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Maimônides - Mishne Torá

O documento apresenta o índice da Mishné Torá, que inclui a introdução de Maimônides sobre a transmissão da Torá desde o Monte Sinai, a lista dos preceitos positivos e negativos, e a divisão dos 14 livros da Mishné Torá. Cada livro aborda diferentes aspectos da lei judaica, incluindo leis sobre comportamento, estudo da Torá, idolatria e arrependimento. O texto também menciona a importância da jurisprudência e a transmissão oral da lei ao longo das gerações.

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Ane Vieira
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Maimônides - Mishne Torá

O documento apresenta o índice da Mishné Torá, que inclui a introdução de Maimônides sobre a transmissão da Torá desde o Monte Sinai, a lista dos preceitos positivos e negativos, e a divisão dos 14 livros da Mishné Torá. Cada livro aborda diferentes aspectos da lei judaica, incluindo leis sobre comportamento, estudo da Torá, idolatria e arrependimento. O texto também menciona a importância da jurisprudência e a transmissão oral da lei ao longo das gerações.

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Mishné Torá – Índice

1 Introdução (pelo próprio Maimônides)


- As transmissões da Torá desde o Monte Sinai até os nossos dias

Lista dos preceitos segundo Maimônides


Parte 1 Os 248 Preceitos Positivos
Parte 2 Os 365 Preceitos Negativos (Proibições)

Divisão dos 14 Livros da Mishné Torá (como Maimônides fez)


Parte 3
1. Livro da Sabedoria
2. Livro do Amor
3. Livro dos Períodos
4. Livro das Mulheres
5. Livro da Santidade
6. Livro da Magnificência
7. Livro das Sementes
8. Livro do Serviço Divino
9. Livro dos Sacrificios
10. Livro da Pureza
11. Livro dos Danos
12. Livro das Aquisições
13. Livro dos Julgamentos
14. Livro dos Juízes

Livro Primeiro, Chamado Livro da Sabedoria

As Leis Fundamentais da Torá


Capítulo I
Que há um Ser Primeiro, que é o Senhor do Universo • Que não há ninguém, somente Ele •
Que Ele não é corpo nem forma • O significado dos trechos da Torá em que se diz que o
Eterno tem olhos, mãos, ouvidos • O conteúdo do que Moisés pediu ao Eterno e sua
revelação.
O Mandamento de ter amor ao Eterno • A divisão em três partes de todas as criaturas • Os
sábios orientaram a não ensinar isto em público.
Capítulo III
Os nomes das esferas, os números e a sua ordem • Que elas têm alma e sabedoria • A
essência dos quatro elementos e sua ordem.
Capítulo IV
Todas as criaturas sob o céu são compostas desses quatro elementos • Sob que forma foi
criado o Homem • Alguns nomes que tais formas têm • A diferença entre Maasê Bereshit e
Maassê Mercavá.
Capítulo V
Cada judeu tem obrigação de santificar o Nome d'Ele • Quando se deve deixar matar para
não transgredir e quando se deve fazer o contrário • Pode-se curar através da idolatria, do
adultério e da matança de seres humanos? • O que significa 'profanação do Eterno' • A
conduta de um rabino para com os seus discípulos e para com qualquer ser humano.
Capítulo VI
A proibição de desprezar os Nomes Sagrados • Quais são eles? Quais deles podem ser
apagados? • Quem destrói objetos sagrados • Quando um não-judeu escreve o Nome do
Eterno.
Capítulo VII
Quando é que se está apto a receber profecia em seus vários níveis.
Capítulo VIII
Os sinais que Moisés fez por causa das necessidades e não para que se cresse nele.
Capítulo IX
Nenhum profeta pode acrescentar ou diminuir os Mandamentos • Como cumpriremos nas
gerações futuras tendo um profeta 126 entre nós.
Capítulo X
Qual o sinal que o profeta deve fazer para que se creia nele • Quantas vezes e quais se
deve prová-lo • Quem é considerado 129 profeta e se se pode duvidar dele.
Notas ao Livro Primeiro

Leis Sobre o Comportamento


Capítulo I
Há vários tipos de comportamento e de tendências entre os seres humanos • O melhor
caminho é o do meio • Como é que se chega a isto.
Capítulo II
Por que às vezes é bom ir ao extremo.
Capítulo III
Se é aconselhável ao homem privar-se mais do que a Torá exige.
Capítulo IV
Como é a dieta e o comportamento para se ter boa saúde • Alguns 140 itens que uma
cidade precisa preencher para que um erudito possa viver nela.
Capítulo V
O homem é reconhecível através das suas ações e no seu trabalho.
Capítulo VI
O homem precisa se apegar às pessoas virtuosas • O amor que se deve ter ao próximo, a
um judeu e a um convertido • Sobre 145 o ódio e a raiva para com o próximo • É um dever
perdoar e advertir o seu próximo • Não envergonhar ninguém • Os cuidados com os órfãos
e como se comportar com eles • Até que idade se é considerado órfão.
Capítulo VII
As leis sobre o alcoviteiro, o difamador, seus indícios e outros semelhantes • Sobre a
vingança e o ressentimento.
Notas às Leis sobre o Comportamento

Leis Sobre o Estudo da Torá


Capítulo I
Quem tem a obrigação de estudar e ensinar • Qual a idade em que o pai começa a ensinar a
Torá ao filho • Se se pode ensinar por honorários • A pessoa precisa dividir o horário de
estudos em três partes • Se uma mulher que estudou a Torá tem recompensa.
Capítulo II
Leis sobre como organizar os professores para ensinar as crianças • Quando há permissão
para isentar crianças do estudo. Como se deve ensinar • Não ensinar crianças quando não
se é casado • O número de alunos para cada professor • Quando alguém do lugar quer ser
professor.
Capítulo III
O estudo da Torá equivale a todos os outros Mandamentos • Como deve ser o
comportamento quando se quer estudar • Proibido usufruir dos conceitos da Torá • A
recompensa de quem estuda a Torá • Quando alguém não estuda a Torá à noite.
Capítulo IV
O que acontece quando se ensina a Torá a um mau aluno • A ordem de um rabino ensinar a
um seu aluno • Como devem ser os seus assentos • Comportamento do explanador •
Quando se deve perguntar ao professor • A quem se deve responder primeiro • Se se
responde "saúde" quando alguém espirra.
Capítulo V
A honra rendida ao mestre é maior que a rendida ao pai • Quando os dois estão
aprisionados, quem deve ser resgatado primeiro • Se o pai é um erudito pode ele vir antes
do mestre? • O ma I quando se diverge ou se duvida do mestre • Quando é proibido dizer
as Leis na frente do mestre • Quem está apto a ser um orientador • A proibição do chamar
o mestre pelo seu próprio nome • Como deve ser o comportamento para com o mestre •
Quando ele fala algo que não ouviu do seu mestre. Quando o mestre dele falece, se ele
deve rasgar as suas roupas e se pode costurá-las • Se o mestre quer dispensar as honrarias
• Se o mestre deve honrar os seus alunos.
Capítulo VI
É obrigação honrar e respeitar um erudito • Quando e até quando se deve ficar de pé diante
de um erudito • A diferença entre um erudito, o chefe de um tribunal e o líder do povo em
relação ao ato de se levantar • O aluno que está em pé, quando ele pode sair • É preciso se
levantar quando passa uma pessoa idosa. Não recolher taxas dos eruditos • A mercadoria
deles dever ser vendida antes das outras • Sobre quando alguém despreza os sábios
durante a vida destes ou depois • Todas as leis sobre excomunhão em relação ao sábio e a
outros.
Capítulo VII
Se se pode excomungar um erudito, um idoso, o chefe do tribunal ou um líder • Todas as
outras leis sobre excomunhão • Deve-se tentar ao máximo se afastar desses atos.
Notas às Leis sobre o Estudo da Torá

Leis Sobre a Idolatria e a Conduta dos Idólatras


Capítulo I
Como evoluiu a idolatria até a vinda do nosso Patriarca Abraão • Como ele reconheceu o
Onipotente • Como ele começou a espalhar este conceito no mundo.
Capítulo II
O conceito principal de idolatria (quando se idolatra qualquer criatura) • A proibição de olhar
os livros de idolatria • A proibição de olhar os ídolos • Sobre quem é ateu entre os judeus •
Sobre os blasfemadores.
Capítulo III
Quando alguém idolatra conscientemente e não-proposita damente • Quando alguém o faz
sem seguir os rituais de idolatria • Quando se pratica um dos quatro serviços da idolatria •
O que acontece quando se volta atrás no que já se disse • Todas as leis sobre idolatria
(quando se a praticou ou formou para si ou para os outros).
Capítulo IV
Todas as leis relacionadas a uma cidade que se tornou idólatra.
Capítulo V
As leis sobre o instigador e o falso profeta • A proibição de mencionar os nomes de idolatria.
Capítulo VI
As leis sobre necromantes, adivinhos, etc • Outros tipos de idolatria • Proibição de fazer
pedras iguais às do Templo • Proibição de plantar árvores perto do altar.
Capítulo VII
As leis sobre a proibição de usufruir da idolatria e de tudo o que diz respeito a ela.
Capítulo VIII
Como se deve proceder com objetos que foram usados para idolatria • Corno são anulados.
Capítulo IX
Os dias festivos que estão ligados à idolatria • Proibição de ter negócios com idólatras.
Capítulo X
As leis relacionadas com idólatras e ateus.
Capítulo XI
As leis sobre a proibição de se comportar como os outros povos, magia, etc.
Capítulo XII
Leis sobre os cortes de cabelo e suas conseqüências.
Notas às Leis sobre a Idolatria

Leis Sobre o Arrependimento


Capítulo I
A virtude do arrependimento • O seu processo • O efeito dos sacrifícios que são trazidos.
Capítulo II
Quando se deve anunciar os pecados e quando não se deve • A época que é mais propícia
para se arrepender • Que o jejum do lont Quipur redime os pecados • Como se deve pedir
desculpas ao próximo.
Capítulo III
O processo em que alguém pecou contra o próximo e este morreu • Quem é chamado
virtuoso, mau e intermediário • Quando alguém se arrepende dos mandamentos que
praticou • Quando alguém tem dúvidas sobre os seus méritos • A razão por que se toca
shofar • O processo em que o Eterno perdoa e através do qual se fica totalmente sem
pecado Quando os não-judeus têm parte no mundo vindouro • Quem são os que têm parte
no mundo vindouro e quem não tem.
Capítulo IV
Explica as várias condutas que atrapalham o arrependimento.
Capítulo V
O que é livre-arbítrio e a escolha do ser humano.
Capítulo VI
Continuação do capítulo V • Quais são os pecados que recebem castigo neste mundo
também • Quais os que são castigados somente no outro inundo.
Capítulo VII
Como deve ser o comportamento de quem se arrepende • O arrependimento deve ser
também sobre sentimentos que não se traduziram em ações • Vários níveis de
arrependimento.
Capítulo VIII
Qual é a recompensa dos virtuosos • Qual é o castigo para os maus • Se há coisas físicas no
mundo vindouro • O significado do "ter o brilho que vem do Eterno" • A diferença entre
nefesh e neshatná • O que é o castigo que a Torá menciona.
Capítulo IX
A explicação da recompensa e das maldições neste mundo.
Capítulo X
Como se deve servir ao Eterno e como se deve chegar a isso.
Notas às Leis sobre o Arrependimento

Apêndice
Lei dos Reis (de Israel) "Juizes"
Capítulo XI
A explicação sobre a chegada do Messias • Retornará o reinado da época do Rei Davi.
Capítulo XII
O mundo continuará normalmente tanto na época do Messias como agora • Virá o Profeta
antes do Messias • A restauração das linhagens familiares • O comportamento do povo
judeu, das outras nações e das criaturas na época da vinda do Messias.
Notas ao Apêndice

Ani Maanin — Eu Acredito


Os Treze Princípios Básicos do Judaísmo

Cronologia de Maimônides
Datas Importantes e Eventos na Vida de Rambarn
Mishné Torá – Introdução

As transmissões da Torá desde o Monte Sinai até os nossos dias

"Então eu não me envergonharei quando eu olhar os Teus Mandamentos"


(SL. 119:6).

Os preceitos que Moisés recebeu no Sinai foram dados juntamente com a sua
jurisprudência, como está escrito: "E Eu te darei as Tábuas de pedra, a Torá e o
Mandamento (lei escrita)" (Êxodo 24:12).
"Torá" se refere à Torá Escrita; "Mandamento", à sua jurisprudência.
D..S nos pediu para cumprir a lei segundo o "Mandamento", que significa a Torá
oral, que é a sua jurisprudência, a chamada "lei oral".
Toda a Torá foi escrita por Moisés, o nosso Mestre, por suas próprias mãos, antes
de falecer.
Ele apresentou um rolo a cada tribo, e colocou um na Arca para servir de
testemunho, como está escrito: "Tome este livro da Torá e coloque-o ao lado da
Arca da Aliança do Senhor, teu D..S, que ele esteja lá como um testemunho em ti"
(Dt. 31:26).
A "jurisprudência", que é a vontade da sabedoria, Moisés não a escreveu, mas
revelou seu sentido aos anciãos, a Josué e ao restante de Israel, conforme está
escrito: "Tudo o que lhes ordeno, devereis obedecer" (Dt. 4:2).
A partir daí, está definida a Lei Oral.
A Lei Oral, embora não estivesse escrita, Moisés ensinou a sua íntegra em sua
corte, aos setenta anciãos, como também a Eleazar, Finéias e Josué — os três'
receberam-na de Moisés.
Para Josué, seu discípulo, o nosso mestre Moisés entregou a Lei Oral, incumbindo-o
dela.
Da mesma forma, Josué, durante toda a sua vida, ensinou oralmente.
Muitos anciãos receberam a Lei Oral de Josué.
Eli recebeu-a dos anciãos e de Finéias; Samuel, de Eli e sua corte.
Davi, de Samuel e seu tribunal.
Ahia, o silonita, estava entre aqueles que tinham vindo do Egito.
Ele era um Levita e aprendera a Lei de Moisés, em sua infância.
Ele recebeu a Lei Oral de Davi e seu tribunal.
Elias recebeu-a de Ahia, o silonita, e seu tribunal.
Eliseu, de Elias e seu tribunal.
Jeoiada, o sacerdote, de Eliseu e seu tribunal.
Zacarias, de Jeoiada e seu tribunal.
Oséias, de Zacarias e seu tribunal.
Amós, de Oséias e seu tribunal.
Isaías, de Amós e seu tribunal.
Miquéias, de Isaías e seu tribunal.
Joel, de Miquéias e seu tribunal.
Naum, de Joel e seu tribunal.
Habacuque, de Naum e seu tribunal.
Zefanias, de Habacuque e seu tribunal.
Jeremias, de Zefanias e seu tribunal.
Baruque, o filho de Neria, de Jeremias e seu tribunal.
Esdras e seu tribunal receberam-na de Baruque e seu tribunal.
Os membros do tribunal de Esdras são chamados de "Os Homens da Grande
Assembléia".
Eram eles Ageu, Zacarias, Malaquias, Daniel, Ananias, Misael e Azaria, Neemias o
filho de Hacalias, Mordecai, Zerubabel e muitos outros Sábios, totalizando
conjuntamente cento e vinte Anciãos.
O último deles foi Simão, o Justo.
Ele recebeu a Lei Oral de todos eles e foi sumo-sacerdote após Esdras. Antígono de
Soco e seu tribunal receberam a Lei Oral de Simão, o Justo, e seu tribunal.
Iossei, o filho de Joézer de Zeredá, e José, o filho de Iohanam de Jerusalém, e seus
tribunais (receberam-na) de Antígono e seu tribunal.
Josué, o filho de Peraquia, e Nitai o arbelita e seu tribunal (receberam-na) de Iossei
o filho de Joézer e de José o filho de Iohanan e seus tribunais.
Judá, o filho de Tabai, e Simão, o filho de Shetá e seus tribunais receberam de
Josué, o filho de Peraquia, e de Nitai, o arbelita, e seus tribunais.
Shemaiá e Abtalion, prosélitoss e seus tribunais receberam de Judá e Simão e seus
tribunais.
Hilel e Shamai e seus tribunais receberam de Shemaiá e de Abtalion e seus
tribunais.
Raban Iohanan, o filho de Zacai, e Raban Simeão, o filho de Hilel, receberam de
Hilel e seu tribunal.
Raban Iohanan ben-Zacai tinha cinco discípulos que eram os mais destacados entre
os eruditos que dele receberam a Lei Oral.
Eram eles, Rabi Eliézer, o Grande, Rabi Ioshua, Rabi Iossi, o Sacerdote, Rabi
Simeão, o filho de Natanael, e Rabi Eleazar, o filho de Arac.
Rabi Aquiba, o filho de José, recebeu a Lei Oral de Rabi Eliézer, o Grande. José, seu
pai, foi um convertido.
Rabi Ismael e Rabi Meir, filho de um prosélito, receberam a Lei Oral de Rabi Aquiba.
Rabi Meir e seus companheiros também receberam-na de Rabi Ismael.
Os confrades de Rabi Meir eram Rabi Judá, Rabi Iossi, Rabi Simeão, Rabi Neemias,
Rabi Eleazar, o filho de Shamua, Rabi Iohanan, o sapateiro, Simeão, o filho de Azai,
e Rabi Ananias, o filho de Teradion.
Os companheiros de Rabi Aquiba também receberam a Lei Oral de Rabi Eliézer, o
Grande.
Os confrades de Rabi Aquiba foram Rabi Tarfon, o Mestre de Rabi Iossi, o Galileu,
Rabi Simeão, o filho de Eleazar, e Rabi Iohanan, o filho de Nuri.
Raban Gamaliel, o Velho, recebeu a Lei Oral de Raban Simeão, seu pai, filho de
Hilel, o Antigo.
Raban Simeão, seu filho, recebeu-a dele.
Raban Gamaliel, seu filho, recebeu-a dele.
Raban Simeão, seu filho, recebeu-a dele.
Rabi Judá, o filho de Raban Simeão, é o Rabi, chamado Rabenu Hacadoshe (nosso
mestre, o Santo).
Ele recebeu a Lei de seu pai e de Rabi Eleazar, o filho de Shamua, e de Rabi
Simeão, confrades de seu pai.
O Rabenu Hacadoshe compilou a Mishná.
Desde a época de Moisés até o Rabenu Hacadoshe, não se havia composto nenhum
traballho através do qual se tivesse ensinado publicamente a Lei Oral. Mas em cada
geração, o líder do tribunal ou o profeta daquela época anotara para o seu uso
particular um memorando das tradições que aprendera de seus Mestres, as quais
ensinava oralmente em público.
Da mesma forma, cada discípulo anotava, segundo a sua habilidade, a exposição da
Torá e suas jurisprudências, conforme as ouvira, como também os novos assuntos
que iam aparecendo em cada geração, que não haviam sido recebidos pela
tradição, mas deduzidos pela aplicação das treze regras hermenêuticas, e que
foram adotados pelo Supremo Tribunal.
Este era o método utilizado até a época do Rabenu Hacadoshe.
Ele fez a consolidação de todas as tradições, estatutos, jurisprudências e
exposições de cada parte da Torá, transmitidas de Moisés, Nosso Mestre, ou
deduzidas pelos tribunais através de gerações sucessivas.
Todo esse material foi por ele redigido na Mishná, que foi assiduamente ensinada
em público, tornando-se, assim, conhecida universalmente entre os judeus.
Suas cópias foram feitas e amplamente disseminadas, para que a Lei Oral não fosse
esquecida pelo povo de Israel.
Por que o Rabenu Hacadoshe agiu desta forma, ao invés de deixar as coisas como
estavam?
Porque ele observou que o número de discípulos estava diminuindo, catástrofes
aconteciam continuamente, o cruel governo (romano) estendia o seu domínio, seu
poder aumentava e os judeus vagavam e emigravam para países distantes.
Portanto, ele compôs uma obra para servir de manual para todos, e o teor de tal
obra seria rapidamente estudado e não seria esquecido.
Durante toda a sua vida, ele e seus confrades se dedicaram a dar instrução pública
sobre a Mishná.
Entre os sábios membros do tribunal do Rabenu Hacadoshe, que dele receberam
instrução sobre a Lei Oral, os seguintes foram os mais destacados: seus filhos
Simeão e Gamaliel, Rabi Efes, Rabi Hanina, filho de Homo, Rabi Hia, Rav, Rabi
lanai, Rabi Bár-Caporo, Shmuel, Rabi Iohanan e Rabi Oséias. Estes eram os mais
ilustres dos Sábios que dele receberam instrução, dentre dezenas de milhares de
outros eruditos.
Embora estes onze sejam mencionados como tendo recebido a Jurisprudência de
Rabenu Hacadoshe e tenham freqüentado a sua Academia, o Rabi Jochanan era
uma criança à época, e em período subseqüente, foi aluno do Rabi lanai, de quem
recebeu a Jurisprudência.
Rav também recebeu a Jurisprudência de Rabi lanai, do mesmo modo como Samuel
a recebeu de Rabi Hanina, filho de Hama.
Rav compilou o sifrá e os sifrê, cujo propósito é aclarar os princípios da Mishná. R.
Hia compilou a Tossefta para explicar o tema da Mishná.
Da mesma forma, Rabi Oséias e Bar Caporo compilaram baraitas para elucidar o
texto da Mishná.
Rabi Iohanan compôs o Talmude de Jerusalém na Palestina, aproximadamente três
séculos após a destruição do Segundo Templo.
Entre os sábios destacados que receberam a Lei (Oral) de Rav e Samuel estavam
Rav Huna, Rav Judá, Rav Nahman e Rav Cahana.
Entre os sábios distinguidos que receberam tal instrução de Rabi Iohanan
encontravam-se Rabá, neto de Haná, Rav Ami, Rav Assi, Rav Dimi e Rav Abin.
Entre os sábios que foram assim instruídos por Rav Huna e Rav Judá estavam Rabá
e Rav Iossef.
Entre os discípulos de Rabá e Rav Iossef estavam Abaié e Rava.
Os dois últimos também foram instruídos por Rav Nahman.
Entre os discípulos de Rava se encontravam Rav Achi e Ravina.
Mar, filho de Rav Achi, foi instruído por seu pai, Rav Achi, e por Ravina. Portanto,
recontando a partir de Rav Achi até Moshé Rabenu (sobre os quais haja paz), houve
quarenta gerações de eruditos (que receberam a Lei Oral de seus predecessores em
sucessão ininterrupta), da seguinte maneira:
(1) Rav Achi recebeu de Rava;
(2) Rava, de Rabá;
(3) Rabá, de Rav Huna;
(4) Rav Huna, de Rabi Iohanan, Rav e Samuel;
(5) Rabi Iohanan, Rav e Samuel, do Rabenu Hacadoshe;
(6) o Rabenu Hacadoshe, de seu pai, Rabi Simão;
(7) Rabi Simão, de seu pai, Raban Gamaliel;
(8) Raban Gamaliel, de seu pai, Raban Simão;
(9) Raban Simão, de seu pai, Raban Gamaliel, o Velho;
(10) Raban Gamaliel, o Velho, de seu pai, Raban Simeão;
(11) Raban Simeão, de seu pai, Hilel e de Shamai;
(12) Hilel e Shamai, de Shemaiá e Abtalion;
(13) Shemaiá e Abtalion, de Judá e Simeão;
(14) Judá e Simeão, de Josué, filho de Perahia e de Nitai, o arbelita;
(15) Josué e Nitai, o arbelita, de Iossi, filho de Joézer e de José, filho de Iohanan;
(16) Iossi, filho de Joézer, e José, filho de Iohanan, de Antígono;
(17) Antígono, de Simeão, o Justo;
(18) Simeão, o Justo, de Esdras;
(19) Esdras, de Baruque;
(20) Baruque, de Jeremias;
(21) Jeremias, de Zefanias;
(22) Zefanias, de Habacuque;
(23) Habacuque, de Naum;
(24) Naum, de Joel;
(25) Joel, de Miquéias;
(26) Miquéias, de Isaías;
(27) Isaías, de Amós;
(28) Amós, de Oséias;
(29) Oséias, de Zacarias;
(30) Zacarias, de Jeoiada;
(31) Jeoiada, de Eliseu;
(32) Eliseu, de Elias;
(33) Elias, de Ahia;
(34) Ahia, de Davi;
(35) Davi, de Samuel;
(36) Samuel, de Eli;
(37) Eli, de Finéias;
(38) Finéias, de Josué;
(39) Josué, de Moshe Rabenu;
(40) Moshé Rabenu, o mestre de todos os profetas, do Eterno D..S de Israel. Todos
os sábios mencionados foram os grandes homens das sucessivas gerações; alguns
deles foram líderes de Academias, outros eram Exilarcas e alguns foram membros
do grande Sinédrio.
Além deles, houve milhares de discípulos e estudantes em cada geração. Ravina e
Rav Achi encerram a lista dos Sábios do Talmude.
Rav Achi foi quem compilou o Talmude Babilônico nas terras de Shinar (Babilônia),
cerca de um século após Rabi Iohanan ter compilado o Talmude de Jerusalém.
Estes dois Talmudes contêm uma exposição do texto da Mishná e uma elucidação
de seus pontos conflitantes e profundos, e novos temas foram acrescentados pelas
várias Academias, desde os dias do Rabenu Hacadoshe até a compilação do
Talmude.
Os dois Talmudes, a Tossefta, a sifrá, os sifrê e as Tosseftot são as origens a partir
das quais está elucidado o que é proibido e o que é permitido, o que é impuro e o
que é puro, o que é violação sujeita a pena e o que não envolve penalidade, o que
é adequado para o uso e o que é inadequado, segundo as tradições recebidas pelos
sábios e por seus antecessores em sucessão ininterrupta, até os ensinamentos de
Moshé Rabenu, que os recebeu no Sinai.
Também a partir destas fontes estão definidos os decretos instituídos pelos sábios e
profetas, em cada geração, para servir de muralha protetora com respeito à Lei,
segundo a injunção expressa por Moisés.
"Devereis guardar as minhas ordenanças" (Lv. 18:30), isto é, "Ordenar uma Mitsvá
para preservar minhas Ordenanças".
A partir destas fontes, também se obtém um claro conceito dos costumes e
decretos que foram formalmente introduzidos em várias gerações por suas
respectivas autoridades ou que passaram a ser utilizados com a sua sanção; é
proibido se desviar destes, como está escrito: "Não te desviarás da sentença que
eles te declararão, nem para o lado direito, nem para o lado esquerdo" (Dt 17:11).
Da mesma forma, estas obras contêm os julgamentos e regras magnificamente
estabelecidos que não foram recebidos por Moisés, mas deduzidos pelo Supremo
Tribunal de cada geração, pela aplicação dos princípios hermenêuticos para a
jurisprudência da Lei.
Estes princípios foram instruídos pelas autoridades veneráveis constituídas em lei —
todas as quais, acumuladas desde os dias de Moisés até o seu próprio tempo, Rav
Achi reuniu na Guemará.
Os Sábios da Mishná realizaram outras obras para explicar as palavras da Torá.
Rabi Hoshaio, um discípulo de Rabenu Hacadoshe, escreveu uma exposição do livro
do Bereshit, e Rabi Ismael, um comentário sobre o Humashe, desde o início do livro
de Shemot até o final do Pentateuco.
Esta obra é chamada de Mequiltá.
Rabi Aquiba também escreveu uma Mequiltá.
Outros sábios, que viveram posteriormente, compilaram os medrashim.
Todas estas obras foram compostas antes do Talmude Babilônico.
Ravina e Rav Achi e seus confrades foram os últimos dos grandes sábios que
estabeleceram firmemente a Jurisprudência da Lei, fizeram decretos, ordenações e
introduziram costumes.
Seus decretos, ordenações e costumes obtiveram aceitação universal entre os
judeus onde quer que estivessem estabelecidos.
Após o tribunal de Rav Achi, que compilou a Guemará, finalmente completada nos
dias de seu filho, ocorreu uma dispersão extraordinariamente grande do povo de
Israel por todo o mundo.
As pessoas emigravam para partes remotas e ilhas distantes.
A prevalência de guerras e a marcha dos exércitos tornaram as viagens inseguras.
O estudo da Torá declinou.
Os judeus já não afluíam às Academias aos milhares, conforme anteriormente, mas
em cada cidade e país os indivíduos que sentiam a chamada divina se reuniam e
ocupavam-se com a Torá; estudavam todas as obras dos sábios e destas
aprendiam o método da jurisprudência legal.
Se uma Academia estabelecida em qualquer país, após a época do Talmude, fizesse
decretos e ordenações ou introduzisse hábitos para aqueles (judeus) residentes em
seu país particular ou para os (judeus) residentes em outros países, suas sanções
não obtinham a aceitação de todo o povo de Israel, devido à distância entre as
comunidades judaicas e às dificuldades de viagem.
E, como a Academia de qualquer país consistia de indivíduos cuja autoridade não
era reconhecida universalmente (o Supremo Tribunal de setenta e um membros
deixara de existir muitos anos antes da compilação do Talmude), nenhuma coação
era exercida sobre aqueles que vivessem em um país para que observassem os
hábitos de um outro país; nem qualquer tribunal necessitava emitir um decreto que
já tivesse sido emitido por um outro tribunal no mesmo país.
Da mesma forma, se um dos gueonim ensinasse que uma certa maneira de
jurisprudência era correta, e ficasse claro para o tribunal, em uma data posterior
que esta não estava de acordo com a visão da Guemará, o primeiro jurisconsulto
não era necessariamente seguido, mas sim aquele parecer mais razoável, tanto o
da primeira autoridade, quanto o da autoridade posterior. As observações
anteriores referem-se às normas, decretos, ordenações e costumes que tiveram
origem após a compilação do Talmude.
Mas o que quer que seja mencionado no Talmude Babilônico se vincula a todo o
povo de Israel.
E toda cidade e país (os judeus) são obrigados a observar todos os costumes
praticados pelos sábios da Guemará, promulgar seus decretos e cumprir as suas
ordenações, sob a premissa de que todos estes costumes, decretos e
jurisprudências mencionados no Talmude receberam a aceitação de todo Israel, e
aqueles sábios que instituíram as ordenações, emitiram decretos, introduziram
costumes, tomaram decisões e ensinaram que certas regras são assim, constituíam
o corpo total ou da maioria dos sábios de Israel.
Eram eles os líderes que receberam as tradições relativas aos fundamentos do
Judaísmo, em sucessão ininterrupta, que remonta a Moshé Rabenu, que haja paz
sobre ele.
Todos os sábios que surgiram após a compilação do Talmude, estudaram-no com
profundidade e tornaram-se famosos por sua sabedoria; são aqueles chamados de
gueonim.
Todos esses gueonim, que floresceram na Terra de Israel, Sinar, Espanha e França,
ensinaram o método do Talmude, elucidaram suas partes obscuras e explicaram os
vários tópicos com os quais eles lidavam, tão profundo era seu método.
A obra é composta em aramaico, com influência de outras línguas — o vernáculo
dos judeus babilônicos na época em que foi compilada.
Em outros países, porém, como também na Babilônia dos dias dos gueonim,
ninguém, a menos que especialmente preparado, compreendia aquele dialeto.
Muitas consultas foram efetuadas ao gaon da época pelos residentes em diferentes
cidades, solicitando explicações no estudo do Talmude.
A essas respondiam os gueonim de acordo com a sua capacidade.
Aqueles que haviam feito as perguntas recolhiam as respostas em livros, para
estudo.
Os gueonim, cada um na sua geração, também compunham comentários sobre o
Talmude.
Alguns deles explicavam leis específicas; outros, capítulos especiais que
apresentavam dificuldades aos seus contemporâneos; outros, ainda, explicavam
tratados completos e ordens inteiras do Talmude.
Também fizeram compilações de regras estabelecidas com relação a coisas
permitidas ou proibidas, com relação às infrações que eram penais e às não
passíveis de pena.
Tudo isto se tratava de assuntos que demandavam compêndios, e que poderiam
ser estudados por alguém que não estivesse apto a penetrar nas profundezas do
Talmude.
Este era o trabalho divino no qual se engajaram todos os gueonim do povo Judeu,
desde a compilação do Talmude até os dias de hoje, ou seja, o oitavo ano do
décimo-primeiro século após a destruição do Segundo Templo.
Em nossos dias, intensificaram-se as vicissitudes e as aflições mais severas e todos
sentem a pressão de tempos difíceis.
O conhecimento dos nossos sábios desapareceu; a compreensão dos nossos
homens prudentes está destruída.
Diante disto, os comentários dos gueonint e as suas compilações de leis e
respostas, as quais tomaram o cuidado de esclarecer, tornaram-se em nossos dias
de difícil compreensão, de modo que apenas alguns indivíduos compreendem-nos
apropriadamente.
Não se torna necessário acrescentar que tal é o nosso caso com relação ao próprio
Talmude — quer o Babilônico, quer o de Jerusalém —, à Sifrá, aos sifrê e à
Tosseftá, os quais exigem para sua compreensão uma mente ampla, uma alma
sábia e um estudo que requer um tempo considerável; então, pode-se aprender
deles a prática correta com relação ao que é proibido ou permitido e as outras
regras da Torá.
Sob estas premissas, eu, Moisés, filho de Maimon, o Sefaradita, pus-me em
movimento, cingido de coragem e contando com a ajuda de D..S, seja Ele
abençoado; atentamente estudei todas estas obras literárias, com o objetivo de
escrever um livro que as esclareça com relação ao que é proibido ou permitido,
impuro ou puro e às outras normas da Torá — tudo em linguagem clara e texto
resumido, de modo que, assim, a Lei Oral, em sua íntegra, possa se tornar
sistematicamente conhecida de todos, sem citar argumentos, respostas,
dificuldades ou diferentes pontos de vista, nem contrapondo afirmação a outra que
lhe contradiga, mas consistindo de declaracões claras e convincentes, e de acordo
com as conclusões retiradas de todas essas compilações e comentários que têm
aparecido desde os tempos de Rabenu Hacadoshe até o presente.
Objetivei, com este estudo, que todas as normas seja acessíveis a jovens e velhos,
quer pertençam aos preceitos toraicos ou às ordenações estabelecidas pelos sábios
e profetas, de modo que nenhuma outra obra seja necessária para definir qualquer
uma das Leis do Povo de Israel, e que este estudo possa servir de compêndio da
Lei Oral em sua íntegra, incluindo as ordenações, costumes e decretos instituídos
desde os dias de Moshé Rabenu até a compilação do Talmude, conforme nos foi
explicado pelos gueonim em todas as obras por eles compostas desde a compilação
do Talmude.
Portanto, eu dei a esta obra o título de Mishné Torá (Torá), pela razão de que uma
pessoa que leia a Lei Escrita, e depois esta recompilação, saberá dela a íntegra da
Lei Oral, sem precisar consultar ou estudar outro livro qualquer. Procurei organizar
este compêndio nas divisões das leis, segundo os seus vários tópicos.
Estas divisões são distribuídas em capítulos agrupados segundo o tema central.
Cada capítulo é subdividido em parágrafos menores, para que possam ser
sistematicamente memorizados.
Entre essas leis nos vários tópicos, algumas consistem de normas com referência a
um simples preceito bíblico.
Seria este o caso quando tal preceito for rico em matéria tradicional e formar um
tópico por si só.
Algumas destas leis formam tópicos ricos em jurisprudências e tradições e formam
itens separados.
Outras seções incluem normas referentes a diversos preceitos, quando todos estes
pertencem a um mesmo tópico.
A obra segue a ordem de tópicos e não está planejada segundo o número de
preceitos, conforme será explicado ao leitor.
O número total de preceitos que são obrigatórios para todas as gerações é 613.
Destes, 248 são afirmativos: sua mnemônica é o número de partes do corpo
humano.
365 preceitos são negativos e sua mnemônica é o número de dias do ano solar.
Abençoado seja o Todo-Misericordioso que nos ajudou.

Por: Maimônides
Mishné Torá – Parte 1

Lista dos Preceitos Segundo Maimônides

Preceitos Afirmativos

1. Saber que existe D..S, como está escrito:


"Eu sou o Eterno, vosso D..S" (Êx 20:2; Dt 5:6).

2. Conscientizar-se de Sua unidade, como está escrito:


"O Eterno, nosso D..S, o Eterno é UM" (Dt. 6:4).

3. Amá-Lo, como está escrito:


"E tu deverás amar o Eterno teu D..S" (Dt 6:5).

4. Temê-Lo, como está escrito:


"Ao teu D..S deverás temer" (Dt 6:13; 10:20).

5. Orar a Ele, como está escrito:


"E deverás servir ao Eterno teu D..S" (Êx 23:25). Servir significa orar.

6. Apegar-se a Ele, como está escrito:


"A Ele deves te apegar" (Dt 10:20).

7. Jurar em Seu Nome, como está escrito:


"E em Seu Nome deverás jurar" (Dt 10:20).

8. Assemelhar-se a Ele em Suas ações boas e corretas, como está escrito:


"E tu deverás caminhar em Seus caminhos" (Dt 28:9).

9. Santificar o Seu Nome, como está escrito:


"E EU serei santificado entre os filhos de Israel" (Lv 22:32).

10. Recitar a Shemá duas vezes diariamente, como está escrito:


"E tu deverás falar delas.., quando deitares e ao te levantares" (Dt 6:7).

11. Estudar a Torá e ensiná-la, como está escrito:


"Tu deverás inculcá-la assiduamente nos teus filhos" (Dt 6:7).

12. Colocar tefilin sobre a cabeça, como está escrito:


"E serão um lembrete entre os teus olhos" (Dt 6:8).

13. Colocar o tefilin no braço, como está escrito:


"E deverás atá-los como um sinal na tua mão" (Dt 6:8).

14. Fazer tsitsit, como está escrito:


"E eles deverão fazer franjas para si mesmos" (Nm 15:38).

15. Afixar a mezuzá, como está escrito:


"E tu deverás escrevê-la nos umbrais da tua casa" (Dt 6:9).

16. Reunir as pessoas para ouvir a Torá, como está escrito:


"Reúne as pessoas" (Dt 31:12).
17. Que cada pessoa escreva um Rolo da Torá para si mesma, como está escrito:
"Escrevam para si mesmos esta canção" (Dt 31:19).

18. O Rei deverá escrever um Rolo da Torá para si mesmo, além daquele que todo indivíduo
deverá escrever, de modo que ele deverá possuir dois Rolos da Torá, como está escrito:
"E ele deverá escrever para si mesmo unia cópia desta Torá" (Dt 17:18).

19. Recitar graças ao Divino após as refeições, como está escrito:


"E comerás e te fartarás e abençoarás o Eterno teu D..S" (Dt 8:10).

20. Construir o santuário, como está escrito:


"E construirão para mim um santuário" (Êx 25:8).

21. Reverenciar o Santuário, como está escrito:


"E reverencie o Meu Santuário" (Lv 19:30).

22. Guardar esta casa continuamente, como está escrito:


"...mas tu e teus filhos deverão oficiar diante do tabernáculo do testemunho" (Nm 18:2).

23. Que o levita sirva no Santuário, como está escrito:


"Mas o levita deverá fazer o serviço do Tabernáculo" (Nm 18:23).

24. Que o sacerdote lave suas mãos e pés na hora do serviço como está escrito:
"E lavarão Aarão e seus filhos.., suas mãos e pés" (Êx 30:19).

25. Preparar as velas e acendê-las no Santuário, como está escrito:


"...Aarão e seus filhos deverão prepará-lo" (Êx 27:21).

26. Que os sacerdotes abençoem o povo judeu, como está escrito:


"Assim abençoarás os filhos de Israel" (Nm 6:23).

27. Colocar os pães da proposição e o olíbano diante do Senhor em todo Shabat, como está
escrito:
"E deverás colocar os pães da proposição sobre a mesa conjuntamente" (Êx 25:30).

28. Espargir incenso duas vezes por dia, como está escrito:
"E Aarão deverá queimar sobre ele o incenso de especiarias odoríficas" (Êx 30:7).

29. Manter o fogo sempre aceso sobre o altar da oferenda ardente, como está escrito:
"O fogo deverá estar sempre ardente sobre o altar" (Lv 6:6).

30. Remover as cinzas do altar, como está escrito:


"...e ele deverá levantar as cinzas" (Lv 6:3).

31. Mandar os impuros para fora do Campo da Shehiná, isto é, para fora do Santuário,
como está escrito:
"Que eles mandem para fora todo leproso e todo aquele que padece de fluxo (que escorre
de dentro do corpo) e aquele que tocou num cadáver" (Nm 5:2).

32. Demonstrar respeito a um descendente de Aarão e dar a ele prioridade em todas as


coisas que são sagradas, como está escrito:
"E tu deverás santificá-lo" (Lv 21:8).
33. Que os sacerdotes vistam roupas paramentais para o serviço, como está escrito:
"E tu deverás confeccionar roupas sagradas para Aarão, teu irmão" (Êx 28:2).
34. Quando a Arca for carregada, deverá ser carregada nos ombros, como está escrito:
"Eles deverão carregá-la sobre os seus ombros" (Nrn 7:9).

35. Ungir os sumo sacerdotes e os reis com o óleo de unção, como está escrito: "Este
deverá ser um óleo de unção sagrado" (Êx 30:31).

36. Que os sacerdotes sirvam no Santuário em turnos, mas nos festivais oficiem todos
juntos, como está escrito:
"E se um levita vier... (então deverá ministrar em nome do Senhor)... (Dt 18:6-8).

37. Os sacerdotes podem se tornar impuros por seus parentes próximos falecidos, e
lamentarem por eles como os outros israelitas, que são mandados lamentar por seus
parentes, como está escrito:
"...por ela, ele deverá impurificar-se" (Lv 21:3).

38. Que o sumo sacerdote despose uma virgem, como está escrito:
"E ele deverá tomar uma esposa em sua virgindade" (Lv 21:13).

39. Oferecer sacrifícios regulares diariamente, como está escrito:


"...duas ovelhas... dia após dia para um contínuo holocausto" (Nm 28:3).

40. Que o sumo sacerdote ofereça uma oferenda de oblação diariamente, como está
escrito:
"Esta é a oferenda de Aarão e seus filhos" (Lv 6:13).

41. Oferecer um sacrifício adicional em todo Shabat, como está escrito:


"E no dia de Shabat, duas ovelhas" (Nm 28:9).

42. Oferecer um sacrifício adicional em cada lua nova, como está escrito:
"E no início dos teus meses, deverás oferecer..." (Nm 28:11).

43. Oferecer um sacrifício adicional na Festa do Pêssah, como está escrito:


"Sete dias deverás trazer uma oferenda queimada ao Senhor" (Lv 23:36).

44. Oferecer a oblação do início da ceifa no dia seguinte após o primeiro dia de Pêssah,
junto com um cordeiro, como está escrito:
"...deverás trazer um ônier dos primeiros frutos da tua colheita" (Lv 23:10).

45. Trazer uma oferenda adicional na Festa do Shavuot," como está escrito: "Também no
dia das Primícias... deverás trazer um holocausto para ser aceito com agrado pelo Eterno"
(Nm 28:26-27).

46. Trazer na festa de Shavuot dois pães junto com os sacrifícios que são então oferecidos
em associação com os pães, como está escrito:
"Deverás trazer de tuas habitações dois pães e oferecer com o pão..." (Lv 23:17-20).

47. Oferecer um sacrifício adicional no Ano Novo, como está escrito:


"E no sétimo mês, no primeiro dia do mês... deverás oferecer..." (Nm 29:1-6).

48. Oferecer um sacrifício adicional no Dia do Jejum, como está escrito:


"E no décimo dia do sétimo mês..." (Nm 29:7-8).

49. Observar, no Dia do Jejum, o serviço destinado para aquele dia, como está escrito:
"Aarão entrará no lugar sagrado..." (Lv 16:3-34).
O resto do serviço é descrito na seção Aharê Mot.

50. Oferecer um sacrifício adicional na Festa de Sucot, como está escrito:


"...e oferecerás um holocausto, um sacrifício feito ao fogo, para ngradar ao Eterno" (Nm
29:12-34).

51. Oferecer uma oferenda adicional no oitavo dia da Reunião Solene, que é uma festa por
si mesma, como está escrito:
"No oitavo dia deverás ter uma reunião solene" (Nm 29:35-38).

52. Celebrar as festas, como está escrito:


"Três vezes no ano deverás fazer uma festa para Mim" (Êx 23:14).

53. Aparecer (no Santuário) durante a festa, como está escrito:


"Três vezes ao ano todos os teus homens deverão aparecer (diante do Senhor teu D..S) no
lugar que Ele escolher" (Êx 34:23, Dt 16:16).

54. Alegrar-se nas festas, como está escrito:


"E deverás alegrar-te em tuas festas, tu, teu filho e tua filha" (Dt 16:14).

55. Degolar o cordeiro pascal, como está escrito:


"... e toda a assem-bléia da congregação do Povo do Israel degolá-lo-á..." (Êx 12:6).

56. Comer a carne do sacrifício pascal, na noite do décimo quinto dia de Nissan, como está
escrito:
"E eles deverão comer a carne assada naquela noite" (Êx 12:8).

57. Fazer a Segunda Páscoa, como está escrito:


"No décimo quarto dia do segundo mês, ao entardecer, deverão celebrá-lo" (Nm 9:11).

58. Comer a carne do cordeiro pascal nesta ocasião, com pão ázimo e ervas amargas, como
está escrito:
"E comê-la-ão com pão ázimo e ervas amargas" (Nm 9:11).

59. Tocar as trombetas quando se traz a oferenda de sacrifícios e em épocas de


calamidades, como está escrito:
"... deverás tocar as trombetas" (Nm 10:9-10).

60. Que o gado somente está apto a ser sacrificado quando tiver pelo menos oito dias de
vida, como está escrito:
"... e a partir do oitavo dia em diante, ele poderá ser trazido como oferenda" (Lv 22:27).

61. Que todo animal oferecido não tenha nenhum defeito, como está escrito: "...deverá ser
perfeito para ser aceito" (Lv 22:21).

62. Que todo sacrifício seja salgado, como está escrito:


"Com todas as tuas oferendas deverás oferecer sal" (Lv 2:13).

63. Observar o procedimento da oferenda queimada, como está escrito:


“Que sua oferenda seja um sacrifício ardente..." (Lv 1:13).

64. Observar o procedimento da oferenda de pecado, como está escrito:


"... esta é a lei da oferenda de pecado..." (Lv 6:18).

65. Observar o procedimento da oferenda da transgressão, como está escrito:


"E esta é a lei da oferenda da culpa..." (Lv 7:11).

66. Observar o procedimento da oferenda propiciatória pela paz, como está escrito: "E esta
é a lei do sacrifício das oferendas de paz" (Lv 7:11).

67. Observar o procedimento da oferenda de oblação, como esta escrito:


"E quando qualquer pessoa oferecer uma oferenda de oblação" (Lv 2:11).

68. Que o Tribunal de Julgamento ofereça um sacrifício, se tiver cometido erro em um


pronunciamento judicial como está escrito:
"E se toda a congregação de Israel errar..." (Lv 4:13).

69. Que um indivíduo traga uma oferenda de pecado, se cometeu o pecado por erro ou
inconscientemente; se praticado conscientemente, que a pena seja excisão, como está
escrito:
"E se qualquer um pecar por inadvertência..." (Lv 4:27).

70. Que um indivíduo traga uma oferenda, se estiver em dúvida se cometeu um pecado
pelo qual se tem que trazer uma oferenda de arrependimento, como está escrito:
"... embora não o soubesse, ainda assim ele é culpado. E ele deverá trazer sua oferenda de
transgressão" (Lv 5:17- 19).
Esta é a chamada oferenda de transgressão para pecados duvidosos.

71. Que uma oferenda seja trazida por alguém que erradamente cometeu uma transgressão
contra coisas sagradas, ou roubou, ou deitou carnalmente com uma donzela,"
comprometida com um homem, 64 ou negou o que foi depositado com ele e jurou em falso
para sustentar sua negação. Está e a chamada oferenda de transgressão para uma
transgressão conhecida (Lv 5:15-21, 22,25; 19:20-22).

72. Oferecer um sacrifício de valor variável, de acordo com os meios de cada um, como está
escrito:
"Se ele não pode se dar ao luxo de trazer uma ovelha..." (Lv 5:7-11).

73. Fazer confissão, diante do Senhor, de qualquer pecado que se tenha cometido, ao trazer
um sacrifício e em outras ocasiões, como está escrito:
"Então confessarão o pecado que cometeram" (Mn 5:7).

74. Que um homem com fluxo traga um sacrifício, após seu fluxo ter sido estancado, como
está escrito:
"E quando aquele homem estiver limpo do fluxo..." (Lv 15:13-15).

75. Que uma mulher que tem fluxo traga um sacrifício, após o seu fluxo ter cessado, como
está escrito:
"Mas se o seu fluxo tiver cessado..." (Lv 15:28-30).

76. Que o leproso traga um sacrifício, depois que for purificado, como está escrito: "E no
oitavo dia..." (Lv 14:10).
77. Que uma mulher, após o parto, traga uma oferenda quando estiver pura, como está
escrito:
"E quando os dias da sua purificação forem cumpridos..." (Lv 12:6).

78. Separar o dízimo sobre o gado, como está escrito:


"E com relação à cobrança do dízimo sobre o gado graúdo ou miúdo a décima parte do que
passar sob o cajado..." (Lv 27:32).

79. Santificar o primogênito do gado puro e oferecê-lo, como está escrito:


"Todos os primogênitos machos..." (Dt 15:19).

80. Redimir o primogênito do homem, como está escrito:


"Porém resgatarás o primogênito do homem" (Nm 18:15).

81. Redimir o primogênito de um jumento, como está escrito:


"E todo o primogênito de um jumento tu redimirás com uma ovelha" (Êx 13:13).

82. Quebrar o pescoço do primogênito do jumento se este não for redimido, como está
escrito:
"E se não quiseres redimi-lo, então deverás quebrar o seu pescoço" (id.).

83. Trazer todas as oferendas, quer as obrigatórias, quer as espontâneas, ao primeiro


festival que ocorrer, como está escrito:
"... e deverás ir até lá e oferecê-la" (Dt 12:5,6).

84. Oferecer todos os sacrifícios no Santuário, como está escrito:


"... e lá deverás fazer tudo o que Eu te ordenar" (Dt. 12:14).

85. Assumir todas as responsabilidades para trazer os sacrifícios ao Santuário provenientes


de lugares fora da Terra de Israel, como está escrito:
"Somente as oferendas que tu tens, e promessas, deverás assumir e ir até o lugar que o
Senhor escolher" (Dt 12:26).
Sabe-se, pela tradição transmitida, que este versículo se refere aos sacrifícios que vêm de
fora da Terra Sagrada,

86. Redimir o gado que, separado para sacrifícios, contraiu defeito desqualificatório, e que,
após a sua redenção, possa ser comido por qualquer pessoa, como está escrito:
"Não obstante, com todo o teu desejo, poderás matar" (e comer carne em todos os teus
portões) e o que quer que tua alma anseie" (Dt. 12:15).
Pela tradição, sabe-se que este verso se refere apenas a tudo aquilo que foi santificado, que
se tomou inadequado e que pode ser redimido.

87. Se um animal for trocado por outro que fora separado como oferenda, ambos tornam-se
sagrados, como está escrito:
"... ela e a troca por ela deverão ser sagradas" (Lv 27:10).

88. Que o remanescente das oferendas de oblação seja comido, como está escrito: "E o
resto dela Aarão e seus filhos comerão" (Lv 6:9).

89. Que a carne de uma oferenda de pecado e oferenda de culpa seja comida, como está
escrito:
"E eles comerão daquilo que foi sacrificado para fazer expiação" (Êx 29:33).
90. Queimar a carne do (sacrifício) sagrado que se tornou impura, como está escrito:
"E a carne que tocou qualquer coisa impura seja queimada com fogo" (Lv 7:18).

91. Queimar a carne consagrada (sacrifício) que sobrou, como está escrito:
"Mas as sobras da carne do sacrifício no terceiro dia serão queimadas com fogo" (Lv 7:17).

92. Que o nazi deixe que seus cabelos cresçam, como está escrito:
"... ele deixará as madeixas de cabelo de sua cabeça crescerem" (Nm 6:5).

93. Que o nazir tenha o seu cabelo raspado quando trouxer suas oferendas no fim do
período do seu nazireado, ou dentro daquele período, se ele se tornar impuro, como está
escrito:
"E se alguém morrer muito subitamente por ele..." (Nm 6:9).

94. Que um homem cumpra o que quer que tenha pronunciado, seja com relação a uma
oferenda, ou à caridade, e assim por diante, como está escrito:
"O que sair de teus lábios, deverás manter e realizar" (Dt 23:24).

95. Decidir em casos de anulação de promessas, -segundo as normas estipuladas pela Torá
(Nm 30:2-17).

96. Qualquer pessoa que tocar a carcaça de um animal que morreu por si mesmo está
impura, como está escrito:
"E se qualquer animal (do qual possas comer) morrer..." (Lv 11-39).

97. Oito espécies de animais rastejantes impurificam por contato, como está escrito:
"Estas também serão impuras para ti" (Lv 11:29-30).

98. Os alimentos se tornam impuros (pelo contato com coisas impuras), como está escrito:
"De todo o alimento que pode ser comido..." (Lv 11:34).

99. Uma mulher menstruada é impura e torna as outras impuras (Lv 15:19-24).

100. Uma mulher que dá à luz é impura tal como uma mulher menstruada (ib. 12:2-5).

101. Um leproso é impuro e torna impuras também outras coisas (ib.13:2-46).

102. Uma vestimenta leprosa é impura e torna as coisas impuras (ib. 13:47-59).

103. Uma casa leprosa se torna impura (ib. 14:34-46).

104. Um homem com fluxo se torna impuro (ib. 15:1-15).

105. Que a semente da cópula torna impuros os outros (ib. 15:16).

106. Que uma mulher com fluxo impurifica por contato (ib. 15:25-27).

107. Que um cadáver impurifica por contato (Nin 19:11-16).

108. As águas de purgação impurificam quem estiver puro, e purgam espiritualmente o


impuro por ter tocado num corpo morto (Nm 19:19-22).
Com relação a estas leis de impurificação, a maioria das normas e regulamentos referentes
a cada urna delas estão explicadas no Pentateuco.

109. A purificação de todas as espécies de impurificação deve ser efetuada pela imersão nas
águas de uma Micvá, como está escrito:
"... então ele lavará todo o seu corpo na água" (Lv 15:16).
Sabe-se, por tradição, que isto significa que a imersão deve se dar em uma quantidade
suficiente de água, de modo que o corpo inteiro seja totalmente imerso de uma vez.

110. Que o procedimento da purificação da lepra, quer de um homem, quer de uma casa,
ocorra com madeira de cedro, hissopo, fio escarlate, dois pássaros e água corrente, como
está escrito:
"Esta deverá ser a lei do leproso no dia de sua purificação" (Lv 14:1-7).

111. Que o leproso deverá raspar todo o seu cabelo, como está escrito:
"E será no sétimo dia que ele raspará todo o seu cabelo" (Lv 14:9).

112. Que o leproso seja universalmente reconhecido em público como tal, pelas marcas
recomendadas.
"Suas roupas serão rasgadas e o cabelo de sua cabeça desgrenhado e ele cobrirá o seu
lábio superior com o bigode e gritarão: 'impuro, impuro- (Lv 13:45).
Da mesma forma, todas as outras pessoas impuras devem declarar-se como tais.

113. Realizar o sacrifício da Novilha Vermelha, de modo que as suas cinzas estejam sempre
à disposição, como está escrito:
"E deverão ser preservadas para a congregação..." (Nm 19:9).

114. O indivíduo que prometer ao Senhor o valor monetário de uma pessoa, pagará a
quantia designada na Tora, como está escrito:
"Quando um homem claramente emitir uma promessa..." (Lv 27:2-8).

115. Aquele que prometer ao Senhor o valor monetário de um animal impuro, pagará o seu
valor, como está escrito:
"... então ele colocará o animal (diante do sacerdote, e o sacerdote o avaliará)" (Lv 27:11-
13).

116. Aquele que prometer o valor de sua casa, pagará segundo a avaliação do sacerdote
como está escrito:
"... o sacerdote estimá-lo-á" (Lv 27:14-15).

117. Aquele que consagrar ao Senhor uma parte do seu campo, pagará segundo a
estimativa especificada na Torá, como está escrito:
"... tua estimativa será de acordo com a semente para semeá-lo" (Lv 27:16-24).

118. Aquele que, erradamente, usar ou comer das coisas sagradas, fará a restituição do
valor de sua transgressão adicionado de um quinto, como está escrito:
"E ele deverá pagar o pecado que cometeu em relação às coisas sagradas e adicionará a
quinta parte sobre o seu valor" (Lv 5:16).

119. Os frutos das árvores, no quarto ano de colheita, serão consagrados como oferenda,
como está escrito:
"(Mas no quarto ano) todas as frutas serão consagradas para louvores" (Lv 19:24).
120. Deixar a colheita do canto do campo ou pomar para os pobres (Lv 19:9).

121. Deixar as respigas da colheita para os pobres (Lv 19:9).

122. Deixar as gavelas esquecidas para os pobres (Dt. 24:19-20).

123. Deixar para os pobres os cachos mirrados do vinhedo (Lv 19:10: Dt 24:21).

124. Deixar para os pobres as uvas caídas do vinhedo (Lv 19:10).


Com relação a todos os preceitos anteriores (120-124), diz-se:
"Para os pobres e os convertidos, deverás deixá-los" (Lv 19:10); e este texto constitui seu
preceito afirmativo.

125. Trazer as primeiras frutas ao Santuário, como está escrito:


"As primícias das frutas da tua terra (deverás trazer para a Casa do Senhor, teu D..S)" (Éx
23:19).

126. Separar a grande oferenda da produção para o sacerdote, como está escrito: "As
primícias do teu grão e do teu vinho... (oferecerás a ele)" (Dt 18:4).

127. Separar o dízimo da produção para os levitas, como está escrito:


"E todo o dízimo da terra, quer da semente da terra ou do fruto da árvore, (pertence ao
Senhor)" (Lv 27:30).

128. Separar o segundo dízimo para que seja comido por seu dono em Jerusalém, como
está escrito:
"Tu contribuis e contribuirás com o dízimo" (Dt 14:22).
Sabe-se tradicionalmente que isto se refere ao segundo dízimo.

129. Que os levitas deverão separar um dízimo dos dízimos daquilo que receberam dos
judeus, dando-o aos sacerdotes, como está escrito:
"Assim, fale ao levitas... (tu consagrarás uma oferta de produção... um dízimo de teus
dízimos) (Nm 18:26).

130. Separar no terceiro e no sexto anos o dízimo para os pobres, ao invés do segundo
dízimo, como está escrito:
"Ao final de três anos, tu tirarás todo o dízimo da tua produção..." (Dt 14:26-29).

131. Fazer a confissão do dízimo ao trazê-lo para o Santuário, como está escrito: "Então
dirás diante do Senhor teu D..S" (Dt 26:13-18).

132. Ler a parte (da Torá) prescrita ao trazer as primícias, como está escrito:
"E responderás e falarás diante de teu D..S" (Dt 26:5-10).

133. Separar uma parte da massa de pão para o sacerdote, como está escrito:
"Tu oferecerás uma parte da massa como um tributo do produto da terra" (Nm 15:20).

134. Deixar a terra repousar (no Ano Sabático), como está escrito:
"Mas no sétimo ano deixarás que ela repouse e se readube" (Êx 23:11).

135. Cessar o cultivo da terra (nesse ano), como está escrito:


"E no tempo do arar e no tempo de ceifar tu descansarás" (Êx 34:21).
136. Manter santificado o Ano Jubileu, não cultivar e deixar que a terra repouse, como está
escrito:
"E tu santificarás o qüinquagésimo ano" (Lv 25:10).

137. Soar o Shofar no Ano Jubileu, como está escrito:


"Então farás soar o shofar do Jubileu (no décimo dia do sétimo mês)" (Lv 25:9).

138. Conceder redenção à terra no Ano Jubileu,87 como está escrito:


"E a toda a terra de tua possessão concederás uma redenção" (Lv 25:24).

139. Que as casas vendidas dentro de uma cidade murada sejam redimidas em um ano,
como está escrito:
"E se um homem vender uma habitação (numa cidade murada) então ele poderá redimi-la
no espaço de um ano inteiro após a sua venda" (Lv 25:29).

140. Contar os anos do Jubileu por anos e por ciclos de sete anos, como está escrito:
"E numerarás sete (semanas de anos)" (Lv 25:8).

141. Perdoar os débitos no sétimo ano, como está escrito:


"Todo credor que emprestou alguma coisa ao seu vizinho, deverá perdoá-lo" (Dt 15:2).

142. Cobrar o débito de um não judeu, como está escrito:


"De um estranho deverás cobrá-lo; mas aquilo que é teu e de teu irmão, tua mão deverá
perdoar" (Dt 15:3).

143. Dar ao sacerdote as partes devidas da carcaça do gado, como está escrito:
"E eles darão ao sacerdote as espáduas dos membros anteriores e as duas queixadas e o
bucho" (Dt 18:3).

144. Dar as primeiras lãs ao sacerdote, como está escrito:


"E as primícias da tosquia do teu rebanho deverás dar a ele" (Dt 18:4).

145. Decidir, com relação à propriedade oferecida, qual é a consagrada ao Senhor e a qual
a pertencente ao sacerdote, como está escrito:
"... não obstante, nenhuma coisa consagrada, que o homem dedicar ao Senhor... deverá ser
vendida ou redimida" (Lv 27:28).

146. Degolar, segundo o ritual, o animal doméstico, o animal selvagem e a ave; então, a
sua carne poderá ser comida, como está escrito:
"Abaterás de teu gado e de teu rebanho conforme te ordeno" (Dt 12-21)

147. Cobrir o sangue de animais selvagens, e das aves que foram mortas, corno está
escrito:
"ele derramará o seu sangue e cobri-lo-á com pó" (Lv 17:13).

148. Libertar a mãe-pássaro antes de lhe tomar o ninho, como está escrito:
"... mas mandarás embora a mãe, e os filhotes toma para ti" (Dt 22:6-7).

149. Examinar os sinais nos animais, como está escrito:


"... Estes são os animais que podes comer" (Lv 11:2).

150. Examinar os sinais nas aves, a fim de distinguir entre as proibidas e as permitidas,
como está escrito:
"De todos os pássaros puros poderás comer" (Dt 14:11).

151. Examinar os sinais nos gafanhotos, grilos, de modo a distinguir os permitidos e os


proibidos, como está escrito:
"porém, destes poderás comer de toda coisa voadora e rastejante que se mova sobre os
quatro pés e que tenha duas pernas (além dos pés)." (Lv 11:21).

152. Examinar os sinais nos peixes, como está escrito:


"Comerás de tudo o que esteja nas águas..." (Lv 11:9).

153. Que o novo mês seja proclamado solenemente sagrado, e os meses e os anos sejam
calculados apenas pelo Sanhedrin, como está escrito:
"Este mês será para ti o início dos meses; ele deverá ser o primeiro mês do ano para ti" (Êx
12:2).

154. Repousar no dia de 5habat, como está escrito:


"E no sétimo dia tu descansarás" (Êx 23:12; 34:21).

155. Santificar o dia de 5habat, como está escrito:


"Lembra-te do dia do Shabat, para mantê-lo sagrado" (Êx 20:8).

156. Eliminar o fermento e as coisas fermentadas (na véspera da Páscoa), como está
escrito:
"... no primeiro dia eliminarás, pois, o fermento de tuas casas" (Êx 12:15).

157. Revivenciar através do relato a saída do Egito, na primeira noite da Festa da Páscoa,
como está escrito:
"E contarás ao teu filho naquele dia, dizendo..." (Êx 13:8)

158. Comer pão ázimo nesta noite, como está escrito:


"... ao entardecer," comerás pão ázimo" (Êx 12:18)

159. Repousar no primeiro dia da Páscoa, como está escrito:


"E no primeiro dia haverá uma convocação sagrada... (nenhum trabalho será efetuado)..."
(Êx 12:16).

160. Repousar no sétimo dia desta Festa (de Pêssah), como está escrito:
"E no sétimo dia haverá uma convocação sagrada"... (nenhum trabalho será efetuado nele)"
(Êx 12:16).

161. Contar quarenta e nove dias a partir da data do corte do ômer (primícias da colheita
da cevada), como está escrito:
"E tu contarás para ti a partir do dia seguinte após o Shabat de Pêssah" (Lv 23:15).

162. Repousar no qüinquagésimo dia, como está escrito:


"E proclamarás no mesmo dia que haja uma convocação sagrada" (Lv 23:21).

163. Repousar no primeiro dia do sétimo mês, como está escrito:


"No sétimo mês, no primeiro dia do mês, terás um Shabat (Lv 23:24).

164. Jejuar no décimo dia daquele mês, como está escrito:


"No décimo dia do mês, afligirás a tua alma" (Lv 16:24).
165. Repousar no dia do Jejum do Arrependimento, como está escrito:
"Um Shabat de repouso... ele será para ti" (Lv 23:32).

166. Repousar no primeiro dia da Festa dos Tabernáculos, como está escrito:
"No primeiro dia haverá uma convocação sagrada; (nesta ocasião não farás trabalhos
servis)" (Lv 23:35).

167. Repousar no oitavo dia desta festa, como está escrito:


"No oitavo dia haverá uma convocação sagrada... (nesta ocasião não farás trabalhos
servis)" (Lv 23:26).

168. Habitar na sucá os sete dias, como está escrito:


"Habitarás na sucá durante os sete dias" (Lv 23:42).

169. Pegar nesta festa um ramo de palmeira e as outras três espécies, como está escrito:
"E devereis levar até vós, no primeiro dia, o fruto das árvores..." (Lv 23:40).

170. Ouvir o som do shofar no Ano Novo, como está escrito:


"... deverá ser um dia de soar o shofar para ti" (Nm 29:1).

171. Dar meio siclo de prata a cada ano (ao Santuário, para a provisão de sacrifícios
públicos), como está escrito:
"Isto darão todos aqueles que atingirem a idade de serem recenseados" (Êx 30:13).

172. Atender ao chamado de todo profeta em cada geração, contanto que ele não
acrescente nada à Torá nem reduza algo dela, como está escrito:
"... darás ouvidos a ele" (Dt 18:15 e 13:1).

173. Nomear um rei, como está escrito:


"Colocarás certamente um rei sobre ti" (Dt 17:15).

174. Aceitar as normas de todo Tribunal Supremo em Israel, como está escrito: "Segundo o
julgamento do qual te digam, assim tu farás" (Dt 17:11).

175. Dar a decisão de acordo com a maioria, quando houver uma diferença de opinião entre
os membros do Sanhedrin com relação à Lei, como está escrito: "Inclinar diante de muitos"
(Êx 23:2).

176. Nomear juízes e oficiais em cada comunidade de Israel, como está escrito: "Juízes e
oficiais nomearás para ti" (Dt 16:18).

177. Tratar as partes em litígio com igual imparcialidade, como está escrito:
"Com justiça e honestidade julgarás o teu vizinho" (Lv 19:15).

178. Aquele que possuir provas testemunhará no tribunal, como está escrito:
"... e se alguém for testemunha, tiver visto ou sabido, (se ele não revelar, então arcará com
seu pecado)" (Lv 5:1).

179. Examinar detidamente as testemunhas, como está escrito:


"Então tu indagarás, investigarás e perguntarás de forma inteligente e bem..." (Dt 13:15).

180. Fazer à falsa testemunha o mesmo que havia ela planejado causar (ao acusado), como
está escrito:
"Então farás a ele o que ele queria fazer ao outro" (Dt 19:19).

181. Decapitar a novilha da maneira recomendada, como está escrito:


"... e eles quebrarão o pescoço da novilha no vale" (Dt 21:4).

182. Estabelecer seis cidades de refúgio (para aqueles que cometeram homicídio acidental),
como está escrito:
"Tu deverás preparar uma vida e dividirás as fronteiras de tua terra" (Dt 19:3).

183. Dar cidades para que nelas vivam os levitas, e estas servirão também de refúgio,
como está escrito:
"... que eles dêem aos levitas.., as cidades..." (Nin 35:2).

184. Fazer um parapeito (para o terraço), como está escrito:


"... tu farás um parapeito para o teu terraço" (Dt 22:8).

185. Destruir as idolatrias e seus vínculos, como está escrito:


"Destruirás completamente todos os lugares (onde se praticam idolatrias) (Dt 12:2,3).

186. Destruir os habitantes de uma cidade que se tornou idólatra e queimar esta cidade,
como está escrito:
"E queimarás com o fogo (a cidade e o seu refugo)" (Dt 13:16,17).

187. Exterminar as sete nações cananéias da terra de Israel, como está escrito: "Mas tu as
destruirás por completo..." (Dt 20:17).

188. Eliminar a descendência de Amalec, como está escrito:


"Certamente riscarás a lembrança de Amalec" (Dt 25:19).

189. Recordar sempre o que fez Amalec, como está escrito:


"Lembra-te daquilo que te fez Arnalec" (Dt 25:17).

190. Em uma guerra permitida, observar o procedimento recomendado pela Tora, como
está escrito:
"Quando te aproximares de uma cidade, (então proclames a ela a paz)" (Dt 20:10).

191. Ungir um sacerdote especial (para dirigir-se aos soldados) em uma guerra, como está
escrito:
"E será quando tu te aproximares da batalha que o sacerdote se aproximará (e falará às
pessoas) (Dt 20:2).

192. Manter um lugar fora do campo com propósitos sanitários, como está escrito: "Terás
um lugar também fora do campo"138 (Dt 23:13).

193. Manter limpo aquele lugar, como está escrito:


"E terás uma pá com o teu equipamento" (Dt 23:14,15).

194. Devolver aquilo que foi apropriado por roubo, como está escrito:
"Ele devolverá aquilo que roubou" (Lv 5:23).

195. Assistir os necessitados, como está escrito:


"Abrirás a tua mão ao teu irmão, ao teu pobre" (Dt 15:11).
196. Indenizar o escravo judeu (ao fim do seu prazo de serviço), como está escrito: "E
quando tu o deixares partir livre.., tu o suprirás liberalmente" (Dt 15:14); e o mesmo
procedimento será adotado com relação a uma escrava judia.

