionados com a entrega da carta de foral, a formação do concelho
ou a elevação da sede do município a vila ou a cidade. São, com acontecimentos
e personalidades locais (na maior parte dos casos também de representatividade
nacional), a grande maioria. Apenas detectámos alguns feriados que têm uma
referência de sentido histórico nacional, sem com isto, obviamente, deixarem
igualmente de se reportar à realidade local. Neste caso pode dizer-se que as
questões da fundação e da defesa da nacionalidade, da restauração da inde-
pendência ou das lutas contra as invasões napoleónicas atingem os números
mais elevados, sobressaindo, pois, o carácter, por assim dizer, nacionalista de
alguns feriados. Só uma pequena percentagem diz respeito a valores liberais e
republicanos, como sucede com os feriados de Praia da Vitória (11 de Agosto,
que celebra a vitória dos liberais contra os absolutistas, em 1829), Chaves (8 de
Julho, que celebra a defesa da cidade, em 1912, por parte das forças republicanas
contra as investidas das tropas monárquicas de Paiva Couceiro, facto que deu
também o nome a uma avenida de Lisboa, avenida Defensores de Chaves) e de
Oliveira do Hospital (7 de Outubro, data comemorativa da acta municipal da
proclamação da República, dois dias depois do 5 de Outubro de 1910), a que
se podem juntar duas datas evocativas de personalidades republicanas, como
acontece em Miranda do Corvo (1 de Junho, data do nascimento de lente da
Faculdade de Matemática e republicano José Falcão, em 1841) e em Penacova
(17 de Julho, data do nascimento, em 1866, de António José de Almeida).

8 Eric Hobsbawm e Terence Ranger (editors), The invention of tradition, Cambridge University
Press, 1983.
9 Ver Anexos, V, 1-3.

150
Os feriados municipais

Quanto aos feriados que evocam festas ou acontecimentos religiosos, é de


assinalar a importância dos “santos populares”, sobretudo São João, a que se
sucede São Pedro e Santo António, parecendo significar que o santo português
e lisboeta de nascimento é “menos popular” (só em termos de feriados muni-
cipais) do que os outros dois grandes santos da Igreja10, São João (São João
Baptista e não São João Evangelista)11, cujo culto é muito antigo e se relaciona
com os inícios do Cristianismo (o solstício de Verão, como parece provar o
costume de acender fogueiras nesse dia, terá sido cristianizado com a sua
invocação), e São Pedro, considerado pela Igreja como o primeiro pontífice.
A importância de Nossa Senhora nos feriados municipais (ao invés de São José,
que tem uma expressão diminuta) revela a apregoada devoção portuguesa a
Maria. A Senhora da Agonia em Viana do Castelo, a Senhora dos Remédios em
Lamego, a Senhora do Almortão em Idanha-a-Nova destacam-se, entre outras,
como as romarias mais populares do Minho ou das Beiras. Curiosamente, a
devoção a Cristo ou, melhor, às suas imagens, tem menor significado, em ter-
mos de feriados municipais, do que a invocação à sua mãe, apesar da grande
relevância de certas festas, como o Senhor de Matosinhos ou o chamado Senhor
Santo Cristo dos Milagres nos arquipélago dos Açores, em Ponta Delgada, onde
a sua imagem é venerada no convento de Nossa Senhora da Esperança. É de
salientar que nenhum feriado desse arquipélago diz respeito ao Espírito Santo,
que, todavia, é objecto de um culto especial nos Açores e entre os açorianos

10 O orago de Lisboa é São Vicente (o próprio brasão da cidade o lembra) e não Santo António.
Mas é indubitável que Fernando de Bulhões, que depois adoptou o nome de António, constitui
talvez o santo mais popular português, ligado a milagres e a lendas e tradições populares. De resto,
é notável a estatuária que foi feita sobre ele por quase todos os artesãos, havendo também sobre
ele uma vasta ficção poética criada pelo povo. Nasceu em Lisboa nos finais do século xii e primei-
ro aderiu à ordem dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, em São Vicente de Fora, passando
depois para o mosteiro da mesma ordem, em Santa Cruz, em Coimbra, onde terá a sua formação
cultural mais sólida e que será o por certo único lugar onde estará representado com o hábito da
ordem dos crúzios. Seria em Coimbra que entraria na ordem franciscana, no convento dos Olivais,
iniciando aí toda a sua vida de difusão do Cristianismo, por África, por França e por Itália, onde
morre, em Pádua, em 13 de Junho de 1231.
11 É interessante notar que em Tavira existe uma das mais significativas peças de arte sacra so-
bre Santo António (“Trânsito de Santo António”) na igreja que lhe é dedicada e que pertenceu a um
convento franciscano. Todavia, o feriado municipal de Tavira é o São João. É ainda curioso salientar
que, para além do dia de São João, festejado no dia 24 de Junho (que marca simbolicamente o seu
nascimento), é-lhe dedicado também o dia 29 de Agosto, data do seu martírio (daí chamar-se São
João da Degola). É feriado nesse dia em Aljezur, realizando-se na noite de 28 para 29 – e também
em outras terras do Algarve – o “banho santo”.

151
F eriados em Portugal

espalhados pelo mundo, o que prova que existem afinal mais feriados locais
do que aqueles que são considerados oficialmente.
Feriado com uma expressão particular é o da quinta-feira da Ascensão que,
mais do que religioso, é uma devoção comunitária, que evoca a floração prima-
veril, o pão nosso de cada dia e a luz que nasce das lamparinas de azeite, que
são afinal simbolizadas pela papoila, pela espiga de trigo e pelo ramo da oliveira.
Provavelmente por isso é que esse dia, considerado como feriado em trinta
municípios, o é em concelhos do centro-sul e do sul, mais ligados à produção
cerealífera e da oliveira e onde as papoilas surgem na planície como uma mancha
de sangue ou de vida.
Caso único, mas de grande importância simbólica, é o de Leiria, que, nos
anos sessenta do século xx, veio a adoptar como feriado, no dia 22 de Maio, a
elevação a diocese, o que sucedeu nesse dia em 1545. É sobretudo um caso
significativo porque a referida diocese, abolida nos anos 80 do século xix foi
restaurada em 17 de Janeiro de 1918, tendo sido o seu bispo o maior entusiasta
da transformação da Cova da Iria em lugar de peregrinação. De resto, a referida
diocese veio a tornar-se, em 1984, diocese de Leiria – Fátima.
Deve ainda salientar-se, depois desta breve análise, que a grande maioria dos
feriados municipais surge na Primavera e no Verão, e no início do Outono, altura
mais convidativa para se realizarem as festas. Algumas mesmo coincidem com
feiras que então se realizam (por exemplo, a Feira dos Gorazes, em Mogadouro, a
15 de Outubro) ou com celebrações dos trabalhadores da região (Dia do Campino,
em Coruche, a 17 de Agosto) ou marcam o encontro com os emigrantes (como
no caso das Festas do Emigrante, no mês de Julho, nas Lajes das Flores), situação
esta que, na verdade, é uma constante em certas regiões, mesmo que não se
explicite (ao invés do que sucede com esse município dos Açores) na identificação
do respectivo feriado.

Até agora apresentámos uma análise, por assim dizer, sincrónica, ou seja, olhan-
do aos feriados municipais que se realizam num mesmo tempo, neste caso no ano
2012, mas não fizemos uma análise diacrónica, para que nos conduziria a legisla-
ção produzida sobre os feriados municipais desde 1910, a que aludimos atrás.
Poucos elementos podemos acrescentar, dado que desconhecemos, em muitos
casos, as datas em que foram oficializados os feriados e as suas razões. Mas

152
Os feriados municipais

mesmo assim, devido a informações que nos chegaram de certas câmaras, é


possível apresentar alguns dados significativos. Anotemos que a legislação de
1910 provocou o aparecimento de feriados cívicos em vários municípios, se
bem que outros se mantivessem ligados às suas festas religiosas tradicionais.
Os feriados cívicos, ou pelo menos alguns, tiveram, porém, de ser alterados,
sobretudo depois que, nos anos 50, o Estado Novo, como se disse, tomou medidas
de abertura aos feriados religiosos nacionais e abolia por princípio os feriados
municipais, apenas mantendo, excepcionalmente, os que eram considerados
“tradicionais”. E, com o 25 de Abril de 1974, nem sempre os municípios quiseram
voltar a ter feriados cívicos quando já tinham feriados religiosos que correspon-
deriam ao sentimento das comunidades locais e regionais.
Dêmos alguns exemplos:
O 1.º de Maio, dia do Trabalhador, foi adoptado como feriado municipal em
vários concelhos, tais como Águeda, Aljustrel, Évora, Loulé, Mafra ou Ovar.
Normalmente esta data, significativa de um certo espírito de luta, surgiu depois
da primeira legislação da República, mas em alguns casos foi substituída por
outra, mesmo durante o regime. Em todo o caso, no Estado Novo acabou por
cair. Caso especial é o da Marinha Grande, concelho de operários vidreiros,
com expressão revolucionária no tempo salazarismo: primeiro foi feriado o 26
de Maio, data em que, no ano de 1917, obteve o estatuto de autonomia muni-
cipal, tendo sido restaurado o concelho; mas, a 7 de Fevereiro de 1929, em
plena Ditadura Militar, alterou-se o feriado para 1 de Maio, voltando ao dia 26
desse mês em 22 de Janeiro de 1931 (a Ditadura estava em plena transição para
o Estado Novo de Salazar); em 24 de Novembro de 1964 optou-se pela quinta-
-feira da Ascensão, ainda que só alguns anos depois o governo tenha ratificado
essa escolha.
Outros casos curiosos devem aqui ser considerados. Aljustrel, que hoje fes-
teja o Santo António, escolha que surgiu pouco antes do 25 de Abril, mas que
só foi aprovada governamentalmente em 1978, teve em 1913 como feriado o 1.º
de Maio, tendo, no entanto, nos anos 50, de optar por outra data, Santa Bárba-
ra, padroeira dos mineiros, alegando a Câmara que a anterior data, dia do
Trabalhador, era “anti-nacional”. Águeda, que teve também, conforme se dis-
se, como feriado o 1.º de Maio, veio a mudar depois, em 1918, para 8 de Setem-
bro, comemorando a inauguração do caminho de ferro do Vale do Vouga; logo

153
F eriados em Portugal

depois, em 1919, alterou o feriado para 27 de Janeiro, dia da batalha das Bar-
reiras, na guerra civil da Monarquia do Norte, e, ainda a seguir, em 1928, para
15 de Agosto, dia da inauguração do Hospital, que acabou por ser invalidada
no início de 1929; nessa altura foi deliberado como dia de feriado a segunda-
-feira após o domingo de Pentecostes, que tem relação com a festa em honra
de São Geraldo, realizada na freguesia de Bolfiar. Apenas mais um caso, o de
Ovar, que foi estudado pelo historiador local, Alberto de Sousa Lamy12. O 1.º
de Maio foi adoptado ali como feriado logo em 17 de Março de 1911; em 7 de
Fevereiro de 1920, a Câmara, dirigida pelo Partido Democrático, decidiu optar
pela data de 12 de Fevereiro, dia da entrada das forças republicanas aquando
da revolta da “Monarquia do Norte”; mais tarde, no fim da Segunda Guerra
Mundial, em 6 de Maio de 1943, decide-se voltar ao feriado de 1 de Maio, para
nos anos 50 ter de adoptar uma data menos revolucionária, isto é, uma festa
religiosa, São Cristóvão. A terça-feira de Carnaval – recordemos que Ovar é
uma das terras onde os festejos do Entrudo constituem já uma “tradição” – foi
uma das datas que chegaram a ser propostas, sobretudo depois de 1974, mas
acabou por se manter formalmente, em 1982, a data religiosa de 25 de Julho,
celebrativa de São Cristóvão.

Outras situações poderiam ser citadas, mas julgamos que estas bastam para
aliciar o investigador para um trabalho mais sistemático sobre os feriados muni-
cipais, que estão mais próximos das populações e que, apesar da artificialidade
de alguns, dificilmente serão extintos, a não ser por deliberação municipal.
O feriado de Tábua é, no entanto, um dos ameaçados. O seu dia é, desde 1973,
o 11 de Abril, altura em que se restaurou a sua comarca, sendo o único que
celebra este tipo de situação. Como a comarca de Tábua era uma das que o
Governo planeava extinguir no novo mapa judicial, neste ano de 2012 o feriado
foi festejado sob o fantasma desta ameaça.

12 Monografia de Ovar, vol. 2, Viseu, 1977, pp. 430-432.

154
Os feriados municipais

155
F eriados em Portugal

156
À MANEIRA DE EPÍLOGO
o fim do “sistema”

Economicismo versus cultura, sociabilidade e religiosidade

A globalização, a lógica economicista da União Europeia e toda a sua buro-


cracia, a afirmação de uma ideologia e de uma mentalidade “neoliberais” (que
esqueceu o sentido nobre do conceito de Liberdade dos séculos xviii e xix, na
sua luta pelos direitos dos cidadãos e de oposição ao Estado absoluto), criaram
um novo mundo feito de defesa do capitalismo, contra a intervenção do Estado,
e de pragmatismo individualista, que levou a uma interminável crise.
Explicar as suas matrizes é matéria que não nos interessa. Dirão os defensores
de Milton Friedman1 que, ao contrário do que comummente se diz, a causa não
está em se terem seguido as teorias da “escola de Chicago”, que ele liderou, e
que a crise não foi provocada pela sua aplicação, mas o certo é que as suas teses
e a sua incrível divulgação, através de todos os meios de informação, criaram
uma lógica monetarista e liberal que acabou por se repercutir em todo o globo,
com crises sucessivas que começaram nos Estados Unidos em 2007, se prolonga-
ram pelo Reino Unido e por todos os países, de um modo ou de outro, com

1 Ver Milton e Rose Friedman, Free to choose: a personal statement, New York, Avon Books,
1981; Milton Friedman e Rose D. Friedman, Capitalism and freedom, Chicago, University of Chicago
Press, 1982. Está traduzido para português o livro de Milton Friedman e Rose Friedman, Liberdade
para escolher, Mem Martins, Europa-América, 1982. Ver ainda David Friedman, The machinery of
freedom: guide to a radical capitalism, New York, Harper & Row, 1973. Como texto de divulgação
defensor do neoliberalismo e de Friedman, ver Eamonn Butler, Milton Friedman, tradução da
edição inglesa da editora Harriman House, L.ª (Milton Friedman. A concise guide to the ideas and
influence of the free-market economist, 2011), Alfragide, Lua de Papel, 2012.

157
F eriados em Portugal

particular significado naqueles que sempre tiveram dificuldade em romper com


uma economia de dependência2.
Em Portugal, depois dessa prática apresentar como passaporte a imagem de um
“socialismo moderno” (profunda contradição)3, com a irrupção de um capitalismo
selvagem e sem alma, que incitava a um consumismo autofágico, assumiu agora a
forma verdadeira de um liberalismo capitalista de dependência, regulamentador de
uma austeridade que levou à perda de direitos dos sectores operários e da classe
média4, em nome, obviamente, da “salvação nacional”. O saneamento das finanças
públicas – esquecendo que a sua doença é crónica e vem de longe – vai fazendo
esquecer (outra suprema contradição) o desenvolvimento económico, destruído
pela voragem de um capitalismo europeísta e internacionalista, a harmonia social e
a cultura nacional. As privatizações pelo capital estrangeiro, a movimentação das
empresas transnacionais que se deslocam ao sabor do lucro, a falta de eficácia das
medidas do Estado (medidas de poupança e não de reestruturação) em relação a
graves problemas como o desemprego e o subemprego ou a saúde e a assistência
social, a marginalização da cultura considerada na sua concepção crítica em função
de uma dita “cultura” polimorfa, polivalente e desdobrável e de uma ciência de
“desenvolvimento” dependente, com uma universidade em estado crítico5, fazem

2 São muitos os ensaios que em todo o mundo procuram explicar as razões da crise do ca-
pitalismo e da crise da Europa. Limitamo-nos a sugerir a leitura de dois saídos recentemente em
Portugal: António José Avelãs Nunes, Uma leitura crítica da actual crise do capitalismo, separata
do Boletim de Ciências Económicas, Coimbra, Faculdade de Direito, 2011, e José Pedro Teixeira
Fernandes, A Europa em crise, Vila do Conde, Quidnovi, 2012.
3 Ver Anthony Giddens, The third way: the renewal of Social Democracy, Cambridge, Polity
Press, 1998. Tradução portuguesa: Para uma terceira via: a renovação da social-democracia,
Lisboa, Presença, 1999.
4 Ver Elísio Estanque, A classe média: ascensão e declínio, Lisboa, FFMS / Relógio d’Água, 2011.
5 Ver Luís Reis Torgal, Caminhos e contradições da(s) Universidade(s) Portuguesa(s). Centralismo
e autonomia. Neoliberalismo e corporativismo. Coimbra, Centro de Estudos Interdisciplinares do
Século XX da Universidade de Coimbra, Cadernos do CEIS20, 2000, A Universidade e as «condições»
da Imaginação. Cadernos do CEIS20. Coimbra, CEIS20, 2008, e “University, Society and Politics”, Part
I, Chapter 3, in Guy Neave e Alberto Amaral (Editors), Higher Education in Portugal. 1974-2009. A
nation, a generation, Porto – New York, CIPES – Springer, 2012, pp. 67-87. A “crise da Universidade” a
que nos referimos não invalida que se tenha formado uma elite científica significativa – como afirmou
o reitor da Universidade de Lisboa António Nóvoa, no discurso de 10 de Junho de 2012 – que poderia
ser aproveitada para uma reestruturação do país, que sempre faltou e que foi denunciada desde a
“geração de 70” (do século xix) ou ainda muito antes. Ainda que não tenhamos uma ideia optimista,
mas sim uma concepção realista, da Universidade é indubitável que essa elite se vai formando, todavia
nem sempre com uma consciência critica da cultura, da ciência e da sociedade. A par disso, vai-se
formando também uma “massa” de graduados (mesmo de doutores) que não têm uma formação pro-
funda, ao mesmo tempo que estagnou e vai envelhecendo a comunidade dos professores.

158
À maneira de epílogo

do mundo, de Portugal e de outros países europeus, a começar pela Grécia,


sociedades sem esperança.
É no contexto desta mentalidade economicista, de proclamado desenvolvimento
e agora de pobreza e austeridade, que ressurge a “questão dos feriados”.

A proposta da extinção dos feriados e


as reacções da Comunidade e da Igreja

Nesta geometria de crise, ou de crises, com um governo de maioria absoluta


e numa lógica de “democracia autoritária” e de “dependência”6, tudo se torna,
efectivamente, possível e tudo se concretiza.
Foi o próprio ministro da Economia – cuja acção em prol do despertar
económico do país tem sido pouco visível – que primeiro terá dado a notícia.
No final do ano de 2011, em Novembro, Álvaro Santos Pereira comunicou que
o Governo pretendia abolir dois feriados cívicos e dois religiosos, pelo que iria
participar essa sua decisão aos parceiros sociais e à Igreja. Quanto aos feriados
cívicos, adiantou logo os dois propostos: o 5 de Outubro (comemorativo da
implantação da República) e o 1 de Dezembro (comemorativo da Restauração da
Independência). Mas assinalou ainda que se pretendia celebrar essas duas datas
históricas nos domingos seguintes aos feriados a extinguir.
Pela primeira vez, frontalmente, apresentaram-se como motivo da alteração do
sistema dos feriados razões económicas (embora essas razões pudessem ter estado
também presentes noutros momentos) e não propriamente motivações de natureza
cultural, política e religiosa. De resto, o assunto tem sido debatido nesse sentido e
chegou-se mesmo a calcular quanto custa cada feriado à economia portuguesa7.

6 Recorde-se o papel da chamada troika – formada por representantes da Comissão Europeia,


do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) – como fiscalizadora
do cumprimento de um plano, que vai resultando de um memorando assinado pelo PS (de José
Sócrates) e pelo PSD (de Passos Coelho), no sentido de gerir a dívida pública portuguesa. Se é ela
em grande parte responsável, por exemplo, pelas privatizações em áreas fundamentais, também é
quem aconselha as propostas do Governo em áreas como o Código de Trabalho, que implica, entre
outros pontos, a diminuição do número de feriados concedidos aos trabalhadores.
7 Ver Expresso, 3.12.2012, p. 27. Anunciava-se ali que Luís Bento, investigador do Centro de
Pesquisa e Estudos Sociais da Universidade Lusófona, calculara que cada feriado custava à economia
nacional 37 milhões de euros.

159
F eriados em Portugal

E, como sempre em Portugal, não houve propriamente um debate sério sobre o


tema, mas sim o manifestar de opiniões, nos mais variados programas de televi-
são ou de rádio, em alguns artigos de jornais 8, em blogues, em documentos de
instituições ou de grupos de cidadãos. A culminar todo este circuito da “opinião”,
o programa “Prós e Contras”, coordenado por Fátima Campos Ferreira, levou a
efeito, em 19 de Março de 2012, uma sessão (aliás, pouco esclarecedora) dedicada
especialmente ao tema.
No meio desta sobreposição de pareceres e opiniões, e não da tentativa
de estudar seriamente o tema, surgiram alguns textos mais pensados, indivi-
duais, como o de José Ribeiro e Castro9, ou de grupos profissionais ou de
associações cívicas.
Alguns historiadores, num manifesto datado de 5 de Dezembro de 201110,
analisaram de forma crítica, mesmo polémica, a posição do Governo. Começa-
ram por aludir à sua “demagogia”, afirmando que, ao contrário do que afirmara
o ministro da Economia, não seria o corte dos feriados que iria contribuir para
o aumento de “produtividade e competitividade da economia nacional”, “produti-
vidade e competitividade” que eram significativas em países que tinham o mesmo
número ou mais feriados do que Portugal. Continuava o texto criticando o “ataque
ao lazer dura e tardiamente conquistado pelos trabalhadores”. E terminava por
salientar que “a anunciada proposta de supressão” atentava “contra a memória
e a simbologia cívica do Dia da Restauração, a 1 de Dezembro, e do dia da
implantação da República, a 5 de Outubro”, referindo, neste caso, o carácter
“profundamente chocante” da decisão governamental, no ano em que se acaba-
vam de “encerrar na Assembleia da República as comemorações do centenário

8 Permitimo-nos citar a nossa intervenção neste campo. Ver: Luís Reis Torgal, “Aí vai a Histó-
ria…!”, in Diário de Coimbra, 4 de Fevereiro de 2012. p. 9, e Público, 12 de Fevereiro de 2012, p.
39, “Os Feriados, a opinião, os historiadores e o Governo”, in Jornal de Letras, 22 de Fevereiro a 6
de Março de 1912, pp.28-29, e “A estranha visão dos feriados e as estratégias de Poder”, in Público,
20 de Maio de 2012, p. 52.
9 Já um pouco tardiamente, em Maio, foi publicado o livro de José Ribeiro e Castro, que
constitui a única obra que foi escrita propositadamente sobre esta questão dos feriados, visando
sobretudo lutar contra a extinção do feriado de 1 de Dezembro: 1 de Dezembro, Dia de Portugal,
Lisboa, Principia, 2012. Ribeiro e Castro tem assumido nesta polémica um papel singular, quer
como membro da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, quer como deputado, mani-
festando uma reconhecida independência e uma assinalada coerência.
10 Ver Anexos, III, 22.

160
À maneira de epílogo

da implantação da República – com largo impacto em todo o país”. Em jeito de


conclusão, afirmava o documento que a proposta se tratava de “um gesto de puro
arbítrio”, pelo que se apelava aos cidadãos para que não permitissem que tal
se cometesse.
Dias depois, novo documento, de idêntico conteúdo, foi enviado aos deputados
da Assembleia da República a apelar para que não votassem essa proposta.
Por outro lado, em 1 de Dezembro de 2011 – no que seria considerado
pela imprensa como a última celebração do centenário da Restauração –, o
presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP), José
Alarcão Troni, defendeu, perante o Presidente da República, a manutenção do
feriado por ser “origem e matriz de todos os feriados civis”. E, nesse mesmo
dia, a Sociedade fez circular um abaixo-assinado na defesa do feriado, o qual
recolheu cerca de 2.000 assinaturas e que foi dirigido à Presidente da Assembleia
da República, que, por sua vez, o despachou para apreciação da Comissão
Parlamentar de Segurança Social e Trabalho, no âmbito da discussão e votação
dos feriados civis e religiosos, matéria constante da proposta de lei de alteração
do Código do Trabalho.
Assinado em 9 de Março no palácio da Independência, a Sociedade escrevia
um Comunicado11, chamando exactamente a atenção (como o fizera o seu
Presidente) para o facto de o feriado de 1 de Dezembro ser a matriz de todos os
feriados, dado que sem esse dia Portugal jamais seria independente e, assim,
nenhum dos outros feriados poderia ser festejado. A SHIP – afirmava o docu-
mento – lutava há 150 anos pela independência de Portugal e pelo significado
memorial desse dia de Dezembro, tendo como um dos “40 patriotas” fundadores
Alexandre Herculano. Uma afirmação era fundamental nesse texto: “No corrente
ano de 2012 e na segunda década do novo século, se os órgãos de soberania
pretendem, coerentemente, manter a união de toda a Nação Portuguesa em torno
dos pesadíssimos sacrifícios exigidos ao nosso velho Estado-Nação pela «troika»
dos credores internacionais, então que não atentem contra a dignidade, a identi-
dade, a individualidade e a auto-estima de Portugal e respeitem a sua História,
os seus valores, quase milenares, bem como a afirmação da Língua e da Cultura
Portuguesas, que ao Dia 1.º de Dezembro devem a sua existência”. Feriado

11 Ver Anexos, III, 26.

161
F eriados em Portugal

criado pela República, “mantido pelo Estado Novo e pela III República ao longo
de 37 anos”, não poderia ser abolido, como os Estados Unidos nunca deixariam
de “evocar o Independence Day”. E notava ainda o Comunicado que, de 27
países da União Europeia, 18 tinham um “Dia Nacional”, como o “feriado civil
mais importante”, aquele que “assinala a respectiva fundação ou independên-
cia”. A finalizar, a SHIP tomava duas posições específicas: propunha-se criar de
imediato a “Comissão Comemorativa do Feriado Nacional do 1.º de Dezembro
– Dia da Restauração”; e, já que não acreditava no “bom senso” da Assembleia
da República, propunha-se vir a apelar ao Presidente da República para que
apusesse o seu veto político à disposição do Código do Trabalho que eliminaria
o feriado.
Surgia ainda nesse mesmo dia 9 de Março uma “Carta de Missão” que dava
conta das acções levadas a efeito pela SHIP12. Entre elas destaque-se a adesão da
Sociedade ao Manifesto elaborado pelo deputado José Ribeiro e Castro no senti-
do de lutar pelo feriado, manifesto que, no âmbito da audição pública da pro-
posta de lei do Código do Trabalho, deveria ser “assinado por seiscentos mem-
bros da sociedade civil, com óbvio destaque para os corpos sociais e associados
desta patriótica instituição”13. E, ao pretender dar o maior visionamento a essa
luta, dizia ainda a Carta de Missão que pretendia divulgá-la em toda a imprensa
nacional e regional, desejando ainda contactar a RTP1 para ser transmitido um
programa “Prós e Contras” sobre o “Feriado Nacional do 1.º de Dezembro”, bem
como a RTP2 no programa “Sociedade Civil”.
A importância dada ao feriado de 1 de Dezembro – data sem dúvida signi-
ficativa a nível nacional, mas mais ainda a nível do nacionalismo monárquico
(D. Duarte, duque de Bragança, afirmou que o “dia de Portugal” deveria ser o
1.º de Dezembro e não o 10 de Junho, que tinha afinal uma influência mais
directamente republicana) – era, por sua vez, contrabalançada pelo significado
que a linha republicana concedia, naturalmente, ao 5 de Outubro.

12 Ver este documento também em Anexos, III, 26.


13 Ver esse manifesto e outros documentos e pareceres em José Ribeiro e Castro, ob. cit..
O referido manifesto encontra-se nas pp. 21-24. Tendo em conta o seu significado também o
publicamos em Anexo, III, 25. Saliente-se que, para além das assinaturas iniciais, o documento
teve várias fases de subscrição e, à data em que este texto foi escrito, continuava a ser assinado
on line, bastando para isso fazê-lo no site da SHIP: www.ship.pt

162
À maneira de epílogo

Assim, logo em 8 de Dezembro de 2011 a Comissão Cívica de Coimbra para


as Comemorações do Centenário da República protestava, num manifesto, contra
a tentativa de abolição do feriado do 5 de Outubro, considerando “inaceitável a
concretização dessa medida”, tendo em conta “que o património republicano
institucionalmente consagrado pela revolução de 5 de Outubro de 1910 é o
fundamento indeclinável do próprio regime democrático”14.
Por sua vez, a Associação Cívica “República e Laicidade”, num “Comunicado
à Comunicação Social”, assinado pelo Presidente da Direcção, Ricardo Alves,
datado de 27 de Janeiro de 201215, protestava também contra a abolição do 5 de
Outubro como feriado cívico, alegando até um princípio constitucional. Era, com
o 25 de Abril, uma das datas “reconhecidas, pelo seu significado político, na
Constituição em vigor” – eram “ambas datas simbólicas do carácter republicano
e democrático do regime”, sendo o 5 de Outubro contemplado no artigo 11.º. Na
verdade, esclareçamos que nesse artigo da Constituição de 1976 (dedicado ao
tema “Símbolos nacionais e língua oficial”), na sua versão de 2005 (data da última
revisão), pode ler-se no ponto n.º 1: “A Bandeira Nacional, símbolo da soberania
da República, da independência e integridade de Portugal, é adoptada pela
República instaurada pela Revolução de 5 de Outubro de 1910”. No ponto n.º 2
refere-se que “A Portuguesa”, também de origem republicana (recordemos), era o
Hino Nacional, e, no n.º 3, transcendendo, evidentemente, a realidade republicana,
afirmava-se que a língua oficial é o Português.
Mas esse Comunicado, devido à luta pela “laicidade”, que faz parte do programa
da Associação Cívica, tem ainda um sentido que não foi afirmado por nenhuma
outra instituição. Repudiava a “subserviência manifestada pelo Ministro da Econo-
mia à Igreja Católica”, relativamente aos feriados religiosos. E, nesse sentido, argu-
mentava: “Sendo a constitucionalidade da Concordata e o seu estatuto de «tratado
internacional» discutíveis, note-se que esse documento só obriga a «possibilitar aos
católicos, nos termos da lei portuguesa, o cumprimento dos deveres religiosos»16, o

14 Ver Anexos, III, 23.


15 Ver Anexos, III, 24.
16 Cfr. (Novo texto da) Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa, assinada em 18 de
Maio de 2004, sendo primeiro-ministro José Manuel Durão Barroso, artigo 3, n.º 3. Ver da Universidade
Católica Portuguesa: http://www.ucp.pt/site/custom/template/ucptplfac.asp?sspageID=3877&lang=1. Ver
também, nesta obra, um extracto em Anexos, III, 21.

163
F eriados em Portugal

que pode ser resolvido aplicando aos católicos o artigo 14.º da Lei de Liberdade
Religiosa («Dispensa do trabalho, de aulas e de provas por motivo religioso»)”,
não se entendia a existência de festas religiosas como “feriados nacionais”17.
Finalmente, procurando demonstrar o perigo em que incorre o Presidente da
República ao ratificar as decisões anunciadas, que não procuraram um largo
consenso, e que criarão, por isso, um precedente grave para o futuro, promete a
Associação Cívica “República e Laicidade” que, no caso de ser abolido o 5 de
Outubro como feriado nacional, “se dirigirá aos Presidentes das Assembleias
Municipais com a sugestão de que o 5 de Outubro seja fixado como feriado
municipal, como é da competência desses órgãos municipais”.
De resto, foi essa competência, mutatatis mutandis, que possibilitou que al-
gumas câmaras concedessem essa tolerância na terça-feira de Entrudo, dia 21 de
Fevereiro de 201218, perante a decisão do primeiro-ministro de, quase em cima
da data, não conceder essa tolerância, o que foi considerado particularmente
lesivo dos interesses de alguns municípios com tradição carnavalesca.
Quanto à Igreja, de acordo com o novo texto da Concordata (2004), teve de
se cingir, naturalmente, à possibilidade de estabelecer um acordo e aceitar, as-
sim, por decisão do Governo, escolher dois dias santos que deixariam de ser
considerados feriados nacionais19. A sua primeira opção foi para o feriado móvel
do Corpo de Deus e para o feriado de 15 de Agosto, comemorativo da Assunção
de Nossa Senhora.
Na verdade, limitou-se a tomar uma simples atitude de legalidade, em função de
um tratado diplomático estabelecido, a referida Concordata, que só reconhece
como “dias festivos” os domingos. Deste modo, a Conferência Episcopal Portugue-
sa e os seus membros mais influentes (o Cardeal D. José Policarpo, seu presidente,

17 Cfr. Lei de Liberdade Religiosa (n.º 16/2001, de 22 de Junho), de 26 de Abril de 2001 (Presi-
dência da República de Jorge Sampaio e Governo de António Guterres).
18 Foi concedida tolerância de ponto ao abrigo da lei n.º 169/99, de 18 de Setembro (que esta-
belece o quadro de competências, assim como o regime jurídico de funcionamento dos órgãos dos
municípios e das freguesias), com a nova redacção que lhe foi dada pelo lei n.º 5-A/2002, de 11 de
Janeiro, artigo 68.º, n.º 2, a).
19 De acordo com o novo texto da Concordata (2004), no artigo 3.º, n.º 1, a República Portu-
guesa reconhece como “dias festivos” os domingos. No n.º 2 do mesmo artigo afirma-se: “Os outros
dias reconhecidos como festivos católicos são definidos por acordo nos termos do artigo 28”. Esse
artigo 28 diz: “O conteúdo da presente Concordata pode ser desenvolvido por acordos celebrados
entre as autoridades competentes da Igreja Católica e da República Portuguesa”.

164
À maneira de epílogo

o vice-presidente, bispo do Porto e historiador da Igreja, D. Manuel Clemente, e o


seu secretário, D. Manuel Morujão) aceitaram esta posição e procuraram mesmo
acelerar o processo para a escolha dos dias santos a dispensar, decisão que em
última instância cabe à Santa Sé. De resto, é curioso que o próprio órgão do
Vaticano, Osservatore Romano, elogiou o que chamou a “simetria” da decisão gover-
namental portuguesa, ou seja, o corte de dois feriados cívicos e de dois religiosos20.
Poucos foram os clérigos – ao invés, como vimos, de alguns cidadãos, grupos
profissionais ou associações – que analisaram a questão em tom crítico, indepen-
dentemente da necessária aceitação da lei21. Sobretudo poucos o fizeram, tendo em
conta que a supressão dizia respeito não só a feriados religiosos, mas também a
feriados cívicos de amplo significado para qualquer cidadão português. E também
porque esse corte não aparece numa proposta de lei especial, mas integra-se numa
proposta de lei de alteração do Código do Trabalho, que põe em causa a segurança
dos trabalhadores. Ou seja, a hierarquia eclesiástica limitou-se a aceitar as preten-
sões do Estado e a legalidade (“a César o que é de César… “), preocupando-se,
sobretudo, como dissemos, com a escolha dos feriados a dispensar, com a possibi-
lidade – como foi dito por responsáveis eclesiásticos – de respeitar o feriado da
Imaculada Conceição, 8 de Dezembro (não tanto alegando questões dogmáticas,
mas sim a devoção popular à Virgem Maria) e com a possibilidade, por razões
litúrgicas, de adiar por um ano a abolição das festas religiosas como feriados.
De resto, a opção dos dois feriados religiosos a abater como feriados na-
cionais foi-se desenvolvendo, tendo-se reunido regularmente uma comissão
paritária em Lisboa, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, formada pelo
padre Saturnino Gomes, especialista em Direito Canónico, e Paulo Adragão,
professor da Faculdade de Direito do Porto. Neste contexto, verificou-se já uma
mudança de opinião, ou seja, entendeu-se, embora a título provisório, que não
deveriam ser abolidos os feriados do Corpo de Deus (móvel) e da Assunção de
Nossa Senhora (15 de Agosto) – como constava da proposta do Governo de
alteração do Código do Trabalho –, mas sim este e o de Todos os Santos (1 de

20 Ver Informação da agência noticiosa Ecclesia, de 3 de Fevereiro, de 2012: http://www.agen-


cia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=89419 Ver ainda Osservatore Romano, 4 de Fevereiro, p. 7, “Il
Portogallo imboca la strada della simmetria”.
21 Distinguiu-se na sua crítica contundente ao Governo o bispo as Forças Armadas, D. Januário
Torgal Ferreira.

165
F eriados em Portugal

Novembro). Mas esta inclinação de escolha está longe de ter sido consensual,
não só porque membros do Vaticano (como Monselhor Fabio Fabbri) considera-
ram que se deveria respeitar os dias santos da Anunciação e de Todos os Santos,
como também o bispo de Bragança-Miranda, D. António Montes, presidente da
delegação da Santa Sé na Comissão Paritária com o Estado Português, veio
lembrar que só a comissão paritária de representantes dos Estados Português e
do Vaticano poderiam afinal vir a aprovar a decisão de eliminação oficial dos
citados feriados religiosos. Entretanto, recordava-se que, enquanto não fosse
realizado esse acordo bilateral, os feriados religiosos continuariam a ser os
mesmos, expressos no artigo 30.º da Concordata22.

Lá se vai a História… – a mudança de paradigma

Em 30 de Março de 2012, foi aprovada na generalidade a proposta de lei de


alteração do Código do Trabalho que contém a referência aos feriados (Proposta
de lei n.º 46/XII, de 2 de Fevereiro de 2012)23.
Para além de, no artigo 234.º, com a redacção agora proposta para o Código
do Trabalho (artigo 2.º), se enumerarem os feriados obrigatórios, com exclusão
dos quatro referidos24, o texto começa logo no Preâmbulo (n.º 4) por referir “essa
redução do catálogo legal”, especificando que esses feriados correspondiam “a
dois feriados civis e a dois feriados religiosos” O objectivo dessa redução é tam-
bém circunstanciado: “Esta medida, que se pretende que produza efeitos já em
2012, sem prejuízo do cumprimento dos mecanismos decorrentes da Concordata
entre o Estado Português e a Santa Sé, permitirá aumentar o nível de produtivi-
dade, contribuindo para a aproximação, nesta matéria, de Portugal aos restantes
países europeus”. Curiosamente, se não há qualquer referência expressa à elimi-
nação dos feriados de 5 de Outubro e de 1 de Dezembro, já se verifica, como se

22 Ver sobre este tema, em relação ao qual se deram depois novos desenvolvimentos, notícias que
surgiram na rádio e nos jornais em 17 de Abril de 2012 e as notícias vindas a lume on line pela Agencia
Ecclesia. E ver também, em Anexo, o extracto que isolámos da Concordata de 2004 (Anexos, III, 21).
23 Ver o seu extracto em Anexos, III, 20.
24Artigo 234.º: “São considerados feriados obrigatórios os dias 1 de Janeiro, Sexta-Feira Santa,
Domingo de Páscoa, 25 de Abril, 1 de Maio, 10 de Junho, 1 de Novembro, 8 de Dezembro e 25 de
Dezembro”.