197. Emprestar a uma pessoa pobre, como está escrito:


"Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo" (Êx 22:24).
A palavra ‘se', aqui, não deve ser tomada como denotando permissão mas sim, obrigação,
como está escrito:
"E emprestarás certamente a ele (o suficiente para a sua necessidade) (Dt 15:8).

198. Emprestar a um estranho sob juros, como está escrito:


"A um estranho poderás emprestar com juros" (Dt 23:21).
Segundo a tradição, isto é obrigatório.

199. Devolver o penhor ao seu dono, como está escrito:


"Em qualquer caso, tu devolverás novamente o penhor (quando o sol se puser)" (Dt 24:13).

200. Pagar salários aos homens contratados no prazo combinado, como está escrito:
"No mesmo dia, tu lhe darás o seu quinhão" (Dt 24:15).

201. Que ao trabalhador contratado seja permitido comer do produto que está colhendo,
como está escrito:
"Quando te aproximares do vinhedo do teu vizinho, (então poderás comer as uvas à tua
vontade...); quando te aproximares do grão exposto de teu vizinho, (então poderás pegá-
los com tuas mãos ...)" (Dt 23:25, 26).

202. Aliviar o teu próximo de sua carga e ajudá-lo a descarregar o seu animal, como está
escrito:
"... tu certamente o aliviarás dela"(Ex 23:5).

203. Ajudar na colocação da carga sobre a besta do teu próximo, como está escrito:
"... tu certamente o ajudarás a levantá-la novamente" (Dt 22:4).

204. Devolver o objeto achado, como está escrito:


"Tu certamente as trarás de volta ao teu próximo" (Dt 22:1).

205. Repreender o pecador, como está escrito:


"...tu certamente repreenderás o teu amigo" (Lv 19:17).

206. Amar todos os seres humanos que são do pacto, como está escrito:
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19:18).

207. Amar o converso, como está escrito:


"Amarás o estranho" (Dt 10:19).

208. Certificar-se de que as balanças e os pesos estejam corretos, como está escrito:
"balanças justas, pesos justos (um efá e um hin tu terás)" (Lv 19:36).

209. Honrar o sábio, como está escrito:


"Tu te levantarás diante da cabeça grisalha" (Lv 19:32).

210. Honrar pai e mãe, como está escrito:


"Honra teu pai e tua mãe" (Êx 20:12).
211. Reverenciar pai e mãe, como está escrito:
"Temerás todo homem, tua mãe e teu pai" (Lv 19:3).

212. Multiplicar a raça humana, como está escrito:


"Sê frutífero e multiplica-te" (Gn 1:28).

213. Tomar uma esposa pelo sacramento do casamento, como está escrito: "Quando um
homem tomar uma mulher e desposá-la" (Dt 24:1).

214. Que o recém-casado fique livrei" durante um ano para regozijar-se com sua esposa,
como está escrito:
"... ele estará livre no lar e animará sua esposa" (Dt 24:5).

215. Circuncidar o filho, como está escrito:


"E no oitavo dia a carne do seu prepúcio será circuncidada" (Lv 12:3).

216. Desposar a viúva de um irmão que morreu sem filhos, como está escrito:
"... o irmão de seu marido irá sobre ela" (Dt 25:5).

217. Que a viúva libere formalmente o cunhado, (em caso de sua recusa em desposá-la),
como está escrito:
"... e ela afrouxará o sapato do seu pé..." (Dt 25:8,9).

218. Que o violador (de uma virgem não compromissada) despose-a, como está escrito:
"... e ela será sua esposa" (Dt 22:28,29).

219. Aquele que difamar a honra de sua esposa (com acusações falsas contra a sua
castidade antes do casamento) deve viver com ela durante toda a sua vida, como está
escrito:
"E ela será sua esposa (ele não pode desprezá-la) durante todos os seus dias" (Dt 22:19).

220. Impor uma penalidade de cinqüenta siclos sobre o sedutor (de uma virgem
descompromissada) e pôr em vigência as outras normas em conexão com o caso, como
está escrito:
"Se um homem atrair uma virgem..." (Êx 22:15,16).

221. Lidar com uma bela mulher tomada cativa em guerra, da maneira prescrita pela Tora,
como está escrito:
"(quando partires para a guerra)... e vires entre os prisioneiros urna bela mulher..." (Dt
21:10-94).

222. Divorciar-se através de documento formal escrito, como está escrito:


"E ele escreverá a ela uma carta de divórcio e entregará em suas mãos" (Dt 24:1).

223. Que a mulher suspeita de adultério seja tratada como recomenda a Torá, como está
escrito:
"E o sacerdote nela aplicará toda esta lei" (Nm 5:30).

224. Punir os pecadores pela aplicação de chicotadas, como está escrito:


"... o juiz fará com que ele deite e seja surrado em sua presença" (Dt 25:2).

225. Exilar aquele que cometer homicídio acidental, como está escrito:
"... (e a congregação o levará para a sua cidade de refúgio) e ele lá viverá até a morte do
sumo-sacerdote" (Nm 35:25).

226. Que o Tribunal aplique pena de morte por decapitaão com a espada," corno está
escrito:
"Ele será certamente vingado" (Ex 21:20).

227. Que o Tribunal aplique pena de morte por estrangulamento, como está escrito:
"Não só o adúltero como também a adúltera serão certamente mortos" (Lv 20:10).

228. Que o Tribunal aplique pena de morte pela queima no fogo," como está escrito:
"Eles queimarão a ele e a elas no fogo"165 (Lv 20:14).

229. Que o Tribunal condene à morte por apedrejamento, como está escrito:
"E tu apedrejá-los-ás (até que morram)" (Dt 22:24).

230. Pendurar o corpo morto daquele que incorreu naquela pena, como está escrito:
"Tu o pendurarás em um madeiro" (Dt 21:22).

231. Enterrar o executado no dia da execução, corno está escrito:


"... mas tu certamente enterrá-lo-ás naquele dia" (Dt 21:23).

232. Lidar legalmente com o escravo judeu, segundo as leis aplicáveis a ele, como está
escrito:
"Se comprares um servo judeu..." (Êx 21:2-6).

233. Desposar urna escrava judia, como está escrito:


"(Se ela não agradar ao seu senhor) que não a desposou, (então ele deixará que ela seja
redimida, e se ele a desposar com seu filho...)" (Êx 21:8,9).

234. Redimi-la, como está escrito:


"Ele a redimirá" (Êx 21:8).

235. Manter os cananeus escravos para todo o sempre, como está escrito:
"Eles serão teus escravos para todo o sempre" (Lv 25:46).

236. Aquele que infligir urna injúria física pagará compensação monetária, como está
escrito:
"E se os homens tiverem conflito físico e um ferir um outro..., ele pagará..." (Êx 21:18,19).

237. Julgar casos de danos causados por animais, como está escrito:
"E se o boi de um homem ferir o boi de outro homem..." (Êx 21:35,35).

238. Julgar casos de danos causados por buracos descobertos, como está escrito: "Se um
homem abrir um buraco..."166 (Êx 21:33,34).

239. Condenar um ladrão a pagar compensação, ou (em certos casos) sofrer a morte, como
está escrito:
"Se o indivíduo roubar um boi ou um cordeiro..." (Êx 21:37); "Se um ladrão for encontrado
arrombando..." (Êx 22:1); "E aquele que roubou um homem e vendeu-o..." (Êx 21:16).

240. Sentenciar casos de danos causados por invasão de gado, como está escrito: "Se um
homem fizer com que um campo ou vinhedo seja comido..." (Êx 22:4).
241. Sentenciar casos de danos causados por fogo, como está escrito:
"Se o fogo irromper e atingir os espinhos de modo a consumi-los..." (Êic 22:5).

242. Sentenciar casos de danos por um depositário gratuito, como está escrito:
"Se um homem entregar ao seu amigo dinheiro ou valores..." (Êx 22:6,7).
169 como

243. Julgar casos de compromisso de um depositário pago, está escrito:


"Se um homem entregar a seu amigo um jumento..." (Êx 22:9).

244. Sentenciar casos de perda pela qual uma pessoa que tomou algo emprestado é
responsável, como está escrito:
"E se um homem tomar emprestado alguma coisa de seu amigo..." (Êx 22:13,14).

245. Sentenciar casos de compra e venda, como está escrito:


"E se venderes alguma coisa ao teu próximo..." (Lv 25:14).

246. Sentenciar outros casos entre um queixoso e um réu, como está escrito:
"Para todas as formas de delito, para boi, (para jumento, para carneiros, a causa de ambas
as partes virá até a presença dos Juízes)" (Êx 22:8).

247. Salvar o perseguido, mesmo que isto custe a vida do perseguidor, como está escrito:
"Tu cortarás a mão dela..." (Dt 25:12).

248. Sentenciar casos de heranças, como está escrito:


"E se um homem morrer, e não tiver um filho, (então tu farás com que sua herança passe
para a sua filha, e será para o Povo de Israel um estatuto de julgamento)" (Nm 27:8-11)

Fim
Mishné Torá – Parte 2

Lista dos Preceitos Segundo Maimônides

Preceitos Negativos (Proibições)

1. O primeiro dos preceitos negativos é não admitir a idéia de que existe qualquer
deus, a não ser o Eterno, como está escrito:
"Tu não terás outros deuses diante de mim" (Êx 20:3).

2. Não fazer uma imagem esculpida, nem da própria pessoa nem dos outros, como
está escrito:
"Tu não farás para ti nenhuma imagem esculpida" (Êx 20:4).

3. Não fazer ídolos, mesmo que para os outros, como está escrito:
"Não farás para ti deuses construídos" (Ex 34:17).

4. Não fazer nenhuma figura para ornamento, mesmo que não sejam
reverenciadas, como está escrito:
"Tu não farás comigo (deuses de prata)" (Êx 20-23).

5. Não se curvai' a um ídolo, mesmo que isto não seja um modo de reverência,
como está escrito:
"Tu não te curvarás a eles" (Êx 20:5).

6. Não adorar um ídolo do modo como ele é normalmente adorado, como está
escrito:
"E tu não os servirás" (Êx 20:5).

7. Não passar (uma criança através do fogo) a Móleh, como está escrito:
"E tu não darás nenhum de teus descendentes para que passem através (do fogo)
a Móleh" (Lv 18:21).

8. Não praticar necromancia, como está escrito:


"Não te vires aos necromantes" (Lv 19:31).

9. Não praticar a feitiçaria do ieduá, como está escrito:


"... nem aos iedonint " (ib idem).

10. Não voltar-se para a idolatria, como está escrito:


"Não te voltarás para os ídolos" (Lv 19:4).

11. Não erigir um pilar (para adoração), como está escrito:


"Não construirás um pilar (que o Senhor teu D..S tem)" (Dt 16:22).

12. Não fazer pisos de pedra, como está escrito:


"Nem assentarás uma pedra esculpida em tua terra" (Lv 26:1).

13. Não plantar árvores no Santuário, como está escrito:


"Tu não plantarás um bosque"' de qualquer espécie de árvores (perto do altar do
Senhor, teu D..S)" (Dt 16:21).

14. Não jurar por um ídolo aos seus adoradores, nem fazer com que estes jurem
por ele, como está escrito:
"E não menciones os nomes de outros deuses" (êx 23:13).

15. Não desviar nenhum judeu para a idolatria, como está escrito:
"Não deixes que seja ouvido fora de tua boca" (Êx 23:13).
Esta é uma proibição de sedução à idolatria.

16. Não incitar nenhum judeu à idolatria, como está escrito:


"E todo Israel ouvirá e temerá e não mais farás tal maldade..." (Dt 13:12).

17. Não amar o idólatra, como está escrito:


"Tu não cederás a ele" (Dt 13:9).

18. Não desistir de odiar o incitador, como está escrito:


"Não lhe dês ouvidos" (ib idem).

19. Não salvar o aliciador da pena capital, mas presenciar a sua execução, como
está escrito:
"Teus olhos não terão misericórdia dele" (ibbidem).

20. Uma pessoa que o idólatra tentou aliciar não alegará pretextos para a
absolvição do mesmo, como está escrito:
"Nem tenha piedade dele" (ib idem).

21. Uma pessoa que o idólatra tentou aliciar não se absterá de apresentar prova da
culpa do mesmo, se possuir tal prova, como está escrito:
"Nem o ocultarás" (ib idem).

22. Não usar o ornamento que foi objeto de adoração idólatra, como está escrito:
"Tu não cobiçarás a prata ou o ouro sobre eles" (Dt 7:25).

23. Não reconstruir uma cidade desviada à perdição da idolatria, como está escrito:
"... ruína é ela e não mais será construída" (Dt 13:17).

24. Não ter nenhum usufruto das propriedades de uma cidade que foi assim levada
à perdição, como está escrito:
"E não cobiçar coisa alguma (daquilo amaldiçoado)..." (Dt 13:18).

25. Não ter usufruto de um ídolo, ou de seus objetos acessórios, ou de suas


oferendas, ou de suas libações, como está escrito:
"Não trarás abominação para a tua casa" (Dt 7:26).

26. Não profetizar em seu nome, como está escrito:


"... ou aquele que falar em nome de outros deuses (esse profeta morrerá)" (ib idem
18:20).

27. Não profetizar em falso, como está escrito:


"(Mas o profeta) que propositadamente falar uma palavra em meu nome, que eu
não tenha ordenado" (ibidem, 18:20).

28. Não dar ouvidos àquele que profetizar em nome de um ídolo, como está
escrito:
"Tu não ouvirás as palavras desse profeta" (Dt 13:4).

29. Não se abster de matar um falso profeta, nem tema-lo, como está escrito:
"Tu não o temerás" (Dt 18:22).

30. Não adotar o modo devida dos idólatras nem os seus hábitos, como está
escrito:
"E não adotarás as maneiras da nação (que eu expulso de diante de ti)" (Lv 20:23).
31. Não consultar adivinhos, como está escrito:
"Não deverá ser encontrado entre vós.., qualquer um que use adivinhação" (Dt
18:10).

32. Não fazer predições pelas estrelas (quer favoráveis ou não), como está escrito:
"... não observar predições do futuro" (Lv 19:26).

33. Não praticar superstição, como está escrito:


"Não usarás encantamentos" (ibidem, 19:26).

34. Não praticar magia, como está escrito:


"Não deverá ser encontrado entre vós um feiticeiro" (Dt 18:10).

35. Não praticar a arte do encantamento, como está escrito:


"... ou um encantador" (Dt 18:11).

36. Não consultar necromantes, como está escrito:


"Ou um consultor de necromancia" (ibidetn).

37. Não consultar o ieduá, como está escrito:


"... ou um ieduá" (ibidem).

38. Não consultar os mortos num sonho, como está escrito:


"Ou um necromante" (ibidem).

39. Que uma mulher não vista a roupa de um homem, como está escrito:
"A mulher não vestirá o que pertence a um homem" (Dt 22:5).

40. Que um homem não vista a roupa de uma mulher, como está escrito:
"... Nenhum homem vestirá a roupa de uma mulher" (ibidem); pois este era o
hábito dos idólatras, conforme está explicado em livros que tratam de adoração
idólatra.

41. Não tatuar o corpo, como os idólatras, como está escrito:


"... tu não imprimirás nenhuma marca sobre ti" (Lv 19:28).

42, Não vestir roupas feitas de lã e linho, tal como fazem os sacerdotes idólatras,
como está escrito:
"Tu não vestirás uma roupa de diversas espécies juntas..." (Dt 22:11).

43. Não arredondar os cantos da cabeça, como fazem os sacerdotes idólatras, como
está escrito:
"Tu não arredondarás o canto da tua cabeça" (Lv 12:27).

44. Não cortar a barba, como os idólatras, como está escrito:


"Nem danificarás os cantos da barba" (ibid.).

45. Não se marcar com cicatrizes, como fazem os idólatras, como está escrito:
"Tu não te retalharás" (Dt 14:1); "Fazer cicatrizes" (Dt 14:1) e "Fazer incisões" (Lv
19:28) são a mesma coisa.

46. Nunca se estabelecer na terra do Egito, como está escrito:


"Tu não mais voltarás a partir daqui por aquele caminho" (Dt 17:16).

47. Não se deixar influenciar em desobediência pelos pensamentos e visões


licenciosas, como está escrito:
"E não te desviarás atrás do teu coração (nem atrás dos teus olhos)" (Nm 15:39).
48. Não fazer convênio com as sete nações (cananéias idólatras), como está
escrito:
"Tu não farás convênio com eles" (Êx 23:32; Dt 7:2).

49. Não manter vivo qualquer indivíduo destas sete nações, como está escrito:
"... não salvarás nenhuma alma viva" (Dt 20:16).

50. Não tenhas compaixão com os idólatras, como está escrito:


"Não os favoreças" (Dt 7:2).

51. Não estabelecer idólatras em nossa terra, como está escrito:


"Eles não habitarão em tua terra" (Êx 23:33).

52. Não desposar um não-judeu, como está escrito:


"Nem farás casamentos com eles" (Dt 7:3).

53. Que um amonita ou moabita nunca se case com a filha de um israelita, como
está escrito:
"Um amonita ou moabita não entrarão na congregação do Senhor" (Dt 23:4).

54. Não excluir um descendente de Esaú da comunidade de Israel a partir da


terceira geração, como está escrito:
"Tu não execrarás um edomita (as crianças entre eles geradas entrarão na
congregação do Senhor, a partir da terceira geração)" (Dt 23:8,9).

55. Não excluir um egípcio da comunidade de Israel a partir da terceira geração,


como está escrito:
"Tu não execrarás um egípcio..." (Dt 23:9. ,9).

56. Não oferecer a paz aos amonitas e moabitas antes de guerrear com eles, como
deve ser o procedimento com as outras nações, como está escrito:
"Tu não buscarás a sua paz e prosperidade (em todos os teus dias e para todo o
sempre)" (Dt 23:7).

57. Não destruir árvores frutíferas e que nenhuma coisa seja destruída sem
necessidade, como desperdício, como está escrito:
"Tu não destruirás a árvore daquele lugar" (Dt 20:19,20).

58. Que aqueles engajados em guerra não temam os seus inimigos nem entrem em
pânico durante a batalha, como está escrito:
"... não tremam, nem se aterrorizem devido a eles" (Dt 3:22; 7:21; 20:3).

59. Que o mal feito a nós por Arnalec não deixe as nossas mentes, como está
escrito:
"Tu não esquecerás" (Dt 25:19).

60. (Somos obrigados) a não blasfemar e a não amaldiçoar o Eterno, como está
escrito:
"Tu não blasfemarás" (Êx 22:27); e em relação à pena, está escrito: "E aquele que
blasfemou o nome do Senhor será certamente morto" (Lv 24:16).
O princípio geral é o de que onde quer que a Escritura prescreva a pena de excisão
ou uma sentença capital, a ofensa ter sido a violação de uma proibição.
As únicas exceções são a Circuncisão e a Páscoa, que são preceitos afirmativos, e
cuja negligência envolve pena de excisão.

61. Não violar um juramento expresso, como está escrito:


"Tu não jurarás por Meu Nome falsamente" (Lv 19:12).
62. Não jurar desnecessariamente, como está escrito: "Tu não tomarás o Nome do
Senhor, teu D..S, em vão (Êx 20:7).

63. Não profanar o Nome Divino, seja Ele abençoado, como está escrito:
"Tu não profanarás o Meu Sagrado Nome" (Lv 22:32).

64. Não colocar a palavra de D..S sob teste, como está escrito:
"Tu não tentarás o Senhor, teu D..S" (Dt 6:16).

65. Não destruir coisas do Santuário, da sinagoga ou de Casas de Estudo, nem


apagar os Nomes Sagrados (de D..S); não destruir, tampouco, as Sagradas
Escrituras, como está escrito:
"Tu destruirás por completo (todos os lugares onde as nações.. serviram a seus
deuses)... e queimarás os seus bosques... e não agirás assim para o Senhor teu
D..S" (Dt 12:2-4).

66. Que o corpo morto de um criminoso executado não permaneça na árvore


durante toda a noite, como está escrito:
"Tu não farás com que o seu cadáver sofra ao permanecer (durante toda a noite)"
(Dt 21:23).

67. Não permitir que o Santuário fique sem vigília, como está escrito:
"E tu responsabilizar-te-ás pelo Santuário" (Nm 18:5).

68. Que o sacerdote não entre no Santuário a qualquer hora, como está escrito:
"(Fala a Aarão, teu irmão), que ele não entre a toda hora no Lugar Sagrado" (Lv
16:2).

69. Que um sacerdote com defeito físico não entre no Santuário até o altar, como
está escrito:
"... apenas ele não entrará até a cortina (nem virá até o altar)" (Lv 21:23).

70. Que uma pessoa com defeito físico não sirva (no Santuário), como está escrito:
"Quem quer que tenha qualquer defeito, não se aproximará (para oferecer o
sacrifício do pão ao seu D..S)" (Lv 21:17).

71 . Que um sacerdote com defeito físico temporário não sirva lá, como eatá
escrito:
"Nenhum homem, no qual houver um defeito, deve se aproximar para consagrar as
oferendas de fogo ao Senhor)" (Lv 21:21).

72. Que os levitas não se ocupem com o serviço que pertence aos sacerdotes, nem
os sacerdotes com o que pertence aos levitas, como está escrito:
"...apenas eles não se aproximarão das arcas do Santuário e do altar, e nem eles
nem tu morrereis" (Nm 18:3).

73. Que uma pessoa embriagada não entre no Santuário, nem dê decisões em
assuntos da Lei, como está escrito:
"Não bebas vinho, nem bebida forte... quando penetrares no Tabernáculo... e que
tu ensines às crianças de Israel" (Lv 10:9-11).

74. Aquele que não é descendente de Aarão por linhagem masculina, não pode
servir (no Santuário), como está escrito:
"E um estranho não se aproximará de ti" (Nm 18:4-7).
75. Que um sacerdote que estiver impuro não sirva (no Santuário), como está
escrito:
"(Fala a Aarão e seus filhos) que se separem das coisas sagradas do Povo de
Israel..." (Lv 22:2,3).

76. Que o sacerdote que foi imerso durante o dia (para ser purificado) não sirva no
Santuário senão após o pôr do sol, como está escrito:
"... a eles não profanarão o Nome de seu D..S" (Lv 21:6).

77. Que nenhum sacerdote que esteja impuro entre na área (do Santuário), como
está escrito:
"Que eles não irnpurifiquem suas áreas (em meio às quais Eu habito)" (Nm 5:2,3).
Isto se refere à área da Shehiná (os recintos do Santuário).

78. Que ninguém que esteja impuro entre na área dos levitas; por causa disto, as
gerações seguintes (só) freqüentavam o Monte do Templo, como está escrito:
"... ele não entrará no campo" (Dt 23:11).

79. Não construir um altar de pedra talhada, como está escrito:


"Tu não o construirás de pedra talhada" (ÊX 20:25).

80. Não subir ao altar por escadas, como está escrito:


"Nem subirás em degraus até o meu altar" (Êx 20:26).

81. Não oferecer incenso (estranho) nem qualquer sacrifício no altar de ouro, como
está escrito:
"Tu não oferecerás incenso estranho naquele lugar (nem sacrifício ardente)..." (Êx
30:9).

82. Não extinguir o fogo sobre o altar, como está escrito:


"O fogo deverá estar sempre ardendo sobre o altar, e ele nunca se extinguirá" (Lv
6:5).

83. Não preparar óleo (para uso leigo) com a fórmula do óleo de unção (Ex
30:23,24), como está escrito:
"Nem farás algo com ele, após a sua composição" (Êx 30:32).

84. Não ungir um estranho com óleo de unção, como está escrito:
"Sobre a carne de um homem ele não será derramado" (Êx 30:32).

85. Não empregar para fins inadequados a fórmula do incenso, como está escrito:
"... e não fareis para vós segundo a sua composição" (Êx 30:37).

86. Não remover os varais da Arca, como está escrito:


"... eles não serão retirados dela" (Êx 25:15).

87. Que o peitoral não fique frouxo sobre efode, como está escrito:
"Que o peitoral não seja desprendido do efode" (Êx 28:28).

88. Não rasgar o manto do sumo sacerdote, como está escrito:


"(deverá haver um reforço de debrum em volta da gola do manto)... que não seja
rasgado" (Êx 28:32).

89. Não oferecer sacrifícios fora (do Santuário), como está escrito:
"Cuidado contigo para que não ofereças as tuas oferendas ardentes (em qualquer
lugar)" (Dt 12:13).
90. Não abater animais destinados para sacrifícios fora (do Santuário), como está
escrito:
"Qualquer homem que seja.., que matar uma vaca ou uma ovelha.., e não trouxer
até a porta do Tabernáculo da Congregação... (esse homem) deverá ser banido"
(Lv 17:3,4).

91. Não santificar gado defeituoso, para sacrifício sobre o altar, como está escrito:
"O que quer que tiver defeito, tu não o oferecerás" (Lv 22:20).
Este texto proíbe que tais animais sejam destinados para o sacrifício sobre o altar.

92. Não abater gado defeituoso como sacrifício, como está escrito:
"... tu não oferecerás estes ao Senhor" (Lv 22:22).

93. Não aspergir o sangue de gado defeituoso sobre o altar, como está escrito:
"Tu não oferecerás ao Senhor" (Lv 22:24).
Isto se refere à aspersão do sangue.

94. Não queimar os membros do gado defeituoso sobre o altar, como está escrito:
"Nem faças uma oferenda deles ao fogo sobre o altar" (ibid. 22:22).

95. Não oferecer um animal que tiver um defeito temporário, como está escrito:
"Tu não sacrificarás ao Senhor, teu D. .S, um touro ou uma ovelha em que haja
algum defeito" (Dt 17:1).
Isto se refere a um defeito temporário.

96. Não oferecer um animal defeituoso que provenha de não-judeus, como está
escrito:
"Nem da mão de um estranho tu oferecerás..." (Lv 22:25).

97. Não causar dano ao gado determinado para sacrifício, como está escrito:
"Não deverá ter defeito" (Lv 22:21).

98. Não oferecer fermento ou mel, como está escrito:


"Tu não queimarás qualquer fermento ou qualquer mel" (Lv 2:11).

99. Não oferecer qualquer oferenda sem sal, como está escrito:
"Nem Mui rerás com a falta do sal do convênio de teu D..S" (Lv 2:13).

100. Não trazer sacrifícios provenientes do aluguel de uma prostituta ou o preço de


um cachorro, como está escrito:
"Não trarás aquilo advindo ilo aluguel de uma prostituta ou o preço de um cão"
(dentro da Casa do :;eillior, teu D..S)" (Dt 23:19).

101. Não abater um animal e o seu filhote no mesmo dia, como está escrito:
"Tu não o matarás e ao seu filhote ambos em um só dia" (Lv 22:28).

102. Não colocar azeite de oliva em uma oferenda de pecado feita de farinha, como
está escrito:
"Ele não colocará óleo sobre ela" (Lv 5:11).

103. Não colocar olíbano sobre ela, como está escrito:


"Nem sobre ela colocará olíbano" (ibidem).

104. Não colocar óleo de oliva na oferenda de alimento de uma mulher suspeita de
adultério, como está escrito:
"Ele não despejará óleo sobre ela" (Nm 5:15).
105. Não colocar olíbano sobre ela, como está escrito:
"Não colocar olíbano sobre ela" (Ibid. 5:15).

106. Não trocar um animal destinado para sacrifício, como está escrito:
"Ele não o alterará nem o mudará" (Lv 27:10).

107. Não trocar um animal separado para o sacrifício de uma categoria de


sacrifícios para outra, como está escrito em relação ao primogênito do gado:
"(O primogênito dos animais...) nenhum homem o santificará" (Lv 27:26); isto é,
ninguém oferecê-lo-á como outra espécie de sacrifício.

108. Não redimir o primogênito de um animal puro, como está escrito:


"Mas o primogênito de uma vaca tu não redimirás" (Nm 18:17).

109. Não vender o dízimo do rebanho, como está escrito: "... ele não será
redimido" (Lv 17:32-33).

110. Não vender um campo dedicado ao Senhor, como está escrito:


"Nenhuma coisa consagrada... será vendida" (Lv 27:28).

111. Não redimir um campo dedicado ao Senhor, como está escrito:


"Nem ele será redimido" (ibid.).

112. Não degolar completamente a cabeça de uma ave trazida como oferenda de
pecado, como está escrito:
".., e ele destroncará a sua cabeça de seu pescoço, mas não a separará" (Lv 5:8).

113. Não trabalhar com o gado destinado para sacrifício, como está escrito:
"Tu não trabalharás com o primogênito de teu boi..." (Dt 15:19).

114. Não tosquiar animais destinados para sacrifício, como está escrito:
"Nem tosquiar o primogênito de tuas ovelhas" (ibid.).

115. Não abater a ovelha pascal enquanto houver pão levedado no teu domínio,
como está escrito:
"Tu não oferecerás o sangue de meu sacrifício com fermento" (Êx 23:18 e 34:25).

116. Não deixar sobre o altar até a manhã, a parte da ovelha pascal que deve ser
queimada, quando ela não mais se prestará ao holocausto, como está escrito:
"Nem a gordura de meu sacrifício permanecerá até a manhã" (Êx 23:18).

117. Não deixar de consumir toda a carne do sacrifício pascal até a manhã, como
está escrito:
"E tu não deixarás que sobre nada dele..." (Êx 12:10).

118. Não deixar qualquer parte da oferenda do festival, trazida no décimo-quarto


dia de Nissan, até o terceiro dia, como está escrito:
"... nem qualquer parte da carne (que tu sacrificaste no primeiro dia ao entardecer)
permanecerá a noite inteira (até a manhã)" (Dt 16:4).
Tradicionalmente, sabe-se que este verso se refere à oferenda pascal trazida
décimo-quarto dia de Nissan, e a frase "até a manhã" significa: até a manhã do
segundo dia de Pêssah; ou seja, o terceiro dia a partir do qual ela foi morta.

119. Não deixar qualquer carne da ovelha pascal, trazida na segunda Páscoa, até a
manhã, como está escrito:
"Eles não deixarão nada dela até a manhã" (Nm 9:12).
120. Não deixar qualquer carne da oferenda de agradecimento até a manhã, como
está escrito:
"Não deixarás até a manhã" (Lv 22:30).
A mesma regra se aplica à carne ou a outros sacrifícios que não podem ser
deixados além do tempo determinado para seu consumo.

121. Não quebrar um osso da ovelha pascal, como está escrito:


"... nem quebrarás um osso dela" (Êx 12:46).

122. Não quebrar um osso da ovelha pascal trazida na segunda Páscoa, como está
escrito:
"Nem quebrarão um osso dela" (Nm 9:12).

123. Não retirar qualquer parte da carne da ovelha pascal do lugar onde o grupo se
reúne, como está escrito:
"Tu não tirarás (alguma coisa da carne) para fora da casa" (Êx 12:46).

124. Não deixar fermentar o resto das oferendas de oblação (comido pelos
sacerdotes), como está escrito:
"Ele não será cozido com levedo; (Eu o dei como a sua parte)" (Lv 6:10).

125. Não comer a carne da ovelha pascal, cozida ou meio assada, como está
escrito:
"Não coma dela, nem mal passada, nem cozida" (Êx 12:9).

126. Não dar carne da ovelha a um não-judeu para que coma dela, como está
escrito:
"Um estranho e um servente contratado não comerão dela" (Êx 12:45).

127. Que os não circuncidados não comam da carne da ovelha pascal, como está
escrito:
"Mas nenhuma pessoa incircuncisa comerá dela" (Êx 12:48).

128. Não dar da carne da ovelha pascal a um judeu que se tornou apóstata, como
está escrito:
"Nenhum estranho comerá dela..." (Êx 12:43).
Ou seja, um judeu que se juntou a estranhos e idolatrou com eles não comerá dela.

129. Uma pessoa que é impura não comerá das coisas que são sagradas, como
está escrito:
"Mas a alma que comeu da carne do sacrifício das oferendas de paz... (tendo
impurezas sobre si, até mesmo esta alma deverá ser banida do seu povo)" (Lv
7:20).

130. Não comer das coisas sagradas que se tornaram impuras, como está escrito:
"E a carne que tocou qualquer coisa impura não será comida" (Lv 7:19).

131. Não comer carne de um sacrifício que foi deixado (além do tempo
determinado para seu consumo, como está escrito:
"Qualquer um que a consumir arcará com a sua pena... e a alma será banida (do
seu povo)" (Lv 19:8).

132. Não comer os sacrifícios que sejam repugnantes (por que se pretendia que
fossem comidos além do tempo ou lugar apropriado), como está escrito:
"... (E se qualquer parcela da carne do sacrifício de suas oferendas de paz forem
comidas no terceiro dia, ela não será aceita); nem será imputada a quem a
ofereceu; ela será uma abominação" (Lv 7:18).
A pena é a excisão. ("A alma que comeu dela arcará com a sua pena") (ibid.).

133. Um estranho (alguém que não seja um sacerdote, nem esposa de um


sacerdote, nem sua filha solteira) não comerá da oferenda da colheita, como está
escrito:
"Nenhum estranho comerá da coisa sagrada" (Lv 22;10).

134. Que nem mesmo um servo do sacerdote (escravo judeu que é libertado no
Ano Jubileu), ou servo contratado (escravo judeu que é libertado após sais anos de
trabalho) comerá da oferenda da colheita, como está escrito:
"Alguém que reside temporariamente como sacerdote, ou um servo contratado
(não comerão da coisa sagrada)" (ibid.).

135. Que uma pessoa não circuncidada não coma da oferenda da colheita.
O mesmo se aplica as outras oferendas sagradas.
Esta norma é inferida da lei da oferenda pascal, pela semelhança da frase (Êx
12:44,45 e Lv 22:10), mas não está apresentada explicitamente na Torá.
Tradicionalmente, sabe-se que a regra que determina que os incircuncisos não
devem comer alimentos sagrados é um princípio essencial da Torá, e não um
decreto dos sábios.

136. Que um sacerdote que seja impuro não coma da oferenda da colheita, como
está escrito:
"Qualquer um de sua descendência.., que for leproso ou tiver um fluxo... ele não
comerá dos alimentos sagrados..." (Lv 22:3,4).

137. A filha de um sacerdote, que se tomou profana, não comerá dos alimentos
sagrados, nem da oferenda da colheita, nem da espádua (das oferendas de paz)
(Lv 10:14), como está escrito:
"Se a filha do sacerdote também for casada com um estranho (ela não poderá
comer da oferenda de grão dos alimentos sagrados)" (Lv 22:12).

138. Não comer da oferenda de oblação trazida pelos sacerdotes, como está
escrito:
"E toda oferenda de alimento para o sacerdote será totalmente oferecida. Ela não
deverá ser comida" (Lv 6:16).

139. Não comer da carne das oferendas de pecado, cujo sangue é trazido para o
santuário e aspergido em direção à Cortina, como está escrito:
"E nenhuma oferenda do pecado, da qual (qualquer sangue) é trazido ao
tabernáculo da congregação... será comida; será queimada ao fogo" (Lv 6:23).

140. Não comer a carne de animais destinados a sacrifícios que se tornaram


impróprios por terem se ferido propositalmente, como está escrito:
"Tu não comerás qualquer coisa abominável" (Dt 14:3).
Aprendemos tradicionalmente que este texto se refere aos animais sacrificiais
tomados inadequados por causa de ferimento.

141. Não comer o segundo dízimo dos cereais fora de Jerusalém, como está
escrito:
"Tu não poderás comer dentro de teus portões o dízimo de tua colheita" (Dt
12:17).

142. Não consumir o segundo dízimo da vindima fora de Jerusalém, como está
escrito:
"ou de teu vinho" (ibid.).
143. Não consumir o segundo dízimo do azeite fora de Jerusalém, como está
escrito:
"ou do teu óleo" (ibid.).

144. Não comer o primogênito (dos animais) sem defeito fora de Jerusalém, como
está escrito:
"o primogênito (de teus rebanhos ou de tuas manadas)" (ibid.).

145. Que os sacerdotes não comam a carne da oferenda de pecado ou oferenda de


transgressão fora do pátio (do santuário), já que o texto "Tu não poderás comer
dentro de teus portões" (ibid.) aplica-se ao que quer que seja comido fora do local
destinado.

146. Não comer a carne da oferenda queimada, como está escrito:


"Tu 'ião poderás (comer dentro de teus portões)... nenhuma de tuas oferendas
votivas" (ibid.).
Esta é uma proibição que se aplica a todo transgressor, para que não desfrute de
quaisquer coisas sagradas. Se ele assim o fizer, comete uma transgressão.

147. Não comer da carne dos sacrifícios que são consagrados em grau menor antes
que o sangue tenha sido aspergido (sobre o altar), como está escrito:
"Tu não poderás comer... tuas oferendas voluntárias" (Dt 12:17) - isto é, tu não
poderás comer tuas oferendas voluntárias, até que o sangue tenha sido aspergido.

148. Aquele que não é descendente de Aarão não comerá a carne dos sacrifícios
sagrados, como está escrito:
"Mas um estranho não comerá dela, porque elas são sagradas" (Êx 29:33).

149. Que o sacerdote não coma das primeiras frutas antes que sejam depositadas
no pátio (do Santuário), como está escrito:
"(Não poderás comer dentro de teus portões)... nem oferendas da colheita de tua
mão" (Dt 12:17); isto se refere às primeiras frutas.

150. Não comer o segundo dízimo em estado de impureza (nem mesmo em


Jerusalém), até que tenha sido redimido, como está escrito:
"Nem rol irareis alguma coisa enquanto impura" (Dt 26:14).

151. Não comer o segundo dízimo durante o luto, como está escrito:
"Eu não comi em meu luto" (ibid.).

152. Não gastar o dinheiro do segundo dízimo com qualquer coisa, a não ser
comida e bebida, como está escrito:
"Não darás alguma coisa aos mortos" (ibid.).
Qualquer coisa fora das coisas necessárias para o sustento do homem vivo se
enquadra na categoria da frase: "Dado aos mortos."

153. Não comer tevel. Tevel é qualquer produto do solo colhido antes que a
oferenda da colheita e os dízimos devidos tenham sido separados; como está
escrito:
"E eles não profanarão as coisas sagradas do povo de Israel que oferecem ao
Senhor" (Lv 22:15).
Isto significa que os alimentos dos quais um parte será separada para o Senhor não
devem ser considerados seculares nem comidos antes que a separação tenha
ocorrido.

154. Não separar do produto as oferendas de colheita (dadas ao sacerdote) antes


das primícias das frutas, nem o primeiro dízimo antes da oferenda da colheita, nem
o segundo dízimo antes do primeiro dízimo (deveres dos Levitas). A separação deve
continuar na ordem devida: primeiras frutas no início, a seguir a grande oferenda
da colheita, depois o primeiro dízimo e por último o segundo dízimo, como está
escrito:
"Não retardarás o primeiro de tuas primícias e oferendas" (Êx 22:28); isto é, não
retardar a oferenda que deveria ser trazido anteriormente.

155. Não retardar as oferendas prometidas ou voluntárias, como está escrito:


"(Quando prometeres uma oferenda ao Senhor, teu D. .S) não retardarás em pagá-
la" (Dt 23:22).

156. Não subir ao Santuário, para o festival, sem trazer uma oferenda, como está
escrito:
"E eles não aparecerão diante de Mim vazios" (Êx 23:15).

157. Não transgredir a palavra pronunciada, como está escrito:


"... ele não profanará a sua palavra" (Nm 30:3).

158. Que um sacerdote não despose uma prostituta, como está escrito:
"Eles não tomarão uma esposa que seja prostituta" (Lv 21:7).

159. Que um sacerdote não tome uma mulher profana em casamento, como está
escrito:
"...ou profana" (ibid.).

160. Que um sacerdote não se case com uma mulher divorciada, como está escrito:
"Nem eles tomarão uma mulher divorciada de seu marido" (ibid.).

161. Que o sumo sacerdote não tome uma viúva em casamento, como está escrito:
"Uma viúva, ou uma mulher divorciada, ou profana, ou uma prostituta (estas ele
não tomará)" (Lv 21:14).

162, Que o sumo sacerdote não coabite com uma viúva, mesmo sem casamento,
porque ele a profana, como está escrito:
"Nem ele profanará seu descendente entre o seu povo" (ibid. 21:15).
Ele está assim proibido de profanar alguém que seria qualificado para se casar com
um sacerdote.

163. Que um sacerdote não entre no santuário com o cabelo crescido, como está
escrito:
"Não deixes que o cabelo da tua cabeça esteja em desalinho" (Lv 10:6).

164. Que um sacerdote não entre no santuário com roupas rasgadas, como está
escrito:
"Nem rasgues as tuas vestimentas" (ibid. 10:6).

165. Que o sacerdote não abandone o pátio do santuário durante o serviço, como
está escrito:
"E não sairás da porta da Tenda do Tabernáculo, senão morrerás" (Lv 10:7).

166. O sacerdote comum não se torne impuro no contato com algum morto que
não tenha com ele parentesco imediato, como está escrito:
"Por um morto que está entre o seu Povo não se tornará impuro" (Lv 21:1-5).

167. Que o sumo sacerdote não se impurifique com quaisquer mortos, mesmo que
sejam seus pai e mãe, como está escrito:
"Nem se impurifique por seu pai ou mãe..." (Lv 21:11).
168. Que um sumo sacerdote não esteja (sob o mesmo teto) com um corpo morto,
como está escrito:
"Nem ele entrará até (onde esteja) qualquer corpo morto (nem se impurificará)"
(ibid.).
Sabe-se, tradicionalmente, que um sacerdote que assim o faz, viola duas
proibições: "Nem ele entrará...", e também a proibição "Ele não se impurificará".

169. Que a tribo de Levi não tome qualquer parte do território na sua terra (de
Israel), como está escrito:
("Os sacerdotes, os levitas, até mesmo a tribo de Levi) não terão (nenhuma parte)
nem herança (com Israel)" (Dt 18:1).

170. Que ninguém da tribo de Levi tome qualquer quinhão do despojo (na
conquista da Terra Prometida), como está escrito:
"Os sacerdotes, (os levitas) não terão quinhão" (ibid.).

171. Não fazer uma mancha no cabelo pelo morto, como está escrito:
"Nem fazer qualquer mancha entre os teus olhos pelo morto" (Dt 14:1).

172. Não comer a carne de animais impuros, como está escrito:


"Não obstante... não comerás daquelas espécies que ruminam ou daquelas que têm
os cascos fendidos.. “(Lv 11:4).

173. Não comer peixe impuro, como está escrito:


"Eles serão uma abominação para ti. Tu não comerás da sua carne" (Lv 11:11).

174. Não comer ave impura, como está escrito:


"E estas tu abominarás entre as aves; elas não serão comidas" (Lv 11:13).

175. Não comer insetos voadores, como está escrito:


"E todas as coisas voadoras em enxame são impuras para ti; (elas não serão
comidas)" (Dt 14:19).

176. Não comer das coisas que rastejam sobre a terra, como está escrito:
"E toda coisa que rasteje sobre a terra é uma abominação; ela não será consumida"
(Lv 11:41,42).

177. Não comer qualquer verme da terra, como está escrito:


"Nem te macularás (com qualquer forma que se mover sobre a terra em enxame)"
(Lv 11:44).

178. Não comer verme encontrado em fruta, como está escrito:


"Qualquer verme que rasteje (sobre a terra)" (Lv 11:41,42).

179. Não comer um verme encontrado na água, como está escrito:


"Não tornar-vos-eis abomináveis com qualquer coisa rastejante" (Lv 11:43 e 46).

180. Não comer a carne de um animal que morreu por si só, como está escrito:
"Tu não comerás de qualquer coisa que morreu por si mesma" (Dt 14:21).

181. Não comer a carne de um animal que esteja terefá, como está escrito:
"Nem comerás carne dilacerada dos animais do campo" (Êx 22:30).

182. Não comer um membro retirado de um animal vivo, como está escrito:
"E não comerás a vida com a carne" (Dt 12:23).
183. Não comer o nervo da juntura da coxa que atrofiou, como está escrito:
"... os filhos de Israel não comam o nervo que atrofiou" (Gn 32:33).

184. Não ingerir sangue, como está escrito:


"Tu não comerás qualquer forma de sangue" (Lv 7:26).

185. Não comer gordura sebácea, como está escrito:


"Tu não comerás nenhuma forma de gordura, de vaca, de carneiro ou de bode" (Lv
7:23).

186. Não cozinhar carne permitida com leite, como está escrito:
"Tu não cozinharás o filhote de cabrito no leite de sua mãe" (Êx 23:19).

187. Não comer carne com leite, como está escrito, pela segunda vez:
"Tu não cozinharás o filhote de cabrito no leite de sua mãe" (Êx 34:26).
Sabe-se tradicionalmente que um destes textos (Êx 23:19) refere-se à proibição de
cozimento, o outro (Êx 34:26), à proibição de comer.

188. Não comer a carne de uma vaca que foi condenada ao apedrejamento, como
está escrito:
"... e a sua carne não será comida" (Êx 21:28).

189. Não comer pão feito de grão novo antes de o ônier da cevada ter sido
oferecido (em sacrifício) no segundo dia da Páscoa, como está escrito:
"E tu não comerás nem pão, nem grão torrado, nem espigas de cereais frescos até
aquele exato dia" (Lv 23:14).

190. Não comer grão torrado do novo produto (antes desta ocasião), como está
escrito:
"Nem grão torrado... tu comerás..." (ibid.).

191. Não comer espigas de cereais frescos do grão novo (antes desta ocasião),
como está escrito:
"E as espigas de cereais verdes tu não comerás (até este dia)" (ibid.).

192. Não comer a fruta de uma árvore durante os primeiros três anos a partir da
primeira frutificação como está escrito:
"... três anos ela será proibida para ti. Ela não será comida" (Lv 19:23).

193. Não comer o produto de diversas sementes que cresceram juntas num
vinhedo, como está escrito:
"Tu não semearás o teu vinhedo com várias sementes" (Dt 22:9).
Isto significa que o fruto é de ingestão proibida.

194. Não beber vinho de idólatras, como está escrito:


"Quem comeu a gordura de seus sacrifícios e bebeu o vinho de seus sacrifícios" (Dt
32:38).

195. Não comer ou beber como um glutão ou bêbado, como está escrito:
"(Este nosso filho é teimoso e rebelde...); ele é um glutão e um beberrão" (Dt
21:20).

196. Não comer no Dia do Jejum (Dia do Arrependimento), como está escrito:
"Porque toda alma que não se afligir nesse dia será banida do mei o de seu povo"
(Lv 23:29).

197. Não comer pão fermentado em Pêssah como está escrito:


"Nenhum pão fermentado será comido" (Êx 13:3).
198. Não comer em Pêssah qualquer alimento que contenha fermento, como está
escrito:
"Não comerás nada fermentado"(Êx 12:20).

199. Não comer pão fermentado depois do meio-dia, no décimo-quarto dia (de
Nissan), como está escrito:
"Tu não comerás pão fermentado nele" (Dt 16:3).

200. Que o pão fermentado não seja visto (em qualquer propriedade judia durante
o Pêssah), como está escrito:
"E nenhum pão fermentado será visto contigo" (Êx 13:7).

201. Que não haja fermento na propriedade de um judeu (durante a Páscoa), como
está escrito:
"... nenhum fermento será encontrado em tuas casas" (Êx 12:19).

202. Que um nazireu não beba vinho, ou qualquer coisa misturada com vinho ou
que tenha gosto de vinho, como está escrito:
"Nem ele beberá qualquer licor de uvas" (Nm 6:3); mesmo que o vinho ou a
mistura tenham azedado, o consumo é proibido ao nazireu, como está escrito:
"E ele não beberá vinagre de vinho ou vinagre de bebida forte" (ibid.).

203. Que ele não coma uvas frescas, como está escrito:
"Nem comer uvas orvalhadas" (ibid. 6:3).

204. Que ele não coma uvas secas (passas), como está escrito:
"Nem comer (uvas) secas" (ibid.).

205. Que ele não coma as sementes das uvas, como está escrito:
"Ele não comerá as sementes" (ibid. 6:4).

206. Que ele não coma as cascas das uvas, como está escrito:
"Ele não comerá... nem mesmo a casca" (ibid. 6:4).

207. Que um nazireu não se impurifique por qualquer pessoa morta, como está
escrito:
"Ele não se tornará impuro por seu pai, ou por sua mãe... quando eles morrerem"
(ibid. 6:7).

208. Que ele não entre em qualquer estrutura coberta onde haja um corpo morto,
como está escrito:
"... ele não se aproximará de um corpo morto" (ibid. 6:6).

209. Que o nazireu não corte o seu cabelo, como está escrito:
"... nenhuma lâmina virá por sobre sua cabeça" (ibid. 6:5).

210. Não ceifar o campo inteiro, como está escrito:


"... tu não ceifarás integralmente o canto de teu campo" (Lv 19:9 e 23:22).

211. Não juntar as espigas de cereais que caíram no chão na ocasião da colheita,
como está escrito:
"Nem juntarás as respigas de tua colheita" (ibid. 19:9).

212. Não colher os cachos imperfeitos do teu vinhedo, como está escrito:
"E tu não recolherás o teu vinhedo" (Lv 19:10).
213. Não recolher os cachos de uvas que caíram em terra, como está escrito:
"Nem recolherás toda uva de teu vinhedo" (Lv 19:10).

214. Não retomar para apanhar um feixe esquecido, como está escrito:
"(Quando tu ceifares tua eira) e esqueceres um feixe no campo, não irás
novamente buscá-lo" (Dt 24:19).
Isto se aplica também a todas as árvores frutíferas, como está escrito:
"Tu não retomarás até os galhos novamente" (ibid. 24:20).

215. Não semear diferentes espécies de sementes juntas num campo, como está
escrito:
"Tu não semearás teu campo com diversas sementes" (Lv 19:19).

216. Não semear grão de trigo ou verduras em um vinhedo, como está escrito:
"Tu não semearás teu vinhedo com diversas sementes" (Dt 22:9).

217. Não cruzar animais de espécies diferentes, como está escrito:


"Tu não deixarás teu animal gerar com uma espécie diferente" (Lv 19:19).

218. Não jungir animais de diferentes espécies numa mesma parelha, como está
escrito:
"Tu não ararás com uma vaca e com um asno juntos" (Dt 22:10).

219. Não amordaçar um animal enquanto ele estiver trabalhando em produto que
possa comer e desfrutar, como está escrito:
"Tu não amordaçarás uma vaca quando ela estiver pisando o grão" (Dt 25:4).

220. Não lavrar a terra no Ano Sabático, como está escrito:


"... tu não semearás teu campo..." (Lv 25:4).

221. Não fazer qualquer trabalho nas árvores no Ano Sabático como está escrito:
"Nem podarás teu vinhedo" (ibid. 25:4).

222. Não colher o que crescer naturalmente no Ano Sabático, da mesma forma que
em outros anos, como está escrito:
"Aquilo que crescer por si mesmo no teu campo, tu não colherás" (Lv 25:5).

223. Não colher o fruto da árvore no Ano Sabático da mesma forma que em outros
anos, como está escrito:
"E as uvas de teu vinho, tu não colherás" (ibid.).

224. Não cultivar o solo nem fazer qualquer trabalho nas árvores, no Ano do
Jubileu, como está escrito:
"Tu não semearás" (Lv 25:11).

225. Não colher, no Ano do Jubileu, aquilo que cresceu por si mesmo, da mesma
forma que em outros anos, como está escrito:
"Nem colhas aquilo que cresceu por si mesmo" (ibid. 25:11).

226. Não colher a fruta da árvore no Ano do Jubileu da mesma forma que nos
outros anos, como está escrito:
"Nem colher as uvas durante este período do vinho" (Lv 25:11).

227. Não vender um campo na terra de Israel em perpetuidade, como está escrito:
"E a terra não será vendida em perpetuidade" (Lv 25:23).
228. Não mudar a característica da terra aberta (em volta das cidades dos) levitas
ou de seus campos, como está escrito:
"Mas o campo de terra aberta de suas cidades não pode ser vendido" (Lv 25:34).
Sabe-se, por tradição, que isto é uma proibição que impede qualquer mudança de
tal natureza.

229. Não abandonar os levitas, como está escrito:


"Cuida-te para que não abandones o levita" (Dt 12:19); suas porções (devidas)
devem-lhes ser dadas e agradá-los, de modo que possam regozijar-se com elas nos
dias festivos.

230. Não exigir o débito de um empréstimo depois que o Ano Sabático tenha
transcorrido, como está escrito:
"... ele não exigirá de seu vizinho, ou de seu irmão" (Dt 15:2).

231. Não se abster de conceder um empréstimo a um homem pobre por causa do


Ano Sabático, como está escrito:
"Cuidado para que não haja um pensamento maldoso (em teu coração, dizendo: o
sétimo ano, o ano da libertação, está à mão...)" (Dt 15:9).
A regra geral é a de que sempre que os termos "Cuidado", "A menos que" ou "não"
ocorram, estarão expressando uma proibição.

232. Não abster-se de dar a um homem pobre o que ele precisar, como está
escrito:
"Tu não endurecerás o teu coração..." (ibid. 15:7).
A partir daí, quem quer que conceda a caridade cumpre um preceito afirmativo,
enquanto que aquele que fecha seus olhos e se abstém de fazer caridade, não
apenas negligencia um dever positivo, mas também viola uma proibição.

233. Não mandar embora um escravo judeu de mãos vazias, quando ele estiver
livre do serviço, como está escrito:
"... tu não o deixarás partir vazio" (Dt 15:13).

234. Não exigir de um homem o pagamento de seu débito, quando se sabe que ele
é pobre, nem pressioná-lo, como está escrito:
"Tu não serás para ele um usurário" (Êx 22:24).

235. Não conceder um empréstimo a um judeu sob juros, como está escrito:
"Tu não darás a ele o teu dinheiro sob usura" (Lv 25:37).

236. Não contratar um empréstimo sob juros, como está escrito:


"Tu não farás com que teu irmão empreste a juros" (Dt 23:20).
Sabe-se, por tradição, que esta é uma proibição para que o devedor não dê ao
credor uma ocasião para cobrar juros.

237. Não tomar parte em qualquer transação usurária entre devedor e credor, nem
como um fiador, nem como testemunha, nem como um emissor da duplicata, como
está escrito:
"Nem deitarás sobre ele a usura" (Êx 22:24).

238. Não retardar pagamento de salários de um homem contratado, como está


escrito:
"Os salários do homem contratado não ficarão contigo por toda a noite..." (Lv
19:13).

239. Não exigir um penhor de um devedor à força, como está escrito:


"... tu não entrarás em sua casa para exigir um penhor" (Dt 24:10).
240. Não manter longe de um homem pobre o seu penhor, na ocasião em que o
homem pobre dele precisar, como está escrito:
"... tu não te deitarás com o seu penhor" (Dt 24:12).
Isto quer dizer: "não irás dormir enquanto o penhor do devedor estiver contigo,
mas devolver-lhe-ás à noite, quando ele necessitar."

241. Não tomar um penhor de uma viúva, como está escrito:


"... nem tomar a roupa de uma viúva como um penhor" (Dt 24:17).

242. Não tomar em penhor utensílios usados para o sustento do devedor e de sua
família, como está escrito:
"Nenhum homem tomará a mó superior ou inferior como um penhor" (Dt 24:6).

243. Não raptar qualquer pessoa, como está escrito:


"Tu não roubarás" (Êx 20:13).
Este texto se refere ao rapto.

244. Não roubar propriedade pessoal discretamente, como está escrito:


"Tu não roubarás" (Lv 19:11).
Este texto se refere ao roubo de bens.

245. Não roubar abertamente, como está escrito:


"Nem extorquirás" (Lv 19:13).

246. Não remover marcos divisórios, como está escrito:


"Tu não removerás o marco divisório de teu vizinho" (Dt 19:14).

247. Não fraudar, como está escrito:


"Tu não fraudarás o teu próximo" (Lv 19:13).

248. Não negar falsamente os direitos de outra pessoa à propriedade, como está
escrito:
"Nem negociar falsamente" (Lv 19:11).

249. Não jurar em falso para recusar os direitos de propriedade de outra pessoa,
como está escrito:
"Nem mentir um ao outro" (ibid.), ou seja, "não jures em falso com relação à
propriedade de teu vizinho que esteja em tua possessão.

250. Não enganar ao comprar ou vender, como está escrito:


"E se venderes alguma coisa ao teu vizinho, ou comprares alguma coisa de teu
vizinho, não vos ludibrieis" (Lv 25:14).

251. Não enganar ninguém verbalmente, como está escrito:


"Tu não enganarás o outro, e temerás o Eterno" (ibid. 25:17).
Isto se refere ao logro através da conversação.

252. Não enganar o convertido com palavras, como está escrito:


"Tu não vexarás um convertido" (Êx 22:20).

253. Não cometer injustiça com o convertido ao comprar ou vender, como está
escrito:
"... nem oprimi-lo" (Êx 22:20).

254. Não devolver um escravo que fugiu para a terra de Israel a seu dono que viva
no estrangeiro, como está escrito:
"Tu não entregarás ao seu senhor o escravo (que fugiu de seu dono para ti)" (Dt
23:16).

255. Não cometer injustiça com tal escravo, como está escrito:
"Ele deverá habitar contigo, em teu meio... tu não o oprimirás" (ibid. 23:17).

256. Não afligir o órfão ou uma viúva, como está escrito:


"Tu não afligirás qualquer viúva ou criança órfã" (Êx 22:21).

257 Não constranger o escravo judeu a fazer o trabalho de um escravo, como está
escrito:
"(E se teu irmão... te for vendido) tu não o constrangerás a servir como um
escravo" (Lv 25:39).

258. Não vendê-lo como um escravo, como está escrito:


"... eles não serão vendidos como escravos" (ibid. 25:42).

259. Não tratar um escravo judeu rispidamente, como está escrito:


"Tu não o ordenarás com rigor" (ibid. 25:43).

260. Não permitir que um não-judeu trate asperamente um escravo judeu vendido
a ele, como está escrito:
"... ele não lhe dará ordem ríspidas diante de tuas vistas" (ibid. 25:53).

261. Não vender uma escrava judia a outra pessoa, como está escrito:
“ele não terá poder para vendê-la, visto que a tratou com desprezo" (Êx 21:8).

262. Não negar a uma escrava judia desposada alimentos ou roupas (suficientes),
como está escrito:
"... sua comida, suas roupas e seu dever de casamento, ele não diminuirá" (ibid.
21:10).
Idêntica é a regra em relação a todas as mulheres casadas.

263. Não vender uma bela mulher (tomada cativa em guerra), como está escrito:
"... tu não a venderás por dinheiro" (Dt 21:14).

264. Não degradar uma bela mulher (tomada cativa em guerra) à condição de
escrava, como está escrito:
"Tu não farás dela uma escrava" (ibid. 21:14).

265. Não cobiçar a mulher do outro e o que pertence a outra pessoa, como está
escrito:
"Tu não cobiçarás a esposa do teu próximo" (Ex 20:17).

266. Não ambicionar, como está escrito:


"Nem tu... desejarás a casa do teu vizinho..." (Dt 5:18).

267. Que um trabalhador contratado não coma de um produto vinculado ao solo,


com o qual está trabalhando, na época em que não estiver sendo colhido, como
está escrito:
"... porém foice não porás na seara do teu companheiro..." (Dt 23:26).

268. Que o trabalhador contratado (na época da colheita) não tome mais do que
possa comer, como está escrito:
"Tu poderás comer uvas à tua inteira vontade e prazer (mas não colocarás
nenhuma em teu vaso)" (Dt 23:25).
269. Não fingir não ter visto propriedade perdida, para não ter o trabalho de
recuperá-la e devolvê-la ao seu dono, como está escrito:
"... tu não poderás te ocultar..." (Dt 22:3).

270. Não deixar um animal, que caiu sob o peso de sua carga, desassistido,'" como
está escrito:
"Tu não verás o asno de teu irmão (ou a sua vaca) cair pelo caminho.., tu
certamente o ajudarás a levantá-lo novamente" (Dt 22:4); ver também (Êx 23:5).

271. Não cometer fraude ao medir, como está escrito:


"Tu não farás incorreções na metragem" (Lv 19:35).
Sabe-se, tradicionalmente, que este texto proíbe desonestidade ao julgar medidas.

272. Não ter em nossa propriedade medidas e pesos diversos, como está escrito:
"Tu não terás em tua casa diversas medidas, grandes e pequenas. Tu não terás em
tua casa diversos pesos, grandes e pequenos" (Dt 25:13,14).

273. Não tomar decisões injustas, como está escrito:


"Tu não farás desonestidades no julgamento" (Lv 19:15).

274. Não aceitar propinas,'" como está escrito:


"E suborno não aceitarás" (Êx 23:8).

275. Não demonstrar cortesia especial por um grande homern ao julgar um caso,
como está escrito:
"... nem favoreça a pessoa do grande" (Lv 19:15).

276. Não temer um homem mau ao julgar um caso, como está escrito:
"Tu não temerás homem algum" (Dt 1:17).

277. Não se apiedar, ao julgar um caso, da pobreza de uma das partes, como está
escrito:
"... tu não te constrangerás com a pessoa do pobre" (Êx 23:3).

278. Não deturpar o julgamento de um pecador, como está escrito:


"Tu não deturparás o julgamento de teu pobre (em sua causa)" (Êx 23:6).
Sabe-se, por tradição, que este texto se refere a alguém pobre no cumprimento
dos preceitos.

279. Não poupar o ofensor ao impor as penalidades prescritas a alguém que causou
dano, como está escrito:
"Teu olho não se apiedará dele" (Dt 19:13).

280. Não deturpar o julgamento de convertidos ou órfãos, como está escrito:


"Tu não deturparás o julgamento do convertido ou do órfão" (Dt 24:17).

281. Não ouvir uma das partes na ausência da outra parte, como está escrito:
"Tu não receberás um depoimento em vão" (Ex 23:1).

282. Num julgamento, não decidir por penas capitais, segundo a decisão da
maioria, quando aqueles que o condenaram excederem apenas por um àqueles que
foram pela absolvição, como está escrito:
"Tu não seguirás uma multidão que faça o mal" (Êx 23:2).

283. Que, nos casos capitais, aquele que argumentou pela absolvição não venha
argumentar depois pela condenação, como está escrito:
"Tu não responderás a uma causa desviando-te" (Êx 23:2).
284. Não nomear um juiz que não seja bem versado nas Leis da Torá, mesmo que
seja especialista em outros ramos do conhecimento, como está escrito:
"Tu não conhecerás pessoas em julgamento" (Dt 1:17).

285. Não testemunhar em falso, como está escrito:


"Tu não testemunha-rás falsamente contra o teu próximo" (Êx 20:13).

286. Que um transgressor não testemunhe, como está escrito:


"... não ponhas a tua mão junto aos cruéis, tomando-te testemunha desonesta" (Êx
23:1).

287. Que um parente não testemunhe, como está escrito:


"Os pais não serão mortos por seus filhos, nem os filhos morrerão pelos pais" (Dt
24:16).
Sabe-se, por tradição, que este texto significa que os pais não devem ser mortos
por causa do testemunho de seus filhos, e o mesmo princípio se aplica aos outros
parentes.

288. Não decidir um caso sob a evidência de uma única testemunha, como está
escrito:
"Uma testemunha não se levantará contra um ho-mem..." (Dt 19:15).

289. Não matar uma pessoa inocente, como está escrito:


"Tu não matarás" (Êx 20:13).

290. Não tomar uma decisão sob a avaliação e dedução lógicas, mas somente sob a
evidência de duas testemunhas que tenham visto o que realmente ocorreu, como
está escrito:
"E não mates o inocente e o correto" (Êx 23:7).

291. Que uma testemunha que depôs num caso capital não seja juiz naquele caso
em particular, como está escrito:
"Mas uma testemunha não deporá contra qualquer pessoa, causando a sua morte"
(Nm 35:30).

292. Não executar ninguém acusado de crime de morte antes de ser submetido a
julgamento, como está escrito:
"... que o assassino de homens não morra até que tenha estado diante da
congregação para julgamento" (Nm 35:12).

293. Não poupar aquele que persegue outra pessoa para matá-la ou aquele que
esteja constrangendo uma moça para violentá-la; ele deve ser morto, se não
houver outro meio, antes de alcançar o seu objetivo, como está escrito:
"... então, tu deceparás a mão dela; teus olhos não terão misericórdia dela" (Dt
25:12).

294. Não punir ninguém que tenha cometido um pecado sob coação, como está
escrito:
"Mas à donzela tu nada farás..." (Dt 22:26).

295. Não aceitar resgate por um assassino, como está escrito:


"Tu não tomarás resgate pela vida de um assassino" (Nm 35:31).

296. Não aceitar resgate de um homicídio acidental, de maneira a abrandar a pena


de exílio, como está escrito:
"E tu não tomarás resgate por ele, que deve partir para a cidade de seu refúgio"
(Nm 35:32).

297. Não ser negligente quando uma vida humana estiver em perigo, como está
escrito:
"Tu não te manterás sobre o sangue do teu próximo" (Lv 19:16).

298. Não deixar algo que possa causar ferimento, como está escrito:
“ ... que tu não tragas sangue para dentro de tua casa..." (Dt 22:8).

299. Não propiciar situação em que os inocentes tropecem na estrada, como está
escrito:
"Não colocareis uma pedra de tropeço diante do cego (Lv 19:14).

300. Não exceder o número legal de chicotadas aplicadas naquele que incorrer
nesta punição, como está escrito:
"(Quarenta chicotadas ele pode aplicar) e não mais..." (Dt 25:3).

301. Não difundir boatos, como está escrito:


"Tu não andarás como um alcoviteiro entre teu povo" (Lv 19:16).

302. Não acalentar ódio por alguém no coração, como está escrito:
"Tu não odiarás teu irmão em teu coração" (Lv 19:17).

303. Não envergonhar nenhuma pessoa, como está escrito:


"Tu certamente repreenderás teu irmão, e ele não terá sobre si o pecado" (Lv
19:17).

304. Não se vingar, como está escrito:


"Tu não te vingarás" (ibid. 19:18).

305. Não guardar ódio no coração, como está escrito:


"Nem guardar ódio..." (ibid.).

306. Não tomar a mãe pássaro com o filhote, como está escrito:
"... tu não tornarás a mãe pássaro com o filhote" (Dt 22:6).

307. Não raspar o cabelo do escalpo, como está escrito:


"... mas o escalpo ele não raspará" (Lv 13:33).

308. Não arrancar as marcas da lepra, como está escrito:


"Cuida-te na praga da lepra" (Dt 24:8).

309. Não arar nem semear o vale selvagem (onde o pescoço de uma bezerra era
quebrado na expiação de um crime na estrada, cujo autor permaneceu livre), como
está escrito:
"... (um vale selvagem) que não pode ser arado nem semeado" (Dt 21:4).

310. Não deixar viver qualquer um que pratique magia, como está escrito:
"Tu não deixarás a feiticeira viver" (Êx 22:17)

311. Que um noivo seja isento durante um ano inteiro de tomar parte em qualquer
trabalho público, como serviço militar, guarda do muro e outros deveres similares,
como está escrito:
"(Quando um homem tomar uma esposa) ele não partirá para a guerra, nem será
responsável por qualquer negócio (mas deverá ficar em casa durante um ano)..."
(Dt 24:5).
312. Não desacatar as ordens do Tribunal, como está escrito:
"Tu não te afastarás da sentença (a qual te dirão)" (Dt 17:11).

313. Não acrescentar (nada) aos Mandamentos da Torá, seja na Lei Escrita ou na
sua jurisprudência recebida pela Tradição, como está escrito:
"Qualquer coisa que Eu te ordenar, observa-a não acrescentes nada a ela" (Dt
13:1).

314. Não diminuir os Mandamentos da Torá, como está escrito:


"Nem diminuirás dela" (ibid.).

315. Não amaldiçoar o juiz, como está escrito:


"Tu não amaldiçoarás os juízes" (Êx 22:27).

316. Não amaldiçoar um líder, isto é, o rei ou líder das Academias Talmúdicas,
como está escrito:
"Nem amaldiçoarás o líder do teu povo" (ibid. 22:27).

317. Não amaldiçoar qualquer outro judeu, como está escrito:


"Tu não amaldiçoarás os surdos" (Lv 19:14).

318. Não amaldiçoar o pai ou a mãe, como está escrito:


"E aquele que amaldiçoar seu pai ou sua mãe será certamente morto" (Êx 21: 17).

319. Não bater no pai ou na mãe, como está escrito:


"E aquele que bater em seu pai ou em sua mãe será certamente morto" (Êx
21:15).

320. Não trabalhar no Shabat, como está escrito:


"... tu não farás nenhum trabalho" (Êx 20:10).

321. Não caminhar no Shabat além dos limites do lugar de sua residéncia, como
está escrito:
"Não deixes que nenhum homem saia de seu lugar (no dia de Sábado)" (Êx 16:29).

322. Não aplicar punição no dia de Shabat, como está escrito:


"Tu não acenderás fogo em nenhuma das tuas habitações (no dia de Sábado)" (Êx
35:3).

323. Não trabalhar no primeiro dia de Pêssah, como está escrito:


"... (E no primeiro dia haverá uma convocação sagrada)... nenhuma forma de
trabalho será efetuada então" (Êx 12:6 e Lv 23:7).

324. Não trabalhar no sétimo dia de Pêssah, como está escrito:


"... nenhuma forma de trabalho será efetuada então" (ibid. Lv 23:7).

325. Não trabalhar na festa de Shavuot, como está escrito em relação a isto:
"... tu não farás trabalho servil" (Lv 23:21).

326. Não trabalhar no primeiro dia do sétimo mês, como está escrito em relação a
isto:
"Tu não farás trabalho servil" (ibid. 23:25).

327. Não trabalhar no Dia do Iom Quipur, como está escrito em relação a isto:
"Tu não farás nenhuma forma de trabalho" (Lv 23:31).
328. Não trabalhar no primeiro dia da Festa de Sucot, como está escrito em relação
a isto:
"Tu não farás trabalho servil" (ibid. 23:35).

329. Não trabalhar no oitavo dia da festa de Sucot, como está escrito em relação a
isto:
"Tu não farás trabalho servil" (ibid. 23:36).

330. Não cometer incesto com a mãe (Lv 18:7).

331. Não cometer incesto com a irmã (ibid. 18:9).

332. Não cometer incesto com a esposa do pai (ibid. 18:8).

333. Não cometer incesto com a meia-irmã.(ibid. 18:9).

334. Não cometer incesto com a filha do filho (ibid. 18:10).

335. Não cometer incesto com a filha da filha (ibid. 18:10).

336. Não cometer incesto com a filha.


Por que isto não foi explicitamente apresentado na Tora?
A Torá, proibindo o incesto com a filha da filha, já se escusa de proibir o incesto
com a própria filha.
Sabe-se, por tradição, que esta é uma lei essencial da Torá, como a proibição das
outras classes de incesto (ibid.).

337. Não cometer incesto com a filha da esposa (ibid. 18:17).

338. Não cometer incesto com a filha do filho da esposa (ibid. 18:17).

339. Não cometer incesto com a filha da filha da esposa (ibid. 18.17).

340. Não cometer incesto com a irmã da mãe (ibid. 18:13).

341. Não cometer incesto com a irmã do pai (ibid. 18:12).

342. Não cometer incesto com a esposa do irmão do pai (ibid. 18:14).

343. Não cometer incesto com a esposa do filho (ibid. 18:15).

344. Não cometer incesto com a esposa do irmão (ibid. 18:16).

345. Não cometer incesto com a irmã da esposa (ibid. 18:18).

346. Não coabitar com uma mulher em seu período menstrual (ibid. 18:19).

347. Não coabitar com a esposa de outro homem (ibid. 18:20).

348. Não coabitar com um animal (Lv 18:23).

349. Que uma mulher não coabite com um animal (Lv 18:23).

350. Não cometer sodomia com um homem (Lv 18:22).

351. Não cometer sodomia com o pai (Lv 18:6).


352. Não cometer sodomia com o irmão do pai (Lv 18:14).

353. Não permitir-se intimidades com parentes, tais como beijar, abraçar, piscar os
olhos, saltitar, etc., o que pode levar à coabitação proibida, como está dito:
"Nenhum de vós que aproximará ao parente próximo para descobrir sua nudez" (Lv
18:6).
Sabe-se, por tradição, que este texto é uma proibição de qualquer familiaridade
que possa conduzir à coabitação.

354. Que um bastardo não despose a filha de um judeu, como está escrito:
"Um bastardo não entrará na congregação do Senhor" (Dt 23:3).

355. Que não haja nenhuma prostituta entre os judeus; isto é, não haverá
coabitação com uma mulher sem um prévio casamento, com cerimônia e
declaração formal, como está escrito:
"Não haverá prostitutas entre as filhas de Israel" (Dt 23:18).

356. Que aquele que se divorciar de sua esposa não se case com ela novamente se
após o divórcio ela tiver sido casada com outro homem, como está escrito:
"Seu antigo marido, que a mandou embora, não poderá tomá-la novamente depois
que estiver impura" (Dt 24:4).

357. Que uma viúva cujo marido morreu sem filhos não se case com ninguém, a
não ser com o irmão de seu finado, como está escrito:
"A esposa do morto não se casará com alguém que não seja seu parente próximo"
(Dt 25:5).

358. Que aquele que violar uma donzela, tendo se casado com ela (segundo a Lei),
não possa se divorciar, como está escrito:
"Ele não a deixará durante todos os seus dias" (Dt 22:29).

359. Que um homem não se divorcie de sua esposa, se sobre ela tornou públicas
coisas ruins, como está escrito:
"Ele não a deixará durante todos os seus dias" (Dt 22:19).

360. Que um eunuco não despose uma filha de Israel, como está escrito:
"Aquele que for lesado ou mutilado em suas partes íntimas, não entrará na
congregação do Senhor" (Dt 23:2).

361. Não castrar um ser de qualquer espécie; nem um homem, nem um animal
doméstico ou selvagem, nem um pássaro, como está escrito:
"... nem agirás assim em tua terra" (Lv 22:24).

362. Não nomear um líder sobre Israel que provenha de convertidos, como está
escrito:
"Tu não poderás colocar um convertido acima de ti..." (Dt 17:15).

363. Que o rei não adquira um número excessivo de cavalos, como está escrito:
"Mas ele não multiplicará os cavalos para si mesmo" (Dt 17:16).

364. Que o rei não tome um excessivo número de esposas, como está escrito:
"Nem multiplicará ele esposas para si mesmo" (Dt 17:17).

365. Que ele não acumule uma excessiva quantidade de ouro e prata, como está
escrito:
"Nem ele multiplicará grandemente ouro e prata para si mesmo" (Dt 17:17).
Este são os seiscentos e treze Preceitos que foram proferidos a Moisés no Sinai,
junto com seus princípios gerais, aplicações detalhadas e particularidades exatas.
Todos estes princípios, detalhes, particularidades e a exposição de todo Preceito
constituem a Lei Oral, que cada Tribunal recebeu de seu antecedente.

Existem outros Mandamentos que se originaram após a Revelação Sinaítica,


instituídos por profetas e sábios, os quais foram universalmente aceitos por todo o
povo judeu.
São eles a leitura do Rolo de Ester (em Purim), o acendimento das Luzes de
Hanucá, o jejum no Nono Dia de Av, a lavagem ritual das mãos antes das refeições
e o Eruvin (ritual para relaxamento da proibição de carregar no Shabat ou caminhar
para fora de uma cidade, além dos limites recomendados nos sábados e festivais).
Cada um desses preceitos possui suas jurisprudências e detalhes especiais, que são
explicados na Mishnê Torá.
Todos estes preceitos recentemente estabelecidos são de aceitação e observância
obrigatórias, como está escrito: "Tu não te desviarás da sentença que eles te
declararam, nem para o lado direito, nem para o lado esquerdo", (Dt 17:11).
Eles não são um acréscimo aos Preceitos da Torá; a propósito disso, a Torá nos
avisa: "Tu não adicionarás a ela, nem diminuirás" (Dt 13:11).
O objetivo deste texto é o de ensinar que não é permitido a um profeta inovar, nem
declarar que o Sagrado — seja Ele abençoado — lhe tenha ordenado aumentar o
número de Preceitos da Torá, ou anular um destes seiscentos e treze preceitos.
Mas, se o Tribunal, junto com o profeta que viveu na ocasião, regulamentar um
preceito adicional tal como um Mandamento, decisão judicial ou decreto, isto não
será tido como uma adição (aos Preceitos da Torá).
Não se declarou que o Sagrado — seja Ele abençoado — tenha ordenado a feitura
de um Eruv, ou ordenado a leitura do Rolo de Ester na ocasião designada; dizemos,
outrossim, que os profetas, em acordo com o Tribunal, decretaram esses
Mandamentos e ordenaram que o Rolo de Ester fosse lido na ocasião estipulada, de
modo a proclamar as louvações ao Sagrado — abençoado seja — e recontar as
salvações que Ele teceu para nós; da mesma forma, Ele estava sempre presente
quando clamávamos a Ele, e, portanto, precisamos bendizê-Lo, louvá-Lo e informar
às futuras gerações como é verdadeira a reafirmação da Torá no texto:
"Pois que grande nação é aquela que tem D. .S tão presente entre eles, como o
Senhor, nosso D.. S é (para nós), quando quer que assim chamemos por Ele" (Dt
4:7).
Desta forma, todo preceito, afirmativo ou negativo, regulamentado pelos sábios,
deve ser compreendido.
Mishné Torá – Parte 3

Eu considerei melhor dividir esta obra em quatorze livros

Primeiro Livro
Incluo nele todos os preceitos que constituem a essência e os princípios ensinados por
Moisés, nosso Mestre, que são necessários para que se conheça, desde o início, a unicidade
de D..S e a proibição à idolatria.
Chamei este livro de O Livro da Sabedoria.

Segundo Livro
Nele incluo todos os preceitos que devem ser continuamente observados e que somos
obrigados a manter, a fim de que sempre amemos a D..S e sempre tenhamos consciência
d'Ele.
Tais preceitos são a recitação da Shemá e das preces, o uso de tefilin e o ritual das
bênçãos.
Incluído neste grupo está o rito da Circuncisão, porque este é um sinal em nossa carne,
servindo de lembrete contínuo, até mesmo quando os filactérios e os tsitsit não estão sendo
usados.
A este livro chamei: O Livro do Amor.

Terceiro Livro
Nele incluo todos os preceitos a serem cumpridos em períodos estipulados, tais como
Shabat e festivais.
Chamei-o de O Livro dos Períodos.

Quarto Livro
Nele incluo todos os preceitos que se referem às relações maritais, como casamento e
divórcio, casamento por levirato e a forma de liberação da obrigação de um casamento de
levirato.
A este livro chamei: O Livro das Mulheres.

Quinto Livro
Nele incluo preceitos que referem-se às uniões sexuais ilícitas, como também àqueles que
se relacionam com alimentos proibidos; nestes dois aspectos, o Onipresente santificou-nos
e diferenciou-nos de todas as nações, e sobre eles está escrito: "E separei-te dos povos" (Lv
20:26), "... que separou-te dos povos" (Lv 20:24).
Denominei este livro de O Livro da Santidade.

Sexto Livro
Nele incluo os preceitos que se aplicam àquele que incorreu em uma obrigação por força da
palavra, isto é, assumindo juramentos ou fazendo promessas.
A este livro chamei: O Livro da Magnificência.

Sétimo Livro
Nele incluo os preceitos relacionados ao cultivo do solo, tais como os Anos Sabáticos e
Jubileus, dízimos, oferendas da produção agrícola (as partes devidas aos sacerdotes) e
outros preceitos vinculados a estes.
A este livro chamei: O Livro das Sementes.

Oitavo Livro
Nele incluo os preceitos relativos à construção do santuário e aos sacrifícios públicos
regulares.
A este livro chamei: O Livro do Serviço

Nono Livro
Nele incluo os preceitos que se referem aos sacrifícios trazidos pelos indivíduos.
A este livro chamei: O Livro dos Sacrifícios.

Décimo Livro
Nele incluo os preceitos relativos às coisas ritualmente puras ou impuras.
A este livro chamei: O Livro da Pureza.

Décimo-Primeiro Livro
Nele incluo os preceitos referentes às relações civis que causam dano à propriedade ou
injúria à pessoa.
A este livro chamei: O Livro dos Prejuízos.

Décimo-Segundo Livro
Nele incluo os preceitos referentes às vendas e à efetivação da aquisição.
A este livro chamei: O Livro da Aquisição.

Décimo-Terceiro Livro
Nele incluo os preceitos referentes às relações civis em casos que não causam inicialmente
dano a outrem, tais como empréstimos, débitos, reivindicações e recusas.
A este livro denominei: O Livro dos Julgamentos.

Décimo-Quarto Livro
Nele incluo preceitos cuja realização é destinada ao San'hedrin, como, por exemplo,
aplicação de penas em geral, recepção de testemunhas, administração das leis que atingem
o soberano e as guerras.
A este livro chamei: O Livro dos Juízes.

Segue-se a divisão dos grupos de leis, organizada segundo o tema central de cada livro e
segundo os preceitos referentes aos tópicos de cada um destes grupos.

1. Livro Da Sabedoria
As suas halahot (grupos de leis) são cinco, na ordem seguinte: leis relativas aos
fundamentos da Torá; leis relativas ao comportamento ético e ao caráter; leis relativas ao
estudo da Torá; leis relativas à idolatria e aos não-judeus; leis relativas ao arrependimento.

Leis Relativas aos Fundamentos da Torá


Compreendem dez preceitos, dos quais seis são afirmativos e quatro são negativos, quais
sejam:
1) saber que existe um d..s;
2) não aceitar, em sua consciência, que exista qualquer outro deus, a não ser o eterno;
3) reconhecer sua unidade;
4) amá-Lo;
5) reverenciá-Lo;
6) santificar o Seu Nome;
7) não profanar o Seu Nome;
8) não destruir coisas relacionadas com o Seu Nome;
9) ouvir e aceitar a mensagem do profeta que fala em Seu Nome;
10) não colocá-Lo a prova.

Leis do Comportamento Ético e do Caráter


Compreendem onze preceitos, dos quais cincos são afirmativos e seis são negativos.
São os seguintes:
1) imitar os seus modos;
2) apegar-se àqueles que O conhecem;
3) amar os amigos;
4) amar os convertidos;
5) não odiar irmãos;
6) fazer repreensão;
7) não envergonhar ninguém;
8) não afligir o fraco e os infelizes;
9) não fazer intrigas;
10) não se vingar;
11) não guardar ódio no coração.

Leis Relativas ao Estudo da Torá


Compreendem dois preceitos afirmativos: primeiro, aprender a Torá; segundo, demonstrar
honra para com seus Mestres e aqueles versados em seu conhecimento.

Leis Relativas à Idolatria e ao Comportamento do Não-Judeu


Compreendem cinqüenta e um preceitos, dos quais dois são afirmativos e quarenta e nove
são negativos.
São os seguintes:
1) não se inclinar para a idolatria;
2) não se deixar levar por pensamentos e visões do mal;
3) não blasfemar;
4) não adorar um ídolo do modo habitual;
5) não se curvar diante de um ídolo;
6)não fazer uma imagem esculpida para si;
7) não fazer uma imagem esculpida, mesmo que para os outros;
8) não fazer imagens, nem mesmo para ornamentos;
9) não persuadir os outros a adorar um ídolo;
10) queimar uma cidade que se tornou idólatra;
11) não reconstruir tal cidade;
12) não utilizar nenhuma de suas propriedades;
13) não incitar uma pessoa à adoração de um ídolo;
14) não amar o incitador;
15) não deixar de odiá-lo;
16) não salvá-lo;
17) não reivindicar em seu favor;
18) não se abster de reivindicar causas contra ele;
19) não profetizar em nome de um ídolo;
20) não dar ouvidos e não aceitar daquele que profetizar em seu nome;
21) não profetizar falsamente, até mesmo em nome de D..S;
22) não temer em levar à morte um falso profeta;
23) não jurar em nome de um ídolo;
24) não praticar consultas a fantasmas;
25) não praticar consulta a espíritos familiares;
26) não passar (ninguém através do fogo) a Móleh;
27) não erigir um pilar (para adoração);
28) não se prostrar sobre pedras com figuras;
29) não plantar uma asherá (bosque para idolatria);
30) destruir um ídolo e tudo o que tiver sido feito em seu nome;
31) não fazer uso de um ídolo ou de artigos subsidiários ao seu serviço;
32) não fazer uso como acessório ornamental de qualquer coisa idolatrada;
33) não fazer acordo com idólatras;
34) não favorecê-los;
35) que eles não se estabeleçam em nossa terra;
36) não adotar os seus costumes, nem seu modo de trajar;
37) não adotar superstições;
38) não praticar adivinhações (referindo ao preceito negativo nº 31);
39) não fazer predições (referindo ao preceito negativo nº 32);
40) não praticar encantamentos (referindo ao preceito negativo nº 35);
41) não procurar o conselho dos mortos (referindo ao preceito negativo nº 38); 42) não
consultar um necromante;
43) não consultar espíritos familiares;
44) não praticar magia;
45) não raspar os cantos da cabeça;
46) não remover as pontas da barba;
47) que um homem não vista roupa de mulher;
48) que uma mulher não vista roupa de homem;
49) não tatuar o corpo;
50) não marcar a pele de uma pessoa em sinal de luto;
51) não fazer tonsura no cabelo pelos mortos.

Leis Relativas ao Arrependimento


Compreendem um preceito afirmativo, o de que o pecador se arrependerá de seu pecado e
confessá-lo-á perante o Eterno.

Os preceitos incluídos neste livro são setenta e cinco, dos quais dezesseis são preceitos
afirmativos e cinqüenta e nove são negativos.

2. Livro do Amor
Seus grupos de leis são seis, na seguinte ordem: leis relativas à recitação da Shemá; leis
relativas à prece e à bênção sacerdotal; leis relativas ao tefilin e à mezuzá e ao rolo da
Torá; leis relativas ao tsitsit; leis relativas às bênçãos; leis da circuncisão.

Leis Relativas à Recitação da Shemá


Compreendem um preceito afirmativo, o de que se leia a Shemá duas vezes por dia.

Leis Relativas às Preces e à Bênção Sacerdotal


Compreendem dois preceitos positivos; primeiro, servir ao Eterno diariamente, por
intermédio da oração; segundo, que os sacerdotes abençoem o povo judeu diariamente.

Leis Relativas aos Tefilin, Mezuzá e Rolos da Torá


Compreendem cinco preceitos positivos.
Em detalhes, são os seguintes: pôr filactério sobre a cabeça; atá-lo sobre o braço; afixar a
mezuzá às portas das habitações; escrever, cada pessoa, um rolo da Torá para si mesma;
que o rei escreva um segundo rolo para si, de modo a ter dois rolos da Torá.

Leis Relativas aos Tsitsit


Compreendem um preceito positivo, o de colocar tsitsit nos cantos das roupas.

Leis Relativas às Bênçãos


Compreendem um preceito positivo, o de abençoar o Seu Nome após as refeições.

Leis da Circuncisão
Compreendem um preceito positivo, o de circuncidar os meninos no oitavo dia.

Os preceitos positivos incluídos neste livro são onze.

3. Livro dos Períodos


Seus grupos de leis são dez.
Elas são tratadas na seguinte ordem: leis relativas ao Shabat; leis relativas ao Eruvin; leis
relativas à observância do repouso do décimo dia de Tisrei; leis relativas à observância do
repouso nas festas; leis relativas ao pão fermentado e ao pão ázimo (no Pêssah); leis
relativas ao toque do Shofar (no Roshe Ha-Shaná), à Sucot e ao lulav (e a outras plantas a
serem tomadas na Festa de Tabernáculos); leis relativas ao pagamento dos siclos; leis
relativas ao pronunciamento solene do início do mês; leis relativas aos jejuns; leis relativas
à leitura do rolo de Ester e à observância de Hanucá.

As Leis do Shabat
Compreendem cinco preceitos, dos quais dois são positivos e três são negativos. São eles:
1) repouso no sétimo dia;
2) não trabalhar neste dia;
3) não aplicar punição no Shabat;
4) não caminhar no Shabat (para fora da cidade) além dos limites recomendados; 5)
santificar o dia por menção expressa.

Leis do Eruvin
Esta lei trata de um preceito positivo instituído pelos sábios, que não é contado no número
dos mandamentos da Torá.

Leis Relativas à Observância do Décimo dia de Tisrei


Compreendem quatro preceitos, dos quais dois são positivos e dois são negativos. Seus
detalhes são os seguintes:
1) repousar do trabalho naquele dia;
2) não trabalhar neste dia;
3) jejuar e penitenciar-se neste dia;
4) não comer ou beber neste dia.

Leis Relativas à Observância do Repouso durante as Festas


Compreendem doze preceitos, dos quais seis são positivos e seis são negativos. Seus
detalhes são os seguintes:
1) repousar no primeiro dia de Pêssah;
2) não trabalhar neste dia;
3) repousar no sétimo dia de Pêssah;
4) não trabalhar neste dia;
5) repousar na Festa de Shavuot;
6) não trabalhar nesta ocasião;
7) repousar em Roshe Ha-Shaná;
8) não trabalhar neste dia;
9) repousar no dia da festa de Sucot;
10) não trabalhar neste dia;
11) repousar no oitavo dia da festa;
12) não trabalhar neste dia.

Leis Relativas ao Pão Fermentado e ao Pão Ázimo


Compreendem oito preceitos, dos quais três positivos e cinco negativos.
Seus detalhes são os seguintes:
1) não comer pão fermentado no décimo-quarto dia de Nissan a partir do meio-dia;
2) destruir o fermento no décimo-quarto dia de Nissan;
3) não comer alimento fermentado durante os sete dias da Páscoa;
4) não comer alimento que contenha produtos fermentados durante os sete dias da Páscoa;
5) nenhum produto fermentado deverá ser exposto durante estes sete dias;
6) que nenhuma coisa fermentada seja encontrada durante estes sete dias;
7) comer pão ázimo na (primeira) noite de Pêssah;
8) vivenciar a saída do Egito naquela noite.

Leis Relativas ao Shofar, à Sucot e ao Lulav


Compreendem três preceitos positivos, quais sejam:
1) ouvir o som do shofar no primeiro dia de Tisrei;
2) habitar numa cabana durante os sete dias da Festa de Tabernáculos;
3) pegar o lulav (e as outras três espécies vegetais) no templo durante os sete dias da
festa.

Leis dos Siclos Devidos


Compreendem um preceito positivo, o de que todo judeu pagará, anualmente, meio siclo ao
santuário.

Leis Relativas ao Anúncio Solene do Primeiro Dia do Mês


Compreendem um preceito positivo, o de calcular, determinar e saber fixar o dia em que
inicia cada mês do ano.

Leis Relativas aos Jejuns


Compreendem um preceito positivo, o de jejuar e suplicar ao Eterno sempre que uma
grande calamidade acontecer na comunidade.

Leis Relativas à Leitura do Rolo de Ester e à Festa de Hanucá


Compreendem dois preceitos positivos ordenados pelos sábios.

Os mandamentos da Torá incluídos neste livro, conseqüentemente, totalizam trinta e cinco,


dos quais dezenove são positivos e dezesseis são negativos.
Há também três preceitos apontados pelos sábios.

4. Livro das Mulheres


Seus grupos de leis são cinco, na seguinte ordem: leis relativas ao casamento; leis relativas
ao divórcio; leis relativas ao casamento levirato e à liberação formal da obrigação de
contrair tal união; leis relativas às moças virgens; leis relativas a uma mulher casada
suspeita de infidelidade.

Leis Relativas ao Casamento


Estas compreendem quatro preceitos, dos quais dois são positivos e dois negativos.
Seus detalhes são os seguintes:
1) contrair núpcias por Intermédio de contrato de casamento (Quetubá) e ritual sacramental
(Quidushin);
2) não coabitar com uma mulher sem um contrato de casamento e o ritual sacramental;
3) não negar a uma esposa sua comida, roupa e cumprimento do dever conjugal; 4) ser
frutífero e multiplicar-se, ao coabitar com ela.

Leis Relativas ao Divórcio


Estas compreendem dois preceitos.
O primeiro é um preceito positivo: aquele que se divorciar, o fará através de um documento
escrito.
O segundo preceito é o de que ele não tomará a mulher divorciada como sua esposa,
quando se casou com outra.

Leis Relativas ao Casamento Levirato e Liberação Formal da Obrigação de Entrar em tal


União
Estas compreendem três preceitos, dos quais dois são positivos, enquanto um é negativo.
São os seguintes:
1) desposar a viúva de um limão finado que não deixou prole sobrevivente;
2) se o irmão não estiver disposto a entrar em tal união, deve liberar a viúva através de
uma recusa formal, segundo o ritual recomendado;
3) que ela não se case com outro homem até que a obrigação do levirato tenha sido
removida.

Leis Relativas às Donzelas


Compreendem cinco preceitos, dos quais três são positivos e dois são negativos. Em
detalhes, são os seguintes:
1) multar o sedutor;
2) que o violador de uma virgem se case com ela;
3) que ele não se divorcie dela;
4) que alguém que difamar a sua esposa com um relato falso e maléfico de infidelidade
permaneça com ela para sempre;
5) que um marido que divulgou tal relato malefico não se divorcie de sua esposa.

Leis Relativas à Mulher Suspeita de Infidelidade


Compreendem três preceitos, dos quais um é positivo, enquanto dois são negativos.
Em detalhes, são os seguintes:
1) agir para com a mulher suspeita de infidelidade segundo a "lei do ciúme" apresentada na
Torá (Nm 5:11-31);
2) não pôr óleo sobre a sua oferenda;
3) não pôr olíbano sobre esta oferenda.

Os preceitos compreendidos neste livro são dezessete, dos quais nove são positivos e oito
negativos.

5. Livro da Santidade
Seus grupos de leis são três, na seguinte ordem: leis relativas às relações sexuais ilícitas;
leis relativas aos alimentos proibidos; leis relativas ao abate de animais para a alimentação.

Leis Relativas às Relações Sexuais Ilícitas


Compreendem trinta e sete preceitos, dos quais um é preceito positivo, e trinta e seis são
negativos.
Estes são os seguintes:
Não coabitar carnalmente:
1) com a mãe;
2) com a esposa do pai;
3) com a irmã;
4) com a filha da esposa do pai;
5) com a filha do filho;
6) com a filha;
7) com a filha da filha.
Não tomar como esposas:
8) uma mulher e sua filha;
9) uma mulher e a filha de seu filho;
10) uma mulher e a filha de sua filha.
Não coabitar carnalmente:
11) com a irmã do pai,
12) com a irmã da mãe,
13) com a esposa do irmão do pai,
14) com a esposa do filho,
15) com a esposa do irmão,
16) com a irmã da esposa.
17) não deitar carnalmente com um animal;
18) que uma mulher não tenha intercurso sexual com um animal.
Que um homem não tenha intercurso sexual:
19) com um homem;
20) com o pai;
21) com o irmão do pai.
Não coabitar carnalmente:
22) com a esposa de outro homem;
23) com uma mulher em seu período menstrual.
24) não ligar-se por casamento com os não-judeus;
25) que um amonita ou moabita não entre para a comunidade judaica;
26) não evitar que um egipcio da terceira geração entre para a comunidade judaica;
27) não evitar que um edomita de terceira geração entre para a comunidade judaica;
28) que um bastardo não entre para a comunidade Judaica;
29) que um eunuco não entre para comunidade judaica;
30) não castrar nenhum masculino, até mesmo animal, seja ele doméstico ou não, e aves;
31) que o sumo-sacerdote não despose uma viúva;
32) que o sumo-sacerdote não coabite com uma viúva, mesmo sem matrimônio; 33) que o
sumo-sacerdote despose uma virgem;
34) que um sacerdote não despose uma mulher divorciada;
35) que ele não despose uma prostituta
36) que ele não despose uma mulher profanada;
37) que ele não tome Intimidades com alguém por meios proibidos, mesmo que nenhum
intercurso real ocorra.

Leis dos Alimentos Proibidos


Compreendem vinte e oito preceitos, dos quais quatro são positivos e vinte e quatro
negativos.
Em detalhes são os seguintes:
1) examinar as marcas do animal — doméstico ou selvagem — a fim de distinguir os
Impuros dos puros;
2) examinar as marcas das aves, para distinguir os impuros dos puros;
3) examinar as marcas dos gafanhotos, para distinguir os impuros dos puros;
4) examinar as marcas dos peixes, para distinguir os impuros dos puros;
5) não comer animais impuros — domésticos ou selvagens;
6) não comer as aves impuras;
7) não comer os peixes impuros;
8) não comer animais rastejantes com asas;
9) não comer os que rastejam sobre a terra;
10) não comer vermes que rastejam sobre a terra;
11) não comer um verme encontrado em fruta;
12) não comer os que rastejam na água;
13) não comer carne de animar que teve morte natural;
14) não usar de forma alguma um bovino apedrejado;
15) não comer um animal que é terefá;
16) não comer um membro removido de um animal ainda vivo;
17) não ingerir sangue;
18) não comer hélev de um animal puro;
19) não comer o nervo ciático;
20) não comer carne com leite;
21) não cozer carne com leite;
22) não comer pão feito de grãos novos;
23) não comer grão tostado do novo produto;
24) não comer espigas frescas;
25) não comer orlá;
26) não comer o produto de diversas sementes semeadas misturadas em um vinhedo;
27) não comer produto do qual as partes devidas aos sacerdotes ainda não tenham sido
separadas;
28) não beber vinho de idólatras.

Leis do Modo Ritual de Abater Animais para Alimento


Compreendem cinco preceitos, dos quais três são positivos, enquanto dois são negativos.
Em detalhes, são os seguintes:
1) abater um animal antes de comer dele;
2) não abater um animal e o seu filhote no mesmo dia;
3) cobrir o sangue de um animal selvagem ou de uma ave:
4) não tomar a mãe-pássaro e seu filhote;
5) libertar a mãe-pássaro (afugentá-la) antes do tomar o seu filhote.

Todos os preceitos compreendidos neste livro são, conseqüentemente, setenta, dos quais
oito são positivos e sessenta e dois são negativos.

6. Livro da Magnificência
Seus grupos de leis são quatro, na seguinte ordem: leis relativas aos juramentos; leis
relativas às promessas; leis relativas ao nazireu; leis relativas às avaliações e às coisas
dedicadas ao santuário.

Leis dos Juramentos


Compreendem cinco preceitos, dos quais um é preceito positivo e quatro são negativos.
Em detalhes, são os seguintes:
1) não jurar falsamente em Nome do Divino;
2) não jurar por Seu Nome em vão;
3) não negar falsamente a posse de um artigo deixado em sua confiança;
4) não jurar em negação sobre uma posse de dinheiro;
5) jurar em Seu Nome somente a verdade.

Leis das Promessas


Compreendem três preceitos, dos quais dois são positivos e um é negativo.
São os seguintes:
1) cumprir o que os lábios pronunciaram e fazer o que se prometeu;
2) não quebrar a palavra;
3) que a promessa ou juramento seja anulado.
Este último é o teor da lei da anulação das promessas, apresentada explicitamente na Lei
Escrita.

Leis do Nazireu
Compreendem dez preceitos, dos quais dois são positivos e oito são negativos.
São os seguintes:
1) que o nazir deixe seu cabelo crescer longamente;
2) que ele não raspe o seu cabelo durante o período inteiro de seu nazireado;
3) que o nazir não beba vinho, nem qualquer derivado deste, sequer o vinagre;
4) que ele não coma uvas frescas;
5) que ele não coma uvas secas;
6) que ele não coma as cascas das uvas;
7) que ele não coma as sementes das uvas;
8) que ele não entre numa habitação onde haja um corpo morto;
9) que ele não se impurifique pelo contato com o morto;
10) que ele raspe seu cabelo ao trazer seus sacrifícios no final do seu nazireado, ou quando
ficar impuro durante esse período.

Leis das Avaliações e das Coisas Dedicadas ao Santuário


Compreendem sete preceitos, cinco positivos e dois negativos.
Seus detalhes são os seguintes:
1) em avaliações de valores humanos, aplicar oe padrões explicitamente apresentados na
Torá;
2) a lei da avaliação do gado;
3) a lei da avaliação das habitações;
4) a lei da avaliação dos campos;
5) a lei referente àquele que dedicar sua propriedade ao santuário;
6) que aquilo que foi dedicado não seja vendido;
7) que aquilo que foi dedicado não seja redimido.

Os preceitos compreendidos neste livro são portanto, vinte e cinco, dos quais dez são
preceitos positivos e quinze são negativos.

7. Livro das Sementes


Seus grupos de leis são sete, organizadas da seguinte maneira: leis relativas à semeadura
de diversas sementes; leis relativas às oferendas para os pobres; leis relativas às oferendas
devidas aos sacerdotes; leis relativas nos dízimos; leis relativas aos segundos dízimos e às
frutas do quarto ano; leis relativas aos primeiros frutos e outras oferendas devidas aos
sacerdotes, dadas fora do santuário; leis relativas ao Ano Sabático e ao Ano Jubileu.

Leis Relativas a Semeaduras Diversas


Estas compreendem cinco preceitos negativos, que são os seguintes:
1) não semear diversas sementes juntas;
2) não semear grãos ou ervas num vinhedo;
3) não miscigenar animais de diversas espécies;
4) não trabalhar com animais de diversas espécies emparelhados;
5) não trajar vestimentas tecidas com lã e linho juntos.

Leis das Oferendas para os Pobres


Compreendem treze preceitos, dos quais sete são positivos e seis são negativos: 1) deixar
um canto (do campo) sem ser colhido;
2) não colher totalmente o canto;
3) deixar as respigas;
4) não juntar as respigas;
5) deixar as respigas do vinhedo;
6) não ajuntar as respigas do vinhedo;
7) deixar as uvas simples do vinhedo;
8) não juntar as uvas simples do vinhedo;
9) deixar os feixes esquecidos;
10) não retornar a fim de levar o feixe esquecido;
11) separar o dízimo para os pobres;
12) praticar caridade segundo os próprios meios;
13) não endurecer o seu coração em relação aos pobres.

Leis das Oferendas das Colheitas


Compreendem oito preceitos, dos quais dois são positivos e seis são negativos. Seus
detalhes são os seguintes:
1) separar a grande oferenda da colheita;
2) separar e oferenda dos dízimos;
3) não doar as oferendas e os dízimos aleatoriamente, mas na ordem recomendada;
4) que um estranho à casa do sacerdote não coma da oferenda das colheitas;
5) que o servo do sacerdote ou até mesmo o seu trabalhador contratado não coma da
oferenda das colheitas;
6) que o incircunciso não coma da oferenda da colheita;
7) que o sacerdote que estiver impuro não coma da oferenda da colheita;
8) que a mulher profanada não coma da oferenda da colheita, nem de nada que tenha sido
retirado das coisas sagradas.

Lei dos Dízimos


Compreende um preceito, qual seja, o de separar o primeiro dízimo do produto todos os
anos, quando os campos puderem ser semeados, e dá-lo aos levitas.

Leis dos Segundos Dízimos e o Fruto do Quarto Ano a partir da Plantação das Árvores
Compreendem nove preceitos, três positivos e seis negativos.
A relação detalhada é a seguinte:
1) separar o segundo dízimo;
2) não gastar o dinheiro da redenção deste dízimo com outra necessidade a não ser comida,
bebida e óleo para ungir o corpo;
3) não consumir o segundo dízimo enquanto se estiver impuro;
4) não comê-lo enquanto se estiver de luto por um parente falecido;
5) não consumir o segundo dízimo da colheita fora de Jerusalém;
6) não consumir o segundo dízimo da vindima fora de Jerusalém;
7) não consumir o segundo dízimo do óleo de oliva fora de Jerusalém;
8) que os frutos colhidos ao quarto ano passado depois que as árvores foram plantadas
sejam totalmente consagrados, e que eles sejam consumidos por seu dono em Jerusalém, e
devem ser considerados em todos os aspectos como o segundo dízimo;
9) fazer a confissão recomendada (Dt 26:13-15) ao trazer o segundo dízimo.

Leis das Primícias e outras Oferendas aos Sacerdotes fora do Santuário


Estas compreendem nove preceitos, dos quais oito são positivos e um é negativo. A sua
relação é a seguinte:
1) separar os primeiros frutos e trazê-los ao santuário;
2) que o sacerdote não coma dos primeiros frutos fora de Jerusalém;
3) ler a declaração recomendada (Dt 26:3,5-11), ao apresentar os primeiros frutos;
4) separar parte da massa para o sacerdote;
5) dar o ombro, as duas faces e o bucho ao sacerdote;
6) dar ao sacerdote a primeira lã;
7) redimir o primogênito dando o dinheiro da redenção ao sacerdote;
8) redimir o primogênito de um asno e em seu lugar dar uma ovelha ao sacerdote;
9) quebrar o pescoço do primogênito de um asno, se o dono não desejar redimi-lo.
Leis do Ano Sabático e do Ano Jubileu
Estas compreendem vinte e dois preceitos, dos quais nove são afirmativos e treze são
negativos.
A relação detalhada é a seguinte:
1) que a terra repouse do seu trabalho no sétimo ano;
2) que o indivíduo não realize nenhum trabalho agrícola neste ano;
3) que nenhum trabalho em árvores seja feito neste ano;
4) que o que cresce naturalmente não seja ceifado, como aconteceria na colheita de um ano
normal;
5) que não se colha o fruto das árvores que crescem naturalmente, da mesma maneira que
nos outros anos;
6) que se deixe o que a terra produzir (no Ano Sabático) livre para todos;
7) que sejam perdoados todos os empréstimos;
8) que não se pressione ou se façam exigências junto ao devedor;
9) que não se evite de fazer empréstimos antes do Ano Sabático, por receio de se perder o
dinheiro emprestado;
10) contar os anos de sete em sete;
11) santificar o qüinquagésimo ano;
12) soar o Shofar no décimo dia de Tisrei (daquele ano) como sinal de que os escravos
estão livres;
13) que o solo não seja arado naquele ano;
14) não ceifar o que crescer naturalmente nesse ano, como nos anos normais; 15) não
colher as frutas das árvores que, nesse ano, crescerem naturalmente, da mesma maneira
que nos outros anos;
16) conceder redenção à terra neste ano.
Esta é a lei da terra (em Israel) quando adquirida por compra;
17) que a terra não seja vendida em perpetuidade;
18) (observar) a lei referente às (vendas de) casas nas cidades muradas;
19) que a tribo inteira de Levi não receba herança (territorial) da Terra de Israel, mas
cidades para habitação, dadas a eles como sua propriedade;
20) que a tribo de Levi não tome parte dos espólios de guerra;
21) dar aos levitas campos junto às cidades;
22) que os campos de qualquer uma de suas cidades nunca sejam vendidos (em
perpetuidade), mas que os levitas possam redimi-los em qualquer ocasião antes ou após o
Jubileu.

Os preceitos incluídos neste livro são, portanto, sessenta e sete, dos quais trinta positivos e
trinta e sete negativos.

8. O Livro do Serviço Divino


Seus grupos de leis são nove, organizados da seguinte maneira: leis relativas ao santuário;
leis relativas aos utensílios do santuário e àqueles que nele prestam serviço; leis
relacionadas à admissão ao santuário; leis das proibições relativas aos sacrifícios; leis
relativas ao ritual dos sacrifícios; leis relativas às oferendas diárias e às oferendas
adicionais; leis relativas aos sacrifícios que se tornaram impróprios; leis relativas ao serviço
no lom Quipur; leis relativas ao uso ilícito do que é sagrado.

Leis Relativas ao Santuário


Estas compreendem seis preceitos, dos quais três são afirmativos e três são negativos.
Seus detalhes são os seguintes:
1) erigir um santuário;
2) não construir o altar de pedras lavradas;
3) não subir por meio de degraus até o altar;
4) reverenciar e temer o santuário;
5) manter guarda no santuário;
6) não deixar o santuário desprotegido.

Leis Relativas aos Utensílios do Santuário e Àqueles que nele Servem Compreendem
quatorze preceitos, seis positivos e oito negativos.
São eles:
1) preparar o óleo da unção;
2) não fazer este óleo para o uso secular;
3) não ungir qualquer pessoa com ele;
4) não preparar um composto de fragrâncias para uso secular;
5) não oferecer, sobre o altar de ouro, nada a não ser o incenso;
6) conduzir a Arca sobre o ombro;
7) que os varais da Arca não sejam removidos dela;
8) que o levita sirva no santuário;
9) que nenhuma pessoa no santuário faça o trabalho destinado a outra pessoa; 10)
consagrar o sacerdote para o serviço;
11) que, nos festivais, todos os turnos tomem parte igualmente nos serviços;
12) colocar vestimentas sacerdotais para o serviço;
13) que o manto do sacerdote não esteja rasgado;
14) que o peitoral sacerdotal não esteja com o éfode frouxo.

Leis Relativas à Admissão ao Santuário


Estas compreendem quinze preceitos, dois afirmativos e treze negativos.
São os seguintes:
1) que uma pessoa ébria não entre no santuário;
2) que ninguém, cujo cabelo esteja em desalinho ou crescido, entre no santuário; 3) que
uma pessoa cuja roupa esteja rasgada não entre no santuário;
4) que um sacerdote não entre no santuário a todo instante;
5) que um sacerdote não saia do santuário durante o serviço;
6) retirar os Impuros para fora do santuário;
7) que o indivíduo impuro não entre no santuário;
8) que o indivíduo que estiver impuro não entre na área do Monte do Templo;
9) que o indivíduo que estiver impuro não tome parte do serviço;
10) que aquele que foi purificado por imersão não tome parte do serviço do dia de sua
purificação;
11) que aquele que servir no santuário santifique suas mãos e seus pés, purificando-os;
12) que uma pessoa com defeito físico não entre no santuário, nem se aproxime do altar;
13) que uma pessoa com defeito físico não tome parte no serviço;
14) que uma pessoa com defeito físico temporário não tome parte no serviço;
15) que um estranho não tome parte no serviço.

Leis das Proibições Relativas aos Sacrifícios


Estas compreendem quatorze preceitos, dos quais quatro são afirmativos e dez são
negativos.
São eles os seguintes:
1) que todas as oferendas para sacrifício sejam sem defeito;
2) não santificar animal com defeito ao altar;
3) não abater (tal animal);
4) não espargir o seu sangue;
5) não queimar sua gordura;
6) não santificar um animal com defeito temporário;
7) não sacrificar um animal com defeito mesmo que seja de não-judeus;
8) não causar defeito no animal destinado ao sacrifício;
9) redimir o animal santificado que se tornou impróprio para ser sacrificado;
10) sacrificar um animal somente com mais de oito dias de idade; antes disso ele é
classificado como imaturo e não deve ser imolado;
11) não aceitar para sacrifício a recompensa de uma prostituta ou "o preço de um cão";
12) não queimar fermento ou mel sobre o altar;
13) salgar todos os sacrifícios;
14) não deixar de temperar todos os sacrifícios com sal.

Leis Relativas ao Procedimento na Imolação dos Sacrifícios.


Estas compreendem vinte e três preceitos, dos quais dez são afirmativos e treze são
negativos:
1) ao imolar a oferenda ardente, seguir o procedimento na ordem recomendada; 2) não
comer a carne da oferenda ardente;
3) observar o procedimento recomendado na oferenda de expiação;
4) não comer a carne das oferendas de expiação mais sagradas;
5) não degolar completamente a cabeça das aves trazidas como oferenda de expiação;
6) observar o procedimento recomendado para a oferenda da transgressão;
7) que os sacerdotes comam a carne dos sacrifícios sagrados dentro do santuário; 8) que
eles não a comam fora do pátio do santuário;
9) que um estranho não coma qualquer parte dos sacrifícios sagrados;
10) observar o procedimento recomendado para as oferendas de paz;
11) não comer a carne das oferendas sagradas de grau menor antes que o seu sangue
tenha sido espargido;
12) ao oferecer uma oblação, observar o procedimento especificamente recomendado na
Torá;
13) não pôr óleo em uma oblata trazida como oferenda de expiação;
14) não por olíbano sobre ela;
15) que a oblação de um sacerdote não seja comida;
16) que a oblata não seja assada com pão fermentado;
17) que os sacerdotes comam o resto da oblação;
18) que o indivíduo cumpra todos os seus votos e traga as suas oferendas espontâneas no
primeiro dos três festivais;
19) não se demorar ao cumprir o seu voto, ao trazer uma oferenda espontânea, ou ao
executar outras obrigações;
20) imolar todos os sacrifícios no santuário escolhido;
21) trazer todos os sacrifícios de fora da Terra de Israel para o santuário;
22) não imolar sacrifícios fora do pátio;
23) não oferecer um sacrifício fora do (dito) pátio.

Leis Relativas às Oferendas Diárias e Oferendas Adicionais


Compreendem dezenove preceitos, dos quais dezoito são afirmativos e um é negativo.
Os detalhes são os seguintes:
1) imolar todos os dias duas ovelhas como oferendas ardentes;
2) acender o fogo sobre o altar diariamente;
3) não apagá-lo;
4) retirar as cinzas diariamente;
5) queimar incenso diariamente;
6) acender a menorá diariamente;
7) que o sumo-sacerdote ofereça uma oblata todos os dias; a isto se chama Havitin;
8) imolar no Shabat, além da oferenda diária, mais duas ovelhas, como oferendas ardentes;
9) preparar (e dispor em ordem) o pão da proposição;
10) imolar o sacrifício adicional das Neomênias;
11) imolar o sacrifício adicional de Pêssah;
12) sacrificar o ômer como uma oferenda de elevação;
13) que todos contem sete semanas a partir do dia em que o ômer for trazido; 14) imolar o
sacrifício adicional da festa de Shavuot;
15) trazer, na festa de Shavuot, duas porções de pão, junto com os sacrifícios associados a
ela;
16) imolar o sacrifício de Roshe Ha-Shaná;
17) imolar a oferenda adicional do lom Quipur;
18) imolar a oferenda adicional da festa de Sucot;
19) imolar a oferenda adicional da festa de Shemini Atséret.

Leis Relativas aos Sacrifícios que se Tornaram Impróprios


Estas compreendem oito preceitos, dois afirmativos e seis negativos.
A sua lista é a seguinte:
1) não comer oferendas que se tornaram impróprias ou defeituosas;
2) não comer uma oferenda que tenha se tornado indigna;
3) não comer das oferendas após o prazo estabelecido para o seu consumo, conforme
especificado (na Torá);
4) não comer o que foi deixado como resto do sacrifício além do tempo específico; 5) não
comer sacrifícios que se tornaram impuros;
6) que um homem que se tornou Impuro não coma dos sacrifícios;
7) queimar aquilo que restou;
8) queimar aquilo que se tornou impuro.

Leis Relativas ao Serviço do Iom Quipur


Estas se referem a um preceito positivo, isto é, realizar o serviço de Iom Quipur no que
concerne aos sacrifícios, confissões, enviando o bode expiatório e o restante do serviço,
como recomendado na Torá (Lv. cap. 16).

Leis Relativas às Transgressões das Coisas Sagradas


Compreendem três preceitos, um dos quais afirmativo enquanto dois são negativos.
A sua lista é a seguinte:
1) que o culpado de ter cometido uma transgressão pague por ela o valor daquilo que usou
adicionado de um quinto, e traga uma oferenda.
Esta é a lei imposta àquele que ilicitamente usou as coisas sagradas;
2) não trabalhar como animal que foi separado para sacrifícios;
3) não tosquiar a lã de tal animal.

Todos os preceitos incluídos neste livro totalizam cento e três, dos quais quarenta e sete
são afirmativos e cinqüenta e seis são negativos.

9. Livro Dos Sacrifícios


Seus grupos de leis são seis, tratados na seguinte ordem: leis relativas à oferenda pascal;
leis relativas à celebração dos festivais; leis relativas no primogênito; leis relativas às
oferendas trazidas para os pecados cometidos conscientemente; leis relativas àqueles que
têm de trazer sacrifícios de final de purificação; leis relativas à substituição de um animal
por outro para sacrifício.

Leis da Oferenda Pascal


Estas compreendem dezesseis preceitos, dos quais quatro são afirmativos e doze são
negativos.
Sua enumeração é a seguinte:
1) imolar a oferenda pascal na ocasião adequada;
2) não imolá-la enquanto o fermento não tiver sido removido;
3) não deixar a gordura da oferenda pascal permanecer toda a noite, sem que seja colocada
sobre o altar;
4) imolar a ovelha do segundo Pêssah;
5) comer a carne da oferenda pascal com pão ázimo e ervas amargas na noite do décimo
quinto dia de Nissan;
6) comer a carne da oferenda pascal na noite do décimo quinto dia do segundo mes;
7) não comê-la meio assada ou cozida;
8) não tirar a carne da ovelha pascal para fora do lugar de reunião;
9) que um apóstata não coma dela;
10) que um não-judeu não coma dela;
11) que uma pessoa não circuncidada não coma dela;
12) que não se quebre nenhum osso dela;
13) que não quebre nenhum osso da oferenda do segundo Pêssah;
14) que não se deixe nada dela até a manhã;
15) que não se deixe qualquer parte da oferenda do segundo Pêssah até o amanhecer;
16) que não se deixe nenhuma porção da carne da oferenda do festival, trazida no décimo
quarto dia de Nissan, até o terceiro dia.

Leis Relativas à Celebração dos Festivais


Compreendem seis preceitos, dos quais quatro são afirmativos e dois são negativos.
Sua enumeração detalhada é a seguinte:
1) aparecer diante do Senhor;
2) celebrar os três festivais;
3) alegrar-se nos festivais;
4) não aparecer de mãos vazias;
5) não negar ao levita, mas alegrá-lo e oferecer-lhe dádivas nos festivais;
6) reunir as pessoas na festa de Sucot após o encerramento do Ano Sabático.

Leis do Primogênito
Estas compreendem cinco preceitos, dos quais dois são afirmativos e três são negativos.
Sua enumeração detalhada é a seguinte:
1) separar e oferecer o animal primogênito;
2) não comer um animal primogênito perfeito fora de Jerusalém;
3) não redimir o primogênito;
4) separar e oferecer o dízimo dos animais;
5) não redimir o dízimo dos animais.
Eu junto as leis referentes ao dízimo dos animais às relativas ao primogênito, porque o
procedimento é o mesmo em ambas, e mesmo a Escritura combina estes dois grupos de
leis: "Tu espargirás o seu sangue..." (Nm 18:17), cujo texto foi tradicionalmente entendido
como referindo-se ao sangue do dízimo dos animais e ao sangue do primogênito.

Leis Referentes às Oferendas Trazidas para as Transgressões Cometidas Conscientemente


Estas compreendem cinco preceitos afirmativos. Sua enumeração é a seguinte:
1) que um individuo traga a oferenda definida para o seu pecado;
2) que aquele que não tem certeza sobre seu pecado traga uma oferenda de transgressão,
até que lhe seja assegurado seu pecado e que ele traga então lua oferenda de expiação;
aquela é chamada oferenda por uma transgressão duvidosa;
3) que para certas transgressões especificas, o pecador traga uma oferenda de
transgressão: trata-se da oferenda para uma transgressão determinada;
4) que para outras transgressões específicas, o pecador traga uma oferenda.
Se ele for rico, que traga um animal; se for pobre, um pássaro ou um décimo de uma efá de
farinha.
Esta oferenda é chamada a oferenda que varia segundo os recursos do indivíduo; 5) que o
Sanhedrin traga uma oferenda, caso haja errado e tomado uma decisão que não esteja de
acordo com a lei, em assuntos que envolveram uma séria transgressão.

Leis Relativas Àqueles que Têm que Trazer Sacrifícios em Final de Purificação
Estas compreendem quatro preceitos afirmativos.
Sua enumeração é a seguinte;
1) que uma mulher com fluxo traga, ao término deste, uma oferenda;
2) que uma mulher, após o parto, traga uma oferenda, depois de purificar-se;
3) que um homem que tiver fluxo traga uma oferenda, quando este cessar;
4) que um leproso traga uma oferenda quando estiver puro.
Após terem trazido suas oferendas, a purificação estará completa.

Leis Relativas à Substituição


Estas compreendem três preceitos.
Um afirmativo e dois negativos.
Sua enumeração detalhada é a seguinte:
1) não trocar;
2) que o animal adquirido numa troca seja também sagrado;
3) não trocar de uma categoria para outra, as coisas que foram consagradas.

Os preceitos compreendidos neste livro, portanto, são trinta e nove, vinte dos quais são
afirmativos e dezenove negativos.

10. Livro da Pureza


Seus grupos de leis são oito, tratados na seguinte ordem; leis referentes à impurificação por
um corpo morto; leis relativas à Novilha Vermelha; leis relativas à impureza da lepra; leis
relativas à impurificação de um leito ou assento; leis relativas a outras fontes originadoras
de impurificação; leis relativas à impurificação dos alimentos; leis relativas à impurificação
dos utensílios; leis relativas aos banhos rituais.

Leis Relativas à Impurificação por um Corpo Morto


Compreendem um preceito afirmativo, que se relaciona com a impurificação por um corpo
morto.

Leis Relativas à Novilha Vermelha


Compreendem dois preceitos positivos:
1) (A observância da) lei sobre a Novilha Vermelha;
2) a impureza das águas da aspersão (Nm 19:9-22) e o modo de usar estas águas para a
purificação.

Leis Relativas à Impureza da Lepra


Compreendem oito preceitos, dos quais seis são afirmativos e dois são negativos. Sua
enumeração é a seguinte:
1) decidir a respeito da lepra em seres humanos, segundo as regras conhecidas na Torá;
2) não eliminar as marcas que apontam as impurezas;
3) não eliminar os sinais de lepra na cabeça;
4) que o leproso seja reconhecido como tal, ao rasgar as suas roupas, deixando que o seu
cabelo fique em desalinho e cobrindo os lábios;
5) normas recomendadas para a purifição da lepra;
6) que o leproso raspe todo o seu cabelo quando estiver puro;
7) observar a lei da lepra em relação à vestimenta;
8) (observar) a lei da lepra em relação a uma casa.

Leis Relativas à Impurificação de um Leito ou de um Assento


Compreendem quatro preceitos afirmativos.
Sua enumeração é a seguinte:
1) lei sobre a impurificação de uma mulher menstruada;
2) lei sobre a impurificação de uma mulher que deu à luz;
3) lei sobre a impurificação de uma mulher com fluxo fora do período menstrual; 4) lei
sobre a impurificação de um homem com fluxo.

Leis de outras Fontes Originadoras de Impureza


Compreendem três preceitos afirmativos.
Sua enumeração é a seguinte:
1) lei de impurificação por animal que morreu naturalmente;
2) lei de impurificação pelas coisas rastejantes;
3) lei da impurificação do fluxo seminal.
Um ídolo impurifica no mesmo grau que uma coisa rastejante.
Esta impurificação foi registrada pelos sábios.

Lei de Impurificação dos Alimentos


Compreende um preceito, apresentado nas leis relativas à impurificação de líquidos e
comidas sólidas, e a condição precedente que faz com que estas se tornem puras.

Leis dos Utensílios


Estas leis capacitam o indivíduo a saber quais utensílios contraem impureza em algumas
das categorias citadas acima, quais os que não se tornam impuros e também os que
causam a impurificação.

Lei Relativa às Imersões Rituais


Compreende um preceito afirmativo, o de que aquele que estiver impuro deverá imergir seu
corpo nas águas de um banho ritual, e então ele se purificará.

Os preceitos compreendidos neste livro são, assim, vinte, dos quais dezoito são afirmativos
e dois são negativos.

11. Livro dos Danos


Seus grupos de leis são oito.
É a seguinte a ordem em que são tratados: leis relativas aos danos à propriedade; leis
relativas ao furto; leis relativas ao roubo e a artigos perdidos; leis relativas a alguém que
cometa um dano a uma pessoa ou à propriedade; leis relativas a um assassínio e à
preservação da vida humana.

Leis Relativas aos Danos à Propriedade


Compreendem quatro preceitos afirmativos.
Sua enumeração é a seguinte:
1) lei relativa a um animal violento;
2) lei relativa ao animal invasor;
3) lei relativa à existência de um buraco;
4) lei relativa ao fogo.

Leis Relativas ao Furto


Totalizam sete preceitos, dois afirmativos e cinco negativos.
Sua enumeração é a seguinte:
1) não furtar qualquer coisa de valor pecuniário;
2) (observar) a lei relativa ao ladrão;
3) assegurar balanças e pesos corretos;
4) não agir incorretamente com relação às medidas e aos pesos;
5) em nenhuma propriedade deve haver duas espécies de pesos e medidas, mesmo que não
sejam usadas na compra e na venda;
6) não remover um marco divisório;
7) não raptar.

Leis Relativas ao Roubo e às Coisas Perdidos


Compreendem sete preceitos, dois afirmativos e cinco negativos, quais sejam:
1) não roubar;
2) não extorquir;
3) não ambicionar;
4) não desejar;
5) devolver o que foi roubado;
6) não ser desatento ou omisso quando vir alguma coisa que foi perdida;
7) devolver a propriedade perdida.

Leis Relativas a Alguém que Cometa um Dano à Pessoa ou à Propriedade


Estas compõem-se de um preceito positivo, o de observar a lei relativa a um indivíduo que
cause dano a uma pessoa ou estrague a propriedade de alguém.

Leis Relativas ao Assassínio e à Preservação da Vida Humana


Estas compreendem dezessete preceitos: sete são preceitos positivos e dez são preceitos
negativos:
1) não cometer assassínio;
2) não aceitar resgate pela vida de um assassino: ele deverá ser morto;
3) aquele que cometeu homicídio acidental será enviado ao exílio;
4) não aceitar resgate de alguém que assim incorreu em exílio;
5) que o assassino não seja morto antes de ser julgado;
6) salvar o perseguido mesmo à custa da vida do perseguidor;
7) não demonstrar piedade pelo perseguidor;
8) não se manter indiferente diante da necessidade;
9) separar cidades de refúgio e sinalizar a estrada que leva a elas, para o beneficio de quem
tenha cometido homicídio acidental;
10) quebrar o pescoço do bezerro no vale;
11) não arar o vale e nem semeá-lo;
12) não causar perda de vida humana;
13) construir parapeitos;
14) não deixar desconhecida qualquer coisa que possa causar dano à vida de uma pessoa
desavisada;
15) aliviar um homem de sua carga, quando ele se acidentar na estrada;
16) ajudá-lo a carregar novamente;
17) não deixá-lo em estado de perplexidade ao seguir o seu caminho.

Os preceitos incluídos neste livro são, portanto, trinta e seis.


Dezesseis destes são preceitos afirmativos e vinte Não negativos.

12. O Livro das Aquisições


Seus grupos de leis são cinco, organizados na ordem seguinte: leis de venda; leis de
aquisição de propriedade abandonada e de doação, leis de vizinhança; leis dos procuradores
e sócios; leis dos servos.

Leis das Vendas


Compreendem quatro preceitos, um dos quais é afirmativo, enquanto os demais são
negativos.
Sua enumeração detalhada é a seguinte:
1) lei da compra e venda;
2) não agir de má-fé ao comprar e ao vender;
3) não enganar através da fala;
4) não enganar um prosélito no que concerne às suas posses e não enganá-lo através de
discurso falaz.

Leis da Aquisição de Propriedade Abandonada e da Doação


Estas leis nos permitem conhecer: a norma que leva o indivíduo a adquirir uma propriedade
abandonada; por quais métodos o indíviduo obtém o título de tal propriedade; a lei que diz
respeito ao doador, à doação e ao receptor; e qual o tipo de doação que é ou não solúvel.

Leis de Vizinhança
Estas leis nos permitem conhecer: a norma da partilha de imóvel entre sócios; como evitar
que se cause danos a vizinhos e suas propriedades; a lei que diz respeito ao dono de uma
propriedade limítrofe.

Lei dos Procuradores e Sócios


Estas leis nos permitem conhecer os procedimentos que dizem respeito a um agente ou
sócio, e como sentenciar nos casos de compras, vendas, perdas e lucros.

Leis dos Servos


Estas compreendem treze preceitos, cinco afirmativos e oito negati-vos.
A enumeração é a seguinte:
1) lei da aquisição de um escravo judeu;
2) que ele não seja vendido da mesma forma que outro escravo;
3) que ele não seja forçado a trabalho humilhante e desgastante;
4) que não se deixe um semi prosélito dar-lhe ordens com arrogância;
5) que não se o force a fazer trabalho humilhante;
6) conceder-lhe uma indenização quando sair em liberdade;
7) que ele não saia de mãos vazias;
8) redimir uma escrava judia;
9) desposá-la ;
10) que ela não seja vendida;
11) manter um escravo não-judeu em perpétua servidão, exceto se o dono causar algum
defeito em um de seus membros;
12) não entregar um escravo fugido a seu dono, se estiver fugindo de fora para a Terra de
Israel;
13) não agir de má-fé com tal escravo que se refugiou entre nós.

Os preceitos compreendidos neste livro são, portanto, dezoito, sendo seis deles afirmativos
e doze negativos.

13. O Livro dos Julgamentos


Seus grupos de leis são cinco, organizados da seguinte maneira: leis relativas à
contratação; leis relativas ao empréstimo e depósito; leis relativas ao credor e ao devedor;
leis relativas ao queixoso e ao réu; leis relativas às heranças.

Leis de Contratação
Estas compreendem sete preceitos, três afirmativos e quatro negativos.
A enumeração detalhada é a seguinte:
1) lei do homem contratado e do depositário por contrato;
2) pagar pontualmente os honorários firmados;
3) não retardar o pagamento dos honorários de um homem contratado;
4) que o homem contratado possa comer do fruto com o qual estava trabalhando na época
da colheita;
5) que ele não coma do fruto quando estiver engajado no trabalho em outras ocasiões;
6) que o homem contratado não leve nada além do que consumir;
7) que não se amordace o boi quando este estiver pisando o trigo; esta lei se aplica
também aos outros tipos de gado.

Leis Relativas ao Empréstimo e ao Depósito


Compreendem dois preceitos afirmativos:
1) a lei relativa a um emprestador;
2) a lei relativa a um depositário gratuito.

Leis Relativas ao Credor e ao Devedor


Estas compreendem doze preceitos, quatro dos quais são afirmativos, enquanto oito são
negativos.
A enumeração detalhada é a seguinte:
1) emprestar aos pobres e necessitados;
2) não pressioná-los;
3) pressionar o idólatra;
4) que o credor não tome o penhor à força;
5) retornar o penhor ao seu dono quando este necessitar;
6) não demorar a devolver o penhor ao dono, quando se tratar de um homem pobre, que
dele necessite;
7) não exigir penhor de uma viúva;
8) não tomar como penhor utensílios usados na preparação do sustento;
9) que o credor não faça empréstimo a juros;
10) que o devedor não tome empréstimo a juros;
11) que uma pessoa não atue como intermediário entre o credor e o devedor de um
empréstimo com juros; não servir de testemunha na transação entre eles, não agir como
fiador, nem emitir duplicata;
12) ao solicitar empréstimo ou emprestar a um não-judeu, operar com juros.

Lei do Queixoso e do Réu


Compreende um preceito afirmativo, (observar) as regras para o caso de uma reivindicação,
uma admissão ou uma recusa.

Lei das Heranças


Compreende um preceito positivo, qual seja, (observar) a lei da ordem de sucessão.

Os preceitos incluídos neste livro são, portanto, vinte e três; destes, onze são preceitos
afirmativos e doze são preceitos negativos.

14. O Livro dos Juizes


Seus grupos de leis são cinco, tratados da seguinte maneira: leis relativas ao Sanhedrin e
às penas ligadas a ele; leis relativas à evidência e testemunhas; leis relativas aos
insubordinados; leis relativas ao luto; leis relativas aos soberanos e às guerras.

Leis Relativas ao Sanhedrin e às Penas de sua Jurisdição


Estas compreendem trinta preceitos dos quais dez são afirmativos e vinte negativos.
Sua lista detalhada é a seguinte:
1) nomear juízes;
2) não nomear juizes que não dominem o procedimento judicial e a jurisprudência da Torá;
3) decidir por maioria, quando os juizes discordarem;
4) não executar o réu se houver maioria de apenas um para a condenação, mas unicamente
se, no mínimo, houver maioria de dois;
5) que, nos casos de pena de morte e chicotadas, aquele que apresentou argumentos para
absolvição, não argumente novamente pela condenação;
6) executar por apedrejamento;
7) executar por fogo (ver preceito afirmativo nº 228);
8) executar por decapitação com a espada;
9) executar por estrangulamento;
10) pendurar o executado;
11) enterrar o corpo da pessoa executada no dia de sua execução;
12) não deixar o corpo permanecer (insepulto) noite adentro;
13) não dar sustento ou deixar vivos os feiticeiros;
14) punir os maus com chicotadas;
15) não exceder o número de chicotadas;
16) não executar alguém sob suspeita;
17) não punir aquele que cometer um crime involuntário;
18) não demonstrar piedade por alguém que matou outra pessoa ou causou dano físico a
ela;
19) não demonstrar compaixão no julgamento de uma pessoa apenas por ela ser pobre;
20) não prestar reverência no julgamento de um grande homem;
21) não julgar com parcialidade um transgressor habitual, mesmo que ele seja um pecador;
22) não deturpar o julgamento;
23) não desvirtuar o julgamento de um convertido ou de um órfão;
24) julgar com honestidade;
25) não temer, em um julgamento, um homem que seja poderoso;
26) que o juiz não aceite propina;
27) não relevar um depoimento falso;
28) não insultar os juizes;
29) não insultar o Chefe do Estado;
30) não insultar qualquer outro judeu que leve uma vida digna.

Leis da Evidência e das Testemunhas


Compreendem oito preceitos, três afirmativos e cinco negativos.
São os seguintes:
1) que aquele que esteja de posse de uma evidência, testemunhe no tribunal;
2) que as testemunhas sejam arguidas com rigor;
3) que aquele que deu testemunho em caso capital não atue como juiz neste caso; 4) que
nenhuma decisão seja feita sobre evidência apresentada apenas por uma testemunha;
5) que um transgressor seja impedido de atuar como testemunha;
6) que um parente não testemunhe;
7) que a pessoa não testemunhe em falso;
8) aplicar a uma falsa testemunha a mesma pena que o seu testemunho causaria ao
acusado.
Leis Relativas aos Insubordinados
Estas incluem nove preceitos, três positivos e seis negativos.
Sua lista seguinte:
1) agir segundo a lei da Torá, conforme o Tribunal Supremo declara;
2) não desviar-se das instruções dos membros do Tribunal;
3) não aumentar a Torá, seja em relação aos preceitos da Lei Escrita, ou à sua exposição,
que aprendemos por tradição;
4) não diminuir nenhum dos preceitos;
5) não amaldiçoar o pai ou a mãe;
6) não bater no pai ou na mãe;
7) honrar pai e mãe;
8) reverenciar pai e mãe;
9) que um filho não se rebele contra a ordem de seu pai ou de sua mãe.

Leis do Luto
Estas compreendem quatro preceitos, dos quais um é afirmativo e três são negativos.
Sua lista detalhada é a seguinte:
1) lamentar pelos parentes; até mesmo um sacerdote deve impurificar-se por parentes
falecidos e lamentar por eles.
Não lamentar, no entanto, por aqueles que foram mortos por ordem do Tribunal. Eu incluí
estas leis neste livro porque são análogas à tarefa de enterrar os falecidos no dia de sua
morte, o que é um preceito afirmativo;
2) que o sumo-sacerdote não se torne impuro por parentes falecidos;
3) que ele não fique sob o mesmo teto com o morto;
4) que um sacerdote comum não se impurifique por ninguém, a não ser por parentes

Leis dos Soberanos e das Guerras


Estas compreendem vinte e três preceitos, dez dos quais são afirmativos e treze negativos.
A lista é a seguinte:
1) escolher entre os judeus um rei;
2) não escolhê-lo da comunidade dos prosélitos;
3) que ele não tenha muitas esposas;
4) que ele não adquira muitos cavalos;
5) que ele não acumule muito ouro e prata;
6) destruir as sete nações;
7) não deixar que nenhum deles viva;
8) erradicar a semente de Amalec;
9) lembrar o que Amalec nos fez;
10) não esquecer de seus feitos maléficos, como ele nos emboscou traiçoeiramente no
deserto;
11) não residir na terra do Egito;
12) oferecer trégua aos habitantes de uma cidade que esteja dominada e relacionar-se com
ela do modo apresentado na Torá, no caso de a cidade fazer paz ou não;
13) não buscar paz com Amon e Moabe.
Esta regra só se aplica quando da dominação de suas cidades;
14) quando num cerco, não destruir as árvores frutíferas;
15) preparar um lugar de conveniência onde os acampados possam fazer as suas
necessidades;
16) ter uma pá no local para cavar;
17) sagrar um sacerdote para falar aos homens em tempo de guerra;
18) que o homem que tomou uma esposa, erigiu uma habitação ou plantou um vinhedo
desfrute um ano inteiro; que tais homens sejam enviados da guerra de volta para casa;
19) não requisitá-los sob qualquer propósito; eles não devem sair para serviço comunal,
serviço de tropas nem nenhuma tarefa similar;
20) não temer nem se retirar na hora da batalha;
21) lei da bela mulher feita prisioneira de guerra;
22) que ela não se destine à venda;
23) que ela não seja retida em servidão, após a coabitação.

Os preceitos incluídos neste livro são, portanto, setenta e quatro, dos quais vinte e sete são
afirmativos e quarenta e sete negativos.

Os grupos de preceitos tratados nestes quatorze livros somam oitenta e três. Agora, com a
ajuda do Todo-Poderoso, começarei a expor as regras de cada preceito e todos os seus
sacramentos, segundo a ordem dos grupos apresentados.

Continua
Mishné Torá – Parte 4

Conferi vossa benevolência sobre aqueles que vos conhecem, e vossa retidão aos íntegros
em coração
(Sl 36:11)

Livro Primeiro - Chamado Livro da Sabedoria


(Trata de cinco categorias de leis, na seguinte ordem: leis relativas aos princípios
fundamentais da Torá: leis relativas ao comportamento; leis relativas ao estudo da Torá;
leis referentes à idolatria e às condutas dos idólatras; leis relativas ao arrependimento.)

As Leis Fundamentais da Torá


Estas cobrem dez preceitos, seis dos quais são afirmativos, enquanto quatro são negativos.
Em primeiro lugar, conscientizar-se de que existe um D..S.
Segundo, não ceder à crença de que haja outro deus a não ser o Eterno.
Terceiro, conscientizar-se de Sua Unidade.
Quarto, amá-Lo.
Quinto, reverenciá-Lo.
Sexto, santificar o Seu Nome.
Sétimo, não banalizar e não profanar o Seu Nome.
Oitavo, não destruir as coisas que levam o Seu Nome.
Nono, ouvir e acatar o profeta que fala em Seu Nome.
Décimo, não tentá-Lo.
A exposição de todos estes preceitos forma o teor dos capítulos seguintes.