166
À maneira de epílogo

disse, essa menção no que diz respeito aos feriados religiosos do Corpo de Deus
e de 15 de Agosto (sem se identificar que se trata da celebração da Assunção
de Nossa Senhora). Assinalando já esses tempos festivos a eliminar como feria-
dos oficiais, não deixa, todavia, de voltar a salientar que essa eliminação “apenas
produz efeitos depois de cumpridos os mecanismos previstos na Concordata
celebrada, em 18 de Maio de 2004” (artigo 9.º da Proposta de Lei).
Também é de notar – o que era especificado desde que foi aprovada a pri-
meira versão do Código do Trabalho, em 200325, sendo depois sucessivamente
alterado em anos seguintes (sobretudo em 2006, 2009 e 201126) – que os feriados
obrigatórios poderiam “ser observados na segunda-feira da semana subsequente”
(artigo 234.º, n.º 3, da Proposta de Lei de 2012), ideia que sempre paira na dis-
cussão desta matéria e que, na verdade, é prática corrente em alguns países, a
começar nos Estados Unidos.
A citada proposta de lei foi, pois, aprovada na generalidade com os votos
da maioria, do PSD e do CDS/PP. A bancada do PS absteve-se e votaram contra
as bancadas do PC, do BE e de “Os Verdes” e ainda a deputada socialista
independente Isabel Moreira e o democrata-cristão José Ribeiro e Castro, que
(como foi notado) esteve na luta pela não abolição do 1 de Dezembro, levada
a efeito pela SHIP.
Finalmente, em 8 de Maio de 2012, surgiram os desenvolvimentos fundamen-
tais deste processo de contornos especiais. Nesse dia, foram dados a conhecer
dois importantes comunicados.
Um deles, transmitido pela Nunciatura Apostólica27, considerando que a Santa
Sé prentedia ir ao “encontro dos desejos do Governo português na procura
de uma solução para a crise económico-financeira em que se encontra o país”,
decidia que a festa do Corpo de Deus (festa móvel, mas realizada sempre na
quinta-feira, sessenta dias depois da Páscoa) passaria a ser “transferida para o
domingo seguinte”, enquanto a festa de Todos os Santos “manter-se-ia no dia 1
de Novembro, mas sem o carácter de dia de feriado civil”.

25 Lei n.º 99/2003, de 27 de Agosto, artigo 208.º, nº. 3. Ver o seu extracto em Anexos, III, 18.
26 Ver o extracto desta lei, n.º 53/2011, de 14 de Outubro, em Anexos, III, 19. O artigo referente
aos feriados é agora o artigo 234.º.
27 Ver Anexo III, 27.

167
F eriados em Portugal

O outro é um comunicado conjunto dos Ministérios dos Negócios Estrangei-


ros e da Economia e do Emprego28. Afirma a eliminação dos feriados de Corpo
de Deus, de 5 de Outubro, de 1 de Novembro e de 1 de Dezembro. No entanto,
alegando “as preocupações manifestadas por alguns parceiros subscritores do
Acordo de Concertação Social, bem como as exigências legais aplicáveis em
matéria de entrada em vigor das alterações à legislação laboral” e, por outro
lado, “indo assim também ao encontro do melhor planeamento dos calendários
das famílias e das empresas no corrente ano”, essa eliminação só produziria
efeito a partir de 1 de Janeiro de 2013 (o que é também referido no curto co-
municado da Nunciatura). Informa ainda este comunicado dos dois ministérios
(assim como o da Nunciatura) que o acordo com o Vaticano acerca da elimina-
ção dos feriados religiosos como feriados oficiais tem uma validade de cinco
anos, ao fim dos quais (ou seja em 2018) as duas partes “reavaliarão os termos
do seu acordo”.
Num acto de “eficiência” ou de precipitação, sem admitir sequer tempo para
a reflexão sobre o tema, tão complexo e simbolicamente importante, no próprio
dia 8 de Maio de 2012 reuniu a comissão parlamentar da Segurança Social e do
Trabalho em que a maioria parlamentar propôs uma alteração à proposta de
alteração do Código do Trabalho, já aprovada (como se disse) na generalidade.
Só a oposição fez declarações contra as decisões impostas pelo Governo (com
a aceitação da Igreja, que teve um tratamento de excepção, de acordo com a
Concordata). A oposição parlamentar e as centrais sindicais, numa reflexão prá-
tica, queixaram-se de os trabalhadores passarem a exercer funções laborais por
mais quatro dias ou, se se quiser, trabalharem sem mais nenhum vencimento
mais dias no ano.
Mas, é evidente que a Igreja, criou dois problemas ao Estado. Em primeiro
lugar, ao manter uma posição “excepcional”, apenas suspendendo por cinco
anos os seus feriados até que em 2018 se verifique uma reavaliação da situação,
fez vir ao de cima a sua situação de superioridade hierárquica, dado que, ao
contrário dos feriados religiosos, em princípio os feriados cívicos seriam defini-
tivamente abolidos, oferecendo assim aos opositores mais um forte argumento de
contestação. Em segundo lugar, ao optar pela suspensão do feriado de Todos

28 Ver Anexo, III, 28.

168
À maneira de epílogo

os Santos, e não pela Assunção de Maria, originou a possibilidade de se criar


outro argumento de contestação mais generalizada, dado que esse feriado tem
sido em Portugal, na prática, sentido como o “dia de finados”, o qual se deveria
efectivamente verificar no dia próprio, em 2 de Novembro, que é feriado noutros
países, como o Brasil.
Seja como for – e este parece ser verdadeiramente o epílogo deste polémico
processo – o presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, economista de
formação e responsável pela liderança do governo e da sua politica económica
e financeira durante dez anos (6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995),
acabou por promulgar, em 18 de Junho de 2012, a nova lei de alteração ao
Código de Trabalho29. Os seus argumentos são de natureza política e económica
– os compromissos assumidos por Portugal perante a troika, o acordo com
grande maioria dos parceiros sociais que constituem a Comissão Permanente
de Concertação Social do Conselho Económico e Social, a fraca oposição dos
deputados na Assembleia da República (apenas 15%) e a esperança de que com
essa legislação se assegure “a estabilidade das Normas reguladoras das relações
laborais, com vista à recuperação do investimento, à criação de novos postos de
trabalho e ao relançamento sustentado da economia portuguesa” – e, natural-
mente, também de natureza jurídica, ou seja, o facto de, “no âmbito da Casa Civil
da Presidência da República”, não terem sido “identificados indícios claros de
inconstitucionalidade que justificassem a intervenção do Tribunal Constitucional
em sede de fiscalização preventiva da constitucionalidade das leis”. Portanto, nem
sequer Cavaco Silva usou o direito de enviar o documento legal ao Tribunal que
averigua a constitucionalidade das leis. Tudo se passou depressa, com o desejo
claro de concluir o processo, que, a par de introduzir novas regras provavelmente
injustas no domínio dos direitos dos trabalhadores, será de uma eficácia económica
mais que discutível. E, obviamente, no Comunicado da Presidência da República,
não há nem uma palavra sobre a questão da abolição dos quatro feriados,
que foram igualmente extintos na lei n.º 23/2012, publicada em 25 de Junho,
não tendo sido considerada (nem, por certo, o poderia ser, no plano legal) a
exigência da suspensão dos feriados religiosos (e não a anulação) por parte
da Igreja.

29 Ver Anexos, III, 29.

169
F eriados em Portugal

Está, pois, em princípio, consumada a anulação de dois feriados cívicos e a


suspensão ou a extinção de dois outros, de natureza religiosa.
Pode dizer-se que, com esta decisão, como já se aludiu, o Estado (através
do Governo, da Assembleia da República e da Presidência da República) con-
firmou uma mudança de paradigma fundamentador da manutenção ou altera-
ção dos feriados. Ou seja, até aqui eram sobretudo razões historicopolíticas ou
religiosas que fundamentavam os feriados ou a sua anulação. A partir de agora
as razões que são invocadas são de natureza exclusivamente económica.
É certo que Salazar, em 1952, não deixava de manifestar preocupações econó-
micas, quando aboliu dois feriados cívicos – o 31 de Janeiro, mantendo, toda-
via, o 5 de Outubro, e o 3 de Maio, que só por um erro grosseiro foi a data
considerada simbólica da descoberta do Brasil – a fim de poder dar carácter
oficial às festas religiosas, mas também é verdade que os argumentos do Esta-
do Novo que mais sobressaíram não foram esses30, assim como o não foram,
naturalmente, os da Igreja31. Por outro lado, é certo que desde 1975 os feriados
foram incluídos na legislação do trabalho – foi isso que originou a nomeação
da Páscoa (ao contrário do que sucede em alguns países cristãos), que se rea-
liza obrigatoriamente ao domingo –, mas também é verdade que nessa altura
o objectivo era velar pelos direitos dos trabalhadores, uniformizando situações
e até leis e não para justificar culturalmente a sua criação, ao contrário de hoje,
em que a anulação dos feriados reduz os “direitos” de quem trabalha e aumen-
ta os direitos das empresas.
Em resumo, foram, assim, extintos como feriados cívicos – para além de se
terem abolido dois feriados correspondentes a festas religiosas: uma cristológi-
ca, de grande tradição em todo o mundo católico, que remonta ao século xiii,

e outra hagiológica, de significado social – duas comemorações de dias histó-


ricos relevantes: o 5 de Outubro, em que assentam dois dos mais importantes
símbolos da Pátria, a bandeira e o hino nacionais, feriado com mais de 100
anos; e o 1.º de Dezembro, que se, como feriado, tem a mesma idade do “5 de
Outubro”, a sua defesa como festa nacional remonta aos anos 60 do século xix

30 Ver sobretudo o decreto, já citado, n.º 38.596, de 4 de Janeiro de 1952, in Anexos, III, 6.
31 Ver o discurso da Igreja na já citada Nota oficiosa do Episcopado, de 11 de Janeiro de 1952,
in Anexo, III, 7.

170
À maneira de epílogo

e como celebração a 1641, altura em que as Cortes decidiram recordar o dia


com um Te Deum, como era costume pontuar então as grandes comemorações
cívicas e religiosas, vindo a ser considerado como “dia de gala” pela corte.
Assim se pretende matar a História e a sua Memória, fruto de critérios econo-
micistas, o que se adequa ao pragmatismo do século e ao tempo de austeridade
e de falta de independência de Portugal… E este esfumar do passado-presente-
-futuro surgiu agora, sintomaticamente, em mais uma alteração ao Código do
Trabalho, que ataca os direitos que tão dificilmente foram conquistados em
outros domínios ainda muito mais significativos. Em nome do Progresso, da
Nação e… dos Trabalhadores.

171
(Página deixada propositadamente em branco)
ANEXOS
(Página deixada propositadamente em branco)
I

CRONOLOGIA DOS CENTENÁRIOS


E DE OUTRAS COMEMORAÇÕES

1. O SURTO COMEMORATIVO – EUROPA (SÉCULOS XVIII–XIX)1

1785 – I Centenário do nascimento de Georg Friedrich Händel


1788 – I Centenário da Revolução de 1688
1817 – III Centenário da afixação das “95 teses” de Lutero
1859 – I Centenário do nascimento de Schiller
1863 – 50 anos da vitória sobre Napoleão em Leipzig
1865 – VI Centenário do nascimento de Dante
450 anos do martírio de Jan Huss
1870 – I Centenário do nascimento de Hegel
1874 – V Centenário da morte de Petrarca
1875 – IV Centenário do nascimento de Miguel Ângelo
III Centenário da Fundação da Universidade de Leida
1876 – I Centenário da Independência dos Estados Unidos da América
1877 – II Centenário da morte de Espinoza
1878 – I Centenário da morte de Voltaire
I Centenário da morte de Rousseau
1881 – II Centenário da morte de Calderón de la Barca
1883 – IV Centenário do nascimento de Lutero
II Centenário da libertação do cerco de Viena pelos Turcos
1884 – I Centenário da morte de Diderot
1889 – I Centenário da Revolução Francesa

2. ALGUNS MARCOS COMEMORATIVOS EM PORTUGAL

Monarquia Constitucional

1872 – I Centenário da Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra

1 Algumas destas comemorações foram celebradas apenas ou fundamentalmente, nalguns


países, como, por exemplo, a Revolução de 1688, conhecida por Glorious Revolution, que foi cele-
brada sobretudo no Reino Unido.

175
F eriados em Portugal

1880 – III Centenário da morte de Camões


1882 – I Centenário da morte do Marquês de Pombal
1884 – I Centenário do santuário do Bom Jesus de Braga
1885 – V Centenário da Batalha de Aljubarrota
VII Centenário da morte de D. Afonso Henriques
1892 – Participação (ARCL) no IV Centenário da viagem de Colombo
1894 – V Centenário do nascimento do Infante D. Henrique
1895 – VII Centenário do nascimento de Santo António
1897 – II Centenário da morte do Padre António Vieira
1897-1898 – III Centenário da viagem de Vasco da Gama à Índia
1898-1899 – IV Centenário da fundação das Santas Casas da Misericórdia de Lisboa
e do Porto pela Rainha D. Leonor
1899 – I Centenário do nascimento de Almeida Garrett – 1903
1900 – IV Centenário da Descoberta do Brasil
I Centenário do nascimento do diplomata miguelista António Ribeiro Saraiva
1902 – IV Centenário do Teatro Nacional (Gil Vicente)
1908 – I Centenário da Guerra Peninsular
1910 – I Centenário do nascimento de Alexandre Herculano

I República

1915 – V Centenário da conquista de Ceuta


IV Centenário da morte de Afonso de Albuquerque
1917 – I Centenário da execução de Gomes Freire de Andrade
1921 – Associação ao IV Centenário da viagem de Fernão de Magalhães
1922 – I Centenário da Independência do Brasil
1924 – IV Centenário do nascimento de Camões
1924-1925 – IV Centenário da morte de Vasco da Gama
1925 – I Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco

“Ditadura Nacional”

1928 – 8º Centenário da Fundação da Nacionalidade (A História de Portugal dirigida por Damião


Peres é publicada sob esta comemoração, assinalando a batalha de São Mamede, que se
terá dado em 1128)
1931 – V Centenário da morte de Nuno Álvares Pereira
VII Centenário da morte de Santo António

Estado Novo

1932 – V Centenário da Descoberta dos Açores


1934 – V Centenário da passagem do Cabo Bojador por Gil Eanes
1937 – Exposição Histórica da Ocupação (Colonial)
IV Centenário da morte de Gil Vicente
IV Centenário da transferência definitiva da Universidade para Coimbra
1940 – Duplo Centenário da Fundação da Nacionalidade e da Restauração da Independência
1942 – Centenário do nascimento de Antero de Quental
1945 – Centenários dos nascimentos de Oliveira Martins e de Eça de Queirós
1946 – III Centenário da proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal
no reinado de D. João IV
1947 – VIII Centenário da Conquista de Lisboa aos Mouros
1948 – III Centenário da Restauração de Angola

176
A nexos

1950 – Centenário do Nascimento de Guerra Junqueiro


XIV Centenário de São Martinho de Dume
1952 – IV Centenário de São Francisco Xavier
1954 – Centenário da morte de Almeida Garrett
III Centenário da Restauração Pernambucana
1955 – I Centenário do nascimento de Mousinho de Albuquerque
1956 – V Centenário do Descobrimento da Guiné
1960 – V Centenário da Morte do Infante D. Henrique (Comemorações Henriquinas)
1972 – IV Centenário de Os Lusíadas

Após o 25 de Abril de 1974

1980 – IV Centenário da morte de Camões


1982 – II Centenário da Morte do Marquês de Pombal
1986 – Criação oficial da “Comissão dos Descobrimentos”2
1987 – 450 anos da fundação da Inquisição
1987-1988 – V Centenário da viagem de Bartolomeu Dias
1988 – I Centenário do nascimento de Fernando Pessoa
1990 – VII Centenário da Fundação da Universidade
1991 – I Centenário da morte de Antero de Quental
1992 – Participação no V Centenário de Colombo
VI Centenário do nascimento do Infante D. Pedro
1993 – 450 anos da chegada dos portugueses ao Japão
1994 – VI Centenário do nascimento do Infante D. Henrique
V Centenário do Tratado de Tordesilhas
1995 – V Centenário da morte de D. João II
50 anos do fim da II Guerra Mundial
1997 – III Centenário da morte do Padre António Vieira
1998 – V Centenário da viagem de Vasco da Gama (Expo 98)
1999 – II Centenário do nascimento do Marques de Pombal
II Centenário do nascimento de Almeida Garret
2000 – V Centenário da Descoberta do Brasil
2010-2011 – Centenário da República
2011 – Centenário da Fundação das Universidades de Lisboa e do Porto e da Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra

2 A Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1986–2002)


foi criada pelo Decreto-Lei n.º 391/86, de 22 de Novembro, e integrada na Presidência do Conselho
de Ministros. Tinha como objectivo a preparação, a organização e a coordenação das celebrações
dos descobrimentos portugueses do século xv. Foi extinta pelo artigo 2.º da Lei n.º 16-A/2002, de 31
de Maio, regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 252/2002, de 22 de Novembro, sendo as suas funções
e arquivos absorvidos pelo Ministério da Cultura.

177
(Página deixada propositadamente em branco)
II

OS FERIADOS NA MONARQUIA LIBERAL


“dias de festividade nacional” ou “de regozijo público”,

“de gala” ou de “grande gala” e “dias santos ”

1. QUADRO DE DIAS SANTOS, GALAS E DIAS SEM DESPACHO EM 1820,


SEGUNDO O ALMANAQUE OFICIAL1

JANEIRO
1 de Janeiro – Dia Santo (Circuncisão). Gala.
6 de Janeiro – Dia Santo (Epifania / Reis). Grande Gala.
7 de Janeiro – Abrem-se os tribunais.
14 de Janeiro [sexta-feira] – Não há despacho2.
15 de Janeiro [sábado] – Não há despacho.
20 de Janeiro [quinta-feira] – Não há despacho. Gala.
22 de Janeiro [Sábado] – Dia Santo (dia de São Vicente, padroeiro de Lisboa). Grande Gala. Faz anos
a Princesa Real D. Maria Leopoldina de Áustria, casada com D. Pedro de Alcântara [futuro
D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal].

FEVEREIRO
2 de Fevereiro – Dia Santo (Purificação de Nossa Senhora e Apresentação de Jesus no Templo).
3 de Fevereiro [quinta feira] – Não há despacho.
9 de Fevereiro [quarta-feira] – Não há despacho.
14 de Fevereiro [segunda-feira de Carnaval] – Não há despacho.
15 de Fevereiro [terça-feira de Carnaval] – Não há despacho.
16 de Fevereiro [quarta-feira de cinzas] – Não há despacho.

1 Almanach para o anno de M.DCCC.XX. Lisboa. Na offic. de J. F. M. Campos. Com licença da


Meza do Desembargo do Paço e Privilegio Real. [1820].
2 Temos dúvidas sobre o sentido, ou, melhor, sobre o alcance da expressão “Não há despacho”.
Devido à profusão desses dias ao longo do ano, somos levados a crer que não haveria despacho
régio, não considerando que o despacho se referisse às várias repartições do Estado.

179
F eriados em Portugal

18 de Fevereiro – Aniversário da aclamação do Rei3.


25 de Fevereiro – Dia Santo dispensado.

MARÇO
7 de Março [terça-feira] – Gala. Não há despacho.
8 de Março [quarta-feira]– Não há despacho.
19 de Março – Domingo da Paixão [também dia de São José].
21 de Março [terça-feira] – Gala. Não há despacho.
25 de Março [Sábado] – Dia Santo (Anunciação do Senhor).
26 de Março – Domingo de Ramos.
27 de Março [segunda-feira] – Não há despacho até aos Prazeres [até 11 de Abril?]4.
30 de Março – Quinta-feira de Endoenças5 [Última Ceia].
31 de Março – Sexta-feira da Paixão.

ABRIL
1 de Abril – Sábado de Aleluia.
2 de Abril – Domingo de Páscoa. Gala.
3 de Abril [segunda-feira] – Dia Santo. Grande Gala.
4 de Abril – Dia Santo. Gala. Faz um ano a Princesa da Beira [D. Maria da Glória, futura D. Maria II].
9 de Abril – Domingo de Pascoela.
11 de Abril – Abrem-se os tribunais.
20 de Abril [quinta-feira] – Não há despacho.
25 de Abril – Grande Gala. Não há despacho. Faz anos a Rainha [D. Carlota Joaquina].
29 de Abril – Faz anos a Princesa D. Maria Teresa de Bragança [filha mais velha de D. João VI e de
D. Carlota Joaquina]. Gala.

MAIO
1 de Maio – Dia Santo dispensado.
3 de Maio – Dia Santo dispensado [Santa Cruz].
8 de Maio – Gala.
11 de Maio [quinta-feira] – Dia Santo [Ascensão].
13 de Maio – Grande Gala. Não há despacho. Faz anos o Rei D. João VI.
21 de Maio – Domingo do Espírito Santo [Pentecostes].
22 de Maio [segunda-feira] – Dia Santo.
23 de Maio – Dia Santo dispensado.
28 de Maio – Domingo da Santíssima Trindade.

JUNHO
1 de Junho [quinta-feira] – Festa do Corpo de Deus. Gala.
8 de Junho [quinta-feira] – Grande Gala. Não há despacho.
9 de Junho [sexta-feira] – Dia Santo [Sagrado Coração de Jesus]. Gala.
13 de Junho [terça-feira]– Dia Santo [dia de Santo António].
23 de Junho [sexta-feira] – Não há despacho.

3 Na verdade, a data da Aclamação de D. João VI costuma ser apresentada como sendo a 6


de Fevereiro.
4 Supõe-se que este texto do Almanaque queria dizer que não havia despacho até ao dia de
Nossa Senhora dos Prazeres, que seria celebrado em 11 de Abril. O culto é muito antigo em Portugal
e significaria os “prazeres” de Nossa Senhora devido a vários acontecimentos da sua vida, desde a
Anunciação até à alegria da Ressurreição.
5 Segundo parece, deveria escrever-se Induenças, por provavelmente vir do latim indulgentias,
dado que desde o século vii era comum nesse dia, em cerimónia realizada nas igrejas, o povo pedir
indulgências para os seus pecados.

180
A nexos

24 de Junho – Dia Santo [dia de São João]. Grande Gala.


29 de Junho [quinta-feira] – Dia Santo [dia de São Pedro e de São Paulo].
30 de Junho [sexta-feira] – Não há despacho.

JULHO
4 de Julho – Gala. Não há despacho. Faz anos a Infanta Isabel Maria.
11 de Julho [terça-feira] – Não há despacho.
14 de Julho [sexta-feira] – Não há despacho.
25 de Julho – Dia Santo [dia de São Tiago Maior]. Grande gala. Faz anos a Infanta D. Maria Francisca
Benedita, Princesa do Brasil [última filha de D. José I e viúva de D. José (II), príncipe do
Brasil].
30 de Julho [domingo] – Gala
31 de Julho [segunda-feira]– Não há despacho.

AGOSTO
2 de Agosto [quarta-feira] – Não há despacho.
4 de Agosto [sexta-feira] – Não há despacho.
5 de Agosto [sábado] – Não há despacho.
10 de Agosto [quinta-feira] – Dia Santo dispensado.
14 de Agosto [segunda-feira] – Não há despacho.
15 de Agosto – Dia Santo [Assunção de Nossa Senhora]. Gala.
16 de Agosto [segunda-feira] – Não há despacho.
24 de Agosto – Dia Santo dispensado.
28 de Agosto – Não há despacho.

SETEMBRO
1 de Setembro – Começam as férias na Relação.
8 de Setembro – Dia Santo [Natividade de Nossa Senhora].
14 de Setembro [quinta-feira] – Não há despacho.
15 de Setembro [sexta-feira] – Não há despacho.
16 de Setembro [Sábado] – Não há despacho.
21 de Setembro – Dia Santo dispensado.
29 de Setembro – Dia santo dispensado. Gala.
30 de Setembro – Não há despacho.

OUTUBRO
2 de Outubro [segunda-feira] – Não há despacho.
4 de Outubro [quarta-feira] – Gala. Não há despacho.
12 de Outubro – Grande Gala. Não há despacho. Faz anos o Príncipe Real, D. Pedro de Alcântara
[futuro D. Pedro IV de Portugal e D. Pedro I do Brasil].
15 de Outubro [domingo] – Gala.
18 de Outubro [quarta-feira] – Não há despacho.
19 de Outubro – Gala.
21 de Outubro [Sábado] – Não há despacho.
25 de Outubro [quarta-feira] – Não há despacho.
26 de Outubro – Gala. Aniversário do Infante D. Miguel.
28 de Outubro – Dia Santo dispensado.

NOVEMBRO
1 de Novembro – Dia Santo [dia de Todos os Santos].
2 de Novembro [quinta-feira] – Não há despacho.
3 de Novembro – Abre-se a Relação.
4 de Novembro – Grande Gala. Faz anos o Infante D. Sebastião [único filho da infanta Maria Teresa
de Bragança e de seu primeiro marido, o infante Pedro Carlos de Bourbon; Maria Teresa
era filha de D. João VI e de D. Carlota Joaquina].

181
F eriados em Portugal

11 de Novembro – Não há despacho.


21 de Novembro [terça feira] – Não há despacho.
25 de Novembro [Sábado] – Não há despacho.
30 de Novembro – Dia Santos dispensado.

DEZEMBRO
1 de Dezembro – Gala6. Não há despacho.
4 de Dezembro [segunda-feira] – Não há despacho.
6 de Dezembro [quarta-feira] – Não há despacho.
7 de Dezembro [quinta-feira] – Não há despacho.
8 de Dezembro [sexta-feira] – Grande Gala7 [dia de Nossa Senhora da Conceição].
13 de Dezembro [quarta-feira] – Não há despacho.
18 de Dezembro [segunda-feira] – Não há despacho.
21 de Dezembro – Dia Santo dispensado.
23 de Dezembro – Gala. Não há despacho até aos Reis. Faz anos a Infanta D. Ana de Jesus de
Bragança [filha mais nova de D. João VI e de D. Carlota Joaquina].
25 de Dezembro – Dia Santo [Natal]. Grande Gala.
26 de Dezembro – Dia Santo. Grande Gala.
27 de Dezembro – Dia santo dispensado.
28 de Dezembro – Dia Santo dispensado.
31 de Dezembro – Gala.

2. DIAS SANTOS DE GUARDA (PASTORAL DE 14 DE MARÇO DE 1785, DO PATRIARCA DE


LISBOA, APÓS A AUTORIZAÇÃO PEDIDA AO PAPA PIO VI) E DIAS SANTOS DISPENSADOS
(EM 14 DE JUNHO DE 1844, PELO PAPA GREGÓRIO XVI, E EM 2 DE JULHO DE 1911, PELO
PAPA PIO X)

1 de Janeiro – Circuncisão de Jesus Cristo


6 de Janeiro – Epifania / Dia de Reis.
22 de Janeiro – Dia do mártir S, Vicente (só no Patriarcado de Lisboa e no Algarve) – Dispensado
em 1911.
2 de Fevereiro – Purificação de Nossa Senhora e Apresentação de Jesus no Templo – Dispensado
em 1911.
19 de Março – Dia de S. José – Dispensado em 1844 (posteriormente recuperado) e dispensado em
1911 (volta a aparecer, a pedido da Igreja portuguesa, como dia santo dispensado, nesse
mesmo ano, e, depois de meados dos anos 1920, como dia santo).
25 de Março – Anunciação – Dispensado em 1911.
Quinta-feira de Endoenças (móvel) – Dia da Última Ceia – Dispensado em 1911, bem como a
sexta-feira santa
[Páscoa (móvel)].
3 de Maio – “Invenção da Santa Cruz” – Dispensado em 1844.
Quinta-feira da Ascensão (móvel).
Corpo de Deus (móvel) – Dispensado em 1911 (volta a aparecer, a pedido da Igreja portuguesa,
como dia santo dispensado, nesse mesmo ano, e, depois de meados dos anos 1920, como
dia santo de guarda).
Santíssimo Coração de Jesus (móvel) – Dispensado em 1911.
13 de Junho – Santo António (só no Patriarcado de Lisboa) – Dispensado em 1911.

6 Como se vê, o 1.º de Dezembro era considerado apenas dia de Gala e não de Grande Gala.
7 O Almanaque refere o dia 8 de Dezembro apenas como dia de “Grande Gala”. Deste modo,
infere-se que não era considerado ainda como Dia Santo. Festejar-se-ia na corte o dia tendo em
conta que foi assinalado na corte desde o tempo de D. João IV, em 1646.

182
A nexos

24 de Junho – Dia de São João Baptista– Dispensado em 1911.


29 de Junho – Dia dos apóstolos São Pedro e São Paulo.
25 de Julho – Dia do apóstolo São Tiago (Maior) – Dispensado em 1844.
15 de Agosto – Assunção de Nossa Senhora.
8 de Setembro – Natividade de Nossa Senhora – Dispensado em 1844.
1 de Novembro – Dia de Todos os Santos.
8 de Dezembro – Imaculada Conceição.
25 de Dezembro – Natal.

3. DIAS DE “FESTIVIDADE NACIONAL”, DE “REGOZIJO NACIONAL”, DE “GRANDE GALA” (NA


DESIGNAÇÃO DO TEMPO) OU FERIADOS CIVICOPOLÍTICOS (NA DENOMINAÇÃO ACTUAL)
– PERÍODOS DE REVOLUÇÃO E DE CONTRA-REVOLUÇÃO (1820–1838)

3.1. No Vintismo (1821-1823):

26 de Janeiro – Instalação das Cortes Constituintes (26 de Janeiro de 1821) – adoptado como “dia
de festividade nacional”, pelas Cortes Constituintes, em 7 de Agosto de 1821.
6 de Fevereiro – Aclamação de D. João VI (6 de Janeiro de 1818), depois da morte de D. Maria I – só
adoptado como “dia de festividade nacional”, pelas Cortes Constituintes, em 4 de Fevereiro
de 1822.
26 de Fevereiro – D. João VI, ainda no Brasil, jurou aceitar a Constituição que viesse a ser elaborada
pelas Cortes (26 de Fevereiro de 1821) – adoptado pelas Cortes Constituintes em 7 de
Agosto de 1821.
13 de Maio – Aniversário de D. João VI (já celebrado, como dia de “Grande Gala” antes de 1820) –
adoptado como “dia de festividade nacional” em 10 de Maio de 1822.
4 de Julho – Desembarque de D. João VI em Lisboa, vindo do Brasil – adoptado como “dia de
festividade nacional”, pelas Cortes Constituintes, em 4 de Julho de 1822.
24 de Agosto – Revolução no Porto (24 de Agosto de 1820) – adoptado pelas Cortes Constituintes
em 7 de Agosto de 1821. [Na verdade, é aqui que se inicia o ciclo revolucionário que vem
a dar origem a estes dias de “festividade nacional”].
15 de Setembro – Revolução de Lisboa (15 de Setembro de 1820) – adoptado pelas Cortes Consti-
tuintes em 7 de Agosto de 1821.
1 de Outubro – Junção das Juntas revolucionárias do Porto e de Lisboa (1 de Outubro de 1820) –
adoptado pelas Cortes Constituintes em 26 de Setembro de 1821.

3.2. Depois da queda do regime constitucional (1823):

Foram revogados por decreto de 18 de Junho de 1823 os dias de “festividade nacional”, anterior-
mente decretados pelas Cortes Constituintes, e de “grande gala” na Corte, com excepção de:
6 de Fevereiro – Aclamação de D. João VI (“dia de “Grande Gala”).
13 de Maio – Aniversário de D. João VI (“dia de Grande Gala”).

3.3. Setembrismo (1836-1838)

Repostos como dias de “festividade nacional”:


26 de Janeiro – Instalação das Cortes Constituintes (26 de Janeiro de 1821).
26 de Fevereiro – D. João VI, ainda no Brasil, jurou aceitar a Constituição que viesse a ser elabora-
da pelas Cortes (26 de Fevereiro de 1821).
24 de Agosto – Revolução no Porto (24 de Agosto de 1820).
15 de Setembro – Revolução de Lisboa (15 de Setembro de 1820).

183
F eriados em Portugal

4. CALENDÁRIO DA REGENERAÇÃO E DA MONARQUIA CARTISTA (1851-1910) – DIAS


MAIS ESTÁVEIS: DIAS DE GALA OU GRANDE GALA, FERIADOS DE CARÁCTER REAL OU
CIVICOPOLÍTICO E FESTAS RELIGIOSAS DE CARÁCTER NACIONAL

Dias de grande gala ou de gala correspondentes aos aniversários da Família Real (do rei, da rainha,
do “príncipe real”, de infantes ou infantas, etc.) ou aos casamentos reais e aos “pronomes” (dias dos
santos que tinham o nome do rei ou da rainha) e “dias de luto” correspondentes aos dias do faleci-
mento – foram mudando, mantendo-se sempre o da morte de D. Pedro IV, como rei liberal e doador
da Carta.

1 de Janeiro – Grande gala: “Boas festas e entrada do Ano Novo”.


29 de Abril – Dia em que D. Pedro outorgou a Carta Constitucional [1826].
8 de Julho – Vitória liberal no Porto (1833).
24 de Julho – Entrada do exército liberal em Lisboa, em 1833 – celebrado a partir de 1872.
31 de Julho – Juramento pela Regência, a cargo da Infanta Isabel Maria, da Carta Constitucional
(1826).
Domingo de Páscoa.
Corpo de Deus (móvel).
Coração de Jesus (móvel).
24 de Setembro – Morte de D. Pedro IV, doador da Carta Constitucional.
1 de Dezembro – Te Deum pela Restauração.
8 de Dezembro – Imaculada Conceição.
25 de Dezembro – Natal.
31 de Dezembro– Último dia do ano.

184
III

DOCUMENTAÇÃO SOBRE OS FERIADOS (1910–2012)1

1. CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS FERIADOS DA REPÚBLICA (12 DE OUTUBRO DE 1910)

GOVERNO PROVISORIO

Presidencia do Governo Provisorio da Republica


O Governo Provisorio da Republica Portuguesa faz saber que em nome da Republica se
decretou, para valer como lei, o seguinte:

Artigo 1.° São considerados feriados, para todos os effeitos, os seguintes dias:
1 de janeiro – consagrado á fraternidade universal.
31 de janeiro – consagrado aos precursores e aos martyres da Republica.
5 de outubro – consagrado aos heroes da Republica.
1 de dezembro – consagrado á autonomia da patria portugueza.
25 de dezembro – consagrado á família.

Art. 2.° As municipalidades poderão, dentro da área dos respectivos concelhos, considerar
feriado um dia por anno, escolhendo-o de entre os que representam as festas tradicionaes e carac-
teristicas do municipio.

Determina-se portanto que todas as auctoridades, a quem o conhecimento e a execução do


presente decreto com força de lei pertencer, o cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente
como n’elle se contém.
Os Ministros de todas as Repartições o façam, imprimir, publicar e correr. Dado nos Paços do
Governo da Republica, em 12 de outubro de 1910.
JOAQUIM THEOPHILO BRAGA – Antonio José de Almeida – Affonso Costa – Antonio Xavier
Correia Barreto – José Relvas – Amaro de Azevedo Gomes – Bernardino Machado – Antonio Luiz Gomes

2. CRIAÇÃO DO FERIADO DE 3 DE MAIO, COMEMORATIVO DA “DESCOBERTA DO BRASIL”


(1 DE MAIO DE 1912)

DIRECÇÃO GERAL DA ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA E CIVIL

Em nome da Nação, o Congresso da República Portuguesa decreta, e eu promulgo, a lei seguinte:

1 Procurou manter-se aqui a grafia da época.

185
F eriados em Portugal

Artigo 1.º É declarado feriado oficial o dia 3 de Maio, data gloriosa do descobrimento do Brasil.

Artigo 2.º Fica revogada a legislação em contrário.

Os Ministros de todas as Repartições a façam imprimir, publicar e correr. Dada nos Paços do
Governo da República, em 1 de Maio de 1912.
MANUEL DE ARRIAGA – Augusto de Vasconcelos – Silvestre Falcão – António Caetano Macieira
Júnior – Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais – Alberto Carlos da Silveira – Celestino Germano Pais
de Almeida – José Estêvão de Vasconcelos – Joaquim Basílio Cerveira e Sousa de Albuquerque e Castro

3. CRIAÇÃO DA “FESTA NACIONAL” DE 10 DE JUNHO, “DIA DE PORTUGAL”


(25 DE MAIO DE 1925)

PRESIDÊNCIA DO MINISTÉRIO

Lei n.º 1.783

Em nome da Nação, o Congresso da República decreta, e eu promulgo, a lei seguinte:

Artigo 1.º É considerada nacional a Festa de Portugal que se celebrará no dia 10 de Junho de
cada ano.
§1.º É encarregado da organização desta Festa uma comissão nomeada anualmente pelo Governo.
§2.º (transitório) No presente ano são conferidas as atribuições do parágrafo anterior á comissão
encarregada da consagração nacional de Luís de Camões.

Artigo 2.º Fica revogada a legislação em contrário.

O Presidente do Ministério e Ministro das Finanças e os Ministros das demais Repartições


assim o tenham entendido e façam executar. Paços do Governo da República, 25 de Maio de
1925.
MANUEL TEIXEIRA GOMES – Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães – Vitorino Henriques
Godinho – Adolfo Augusto de Oliveira Coutinho – António Nogueira Mimoso Guerra – Fernando
Augusto Pereira da Silva – Joaquim Pedro Martins – Frederico António Ferreira de Simas – Henrique
Monteiro Correia da Silva – Rodolfo Xavier da Silva – Ângelo de Sá Couto da Cunha Sampaio Maia
– Francisco Coelho do Amaral Reis.