Capítulo I
1. O princípio básico de todos os princípios fundamentais e o pilar de todas as sabedorias é
conscientizar-se que há um Ser Primeiro [Maimônides usa a expressão SER, sem nomeá-Lo,
porque o nome somente é dado às coisas que têm forma, espiritual ou física; como o
Onipotente está acima de qualquer imagem ou forma, nós O chamamos o SER que existe,
que é a verdadeira existência.] que originou a existência de tudo. [Maimônides aqui nos
ensina que o Eterno é o epicentro de todo o universo e que o objetivo de tudo é o Divino. O
mesmo ocorre com as leis, tanto as que vigem entre o homem e o Eterno, como as que
vigem entre o homem e o seu próximo; todas as leis giram em volta do Divino, isto é, todas
as leis, com a sua prática, levam à conscientização de que o Todo-Poderoso é o Único
Criador de todo o Universo e de tudo o que existe, incluindo o próprio homem, e que o
objetivo de toda a Criação é exclusivamente conscientizar-se disso e em tudo ser súdita fiel
dEle.]
Todas as coisas existentes, quer celestiais, terrestres ou pertencentes a uma classe
intermediária [Para o entendimento da união homem-universo-Divino mencionada acima,
tomemos dois casos: O primeiro, de dois amigos íntimos, onde cada um tem afeto pelo
outro, mantendo, porém, sua individualidade, como duas unidades separadas. Outro
exemplo, mais elevado, é a união entre marido e mulher ou entre os raios solares e o Sol;
são uniões tão integradas que somente se percebe uma unidade, como se fossem um só
corpo, e não um homem e uma mulher, como não se vêem os raios solares isolados do Sol.
O mesmo ocorre entre o homem, o universo e o Divino, que têm os dois tipos de união
exemplificados: para a quase totalidade das pessoas, o sentimento de união com o Divino é
o do primeiro tipo (o dos dois amigos); somente alguns indivíduos sentem o segundo tipo
de união. Assim será até a vinda do Messias, quando todos sentirão o segundo tipo de
união.] , existem apenas através de Sua existência verdadeira. [Quando uma coisa existe
em função daquilo que a originou, na verdade não existe o dependente, mas somente a
origem. Exemplo: Os raios solares somente iluminam porque foram emitidos pelo Sol,
sendo totalmente dependentes do brilho do Sol. Dizemos então, que somente o Sol brilha;
não percebemos os raios solares, como se eles fossem inexistentes. O mesmo se dá com o
universo, que é integralmente dependente do Onipotente. Logo, pela lógica, diríamos que
não existe nem o homem, nem o universo; como a Torá, entretanto, escreve explicitamente
que o universo foi criado e que existe em realidade, para que o dependente — o universo —
tenha realmente uma existência no mesmo local e espaço onde existe o Onipresente, tal
capacidade só pode vir do íntimo do Onipotente, que lhe dá sua verdadeira existência.]
2. Se se supusesse que Ele não existe, seguir-se-ia que nada mais poderia existir. 3. Se,
porém, fosse suposto que todos os outros seres não fossem existentes, Ele, apenas, ainda
existiria.
A sua não-existência não envolveria a Sua inexistência, pois todos os seres têm necessidade
d'Ele; mas Ele, seja abençoado, não tem necessidade de nenhum deles.
Daí a Sua essência real ser diferente da de qualquer um dos seres.
4. É a isto que o profeta se refere, quando diz: "Mas o Eterno é o D..S verdadeiro" (Jr
10:10); isto é, somente Ele é real e nada mais tem realidade como a Sua realidade.
O mesmo pensamento a Tora expressa em: "Não há nada além d'Ele" (Dt 4:35); isto é, não
há nenhum ser que seja realmente como Ele.
5. Este ser é o D..S do Universo, o Senhor de toda a Terra.
É Ele quem controla a Esfera (do Universo) com um poder que não tem fim, nem limite;
com um poder que nunca é interrompido, pois a Esfera está sempre em rotação, e é
impossível que ela se mova sem que alguém a faça mover.
D..S, abençoado seja, é quem, não tendo mão ou corpo, faz com que ela se mova.
6. Reconhecer esta verdade é um preceito afirmativo, como está escrito: "Eu sou o Senhor,
teu D..S" (Êx. 20:2); (Dt 5:6). E quem quer que pense que exista uma outra força além de
D..S, como está escrito: "Tu não terás outros deuses diante de Mim" (Êx. 20:3; Dt 5:7), e
que negue a essência do Judaísmo — sendo esta doutrina o centro do qual tudo depende —,
viola uma proibição.
7. D..S é Um. Ele não é dois nem mais do que dois, mas Uno; assim, nenhuma das coisas
existentes no universo às quais o termo uni é aplicado é como a Sua Unidade, nem é tal
unidade como uma espécie que compreende muitas unidades (ou seja, subespécies), nem é
tal unidade como um corpo físico que consiste de partes e dimensões.
Sua Unidade é tal que não há outra como ela no mundo.
Se houvesse divindades plurais, estas seriam corpos físicos, porque as entidades que podem
ser enumeradas e que são iguais em sua essência só são distinguíveis entre si pelos
fenômenos que acontecem aos corpos físicos.
Se o Criador fosse um corpo físico, Ele teria limitações, pois é impossível que um corpo
físico não possua limites; e se um corpo é limitado e finito, a sua energia também é limitada
e finita.
E nosso D..S, abençoado seja o Seu Nome, tem um poder infinito e incessante — visto que
a Esfera (do Universo) está continuamente se movendo.
Seu poder não é a energia de um corpo físico.
E, não sendo Ele material, os fenômenos que acontecem aos corpos físicos não se aplicam a
Ele, o que O distingue dos outros seres.
Daí, é impossível que Ele seja qualquer coisa a não ser Um.
Conceber este conceito é um preceito positivo, como está escrito: "O Eterno, nosso D..S, é
Uno" (Dt 6:4).
8. Que o Sagrado, seja Ele bendito, não é um corpo físico, está explicitamente apresentado
no Pentateuco e nos Profetas: "(Saiba, por-tanto) que o Senhor é D..S no céu, acima deles,
sobre e abaixo da terra" (Dt 4:39); sabemos que um corpo físico não está em dois lugares
ao mesmo tempo.
Além disto, está escrito: "Pois Tu não viste nenhuma forma de semelhança" (Dt 4:15); e
uma vez mais: "A quem então te assemelharás ou a quem serei igual?" (Is 40:25).
Se Ele fosse um corpo, Ele seria como outros corpos.
9. Posto isso, qual é o significado das seguintes expressões encontradas na Torá: "Abaixo
de seus pés" (Êx 24:10); "Escrito com o dedo de D..S" (Êx 31:18), "A mão de D..S (Êx 9:3)
"Os olhos de D..S" (Gn 37:7), "Os ouvidos de D..S" (Mn 11:1), e frases similares?
Todas estas expressões são adaptadas à capacidade mental do ser humano, que tem uma
percepção clara apenas do universo material.
A Torá fala na língua dos homens.
Todas estas frases são metafóricas, como a sentença: "Quando afiar o gume da minha
espada" (Dt 32:41).
Então D..S tem uma espada e fere com uma espada?
Logicamente o termo é utilizado alegoricamente e todas aquelas frases devem ser
compreendidas de modo similar.
A prova de que esta visão está correta está em um profeta dizer que teve uma visão do
Sagrado, seja Ele abençoado, "Cujas vestes eram brancas como a neve" (Dt 7:9), enquanto
outro diz que O viu "com vestes tingidas de Bosrá (Is 63:1). Mesmo Moisés, o nosso Mestre,
O viu no Mar Vermelho como um homem poderoso fazendo a guerra (Êx 15:3) e no Sinai
como um homem que oficiava orações, envolto (em seu talit) — tudo indicando que na
realidade Ele não tem forma, nem figura.
Estas só aparecem em uma visão profética.
Mas a essência do Onipotente, como ela realmente é, a mente humana não compreende e é
incapaz de entender ou investigar.
E isto está expresso no texto das Escrituras: "Tu poderias, pesquisando, encontrar D..S?
Poderias descobrir o Todo-Poderoso na sua totalidade?" (Jó 11:7).
10. O que Moisés buscou compreender quando disse: "Mostra-me, eu te suplico, a Tua
glória"? (Êx 33:18).
Ele quis ter uma compreensão tão clara da exatidão da existência do Onipotente que o
conhecimento poderia ser como o que se tem de um ser humano, cuja face é visível e cuja
imagem, impressa no coração, distingue-se das dos outros homens.
Da mesma maneira, Moisés, nosso Mestre, quis que a exatidão da existência do Onipresente
pudesse ser distinguida em seu coração da de outros seres, e que ele pudesse assim
conhecer a exatidão da existência do Eterno como ela é realmente. O Divino respondeu que
está além da capacidade mental de uma criatura humana, composta de corpo e alma, obter
neste aspecto um conhecimento claro da exatidão.
O Todo-Poderoso, porém, concedeu a Moisés o que não havia sido outorgado a nenhum
outro homem, nem antes nem depois dele.
Moisés obteve o conhecimento da Existência Divina além dos outros seres humanos; então
o Eterno, em sua mente, tornou-se diferente dos homens, da mesma maneira que um
indivíduo, visto pelas costas, é distinguido na mente de um observador dentre outros
indivíduos por ter compleição e vestes reconhecidas. A Escritura sugere isto no texto: "Tu
verás as minhas costas, mas a minha face não será vista" (Êx 33:23).
11. Já que foi demonstrado que Ele não é um corpo, está claro que nenhum dos acidentes
da matéria podem ser atribuídos a Ele; nem conjunção, nem separação, nem local, nem
dimensão, nem ascendente, nem descendente, nem direita, nem esquerda, nem frente,
nem costas, nem uma postura sentada, nem aprumada. Ele não existe no tempo, no
sentido de que Ele não tem um início, fim ou número definido de anos.
Ele é imutável, pois nada há n'Ele que efetuaria mudança em Si mesmo.
Ele não morre, nem tem Ele uma vida do ponto de vista físico.
Insensatez não é um atributo do Seu Ser, nem sabedoria, como a que se relaciona a um
homem sábio.
Não dorme, nem acorda; não tem paixão, nem frivolidade; nem alegria, nem melancolia;
nem silêncio, nem fala como a de seres humanos.
E, assim, os sábios disseram: "Acima, não há ninguém de pé nem sentado, nem rigidez,
nem relaxamento."
Sendo assim, as expressões do Pentateuco, dos livros dos profetas (já mencionadas) e
outras similares a estas são todas metafóricas e retóricas, como, por exemplo: "Este que
está sentado nos céus rirá" (SI 2:4). "Eles me provocaram a ira com as suas futilidades" (Dt
32:21). "Como o Senhor regozijou" (Dt 28:63) etc.
A todas estas frases se aplica o ditado: "A Torá fala na língua dos homens."
Assim também está escrito: "A Mim vocês querem provocar?" (Jr 7:19), e ainda: "Eu sou o
Senhor, Eu não mudo" (MI 3:6).
Se o Divino algumas vezes estivesse zangado e outras vezes feliz, Ele estaria mudando.
Todos estes estados somente existem nos seres físicos, que são de condição obscura e vil,
habitando em casas de barro, cuja origem é o pó.
Infinitamente abençoado e exaltado acima disso está D..S, abençoado seja Ele.

Capítulo II
1. Este D..S, honrado e reverenciado, é nosso dever amar e temer, como está escrito: "Tu
amarás o Senhor, teu D..S" (Dt 6:5), e: "Tu temerás o Senhor, teu D..S" (Dt 6:13).
2. E qual é o caminho que conduzirá ao amor por Ele e ao temor por Ele?
Quando uma pessoa contempla Suas grandes e maravilhosas obras e criaturas e através
destas obtém um relance de Sua sabedoria, que é incomparável e infinita, ela passa
imediatamente a amá-Lo, louvá-Lo, glorificá-Lo e a aspirar com uma ansiedade
extraordinária a conhecer Seu grande Nome, como disse Davi: "Minha alma está sedenta de
D..S, do D..S vivente" (Sl 42:3).
E quando essa pessoa pondera sobre esses assuntos, imediatamente se recolhe temerosa e
percebe que é uma pequena criatura, simples e obscura, dotada de leve e limitada
inteligência diante da presença d'Ele, que é perfeito em sabedoria. Disse ainda Davi:
"Quando eu vejo os Teus céus, a obra de Teus dedos — quem é o homem para ser
lembrado?" (Sl 8:4,5).
Em harmonia com estes conceitos, eu explicarei alguns aspectos grandes e gerais das obras
do Soberano do Universo que possam servir ao indivíduo inteligente como uma porta para
amar a D..S, conforme os sábios notaram: "Observa o Cosmos e então tu reonhecerás
quem ordenou e como foi criado o Universo."
3. Tudo o que O Sagrado D..S, seja Ele abençoado, criou em Seu universo recai em três
divisões.
Algumas criaturas constituídas de matéria e espírito [Entende-se por "espírito" a centelha
da Divindade, que é Néfesh e não Neshamá. Ver cap. 4:7,8], continuamente vindo à
existência e declinando: tais são os corpos das criaturas humanas e de outros animais,
plantas e minerais.
Há outras criaturas que consistem de substância e espírito, como aquelas da primeira
categoria, mas que não mudam de um corpo para outro ou de uma forma para outra; retêm
a sua forma permanentemente em sua substância, não variando como os membros da já
mencionada primeira classe — são as esferas celestes e as estrelas nelas colocadas.
A sua substância não é como as outras substâncias nem os seus espíritos são como os
outros espíritos.
Outras ainda são criaturas que consistem de espírito sem substância; são os anjos.
Os anjos, pois, não são corpos materiais, mas apenas espíritos distintos entre si. 4. O que
dizer então quando os profetas declaram ter visto um anjo de fogo, dotado de asas?
Tais descrições devem ser compreendidas como visões proféticas e devem ser consideradas
em um sentido alegórico.
Elas se destinam a indicar que o anjo não é corpóreo e não possui massa, como os corpos
materiais.
Assim, também, está escrito: "Pois o Senhor, teu D.S., é um fogo devorador" (Dt 4:24), ou
ainda: "Ele faz os ventos seus mensageiros" (S1104:4).
5. De que maneira são estas formas diferentes entre si, visto que elas não são corpóreas?
A resposta é que, em sua essência, elas não são iguais.
Cada uma delas é inferior à outra e existe pela conexão com a anterior. [Dois exemplos
para clarear melhor este conceito: a) Comparamos essas conexões com uma corrente feita
de vários elos, em que a parte inferior do primeiro anel se liga à parte superior do seguinte,
e a parte inferior deste com a parte superior do que o sucede, e assim até chegar ao último
elo. Vemos que cada elo está encadeado de maneira linear com o anterior e com o
posterior, donde se conclui que até o mais baixo ou último elo está ligado ao mais alto ou
primeiro e vice-versa. b) Comparamos também isto à produção de laticínios, em que todos
os produtos derivam de uma única matéria-prima — o leite, obedecendo a uma determinada
seqüência, sem perder a essência da matéria-prima original. A princípio temos o leite; numa
primeira etapa, ele produz a manteiga e mima segunda o creme; deixando coalhar por si
mesmo ele se torna iorgurte; deixando-o coalhar mais tem-se o queijo frescal; curando-se-
o ainda mais tem-se o queijo amarelo. Vemos assim que de uma matéria-prima única se
produziram sucessivamente vários compostos com características alimentares diferentes e
individualizadas. Estes dois exemplos mostram a conexão de vários níveis superiores e
inferiores, a que os sábios chamam mundos, anjos, etc., e que formam uma corrente criada
pelo Onipotente, que transmite Sua iluminação e bênção, conforme explicado neste
parágrafo e nos quatro primeiros capítulos deste estudo.]
Assim, em seu conjunto, um anjo é superior a outro. [Os termos superior e inferior não se
referem a posições físicas, mas a graus de qualidade.]
Tudo existe pelo poder e bondade do D.S. Sagrado, seja Ele abençoado.
Salomão, em sua sabedoria, alude a isto na passagem "Ao mais elevado que o mais
elevado, Tu guardarás" (Ec 5:7).
6. Quando dizemos que um anjo está abaixo de outro, isto não se refere à posição espacial,
como quando pensamos num indivíduo que ocupa uma cadeira mais alta que outro, mas à
superioridade hierárquica, como se diz a respeito de dois estudiosos (sendo um superior em
grau ao outro) ou quando se diz de uma causa ser mais elevada que o seu efeito.
7. A variedade de nomes que os anjos portam refere-se à sua classificação.
Eles são chamados Haiot Hacódeshe — os mais elevados: Ofanim, Erelim, Hasmalim,
Serafim, Malaquim, Elo-him, Bené Elo-him, Querubim e Ishim.
Estes dez nomes," pelos quais são chamados os anjos, correspondem às suas dez
categorias.
A categoria mais alta, acima da qual não há grau mais elevado a não ser o do Onipotente,
seja Ele abençoado, é a chamada Haiot.
Na literatura profética, portanto, diz-se que os Haiot estão abaixo do Trono da Glória.
Ao décimo grau pertence a forma daqueles denominados Ishim; eles são os anjos que
comungam com os profetas e aparecem a eles nas visões.
São chamados Ishim (indivíduos) porque a sua categoria se aproxima à da inteligência dos
seres humanos.
8. Todas as categorias possuem um conhecimento excessivamente grande sobre o Criador
— um conhecimento proporcional a cada categoria, mas que não tem relação com a
grandeza infinita do Criador.
Nem mesmo a classe mais alta dos anjos pode alcançar o conhecimento exato sobre o
Onipotente. [Nem mesmo os Anjos mais elevados (Haiot) podem ter o conhecimento pleno
de D..S; Moisés, porém, foi superior aos Haiot.]
Para isto, as suas capacidades são insuficientes.
Cada forma angélica aprende e sabe mais do que a que está imediatamente abaixo dela, e
isto se verifica por todos os graus, até o décimo.
Mesmo a décima categoria angélica conhece o Eterno com uma profundidade que os seres
humanos, consistindo de matéria e espírito, não podem alcançar; ninguém, no entanto,
conhece o Criador como Ele conhece a si mesmo.
9. Todos os seres, exceto o Criador, da mais alta forma angélica até o mais frágil inseto que
está no interior da terra, existem pelo poder da existência essencial do Onipotente.
Como tem autoconhecimento e percebe Sua grandeza, glória e exatidão, Ele conhece tudo e
nada Lhe é oculto.
10. O Sagrado, abençoado seja, percebe Seu ser verdadeiro e o conhece como é, e não
como um conhecimento externo a si mesmo (ao contrário, o nosso conhecimento e nós
mesmos somos separados).
Mas como o Criador, abençoado seja, Seu conhecimento e Sua vida são uma, em todos os
aspectos, a partir de todos os pontos e por mais que concebamos a Unidade.
Se o Criador vivesse como vivem outras criaturas e se o Seu conhecimento fosse externo a
Ele mesmo, haveria uma pluralidade de divindades tais como Ele mesmo, Sua vida, Seu
conhecimento; porém, tal não se dá.
Ele é Um em cada aspecto, de cada ângulo e em todas as formas nas quais a Unidade é
concebida.
Daí, advém de que D.. S é Aquele que sabe, é sabido e é a sabedoria — todos estes sendo
Um.
Isto está além do poder da fala exprimir, além da capacidade de o ouvido ouvir e da mente
humana aprender claramente.
A Escritura, conseqüentemente, diz: "Pela vida do Faraó" e "Pela vida de tua alma".
Mas não "Pela vida do Eterno".
A frase antes empregada é "Como D..S vive", porque o Criador e Sua vida não são duplos,
como se dá com seres viventes ou anjos.
Por isso, também, o Divino não identifica e conhece as criaturas por causa delas (como nós
fazemos), mas por causa de Si mesmo.
Conhecendo-Se, Ele conhece tudo, pois tudo está associado a Ele, em Seu Ser.
[Para entender o conceito de que o Oniconsciente se identifica e reconhece todas as
criaturas por Si mesmo, temos um exemplo quando um homem se fere no calcanhar: ele
não precisa se abaixar para ver que está ferido, pois sente-o imediatamente. E como é
difícil de entender, conceber e aceitar este conceito, porque ele incomoda o ego e o
comodismo, os outros povos, religiões, culturas etc., dividem em três ou mais, dividem
entre o corpo e a alma, e, quando o fazem dão um pretexto para deturpar o que é certo e o
que é errado; em vez de se ser correto e honesto, é-se falso e malicioso, e o.que é certo se
torna o errado, e o que é errado se torna certo.]
11. O que foi dito sobre este assunto nestes dois capítulos nada mais é que uma gota no
oceano, comparado ao que tem que ser elucidado a respeito deste assunto.
A exposição de todos os princípios aludidos nestes dois capítulos forma a Maassê Mercabá —
"Teogonia da Carruagem Divina" (Ezequiel, cap. 1).
12. Os sábios antigos nos ordenaram que apenas discutíssemos estes assuntos
reservadamente com um único indíviduo, sendo ele sábio e capaz de raciocínio
independente.
Os fundamentos do tópico são comunicados a este indivíduo e ele é instruído apenas sobre
uma diminuta parte do assunto, a fim de que fomente o desenvolvimento das conclusões
por si mesmo e a que penetre nas profundezas do tema.
Estes tópicos são excessivamente profundos; nem todo o intelecto é capaz de apreendê-los.
Salomão, em sua sabedoria, disse, com respeito a eles, sob forma de parábola: "As ovelhas
serão para as tuas roupas" (Pv 27:26), que os sábios assim expuseram: "Os materiais que
dizem respeito ao mistério do universo serão para as tuas vestimentas, isto é, para ti
sozinho; não os exponhas em público."
Da mesma forma, Salomão disse: "Deixe que sejam somente para ti e não para os
estranhos em tua companhia" (Pv 5:17), e ainda: "Mel e leite estão sob a tua língua"
(Cântico dos Cânticos de Salomão 4:11).
Este texto os sábios antigos assim explicaram: "As coisas que são como o leite e o mel
(que) estarão sob a tua língua." [Por isso a Lei Judaica proibe ensinar Ciências Físicas e
Astronomia e o mistério da natureza antes que o aluno seja bem versado no Talmude,
Cabala e outras literaturas rabínicas; se o discípulo não tem essa preparação, causará
somente prejuízos, conforme Maimônides explica no final do capítulo IV.]

Capítulo III
1. As esferas são intituladas Paraíso, Firmamento, Habitação e Nuvens Celestiais (Arabot).
Há nove esferas.
A mais próxima de nós é a esfera Lunar.
A segunda é a esfera que contém a estrela chamada Mercúrio.
Acima está a terceira esfera, na qual se move Vênus.
A quarta esfera é aquela à qual pertence o Sol.
A quinta, a de Marte; a sexta, a de Júpiter.
A sétima, a de Saturno; a oitava é aquela na qual se movem as outras estrelas que são
visíveis no céu; a nona é a esfera que se move diariamente do Oriente para o Ocidente, a
qual inclui e circunda todas as coisas.
O fato de as estrelas parecerem estar todas na mesma esfera, embora na realidade estejam
em altitudes diferentes, se deve ao fato de que as esferas são claras e transparentes como
vidro ou safira.
Por isso, as estrelas da oitava esfera parecem estar abaixo da primeira esfera.
2. Tudo das oito esferas na qual as estrelas se movem, é divisível por numerosas esferas,
uma acima da outra, como as diversas camadas das cebolas.
Algumas esferas se movem do ocidente para o oriente, e outras do oriente para o ocidente,
como por exemplo, a nona esfera.
Entre as esferas não há nenhum vácuo.
3. As esferas não são nem leves nem pesadas.
Nenhuma delas é vermelha, preta ou de qualquer outra cor.
O fato de parecerem azuis é um fenômeno ótico, devido à altura da atmosfera.
As esferas são insípidas e inodoras, propriedades que, aliás, são somente encontradas em
corpos que existem abaixo delas.
4. Todas estas esferas que circundam o mundo são redondas como um globo, e a Terra está
suspensa no centro.
Algumas das estrelas têm pequenas esferas nas quais são fixas, e que não se movem em
torno da Terra.
Mas a pequena esfera que não se move ao redor da Terra está ela mesma fixa em uma
grande esfera que se move.
5. O número de camadas que se movem em volta do mundo é de dezoito; o número de
pequenas esferas que não se movem é de oito.
Com o conhecimento do curso das estrelas, do cálculo de seu movimento diário, do horário,
de seu declínio do sul rumo ao norte e do norte rumo ao sul, de sua altura acima da Terra e
de sua aproximação à Terra, pode-se conhecer o número destas esferas, como também as
órbitas de seu movimen-to e os cursos que seguem.
Isto forma a Ciência da Astronomia Matemática, sobre a qual os sábios gregos compuseram
muitos livros.
6. A nona esfera, que circunda o Universo, foi dividida pelos sábios antigos em doze partes.
Cada uma destas recebeu um nome, inspirado na forma que as estrelas que estão abaixo
dela pareciam assumir.
São as constelações, chamadas Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra,
Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.
7. A nona esfera não tem divisão, não possui nenhuma daquelas formas, nem encerra
estrela alguma.
Somente os agrupamentos de estrelas na oitava esfera é que assumem tais formas.
As doze formas correspondiam exatamente a estas divisões apenas no período do Dilúvio,
quando receberam aqueles nomes.
Atualmente, elas todas já se moveram de alguma forma.
Todas as estrelas da oitava esfera se movem como o Sol e a Lua, mas o fazem
vagarosamente, de modo que uma distância atravessada pelo Sol ou pela Lua em um dia
leva aproximadamente setenta anos para ser coberta por uma destas estrelas.
8. Das estrelas visíveis, algumas são tão pequenas que a Terra é maior do que elas; outras,
no entanto, são tão grandes que cada uma delas é diversas vezes o tamanho da Terra.
A grandeza da Terra é cerca de quarenta vezes a da Lua.
A grandeza do Sol, cento e setenta vezes a da Terra, o que significa que o Sol tem
aproximadamente seis mil e oitocentas vezes o tamanho da Lua.
Nenhuma estrela é maior que o Sol, nem menor que uma estrela da segunda esfera.
9. Toda estrela e esfera têm uma alma e é dotada de conhecimento e inteligência. Elas são
seres viventes que reconhecem "Aquele que disse e houve o mundo". Elas louvam e
glorificam o seu Criador, assim como os anjos fazem, cada um segundo a sua grandeza e
grau.
E, assim como reconhecem o Eterno, têm consciência de si mesmas e dos anjos acima
delas.
A sabedoria possuída pelas estrelas e pelas esferas é menor que a dos anjos e maior que a
dos seres humanos.
10. Abaixo da esfera da Lua, o Onipotente criou matéria diferente das esferas.
E para esta matéria, Ele criou quatro elementos que são diferentes da natureza das esferas.
De cada um destes elementos foi acrescentado um pouco a esta matéria.
O primeiro destes elementos — o Fogo — foi combinado com uma parte da matéria e o
resultado foi o corpo real do fogo.
O segundo elemento — o Ar — foi unido com uma outra parte e o resultado foi o corpo real
do ar.
O terceiro elemento — a Água — foi juntado a uma outra parte e o resultado foi o corpo real
da água.
O quarto elemento — o da Terra — foi combinado com outra parte e o resultado foi o corpo
real da terra.
Assim, abaixo do firmamento há quatro corpos distintos, um acima do outro: o mais alto
circunda completamente os que estão abaixo dele, como uma esfera.
O primeiro, mais próximo à esfera da Lua, é o corpo do Fogo; abaixo dele, o corpo do Ar;
abaixo deste, o corpo da Água; abaixo desta, o corpo da Terra.
Entre estes corpos não há vácuo.
11. Estes quatro corpos não têm alma.
Não têm conhecimento, nem percepção, e são, portanto, como corpos mortos. Cada um
deles tem um princípio regente, do qual não têm conhecimento nem apreensão e que não
podem alterar.
Isto é expresso por Davi, no texto: "Louvai o Senhor da Terra, vós, monstros do mar e de
todas as profundezas; fogo e granizo, neve e vapores" (Sl 148:7,8).
O significado da passagem é: Louvai-O vós, filhos dos homens, pelas manifestações do Seu
poderio, o que vê no fogo, granizo e noutras coisas criadas abaixo do céu o poder dos quais
os velhos e os moços percebem constantemente.

Capítulo IV
1. Estes quatro corpos, fogo, ar, terra e água, são os elementos básicos de todas as coisas
criadas que estão abaixo do firmamento.
Todas as coisas — homens e animais, pássaros, répteis, peixes, plantas, minerais, pedras
preciosas e pérolas, pedras para construção, montanhas e glebas de terra são, enquanto a
sua matéria for citada, compostas destes quatro elementos.
E, conseqüentemente, todos os corpos abaixo do firmamento são compostos de uma
substância e espírito, exceto os quatro elementos — esta substância constituindo-se de uma
combinação dos quatro elementos.
Cada um destes quatro elementos, porém, consiste de espírito e matéria apenas.
2. A natureza do fogo e do ar é ascender da parte de baixo; isto é, a partir do centro da
Terra para cima, rumo ao céu.
A natureza da água e da terra é se mover do céu rumo ao centro, pois o centro do
firmamento é o ponto mais baixo.
O seu movimento não é consciente, nem voluntário.
É um princípio regente fixado neles e uma natureza impressa sobre eles.
A natureza do fogo é quente e seca; este elemento é o mais leve de todos.
O ar é quente e úmido; a água é fria e úmida; a terra é seca e fria.
Este último é o mais pesado de todos os elementos.
A água é mais leve que a terra e é, portanto, encontrada acima da superfície desta. O ar é
mais leve que a água, e por isso sopra acima da água.
O fogo é mais leve que o ar.
Já que estes são os elementos básicos de todos os corpos que há abaixo do firmamento, a
substância de todo corpo, quer homem ou animal —doméstico ou selvagem — pássaro,
peixe, planta, mineral ou pedra, é composto de fogo, ar, água e terra.
Estes quatro elementos se misturam e mudam na ocasião de sua combinação, de modo que
o composto resultante não traz semelhança com nenhum deles.
No composto não há uma simples partícula que seja somente fogo, ou somente água, ou
terra somente ou ar somente.
Todos estes elementos foram transformados e fundidos em um só corpo.
Todo corpo de tal espécie possui em si mesmo, de uma só vez e ao mesmo tempo, as
propriedades do frio e do calor, umidade e secura.
Mas há alguns nos quais o elemento forte é o fogo, tais como, por exemplo, os animais:
nestes, portanto, a qualidade do calor é particularmente perceptível.
Em outros corpos, como por exemplo, as pedras, a terra é o elemento predominante.
Portanto, a sua característica marcante é a secura.
Já em outros corpos, a água é o elemento predominante: e a sua caraterística é a umidade.
Assim, também, um corpo será mais quente que um outro que também possui algum calor;
ou mais seco que um outro que também é seco.
Da mesma forma, em alguns corpos o frio é notável; em outros a umidade sozinha será
perceptível.
Em outros, ainda, o frio e a umidade, ou frio e secura serão perceptíveis, em grau igual e ao
mesmo tempo; e também se encontrará frio e umidade com igual composição; bem como
calor e secura ou calor e umidade.
De acordo com a proporção de um elemento em uma composição, a sua força e natureza se
manifestarão em maior ou menor grau.
3. Todo composto desses quatro elementos se desintegra.
Este processo ocorre no caso de algumas coisas após alguns dias: no caso de outras coisas,
após diversos anos.
Porém, todo composto dos elementos deve inevitavelmente reverter a eles.
Até mesmo o ouro e a cornalida nada podem a não ser desintegrar-se e retornar aos seus
elementos originais, parte se tornando fogo; parte, água; parte, ar; parte, terra.
4. Já que tudo o que se desintegra dissolve-se nestes elementos, por que foi dito ao
primeiro homem: "E ao pó retornarás" (Gn 3:19)?
A razão é que a estrutura humana consiste, em sua maior parte, de pó.
Nem tudo capaz de se desintegrar reverte imediatamente durante este processo aos seus
quatro elementos.
Freqüentemente se desintegra e torna-se outra coisa que, por sua vez, muda em uma nova
coisa.
Ao final destas mudanças, decompõe-se em seus elementos. Deste modo, todas as coisas
continuamente tornam a acontecer.
5. Estes quatro elementos mudam entre si ininterruptamente, de hora em hora e
diariamente, mas apenas parcialmente.
Como assim?
Aquela parte da terra que está mais próxima em sua natureza à água, altera, rui e torna-se
água; aquela parte da água que está mais próxima em natureza ao ar, torna-se tênue e se
transforma em ar; aquela parte do ar mais semelhante ao fogo, é transformada em fogo.
E da mesma forma, o processo reverso ocorre.
Aquela parte do fogo que está mais próxima em natureza ao ar, condensa-se e se
transforma em ar.
A parte do ar mais semelhante à água, condensa-se e se transforma em água. Aquela parte
da água mais semelhante à terra, solidifica-se e torna-se terra.
Estas transformações ocorrem vagarosa e gradualmente no curso de um longo período.
Nunca a totalidade do elemento transubstancia-se a ponto de que toda a água de um corpo
se transforme em ar ou todo o ar em fogo, pois é impossível que um elemento desapareça
conjuntamente; apenas parte do fogo se transforma em ar e vice-versa, e tais mudanças
mútuas ocorrem em todos os quatro elementos, num ciclo perpétuo. 6. As mudanças
surgem do movimento da Esfera.
Isto faz com que os quatro elementos se combinem e produzam substâncias — que
compõem seres humanos e outros animais, vegetais, pedras e minerais.
A cada uma destas substâncias o Onipotente dá o seu espírito adequado, através dos anjos
do décimo grau, chamados ishim,"indivíduos".
7. Não se encontra matéria sem espírito ou espírito sem matéria.
O coração humano divide-os em seu pensamento e um corpo existente em seus
constituintes e reconhece que ele é composto de matéria e espírito.
Ele também sabe que em alguns objetos a matéria é composta pelos quatro elementos,
enquanto em outros ela é simples, consistindo de uma só substância.
Os espíritos que são isentos de matéria não podem ser percebidos pelo olho físico, mas
apenas pelo olho do coração, da mesma forma que estamos conscientes do Senhor do
Universo, sem visão física.
8. A alma do ser vivo é o espirito que o Divino lhe deu.
A inteligência superior na alma humana é o espírito específico do ser humano mentalmente
completo.
A este espírito a Torá se refere no texto "Façamos o homem à nossa imagem e nossa
semelhança" (Gn 1:26).
Isto significa que o homem tem um espírito e introjeta os seres superiores que são
desprovidos de matéria, tais como os anjos, que são espíritos sem substância, de modo que
(intelectualmente) o homem é como os anjos.
O texto citado acima não se refere às características visíveis — a boca, nariz, faces e outras
marcas corporais distintas.
Estas estão compreendidas na nomenclatura aspecto adjetivo.
Tampouco se refere à alma que há em todo animal, pela qual ele come, bebe, se reproduz e
sente; é o intelecto o espírito específico da alma humana, e é para este espírito específico
da alma que a frase das Escrituras alude em "à nossa imagem, à nossa semelhança".
Este espírito é freqüentemente chamado Nefeshe, Ruah (alma, espírito).
Deve-se, a fim de evitar erros, prestar atenção especial ao significado destes termos que,
em cada caso, tem que ser definido a partir do contexto.
9. Esta alma não é composta dos elementos decomponíveis mencionados acima e sua força
não provém de um espírito (que precisaria de uma alma e um corpo), mas vem diretamente
do Eterno.
Portanto, quando a parte material de nosso ser se dissolve em seus elementos
componentes e a vida física sucumbe — já que ela só existe em associação como corpo e
precisa dele para as suas funções —, esta Alma não é destruída, nem exige vida física para
as suas atividades.
Ela conhece e introjeta os seres superiores que existem sem substância material: ela
conhece o Criador de todas as coisas; ela dura para sempre.
Salomão, em sua sabedoria disse: "E o pó retornou à terra como era e o espírito retornou a
D..S que o dera" (Ec 12:7).
10. Os assuntos recém-discutidos são como uma gota num balde e são muito profundos,
mas não são tão profundos quanto aqueles tratados nos Primeiro e Segundo Capítulos.
A exposição dos tópicos relativos aos Terceiro e Quarto Capítulos é denominada Maassê
Bereshit (Cosmogonia).
Os sábios antigos nos ordenaram que estes assuntos não fossem expostos em público, mas
comunicados e ensinados ao indivíduo em particular.
11. Que distinção existe entre o Maassê Mercabá (Ez 1) e o Maassê Bereshit?
O tema central do Maassê Mercabá não é exposto nem individualmente, a menos que este
seja sábio e seja capaz de chegar às conclusões independentemente; mesmo assim, apenas
os títulos dos assuntos são comunicados a ele.
Mas os tópicos do Maassê Bereshit são ensinados a um indivíduo leigo e, mesmo que ele
seja incapaz de formar conclusões independentes nós, não obstante, podemos ensinar-lhe
tanto quanto ele for capaz de aprender sobre estas matérias.
Por que o assunto não é ensinado em público?
Porque nem todas as pessoas possuem a capacidade intelectual para a obtenção de um
entendimento apurado do significado e jurisprudência de todos os seus conteúdos.
12. Quando um homem estuda estas coisas, reflete sobre toda a Criação, desde os anjos e
esferas até os seres humanos e percebe a Sabedoria Divina manifestada em tudo; seu amor
por D..S aumentará, sua alma estará sedenta, sua própria carne arderá pelo amor a D..S
Este homem ficará repleto de temor ao se conscientizar de sua condição inferior, pobreza e
insignificância, quando se comparar com qualquer um dos espíritos sagrados que são
incorpóreos e mais ainda com estes que nunca tiveram associação com substância corpórea.
Ele, então, perceberá que é uma arca plena de vergonha, desonra e reprovação, vazio e
deficiente.
13. Os tópicos associados com estes cinco preceitos, tratados nos quatro capítulos acima,
são o que os nossos sábios denominaram de Pardês (Paraíso), como na passagem "Quatro
foram para o Pardês" (T.B., Haguigá 14).
Embora estes quatro fossem grandes homens de Israel e grandes sábios, nem todos
possuíam a capacidade de conhecer e compreender estes assuntos de forma clara.
Eu afirmo, portanto, que não é próprio passear-se em Pardês até que a pessoa se tenha
satisfeito com pão e carne, que é o conhecimento do que é permitido e proibido, e
distinções similares nos preceitos em geral.
Embora estes últimos assuntos fossem chamados pelos sábios de "uma pequena coisa"
(quando dizem "uma grande coisa", Maassê Mercabá; uma pequena coisa, a discussão de
Abaié e Rava"), ainda assim eles têm a precedência, pois o conhecimento destas coisas dá
serenidade primária à mente.
Elas são a dádiva preciosa concedida pelo Divino para promover o bem-estar sobre a terra,
e capacitar os homens a obter o júbilo na vida e uma parte no mundo vindouro.
Além disto, o conhecimento delas está ao alcance de todos, moços e velhos, homens e
mulheres; aqueles dotados de grande capacidade intelectual, como também aqueles cuja
inteligência é limitada.

Capítulo V
1. Todos os membros do povo judeu são ordenados a santificar o grande Nome de D..S,
como está escrito: "Mas Eu serei bendito entre os Filhos de Israel" (Lv 22:32). Eles são,
além disto, advertidos para não profaná-lo, como está escrito: "Nem profanarás Meu Santo
Nome"(Lv 22:32).
Como estes preceitos devem ser aplicados?
Se um idólatra coagir um judeu a violar qualquer um dos mandamentos mencionados na
Torá sob a ameaça de morte, o judeu deve fazê-lo, pois com relação aos mandamentos,
está escrito: "qual, se um homem os fizer, viverá por eles" (Lv 18:5), ou seja, "Viva por
eles e não morra por eles".
Se ele preferir a morte a cometer a transgressão, ele mesmo será culpado por seu fim.
2. Esta regra se aplica a todos os mandamentos, exceto às proibições de idolatria,
incastidade e assassinato.
De modo que se um judeu for obrigado a transgredir um deles sob pena de ser morto,
deverá resignar-se à morte.
A distinção acima é apenas válida se o objeto do idólatra for vantagem pessoal, ou seja, se
ele forçar o judeu a lhe construir uma casa ou a cozinhar para ele no Shabat, ou forçar uma
judia a coabitar com ele; mas se o seu propósito é compelir o judeu a violar os sacramentos
de sua religião, e dez judeus não estiverem presentes, ele deverá cometer a transgressão,
ao invés de sofrer a morte.
Se a tentativa de coagir o judeu a transgredir os mandamentos se der na presença de dez
judeus, ele sofrerá a morte e não transgredirá, mesmo que o idólatra quisesse que ele
transgredisse apenas um dos restantes mandamentos.
3. Tudo que foi exposto anteriormente se aplica a um tempo livre de perseguição religiosa.
Mas em um período em que há tal perseguição, tal como quando um rei cruel surge, como
Nabucodonosor e outros como ele, e emite decretos contra os judeus com o propósito de
abolir a sua religião ou um dos preceitos, então é dever do judeu sofrer a morte e não violar
nenhum dos mandamentos restantes, quer a coerção ocorra na presença de dez judeus ou
na presença de idólatras.
4. Quando alguém é ordenado a transgredir sob ameaça de ser imolado e sofre a morte ao
invés de transgredir, é ele o culpado por sua morte.
Mas no caso em que a lei exige: "morre e não transgrida", então aquele que é executado
por não transgredir os mandamentos santifica o Nome de D..S; se ele agir assim na
presença de dez judeus, santifica o Nome de D..S publicamente, como Daniel, Ananias,
Misael e Azarias, Rabi Aquiba e seus companheiros.
Estes são os mártires, acima dos quais ninguém se encontra.
A respeito deles, está escrito: "Mas em Teu nome nós somos mortos durante o dia inteiro;
somos considerados como ovelhas para o corte" (Sl 44:23).
E a eles também, o texto se refere: "Reúne meus devotos junto a Mim, aqueles que fizeram
um pacto Comigo através do sacrifício" (Sl 50:51).
Mas no caso em que a lei exige: "morre e não transgrida", então aquele que é ameaçado de
morte para que transgrida os mandamentos e o faz para escapar da execução, profana o
Nome de D..S.
Se a transgressão foi cometida na presença de dez judeus, ele profanou o Nome de D..S em
público, deixou de observar um preceito afirmativo — santificar o Nome de D..S — e violou
um preceito negativo — não profanar o Seu Nome.
Já que a transgressão foi cometida sob coação, ele não é punido com chicotadas e,
desnecessário dizer, não é sentenciado por um tribunal à morte, mesmo que, por coação,
tenha cometido assassínio, pois a pena de morte ou de chicotadas só é imposta àquele que
transgrediu voluntáriamente, na presença de testemunha e após ter sido avisado.
Esta regra se baseia na passagem referente àquele que deu um descendente seu a
Moloque: "E eu colocarei minha face contra aquele homem" (Lv 20:3).
O termo "aquele" foi tradicionalmente jurisprudenciado como a isentar de punição alguém
que transgride sob compulsão, em ignorância ou erro.
Porém, se no caso de idolatria, que é a mais grave das ofensas, a pena (divina) de excisão
e a pena judicial de morte não são suscitadas por alguém que venera um ídolo sob coação,
com mais razão ainda não o serão em caso de violação de outros preceitos da Torá.
Da mesma forma, em relação às ofensas contra a castidade, afirma-se expressamente:
"Mas à donzela tu não farás nada" (Dt 22:26).
Não obstante, se um indivíduo for capaz de salvar-se e escapar do poder do rei cruel e não
o fizer ele é como um cão que retorna ao seu vômito.
Ele é chamado de idólatra voluntário, é excluído do mundo vindouro e desce à profundeza
mais baixa da Gueena.
5. Se alguém disser a um grupo de mulheres judias: "Entreguem uma de vós a nós para
que possamos profaná-la, ou profanaremos todas vós", elas todas sofrerão profanação ao
invés de entregar a eles uma única pessoa judia.
Da mesma forma, se alguém disser aos judeus: "Entreguem-nos um de vós para que
possamos matá-lo, ou mataremos vós todos", eles todos devem sofrer a morte, ao invés de
entregar um único judeu a eles.
Mas se eles especificarem um indivíduo, dizendo, "Renda-se aquela pessoa em particular a
nós, ou, caso contrário, nós vos mataremos a todos", eles podem entregá-lo, desde que o
mesmo seja culpado de um crime capital, como Seba, filho de Bihri (que se rebelou contra
Davi) (II Cr 2:1, 20-22).
Esta regra, entretanto, não lhes é dita com antecedência.
Se o individuo específico não tiver incorrido em punição capital, eles deverão todos sofrer a
morte ao invés de se entregar um único judeu a eles.
6. O princípio da coação em caso de castigo também se aplica à doença.
Se alguém está perigosamente doente, e os médicos garantem que ele pode ser curado pela
aplicação de um remédio que envolve a violação de um preceito da Torá, o remédio deve
ser aplicado.
Onde a vida estiver em perigo, qualquer recurso, mesmo que proibido pela Torá, pode ser
usado como lenitivo, exceto a prática da idolatria, incastidade ou crime. Nem mesmo para
salvar a vida estas ofensas devem ser cometidas.
Se um doente transgrediu esta proibição e se restabeleceu, o Tribunal posteriormente o
sentencia à punição adequada à ofensa.
7. O que determina que nem mesmo quando a vida estiver em perigo nenhuma daquelas
três ofensas possa ser cometida?
A resposta está no texto "E tu amarás o Senhor, teu D..S, com todo o teu coração, com
toda a tua alma e com todo o teu ser" (Dt. 6:5).
Isto quer dizer que o amor pelo Divino tem que ser manifestado, até mesmo ao custo da
própria vida.
Quanto a tomar a vida de um judeu para curar um outro indivíduo ou para resgatar uma
pessoa raptada, a razão indica que uma vida humana não deve ser destruída para salvar
outra. [Esta é uma das razões por que a Torá proíbe a doação de órgãos.]
As ofensas contra a castidade são análogas à destruição da vida humana, porque está
escrito: "Pois, como quando um homem investe contra o seu vizinho e o fere, assim
também ocorre neste caso" (Dt 22:26).
8. A regra de que as coisas proibidas só podem ser empregadas como remédios quando há
risco de vida aplica-se apenas à maneira comum pela qual o alimento é apreciado: por
exemplo, um paciente que precise se submeter a uma dieta de "criaturas abomináveis e
rastejantes" (Lv 11:29, 41, 43) ou de pão fermentado durante a Páscoa, ou qualquer
alimento no Dia do Arrependimento.
Se o uso das coisas proibidas não se referir ao seu modo comum de consumo (por exemplo,
aplicar na Páscoa um emplastro ou cataplasma feito de fermento, ou algo feito do fruto do
produto dos três primeiros anos de uma árvore em qualquer ocasião, ou beber uma poção
que contenha alguma substância proibida mesclada a um ingrediente amargo, de modo que
o paladar não seja prazeroso) não haverá restrições, mesmo se não houver perigo de vida.
Exceções a esta regra são o produto de sementes misturadas em um vinhedo, e um prato
de carne e leite cozidos juntos; e estes não podem ser usados nem mesmo de maneira
distinta daquela em que o alimento é normalmente apreciado.
Portanto, mesmo quando não consumidos como alimentos, não podem ser usados como
remédios, exceto onde houver risco de vida.
9. Se um homem colocar os seus olhos sobre uma mulher, e sentir-se mal e estiver próximo
da morte, e os médicos disserem que não há cura para ele, a menos que ela coabite com
ele, que ele morra e que ela não coabite com ele, mesmo que seja solteira.
Não se deve permitir nem mesmo que converse com ela por detrás de uma cerca. Deve-se
deixá-lo morrer ao invés disto, e que tal decisão seja tomada de modo que as filhas do povo
judeu não sejam consideradas libertinas, pois, não sendo assim, as restrições da castidade
seriam atenuadas, e chegar-se-ia a um ponto de devassidão. 10. Se alguém transgredir
algum dos mandamentos estabelecidos na Torá por sua própria vontade e não sob o
descontrole da compulsão, descomedidamente e com espírito de provocação, profanará o
Nome de D..S.
Deste modo o texto que proíbe o falso juramento diz: "Assim tu profanarás o Nome de teu
D..S" (Lv 19:12).
Alguém que cometer uma transgressão na presença de dez judeus é culpado de profanação
pública do Nome de D..S.
Por outro lado, quem quer que se abstenha de uma transgressão ou de cumprir um
preceito, não a partir de um motivo pessoal, nem induzido por temor e apreensão ou pelo
desejo de honra, mas somente pela vontade do Criador, seja Ele abençoado, (como José fez
ao resistir à esposa de seu amo), santifica o Nome de D..S.
11. Há outras coisas que profanam o Nome de D..S; quando um homem grandioso no seu
conhecimento da Torá e famoso por sua piedade faz coisas que levam as pessoas a falarem
sobre ele, mesmo que seus atos não sejam violações expressas, ele estará profanando o
Nome de D..S.
Por exemplo, se tal pessoa fizer uma compra e não pagá-la pontualmente, sabendo-se que
tem recursos, ou se, inquirido por credores, procrastina o pagamento; ou se ele proceder
sem moderação ao gracejar, comer ou beber, quando estiver com gente ignorante ou viver
em seu meio; ou se a sua maneira de se referir às pessoas não for gentil, ou se ele não
receber as pessoas afavelmente, mostrando-se belicoso e colérico.
Quanto maior for um homem, mais escrupuloso deve ser ele em todos estes detalhes, e
fazer mais do que a Lei exige.
Se esse homem foi escrupuloso em sua conduta, gentil em sua conversação, agradável e
afeito às pessoas, afável na maneira de recebê-las, não reagindo mesmo quando indignado,
não envergonhando os outros, mas mostrando cortesia com todos, até mesmo com aqueles
que o tratam com desdém, conduzindo seus assuntos comerciais com integridade, não
freqüentando demasiado a companhia dos incultos, dedicando-se sempre ao estudo da
Torá, envolto pelo talit e coroado por filactérios, fazendo mais do que a obrigação exige em
todas as coisas (evitando porém extremos e exageros), até que todos o louvem, gostem
dele e sintam vontade de imitá-lo — tal homem santificou a D..S, e sobre ele diz a
Escritura: "E Ele me disse: —Tu és Meu servo, ó Israel, em que Eu serei glorificado!" (Is
49:3).

Capítulo VI
1. Aquele que destruir qualquer um dos Nomes sacros e puros pelos quais o Sagrado, seja
Ele abençoado, é chamado, incorre, segundo a sanção escritural, na pena das chicotadas; e
com referência à adoração de um ídolo, está escrito: "E tu destruirás o nome daquele lugar.
Não agirás assim para com o Senhor, teu D..S" (Dt 12:3,4).
2. Há sete destes Nomes.
O nome escrito com as letras IUD, H-EI, VAV, H-EI: este é o Nome Próprio da Divindade,
ou, quando escrito ADO-NAI; E-L, Elo-há, Elo-him, Elo-hé ou Elo-hei, Sha-dai, Tze-vaot.
Quem apagar uma simples letra destes sete Nomes é punido com chicotadas.
3. Os prefixos destes Nomes podem ser apagados, como, por exemplo, Lâmed em La 'Ado-
nai (La 'lud-Hei-Vav-Hei), Bet em Be 'Elo-him, e assim por diante.
Estes prefixos e seus similares não têm a santidade dos Nomes de D..S.
Mas os sufixos ao Nome Divino, como, por exemplo, o Haf final em Elo-heha ou o Haf e
Mem finais em Elo-hehem, etc., não podem ser apagados.
Eles são sagrados como as outras letras do Nome Divino, que as reveste com sua própria
santidade.
Qualquer um que apagar tais sufixos não incorre na pena escritural de chicotadas, mas
recebe a punição de chicotadas por insubordinação.
4. Uma vez que as letras Alef e Lâmed de Elo-him ou Iud e Hei de I-H-V-H tenham sido
escritas não podem ser apagadas.
A norma relativa ao último Nome é óbvia, já que, sendo um Nome sagrado por si mesmo, é
parte do Tetragrama. As letras Shin, Dálet de Sha-dai ou Tsádi, Bet de Tse-vaot, no
entanto, podem ser apagadas.
5. Outros epítetos usados para louvar D..S tais como "Gracioso" e "Misericordioso", "o
Grande", "Poderoso" e "Reverenciado", "o Fervo-roso", "o Fiel", "o Justo", "Zeloso", "o
Vingador", "o Forte", etc, são como o restante das Escrituras Sagradas: é pennitido apagá-
los.
6. Se um objeto contiver a inscrição de um Nome Divino, a parte com o Nome deve ser
retirada e enterrada.
Se tal Nome estiver gravado numa peça de metal ou de vidro, aquele que o fundir será
punido com chicotadas.
A parte que contém o Nome deve ser retirada e enterrada.
Da mesma forma, se um Nome divino está escrito na pele de um homem, ele não deverá
banhar-se, ungir-se nem permanecer em local sujo.
Se surgir uma ocasião de um banho ritual, uma cobertura deve ser amarrada sobre o Nome
na pele.
Se ele não tiver algo que cubra o Nome, deve enrolar a sua roupa sobre a parte de seu
corpo sobre a qual está a inscrição, sem impedir, porém, que a água a atinja. A razão para
esta determinação está na proibição de se permanecer nu na presença do Nome Divino.
7. Aquele que demolir uma simples pedra do altar, do santuário ou de qualquer parte do
templo será punido com chicotadas, conforme está escrito com referência à idolatria: "E tu
demolirás os seus altares... não agirás assim com o Senhor teu D..S" (Dt 12:3,4).
Da mesma forma, aquele que queimar madeira pertencente ao santuário será punido com
chicotadas, como está escrito: "E queime seus gravetos com fogo... Tu não agirás assim
com o Senhor, teu D..S" (ibid. 12:3, 4).
8. É proibido queimar ou destruir por qualquer outro modo as Escrituras Sagradas, seus
comentários ou exposições; aquele que o fizer será punido com chicotadas, por
insubordinação.
Esta regra só se aplica às Escrituras compiladas por um judeu, consciente de seu caráter
sagrado.
Mas se um pergaminho da Torá tiver sido escrito por um judeu ateu este deve ser queimado
com todos os Nomes de D..S nele contidos.
A razão é que ele não acredita na santidade do Nome Divino e não o escreveu com intenção
de santidade, mas o tem como qualquer outro escrito.
Sendo esta a sua visão, o Nome Divino que ele escreveu nunca se tornou santificado.
É dever religioso queimá-lo, de modo a não deixar registro de ateus ou de seus trabalhos.
Mas se um não judeu escrever o Nome Divino, este será enterrado.
Da mesma forma, as cópias do Escrito Sagrado que se tornaram gastas ou que foram
escritas por um não judeu devem ser enterradas!
9. Todos os Nomes do Divino que ocorrem no relato da vida de Abraão são sagrados,
incluindo o texto: "Ó Senhor, se eu encontrei graça aos Teus olhos" (Gn 18:3).
Nenhum dos nomes na história de Lot é sagrado, exceto naquele texto: "Oh, não deste
forma, Senhor; contemplo agora o teu servo que achou graça aos Teus olhos" (Gn 19:18,
19).
Todos os nomes que ocorrem na história de Guibeá de Benjamim (Juízes, cap. 17) são
sagrados.
Nenhum dos nomes que ocorrem em Miquéias é sagrado.
São sagrados aqueles da história de Nabot (I Reis, cap. 21).
O nome Salomão, onde quer que ocorra no Cântico dos Cânticos, é sagrado e é como os
outros epítetos divinos.
Exceção é feita à seguinte passagem: "Tu, ó Salomão, terás os milhares" (Ct 8:12).
Todas as vezes em que a palavra "rei" for encontrada no livro de Daniel, consistirá em um
termo secular, exceto no texto "Tu és Rei, Rei dos Reis" (Dn 2:37), onde ela é como os
outros epítetos divinos.

Capítulo VII
1. É um dos princípios básicos do Judaísmo o de que D..S inspira os homens com o poder da
profecia.
O espírito da profecia repousa apenas sobre os homens sábios que são distinguidos por
grande cultura e forte caráter moral, nunca se deixando dominar pelas paixões, ou seja,
tendo sempre as suas paixões sob controle racional. Possuem uma mente ampla e sensata.
Quando alguém abundantemente dotado destas qualidades e fisicamente sadio entra no
Pardês e dedica-se continuamente a estes temas grandiosos e complexos — tendo a mente
apta a entendê-los, santificando-se, retirando-se do percurso comum dos homens que
caminham nas obscuridades dos tempos, preparando-se com zelo e educando-se para não
ter um simples pensamento em coisas fúteis, mundanas, artificiais, mantendo sua mente
descomprometida e concentrada em coisas mais elevadas, situadas abaixo do Trono
Celestial, visando compreender os espíritos puros e sagrados, contemplando a sabedoria do
Eterno, demonstrada em Suas Escrituras, desde o primeiro espírito até o centro da Terra,
aprendendo com eles a perceber a Sua grandeza — então sobre tal homem o Espírito
Sagrado descerá prontamente.
Quando o Espírito repousar sobre ele, sua alma vai se fundir às dos anjos chamados Ishim.
Ele será mudado em um outro homem e perceberá que não é o mesmo que fora, e se verá
exaltado acima dos outros homens sábios, como está escrito sobre Saul: "E tu profetizarás
com eles, e te tornarás um outro homem" (I Sm 10:6).
2. Existem profetas de vários graus.
Como um sábio possui maior conhecimento que um outro, assim também na mediação da
profecia um profeta é maior que um outro.
Os profetas experimentam manifestações proféticas somente em sonhos, à noite, ou de dia,
após um sono profundo a que subitamente sucumbem, como está escrito: "Eu Me faço
conhecido a ti por uma visão. Eu realmente falo com ele em um sonho" (Nm 12:6).
Na ocasião em que têm a inspiração profética, sua força física falha, seus pensamentos,
seus membros ficam sem controle e, assim, sua mente é deixada livre para compreender a
visão, como está escrito em relação a Abraão: "E um horror de grande escuridão recaiu
sobre ele" (Gn 15:12), e a Daniel: "E a minha integridade transformou-se sobre mim em
ruína, e não retive forças" (Dn 10:8).
3. Os assuntos transmitidos ao profeta em visão profética são comunicados a ele de forma
alegórica.
A sua interpretação é imediatamente impressa sobre o seu coração, simultaneamente com a
visão, de modo que ele compreende o que ela quer dizer. Tal, por exemplo, se deu com a
visão do patriarca Jacó (Gn 28:12-15), uma escada pela qual anjos subiam e desciam as
monarquias e a sua opressão sobre os judeus; os Haiot, na visão de Ezequiel (Ez cap. 1); o
cadeirão fervente (Jr 1:13) e a vara de uma amendoeira vista por Jeremias (Jr 1:11); o
pergaminho visto por Ezequiel (Ez 2:9) e a efá vista por Zacarias (Zc 5:6), e outras.
Alguns, como estes profetas, registraram a alegoria junto com a sua interpretação; outros
apenas propalaram a interpretação.
Algumas vezes, como no caso de determinadas profecias de Ezequiel e Zacarias, eles
apenas registraram a alegoria.
Todos os profetas registraram visões através de alegorias e enigmas.
4. Os profetas não vaticinavam quando lhes agradasse; tinham que concentrar-se, estando
descansados, alegres e vibrantes, e em solildão.
O espírito da profecia, pois, não desce sobre aquele que está melancólico ou indolente, mas
vem como um resultado da alegria.
Por isso, os filhos dos profetas tinham diante de si o saltério, o pandeiro, a flauta e a harpa
(I Sm 10:5): buscavam a manifestação profética.
Isto é expresso na frase: "E eles eram..." (ibid. 10:5), que significa que estavam a caminho
do dom profético, como se se dissesse: "aquela pessoa está se tornando grande."
5. Aqueles que buscavam a inspiração profética .eram chamados de Filhos dos Profetas.
Embora concentrassem as suas mentes, o Espírito Divino poderia ou não baixar sobre eles.
6. As observações acima se referem à maneira pela qual a profecia foi concedida aos
Profetas Anteriores e aos Posteriores, com exceção, porém, de nosso mestre Moisés, o
maior de todos os profetas.
Em que aspectos foi a profecia de Moisés distinta da dos outros profetas?
Todos os profetas receberam as suas mensagens inspiradas em um sonho ou em uma
visão; Moisés profetizava mesmo acordado e de pé, como está escrito: "E quando Moisés
entrava no Tabernáculo para se comunicar com o Eterno, ouvia a Voz que lhe falava" (Nm
7:89).
Todos os profetas recebiatn suas mensagens por intermédio de um anjo, e o que eles viam
era como uma alegoria ou enigma — Moisés recebia a sua mensagem não através de um
anjo, mas, como está escrito: "Boca a boca eu falarei com ele" (Nm 12:8); "O Senhor falava
a Moisés face a face" (Êx 33:11); e ainda: "E a aparência do Senhor ele realmente
contempla" (Nm 12:8).
O que foi revelado a Moisés não era uma alegoria, mas mensagem profética claramente
definida, sem enigmas ou parábolas.
Isto a Torá atesta no texto "Manifesto claramente a ele, sem enigmas" (Nm 12:8). Todos os
profetas (ao receberem as suas mensagens) ficavam confusos e perplexos, comovidos.
Isto não ocorria com o nosso mestre Moisés, de quem diz a Escritura: "Como um homem
falava ao seu amigo" (Êx 33:11).
Assim como um homem não se assusta ao ouvir as palavras de seu companheiro, a mente
de Moisés era vigorosa o bastante para compreender as palavras da profecia, mantendo seu
estado normal.
Nenhum dos profetas podia vaticinar quando quisesse.
Moisés era diferente: quando desejava, a profecia o assomava e ele se investia dela
permanentemente.
Ele não tinha necessidade especial de concentrar a sua mente nem de preparar-se para as
manifestações proféticas, uma vez que estava sempre atento e em prontidão, como os
anjos.
Desta forma, ele profetizava em todas as ocasiões, como está escrito: "Esperai e eu ouvirei
o que o Senhor ordenar a vós" (Nm 9:8).
O Eterno fez a Moisés uma promessa especial, assim escrita: "Vai, diz a eles, retomai vós às
vossas tendas; quanto a ti, fica aqui em Minha presença" (Dt 5:27, 28).
Portanto, pode-se inferir que todos os profetas, quando o poder profético os deixava,
retomavam às suas tendas, isto é, atendiam à satisfação de suas necessidades físicas, como
o resto do povo; portanto, eles não se separavam de suas esposas.
Moisés, nosso mestre, nunca retomava à sua antiga tenda.
Conseqüentemente, ele se separava de sua esposa e se abstinha de gratificações similares.
Sua mente estava intimamente vinculada ao Onipotente.
O Esplendor Divino nunca se separou dele; sua face emitia raios de luz, ele era santificado
como os anjos.
7. A inspiração da profecia pode ser concedida a um profeta, destinada somente a ele para
que desenvolva a sua mente e aumente o seu conhecimento, de modo a saber o que até
então não sabia com relação aos temas ocultos.
Às vezes o profeta é enviado numa missão especial a um povo em particular ou aos
habitantes de uma certa cidade ou reino, para mostrar-lhes o caminho certo, ensinar-lhes o
que devem fazer ou censurar as ações maléficas que estavam praticando.
Quando é assim enviado, um sinal ou milagre é dado a ele, para que as pessoas possam
saber que o Todo-Poderoso o enviara.
Nem todos os que demonstram um sinal ou milagre devem ser aceitos como profetas.
Somente o homem que em razão de sua sabedoria e conduta se destaque entre os seus
contemporâneos numa vida santificada deve ser reconhecido como digno da inspiração
profética; então, quando ele mostrar um sinal ou indício e afirmar que o Onipotente o
enviou, é tarefa do indivíduo obedecer a sua mensagem, como está escrito: "A ele tu
ouvirás" (Dt 18:15).
É possível, porém, que tal homem possa mostrar um sinal ou indício e ainda não ser um
profeta.
O sinal pode ser um mistério.
Não obstante, é um dever escutá-lo, pois, sendo um grande e sábio homem, digno de
inspiração profética, devemos dar-lhe crédito.
De forma análoga, também somos ordenados a decidir uma petição sobre a evidência de
duas testemunhas competentes.
Embora seja possível que eles tenham dado falso testemunho, nós confiamos na sua
qualificação.
Sobre estes assuntos e temas afins, está escrito: "As coisas secretas pertendem ao Senhor,
nosso D..S, mas as coisas reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos" (Dt 29:28).
E mais adiante: "Pois o homem olha a aparência externa, mas o Senhor vê o seu coração"
(I Sm 16:7).

Capítulo VIII
1. O povo judeu não acreditou em Moisés, nosso mestre, ao considerar os milagres que ele
apresentou; quando a fé de alguém é baseada em milagres, uma dúvida sombria sempre
permanece na mente, a de que esses milagres podem ter sido realizados com a ajuda de
artes ocultas e de magia.
Todos os milagres que Moisés mostrou no deserto ele os operou por serem necessários, não
para confirmar suas mensagens proféticas.
Assim, quando foi necessário que os egípcios se afogassem, ele dividiu o Mar Vermelho e os
afogou em suas profundezas; quando precisávamos de alimento, fez descer o maná para
nós; o povo estava sedento, Moisés partiu a rocha; o grupo de Corá negou a sua
autoridade, a terra os engoliu.
Assim sucedeu com todos os outros milagres.
Então, em que se basearam para acreditar nele?
Na Revelação do Sinai, a qual vimos com os nossos próprios olhos e ouvimos com os nossos
próprios ouvidos, dispensando o testemunho de outrem; nós mesmos testemunhamos o
fogo, o trovão, o raio.
Moisés penetrando a escuridão cerrada, dentro da qual a Voz Divina lhe falava: "Moisés,
Moisés, vai e diz-lhes assim e assim", como está escrito: "O Senhor falou convosco face a
face" (Dt 5:4), e: "O Senhor não fez este pacto com os nossos pais somente, (mas também
conosco, que estamos todos vivos no dia de hoje)" (Dt 5:3).
Como sabemos que a Revelação é a única prova de que a inspiração profética de Moisés é
verdadeira?
A partir do texto "Eis que venho a ti em espessa nuvem, para que as pessoas possam ouvir
quando Eu falar contigo, e para que possam também crer em ti para sempre" (Êx 19:9).
Depreende-se dai que antes deste acontecimento eles não acreditavam com fé duradoura,
mas com uma fé acompanhada de excitação e dúvida.
2. Como aqueles a quem ele foi enviado eram as próprias testemunhas da verdade de sua
profecia, não havia necessidade de que lhes mostrasse qualquer outro sinal.
Eles eram como duas pessoas que viram um acontecimento juntas.
Ao dar o seu testemunho em tal caso, cada uma delas atesta que a outra está dizendo a
verdade, sem que se precise de provas da credibilidade da outra.
Assim sucedeu com Moisés, o Nosso Mestre, após a Revelação no Sinai.
Todo o povo judeu tornou-se sua testemunha, e não houve necessidade de que ele
mostrasse nenhum sinal adicional.
O Todo-Poderoso indicou isto a Moisés, no início da sua carreira, quando Ele lhe concedeu
milagres que deveria realizar no Egito, e lhe disse: "Eles te ouvirão" (Êx 3:18).
Moisés, então, entendeu que aquele que acredita baseando-se somente em milagres não
tem firmeza em seu coração.
Por isso, ele não queria aceitar a sua missão, e disse: "Mas eles não acreditarão em mim"
(Êx 4:11), até que o Todo-Poderoso informou a ele que esses milagres seriam necessários
apenas até que os nossos ancestrais partissem do Egito.
"E quando eles partirem e chegarem aos pés desta montanha", disse o Divino a Moisés, "as
suas dúvidas em relação a ti desaparecerão, pois aqui Eu te concederei um sinal pelo qual
eles saberão que fui Eu quem te enviou desde o início, e nenhum vestígio de dúvida se
perpetuará em suas mentes".
É o que confirma o texto: "E este será um sinal para ti de que te enviei; quando trouxeres o
povo para fora do Egito, vós servireis a D..S nesta montanha" (Êx 3:12).
Portanto, em relação a todo profeta após Moisés, podemos concluir que não acreditamos em
tal profeta devido aos milagres que opera, mas porque está escrito por Moisés na Torá que
se um profeta realizar um milagre, "tu o ouvirás". Assim como a Torá ordenou que uma
causa deve ser decidida sobre a evidência de duas testemunhas, mesmo que não tenhamos
certeza se estão testemunhando pela verdade ou pela falsidade, também é nosso dever
escutar o profeta, embora não saibamos se o milagre que ele faz é genuíno ou se é
realizado com a ajuda de feitiçaria e de artes secretas.
3. Por outro lado, se um profeta surgisse realizando milagres e maravilhas, e tentasse negar
o caráter profético de Moisés, o Nosso Mestre, nós não teríamos que ouvi-lo e teríamos toda
a certeza de que aqueles milagres foram feitos por artes ocultas e magia, pois a profecia de
Moisés não é baseada em milagres. Somente no caso oposto é que poderíamos ter
comparados os milagres de um profeta aos de um outro.
Mas, com os nossos olhos nós vimos e com os nossos ouvidos nós ouvimos a Voz Divina,
mesmo que ele também a tenha ouvido.
A que isto pode ser comparado?
À situação em que pessoas dão testemunho a um homem sobre um fato que presenciaram,
testemunho este que difere do que o próprio homem vira; ele certamente não aceitará tal
versão, estando convencido de que são falsos testemunhos.
A Torá, portanto, ordena que mesmo que o milagre ou indício ocorra, não se ouçam as
palavras de tal profeta, já que ele opera fenômenos a fim de negar o que
você viu com os seus próprios olhos.
Já que apenas aceitamos milagres por estarmos submetidos ao mandamento que nos foi
dado por Moisés, de que maneira nós, sob a evidência de tal milagre, poderíamos aceitar
como profeta um homem que busca repudiar a profecia de Moisés, de cuja verdade temos a
evidência de nossos próprios olhos?