4. CONFIRMAÇÃO DOS “FERIADOS DA REPÚBLICA” PELA DITADURA MILITAR


(29 DE JULHO DE 1929)

PRESIDÊNCIA DO MINISTÉRIO

Decreto n.º 17:171

Considerando que dúvidas de vária ordem se têm levantado sobre quais são os feriados gerais
da República, tanto nos tribunais, como nas repartições públicas e quartéis;
Considerando assim que é necessário fixar de vez quais são os únicos feriados gerais da
República, para que tais dúvidas não possam tornar a surgir;
Usando da faculdade que me confere o n.º 2 do artigo 2.º do decreto n.º 12:740 de 26 de
Novembro de 1926, por força do disposto no artigo 1.º do decreto n.º 15:331 de 9 de Abril de 1928,
sob proposta dos Ministérios de todas as Repartições:
Hei por bem decretar, para valer como lei, o seguinte:

Artigo 1.º São considerados feriados gerais da República, para todos os efeitos, os seguintes dias:

186
A nexos

1 de Janeiro – Consagrado à fraternidade universal.


31 de Janeiro – Consagrado aos precursores e aos mártires da República.
3 de Maio – Comemorativo da descoberta do Brasil.
10 de Junho – Comemorativo da Festa de Portugal.
5 de Outubro – Consagrado aos heróis da República.
1 de Dezembro – Comemorativo da restauração da Independência.
25 de Dezembro – Consagrado à família.

Artigo 2.º As municipalidades poderão, dentro da área dos respectivos concelhos, considerar
feriado um dia por ano, escolhendo-o de entre os que representam as festas tradicionais e caracte-
rísticas do município.

Artigo 3.º Fica revogada a legislação em contrário.

Determina-se portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução do presen-


te decreto com força de lei pertencer o cumpram e façam cumprir e guardar tam inteiramente como
nele se contém.

Os Ministros de todas as Repartições o façam imprimir, publicar e correr. Dado nos Paços do
Governo da República, em 29 de Julho de 1929.
ANTÓNIO ÓSCAR DE FRAGOSO CARMONA – Artur Ivens Ferraz – Luís Maria Lopes da Fonseca
– António de Oliveira Salazar – Hamilcar Barcínio Pinto – Luís António de Magalhães Correia –
Henrique Trindade Coelho – João Antunes Guimarães – Eduardo Augusto Marques – Francisco
Xavier da Silva Teles – Henrique Linhares de Lima.

5. “RESTABELECIMENTO” (OU CRIAÇÃO) DO FERIADO DE 8 DE DEZEMBRO, IMACULADA


CONCEIÇÃO (5 DE JUNHO DE 1948)

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO

Lei n.º 2:029

Em nome da Nação, a Assembleia Nacional decreta e eu promulgo a lei seguinte:

Artigo 1.º É restabelecido o feriado nacional do dia 8 de Dezembro.

Artigo 2.º O domingo é o dia do descanso semanal em todo o País.


É da exclusiva competência do Governo autorizar as excepções que não resultarem directa-
mente da lei.

Artigo 3.º O Governo fará a revisão dos feriados nacionais, procurando o seu possível ajus-
tamento aos dias santos que a Igreja Católica julgue não dever dispensar e às grandes datas da
história nacional.

Publique-se e cumpra-se como nela se contém.

Paços do Governo da República, 5 de Junho de 1948.


ANTÓNIO ÓSCAR DE FRAGOSO CARMONA – António de Oliveira Salazar – Augusto Cancella
de Abreu – Manuel Gonçalves Cavaleiro de Ferreira – João Pinto da Costa Leite – Fernando dos
Santos Costa – Américo Deus Rodrigues Thomaz – José Caeiro da Matta – José Frederico do Casal
Ribeiro Ulrich – Teófilo Duarte – Fernando Andrade Pires de Lima – Daniel Maria Vieira Barbosa
– Manuel Gomes de Araújo.

187
F eriados em Portugal

6. OS FERIADOS CÍVICOS E O (RE)APARECIMENTO DOS FERIADOS RELIGIOSOS NO ESTADO


NOVO (4 DE JANEIRO DE 1952)

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO

Decreto n.º 38:596

1. Em execução do disposto no artigo 3.º da Lei n.º 2:029 de 5 de Junho de 1948, faz-se no
presente diploma a revisão dos feriados nacionais, procurando o seu ajustamento, de um lado, a
grandes datas da história pátria e, do outro, aos dias santos que a Igreja Católica julga não dever
dispensar, conforme os princípios que orientaram a citada disposição legal e nela estão expressa-
mente consignados.

2. Quanto aos dias santos, embora pela letra da Concordata o Governo não fosse obrigado a
decretar a sua equiparação a feriados oficiais, reconhece-se sem esforço que tal equiparação está em
perfeita harmonia com as nossas tradições seculares, sobretudo relativamente aos dias santos mais
fortemente vincados nos usos e costumes do País e de mais viva devoção na alma do povo português.
A referida Lei n.º 2:029 tornou obrigação do Governo, na medida do possível, rever os feriados
a esta luz; mas o cumprimento da obrigação demandava, como era natural e deriva da própria re-
dacção do texto legal, acordo prévio com a Santa Sé. Houve nas negociações, por parte do Governo,
a preocupação de dar plena satisfação aos fins visados, sem que todavia resultassem da fórmula
encontrada apreciáveis prejuízos para a economia nacional com grande aumento de dias de inacti-
vidade obrigatória.
Conseguiu-se efectivamente este duplo objectivo, visto a Santa Sé se ter mostrado disposta a
reduzir para Portugal os dias santificados às festas que vão indicadas no artigo 2.º do presente di-
ploma (três das quais recaem em datas já consideradas de feriado oficial pela legislação vigente – 1
de Janeiro e 8 e 25 de Dezembro) e, pelo mesmo artigo, se determinar que esses dias santificados
passem a considerar-se feriados oficiais.

3. Quanto ao ajustamento dos feriados às grandes datas da história nacional, aceita-se de boa
vontade que não fica perfeitamente realizado. E seria difícil consegui-lo, possuindo nós uma histó-
ria tão rica de grandes fastos. Além disso, tinha de operar-se também uma redução no número de
feriados fixado pelas leis em vigor, em obediência à já apontada finalidade de não se afectar de
forma sensível a laboração das actividades nacionais.
Seguiu-se por isso, não sem alguma hesitação, o critério de não escolher datas diversas das
actualmente comemoradas e de preferir, entre elas, ao ter de sacrificar algumas, as consideradas
como de mais vincada significação histórica ou de maior sentido político. A exemplo do que sucede
em outros países, uma dessas datas institui-se em Dia de Portugal, consagrado à Festa Nacional,
designando-se para o efeito o dia 10 de Junho, comemorativo de Camões, pelo alto valor nacional
e pela projecção universal da obra do nosso grande épico, na qual se consubstanciam as maiores
glórias dos Descobrimentos.

4. Prescreve-se que no Dia de Portugal e nos dias santos equiparados a feriado oficial cessem
as actividades não permitidas por lei nos domingos e admite-se normalmente o princípio da obri-
gatoriedade do pagamento de salários nesses dias. Todavia, visando sempre a equitativa conciliação
dos interesses da economia e dos trabalhadores, determina-se a compensação de tais salários com
o acréscimo do período normal de trabalho nos dias imediatamente antecedentes ou subsequentes
de cada feriado, como já se pratica em alguns casos.

5. Por fim aproveita-se a oportunidade para se resolver em termos diferentes dos actualmente em
vigor a questão dos feriados municipais, que não têm tradição apreciável e, portanto, se entendeu
podiam deixar de existir como regra, admitindo-se apenas a subsistência de alguns, poucos, que
andem ligados a verdadeiras festas tradicionais e características dos concelhos. E revê-se também
o regime da até agora chamada tolerância de ponto e redução de horas de trabalho nos serviços
oficiais em determinados dias não considerados de feriado.

188
A nexos

Por todo o exposto:


Usando da faculdade conferida pelo n.º 3.º do artigo 109.º da Constituição, o Governo decreta
e eu promulgo o seguinte:

Artigo 1.º São feriados oficiais os seguintes dias:


10 de Junho, denominado «Dia de Portugal» e consagrado à Festa Nacional;
5 de Outubro, comemorativo da implantação do regime republicano;
1 de Dezembro, comemorativo da Restauração da Independência.
Circuncisão (1 de Janeiro);
Corpo de Deus;
Assunção (15 de Agosto);
Todos-os-Santos (1 de Novembro);
Imaculada Conceição (8 de Dezembro);
Natal (25 de Dezembro).

Art. 3.º No dia da Festa Nacional e nos designados no artigo antecedente é obrigatória a
cessação de todas as actividades não permitidas por lei aos domingos.
§ 1.º Aos assalariados de carácter permanente, incluindo os dos estabelecimentos fabris do
Estado, é devido o pagamento de salários nos dias feriados referidos neste artigo.
§ 2.º Para compensação dos salários a que se refere o parágrafo anterior, o número de
horas de trabalho correspondentes aos feriados será distribuído pelos dias imediatamente ante-
cedentes ou subsequentes, não podendo todavia o período de trabalho diário ser aumentado
mais de duas horas.

Art. 4.º Relativamente aos concelhos em que se realizar alguma festa tradicional e característica,
poderá o Governo, por decreto do Ministério do Interior ou do Ultramar, autorizar que as respectivas
câmaras municipais considerem feriado o dia especialmente consagrado a tais festas.

Art. 5.º Os funcionários públicos são dispensados de comparecer ao serviço na véspera do


Natal, e em Quinta-Feira Santa o número de horas de trabalho é limitado ao primeiro período.

Art. 6.º Ficam revogados o Decreto n.º 17:171, de 1 de Agosto de 1929, os artigos 31.º e 32.º
do Decreto-Lei n.º 19:478, de 18 de Março de 1931, e o Decreto-Lei n.º 24:706, de 30 de Novembro
de 1934.

Publique-se e cumpra-se como nele se contém.


Paços do Governo da República, 4 de Janeiro de 1952
FRANCISCO HIGINO CRAVEIRO LOPES – António de Oliveira Salazar – João Pinto da Costa
Leite – Fernando dos Santos Costa – Joaquim Trigo de Negreiros – Manuel Gonçalves Cavaleiro de
Ferreira – Artur Águedo de Oliveira – Adolfo do Amaral Abranches Pinto – Américo Deus Rodrigues
Thomaz – Paulo Arsénio Viríssimo Cunha – José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich – Manuel Maria
Sarmento Rodrigues – Fernando Andrade Pires de Lima – Ulisses Cruz de Aguiar Cortês – Manuel
Gomes de Araújo – José Soares da Fonseca.

7. POSIÇÃO DA IGREJA ACERCA DA LEGISLAÇÃO SALAZARISTA SOBRE OS FERIADOS


RELIGIOSOS (11 DE JANEIRO DE 1952)

Dias Santos e Feriados Nacionais

Nota Oficiosa do Episcopado Português

O Episcopado Português, reunido em Assembleia plenária no Seminário dos Olivais, publicou


a seguinte Nota Oficiosa:

189
F eriados em Portugal

I – Uma boa nova

1. – A Santa Sé acaba de dar à Nação Portuguesa mais uma prova de predilecção e de solici-
tude material que deve encher de alegria e de gratidão os corações cristãos de Portugal.
Efectivamente, no intuito de contribuir para a tranquilização de muitas consciências inquietas
e de tornar possível a cessação do escândalo proveniente do trabalho em dias festivos, (escândalo
que não existe até em países protestantes), dignou-se o Santo Padre Pio XII, felizmente reinante,
reduzir à categoria de dispensados alguns dias santos de preceito.
Foi, sem dúvida, muito grave esta resolução que vai de encontro a uma tradição multissecular
da cristandade inteira e reduz, em muito, a oração pública e oficial da Igreja Militante, que, naque-
les dias, da terra ascendia aos céus a louvar e glorificar a Trindade Santíssima e a impetrar a graça
e as bênçãos de Deus sobre a pobre humanidade pecadora. Ao tomá-la, o Santo Padre foi, decerto,
levado pelo desejo de corresponder com magnanimidade aos votos da Assembleia Nacional e às
diligências do Governo da Nação.

II – Um pouco de história

2. – A Nação Portuguesa é um país católico.


Ainda não possuímos o resultado do censo de 1950 relativamente aos sentimentos religiosos
dos cidadãos portugueses, mas sabemos que no censo de 1940, 93,1% da população se declararam
católicos.
Nem todos estes terão mentalidade católica bem esclarecida, nem uma consciência cristã bem
formada. Alguns, porventura, se descuidarão no exacto cumprimento de seus deveres religiosos.
Mas todos são católicos.
E, sendo assim, a vida social, económica e política da Nação devia estar organizada por forma
a facilitar a todos o cumprimento das exigências da sua consciência religiosa.
Reclamavam-no os direitos inauferíveis da pessoa humana, e até o próprio conceito do poder
nos Estados modernos, que não devem deixar de ter em conta o sentir nacional.
Nem uma tal organização poderia ser arguida de coacção para a insignificante minoria, ape-
nas 6,9% da população do País, que declarou não professar a religião católica. Efectivamente, o
organizar-se a vida social, económica e política da Nação por forma a facilitar, a 93,1% dos indiví-
duos de que se compõe, a satisfação das necessidades imperiosas da sua consciência cristã, não
implicava, de modo algum, para os restantes a obrigação de quaisquer práticas, religiosas ou não.
Ao contrário, porém, do que deveria ser, desde 1911 para cá, a despeito dos princípios demo-
cráticos professados pelo regime, a população católica do País, sem dúvida a esmagadora maioria
da Nação, por força de certas disposições legais, longe de encontrar aquela facilidade, só encontra-
va dificuldades. Muitos, mesmo, estavam impossibilitados, por exemplo, de se absterem da prática
de obras servis nos dias de preceito.

3. – Logo após a mudança de regime, em 1910, o Governo provisório decretava, em 26 de


Outubro, que «Os dias até agora considerados santificados serão dias úteis e de trabalho para todos
os efeitos». Como feriados conservavam-se apenas os domingos, o dia de Natal da Circuncisão do
Senhor: – Os domingos, por serem geralmente consagrados ao descanso hebdomadário»; o dia de
Natal e da Circuncisão, por ficarem sendo considerados, o primeiro como o dia da família, e o
segundo como o dia da fraternidade universal.
As funestas consequências desta legislação sectária não se fizeram esperar.
Desagregou-se, em parte, a unidade de muitas famílias, que não puderam mais ir juntas ouvir
a Santa Missa nos outros dias de preceito. Todos compreendem quanto de deseducativo havia nisto.
A família ficava impossibilitada de manter o ambiente de coesão e a influência do exemplo, exigidos
pela boa formação moral e cristã dos mais novos e dos mais fracos.
Os funcionários públicos, os empregados de comércio, os operários das fábricas, além de
serem coagidos ao trabalho servil, ou ficaram impossibilitados de assistir à Missa ou só com grande
sacrifício o podiam fazer. Por isto, os menos bem formados ou menos fortes terminaram por desertar.
À desagregação da família veio juntar-se a deserção da Igreja.

190
A nexos

A um e outro destes males veio acrescer um terceiro, igualmente pernicioso: a desagregação


social.
Nos dias de preceito reconhecidos pelo Estado como dias de trabalho, aos alegres e pacíficos
repiques dos sinos convidando os cristãos para o Santo Sacrifício da Missa e para os demais actos
do culto público, vieram retorquir, agressivamente, os silvos das sereias das fábricas chamando os
operários, cristãos ou não, ao trabalho; grupos de fiéis, vestidos de seus fatos domingueiros, cruza-
vam-se nas ruas com outros grupos de operários em trajes e com instrumentos próprios de trabalho.
Em certas cidades e vilas, as orações e cânticos dos fiéis, nas igrejas, eram, por vezes, interrompidos
pelo ruído do labor da fábrica vizinha.
E quantas outras, a caminho do templo ou no seu regresso, as mães, as esposas, os pais ou
os filhos, não tiveram o grande desgosto de se encontrar com os filhos, com os maridos ou com os
pais a caminho do trabalho ou a trabalhar!
Que terrível contradição entre a consciência cristã e os grilhões da lei das realidades sociais!
Tudo isto ainda agravado pela circunstância de ser, em muitos casos, o próprio Estado, as
autarquias locais, ou serviços na sua dependência, quem ordenava o trabalho.
O espectáculo edificante, sobretudo nos meios rurais, de uma paróquia inteira reunida em
torno do seu pároco para a oração, para a fraternidade cristã, para melhor instrução religiosa e
moral, desaparecera.
Com tal estado de coisas todos perderam. Perderam os fiéis, perdeu a família, perdeu a Igreja,
perdeu a Nação e perdeu o Estado. E este não foi quem perdeu menos.
4. – Esta dolorosa experiência, longa de 41 anos, convenceu a todos da necessidade de arripiar
caminho.
Nunca a Igreja deixou de soltar o brado de alarme e de reclamar contra a legislação sectária
de 1910 que, a despeito da afirmação feita por pessoas responsáveis do actual regime, de pretender
repor a Nação na linha pura da tradição, pôde contudo chegar intacta até nós.
À voz da Igreja veio juntar-se a da imprensa católica que vigorosamente reclamou, também, a
sua modificação.

III – O resultado final

5. – Finalmente, a Assembleia Nacional votou, em 1948, a lei n.º 2.029 de 5 de Junho, que
restabeleceu o feriado nacional do dia 8 de Dezembro, determinou que o domingo fosse o dia de
descanso em todo o País e cometeu ao Governo o encargo do ajustamento dos feriados nacionais
aos dias santos.
É o seguinte o teor do artigo 3.º da referida lei: «O Governo fará a revisão dos feriados nacio-
nais, procurando o seu possível ajustamento aos dias santos que a Igreja Católica julgue não dever
dispensar e às grandes datas da história nacional».

6. – As negociações entabuladas entre o Governo, em cumprimento das referidas disposições,


e a Santa Sé, chegaram, finalmente, a bom termo e delas resultou, por parte do Governo, o decreto
n.º 38.596, de 4 de Janeiro do ano corrente, e, por parte da Santa Sé, a soberana concessão da trans-
ferência de algumas festas para o Domingo seguinte.
Eram oito os feriados gerais da República, três dos quais eram também dias santificados
(Imaculada Conceição, Natal e Circuncisão). Pelo decreto citado, ficam sendo nove.
O Estado prescindiu de dois feriados e a Igreja de quatro dias santos, que passaram à catego-
ria de dispensados. Desta sorte, ficam sendo feriados oficiais para todos os efeitos, além dos dias 10
de Junho, 5 de Outubro e 1 de Dezembro, que não são dias santos, os seguintes dias santos da
Igreja Católica: Circuncisão (1 de Janeiro), Corpo de Deus, Assunção (15 de Agosto), Todos os Santos
(1 de Novembro), Imaculada Conceição (8 de Dezembro), Natal (25 de Dezembro).
Passaram à categoria de dispensados os quatro seguintes: o dia da Epifania ou Dia de Reis (6
de Janeiro), o dia de S. José (19 de Março), o dia da Ascensão do Senhor e o dia de S. Pedro e S.
Paulo (29 de Junho).
A solenidade externa destes dias santos foi transferida para o domingo seguinte.

191
F eriados em Portugal

IV – Graves razões desta resolução

7. – Não foi sem sacrifício, e grande, que a Santa Sé, reduziu à categoria de dispensados, para
Portugal, estes quatro dias, que para os católicos de outros países continuarão a ser de preceito.
Todos eles têm uma longa tradição histórica e estão firmemente enraizados na alma cristã: A
Epifania do Senhor, o dia em que se comemora a extensão do Evangelho ao mundo pagão; o dia
de S. José, o pai legal e custódio do Filho de Deus feito homem, o guarda, escolhido por Deus, da
virgindade e do bom nome da Santíssima Virgem, o modelo e padroeiro do operário católico; o dia
em que se comemora a Ascensão do Senhor aos Céus, glorioso remate da Ressurreição e coroa final
da vida terrena do Salvador do mundo; o dia de S. Pedro e S. Paulo, a pedra angular da Igreja e o
vaso de eleição escolhido pelo próprio Cristo para levar o Seu nome ao mundo gentio.
Foi, sem dúvida, necessário que ponderosas razões lhe fossem apresentadas para que a
Santa Sé tomasse tão grave resolução. Os funestos males, apontados no começo desta Pastoral, só
poderiam remediar-se por meio de um acordo entre a Santa Sé e o Governo Português, do qual
resultasse o reconhecimento dos dias santos da Igreja, por parte do Governo, como feriados ofi-
ciais do Estado.
Ora, sendo dez os dias santos (três dos quais eram simultaneamente feriados oficiais) e cinco
os feriados oficiais que não eram dias santificados, se o Governo se limitasse a declarar também
feriados oficiais todos os dias santos da Igreja, teríamos quinze dias, por ano, nos quais seria
suspenso todo o trabalho nacional.
Pareceu ao Governo que nem a economia nacional poderia suportar um tão grande prejuízo
nem os operários poderiam prescindir do salário desses dias.
Foi preciso que tanto a Igreja como o Estado reduzissem a lista de seus feriados.
Constrangida pelas circunstâncias, e no intuito de evitar um mal maior, ao passo que o Estado
reduzia a sua lista de oito a seis, a Igreja reduzia a sua de dez a seis, e como três já estavam inclu-
ídos na lista do Governo por serem simultaneamente feriados nacionais e dias santos de preceito,
ficou sendo de nove dias a resultante da soma das duas.
O Estado ficou com mais um feriado do que já tinha; a Igreja ficou com menos quatro dias
santos.

V – A instituição dos dias santos

8. – Foi a Santa Sé quem instituiu os dias santos e quem determinou o modo de os santificar
pela assistência à Santa Missa e pela abstenção de obras servis.
Tem, portanto, competência, e só ela a tem, para suprimir, dispensar ou transferir os dias
santos existentes ou para criar outros de novo, se o tiver por conveniente.
Estabelecido um dia santo pela Santa Sé, todos os católicos têm obrigação, sob pena de pecado,
de assistir, nesse dia, à Santa Missa e de se abster de obras servis; uma vez suprimido ou dispensado,
desapareceu tal obrigação e podem os fiéis, tuta conscientia, fazer a sua vida normal dos dias
de trabalho.
Ficam nestas condições por terem sido dispensados pela Santa Sé os quatro dias santos já
acima enumerados: Dia da Epifania do Senhor ou dos Reis, dia de S. José, dia da Ascensão, dia de
S. Pedro e S. Paulo.
Que ninguém, pois, se escandalize com a dispensa da Santa Sé nem com a conduta dos fiéis
que nestes dias deixem de assistir à Santa Missa ou se entreguem a trabalhos servis.

VI – Santificação dos dias santos dispensados

9. – Forçada pelas consciências a tomar esta medida, deseja, contudo, a Santa Igreja que,
tanto quanto possam, os fiéis continuem a santificar estes dias, como até aqui, tanto pela assistência
à Santa Missa como pela abstenção das obras servis e, quando não possam abster-se de obras
servis, assistam ao menos à Santa Missa.
Desta forma se provê tanto à consciência dos que não podiam, ou não podiam sem grande
dificuldade, santificar os referidos dias, dispensando-os de tal obrigação, como à piedade e devoção
dos fiéis a quem o seu teor de vida permite, se o desejarem, continuar a santificá-los.

192
A nexos

VII – Instante Exortação

10. – Pela Nossa parte, exortamos os fiéis das Nossas Dioceses a que procurem assistir,
nestes dias, à Santa Missa, até para suprir a ausência dos que não possam ou não queiram vir, e
se abstenham das obras servis, contanto que não substituam o trabalho santificador da vida e
criador de recursos materiais, à mesma vida necessários, por divertimento nocivos ou por ócios
geradores de vícios.

11. – Mais encarecidamente ainda, confiados em que o Estado fará cumprir a lei do descanso
nos domingos e mais feriados oficiais, fazemos apelo aos católicos para que mostrem cada vez
melhor a sua fé e espírito de disciplina guardando fielmente os domingos e dias santos de preceito
pela assistência à Missa e perfeita abstenção de trabalhos servis.
Não trabalhar ao domingo, ou seja observar o descanso semanal, é preceito que está de har-
monia com a própria natureza humana. Entre nós a lei civil obriga os operários e seus patrões. Mas
os trabalhadores do campo não têm esta protecção. Em nome dos interesses do espírito; em defesa
do bem social e familiar que é fonte de riqueza; e respeitando as exigências orgânicas do homem
– colocamos paternalmente na consciência dos Portugueses este problema gravíssimo, na esperança
de que todos se unam firmemente em não dar nem aceitar trabalho ao domingo ou em dia santo
de guarda. Apelamos instantemente para todos, em nome de Deus. Aos que dão trabalho, lembra-
mos que, tendo recebido mais da Divina Providência, têm maiores responsabilidades; e advertimos
que o castigo de Deus não poderá deixar de cair sobre aqueles a quem distribuiu bens para fazerem
bom uso deles, e não respeitam a lei do Senhor. E à gente humilde e boa que moureja de sol a sol
garantimos, em nome do Senhor de todos e de tudo, que o trabalho ao domingo e dia santo nunca
foi, não é e jamais será abençoado por Deus como meio de enriquecer ou de ser feliz.
Se, depois de harmonizadas sobre esta matéria num país de tão evidente maioria católica, a
lei eclesiástica e a lei civil, ficassem letra morta, mais ainda do que desprestigiante, seria calamitoso
para Portugal. Há razões de sobra, que podem ser aceites com honra por todas as pessoas de bem,
para nos unirmos, sem distinção de fé religiosa ou ideais políticos, na observância destas leis,
resultando um bem social do mais alto valor.
Exortamos vivamente os Sacerdotes que têm cura de almas, a Acção Católica e Obras Auxiliares,
bem como todas as pessoas que possam colaborar, a unirem-se numa grande campanha a fim de
que desapareça de vez, nesta nossa Terra de Santa Maria, o vergonhoso escândalo do trabalho nos
dias reservados ao louvor de Deus.
Esta Nossa Nota Oficiosa será lida e convenientemente explicada à estação da Missa, em domin-
gos consecutivos logo após a sua publicação, por todos os Reverendos Párocos, Reitores e Capelães.

Seminário dos Olivais, 11 de Janeiro de 1952.


(in Lumen. Revista de Cultura do Clero, vol. XVI, fasc. III, Março, Lisboa, 1952, pp. 169-75)

8. CRIAÇÃO DO FERIADO NACIONAL DE 1 DE MAIO, “DIA DO TRABALHADOR”


(27 DE ABRIL DE 1974)

JUNTA DE SALVAÇÃO NACIONAL

Decreto-Lei n.º 175/74 de 27 de Abril.

Tendo a Junta de Salvação Nacional assumido os poderes legislativos que competem ao


Governo, decreta, para valer como lei, o seguinte:
Artigo 1.º É instituído como feriado nacional obrigatório o dia 1 de Maio, considerado o «Dia
do Trabalhador».

Art. 2.º Este diploma entra imediatamente em vigor.

Visto e aprovado pela Junta de Salvação Nacional em 27 de Abril de 1974. Publique-se. O


Presidente da Junta de Salvação Nacional, ANTÓNIO DE SPÍNOLA.

193
F eriados em Portugal

9. TENTATIVA DE GENERALIZAÇÃO DOS FERIADOS MUNICIPAIS (21 DE AGOSTO DE 1974)

MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA


Gabinete do Ministro

Decreto n.º 394/74


de 28 de Agosto

Usando da faculdade conferida pelo n.º 1, 4.º, do artigo 16.º da Lei Constitucional n.º 3/74, de
14 de Maio, o Governo Provisório decreta e eu promulgo o seguinte:

Artigo único. O artigo 4.º do Decreto n.º 38.596, de 4 de Janeiro de 1952, passa a ter a seguin-
te redacção:

Artigo 4.º Relativamente aos concelhos em que se realize festa tradicional e característica ou
se celebre data de particular significado na história do concelho, poderá o Governo, por portaria
do Ministro da Administração Interna, autorizar que as respectivas câmaras municipais considerem
feriado o dia especialmente consagrado a tais festas ou celebrações.

Vasco dos Santos Gonçalves – Manuel da Costa Brás.


Promulgado em 21 de Agosto de 1974
Publique-se.
O Presidente da República, ANTÓNIO DE SPÍNOLA.

10. CRIAÇÃO DO FERIADO DE 25 DE ABRIL, “DIA DE PORTUGAL” (18 DE ABRIL DE 1975)

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS

Decreto-Lei n.º 210-A/75


de 18 de Abril

Usando da faculdade conferida pelo artigo 16.º, n.º 1, 3.º, da Lei Constitucional n.º 3/74, de 14
de Maio, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

Artigo 1.º É instituído como feriado nacional obrigatório o dia 25 de Abril, considerado o «Dia
de Portugal».

Artigo 2.º Este diploma entra imediatamente em vigor.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros. – Vasco dos Santos Gonçalves – José Joaquim Fragoso.
Promulgado em 17 de Abril de 1975.
Publique-se.
O Presidente da República, FRANCISCO DA COSTA GOMES.

11. DECRETO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO EM QUE SE FIXAM OS DIREITOS DOS


TRABALHADORES, INCLUINDO FÉRIAS E FERIADOS – EXTRACTO (16 DE JUNHO DE 1975)

MINISTÉRIO DO TRABALHO

Decreto-Lei n.º 292/75


de 16 de Junho

A caminho de um socialismo português, há que repensar e reestruturar a dinâmica das relações


de trabalho. Em ordem, antes de mais, à valorização do próprio trabalho, como factor político de
crescente projecção e influência.

194
A nexos

Está na ordem do dia a batalha da produção, que passa pela mobilização dos trabalhadores
para as grandes tarefas da reconstrução do País.
Medidas de justiça laboral dirigidas nomeadamente à correcção das distorções salariais pró-
prias da economia capitalista e à disciplina da contratação individual e colectiva, passando por um
esquema de regalias sociais não discriminatórias, para além do seu valor intrínseco, constituem o
melhor estímulo ao empenhamento dos trabalhadores na melhoria do rendimento nacional e na
equidade da sua distribuição.
Com metas já definidas pelo Conselho Superior da Revolução, há que tentar uma aproxi-
mação delas sem recuo, ainda que contemporizando transitoriamente com situação e dificuldades
de conjuntura.
Nesse contexto se insere o presente diploma, que, sendo um passo em frente, não é ainda a
caminhada. Mas não seria razoável que se adiassem medidas, que podem ser tomadas desde já,
com base na consideração de que constituem apenas a parte de um todo que seria impossível
accionar neste momento.
Entretanto, vai-se atendendo à situação em que se encontram as camadas mais desfavorecidas
da classe trabalhadora, quanto a salários e férias, corrigindo distorções e eliminando disparida-
des. Estabelece-se o congelamento, necessariamente temporário em tempo de inflação, dos
ordenados superiores a 12 000$00. Eleva-se para 4 000$00 o salário mínimo nacional. Fixa-se um
tecto salarial à remuneração do trabalho, em termos que hão-de ser regulamentados. Optou-se
pelo valor da ordem do que ganham os Ministros do Governo, assim se estendendo a todas
as empresas um limite que já vigora para as empresas públicas. O leque salarial herdado do
fascismo, de amplitude sem limite, fica assim, e desde já, reduzido a um ângulo que começa a
não envergonhar.
Com ser relativamente mais limitado, não deixa, contudo, de continuar a possibilitar desvios
chocantes do princípio de que a trabalho igual deve, tanto quanto possível, corresponder salário
igual. Reconhecem-se sem esforço manchas degradadas e sectores privilegiados que há que recon-
duzir a termos de mais equilibrada justiça salarial. Lá chegaremos.
Nestes termos:
Usando da faculdade conferida pelo artigo 3.º, n.º 1, alínea 3), da Lei Constitucional n.º 6/75,
de 26 de Março, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

[…]
CAPÍTULO III
Férias e feriados

Art. 18.º – 1. É assegurado aos trabalhadores por conta de outrem o mínimo de quinze dias
consecutivos de férias remuneradas.
2. Em caso algum poderão ser atribuídas a qualquer trabalhador férias de duração superior
a trinta dias, incluindo domingos e feriados iniciais, intermédios ou finais, mesmo se gozadas
interpoladamente.
3. Os trabalhadores abrangidos por este artigo têm direito a um subsídio de férias equivalente
ao da remuneração do respectivo período de férias.

Art. 19.º Nas empresas públicas e nacionalizadas, bem como nas empresas privadas, apenas
poderão ser observados, a título de feriados, além do feriado municipal da localidade, os legal-
mente obrigatórios, a Sexta-Feira Santa ou a segunda-feira posterior ao domingo de Páscoa e o
dia 24 de Dezembro.

Art. 20.º – 1. O disposto no artigo 18.º não se aplica ao trabalho rural, ao serviço doméstico,
ao trabalho portuário e ao trabalho de bordo, que serão regidos por legislação especial.
2. Os trabalhadores eventuais e sazonais têm direito a um dia de férias remuneradas por cada
mês completo de serviço.
[…]

195
F eriados em Portugal

Visto e aprovado em Conselho de Ministros. – Vasco dos Santos Gonçalves – Álvaro Cunhal –
Francisco José Cruz Pereira de Moura – Joaquim Jorge Magalhães Mota – Mário Alberto Nobre Lopes
Soares – Mário Luís da Silva Murteira – José Joaquim Fragoso – José Inácio da Costa Martins.
Promulgado em 4 de Junho de 1975.
Publique-se.
O Presidente da República, FRANCISCO DA COSTA GOMES.

12. IGUALIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE TRABALHO DO SECTOR PÚBLICO E DO SECTOR


PRIVADO, COM RELAÇÃO DOS FERIADOS A SEREM CUMPRIDOS (19 DE DEZEMBRO
DE 1975)

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Decreto-Lei n.º 713-A/75 de 19 de Dezembro

Pretendendo-se uma aproximação do regime de trabalho nos sectores público e privado e


mostrando-se desde já viável a uniformização do número de feriados;
Considerando a necessidade de resolver as dúvidas e lacunas que resultem das situações
tradicionais de tolerância de ponto;
Sendo certo que a audiência dos trabalhadores permite encontrar soluções mais equilibradas
entre os interesses individuais e as conveniências de serviço;
Dado que é urgente resolver as questões suscitadas pela aplicação do artigo 19.º do Decreto-Lei
n.º 292/75, de 16 de Junho, especialmente na sua articulação com as disposições convencionalmente
aceites;
Nestes termos: Usando da faculdade conferida pelo artigo 3.º, n.º 1, alínea 3), da Lei Constitu-
cional n.º 6/75, de 26 de Março, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

Artigo 1.º – 1. São feriados obrigatórios:


1 de Janeiro;
25 de Abril;
1 de Maio;
Corpo de Deus (festa móvel);
10 de Junho;
15 de Agosto;
5 de Outubro;
1 de Novembro;
1 de Dezembro;
8 de Dezembro;
25 de Dezembro.
2. Além dos feriados obrigatórios, poderão ser observados:
O feriado municipal da localidade;
A Sexta-Feira Santa ou segunda-feira posterior ao domingo de Páscoa;
O dia 24 ou o dia 26 de Dezembro.

Art. 2.º – 1. Nos serviços públicos a fixação dos feriados referidos no n.º 2 do artigo anterior é
feita anualmente por despacho do respectivo Ministro, ouvidos os trabalhadores.
2. O despacho referido no número anterior será publicado até quinze dias antes das datas
previstas.
3. Nas empresas públicas e nacionalizadas, bem como nas empresas privadas, a fixação é
feita nos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho ou de acordo com os usos e costumes
da profissão.

Art. 3.º Consideram-se nulas e de nenhum efeito as cláusulas dos instrumentos de regulamenta-
ção colectiva vigentes ou futuros que estabelecem feriados diferentes dos indicados neste diploma.

196
A nexos

Art. 4.º As dúvidas e os casos omissos serão resolvidos por despacho do Ministro competente.

Art. 5.º Ficam revogados: o artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 292/75, de 16 de Junho; o Decreto n.º
38596, de 4 de Janeiro de 1952; o Decreto-Lei n.º 175/74, de 27 de Abril; o Decreto n.º 394/74, de 28
de Agosto, e o Decreto-Lei n.º 210-A/75, de 18 de Abril.

Art. 6.º Este diploma entra em vigor na data da publicação.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros. – José Baptista Pinheiro de Azevedo – Vasco


Fernando Leote de Almeida e Costa – Francisco Salgado Zenha – João Pedro Tomás Rosa.
Promulgado em 19 de Dezembro de 1975.
Publique-se.
O Presidente da República, FRANCISCO DA COSTA GOMES.

13. UNIFORMIZAÇÃO DE SOLUÇÕES QUANTO A FERIADOS ALTERNATIVOS PREVISTOS


EM 19 DE DEZEMBRO DE 1975 E A OFICIALIZAÇÃO DO FERIADO DE SEXTA-FEIRA SANTA
(12 DE ABRIL DE 1976)

MINISTÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA E DO TRABALHO

Decreto-Lei n.º 274-A/76


de 12 de Abril

Considerando a necessidade de se uniformizarem as soluções quanto a feriados alternativos


previstos no n.º 2 do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 713-A/75, de 19 de Dezembro;
Usando da faculdade conferida pelo artigo 3.º, n.º 1, alínea 3), da Lei Constitucional n.º 6/75,
de 26 de Março, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

Artigo 1.º O artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 713-A/75, de 19 de Dezembro, passa a ter a seguinte
redacção:

Artigo 1.º – 1. São feriados obrigatórios:


1 de Janeiro;
Sexta-Feira Santa;
25 de Abril;
1 de Maio;
Corpo de Deus (festa móvel);
10 de Junho;
15 de Agosto;
5 de Outubro;
1 de Novembro;
1 de Dezembro;
8 de Dezembro;
24 de Dezembro;
25 de Dezembro.

2. Além dos feriados obrigatórios, poderão ser observados:


O feriado municipal da localidade;
A terça-feira de Carnaval.

Artigo 2.º É revogado o artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 713-A/75, de 19 de Dezembro.

Artigo 3.º Este diploma entra em vigor na data da publicação.

197
F eriados em Portugal

Visto e aprovado em Conselho de Ministros, – José Baptista Pinheiro de Azevedo – Vasco


Fernando Leote de Almeida e Costa – João Pedro Tomás Rosa.
Promulgado em 9 de Abril de 1976.
Publique-se.
O Presidente da República, FRANCISCO DA COSTA GOMES.

14. UNIFICAÇÃO DE LEGISLAÇÃO COM RELAÇÃO DOS FERIADOS – EXTRACTO (28 DE


DEZEMBRO DE 1976)

Decreto-Lei n.º 874/76


de 28 de Dezembro

A legislação referente à suspensão da prestação de trabalho encontra-se actualmente dispersa


por vários diplomas, um dos quais – o regime jurídico anexo ao Decreto-Lei n.º 49408 – data de 24
de Novembro de 1969 e cuja revisão se insere no conjunto de medidas legislativas constantes do
Programa do Governo.
Pelo presente diploma opera-se a unificação num único instrumento legal da regulamentação
das matérias relativas a férias, faltas e feriados, procedendo-se simultaneamente à sua actualização.
De acordo com o estabelecido na Convenção 182 da OIT, é fixado em vinte e um dias con-
secutivos o período mínimo legal de férias e estabelecido um conjunto de disposições que vêm
melhorar de forma significativa o regime actualmente vigente.
Por outro lado, é criado um novo regime de faltas, que surge na sequência dos propósitos, já
afirmados repetidamente pelo Governo, de estímulo à produção e combate ao absentismo, visando
a reconstrução da economia nacional, numa linha de defesa da democracia e do socialismo. Introdu-
zem-se, assim, normas tendentes à uniformização do regime de faltas, incidindo, contudo, particular
atenção na definição dos motivos de justificação e nas consequências das faltas injustificadas.
Por fim, procede-se à unificação, com algumas alterações, da regulamentação respeitante a
feriados, até agora constante dos Decretos-Leis n.ºs 713-A/75, de 19 de Dezembro, e 274-A/76, de
12 de Abril.
Por forma a dar cumprimento aos princípios consignados na Constituição, tomaram parte na
elaboração do presente diploma comissões de trabalhadores e associações sindicais, que para o
efeito foram ouvidas pelo Ministério do Trabalho, sendo diversas das sugestões por eles apresentadas
incorporadas no texto final.
Nestes termos:
O Governo decreta, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 201.º da Constituição, o seguinte:

[…]
CAPÍTULO IV
Feriados
Artigo 18.º
(Feriados obrigatórios)
1. São feriados obrigatórios:
1 de Janeiro;
Sexta-Feira Santa;
25 de Abril;
1 de Maio;
Corpo de Deus (festa móvel);
10 de Junho;
15 de Agosto;
5 de Outubro;
1 de Novembro;
1 de Dezembro;
8 de Dezembro;
25 de Dezembro.

198
A nexos

2. O feriado de Sexta-Feira Santa poderá ser observado em outro dia com significado local no
período da Páscoa.

Artigo 19.º
(Feriados facultativos)
1. Além dos feriados obrigatórios, apenas poderão ser observados:
O feriado municipal da localidade ou, quando este não existir, o feriado distrital;
A terça-feira de Carnaval.
2. Em substituição de qualquer dos feriados referidos no número anterior, poderá ser observado,
a título de feriado, qualquer outro dia em que acordem a entidade patronal e os trabalhadores.

Artigo 20.º
(Garantia da retribuição)
O trabalhador tem direito à retribuição correspondente aos feriados, quer obrigatórios, quer
facultativos, sem que a entidade patronal os possa compensar com trabalho extraordinário.

Artigo 21.º
(Valor das disposições ilegais)
São nulas as disposições de contrato individual de trabalho ou de instrumento de regulamen-
tação colectiva de trabalho, vigentes ou futuros, que estabeleçam feriados diferentes dos indicados
nos artigos anteriores.

[…]
(Legislação revogada)
Ficam revogados o capítulo III do Decreto-Lei n.º 292/75, de 16 de Junho, as secções I, II, III
e IV do capítulo IV do regime jurídico do contrato individual de trabalho, aprovado pelo Decreto-
-Lei n.º 49408, de 24 de Novembro de 1969, o Decreto-Lei n.º 713-A/75, de 19 de Dezembro, e o
Decreto-Lei n.º 274-A/76, de 12 de Abril.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros. – Mário Soares. Promulgado em 9 de Dezembro
de 1976. Publique-se. O Presidente da República, ANTÓNIO RAMALHO EANES.

15. O 10 DE JUNHO CONSIDERADO O “DIA DAS COMUNIDADES” (4 DE MARÇO DE 1977)

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS

Decreto-Lei n.º 80/77


de 4 de Março

As comunidades portuguesas disseminadas pelo estrangeiro são uma realidade de grande


relevância para o nosso país. Núcleos de compatriotas que se enquadram na vida de outras nações,
conservando factores de atavismo pátrio e ligações à sua terra de origem, elas constituem uma
presença portuguesa no estrangeiro e podem desempenhar importante papel nas próprias relações
entre os povos.
São estas realidades que se pretendem incrementar com a instituição do Dia das Comunidades,
levando Portugal às suas diferentes comunidades e tornando estas mais conhecidas na sua nação
de origem. Para tal, pareceu particularmente adequada a escolha do dia 10 de Junho, dedicado a
Camões. Na expressão vincadamente portuguesa e de projecção universal da sua obra encontrarão
as comunidades fortes elos de ligação entre si e a pátria comum.
Nestes termos:
O Governo decreta, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 201.º da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º O Dia de Camões, comemorado a 10 de Junho, passa a ser dedicado também às
comunidades portuguesas no estrangeiro.

199
F eriados em Portugal

Artigo 2.º Enquanto Dia das Comunidades, o Dia de Camões será celebrado em Portugal e no
estrangeiro, com vista a levar a presença do nosso país às diferentes comunidades e a tornar estas
mais conhecidas na sua nação de origem.

Artigo 3.º – 1. Para os efeitos do disposto no artigo antecedente será constituída anualmente
uma comissão organizadora, cujo presidente será nomeado pelo Presidente da República, podendo
ainda ser constituídas subcomissões no País e no estrangeiro.
2. Os restantes membros da comissão organizadora serão igualmente nomeados pelo Presi-
dente da República, sob proposta do presidente.

Artigo 4.º As comemorações do Dia de Camões, enquanto Dia das Comunidades, realizar-se-ão
em Portugal numa capital de distrito a designar, em cada ano, pelo Presidente da República.

Artigo 5.º – 1. As despesas resultantes da execução do presente diploma realizar-se-ão sem


dependência do cumprimento de quaisquer formalidades, incluindo o visto do Tribunal de Contas.
2. Os fundos necessários à satisfação dos encargos referidos no número anterior serão requi-
sitados pela Comissão Organizadora à respectiva delegação da Direcção-Geral da Contabilidade
Pública, por conta da dotação para o efeito inscrita no orçamento de Encargos Gerais da Nação.
3. Findas as comunicações, serão as contas respectivas encerradas no prazo de sessenta dias
e sujeitas aos vistos do Primeiro-Ministro e do Ministro das Finanças, que, a serem concedidos,
legitimam a competente prestação de contas.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros. – Henrique Teixeira Queirós de Barros.


Promulgado em 21 de Fevereiro de 1977.
Publique-se.
O Presidente da República, ANTÓNIO RAMALHO EANES.

16. O 25 DE ABRIL PROMOVIDO A “DIA DA LIBERDADE” (2 DE MARÇO DE 1978)

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS

Decreto-Lei n.º 39-A/78


de 2 de Março

O dia 25 de Abril representa a libertação de Portugal e do povo português da feroz repressão


de um regime totalitário e antidemocrático e o começo de um tempo novo, que restituiu aos Portu-
gueses a liberdade e a democracia.
Deve essa data histórica ser anualmente comemorada com dignidade e relevo correspondentes
ao alto significado que assume para o Portugal renovado que hoje vivemos.
Nestes termos:
O Governo decreta, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 201.º da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º O dia 25 de Abril passa a designar-se Dia da Liberdade, devendo ser comemorado em
todo o País, ao nível das comunidades locais, por forma a dar a devida projecção à data histórica
do 25 de Abril.

Artigo 2.º A coordenação e organização das comemorações oficiais do Dia da Liberdade fica
a cargo de uma comissão organizadora das comemorações do Dia da Liberdade.

Artigo 3.º Os membros da comissão organizadora das comemorações do Dia da Liberdade


são nomeados anualmente por despacho conjunto do Presidente do Conselho da Revolução e do
Primeiro-Ministro.

200
A nexos

Artigo 4.º As despesas resultantes da execução do presente diploma serão satisfeitas de conta
de dotações adequadas a inscrever na Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, a
qual prestará à comissão organizadora o apoio administrativo necessário.

Artigo 5.º Ficam revogados os Decretos-Leis n.º 210-A/75, de 18 de Abril, e 99-A/77, de 17


de Março.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros. – Mário Soares – Vítor Manuel Ribeiro Constâncio.
Promulgado em 2 de Março de 1978.
Publique-se.
O Presidente da República, ANTÓNIO RAMALHO EANES.

17. 10 DE JUNHO, “DIA DE PORTUGAL”, DEDICADO A PORTUGAL, A CAMÕES


E ÀS COMUNIDADES PORTUGUESAS NO ESTRANGEIRO (2 DE MARÇO DE 1978)

Decreto-Lei n.º 39-B/78


de 2 de Março

O dia 10 de Junho, Dia de Camões e das Comunidades, melhor do que nenhum outro, reúne
o simbolismo necessário à representação do Dia de Portugal. Nele se aglutinam em harmoniosa
síntese a Nação Portuguesa, as comunidades lusitanas espalhadas pelo Mundo e a emblemática
figura do épico genial.
Daí que, de ora avante, o dia 10 de Junho passe a ser o Dia de Portugal.
Nestes termos:
O Governo decreta, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 201.º da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º O Dia de Portugal passa a ser celebrado a 10 de Junho, sendo dedicado a Portugal,
a Camões e às comunidades portuguesas no estrangeiro.

Artigo 2.º – 1. O Dia de Portugal será comemorado em Portugal e junto das comunidades
portuguesas no estrangeiro.
2. A coordenação e organização das comemorações oficiais do Dia de Portugal fica a cargo de
uma comissão organizadora das comemorações do Dia de Portugal.

Artigo 3.º – 1. O presidente da comissão organizadora das comemorações do Dia de Portugal


é nomeado anualmente por despacho do Presidente da República.
2. Os restantes membros da comissão organizadora são nomeados pelo Presidente da Repú-
blica sob proposta do Primeiro-Ministro, ouvido o presidente da comissão.
3. Podem ser constituídas subcomissões no País e no estrangeiro por iniciativa do presidente da
comissão organizadora.

Artigo 4.º As comemorações do Dia de Portugal realizam-se em localidade a designar, em cada


ano, pelo Presidente da República.

Artigo 5.º As despesas resultantes da execução do presente diploma serão satisfeitas de conta
de dotações adequadas a inscrever na Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, a
qual prestará à comissão organizadora o apoio administrativo necessário.

Artigo 6.º Fica revogado o Decreto-Lei n.º 80/77, de 4 de Março.

Artigo 7.º O presente Decreto-Lei entra em vigor no dia imediato ao da sua publicação.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros. – Mário Soares – Vítor Manuel Ribeiro Constâncio.
Promulgado em 2 de Março de 1978.
Publique-se.
O Presidente da República, ANTÓNIO RAMALHO EANES.

201
F eriados em Portugal

18. CÓDIGO DO TRABALHO, LEI N.º 99/2003 – EXTRACTO (27 DE AGOSTO DE 2003)

[…]
SUBSECÇÃO IX
Feriados
Artigo 208.º
Feriados obrigatórios
1. São feriados obrigatórios:
1 de Janeiro;
Sexta-Feira Santa;
Domingo de Páscoa;
25 de Abril;
1 de Maio;
Corpo de Deus (festa móvel);
10 de Junho;
15 de Agosto;
5 de Outubro;
1 de Novembro;
1, 8 e 25 de Dezembro.
2. O feriado de Sexta-Feira Santa pode ser observado em outro dia com significado local no
período da Páscoa.
3. Mediante legislação especial, determinados feriados obrigatórios podem ser observados na
segunda-feira da semana subsequente.

Artigo 209.º
Feriados facultativos
1. Além dos feriados obrigatórios, apenas podem ser observados a terça-feira de Carnaval e o
feriado municipal da localidade.
2. Em substituição de qualquer dos feriados referidos no número anterior, pode ser observado,
a título de feriado, qualquer outro dia em que acordem empregador e trabalhador.
[…]

19. CÓDIGO DO TRABALHO, ALTERAÇÃO, LEI N.º 53/2011 DE 14 DE OUTUBRO


(14 DE OUTUBRO DE 2011), EM VIGOR EM 2012 – EXTRACTO

[…]
SUBSECÇÃO IX
Feriados
Artigo 234.º
Feriados obrigatórios
1. São feriados obrigatórios os dias 1 de Janeiro; Sexta-Feira Santa; de Domingo de Páscoa; 25
de Abril; 1 de Maio; de Corpo de Deus; 10 de Junho; 15 de Agosto; 5 de Outubro; 1 de Novembro;
1, 8 e 25 de Dezembro.
2. O feriado de Sexta-Feira Santa pode ser observado em outro dia com significado local no
período da Páscoa.
3. Mediante legislação específica, determinados feriados obrigatórios podem ser observados na
segunda-feira da semana subsequente.

Artigo 235.º
Feriados facultativos
1. Além dos feriados obrigatórios, podem ser observados a título de feriado, mediante instru-
mento de regulamentação colectiva de trabalho ou contrato de trabalho, a terça-feira de Carnaval e o
feriado municipal da localidade.

202
A nexos

2. Em substituição de qualquer feriado referido no número anterior, pode ser observado


noutro dia em que acordem empregador e trabalhador.

Artigo 236.º
Regime dos feriados
1. Nos dias considerados como feriado obrigatório, têm de encerrar ou suspender a laboração
todas as actividades que não sejam permitidas aos domingos.
2. O instrumento de regulamentação colectiva de trabalho ou o contrato de trabalho não pode
estabelecer feriados diferentes dos indicados nos artigos anteriores.
[…]

20. A MUDANÇA DE PARADIGMA. A SUPRESSÃO DE QUATRO FERIADOS:


PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DO CÓDIGO DO TRABALHO DE 2012
– EXTRACTO (2 DE FEVEREIRO DE 2012)

Proposta de Lei n.º 46/XII

Exposição de Motivos

1. O Programa do XIX Governo prevê um conjunto de novas políticas dirigidas à competitivida-


de, ao crescimento e ao emprego. Assenta o mesmo nas diretrizes necessárias à criação sustentada do
emprego e à concretização da retoma do crescimento económico, assegurando, concomitantemente,
as condições para superar de forma célere a atual situação de crise e permitindo a sustentabilidade da
dívida pública nacional.
O Programa do XIX Governo Constitucional concretiza, ainda, no Capítulo referente ao «Em-
prego e Mercado de Trabalho», um conjunto de medidas dirigidas ao bem-estar das pessoas e à
competitividade das empresas e da economia portuguesa.
Para tal, revela-se essencial uma legislação laboral flexível, concentrada na proteção do traba-
lhador, e não do posto de trabalho, no quadro de um modelo de flexisegurança, que fomente a eco-
nomia e a criação de emprego e que vise combater a segmentação crescente do mercado de trabalho.
Importa, assim, empreender a modernização do mercado de trabalho e das relações laborais.
Com efeito, revela-se imperioso uma legislação que contribua, de facto, para o aumento da produ-
tividade e da competitividade da economia nacional, e que concretize a necessária aproximação do
enquadramento jurídico vigente em países congéneres, nomeadamente no contexto do mercado
comum europeu.
Mais se revela fundamental, atendendo às circunstâncias atuais, dotar as empresas de instru-
mentos adequados de resposta a situações de crise.
Neste contexto, o Governo envidou todos os esforços com vista a alcançar um acordo social
abrangente com os parceiros sociais, com vista à implementação de um conjunto de políticas direcio-
nadas ao Crescimento, Competitividade e Emprego e, bem assim, ao cumprimento dos compromissos
assumidos no Memorando de entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica, de 17
de maio de 2011, garantindo, concomitantemente, a coesão social necessária à respectiva concretização.
A reforma laboral enquadra-se, assim, num importante processo de Concertação Social, no
âmbito do qual foram definidas as respetivas linhas gerais de ação. Este processo culminou na
celebração do Compromisso para o Crescimento, Competitividade e Emprego, assinado no dia 18
de janeiro de 2012, entre o Governo e a maioria dos parceiros sociais com assento na Comissão
Permanente de Concertação Social. A participação ativa dos parceiros sociais mostrou-se decisiva
para a procura de soluções adequadas e inovadoras para as relações de trabalho e o contexto
nacional, permitindo um amplo consenso, que se revela essencial à implementação efetiva e
duradoura das medidas consagradas, com benefícios para a dinamização do mercado laboral e a
competitividade das empresas.

2. O Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 99/2003, de 27 de agosto, procedeu, com
inegável mérito, à unificação e sistematização de um conjunto de diplomas avulsos que continham

203
F eriados em Portugal

a regulação da relação laboral. Este processo coincidiu com a adoção de várias diretivas comunitá-
rias, contribuindo para a reforma da legislação laboral e para a aproximação às condições vigentes
no espaço europeu.
Posteriormente, foi o Código do Trabalho objeto de várias alterações, de entre as quais a
revisão operada pela Lei n.º 9/2006, de 20 de março, bem como pela Lei n.º 7/2009, de 12 de
fevereiro, que procurou unificar o regime até então constante do Código do Trabalho e da respe-
tiva regulamentação.
No atual contexto, identificadas as principais dificuldades com que se depara a nossa legisla-
ção laboral e não se mostrando as mesmas ultrapassadas pelas reformas antecedentes, e tendo em
conta a necessidade de dar cumprimento aos termos do Compromisso para o Crescimento, Compe-
titividade e Emprego, afigura-se imperativo proceder a nova revisão do Código do Trabalho.
A presente revisão revela-se primordial para proporcionar aos trabalhadores, principais desti-
natários da legislação laboral, um mercado de trabalho com mais e diversificadas oportunidades.
Concomitantemente, pretende-se possibilitar um maior dinamismo às empresas, permitindo-lhes
enfrentar de forma eficaz os novos desafios económicos com que as mesmas se deparam.
As alterações ora propostas encontram-se em linha com o enquadramento constitucional e
internacional vigente, nomeadamente no que concerne aos princípios constitucionais, cuja obser-
vância é integralmente salvaguardada, bem como às diretivas comunitárias.
As soluções consagradas resultam de um amplo entendimento obtido em sede de Concertação
Social, sede na qual se procuraram os equilíbrios essenciais à tutela dos trabalhadores e à flexibili-
dade das empresas. Além disso, consideram-se observados os valores fundamentais da legislação
laboral consagrados na Constituição da República Portuguesa.
3. A alteração ao Código do Trabalho apresenta-se como uma medida necessária e adequada
ao prosseguimento dos seguintes objectivos:

i. Melhorar a legislação laboral, quer através da sua atualização e sistematização,


quer mediante a agilização de procedimentos;
ii. Promover a flexibilidade interna das empresas;
iii. Promover a contratação coletiva.

Todavia, tendo presentes as implicações das alterações nos cidadãos em particular e nas relações
de trabalho em geral, as alterações têm em consideração a proteção das legítimas expectativas dos
trabalhadores, mediante a configuração de soluções especialmente delineadas com esse objectivo.
Por outro lado, considerando que o universo de trabalhadores se mostra muito diversificado,
apresentando diferentes níveis de proteção, a reforma ora levada a cabo procura, ainda, diminuir
as disparidades e estabelecer um nível de proteção tendencialmente uniforme.
As medidas consagradas envolvem importantes aspetos da legislação laboral, designadamente
em matéria de flexibilização do tempo de trabalho, de despedimento por motivos objetivos e dos ins-
trumentos de regulamentação coletiva. Deste modo, são identificadas quatro matérias fundamentais:

i. Organização do tempo de trabalho;


ii. Fiscalização das condições de trabalho e comunicações à Autoridade para as Condições
de Trabalho;
iii. Alterações ao regime de cessação do contrato de trabalho por motivos objetivos;
iv. Alterações ao regime aplicável aos instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho.

[…]
Nos termos da alínea d) do n.º 1 do artigo 197.º da Constituição, o Governo apresenta à
Assembleia da República a seguinte proposta de lei:

Artigo 1.º
Objeto

A presente lei procede à alteração do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12
de fevereiro, e alterado pelas Leis n.ºs 105/2009, de 14 de setembro, e 53/2011, de 14 de outubro.

204
A nexos

Artigo 2.º
Alteração ao Código do Trabalho

Os artigos 63.º, 90.º, 99.º, 106.º, 127.º, 142.º, 161.º, 164.º, 177.º, 192.º, 194.º, 208.º, 213.º, 216.º,
218.º,226.º, 229.º, 230.º, 234.º, […] do Código do Trabalho, passam a ter a seguinte redação:
[…]
Artigo 234.º
[…]

1. São feriados obrigatórios os dias 1 de janeiro, Sexta-Feira Santa, Domingo de Páscoa, 25 de


abril, 1 de maio, 10 de junho, 1 de novembro, 8 e 25 de dezembro.2
2. […].
3. […].
[…]

Artigo 3.º
Aditamento ao Código do Trabalho

São aditados ao Código do Trabalho os artigos 208.º – A, 208.º – B e 298.º – A, com a seguinte
redacção: […]
[…]

Artigo 9.º
Feriados Religiosos

A eliminação dos feriados de Corpo de Deus e de 15 de agosto, resultante da alteração efetu-


ada pela presente lei ao n.º 1 do artigo 234.º do Código do Trabalho, apenas produz efeitos depois
de cumpridos os mecanismos previstos na Concordata celebrada, em 18 de maio de 2004, entre a
República Portuguesa e a Santa Sé e ratificada pelo Decreto do Presidente da República n.º 80/2004,
de 16 de novembro.

Artigo 10.º
Entrada em Vigor

1. Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a presente lei entra em vigor no primeiro dia
do segundo mês seguinte ao da sua publicação.
2. O disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 242.º do Código do Trabalho, na redação confe-
rida pela presente lei, entra em vigor no dia 1 de janeiro de 2013, devendo o empregador informar
os trabalhadores abrangidos, até ao dia 15 de dezembro de 2012, do encerramento a efectuar no ano
de 2013.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 2 de Fevereiro de 2012

O Primeiro-Ministro
O Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares

2 Implicitamente eram abolidos o Corpo de Deus (móvel), o 15 de Agosto (Assunção de Nossa


Senhora), o 1.º de Dezembro (Restauração) e o 5 de Outubro (implantação da República). Nada mais
se explicita sobre os feriados cívicos. Apenas se faz referência no artigo 9.º aos feriados religiosos,
cuja eliminação estaria dependente da proposta da Santa Sé.

205
F eriados em Portugal

21. (NOVA) CONCORDATA DE 2004 – EXTRACTO (18 DE MAIO DE 2004)3

CONCORDATA
ENTRE A SANTA SÉ E A REPÚBLICA PORTUGUESA
2004

A Santa Sé e a República Portuguesa,


afirmando que a Igreja Católica e o Estado são, cada um na própria ordem, autónomos e
independentes;
considerando as profundas relações históricas entre a Igreja Católica e Portugal e tendo em
vista as mútuas responsabilidades que os vinculam, no âmbito da liberdade religiosa, ao serviço em
prol do bem comum e ao empenho na construção de uma sociedade que promova a dignidade da
pessoa humana, a justiça e a paz;
reconhecendo que a Concordata de 7 de Maio de 1940, celebrada entre a República Portugue-
sa e a Santa Sé, e a sua aplicação contribuíram de maneira relevante para reforçar os seus laços
históricos e para consolidar a actividade da Igreja Católica em Portugal em benefício dos seus fiéis
e da comunidade portuguesa em geral;
entendendo que se toma necessária uma actualização em virtude das profundas transforma-
ções ocorridas nos planos nacional e internacional: de modo particular, pelo que se refere ao
ordenamento jurídico português, a nova Constituição democrática, aberta a normas do direito
comunitário e do direito internacional contemporâneo, e, no âmbito da Igreja, a evolução das
suas relações com a comunidade política;
acordam em celebrar a presente Concordata, nos termos seguintes:

Artigo 1
1. A República Portuguesa e a Santa Sé declaram o empenho do Estado e da Igreja Católica na
cooperação para a promoção da dignidade da pessoa humana, da justiça e da paz.
2. A República Portuguesa reconhece a personalidade jurídica da Igreja Católica.
3. As relações entre a República Portuguesa e a Santa Sé são asseguradas mediante um Núncio
Apostólico junto da República Portuguesa e um Embaixador de Portugal junto da Santa Sé.
[…]

Artigo 3
1. A República Portuguesa reconhece como dias festivos os Domingos.
2. Os outros dias reconhecidos como festivos católicos são definidos por acordo nos termos
do artigo 28.
3. A República Portuguesa providenciará no sentido de possibilitar aos católicos, no termos
da lei portuguesa, o cumprimento dos deveres religiosos nos dias festivos.
[…]

Artigo 28
O conteúdo da presente Concordata pode ser desenvolvido por acordos celebrados entre as
autoridades competentes da Igreja Católica e da República Portuguesa.

Artigo 29
1. A Santa Sé e a República Portuguesa concordam em instituir, no âmbito da presente
Concordata e desenvolvimento do principio da cooperação, uma Comissão paritária.
2. São atribuições da Comissão paritária prevista no número anterior:
a) Procurar, em caso de dúvidas na interpretação do texto da Concordata, uma solução de
comum acordo;
b) Sugerir quaisquer outras medidas tendentes à sua boa execução.

3 Este documento não segue nesta relação uma ordem cronológica, porque pretende fazer
compreender o sentido do documento anterior.

206
A nexos

Artigo 30
Enquanto não for celebrado o acordo previsto no artigo 3, são os seguintes as festividades
católicas que a República Portuguesa reconhece como dias festivos: Ano Novo e Nossa Senhora,
Mãe de Deus (1 de Janeiro), Corpo de Deus, Assunção (15 de Agosto), Todos os Santos (1 de
Novembro), Imaculada Conceição (8 de Dezembro) e Natal (25 de Dezembro).

[…]
A presente Concordata entrará em vigor após a troca dos instrumentos de ratificação, substi-
tuindo a Concordata de 7 de Maio de 1940.
Assinada em três exemplares autênticos em língua portuguesa e em língua italiana, fazendo
todos fé, aos 18 dias do mês de Maio do ano de 2004.

Pela Santa Sé
Angelo Cardinale Sodano
Secretário de Estado

Pela República Portuguesa


José Manuel Durão Barroso
Primeiro-Ministro de Portugal

22. DOCUMENTO DE HISTORIADORES EM PROTESTO CONTRA A ANUNCIADA PROPOSTA


DE SUPRESSÃO DE QUATRO FERIADOS (5 DE DEZEMBRO DE 2011)

A recente proposta do Governo de acabar com quatro feriados (dois religiosos e dois civis: o
feriado do “1º de Dezembro” e o do “5 de Outubro”) merece da parte dos historiadores que subs-
crevem este documento uma clara oposição.
Em primeiro lugar, porque assenta numa evidente demagogia: ao contrário do que o Governo,
pela mão do seu Ministro da Economia, vem atabalhoadamente explicar ao país, a produtividade e
a competitividade da economia nacional não dependem em nada de essencial do número dos fe-
riados em vigor. Países europeus ou fora da Europa com tantos ou mais feriados registam níveis de
produtividade e competitividade muito superiores aos de Portugal, sendo que é precisamente nas
economias mais competitivas e avançadas que se verifica um menor número médio de horas de
trabalho. As razões são obviamente outras e bem mais profundas, tal como são outras as razões
para atacar os feriados, em especial os que, como o 1 de Dezembro e o 5 de Outubro, são deposi-
tários de um elevado valor simbólico para a comunidade.
Em segundo lugar, porque a supressão de feriados, baseada em tal falácia, é, na realidade, um
ataque ao lazer dura e tardiamente conquistado pelos portugueses, na mesma linha de violência
anti-social da proposta que visa impor meia hora de trabalho não pago. O Governo faz mesmo
tábua rasa de tudo o que se sabe e é pacificamente aceite nos nossos dias sobre os lazeres como
fonte de conhecimento e de retemperamento indispensáveis a um processo sustentado de desen-
volvimento económico e social. No caso português, mais ainda, como sustentáculo do turismo
interno e das múltiplas actividades e emprego dele dependentes.
Em terceiro lugar, porque a anunciada proposta de supressão atenta contra a memória e a
simbologia cívica do Dia da Restauração, a 1 de Dezembro, e do dia da implantação da República,
a 5 de Outubro. Os feriados nessas datas representam, há um século, a forma como a sociedade
escolheu lembrar e homenagear acontecimentos que reputa de transcendente importância na
História do país. Nem a ditadura salazarista se atreveu a pôr em causa esses feriados e, com eles, o
significado que encerram. As celebrações cívicas do 5 de Outubro, durante a ditadura, nunca dei-
xaram de sair à rua, quantas vezes sob cargas policiais e violentas acções repressivas. E não deixa
de ser profundamente chocante que seja no ano em que acabam de se encerrar na Assembleia da
República as comemorações do centenário da implantação da República – com largo impacto em
todo o país – que o Governo se proponha suprimir o feriado do 5 de Outubro.
Pretende assim o Governo atropelar expeditamente o direito ao lazer dos portugueses e
agredir a memória simbólica das datas da Restauração e da República que os respectivos feriados

207
F eriados em Portugal

consagram. Apelamos a que os cidadãos deste país se oponham determinadamente a tal propósito.
Atacar os marcos simbólicos da memória e da cidadania é o primeiro passo para ofender os direitos
que eles representam e protegem. Se se permitir que isto passe, que mais direitos, que memórias,
que outros feriados cívicos cairão a seguir?

Lisboa, 5 de Dezembro de 2011

[Assinaram este documento cerca de 80 historiadores4]

4 Albérico Afonso – Professor da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal,


Álvaro Garrido – Professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Amadeu
Carvalho Homem – Professor catedrático da F. Letras da Universidade Coimbra, Anabela Martins
Ferreira da Silva Valente Pires – Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, Ana Carina
Azevedo - Investigadora do Instituto de História Contemporânea da FCSH da Universidade Nova de
Lisboa, Ana Catarina Pinto – Investigadora do Instituto de História Contemporânea da FCSH da
Universidade Nova de Lisboa, Ana Paula Pires – Investigadora do Instituto de Historia Contempo-
rânea da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Ana Filipa Prata - Investigadora do Instituto de
Historia Contemporânea da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, André Belo – Professor da
Universidade Rennes II, Haute Bretagne, França, António Costa Pinto – Investigador do Instituto
de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, António Mota de Aguiar - Investigador do Instituto de
História Contemporânea da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, António Pedro Vicente – Professor
catedrático aposentado da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, António Rafael Amaro –
Professor do Grupo de História da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, António
Rei – Investigador no Instituto Estudos Musicais da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, António
Reis – Professor Aposentado da FCSH da UNL, António Ventura – Professor catedrático da Faculdade
de Letras da Universidade Lisboa, Armando Carvalho Homem – Professor catedrático da F. de Letras
da Universidade do Porto, Dalila Cabrita Mateus – Investigadora do Instituto de História Con-
temporânea da FCSH/UNL, Dulce Freire - Investigadora do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade Lisboa, Eunice Relvas - Investigadora do Instituto de História Contemporânea da FCSH
da Universidade Nova de Lisboa, Fernando Catroga – Professor catedrático da Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra, Fernando Fava – Investigador do CEIS20 da Universidade de Coimbra,
Fernando José Estevão Dias –Professor na Universidade do Algarve, Fernando Rosas – Professor
catedrático da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Flávio Pinho – Docente da Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, Francisco Pinheiro – Investigador do CEIS20 da Universi-
dade de Coimbra, Franklin Pereira – Docente de História do 3º ciclo – Braga, Gaspar Martins
Pereira – Professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Graça Cravinho
– Investigador do Instituto de História de Arte da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Helena
Paula Carvalho – Professora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, Helena
Trindade Lopes – Professora catedrática da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Ilda Crugeira –
Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, Inês Queiroz – Investigadora do Instituto
de História Contemporânea da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Isabel de Bessa Garcia
– Docente na EBS Pedro da Fonseca, Proença-a-Nova, Isabel dos Guimarães Sá – Professora da
Universidade do Minho, Isabel Nobre Vargues – Professora da Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra, Joaquim Romero de Magalhães – Professor catedrático da FE da Universidade Coimbra,
João Madeira – Investigador do Instituto de História Contemporânea (IHC) da FCSH da Universidade
Nova de Lisboa, João Maria André – Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
João Moreira Tavares – Investigador do Instituto de História Contemporânea da FCSH da Universi-
dade Nova de Lisboa, João Paulo Avelãs Nunes – Professor da Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra, João Silva de Jesus – Investigador no Centro de História de Além Mar da FCSH da Uni-
versidade Nova de Lisboa, Jorge Pais de Sousa – Investigador do CEIS20 da Universidade de
Coimbra, Jorge Pessoa Santos Carvalho – Investigador do CEIS20 da Universidade de Coimbra,
José d´Encarnação – Professor Catedrático de História da Faculdade de Letras da Universidade
Coimbra, José Manuel Lopes Cordeiro – Professor da Universidade do Minho, José Maria Brandão de

208
A nexos

23. MANIFESTO DA COMISSÃO CÍVICA DE COIMBRA PARA AS COMEMORAÇÕES


DO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA (8 DE DEZEMBRO DE 2011)

MANIFESTO CÍVICO PELO 5 DE OUTUBRO FERIADO NACIONAL

Cidadãs e Cidadãos de Coimbra, convocados pela Comissão Cívica de Coimbra para as Come-
morações do Centenário da República, reuniram hoje, dia 8 de Dezembro de 2011, para reflectirem
sobre a anunciada intenção governamental de suprimir como feriado nacional o 5 de Outubro,
tendo chegado às seguintes conclusões:

Brito – Professor Catedrático do ISEG da Universidade Técnica de Lisboa e Investigador do Instituto


de Historia Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, José Medeiros Ferreira – Professor
Catedrático convidado da Universidade Lusófona, José Neves – Professor da FCSH da Universidade
Nova de Lisboa, José Picas do Vale - Investigador do Instituto de História Contemporânea da FCSH
da Universidade Nova de Lisboa, Luís Augusto Costa Dias – Investigador do CEIS20 da Universidade
de Coimbra, Luís Bigotte Chorão – Doutor em História pela Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra, Luís Farinha – Investigador do Instituto de História Contemporânea (IHC) da FCSH da
Universidade Nova de Lisboa, Luís Mota – Professor da Escola Superior de Educação do Instituto
Politécnico de Coimbra, Luís Reis Torgal – Professor catedrático aposentado da Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, Luís Trindade – Professor no Birkbeck College, Universidade
de Londres, Magda de Avelar Pinheiro – Professora catedrática do ISCTE – Instituto Universitário
de Lisboa, Manuel Correia – Investigador do CEIS20 da Universidade de Coimbra, Manuel Loff –
Professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Maria Alice Samara – Professora da
Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, Maria Antónia Lopes – Professora
da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Maria Antónia Pires de Almeida – Investiga-
dora do CIUHCT da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Maria
Antonieta Cruz – Professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Maria Cândida
Proença – Professora aposentada da Faculdade Ciências Sociais Humanas da UNL, Maria Conceição
Lopes – Professora do Centro de Estudos Arqueológicos da Universidade de Coimbra, Maria Davila
– Investigadora do Centro de Historia de Alem Mar da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Maria
de Fátima Nunes – Professora do Departamento de História da Universidade de Évora, Maria
Fernanda Rollo – Professora da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Maria Inácia Rezola –
Professora da Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa, Maria
João Raminhos Duarte – Professora do Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes – Faro, Maria
Manuela Tavares Ribeiro – Professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade Coimbra,
Mário António Pinto Vieira de Carvalho – Professor catedrático da FCSH da Universidade Nova de
Lisboa, Miguel Cardina – Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra,
Nelson Correia Borges – Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Norberto
Cunha – Professor catedrático aposentado da Universidade do Minho, Nuno Severiano Teixeira –
Professor da FCSH e Pró- Reitor da Universidade Nova de Lisboa, Paulo Nuno Carrilho Ferreira
– Museu Municipal Leonel Trindade, Pedro Aires de Oliveira – Professor na FCSH da Universidade
Nova de Lisboa, Raquel Henriques – Presidente da Direcção da Associação dos Professores de His-
tória. Investigadora do Instituto de Historia Contemporânea (IHC) da FCSH da Universidade Nova
de Lisboa, Raquel Varela - Investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC) da FCSH da
Universidade Nova de Lisboa, Raquel Vilaça – Professor da Faculdade de Letras da Universidade
Coimbra, Rui Bebiano – Professor da Faculdade de Letras da Universidade Coimbra, Sérgio Campos
Matos – Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Sérgio Dias Branco – Professor
da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Stefano Salmi – Investigador do CEIS20 da
Universidade de Coimbra, Vasco Gil da Cruz Soares Mantas – Professor da Faculdade de Letras da
Universidade Coimbra, Vera Margarida Coimbra de Matos – Investigadora do CEIS20 da Universi-
dade de Coimbra, Víctor Neto – Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

209
F eriados em Portugal

1. É inaceitável a concretização desta medida, atendendo a que o património republicano,


institucionalmente consagrado pela revolução de 5 de Outubro de 1910, é o fundamento indeclinável
do próprio regime democrático.
2. Assim, exorta-se o Governo a não concretizar a medida anunciada e apela-se ao Senhor
Presidente da República, como herdeiro mais qualificado desta intangível tradição histórica, no
sentido de não permitir a supressão daquele feriado.
3. Igualmente se apela a todos os partidos e forças sociais que possam rever-se nos valores
republicanos a que nos ajudem a perseguir o desiderato de manter o 5 de Outubro como feriado
nacional.
4. As Cidadãs e os Cidadãos acima mencionados entenderam, qualquer que venha a ser a
decisão governamental, continuar a comemorar o 5 de Outubro neste dia e não em qualquer outro,
mobilizando para o efeito todos os estratos de população que nos queiram acompanhar e procu-
rando mobilizar, muito especialmente, os mais jovens.
5. Também foi igualmente decidida a constituição, a partir deste momento, do “Movimento
Republicano 5 de Outubro”, o qual irá lutar, desde já, pela manutenção do 5 de Outubro como
feriado nacional, assumindo também o compromisso público de difundir por todos os meios o
ideário e os valores do republicanismo.
Amadeu Carvalho Homem, Anabela Monteiro, Augusto Monteiro Valente, Carlos Esperança,
Fernando Fava, José Dias.

24. PROTESTO DA ASSOCIAÇÃO CÍVICA “REPÚBLICA E LAICIDADE” SOBRE OS FERIADOS


(27 DE JANEIRO DE 2012)

REPÚBLICA E LAICIDADE
ASSOCIAÇÃO CÍVICA

Comunicado à Comunicação Social

1. A Associação República e Laicidade manifesta o seu total repúdio pela decisão, anunciada
pelo Ministro da Economia, de eliminar o feriado de 5 de Outubro. Recordamos que se trata de uma
das duas datas reconhecidas, pelo seu significado político, na Constituição em vigor (artigo 11.º),
sendo a outra o 25 de Abril, ambas datas simbólicas do carácter republicano e democrático do
regime, respectivamente.
2. A Associação República e Laicidade anuncia que se dirigirá aos Presidentes das Assembleias
Municipais com a sugestão de que o 5 de Outubro seja fixado como feriado municipal, como é da
competência desses órgãos municipais.
3. A Associação República e Laicidade manifesta também o seu total repúdio pela subserviên-
cia manifestada pelo Ministro da Economia à Igreja Católica. Tratou-se de uma infracção à laicidade
do Estado a que o governo da República se encontra constitucionalmente obrigado.
4. Sendo a constitucionalidade da Concordata e o seu estatuto de «tratado internacional»
discutíveis, note-se que esse documento só obriga a «possibilitar aos católicos, nos termos da lei
portuguesa, o cumprimento dos deveres religiosos», o que pode ser resolvido aplicando aos católi-
cos o artigo 14º da Lei da Liberdade Religiosa («Dispensa do trabalho, de aulas e de provas por
motivo religioso»), sem necessidade de feriados nacionais em datas com significado para a Igreja
Católica.
5. Finalmente, notamos que se o Presidente da República ratificar as decisões anunciadas,
e não tendo o governo procurado um consenso mais alargado, a instituição ou supressão fu-
turas de quaisquer feriados necessitarão apenas de maioria parlamentar simples e aprovação
presidencial.