Capítulo IX
1. Está clara e explicitamente estabelecido na Torá que os seus sacramentos durarão para
sempre, sem variação, diminuição ou adição, como está escrito: "Tudo quanto Eu vos
ordeno, isso cuidareis de fazer; não acrescentareis, nem retirareis disso nada" (Dt 13:1); e
adiante: "e as coisas reveladas são para nós e para nossos filhos para sempre" (Dt 29:28).
Daí depreende-se que cumprir todas as ordens da Torá é uma obrigação que nos é dada
para sempre, como está escrito: "É um estatuto perpétuo para todas as nossas gerações"
(Lv 23:14, Nm 18:23), e também: "Não está nos céus" (Dt 30:12), donde se conclui que a
um profeta é proibido fazer modificações no texto da Torá.
Conseqüentemente, se alguém surgir, quer entre os gentios ou entre os judeus, mostrando
um milagre ou indício, declarando que o Divino o enviou para acrescentar ou retirar um
preceito da Torá, ou uma jurisprudência a algum dos mandamentos, como se não o
tivéssemos ouvido de Moisés, ou declarar que os mandamentos ordenados aos judeus não
são de obrigação perpétua para todas as gerações, mas apenas temporários, temos que tal
homem é um falso profeta, porque se põe a negar a profecia de Moisés.
Ele deve ser morto por estrangulamento por falar propositadamente em nome do Todo-
Poderoso aquilo que o Eterno não lhe ordenou, visto que o Senhor determinou a Moisés que
este mandamento seja eterno para nós e para os nossos filhos, através de gerações, e D..S
não é homem para se contradi-zer.
2. Posto isso, por que está escrito na Torá "Eu levantarei do meio deles um profeta dentre
os seus irmãos"? (Dt 18:18)
A resposta é que o profeta aqui mencionado virá não para fundar uma religião, mas para
conscientizar as pessoas sobre as palavras da Torá e para exortar que não as transgridam,
como fez o último dos profetas: "Lembra-te da Lei de Moisés, meu servo" (Ml 3:22).
Se o profeta dá uma ordem em relação às coisas que são do critério de cada um como, por
exemplo, se ele disser "vá para aquele lugar" ou "não vá para lá", "guerreie hoje" ou "não
guerreie", "construa este muro" ou "não o construa", é um dever obedecê-lo.
Qualquer um que transgredir a sua instrução incorrerá na pena de morte pela mão do
Onipotente, como está escrito: "E o homem que não ouvir as palavras do profeta,
pronunciadas em Meu Nome, Eu exigirei isto dele" (Dt 18:19).
3. Da mesma forma, um profeta que age contrariamente às suas próprias exortações ou
que suprime a mensagem profética que está incumbido de transmitir incorre na pena de
morte pela mão do Onipotente.
A todas as três ofensas acima aplica-se o texto "Eu exigirei isto dele" (Dt 18:19). Da mesma
forma, se alguém que conhecemos como profeta nos exorta a transgredir em uma certa
ocasião quaisquer preceitos da Torá, quer menores, quer maiores, é nosso dever obedecê-
lo, pois fomos instruídos pelos sábios ao transmitirem a tradição que, se um profeta ordenar
a transgressão de preceitos da Torá (conforme fez Elias no Monte Carmelo) devemos
obedecê-lo em todos os assuntos, a menos que a transgressão seja a de adorar ídolos.
Esta regra aplica-se numa única ocasião, apenas como no caso de Elias no Monte Carmelo;
ele imolou oferendas ardentes fora do Templo, a despeito do fato de o Santuário em
Jerusalém ser o lugar designado para tais sacrifícios; qualquer um que imolasse oferendas
ardentes fora do lugar determinado incorria na pena de excisão.
Mas por Elias ser um profeta, era obrigatório prestar-lhe obediência, e até mesmo em tal
caso, prevale-ceu a regra: "A ele tu ouvirás" (Dt 18:15).
Se os contemporâneos de Elias o tivessem arguido de como ousava anular o preceito
"Tenha cuidado, se tiveres tentação de trazer um holocausto a qualquer lugar..."? (Dt
12:13), o profeta teria respondido: "Este versículo refere-se somente àquilo que
normalmente é imolado fora do santuário; quem o fizer incorre na pena de excisão prescrita
por Moisés; proponho imolar um sacrifício fora do Templo apenas neste dia, pelo
mandamen-to expresso por D..S, com o propósito de desacreditar os profetas de Baal".
Assim, se os profetas ordenam a violação de um preceito numa dada ocasião, é nosso dever
obedecer a ordem.
Se eles declararem, porém, que o preceito está anulado para sempre, incorrem na pena de
morte por estrangulamento, pois a Torá diz: "A nós e aos nossos filhos para todo o sempre"
(Dt 29:28).
4. Da mesma forma, se um profeta tentar rescindir qualquer uma das instituições que nos
foram legadas pela tradição, ou se, em referência a um ponto de discussão, afirmar que o
Todo-Poderoso o incumbiu de tal decisão, ou que a regra estaria de acordo com o ponto de
vista de um certo mestre, é ele um falso profeta, devendo ser estrangulado mesmo que
tenha operado um milagre, já que propõe negar a Torá, que estipula o princípio "Não está
nos céus" (Dt 30:12).
Mas se a sua orientação for para uma única ocasião, nós o obedeceremos em tudo.
5. Estas regras se aplicam a todos os preceitos, exceto à proibição à idolatria.
Se um profeta ordenar que adoremos ídolos, até mesmo em um única ocasião, não
devemos ouvi-lo.
E, mesmo que ele realize grandes milagres e maravilhas, se ele disser, que o Todo-
Poderoso ordenou que um ídolo fosse adorado, ainda que somente naquele dia ou hora, ele
fala falsamente contra o Eterno.
A Escritura nos ordena em tal caso: "E até mesmo se ele operar milagres ou maravilhas...
tu não ouvirás as palavras daquele profeta... porque ele falou falsamente contra o Senhor
teu D..S" (Dt 13:3, 4, 6).
Já que ele busca desacreditar o ensinamento de Moisés, nós certamente sabemos que ele é
um falso profeta; o que quer que ele tenha feito, foi por intermédio de artes ocultas e com o
auxílio de magia, e ele deve ser estrangulado.

Capítulo X
1. Um profeta que surge e declara que D..S o enviou não precisa mostrar um milagre como
os que Moisés, Elias ou Eliseu realizaram — os quais envolveram mudanças no curso normal
da natureza.
É suficiente que ele preveja eventos que acontecerão no mundo, desde que essas predições
se realizem, como está escrito: "E se disserem em teu coração: 'Como saberemos a palavra
que o Senhor falou, etc.'" (Dt 18:21).
Conseqüentemente, quando um homem digno de ser um profeta vem expressamente como
um mensageiro de D..S e propõe não adicionar nem tirar coisa alguma da Lei, mas somente
exortar seus ouvintes a servir ao Divino em obediência aos preceitos da Torá, nós não
dizemos a ele "divide-nos o mar, ressuscita uma pessoa morta, ou realiza milagres
semelhantes, e então acreditaremos em ti", mas dizemos "prevê eventos vindouros".
Feito isso esperamos para ver se as suas predições são ou não cumpridas.
E se a sua premonição falhar no mínimo detalhe, ele é manifestamente um falso profeta.
Mas se tudo o que disse se realizar, então ele deve ser aceito como digno de confiança.
2. Ele deve ser testado repetidamente.
Se todas as suas palavras forem consideradas dignas de confiança, ele é um profeta
verdadeiro, como está escrito em Samuel: "E todo o povo judeu, de Dan até Berseba, sabia
que Samuel fora estabelecido como um profeta do Senhor" (I Sm 3:20).
3. Mas os agoureiros, astrólogos e adivinhos também prevêem o futuro; então, qual é a
diferença entre eles e o profeta?
A resposta é que, no caso dos observadores do tempo, adivinhos e afins, parte do que
dizem se concretiza, enquanto parte não é cumprida, como está escrito: "Deixe que agora
os astrólogos, os observadores de estrelas, que prognosticam algumas, coisas novas que
recairão sobre ti surjam e te salvem" (Is 47:13). Perceba-se: "De algumas coisas novas", e
não de todas as coisas novas.
Pode ser também que nenhuma de suas previsões se realize, como está escrito: "O Eterno
anula as suas adivinhações e magias" (Is 44:15).
Mas todas as palavras do profeta se realizam, como está escrito: "Nada da palavra do
Senhor cairá sobre a terra" (II Rs 10:10), e novamente: "O profeta que tem o sonho que
fale o sonho e o profeta que tem a Minha palavra, que fale a Minha palavra fervorosamente.
O que tem o farelo a ver como trigo, disse o Senhor" (Jr 23:28).
Isto quer dizer que as palavras dos adivinhos são como o farelo ao qual se misturou um
pouco de trigo, mas a palavra de D..S é como o trigo puro, totalmente livre do farelo.
Aqui a Escritura deu certeza e declarou que naqueles assuntos onde os adivinhos,
pretendendo instruir nações, dizem falsidades, o profeta professará o verdadeiro
conhecimento, de modo que não se precise de adivinhos e afins, como está escrito: "Não
deverá ser encontrado entre vós qualquer um que tenha feito seu filho ou suas filhas
passarem através do fogo ou que tenha usado de adivinhação ou encantamento" (Dt
18:10), "pois estas nações que vós desalojastes ouviram os adivinhos; mas para vós, o
Senhor vosso D..S deu um profeta do vosso meio..." (Dt 18:14,15).
E o texto continua: "Um profeta do Senhor vosso D..S se levantará para vós, do meio de
vós, de vossos irmãos (como para mim), e a ele ouvireis" (Dt 18:15).
Daí aprendemos que o profeta tem unicamente que prever eventos, como se haverá fartura
ou fome, guerra ou paz, etc.
Ele pode até mesmo instruir um indivíduo em relação aos seus assuntos particulares, como
no caso de Saul, que sofrera uma perda e recorrera ao profeta para que lhe dissesse onde
estavam seus perdidos.
Dizer estas coisas e outras afins está entre as funções do profeta, mas não fundar uma
nova religião, nem acrescentar ou retirar um mandamento da Lei.
4. Em relação às calamidades previstas por um profeta, se, por exemplo, ele predisser a
morte de um certo indivíduo, ou declarar que em um ano em particular haverá fome ou
guerra, etc., o não-cumprimento de sua previsão não desabonará o seu caráter profético.
Não devemos dizer: "veja, ele falou e sua previsão não aconteceu", pois o Onipotente é
lento em irritar-se e, tendo muita bondade, se arrepende de fazer o mal.
Pode ser também que aqueles que foram ameaçados tenham se arrependido e sido
perdoados, como aconteceu com os homens de Nínive.
É possível também que a execução da sentença tenha sido apenas deferida como no caso
de Ezequias.
Mas se o profeta, assegurar um bom acontecimento em nome de D..S declarando que um
evento definido acontecerá, e o benefício prometido não for realizado, ele é
inquestionavelmente um falso profeta, pois nenhuma bênção decretada pelo Todo-Poderoso,
mesmo se prometida condicionalmente, é jamais revogada.
Não achamos que o Eterno alguma vez tenha revogado qualquer dádiva prometida, exceto
na destruição do Primeiro Templo, quando Ele prometeu aos justos que não sucumbiriam
com os cruéis e mudou o seu propósito.
A explicação é dada no Tratado talmúdico Shabat; aprendemos então que somente quando
prevê o bom acontecimento pode o profeta ser testado.
Jeremias expressou isto em sua resposta a Ananias, filho de Azur, tendo profetizado o mal,
enquanto Ananias profetizara o bem.
Jeremias disse a Ananias: "Se minhas palavras não forem confirmadas pelos eventos, isto
não provará que sou um falso profeta, mas se tuas previsões não se confirmarem, ficará
provado que és um falso profeta", como está escrito: "Não obstante, ouve tu agora esta
palavra que digo... o profeta que previu a paz, quando sua palavra vier a acontecer, então
ele será reconhecido, que o Todo-Poderoso realmente o enviou" (Jr 26:7-9).
5. Um profeta cujo status profético foi atestado por um outro profeta (reconhecido) deve ser
aceito como tal e nenhuma investigação posterior é necessária, pois Moisés atestou por
Josué, a quem todo o povo judeu reconheceu como um profeta, mesmo antes que
mostrasse qualquer sinal.
E, assim, em todos os tempos, quando um profeta for conhecido e suas mensagens forem
aceitas repetidatnente, ou quando um profeta for avalizado por um outro profeta e se
conduzir corretamente ao chamado profético, não deve se tornar objeto de especulação e
de desconfianças quanto ao caráter de sua profecia.
Não devemos, tampouco, testá-lo excessivamente.
Não devemos investigar suas exortações continuamente, como está escrito: "Tu não
tentarás o Senhor, teu D..S, como fizeste em Massá" (Dt 6:16), onde as pessoas
perguntavam: "O Senhor está ou não está entre nós?" (Êx 17:7).
Uma vez que se saiba que um indivíduo é um profeta, deve-se acreditar e saber que o
Senhor está em seu meio e não guardar dúvida ou suspeita em relação a ele, como está
escrito: "E eles saberão que houve um profeta entre eles" (Ez 2:5).

Continua
Mishné Torá – Parte 5

Leis Sobre o Comportamento


[Este capítulo e os seguintes nos ensinam como ter equilíbrio nos planos psicológico, moral,
espiritual, físico e material. No mundo cotidiano que o Senhor criou, no qual nós, seres
humanos, vivemos, há sempre uma busca pelo autocontrole e equilíbrio, evitando-se o
extremo, que vem de impulsos. Aqui Maimônides ensina-nos a alcançar o equilíbrio e
mostra que não somente inexiste confronto entre os planos espiritual e físico-material, mas,
ao contrário, ambos se ajudam e complementam, e que todas as características podem ser
usadas para o bem, tanto a do meio como a do extremo.]

Estas compreendem onze preceitos, cinco dos quais são positivos e seis negativos.
São eles:
1) Imitar os modos do Eterno;
2) Apegar-se àqueles que O conhecem;
3) Amar os amigos e vizinhos;
4) Amar os convertidos;
5) Não odiar os irmãos;
6) Repreender;
7) Não envergonhar ninguém;
8) Não afligir os angustiados;
9) Não ser alcoviteiro;
10) Não se vingar;
11) Não guardar ressentimento.

A exposição destes preceitos está nos capítulos seguintes.

Capítulo 1.
1. Todo ser humano é caracterizado por variadas disposições de humor, que são muito
divergentes.
Um homem é colérico, sempre irritado; outro é sereno, sem nunca se enfurecer ou, se o
faz, apenas ligeira e raramente.
Um homem é excessivamente soberbo, outro é humilde ao extremo.
Um é ambicioso e sua cobiça nunca é aplacada, outro é tão puro em sua alma que nem
mesmo anseia pelas poucas coisas das quais necessita o ser humano.
Um é tão ganancioso que todo o dinheiro do mundo não o satisfaria, como está escrito:
"Aquele que ama o dinheiro não se satisfará com o dinheiro" (Ec 5:9); outro é tão reprimido
em seus desejos que se contenta com muito pouco, até mesmo com o que é insuficiente, e
não se movimente para obter o que realmente necessita.
Um sofrerá fome extrema a fimm de economizar e não gastará a menor moeda sem
sofrimento, enquanto outro deliberada e irresponsavelmente esbanja todas as suas
propriedades.
Da mesma forma, os homens diferem em outros traços:
São, por exemplo, o folgazão e o melancólico, o avarento e o generoso, o cruel e o piedoso,
o tímido e o corajoso, e assim por diante.
2. Entre determinado estado de espírito e seu extremo oposto há características
intermediárias mais ou menos distintas.
De todas essas várias disposições, algumas pertencem ao indivíduo desde o início de sua
existência e correspondem à sua constituição física. [São os caracteres inatos, de natureza
genética e recebidos hereditariamente.]
Outras são tais que a natureza particular de um indivíduo é propícia a eles, propensa a
ndquiri-los mais rapidamente que outros traços. [São os caracteres moldados pelo meio,
pelo ambiente (educação informal, natural); adaptação ao meio onde se vive.]
Há outras que não são inatas, mas adquiridas dos outros ou auto-originadas, como
resultado de uma idéia que penetrou na mente ou que foi cultivada pelo próprio indivíduo, o
qual, tendo conhecimento da propriedade de certa disposição, desenvolveu-a até que se
tornasse parte de sua natureza. [São os caracteres adquiridos por auto-educação, por uma
férrea determinação pessoal, pela vontade inabalável de ser.]
3. Cultivar o extremo de qualquer tipo de disposição não é o caminho certo, nem é próprio
que qualquer pessoa o siga ou aprenda.
Se um homem vê que a sua natureza tende a um destes extremos (ou se o adquiriu e se
habituou a ele), deve voltar atrás e melhorar seu comportamento, de modo a portar-se
como as pessoas boas, o que é o caminho certo.
4. A conduta certa é o meio-termo em cada disposição de espírito, ou seja, aquele ponto
equidistante aos dois extremos em sua classe, não estando mais próximo a um ou a outro.
Assim, nossos sábios nos ensinaram que uma pessoa deve avaliar sempre as suas
disposições e assim ajustá-las para que sejam o equilíbrio entre os extremos, o que
assegura a saúde física.
Portanto, um homem não deve ser colérico, facilmente compelido à ira como não deve ser
como o morto, sem sentimento; mas ele deve ter como objetivo o meio-termo: indignar-se
apenas por uma causa grave que exija a sua reprovação, de modo que algo similar não seja
feito novamente.
Ele apenas desejará aquilo que necessita sem o quê não pode sobreviver, como está
escrito: "O justo come para se satisfazer" (Pv 13:25).
Ele apenas trabalhará em sua ocupação para obter o que é necessário para as suas
necessidades, como está escrito: "O pouco possuído por um homem justo é melhor (que as
riquezas de muitos cruéis)" (Si 37:16).
Ele não será avarento nem esbanjador, mas fará a caridade segundo os seus meios e dará
um empréstimo coerente a quem quer que dele necessite.
Ele não será frívolo e dado ao escárnio nem lamentoso e melancólico, mas usufruirá de
todos os seus dias tranqüila e alegremente.
Assim ele se comportará em relação a todas as suas disposições; e esta é a conduta dos
sábios.
Aquele que em suas disposições segue o caminho do meio é denominado sábio.
5. Aquele que for particularmente meticuloso e se desviar, de algum modo, da disposição
medial é chamado hassid.
Por exemplo, se a pessoa evita a arrogância ao ponto máximo e é excessivamente humilde,
é chamada de hassid, e este é o padrão de hassidismo.
Se a pessoa se afasta do orgulho até o padrão intermediário e é humilde, ela é chamada
sábia — este é o padrão da sabedoria.
E assim ocorre com todas as outras características.
Os grandes hassidini8 treinaram as suas personalidades para longe do centro em direção ao
extremo, ora numa direção, ora noutra oposta.
Tratava-se de ser mais do que a lei exigia.
Nós somos solicitados a caminhar nas trilhas do meio, que são os caminhos certos e bons
como está escrito: "e tu caminharás em Seus caminhos" (Dt 28:9).
6. Na explicação do texto recém-citado, os sábios ensinaram: "Assim como o Eterno é
chamado Gracioso, sê tu também gracioso; assim como Ele é chamado de Piedoso, sê tu
também piedoso; assim como Ele é chamado Sagrado, sê tu também sagrado." Do mesmo
modo, os profetas descreveram o Todo-Poderoso por vários atributos: "Ele é lento em se
irritar e repleto de bondade, correto e exato, perfeito, poderoso e forte", para nos ensinar
que estas qualidades são boas e certas, e que um ser humano deve cultivá-las e desse
modo a imitar o Onipotente, tanto quanto puder.
7. De que modo um homem cultivará estas disposições, de modo que elas se tomem
inerentes a ele?
Praticando repetidamente as ações induzidas pelas disposições que são o meio entre os
extremos, até que se lhe tornem fáceis e não mais lhe sejam desagradáveis; desse modo,
tais disposições vão se tornar parte fixa de seu caráter.
Assim como o Criador é denominado por estes atributos (que se constituem na trilha
mediana pela qual devemos caminhar) esta trilha é chamada de "O caminho do Senhor",
isto é, o caminho que o Patriarca Abraão ensinou aos seus descendentes, como está escrito:
"Pois Eu o amo porque ele incutirá responsabilidade em seus filhos e em sua família para
que o sigam, para que possam cumprir o caminho do Senhor" (G 18:19).
Todo aquele que caminhar neste caminho assegura para si benesses e bênçãos, conforme o
texto: "A fim de que o Senhor possa trazer sobre Abraão aquilo que Ele disse com relação a
ele" (Gn 18:19).

Capítulo II
1. Para aquele que tem o corpo doente, o amargo tem o gosto de doce e o doce tem o gosto
de amargo. [Baseado nesta frase se conclui que, quando uma pessoa se convence de que
tal conceito é correto, por assim se sentir melhor ou mais realizada, não significa que isto
seja verdade; pode ser para ela às vezes até mesmo desastroso.]
Entre as pessoas doentes, há algumas que anseiam e têm sede de coisas impróprias para
alimento, tais como terra e carvão de lenha, e têm uma aversão por alimentos saudáveis,
como pão e carne, dependendo da gravidade da doença.
Similarmente, os seres humanos cujas almas estão doentes e desejam e amam os
comportamentos maus, odeiam o caminho bom e têm preguiça de seguir o bom caminho, e
o acham demasiado pesado, dependendo da seriedade da doença. [Dependendo da
gravidade da doença, a pessoa fica irritada; infelizmente, a cada geração que passa, toma-
se mais grave esta doença, atingindo a maioria das pessoas. Por isto a Torá nos ensina que
se deve seguir os 613 Preceitos e suas
ramificações, que foram dadas ao povo judeu, e os sete mandamentos divinos, que foram
dados a toda a Humanidade. Devem ser cumpridos de maneira rigorosa, porque este é o
único antídoto contra tal doença.]
Assim Isaías se refere a tais pessoas: "Oh, aqueles que falam que o mal é bom, e o bem é o
mal, que dizem que escuridão é luz e que a luz é escuridão, e que o amargo é doce e que o
doce é amargo" (Is 5:20).
E sobre eles está escrito: "Quem abandonou as trilhas da integridade para
caminhar nos caminhos da escuridão" (Pv.2:13).
Qual é o corretivo para aqueles que têm a alma doente?
Eles devem ir aos sábios, que são os médicos da alma, e estes curarão suas enfermidades,
informando-os sobre os comportamentos que devem adotar até que sejam reencaminhados
à trilha certa.
Sobre aqueles que percebem que os seus comportamentos são maus e, apesar disso, não
procuram os sábios para serem curados, diz Salomão: "Sabedoria e disciplina os tolos
desprezam" (Pv. 1:7).
2. Qual o método para efetuar a sua cura?
Se alguém é irritadiço, é instruído para se controlar, de modo que, mesmo que seja atacado
ou insultado não se sinta afrontado.
E neste curso ele deve perseverar por um longo tempo, até que o temperamento colérico
tenha sido erradicado.
Se alguém é soberbo deve se acostumar a suportar muita humilhação, sentar-se abaixo de
todos e vestir roupas velhas e rasgadas que tragam a vergonha ao usuário, até que a
arrogância seja erradicada de seu coração e ele tenha alcançado o caminho do meio, que é
o caminho do bem.
Quando retornar a esta trilha, ele deverá caminhar pelo caminho do meio pelo resto de seus
dias.
Com medidas semelhantes ele deve tratar todos os seus demais comportamentos.
Se estiver num extremo, deverá se mover ao extremo oposto mantendo-se lá por um longo
tempo, até que tenha realcançado a trilha certa, que é a do meio em todos os tipos de
comportamento.
3. Na recuperação de alguns comportamentos é proibido seguir o caminho do meio, sendo
exigido um comportamento extremo.
Assim sucede com a soberba: o caminho certo nesse caso não é ser modesto, mas ser
humilde ao extremo.
Por isto foi dito a respeito de Moisés, que era "excessivamente modesto" (Nm 13:3), e não
meramente modesto.
Daí, nossos sábios nos ensinarem: "sejam excessivamente humildes" (Ética
dos Pais 4:4).
Eles também disseram que qualquer um que permita que o seu coração ostente soberba
terá negado a soberania do Eterno, [É como se fizesse um ídolo.] como
está escrito: "E o teu coração se tornará soberbo e tu esquecerás o Senhor,
teu D..S" (Dt 8:14).
Uma vez mais disseram eles: "Excomungado aquele que é soberbo, por mínimo que seja".
Ira também é um comportamento excessivamente mau, e deve-se ir ao extremo oposto.
A pessoa deve se reeducar para não se aborrecer, até mesmo por algo que justifique a ira.
Se a pessoa quiser despertar temor [Temor aqui significa impor medo, usado como meio de
conscientização da seriedade e de autocontrole.] em seus filhos e no ambiente familiar, ou
nos membros de uma comunidade da qual é o líder, deve ela dar uma mostra de ira diante
deles de forma a corrigi-los, mas, na realidade, sua
mente e o seu coração devem se comportar como os de um homem que
demonstra a raiva mas não a sente realmente.
Os sábios disseram: "Aquele que estiver irado — é o mesmo que tivesse adorado os ídolos."
Também disseram: "Alguém que está propenso à raiva, — se for um sábio, sua sabedoria o
abandona, se for um profeta, seu dom profético o abandona."
Aqueles propensos à ira — a sua vida não vale a pena.
Os sábios, portanto, nos ensinaram que a raiva deve ser evitada a um ponto tal que a
pessoa deve se exercitar para não se sensibilizar nem mesmo com coisas que naturalmente
provocariam raiva; este é o caminho bom.
A prática do justo é sofrer insulto, não infligi-lo; ser vexado, não retorquir; fazer tudo por
amor e regozijar-se no sofrimento.
Deles, disse a Escritura: "E aqueles que O amam são como o raiar do sol de sua força" (Jz
5:31).
4. O indivíduo deve sempre cultivar o hábito do silêncio e apenas conversar sobre tópicos de
sabedoria ou assuntos de suas necessidades existenciais. [A Torá despreza completamente
conversas sem nenhum objetivo concreto, tanto em assuntos de Torá e sabedoria como nos
assuntos do dia-a-dia, quer para os homens, quer para as mulheres. Maimônides diz, em
outra parte, que o indivíduo que se habitua a falar sem objetivo começa a imaginar coisas,
aumentando ou diminuindo a verdade, de modo que, com o tempo, ele perde a noção do
certo e do errado, do verdadeiro e do falso, e passa a descrer a ponto de chegar ao
ateísmo.]
Sobre Rav, discípulo de Rabenu Hacadoshe, foi dito que durante toda a sua vida nunca se
envolveu em conversação ociosa, como a maior parte das pessoas.
Até mesmo de nossas necessidades materiais não devemos falar muito.
Com relação a isto, os sábios nos advertiram: "Aquele que multiplica as palavras causa
pecado" (Ética dos Pais, 1:17).
Eles disseram posteriormente: "Não encontrei coisa alguma de préstimo melhor ao corpo
que o silêncio" (ibid.).
Da mesma forma também, na discussão da Torá e da Sabedoria as palavras de um homem
devem ser poucas, mas plenas de sentido.
Isto os sábios expressam em sua recomendação: "Um homem deve ensinar a seus
discípulos sempre com frases curtas."
Mas onde as palavras são muitas e a essência é pouca, o que há é tolice, como foi dito:
"Pois o sonho veio com muita ponderação e a voz de um tolo com uma abundância de
palavras"(Ec 5:2).
5. "Uma cerca à sabedoria é o silêncio" (Ética dos Pais, 3:13).
Daí, um homem não deve ser apressado ao responder, nem falar demais.
Ele deverá ensinar aos seus discípulos, gentil e calmamente, sem gritar,
evitando a prolixidade.
Salomão disse: "As palavras dos sábios ditas com calma são ouvidas" (Ec 9:17).
[Baseado nestes dois artigos (4 e 5), além de outros, o melhor método educacional é aquele
que diminui e elimina as aulas discursivas, o escrever excessivo, as provas escritas, os
longos textos, reduzindo automaticamente o uso de livros, cadernos, e quadros-negros, pois
tudo isto sobrecarrega o aluno, qualquer que seja a sua idade. Tal método enfatiza que o
aluno deve ter um mínimo de conhecimentos de cada assunto, para que possa ampliar os
seus conhecimentos naquelas áreas com as quais tenha mais afinidade. Este método se
baseia mais na ponderação, na meditação e criatividade, e permite que a criança tenha
mais ânimo e motivação para estudar. Este é o sistema educacional tradicional do Judaísmo
religioso ortodoxo.]
6. É proibido se acostumar às seduções e às adulações.
O indivíduo não deve dizer uma coisa querendo dizer outra.
O ser interno e o externo devem corresponder-se; apenas o que temos em mente devemos
pronunciar oralmente.
Não devemos iludir ninguém, nem mesmo um não-judeu [Deve-se ser íntegro até mesmo
no caso em que dizer ou reconhecer a verdade for incômodo. A colocação em prática deste
conceito somente é possível se a pessoa basear a sua conduta na orientação da Torá.]
Por exemplo, não se deve vender a um não judeu a carne de um animal que teve morte
natural como se fosse a carne de um animal ritualmente sacrificado, nem se deve vender
um sapato cujo couro veio da pele de um animal morto naturalmente como se fosse de um
animal ritualmente sacrificado.
Uma pessoa não deve insistir em que alguém se junte a ela numa refeição quando sabe que
este não quer comer. [Por qualquer que seja o motivo.]
Não se deve presentear uma pessoa para agradá-la se se sabe que ela não quer receber tal
presente; da mesma forma, também, vasos de vinho que são abertos para a venda não
devem ser abertos de forma a enganar o comprador fazendo-o crer que foram abertos em
sua honra etc.
Mesmo uma simples palavra de adulação ou de engano é proibida.
Uma pessoa deve manter um discurso verdadeiro, um espírito correto e um coração puro,
livre de toda tortuosidade e perversão. [A falsidade de palavras e ações não leva a nada,
mas cansa como uma labuta. Quando as palavras e ações têm objetivo elas causam prazer
e a pessoa não se sente sobrecarregada.]
7. Uma pessoa não deve ser frívola ou debochada, nem melancólica ou pesarosa, mas deve
ser alegre.
Assim disseram os sábios: "Frivolidade e leviandade levam um homem à libidinagem" (Ética
dos Pais, 3:13).
Adiante, eles advertiam que um homem não deve dar vasão a um riso descomedido, nem,
por outro lado, ser triste e pesaroso; deve receber a todos com um semblante alegre.
O indivíduo não deve acalentar grandes ambições, tendo pressa em ficar rico, nem ser
melancólico e ocioso, mas sempre olhar com bons olhos e engajar-se o suficiente no seu
trabalho, dedicar-se ao estudo da Torá e regozijar-se com ele.
O indivíduo não deve ser desleal e intrigante, ciumento ou cobiçoso, nem deve perseguir a
fama. [Todos os comportamentos e os sentimentos que Maimônides expõe neste livro, o
que é bom e o que é mau, o que é válido e o que é prejudicial, não se aplica somente em
relações aos outros, mas principalmente em relação a si próprio, como a honra, por
exemplo. Uma pessoa que confere honra a outrem age assim por sua conta, mas o
homenageado, perante si próprio, deve ter consciência de que não precisa nem merece
receber tal honra.]
Assim disseram os sábios: "Ciúme, cobiças fama levam o homem do mundo" (Ética dos
Pais, 4:2).
A regra geral é: em todos os tipos de conduta o homem deverá sempre escolher a mediana,
de modo que todos os seus atos ocupem o meio exato entre os extremos. Isto é o que
Salomão exprimiu no texto: "Equilibra o curso de teus passos de modo a serem certos os
teus caminhos" (Pv 4:26).

Capítulo III
1. Há pessoas que dizem: "Já que a inveja, a cobiça, a fama e outras são más qualidades e
levam um homem à ruína, então eu as evitarei ao máximo e buscarei os seus contrários."
As pessoas que seguem este princípio não comerão carne nem beberão vinho, nem se
casarão nem habitarão um lar decente, nem usarão vestuário elegante, e se vestirão com
tecidos de saco de lã áspera, como os sacerdotes idólatras.
Este também é um caminho errado; não deve ser seguido.
Quem quer que persista em tal curso é denominado pecador.
Está escrito em relação ao nazir: "Ele (o sacerdote) deverá expiá-lo, pelo pecado que ele (o
nazir) cometeu contra a alma" (Nm 6:11).
Sobre este texto comentam os sábios: "Se o nazir, que se abstém apenas de vinho, prostra-
se sob a necessidade de arrependimento, que dizer de alguém que se priva de todos os
prazeres legítimos."
Conseqüentemente, os sábios nos ordenaram que apenas nos privássemos daquilo que a
Torá retirou expressamente de nosso uso.
E ninguém, por intermédio de promessas e juramentos, deve abster-se do uso de coisas
permitidas. [A não ser quando o instinto animalesco dele no momento estiver muito forte e
incontrolável; então, para poder controlá-lo, precisa-se abster disso momentaneamente.]
"As proibições da Torá", dizem nossos sábios, "não te bastam, ao ponto de tu adicionares
outras para ti mesmo?"
Nesta condenação estão incluídos aqueles que fazem do jejum uma prática; eles também
não caminham no meio certo.
Os sábios proibiram a autoflagelação pelo jejum. [A autoflagelação pelo jejum é proibida, a
não ser que não prejudique o organismo; como o objetivo da automortificação é o controle
do instinto animalesco, há outro método além do jejum para se obter esse controle: a
dosagem e o equilíbrio.]
E com relação a isto e aos excessos similares, Salomão nos disse: "Não parecei
excessivamente virtuosos, nem excessivamente sábios. Por que razão deveis ser vazios?"
(Ec 7:16). [É o que está escrito claramente no Shul'han Aruh (Código de Leis) e que deve
ser cumprido por todo judeu, independente do seu nível físico ou espiritual; é a isto que se
refere a frase de Salomão e o trecho explicado acima — quando um judeu se esforça para
ser mais do que o que foi exigido dele, torna-se proibido para ele ser mais do que é. Em
outras palavras, neste estágio a pessoa deve se comportar somente de acordo com o nível
em que se encontra, baseando-se na sua sabedoria e vontade; só quando ela se posiciona
acima ou abaixo de seu nível é que se aplica a proibição, porque neste caso o seu ato lhe é
prejudicial.]
2. Um homem deve conduzir todos os seus atos e intenções ao conhecimento e serviço do
Eterno, somente.
Este deve ser o seu objetivo ao sentar-se, ao levantar-se e ao conversar.
Como isto deve ser realizado?
Quer engajado em comércio ou em trabalho manual por lucro, o coração da pessoa não
deve se concentrar apenas no acúmulo de riquezas, mas deve fazer estas coisas a fim de
saciar com elas as suas necessidades corpóreas — alimento, bebida e teto, as exigências da
vida conjugal.
Da mesma forma, quando uma pessoa comer, beber ou coabitar, o seu propósito não
deverá ser o de garantir a gratificação física, caso em que apenas comeria e beberia aquilo
que é agradável ao paladar, e coabitaria em nome do prazer sensual, mas ele dever ter em
mente que somente come e bebe para manter seu corpo e órgãos sadios e vigorosos.
Então, ela não partilhará de tudo o que solicitar o paladar, como um cão ou asno, mas
escolherá alimentos que são saudáveis ao corpo, quer sejam doces ou amargos; e evitará
ingerir coisas que são danosas ao corpo, muito embora tenham sabor agradável.
Por exemplo, quem estiver com o corpo quente, não deverá comer carne ou mel, nem
deverá beber vinho, como disse Salomão em sentido metafórico: "Não é bom comer muito
mel" (Pv 25:27).
Tal pessoa deve, ao invés disso, beber uma infusão de chicória, a despeito de seu sabor
amargo.
Assim, já que é impossível viver sem comer e beber, a pessoa deve fazer sua escolha de
alimento e bebida movida por considerações medicinais, para recobrar e manter saúde
plena.
Assim, também, na vida de casado, o propósito da coabitação será o de preservar a saúde
ou propagar a sua espécie.
Conseqüentemente, uma pessoa não deve entrar em intercurso sexual só porque o desejo
se apossa dela, mas somente quando estiver consciente de que a cópula é medicamente
necessária ou quando o seu propósito é continuar sua espécie. [Quando uma pessoa segue
a orientação da Torá sobre o relacionamento íntimo do casal, que inclui o número de vezes
em que ele deve se dar semanalmente —, no mínimo, uma, não importando a idade do
casal —, aí a pessoa tem um corpo saudável, mas quando ela não coabita como deve ser, a
pessoa começa a ficar melancólica, e isto interfere também em todo o sistema do seu corpo
físico, moral e espiritual.]
3. Aquele que regula a sua vida segundo as leis da medicina com o único objetivo de
manter um físico forte e vigoroso e gerar filhos que façam o seu trabalho em seu benefício,
e se esforçam na vida para o seu bem, não está seguindo o caminho certo. Um homem
deve ter como objetivo manter a saúde e o vigor físicos, a fim de que a sua alma esteja
disponível, livre e sã, em condições de conhecer o Eterno.
Pois é impossível que alguém compreenda as Ciências e medite sobre elas quando está com
fome ou doente, ou enquanto sentir dor em qualquer um dos seus membros.
Na coabitação, a pessoa deve concentrar o seu coração em ter um filho que possa se tornar
um sábio e um grande homem em Israel.
Todo aquele que durante a sua vida seguir este curso estará continuamente servindo ao
Onipotente, mesmo enquanto engajado em negócios e mesmo durante a coabitação, porque
o seu propósito em tudo o que faz será o de satisfazer as suas necessidades, de modo a ter
um corpo sadio com o qual servir ao Senhor.
Até mesmo quando dormir ou buscar repouso para acalmar a sua mente e descansar o seu
corpo, a fim de não ficar incapacitado de servir ao Todo-Poderoso, seu sono estará a serviço
do Onipotente.
Nesse sentido, os sábios nos alertaram: "Deixa que todos os teus atos estejam a serviço do
Divino" (Ética dos Pais, 2:17).
E Salomão, em sua sabedoria, disse: "Em todos os teus atos, conhece-O, e Ele tomará as
tuas trilhas harmoniosas"(Pv. 3:6).

Capítulo IV
1. Já que ao manter o corpo com saúde e vigor o indivíduo caminha nas sendas do Divino —
sendo impossível durante a doença se ter qualquer entendimento ou conhecimento do
Criador — é dever de um homem evitar tudo o que seja danoso ao corpo e cultivar os
hábitos que geram a saúde e o vigor. [O próprio Maimônides declara que quem segue as
dietas e atos que estão prescritos neste capítulo nunca ficará doente por causa natural; mas
para isso é preciso que nunca tenha se desviado, nem mesmo uma vez na vida. Algumas
pessoas se enganam pensando que nunca se desviaram, e não entendem porque adoecem.
Os sábios explicam em relação ao organismo que em certos detalhes pode haver mudança,
pois cada indivíduo é diferente do outro, e muda também de uma geração à outra.]
São os seguintes: não se deve comer, exceto quando se sente fome, nem beber, a menos
que se tenha sede; não se deve negligenciar as chamadas da natureza (necessidades
fisiológicas) por um simples momento, mas responder a elas imediatamente.
2. Não se deve comer desmesuradamente durante uma refeição, deve-se consumir um
quarto a menos do que a quantidade que causaria uma sensação de fastio, beber apenas
um pouco d'água misturada a vinho durante a refeição. [Depois da refeição, entretanto,
deve-se beber grande quantidade de água.]
Após o processo de digestão ter se iniciado pode-se consumir água em quantidade
necessária.
Mas, nem mesmo depois que o alimento for digerido, se deve beber água copiosamente.
Antes de comer, uma cuidadosa atenção deve ser dada às funções excretórias. Nenhuma
refeição deve ser feita antes de se caminhar até que o corpo se aqueça, ou antes que se
realize algum trabalho manual, ou de qualquer outra atividade.
Em suma, o exercício rigoroso deve ser empreendido todos os dias pela manhã, até que o
corpo esteja aquecido.
Em seguida, deverá haver um intervalo de repouso até que a pessoa tenha se recomposto.
A refeição pode, então, ser feita.
Se o exercício for seguido de um banho de água quente, tanto melhor.
Também neste caso deverá haver um intervalo para repouso, antes da refeição. 3. Durante
uma refeição deve-se sentar ou reclinar sobre o lado esquerdo.
Até que a comida seja digerida, não caminhar, cavalgar, fazer exercício violento, balançar o
corpo ou se engajar em esporte.
Qualquer um que se engajar em esporte ou exercício violento imediatamente após uma
refeição se sujeita a sérias complicações.
4. O dia e a noite consistem de vinte e quatro horas.
É suficiente dormir um terço deste período — oito horas.
O período de sono deve se dar na última parte da noite, ou seja, o período do recolhimento
deve ser de oito horas, de modo que o indivíduo se levante antes do amanhecer.
5. A pessoa não deve dormir com o rosto voltado para baixo, nem de costas, mas deitada
de lado; no início, deve recostar sobre o lado esquerdo, e ao final do seu repouso, sobre o
lado direito.
Não se deve ir dormir imediatamente após uma refeição, mas três ou quatro horas depois.
Não se deve dormir durante o dia.
6. Alimentos laxantes, tais como uvas, figos, amoras, peras, melancias, as várias espécies
de pepinos ou maxixes, devem ser ingeridos antes da refeição; não devem, porém, ser
misturados com o prato principal que constitui a refeição.
Um intervalo deve haver até que estes tenham passado do estômago para o duodeno, antes
que a refeição seja realizada.
Imediatamente após, os alimentos que robustecem os órgãos digestivos devem ser
ingeridos, tais como romãs, marmelos, maçãs e pequenas peras; mas nem mesmo estes
frutos devem ser ingeridos em demasia.
7. Quando se deseja comer na mesma refeição aves domésticas e carne de gado, as aves
domésticas devem ser comidas em primeiro lugar.
Quando os ovos e aves domésticas fazem parte da mesma refeição, os ovos devem ser
consumidos em primeiro lugar.
Quando carnes de gado de grande e pequeno porte são consumidas na mesma refeição, a
carne de gado pequeno deverá ser servida primeiro.
O alimento mais leve deve sempre preceder o mais pesado.
8. No tempo do verão devem ser consumidas comidas frias; deve-se ser econômico com os
condimentos; o vinagre deve ser usado.
Comidas quentes devem ser usadas durante o inverno; os condimentos devem ser usados
liberalmente com um pouco de mostarda e assa-fétida.
Uma dieta similar deve ser seguida em países frios e quentes.
A dieta, em cada lugar, deve ser escolhida para adequar-se ao clima.
9. Alguns alimentos são muito nocivos e nunca devem ser comidos.
Peixe grande e velho muito salgado; queijo velho salgado; trufas e cogumelos; carne velha
salgada; vinho mosto [Vinho fresco retirado da prensa.]; alimento cozido guardado há tanto
tempo que perdeu o seu sabor; ou qualquer alimento que cheire mal ou seja muito amargo
— todos estes são como veneno mortal ao corpo.
Há outras espécies de alimentos que são nocivos, mas não ao ponto destes
supramencionados.
Deles, um pouco de vez em quando pode ser ingerido, mas somente com intervalos de
diversos dias.
Não se deve acostumar a fazer deles alimento habitual ou comê-los regularmente com a
refeição.
Exemplos desta classe são: peixes grandes, queijo, leite, vinte e quatro horas após a
ordenha, a carne de grandes bois e de grandes bodes, feijões, lentilhas, ervilhas, pão de
cevada, pão ázimo, repolho, alho poró, cebolas, alho, mostarda e rabanete — todos maus
alimentos.
Eles devem ser comidos muito frugalmente e apenas durante o inverno.
No verão não devem ser comidos absolutamente.
Nunca, nem no verão nem no inverno os feijões e as lentilhas devem ser ingeridos como um
prato separado.
As abóboras podem ser comidas no verão.
10. Há outras espécies de alimentos que também são ruins, mas não ao ponto daqueles
supramencionados.
São eles as aves aquáticas, pequenos pombos jovens, tâmaras, pão frito em óleo ou a rosca
que foi amassada com óleo.
Farinhas tão completamente peneiradas que nenhum traço de farelo haja permanecido,
suco de carne e a salmoura de peixe salgado.
Não devem ser usados livremente.
Um homem que é sábio exercita o autocontrole, que não se rende à gula e nunca partilha
dos alimentos citados acima, a menos que necessite deles como remédio, é de fato um
herói. [Baseados neste texto concluímos que a maioria das pessoas exagera no hábito de
comer, beber e de dormir, tanto na quantidade como na qualidade, e não se dão conta de
por que adoecem; quando se exagera, sobrecarrega-se o organismo, que começa a se
deteriorar mais rapidamente.]
11. O indivíduo deve sempre se abster das frutas que crescem nas árvores.
Elas não devem ser comidas livremente, mesmo quando secas e, desnecessário
acrescentar, quando estejam frescas.
Antes que estejam bem maduras, são adagas para o corpo.
Da mesma forma, a alfabarroba é sempre fruta ruim.
Todas as frutas azedas são ruins e devem ser ingeridas frugalmente, e apenas durante o
verão ou em climas quentes.
Mas, figos, uvas e amêndoas são sempre bons de comer — quer frescos ou secos — e
podem ser comidos tanto quanto deles se necessite; não devem ser comidos
constantemente, muito embora sejam os melhores frutos das árvores.
12. Mel e vinho fazem mal às crianças muito jovens, mas são bons para os idosos,
particularmente no inverno.
A quantidade ingerida[Refere-se a qualquer alimento.] no verão deve ser de dois terços
daquela consumida no inverno.
13. Em todo período da vida, a pessoa deve ter cuidado para assegurar a livre ação dos
intestinos, aproximando-se a uma condição relaxada.
É um princípio regente em medicina o de que se há constipação ou se os intestinos se
movem com dificuldade, graves desordens podem ocorrer.
Como uma leve condição de constipação deve ser remediada?
Se o paciente é jovem, ele deve comer, toda manhã, alimentos salgados bem cozidos e
temperados com óleo de oliva, salmoura de peixe e sal, sem pão.
Ou deve beber o líquido do espinafre, ou repolho cozido em óleo de oliva, salmoura de peixe
e sal.
Um homem idoso deve beber pela manhã mel diluído com água quente e esperar cerca de
quatro horas antes de tomar o seu desjejum.
Este regime deve ser observado durante um dia, ou, se necessário, durante três ou quatro
dias sucessivos, até que os intestinos voltem a se mover livremente. 14. Um outro grande
princípio da medicina é o seguinte: enquanto a pessoa faz exercício ativo, trabalha duro,
não se farta completamente e mantém os seus intestinos abertos, ela estará livre de doença
e aumentará o seu vigor, até mesmo quando se alimenta de produtos nocivos.
15. Se a pessoa leva uma vida sedentária e não faz exercícios, negligencia as funções
excretórias ou tem prisão de ventre — mesmo que coma comida sadia e cuide-se segundo
as regras médicas — estará, durante toda a sua vida, sujeita a dores e nevralgias e sua
força lhe faltará.
Comer demais é como um veneno mortal para qualquer constituição; é a causa principal de
todas as doenças.
A maior parte das doenças que afligem a humanidade resulta do alimento ruim ou provêm
do fato de o paciente encher o estômago com excesso de comida, mesmo que seja comida
sadia.
Assim, Salomão, em sua sabedoria, disse: "Aquele que preserva sua boca e sua língua,
preserva a sua alma dos apuros" (Pv 21:23), cujo texto pode ser aplicado ao indivíduo que
guarda a sua boca dos alimentos ruins e da alimentação excessiva, e preserva a sua língua
de todo discurso, exceto daquilo que for necessário para que obtenha as suas necessidades.
16. O procedimento correto ao se banhar é fazê-lo uma vez por sernana. [O banho a que
Maimônides se refere, é o banho de relaxamento, do tipo imersão em banheira de água
quente, sauna, banho turco, e não o banho de chuveiro, que é somente para lavar o corpo.]
A pessoa não deve entrar no banho diretamente após uma refeição, nem se sentir fome,
mas apenas depois que a digestão tiver começado.
O corpo inteiro deve ser banhado em água quente, mas não escaldante.
Somente a cabeça pode ser lavada com água quente o suficiente para escaldar o corpo.
O corpo deve então ser lavado em água tépida, depois em água morna, e assim
sucessivamente, reduzindo gradualmente a temperatura, até que a água usada finalmente
esteja bem fria.
Água, quer morna ou fria, não deve ser despejada sobre a cabeça.
Na estação chuvosa não se devem tomar banhos frios.
O indivíduo não deve enxaguar o corpo antes que ele tenha suado e se tornado flexível,
nem deve permanecer durante muito tempo no banho; tão logo transpire e o corpo se torne
flexível, deve completar a ablução e sair.
Antes e depois do banho, deve-se dar atenção às funções excretórias, como também antes
e depois de fazer uma refeição, de manter um intercurso sexual, de realizar um exercício
físico, antes de ir para a cama e ao se levantar.
Há, assim, conjuntamente, dez ocasiões nas quais esta regra deve ser seguida. 17. Quando
o indivíduo sai do banho, deve vestir suas roupas e cobrir a sua cabeça no quarto exterior,
de modo a evitar constipação.
Mesmo no verão esta precaução deve ser tomada.
Após deixar o banho, uma pessoa deve aguardar até que se tenha recomposto, e seu corpo
esteja descansado e frio; então uma refeição pode ser feita.
Uma sesta após deixar o banho e antes da refeição é excelente.
Não se deve beber água fria após o banho e certamente também não enquanto se toma o
banho.
Se após o banho uma pessoa tiver sede e não puder resistir ao desejo de beber, a água
deve ser misturada com vinho ou mel, e então ela pode ser bebida.
Durante o inverno, untar o corpo com óleo, após a ablução final, é benéfico.
18. Não se deve praticar flebotomia freqüentemente.
Recorrer a este procedimento apenas em caso de necessidade especial.
O indivíduo não deve se fazer sangrar no verão ou no inverno, e apenas um pouco no mês
de Nissan e de Tishiri.
Após os cinqüenta anos este tratamento deve ser inteiramente interrompido.
Uma pessoa não deve fazer sangria e tomar banho, ou partir para uma viagem no mesmo
dia, nem deve fazer a flebotomia no dia em que tenha regressado de uma viagem.
No dia em que o indivíduo tiver feito uma sangria, deve ingerir menos comida e bebida que
o habitual.
Nesse dia deve-se descansar, evitar a prática de exercícios físicos violentos e não tomar
parte em esportes.
19. O sêmen constitui a força do corpo, sua vida e a luz dos olhos.
Sua emissão em excesso causa fraqueza física, debilidade e diminui a vitalidade. Assim,
Salomão, em sua sabedoria disse: "Não dês tua força às mulheres" (Pv 31:3).
Todo aquele que se entrega em dissipação sexual torna-se prematuramente idoso vê sua
força falhar; seus olhos tornam-se turvos, um odor fétido sai de sua boca e axilas, o cabelo
de sua cabeça, sobrancelhas e cílios cai, os pêlos de sua barba, axilas e pernas crescem
anormalmente, seus dentes caem, e, além disso, ele se torna sujeito a numerosas outras
doenças.
As autoridades médicas afirmam que para cada um que morre de outras moléstias, mil são
vítimas de excesso sexual.
Um homem, portanto, deve ser cuidadoso em relação ao intercurso sexual.
Ele só deve copular quando encontrar-se em boa saúde e vigor, e quando experimentar
ereções involuntárias que persistem após ter distraído a sua mente com outras coisas,
percebendo um peso a partir dos rins para baixo, como se os condutos espermáticos
estivessem sendo estirados, e quando sua carne estiver quente.
Tal condição exige a copulação, que então gera a saúde.
O indivíduo não deve copular quando saciado com alimento, nem quando estiver com fome,
mas apenas após a refeição ter sido digerida.
Antes e depois do coito deve-se dar atenção às funções excretórias.
O coito não deve ocorrer em postura de pé ou sentada, nem em casa de banhos, nem no
dia em que se toma banho ou se sofre uma sangria, nem no dia em que se parte para uma
viagem ou que se retorna dela, nem no dia anterior a quaisquer desses dias ou
subseqüentes a eles.
20. Todo aquele que viver de acordo com estas dietas tem a minha certeza de que nunca
adoecerá, até que envelheça e morra; não terá necessidade de médico e gozará de saúde
normal enquanto viver, a menos que a sua constituição seja congenitamente defeituosa, ou
que tenha adquirido maus hábitos desde a sua primeira infância, ou se no mundo ocorrerem
pestes ou seca.
21. Todas as regras úteis aqui recomendadas são convenientes àqueles que gozam de boa
saúde.
Mas, se uma pessoa estiver doente ou sofrer de uma desordem local, ou for durante muitos
anos viciada em um mau hábito, necessitará de tratamento diferente, segundo a natureza
de sua doença — conforme está exposto na literatura médica: "Mudança da menstruação é
o princípio da doença." [Isto inclui também a mudança do período da menstruação.]
22. Em um lugar onde não há médico, não só os que estão bem de saúde, como também
aqueles que estão doentes não devem divergir das normas recomendadas neste capítulo.
A observação de cada um deles gerará resultados benéficos.
23. Nenhum judeu culto deve viver numa cidade que não possua os seguintes dez oficiais e
instituições: um médico, um cirurgião, uma casa de banhos, um mictório, uma fonte de
suprimento d'água, como um rio ou nascente, uma Sinagoga, um professor de Torá, um
escriba, um tesoureiro de fundos de caridade, um tribunal que tenha autoridade para punir
com chicotadas e prisão.

Capítulo V
1. Assim como um sábio é reconhecido por sua sabedoria e cultura que o distinguem do
resto das pessoas, da mesma forma deve ele ser reconhecido em todas as suas atividades,
em seu comer e beber, no cumprimento de suas obrigações conjugais, na atenção às suas
funções excretórias, em sua fala, em seu andar, vestir, na condução dos seus assuntos e
transações comerciais.
Todas estas atividades devem trazer uma marca de requinte e ordem absolutos. Por
exemplo, um erudito não será glutão, mas comerá o alimento proveitoso à saúde; de tal
alimento ele não comerá excessivamente.
Ele não comerá como aqueles que se empanturram com comida e bebida até que o seu
corpo inche.
Com relação a tais pessoas, disse a Escritura: "Eu espalharei esterco em suas faces" (M1
2:3).
Este texto, dizem os sábios, se refere àqueles que comem e bebem e passam todos os seus
dias como se fossem feriados.
São eles as pessoas que exclamam: "Comam e bebam, pois amanhã morreremos" (Is
22:13).
É assim que os maus comem; são reprovados pelo verso "Pois todas as mesas estão plenas
de vômitos asquerosos e nenhuma parte está limpa" (Is. 28:8).
Os sábios, ao contrário, somente partilharão um ou dois pratos, dos quais consumirão o
necessário para seu sustento.
Disse Salomão: "O virtuoso come para satisfazer-se" (Pv 13:25).
2. Quando o sábio come a refeição modesta que lhe é própria, não o faz em nenhum outro
lugar que não o lar, em sua própria mesa.
Exceto em emergências extremas, ele não comerá em uma loja ou na rua, de modo a não
incorrer em desprezo popular.
Ele não aceitará os convites para fazer refeições com gente rude, nem se sentará em mesas
que não sejam limpas
Ele não terá por hábito fazer a sua refeição em todos os tipos de lugares, mesmo que na
companhia de eruditos.
Ele não comerá em banquetes onde haja um grande multidão.
De fato, é impróprio que um erudito aceite um convite para qualquer banquete, a menos
que este tenha ligação com o judaísmo, como, por exemplo, na ocasião de um noivado ou
casamento; mesmo assim, apenas quando o noivo for um erudito e a noiva, filha de um
erudito.
Os virtuosos e os grandes devotos fervorosos nunca comiam nada que não adviesse de suas
próprias expensas.
3. Quando um sábio bebe vinho, ele apenas toma o bastante para umedecer a comida que
comeu.
Qualquer um que se permite embriagar é um pecador desprezível, e perde a sua sabedoria.
Se ele se embebedar na presença do ignorante, terá profanado o Nome do Eterno. Não se
deve beber vinho ao meio-dia, por menor que seja a quantidade, a menos que faça parte de
uma refeição, visto que, neste caso, não haverá perigo de
embriaguez.
Devemos ser cuidadosos com relação ao vinho consumido depois que a refeição estiver
terminada.
4. Embora o intercurso sexual com a esposa seja sempre permitido, ainda assim esta
relação também deve ser revestida de santidade pelo erudito.
Ele não deve estar sempre com sua esposa, como um galo, mas deve cumprir sua obrigação
conjugal nas noites de sexta-feira, se estiver em condições físicas para tal.
A coabitação carnal deve ocorrer não no início da noite, quando se está saciado e o
estômago está cheio, nem no término da noite, quando se está com fome, mas à meia-
noite, quando o alimento está digerido.
Ele não deve copular numa atmosfera de frivolidade excessiva [Somente é permitido um
erotismo bastante para efetuar a aproximação entre os dois.], nem sujar a sua boca com
conversa vil, mesmo quando estiver a sós com sua esposa, pois o texto "Ele dirá ao homem
a sua conversa" (Amós 4:13), foi explicado tradicionalmente pelos sábios como significando
que "um homem terá que prestar contas até mesmo pela conversa amena entre ele e sua
esposa".
Ao copular, nem marido nem esposa devem estar ébrios, letárgicos, melancólicos ou
nervosos.
A esposa não deve adormecer na ocasião.
O marido não deve forçá-la, se ela estiver indisposta.
O coito deve ocorrer com o consentimento de ambos, e enquanto estiverem repletos de
desejo e júbilo.
O marido deve conversar e gracejar com sua esposa durante um certo tempo, de modo a
colocá-la num estado psicológico satisfatório e, então, copular modesta e recatadamente, e
não despudoradamente.
Após completar o ato, ele deve separar-se dela de uma vez.
5. Aquele que observar este procedimento não apenas consagra a sua alma, purifica o seu
coração e aprimora a sua mente, mas, se tiver filhos, tê-los-á belos, modestos e pré-
dispostos à sabedoria e santidade. [Baseado neste conceito é que os sábios dizem que a
conduta dos filhos é um reflexo da conduta dos pais, principalmente no que se refere à
relação sexual.]
Aquele que segue os costumes das pessoas comuns que caminham na escuridão, terá filhos
como os dele.
6. Extrema modéstia é cultivada pelos eruditos.
Eles não farão coisa alguma que os possa expor ao desprezo.
Eles não descobrirão suas cabeças ou o corpo.
Até mesmo ao responder a um chamado da natureza, o erudito vai se comportar
decentemente; não se desnudará até que se sente, nem vai se limpar com sua mão direita;
ele se afastará de todas as pessoas à parte mais íntima de sua habitação ou de uma
caverna: ou, se ele se aliviar atrás de uma cerca, vai se pôr a uma distância de forma a que
os outros não possam ouvi-lo.
Se ele se aliviar em campo aberto, irá para tão longe que ninguém poderá ver o seu corpo
nu.
Enquanto estiver evacuando não falará, mesmo se houver uma grande necessidade.
E assim como se comporta decentemente de dia, da mesma forma se comportará
à noite.
A pessoa deve se habituar a evacuar pela manhã e à noite, de modo a não ter que
atravessar grandes distâncias.
7. Um erudito, ao falar, não gritará nem berrará, como o gado doméstico ou os animais
selvagens, nem levantará a sua voz despropositadamente.
Sua fala com todos os homens será gentil.
Mas ao falar gentilmente, ele será cuidadoso para evitar um exagero que tomaria sua voz
afetada, como a fala dos vaidosos.
Ele será o primeiro a cumprimentar a todos que encontrar, de modo a que tenham boa
disposição em relação a ele.
Ele julgará a todos favoravelmente.
Ele se aprofundará nos méritos dos outros e nunca exporá um demérito de ninguém.
Ele ama a paz e à busca.
Se se sentir que suas palavras serão efetivas e atentas, ele falará; caso contrário,
permanecerá em silêncio.
Por exemplo, ele não tentará apaziguar o seu vizinho quando este estiver exasperado, nem
lhe perguntará em relação às suas promessas imediatamente após ele as ter feito, mas
esperará até que a mente do homem tenha amainado e esteja recomposta.
Ele não tentará consolar uma pessoa que lamenta enquanto o morto ainda permanecer na
sua frente pois, até que o corpo seja enterrado, a mente daquela pessoa estará confusa.
E assim ele se comportará em circunstâncias semelhantes.
Ele não se mostrará na presença de seu vizinho quando este estiver em desgraça, mas
evitará encontrá-lo. [A não ser que ele tenha possibilidade de remediá-lo.]
Ele não mudará a sua palavra; não acrescentará nem diminuirá nada, exceto no interesse
da paz ou em objetivos similarmente dignos.
Em suma, ele limitará o seu discurso aos tópicos da sabedoria, benevolência e coisas afins.
Ele não entrará em conversação com uma mulher na rua, nem mesmo com a sua esposa,
sua irmã ou filha.[Aqui a conversa significa bate-papo.]
8. O erudito não caminhará com semblante vaidoso e pescoço esticado, atitudes
condenadas no texto "Elas caminham com pescoços esticados e olhos enganadores" (Is
3:16).
Ele não caminhará afetadamente e com passos curtos à moda das mulheres e dos vaidosos,
como está escrito: "Caminhar afetadamente como elas vão e fazer ruído tilintante com os
seus pés" (Is 3:16).
Ele não correrá na rua, à maneira dos loucos, nem se dobrará como um corcunda, mas
olhará para o chão, como se faz ao rezar, e andará com o passo de um homem ocupado
com os seus afazeres.
O modo de andar de uma pessoa indica se ela é sábia e sensível ou se é um idiota e tolo.
Assim Salomão, em sua sabedoria, disse: "Também quando um tolo passa pelo caminho,
seu discernimento lhe falha e ele proclama que é um tolo" (Ec 10:3), isto é, pelo seu
comportamento ele se anuncia como um tolo.
9. As vestes de um erudito devem ser convenientes e limpas.
É uma ofensa a tal homem se uma mancha ou graxa, ou coisa afim, for encontrada em suas
vestimentas.
Não vestirá túnicas apropriadas à realeza, tais como aquelas bordadas em ouro e púrpura,
que atraem a atenção universal; nem, por outro lado, vestimentas esfarrapadas, tais como
as que são usadas pelos pobres, que geram desprezo ao usuário.
Ele se vestirá de forma adequada à classe média e isto é o conveniente.
Sua pele não aparecerá sob as vestes, como é o caso dos tecidos extremamente leves, de
fabricação egípcia.
Suas vestes não deverão arrastar-se pelo chão, como aquelas vestidas pelos arrogantes,
mas devem apenas atingir até os saltos dos sapatos, enquanto as mangas podem se
estender até as pontas dos dedos.
Ele não deve baixar o seu sobretudo [O Talmude conta que os judeus andam no Shabat
com sobretudos longos, como vemos entre os judeus hassídicos. Rabinos e líderes rabínicos
também os usam durante a semana. Como naquela época era com muito pouca freqüência
que se adquiria uma roupa nova e nem sempre se podia ter um sobretudo longo especial
para o Shabat, a maioria usava-o dobrado até a cintura durante a semana e no dia de
Shabat e demais dias festivos desdobrava-o.] (sendo esta a marca da arrogância) exceto no
Shabat, se ele tiver outra muda de roupas.
No verão, não deve usar sapatos remendados, com remendos sobre remendos; mas no
inverno isto é permitido [Naquela época, como também até recentemente, durante o
inverno as ruas ficavam cheias de lama. Então, como se sujavam inevitavelmente, não fazia
diferença se os sapatos eram novos ou velhos.], se a pessoa for pobre.
Ele não deve ir às ruas com o seu corpo ou as vestimentas perfumados, nem deve aplicar
perfume em seu cabelo; mas untar o seu corpo com perfume a fim de remover exalação
desagradável é permitido.
Da mesma forma, ele não deve sair à noite sozinho, a não ser na hora habitual em que
tenha que comparecer a um curso de estudo.
O objetivo destas regras todas é resguardar alguém de suspeição. [A suspeição se refere às
coisas imorais. Hoje em dia é um pouco diferente, porque existe uma forte iluminação das
ruas das grandes cidades e o movimento noturno é bastante intenso, como o diurno.]
10. O erudito trata dos seus assuntos com correção e prudência; ele gasta em comida,
bebida e manutenção do seu lar, segundo a sua renda e estado de suas finanças.
Ele não se submeterá a riscos excessivos.
Os sábios recomendaram em suas regras para o bem viver que um homem não deve comer
carne, a menos que anseie por ela, como está escrito: "Porque a tua alma deseja comer
carne" (Dt 12:20).
Para um indivíduo sadio é o suficiente comer carne uma vez por semana, na véspera do
Shabat.
Mas se a pessoa é bastante rica para comer carne todos os dias [Rico aqui se refere ao que
tem tranqüilidade íntima.], ela pode assim agir.
Os sábios avisaram que uma pessoa deve comer menos do que possa gastar, vestir-se
segundo os seus meios e como convier ao seu estado de vida e gastar com a sua esposa e
filhos mais do que pode arcar, a fim de lhes assegurar respeito.
11. O bom senso é que um homem escolha primeiro uma ocupação que lhe dará um meio
de vida, e então comprará uma casa para si; e após isto, procurará uma esposa, como está
escrito: "E qual é o homem que plantou um vinhedo e não o redimiu?... Qual é o homem
que construiu tuna casa nova e não a dedicou?... E qual é o homem que noivou com uma
mulher e não se casou?..." (Dt 20:6,5,7). [O conteúdo deste parágrafo só era praticado na
época em que a educação e a formação do judeu era integral, isto é, quando o menino
judeu chegava aos quinze anos, já era bem versado em todos os 613 Preceitos, em todo o
Talmude, e em todos os Códigos de Leis; já era bem maduro e possuía uma formação
básica sólida, que não se influenciava pela vida material. Isto se dava principalmente
quando os judeus viviam em Israel, quando ainda existia o primeiro Beit Hamicdashe
(Templo). Mas, após essa época, gradualmente, de geração a geração, o jovem passou a
ser influenciado e afetado pela vida material. Oxalá cheguemos a uma época em que o
jovem judeu alcance maturidade e uma formação sólida na idade de trinta anos. Primeiro,
até o casamento, deve-se estudar a Torá, e, depois do casamento, continuar a estudar por
um ou dois anos, e só então começar a procurar trabalho para o seu sustento. Até este
momento, é sustentado pelos pais, dele e dela. Portanto, até chegar a idade de se casar, o
moço estuda a Torá para ter um conhecimento e uma base os mais profundos que ele puder
alcançar. E como nós nos comportamos desta maneira para não chegarmos à assimilação,
então temos certeza no Onipotente de que o jovem fará tudo para ter um bom meio de
vida, mesmo que este não seja o caminho normal. Na situação de hoje, é melhor vaguear
na Yeshiva do que ir trabalhar, antes de se casar, exceto em certos casos.]
Mas os tolos primeiro se casam; então, se alguém desta espécie puder arcar, compra uma
casa; e, por último, já no fim da vida, ele parte buscando um comércio ou vive de caridade.
Assim está escrito nas "Maldições", "com uma mulher tu te noivarás... uma casa tu
construirás... um vinhedo tu plantarás" (Dt 28:30), isto é, todas as tuas atividades se darão
na ordem inversa da que deveria ser, de modo que não prosperarás em teus caminhos. E
nas "Bênçãos", diz o texto das Escrituras: "E Davi teve sucessos em todos os seus
caminhos, e o Senhor estava com ele" (I Sm 18:14). [Sobre as "Bênçãos" e as "Maldições",
ler em Deuteronômio os capítulos 27 e 28.]
12. É proibido a alguém declarar todas as suas propriedades como devolutas ou dedicá-las
ao santuário para que assim se tornem uma responsabilidade pública. Não se deve vender
um terreno e comprar uma casa com o dinheiro apurado, ou vender uma casa para comprar
móveis, ou para usar o dinheiro em comércio; pode-se, no entanto, vender móveis para
comprar um campo.
Resumindo, é dever de todo indivíduo empregar o seu capital prosperamente, convertendo
o perecível em durável; e não se deve sucumbir a um pequeno prazer por um dado
momento, ou ganhar um pouco de alegria a troco de uma grande perda.
13. O erudito conduz os seus assuntos mercantis honestamente e com boa fé.
O seu não é não; o seu sim é sim.
Em sua responsabilidade, ele é estrito.
Ao mesmo tempo, ao comprar, ele é liberal e não motiva barganha acirrada.
Ele paga prontamente por suas compras, e evita agir como um fiador ou depositário; nem
ele aceitará um poder de procurador.
Nos assuntos comerciais, ele reconhece a responsabilidade até mesmo quando a lei não o
declara responsável, sendo o seu princípio manter a sua palavra e não mudá-la.
Se os outros são julgados responsáveis perante ele, ele deve ter consideração, e até mesmo
lhes perdoar a soma devida.
Ele concede empréstimos benevolentes e faz favores.
Ele não invadirá os negócios de um outro homem, e durante toda a sua vida não angustiará
um ser humano.
Em suma, ele pertence à classe daqueles que são perseguidos, mas não perseguem, que
são vilipendiados mas não vilipendiam.
Um homem que age assim é laureado no texto das Escrituras: "E Ele disse a mim: tu és
Meu servo, Israel, a quem Eu glorifico" (Is 49:3).