Ricardo Alves
(Presidente da Direcção da Associação República e Laicidade)
Lisboa, 27 de Janeiro de 2012

210
A nexos

25. MANIFESTO ASSINADO POR VÁRIAS PERSONALIDADES E ABERTO À SUBSCRIÇÃO


PÚBLICA SOBRE A SUPRESSÃO DO FERIADO DO 1.º DE DEZEMBRO (5 DE MARÇO DE 2012)5

MANIFESTO DO 1º DE DEZEMBRO, DIA DA INDEPENDÊNCIA NACIONAL

Viva Portugal!
Viva a Restauração!

Não há mais importante para uma Nação do que a sua independência. Não há mais importante
para um povo do que a sua liberdade.
Por isso, o 1º de Dezembro é o mais importante de todos os feriados nacionais. O 1º de
Dezembro é o feriado sine quod non, o feriado nacional sem o qual nenhum outro existiria. Se não
fosse o dia 1 de Dezembro, estaríamos condenados a comemorar o Dia da Hispanidade como “dia
nacional” e em nenhum dia seríamos livres de celebrar Portugal. Poderíamos festejar a independência
e a liberdade com referência a um dos factos relevantes da fundação da nacionalidade no século
xii ou com relação a algum dos momentos críticos e dramáticos da crise do interregno no século
xiv. Mas desde há século e meio que escolhemos colectivamente celebrá-las com referência à data
em que recuperámos a independência pátria, ao fim de sessenta anos de a termos perdido: a
Restauração de 1640.
Por isso, o 1º de Dezembro é o mais antigo dos nossos feriados civis e o mais alto dos feriados
patrióticos. Consolidou-se como marco pacífico da nossa vivência nacional e do nosso convívio
colectivo. Atravessou regimes e mudanças políticas e sociais. Estabeleceu-se como facto do mais
alto significado, que não podemos interromper, nem quebrar.
Este marco foi afirmado na linha do Manifesto que, em 1861, um punhado de quarenta patrio-
tas, com Alexandre Herculano à cabeça da lista, lançou à consciência nacional para empreender as
primeiras comemorações solenes, a partir da Comissão Central 1.º de Dezembro de 1640, anteces-
sora da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Hoje, poderíamos escrever muitas das
palavras por que esses patriotas despertaram o espírito nacional:

«O povo portuguez, seguro da sua existência nacional, e cônscio dos imprescríptiveis direitos
em que ella assenta, sem ter esquecido as heróicas acções com que seus antepassados conquistaram
e mantiveram a independência da pátria, havia quasi apagado, pelo seu caracter humano e pa-
cifico, a recordação pública de cruentas pelejas, que foram mais um desengano, entre tantos que
a história accumula, de que a força e a ambição, por si sós, não lograram no mundo triumphos
duradouros.» (…)
«Precisávamos, portanto, expor claramente a opinião unânime do povo portuguez, e assegurar
aos homens e aos governos que se interessam no melhor regimento da família européa, que é ânimo
e deliberação nossa defender a integridade do território que possuímos, não acceitando aggregações
incongruentes com o caracter e tradições nacionais, e que nos empenhamos, quanto cabe em nossas
faculdades e nol-o permittem os obstáculos da governação que todos os povos têm encontrado nos
aperfeiçoamentos sociaes, por sermos dignos de fazer parceria com as nações civilisadas, tanto pelos
nossos feitos passados como pela nossa vida contemporânea.»

No ataque de agora ao 1º de Dezembro, ouve-se comentar, em sussurros cúmplices, que, em


tempo de União Europeia, “não fica bem” acentuar a independência nacional e celebrar uma vitória
política e militar sobre a vizinha Espanha. Dizemos, sem hesitar, que é exactamente ao contrário.
Nada nos move contra a vizinha Espanha, com que desejamos viver em paz e boa cooperação,
como Estados independentes, hoje unidos no mesmo projecto europeu. Basta-nos citar as palavras
de Herculano e do Manifesto dos Quarenta, em 1861:

5 Assinaturas iniciais (“patamar simbólico”): Adalberto Neiva de Oliveira (advogado, gestor),


Alexandre Patrício Gouveia (economista, gestor de empresas), Aline Gallasch-Hall (professora
universitária, investigadora), António Menezes Cordeiro (advogado, jurisconsulto e árbitro, profes-
sor catedrático), António Pinto da França (diplomata), Augusto Cid (cartoonista), Diogo Freitas do

211
F eriados em Portugal

«Portugal, avivando e celebrando com mais solemnidade o anniversário da reconquista da


sua Independência em 1640, nem pretende ferir o pundonor da briosa nação hespanhola, nossa
amiga e alliada, nem resuscitar os ódios que outr’ora inimisaram os dois povos convisinhos. Não
quer reptál-a. Não leva a mão á espada. Unicamente aponta para o seu direito, e diz á Europa que
está decidido a defendêl-o.»

Ao preservarmos e valorizarmos o dia em que celebramos, com Portugal inteiro, a Indepen-


dência Nacional, aproximamo-nos - não nos afastamos - da esmagadora maioria dos Estados que
compõem a União Europeia. Dos vinte e sete Estados-membros, são dezoito aqueles cujo Dia Nacio-
nal – o feriado civil mais importante - assinala a respectiva independência ou fundação. Dos nove
que restam: uns são monarquias, em que o dia nacional corresponde ao aniversário oficial do Rei
ou Rainha, símbolo vivo da própria individualidade nacional; outros, trata-se de países que nunca
tiveram aqueles marcos, porque foi outra a História da formação dos respectivos Estados, como
Áustria, Espanha, França ou Itália; e, mesmo entre estes, outros feriados há que celebram datas
de libertação nacional e, às vezes, em dobro, como é o caso de França, Itália e Holanda. A única
excepção na UE-27 é a Irlanda, cujo Dia Nacional é religioso, o Saint Patrick’s, símbolo universal da
identidade irlandesa. Se Portugal abolisse o feriado da independência, tornar-se-ia no único Estado-
-membro da União Europeia que, tendo conquistado a independência nacional e assinalando-a em
feriado nacional, o apagaria da memória e do calendário oficiais. Pior seria impossível.
O 1º de Dezembro não é moeda de troca de negociações financeiras ou laborais – para tudo
isso, na delicada situação do país, é possível e necessário encontrar melhores alternativas. O 1º de
Dezembro é uma escolha patriótica e uma decisão nacional inapagável.
Acabar com o feriado do 1º de Dezembro seria atacar da pior forma a independência nacional
de Portugal: seria feri-la no seu próprio espírito. Quando alguns falam de que Portugal caiu numa
situação de “protectorado” e o quadro de endividamento diminui a liberdade de decisão de Portugal,
não é tempo de apagar o espírito, a vontade e o brio da independência nacional – bem ao contrário,
é o tempo de os celebrar, exaltar e fortalecer.

Amaral (professor universitário, ex-vice-primeiro-ministro e ex-ministro, jurisconsulto), Eugénio


Ribeiro Rosa (médico, presidente do Conselho Supremo da Sociedade Histórica da Independência
de Portugal), Filipe Soares Franco (empresário), Francisco de Bragança Van Uden (gestor), Gonça-
lo Portocarrero de Almada (sacerdote católico), Hélio Loureiro (cozinheiro, chef ), Henrique Mota
(livreiro, editor), Isabel Ponce de Leão (professora catedrática), Jaime Nogueira Pinto (professor
universitário, escritor), João Bosco Mota Amaral (deputado, ex-Presidente da Assembleia da Re-
pública), João Braga (cantor, agente cultural), João Luís Mota de Campos (advogado, ex-secretário
de Estado), Jorge Rangel (professor do ensino superior, presidente do IIM - Instituto Internacional
de Macau), Jorge Miranda (professor universitário, jurisconsulto), José Alarcão Troni (advogado,
presidente da direcção da Sociedade Histórica da Independência de Portugal), José Baptista Pereira
(tenente-general piloto aviador, presidente da mesa da Assembleia Geral da Sociedade Histórica
da Independência de Portugal), José Garcia Leandro (general do Exército, curador e administrador
da Fundação Jorge Álvares, ex-governador de Macau), João José Brandão Ferreira (tenente-coronel
piloto-aviador, piloto), José Lamego (advogado, professor da Faculdade de Direito da Universidade
de Lisboa, ex-secretário de Estado), José Loureiro dos Santos (general do Exército), José Ribeiro e
Castro (advogado, deputado, presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia
da República, ex-secretário de Estado), Leonardo Mathias (embaixador jubilado, ex-secretário de
Estado), Manuel Tavares (jornalista, director do “Jornal de Notícias”), Margarida Gonçalves Neto
(médica psiquiatra), Maria Miguel Santos Silva (licenciada em Direito, directora da Escola “Ave-
-Maria”), Matilde Sousa Franco (museóloga, historiadora), Nicolau Santos (jornalista, director-adjunto
do “Expresso”), Nuno Vieira Matias (almirante), Octávio Ribeiro (jornalista, director do “Correio da
Manhã”), Pedro Quartin Graça (advogado, docente universitário), Raquel Henriques (professora
de História, historiadora), Renato Epifânio (professor universitário, presidente do MIL – Movimento
Internacional Lusófono), Ricardo Sá Fernandes (advogado, ex-secretário de Estado), Rui Pena
(advogado, ex-ministro).

212
A nexos

O dia em que assinalamos a nossa independência nacional, a data em que festejamos a nossa
liberdade como povo liberto do jugo estrangeiro é o dia mais importante da nossa vida colectiva.
Aqui, não somos de esquerda, nem de direita – somos portugueses. Não somos da República,
nem da Monarquia – somos por Portugal. O 1º de Dezembro a todos nos une e reúne. O 1º de
Dezembro convoca-nos.

Lisboa, 5 de Março de 2012

26. COMUNICADO E CARTA DE MISSÃO DA SOCIEDADE HISTÓRICA DA INDEPENDÊNCIA


DE PORTUGAL EM DEFESA DO FERIADO DO 1.º DE DEZEMBRO (9 DE MARÇO DE 2012)

COMUNICADO

O Dia 1.º de Dezembro – Dia da Restauração – é uma data que, a par do Dia 10 de Junho, une
toda a Nação Portuguesa, em torno da sua Bandeira, do seu Hino, da sua História e dos seus Santos
e Heróis.
O Dia 1.º de Dezembro constitui a origem e a matriz dos Feriados Oficiais Portugueses. Se não
tivesse existido o Dia 1.º de Dezembro de 1640 não haveria 10 de Junho, 5 de Outubro ou 25 de
Abril, pois a agenda dos Feriados Oficiais Portugueses coincidiria com a de Madrid.
Quanto muito, o Dia 10 de Junho seria o dia da Região Autónoma Portugal, que talvez manti-
vesse o título honorífico de Reino.
No corrente ano de 2012 e na segunda década do novo século, se os órgãos de soberania
pretendem, coerentemente, manter a união de toda a Nação Portuguesa em torno dos pesadíssimos
sacrifícios exigidos ao nosso velho Estado-Nação pela “troika” dos credores internacionais, então
que não atentem contra a dignidade, a identidade, a individualidade e a auto-estima de Portugal e
respeitem a sua História, os seus valores, quase milenares, bem como a afirmação da Língua e da
Cultura Portuguesas, que ao Dia 1.º de Dezembro de 1640 devem a sua existência.
A SHIP – Sociedade Histórica da Independência de Portugal, criada há 150 anos por 40
patriotas, dos quais avulta a figura de Alexandre Herculano, tem por missão estatutária a defesa da
independência, individualidade e identidade de Portugal, pelo que convoca e convocará as institui-
ções da sociedade civil e os Portugueses, residentes em Portugal e na Diáspora, para que não
permitam a abolição do mais importante e emblemático feriado nacional.
A 1.ª República, logo nos seus primeiros dias de existência, criou o feriado do 1.º de Dezembro,
coerentemente, mantido pelo Estado Novo e pela III República, ao longo de 37 anos.
Respeitemos a correctíssima decisão das três Repúblicas.
Aliás, um Estado que não comemora, como o seu principal feriado, o Dia da Independência
é um Estado sem dignidade nem valores.
Alguma vez os Estados Unidos pensariam em deixar de evocar o Independence Day?
Recorde-se que a Guerra da Restauração não foi só contra a Espanha – na Terra e no Mar – mas
também contra a França no Brasil e os Países Baixos no Brasil, em Angola e na Índia. A Restauração
mobilizou a Nação Portuguesa, na Europa e no Ultramar, e combateu e venceu as potências que a
ela se opuseram.
Por outro lado, na União Europeia a 27 são 18 os países cujo Dia Nacional – o feriado civil
mais importante – assinala a respectiva fundação ou independência.
A Sociedade Histórica da Independência de Portugal apela, pois, ao patriotismo e sentido de
Estado de todos os Deputados da Assembleia da República para que preservem o Feriado Nacional
do 1.º de Dezembro, que, em bom rigor, deveria ser o Dia de Portugal.
A Sociedade Histórica da Independência de Portugal criará, de imediato, a Comissão Come-
morativa do Feriado Nacional do 1.º de Dezembro de 2012 – Dia da Restauração.
No caso do bom senso não vir a prevalecer na Assembleia da República – no que, obviamente,
se não acredita – então a Sociedade Histórica da Independência de Portugal apelará ao Presidente
da República para que oponha o seu veto político à disposição do Código do Trabalho que elimine o
Feriado do 1.º de Dezembro de 1640 – Dia da Restauração – ao qual Portugal, a Língua e a Cultura
Portuguesa devem a sua independência, identidade e afirmação.

Palácio da Independência, Lisboa, 9 de Março de 2012

213
F eriados em Portugal

CARTA DE MISSÃO

10 Medidas, anteriores e futuras, da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, rela-


tivas à manutenção do Feriado do 1.º de Dezembro.
1. Em 1 de Dezembro de 2011, o Presidente da SHIP, José Alarcão Troni, defendeu, em discurso,
nas Cerimónias Públicas dos Restauradores e do Palácio da Independência – nesta perante a repre-
sentante do Presidente da República – a manutenção do Feriado do 1.º de Dezembro – Dia da
Restauração – por ser a origem e matriz de todos os feriados civis. Não haveria 5 de Outubro, 25 de
Abril, 1.º de Maio ou 10 de Junho se não tivesse existido a Restauração da Independência, em 1640,
que devolveu a Portugal a sua soberania plena e à Língua e Cultura Portuguesas as respectivas
autonomia e afirmação.
2. No próprio dia 1 de Dezembro de 2011, a Sociedade Histórica desencadeou um abaixo-
assinado, que recolheu cerca de 2.000 assinaturas, o qual foi despachado pela Presidente da Assem-
bleia da República para apreciação da Comissão Parlamentar de Segurança Social e Trabalho, no
âmbito da discussão e votação dos feriados civis e religiosos, matéria constante da Proposta de Lei
do Código do Trabalho.
3. A posição da Sociedade Histórica, na defesa do Feriado do 1.º de Dezembro, foi, imedia-
tamente, comunicada ao Presidente da República, à Presidente da Assembleia da República, ao
Primeiro-Ministro, ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, aos Presidente e Secretários-Gerais
dos Partidos com representação parlamentar e aos lideres dos grupos parlamentares.
4. No âmbito da audição pública da Proposta de Lei do Código do Trabalho, reuniu, a 5 de
Março de 2012, a requerimento de quarenta associados, em sessão extraordinária, a assembleia
geral da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, a qual aprovou a adesão da SHIP ao
Manifesto, elaborado pelo Deputado José Ribeiro e Castro, que está a ser subscrito por seiscentos
membros da sociedade civil, com óbvio destaque para os corpos sociais e associados desta patrió-
tica instituição, cujo objecto estatutário é a defesa da Independência, individualidade e identidade
de Portugal, bem como a afirmação da Língua e Cultura Portuguesas.
5. Ainda, no âmbito da audição pública da Proposta de Lei do Código do Trabalho, a Socie-
dade Histórica reiterou, em Comunicação de 9 de Março de 2012, a sua posição, de sempre, no
sentido da manutenção do Feriado Nacional do 1.º de Dezembro, documento que será enviado ao
Presidente da República, Presidente da Assembleia da República, Primeiro Ministro, Presidente do
Supremo Tribunal de Justiça, Presidente e Secretários-Gerais dos Partidos Políticos do arco Parla-
mentar, líderes dos grupos parlamentares, Presidente da Comissão Parlamentar de Segurança Social e
Trabalho, associados da SHIP, Conselho das Comunidades Portuguesas, principais parceiros sociais,
órgãos de comunicação social e a todos os Portugueses, residentes em Portugal e na Diáspora, estes
através do “site” da Sociedade Histórica.
6. Criação, de imediato, pela Sociedade Histórica, da Comissão Organizadora das Comemora-
ções do Feriado Nacional do 1.º de Dezembro de 2012.
7. Acompanhamento dos trabalhos parlamentares de discussão e votação da Proposta de Lei
do Código de Trabalho, sensibilizando os Deputados de todos os Partidos Políticos, com represen-
tação parlamentar, para a importância e sentido patriótico do 1.º de Dezembro.
8. Contactar a RTP1, propondo a realização de um programa Prós e Contras sobre o Feriado
Nacional do 1.º de Dezembro, a RTP2 – programa Sociedade Civil, bem como a Imprensa Diária e
não Diária, com especial relevo para a Imprensa Regional.
9. Fazer a declaração solene de que a Sociedade Histórica jamais baixará os braços, qualquer
que seja a decisão final sobre o Feriado Nacional do 1.º de Dezembro, nem deixará de lutar pela
reposição do feriado, caso seja abolido – o que Deus não permita – assim como não deixará de
promover a celebração, no dia 1 de Dezembro de cada ano, da Restauração da Independência,
enquanto houver um dos seus associados que seja sobrevivo. A declaração será acompanhada de
abaixo-assinado dos sócios, comprometendo-se nesta opção.
10. No caso da Assembleia da República vir a eliminar o Feriado Nacional de 1 de Dezembro
– o que se não crê – a Sociedade Histórica solicitará ao Presidente da República o veto político da
deliberação.

Palácio da Independência, Lisboa, 9 de Março de 2012

214
A nexos

27. COMUNICADO DA NUNCIATURA APOSTÓLICA EM LISBOA SOBRE OS FERIADOS


RELIGIOSOS (8 DE MAIO DE 2012)

NUNCIATURA APOSTÓLICA
PORTUGAL

A Nunciatura Apostólica em Portugal comunica que a Santa Sé, indo ao encontro dos desejos
do Governo Português na procura de uma solução para a grave crise económico-financeira em que
se encontra o País, chegou a um entendimento excepcional com o próprio Governo Português se-
gundo o qual, durante os próximos cinco anos, a partir do dia 1 de Janeiro de 2013, a celebração da
Solenidade do Corpo de Deus será transferida para o Domingo seguinte e a celebração da Solenidade
de Todos os Santos manter-se-á no dia 1 de Novembro, mas sem o carácter de dia feriado civil.

Lisboa, 8 de Maio de 2012

28. COMUNICADO DOS MINISTÉRIOS DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS E DA ECONOMIA E


DO EMPREGO SOBRE A EXTINÇÃO DOS FERIADOS, NOMEADAMENTE SOBRE A ABOLIÇÃO
OU SUSPENSÃO DOS FERIADOS RELIGIOSOS (8 DE MAIO DE 2012)

GOVERNO DE PORTUGAL

COMUNICADO

Ministério dos Negócios Estrangeiros


Ministério da Economia e do Emprego

Acordo sobre a redução do número de feriados religiosos


entre a República Portuguesa e a Santa Sé

1. O Acordo de Concertação Social celebrado em janeiro último entre o Governo e os Parceiros


Sociais estabeleceu a redução de “três a quatro o número de feriados obrigatórios”, com o intuito
de reforçar a competitividade da economia portuguesa.
2. Dando cumprimento a este Acordo, o Governo propôs à Assembleia da República a redução
de dois feriados civis e, mediante negociação com a Santa Sé, no âmbito da Concordata de 2004, de
dois feriados religiosos.
3. Nesse sentido, decorreram negociações, através dos canais diplomáticos adequados, entre
a República Portuguesa e a Santa Sé, que agora culminaram. Assim, as duas Partes acordaram num
entendimento excepcional sobre a aplicação do artigo 30.º da Concordata, nos termos do qual não
se observarão, durante um período de cinco anos, os feriados do Corpo de Deus (cuja solenidade
é transferida para o Domingo seguinte), e do Dia de Todos os Santos (1 de novembro). Em linha
com o princípio da símetria na redução dos feriados civis e religiosos, coube à Santa Sé a identifi-
cação em concreto dos feriados religiosos em causa.
4. Na base deste compromisso encontra-se a preocupação de acompanhar, por esta via, os
esforços de Portugal e dos portugueses para superar a crise económica e financeira que o País
atravessa. Ficou, portanto, estabelecido que no final do período de cinco anos a República Portu-
guesa e a Santa Sé reavaliarão os termos do seu acordo.
5. Tendo em conta as preocupações manifestadas por alguns Parceiros subscritores do Acordo
de Concertação Social, bem como as exigências legais aplicáveis em matéria de entrada em vigor
das alterações à legislação laboral, a eliminação dos feriados de Corpo de Deus, 5 de outubro, 1
de Novembro e 1 de dezembro apenas produzirá efeitos a partir de 1 de janeiro de 2013, indo
assim também ao encontro do melhor planeamento dos calendários das famílias e das empresas
no corrente ano.
6. O Governo enaltece o sentido de responsabilidade demonstrado pelos Parceiros Sociais e sa-
lienta a disponibilidade e a abordagem construtiva da Santa Sé e da Conferência Episcopal Portuguesa.

Lisboa, 8 de Maio de 2012

215
F eriados em Portugal

29. COMUNICADO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SOBRE A PROMULGAÇÃO DO CÓDIGO


DO TRABALHO, RESULTANTE DA ALTERAÇÃO PROPOSTA PELO GOVERNO E APROVADA
POR MAIORIA PELA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA (18 DE JUNHO DE 2012)

COMUNICADO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

1. O Presidente da República promulgou hoje, como lei, o decreto da Assembleia da República


que procede à terceira alteração ao Código do Trabalho.
2. As alterações à legislação do trabalho realizadas pelo presente diploma decorrem do
Memorando de Entendimento com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo
Monetário Internacional, o qual foi subscrito pelo Governo português no âmbito do pedido de
ajuda financeira a que Portugal recorreu em abril de 2011.
3. O enquadramento e os princípios orientadores da legislação em apreço decorrem igualmente
do Compromisso para o Crescimento, Competitividade e Emprego celebrado no passado dia 18 de
janeiro de 2012 entre o Governo português e uma larga maioria dos parceiros sociais com assento
na Comissão Permanente de Concertação Social do Conselho Económico e Social.
4. O presente diploma foi aprovado na Assembleia da República com os votos favoráveis dos
deputados do Partido Social Democrata e do CDS – Partido Popular e com a abstenção dos depu-
tados do Partido Socialista, tendo votado contra apenas 15% dos deputados.
5. Na análise realizada no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, não foram
identificados indícios claros de inconstitucionalidade que justificassem a intervenção do Tribunal
Constitucional em sede de fiscalização preventiva da constitucionalidade das leis.
6. Nestes termos, no juízo que formulou sobre a legislação em apreço o Presidente da Repú-
blica teve presente os compromissos assumidos por Portugal junto das instituições internacionais,
a necessidade de preservar o consenso alcançado em sede de concertação social e a reduzida
oposição que o presente diploma suscitou junto dos partidos com representação parlamentar.
7. Com a entrada em vigor desta reforma da legislação laboral, deverá assegurar-se, a partir de
agora, a estabilidade das normas reguladoras das relações laborais, com vista à recuperação do
investimento, à criação de novos postos de trabalho e ao relançamento sustentado da economia
portuguesa.

Palácio de Belém, 18 de junho de 2012

30. LEI DE ALTERAÇÃO DO CÓDIGO DO TRABALHO QUE ELIMINA QUATRO FERIADOS


– EXTRACTO (25 DE JUNHO DE 2012)

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Lei n.º 23/2012


de 25 de junho

Procede à terceira alteração ao Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de
fevereiro

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o


seguinte:

Artigo 1.º
Objeto

A presente lei procede à alteração ao Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12
de fevereiro, e alterado pelas Leis n.ºs 105/2009, de 14 de setembro, e 53/2011, de 14 de outubro.

216
A nexos

Artigo 2.º
Alteração ao Código do Trabalho

Os artigos 63.º, […], 234.º, […] do Código do Trabalho, passam a ter a seguinte redacção:
[…]

Artigo 234.º
[…]

1. São feriados obrigatórios os dias 1 de janeiro, Sexta-Feira Santa, Domingo de Páscoa, 25 de


abril, 1 de maio, 10 de junho, 15 de agosto, 8 e 25 de dezembro.6
2. […].
3. […].
[…]

Artigo 10.º
Produção de efeitos

1. A eliminação dos feriados de Corpo de Deus, de 5 de outubro, de 1 de novembro e de 1 de


dezembro resultante da alteração efetuada pela presente lei ao n.º 1 do artigo 234.º do Código do
Trabalho, produz efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2013.7

2. […]

Artigo 11.º
Entrada em Vigor

A presente lei entra em vigor no primeiro dia do segundo mês seguinte ao da sua publicação.
Aprovada em 11 de maio de 2012
A Presidente da Assembleia da República, Maria Assunção A. Esteves
Promulgada em 18 de Junho de 2012
Publique-se.
O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA
Referendada em 21 de junho de 2012
Pelo Primeiro-Ministro, Vítor Louçã Rabaça Gaspar, Ministro de Estado e das Finanças

6 Implicitamente foram abolidos o Corpo de Deus (móvel), o 1 de Novembro (Todos os Santos),


o 5 de Outubro (implantação da República) e o 1.º de Dezembro (Restauração).
7 Ao invés do que se desenhava na proposta de lei e no comunicado dos Ministérios dos
Negócios Estrangeiros e da Economia (bem como no da Nunciatura Apostólica), a lei explicita que
são abolidos de igual modo os feriados cívicos e os feriados religiosos.

217
(Página deixada propositadamente em branco)
IV

FERIADOS NO MUNDO
alguns exemplos

Quando iniciaram os estudos sobre os feriados em Portugal, os autores não dispunham de


informações suficientes na Internet relativamente aos feriados de outros países (que consideraram
um dado importante), pelo que solicitaram informações a vários colegas de outras nacionalidades,
a quem agradecem as respostas que então lhes forneceram. Com o passar dos anos estas informa-
ções foram sendo apresentadas em vários sites e portais, que facilmente podem ser consultados.
Nem sempre os dados são coincidentes e totalmente esclarecedores, mas, no essencial, deram-lhes
as informações que pretendiam. São meramente referenciais e podem conter algumas incorrecções.
No entanto, fornecem conhecimentos suficientes para ficarmos esclarecidos quanto ao número de
feriados de cada Estado observado e ao seu significado. Os países escolhidos não o foram arbitra-
riamente, assim como também a omissão de outros não tem nenhum sentido de desinteresse pelos
seus dados, também relevantes desde que se analise a questão dos feriados segundo outros critérios
e de forma mais abrangente e aprofundada. Por vezes utilizámos para os mesmos feriados diferen-
tes palavras, ainda que coincidentes quanto ao seu significado, porque entendemos que cada país
tem uma forma diferente de os expressar. Em certos casos usámos mesmo, pelo que foi dito, as
designações na sua língua original.

1. PAÍSES CATÓLICOS DA EUROPA

BÉLGICA
1 de Janeiro, Ano Novo
Domingo de Páscoa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador1
Quinta-feira da Ascensão (móvel)
Domingo de Pentecostes (móvel, em função da Páscoa)
Segunda-feira de Pentecostes (móvel, em função da Páscoa)
21 de Julho, Festa Nacional2

1 Ver a razão do dia do Trabalhador ou do Trabalho na nota relativa a esse dia para o caso
da França.
2 Comemoração da subida ao trono do rei Leopoldo I, primeiro rei dos belgas, em 1831.

219
F eriados em Portugal

15 de Agosto, Assunção de Maria


1 de Novembro, Dia de Todos os Santos
11 de Novembro, Armistício3
25 de Dezembro, Natal

ESPANHA
1 de Janeiro, Ano Novo
6 de Janeiro, Epifania / Reis
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo da Ressurreição – Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalho (Dia del Trabajo)4
15 de Agosto, Assunção da Virgem
12 de Outubro, Festa Nacional de Espanha5
1 de Novembro, Todos os Santos
6 de Dezembro, Dia da Constituição 6
8 de Dezembro, Imaculada Conceição (La Imaculada)
25 de Dezembro, Natal

FRANÇA
1 de Janeiro, Ano Novo ( Jour de l’An)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)7
1 de Maio, dia do Trabalho (Fête du Travail)8
8 de Maio, Festa da Vitória (Fête de la Victoire)9
Quinta feira da Ascensão
Pentecostes (móvel, de acordo com a Páscoa)
14 de Julho, Tomada da Bastilha, Festa Nacional da França10
15 de Agosto, Assunção de Maria
1 de Novembro, Todos os Santos

3 Celebra, como se sabe, o Armistício (assinado em Compiègne, a 11 de Novembro de 1918)


com que terminou a I Guerra Mundial.
4 Em certos casos aparece o feriado de 1 de Maio como o “dia do Trabalhador” e noutros como
o “Dia do Trabalho”. Procurámos respeitar a nomenclatura que surge em relação a cada Estado.
5 É o “Dia de la Hispanidad”, em que se celebra o descobrimento da América por Cristóvão
Colombo. Religiosamente, a Vírgen del Pilar é padroeira da Hispanidad.
6 Celebra a ratificação da actual Constituição, referendada em 6 de Dezembro de 1978.
7 Note-se que não se inclui o domingo de Páscoa.
8 Foi em França que se começou a celebrar o dia do Trabalho ou do Trabalhador. Comemora,
como se sabe, a luta dos trabalhadores em Chicago pela jornada das 8 horas, que se verificou em
1886, iniciando-se no dia 1 de Maio. Em 1889 a Segunda Internacional Socialista, reunida em Paris,
deliberou, por proposta de Raymond Lavigne, levar a efeito, anualmente, uma manifestação para
lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi então 1 de Maio em homenagem aos
mortos de Chicago. Daí resultaram outras mortes, como sucedeu no norte de França em 1 de Maio
de 1891. Em 23 de Abril de 1919, o Senado francês acabou por ratificar o dia de trabalho de 8 horas
e proclamou pela primeira vez 1 de Maio como feriado. Nos Estados Unidos nunca foi aceite este
dia para simbolizar o Labor Day, dando-se uma versão mais oficial deste feriado, que se verifica ali
nos inícios de Setembro.
9 Comemora a vitória da França na II Guerra Mundial, em 8 de Maio de 1945.
10 A Tomada da Bastilha (14 de Julho de 1789) simboliza em França a libertação do jugo da
Monarquia Absolutista de Luís XVI. Data polémica, teve sempre em França grande significado na-
cional, sendo conhecida internacionalmente pela sua designação em francês – 14 Juillet.

220
A nexos

11 de Novembro, Armistice 1918 11


25 de Dezembro, Natal

IRLANDA12
1 de Janeiro, Ano Novo
17 de Março, Dia de São Patrício (Saint Patrick’s Day)13
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, dia do Trabalhador – é transferido para a segunda-feira seguinte
Feriado bancário de Junho – numa segunda-feira do mês
Feriado bancário de Agosto – numa segunda-feira do mês
Feriado bancário de Outubro – numa segunda-feira do mês
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Dia de Santo Estêvão14

ITÁLIA
1 de Janeiro, Ano Novo (Capodanno)
6 de Janeiro, Epifania
Segunda-feira de Páscoa (móvel)15
25 de Abril, Libertação da Itália na II Guerra (Liberazione)16
1 de Maio, Dia do Trabalho (Festa del lavoro)
2 de Junho, Festa Nacional (Festa della Repubblica Italiana)17
15 de Agosto, Assunção de Maria (Ferragosto)18
1 de Novembro, Todos os Santos
8 de Dezembro, Imaculada Conceição
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Dia de Santo Estêvão

POLÓNIA
1 de Janeiro, Ano Novo
Domingo de Páscoa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador
3 de Maio, Dia da Constituição da Polónia19
Pentecostes (móvel, de acordo com a Páscoa)

11 Como se disse, o Armistício foi assinado em França, em Compiègne, em 11 de Novembro


de 1918. Daí que tivéssemos usado a expressão francesa. A data teve grande repercussão entre os
aliados sendo celebrada em vários países. Também em Portugal o chegou a ser.
12 É interessante notar que a Irlanda, apesar de ser um país fundamentalmente católico, revela
no quadro dos seus feriados uma lógica pragmática de tipo britânico.
13 É considerado o missionário da Irlanda, onde foi bispo e é seu padroeiro, havendo em Dublin
uma catedral em sua honra, bem como várias igrejas no país que lha são dedicadas. Terá morrido
17 de Março de 461.
14 Trata-se de Santo Estêvão, mártir do século i, referido nos Actos dos Apóstolos.
15 Também não inclui o domingo de Páscoa.
16 Celebra a libertação da Itália dos nazifascistas, em 25 de Abril de 1945.
17 Comemora o referendo de 2 de Junho de 1946, através do qual os italianos se decidiram pela
República, terminando com a Monarquia.
18 Na Itália o Ferragosto é uma festa popular que comemora o meio do Verão, coincidindo
também com o dia da Assunção de Nossa Senhora, celebrado pelo culto católico
19 Comemora a primeira Constituição da Polónia, de 3 de Maio de 1791.

221
F eriados em Portugal

Corpo de Cristo (móvel)


15 de Agosto, Assunção de Maria
1 de Novembro, Todos os Santos
11 de Novembro, Dia da Independência da Polónia20
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal21

2. PAÍSES CRISTÃOS “PROTESTANTES” DA EUROPA

REINO UNIDO22
1 de Janeiro (New Year’s bank holiday) – Transferido para a segunda-feira mais próxima
Sexta-feira Santa (Good Friday) (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
Feriado bancário de Maio (Early May bank holiday), primeira segunda-feira de Maio
Feriado bancário da Primavera (Spring bank holiday), última segunda-feira de Maio
Feriado bancário de Verão (Summer bank holiday), última segunda-feira de Agosto
Natal, no dia 25 de Dezembro ou na segunda-feira seguinte se o Natal for ao domingo
Feriado bancário de Natal (Boxing day’s bank holiday), 26 de Dezembro23

PAÍSES BAIXOS24
1 de Janeiro, Ano Novo
Domingo de Páscoa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
30 de Abril, Dia da Rainha25
Quinta-feira da Ascensão (móvel)
Domingo de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
Segunda-feira de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

20 No contexto do Armistício (11 de Novembro de 1918), a Polónia recupera a sua independência,


depois de ter sido ocupada pela Alemanha, subindo ao poder Józef Piłsudski.
21 Em vários países o dia seguinte ao dia de Natal é também feriado, sendo nomeado generica-
mente por “Natal”. Ou seja, os dias 25 e 26 de Dezembro são feriados de Natal. Ver também nota 23.
22 O sistema britânico dos feriados é muito original e radica-se no Bank holidays 1871. Na
verdade, não se limita ao Reino Unido, onde existem peculiaridades nas diversas nações que o
compõem. Estende-se também à Irlanda, conforme se viu, e subsiste ainda esse sistema em Hong
Kong, assim como também influenciou o sistema dos feriados na Índia. Para além, daqueles que aqui
são referidos, há, pois, especificidades “nacionais” (na Inglaterra, no País de Gales, na Escócia e na
Irlanda do Norte) e há feriados nacionais por altura das festas especiais da Família Real. Por exemplo,
em 29 de Abril de 2011 houve feriado devido ao casamento do príncipe William com Kate Middleton.
23 É um dia festivo muito antigo (celebrado em vários países como o dia de Santo Estêvão, de
acordo com liturgia católica). Segundo parece, chama-se assim pelo facto de se darem presentes
nesse dia, estando a imagem da caixa (box) ligada ao facto de se colocar numa caixa o dinheiro
para os mais necessitados.
24 É interessante notar que nos Países Baixos, assim como em todos os países nórdicos que se
seguem, a grande maioria dos feriados são de tipo religioso.
25 Trata-se do dia instituído pela actual rainha, Beatriz, em memória da sua mãe, Juliana, cujo
aniversário se celebrava em 30 de Abril. Nasceu em 30 de Abril de 1909 e morreu em 20 de Março
de 2004.

222
A nexos

DINAMARCA
1 de Janeiro, Ano Novo
Quinta-feira Santa (móvel)
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo de Páscoa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
4 de Maio, Dia de Oração
Quinta-feira da Ascensão (móvel)
Domingo de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
Segunda-feira de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

FINLÂNDIA
1 de Janeiro, Ano Novo
6 de Janeiro, Epifania
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo de Páscoa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador
Quinta-feira da Ascensão (móvel)
Domingo de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
Festa de Verão, Solstício (à volta de 21 de Junho)26
1 de Novembro, Todos os Santos
6 de Dezembro, Dia da Independência da Finlândia (6 de Dezembro de 1917)
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

NORUEGA
1 de Janeiro, Ano Novo
Domingo de Ramos (móvel)
Quinta-feira Santa (móvel)
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo de Páscoa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador
17 de Maio, Festa Nacional, data da Constituição da Noruega27
Quinta-feira da Ascensão (móvel, dependente da Páscoa)
Domingo de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
Segunda-feira de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

SUÉCIA
1 de Janeiro, Ano Novo
6 de Janeiro, Dia de Reis
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo de Páscoa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador

26 É a maior festa da Finlândia.


27 Comemora-se a primeira Constituição da Noruega, que foi aprovada em 17 de Maio de 1814.

223
F eriados em Portugal

Quinta-feira da Ascensão (móvel, dependente da Páscoa)


Domingo de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
6 de Junho, Festa Nacional da Suécia28
Solstício de Verão, que se verifica à volta de 21 de Junho
Todos os Santos, 1 de Novembro ou noutro dia próximo, num fim de semana
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

3. PAÍSES DE MAIORIA ORTODOXA

RÚSSIA 29
1 de Janeiro, Ano Novo
2 de Janeiro, Ano Novo
3 de Janeiro, Ano Novo
4 de Janeiro, Ano Novo
5 de Janeiro, Ano Novo
7 de Janeiro, Natal30
23 de Fevereiro, Dia da Defesa Russa (antiga Festa do Exército Vermelho)
8 de Março, Dia da Mulher
1 de Maio, Dia da Primavera e do Trabalhador
9 de Maio, Festa da Grande Vitória, homenagem aos mortos na II Grande Guerra
12 de Junho, Dia da Rússia, Declaração da soberania do Estado da Rússia31
4 de Novembro, Festa da Unidade Nacional32

GRÉCIA
1 de Janeiro, Ano Novo
6 de Janeiro, Epifania
Segunda-feira de Carnaval
25 de Março, Dia da Independência33
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo de Páscoa ortodoxa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador
15 de Agosto, Assunção de Maria

28 Nesse dia Gustav Vasa foi coroado rei, em 1523. Também nesse dia, em 1809, foi assinada
a nova Constituição.
29 Os feriados na Rússia são marcados pela religião cristã ortodoxa, mas também pela me-
mória cívica, muito presente ainda, dos tempos da União Soviética. Deve notar-se que sendo uma
república federal, cada Estado pode ainda decretar feriados próprios.
30 Notar que, de acordo com o calendário ortodoxo, o Natal realiza-se a 7 de Janeiro e que são
concedidos cinco dias de férias de Ano Novo.
31 Comemoração do aniversário da Declaração da Soberania do Estado, que foi aprovada em
1990. Na Rússia, segundo o decreto presidencial de 1994, esta data passou a ser considerada feriado,
tornando-se em 2002 o Dia da Rússia.
32 Esta data pretende recordar a expulsão dos invasores polacos do território de Moscovo em
1612. Data esquecida durante a URSS, voltou a ser rememorada a partir de 2005, coincidindo com
as celebrações em honra do ícone de Nossa Senhora de Kazan.
33 A Guerra de Independência da Grécia verificou-se entre 1821 e 1829. A data de 25 de Março
de 1821 é considerada como marco memorial dessa independência.

224
A nexos

28 de Outubro, Festa Nacional da Grécia34


25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

ROMÉNIA
1 de Janeiro, Ano Novo
2 de Janeiro, Ano Novo
Domingo de Páscoa Ortodoxa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa Ortodoxa (móvel)
1 de Maio, dia do Trabalhador
Domingo de Pentecostes (móvel, em função da Páscoa)
Segunda-feira de Pentecostes (móvel, em função da Páscoa)
15 de Agosto, Assunção de Maria
1 de Dezembro, Dia Nacional da Roménia35
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

4. ALEMANHA, ÁUSTRIA, HUNGRIA E REPÚBLICA CHECA

ALEMANHA 36
1 de Janeiro, Ano Novo
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo de Pascoa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador
Quinta-feira da Ascensão (móvel)
Domingo de Pentecostes (móvel, em função da Páscoa)
Segunda-feira de Pentecostes (móvel, em função da Páscoa)
3 de Outubro, Dia da Unidade Alemã37
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

ÁUSTRIA 38
1 de Janeiro, Ano Novo
6 de Janeiro, Reis
Segunda-feira de Páscoa (móvel)39
1 de Maio, Dia do Trabalhador

34 Esta festa nacional celebra a recusa dos gregos em aceitarem o domínio fascista italiano. Os
italianos invadiram a Grécia em 28 de Outubro de 1940, mas perderam a guerra, que só depois foi
vencida com o apoio nazi.
35 Celebra a união da Transilvânia com o Reino da Roménia, que funda a Roménia moderna,
no contexto do fim da I Guerra Mundial (1 de Dezembro de 1918).
36 Para além destes feriados há feriados dos Estados federados e outros que podem ser consi-
derados, sem terem o carácter oficial.
37 Foi marcada esta data (outra possível seria a queda do muro de Berlim) em comemoração
do içar da bandeira da unidade, à meia-noite de 3 de Outubro de 1990, num grande mastro em
frente ao Reichtag.
38 Há também feriados regionais.
39 Os domingos de Ramos, de Páscoa, de Pentecostes e do Advento, ainda que considerados
como festas religiosas, não são considerados feriados nacionais

225
F eriados em Portugal

Quinta-feira da Ascensão (móvel)


Segunda-feira de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
Corpo de Cristo (móvel, dependente da Páscoa)
15 de Agosto, Assunção de Maria
26 de Outubro, Dia Nacional da Áustria40
1 de Novembro, Todos os Santos
8 de Dezembro, Imaculada Conceição
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

HUNGRIA
1 de Janeiro, Ano Novo
15 de Março, feriado Nacional da Hungria41
Domingo de Pascoa (móvel)
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador
Quinta-feira das Ascensão (móvel)
Domingo de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
Segunda-feira de Pentecostes (móvel, dependente da Páscoa)
20 de Agosto, Dia de Santo Estêvão, o primeiro rei da Hungria42
23 de Outubro, Dia Nacional da Hungria43
1 de Novembro, Todos os Santos
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

REPÚBLICA CHECA
1 de Janeiro, Fundação da República Checa44
Segunda-feira de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador
8 de Maio, Dia da Vitória na Europa45
5 de Julho, Dia dos apóstolos eslavos, Cirilo e Metódio
6 de Julho, Dia da morte de João Huss46
28 de Setembro, Dia do Estado Checo47

40 Data em que a Câmara dos Deputados da Áustria aprovou uma lei constitucional sobre a
neutralidade perpétua do país (1955).
41 Celebra a Revolução de 1848, que se iniciou em 15 de Março contra o Império Habsburgo e
que degenerou numa guerra pela independência. A ela está ligada, por exemplo, o nome de Kossuth.
42 Santo Estêvão (c. 975 – 15/08/1038) foi canonizado por Clemente VII em 20 de Agosto de
1083. Daí a sua celebração nesse dia.
43 Comemora a revolução nacional húngara contra o domínio soviético, que se iniciou em 23
de Outubro de 1956 e que durou até Novembro.
44 Em 1 de Janeiro de 1993, o Estado checoslovaco foi dividido pacificamente e foram fundadas
a República Checa e a República Eslovaca. Václav Havel foi o primeiro presidente da República Checa.
45 Comemora a rendição incondicional da Alemanha nazi, em 8 de Maio de 1945, e formação
da Terceira República da Checoslováquia.
46 Reformador, condenado no Concílio de Constança, foi queimado em 6 de Julho de 1415.
47 Dia da morte (28 de Setembro de 935) do príncipe Václav, assassinado por ordem do seu irmão.
É considerado o santo nacional e o símbolo do estado checo e da identidade independente checa.

226
A nexos

28 de Outubro, Dia da fundação do Estado Independente da Checoslováquia48


17 de Novembro, Dia da luta pela Liberdade e pela Democracia49
24 de Dezembro, Véspera do Natal
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Natal

5. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E CANADÁ

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


1 de Janeiro, Ano Novo
15 de Janeiro, Nascimento, de Martin Luther King 50 – comemorado na terceira segunda-feira de
Janeiro
22 de Fevereiro, Nascimento de Washington51 – comemorado na terceira segunda-feira de Fevereiro
Última segunda-feira de Maio, Dia da Memória (Memorial Day)52
4 de Julho, Dia da Independência53
Primeira segunda-feira de Setembro, dia do Trabalho (Labor Day)54
12 de Outubro, Dia de Cristóvão Colombo (Columbus Day) – comemorado na segunda segunda-feira
de Outubro55
11 de Novembro, Veteran’s Day 56
Quarta quinta-feira de Novembro, Thanksgiving Day, Dia de Acção de Graças57
25 de Dezembro, Natal

48 Dia de fundação do estado independente comum dos Checos e dos Eslovacos em 1918.
É considerado o feriado mais importante.
49 Comemora a luta dos estudantes em 1939 e 1989, contra a opressão dos regimes fascista e,
mais tarde, comunista. Foi marcado este dia em recordação da chamada “Revolução de Veludo”,
de 1989.
50 Luther King nasceu em 15 de Janeiro de 1929 e morreu assassinado em Memphis, a 4 de
Abril de 1968. Foi o mais significativo lutador americano pelos direitos dos negros, em defesa da
democracia.
51 O fundador do Estado Americano e seu primeiro presidente, Georges Washington, nasceu
em 22 de Fevereiro de 1732 e morreu em 14 de Dezembro de 1799.
52 Inicialmente para recordar os mortos da Guerra Civil, alargou-se a todos os mortos em guerras
nas quais os americanos participaram ou participam.
53 Declaração da Independência dos Estados Unidos, no dia 4 de Julho no ano de 1776.
54 Ao invés do que sucede na Europa, nos Estados Unidos o dia do Trabalho (não do Traba-
lhador) verifica-se na primeira segunda-feira de Setembro, pois terá sido nos inícios de Setembro de
1882 que se verificou a primeira concentração de trabalhadores em Nova Iorque por proposta de
Matthew Maguire, secretário da CLU (Central Labor Union). De acordo com a versão oficial, depois
de muitas revoltas operárias, em 1894, o presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland procurou
a pacificação, instituindo oficialmente o Labor Day.
55 Cristóvão Colombo, ao serviço dos Reis Católicos de Espanha, terá chegado às Antilhas em
12 de Outubro de 1492. Nos EUA e em outros países da América esse dia é celebrado.
56 Corresponde afinal ao Armistício (11 de Novembro de 1918), que foi proclamado como dia
de celebração pelo presidente Woodrow Wilson. Como no caso do Memorial Day, alargou-se a
homenagem a todos os “veteranos de guerra” dos Estados Unidos.
57 Primeiro relacionado com agradecimento pelas colheitas, o dia de Acção de Graças é afinal
o dia da Família, em que se agradece as “graças” obtidas durante o ano.

227
F eriados em Portugal

CANADÁ58
1 de Janeiro, Ano Novo
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo de Páscoa (móvel)
Primeira segunda-feira após o 24 de Maio, Dia do aniversário da Rainha Vitória e dia do Quebec59
1 de Julho, Dia Nacional do Canadá60
Primeira segunda-feira de Setembro, Dia do Trabalho, Labor Day / Fête du Travail
Segunda segunda-feira de Outubro, Dia de Acção de Graças, Thanksgiving Day / Action de Grâce
11 de Novembro, Dia da Memória, Remembrance Day / Jour du Souvenir 61
25 de Dezembro, Natal
26 de Dezembro, Boxing Day / Landemain du Nöel

6. PAÍSES DA AMÉRICA LATINA

BRASIL62
1 de Janeiro, Confraternização Universal
Domingo de Páscoa (móvel)
21 de Abril, Tiradentes63
1 de Maio, Dia do Trabalho
7 de Setembro, Independência do Brasil64
12 de Outubro, Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil
2 de Novembro, Dia de Finados
15 de Novembro, Proclamação da República65
25 de Dezembro, Natal

ARGENTINA
1 de Janeiro, Ano Novo
24 de Março, Dia nacional de la memoria por la verdad y la justicia
2 de Abril, Dia de las Malvinas66
Quinta-feira Santa (móvel)
Sexta-feira Santa (móvel)

58 Há vários outros feriados, mas são feriados facultativos ou feriados regionais ou de Estados.
59 A rainha Vitória nasceu em 24 de Maio de 1819. Também se celebra pela mesma altura a
Journée nationale des patriotes du Quebec, movimento que se verificou em 1837-1838, de luta pela
liberdade e pelo reconhecimento do povo do Quebeque.
60 Celebra-se a formação da Confederação do Canadá, em 1 de Julho de 1867.
61 Correspondendo ao dia do Armistício, homenageiam-se os mortos de guerra do Canadá.
62 Para além destes feriados, há evidentemente alguns outros que se inserem no calendário
estadual ou regional. Um deles é o Carnaval.
63 Trata-se do primeiro movimento que se pretende independentista no Brasil, chefiado por
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (devido à sua função de dentista), que foi executado em
21 de Abril de 1792.
64 Data de 7 de Setembro de 1822 a independência do Brasil, tendo sido o seu primeiro impe-
rador D. Pedro I, filho do rei de Portugal, D. João VI.
65 A proclamação da República do Brasil verificou-se em 15 de Novembro de 1889.
66 Celebra, em termos nacionais, a chamada Guerra das Malvinas, ilhas (em inglês Falkland
Isles) sob administração inglesa, mas consideradas em território argentino. A guerra iniciou-se com o
desembarque das tropas argentinas em 2 de Abril de 1982 e durou até 14 de Junho, saindo vencedor
o exército britânico.

228
A nexos

Domingo de Páscoa (móvel)


1 de Maio, Dia Internacional do Trabalho
25 de Maio, Primero Governo Patrio (Revolução de Maio)67
20 de Junho, Dia da Bandeira68
9 de Julho, Dia da Independência da Argentina69
17 de Agosto, Dia da morte do general José de San Martín70
12 de Outubro, Dia de la Raza71
8 de Dezembro, Dia da Imaculada Conceição
25 de Dezembro, Natal

MÉXICO72
1 de Janeiro, Ano Novo
5 de Fevereiro, Dia da Constituição Mexicana73
21 de Março, Nascimento de Benito Juárez74
Quinta-feira Santa (móvel)
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalho
16 de Setembro, Dia da Independência do México75
20 de Novembro, Dia da Revolução Mexicana76
25 de Dezembro, Natal

VENEZUELA
1 de Janeiro, Ano Novo
Segunda-feira de Carnaval (móvel)
Terça-feira de Carnaval (móvel)
Quinta-feira Santa (móvel)
Sexta-feira Santa (móvel)

67 Celebra o primeiro movimento de luta pela independência, em Maio de 1810.


68 É venerada no dia 20 de Junho, porque nesse dia, no ano de 1820, se deu a morte do general
Belgrano, que em 1812 mandou hastear em Rosário a bandeira da Argentina.
69 Foi proclamada em 9 de Julho de 1816.
70 José de San Martín (1778-1850) é uma figura lendária da independência dos povos america-
nos do império espanhol, celebrada em alguns países da América, sobretudo da América do Sul, e
mesmo em vários países do mundo.
71 Inicialmente Dia de la Hispanidad passou a chamar-se Dia de la Raza, para celebrar as
raças autóctones da América ou o seu encontro com a Europa.
72 Como nos Estados Unidos, alguns dos feriados podem ser transferidos para uma segunda-
-feira. Na prática também é feriado, embora não sendo considerado feriado nacional, o dia 12 de
Dezembro, comemorativo da Vírgen de Guadalupe.
73 Em 5 de Fevereiro de 1917 é proclamada a moderna constituição mexicana, que se celebra
hoje nesse dia ou na segunda-feira seguinte.
74 Presidente do México e seu herói nacional, nasceu em 21 de Março de 1806 e morreu em 1872.
75 Na verdade, esta data não corresponde exactamente à independência do México, mas ao
início da guerra contra o domínio espanhol, iniciado em 16 de Setembro de 1810. A independência
foi conseguida em 27 de Setembro de 1821 e só reconhecida pela Espanha em 28 de Abril de 1836.
76 A Revolução Mexicana que se iniciou em 20 de Novembro de 1910 tem sido considerada um
dos grandes acontecimentos do século xx, tendo-se verificado um movimento popular, liderado por
Pancho Villa e Emiliano Zapata, contra a Ditadura. O feriado verifica-se na 2.ª feira próxima desse dia.

229
F eriados em Portugal

19 de Abril, Declaração da Independência77


1 de Maio, Dia do Trabalhador
24 de Junho, Batalha de Carabobo78
5 de Julho, Dia da Independência79
24 de Julho, Nascimento de Simón Bolívar80
12 de Outubro, Dia da Resistência Indígena81
25 de Dezembro, Natal

7. JAPÃO 82

1 de Janeiro, Ano Novo


9 de Janeiro, Chegada da Idade Adulta
11 de Fevereiro, Dia da Fundação Nacional83
20 de Março, Dia do Equinócio da Primavera
29 de Abril, Dia de Aniversário do Imperador Showa (Hirohito)84
3 de Maio, Dia da Constituição Japonesa85
4 de Maio, Dia do Verde
5 de Maio, Dia das Crianças86
16 de Julho, Dia do Oceano
17 de Setembro, Dia do Respeito pelos Idosos
22 de Setembro, Dia do Equinócio de Outono
8 de Outubro, Dia dos Desportos

77 A independência da Venezuela foi declarada em 19 de Abril de 1810, embora só tivesse sido


confirmada depois.
78Trata-se de uma das batalhas vencidas por Simón Bolívar para derrotar as forças realistas
espanholas. Verificou-se 24 de Junho de 1821.
79 A assinatura da Declaração da Independência só foi realizada em 5 de Julho de 1811.
80 Herói revolucionário, Simón Bolívar desempenhou um papel importante na independência
da Venezuela, assim como em outras repúblicas sul-americanas. Em 24 de Julho comemora-se o seu
nascimento (1783), tendo morrido em 17 de Dezembro de 1830.
81 O dia 12 de Outubro, que é considerado o dia da chegada de Colombo às Antilhas, é tam-
bém celebrado como o Dia de Resistencia Indígena, assim como noutros países, por oposição ao
Día de la Hispanidad, se convencionou chamar-lhe o Día de La Raza.
82 Referem-se estes feriados a 2012, dado que – como nos Estados Unidos – alguns feriados
variam de data, ajustando-se ao fim de semana ou a uma segunda-feira.
83 Nesta data comemora-se a fundação do Japão, com a ascensão ao trono em 660 do impera-
dor Jimmu. É, naturalmente, uma data simbólica, até porque só depois de 1873 o Japão abandonou
o Calendário Lunar para adoptar o Calendário Gregoriano. Considerada a dinastia imperial mais
antiga do mundo, persistem ainda muitas dúvidas que não foram aclaradas pelos historiadores,
tendo em conta o carácter “sagrado” da família imperial e a versão, por assim, dizer, “oficial” da
sua história.
84 O imperador Hirohito (1901-1989), como é mais conhecido entre nós, reinou desde 1926, ou
seja, antes, durante e depois da II Guerra Mundial, tendo assumido uma ideologia imperial e tendo
estado ligado, como se sabe, aos regimes nazifascistas. Todavia, os japoneses não deixam de celebrar
o seu aniversário, sobretudo como momento de reflexão sobre o que se passou durante o conflito.
85 A Constituição Japonesa entrou em vigor no dia 3 de Maio de 1947, pelo que nesse dia se
celebra o “Dia da Constituição”.
86 Com este feriado dedicado às crianças termina um conjunto de quatro feriados (o primeiro
é em 29 de Abril) que constituem o que os japoneses chamam a “semana dourada”.

230
A nexos

3 de Novembro, Dia da Cultura


23 de Novembro, Dia do Agradecimento ao Trabalho
23 de Dezembro, Dia do Aniversário do Imperador (Akihito)87

8. DOIS PAÍSES LUSÓFONOS AFRICANOS – ANGOLA E CABO VERDE

ANGOLA88
1 de Janeiro, Ano Novo
4 de Janeiro, Dia dos Mártires da Repressão Colonial
25 de Janeiro, Dia da Cidade de Luanda
4 de Fevereiro, Dia Nacional do Esforço Armado
8 de Março, Dia Internacional da Mulher
4 de Abril, Dia da Paz
1 de Maio, Dia do Trabalho
25 de Maio, Dia da África
1 de Junho, Dia Internacional da Criança
17 de Setembro, Dia do Fundador da Nação e dos Heróis Nacionais 89
2 de Novembro, Dia de Finados
11 de Novembro, Dia da Independência90
25 de Dezembro, Natal
31 de Dezembro, Último Dia do Ano

CABO VERDE91
1 de Janeiro, Ano Novo
13 de Janeiro, Dia da Democracia92
20 de Janeiro, Dia dos Heróis Nacionais93
Terça-feira de Carnaval (móvel)
Quarta-feira de Cinzas (móvel)
Sexta-feira Santa (móvel)
Domingo de Páscoa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalhador
1 de Junho, Dia Internacional da Criança
5 de Julho, Dia da Independência94

87 O actual imperador, Akihito é na contagem oficial o 125.º imperador do Japão. Nasceu em


Tóquio em 23 de Dezembro de 1933.
88 Esta lista pode não ser exacta, pois só pudemos compulsar a de 2010.
89 O “fundador da nação”, primeiro presidente da República e, assim, o primeiro dos “heróis
nacionais”, é Agostinho Neto, que nasceu em 17 de Setembro de 1922 e faleceu em 10 de Setembro
de 1979.
90 Em 10 de Novembro de 1975, o Alto Comissário e Governador Geral de Angola, almirante
Leonel Cardoso, transferiu a soberania de Portugal para o “Povo Angolano” com efeitos a partir do
dia 11 Novembro, data considerada como “Dia da Independência”.
91 Para além de outros eventuais feriados municipais, celebra-se no dia 19 de Maio o feriado
da Cidade da Praia.
92 Foi marcado esse dia para celebrar a Democracia, em memória das primeiras eleições mul-
tipartidárias em Cabo Verde, que se realizaram em 13 de Janeiro de 1991.
93 Foi marcado esse dia em homenagem aos “Heróis Nacionais”, comemorando a morte de
Amílcar Cabral, assassinado em Conacri, em 20 de Janeiro de 1973.
94 Foi proclamada a independência de Cabo Verde em 5 de Julho de 1975.

231
F eriados em Portugal

15 de Agosto, Dia de Nossa Senhora das Graças, Padroeira Nacional95


1 de Novembro, Todos os Santos
25 de Dezembro, Natal

9. PAÍSES COMUNISTAS

COREIA DO NORTE96
1 de Janeiro, Ano Novo
23, 24 e 25 de Janeiro, Ano Novo Coreano ou Ano Lunar (Seollal) – móvel
16 e 17 de Fevereiro, Aniversário de Kim Jong Il97
15 e 16 de Abril, Nascimento de Kim Il-Sung98
25 de Abril, Dia das Forças Armadas
1 de Maio, Dia do Trabalho
24 de Junho, Surinal – móvel99
27 de Julho, Dia da Vitória100
15 de Agosto, Dia da Libertação101
9 de Setembro, Dia da Independência102
30 de Setembro e 1 e 2 de Outubro, Hangawi – móvel103
10 de Outubro, Dia da fundação do Partido dos Trabalhadores da Coreia
27 de Dezembro, Dia da Constituição104

CUBA
1 de Janeiro, Triunfo da Revolução Liderada por Fidel de Castro105
2 de Janeiro, Dia público de Novo Ano
Sexta-feira Santa (móvel)
1 de Maio, Dia do Trabalho
25 de Julho, Dia anterior ao Assalto ao Quartel de Moncada

95 Também aparece denominada como Nossa Senhora da Graça, nome da freguesia e da igreja
da Cidade da Praia, diocese de Santiago, cuja festa é no dia da Assunção de Nossa Senhora (15
de Agosto).
96 Esta lista diz respeito a 2012. Há algumas datas móveis, tendo em conta o ano lunar.
97 O dia 16 de Fevereiro é intitulado o dia do Sol Nascente. O antigo líder norte-coreano terá
nascido em 16 ou 17 de Fevereiro de 1941 ou 1942 e faleceu a 17 de Dezembro de 2011.
98 Kim Il-Sung, o primeiro líder da Coreia do Norte, nasceu em 15 de Abril de 1912 e veio a
morrer em 8 de Julho de 1994.
99 Surinal é um famoso festival folclórico que se celebra no 5.º dia do 5.º mês lunar.
100 Recorda o dia da vitória na Guerra da Coreia (1950-1953) travada entre os Estados Unidos
e os norte-coreanos, que constituíram ali um Estado comunista.
101 Comemora o dia da libertação da Coreia (que constituiu então um só país) do domínio
japonês, em 15 de Agosto de 1945.
102 No dia 9 de Setembro de 1948 era proclamada a independência da República Democrática
Popular da Coreia.
103 Corresponde ao festival das colheitas, ligado ao equinócio do Outono, verificando-se du-
rante 3 dias a partir do 15.º dia do 8.º mês lunar. Os coreanos comem então os pratos tradicionais e
visitam as terras dos seus antepassados.
104 Adoptada em 1972.
105 Comemora-se o triunfo da revolução cubana, datada em 1 de Janeiro de 1959.

232
A nexos

26 de Julho, Dia do Assalto ao Quartel de Moncada106


27 de Julho, Dia seguinte ao Assalto ao Quartel de Moncada
10 de Outubro, Dia da Independência107
25 de Dezembro, Natal108
31 de Dezembro, Dia do Fim do Ano

10. PORTUGAL109

1 de Janeiro, Ano Novo e Nossa Senhora Mãe de Deus [neste caso, de acordo com a Igreja Católica]110
Sexta-feira Santa (móvel)111
Domingo de Páscoa (móvel)112
Corpo de Deus (móvel)113
25 de Abril, Dia da Liberdade114

106 É um marco do início da Revolução Cubana, em 1953.


107 Foi neste dia, em 1868 que Carlos Manuel Céspedes libertou os escravos e iniciou a guerra
da independência de Cuba contra o dominador espanhol.
108 Só foi proclamado feriado depois da visita a Cuba de João Paulo II em 1998.
109 A actual estruturação dos feriados nacionais, com feriados cívicos e feriados religiosos, é,
afinal, herdada do Estado Novo, dado que só então, em 1952 (com um caso de feriado religioso
a partir de 1948, da Imaculada Conceição), passou a vigorar. Até aí só existiam feriados cívicos,
adoptando-se a prática de laicização da sociedade civil, adoptada em 1910 e confirmada pela lei
de separação do Estado das Igrejas, de 20 de Abril de 1911. O Estado Novo – o que normalmente
não é salientado, tendo em atenção o apoio que a Igreja deu, de um modo geral, ao regime de
Salazar – manteve essa lógica de separação, apesar da Concordata de 1940. Apenas em 4 de Janeiro
de 1952, por decreto da Presidência do Conselho, mudaram alguns nomes de feriados para desig-
nações religiosas, adoptaram-se alguns feriados religiosos e extinguiram-se dois feriados cívicos:
31 de Janeiro, “Dia dos precursores e mártires da República” (como chamou o decreto-lei de 13 de
Outubro de 1910 à celebração da primeira revolução republicana, do Porto, de 31 de Janeiro de
1891) e 3 de Maio, “Dia comemorativo do Descobrimento do Brasil” (de acordo com a termino-
logia da legislação de 1 de Maio de 1912, que o instituiu), data manifestamente errada, como se
verificou pela Carta de Pêro Vaz de Caminha, que localizou no tempo o achamento oficial em 22
de Abril de 1500.
110 Foi chamado Dia da Fraternidade Universal em 13 de Outubro de 1910 até 4 de Janeiro de
1952, altura em que passou a designar-se como Dia de Ano Novo e da Circuncisão de Jesus. Esta
invocação veio a perder-se, com certeza devido ao facto de a circuncisão ser uma prática cerimonial
essencialmente judaica, destacando-se antes a referência à maternidade de Maria.
111 Instituído em 12 de Abril de 1976. Curiosamente, também pela legislação desse dia, consi-
derou-se feriado o 24 de Dezembro, véspera de Natal, o que foi logo a seguir extinto, por legislação
de 28 de Dezembro de 1976.
112 Passou a ser mencionado como feriado (até então não o era, dado que a Páscoa, sendo ao
domingo, era obrigatoriamente feriado) só a partir do Código do Trabalho de 2003.
113 Como todos as festas religiosas, só foi considerado feriado nacional em 1952, apesar de a
festa do Corpo de Deus ser muito antiga na prática religiosa portuguesa. Tendo em conta a intenção
de o Estado abolir dois feriados nacionais, dois cívicos e dois religiosos, o Vaticano, por decisão
comunicada em 8 de Maio de 2012, aceitou suspender por 5 anos, a partir de 2013, a sua celebração
no dia próprio, passando a ser festejado no domingo seguinte. O Governo, em comunicado dos
Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Economia e Emprego, do mesmo dia, confirmou esta
decisão. No entanto, pela Lei n.º 23/2012, de 25 de Junho, este feriado é efectivamente, extinto.
114 Quando foi criado, em 18 de Abril de 1975, para comemorar a Revolução de 25 de Abril
de 1974, chamou-se Dia de Portugal, retirando esta designação ao 10 de Junho, feriado menos

233
F eriados em Portugal

1 de Maio, Dia do Trabalhador115


10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades116
15 de Agosto: Assunção de Nossa Senhora117
5 de Outubro, Dia comemorativo da implantação do regime republicano118
1 de Novembro, Todos os Santos119
1 de Dezembro, Restauração da Independência120

considerado – de acordo com a ideologia anticolonialista – por ser também um dia comemorativo
dos “heróis das Campanhas Ultramarinas”. A partir de 2 de Março de 1978, passou a designar-se,
até hoje, Dia da Liberdade.
115 Instituído por decreto-lei de 27 de Abril de 1974 da Junta de Salvação Nacional. É assim o
primeiro feriado nacional criado pelo sistema democrático, em formação, saído do 25 de Abril de
1974, tendo-se celebrado logo em 1 de Maio desse ano.
116 Deixou de se chamar Dia de Portugal, conforme se viu, quando foi criado o feriado de 25
de Abril, em 18 de Abril de 1975, apenas mantendo a designação de Dia de Camões. Esta deno-
minação vinha-lhe da mais que hipotética atribuição desse dia (em 1524) ao nascimento do poeta.
Começou primeiro a vigorar como feriado em Lisboa. Foi instituído como “festa nacional” por lei
de 25 de Maio de 1925, no contexto do Centenário do Nascimento de Camões (1924). Também
recebeu então a designação, com outro significado, de Dia de Portugal e de Dia da Raça (note-
se que idêntica designação foi usada pelos países da América Latina de ex-dominação espanhola
atribuída ao dia 12 de Outubro, que era primeiro chamado o Día de la Hispanidad). A partir de 4
de Março de 1977, o 10 de Junho passou a ser também dedicado às Comunidades Portuguesas e,
por decreto-lei de 2 de Março de 1978 e até hoje, passou a designar-se Dia de Portugal, de Camões
e das Comunidades Portuguesas.
117 Este feriado mariano, celebrado em muitos países católicos, foi considerado como uma das
hipóteses de eliminação de feriado nacional, no contexto da decisão do Governo em abolir quatro
feriados. O Vaticano recusou-se, porém, a optar por esta alternativa.
118 Foi logo criado como feriado em 13 de Outubro de 1910, com a designação de “Dia dos
heróis da República”, celebrando a Revolução de 5 de Outubro de 1910, mantendo-se sempre com
a mesma designação, ou tão-só como “Implantação do regime republicano”, no Estado Novo (ver
decreto de 4 de Janeiro de 1952). Objecto de Comemorações Nacionais no Centenário de 2010-2011,
foi considerada a sua extinção, como feriado nacional, pela proposta de lei n.º 46/XII, de 2 de
Fevereiro de 2012, de alteração do Código do Trabalho, sendo confirmada essa decisão pela apro-
vação na generalidade na Assembleia da República e pelo Comunicado do Ministério dos Negócios
Estrangeiros e da Economia e do Emprego, de 8 de Maio de 2012, considerando que essa abolição
teria efeito a partir de 2013. Foi assim legislado pela Lei n.º 23/2012, de 25 de Junho. No entanto,
um amplo movimento cívico continua a lutar pela sua reintrodução.
119 Foi criado como feriado nacional em 4 de Janeiro de 1952, se bem que a tradição do dia
de Todos os Santos seja muito antiga e geralmente transformada, na prática, em Dia de Finados
ou de Fiéis Defuntos, transpondo para o dia anterior esse dia litúrgico. De acordo com a decisão
do Vaticano, comunicada em 8 de Maio de 2012, o dia 1 de Novembro mantém-se como “dia santo”,
aceitando-se, porém, a sua suspensão como feriado nacional por 5 anos, a partir de 2013, decisão
que foi confirmada no mesmo dia pelo Governo, através do citado Comunicado dos Ministérios dos
Negócios Estrangeiros e da Economia e do Emprego. No entanto, foi extinto como feriado nacional
pela Lei n.º 23/2012, de 25 de Junho.
120 Criado como feriado nacional em 13 de Outubro de 1910, com a designação de dia da “Au-
tonomia da Pátria Portuguesa”, comemora a chamada “Revolução de 1 de Dezembro de 1640”, altura
em que os portugueses terminaram com o governo de União Pessoal, com a Espanha e da Casa
de Áustria (Filipe IV ou Filipe III de Portugal), passando a reinar a Casa de Bragança na pessoa de
D. João IV. Foi um feriado que revelou o espírito nacionalista republicano, pois era um feriado há
muito solicitado pelo movimento anti-iberista e nacionalista liberal. A extinção do feriado nacional
foi agora implicitamente imposta pela maioria governamental pela proposta de lei n.º 46/XII, de 2

234
A nexos

8 de Dezembro, Dia da Imaculada Conceição121


25 de Dezembro, Natal122
[Feriados Municipais123]

de Fevereiro de 2012, votada na generalidade pela Assembleia da República, com um voto contra
de um deputado do Centro Democrático Social (CDS), um dos partidos do Governo, José Ribeiro e
Castro, que tem defendido em várias instâncias este feriado. O feriado foi extinto, a partir de 2013,
pela Lei n.º 23/2012, de 25 de Junho, mas mantém-se um movimento a favor da sua reintrodução.
121 Feriado introduzido por lei da Assembleia Nacional do Estado Novo de 5 de Junho de
1948, correspondendo a um movimento mariano e nacional que se verificou depois de 1940, mas
sobretudo após 1946, que recordou a nomeação da Imaculada Conceição como Padroeira de Portugal,
em 1646, pelo rei D. João IV. Apesar de algum radicalismo inicial, nunca o sistema democrático,
em formação depois de 25 de Abril de 1974, aboliu este feriado, que teve desde o início mais um
carácter nacional do que religioso. O dogma da Imaculada Conceição, fixado em 8 de Dezembro de
1854, foi um dos dogmas mais discutidos, mesmo no seio da Igreja Católica.
122 Apesar de ser o dia tradicional do nascimento de Cristo, a República instituiu este feriado,
que era, naturalmente, desde há muito, considerada uma festa religiosa e cívica. Surge também no
quadro dos “feriados da República”, em 13 de Outubro de 1910, como “Dia da Família”. Só depois
de 1952 se passou a designar oficialmente como Dia de Natal, tal como sucede ainda hoje.
123 Considerados como facultativos e escolhidos entre as “festas tradicionais e características
do município”, de acordo com a legislação de 13 de Outubro de 1910, foram praticamente extintos
(alguns dos que foram criados) pelo decreto de 4 de Janeiro de 1952, mantendo-se apenas os que
foram considerados realmente “festas tradicionais e características do município”. Depois de 21 de
Agosto de 1974 pretendeu-se alargar os feriados municipais, considerando que também poderiam
ser escolhidos como tal os “dias de significado histórico para a vida do concelho”. Desta forma,
foram surgindo feriados próprios nos 308 municípios que actualmente existem no país.

235
(Página deixada propositadamente em branco)
V

FERIADOS MUNICIPAIS

1. RELAÇÃO DOS FERIADOS MUNICIPAIS1

Abrantes (distrito de Santarém): 14 de Junho, em comemoração da elevação de Abrantes a cidade


(14 de Junho de 1916). Ano da deliberação do feriado: 1975.

1 Através da ANMP foi feito um inquérito aos Municípios, solicitando – para além de qualquer
outra colaboração, indicando, nomeadamente, livros ou documentos onde se referisse o feriado de
cada município – a resposta às seguintes questões: 1. Qual o dia do feriado municipal: 2. Motivo do
feriado; 3. Data da aprovação do feriado; 3. Existência ou não de outros dias que anteriormente ha-
viam sido considerados feriados municipais 4. Razão da mudança ou das mudanças do feriado. De
308 municípios responderam 103. Alguns foram muito precisos e claros nas suas respostas, envia-
do inclusivamente livros, fotografias e outra documentação. Portanto, ficámos apenas esclarecidos,
total ou parcialmente, em relação a cerca de um terço dos municípios. Tivemos, pois, de fazer
algumas investigações complementares, em dicionários e recorrendo a sites e portais da Internet.
Restaram ainda várias dúvidas, algumas que foram esclarecidas junto dos municípios. Julgamos
que as informações aqui prestadas estão basicamente correctas, mas aceitamos que se possa verifi-
car qualquer erro, mais ou menos importante. Pedimos desculpa por isso, bem como lamentamos
que – apesar das informações minuciosas que nos foram fornecidas por alguns municípios (e que
guardamos, para futuros trabalhos), tendo em conta as questões que lhes colocámos e que em
cima sumariámos – apenas tivéssemos de reduzir os dados aqui fornecidos fundamentalmente
a dois elementos: o dia do feriado municipal e motivo que justifica esse feriado. Em alguns casos
reduzimo-lo mesmo a um só, pois o próprio dia do feriado nos elucida sobre a sua motivação. Assim
sucede, por exemplo, com quinta-feira da Ascensão. Noutros casos não é elucidativo, mas entende-se
a sua motivação. Por exemplo, o feriado foi marcado, por meras razões práticas ou celebrativas, na
segunda-feira de Páscoa ou na segunda-feira de Pascoela, dado que domingo de Pascoela é festejado
em certas localidades. Complementarmente, mas só em certas situações, acrescentámos a data
da (última) deliberação do feriado municipal, que pode tratar-se da deliberação camarária ou da
ratificação governamental. Em muitos casos os municípios desconhecem essa data, por falta de do-
cumentos ou do seu estudo, ou porque assenta na tradição ou perde-se no tempo. Essa indicação,
quando se conhece, é por vezes considerada com bastante pormenor. Mas apenas se refere aqui o
ano, porque já é elucidativo, em certos casos, do carácter recente do feriado, ou da sua marcação
depois do decreto de 1952 do Estado Novo ou do decreto inicial de 1910.

237
F eriados em Portugal

Águeda (distrito de Aveiro): segunda-feira após o domingo de Pentecostes, data relacionada com
a festa de São Geraldo, que se realiza na freguesia de Bolfiar. Ano da deliberação do feriado:
1929 e, posteriormente, 1971

Aguiar da Beira (distrito de Viseu): 10 de Fevereiro, comemoração da recuperação do estatuto de


concelho com sede em Aguiar da Beira, destacado do concelho de Trancoso (10 de Fevereiro
de 1898).

Alandroal (distrito de Évora): segunda-feira de Pascoela.

Albergaria a Velha (distrito de Aveiro): terceira segunda-feira de Agosto, festa de Nossa Senhora
do Socorro.