Capítulo VI
1. É natural ser influenciado em sentimentos e conduta pelo seu vizinho e associados, e
absorver os costumes dos cidadãos seus contemporâneos.
Daí, uma pessoa deve constantemente se associar com os virtuosos e freqüentar a
companhia dos sábios, de modo a aprender de suas práticas, e evitar os maus, que são
ignorantes, para não se corromper pelo seu exemplo.
Assim disse Salomão: "Aquele que caminhar com os sábios deverá ser sábio; mas os
companheiros de um tolo se contorcerão por isto" (Pv 13:20).
E também está escrito: "Feliz é o homem que não seguiu os maus" (S11:1). Assim também,
se o indivíduo vive em um país onde os costumes são perniciosos e os habitantes não
procedem de maneira correta, ele deve partir para um lugar onde as pessoas sejam
virtuosas e sigam os hábitos dos bons.
Se todos os países que ele conheça pessoalmente ou de que tenha ouvido falar seguirem
um curso não correto — como é o caso nos nossos tempos — ou se as campanhas militares
ou a doença o impedirem de partir para um país de bons costumes, ele deve viver só, em
reclusão, como está escrito: "Deixe que se sente só e mantenha o silêncio" (Lm 3:28).
E se os habitantes forem tão depravadamente cruéis que não o deixem ficar no país, a
menos que se misture com eles e adote suas práticas más, ele deve se retirar para as
cavernas, bosques cerrados ou desertos, e nunca se habituar aos modos dos pecadores,
como está escrito: "Oxalá eu estivesse no deserto como local de recolhimento para os
viajantes" (Jr 9:1).
2. É um preceito positivo apegar-se aos sábios e seus discípulos, de modo a aprender o seu
exemplo, como está escrito: "E até a Ele tu te apegarás" (Dt 10:20).
Pode um ser humano unir-se ao Onipotente?
Os sábios explicaram este texto assim: "Vincule-se aos sábios e aos seus discípulos". [O
erudito e seus discípulos aqui se referem ao que está explicado anteriormente nas Leis dos
Fundamentos da Torá, cap. 7, art. 12 em diante; como está expresso lá, o sábio assemelha-
se a um anjo pelo seu comportamento. Então, conseqüentemente, a vida deste homem, a
sua mentalidade, sentimentos, fala e ação expressam a Divindade. Quando se está perto
desse sábio, em sua companhia, servindo-o, vendo e ouvindo o que ele faz e fala
rotineiramente e ouvindo os seus discursos, palestras e aulas sobre a Torá e os
Mandamentos, se receberá a iluminação da Divindade expressa por esse sábio. É claro que
há níveis diferentes tanto para o sábio como para o que recebe, dependendo da preparação
e do esforço.]
Conseqüentemente, um homem esforçar-se-á para ganhar a filha de um erudito como
esposa, e deve dar a sua filha em casamento a um erudito.
Ele deve comer e beber em companhia de eruditos; dar-lhes oportunidade de fazer negócios
e cultivar a sua sociedade em toda relação, como está escrito: "E unir-se com Ele" (Dt
11:22).
Da mesma forma, os sábios expressaram: "Sentem-se à poeira de seus pés e bebam as
suas palavras com sede" (Ética dos Pais, 1:4).
3. É dever de todos amar cada indivíduo judeu como a si mesmo, como está escrito: "Tu
amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19:18).
Portanto, uma pessoa deve falar em louvor do seu próximo e ter cuidado com a propriedade
de seu amigo, da mesma forma que tem cuidado com a sua própria e que preza a sua
própria honra.
Todo aquele que se glorificar humilhando outras pessoas, não terá parcela no mundo
vindouro.
4. Amar o prosélito que vem refugiar-se no Judaísmo é cumprimento de dois preceitos
positivos.
Primeiro, porque ele está incluído entre os próximos (Lv 19:18).
E segundo, porque ele é um convertido, e a Torá disse: "Ama, sim, portanto, o convertido"
(Dt 10:19).
O Eterno nos incumbiu com relação ao prosélito, da mesma forma que nos incumbiu em
relação ao amor por Ele, como está escrito: "Tu amarás o Senhor, teu D..S" (Dt 11:1).
O Sagrado, seja Ele abençoado, ama os convertidos, como está escrito: "E Ele amou o
prosélito" (Dt 10:18).
5. Todo aquele que guardar em seu coração ódio por algum judeu transgride urna proibição,
como está escrito: "Tu não odiarás o teu irmão em teu coração" (Lv 19:17).
A violação deste preceito, porém, não é punida com chicotadas, já que nenhum ato aberto
está envolvido.
A Torá, neste texto, apenas alertou contra o ódio no coração; alguém que fira ou injurie o
seu amigo, embora não lhe seja permitido assim agir, não estará infringindo o preceito "Tu
não odiarás o teu irmão".
6. Quando um homem peca contra o outro, a parte injuriada não deve odiar o ofensor e
nem manter-se em silêncio, como está escrito em relação aos maus: "E Absalão não disse a
Amnon nem bem, nem mal, pois Absalão odiava Amnon" (2 Sm 13:22).
Mas é seu dever informar ao ofensor e dizer-lhe "Por que me fizeste isto? Por que pecaste
contra mim neste aspecto?"
Assim está escrito: "Tu certamente repreenderás o teu próximo" (Lv 19:17).
Se o ofensor se arrepender e pleitear perdão, ele deve ser perdoado.
O que perdoa não será inflexível, como está escrito: "E Abraão orou a D..S " (Gn 20:17).
7. Quando for observado que o próximo comete um pecado ou procede de um modo
incorreto, é um dever trazê-lo à trilha certa e alertá-lo sobre estar cometendo uma ação
errada, como está escrito: "Tu certamente repreenderás o teu vizinho" (Lv 19:17).
Uma pessoa que admoestar o próximo, quer por pecado contra ela própria ou por pecados
contra o Eterno, deverá ministrar a repreensão em particular, falando ao pecador gentil e
calmamente, e assinalando que está falando pelo bem do próprio pecador, para assegurar-
lhe a vida no mundo vindouro.
Se o pecador não aceitar a censura, deve ser repreendido uma segunda e uma terceira vez,
e assim se deve continuar a admoestá-lo até que o pecador diga: "Eu me recuso a escutar."
Aquele que estiver em posição de advertir alguém por um ato errado e não agir assim,
acabará sendo apanhado cometendo o mesmo erro porque não censurou quando podia.
8. Aquele que repreende outrem não deve falar asperamente de modo a envergonhar o
pecador, como está escrito: "E tu não levarás sobre ele o pecado" (Lv 19:17).
Os rabinos explicaram este texto da seguinte maneira: "É possível adverti-lo de modo que o
seu rosto mude de cor?"
Por isto está escrito: "E tu não levarás sobre ele o pecado."
Daí a inferência de que é proibido constranger um judeu, especialmente em público.
Embora aquele que humilha outrem não seja punido com chicotadas, este é ainda um sério
pecado.
Assim disseram os sábios: "Aquele que humilhar seu próximo em público não terá parte no
mundo vindouro."
O indivíduo deve, portanto, não vexar publicamente alguém, seja criança ou idoso.
Uma pessoa não deve chamar alguém por um nome que o faça sentir-se envergonhado,
nem mencionar qualquer coisa em sua presença que lhe traga humilhação.
Isto se aplica aos mandamentos entre o homem e o seu próximo; mas em relação aos
deveres para com o Eterno, se um indivíduo, após ter sido repreendido em particular, não
se arrepender, ele deve ser envergonhado em público; o seu pecado deve ser declarado
abertamente; ele deve ser injuriado, afrontado e amaldiçoado até que retorne ao caminho
certo.
Este foi o método seguido por todos os profetas de Israel.
9. Por outro lado, se alguém que foi injustiçado por alguém não quiser repreender o pecador
por ser este uma pessoa vulgar ou mentalmente confusa, e se o perdoou sinceramente,
sem qualquer rancor, estará agindo segundo o padrão dos devotos.
A Torá condena somente o guardar rancor.
10. Um homem deve ser especialmente cuidadoso com o seu comportamento em relação às
viúvas e aos órfãos, pois as suas almas estão excessivamente deprimidas e seu moral muito
baixo.
Mesmo que eles sejam ricos, como a viúva e os órfãos de um rei, estamos especialmente
ordenados com relação a eles, como está escrito: "Tu não afligirás qualquer viúva ou órfão"
(Êx 22:21).
Como devemos nos comportar em relação a eles?
Não se lhes deve falar senão carinhosamente.
Deve-se-lhes demonstrar honradez invariável; nunca magoá-los fisicamente com trabalhos
árduos, ou ferir-lhes os sentimentos com fala severa.
Deve-se ter um cuidado maior com a propriedade deles do que com a própria. Todo aquele
que os irritar, causar-lhes raiva, dor, tiranizá-los ou causar-lhes perda de dinheiro, é
culpado de uma transgressão, e é ainda mais se lhes surrar ou amaldiçoar.
Embora nenhuma chicotada seja imposta por esta transgressão, a sua punição está
explicitamente apresentada na Torá: "Minha ira será terrível e Eu te matarei com a espada"
(Êx 22:23).
Aquele-que-falou-e-se-formou-o-mundo fez um acordo com as viúvas e órfãos de que,
quando gritarem por causa de violência, serão respondidos; está escrito: "Se os afligirdes e
se clamarem a Mim, Eu certamente ouvirei o seu clamor" (Êx 22:22).
Isto só se aplica em relação aos assuntos seculares.
Se um professor punir um órfão a fim de lhe ensinar a Torá ou um ofício, ou para conduzi-lo
ao caminho certo — isto é permitido.
Ainda assim, o professor não deve tratá-lo como os outros, mas, fazer uma distinção em
seu favor.
Ele deve guiá-lo gentilmente, com a máxima delicadeza e cortesia, como está escrito: "Pois
o Senhor amparará a sua causa" (Pv 22:23).
Até que idade devem eles ser considerados como órfãos?
Até que atinjam a idade em que não mais precisem de um adulto para treiná-los e para
cuidar deles, e quando cada um deles puder obter tudo o que quiser, como as outras
pessoas adultas.
Capítulo VII
1. Quem quer que faça intrigas sobre outra pessoa viola uma proibição, como está escrito:
"Tu não andarás alcovitando entre o teu povo" (Lv 19:16).
E embora nenhuma chicotada seja inflingida, é um grave pecado que leva à morte muitas
almas judias.
Portanto, este preceito é seguido imediatamente pela sentença: "Nem permanecerás
impassível diante do sangue de teu próximo" (Lv 19:16).
Como exemplo da conse-qüência trágica desta transgressão, leia-se o que aconteceu após o
relato de Doeg sobre os sacerdotes de Nob (I Sm 22:6-19).
2. O que é um alcoviteiro?
Aquele que leva e traz relatos e vai de uma pessoa para outra dizendo: "fulano de tal disse
isto"; "tal e tal declaração eu ouvi sobre este e aquele".
Mesmo se o que ele diz e repete for verdade, o alcoviteiro arruína o mundo.
Há um pecado ainda mais sério, que está contido nesta proibição: é a "língua ferina".
Significa falar mal de alguém, mesmo que aquilo que se diz seja verdade; já aquele que
divulga uma falsidade é chamado difamador.
Uma pessoa com a língua ferina é aquela que diz: "Aquela pessoa fez tal coisa"; "os
ancestrais de fulano eram assim e assim"; "Eu ouvi isto sobre ele", fomentando assim o
escândalo.
De tal pessoa diz a Escritura: "Possa o Senhor eliminar os lisonjeadores, a língua que fala
coisas exageradas" (S112:4).
3. Os sábios dizem: "Há três pecados pelos quais o indivíduo é punido neste mundo e perde
a sua parte no mundo vindouro: a idolatria, relações sexuais proibidas e assassínio; mas a
língua ferina é igual a todos os três tomados conjuntamente".
Os sábios disseram: "Praticar a língua ferina é como negar o princípio de que o Onipotente
existe," como está escrito: "Eles dizem: 'com nossa língua nós nos faremos poderosos,
nossos lábios estão conosco, quem é o Senhor acima de nós?'" (Sl 12:5).
Os sábios também disseram: "A língua ferina prejudica três pessoas: o que fala, o receptor
e aquele de quem se fala; e o receptor será punido de forma pior que o falador."
4. Há modos de falar que podem ser classificados como "poeira da língua ferina. Tais
observações são do tipo: "Quem pensaria de fulano que ele estaria como está agora", ou
"mantenha silêncio sobre fulano; não quero contar o que aconteceu", etc. Falar em favor de
uma pessoa na presença de seus inimigos sugere a língua ferina, pois isto fará com que
falem mal dela.
Referindo-se a isto, disse Salomão: "Abençoar um amigo em voz alta pela manhã será
considerado como uma maldição" (Pv 27:14).
Igualmente, tal é o caso de alguém que fala mal de outrem debochada e frivolamente, sem
ódio.
Sobre isso Salomão, em sua sabedoria, disse: "Como alguém que debochadamente lançou
tições, setas e a morte disse: — não estou zombando?" (Pv 26:18, 19).
É da mesma forma repreensível alguém que tolera certo tipo de fala se fazendo de ingênuo,
isto é, fala, por assim dizer, aparentando inocência, como se não tivesse consciência de que
aquilo que diz é uma emissão do mal, e quando admoestado, responde, "Eu não sabia que
isto é fala ferina ou que tal é a conduta de fulano".
5. Quando alguém permite que se fale mal sobre uma pessoa em sua presença, ou em sua
ausência, ou que se façam declarações que, se repetidas, tenderiam a prejudicar
(fisicamente ou financeiramente), angustiar ou alarmar esta pessoa, esse alguém estará
praticando a língua ferina.
Se uma declaração deste caráter foi feita na presença de três pessoas, é considerada como
pública; se uma das três partes a repete, ela não é considerada culpada de língua ferina,
uma vez que não teve intenção de dar à história uma fluência mais ampla.
6. Todas as pessoas deste tipo são espalhadores de escândalo, em cuja vizinhança é
proibido residir; e ainda mais, é proibido cultivar a sua amizade e mesmo ouvi-los.
A sentença emitida contra nossos antepassados no deserto foi confirmada apenas porque
eram culpados do pecado de língua ferina.
7. Aquele que se vinga viola uma proibição, como está escrito: "Tu não te vingarás" (Lv
19:18).
E, embora ele não seja punido com chicotadas, ainda assim tal conduta indica uma
disposição extremamente má.
O indivíduo deve, ao invés de se vingar, esquecer o mal que lhe fizeram, pois o inteligente
percebe que estas coisas são vãs, e que não é digna uma vingança.
O que é "vingar-se"?
Um vizinho diz a alguém: "Empresta-me o teu machado", e este responde: "Eu não lho
emprestarei."
No dia seguinte, o segundo precisa de um favor idêntico, e diz: "Empresta-me o teu
machado" e recebe a resposta: "Eu não o emprestarei a ti, pois não me emprestaste o teu
quando eu o pedi".
Qualquer um que agir assim estará se vingando.
Quando o mau vizinho vier tomar emprestado alguma coisa, deve-se dar a ele
prazeirosamente o que foi pedido, e não pagar descortesia com descortesia.
Assim Davi, exprimindo os seus excelentes sentimentos, disse: "Se eu retribuir aquele mal
que me foi feito, ou saquear o meu adversário..." (S17:5).
8. Da mesma forma, alguém que guarda rancor de um judeu viola uma proibição, como
está escrito: "Tu não guardarás rancor contra o teu povo" (Lv 19:18).
Por exemplo: um vizinho diz a alguém: "aluga-me esta casa", ou "empresta-me o teu boi",
e tal pedido lhe é negado, e depois de algum tempo o segundo pede ao primeiro que lhe
alugue ou empreste algo, e o primeiro responde: "aceito alugar ou emprestar, pois não
pagarei na mesma moeda o que você me fez"; quem age assim está guardando rancor.
O procedimento correto é alugar ou emprestar e esquecer completamente o rancor, pois
enquanto o indivíduo acalenta um ressentimento e o mantém em sua mente, ele pode vir a
se vingar.
A Torá, conseqüentemente, nos avisa enfaticamente para não guardarmos rancor, de forma
que o erro seja erradicado e não mais lembrado.
Este é o princípio correto, que torna possível a vida civilizada e o convívio social. Abençoado
seja o Eterno que nos ajudou.

Continua
Mishné Torá – Parte 6

Leis Sobre o Estudo da Tora

Compreendem dois preceitos positivos:


1) estudar a Torá;
2) honrar os mestres e aqueles que nela são versados.

Capítulo I
1. Mulheres, escravos e crianças estão isentos da obrigação de estudar a Torá.
[Exceto quanto aos Mandamentos que são obrigatórios, os quais são obrigados a estudá-los
para saber como cumpri-los. O estudo da Torá tem dois níveis: o primeiro visa a saber
praticá-la, e, neste caso, o estudo é um meio e o objetivo é o cumprimento. O segundo
preconiza o estudo da Torá em si mesmo, isto é, o estudo é o seu próprio fim e objetivo,
como qualquer outro mandamento. Então as mulheres, escravos e crianças somente têm a
obrigação do primeiro nível, para estudar as leis que precisam saber na prática. Mas os
homens, a partir dos treze anos de idade, são obrigados a estudar não somente no primeiro
nível, mas também no segundo; com isto, estudam como cumprir as leis, meditando e
ponderando sobre todas as partes da Torá.]
Mas é um dever do pai ensinar a seu filho a Torá [É obrigação do pai ensinar a Torá ao filho
nos dois níveis; a Torá enfatiza mais esta obrigação do que a de acostumar a criança nos
outros mandamentos.], como está escrito: "E tu ensinarás às tuas crianças, falando delas"
(Dt 11:19).
Uma mulher não tem a obrigação de ensinar a seu filho, já que apenas aquele cuja tarefa é
aprender tem atarefa de ensinar. Todavia, os decretos dos sábios impuseram à mulher a
obrigação de ensinar ao filho, através da contratação de um professor ou do envio à
escola.]
2. Assim como é dever de um homem ensinar ao seu filho, também é sua tarefa ensinar ao
neto, como está escrito: "Faze com que saibam até os teus filhos e os filhos dos teus filhos"
(Dt 4:9).
Esta obrigação deve ser cumprida não apenas com relação a um filho e um neto; este dever
repousa sobre todo judeu: ensinar a todos os discípulos, mesmo que estes não sejam seus
filhos, como está escrito: "tu ensinarás diligentemente aos teus filhos" (Dt 6:7).
Pela tradicional autoridade, o termo "teus filhos" inclui os discípulos, pois os discípulos
também são chamados de "filhos", como está escrito: "E os filhos dos profetas surgiram" (II
Rs 2:3).
Sendo assim, por que o preceito [Com relação à instrução.] menciona especificamente (Dt
4:9) o filho de um homem e o filho de um filho?
Para imprimir sobre nós a idéia de que o filho deve receber instrução antes de um neto, e
um neto antes do filho de um outro homem.
3. Um pai [Isto é, um pai que não pode ensinar ao seu filho.] tem a obrigação de pagar um
professor para o filho.
Mas ao ensinar ao filho de outrem, deve fazê-lo de graça. [Mas se o professor não tiver
outro meio de sustento ou se perder horas de trabalho nesse ensino, então ele tem o direito
de cobrar o suficiente para o seu sustento médio. A razão de a princípio ele dever ensinar
de graça é expressa no Talmude em "como Eu ensinei a Torá e recupero uma pessoa da sua
doença gratuitamente, o mesmo tu deves fazer".]
Se o pai não teve o filho instruído, é dever deste último, tão logo perceba as suas
deficiências, adquirir conhecimento por si mesmo, como está escrito: "Que tu aprenderás e
observarás para que possas fazer" (Dt 5:1).
E assim também, você achará que o estudo tem a precedência sobre a prática, já que o
estudo gera a prática, mas a prática não leva ao estudo.
4. Se um homem precisa aprender a Torá e tem um filho que necessita de instrução, ele
tem prioridade.
Mas se o seu filho tem melhor capacidade para aprender, então a educação do filho toma a
precedência.
Ainda assim, neste caso, o pai não deve negligenciar totalmente o estudo da Torá, pois,
assim como cabe a ele instruir o seu filho, ele tem também a obrigação de obter instrução
para si mesmo.
5. Um homem deve sempre primeiro estudar a Torá e então se casar, pois, se tomar uma
esposa primeiro, a sua mente não estará livre para o estudo.
Mas se os seus desejos físicos são tão poderosos de modo a preocupar a sua mente, ele
deve se casar e então estudar a Tora. [O jovem pode adiar o casamento, por causa do
estudo da Torá, até os 24 anos de idade.]
6. Quando um pai deve começar a instrução de seu filho na Torá?
Tão logo a criança comece a falar, o pai deve ensinar-lhe o texto: "Moisés nos ordenou a
lei" (Dt 33:4) e o primeiro verso da Shemá (Dt 6:4) [Semá Israel, Ado-nai Elohe-inu, Ado-
nai Ehad: Ouve, Israel, o Senhor é nosso D..S, o Senhor é Uno.].
Mais tarde, segundo a capacidade da criança, o pai deve ensinar-lhe alguns versos de cada
vez, até que ela atinja a idade de seis ou sete anos.
Então, dependendo da saúde da criança, ela deverá ser levada a um professor de crianças.
[Baseados neste conceito, os sábios fizeram o currículo tradicional da educação judaica
ortodoxa, que é o seguinte: Para meninos: Com três anos de idade seu cabelo é cortado,
conservando-se as peiot (cachos de fronte); durante a festa, toma-se um bolo onde está
escrito com mel o versículo "Torá Tzivá lânu Moshá" (Dt 33:4) e a criança lambe esse
versículo, diz-se-lhe que a Torá é doce. Depois, jogam-se para ele balas, e diz-se-lhe que o
Profeta Elias lhe está dando as balas; a seguir, envolve-se a criança com o talit, de modo a
que ela não possa ver nada das coisas impuras e então ela é levada ao professor. O
professor, então, começa a ensinar à criança o álef-bet (abecedário hebraico) e o ensino é
realizado da seguinte forma:
Toma-se um quadro com as letras do alfabeto hebraico e os "pontinhos" (vogais), e o
professor mostra à criança o nome de cada letra. No primeiro dia ele apresenta uma ou
duas letras; gradativamente, em cada aula vai aumentando o número de letras, até a
última. O tempo de duração depende da capacidade e do entusiasmo da criança. Depois,
quando a criança está já acostumada com as letras, o professor mostra-lhe os "pontinhos";
quando ela já tiver assimilado as vogais, então o professor mostra à criança como juntar as
letras e os "pontinhos", dizendo-lhe que, quando se une tal letra com tal "pontinho" se
pronuncia de tal forma. E assim por diante; a criança vai se acostumando às letras e aos
"pontinhos", e à sua pronúncia. Desta forma, sem quadro-negro, sem desenhos, a maioria
das crianças aprenderá o álef-bet dentro de seis meses, no máximo, até a idade de quatro
anos. Depois, induz-se a criança a ler palavras no Sidur (Livro de Orações), e frases
(também no Sidur); assim, até a idade de seis anos a criança já está acostumada a ler.
Paralelamente a criança é estimulada a praticar certas leis e transmite-se a ela um pouco da
história dos Patriarcas, de Abraão e do povo judeu, o Shabat e os dias festivos. Assim se
procede até a idade de seis anos.
A partir daí, começa-se o estudo propriamente dito, que é o seguinte: O professor dá o
Humashe (o Pentateuco) à criança e começa pelo Bereshit (Gênese), lendo-o desde o início,
frase por frase, explicando o conteúdo de cada três ou quatro palavras, e logo em seguida
pede a um aluno, escolhido por sorteio, para repetir a frase com a explicação (a explicação
do professor é sempre superficial). No primeiro dia, o aluno somente consegue aprender
dois ou três versículos, e progride assim até que se acostume. Gradativamente vai-se
ministrando um número maior de versículos e de páginas, por aproximadamente um ano,
até que a criança aprenda uma parte do Humashe, e ao mesmo tempo o professor amplia
um pouco mais o conhecimento da criança sobre as Parashot ha-Shavua (trechos bíblicos
que são lidos a cada sábado na Sinagoga), e sobre as leis judaicas. No segundo ano, o
professor parte outra vez do início do Humashe, ensinando-o junto com o Rashi (o famoso
comentário do início do século XII); quando a criança está acostumada também com o
comentário de Rashi, o que demora aproximadamente de seis a oito semanas, então o
professor lhe ensina o Humashe do início em diante até o fim do ano. No terceiro ano, o
professor continua a expor o Humashe a partir do ponto onde parou no ano anterior, e
assim até terminar os Cinco Livros de Moisés chegando a iniciar o Livro de Josué. Já no
terceiro ano, o professor começa a ensinar ao aluno a Mishná, sempre gradativamente
ampliando o conhecimento da criança sobre as Parashot Ha-Shavua, sobre as lei judaicas e
sobre como praticá-las. No quarto ano„ o professor dá mais ênfase à Mishná e diminui o
tempo do Humashe. Também ensina um pouco do livro chamado Kitsur Shulchan Aruch
(síntese das leis judaicas). No quinto ano, leciona-se um pouco do Talmude, da Mishná, do
Humashe e do Kitsur. No sexto ano é dada maior ênfase ao Talmude e o aluno começa a
estudar o próprio Shulchan Aruch. No sétimo ano, o aluno estuda majoritariamente o
Talmude, um pouco do Shulchan Aruch, as Parashot Ha-Shavua e um pouco dos Profetas e
das Escrituras, que são também ensinadas no sexto ano. A partir do oitavo ano, o aluno
começa a estudar sozinho com um amigo o Talmude, e as Parashot Ha-Shavua, e o
professor passa a dar somente uma aula diária de hora ou hora e meia de duração sobre o
Talmude e sobre os livros que ensinam o pensamento e a conduta judaicos.
Gradativamente, vai diminuindo o número de aulas convencionais: passa sucessivamente a
três vezes por semana, duas e depois uma vez por semana, visando a que o aluno se
esforce em ampliar por si próprio o seu conhecimento e a sua disciplina.
O professor passa a somente intervir nas dificuldades, dedicando-se mais a explanar as
profundidades da Torá. A partir dos quinze anos, todos os alunos, de diferentes idades,
passam a reunir-se num único salão grande. Quando a aula do professor acontece uma vez
por semana, o mestre a ministra nesse salão grande a todos. Quando o curso do professor é
de duas aulas por semanas, a aula é dada em outra sala menor para o respectivo grupo.
Para as meninas: O ensinamento, desde que a menina começa a falar até o segundo ano, é
igual ao dos meninos.
A partir de então, gradativamente, se lhes ensina o Humashe e os Profetas, as Escrituras
com o Rashi e outros Comentários, como também as leis judaicas, sua prática e o
pensamento e conduta judaicos. Desta forma, vão sendo aprofundados gradativamente os
conhecimentos, até terminar o seminário. Observações: 1) O sistema educativo judaico dá
ênfase a acostumar a criança a usar o raciocínio, principalmente os meninos; 2) Não se
ensina às meninas o Talmude, mas somente os 613 Mandamentos e o Código de leis em
sínteses, o que é feito através de livros e escolas separadas; 3) Não se usa quadro-negro, e
o aluno necessita somente, em todo o ano letivo, de três ou quatro livros, sem precisar
escrever; 4) No segundo e terceiro anos, tanto para os meninos quanto para as meninas,
ensina-se a escrita.]
7. Se for costume do país que o professor de crianças receba remuneração, o pai deve
pagar os honorários, e é seu dever ter o seu filho instruído, mesmo que tenha que pagar
pela instrução, até que a criança tenha se submetido à íntegra da Lei Escrita.
Onde é costume cobrar um honorário para ensinar a Lei Escrita, é permissível aceitar
pagamento por tal instrução.
Porém, é proibido ensinar a Lei Oral por pagamento, pois está escrito: "Vede, eu vos ensinei
os Estatutos e as Leis, como o Senhor meu D.. S me ordenou" (Dt 4:5).
Isto significa: "Assim como eu [Isto é, Moisés.] aprendi do Eterno gratuitamente, assim
aprendas tu de mim, de graça. E através de todas as gerações, sempre que vós ensinardes,
fazei-o gratuitamente, assim como aprendestes de mim."
Se uma pessoa não puder achar alguém disposto a instruí-la sem remuneração, ela deve
contratar um professor pago, como está escrito: "A verdade compra-se" (Pv 23:23).
Não se deve supor, porém, que seja permissível aceitar pagamento para ensinar: "E não a
venda", sendo a inferência a de que mesmo quando um homem for obrigado a pagar pela
instrução [Na Lei Oral.] ele estará proibido de cobrar, por sua vez, para ensinar.
8. Todo judeu tem a obrigação de estudar a Torá, seja pobre ou rico, sadio ou doente, no
vigor da juventude ou muito idoso e frágil.
Até mesmo um homem tão pobre que seja mantido pela caridade, ou que vá pedir de porta
em porta, ou ainda um homem com esposa e filhos para sustentar, todos têm a obrigação
de reservar um período definido durante o dia e durante a noite para o estudo da Torá [Por
isto é costume que de manhã, após a reza, se estude dentro do tempo disponível, antes de
se ir ao trabalho, e ao entardecer, antes das orações da tarde, ou entre estas e as da noite
ou após as orações noturnas, ou ainda quando se chega do trabalho mais tarde, à noite; é
preferível estudar na sinagoga e um pouco em casa.], como está escrito: "Mas tu meditarás
sobre isto dia e noite" (Josué 1:8).
9. Dentre os grandes Sábios de Israel, alguns eram cortadores de madeira, alguns
carregadores de água, enquanto outros eram cegos.
Apesar disso, eles se dedicaram dia e noite ao estudo da Torá.
Eles estão incluídos entre os transmissores da Tradição na linha direta de Moisés. 10. Até
que período da vida deve a pessoa estudar a Torá?
Até o dia da sua morte, como está escrito: "E para que ela [a Torá] não seja removida de
teu coração em todos os dias de tua vida" (Dt 4:9).
Quando se pára de estudar, esquece-se.
11. O tempo atribuído ao estudo deve ser dividido em três partes.
Um terço deve ser dedicado à Lei Escrita [A Lei Escrita significa os 24 Livros Sagrados do
Tanah.], um terço à Lei Oral [Lei Oral significa, traduzindo-se em poucas palavras, a
Mishná, os Talmudes Babilônico e de Jesusalém, Maimônides, Tur, Shulchan Aruch e o
Midrashe.] e o último terço deve ser gasto em reflexão, aferindo-se conclusões sobre pontos
de vista, desenvolvendo implicações a partir das declarações, comparando os ditos,
estudando os princípios hermenêuticos pelos quais a Torá é jurisprudenciada, até que se
saiba a essência destes princípios, e até que se saiba como deduzir o que é permitido e o
que é proibido daquilo que se aprendeu tradicionalmente.
Isto é denominado de Talmude. [Os Talmudes são dois: o da Babilônia e o de Jerusalém.
Ambos são compostos pela Mishná e mais a Guemará. A Mishná é igual em ambos (redigida
em hebraico clássico ou mishnaico), enquanto a Guemará é diferente num e noutro, uma
redigida pela Academia de Éretz Israel (até o século VI ) — é a Guemará Palestina; a outra
foi redigida pelas Academias Babilônicas (até o século X) — é a Guemará Babilônica. As
Guemarás são redigidas em aramaico, com ligeiras diferenças: a Guemará Palestina no
aramaico ocidental e a Guemará Babilônica no aramaico oriental.]
12. Por exemplo, se o indivíduo é um artesão que trabalha em seu ofício três horas
diariamente e dedica nove horas ao estudo da Torá, ele deve passar três destas nove horas
no estudo da Lei Escrita, três no estudo da Lei Oral e as três restantes na reflexão de como
deduzir uma lei a partir de outra.
Os conceitos que foram transmitidos oralmente de geração em geração [Como certas partes
da Cabala e outras.] estão compreendidos na Lei Escrita, enquanto a sua explicação recai
na categoria de Lei Oral.
Os assuntos denominados Pardês estão incluídos no Talmude.
Este plano se aplica ao período em que se começa a aprender.
Mas, quando uma pessoa tiver se tornado proficiente e não mais necessitar aprender a Lei
Escrita, ou estiver continuamente ocupada com a Lei Oral, ela deverá, em ocasiões fixas, ler
a Lei Escrita, a Lei Oral e as jurisprudências, de forma a não esquecer das normas da Torá,
e deve dedicar todos os seus dias exclusivamente ao estudo do Talmude, segundo a sua
formação mental e maturidade de intelecto. [O princípio do conceito da aprendizagem,
como a Torá ensina, tem duas fases, meios e objetivos: As duas fases são: primeiro, ter um
vasto e sólido conhecimento dos preceitos e dos conceitos; e segunda é o esforço, o
raciocínio e a ampliação das profundezas. Traduzindo na prática, temos duas épocas: a
época em que somente a Lei Escrita estava contida num livro e a Lei Oral e o Talmude (que
é a terceira parte, como Maimônides explica aqui) eram transmitidos oralªente, isto é, na
época do Rabenu Hacadoshe — séc. XII. Naquela época, o ensino se dava da seguinte
forma: com cinco anos começava-se a aprender a Lei Escrita, que é a primeira parte;
encerrava-se o seu estudo aos dez anos de idade. A partir daí, até os quinze anos de idade,
estudava-se a segunda parte — a Lei Oral — e a partir dessa idade, o aluno dedicava-se
mais à terceira parte — o Talmude. Mas, a partir da época em que foi compilado o Talmude
Babilônico (esta obra é um conjunto da 1ª e da 2ª partes, reunindo também um pouco da
terceira parte), como toda a Lei Oral já estava contida em livros, em grande número, por
volta dos séculos VII e VIII, o sistema educacional começou a seguir uma pequena
modificação, que é o currículo explicado anteriormente. O princípio dos meios de
aprendizagem é ode não ensinar ao aluno de imediato todos os detalhes e profundidades de
cada lei ou de cada conceito, mas começar de maneira superficial, o que na prática significa
que se deve estudar primeiro, do começo ao fim, com uma exposição simples e superficial,
os livros da Lei Escrita ou pelo menos os Cinco Livros de Moisés; os livros da segunda parte
ou pelo menos um pouco da Mishná e do Talmude da Babilônia e do Shulchan Aruch.
Depois, relendo várias vezes, o aluno vai entrando nas profundezas e nos detalhes, nas
insinuações da Tora. O seu objetivo é meditar e conscientizar-se da Torá, suas leis, seus
conceitos e suas jurisprudências, o que se consegue através de dois meios, dependendo da
capacidade, da inclinação e da preferência de cada um. O primeiro meio é quantitativo, o
que significa que, quando o aluno tem na memória um vasto conhecimento, ele começa a
comparar conceitos de outros lugares escritos sobre o mesmo assunto, analisando-os de
vários ângulos, e através dessas comparações ele começa a ver onde há na aparência uma
contradição ou um apoio logístico, ponderando as diferenças até chegar à definição exata.
Este é um meio de esmiuçar o estudo até chegar ao seu objetivo; o outro é o que
chamamos de meio qualitativo, que significa que o aluno não tem um conhecimento tão
grande e vasto como o do primeiro caso, mas que começa por outro caminho, qual seja, as
críticas construtivas e afiadas em perguntas sobre o assunto e em seu esclarecimento. O
primeiro e o segundo caminhos chegam ao mesmo ponto, que é ter um vasto e sólido
conhecimento, alcançando o seu objetivo, sendo que um parte da quantidade de
conhecimentos e o segundo da qualidade de ser agudo. Estes dois caminhos são usados até
certo grau na segunda parte, mas principal-mente na terceira parte; o ideal é ter ao mesmo
tempo domínio sobre os dois.]
13. Uma mulher que estudar a Torá será recompensada, mas não ao modo idêntico ao de
um homem, pois o estudo não foi imposto a ela como um dever; alguém que realiza um ato
meritório não obrigatório não deve receber a mesma recompensa que alguém que tem a
incumbência e que cumpre um dever, mas sim uma recompensa menor. [A razão é a
seguinte: aquele que é obrigado persiste, mesmo quando há obstácu-los, mas aquele que
não é obrigado, quando encontra obstáculos que tomam muito difícil a tarefa, desiste, larga
a empresa no meio e não usa todo o esforço que lhe seria possível dispensar.]
E, não obstante ela dever ser recompensada, ainda assim os sábios nos alertaram de que
um homem não deve ensinar a Torá à sua filha, já que a maioria das mulheres não
possuem uma mente adequada para o seu estudo, e, devido às suas limitações,
transformarão as palavras da Torá em trivialidades.
Os sábios disseram: "Aquele que ensinar a Torá à sua filha — é como se ensinasse
vanidades." [O que inclui futilidade, insipidez, imputação e superstição.]
Esta escritura refere-se apenas à instrução na Lei Oral.
Com relação à Lei Escrita, ele não a deve ensinar a ela; mas, se o fez, isso não é
considerado como ensinar-lhe vanidades. [É costume ensinar a mulheres a Torá escrita, os
613 preceitos e as leis que elas precisam praticar, além do pensamento e conduta judaicos.
O objetivo desse estudo da Torá é fazer com que esta penetre a consciência do homem e o
transforme. Para se chegar a este ponto, deve-se estudar a Torá, principalmente a segunda
e terceira partes, de maneira imparcial; a fraqueza do ser humano é ser sempre parcial e
político e usar o estudo e o conhecimento em próprio proveito, independentemente do fato
de ser correto ou não fazê-lo. Uma fraqueza do ser humano é não admitir a verdade,
mesmo quando a reconhece, como vemos na vida diária. As mulheres são mais perspicazes
nos assuntos que envolvem coisas materiais, como em casa ou na cozinha, pois, no fundo,
isto tem a ver com o fato de serem sentimentais, aproveitadoras e céticas; esta natureza é
uma tendência mais comum nas mulheres do que nos homens. Tal conduta, que a Torá vê
na mulheres, se revela quando elas se inclinam mais rapidamente e mostram-se mais
apegadas à parcialidade do que os homens. Em conseqüência disso, é dificílimo para as
mulheres se superarem e serem imparciais, haja vista a jurisprudência da Torá, que diz que
para os homens é mais fácil. Por isso, a Torá dita que o estudo da Torá oral deve ser
ensinado aos homens e não às mulheres; se as mulheres se esforçarem para serem
totalmente imparciais, isto é ótimo, mas na realidade, durante todos os séculos, somente
algumas mulheres conseguiram chegar a este ponto. Esta é uma explicação. A segunda
explicação é que há duas maneiras de servir ao Eterno: uma, através da mente e do
intelecto, e outra, se conscientizar através de sentimentalismos. Nos homens, o dever se
expressa mais através da primeira maneira, nas mulheres, mais através da segunda
maneira. Mas cada um deve ter um pouco de cada, e às vezes a segunda maneira é mais
elevada que a primeira. Para se ter uma explicação mais ampla sobre isto, veja o livro
"Judaísmo: Visão do Universo", pág. 77.]

Capítulo II
1. Os professores de crianças devem ser nomeados em cada província, distrito e cidade.
Se uma cidade não fez provisão para a educação das crianças, seus habitantes são
colocados sob uma excomunhão, até que tais professores tenham sido mobilizados.
E se eles persistentemente negligenciarem este dever, a cidade é excomungada, pois o
Universo só é mantido pelo balbucio das crianças que estudam a Torá. [Sobre a frase "que o
universo só é mantido pelo balbucio das crianças que estudam a Torá" o Talmude menciona
que, diariamente, ao amanhecer, o Eterno vê que os homens e mulheres se levantam
pensando exclusivamente em seus afazeres tais como ginástica, trabalho, especialmente
idolatria, e outras atividades, esquecendo-se completamente de que primeiro é preciso
pedir, agradecer e louvar ao Eterno e se preocupar com as Suas atividades e só então se
envolver com a vida mundana. O Onipotente, então fica tão irritado que começa a ter forte
desejo de destruir o Universo; mas quando Ele vê e ouve os judeus rezando, estudando as
preces matinais e, principalmente, o balbucio das crianças judias, então Ele se acalma. A
virtude das crianças menores de doze ou treze anos de idade está em serem ingênuas,
puras e de não terem conhecimento do que é pecado. Entre os adultos também pode haver
tais virtudes, mas trata-se de uma minoria.]
2. As crianças devem ser mandadas à escola com a idade de seis ou sete anos [Antes dessa
idade, se ensina à criança certos assuntos, com já mencionamos, mas num ambiente não-
escolar.], segundo a força da criança em particular e seu desenvolvimento físico [Aqui pode-
se contar a idade de uma criança como tendo um ano já a partir do nascimento (como em
alguns países da Ásia), ou, como no Ocidente, completando um ano aos doze meses de
vida; tanto num caso como no outro, assim é contada a idade, continuamente], mas
nenhuma criança de menos de seis anos de idade deve ser mandada à escola.
O professor pode punir os seus alunos para inspirá-los pelo medo [Se não se punir o aluno
ou o filho para que ele tenha o espirito do medo, quando ele crescer tomar-se-á rebelde.],
mas ele não deve fazer isso de maneira brutal ou com espírito vingativo.
Conseqüentemente, ele não deve agredi-los com chicotes ou bastões, mas apenas utilizar
uma pequena correia.
Ele deve ensiná-los durante o dia inteiro e parte da noite, de modo a treiná-los a estudar de
dia e de noite.
Não deve haver folga, exceto na véspera do Shabat ou de outro festival, perto do fim do dia
ou nos festivais.
Nos sábados, aos alunos não é ensinada uma nova lição, mas eles repetem o que já
aprenderam anteriormente, mesmo que apenas urna vez.
Os alunos nunca devem ser interrompidos nos seus estudos, nem mesmo para a
reconstrução do Templo. [Como a pior coisa para o ser humano é a ociosidade, e como uma
criança ou um jovem não tem ainda a noção da responsabilidade e de não ser ocioso, o
Talmude ensina que, quanto menos dias de folga para as crianças, melhor.]
3. Um professor que deixar as crianças e sair, ou fizer outro trabalho enquanto estiver com
elas, ou ensinar indolentemente, submete-se à proibição "Amaldiçoado seja aquele que faz
o trabalho do Senhor com negligência" (Jr. 48:10).
Portanto, não é adequado nomear qualquer um como professor, a menos que seja temeroso
a D..S e bem versado em leitura e gramática.
4. Um homem solteiro não deve ensinar às crianças, porque as mães trazem os seus filhos
[A razão é para que não tenham pensamentos frívolos e para não chegarem a atos sexuais
banais. A desconsideração deste preceito só pode ocorrer em casos excepcionais.], nem
qualquer mulher deve ensiná-las, porque os pais vêm trazê-las. 5. Vinte e cinco crianças
podem ser colocadas sob a responsabilidade de um professor.
Se o número de alunos na sala de aula exceder a vinte cinco mas não for mais de quarenta,
ele deve ter um assistente para ajudá-lo com a instrução.
Se há mais de quarenta, dois professores devem ser nomeados.
6. Uma criança pode ser transferida de um professor para outro que seja mais competente
em leitura e gramática, apenas, porém, se o professor e o aluno viverem na mesma cidade
e não estejam separados por um rio.
Não devemos levar a criança à escola em outra cidade, nem através de um rio na mesma
cidade, a menos que seja atravessado por uma firme ponte, que não esteja para cair em
breve.
7. Se um dos residentes de uma alameda ou até mesmo de um átrio desejar abrir uma
escola, seus vizinhos não poderão evitá-lo.
Nem pode um professor, já estabelecido, opor-se a que um outro professor abra uma escola
a seu lado, seja para novos alunos, seja até mesmo com a intenção de retirar os alunos da
escola existente, pois está escrito: "O Senhor desejou, em consideração à Sua retidão, fazer
a Torá grande e gloriosa" (Is 42:21).

Capítulo III
1. Com três coroas foi o povo judeu coroado — com a coroa da Torá, com a coroa do
Sacerdócio e com a coroa da Realeza.
A coroa do Sacerdócio foi concedida a Aarão, como está escrito: "E será para ele e também
para os seus descendentes um pacto de Sacerdócio perpétuo" (Nm 25:13). A coroa da
Realeza foi conferida a Davi, como está escrito: "Sua semente durará para todo o sempre, e
o seu trono como o sol diante de Mim" (Sl 89:37).
A coroa da Torá, porém, é para todo judeu, como está escrito: "A Torá que Moisés nos
ordenou é uma herança da congregação de Jacó" (Dt 33:4).
Todo aquele que desejar isto poderá alcançá-lo.
Não se pense que as outras duas coroas são maiores que a coroa da Torá, pois está escrito:
"Por Mim [Refere-se à Torá (sujeito implícito).] reinam os reis e os príncipes decretam a
justiça. Por Mim os príncipes regem" (Pv 8:15,16).
Daí a inferência de que a coroa da Torá é maior que as outras duas coroas.
2. Os sábios disseram: "Um bastardo erudito tem precedência sobre um sumo-sacerdote
ignorante", pois está escrito: "Mais preciosa ela [Também se refere à Torá.] é que os rubis"
[Refere-se ao sumo-sacerdote.] (Pv 3:15), isto é, mais que o sumo-sacerdote que entra no
Santo-dos-Santos. [É o Códeshe-ha-Codashirn, o lugar mais recôndito do santuário, onde
só o sumo-sacerdote (o Cohen ha-Gadol) podia entrar e mesmo assim só uma vez no ano,
no lom Quipur.]
3. De todos os preceitos, nenhum é igual em importância ao estudo da Torá.
E mais ainda, o estudo da Torá é igual a eles todos, pois o estudo leva à prática. [No
entanto, se se estuda e não se pratica, significa que o estudo não foi correto.]
O estudo sempre tem precedência à prática. [A Torá tem a sua virtude e as Mitsvot
(Mandamentos) têm a sua virtude; a Torá simboliza o alimento espiritual, que contém os
conceitos para se poder simplesmente viver, os Mandamentos simbolizam as roupas
espirituais que, através da prática, protegem o corpo (o povo judeu) do calor e do frio
espirituais, e embelezam o homem. A Torá simboliza o modo de servir ao Eterno com
entendimento e conscientização mental e sentimental; os Mandamentos simbolizam a
maneira de servir ao Eterno através da submissão completa. O Talmude diz que os sábios
não conseguiram concluir qual dos dois vale mais, pois uma virtude não substitui a outra;
somente conseguiram chegar a um ponto de vista comum, qual seja, que a Torá precede os
Mandamentos porque o estudo traz a prática, e sem o estudo não se sabe como praticar.]
4. Se a oportunidade de cumprir um preceito específico interromper o estudo da Torá e o
preceito puder ser realizado por outros, o indivíduo não deverá interromper o estudo.
Caso contrário, o preceito deve ser realizado, e depois retornar-se-á ao estudo.
5. O julgamento de um judeu após a morte se dará primeiro em relação ao cumprimento da
tarefa de estudo, e posteriormente em relação aos outros mandamentos.
Portanto, disseram os sábios: "Uma pessoa deve sempre ocupar-se com a Torá, seja porque
o Eterno o determinou, seja por outras razões [O certo é que se deve cumprir os
Mandamentos porque o Eterno o ordenou, mas os que os cumprem também por outras
razões não devem deixar de fazê-lo, porque, mais cedo ou mais tarde, o farão da maneira
correta, não somente quanto ao preceito do estudo da Torá, mas também em relação a
todos os demais preceitos.], pois o estudo da Torá, até mesmo quando motivado por
interesses outros, conduzirá ao estudo pela determinação do Eterno."
6. Aquele cujo coração se prontificar a cumprir este dever apropriadamente, e a ser cingido
com a coroa da Torá, não deve permitir que sua mente se distraia com outros assuntos.
Não deve ser seu objetivo absorver a Torá e adquirir riquezas e honra ao mesmo tempo.
Este é o método para o estudo da Torá: "um pedaço de pão com sal tu deves comer e água
em pequenas quantidades deves tomar; tu deves dormir sobre o chão e viver uma vida de
simplicidade, enquanto te sacrificares na Torá" (Ética dos Pais, 6:4) [A explicação desta
frase é a seguinte: quando uma pessoa entra numa Yeshivá, deve-se conscientizar de que o
estudo não visa à formatura nem à aquisição de um diploma de rabino, nem a uma carreira
de rabinado, como outros estudos seculares, mas que ela deve estudar a Torá para saber
como cumprir os Mandamentos Divinos, e também porque o Eterno mandou, sem
necessariamente usar tal estudo como profissão; e, se pela Providência Divina ocorrer que
ele venha a ser rabino, então isto se dará porque tinha que ser, por determinação do
Eterno.].
"Não cabe a ti completar a tarefa, mas não estás livre para negligenciá-la" (Ibid. 2:21).
"E se estudares muito a Torá, receberás muita recompensa. A recompensa será
proporcional às dores" (Ibid. 5:26).
7. Possivelmente, poderás dizer: 'Quando eu tiver acumulado dinheiro voltarei aos meus
estudos; quando eu tiver satisfeito as minhas necessidades e não tiver preocupações com
os meus negócios, eu voltarei aos meus estudos.' Se tal pensamento penetrar em tua
mente, tu nunca ganharás a coroa da Torá.
"Ao invés disto, faz do estudo da Torá a tua principal ocupação, (Ibid. 1:15) e deixa que os
teus negócios te comprometam só casualmente. Não digas: 'Quando eu não tiver mais
preocupa-ções eu estudarei'; talvez tu nunca consigas deixar de ter preocupações" (Ibid.
2:5).
8. Na Torá está escrito: "Não está no céu... nem está no além-mar", ou seja, não é
encontrada entre estes que são arrogantes e vaidosos nem entre aqueles que cruzam o
oceano.
Por isso, disseram os sábios: "Nem aqueles que se deixam absorver pelos negócios podem
tornar-se sábios" (Ética dos Pais, 2:6).
Eles também afirmaram: "Dedica-te menos aos negócios e ocupa-te com a Torá" (Ética dos
Pais, 4:10).
9. As palavras da Torá foram comparadas com a água, como está escrito, "Oh, todo aquele
que tiver sede, venha beber água" (Is 55:1); isto nos ensina que assim como a água não se
acumula numa ladeira, mas desce e escoa, até acumular-se na depressão, assim as
palavras da Torá não se encontram nos arrogantes ou nos vaidosos, mas apenas nos
humildes e modestos, que se sentam à poeira dos pés dos sábios e banem de seus corações
as lascívias e as delícias temporais; trabalham um pouco lodos os dias, apenas o suficiente
para prover as suas necessidades, se não tiverem de outra forma o necessário, e dedicam-
se o resto do dia e da noite ao estudo da Torá.
10. Porém, aquele que pensar em estudar a Torá e não trabalhar, mas viver de caridade,
estará profanando o Nome de D..S, trazendo desprezo Torá, extinguindo a luz da religião,
atraindo o mal a si mesmo e privando-se da vida vindoura, pois é proibido obter qualquer
vantagem material das palavras da Torá.
Os sábios disseram: "Todo aquele que obtiver um proveito material para si das palavras da
Torá, estará ajudando a sua própria destruição" (Ética dos Pais, 4:5). Eles nos advertiram:
"Não faças dela uma coroa para te engrandeceres, nem uma picareta para cavar" (ibid.
4:5).
Igualmente, eles nos afirmaram: "Ama o trabalho, despreza o mando" (Ibid. 1:10). "Todo
estudo da Torá que não for acompanhado de um ofício é vão e conduz ao pecado" (Ibid.
2:2).
O fim de tal pessoa será o de roubar seus compatriotas.
11. O ato de um homem manter-se pelo trabalho das suas mãos indica um alto grau de
excelência.
Esta era a prática corrente dos primeiros hassidim.
Assim, o indivíduo assegura toda a honra e alegria neste e no mundo vindouro, como está
escrito: "Com o trabalho das tuas mãos comerás, tranqüilo e feliz" (Sl 128:2). Feliz serás
neste mundo e estarás bem no mundo vindouro, que será absolutamente bom.
12. As palavras da Torá não habitam com aquele que as estuda preguiçosamente, nem com
aqueles que as aprendem em meio à luxúria, nem com aqueles que comem e bebem muito,
mas apenas com aqueles que se mortificam pelo bem da Torá constantemente,
prolongando o desconforto físico e não permitindo que os seus olhos durmam nem
repousem as suas pálpebras.
"Esta é a lei a respeito de um homem que morre numa tenda" (Nm 19:14).
Os sábios explicaram o texto, metaforicamente: 'A Torá só habita com aqueles que se
mortificam nas cabanas dos sábios'. E igualmente, Salomão, em sua sabedoria, disse: "Se
te mostras fraco no dia do aperto, a tua força é bem pequena" (Pv 24:10). Ele ainda disse:
"A minha sabedoria permaneceu em mim" (Ec 2:9).
Isto é explicado pelos sábios assim: 'A sabedoria que aprendi com esforço, esta permaneceu
comigo'.
Os sábios disseram: 'Há um acordo tácito de que todo aquele que se esforça em seus
estudos na Sinagoga, não esquecerá rapidamente.'
Aquele que se esforça com discrição no estudo se tornará sábio, como está escrito: "Com os
humildes está a sabedoria" (Pv 11:2).
Se o indivíduo recitar em voz alta [Balbuciando.] enquanto estuda, o que ele
aprender permanecerá com ele, mas aquele que ler silenciosamente [Com os olhos.] logo se
esquecerá.
13. Enquanto é um dever estudar de dia e à noite, a maior parte do conhecimento de
alguém é adquirido à noite.
Conseqüentemente, quando se aspira ganhar a coroa da Torá, deve-se ser especialmente
atencioso em todas as suas noites e não disperdiçar uma única delas dormindo, comendo,
bebendo, conversando frivolamente, etc, mas dedicar todas elas ao estudo da Torá e das
palavras de sabedoria.
Os sábios disseram: "O canto da Torá à noite tem mérito", como está escrito: "Levanta-te e
clama à noite" (Lm 2:19).
Todo aquele que se ocupa com o estudo da Torá à noite por um sinal de graça celestial será
distinto durante o dia, como está escrito: "De dia o Senhor manda o seu amor, e durante a
noite eu vou cantar uma prece ao D..S da minha vida" (Sl 42:9).
Uma casa na qual as palavras da Torá não sejam ouvidas à noite será consumida pelo fogo,
como está escrito: "Toda a escuridão é armazenada para os seus tesouros; um incêndio não
aceso pelo homem o consumirá" (Jó 20:26), pois ele "desprezou a palavra do Senhor" (Nm
15:31); isto se refere àquele que negligenciou completamente as palavras da Torá. Assim,
também aquele que é capaz de se ocupar com a Torá e não o faz, ou aquele que leu a
Escritura, aprendeu a Misná e desistiu delas em função de futilidades mundanas,
renunciando completamente ao seu estudo está incluído na condenação "porque ele
desprezou a Palavra do Senhor". Os sábios disseram: "Quem quer que negligenciar a Torá
na riqueza, seu fim será abandoná-la na pobreza" e, "Quem cumpre a Torá na pobreza, seu
fim será cumpri-la na riqueza" (Ética dos Pais, 4:9). [As frases estão em ordem reversa.]
Tudo isto está explicitamente apresentado na Torá, como está escrito: "Porque tu não
serviste ao Senhor teu D..S com alegria e contentamento em teu coração quando estavas
na abundância, tu servirás ao teu inimigo" (Dt 28:47, 48).
Também está escrito: "...para te humilhar... a fim de te fazer bem no futuro" (Dt 8:16).

Capítulo IV
1. A Torá deve ser ensinada a um aluno digno, cuja conduta seja irrepreensível ou ingênua.
Aquele que caminhar no modo que não seja bom [Aquele que não cumpre os
Mandamentos.] deve ser primeiramente reconduzido, treinado no caminho do bem e
testado [Em relação à sua sinceridade.]; então ele é admitido ao Bet Hamicdashe e a
instrução lhe é administrada.
Os sábios dizem: "Ensinar a um aluno que não é digno é como lançar uma pedra a
Mercúrio" [Deus grego mensageiro dos deuses; o ídolo correspondente.], como está
escrito: "Do mesmo modo que se põe uma pedra em uma funda [Lança-se fora a Torá como
algo sem valor.], assim age aquele que deu honra a um tolo" (Pv 26:8). [Isto somente se
refere a um adulto que tem consciência da Torá e das Mitsvot e não quer segui-las. Porém,
quando se trata de um adulto que não tem consciência ou de uma criança, deve-se ensiná-
lo. Mesmo quando se trata de um adulto que tem consciência, e que, usados todos os
recursos, não modificou sua conduta, ainda assim, tenta-se ensiná-lo (em certos casos).]
Não há honra a não ser a Torá, como está escrito: "Os sábios herdarão a honra" (Pv 3:35).
Da mesma forma, também, se um mestre não caminha no caminho certo até mesmo se for
um grande erudito e se todas as pessoas precisarem dele a instrução não deve ser recebida
dele até que se reforme, como está escrito: "pois os lábios do sacerdote manterão o
conhecimento e eles buscarão a lei da sua boca, pois ele é o anjo do Senhor dos Exércitos"
(Ml 2:7).
Os sábios explicaram este texto da seguinte forma: "Se o mestre é como um anjo do
Senhor dos Exércitos, eles podem buscar a Lei de sua boca; mas se ele não o é, então não
podem buscar a Lei de sua boca."
2. Como deve ser concedida a instrução?
O mestre se senta na sala de aula de frente para a turma, com os alunos à sua volta como
uma coroa [Em semicírculo.], de modo que possam todos vê-lo e ouvir-lhe as palavras.
O mestre não deve se sentar no banco se os seus alunos estiverem sentados no chão — ou
todos se sentam no chão, ou todos nos bancos.
Antigamente, o mestre costumava sentar-se enquanto os alunos se mantinham em pé, mas
antes da destruição do Segundo Templo já se tornara universal o costume de os alunos,
enquanto lhes era ministrado o ensino, se sentarem.
3. Se é costume do mestre ensinar aos alunos pessoalmente, ele pode fazê-lo. Se, porém,
ele ensina através de um Meturgueman [Intérprete.], este deve ficar de pé entre ele e os
alunos.
O mestre se dirige ao intérprete, que declara o que acabou de ouvir a todos os alunos;
quando eles fizerem perguntas ao intérprete, este as dirige ao mestre.
O mestre responde ao intérprete, que dirige a resposta àquele aluno que fez a pergunta.
O mestre não deve levantar a voz acima da voz do intérprete, nem deve este elevar sua voz
acima da do mestre, quando este lhe dirige uma pergunta.
O intérprete não pode diminuir nada das palavras do mestre, nem nada adicionar a elas,
nem modificá-las — a menos que seja o pai ou o instrutor do mestre.
Ao se dirigir ao intérprete, o mestre utiliza a fórmula: "Assim o meu reverenciado preceptor
disse a mim", ou "Assim o meu reverenciado pai disse a mim"; mas quando o intérprete
repete as palavras ao ouvinte, declara-as em nome do sábio mencionado, e alude o seu
nome se se tratar do pai ou o professor do mestre, e diz "Assim disse o nosso mestre,
fulano de tal" (dando-lhe o nome).
O intérprete deve proceder assim, mesmo que o mestre tenha se abstido de dar o nome ao
sábio, sob a premissa de ser proibido mencionar o próprio mestre ou pai pelo nome.
4. Se o mestre ensinou e os seus alunos não aprenderam, ele não deve irar-se com eles,
mas repetir a lição uma vez mais e mais uma vez, até que eles tenham compreendido o
sentido integral da Halacá [Regra, lei tradicional, norma jurídica.] que ele está expondo.
Da mesma forma, o aluno não deve dizer "eu compreendo" quando não tiver compreendido,
mas deve perguntar novamente e uma vez mais.
E se o mestre perder a paciência com ele e irritar-se, ele deve dizer: "Mestre, é a Torá. Eu
preciso aprender, e minhas capacidades intelectuais não são tão amplas."
5. Um discípulo não deve sentir-se envergonhado diante de seus companheiros se estes
compreenderem a lição após ouvi-la uma ou duas vezes, enquanto ele precisa ouvir
diversas vezes antes de absorvê-la.
Se isto o fizer sentir envergonhado, ele terá passado pelo Colégio sem ter aprendido nada.
Os sábios antigos diziam, a propósito: "Um homem tímido não pode aprender, nem um
homem rude pode ensinar" (Ética dos Pais 2:6).
Estas observações só se aplicam quando a falta de compreensão dos estudantes se deve à
dificuldade do assunto ou à deficiência de base.
Mas se o mestre perceber claramente que eles são negligentes e indolentes em seu estudo
da Torá e que tal é a causa de sua falha de compreensão, é seu dever admoestá-los e
provocar seus brios com palavras de reprovação, estimulando-os a serem perspicazes.
Com relação a isto, disseram os sábios: "Imponha respeito aos alunos."
Portanto, é impróprio que um mestre seja frívolo diante de seus alunos, ou que ria na
presença deles, ou que coma e beba com eles — de modo que o respeito por ele esteja
sobre eles e assim eles aprendam rapidamente.
6. As perguntas não devem ser feitas ao mestre imediatamente após a sua entrada na
escola, mas somente após sua mente estar composta.
Tampouco deve um aluno fazer uma pergunta assim que entrar na escola, mas somente
após ele mesmo estar composto e descansado.
Dois alunos não devem fazer perguntas ao mesmo tempo.
O mestre não deve ser questionado sobre um tópico não referente à lição, mas somente
sobre o assunto que está sendo tratado, de modo a não embaraçá-lo; o mestre, porém,
deve colocar "armadilhas" diante de seus alunos, não só em suas perguntas, como também
naquilo que faz em sua presença, a fim de aguçar o seu espírito e definir se eles se
lembram do que lhes foi ensinado ou se não se lembram.
É desnecessário acrescentar que ele tem o direito de questioná-los sobre o outro assunto
que não aquele sobre o qual estão engajados em dado momento, a fim de estimulá-los a
serem diligentes no estudo.
7. Nenhuma pergunta deve ser feita de pé, nem respostas devem ser dadas de pé; nem
devem ser dirigidas por alguém sobre uma elevação, ou de uma distância, ou quando o
indivíduo estiver atrás dos mais velhos.
O mestre só pode ser questionado sobre o tópico que está sendo estudado.
As perguntas devem ser feitas de maneira respeitosa.
O aluno não deve perguntar com relação a mais de três Halahot do tópico.
8. Por exemplo: dois indivíduos fazem perguntas.
Uma destas perguntas é apropriada ao assunto em discussão, enquanto a outra não é; a
atenção é dada à pergunta que é apropriada.
Uma pergunta se refere a uma regra prática, a outra à jurisprudência; a primeira recebe a
atenção.
Uma pergunta é jurisprudencial, a outra é agádica; a primeira é respondida.
Uma pergunta é agádica, a outra pertence a uma inferência a fortiori [Uma conclusão tirada
de uma premissa menor ou condição mais branda para uma premissa maior ou mais estrita,
e vice-versa. Isto é uma das regras de Hermenêutica.]; a segunda é respondida.
Uma pergunta se refere a uma inferência a fortiori, a outra a uma inferência de similaridade
de frases [Uma analogia entre duas leis estabelecidas na base de expressões e textos
bíblicos. É outra regra de Hermenêutica.]; a primeira é respondida.
As perguntas são feitas por duas pessoas, sendo uma das quais um erudito graduado, e a
outra um discípulo; a atenção é dada ao erudito.
Um deles é um discípulo, o outro um iletrado; a atenção é dada ao discípulo. Quando ambos
são eruditos graduados, discípulos ou iletrados, e se as perguntas de ambos se referirem a
duas regras práticas, ou duas respostas, ou a dois assuntos práticos, o intérprete, nestes
casos, pode dar preferência a qualquer um. 9. Ninguém deve dormir no recinto de estudo.
Se um estudante dormitar lá, o seu conhecimento desfaz-se como um trapo. Assim
Salomão, em sua sabedoria, disse: "O sono trajará a pessoa de trapos" (Pv 23:21).
Nenhuma conversação pode ser mantida na Casa de Estudo, exceto em referência às
palavras da Torá.
Mesmo que a pessoa espirre lá, as outras não lhe devem desejar "boa saúde".
Desnecessário dizer que os outros tópicos não devem ser discutidos.
A santidade de um recinto de estudo é maior que a de uma Sinagoga.

Capítulo V
1. Assim como a uma pessoa é ordenado honrar e reverenciar o seu pai, da mesma forma
ela tem a obrigação de honrar o reverenciar o seu mestre, mais ainda que a seu pai; pois o
seu pai lhe deu a vida neste mundo, enquanto o seu mestre, instruindo-o em sabedoria,
assegura-lhe a vida no mundo vindouro.
Se alguém encontrar um objeto que o seu pai perdeu e um outro objeto que o seu mestre
perdeu, a propriedade do mestre deve ser restituída em primeiro lugar.
Se o seu pai e o seu mestre estão carregando um peso, esse alguém deve primeiro aliviar o
seu mestre e então o seu pai.
Se o seu pai e o seu mestre são mantidos cativos, ele deve primeiramente resgatar o seu
mestre e depois o seu pai.
Mas, se o seu pai for um erudito, ele deve resgatar primeiro o pai e depois o mestre, ainda
que aquele não seja da mesma categoria que o mestre; também nesse caso ela deverá
primeiramente resgatar a propriedade perdida de seu pai e depois a do seu mestre.
Não há honra maior do que aquela que é devida ao mestre; nenhuma reverência é mais
profunda do que aquela que a ele deve ser prestada.
Os sábios disseram: "A reverência pelo teu mestre será como o temor ao Eterno" (Ética dos
Pais 4:12).
Adiante, eles disseram: "Todo aquele que desconfiar da autoridade do seu mestre age como
se disputasse com a Shehiná" [A Presença Divina, o Eterno.], como está escrito: "Quando
eles se sublevaram contra o Senhor" (Nm 26:9).
Todo aquele que começar uma discussão [A discussão é considerada rebeldia.] com o seu
mestre, age como se começasse uma discussão com a Shehiná, como está escrito: "Onde
os Filhos de Israel contenderam com o Senhor, e Ele foi santificado nelas" (Nm 20:13).
E todo aquele que acalentar ressentimento contra o seu mestre, age como se acalentasse o
ressentimento contra o Senhor, como está escrito: "Os seus murmúrios não são contra nós,
mas contra o Senhor" (Êx 16:8).
Quem quer que guarde dúvidas sobre o seu mestre age como se guardasse dúvidas sobre a
Shehiná, como está escrito: "E o povo falou contra D..S e contra Moisés" (Nm 20:3).
2. Quem deve ser considerado um contestador da autoridade do seu mestre? Aquele que
estabelece um colégio, dá aulas, realiza preleções e instrui sem a permissão do seu mestre,
durante a vida deste, até mesmo se for residente em outro país.
Dar decisões em presença de seu mestre é proibido em todas as ocasiões.
Quem quer que dê uma decisão na presença de seu mestre merece a morte.
3. Se houver uma distância de doze milhas entre ele e o seu mestre e se uma pergunta
tiver sido feita a ele com relação a uma regra prática, ele pode dar a resposta.
Para salvar um homem de fazer o que é proibido, ele pode dar uma decisão até mesmo na
presença de seu mestre.
Por exemplo, se ele vir alguém cometendo uma violação da Lei, por não ter conhecimento
da proibição, ou com fúria incontida, é seu dever inquirir o infrator e dizer-lhe: "isto é
proibido."
Ele deve agir assim até mesmo na presença do seu mestre, até mesmo se este não lhe tiver
dado permissão, pois para salvar o Nome de D..S da profanação, nós precedemos a honra
devida ao mestre.
Isto, porém, só é permitido casualmente.
Mas assumir a função e dar decisões regularmente a todos os consulentes, mesmo se ele e
seu mestre viverem afastados em extremos opostos da Terra, é proibido a um discípulo,
durante a vida do seu mestre, a menos que tenha permissão deste.
Nem mesmo após a morte de seu mestre um discípulo pode dar decisões regularmente, a
menos que ele tenha atingido um padrão de conhecimentos que o qualifique a agir assim.
4. Um discípulo que não está assim qualificado e, não obstante, dá decisões, é "estúpido,
mau e vaidoso" (Ética dos Pais, 5:9).
Sobre ele está escrito:"Porque a muitos feriu e derrubou" (Pv 7:26).
Por outro lado, um sábio que está qualificado e que se abstém de tomar decisões nega o
conhecimento da Torá e coloca obstáculos diante do cego.
Dele está escrito: "Até mesmo os mais fortes foram suas vítimas" (Pv 7:26).
Os estudantes de nível precário que adquiriram conhecimento insuficiente da Torá, e ainda
assim buscam se engrandecer diante do ignorante e entre os seus concidadãos, colocando-
se acima deles e presumindo julgar e dar decisões em Israel — estes são aqueles que
multiplicam o sofrimento, devastam o mundo, extinguem a luz da Torá e danificam o
vinhedo do Senhor dos Exércitos.
De tais, disse em sua sabedoria Salomão: "Apossam-se de nós as raposas, as raposinhas
que devastam nossas vinhas" (Cântico dos Cânticos, 2-L5).
5. A um discípulo é proibido chamar seu mestre pelo nome, mesmo quando este último não
está presente.
Esta regra só se aplica se o nome for incomum, de modo que aquele que o ouça saiba quem
é o mencionado.
Em sua presença, o estudante nunca deve mencionar o nome do seu mestre, mesmo se
desejar chamar uma outra pessoa, que tenha o mesmo nome; idêntico é o procedimento
com relação ao nome de seu pai.
Ao referir-se a eles, mesmo após a sua morte, deve-se utilizar um título descritivo, como
"meu honrado pai" ou "meu honrado mestre".
Um discípulo não pode saudar o seu mestre ou devolver a sua saudação da mesma forma
com que as pessoas estão acostumadas a saudar seus companheiros e a responder às suas
saudações.
Ele deve, outrossim, se curvar ao seu mestre dirigir-se a ele com reverência e deferência.
"Que a paz esteja contigo, meu mestre."
E se o mestre o saudou deve responder "Que a paz esteja contigo, meu mestre e líder".
6. Da mesma forma, ele não deve retirar seus filactérios na presença de seu mestre, nem
reclinar-se em sua presença, mas deve sentar-se respeitosamente como se senta diante de
um rei.
Ele não pode recitar as suas preces em frente ao seu mestre, ou atrás dele, ou ao seu lado.
É desnecessário acrescentar que ele não deve andar lado a lado com o seu mestre, podendo
permanecer a uma certa distância atrás dele, não, porém, imediatamente atrás; aí, então,
ele poderá fazer suas orações.
Ele não pode ir junto com o seu mestre ao quarto de banho.
Ele não pode sentar-se na cadeira de seu professor.
Quando o seu mestre e um colega dele disputa-rem entre si, ele não pode, na presença de
seu professor, interpor uma opinião com relação a quem está certo. Ele não pode contrariar
as declarações de seu mestre.
Ele não pode sentar-se na presença de seu professor, até que lhe seja ordenado que se
sente.
Estando sentado, não pode se levantar, até que obtenha permissão para tal. Quando for se
retirar, ele não poderá dar as costas, mas deverá retirar-se com a sua face voltada para o
seu mestre.
7. É seu dever levantar diante de seu mestre, a partir do momento em que o veja, à
distância, até quando ele desaparecer de vista; só então o discípulo poderá levantar-se.
É dever de uma pessoa visitar o seu mestre nos festivais.
8. Não se pode demonstrar cortesia para com um discípulo na presença de seu mestre, a
menos que o professor esteja acostumado a demonstrar cortesia para com aquele discípulo.
Os vários ofícios que um escravo realiza para o seu mestre, um aluno realiza para o seu
professor.
Se, porém, o aluno estiver em um lugar onde é desconhecido, e não portar na ocasião
filactérios, e se temer que as pessoas digam que ele é um escravo, o aluno não deve ajudar
o seu professor a colocar ou retirar os sapatos.
Aquele que recusa aos serviços de seu aluno nega a bondade e subtrai-lhe o temor ao
Eterno.
O aluno que negligencia qualquer das cortesias devidas ao seu mestre faz com que a
Shehiná se afaste de Israel.
9. Se um aluno viu o seu professor violando os Sacramentos da Torá, deverá lhe dizer,
"Nosso mestre, tu nos ensinaste assim e assim".
Quando um aluno recita um dito na presença do seu mestre, deve dizer: "Assim nosso
mestre, tu nos ensinaste."
Ele não deve citar um dito que não ouviu de seu mestre sem mencionar quem lhe ensinou
isso.
Quando o seu mestre falecer, ele rasga todas as roupas que veste até que desnude o peito.
Estes rasgos nunca devem ser costurados.
Estas regras só se aplicam ao mestre principal do qual se aprendeu a maior parte do que se
sabe.
Sua relação a respeito de alguém de quem ele não adquiriu a maior parte do seu
conhecimento é a de um estudante principiante para com um estudante mais adiantado.
Com relação a tal estudante mais adiantado, não é exigido do discípulo observar todos os
pontos de cortesia acima mencionados.
Mas o estudante principiante tem que se postar de pé diante dele e, à sua morte, rasgar as
roupas, assim como faz por um parente falecido por quem lamenta. Mesmo que se aprenda
de uma pessoa apenas uma coisa, seja grande ou pequena, tem-se que ficar de pé diante
dessa pessoa e rasgar as suas roupas à sua morte.
10. Nenhum erudito de bom senso falará diante de seu superior em conhecimento, mesmo
que não tenha aprendido nada dele.
11. Se um professor titular desejar isentar os seus alunos ou alguns deles de todas ou de
qualquer uma destas observâncias, ele poderá fazê-lo.
Mas, mesmo então, o discípulo deve demonstrar cortesia a ele, até mesmo no momento
quando ele explicitamente tornar isto desnecessário.
12. Assim como os alunos devem honrar o seu professor, da mesma forma um professor
deve demonstrar cortesia e amizade para com os seus alunos.
Os sábios disseram: "Que a honra de teu discípulo seja tão querida para ti como a tua
própria" (Ética dos Pais 4:15).
Um homem deve ter interesse em seus alunos e amá-los, pois eles são os seus filhos
espirituais que lhe trarão prazer neste mundo e no mundo vindouro.
13. Os discípulos aumentam a sabedoria do professor e ampliam a sua mente.
Os sábios disseram: "Muito eu aprendi de meus professores, mais ainda de meus colegas, e
ainda mais de meus alunos."
Assim como um pedaço pequeno de madeira incendeia um tronco grosso, um aluno de
pequenas realizações aguça a mente de seu professor, de forma que através de suas
perguntas ele obtém a sabedoria gloriosa.