Albufeira (distrito de Faro): 20 de Agosto, comemoração da doação da carta de foral à Vila de


Albufeira por D. Manuel I. Ano da deliberação do feriado: 1977.

Alcácer do Sal (distrito de Setúbal): 24 de Junho, dia de São João2.

Alcanena (distrito de Santarém): quinta-feira da Ascensão.

Alcobaça (distrito de Leiria): 20 de Agosto, dia de São Bernardo de Claraval (1090-1153), ligado à
Ordem de Cister (reforma da ordem beneditina), a que pertencia o mosteiro de Alcobaça.

Alcochete (distrito de Santarém): 24 de Junho, dia de São João.

Alcoutim (distrito de Faro): segunda sexta-feira de Setembro, feira anual criada por alvará de 26 de
Março de 1822. Ano da deliberação do feriado: 1977.

Alenquer (distrito de Lisboa): quinta-feira da Ascensão.

Alfândega da Fé (distrito de Bragança): 29 de Junho, dia de São Pedro.

Alijó (distrito de Vila Real): 11 de Novembro, dia de São Martinho.

Aljezur (distrito de Faro): 29 de Agosto, festividade em homenagem a São João Batista, pois é con-
siderada a data do seu martírio (por isso o santo é, neste caso, chamado São João da Degola).

Aljustrel (distrito de Beja): 13 de Junho, dia de Santo António. Ano da deliberação do feriado: 1974.

Almada (distrito de Lisboa): 24 de Junho, dia de São João.

Almeida (distrito da Guarda): 2 de Julho, dia comemorativo da defesa de Almeida, nessa data e no
ano de 1663, em que as tropas portuguesas e o povo fizeram frente aos exércitos comandados
pelo Duque de Osuna (Guerras da Restauração).

Almeirim (distrito de Santarém): quinta-feira das Ascensão. Ano da deliberação do feriado: 1978.

Almodôvar (distrito de Beja): 17 de Abril, em comemoração da concessão do foral ao mestrado da


Ordem de Santiago por D. Dinis, em 1285.

2 Quando referimos “dia de São João” queremos, obviamente, citar São João Baptista e não
São João Evangelista que, apesar da sua importância no Cristianismo, nunca aparece como motivo
de qualquer feriado municipal.

238
A nexos

Alpiarça (distrito de Santarém): 2 de Abril, em comemoração da fundação do concelho, em 2 de


Abril de 1914.

Alter do Chão (distrito de Portalegre): quinta-feira da Ascensão.

Alvaiázere (distrito de Leiria): 13 de Junho, dia Santo António.

Alvito (distrito de Beja): quinta-feira da Ascensão.

Amadora (distrito de Lisboa): 11 de Setembro, data comemorativa da formação do concelho, em


11 de Setembro de 1979.

Amarante (distrito do Porto): 8 de Julho, data comemorativa da passagem a cidade, em 8 de Julho


de 1985.

Amares (distrito de Braga): 13 de Junho, dia de Santo António.

Anadia (distrito de Aveiro): quinta-feira da Ascensão.

Angra do Heroísmo (Terceira, Açores): 24 de Junho, dia de São João.

Ansião (distrito de Leiria): quinta-feira da Ascensão.

Arcos de Valdevez (distrito de Viana do Castelo): 11 de Julho, dia de São Bento.

Arganil (distrito de Coimbra): 7 de Setembro, data ligada à secular feira do Mont’Alto (onde existe
uma capela em honra da Nossa Senhora da Assunção). Ano da deliberação do feriado:1969.

Armamar (distrito de Viseu): 24 de Junho, dia de São João.

Arouca (distrito de Aveiro): 2 de Maio, em comemoração da Rainha Santa Mafalda.

Arraiolos (distrito de Évora): quinta-feira da Ascensão.

Arronches (distrito de Portalegre): 24 de Junho, dia de São João.

Arruda dos Vinhos (distrito de Lisboa): quinta-feira da Ascensão.

Aveiro (distrito de Aveiro): 12 de Maio, dia da Princesa Santa Joana (filha de D. João V),
sua padroeira. Anteriormente foi feriado o dia 16 de Maio de 1828, que celebrava a execução
de resistentes liberais por altura da proclamação, de novo, da Monarquia Absoluta, por
D. Miguel. Foi realizada sobre o tema uma tese de mestrado na Universidade de Aveiro,
orientada por Luís Oliveira Andrade, depois publicada: Ana Clara Correia, Cabeças
cortadas. Aveiro e memória de 16 de Maio, Câmara Municipal de Aveiro, 2007.

Avis (distrito de Portalegre): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Azambuja (distrito de Lisboa): quinta-feira da Ascensão.

Baião (distrito do Porto): 24 de Agosto, dia de São Bartolomeu.

Barcelos (distrito de Braga): 3 de Maio, Festa das Cruzes3.

3 É uma das maiores romarias minhotas (de 1 a 3 de Maio). Celebra não só a festa da Santa
Cruz, mas também o aparecimento de uma cruz no século xvi a um sapateiro de Barcelos. A história
lendária e a romaria recuam, pois, a tempos longínquos. É de tal maneira importante que foi aproveitada
pelo salazarismo no filme de propaganda de António Lopes Ribeiro, A Revolução de Maio (1937).

239
F eriados em Portugal

Barrancos (distrito de Beja): 28 de Agosto, festas em honra de Nossa Senhora da Conceição.

Barreiro (distrito de Setúbal): 28 de Junho, dia comemorativo da elevação de Barreiro a cidade,


por decisão da Assembleia da República em 16 de Maio de 1984, publicada no Diário da
República em 28 de Maio de 1984. Ano da deliberação do feriado: 1984.

Batalha (distrito de Leiria): 14 de Agosto, data comemorativa da batalha de Aljubarrota (14 de


Agosto de 1385).

Beja (distrito de Beja): quinta-feira da Ascensão.

Belmonte (distrito de Castelo Branco): 26 de Abril, comemoração da primeira missa no Brasil em 1500
e festa de Nossa Senhora da Esperança, imagem que (segundo a tradição) terá acompanhado
a esquadra de Pedro Álvares Cabral, natural de Belmonte.

Benavente (distrito de Santarém): quinta-feira da Ascensão.

Bombarral (distrito de Leiria): 29 de Junho, comemoração do nascimento do concelho, em 29 de


Junho de 1914.

Borba (distrito de Évora): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Boticas (distrito de Vila Real): 6 de Novembro, data comemorativa do nascimento do concelho,


pela reforma administrativa de 1836 (decreto de 6 de Novembro de 1836).

Braga (distrito de Braga): 24 de Junho, dia de São João. Ano da deliberação do feriado: 1952, mas
as origens das festas vêm de muito longe no tempo.

Bragança (distrito de Bragança): 22 de Agosto, festa de Nossa Senhora das Graças (orago de
Bragança).

Cabeceiras de Basto (distrito de Braga): 29 de Setembro, festa de S. Miguel (venerado no mosteiro


de S. Miguel de Refojos).

Cadaval (distrito de Lisboa): 13 de Janeiro, data comemorativa da restauração do concelho, em 13


de Janeiro de 1898.

Caldas da Rainha (distrito de Leiria): 15 de Maio, em comemoração da abertura do hospital termal,


em 15 de Maio de 1775, festa de Nossa Senhora do Pópulo e homenagem à memória da rainha
D. Leonor. Ano da deliberação do feriado: 1962.

Calheta (Madeira): 24 de Junho, dia de S. João.

Calheta (S. Jorge, Açores): 25 de Novembro, festa de S. Catarina de Alexandria.

Câmara de Lobos (Madeira): 16 de Outubro, data comemorativa da promoção a concelho em 1835


(com base no Elucidário Madeirense).

Caminha (distrito de Viana do Castelo): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Campo Maior (distrito de Portalegre): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Cantanhede (distrito de Coimbra): 25 de Julho, festas de São Tiago Maior.

Carrazeda de Ansiães (distrito de Bragança): última sexta-feira de Agosto, feira da maçã e do vinho.

240
A nexos

Carregal do Sal (distrito de Viseu): segunda-feira após o terceiro domingo de Julho, ligada às festas
de Nossa Senhora de Febres, que se iniciam na semana anterior.

Cartaxo (distrito de Santarém): quinta-feira das Ascensão.

Cascais (distrito de Lisboa): 13 de Junho, dia de Santo António. Ano da deliberação do feriado: 1977.

Castanheira de Pêra (distrito de Leiria): 4 de Julho, em comemoração da criação concelho, em 4


de Julho de 1914.

Castelo Branco (distrito de Castelo Branco): terceira terça-feira após o domingo de Páscoa, por
altura da realização da feira e da festa da Senhora de Mércules.

Castelo de Paiva (distrito de Aveiro): 24 de Junho, dia de São João.

Castelo de Vide (distrito de Portalegre): segunda-feira após o domingo de Páscoa, por altura da
festa de Nossa Senhora da Luz.

Castro Daire (distrito de Viseu): 29 de Junho, dia de São Pedro.

Castro Marim (distrito de Faro): 24 de Junho, dia de São João.

Castro Verde (distrito de Beja): 29 de Junho, dia de São Pedro.

Celorico da Beira (distrito da Guarda): 23 de Maio, data do nascimento de Sacadura Cabral, que
com Gago Coutinho realizou a primeira viagem aérea ao Brasil, em 1922. Ano da deliberação
do feriado: 2006.

Celorico de Basto (distrito de Braga): 25 de Julho, dia de São Tiago Maior.

Chamusca (distrito de Santarém): quinta-feira da Ascensão.

Chaves (distrito de Vila Real): 8 de Julho, em memória dos republicanos que, em 8 de Julho de 1912,
defenderam Chaves das incursões de Paiva Couceiro. Ano da deliberação do feriado: 1913.

Cinfães (distrito de Viseu): 24 de Junho, dia de São João.

Coimbra (distrito de Coimbra): 4 de Julho, festas em louvor da Rainha Santa Isabel (esposa de
D. Dinis), padroeira da cidade.

Condeixa-a-Nova (Distrito de Coimbra): 24 de Julho, festa em honra da padroeira Santa Cristina.

Constância (distrito de Santarém): segunda-feira após o domingo de Páscoa, festa de nossa Senhora
da Boa Viagem. Ano da deliberação do feriado: 1912.

Coruche (distrito de Santarém): 17 de Agosto, festas populares da vila, “dia do campino”. Ano da
deliberação do feriado: 1969.

Corvo (Corvo, Açores): 20 de Junho, em comemoração da elevação da povoação à categoria de vila


e sede de concelho por Pedro IV (20 de Junho de 1832).

Covilhã (distrito de Castelo Branco): 20 de Outubro, em comemoração da elevação da vila da


Covilhã a cidade, em 20 de Outubro de 1870.

Crato (distrito de Portalegre): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

241
F eriados em Portugal

Cuba (distrito de Beja): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Elvas (distrito de Portalegre): 14 de Janeiro, em comemoração da batalha de Linhas de Elvas, entre


portugueses e espanhóis (Guerras da Restauração), em 14 de Janeiro de 1658.

Entroncamento (distrito de Santarém): 24 de Novembro, em comemoração da elevação a vila (em


1945), depois elevada a cidade (1991).

Espinho (distrito de Aveiro): 16 de Junho, em comemoração da elevação a cidade (decreto de n.º


309/73, de 16 de Junho). Ano da deliberação do feriado: 1973.

Esposende (distrito de Braga): 19 de Agosto, em comemoração do título de vila atribuído pelo foral
de D. Sebastião, em 19 de Agosto de 1572.

Estarreja (distrito de Aveiro): 13 de Junho, dia de Santo António.

Estremoz (distrito de Évora): quinta-feira da Ascensão.

Évora (distrito de Évora): 29 de Junho, dia de São Pedro (festa muito antiga em Évora e último dia
da feira de São João). Ano da deliberação do feriado: 1952.

Fafe (distrito de Braga): 16 de Maio. No dizer da Câmara, não tem que ver com nenhum facto em
especial. Certamente estará relacionado com as feiras francas, que ainda se realizam hoje em
16 e 17 de Maio. Ano da deliberação do feriado: 1931.

Faro (distrito de Faro): 7 de Setembro, em comemoração da elevação de Faro a cidade por foral de
D. João III (7 de Setembro de 1540).

Felgueiras (distrito do Porto): 29 de Junho, dia de São Pedro. Ano da deliberação do feriado: 1955.

Ferreira do Alentejo (distrito de Beja): 5 de Março, em comemoração da atribuição da nova carta


de foral à vila, em 5 de Março de 1516, pelo rei D. Manuel I.

Ferreira do Zêzere (distrito de Santarém): 13 de Junho, dia Santo António. Ano da deliberação do
feriado: 1977.

Figueira da Foz (distrito de Coimbra): 24 de Junho, dia de São João.

Figueira de Castelo Rodrigo (distrito da Guarda): 7 de Julho, batalha de Castelo Rodrigo, popular-
mente conhecida por batalha da Salgadela (lugar onde se verificou o combate), em 7 de Julho
de 1664 (Guerras da Restauração). Ano da deliberação do feriado: 1941.

Figueiró dos Vinhos (distrito de Leiria): 24 de Junho, dia de São João. Ano da deliberação do
feriado: 1974.

Fornos de Algodres (distrito da Guarda): 29 de Setembro, festas de São Miguel.

Freixo de Espada à Cinta (distrito de Bragança): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Fronteira (distrito de Portalegre): 6 de Abril, em comemoração da batalha dos Atoleiros, que se


deu em 6 de Abril de 1384. Ano da deliberação do feriado: 1926.

Funchal (Madeira): 21 de Agosto, em comemoração da elevação a cidade (21 de Agosto de 1508).

Fundão (distrito de Castelo Branco): 15 de Setembro, festa de Santa Luzia, cujo santuário fica
próximo de Castelejo.

242
A nexos

Gavião (distrito de Portalegre): 23 de Novembro, comemoração da atribuição do foral em 23 de


Novembro de 1519, por D. Manuel I.

Góis (distrito de Coimbra): 13 de Agosto, em comemoração do primeiro documento significativo


da sua história – em 13 de Agosto de 1113, a rainha D. Teresa, com o infante D. Afonso,
doaram a Anaia Vestrariz e a sua esposa D. Ermesinda o castelo de Góis e Bordeiro. Ano da
deliberação do feriado: 1992.

Golegã (distrito de Santarém): quinta-feira da Ascensão.

Gondomar (distrito do Porto): segunda-feira após o primeiro domingo de Outubro, correspondente


às festas de Nossa Senhora do Rosário. Ano da deliberação do feriado: 1969.

Gouveia (distrito da Guarda): segunda-feira após o segundo Domingo de Agosto que coincide com
as festas em honra do Senhor do Calvário.

Grândola (distrito de Setúbal): 22 de Outubro, em comemoração da atribuição da carta da vila


de Grândola, em 22 de Outubro de 1544, pelo rei D. João III. Ano da deliberação do feriado:
1911.

Guarda (distrito da Guarda): 27 de Novembro, em comemoração da concessão da carta de foral à


Guarda por D. Sancho I, em 27 de Novembro de 1199.

Guimarães (distrito de Braga): 24 de Junho, dia da batalha de São Mamede. Ano da deliberação
do feriado:19744.

Horta (Faial, Açores): 24 de Junho, dia de São João.

Idanha-a-Nova (distrito de Castelo Branco): terceira segunda-feira após a Páscoa, pela mesma altura
(quinze dias depois da Páscoa) em que se realizam as festas da Senhora do Almortão.

Ílhavo (distrito de Aveiro): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Lagoa (S. Miguel, Açores): 11 de Abril, em comemoração da elevação a vila e sede de município, a
11 de Abril de 1522, por carta régia de D. João III.

Lagoa (distrito de Faro): 8 de Setembro, dia de Nossa Senhora da Luz, padroeira da vila.

Lagos (distrito de Faro): 27 de Outubro, dia litúrgico de São Gonçalo de Lagos. Ano da deliberação
do feriado: 1971.

Lajes das Flores (Flores, Açores): segunda-feira após o terceiro domingo de Julho, em que se
realizam as festas do Emigrante.

Lajes do Pico (Pico, Açores): 29 de Junho, em comemoração da elevação a vila no século xvi.

Lamego (distrito Viseu): 8 de Setembro, romaria da Senhora dos Remédios.

4 A Câmara deliberou esta data para o feriado de Guimarães em 1974, mas antes do 25 de Abril
(em 25 de Março). Deve notar-se, por curiosidade e até para não se verificar qualquer confusão,
que esta data não tem que ver com as festas de São João, que se celebram no mesmo dia e que são
muito comuns nos municípios do norte do país.

243
F eriados em Portugal

Leiria (distrito de Leiria): 22 de Maio, que assinala a data da bula papal de Paulo III que elevou
Leiria a diocese (22 de Maio de 1545, no reinado de D. João III). Ano da deliberação do
feriado: 19645.

Lisboa (distrito de Lisboa): 13 de Junho, dia de Santo António.

Loulé (distrito de Faro): quinta-feira das Ascensão. Ano da deliberação do feriado: 1984.

Loures (distrito de Lisboa): 26 de Julho, em comemoração da criação do concelho em 26 de Julho


de 1886.

Lourinhã (distrito de Lisboa): 24 de Junho, dia de São João.

Lousã (distrito de Coimbra): 24 de Junho, dia de São João.

Lousada (distrito do Porto): última segunda-feira de Julho, por altura das “Festas Grandes”, que se
realizam em honra do Senhor dos Aflitos. Ano da deliberação do feriado: 1955.

Mação (distrito de Santarém): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Macedo de Cavaleiros (distrito de Bragança): 29 de Junho, dia de São Pedro.

Machico (Madeira): 9 de Outubro, em memória do aluvião de 1803 e do achamento do Senhor


Jesus Cristo no alto mar por uma galera americana.

Madalena (Pico, Açores): 22 de Julho, festas em honra de Santa Maria Madalena.

Mafra (distrito de Lisboa): quinta-feira da Ascensão. Ano da deliberação do feriado: 1960 (confir-
mação em 1973).

Maia (distrito do Porto): segunda-feira após o segundo domingo de Julho, festa em honra de Nossa
Senhora do Bom Despacho. Ano da deliberação do feriado: 1954.

Mangualde (distrito de Viseu): 8 de Setembro, festa de Nossa Senhora do Castelo.

Manteigas (distrito da Guarda): 4 de Março, em comemoração da atribuição do foral do concelho,


por D. Manuel I, em 1514 (existiu um outro foral concedido por D. Sancho I, entre 1186 e
1188). Ano da deliberação do feriado: 1977.

Marco de Canaveses (distrito do Porto): 8 de Setembro, dia de Nossa Senhora do Castelinho.

Marinha Grande (distrito de Leiria): quinta-feira da Ascensão. Ano da deliberação do feriado: 1964,
mas só ratificado mais tarde.

Marvão (distrito de Portalegre): 8 de Setembro, festas de Nossa Senhora da Estrela. Ano da delibe-
ração do feriado: 1950.

5 É um caso único este tipo de feriado religioso ou eclesiástico, dado que todos os outros
celebram qualquer festa em honra de um santo. Anteriormente, por reunião camarária de 11 de Fe-
vereiro de 1937, havia sido deliberado que o feriado era em 15 de Agosto, dia da Assunção de Nossa
Senhora. Como passou a feriado nacional em 1952, veio a dar-se a alteração referida. A diocese foi
abolida nos anos 80 de século xix, tendo sido restaurada em 17 de Janeiro de 1918. Veio depois a
chamar-se, em 1984, diocese de Leiria-Fátima.

244
A nexos

Matosinhos (distrito do Porto): terça-feira após o domingo de Pentecostes, festas do Senhor de


Matosinhos.

Mealhada (distrito de Aveiro): quinta-feira da Ascensão.

Meda (distrito da Guarda): 11 de Novembro, feira de São Martinho. Ano da deliberação do feriado:
1980.

Melgaço (distrito de Viana do Castelo): quinta-feira das Ascensão e homenagem a Nossa Senhora
da Orada.

Mértola (distrito de Beja): 24 de Junho, dia de São João e festa de São João dos Caldeireiros. Ano
da deliberação do feriado: 1977.

Mesão Frio (distrito de Vila Real): 30 de Novembro, dia de Santo André (apóstolo) e feira tradicional.

Mira (distrito de Coimbra): 25 de Julho, dia de São Tomé e festa tradicional.

Miranda do Corvo (distrito de Coimbra): 1 de Junho, data do nascimento do lente republicano de


Matemática José Falcão, em 1841.

Miranda do Douro (distrito de Bragança): 10 de Julho, em comemoração da elevação a cidade por


carta régia de 1545, de D. João III, e festas da cidade.

Mirandela (distrito de Bragança): 25 de Maio, em comemoração da carta de foral concedida por


D. Afonso III em 25 de Maio de 1250.

Mogadouro (distrito de Bragança): 15 de Outubro, dia da feira dos Gorazes, feira muito antiga
(existente pelo menos desde o século xviii) que se prolonga para o dia 16. Ano da deliberação
do feriado: 1940 e, mais tarde,1962.

Moimenta da Beira (distrito Viseu): 24 de Junho, dia de São João.

Moita (distrito de Setúbal): terça-feira após o segundo domingo de Setembro e festas de Nossa
Senhora da Boa Viagem. Ano da deliberação do feriado: 1952, mas só confirmado em 1969.

Monção (distrito de Viana do Castelo): 12 de Março, em memória da carta de foral concedida


por D. Afonso III, em 12 de Março de 1261.

Monchique (distrito de Faro): quinta-feira da Ascensão.

Mondim de Basto (distrito de Vila Real): 25 de Julho, festa de São Tiago (Maior) e festas da vila.

Monforte (distrito de Portalegre): segunda-feira da Pascoela e romaria de Nossa Senhora dos


Prazeres. Ano da deliberação do feriado: 1977.

Montalegre (distrito de Vila Real): 9 de Junho, em comemoração da concessão da carta de foral


nesse dia, em 1273, por D. Afonso III. Ano da deliberação do feriado: 1980.

Montemor-o-Novo (distrito de Évora): 8 de Março, dia de São João de Deus.

Montemor-o-Velho (distrito de Coimbra): 8 de Setembro, dia da feira anual realizada desde longínqua
data e festa de Nossa Senhora da Natividade.

Montijo (distrito de Santarém): 29 de Junho, dia de São Pedro (festas com procissão fluvial).

245
F eriados em Portugal

Mora (distrito de Évora): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Mortágua (distrito de Viseu): quinta-feira da Ascensão, que se comemora no santuário do Cabeço


do Senhor do Mundo. Ano da deliberação do feriado: 1973.

Moura (distrito de Beja): 24 de Junho, dia de São João.

Mourão (distrito de Évora): 2 de Fevereiro, festa de Nossa Senhora das Candeias.

Murça (distrito de Bragança): 8 de Maio, em memória da concessão do foral por D. Sancho II, a 8
de Maio de 1224.

Murtosa (distrito de Aveiro): 8 de Setembro, festas em honra de São Paio.

Nazaré (distrito de Leiria): 8 de Setembro, festas de Nossa Senhora da Nazaré.

Nelas (distrito da Guarda): 24 de Junho, dia de São João.

Nisa (distrito de Portalegre): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Nordeste (Açores, S. Miguel): 18 de Julho, em memória da criação do concelho, em 18 de Julho


de 1514.

Óbidos (distrito de Leiria): 11 de Janeiro, em comemoração da tomada de Óbidos aos mouros, por
D. Afonso Henriques, apoiado por Gonçalo Mendes da Maia, em 11 de Janeiro se 1148.

Odemira (distrito de Beja): 8 de Setembro, festas em honra de Nossa Senhora da Piedade. Ano da
deliberação do feriado: 1979.

Odivelas (distrito de Lisboa): 19 de Novembro, dia da formação do concelho de Odivelas, ou data


da votação pela Assembleia Municipal, em 19 de Novembro de 1998 (só confirmada por lei de
14 de Dezembro de 1998).

Oeiras (distrito de Lisboa): 7 de Junho, em memória da atribuição, por carta régia de 7 de Junho
de 1759, do rei D. José I, a Sebastião José de Carvalho e Melo (depois Marquês de Pombal), do
título de conde de Oeiras.

Oleiros (distrito de Castelo Branco): segunda-feira após o segundo domingo de Agosto, na


sequência das festas em honra de Santa Margarida, padroeira da sede do concelho.

Olhão (distrito de Faro): 16 de Junho, em comemoração da primeira sublevação bem sucedida


contra a ocupação francesa (em 16 de Junho de 1808), que se tornou um rastilho decisivo para
a expulsão dos franceses do Algarve.6

Oliveira de Azeméis (distrito do Aveiro): segunda-feira após o segundo domingo de Agosto, festa
de Nossa Senhora de La Sallete (que se realiza desde 1881).

Oliveira de Frades (distrito de Viseu): 7 de Outubro, em comemoração da restauração definitiva


do Concelho (7 de Outubro de 1837).

Oliveira do Bairro (distrito de Aveiro): quinta-feira das Ascensão.

6 Por esse motivo Olhão também é conhecida por Olhão da Restauração.

246
A nexos

Oliveira do Hospital (distrito de Coimbra): 7 de Outubro, em comemoração do dia em que foi


registada, em acta da Câmara, a proclamação da República, em 1910. Ano da deliberação do
feriado: 1910.

Ourém (distrito de Leiria): 20 de Junho, em comemoração da elevação a cidade, em 20 de Junho


de 1991 (tinha antes o nome de Vila Nova de Ourém).

Ourique (distrito de Beja): 8 de Setembro, romaria de Nossa Senhora da Cola.

Ovar (distrito de Aveiro): 25 de Julho, dia de São Cristóvão. Ano da deliberação do feriado: 1982.

Paços de Ferreira (distrito do Porto): 6 de Novembro, em comemoração do dia 6 de Novembro de


1836, em que a rainha D. Maria II assinou o decreto de constituição do concelho de Paços
de Ferreira.

Palmela (distrito de Setúbal): 1 de Junho, em comemoração do foral novo de D. Manuel I, que foi
doado a Palmela em 1 de Junho de 1512.

Pampilhosa da Serra (distrito de Coimbra): 10 de Abril, comemoração da elevação a vila, em 10


de Abril de 1423, por D. João I.

Paredes (distrito do Porto): terceira segunda-feira de Julho, em memória da elevação de Paredes a


cidade e festas do Divino Salvador.

Paredes do Coura (distrito de Viana do Castelo): 10 de Agosto, em comemoração dos Combates


da Travanca (9 e 10 de Agosto de 1662), nas Guerras da Restauração.

Pedrógão Grande (distrito de Leiria): 24 de Julho, realização da feira anual, de grande importância
para o concelho e de grande tradição. Ano da deliberação do feriado: 1975.

Penacova (distrito de Coimbra): 17 de Julho, comemoração do nascimento de António José de


Almeida, em 1866. Ano da deliberação do feriado: 1976.

Penafiel (distrito do Porto): 11 de Novembro, dia de São Martinho (no foral de 1519 já se mencionam
as feiras de S. Martinho). Ano da deliberação do feriado: 1969.

Penalva do Castelo (distrito de Viseu): 25 de Agosto, festa de São Genésio, patrono da freguesia
da Ínsua.

Penamacor (distrito de Castelo Branco): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Penedono (distrito de Viseu): 29 de Junho, dia de São Pedro.

Penela (distrito de Coimbra): 29 de Setembro, dia de São Miguel. Ano da deliberação do feriado: 1998.

Peniche (distrito de Leiria): segunda-feira após o primeiro domingo de Agosto, festas de Nossa
Senhora da Boa Viagem. Ano da deliberação do feriado: 1969.

Peso da Régua (distrito de Vila Real): 16 de Agosto, festa de Nossa Senhora do Socorro.

Pinhel (distrito da Guarda): 25 de Agosto, em comemoração da elevação à categoria de cidade, em


25 de Agosto de 1770.

Pombal (distrito de Leiria): 11 de Novembro, dia de São Martinho.

247
F eriados em Portugal

Ponta Delgada (S. Miguel, Açores): segunda-feira após o quinto domingo a seguir à Páscoa, quan-
do se realizam as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que se encontra na igreja do
convento da Esperança.

Ponta do Sol (Madeira): 8 de Setembro, Festa da Nossa Senhora da Luz, padroeira de Ponta do Sol.

Ponte da Barca (distrito de Viana do Castelo): 24 de Agosto, romaria de São Bartolomeu.

Ponte de Lima (distrito de Viana do Castelo): 20 de Setembro, festas e feiras francas de Nossa
Senhora das Dores. Ano da deliberação do feriado: 1911 (depois de uma alteração em 1912 foi,
de novo, fixado em 1915).

Ponte de Sor (distrito de Portalegre): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Portalegre (distrito de Portalegre): 23 de Maio, em memória da data da elevação a cidade, a 23 de


Maio de 1550.

Portel (distrito de Évora): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Portimão (distrito de Faro): 11 de Dezembro, em memória da data da elevação de Vila Nova a cidade,
em documento, datado de 11 de Dezembro de 1924, assinado pelo presidente da República,
natural de Portimão, Manuel Teixeira Gomes. Ano da deliberação do feriado: 1990.

Porto (distrito do Porto): 24 de Junho, dia de São João.

Porto de Mós (distrito de Leiria): 29 de Junho, dia de São Pedro.

Porto Moniz (Madeira): 22 de Julho, festa de Santa Maria Madalena.

Porto Santo (Porto Santo, Madeira): 24 de Junho, festa de São João. Ano da deliberação do
feriado: 1970.

Póvoa de Lanhoso (distrito de Braga): 19 de Março, festas de São José.

Póvoa do Varzim (distrito do Porto): 29 de Junho, festa de São Pedro.

Povoação (S. Miguel, Açores): sexta-feira após o Corpo de Deus, festa celebrada na vila.

Praia da Vitória (Terceira, Açores): 11 de Agosto, em celebração da concessão, por carta régia, em
12 de Janeiro de 1837, do título de “Muito Notável Vila da Praia da Vitória” pela vitória em 11
de Agosto de 1829 das tropas liberais contra as tropas absolutistas. Ano da deliberação do
feriado: 2004.

Proença-a-Nova (distrito de Castelo Branco): 13 de Junho, dia de Santo António. Ano da deliberação
do feriado: 1982.

Redondo (distrito de Évora): segunda-feira após a Páscoa.

Reguengos de Monsaraz (distrito de Évora): 13 de Junho, dia de Santo António. Ano da deliberação
do feriado: 1973.

Resende (distrito de Viseu): 29 de Setembro, em memória da criação do concelho, que se deu


(segundo se julga) em 29 de Setembro de 1801 (na semana anterior realiza-se a festa da
Labareda e feira anual).

Ribeira Brava (Madeira): 29 de Junho, festa de São Pedro.

248
A nexos

Ribeira de Pena (distrito de Vila Real): 16 de Agosto, data que não é justificada7.

Ribeira Grande (Açores, S. Miguel): 29 de Junho, dia de São Pedro, mas também a data de elevação
a cidade, em 1981.

Rio Maior (distrito de Santarém): 6 de Novembro, em comemoração da passagem a concelho, em


6 de Novembro de 1836.

Sabrosa (distrito de Vila Real): 8 de Setembro, romaria de Nossa Senhora do Rosário.

Sabugal (distrito da Guarda): segunda-feira de Pascoela e romaria de Nossa Senhora da Graça.

Salvaterra de Magos (distrito de Santarém): quinta-feira da Ascensão.

Santa Comba Dão (distrito de Viseu): quinta-feira da Ascensão.

Santa Cruz (Madeira): 15 de Janeiro, festa de Santo Amaro.

Santa Cruz da Graciosa (Graciosa, Açores): 24 de Junho, dia de São João.

Santa Cruz das Flores (Flores, Açores): 24 de Junho, dia de São João.

Santa Maria da Feira (distrito de Aveiro): 20 de Janeiro, dia de São Sebastião e Festa das Fogaceiras.
Ano da deliberação do feriado: 1954.

Santa Marta de Penaguião (distrito de Vila Real): 13 de Janeiro, em comemoração da elevação a


concelho, em 13 de Janeiro de 1898.

Santana (Madeira): 25 de Maio, em comemoração da criação do concelho em 25 de Maio de 1835.

Santarém (distrito de Santarém): 19 de Março, dia de São José (nesse dia realiza-se a Romaria das
Ómnias, exaltando a tradição e o quotidiano populares). Ano da deliberação do feriado: 1977.

Santiago do Cacém (distrito de Setúbal): 25 de Julho, dia de São Tiago Maior.

Santo Tirso (distrito do Porto): 11 de Julho, dia de São Bento. Nessa semana comemora-se também,
actualmente, a elevação de Santo Tirso a cidade (8 de Julho de 1985). Ano da deliberação do
feriado: 1946.

São Brás de Alportel (distrito de Faro): 1 de Junho, em comemoração da elevação a município da


freguesia de S. Brás com a denominação de concelho de Alportel com sede na Aldeia de São
Brás, de onde a designação de São Brás de Alportel, publicada no Diário do Governo em 1 de
Junho de 1914. Ano da deliberação do feriado: 1978.

São João da Madeira (distrito de Aveiro): 11 de Outubro, em comemoração da formação de con-


celho autónomo, 11 de Outubro de 1926, desanexando-o de Oliveira de Azeméis.

7 Procurámos junto da Câmara a razão da data do feriado, mas não conseguimos obter qual-
quer resposta. Num blogue surge, com efeito, a dúvida, pois diz-se que nem é o dia da padroeira
nem do foral, pois, segundo José Marques, Professor da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto e da Universidade Portucalense Infante D. Henrique, terá sido outorgado o seu primeiro foral,
por D. Afonso IV, em 27 de Setembro de 1331 e não em 29, como consta no site oficial da internet,
do município de Ribeira de Pena.

249
F eriados em Portugal

São João da Pesqueira (distrito de Viseu): 24 de Junho, dia de São João.

São Pedro do Sul (distrito de Viseu): 29 de Junho, dia de São Pedro.

São Roque do Pico (Açores, Pico): 16 de Agosto, dia de São Roque.

São Vicente (Madeira): 22 de Janeiro, dia de São Vicente (mártir).

Sardoal (distrito de Santarém): 22 de Setembro, em comemoração da elevação de Sardoal à cate-


goria de vila, em 22 de Setembro de 1531, por carta de D. João III.

Sátão (distrito de Viseu): 20 de Agosto, feira anual e festas concelhias em honra de São Bernardo.

Seia (distrito da Guarda): 3 de Julho, comemoração da elevação de Seia a cidade (3 de Julho de


1983).

Seixal (distrito de Setúbal): 29 de Junho, dia de São Pedro.

Sernancelhe (distrito de Viseu): 3 de Maio, em honra de Nossa Senhora ao Pé da Cruz.

Serpa (Distrito de Beja): terça-feira após o domingo de Páscoa, festa em honra de Nossa Senhora
de Guadalupe.

Sertã (distrito de Castelo Branco): 24 de Junho, dia de São João.

Sesimbra (distrito de Setúbal): 4 de Maio, festa do Senhor Jesus das Chagas, estátua de madeira
policromada do século xvi, que terá sido recolhida no mar em 1534. Ano da deliberação do
feriado: 1969.

Setúbal (distrito de Setúbal): 15 de Setembro, dia de Bocage, que nasceu em Setúbal a 15 de


Setembro de 1765.

Sever do Vouga (distrito de Viseu): 21 de Setembro, dia de São Mateus.

Silves (distrito de Faro): 3 de Setembro, festas da cidade, comemorando a primeira conquista cristã
aos mouros (em 3 de Setembro de 1189, por D. Sancho I).

Sines (distrito de Setúbal): 24 de Novembro, em comemoração da fundação do município, em 24


de Novembro de 1362 (carta de elevação de Sines a vila por D. Pedro I).

Sintra (distrito de Lisboa): 29 de Junho, festa de São Pedro.

Sobral de Monte Agraço (distrito de Lisboa): quinta-feira da Ascensão. Ano da deliberação do


feriado: 1974.

Soure (distrito de Coimbra): 21 de Setembro, festa de São Mateus.

Sousel (distrito de Portalegre): segunda-feira após o domingo de Páscoa.

Tábua (distrito de Coimbra): 10 de Abril, comemoração da restauração da sua comarca. Ano da


deliberação do feriado: 1973.8

8 A comarca de Tábua é das comarcas actualmente ameaçadas de extinção, pelo novo mapa
judicial que se pretende pôr em prática.

250
A nexos

Tabuaço (distrito de Viseu): 24 de Junho, festas de São João.

Tarouca (distrito de Viseu): 29 de Junho, festas de São Pedro.9

Tavira (distrito de Faro): 24 de Junho, dia de São João. Ano da deliberação do feriado: 1970.

Terras do Bouro (distrito de Braga): 24 de Junho, dia de São João.

Tomar (distrito de Santarém): 1 de Março, comemoração do início da construção do castelo dos


Templários de Tomar por Gualdim Pais. Ano da deliberação do feriado: 1975.

Tondela (distrito de Viseu): 16 de Setembro, festa em honra de Santa Eufémia.

Torre de Moncorvo (distrito de Bragança): 19 de Março, dia de São José. Ano da deliberação do
feriado: 1959.

Torres Novas (distrito de Santarém): quinta-feira da Ascensão.

Torres Vedras (distrito de Lisboa): 11 de Novembro, dia de São Martinho.

Trancoso (distrito da Guarda): 29 de Maio, dia provável da batalha de Trancoso, entre forças
portuguesas e castelhanas, no contexto da crise de 1383-1385.

Trofa (distrito do Porto): 19 de Novembro, em comemoração da data de votação e aprovação do


concelho da Trofa, na Assembleia da República (19 de Novembro de 1998).

Vagos (distrito de Aveiro): segunda-feira após o domingo de Pentecostes, festa de Nossa Senhora
de Vagos.

Vale de Cambra (distrito de Aveiro): 13 de Junho, festa em honra de Santo António. Ano da deli-
beração do feriado: 1977-1978.

Valença (distrito de Viana do Castelo): 18 de Fevereiro, dia de São Teotónio, santo português
(século xii). Ano da deliberação do feriado: 1977.

Valongo (distrito do Porto): 24 de Junho, dia de São João.

Valpaços (distrito de Vila Real): 6 de Novembro, em comemoração do dia da criação do concelho,


em 6 de Novembro de 1836. Ano da deliberação do feriado: 1935.

Velas (São Jorge, Açores): 23 de Abril, festas em honra de São Jorge, nome da ilha, porque o seu
achamento se terá dado no dia dedicado ao santo.

Vendas Novas (distrito de Évora): 7 de Setembro, em comemoração da criação do concelho, em 7


de Setembro de 1962.

Viana do Alentejo (distrito de Évora): 13 de Janeiro, comemoração da restauração do concelho, em


13 de Janeiro de 1898, concelho que havia sido extinto em Julho de 1895.

Viana do Castelo (distrito de Viana do Castelo): 20 de Agosto, romaria de Nossa Senhora da Agonia.
Ano da deliberação do feriado: 1952 (veio a ser confirmado em 1977).

9 Recorde-se que perto da vila de Tarouca existe o famoso mosteiro de S. Pedro, na sua maior
parte em ruínas.

251
F eriados em Portugal

Vidigueira (distrito de Beja): quinta-feira da Ascensão.

Vieira do Minho (distrito de Braga): segunda-feira após o primeiro sábado de Outubro, por
ocasião da “Feira da Ladra”, feira tradicional de grande relevo no concelho.

Vila de Rei (distrito de Castelo Branco): 19 de Setembro, em comemoração da doação de foral a


Vila de Rei, em 19 de Setembro de 1285, por D. Dinis.

Vila do Bispo (distrito de Faro): 22 de Janeiro, dia do seu padroeiro, S. Vicente.

Vila do Conde (distrito do Porto): 24 de Junho, dia de São João. Ano da deliberação do feriado: 1911.

Vila do Porto (Santa Maria, Açores): 24 de Junho, dia de São João.

Vila Flor (distrito de Bragança): 24 de Agosto, festa do padroeiro, São Bartolomeu.

Vila Franca de Xira (distrito de Lisboa): quinta-feira da Ascensão.

Vila Franca do Campo (São Miguel, Açores): 24 de Junho, dia de São João.

Vila Nova da Barquinha (distrito de Santarém): 13 de Junho, dia de Santo António.

Vila Nova de Cerveira (distrito de Viana do Castelo): 1 de Outubro, em comemoração da doação


do foral pelo rei D. Dinis, em 1 de Outubro de 1321, mandando também construir o castelo.

Vila Nova de Famalicão (distrito de Braga): 13 de Junho, dia de Santo António, realizando-se então
as respectiva festas (de grande antiguidade), com as Feiras Antoninas. Ano da deliberação do
feriado: 1979 (mas já era feriado em 1934).

Vila Nova de Foz Côa (distrito de Guarda): 21 de Maio, em comemoração do primeiro foral, con-
cedido por D. Dinis em 21 de Maio de 1299.

Vila Nova de Gaia (distrito do Porto): 24 de Junho, dia de São João.

Vila Nova de Paiva (distrito de Viseu): 2 de Março, em comemoração da formação do concelho,


em 2 de Março de 1883. Ano da deliberação do feriado: 1981.

Vila Nova de Poiares (distrito de Coimbra): 13 de Janeiro, em comemoração da restauração do


concelho, em 13 de Janeiro de 1898.

Vila Pouca de Aguiar (distrito de Vila Real): 22 de Junho, em comemoração da outorga do foral
por D. Manuel I, em 22 de Junho de 1515. Ano da deliberação do feriado: 1979.

Vila Real (distrito de Vila Real): 13 de Junho, dia de Santo António.

Vila Real de Santo António (distrito de Faro): 13 de Maio, comemoração do dia da conclusão das
obras da vila, em 13 de Maio de 1776 (haviam sido iniciadas em 1774), ou seja, da fundação
da vila, hoje cidade (também é o dia do nascimento de Sebastião José de Carvalho e Melo,
marquês de Pombal: 13 de Maio de 1699).

Vila Velha do Ródão (distrito de Castelo Branco): segunda feira após o quarto domingo de Agosto.10

10 Não conseguimos identificar o motivo que justifica esse feriado.

252
A nexos

Vila Verde (distrito de Braga): 13 de Junho, dia de Santo António.

Vila Viçosa (distrito de Évora): 16 de Agosto, data do nascimento do Dr. Couto Jardim (16 de Agosto
de 1879), médico e estudioso calipolense.

Vimioso (distrito de Bragança): 10 de Agosto, dia de São Lourenço.

Vinhais (distrito de Bragança): 20 de Maio, em comemoração do foral concedido em 20 de Maio


de 1253, por D. Afonso III.

Viseu (distrito de Viseu): 21 de Setembro, festas de São Mateus e importante feira com o mesmo
nome. Ano da deliberação do feriado: 1969.

Vizela (distrito de Braga): 19 de Março, comemoração da restauração do concelho e elevação a


cidade, em 19 de Março de 1998.

Vouzela (distrito de Viseu): 14 de Maio, dia de São Frei Gil, ou São Frei Gil de Santarém (que
assinala a sua morte em 1265), dominicano dos séculos xii-xiii. Ano da deliberação do
feriado: 1973.

2. FESTAS CÍVICAS – QUADRO TIPOLÓGICO

As tipologias que à frente se apresentam são, como é óbvio, meramente referenciais.


Há casos em que a formação do concelho surge em carta de foral. Noutras a elevação de uma
localidade a vila ou mesmo a cidade coincidiu com a formação do respectivo concelho. Nestes
casos, os feriados municipais foram classificados de uma maneira ou de outra em função de nos
parecer que o respectivo município dava maior valor a uma determinada situação.
Por outro lado, na tipologia “Facto histórico”, quando se considera o caso de “Data de signifi-
cado essencialmente local” não se quer dizer que esse facto histórico não tenha também significado
nacional e que até não se pudesse integrar numa das outras categorias. De modo inverso, a coloca-
ção de casos em outras subcategorias não representa que os factos não tenham um significado local,
que, evidentemente, sempre têm.
Também a “Comemoração de Personalidade Local” se poderia, sobretudo em certos casos,
integrar na tipologia “Acontecimento histórico”. No entanto, considerou-se que certas personali-
dades têm um papel singular na memória dos municípios e, por isso, merecem um lugar especial
e uma tipologia própria.
“Acontecimento Local” diz respeito a acontecimentos de carácter comunitário, como feiras,
evocação do trabalho (Dia do Campino, por exemplo), encontro com os que estão fora do país (Dia
do Emigrante é um caso exemplar), etc.

Formação ou restauração do Concelho: 27

Formação de Comarca: 1

Elevação a Vila: 8

Elevação a Cidade: 13

Carta de Foral: 15

Acontecimento local (geralmente feira, inauguração de benfeitoria, por ex. um hospital, dia
comunitário, por ex. do emigrante, etc.): 12

253
F eriados em Portugal

Acontecimento histórico: 17

Fundação da Nacionalidade: 3
Crise de 1383-85: 3
Restauração: 4
Invasões Francesas: 1
Lutas liberais: 1
República: 2
Data de significado essencialmente local: 3

Comemoração de Personalidade Local: 6

Total: 99

3. FESTAS RELIGIOSAS – QUADRO TIPOLÓGICO

Em certos casos estas festas religiosas (que têm muito de profano) não coincidem com dias
fixos, mas verificam-se sim em dias móveis, que têm geralmente a Páscoa como referência. Nome-
adamente é muito considerada a segunda-feira após a Páscoa, que em muitas regiões tem, em si
mesma, um forte sentido comunitário. Nela se prolonga o domingo de Páscoa, em que se dá o
“compasso” (na gíria nortenha) ou a “visita pascal” do pároco ou do seu representante, com o “beijo
da cruz” pelos fieis católicos. Em certos casos também essa cerimónia, em alguns casos já extinta
ou em vias de extinção (nomeadamente nos meios urbanos), também se prolongava ou prolonga
pelo domingo e até pela segunda feira de Pascoela (o domingo após a Pascoa). Todavia, só restam
três feriados municipais nesse dia (que, em boa verdade, é mais considerado nas aldeias), dois dos
quais não foram contabilizados pelo facto de coincidirem com festas religiosas significativas, a que
se deu prioridade. O Pentecostes, que celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e
que se festeja cinquenta dias depois da Páscoa, também serve ainda de referência a poucos feriados
municipais (três), mas não é citado neste estudo quantitativo porque os dias considerados (segunda-
-feira ou terça-feira após o domingo de Pentecostes) correspondem a festas de maior importância.
Já é aqui referida a “quinta-feira das Ascensão”, que é um feriado particularmente importante
em muitos municípios. O seu significado é relevante no plano litúrgico, pois corresponde à ascen-
são de Jesus aos céus, quarenta dias após a Páscoa e dez dias antes do domingo de Pentecostes.
Apesar disso, no entanto, tivemos algumas dúvidas em considerar esse feriado municipal como
festa religiosa. Era, sem dúvida, considerado um dia santo de guarda, sobretudo nos meios rurais,
pelo que era considerado pecado trabalhar nesse dia. Mas, por outro lado, era e é hoje sentido,
fundamentalmente, como uma festa popular comunitária. Na região de Coimbra, há alguns anos
atrás, era o “dia dos museus”, pois era nesse dia que os populares aproveitavam para vir à cidade
visitar os museus. Considerada ainda o “dia da espiga” (é assim que muitos municípios a denomi-
nam), era aproveitada pelas populações rurais ou operárias para fazer merendas no campo ou na
praia, trazendo para casa uma espiga (símbolo do pão), uma papoila (representativa da floração) e
um ramo de oliveira (símbolo da paz, mas talvez, ou sobretudo, ligada à produção do azeite que
iluminava as candeias, nas casas e nas igrejas). Eventualmente benzido, este ramo era colocado em
casa, para proteger a família.
Outros feriados móveis com referência a um domingo de um mês (por exemplo, segunda-feira
após o segundo domingo de Julho ou terça-feira após o segundo domingo de Setembro) marcam
afinal o dia subsequente a qualquer festa local, realizada em data certa mas móvel.

Segunda-feira de Páscoa: 16

Segunda-feira de Pascoela: 1

Quinta-feira da Ascensão: 30

254
A nexos

Jesus Cristo (normalmente festas com referência a qualquer imagem: Senhor de Matosinhos,
Senhor Santo Cristo, etc.): 10

Nossa Senhora (normalmente festas com referência a imagens que se encontram em santuários
e capelas locais): 34

S. José: 3

“Santos Populares”: 64
Santo António: 14
São João: 34
São Pedro: 16

São Martinho (significativo até porque é nesse dia que – de acordo com a tradição – se prova
o vinho e se comem as primeiras castanhas): 5

São Tiago (de algum significado, tendo em conta o santuário de Santiago de Compostela e os
“caminhos de Santiago”): 4

Outros santos (alguns significativos, mas que surgem apenas em um ou outro município.
Por exemplo, Rainha Santa Isabel, São Bento, São Bernardo, São Mateus, etc.): 41

Data de natureza eclesiástica (é o caso singular de Leiria, que celebra a elevação a diocese no
século xvi): 1

Total: 209

255
(Página deixada propositadamente em branco)
VI

FERIADOS E OUTRAS COMEMORAÇÕES EM IMAGENS


A nexos

1. Centenário de Camões (1880). Imagem de partitura da época, com o desenho da estátua do


poeta erguida anos antes em Lisboa (1867), de autoria do escultor Victor Bastos.

2. O monumento aos Restauradores da avenida da Liberdade. Gravura extraída da obra do Visconde


Sanches de Baena, Fastos historicos da Commissão Central 1.º de Dezembro de 1640 ou Monumento
aos Restauradores de Portugal (2.ª parte, Lisboa, 1886).

259
F eriados em Portugal

3. O Império dos feriados cívicos na República. “Feriadophobia”. Caricatura de Moraes


(Alfredo Januário de Moraes) no jornal O Século. Suplemento Illustrado, 1 de Junho de 1911.

260
A nexos

4. “O Natal da República”. Caricatura de Moraes no jornal O Século,


Suplemento Ilustrado, 29 de Dezembro de 1910.

261
F eriados em Portugal

5. Primeiro de Dezembro de 1910, o primeiro feriado celebrado na I República. Caricatura de


Alonso (Joaquim Guilherme Santos Silva) no jornal O Século. Suplemento, 1 de Dezembro de 1910.

262
A nexos

6. O Primeiro de Dezembro de 1911. Caricatura de Moraes no jornal O Século.


Suplemento Ilustrado. 30 de Novembro de 1911.

263
F eriados em Portugal

7. A Bandeira e o Hino.
O primeiro feriado do 5 de Outubro.
Folheto dedicado “Aos portugueses
residentes no Brasil”.

264
A nexos

265
F eriados em Portugal

8. A continuação dos “feriados da República” depois da “Revolução Nacional de 1926”.


Gravura do Almanaque Lello, de 1929.

9. O Primeiro de Dezembro no fim da Ditadura Militar.


Foto do Noticias Ilustrado, 4 de Dezembro de 1932.

266
A nexos

10. As comemorações do Vinte e Oito de Maio no início do Estado Novo.


Foto do Notícias Ilustrado, 4 de Junho de 1933.

11. O Cinco de Outubro no início do Estado Novo.


Foto do Notícias Ilustrado, 14 de Outubro de 1934.

267
F eriados em Portugal

12. O movimento a favor do feriado da Imaculada Conceição, primeiro feriado


nacional de carácter religioso (1948). Fotos de Maria João Reis Torgal.

13. Primeiro de Dezembro de 1952. Concentração em Coimbra, na Praça da República,


de jovens “infantes” da Mocidade Portuguesa. Foto da Papelaria Cristal – Coimbra.

268
A nexos

14. O Cinco de Outubro de 1958 e a oposição, em Lisboa.


Foto cedida pelo ANTT. Álbum nº 128 [letras AJ - 3ª parte], 1405AJ.

269
F eriados em Portugal

15. O Cinco de Outubro nas Escolas durante


as Comemorações do Centenário ( Joane -
Vila Nova de Famalicão, Escola Secundária
Benjamim Salgado, 7 de Maio de 2010).
Foto de Maria João Reis Torgal.

16. A exposição itinerante sobre a República.


Foto de Maria João Reis Torgal.

270
A nexos

17. Cinco de Outubro de 2011, em Lisboa.


Foto de Luís Filipe Catarino / Presidência da República.

18. Primeiro de Dezembro, em 1998, na Sociedade Histórica da Independência


de Portugal, no Palácio da Restauração ou dos Almadas.
Foto gentilmente cedida pelo Museu da Presidência da República.

271
F eriados em Portugal

19. O primeiro Primeiro de Maio (1974).


Foto de Carlos Laranjeiro.

20. O primeiro feriado do Vinte e Cinco de Abril (1975).


Foto de Carlos Laranjeiro.

272
A nexos

21. Dez de Junho de 2012, em Lisboa.


Foto de Luís Filipe Catarino / Presidência da República.

22. O Vinte Cinco de Abril na Assembleia da República (1995).


Foto gentilmente cedida pelo Arquivo da Assembleia da República.

273
F eriados em Portugal

23. Os feriados religiosos extintos: Todos os Santos e Corpo de Deus. Homenagem


aos defuntos em 1 de Novembro de 2010, no cemitério de Beijós (Carregal do Sal), foto de
Sérgio Nunes, e procissão do Corpo de Deus em Coimbra (7 de Junho de 2012),
foto de Carlos Araújo, gentilmente cedida pelo Diário de Coimbra.

274
A nexos

24. Feriados municipais de carácter religioso – o feriado de Coimbra em honra da Rainha Santa
Isabel (4 de Julho de 2012). Foto de Maria João Reis Torgal.

25. Feriados municipais de carácter cívico – o feriado de Penacova (17 de Julho de 2012).
Foto de Ana Luísa Sousa, gentilmente cedida pela Câmara Municial de Penacova.

275
(Página deixada propositadamente em branco)
A nexos

L egendas António José de Almeida, ministro do Interior, corta


mesmo os feriados tradicionais dedicados aos três
1. “santos populares”.
Centenário de Camões (1880). Imagem de partitura
da época, com o desenho da estátua do poeta 4.
erguida anos antes em Lisboa (1867), de autoria do “O Natal da República”. Caricatura de Moraes no
escultor Victor Bastos. jornal O Século, Suplemento Ilustrado,
O Centenário de Camões, ao qual se seguiu o 29 de Dezembro de 1910.
Centenário do Marquês de Pombal (1882), constitui A legislação sobre os feriados da República laicizou
o início do processo comemorativo cívico, com forte todos os feriados. Por isso é natural que se tenham
expressão positivista e republicana. Na verdade, é a laicizado as figuras do Presépio. Mesmo o Menino
partir dele e do descanso semanal (por que lutaram Jesus que é aqui o “Menino República”, apresentado
republicanos mas também monárquicos liberais), que pelo “São Bernardino Machado” aos “Reis Magos” que
se ergue o primeiro plano dos feriados cívicos logo no agora o adoram. Ainda era o tempo do entusiasmo
início da I República (12 de Fevereiro de 1910). republicano e da concórdia da sua família.

2. 5.
O monumento aos Restauradores da avenida da Primeiro de Dezembro de 1910, o primeiro feriado
Liberdade. Gravura extraída da obra do Visconde celebrado na I República. Caricatura de Alonso
Sanches de Baena, Fastos historicos da Commissão ( Joaquim Guilherme Santos Silva) no jornal
Central 1.º de Dezembro de 1640 ou Monumento aos O Século. Suplemento, 1 de Dezembro de 1910.
Restauradores de Portugal (2.ª parte, Lisboa, 1886). A ideia de que os feriados se destinavam sobretudo
O monumento referido, embora só inaugurado em 28 aos funcionários públicos fica bem expressa nesta
de Abril de 1886, foi considerado o grande objectivo caricatura, como também ela revela uma certa imagem
da citada Comissão, instituída em 1861. Em reacção de privilégio e de pouco trabalho que nessa altura
às ideias iberistas, afirmou-se como símbolo de um teria alguma razão de ser, dado que os funcionários,
movimento nacionalista, que, de resto, se conjugava, sobretudo os dos ministérios, eram recrutados entre as
ainda que de modo diferente, com o movimento elites burguesas.
republicano, que teve o seu ponto de arranque durante
as comemorações de Camões e de Pombal (1880 e 1882) 6.
e durante a reacção ao Ultimatum inglês de 1890. O Primeiro de Dezembro de 1911. Caricatura de
O monumento, projectado por António Tomás da Moraes no jornal O Século. Suplemento Ilustrado,
Fonseca e por Sérgio Augusto de Barros, teve como 30 de Novembro de 1911.
escultores José Simões de Almeida e Alberto Nunes. Esta é a caricatura por certo mais interessante
A República deu-lhe um sentido nacional ao hastear ali acerca do feriado do 1.º de Dezembro da República.
a sua bandeira no dia 1 de Dezembro de 1910. A partir Numa crítica irónica à demagogia, o Zé Povinho
de então passou a ser palco de todas as manifestações (figura lendária de Rafael Bordalo Pinheiro) é aqui
nacionalistas desde as do Estado Novo às anticomunistas, “restaurado” na “barbearia”, como “um senhor”.
antes e depois do 25 de Abril, terminando com as Vêem-se, na imagem da esquerda para a direita,
referentes ao protesto contra a extinção do feriado de 1 António José de Almeida (“Atracção” — a sua
de Dezembro, em 2011. estratégia consistia em atrair todos para a República),
Afonso Costa (“Separação” — a separação do Estado
3. das Igrejas), Brito Camacho (“Fomento” — pasta
O Império dos feriados cívicos na República. ministerial que exerceu) e Bernardino Machado
“Feriadophobia”. Caricatura de Moraes (Alfredo (“Diplomacia” — era ministro dos Negócios
Januário de Moraes) no jornal O Século. Estrangeiros no Governo Provisório). A engraxar
Suplemento Illustrado, 1 de Junho de 1911. as botas cambadas do Zé, vê-se José de Alpoim,
A República (recorde-se que Afonso Costa foi o autor proveniente da Dissidência Progressista da Monarquia
da lei de Separação do Estado das Igrejas, de 20 Constitucional.
de Abril de 1911, assinada naturalmente por todos
os membros do Governo Provisório, presidido por 7.
Teófilo Braga) considerou apenas os feriados cívicos A Bandeira e o Hino. O primeiro feriado do 5
(12 de Outubro de 1910), tendo decretado, em 25 de de Outubro. Folheto dedicado “Aos portugueses
Outubro de 1911, que “os dias até agora considerados residentes no Brasil”.
santificados” seriam entendidos como “dias úteis e Os portugueses residentes no Brasil e o Brasil foram
de trabalho para todos os efeitos”. Nesta caricatura, particularmente considerados pela República. Os

277
F eriados em Portugal

primeiros porque deles vinham divisas necessárias 10.


à economia portuguesa e porque era importante As comemorações do Vinte e Oito de Maio no início
convencê-los do significado nacional do novo do Estado Novo. Foto do Notícias Ilustrado,
regime; o “país irmão” porque nele surgira primeiro 4 de Junho de 1933.
a República (15 de Novembro de 1889) e devido aos Apesar de nunca ter sido considerado feriado
laços que a ele nos ligavam. Por isso a República nacional, a não ser ocasionalmente, o 28 de Maio
Portuguesa veio a considerar o dia 3 de Maio feriado (data da chamada “Revolução Nacional”, de 1926,
dedicado à “data do glorioso descobrimento do em que o Estado Novo fazia iniciar o seu ciclo de
Brasil” e haveria de dedicar-lhe particular atenção “Redenção”) foi particularmente celebrado no Estado
no centenário da sua Independência (1922), com a Novo, sobretudo em determinados momentos,
viagem aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral como este, que se realizou no próprio ano da sua
e com a visita do presidente da República António institucionalização. Como se pode verificar por
José de Almeida. A Bandeira e o Hino tornaram-se esta página do Notícias Ilustrado, pronunciaram-se
símbolos nacionais e são ainda hoje, embora o 5 de discursos e realizaram-se paradas militares e uma
Outubro tenha sido eliminado como feriado oficial. manifestação ao Chefe, com a presença mesmo de
soldados das Colónias, na avenida da Liberdade e
8. junto dos Restauradores. Enfim, o jornal dirigido por
A continuação dos “feriados da República” depois Leitão de Barros juntou tudo o que era necessário
da “Revolução Nacional de 1926”. Gravura do para alimentar a mitologia nacionalista do novo
Almanaque Lello, de 1929. regime.
Os “feriados cívicos” foram os únicos a ser
considerados oficialmente quer na Ditadura Militar 11.
quer no Estado Novo, até 1952. No entanto, verifica- O Cinco de Outubro no início do Estado Novo.
se, na prática, a introdução de algumas “festas” Foto da Notícias Ilustrado, 14 de Outubro de 1934.
religiosas e de algumas festas cívicas e mundanas. O Cinco de Outubro, que se manteve como
Assim, entre as primeiras, encontramos a referência feriado nacional no Estado Novo, continuou a ser
à Páscoa, à Ascensão de Cristo (dia de grande comemorado, se bem que de forma oficial e de
significado popular), ao Pentecostes, ao dia de Todos modo militar, com a presença do Presidente da
os Santos e ao Natal. Entre as segundas, para além do República, então general Carmona, e não de Salazar.
Armistício da I Guerra Mundial (11 de Novembro), a
“Terça Feira Gorda” (Carnaval) e a “Pinhata”, primeiro 12.
domingo da Quaresma, em que se realizava um O movimento a favor do feriado da Imaculada
baile e que constituía uma interrupção do tempo de Conceição, primeiro feriado nacional de carácter
sacrifício, em que se jejuava ou se verificavam dias religioso (1948). Fotos de Maria João Reis Torgal.
de abstinência de carne (daí aparecer um peixe na Estranhamente para muitos, os feriados oficiais de
ilustração). Em Portugal há sociedades recreativas natureza religiosa só se iniciaram em 1952, pondo
que ainda realizam esse baile. Em França, com algum fim ao plano de feriados oficiais meramente cívicos.
impacto em Portugal, a meio da Quaresma verifica‑se Na verdade, o Estado Novo manteve até tarde apenas
a chamada mi-carême (meio da Quaresma). os “feriados da República”. Há, porém, até certo
ponto, uma excepção — o feriado da Imaculada
9. Conceição em 8 de Dezembro, dia em que o dogma
O Primeiro de Dezembro no fim da Ditadura foi fixado pela Santa Sé em 1854, pelo papa Pio
Militar. Foto do Noticias Ilustrado, IX, ainda que há muito fizesse parte do calendário
4 de Dezembro de 1932. litúrgico. Através da lei da Assembleia Nacional de 5
Nessa altura ainda não tinham surgido a Mocidade de Junho de 1948, foi considerado feriado nacional,
Portuguesa e a Mocidade Portuguesa Feminina embora desde 1646 Nossa Senhora da Conceição
do Estado Novo (1936 e 1937), nem a Legião fosse homenageada como Padroeira de Portugal.
Portuguesa (1936), que viriam a animar as paradas Esta decisão parlamentar tem, porém, atrás de si
militares dos anos trinta, no tempo da Guerra Civil um movimento dos católicos, iniciado em 1940
de Espanha, e mesmo depois de ela ter terminado. (ano dos centenários da Fundação e da Restauração
Todavia, já se verificava o sentido das paradas, de Portugal). Assim, vê-se em muitas igrejas e em
mesmo que sem farda, dos jovens e das jovens, e, castelos, e nas suas imediações, sinais relativos a esse
como se vê neste caso, das “crianças das escolas”, movimento, como pode verificar-se nesta azulejaria
junto do simbólico monumento aos Restauradores, de 1940 próximo da igreja de Nossa Senhora de
sob o olhar vigilante, maternal mas autoritário, da Almacave, em Lamego, e de 1946 na torre da igreja
velha professora. matriz de Penacova.

278
A nexos

13. do 5 de Outubro, devido à dinâmica dos professores,


Primeiro de Dezembro de 1952. Concentração em que inclusivamente lhe dedicaram publicações
Coimbra, na Praça da República, de jovens “infantes” especializadas, como sucedeu com a revista Ipsis
da Mocidade Portuguesa. Foto da Papelaria Cristal Verbis da Escola Secundária de Oliveira do Hospital.
– Coimbra. No caso da escola de Joane, graças aos professores, os
O 1.º de Dezembro no tempo do Estado Novo alunos fizeram uma exposição com os seus desenhos
teve um halo de nacionalismo, que ainda lhe é e pinturas. Na foto vê-se a caricatura de José Relvas,
característico. Esta concentração de jovens estudantes o militante republicano que, da varanda da Câmara
— eram sempre eles que eram obrigados a desfilar, Municipal de Lisboa, anunciou a proclamação da
depois de um período de entusiasmo espontâneo, República.
já ultrapassado com o fim da guerra — tem algum
significado, pois surge exactamente no ano em que 16.
o Estado Novo lançou um novo plano de feriados, A exposição itinerante sobre a República.
em que incluiu os dias santos (decreto de 4 de Foto de Maria João Reis Torgal.
Janeiro de 1952). Em Coimbra os membros da MP Entre muitas exposições organizadas pela Comissão
dos liceus e das escolas técnicas encontravam-se Nacional para as Comemorações do Centenário da
na Praça da República (como se vê, sem grande República, em 2010 e 2011, para além de muitas outras
sentido “militar”) e seguiam em marcha para a igreja realizadas em todo o país por municípios, escolas,
de Santa Cruz, panteão nacional onde está sepultado associações culturais etc., é digna de salientar a
o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, e exposição itinerante, intitulada “Viva a República!”, que
onde se entoavam sermões de exaltação patriótica, foi visitada por muitos cidadãos de todos os sectores
apresentando-o como exemplo, bem como Nuno sociais. Vêmo-la aqui em Penacova, concelho a que
Álvares, que se encontrava já num dos altares pertence a terra natal de António José de Almeida.
principais da igreja.
17.
14. Cinco de Outubro de 2011, em Lisboa. Foto de Luís
O Cinco de Outubro de 1958 e a oposição, em Filipe Catarino/Presidência da República.
Lisboa. Foto cedida pelo ANTT. Álbum nº 128 O Cinco de Outubro continua a ser um dos dias
[letras AJ - 3.ª parte], 1405AJ. mais simbólicos da República (re)instituída em 1974.
Apesar de o Cinco de Outubro ser celebrado A Bandeira foi um dos mais significativos símbolos
discretamente pelo Estado Novo, durante a da I República, chegando a ser considerada a “festa
presidência de Carmona (até 1951), o certo é que foi da Bandeira Nacional” em 1 de Dezembro, através
a oposição quem mais o festejou, em certo sentido do decreto de 22 de Novembro de 1910. Também a
como movimento de luta pelo que considerava a Constituição de 1976 a consagrou no seu artigo 11.º:
“verdadeira República”, ou seja, não uma “República “A Bandeira Nacional é adoptada pela República
Corporativa”, que caíra numa prática autoritária (ou instaurada pela Revolução de 5 de Outubro de 1910”.
mesmo totalitária), de partido único, e que muitas Assim, ela é hasteada todos os anos nessa data pelos
vezes nomeava de “fascista”, mas uma democracia responsáveis máximos da Nação e pelas autarquias,
multipartidária, marcada pela liberdade e, em sendo considerada, até este ano, um dos feriados
certos meios “não burgueses”, com tendência para a mais representativos da Respublica. Foi isso que
igualdade. A estátua de António José de Almeida, do sucedeu em 2011, vendo na fotografia o Presidente da
escultor Leopoldo de Almeida, inaugurada em pleno República a erguer a Bandeira, na varanda da Câmara
Salazarismo, em 31 de Outubro de 1937, foi um dos Municipal de Lisboa, onde a República foi proclamada
lugares de celebração. Assim sucedeu em 1958, data por José Relvas. Cavaco Silva é acompanhado pelo
particularmente significativa, pois nesse ano, em 8 Primeiro Ministro, Passos Coelho, pela Presidente da
de Junho, realizaram-se as eleições presidenciais Assembleia da República, Assunção Esteves, e por
que tiveram como candidatos Humberto Delgado outras individualidades, que não se divisam na foto.
e Arlindo Vicente, que desistiu a favor do chamado Estranhamente, pelo novo Código do Trabalho, será
“general sem medo”. em 2012 que se celebra pela última vez o Cinco de
Outubro como feriado oficial.
15.
O Cinco de Outubro nas Escolas durante as 18.
Comemorações do Centenário ( Joane - Vila Nova Primeiro de Dezembro, em 1998, na Sociedade
de Famalicão, Escola Secundária Benjamim Salgado, Histórica da Independência de Portugal, no Palácio
7 de Maio de 2010). Foto de Maria João Reis Torgal. da Restauração ou dos Almadas, sendo Presidente
As escolas foram centros de difusão das memórias da República Jorge Sampaio e Primeiro Ministro

279
F eriados em Portugal

António Guterres. Foto gentilmente cedida pelo 21.


Museu da Presidência da República. Dez de Junho de 2012, em Lisboa. Foto de Luís
A SHIP tem sido o garante da celebração da Filipe Catarino / Presidência da República.
Restauração da Independência desde 1861, altura “Festa nacional” depois de 1925, foi assumindo
em que se instituiu a Comissão Central Primeiro vários significados, desde dia de Camões, dia
de Dezembro de 1640, que a antecedeu. Também de Portugal e, finalmente, “dia de Camões, de
hoje passa por ela a luta contra a extinção do Portugal e das Comunidades”. Após 1963, com as
feriado, através da lei de alteração do Código “Campanhas Ultramarinas” ou “Guerra Colonial”,
do Trabalho (Lei n.º 23/2012, de 25 de Junho de tornou-se um tempo especialmente dedicado a
2012). Jorge Sampaio foi um dos presidentes da atribuir as condecorações militares, algumas a título
República que pretendeu dar um sentido mais póstumo. Mas, depois do 25 de Abril de 1974,
“actual” à celebração. Em 2000 o feriado verificar- passou o Presidente da República, como Grão-Mestre
se-ia em Alcobaça, lugar simbólico, pois foram os das Ordens, a atribuir, fundamentalmente, ordens
seus monges cronistas que pretenderam justificar honoríficas, do Infante D. Henrique, da Liberdade e
historicamente a Restauração. de Mérito Civil. Com uma comissão nomeada para
a sua organização oficial, o 10 de Junho alargou o
19. seu raio de acção a diversos pontos do país e das
O primeiro Primeiro de Maio (1974). comunidades portuguesas no estrangeiro. Estando à
Foto de Carlos Laranjeiro. frente da Comissão Organizadora das Comemorações
O feriado do Primeiro de Maio foi o primeiro feriado em 2012, António Nóvoa, reitor da Universidade de
da Revolução do 25 de Abril (decreto de 27 de Abril Lisboa, proferiu no Auditório da Reitoria, onde se
de 1974), embora alguns municípios o tivessem realizou a cerimónia oficial, presidida por Aníbal
considerado, episodicamente, como feriado regional Cavaco Silva, Presidente da República, perante as
logo desde 1910, por influência dos acontecimentos primeiras figuras do Estado e outros convidados, um
de Chicago de 1886. O primeiro feriado do “dia do discurso muito critico relativamente à actual situação
Trabalhador” congregou todas as forças que lutaram europeia e portuguesa.
pela Democracia. É conhecida a fotografia de Mário
Soares e Álvaro Cunhal, simbólica de uma união que 22.
se veria ser de circunstância, como hoje é ainda a boa O Vinte Cinco de Abril na Assembleia da República
relação entre o PS e o PCP, a CGTP-Intersindical e a (1995). Foto gentilmente cedida pelo Arquivo da
UGT. A foto que se apresenta retrata o 1.º de Maio Assembleia da República.
em Coimbra, na avenida Sá da Bandeira, espaço de Para além das manifestações populares, a Assembleia
grandes desfiles e cortejos. da República, como representante da Democracia,
é o lugar por excelência das comemorações mais
20. significativas do país, como sucede com o 25 de
O primeiro feriado do Vinte e Cinco de Abril (1975). Abril. Nesta fotografia, Mário Soares, como Presidente
Foto de Carlos Laranjeiro. da República, e Barbosa de Melo, Presidente da
A importância conferida ao 25 de Abril de 1974 no Assembleia da República, presidem à cerimónia, com
quadro da Democracia está simbolizada nas suas o cravo vermelho ao peito, símbolo do “espírito de
celebrações de rua, mas também no Preâmbulo da Abril”.
Constituição de 1976. A sua importância chegou
ao ponto de, episodicamente, ter sido considerado 23.
“dia de Portugal”, para se vir a converter para Os feriados religiosos extintos: Todos os Santos e
sempre, simbolicamente, em “dia da Liberdade”. Corpo de Deus. Homenagem aos defuntos em 1 de
Apesar de alguma desilusão, que faz com que se Novembro de 2010, no cemitério de Beijós (Carregal
pense por vezes mais na memória do 25 de Abril do Sal), foto de Sérgio Nunes, e procissão do Corpo
e na sua utopia, em função da crise que assola o de Deus em Coimbra (7 de Junho de 2012), foto de
país e a Europa (que foi tida ingenuamente como Carlos Araújo, gentilmente cedida pelo Diário de
um “Eldorado”), o certo é que a recordação desse Coimbra.
dia continua ainda viva, mesmo entre aqueles De acordo com o novo Código do Trabalho, e apesar
que não conheceram a “Revolução dos Cravos”, do esforço do Vaticano para limitar a acção do Estado
graças à difusão da sua história e das suas histórias, português apenas à sua suspensão por cinco anos,
nomeadamente nas escolas, nos dias anteriores ao foram extintos como feriados oficiais — para além
aniversário. Nesta fotografia retrata-se o 25 de Abril do 5 de Outubro (República) e do 1 de Dezembro
de 1975, em Coimbra, podendo ver-se algumas figuras (Restauração) — os dias do Corpo de Deus (móvel)
conhecidas, como membros do MFA. e de Todos os Santos (1 de Novembro). Desta forma,

280
A nexos

se a liturgia religiosa se pode manter — no caso do 25.


dia do Corpo de Deus com uma procissão, popular Feriados municipais de carácter cívico – o feriado
entre os católicos, e no dia de Todos os Santos com de Penacova (17 de Julho de 2012). Foto de Ana
missa alusiva ao dia e romagem aos cemitérios (que Luísa Sousa, gentilmente cedida pela Câmara
deveria antes realizar‑se no dia 2 de Novembro, dia Municipal de Penacova.
de Finados) —, o certo é que se está a assistir aos Só 32% dos 308 municípios têm feriados dedicados
últimos feriados oficiais, sendo apresentada como a causas cívicas e poucos dizem respeito, por assim
motivo da sua extinção a produtividade necessária dizer, a “causas cívicas contemporâneas”. Um deles é
em tempo de austeridade. Pela primeira vez é o município de Penacova, concelho em que nasceu
utilizado este argumento para extinguir feriados, tanto António José de Almeida, em Vale da Vinha, freguesia
religiosos como cívicos. de São Pedro de Alva (nessa altura Farinha Podre), no
dia 17 de Julho de 1866. Daí que no dia 5 de Outubro
24. de 1976 tivesse sido inaugurado um busto em sua
Feriados municipais de carácter religioso — honra, colocado no pequeno jardim junto da pérgola
o feriado de Coimbra em honra da Rainha de Raul Lino, da autoria do escultor conimbricense
Santa Isabel (4 de Julho de 2012). Foto de Maria Cabral Antunes. Nesse mesmo ano, em 28 de Maio,
João Reis Torgal. a Assembleia Municipal deliberou por unanimidade
A grande maioria dos feriados municipais (68%) são consagrar o dia de nascimento do antigo politico
de carácter religioso, ainda que neles se misture o republicano como feriado municipal. O feriado tem
sagrado e o profano. Isso é evidente nos festejos de decorrido sob a forma de manifestação cívica mais ou
Santo António, em Lisboa, ou de São João, no Porto menos formal, embora em 2011 se tivesse realizado
e em vários outros municípios, que têm um carácter também uma festa popular. Neste ano de 2012, de
essencialmente popular, o mesmo sucedendo na austeridade, limitou-se a uma sessão pública em que
Quinta Feira da Ascensão ou nas grandes romarias foram atribuídas medalhas aos funcionários municipais
do país. As festas da Rainha Santa, em Coimbra, não com mais de 25 anos de serviço. Mas verificou-se
fogem a esta regra, tendo, porém, o seu programa uma outra situação importante. Devido à alteração
profano um carácter mais urbano e cultural. Sendo o urbanística do centro da vila, o busto de António José
feriado no dia 4 de Julho, aniversário da sua morte de Almeida foi deslocado do lugar primitivo para um
(em 1336, em Estremoz), é sempre numa quinta- espaço mais relevante, em frente à Câmara Municipal,
‑feira que se realiza um dos actos mais significativos, cujas presidência e vereação, para além de outras
a procissão da noite ou “da penitência”, em que se figuras representativas do concelho, se encontram
transporta num andor a imagem da santa (da autoria nesta foto.
de Teixeira Lopes) do antigo mosteiro de Santa Clara-
a-Nova para o centro de Coimbra, onde é saudada
depois de atravessar o Mondego. Durante cerca de
três dias ficava na igreja do antigo Colégio da Graça
até que, no domingo seguinte, regressava a Santa
Clara. Porém, neste ano de 2012 ficou, como era
costume há muito tempo, na igreja de Santa Cruz.

281
H I S TÓ R I A C O NT E M P ORÂ NE A

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