Capítulo VI
1. É um dever honrar todo erudito, mesmo que não seja o professor dele, como está
escrito: "Levantar-te-ás diante de uma cabeça encanecida, honrarás a pessoa do ancião"
(Lv 19:32).
A palavra Zaken [Zaken = ancião.] se refere àquele que adquiriu sabedoria. Quando as
pessoas devem se levantar diante dele?
No momento em que ele se aproximar a uma distância de quatro cúbitos
[Aproximadamente 2,00m.], até que tenha se perdido de vista.
2. Esta cortesia não deve ser observada em uma casa de banhos, nem num sanitário, pois
está escrito: "Tu te levantarás e honrarás" (Lv 19:32); a deferência de se levantar deve ser
tal de forma a expressar honra.
Os trabalhadores, enquanto estiverem trabalhando, não precisam se levantar diante dos
eruditos, como está escrito: "Levantar-te-ás e honrarás"; como este "honrar" não envolve a
perda pecuniária, a deferência de se levantar diante de um erudito só é exigida quando não
envolve uma perda monetária.
Como sabemos que o indivíduo não deve fechar os seus olhos quando um erudito passa, de
modo a não vê-lo, para assim fugir da obrigação de se levantar diante dele?
Através do texto "E tu temerás o teu D..S" (Lv 19:32); quando o cumprimento de um dever
for deixado à consciência, a exortação é adicionada de "Tu temerás o teu D..S".
3. É impróprio que um sábio passe deliberadamente entre as pessoas para que tenham que
se levantar diante dele.
Ele deve usar um caminho curto e esforçar-se para evitar ser percebido, de modo que elas
não sejam importunadas em se levantar.
Os sábios eram acostumados a usar trilhas tortuosas externas, onde evitavam aqueles que
pudessem reconhecê-los, de forma a não importuná-los.
4. A mesma regra se aplica ao cavalgar e ao caminhar.
Assim como é um dever se levantar diante do sábio quando este passa, esta mesura deve
ser deferida também quando ele cavalgar por perto. [O mesmo se aplica hoje em dia se o
sábio passar num carro.]
5. Quando três estiverem caminhando numa estrada, o mestre deve estar no meio, o
discípulo mais elevado, à sua direita e o menos elevado, à sua esquerda. 6. Ao ver um
haham [Um sábio que amadureceu nos estudos da Torá.] o indivíduo não se levanta até que
ele tenha se aproximado à distância de quatro cúbitos, e tão logo ele passar, o indivíduo
retoma o seu assento.
Ao ver o Av-bet-Din [O presidente de um tribunal. Nos tempos antigos era o Vice-Presidente
do Grande Sinédrio.], o indivíduo se levanta tão logo ele seja percebido, e não se senta até
que ele tenha ultrapassado uma distância de quatro cúbitos além do observador.
Ao ver o nassi [O Presidente do Grande Sinédrio.], o indivíduo se levanta tão logo ele seja
visto, e não se senta até que ele tenha sentado em seu lugar ou tenha sumido de vista.
Se o nassi desejar dispensar a cortesia que lhe é devida, poderá fazê-lo.
Quando o nassi entrar em uma reunião ou recinto, todos os presentes se levantam e não se
sentam até que ele lhes diga "sentem-se".
Quando o Av-bet-Din entra, duas filas são formadas.
Aqueles que formam estas filas em cada lado ficam de pé, enquanto ele passa entre eles,
até que se sente em seu lugar.
O resto das pessoas permanece sentado nos seu lugares.
7. Quando um haham entra, cada pessoa se levanta, e então retorna ao seu assento, e
assim faz o próximo, até que o haham tenha alcançado o seu lugar e tenha sentado.
Os filhos dos sábios e os seus discípulos, quando o público exige os seus serviços,
caminham acima das cabeças das pessoas para alcançar os seus lugares.
Porém, não é de bom tom que os discípulos dos sábios sejam os últimos a entrar. Se
precisar se retirar, quando retornar volta ao seu lugar.
Filhos pequenos de sábios que tenham bastante inteligência para seguir o discurso, ficam de
frente para os seus pais. [Sentados entre o público.]
Se forem muito jovens para compreender, ficam de frente para o público. [Sentados junto
ao pai.]
8. Um aluno, que regularmente senta perante ao seu mestre, só pode se levantar diante
dele pela manhã e à noite, de forma que a honra prestada ao mestre não seja maior do que
a demonstrada a D..S.
9. O indivíduo se levanta diante de um ancião, muito idoso, mesmo que ele não seja um
sábio.
Até mesmo um homem erudito jovem se levanta diante de um ancião de idade avançada;
não é obrigado a erguer-se à sua altura integral, mas apenas levantar-se o suficiente para
indicar cortesia.
Até mesmo a um não-judeu idoso deve-se demonstrar cortesia ao falar, e deve-se estender
a mão para apoiá-lo, como está escrito: "Tu te levantarás diante da cabeça grisalha", sem
especificação.
10. Os eruditos não saem para tomar parte com o resto da comunidade em construção,
escavação ou trabalho similar para o Estado, de forma a não perder o respeito das pessoas
comuns.
Tampouco são eles instados a contribuir para o custeio da construção de paredes, reparo de
portões, pagamento dos salários dos vigias, etc., ou a fazer uma dádiva ao rei.
Não são obrigados a pagar impostos cobrados conjunta ou individualmente aos habitantes
de uma cidade, como está escrito: "Ainda que eles os contratem entre os povos, eu os
reunirei agora e eles tremerão em breve sob o peso do rei e dos príncipes" (Os 8:10).
Da mesma forma, também, se um erudito tiver bens para vender, deve lhe ser dada a
oportunidade de primeiro se desfazer deles; a ninguém mais no mercado se deve permitir
vender até que o erudito tenha vendido o seu estoque. Similarmente, se ele tiver uma
causa pendente e estiver entre um grande número de litigantes, sua causa será tomada
primeiro, e ele se sentará (para ser primeiro julgado). [Estes privilégios conferidos ao
erudito se baseiam em quatro razões:
a) A proteção dos sábios provém diretamente do Eterno e não das seguranças materiais que
os homens costumam criar;
b) Como os sábios não trabalham fisicamente, subentende-se que eles não têm
rendimentos financeiros, então não têm como pagar impostos, etc.;
c) Para não perder o tempo destinado aos estudos, pois o estudo é, por natureza, o seu
trabalho diário, que ele realiza o dia inteiro, até mesmo quando já tem filhos ou netos;
d) Também por respeito e honra a ele devidos.]
11. É um grande pecado desprezar os sábios ou odiá-los.
Jerusalém só foi destruída quando os seus eruditos foram tratados com insolência, como
está escrito: "Mas eles zombavam dos mensageiros de D..S, desprezavam Suas palavras,
escarneciam nos Profetas" (II Cr 36:16).
Significa que eles "desprezavam aqueles que ensinavam as Suas palavras".
Da mesma forma, o texto "E se tu rejeitares os Meus estatutos" (Lv 26:15) significa "se tu
negares os professores de Meus estatutos".
Aquele que desprezar os sábios não terá parte no mundo vindouro, e está incluído na
censura "Pois ele desprezou a Palavra do Senhor" (Nm 15:31).
12. Embora aquele que despreza os sábios tenha perdido a sua parcela no mundo vindouro,
se testemunhas declararem que um certo indivíduo insultou um sábio, mesmo que apenas
com palavras, o ofensor incorrerá também na pena de excomunhão. [A excomunhão maior
em hebraico é herem. É a esta que se referem todas as excomunhões citadas adiante, a não
ser que a excomunhão menor ou nidui seja especificada.]
O tribunal deve excomungá-lo publicatnente, e também impor a ele uma multa de uma litra
[Medida de peso para metais preciosos. 2,5 litros correspondiam a um mané.] em ouro,
uma pena de volume uniforme em todos os lugares, que é dada ao sábio.
Aquele que injuriar um haham com palavras, mesmo após a morte deste, é excomungado
pelo tribunal, que suspende a punição depois que ele se arrepender.
Se o sábio que foi ofendido estiver vivo, o ofensor só é anistiado quando se reconcilia com o
sábio.
Para salvaguardar a sua honra, o haham, pode ele mesmo excomungar uma pessoa
ignorante que o tenha tratado desrespeitosamente.
Para isto, nem testemunhas, nem aviso prévio são necessários.
A pena não é retirada até que o ofensor tenha acalmado o haham.
Se o haham morrer antes que isto seja feito, três homens se constituem em quorum e
retiram o castigo.
Se o haham desejar perdoar o ofensor, e não o excomungar, ele tem a liberdade de fazê-lo.
13. Quando um professor, para salvaguardar a honra que lhe é devida, excomungar
qualquer pessoa, é dever de todos os seus discípulos tratar aquela pessoa como estando
sob o castigo.
Mas quando um discípulo excomungar alguém, pelo bem de sua própria honra, o mestre
não tem a obrigação de respeitar a proibição, embora as outras pessoas devam fazê-lo.
De maneira análoga qualquer um a quem o nassi tenha excomungado deve ser tratado por
todo Israel como estando sob proibição, mas, mesmo se todo Israel excomungar uma
pessoa, ainda assim o nassi não precisará tratá-lo como excomungado.
Todo aquele que tiver sido colocado sob uma proibição de excomunhão em sua própria
cidade deve ser encarado assim em qualquer cidade, mas alguém que tenha sido colocado
sob proibição em uma outra cidade que não a sua própria não está sob proibição em sua
própria cidade.
14. As regras anteriores apenas se aplicam a alguém que foi excomungado porque ofendeu
os eruditos.
Se alguém for excomungado por outras transgressões, até mesmo se a proibição tiver sido
pronunciada pelo mais humilde indivíduo em Israel, o nassi e todo Israel devem respeitá-la,
até que o ofensor se arrependa da transgressão pela qual foi excomungado e seja liberado
da proibição.
Há vinte e quatro ofensas às quais a proibição é aplicada, sem consideração de sexo.
São as seguintes:
a) injuriar um haham, mesmo após a sua morte;
b) insultar o mensageiro de um Tribunal;
c) chamar uma outra pessoa de escravo;
d) receber uma citação de um Tribunal para aparecer em suas sessões, em data fixada pelo
Tribunal e deixar de comparecer;
e) fazer pouco caso de qualquer Sacramento instituído pelos sábios, e é desnecessário
acrescentar, de qualquer preceito da Torá;
f) quem se recusar a aceitar a decisão de um Tribunal será colocado sob a proibição de
excomunhão até que a penalidade seja cumprida;
g) manter em sua propriedade qualquer coisa nociva, tal como um cão mau ou uma escada
insegura; tal pessoa será colocada sob proibição até que retire o impecilho;
h) vender qualquer de seus imóveis a um não-judeu; quem age assim é excomungado até
assumir a responsabilidade por todos os danos que podem ser proporcionados por um não
judeu ao seu vizinho contíguo;
i) testemunhar contra um judeu diante dos tribunais dos não-judeus, de modo que o efeito
do seu testemunho venha a forçar o judeu a pagar por algo por que não teria sido
responsabilizado segundo a Lei Judaica; tal pessoa é colocada sob proibição até que faça a
restituição;
j) um chohet que seja cohen [Cohen = sacerdote, descendente na linha direta masculina de
Aarão e irmão de Moisés.] e que não separe as porções de um animal imolado devidas ao
sacerdote para doá-las a outro sacerdote [Mesmo quando um shohet e um açougueiro são
cohanim, eles não podem pegar para si mesmos as partes do animal que a Torá designa
que sejam dadas ao cohen, mas precisam doá-las a outro cohen. O shohet é o magarefe.] é
colocado sob uma proibição até agir de acordo;
k) violar a santidade dos segundos dias dos festivais, apesar de que a observância destes
dias se deva ao costume;
l) trabalhar na véspera da Páscoa, após o meio-dia;
m) pronunciar o Nome de D..S em vão, ou usá-Lo num juramento, em assuntos sem
importância;
n) fazer com que o público profane o Nome de D..S;
o) fazer com que o público coma os sacrifícios fora dos lugares recomendados;
p) calcular, fora de Israel, o calendário anual e designar datas para o início do mês;
q) fazer com que o cego [Cego, aqui, significa também o indivíduo ignorante em assuntos
religiosos ou seculares: induzir ou deixar que ele erre por sua ignorância.] tropece;
r) evitar que o público cumpra um mandamento;
s) Um shohet que diz que algo é casher, quando na verdade não é;
t) ou que não tenha examinado a sua faca de sacrifício na presença do haham
u) deliberadamente praticar priapismo;
v) divorciar-se de sua esposa e então entrar em sociedade com ela, ou engajar-se com ela
em outras transações comerciais que conduzam a relações íntimas — quando eles vêm ao
Tribunal são colocados sob proibição;
w) um líder religioso de má reputação;
x) injustamente excomungar alguém que não tenha incorrido na proibição.

Capítulo VII
1. Se um sábio muito erudito, um nassi ou o Av-bet-Din comete uma ofensa, ele não deve,
sob nenhuma circunstância, ser excomungado publicamente, a menos que tenha agido
como Jeroboão, o filho de Nebat e seus confederados.
Mas se ele cometer outros pecados menos odiosos, ele será punido com chicotadas
discretamente, como está escrito: "Portanto, tropeçarás de dia, e o profeta contigo
tropeçará de noite" (Os 4:5); significando que, mesmo que ele tenha sofrido um tropeço,
deverá ocultá-lo na escuridão da noite.
E nós também lhe dizemos: "Preserva tua auto-estima e fica em casa" (II Rs 14:10).
Da mesma forma, se algum erudito se fizer condenável à excomunhão, o Tribunal é proibido
de agir precipitada e apressadamente.
Os membros do Tribunal devem fugir de tal procedimento e não devem tomar parte nele.
Os justos entre os sábios glorificavam-se pelo fato de que nunca haviam sentado numa
corte de juízes para excomungar um erudito, embora possam ter se sentado como juízes
em um tribunal que houvesse sentenciado um erudito a ser punido com chicotadas, e até
mesmo se a sentença tiver sido aplicada por insubordinação.
2. Qual é a forma usada para nidui [Nidui = excomunhão menor.]?
(A autoridade que excomunga) diz: "Fulano de tal (dando-lhe o nome) deverá estar sob
proibição."
Se a excomunhão ocorreu na presença do ofensor, a autoridade lhe diz: "Esta pessoa
(dando-lhe o seu nome) está sob uma proibição."
No caso de herem, aquele diz a este: "Fulano de tal (dando-lhe o seu nome) está sob herem
e amaldiçoado; ele está sob uma imprecação com juramento e proibição."
3. Como a excomunhão mais leve ou a mais séria é retirada?
A autoridade diz à pessoa excomungada: "Tu estás liberado; tu estás perdoado." Se a
pessoa for liberada em sua ausência, a fórmula é: "Fulano de tal (dando-lhe o seu nome)
está liberado e perdoado."
4. Como uma pessoa sob a proibição mais amena deve se conduzir, e como os outros
devem se comportar com relação a ela?
Durante o prazo integral pelo qual foi excomungado, ela é, como um lamentador, proibida
de cortar os cabelos ou de se banhar.
Ela não é considerada no quorum de três ou de dez. [Há certos casos em é preciso
congregar três judeus ou dez judeus. Ex.: Na hora de se fazer as orações de graça (após as
refeições) são necessários no minímo, para certos trechos, três judeus. Na hora das orações
regulares, são necessários dez judeus, no mínimo.]Ela não é incluída na congregação de dez
homens para qualquer função que exija este número.
Ninguém pode se sentar dentro de um raio de quatro cúbitos de onde ela estiver. Ela pode,
porém, ensinar e ser ensinada.
Ela pode ser contratada e contratar os outros.
Se ela morrer enquanto estiver sob a proibição, o Tribunal ordena que uma pedra seja
colocada sobre o seu esquife, e isso quer dizer que ela é como que apedrejada, por estar
separada da comunidade.
Desnecessário dizer que nenhum elogio lhe é feito e que o seu esquife não é acompanhado.
5. Alguém que está sob herem sofre as penalidades adicionais de não poder instruir nem
receber instrução, mas deve estudar em particular, de forma a não esquecer o que
aprendeu.
Ele não pode ser contratado nem pode contratar os outros.
Ninguém se associa em transações comerciais a ele, exceto a um nível mínimo, tanto
quanto seja suficiente para prover-lhe um meio de vida.
6. Se uma pessoa estiver durante trinta dias sob nidui e não fizer solicitação de ser liberada,
a proibição é imposta por um segundo prazo de trinta dias.
Se este período também passar sem que ela busque removê-lo, ela é colocada sob a
proibição mais severa. [A pena é repetida porque o interditado não mostrou estar
arrependido ao não solicitar a suspensão da sua punição.]
7. Quantas pessoas são necessárias para retirar a pena mais amena ou a mais severa?
Três, se forem pessoas não tão instruídas.
O próprio erudito qualificado, sozinho, pode retirar a proibição mais leve ou a mais séria.
Um discípulo tem o direito de fazê-lo, até mesmo na localidade onde reside o seu mestre.
8. Se três pessoas pronunciaram uma proibição de excomunhão e deixaram o lugar, e o
ofensor tiver renunciado à prática pela qual havia sido excomungado, três outras podem
liberá-lo.
9. Se uma pessoa não souber quem lhe impôs a proibição, deve ir ao nassi, e ele comutará
a proibição.
10. Uma proibição condicional, mesmo que auto-imposta, exige a anulação.
Um erudito que se excomungou pode ele próprio anular a proibição, mesmo que tenha
acrescentado a ela a cláusula: "Segundo o ponto de vista de fulano de tal", mesmo que a
excomunhão tenha sido por uma transgressão digna de tal pena. 11. Um homem que
sonhar ter sido excomungado, mesmo que saiba quem foi (em seu sonho) que o
excomungou, exige dez homens que estudam hatahot para liberá-lo da proibição.
Se ele não os encontrar, ele deve ir tão longe quanto um parsán [Quatro milhas.]para
buscá-los.
Se ele não encontrar dez homens com estas qualificações, dez homens que estudam Mishná
podem liberá-lo.
Se estes não forem encontrados, ele pode ser liberado por dez homens que saibam ler a
Escritura.
Se tais homens não forem acessíveis, ele pode ser liberado por dez homens, mesmo que
sejam incapazes de ler a Escritura.
Se ele não puder achar dez homens em sua localidade, três indivíduos podem liberá-lo.
12. Uma proibição que foi imposta a uma pessoa em sua presença só pode ser retirada em
sua presença.
Se foi imposta em sua ausência, pode ser retirada indistintamente em sua presença ou
ausência.
Nenhum intervalo de tempo precisa passar entre a imposição de uma proibição e a sua
anulação, e o pronunciamento de uma proibição pode ser imediatamente seguido por uma
remoção, se o indivíduo sob interdição se modificar.
O Tribunal pode, a seu critério, deixar um homem sob interdição durante muitos anos,
segundo o grau de sua crueldade.
Se o Tribunal considerar adequado impor sobre uma pessoa o herem, e a mesma proibição
para que ninguém coma ou beba com ela, ou se aproxime dela mais do que a distância de
quatro cúbitos, ele pode fazê-lo, para punir o ofensor e construir uma cerca em volta da
Torá, de modo que os pecadores não possam romper a obrigação moral.
Embora um haham tenha o direito de pronunciar a interdição para salvaguardar a sua
honra, não é louvável que um erudito acostume-se a tal procedimento.
Ao invés disso, ele deve cerrar os seus ouvidos às observações dos ignorantes e não
percebê-los, como Salomão, em sua sabedoria, disse: "Não faças caso de tudo o que se diz"
(Ec 7:21).
Tal era também o proceder dos primeiros hassidim.
Se ouviam insultos, não respondiam; ao invés disso, eles perdoavam o ofensor. Grandes
sábios, glorificando em suas práticas louváveis, diziam que nunca, pelo bem da honra
pessoal, haviam imposto sobre ninguém a interdição mais leve ou mais severa.
Este é o procedimento dos eruditos, e que é o certo a ser seguido.
No entanto, só se aplica aos casos onde o indivíduo foi ofendido em particular. Mas um
erudito que foi tratado com desprezo ou insultado em público não pode perdoar aquele que
denegriu a sua honra.
Se ele o perdoar, ele é punido, pois isto significa desprezo pela Torá.
Devemos implacavelmente sustentar este princípio, até que o ofensor implore o seu perdão,
após o que ele deve ser perdoado.
Abençoado seja o Todo-Poderoso Que nos auxiliou.

Continua
Mishné Torá – Parte 7

Leis Sobre a Idolatria e a Conduta Do Idólatras

Compreendendo cinqüenta e um preceitos — dois positivos e quarenta e nove negativos, da


seguinte maneira:
1) Não voltar-se para a idolatria;
2) não se deixar levar pela inclinação do coração ou pela impressão dos olhos;
3) não blasfemar;
4) não adorar um ídolo segundo o seu ritual regular;
5) não se curvar a ele;
6) não fazer uma imagem para si;
7) não fazer uma imagem, nem mesmo para os outros;
8) não fazer figuras, nem mesmo para ornamento;
9) não induzir os outros à idolatria;
10) queimar uma cidade cuja população foi assim desencaminhada;
11) não reconstruí-la;
12) não utilizar-se de nenhuma de suas propriedades;
13) não incitar uma pessoa à adoração de um ídolo;
14) não amar o incitador;
15) não deixar de odiá-lo;
16) não salvá-lo;
17) não reivindicar em seu favor;
18) não abster-se de mostrar a culpabilidade dele;
19) não profetizar em nome de um ídolo;
20) não dar ouvidos àquele que profetize em seu nome;
21) não profetizar falsamente até mesmo em nome de D..S;
22) não temer em levar à morte um falso profeta;
23) não jurar em nome de um ídolo;
24) não praticar consultas a fantasmas (Dt 18:11);
25) não praticar consultas a espíritos familiares (Dt 1:11);
26) não passar ninguém através do fogo a Moloque;
27) não erguer um pilar para adoração;
28) não se prostrar sobre pisos de pedra (Lv 26:1);
29) não plantar uma asherá (bosque para adoração);
30) destruir o ídolo e tudo feito em seu nome;
31) não fazer uso de um ídolo ou de artigos subsidiários ao seu serviço;
32) não fazer uso dos ornamentais que foram idolatrados;
33) não fazer acordos com idólatras;
34) não favorece-los;
35) que eles não se estabeleçam em nossa terra;
36) não adotar os seus costumes nem os seus modos de trajar;
37) não praticar superstição;
38) não praticar adivinhação;
39) não praticar astrologia;
40) não praticar encantamentos;
41) não procurar o conselho dos mortos;
42) não consultar necromantes;
43) não consultar um espírito familiar;
44) não praticar magia;
45) não raspar os cantos da cabeça (Lv 19:27);
46) não remover as pontas da barba (Lv 19:27);
47) que um homem não vista roupa de mulher;
48) que uma mulher não vista roupa de homem;
49) não tatuar o corpo (Lv 19:28);
50) não marcar com cicatrizes a própria carne (Dt 14:1);
51) não fazer tonsura no cabelo pelos mortos (Dt 14:1).
Estes preceitos estão expostos nos capítulos seguintes.

Capítulo 1 [Neste capítulo, Maimônides narra em resumo a história da humanidade até o


recebimento da Torá no Monte Sinai e o surgimento da idolatria, para nos ensinar como
uma pessoa hoje em dia chega à prática da idolatria, e mostrar onde estão os erros, ainda
na origem. Por isto a Torá proíbe com tanta severidade a idolatria, até mesmo quando ela
ainda está apenas na consciência, sem ter chegado à ação.]
1. Nos dias de Enós [Neto de Adão e Eva (Gn 5:5 segs.).] as pessoas recaíam em erro
grave e o conselho dos homens sábios da geração tornou-se tolo.
O próprio Enós se encontrava entre aqueles que erraram.
O seu erro era o seguinte: "Já que D..S — diziam eles — criou estas estrelas e esferas para
guiar o mundo, colocando-as no alto e distribuindo-as em sua honra, e já que elas são os
ministros que governam diante dEle, elas merecem ser louvadas, glorificadas e honra de
lhes ser prestada [O erro está em que estes astros são somente um instrumento na mão do
Eterno, sem nenhum livre arbítrio, o que os difere dos homems. Este erro conduz à
idolatria.]; e é a vontade de D..S, abençoado seja Ele, que os homens engrandeçam e
honrem aqueles a quem Ele engrandeceu e honrou, assim como um rei deseja que se
mostre respeito aos oficiais que se postam diante dele, de modo que a honra seja
demonstrada ao rei."
Quando esta idéia surgiu em suas mentes [Que foi inventada por eles próprios.] eles
começaram a erigir templos para as estrelas, ofereciam sacrifícios a elas, louvavam-nas e
glorificavam-nas na fala e prostravam-se diante delas; o seu propósito, segundo suas
noções perversas [O homem, por natureza, tem mais tendência para a idolatria do que para
servir ao Onipotente, porque à idolatria ele não precisa prestar contas das suas ações e ela
não mexe com a sua consciência e comodidade. Mas ao Eterno o homem precisa prestar
contas de seus atos e pensamentos com o espírito da Verdade, o que automaticamente
exige dele consciência e o demove de sua comodidade. A maioria quer ignorar isto, ou seja,
quer "tapar o sol com a peneira".], era o de obter a vontade do Criador.
Esta foi a raiz da idolatria e isto foi o que os idólatras, que sabiam os seus fundamentos,
disseram.
No entanto, eles não sustentavam não haver D..S, exceto a estrela particular [Que era
objeto de sua adoração.]; Assim, disse Jeremias: "Quem não Te temerá, Rei das nações?
Porque isto Te é devido! Porquanto, entre todos os sábios das nações e em todos os seus
reinos, ninguém é como Tu! Eles todos são ignorantes e insensatos: o ensinamento das
vaidades é madeira" (Jr 10:7, 8).
Isto quer dizer que todos sabem que somente Ele é D..S; o erro e a insensatez do idólatra
consistem em imaginar que esta adoração vã é o desejo dEle.
2. No curso do tempo, surgiram entre os homens falsos profetas que afirmaram que D..S
lhes ordenara e expresamente lhes dissera: "Adorai aquela estrela particular, ou adorai
todas as estrelas; oferecei a ela tal e qual sacrifício; despejai a ela tais e quais libações;
erigi um templo a ela; fazei uma figura dela, à qual todos — as mulheres, crianças e o resto
do povo — deverão se curvar."
O falso profeta assinalou-lhes a figura que ele inventara em sua mente e afirmou que tal
era a figura daquela estrela em particular que lhe havia sido mostrada em sua visão
profética.
E então eles começaram a fazer figuras nos templos, sob as árvores, nos cumes das
montanhas e sobre os montes.
Lá eles se reuniriam, se curvariam às figuras e diriam a todas as pessoas que esta figura
particular conferia benefícios e infligia danos, e que era adequado adorá-la e temê-la.
Os seus sacerdotes lhes diriam: "através desta adoração tu prosperarás e aumentarás; faze
isto e não aquilo".
Outros impostores então surgiram, e declararam que a estrela celestial, esfera ou anjo
conviveu com eles e lhes disse: "adora-me de tal e qual maneira", e lhes ensinou um ritual
definitivo, dizendo: "fazei isto e não aquilo".
Assim, pouco a pouco, se espalhou através do mundo inteiro o costume de adorar figuras,
com vários modos de adoração, tal como o de oferecer-lhes sacrifícios e o de curvar-se a
elas.
Conforme o tempo foi passando, o honrado e reverenciado Nome de D..S foi sendo
esquecido pela humanidade, desapareceu dos lábios e das orações e não mais foi
reconhecido.
Todas as pessoas comuns, as mulheres e crianças conheciam apenas as figuras de madeira
e de pedra, e os templos edificados em que tinham, desde a infância, sido treinados para se
prostarem às figuras, para adorá-las e para jurar por seus nomes. Até mesmo os sábios,
como sacerdotes e homens de postura similar, também fantasiavam, declarando que não
havia outro deus, senão as estrelas e as esferas, em cujo nome e em cuja similitude
aquelas figuras foram feitas.
Mas o Criador do Universo não era conhecido de ninguém, e não era reconhecido por
ninguém, exceto por alguns indivíduos solitários, como Enós, Matusalém, Noé, Sem e Éber.
O mundo se movia desta forma, até que o Pilar do Mundo, o Patriarca Abraão, nasceu.
3. Enquanto ainda era uma criança, depois de ter sido desmamado, sua mente começou a
refletir.
De dia e de noite ele pensava e meditava: "Como é possível que esta esferas esteja
continuamente guiando o mundo e não tenha ninguém para guiá-la e fazer com que ela se
mova? Não pode ser que ela gire em torno de si mesma."
Ele não teve professor, ninguém para instruí-lo em nada.
Ele foi criado em Ur dos caldeus, entre tolos idólatras.
Seu pai e mãe e a população inteira adoravam ídolos e ele os adorava com eles.
Mas a sua mente estava ocupadamente trabalhando e refletindo, até que atingisse o
caminho da Verdade, aprendesse a linha correta de pensamento e soubesse que existe um
D..S, que guia a Esfera Celestial e que criou tudo; e que, entre tudo o que existe, não há
deus além dEle.
Ele percebeu que o mundo inteiro estava em erro e que o que ocasionara o seu erro fora o
fato de terem adorado as estrelas e as imagens, de modo que a Verdade pereceu em suas
mentes.
Abraão tinha quarenta anos de idade quando conheceu o seu Criador.
Tendo alcançado o seu conhecimento, ele começou a refutar os habitantes de Ur dos
caldeus, discutindo com eles e dizendo-lhes: "o curso que estão seguindo não é o
caminho da Verdade".
Ele quebrou as imagens e começou a ensinar ao povo que não era correto servir alguém a
não ser o D..S do Universo, a Quem somente era apropriado curvar-se, oferecer sacrifícios e
fazer libações, de modo que todas as criaturas humanas pudessem, no futuro, conhecê-lo:
ensinou também que era próprio destruir e despedaçar todas as imagens, de modo que as
pessoas não errassem como aqueles que haviam pregado que não existia deus, a não ser
aquelas imagens.
Quando conseguiu fazer prevalecer sobre eles os seus argumentos, o rei procurou matá-lo.
Ele foi milagrosamente salvo e emigrou para Harã.
Então, ele começoe a proclamar ao mundo inteiro com grande poder e a instruir o povo que
o Universo inteiro não tinha senão um Criador e de que a Ele era certo adorar.
Ele foi de cidade em cidade e de reino a reino, chamando e reunindo os habitantes, até que
chegou à terra de Canaã.
Lá ele também proclamou a sua mensagem, como está escrito: "E aí invocou o Nome do
D..S do Universo" (Gn 21:33).
Quando as pessoas afluíam a ele e o questionavam com relação às suas afirmações, ele
instruía cada um segundo a sua capacidade, até trazer cada pessoa ao caminho da verdade;
e assim milhares e milhares se juntaram a ele.
Estas eram as pessoas citadas na frase: "homens da casa de Abraão".
Ele implantou em seus corações esta grande doutrina, compôs livros sobre ela e a ensinou a
Isaac, seu filho.
Isaac se estabeleceu, instruindo e advertindo.
Ele transmitiu a doutrina a Jacó e lhe ordenou que a divulgasse.
Este também se estabeleceu, ensinou e fortaleceu moralmente todos os que a ele se
juntaram.
O patriarca Jacó instruiu a todos os seus filhos, separou Levi, nomeou-o o líder e colocou-o
num colégio para ensinar o caminho de D..S e para manter a responsabilidade de Abraão.
Ele encarregou seus filhos de nomear dentre a tribo de Levi um instrutor após o outro, em
sucessão ininterrupta, de modo que a doutrina nunca fosse esquecida.
E assim, ela continuou sempre com vigor crescente entre os descendentes de Jacó e seus
adeptos, até que estes se tornassem um povo que conhecesse D..S.
Quando os judeus ficaram um longo tempo no Egito, eles foram relapsos, aprenderam as
práticas dos seus vizinhos e, como eles, adoraram ídolos, com a exceção da tribo de Levi,
que firmemente manteve a responsabilidade do Patriarca. Esta tribo de Levi nunca praticou
a idolatria.
A doutrina implantada por Abraão em muito pouco tempo, teria sido quase erradicada e os
descendentes de Jacó seriam fadados ao erro e às perversidades universalmente
predominantes, não fosse o amor de D..S por nós e Ele ter mantido o juramento feito ao
nosso ancestral Abraão.
Ele nomeou Moisés para ser o nosso mestre e o mestre de todos os profetas, e o incumbiu
de sua missão.
Depois que Moisés começou a exercer as suas funções proféticas e que Israel foi escolhido
pelo Todo-Poderoso como Sua herança, ele coroou os judeus com os preceitos e mostrou-
lhes a forma de adorá-Lo, de como lidar com a idolatria e com aqueles que se perdem nela.

Capítulo II
1. O princípio essencial dos preceitos relativos à idolatria é o de que é proibido adorar
qualquer coisa criada — nem anjo, esfera, estrela, nenhum dos quatro elementos, nem o
que quer que tenha sido formado deles.
Mesmo que o adorador esteja ciente de que o Eterno é D..S, e adorar a coisa criada no
sentido em que Enós e seus contemporâneos o fizeram, ele é um idólatra.
É contra isto que a Torá nos alerta, quando diz: "E mesmo que levantes os teus olhos aos
céus e vejas o Sol, a Lua, as estrelas e todos os exércitos dos céus que o Senhor teu D..S
distribuiu a todos os povos" (Dt 4:19).
Isto significa que, quando a sua mente reflete e você observa que o mundo é guiado por
aquelas esferas e que D..S as colocou no mundo como entes que vivem, duram
permanentemente e não se desintegram como todas as outras coisas, você poderia concluir
que é próprio curvar-se a essas esferas e adorá-las.
Em relação a tal tendência, D..S ordenou-nos, dizendo: "Acautelai-vos para que o vosso
coração não se deixe seduzir" (Dt 11: 16), ou seja, você não deve se perder por fantasias
de sua mente, ao adorar essas coisas como intermediárias entre você mesmo e o Criador.
2. Muitos volumes foram escritos pelos idólatras sobre idolatria tratando de seu princípio,
ritos e normas essenciais.
O Sagrado, seja Ele abençoado, nos ordenou a não ler tais livros, nem meditar sobre as
suas palavras ou coisas.
É até mesmo proibido contemplar uma figura idolatrada, como está escrito: "Não vos tomeis
para os ídolos" (Lv 19:4).
Com relação a isto, está escrito adiante: "Não procures por seus deuses, dizendo: 'Como
estas nações serviam aos seus deuses'?" (Dt 12:30).
Isto significa que você não deve fazer perguntas em relação a um ídolo nem ao seu modo
de adoração, mesmo que você não o esteja adorando, pois isto faria com que você se
voltasse ao ídolo e agisse como os idólatras, como continua o texto: "Vou fazer o mesmo"
(Dt 12:30).
3. Todas estas proibições vêm sob uma categoria — não se voltar à idolatria.
Quem quer que ser volte para ela, através de um ato, é punido com chicotadas.
Não é apenas à idolatria que não devemos nos voltar em pensamento.
Igualmente, somos alertados para não permitirmos que penetre em nossas mentes
qualquer pensamento que possa fazer com que se rejeite um princípio fundamental da Torá.
Não devemos voltar nossas mentes a tal pensamento, evitando assim sermos lançados de
encontro às imaginações de nossos corações, pois a mente é limitada. Nem toda mente é
capaz de obter o conhecimento da verdade em sua pureza.
Se todo homem seguisse as excentricidades de seu coração, o resultado seria a ruína
universal, tantas as limitações do intelecto humano.
Como assim?
Às vezes o indivíduo é remetido à idolatria; às vezes, ele sente internamente dúvida sobre
se Ele é Um ou se Ele não é Um; especula sobre o que está acima [O universo visível.], o
que está em baixo, o que existia antes da criação, o que existirá depois que o mundo tiver
um final; às vezes ele medita em relação à profecia e diz para si mesmo: 'Talvez seja
verdade, talvez não seja'; por vezes, ele acumula dúvidas similares em relação à Torá, no
sentido de sua origem ser ou não ser divina.
E tal pessoa, sendo ignorante sobre os princípios lógicos que necessitam ser aplicados a fim
de se alcançar a verdade positiva, vai recair em heresia.
Neste aspecto, a Torá nos exortou: "Sem seguir jamais os desejos do vosso coração e dos
vossos olhos, que vos têm levado a vos prostituir" (Nm 15:39).
Isto significa 'Você não deixará que cada um se afogue em sua inteligência limitada e que
venha a crer que a mente está alcançando a verdade'. Os sábios assim explicaram o texto
acima citado (Nm 15:39): "O seu coração" refere-se à heresia; "Os seus olhos" refere-se à
libertinagem.
Embora a violação desta proibição possa resultar na perda na vida do mundo vindouro, ela
não é punida com chicotadas. [Isto está de acordo com o princípio de que uma infração que
não envolva um ato físico não é penalizada aqui, neste mundo, pela corte dos homens.]
4. O preceito relativo à idolatria é igual em importância a todos os outros preceitos
reunidos, como está escrito: "Se deixares de cumprir, por inadvertência, qualquer um
destes mandamentos" (Nm 15:22).
Este texto foi tradicionalmente transmitido como alusivo à idolatria, daí a inferência de que
a aceitação de idolatria equivale ao repúdio de toda a Torá, dos profetas e de tudo a que
foram ordenados, de Adão até o fim dos tempos, como está escrito: "Desde o dia em que o
Senhor ordenou todas estas coisas, para todas as vossas gerações" (Nm 15:23).
E todo aquele que negar a idolatria confessa [Isto é, quando se reúnem para cumprir os
mandamentos na prática.] a sua fé em toda a Torá, nos profetas e em tudo o que foi
ordenado aos profetas, de Adão até o fim dos tempos.
E este é o princípio fundamental de todos os mandamentos.
5. Um judeu que adorou um ídolo é considerado um idólatra em todos os aspectos [Dá-se o
mesmo quando não respeita o Shabat.] e não apenas um judeu que cometeu uma
transgressão; a penalidade para isso é a morte por apedrejamento. Quem se converte à
idolatria é considerado como tendo renunciado à íntegra da Torá.
Pela mesma razão, os judeus incrédulos não devem ser considerados como parte da casa de
Israel, como está escrito: "Os que ali entram não retornam, não alcançam as sendas da
vida" (Pv 2:19). [Um judeu que transgride as leis judaicas, mesmo sem exercer idolatria,
que desrespeita o Shabat ou casa-se ou mantém relações com não-judeus, tem o princípio
judaico ainda vivo dentro de si; mas a prática dos atos citados acima adormece
completamente o judaísmo dentro dele. Como, apesar de tudo, ainda é judeu autêntico, se
se esforçar muito pode ser recuperado.]
Os ateus são aqueles que seguem as fantasias de seus corações até que se tornem
transgressores dos preceitos fundamentais da Torá, num espírito de desafio e arrogância,
afirmando que não há nada de errado naquilo que fazem.
É proibido manter conversa com eles ou dar-lhes alguma resposta, como está escrito: "Não
te aproximes da porta da casa dela" (Pv 5:8).
A mente do ateu tende à idolatria.
6. Aquele que reconhece que a idolatria é uma verdade, mesmo que não adore um ídolo,
injuria e blasfema o honrado e reverenciado Nome de D..S.
O idólatra e o blasfemo estão na mesma classe, como está escrito: "Aquele que procede
deliberadamente, quer seja judeu de nascimento ou convertido, comete ultraje ao Senhor"
(Nm 15:30).
Daí o idólatra ser pendurado, assim como o blasfemador, depois de terem sido apedrejados.
Portanto, eu incluí a lei do blasfemador entre as leis de idolatria, já que não só o idólatra
como também o blasfemo negam os princípios fundamentais da nossa religião.
7. São as seguintes as regras referentes ao blasfemador: O blasfemador não incorre na
pena de morte por apedrejamento até que tenha pronunciado o próprio Nome de D..S, que
é escrito Álef, Dálet, Nun, Iud, e que tenha sido amaldiçoado, invocando-se um dos Nomes
da Divindade que não podem ser apagados, como está escrito: "Aquele que blasfemou o
Nome do Senhor deverá ser morto" (Lv 24:16).
A blasfêmia contra o Nome Próprio de D..S é punida com o apedrejamento; mas aquele que
blasfemar contra qualquer um dos nomes atribuídos a D..S, apenas viola uma proibição.
Uma autoridade declarou que a pena extrema seja imputada apenas quando o Tetragraman
(J. H. V. H.) é blasfemado.
Eu sou de opinião que o blasfemador seja apedrejado, mesmo se utilizar qualquer um dos
dois Nomes Próprios.
8. De onde provém a proibição da blasfêmia?
Do texto "Não blasfemarás contra D..S" (Êx 22:27).
As testemunhas são interrogadas dia após dia, utilizando-se termos alusivos, como a
expressão "Deixe que José fira José".
Quando o julgamento é concluído, o Tribunal é esvaziado e a testemunha mais idosa é
novamente questionada.
Os juízes lhe dizem: "declara o que ouviste, explicitamente".
Ele faz a declaração.
Os juízes se levantam e rasgam as suas roupas; estes rasgos nunca serão cosidos.
A segunda testemunha diz então: "Eu ouvi o mesmo que ele."
Mesmo se houver muitas testemunhas, cada uma delas tem que declarar: "Eu ouvi o
mesmo que a testemunha anterior."
9. Se o blasfernador retirar a blasfêmia, mesmo imediatamente após tê-la pronunciado, tal
iniciativa não tem efeito nenhum. [A retirada não tem valor, porque uma coisa tão grave
não pode ser feita sem se pensar antes. Quando o blasfemador fala, isto mostra que ele já
pensou sobre isso antes. É somente por causa do medo dos homens que ele diz que retira o
que disse.]
Aquele que blasfemou na presença de testemunhas é morto por apedrejamento.
Se o indivíduo blasfemou o Nome de D..S, invocando o nome de um ídolo, os zelosos o
atacam e o matam-no.
Se eles não o matarem, e ele comparecer diante do Tribunal, ele não é apedrejado, a
menos que tenha blasfemado invocando um dos dois Nomes Próprios de D..S.
10. Todo aquele que ouvir o Nome de D..S sendo blasfemado — mesmo que se trate de um
dos Nomes atribuídos — deve rasgar as suas vestes considerando que a blasfêmia tenha
sido pronunciada por um judeu.
Se ele ouvir a blasfêmia diretamente do blasfemador, ou souber dela por alguém que a
ouvira de um blasfemador, ele tem que rasgar as suas vestes.
Alguém que vier a ouvir uma blasfêmia pronunciada por um não judeu não é obrigado a
rasgar as suas roupas.
A razão pela qual Eliaquim e Sebna rasgaram as suas vestes (II Rs cap. 18), foi porque
Rabsaqué era um apóstata.
Todas as testemunhas e juízes colocam suas mãos, uma após outra, sobre a cabeça do
blasfemador e dizem-lhe: "Teu sangue esteja sobre a tua cabeça, pois tu o trazes em ti
mesmo."
Dentre todos aqueles que são condenados à morte pelo Tribunal, o blasfemador é o único
em cujo julgamento a imposição das mãos é exigida, como está escrito: "Todos aqueles que
o ouviram porão as mãos sobre a cabeça dele" (Lv 24:14).

Capítulo III
1. Todo aquele que adorar um ídolo por sua livre e espontânea vontade, incorrerá na pena
de excisão.
Se as testemunhas estiverem presentes e se houver um aviso prévio, ele é apedrejado.
Se a pessoa adorar um ídolo em erro, ela traz a oferenda de "pecado permanente". 2.
Diversos modos de adoração foram instituídos pelos idólatras para cada imagem e figura.
O modo de adoração não é o mesmo para todos os ídolos.
Por exemplo, a adoração de Peor exige uma posição indecente [Em posição de fazer as
necessidades fisiológicas (evacuação).] da pessoa diante do ídolo; a adoração de Marculis
consiste em lançar pedras em direção ao ídolo ou retirar as pedras da frente dele.
Muitos modos de adoração similares a estes foram instituídos para outros ídolos.
Daí, aquele que expõe a sua pessoa em adoração a Marculis ou lança uma pedra diante de
Peor [Ou seja, o indivíduo praticou o ato contrário - o que seria de um ídolo foi feito para o
outro e vice-versa, como um desrespeito ao ídolo. Embora isto seja também proibido, não
tem punição na corte terrestre.] não incorre em pena de idolatria.
Ele só é responsável se adorar um ídolo segundo o seu ritual especial, como está escrito:
"Como estas nações serviam seus deuses? Mesmo assim farei o mesmo" (Dt 12:30).
O Tribunal deve, portanto, estar familiarizado com os diversorituais idólatras, pois nenhum
judeu deve ser apedrejado sem que o Tribunal saiba se ele observou o ritual apropriado do
ídolo que adorou.
3. A proibição destes e de outros modos similares de adoração é inferida pelo texto "Não os
servirás" (Êx 20:5).
Isto se refere a todos os modos de adoração, com a exceção a se curvar, sacrificar, oferecer
incenso ou libação; aquele que utiliza qualquer destes modos da adoração a um dos ídolos é
responsabilizado pelo crime de idolatria, mesmo que não se trate do modo de adoração
peculiar do ídolo adorado.
Por exemplo, alguém que despeja uma libação a Peor, ou que se sacrifica a Marculis é
responsável por seu ato, como está escrito: "Quem sacrificar a outros será entregue ao
anátema" (Êx 22:19).
Já que o sacrifício está incluído nos modos de adoração, por que ele é mencionado
especialmente neste texto?
Para indicar que o sacrifício é uma prática apropriada ao serviço de D..S.
Aquele que oferecer sacrifícios a uma outra divindade incorrerá na pena de apedrejamento,
não importando se o sacrifício é ou não o modo especial de adorar aquela divindade: de
modo que toda forma de adoração apropriada ao serviço de
D.. S, quando usada na adoração de um ídolo, torna o adorador desgraçado como um
idólatra.
Está escrito, portanto, "Não adorarás outro deus" (Êx 34:14), a fim de tornar aquele que se
curva a um ídolo responsável, mesmo se tal ato não for um modo de adoração.
A mesma regra se aplica à oferenda de incenso ou libação.
O ato de espargir o sangue e o de despejar as libações são considerados sob o mesmo
aspecto.
4. Se o indivíduo realizar uma oferta a um ídolo ou fizer a ele uma libação que consista de
um recipiente cheio de urina ou excreção, ele é condenado à pena de idolatria.
Aquele que imolar um gafanhoto não incorre em pena capital, a menos que tal seja o modo
de adoração envolvido.
Assim, também, matar um animal que tenha um membro atrofiado não incorre em pena
capital, a menos que este consista no modo especial de adoração envolvido.
Se um ídolo for adorado por meio de um pedaço de pau, aquele que partiu o pedaço de pau
diante do ídolo é condenado e o pedaço de pau não pode mais ser usado.
Se o indivíduo lançou um pedaço de pau diante do ídolo, ele é condenado mas o pedaço de
pau não tem seu uso proibido.
A razão para a distinção é que o ato de lançar um pedaço de pau não é análogo ao de
espargir sangue: o pedaço de pau, após ser retirado, não se fragmenta, enquanto o sangue,
após ser espargido se dispersa.
Todo aquele que aceitar alguma das várias classes de ídolos como um deus incorre na pena
de apedrejamento.
Mesmo se um homem tomar um tijolo e lhe disser: "Tu és o meu Deus" (ou palavras de
importância similar), ele é condenado.
E, embora ele retire o que disse imediatamente e retifique: "este não é meu deus", a sua
retração de nada vale e ele é apedrejado.'
5. Todo aquele que adorar um ídolo segundo seu ritual especial, mesmo que faça isto com
desprezo, é condenado.
Por exemplo, se um indivíduo expuser a sua pessoa diante de Peor a fim de mostrar
desprezo por ele, ou atirar uma pedra em direção a Marculis para mostrar seu desprezo em
relação a ele, ele é condenado pois estes são os modos respectivos de adorar aqueles ídolos
e ele deverá, conseqüentemente, trazer um sacrifício em arrependimento por seu erro.
6. Se um indivíduo adorar um ídolo por amor, ou seja, se uma imagem particular lhe
trouxer prazer devido a suas belas formas, ou se o indivíduo adorar um ídolo por temor,
porque aprendeu que ele pode lhe prejudicar — assim como os idólatras imaginam que o
ídolo tem poder para beneficiar ou prejudicar, ele é passível de apedrejamento, caso o
tenha aceito como um deus.
Mas se ele adorou o ídolo com o ritual peculiar a ele, ou com um dos quatro modos
apropriados à adoração de D.. S, e o seu motivo é apenas o amor pelo ídolo ou o temor a
ele, não é passível de apedrejamento.
Aquele que abraçar um ídolo, beijá-lo, varrer o solo ou pousar a poeira em frente a ele,
lavá-lo, ungi-lo, vesti-lo, calçar sapatos em seus pés, ou realizar ofícios de respeito
similares, viola uma proibição, pois está escrito: "Não os servirás" (Êx 20:5). Estes atos
vêm sob a categoria da adoração, mas as chicotadas não são aplicadas a nenhum deles, já
que não constituem, na Tora, explicitamente adoração.
Se alguns destes atos for um ritual particular a um ídolo e o indivíduo o realizar com o
intuito de adorar, ele é condenado por idolatria.
7. Se um espinho se alojou no pé de uma pessoa enquanto estava de pé em frente a um
ídolo, ela não pode se abaixar a fim de removê-lo, porque pareceria estar se curvando ao
ídolo.
Se moedas, pertencentes a uma pessoa, tiverem caído em frente ao ídolo ela não deverá se
abaixar para recolhê-las, porque pareceria estar se curvando ao ídolo.
Ela deve se sentar, e então extrair o espinho ou recolher as moedas.
8. Quando houver em frente a um ídolo figuras que vertam água, o indivíduo não pode
colocar sua boca sobre a abertura de qualquer uma delas para beber, pois pareceria estar
beijando o ídolo.
9. Se um indivíduo adquirir um ídolo para si, é punido com chicotadas, ainda que ele não o
tenha feito com as suas próprias mãos e não o tenha adorado, como está escrito: "Não
farás para ti imagem de escultura, nem de semelhança alguma" (Êx 20:4).
Da mesma forma , se o indivíduo fizer um ídolo com as suas mãos para os outros, ainda
que o faça para um idólatra, ele é punido com chicotadas, como está escrito: "Não mandeis,
fundir deuses de metal" (Lv 1:4).
Portanto, aquele que faz um ídolo com as suas próprias mãos e para si mesmo é punido
com chicotadas duas vezes.
10. É proibido fazer figuras com propósito de ornamento, mesmo que elas não sejam
idólatras, como está escrito: "Não farás para ti imagem de escultura" (Ex 20:4); isto é,
figuras de ouro e prata que sirvam apenas de ornamento, de modo que aqueles que sejam
propensos a errar não venham a imaginar que tais figuras sirvam a propósitos idólatras.
A proibição de fazer figuras ornamentais só se aplica à representação humana.
Logo, uma figura de um ser humano não deve ser feita de madeira, barro ou pedra; se a
figura for em alto relevo, como as esculturas e figuras de palácios e lugares afins, o autor
dela é punido com chicotadas.
Se, no entanto uma figura é feita em baixo relevo ou pintada, tal como os desenhos sobre
pranchas, tabuletas ou tecidos em tapeçaria, ela é permitida.
11. Se um anel com sinete contiver uma figura humana em alto-relevo, será proibido usá-lo
a não ser como um selo.
Se a figura for em baixo-relevo, o anel pode ser usado, mas não pode servir para selar, pois
a impressão que produziria seria em alto-relevo.
Também é proibido fazer figuras do Sol, da Lua, das estrelas, constelações ou anjos, pois
está escrito: "Não farás para ti" (Êx 20:4) — isto é, "tu não farás figuras representando os
Meus ministros que governam diante de Mim nas alturas".
Tais figuras não podem nem mesmo ser feitas em tabuletas.
Figuras de quadrúpedes e de outros animais (com exceção do homem) e de árvores,
plantas, etc. podem ser feitas, mesmo em alto-relevo.

Capítulo IV
1. Aqueles que seduzirem uma cidade de Israel à idolatria serão mortos por apedrejamento,
mesmo que eles mesmos não tenham adorado um ídolo.
Os habitantes seduzidos são mortos pela espada, posto que tenham adorado um ídolo
qualquer ou o aceitado como um deus.
Onde está apontada a proibição de sedução à idolatria?
No texto: "Não fareis menção do nome de outros deuses" (Ex 23:13).
2. Uma cidade não é considerada seduzida: a não ser que aqueles que a conduziram à
perdição pertençam a ela e sejam da mesma tribo que o restante de seus habitantes, como
está escrito: "Procedentes do teu meio, seduziram os habitantes da sua cidade" (Dt 14:14);
a não ser que os sedutores sejam dois ou mais do que dois, como está escrito: "Homens
ímpios saíram do meio de ti... e desencaminharam os habitantes da sua cidade" (ibid.
13:14); e a não ser que os seduzidos sejam a maioria de seus habitantes e excedam em
mais de cem a maioria da tribo.
Se a maioria de uma tribo foi desencaminhada, eles são julgados individualmente,
como está escrito: "Os habitantes daquela cidade" (Dt 13:16) — isto é,
não de uma pequena comunidade, nem de uma grande capital.
Uma população de menos de cem forma uma pequena comunidade, e a maioria
da tribo constitui uma grande capital.
Desta forma, se as mulheres ou as crianças a seduziram, ou se um único homem adulto o
fez, ou se apenas uma minoria de seus habitantes foi desencaminhada, ou se os habitantes
desvirtuaram a si mesmos, ou se os sedutores vieram de fora, — em todos estes casos a lei
da cidade seduzida não é aplicada; os habitantes, nesses
casos, são considerados indivíduos que praticam a idolatria.
Então, quem quer que tenha transgredido é morto por apedrejamento, enquanto que a
propriedade dos transgressores passa para os seus herdeiros, como no
caso de outros malfeitores executados pela sentença de um tribunal
judicial.
3. Uma cidade seduzida só pode se julgada por um Tribunal de setenta e
um juízes, como está escrito: "Então farás sair pelas portas da cidade o
homem ou a mulher que cometeu esta ação má" (Dt 17:5), o que quer
dizer que os ofensores são executados individualmente, sob a sentença de
um tribunal, nos portões do tribunal daquela cidade; a maioria dos
habitantes da cidade, porém só será executada se julgada pelo Tribunal
Supremo.
4. Nenhuma das Cidades de Refugio (Nm 35:10-15) pode jamais se
tomar uma cidade seduzida, como está escrito: "Numa das cidades"
(Dt 13:13).
Nem pode Jerusalém ser condenada como uma cidade seduzida, já que nunca foi destinada
a qualquer tribo.
Uma cidade de fronteira nunca é condenada como uma cidade seduzida, de forma que os
não-judeus não venham a invadir a Terra Sagrada de Israel, e
destruí-la. [Para que a fronteira não fique abandonada, sem defesa, o que seria uma porta
aberta para os inimigos entrarem.]
Um tribunal não pode declarar três cidades adjacentes entre si como cidades seduzidas,
mas pode fazê-lo se forem distantes uma das outras.
5. Uma cidade não é declarada seduzida a menos que os sedutores tenham
usado o número plural e tenham dito aos habitantes "vamos e adoremos",
"vamos e sacrifiquemos", "vamos e despejemos as libações", "vamos e
nos curvemos" ou "vamos e aceitemos o ídolo como um deus", e que as
pessoas tenham lhes dado atenção e adorado um ídolo, através de seu
ritual especial, ou através de um dos quatro modos apropriados à
adoração de D..S, ou a não ser que tenham aceito o ídolo como um deus.
Como devem ser tratados os habitantes de uma cidade que, embora
esta não tenha sido declarada seduzida, tenham incorrido em sérias
transgressões desta natureza?
Aqueles que adoraram ídolos devem ser avisados separadamente, e após ter sido dado o
testemunho de sua persistência na idolatria, eles são mortos por apedrejamento como
indivíduos que adoraram ídolos.
A propriedade deles passa para os seus herdeiros.
6. Qual é o procedimento no caso de uma cidade estar na iminência de
ser declarada uma cidade seduzida?
O Tribunal Supremo envia uma comissão, através da qual institui um inquérito e uma
inquisição, até que os juízes se convençam em clara evidência de que toda ou a maior parte
da população daquela cidade foi desencaminhada e contaminada pela
idolatria.
Então, eles enviam dois eruditos para alertar a população e tentar reconduzi-la à trilha
certa.
Se eles se arrependerem, não haverá retaliações, mas se persistirem em sua insensatez, o
Tribunal convoca todo o povo de Israel para organizar uma expedição contra eles.
Esta expedição os cerca e lhes declara guerra, até que a cidade seja tomada.
Depois da tomada da cidade, um grande número de tribunais é estabelecido para
julgar os habitantes.
Todo aquele contra quem duas pessoas testemunharem ter adorado ídolos, após ser
avisado, é separado.
Se todos os que adoraram ídolos forem considerados uma minoria dentre os habitantes,
eles são apedrejados e o resto é poupado. Se aqueles que adoraram ídolos forem
considerados a maioria, eles são trazidos diante do Tribunal
Supremo, onde o seu julgamento é completado.
Todos aqueles que adoraram ídolos, então, são mortos por decapitação.
Se for apurado que todos os habitantes adoraram ídolos, todos os seres humanos da cidade,
incluindo mulheres e crianças, são lançados à espada.
Se todos os habitantes adoraram ídolos, as esposas e filhos dos idólatras são imolados com
a espada.
Se somente a maioria fez idolatria, então as suas esposas e filhos são decapitados.
E, independentemente de os seduzidos terem sido todos ou apenas a maioria, também
aqueles que os seduziram são mortos por apedrejamento.
Toda a propriedade existente na cidade é reunida em sua praça central.
Se ela não tem praça central, uma é construída.
Se a praça central situa-se fora da cidade, um muro externo é construído, de modo a
inserir a praça na cidade, como está escrito: "no meio da praça pública"
(Dt 13:17).
Todas as criaturas vivas da cidade são imoladas e todas as outras propriedades, juntamente
como próprio local, são queimados.
Esta destruição pelo fogo é um preceito afirmativo, como está escrito: "e queimarás
completamente a cidade e todos os seus despojos" (Dt 13:17).
7. A propriedade pertencente aos homens virtuosos da cidade, isto é, aqueles habitantes
que não foram desencaminhados com a maioria, é queimada com o resto dos bens da
cidade; por terem vivido lá, a sua propriedade também é destruída. Quem tomar qualquer
parte dela, por menor que seja, para uso particular, é punido com chicotadas, como está
escrito: "Nada do que for sacrificado como anátema ficará em tua mão" (Dt 13:18).
8. Se as testemunhas cujo depoimento levou a cidade a ser declarada seduzida forem
consideradas como tendo prestado falso testemunho, aquele que tomou posse de qualquer
parte de sua propriedade adquire o direito à mesma, e pode usá-la.
Por que, porém, ele adquiriu tal direito à propriedade?
A resposta é que todo dono de propriedade naquela cidade, imediatamente após a
condenação, foi privado de sua propriedade por abandono.
A cidade nunca será reconstruída, e aquele que tentar reconstruí-la é punido com
chicotadas, como está escrito: "Ela nunca mais será reconstruída" (Dt 13:17).
O terreno, entretanto, pode ser convertido em jardins e parques, como está escrito: "Ela
nunca mais será reconstruída" — o que significa que não pode ser reconstruída como um
lugar habitado, tal como fora antigamente.
9. Se uma caravana em viagem passar através de uma cidade seduzida e for também
seduzida por ela, os seus membros serão mortos por decapitação e a sua propriedade
destruída, no caso de a caravana ter ficado na cidade durante pelo menos trinta dias.
Caso contrário, eles são mortos por apedrejamento e a sua propriedade passa aos seus
herdeiros.
10. A propriedade pertencente a residentes de outro distrito que estiver depositada na
cidade seduzida — mesmo quando a responsabilidade por sua segurança foi assumida por
cidadãos da cidade condenada — não é queimada, mas reverte aos donos, como está
escrito: "Todos os seus despojos" (Dt 13:17) — não os despojos de um outro distrito.
A propriedade possuída pelos ímpios que foram seduzidos, e que fora depositada noutro
distrito, se for coletada e colocada junto com a propriedade da cidade condenada, é
queimada com ela.
Caso contrário, ela não é destruída, mas passa para os herdeiros.
11. Um animal cuja metade pertença a uma cidade seduzida, enquanto a outra metade for
propriedade de uma outra cidade, se encontrado na cidade seduzida, não poderá ser usado.
Uma massa possuída por ambas as cidades pode ser usada, porque pode ser dividida.
12. Um animal possuído por uma cidade seduzida, mesmo após ter sido ritualmente
imolado, não pode ser usado, como é a regra para a vaca condenada ao apedrejamento (Êx
21:28-32) que fora ritualmente imolada.
O cabelo natural dos homems e mulheres da cidade seduzida pode ser usado.
Mas o cabelo de uma penca lá encontrada vem dentro da categoria "os seus despojos" e
não pode ser usado.
13. Os frutos" ainda não colhidos e encontrados na cidade seduzida podem ser consumidos,
como está escrito: "Reunirás... e queimarás" (Dt 13:17).
Este texto se refere àquilo que apenas necessita ser recolhido e queimado, mas não aos
frutos ainda enraizados, pois estes devem ser colhidos antes que possam ser reunidos e
queimados.
O mesmo princípio se aplica ao cabelo da cabeça, e é desnecessário dizer, às árvores,
tornam-se propriedade dos herdeiros.
Com relação à propriedade santificada, o gado separado para ser sacrificado sobre o altar
deve sofrer morte natural, pois "o sacrifício dos ímpios é a abominação" (Pv 21:27).
Se elas foram angariadas para pagar os reparos do Edifício Sagrado, devem ser redimidas e
então queimadas, como está escrito: "os seus despojos" (Dt 13:17), mas não as possessões
de D..S.
14. O primogênito [Primogênito do gado.] e o dízimo do gado encontrados na cidade, se
não possuírem defeito, são tratados como sacrifício para o altar, e mortos.
Se defeituosos, são tratados e mortos como o gado comum da cidade.
As oferendas das plantações (Nm 18:11) encontradas na cidade que passaram para a
propriedade de um sacerdote, devem ser deixadas intocadas até que apodreçam.
Se ainda estão sob a posse de um israelita [Aquele que não é cohen, no caso, é o dono da
produção.], devem ser dadas a um sacerdote residente em outra localidade, pois são
propriedade de D..S e intrinsecamente sagradas.
15. O Segundo Dízimo (Dt 14:22, 23) e o dinheiro resultante de sua venda (ibid. 14:24-26),
bem com as Escrituras Sagradas encontrados numa cidade seduzida, devem ser enterrados.
16. Aquele que executa o julgamento de uma cidade seduzida realiza um ato meritório,
comparável a alguém que consagre uma oferenda ardente que seja totalmente consumida,
como está escrito: "todos os seus despojos para o Senhor teu D..S" (Dt 13:16).
Além disso, ele afasta a fúria do Eterno sobre o povo judeu, como está escrito: "para que o
Senhor abandone o furor de sua cólera" (Ibid. 13:18), e traz bênção e compaixão sobre o
povo judeu, como está escrito: "e te conceda o perdão, tenha piedade de ti e te multiplique"
(Ibid. 13:18).

Capítulo V
1. Aquele que incitar um homem ou mulher judeu à idolatria é apedrejado, mesmo que nem
o incitador, nem o incitado tenham adorado um ídolo; é suficiente que ele tenha dado a
instrução para que o ídolo fosse adorado.
E quer o incitador seja um leigo ou um profeta, e tendo ele incitado apenas uma pessoa —
homem ou mulher — ou várias pessoas, a punição é a morte por apedrejamento.
2. Aquele que incita a maioria dos habitantes de uma cidade à idolatria é um sedutor, e não
classificado como incitador.
Se o sedutor da maioria de uma cidade for um profeta, ele é morto por apedrejamento, e
aqueles que foram seduzidos são tratados individualmente e não como habitantes de uma
cidade seduzida — a menos que tenha havido pelo menos dois sedutores.
Se o indivíduo disser: "o ídolo me disse para adorá-lo", ou: "o Sagrado, seja Ele abençoado,
disse-me 'adora tu o ídolo' ", em qualquer destes casos ele é considerado um profeta
sedutor.
Se a maioria dos habitantes de uma cidade foi seduzida por ele, ele é morto por
apedrejamento.
O incitador, se usou o discurso plural ou singular, é morto por apedrejamento.
Por exemplo, se alguém disse a outro: "eu adorarei um ídolo"; "eu irei e adorarei"; "vamos
e adoremos com o ritual especialmen-te utilizado para aquele ídolo particular"; "eu
sacrificarei"; "eu irei e sacrificarei"; "vamos e sacrifiquemos"; "eu queimarei incenso"; "eu
irei e queimarei incenso", "vamos e queimaremos o incenso"; "prostrar-me-ei"; "irei e
prostrar-me-ei"; "vamos e nos prosternemos"; ao enunciar qualquer destas expressões, ele
será um incitador. Se ele tiver incitado duas pessoas, elas tornam-se testemunhas.
Elas o trazem ao tribunal e testemunham contra ele, relatando sua tentativa de
incitamento; então ele é morto por apedrejamento.
3. Para a condenação de um incitador, nenhum aviso prévio é exigido.
Se ele tiver tentado incitar um único indivíduo, esta pessoa deve responder: "eu tenho
amigos que desejam adorar ídolos".
Deve-se usar de astúcia até que o incitador faça a sua tentativa de sedução diante de duas
testemunhas, que são necessárias para assegurar a sua condenação à morte.
Se o incitador não confessar ter incitado duas pessoas, é um dever assegurar a evidência de
testemunhas ocultas.
Em nenhuma outra categoria de penas capitais se permite uma "armadilha" para flagrar o
transgressor a não ser nesta.
Qual, então, é o procedimento?
Aquele a quem ele tentou incitar traz dois homens, e os coloca em local escuro de onde
estes possam ver o incitador e ouvir as suas palavras, sem serem percebidos por ele.
Ele então diz ao incitador: "diga novamente o que você me propôs em particular". Depois
disso aquele a quem ele tentou incitar responde: "Como podemos desistir de nosso D..S
que está no céu, para adorar blocos de madeira e pedras?"
Se o incitador se retirar ou se mantiver em silêncio, ele não é condenado.
Mas se ele retorquir: "Este é o nosso dever, e é o que devemos fazer", então aqueles que se
puseram de pé a distância trazem-no ao tribunal e ele é morto por apedrejamento.
4. A execução do incitador é um dever daquele que ele tentou incitar, como está escrito:
"Tua mão será a primeira a matá-lo" (Dt 13:10).
O incitado é proibido de amar o incitador, como está escrito: "Não o desejarás" (Dt 13:9).
Em relação a um inimigo, está escrito: "mas o ajudarás" (Êx 23:5); poder-se-ia supor que o
incitador também devesse ser ajudado.
Está escrito igualmente, no entanto: "Não o ouvirás" (Dt 13:9).
Como está escrito "Nem tu sujeitarás a juízo o sangue do teu próximo" (Lv 19:16), poder-
se-ia também supor que não se devesse permanecer de pé impassível diante do sangue
desse homem.
Entretanto, a passagem "Que teu olho não tenha piedade dele" (Dt 13:9) desfaz o equívoco.
O incitado não deve procurar defender o incitador, como está escrito: "Não terás piedade"
(Dt 13:9).
Se ele tiver ciência de uma prova para a condenação do incitador, não deve jamais se
abster de declará-la, como está escrito: "Não escondas o seu erro" (Dt 13:9).
De onde é inferida a proibição que proíbe um leigo de incitar à idolatria?
Do texto "E todo Israel ouvirá e temerá" (Dt 13:12).
5. Se o indivíduo incitar os outros a adorarem-no e lhes disser: "adorem-me" e eles o
adorarem, ele é apedrejado; mas ele não é apedrejado se eles não o adorarem, ainda que
tenham aceitado a sua declaração.
Mas, se as pessoas incitadas a adorar uma outra pessoa ou qualquer outro ente tiverem se
manifestado favoravelmente, ainda que não tenham realizado sua intenção, não só o
incitador, como também o incitado são apedrejados, como está escrito: "Tu não lhe darás
consentimento, nem o ouvirás" (Dt 13:9).
Isto implica que aquele que consente e dá ouvidos está sujeito à punição.
6. Em que situação um profeta profetiza em nome da idolatria?
Quando afirma: "este ídolo particular ou estrela particular me disse que é um dever fazer
isto e não fazer tal coisa".
Mesmo que tal declaração coincida com a Lei, de modo que ele tenha declarado impuro
aquilo que é realmente impuro e puro o que é de fato puro, ele é morto por
estrangulamento considerando-se que tenha sido avisado na presença de duas
testemunhas, como está escrito: "ou se ele falar em nome de outros deuses, tal profeta
certamente será morto" (Dt 18:20).
A proibição está inserida no texto: "e não fareis menção ao nome de outros deuses" (Êx
23:13).
7. É proibido refutar ou se envolver em polêmica com alguém que profetize em nome da
idolatria.
Tampouco se deve pedir a ele um sinal ou indício.
Se ele, por sua própria inciativa, realizar tal sinal, não se deve dar atenção nem refletir
sobre o mesmo.
Quem der atenção a tais sinais, pensando que possivelmente sejam verdadeiros, violará
uma proibição, como está escrito: "Não ouças as palavras desse profeta" (Dt 13:4).
Um falso profeta é morto por estrangulamento, mesmo que tenha profetizado em nome do
Senhor, e mesmo que não haja adicionado nem reduzido coisa alguma de Seus
Mandamentos, como está escrito: "Se o profeta tiver a ousadia de falar em Meu Nome uma
palavra que Eu não lhe tiver ordenado, ou falar em nome de outros deuses, ele deverá ser
morto" (Dt 18:20).
8. Se o indivíduo pronunciar o que não recebeu em visão profética, ou se tendo ouvido as
palavras de um outro profeta, declarar que a mensagem fora comunicada diretamente a ele
mesmo — em qualquer desses casos ele é um falso profeta, e é morto por estrangulamento.
9. Quem se abstém de matar um falso profeta devido a sua alta posição, ou por se
impressionar com o modo de vida coerente com o chamado profético, viola uma proibição,
como está escrito: "tal profeta falou com presunção.
Não o temas" (Dt 18:22).
Igualmente, quem se abstém de declarar provas para a sua condenação, ou que demonstra
medo e pavor diante de suas palavras, está incluído entre aqueles que transgridem a
proibição "Tu não o temerás" (Dt 18:22).
O falso profeta só pode ser julgado pelo Tribunal de setenta e um juízes.
10. Aquele que faz um voto em nome de um ídolo ou jura por ele, é punido com chicotadas,
como está escrito: "e não fareis menção ao nome de outros deuses" (Êx 23:13).
Tanto faz se ele fez o voto para si mesmo ou para um idólatra.
Também é proibido fazer com que um idólatra jure por seu objeto de adoração.
A menção do nome de um ídolo, mesmo sem ser através de juramento, também é proibida,
como está escrito: "Não fareis menção" (Êx 23:13).
11. Uma pessoa não deve dizer a outra: "Espere por mim ao lado daquele ídolo", nem dar
uma instrução semelhante.
Porém, os nomes mencionados nas Escrituras podem ser mencionados, tais como Peor, Bel,
Nevô, Gad, etc. [Porque a própria Torá os menciona.]
É proibido dar ocasião aos outros para fazer votos ou para confirmá-los em nome de um
ídolo.
Esta pessoa só é punida com chicotadas se ela mesma fizer ou confirmar um voto em nome
de um ídolo, isto é, se jurar por seu nome.

Capítulo VI
1. Aquele que pratica necromancia ou consultas a espíritos familiares voluntária e
audaciosamente, incorre na pena de excisão.
Se testemunhas estiverem presentes e um aviso tiver sido previamente dado, ele será
morto por apedrejamento.
Se a ofensa for cometida involuntariamente, ele traz a oferenda de pecado designada.
Como é praticada a necromancia?
O praticante fica de pé, oferece uma certa espécie de incenso, segura em sua mão um ramo
de mirta e o balança.
Ele pronuncia suavemente certas palavras conhecidas dos praticantes dessa arte, até que a
pessoa que o consulta pensa que alguém está conversando com o necromante respondendo
as suas perguntas em palavras que soam como se viessem de debaixo do chão em tons
excessivamente baixos, quase inaudíveis ao ouvido e apenas apreendidos pela mente.
O necromante também costuma tomar o crânio de um homem morto, queimar incenso em
seu nome e usar de artes de adivinhação, até que surge o rumor de uma voz, excessiva-
mente baixo, vindo de sob as axilas do necromante e que e responde a ele.
Todos os atos de tal natureza constituem necromancia.
Todo aquele que executar qualquer um desses rituais é morto por apedrejamento. 2. Como
é praticada a consulta aos espíritos familiares?
O praticante põe o osso de um pássaro chamado ieduá em sua boca, oferece incenso e
realiza outros atos, até que cai ao chão como um epilético e pronuncia previsões de eventos
futuros.
Todos esses rituais são espécies de idolatria.
De onde é inferido que são proibidas?
Do texto "Não vos voltareis aos necromantes nem consultareis os adivinhos" (Lv 19:31).
3. Aquele que, por sua livre e espontânea vontade e audaciosamente, oferece qualquer de
seus filhos a Moloque incorre nas pena de excisão.
Se o fizer involuntariamente, deve trazer a oferenda de pecado designada.
Se a ofensa foi cometida na presença de testemunhas e após o aviso, ele é morto por
apedrejamento, como está escrito: "Todo filho de Israel... que der um de seus filhos a
Moloque será morto. O povo da terra o apedrejará" (Lv 20:2).
De que passagem se depreende que isto é proibido?
Do texto: "Não entregarás os teus filhos para consagrá-los a Moloque" (Lv 18:21), e,
adiante: "Que em seu meio não se encontre quem queime seu filho ou sua filha" (Dt
18:10).
Em que consiste tal procedimento?
Um grande fogo é aceso.
O pai toma um de seus filhos e o entrega aos sacerdotes que são adoradores do fogo [Culto
de origem persa, existente ainda hoje entre os parsis.]
Aqueles sacerdotes devolvem o filho ao pai, após ter sido entregue em suas mãos, para que
possa ser passado através do fogo com o consentimento de seu pai.
O pai é quem passa o seu filho sobre o fogo, com a permissão do sacerdote.
Ele faz seu filho andar com os próprios pés através das chamas, de um lado ao outro.
De fato, em tal ritual, não se queima a criança em honra a Moloque como filhos e filhas
eram queimados no ritual de uma outra espécie de idolatria [De origem libanesa.] mas faz-
se meramente com que ela passe através do fogo, a serviço do ídolo chamado Moloque.
Portanto, aquele que desempenhar esse ritual a serviço de um ídolo outro que não Moloque
não será punido na corte terrestre. [Como já vimos antes, e também veremos adiante, a
Torá diz que não há castigo, significando que não há punição aqui na corte terrestre; porém
após 120 anos, o infrator prestará contas perante a Corte Celestial, e será punido
devidamente.]
4. A pena de excisão ou apedrejamento não é aplicada a não ser que o pai entregue o seu
filho a Moloque e faça a criança passar, com seus próprios pés, através do fogo,
conduzindo-a pessoalmente.
Se ele o entregou a Moloque mas não o fez passar através do fogo, ou se o fez passar sem
o ter entregue a Moloque, ou se o entregou a Moloque o fez passar através do fogo, mas
não o conduziu pessoalmente, ele então não será castigado. Nem será punido, a menos que
entregue apenas alguns de seu filhos e deixe os outros, como está escrito: "Porque ele deu
de sua descendência a Moloque"; "de sua descendência", mas não toda a sua descendência.
5. O indivíduo é responsável por conduzir qualquer um de seus descen-dentes quer sejam
legítimos ou ilegítimos através do fogo a Moloque, filhos ou filhas, filhos ou netos pequenos,
ou quaisquer descendentes — sendo estes todos incluídos na prole do indivíduo.
Mas se ele conduziu seus irmãos, irmãs, ancestrais ou a si próprio através do fogo a
Moloque ele não é penalizado; tampouco se conduziu a sua prole, enquanto adormecida ou
cega, ele não é punido.
6. O menir que a Torá proíbe é uma estrutura em torno da qual todos se reúnem — mesmo
que o propósito seja o de adorar a D..S, pois tal era o costume dos idólatras, como está
escrito: "nem levantarás um menir" (Dt 16:22).
Quem erigir tal menir será punido com chicotadas.
Da mesma forma também, em relação aos pisos de pedra mencionados na Torá — qualquer
um que se prostrar sobre eles, até mesmo para adorar ao Senhor, é punido com chicotadas,
como está escrito: "não colocareis pedras com figuras em tua terra para vos curvares a
elas" (Lv 26:1).
Era costume dos idólatras colocar uma pedra diante de um ídolo para que os adoradores
pudessem se prostrar sobre ela; nós não podemos fazer o mesmo ao Senhor.
O indivíduo, porém, não é punido com chicotadas a menos que estenda suas mãos e pés
sobre a pedra, de modo que se deite completamente em sua extensão. [Há três maneiras
de se curvar, e cada uma demonstra uma submissão mais profunda: a primeira, mais
simples, é curvar a cabeça e o tronco; a segunda é ajoelhar, e a terceira, mais profunda, é
estender-se completamente no chão, como já mencionei aqui.]
Esta é a prostração mencionada na Torá.
7. Esta regra se aplica a todos os territórios, exceto o templo, onde é permitido prostrar-se
sobre as pedras, como está escrito: "na terra" (Dt. 26:1), o que significa que em sua terra
você não pode se prostrar , mas que pode fazê-lo sobre as pedras lavradas do templo.
Vem daí o costume de todos os judeus de espalhar esteiras ou qualquer espécie de palha ou
restolho sobre os solos pétreos das sinagogas, para servir de separação entre as suas faces
e as pedras.
Se uma pessoa for incapaz de encontrar qualquer coisa que o separe da superfície da pedra,
ela deve ir a um outro lugar para se prostrar, ou virar-se de lado e inclinar-se de modo que
a sua face não toque a pedra.
8. Quem se prostrar a D..S sobre pedras lavradas sem estender suas mãos e pés não é
punido com as chicotadas regulamentares [Ou seja, por violar uma proibição escriturai.],
mas recebe chicotadas por insubordinação.
Se porém, ele se prostrar a um ídolo, quer com as mãos e pés estendidos ou não, ele
incorre na pena de morte por apedrejamento, tão logo ponha a sua face sobre o chão.
9. Aquele que plantar uma árvore perto do altar ou em qualquer parte do pátio do templo,
quer a árvore pertença a uma espécie que não dá frutos, quer produza fruto comestível,
mesmo que a tenha plantado para adornar o templo e incrementar a sua beleza, é punido
com chicotadas, como está escrito: "não plantarás... qualquer árvore perto do altar do
Senhor, teu D..S" (Dt 16:21).
A razão para a proibição é a de que havia sido costume dos idólatras plantar árvores ao lado
de um altar idólatra, de modo que as pessoas pudessem se reunir lá.
10. É proibido erigir vestíbulos de madeira dentro do Templo, como aqueles nos pátios,
embora sejam estruturas construídas e não árvores plantadas.
A proibição é uma precaução extrema com base nos termos da frase "qualquer madeira" (Dt
26:21).
Todas as colunas e cornijas projetadas das paredes do Templo eram de pedra, e não de
madeira.

Capítulo VII
1. É um preceito positivo destruir um ídolo, artigos subsidiários à sua adoração e tudo o que
foi feito em seu nome, como está escrito: "Devereis destruir todos os lugares em que as
nações que ireis conquistar tenham servido aos seus deuses" (Dt 12:2); e está escrito
adiante: "Eis como devereis tratá-los: demolir seus altares..." (Ibid. 7:5).
Na Terra de Israel, é um dever perseguir ativamente a idolatria, até que a tenhamos
eliminado inteiramente do nosso país.
Fora da Terra Sagrada, porém, não temos o mandamento de perseguir ativamente a
idolatria; somente quando adquirimos qualquer território por conquista devemos destruir
todos os ídolos lá encontrados, como está escrito: "Demolireis seus altares..." (Dt 12:3),
isto é, na Terra de Israel tu és ordenado a persegui-los ativamente, mas não fora da Terra
Sagrada.
2. Um ídolo, artigos subsidiários à sua adoração, sacrifícios oferecidos a ele e qualquer coisa
feita em seu nome são de uso proibido, como está escrito: "Não introduzirás uma coisa
abominável em tua casa" (Ibid. 7:26).
Quem quer que faça uso de alguma dessas coisas é punido duas vezes com chicotadas;
uma vez por violar a proibição "tu não trarás... etc." (Ibid. 7:26) e outra por violar a
proibição: "e nada do que for sacrificado ficará em tua mão" (Ibid. 13:18).
3. Não se pode fazer uso de um animal que foi integralmente imolado a um ídolo. Esta
proibição se aplica ao seu esterco, ossos, chifres, cascos, couro e todas as suas partes.
Logo, se uma marca sobre o couro indicar que ele veio de um animal que fora sacrificado a
um ídolo — como, por exemplo, uma perfuração circular que os idólatras costumavam fazer
sobre o coração, através da qual este órgão era extraído — todos os couros com tal
característica são de uso proibido.
E assim também é com todas as indicações similiares.
4. Quais são as distinções entre um ídolo pertencente a um não-judeu e a outro pertencente
a um judeu?
Um ídolo pertencente a um não judeu é imediatamente proibido de ser usado, como está
escrito: "Queimareis os ídolos dos seus deuses" (Dt 7:25); tão logo ele tenha sido feito,
torna-se o seu deus.
Mas um ídolo de propriedade de um judeu não é proibido até que tenha sido adorado, como
está escrito: "...que o ponha em lugar secreto" (Dt 27:15), isto é, que realize em segredo
ritos que constituem seu modo de adoração.
Os artigos utilizados em adoração idólatra, quer pertençam a um não judeu ou a um judeu,
só se tornam proibidos após terem sido assim usados.
5. Quem quer que faça um ídolo para os outros, embora seja punido com chicotadas, é, não
obstante, autorizado usar a remuneração pelo seu trabalho — mesmo que tenha feito o
ídolo para um idólatra caso em que se torne imediatamente condenável.
A razão é que a proibição só se aplica quando o ídolo fica pronto; e a última batida do
martelo vale menos que uma prutá. [Prutá: a menor moeda judaica. Era a centésima parte
da agurá.]
Se o indivíduo comprou metal quebrado de um idólatra e encontrou um ídolo entre a sucata,
mesmo que ainda não tenha tomado posse do artigo mas, já tendo dado o dinheiro, ele
deve devolvê-lo ao idólatra.
A mesma regra se aplica se ele tomou posse mas ainda não pagou o preço, pois, embora a
tomada de posse afete a transferência de propriedade de um não-judeu, o caso aqui é
análogo a uma compra sob erro.
Se, porém, ele pagou o preço e tomou posse, ele deve atirar o ídolo no Mar Morto.
Assim, quando um idólatra e um prosélito herdarem a propriedade de seu pai que fora
idólatra, o prosélito deve dizer ao idólatra: "Toma tu o ídolo e eu tomarei o dinheiro; toma
tu o vinho proibido e eu tomarei o fruto".
Uma vez, porém, que estes venham a se tornar posse do prosélito, o uso deles se torna
proibido, e assim também esta troca.
6. Figuras feitas pelos não-judeus como ornamentos são permitidas de se usar, mas aquelas
que eles fizerem para a adoração são proibidas.
Por exemplo, todas a figuras encontradas em vilas são proibidas, supondo-se que foram
feitas para a adoração.
As figuras encontradas em uma cidade, se estão colocadas nos portões da cidde,
constituindo-se em mãos que seguram uma vara, um pássaro, um globo, uma espada,
coroa ou anel, a suposição é que tal figura foi erigida para a adoração; logo o seu uso é
proibido.
Caso contrário, a figura é considerada ornamental, e o seu uso é permitido.
7. Imagens encontradas jogadas nas ruas ou entre metal quebrado podem ser usadas;
desnecessário acrescentar que esta é a regra também no caso de fragmentos.
Mas, se o indivíduo encontrar uma mão de ídolo, um pé ou algum de seus membros
separado, não poderá usá-lo, pois, como se sabe, certamente aquele membro foi parte de
uma figura que fora adorada; seu status proibido continua, até que se tenha certeza que os
não judeus o tinham anulado como objeto de adoração.
8. Se o indivíduo encontrar artigos retratando a figura do sol, da lua ou um dragão, quer
sejam em vasos de ouro ou prata, ou mantas de escarlate bordadas, ou brincos ou anéis
assim esculpidos, ele não poderá usá-los.
Outros artigos com tais figuras são permitidos, supondo tratar-se de figuras ornamentais.
Outras figuras que não aquelas enumeradas, em qualquer vaso, são presumivelmente
ornamentais: tais ornamentos podem ser usados.[Quando temos certeza de que o vaso ou
qualquer outro objeto com desenhos foi feito para adoração, então o seu uso é proibido.]
9. Um ídolo, ou qualquer coisa submetida ao seu serviço ou oferecida a ele, por menor que
seja, impossibilita o uso dos objetos aos quais se tenha imiscuído de tal forma que a sua
identificação tenha se perdido.
Por exemplo, se um ídolo foi misturado a figuras ornamentais, mesmo que entre milhares
delas, tudo tem que ser destruído. [Ou jogado no Mar Morto.]
Assim, se uma xícara usada em idolatria se misturou com um grande número de xícaras, ou
um pedaço de carne de um sacrifício idólatra se misturou com diversos pedaços de outra
carne, devem todos ser destruídos.
Da mesma forma, se um couro perfurado sobre o coração for colocado junto de outros
couros, todos tornam-se proibidos. [Desde que não possa ser identificado.]
Se o indivíduo transgredir o preceito e vender um ídolo ou algum de seus utensílios, ou
qualquer coisa oferecida a ele, o dinheiro resultante é de uso proibido; e, como no caso do
próprio ídolo, qualquer moeda desse montante, por menor que seja, torna o dinheiro ao
qual se misture igualmente proibido, como está escrito: "Não introduzirás uma coisa
abominável em tua casa; tornar-te-ias anátema como é ela" (Dt 7:26).
Tudo o que obtiveste de um ídolo, de seus pertences ou de suas oferendas, te é proibido
como o próprio ídolo.
10. Mesmo depois de um ídolo ou árvore idólatra ser queimado, as cinzas são de uso
proibido.
Apesar de as cinzas de um ídolo serem proibidas, a chama pode ser usada, porque não tem
substância.
Se houver dúvida sobre um objeto ser ou não motivo de idolatria, ele não poderá ser usado.
Mas, se há uma "dupla dúvida", o objeto pode ser usado.
Por exemplo, uma xícara usada em adoração idólatra foi inadvertidamente enviada a uma
loja cheia de xícaras [Desde que não possa ser identificado.]; todas as xícaras têm,
portanto, seu uso proibido, sob o princípio de que um ídolo ou qualquer um de seus artigos
subsidiários, por menor que seja, torna proibido os objetos aos quais tenha se misturado.
Porém, se uma destas xícaras vier posteriormente a se juntar a duas outras xícaras, sem
qualquer ação deliberada do homem, todas as três têm seu uso liberado.
Se um anel pertencente a um ídolo se misturar a diversos anéis, e dois destes caírem no
oceano, todo o resto passa a ser de uso permitido, pela suposição de que o anel idólatra foi
um dos perdidos.
Se ele foi misturado a cem outros anéis, subdivididos em dois grupos — quarenta em um e
sessenta no outro — e os quarenta acidentalmente se misturarem a outros anéis, todos os
anéis deste grupo passam a ser de uso permitido, supondo-se que o anel idólatra estivesse
no conjunto maior.
Se os sessenta anéis, no entanto, forem misturados a outros anéis, todos são proibidos.
[Estas leis das misturas de coisas permitidas com coisas proibidas são conceitos básicos e
fundamentais e se aplicam em vários mandamentos.]
11. Se uma árvore idólatra foi objeto de adoração ou se um ídolo foi colocado debaixo dela,
em qualquer caso é proibido sentar-se à sombra lançada por seu tronco.
Porém, é permitido sentar-se à sombra de seus galhos e folhas.
Se há um outro caminho pelo qual passar, o indivíduo não deve passar sob tal árvore.
Mas se não há outro caminho, a pessoa pode passar debaixo dela correndo.
12. Filhotes de pássaros que fazem o ninho sobre um árvore idólatra e não mais precisam
do cuidado da mãe são permitidos de serem tomados para uso.
Mas os ovos, como também os pássaros sem penas que ainda necessitam da mãe, são
proibidos de serem tomados e usados, porque a árvore idólatra é, por assim dizer, a sua
"base".
O próprio ninho situado na ponta da árvore é permitido, porque o pássaro trouxe os seus
constituintes de algum outro lugar.
13. Se o indivíduo tomou lenha de tal árvore, ela não pode ser usada.
Um forno aquecido com tal lenha deve ser arrefecido, e reaquecido com outra madeira
permitida, após o que o pão pode ser cozido.
O pão cozido num forno aquecido por aquela lenha não pode ser usado.
Se tal pão proibido se misturar a outros pães, o dinheiro arrecadado com sua venda deve
ser lançado ao Mar Morto, de modo que o indivíduo não desfrute nada dele; os pães,
entretanto, têm o consumo permitido.
14. Se uma lançadeira de tecer foi feita da madeira de uma árvore idólatra, o tecido
fabricado em tal tear é de uso proibido.
Se tal tecido se misturar com outros pedaços de tecido, o dinheiro obtido com a venda deve
ser lançado ao Mar Morto, embora todos os pedaços de tecido possam ser usados.
Os vegetais podem ser plantados debaixo de uma árvore idólatra, quer no verão, quando
precisam de sombra, quer na estação chuvosa; nesse caso, não se considera apenas a
sombra proibida da árvore idólatra, mas também o solo circundante, que não se tomou
proibido e que faz os vegetais crescerem.
Trata-se de um produto de dois fatores, um dos quais é proibido enquanto o outro é
permitido; tal combinação faz o uso do objeto em questão sempre permitido.
Conseqüentemente, um campo fertilizado com esterco pertencente a um ídolo pode ser
semeado.
Uma vaca engordada com ervilhas pertencentes a um ídolo pode ser usada para alimento.
E assim se procede em casos similares. [A Torá proíbe qualquer ligação com a idolatria,
mesmo a mais indireta, pois a idolatria é uma coisa absurda, ainda que o ser humano se
incline com facilidade a ela; por isto a Torá é tão rigorosa. O conceito de idolatria, do ponto
de vista moral e espiritual, é a arrogância e a vaidade, e como a Torá é rigorosa na esfera
física, também o é na esfera moral e espiritual.]
15. Carne, vinho ou fruto separados para serem oferecidos a um ídolo não se tomam
proibidos, mesmo após terem sido trazidos para dentro do templo idólatra, a não ser que
tenham realmente sido apresentados ao ídolo.
Uma vez que isto tenha sido feito, tais substâncias são consideradas como uma oferenda
idólatra; mesmo que sejam novamente retiradas, permanecem para sempre proibidas.
Qualquer coisa encontrada em um tempo idólatra, até mesmo água ou sal, segundo as
Escrituras, é de uso proibido: aquele que partilhar dela, na mínima quantidade, é punido
com chicotadas.
16. Roupas, utensílios ou moedas sobre a cabeça de um ídolo, se encontrados numa posição
que denuncie desprezo, podem ser usados; se a posição indicar respeito, o seu uso é
proibido.
Por exemplo, uma carteira encontrada suspensa no seu pescoço, uma roupa dobrada e
pousada sobre a sua cabeça ou um vaso pendente de sua cabeça, podem ser usados porque
a posição indica desprezo, e assim em casos similares. Se o artigo encontrado sobre a sua
cabeça é tal que o seu congênere é oferecido no altar, o seu uso é proibido.
Estas distinções só se aplicam às coisas encontradas fora do lugar de adoração; mas se a
pessoa encontrou qualquer coisa similar dentro de um lugar de adoração idólatra, quer em
posição indicando respeito ou desprezo, quer seja digna de oferecimento no altar ou não —
em suma, tudo o que for encontrado em tal lugar, mesmo que seja água ou sal, é de uso
proibido.
No caso de Peor e Marculis, qualquer coisa encontrada com eles, dentro ou fora de seus
respectivos lugares de adoração, é de uso proibido.
Esta também é a regra em relação às pedras de Marculis; uma pedra que evidentemente
pertença a ele é de uso proibido.
17. Um banho ou jardim pertencentes a um ídolo podem ser usados se
nenhuma vantagem os proprietários obtiverem dos mesmos (mas não
podem ser usados se forem explorados com fim lucrativo).
Se for propriedade conjunta do ídolo e outros, pode ser usado mesmo que os
proprietários tenham alguma vantagem contanto que nenhum honorário
seja pago.
18. A pessoa pode banhar-se numa casa de banhos onde exista um ídolo,
porque ele foi lá colocado como um ornamento e não para ser adorado,
como está escrito: "seus deuses" (Dt 12:2, 3) — isto é, quando eles são
honrados como deuses, não porém quando são tratados com desprezo; tal
é o caso do ídolo colocado acima dos banheiros, diante do qual todos
urinam.
Entretanto, se isso constituir no seu modo de adoração, torna-se
proibido entrar em tal lugar.
19. Se uma faca pertencente a um ídolo foi usada para matar um animal,
é permitido o seu uso, pois o ato da matança fez com que o valor do animal
fosse depreciado.
Mas se o animal esteve gravemente doente, ela tem seu uso vedado porque o valor do
animal foi aumentado, devido ao uso de um utensílio que pertence a um ídolo.
Assim, também, não se pode cortar carne com tal faca.
Mas, se a carne é cortada de forma a ser estragada ou depreciada, o uso é permitido.

Capítulo VIII
1. Qualquer coisa que não possa ser manipulada ou feita por um ser
humano, ainda que seja adorada, é de uso permitido.
Por isso, as montanhas e os montes, árvores plantadas originalmente para a frutificação, os
frutos públicos e gado, embora adorados pelos idólatras, são de uso permitido.
Frutos que foram adorados enquanto não arrancados podem ser comidos, como também a
carne de um animal que fora adorado.
Desnecessário acrescentar, também um animal que tenha sido apenas
separado para ser adorado ou para ser oferecido como sacrifício pode ser
consumido.
A regra de um animal adorado não se tornar proibido aplica-se à pessoa que nada lhe fez
em nome da idolatria.
No entanto, se o
indivíduo lhe tiver feito alguma coisa, por mais insignificante, torna-se
proibido de usufruir do animal.
Por exemplo, se a pessoa matar um animal danificando algum de seus interiores [Traquéia,
esôfago, por exemplo.] em nome da idolatria, ou se o tiver obtido em troca de um objeto de
adoração idólatra, o uso desse animal é proibido.
Tal também é o procedimento se o indivíduo trocá-lo por algo pelo qual um objeto idólatra
fora trocado, pois todas as coisas sucessivamente trocadas tornam-se equivalentes
monetários de um objeto idólatra.
Estas regras só se aplicam a um animal que seja de propriedade de um
indivíduo que realize estes atos.
Mas se o indivíduo matar com intenção idólatra um animal pertencente a outra pessoa, ou
trocá-lo por um objeto de adoração idólatra, tal ato não se torna proibido, já que uma
pessoa não pode fazer com que aquilo que não seja sua propriedade se torne proibido.
Um homem que se prostra ao solo em seu estado natural não o torna proibido. Mas ele
torna o solo proibido se cavar nele buracos, covas ou cavernas.
2. Se o indivíduo se prostrar à água carregada por uma onda, ele não a
torna proibida.
Mas se a pessoa toma água em sua mão e se prostra diante dela, torna-a proibida.
Rochas que se soltaram de escarpas de montanha e que foram adoradas enquanto ainda
em sua situação original são de uso permitido, pois não foram manipuladas por um ser
humano.
3. Se um judeu erguer um tijolo a fim de adorá-lo, mas não o fizer e se um não-judeu em
seguida se prostrar diante dele, isso o torna de uso proibido; o erguimento em si já é o ato.
[O objeto é considerado idolatria quando é realizada uma ação. Portanto, para um não-
judeu, o próprio ato de erguê-lo ou prepará-lo já é considerado como uma ação; para um
judeu a ação só é considerada quando há a prostração em si.]
Da mesma forma, se ele erguer um ovo e um não judeu vier e se prostrar diante do
mesmo, seu uso se torna proibido.
Se ele cortar uma abóbora ou qualquer coisa similar e adorar, o uso da mesma se torna
proibido.
Se ele adorar meia abóbora enquanto a outra metade ainda estiver presa a ela, a segunda
metade é de uso proibido, por via das dúvidas, pois ela pode ser considerada como
acessório da metade que foi adorada.
Uma árvore que foi plantada com o propósito de vir a ser adorada, é de uso proibido.
Trata-se da asherá, mencionada na Torá.
Se uma árvore, já tendo sido plantada, for derrubada e aparada para servir de ídolo, ou
mesmo se um galho dela for vergado até o chão e coberto com terra ou se for enxertada a
uma outra árvore e em qualquer desses casos, produzir ramos, estes ramos deverão ser
cortados e terão seu uso proibido, embora o resto da árvore possa ser usado.
Da mesma forma, se alguém adorar uma árvore, embora o seu tronco não se torne
proibido, todos os ramos, folhas, rebentos e frutos que produzir, durante o tempo em que
for adorada, o serão.
Se os não judeus guardarem a fruta dessa árvore, declarando que ela se destina a ser
convertida em bebida forte para um certo templo idólatra e se eles
realmente fizerem tal bebida e beberem dela em sua festa, a árvore é de uso proibido,
porque supõe-se que seja uma asherá; eles lidam assim com
o seu fruto porque tal é o sacramento da asherá.
4. Uma árvore debaixo da qual for instalado um ídolo, não poderá ser usada enquanto o
ídolo estiver lá.
Uma vez que o ídolo tenha sido retirado, a árvore passa a ser permitida, pois ela não é o
objeto adorado.
Uma casa que um não judeu erigiu com a intenção original de ser adorada, ou uma casa já
erigida que seja adorada por alguém é de uso proibido.
Se ela, já tendo sido erigida, for, com propósitos idólatras, emboçada e ornamentada de
modo a se renovar, a reforma deverá ser desfeita, pois foi feita
para a adoração idólatra; o resto da estrutura, porém, é de uso permitido.
Se um ídolo for trazido para dentro de uma casa, enquanto ele permanecer
lá, a casa tem seu uso proibido; depois que ele for retirado, a casa poderá
ser usada novamente.
Uma pedra, originalmente talhada para ser adorada, é de uso proibido.
Se ela, tendo sido previamente talhada, foi depois pintada e decorada com fins de adoração,
mesmo que as decorações tenham sido feitas na própria pedra, e sendo ou não superficiais,
estas devem ser retiradas e são proibidas; mas o uso do resto da pedra é permitido.
5. Uma pedra sobre a qual um ídolo for assentado não poderá ser usada
enquanto o ídolo estiver sobre ela.
Depois que o ídolo for retirado, ela poderá ser usada.
Se o indivíduo possuir uma casa adjacente e um templo idólatra e a casa ruir, ela não pode
ser reconstruída.
Como deve o dono proceder?
Ele deve afastar-se para dentro dos limites de sua propriedade e lá reconstruir sua
habitação.
O espaço vazio intermediário deve ser preenchido com gravetos ou excrementos de modo
que a área do templo idólatra não seja aumentada.
Se houver uma parede a meio pertencente a ele e ao ídolo, ele deve considerá-la como
dividida em metades.
A metade de seu lado pode ser usada; aquela do lado do ídolo é totalmente proibida.
Suas pedras, madeira e terra são de uso proibido.
6. Como devem os ídolos e seus utensílios e oferendas, que são proibidos,
ser destruídos?
Devem ser triturados a pó e espalhados aos ventos ou queimados e lançados no Mar Morto.
7. Os objetos na feitura dos quais não houve participação da mão humana, tais como
montanhas, gado, árvores, embora adorados, podem, apesar disto, ser usados.
Os seus ornamentos, porém, são de uso proibido.
Quem quer que faça o mínimo uso de tais ornamentos é punido com chicotadas,
como está escrito: "Tu não cobiçarás a prata ou ouro que está sobre eles"
(Dt 7:25).
Qualquer ornamento de um ídolo vem incluído na categoria de seus pertences.
8. Um ídolo pertencente a não judeus que foi repudiado por eles antes
de passar para a posse de um judeu pode ser usado, como está escrito: "as
imagens de seus deuses tu queimarás com fogo" (Ibid. 7:25), isto é,
somente se são tratados como divinos na ocasião em que vierem para as
nossas mãos é que eles devem ser destruídos, mas se os idólatras já os
anularam, o seu uso é permitido.
9. Um ídolo pertencente a um judeu nunca pode ser anulado, mesmo que
um não judeu seja sócio na sua posse; mesmo o repúdio ao ídolo nada vale: permanece
para sempre proibido de ser usado e deve ser enterrado.
Da mesma forma, se um ídolo pertencente a um não judeu vier a tornar-se
propriedade de um judeu e for em seguida repudiado pelo idólatra, tal
anulação de nada vale; o ídolo permanece proibido para sempre.
Um judeu não pode anular um ídolo, mesmo com a permissão do idólatra.
Um idólatra menor de idade ou mentalmente incapaz não pode anular um
ídolo.
Se um não judeu anular um ídolo pertencente a ele ou a outros não-judeus, mesmo que
faça isto sob pressão, e ainda que seja um judeu que o force, o objeto perde o seu caráter
idólatra (considerando-se que o não judeu que o anulou seja realmente um adorador de
ídolo).
A anulação por alguém que não seja um adorador de ídolo de nada vale.
A anulação de um ídolo também anula os seus acessórios.
Se os acessórios forem anulados, eles podem ser usados, mas o próprio ídolo permanece
proibido até que seja anulado.
As oferendas a um ídolo nunca podem ser anuladas.
10. Como a pessoa anula um ídolo?
Se o indivíduo quebrar a ponta do seu nariz, a ponta de sua orelha, ou a ponta do seu dedo,
se golpear com um martelo sua face, mesmo que sem perda de substância, ou se o vender
a um judeu que seja um trabalhador em metais, ele é anulado.
Mas se o indivíduo o empenhou ou o vendeu a um idólatra ou a um
judeu que não um trabalhador em metais, ou se detritos caíram sobre
ele e o dono não os removeu, ou se foi roubado e nenhuma tentativa
de reavê-lo foi feita, mesmo que alguém tenha escarrado ou urinado
diante dele, que o tenha arrastado ou jogado esterco sobre ele, ele não
terá sido anulado.
11. Um ídolo abandonado por seus adoradores durante um tempo de paz é de uso permitido
porque foi anulado. [Pelo abandono.]
Se isto ocorrer em época de guerra, ele permanece proibido porque o abandono foi por
conta da guerra.
Se um ídolo se quebrou, os seus fragmentos são de uso proibido, até que o ídolo seja
anulado. Daí, se o indivíduo encontrar fragmentos de um ídolo, eles não podem ser usados
pois, possivelmente, os idólatras não o anularam.
Se forem encontradas partes que possam ser reunidas por uma pessoa inexperiente, cada
uma delas deve ser anulada em separado.
Se uma pessoa despreparada não as pode reunir, a anulação de qualquer membro do ídolo
torna todos os fragmentos nulos.
12. Um altar idólatra que foi danificado permanece proibido até que a maior parte dele
tenha sido despedaçada pelos idólatras.
Uma pedra de sacrifícios que foi danificada é de uso permitido.
Qual é a distinção entre uma pedra de sacrifícios e um altar?
A pedra de sacrifícios consiste de uma única peça; um altar, de muitas pedras. Como as
pedras do ídolo Marculis são anuladas?
Se um idólatra as tiver utilizado para erigir um prédio ou para pavimentar uma estrada, ou
em outra aplicação similar, tem seu uso permitido.
Como a asherá anulada?
Tão logo o idólatra tenha arrancado uma folha dela, cortado um de seus ramos, ou retirado-
lhe a casca quando tal cuidado não é necessário, ela terá perdido o seu caráter idólatra.
Se a árvore necessitou deste procedimento, ela permanece proibida, ainda que as raspas
possam ser usadas.
Se a árvore pertencer a um judeu, quer a retirada da casca tenha sido ou não necessária, a
árvore, bem como as raspas, são para sempre de uso proibido, porque o ídolo de um judeu
nunca pode perder o seu caráter idólatra. [A razão porque um ídolo de um não-judeu pode
ser anulado e o de um judeu não, é porque o judeu tem a alma divina (então o seu efeito é
permanente), mas o não-judeu, não (daí o seu efeito é temporário).]

Capítulo IX
1. Três dias antes da festa dos idólatras é proibido comprar deles ou vender-lhes qualquer
coisa durável; como também tomar emprestado deles ou emprestar-lhes, pagar-lhes
dinheiro que foi tomado emprestado ou cobrar deles o pagamento de um empréstimo
assegurado por promissória ou penhor; mas o pagamento do empréstimo sem promissória
ou penhor pode ser cobrado, já que isto equivale a recuperar deles o que de outro modo
poderia estar perdido. Produtos perecíveis, como vegetais ou alimento cozido, podem ser
vendidos a eles até o dia de sua festa.
Estas restrições se aplicam à Terra de Israel.
Em outros países, só são executadas no dia da festa.
Se estas normas forem violadas e o indivíduo realizar transações comerciais com eles
durante esses três dias, os dividendos podem ser usados.
Mas os resultados de transações com eles realizadas em sua festa são de uso proibido.
2. Um presente não pode ser enviado a um judeu no dia deles, a menos que o remetente
saiba que o receptor não professa nem pratica a idolatria.
Da mesma forma, se um não judeu enviar um presente a um judeu no dia de sua festa,
este último não deve aceitá-lo.
Se o judeu avaliar que tal recusa poderia contrariar o não-judeu, deve aceitar a prenda na
presença do remetente, mas não usá-la até que tenha certeza de que o não judeu não
pratica a idolatria nem a professa.
3. Se a festa dos idólatras durar diversos dias — três, quatro ou dez — todos eles são
contados como um dia e as restrições se aplicam a todos eles, como também aos três dias
que os precedem.
4. Os nazarenos [Primeiramente o termo nazareno se referia aos cristãos, mas
posteriormente passou a se referir aos católicos e às suas ramificações.] são idólatras.[O
rabino Moshé Isserles discorda de Maimônides e diz que os nazarenos não estão incluídos
nesta categoria, pois os não-judeus não estão obrigados à proibição de acreditar em
intermediários. Maimônides diz que também os não-judeus são obrigados a não acreditar
em intermediários.]
O primeiro dia da semana é o seu festival.
Daí, é proibido, na Terra de Israel, ter relação comercial com eles no quinto, sexto e sétimo
dias de cada semana, e, obviamente, no próprio primeiro dia; isto é proibido em todos os
lugares.
Uma regra similar se aplica a todas as suas festas.
5. O dia no qual os idólatras se encontram para nomear um rei, quando eles oferecem
sacrifícios e cantam hinos aos seus ídolos, é um dia de festa para eles, exatamente como
suas outras festas.
Mas se um idólatra instituir um dia de festa pessoal, em que ele agradeça a seu ídolo e o
louve como em seu aniversário, ou em que apare a sua barba e corte os seus cabelos
[Cortar o cabelo segundo a moda local ou da época.], ou em que retorne de uma viagem
marítima, deixe a prisão ou ofereça um banquete em honra de seu filho, e assim por diante,
a relação comercial e social é proibida naquele dia, e apenas com aquele indivíduo.
Da mesma forma se os idólatras que sofreram uma privação mantiverem o dia da morte
como um dia solene, a proibição só se aplica à relação com os indivíduos que observam tal
data e é limitada àquele dia.
Sempre que, em associação com uma morte, utensílios forem queimados e incenso for
oferecido, é certo que a idolatria terá feito parte de tal ritual.
A relação comercial e social em um dia assim é proibida apenas com aqueles que adoram
um ídolo naquele dia, mas é permitida com aqueles que se alegram, comem e bebem nesse
dia, observando o dia como um costume ou mantendo-o em respeito ao soberano, desde
que não o aceitem como uma festa religiosa.
6. As coisas especialmente apropriadas para a adoração de um ídolo particular em uma
certa localidade nunca podem ser vendidas aos adoradores daquele ídolo naquele lugar.
As outras coisas não especificamente relacionadas à adoração podem ser vendidas, se não
se fizer menção nenhuma do propósito em que elas serão usadas.
Mas se o não judeu declarar explicitamente que as compra para propósitos idólatras, elas
não lhe podem ser vendidas, a menos que primeiramente tornem-se inadequa-das a serem
oferecidas ao ídolo, pois os não judeus não oferecem a um ídolo nada defeituoso.
7. Se as coisas especialmente apropriadas à idolatria forem misturadas com coisas não
apropriadas, como por exemplo, olíbano puro com impuro, a mistura pode ser vendida.
Não conjecturamos como o idólatra venha separar o olíbano puro para o uso idólatra; e
assim se procede nos casos análogos.
8. Assim como estas coisas não podem ser vendidas ao não-judeu, o que estimularia a sua
idolatria, da mesma forma certos animais ou coisas não podem lhes ser vendidos caso
envolvam perigo ao público, tais como ursos e leões, armas militares, grilhões e correntes.
As armas militares não devem ser afiadas para eles.
O que quer que seja de venda proibida a um não-judeu, não pode ser vendido a um judeu
suspeito de as revender a um não-judeu.
Da mesma forma, é proibido vender artigos de natureza perigosa a um judeu que seja
bandido.
9. Os judeus que vivem entre os não-judeus e que fizeram um pacto de paz com eles são
autorizados a vender armas militares aos servos e às forças do rei, desde que estes usem
tais armas para defender o país contra os seus inimigos protegendo, assim, os nossos que
vivem entre eles.
No dia em que a população de uma cidade estiver celebrando uma festa em honra de um
ídolo, é permitido viajar para fora da cidade, mas não entrar nela.
Se a celebração for fora da cidade, transitar dentro dela é permitido.
10. Um viajante não pode passar através de uma cidade onde está ocorrendo uma
celebração idólatra.
Isto só se aplica quando a estrada que conduz ao destino do viajante é única.
Se há uma outra estrada, ele pode usá-la casualmente.
11. É proibido trabalhar com os não judeus na ereção de um nicho no qual um ídolo será
colocado.
Se, no entanto, o indivíduo violar esta norma e o erigir, poderá usar os vencimentos
advindos de tal trabalho.
Nada se objeta à construção de um palácio ou pátio que contenha tal nicho.
12. Se numa cidade que celebra uma festa ao seu ídolo algumas lojas estiverem decoradas,
enquanto outras não, os produtos das lojas decoradas não poderão ser usados, sendo a
suposição a de que estão decoradas em honra do ídolo.
Mas os bens das lojas não decoradas podem ser usados.
O indivíduo não pode alugar lojas que sejam propriedade de uma companhia idólatra, já que
isto seria vantajoso à idolatria.
13. Se a pessoa vender uma casa com propósitos de idolatria, o dinheiro da venda é de uso
proibido e deve ser lançado no Mar Morto.
Mas se os idólatras pressionaram um judeu, tomaram a sua casa pela força e lá
estabeleceram um ídolo, o dinheiro recebido pode ser usado; o dono pode registrar queixa
nas cortes dos não-judeus.
14. As flautas pertencentes aos idólatras não podem ser usadas em exéquias [De um
judeu.].
O indivíduo pode comparecer a uma feira de idólatras e fazer lá compras de gado, escravos
gentios, casas, campos e vinhedos.
O comprador pode reunir os registros de compra e registrá-los nos tribunais dos não-
judeus, já que está, por assim dizer, recuperando a sua propriedade sobre eles. [Aqui, e
noutros casos similares, usa-se a expressão "recuperar", pois quando uma coisa passa para
a propriedade de um judeu e este a usa a serviço do Onipotente, é como se tivesse feito o
resgate dela; já que tudo foi criado pelo Todo-Poderoso, todas as criaturas, no início da
Criação, tinham uma santidade, isto é, eram exclusivamente para servir ao Eterno. Com o
passar do tempo, essa santidade foi desaparecendo, pois os homens viam as coisas criadas
somente para seu uso próprio. Assim, quando um judeu as compra e as usa a serviço do
Divino, é como se as estivesse resgatando.]
Isto porém, não se aplica às compras de um indivíduo em particular que não paga tributos
de mercado.
Os produtos de um negociante lá estabelecido são de uso proibido, já que ele paga impostos
que vão para o ídolo; negociando com ele o comprador estará beneficiando a idolatria,
indiretamente.
No caso de esta regra ser violada, se a compra é de um animal doméstico, as suas patas
devem ser cortadas abaixo da junta das pernas; se se tratar de uma roupa ou de utensílios,
eles devem ser abandonados até se estragarem; no caso de uma moeda ou placa de metal,
devem ser lançados no Mar Morto; se um escravo, deixar como está.
15. Quando um não judeu der uma festa para celebrar o seu filho ou filha, é proibido
partilhar do banquete.
Um judeu é até mesmo proibido de comer lá sua própria comida ou beber o seu próprio
vinho, já que estaria consumindo em companhia de não-judeus.
Durante quanto tempo é o judeu proibido comer com eles?
A partir do momento em que o não-judeu começar a se ocupar com os preparativos para a
festa; a proibição vigora durante o tempo em que a festa é realizada e continua por trinta
dias após o seu término.
Se um não judeu der uma segunda festa, em honra do casamento, mesmo após
transcorridos trinta dias a partir da conclusão da primeira festa, a proibição se estende por
mais doze meses.
O propósito desta separação é evitar a idolatria, como está escrito: "...e alguém te chamará
e tu comerás de seu sacrifício; e toma de suas filhas para os teus filhos se perderem atrás
de seus deuses" (Êx 34: 15, 16).
16. Uma mulher judia não deve amamentar uma criança de mãe não-judia, pois ela estaria
criando uma criança para a idolatria.
Nem deverá ela agir como parteira de uma mulher não-judia; mas ela pode atender
profissionalmente por um honorário, de modo a evitar animosidade.
Uma mulher não-judia pode servir como parteira de uma mulher judia ou como ama de leite
de seu bebê [É preferível que o bebê judeu seja amamentado por uma mulher judia, como
já explicamos.], contanto que a nutriz não-judia esteja sob a supervisão da mãe [Ou, como
hoje em dia, nos hospitais, em que a enfermagem está sob a supervisão do governo.], de
forma que ela não mate a criança.
17. Fazer negócios com peregrinos a santuários idólatras enquanto estão em sua jornada é
proibido, mas é permitido com aqueles que estão retomando, contanto que não estejam
viajando em grupos cujos membros estejam intimamente relacionados entre si [No original,
Maimônides diz que os viajantes estão "amarrados" entre si.], pois, neste caso, podem ter
em mente retomar ao santuário.
Se um judeu está seguindo em direção a um santuário idólatra, é permitido negociar com
ele enquanto estiver indo, pois possivelmente ele ainda poderá voltar [Que ainda pode se
arrepender; por isso, enquanto o judeu não realizou o ato, ele não é considerado idólatra.
Também o objeto que ele fez como ídolo, enquanto não tiver sido realmente adorado, não é
considerado ainda um ídolo. Veja "Leis Referentes à Idolatria", cap. 8, art. 3.], mas não é
permitido fazê-lo quando ele estiver retomando.
É proibido comerciar com um judeu apóstata estando ele a caminho de um santuário
idólatra ou retomando de lá.
18. Se um judeu for a uma feira idólatra, será proibido comerciar com ele em sua jornada
de volta, por temor que ele possa lá ter vendido um ídolo, e o dinheiro de um ídolo em
propriedade de um judeu não pode ser usado.
Se o dinheiro for de propriedade de um não-judeu, pode ser usado.
Decorre daí o fato de a comercialização ser permitida com um não judeu em sua volta de
um santuário idólatra, mas não com um judeu quando este vem de um santuário idólatra,
nem com um judeu apóstata, quer em suas jornadas de ida ou de volta.

Capítulo X
1. Nenhum acordo deve ser feito com os idólatras com o objetivo de fazer paz com eles,
permitindo que adorem ídolos, como está escrito: "Tu não farás aliança com elas" (Dt 7:2);
eles devem renunciar à sua idolatria ou sofrer a morte.
É proibido demonstrar-lhes piedade, como está escrito: "Não as tratarás com piedade"
(ibid.).
Daí, se o indivíduo vir um ateu que adora ídolos em perigo ou se afogando, não deve salvá-
lo.
Se ele foi visto morrendo, não deve ser resgatado.
É proibido porém eliminá-lo deliberadamente, ou enfiá-lo num buraco ou fazer-lhe qualquer
coisa similar, já que ele não está declarando guerra contra nós.
Estas regras se aplicam a um idólatra.
Mas em relação aos judeus delatores, infiéis e ateus é um dever tomar medidas ativas para
destruí-los e arremessá-los no buraco da destruição, pois eles perseguem os judeus e
afastam as pessoas do caminho de D..S.
2. Conclui-se disso que é proibido curar os idólatras, mesmo que em troca de um honorário.
Se, todavia, o indivíduo tiver medo deles ou vir que a recusa poderia causar animosidade, o
tratamento médico pode ser dado em troca de um honorário, mas nunca gratuitamente.
Um semiprosélito [Um não-judeu que tomou sobre si não fazer idolatria, mas não se
converteu formalmente ao Judaísmo.], cuja vida somos obrigados a preservar, deve ser
curado sem encargos.
3. Casas e campos não são vendidos aos idólatras na Terra de Israel.
Na Síria, as casas lhes são vendidas, mas não os campos.
As casas lhes são alugadas na Terra de Israel, contanto que não formem acampamentos;
menos de três famílias não constituem um acampamento.
Os campos não lhes são alugados lá, mas na Síria, sim.
E por que foram os sábios tão rigorosos quanto a um campo?
Porque haveria duas conseqüências: a terra seria isenta do pagamento de dízimos; e
permitiria aos não judeus se infiltrar na Terra de Israel.
Fora daí, as casas e os campos podem lhes ser vendidos — não se tratando do nosso país.
4. Mesmo onde lhes for permitida a locação, não se permite que ela tenha a finalidade se
servir de residência, porque o inquilino traria um ídolo para lá, e está escrito: "Não
introduzirás nenhuma abominação em tua casa" (Dt 7:26).
Os prédios, porém, podem ser alugados aos idólatras para serem usados como local de
armazenamento.
As frutas de um pomar ou campo, etc. não podem ser vendidas a eles enquanto pendentes
das árvores ou enraizadas no solo.
Mas o dono pode lhes vender as frutas após terem sido colhidas, ou na condição de que o
próprio vendedor venha a colhê-las.
Por que foram impostas estas restrições sobre as vendas?
Porque está escrito: "Tu não as favorecerás" (Dt 7:2), o que pode ser traduzido por "não
permitas a eles um acampamento na terra"; — se eles não têm terra, a sua residência será
temporária.
É proibido falar deles elogiosamente — nem mesmo dizer "como é bonito este idólatra"; é
proibido falar em louvor de seus atos, ou apreciar qualquer coisa deles, como está escrito:
"Tu não as favorecerás" (ibid.), isto é, "eles não terão favor diante de teus olhos", já que
isto induziria um sentimento de vínculo ao idólatra e faria com que aprendêssemos os seus
maus hábitos.
Assim também é proibido dar-lhes presentes; estes, porém, podem ser oferecidos a um
semiprosélito, como está escrito: "ao convertido que vive dentro de tuas cidades tu darás,
para que ele possa comer dele ou vendê-lo a um estranho" (Dt 14:21). Uma venda pode,
assim, ser feita a um não-judeu, mas não um presente.
5. Em nome da paz, os não judeus indigentes recebem manutenção como os judeus pobres;
e pelo bem da paz, eles não são impedidos de se reunir ou colher gavelas esquecidas ou o
produto dos cantos dos campos (Lv 23:22; Dt 24:19).
Em nome da paz, nós os cumprimentamos até mesmo em sua festa.
Mas em nenhuma ocasião nós os saudamos duplamente, ou entramos no lar de um idólatra
em seu festival a fim de cuprimentá-lo.
Se o indivíduo o encontrar na rua, saúda-o em tom baixo e com semblante sério.
6. As regras anteriores se aplicam à ocasião em que o povo de Israel viver exilado entre as
nações, ou enquanto o poder dos não-judeus for predominante.
Mas quando os judeus tiverem supremacia sobre eles, nós somos proibidos de permitir que
um idólatra habite entre nós.
Ele não deve entrar em nossa terra, nem mesmo como residente temporário, ou como um
viajante que leva mercadorias de um lugar a outro, até que tenha aceitado cumprir os sete
preceitos que os Noáquidas [São os Sete Mandamentos divinos que o Eterno ordenou a
qualquer ser humano: a) Não fazer idolatria, mas acreditar em D..S; b) Não amaldiçoar o
Eterno; c) Não matar; d) Não fazer adultério ou ter relações sexuais com parentes
próximos, com outro homem, com animais e com mulher casada; e) Não roubar; f) Não
comer a carne retirada de animais vivos;
g) Ter julgamentos justos.] foram ordenados a observar, como está escrito: "Eles não
habitarão na tua terra" (Êx 23:33), nem mesmo numa única ocasião.
Se ele aceitar estes sete preceitos, ele se torna um semi-prosélito.
Nós só aceitamos um semi-prosélito quando a Lei do Jubileu estiver em vigor; mas quando
a Lei do Jubileu não estiver em vigor, só um prosélito pleno [Aquele que se converteu
inteiramente ao Judaísmo.] é aceito.

Capítulo XI
1. É proibido seguir os costumes dos não judeus ou imitá-los no vestir ou no seu modo de
aparar o cabelo, como está escrito: "Não seguireis os costumes das nações" (Lv 20:23),
"não seguireis suas leis" (Lv 18:3); "Acautela-te para que não t s deixes seduzir a segui-los"
(Dt 12:30).
Todos estes textos referem a um tema e alertam contra a sua imitação.
O judeu, ao contrário, deverá diferenciar-se deles e ser reconhecido pelo modo de se trajar
e por suas outras atividades, assim como é diferenciado deles por seu conhecimento e seus
princípios.
E assim está escrito: "E Eu vos separei de todos os povos" (Lv 20:26).
Não se vestirá um traje como aquele especialmente usado por eles, nem se deixará que os
fios de seu cabelo cresçam da maneira como eles fazem.
Assim, não se cortará o cabelo da cabeça nos lados, deixando o cabelo no centro intocado,
como fazem — a isto se chama "crescimento de topete".
Nem se cortará o cabelo na frente, de orelha a orelha, deixando a porção de trás crescer,
como eles fazem.
Não se construirão edifícios que se assemelhem a templos idólatras, para a reunião de
multidões, como eles fazem.
Todo aquele que fizer qualquer uma destas coisas ou outras similares é punido com
chicotadas.
2. Quando um não judeu tiver o seu cabelo cortado por um judeu, este deve manter o corte
à altura de três dedos de cada lado do topete.
3. A um judeu que tenha acesso à realeza, necessitando comparecer diante de soberanos
não-judeus, no caso de ser vergonhoso não aparecer como eles, é permitido trajar-se como
eles e cortar o cabelo na frente, à moda deles.
4. Não podemos lançar mão da superstição, como os não-judeus, como está escrito: "Não
praticarás a superstição" (Lv 19:26).
O que é superstição?
Eis os exemplos seguintes: "já que o meu pedaço de pão caiu de minha boca ou minha vara
caiu da minha mão, eu não irei hoje a tal lugar, pois se eu for os meus negócios não serão
realizados com êxito"; ou "já que uma raposa passou por mim correndo à direita, hoje eu
não sairei da porta da minha casa, pois se o fizer, serei vítima de uma trapaça"; ou quando
as pessoas ouvirem um chilrear de pássaro e disserem: "acontecerá assim e não daquela
maneira" — "é bom fazer isto e é mau fazer aquilo"; ou quando as pessoas dizem: "mate
este galo porque ele cantou durante a noite"; "mate esta galinha porque ela cantou como
um galo"; ou se o indivíduo colocar para si um sinal e disser: "se uma certa coisa me
acontecer, eu tomarei tal curso de ação; se ela não acontecer, eu não farei assim" como
Eleazar, servo de Abraão fez.
Estas e todas as coisas similares são proibidas.
Todo aquele que fizer qualquer coisa em conse-qüência de um destes fatos é punido com
chicotadas.
5. Dizer: "Esta morada que construí provou ser de sorte para mim; esta mulher que eu
desposei e este animal que comprei foram uma bênção para mim; a partir do momento em
que eu o comprei, tornei-me rico", ou perguntar a uma criança [Como os sábios dizem,
assim fez Mordehai Haiehudi, que perguntou a três crianças por três versículos da Torá, as
quais lhe responderam, ao sair do Heder (escola judaica); por isso Mordehai sabia que o
Onipotente salvaria o povo judeu, derrotando Hamã].; "que versículo estás aprendendo?",
e, em a criança recitando um versículo das Bênçãos, alegrar-se e dizer; "este é um sinal de
sorte" — todas estas coisas e similares são permitidas, pois, como a pessoa não condicionou
suas atitudes a superstições nem se absteve de fazer coisa alguma devido a elas, mas
somente considerou os fatos sinais do que já acontecera, tal aceitação é permitida.
6. O que é um adivinho?
É aquele que realiza qualquer ato de modo a cair em estado letárgico para que sua mente
seja afastada de todas as coisas externas, após o que ele prevê futuros eventos, dizendo
"isto acontecerá, ou não acontecerá", ou "é próprio fazer isto", ou "cuidado ao fazer aquilo".
Alguns adivinhos fazem uso da areia ou pedras: o indivíduo se curva à terra e grita; um
outro fixa o seu olhar sobre um espelho de metal ou uma lâmpada, e então eles imaginam
coisas e falam em seguida.
Um outro carrega um bastão na mão, curva-se sobre ele e com ele golpeia o solo, até que
sua mente esteja em estado de abstração.
Em seguida, ele fala.
O profeta se refere a isso quando ele diz: "Meu povo consulta o seu pedaço de madeira e o
seu bastão faz-lhe revelações" (Os 4:12).
7. É proibido praticar adivinhação ou consultar um adivinho.
A diferença entre eles é que aquele que consulta um adivinho é punido com chicotadas por
insubordinação, enquanto que o próprio adivinho que faz quaisquer daqueles rituais recebe
chicotadas segundo o que está estabelecido nas Escrituras, isto é: "Que no meio de ti não
seja encontrado alguém (...) que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia" (Dt
18:10).
8. O que é um astrólogo?
O termo se aplica àqueles que consultam as constelações, declarando que, segundo os
astros, um dia particular é favorável, enquanto outro é desfavorável; que um certo dia é
propício para a execução de um dado trabalho e que certo ano ou mês é desfavorável para
uma determinada atividade.
9. É proibido exercer a astrologia, mesmo que não se a pratique abertamente, nem que
apenas se pronuncie mentiras, que os tolos imaginem ser palavras da verdade, palavras de
sábio.
E aquele que vier a ser influenciado em suas ações pela astrologia e que fizer seu trabalho
ou viagem ocorrer na ocasião fixada pelos astrólogos é punido com chicotadas, como está
escrito: "Tu não prognosticarás com os astros" (Lv 19:26).
Da mesma forma, um prestidigitador que engana os olhos e finge estar fazendo algo
extraordinário (na realidade não o faz) está incluído na categoria de "astrólogo" e é punido
com chicotadas.
10. O que é um encantador?
É aquele que pronuncia palavras, que não são uma lingua, imaginando totalmente que tais
palavras são mágicas.
Tais encantadores chegam ao ponto de dizer que, se uma pessoa pronunciar determinadas
palavras sobre uma cobra ou escorpião, eles se tornarão inofensivos, e que se uma pessoa
pronunciar certas palavras sobre um homem, ele não será ferido. Entre eles há aquele que,
enquanto fala, segura ern sua mão uma chave, pedra ou outro objeto — tudo isso é
proibido.
O próprio encantador que segurou qualquer objeto em suas mãos ou fez qualquer ato além
de falar, mesmo se apenas apontou um dedo, é punido com chicotadas, segundo o estatuto
das Escrituras, como está escrito: "Não deverá ser encontrado entre vós... quem pratique
encantamentos" (Dt 18:11).
Mas se ele só pronunciou palavras, não tendo movido o seu dedo, nem sua mão, nem
segurado qualquer coisa em sua mão, ele, como também a pessoa sobre a qual o
encantador pronunciou alguns sons e que se sentou em sua presença (imaginando que está
obtendo algum benefício) são punidos com chicotadas por insubordinação (o segundo
porque tomou parte na tolice do encantador).
Todos estes sons e nomes estranhos e misteriosos não fazem mal, nem têm o poder de
fazer o bem.
11. Se o indivíduo for picado por um escorpião ou uma cobra, é permitido, até mesmo no
Shabat, murmurar um encantamento sobre a ferida, de forma a acalmar o paciente e dar-
lhe confiança.
Embora o procedimento seja absolutamente inútil, ele foi permitido devido à perigosa
situação do paciente, de forma a evitar que ele fique profundamente perturbado.
12. Aquele que pronuncia um encantamento sobre uma ferida, ao mesmo tempo em que
recita um verso da Torá, aquele que recita um versículo sobre uma criança para salvá-la dos
terrores, e aquele que coloca a Torá ou filactérios numa criança para induzi-la ao sono, não
está incluído apenas na categoria de feiticeiro ou encantador, mas entre aqueles que
repudiam a Torá, pois usa as palavras dela para a cura física. As palavras da Torá são
medicamento apenas para a alma, como está escrito: "elas serão vida para a tua alma" (Pv
3: 22).
Por outro lado, a qualquer um que estiver desfrutando de boa saúde é permitido recitar os
versículos das Escrituras ou um Salmo, de modo que ele possa estar protegido pelo mérito
da recitação e salvo de problemas e danos físicos.
13. O que é um invocador dos mortos?
É aquele que jejua e passa a noite em um cemitério, a fim de que um morto lhe apareça em
sonho e o comunique de assuntos sobre os quais ele deseja perguntar. Outros vestem
mantos especiais, pronunciam certas palavras, oferecem um incenso especial e dormem
sozinhos a fim de que uma pessoa morta lhes apareça em um sonho e converse com eles.
Aquele que fizer qualquer coisa a fim de que os mortos entrem em contato com ele é punido
com chicotadas, como está escrito: "Não deverá ser encontrado entre vós... um consultador
de mortos" (Dt 18:11).
14. É proibido consultar um necromante ou quem evoque um espírito familiar, como está
escrito: "Não deverá ser encontrado entre vós... alguém que consulta um necromante ou
um espírito familiar" (Dt 18:11).
Daí sabe-se que, enquanto um indivíduo que é necromante ou evocador de espírito familiar
é punido com a morte por apedrejamento, aquele que consultar tais pessoas viola uma
proibição, e é punido com chicotadas por insubordinação.
Se ele praticou tais consultas segundo as suas instruções, é punido com chicotadas,
conforme o estatuto das Escrituras.
15. O mago incorre na pena de morte por apedrejamento, contanto que tenha realmente
praticado a magia.
Um prestidigitador, porém, que só faz aparecer aquilo que fez e que na realidade não fez é
punido com chicotadas por insubordinação.
Devido ao fato de a proibição de magia estar incluída no texto: "Não deverá ser encontrado
entre vós alguém que consultou um fantasma..." (Dt 18:10), trata-se de uma ofensa para a
qual a sentença judicial de morte é a pena recomendada, como está escrito: "Tu não
deixarás viver a feiticeira" (Êx 22:17).
Assim, portanto, as chicotadas não são aplicadas, segundo o estatuto das Escrituras. 16.
Todas estas práticas são falsas e enganadoras e foram meios empregados pelos idólatras
antigos para induzir os povos de vários países e desencaminhá-los para se tomarem seus
seguidores.
Não é próprio que os judeus altamente inteligentes aceitem a impostura de tais tolices e
imaginem que há algum valor nelas, como está escrito: "Pois não há encantamentos em
Jacó, nem há qualquer adivinhação em Israel" (Nm 23:23).
Mais adiante: "Eis que as nações que vais consquistar ouvem oráculos e adivinhos; mas a ti
isto não é permitido..." (Dt 18:14).
Todo aquele que acreditar nessas e em coisas similares, e em seu coração considerá-las
verdadeiras e científicas, o que a Torá proíbe, nada mais é do que um tolo, de compreensão
deficiente, que pertence à mesma classe das mulheres e crianças cujos intelectos são
imaturos.
As pessoas sensíveis, porém, que possuem faculdades mentais coerentes, sabem por provas
claras que todas essas práticas que a Torá proibiu não têm base
científica, sendo quimeras e tolices; somente aqueles deficientes em conhecimentos são
atraídos por essas bobagens e por causa delas abandonam os caminhos da verdade.
A Torá, portanto, ao proibir todas essas tolices [Essas tolices que a Torá proíbe, e que
Maimônides explica aqui, incluem o espiritismo, a mediunidade, os pais-de-santo, o
candomblé, a umbanda, a quimbanda, o vudu, o hare-krishna, a quiromancia, a
cartomancia, a oculomancia, pajelanças, tarôs, todas as espécies de gurus e outros tais pelo
mundo afora.], nos exorta: "Tu te entregarás de todo o coração ao Senhor teu D..S" (Dt
18:13).

Capítulo XII
1. Os cantos da cabeça não podem ser raspados, como os idólatras e os seus sacerdotes
costumam fazer, como está escrito: "Tu não arredondarás os cantos de tua cabeça" (Lv
19:27).
O indivíduo incorre numa pena separada para cada canto raspado da cabeça.
Conseqüentemente, se a pessoa raspar ambas as têmporas, mesmo que de uma só vez e
após um aviso, ela é punida com chicotadas duas vezes.
Se uma pessoa raspar apenas os cantos deixando o resto da cabeça intocado, ou raspar a
cabeça inteira de uma só vez, ela é punida com chicotadas, porque raspou os cantos.
A responsabilidade recai sobre o homem que tosa de tal forma os cabelos de alguém; o
homem que é raspado não é punido por chicotadas, a menos que tenha ajudado o barbeiro.
Aquele que raspar os cantos da cabeça de um menino é punido com chicotadas.
2. Uma mulher que raspar o canto da cabeça de um homem, ou tiver o canto de sua cabeça
raspado, não é responsável, pois está escrito: "Tu não arredondarás os cantos de tua
cabeça, nem apararás o canto de tua barba" (Lv 19:27).
Quem for punido pela segunda proibição, é punido pela primeira; já que a segunda
proibição não pode se aplicar à mulher, então a primeira a ela também não se aplica. Daí,
os escravos masculinos de um judeu, por terem barbas, serem proibidos de arredondar os
cantos de suas cabeças.
3. Todos os mandamentos proibitivos da Torá se aplicam tanto às mulheres como aos
homens, com exceção daqueles relacionados com o aparo da barba e arredondamento da
cabeça, e o de que um sacerdote não pode se impurificar pelo contato com os mortos (Lv
21:1 e segs.).
As mulheres estão isentas da obrigação de preceitos positivos realizados em períodos
definidos e não continuamente, com as seguintes exceções; santificar a chegada do Dia
Sagrado (Êx 20:8); comer pão ázimo nas duas primeiras noites da Páscoa (Ex 12:15);
comer do cordeiro pascal (Êx 12:8); sacrificá-lo (ibid.); reunir-se [Na Festa dos
Tabernáculos — Sucot — na saída do Sétimo Ano, para ouvir a leitura da Lei.] (Dt 31:12);
alegrar-se nos festivais (Dt 16:14).
4. Uma pessoa cujo sexo seja indeterminado ou que tiver as marcas características de
ambos os sexos é de posição duvidosa.
Elas estão sujeitas aos rigores de ambos os sexos e a observar todas as obrigações
[Obrigações impostas a cada sexo.]; mas se transgredirem tais proibições, elas não são
punidas com chicotadas.
5. Embora uma mulher possa raspar os próprios cabelos da cabeça, ela não pode raspar os
cantos da cabeça de um homem ou de um menino.
6. Em que quantidade os cachos das têmporas devem ser mantidos?
Os sábios não estabelecem isso definitivamente.
Nós ouvimos dos mais velhos que pelo menos quarenta fios devem permanecer. Estes
cachos podem ser removidos com tesoura; somente a remoção com navalha é proibida.
7. Os sacerdotes idólatras tinham o costume de remover a barba.
A Torá, conseqüentemente, proíbe esta prática.
Há cinco partes da barba que não devem ser removidas: os pêlos sobre as mandíbulas
superior e inferior, em ambos os lados, e a ponta da barba.
A remoção dos pêlos de qualquer um destes lugares envolve a pena de chicotadas. Se o
indivíduo os remover todos em uma só operação, ele é punido cinco vezes, mas somente no
caso de ter usado uma navalha; como está escrito: "Tu não apararás o canto da tua barba"
(Lv 19:27), o que se refere ao uso da navalha.
Logo se cortar com tesoura, estará isento de punição.
A pessoa barbeada não é punida com chicotadas, a menos que ela ajude o barbeiro. Uma
mulher pode usar uma navalha para remover qualquer pêlo que tenha em sua face.
Ele não é responsável tampouco por barbear a barba de um homem.
8. O bigode, isto é, os pêlos sobre o lábio superior e também o que pende sob o lábio
inferior, pode ser removido com a navalha.
Mas, embora permitido, os judeus têm o costume de não remover esses pêlos
completamente; apenas o bastante para fazer com que pessoa não seja incomodada ao
comer ou beber.
9. A remoção dos pêlos do resto do corpo, como, por exemplo, das axilas e das partes
íntimas, não é proibida pela Torá, mas pelos sábios.
Todo aquele que remover esses pêlos será punido com chicotadas por insubordinação.
Esta regra é limitada às localidades onde somente as mulheres removem esses pêlos —
sendo o objetivo o de evitar que um homem se apare de uma maneira peculiar às mulheres.
Mas em localidades onde é costumeiro que as pessoas de ambos os sexos removam os
pêlos desta forma, um homem que o fizer não é punido com chicotadas.
A remoção dos pêlos de outros membros com a tesoura é permitida em todos os lugares.
10. Uma mulher não pode se enfeitar com os ornamentos especiais de um homem, como,
por exemplo, colocar um turbante ou chapéu sobre a cabeça, ou vestir urna couraça ou
qualquer coisa similar, ou cortar o cabelo curto, à moda dos homens.
E um homem não pode se enfeitar nos modos peculiares às mulheres, como, por exemplo,
vestir roupas de tonalidades coloridas, ou jóias de ouro, em localidades onde tais vestes ou
jóias são apenas usadas pelas mulheres.
Com relação a isto, o costume do país predomina.
Um homem que vestiu adornos de uma mulher, e uma mulher que se enfeitou nos modos
peculiares de um homem são punidos com chicotadas.
Quem arrancar dentre os fios escuros os fios brancos da sua barba ou do cabelo é punido
com chicotadas — mesmo que haja apenas removido um fio — porque isso é uso peculiar às
mulheres.
Da mesma forma também, aquele que tingir o seu cabelo de cor escura, mesmo que ele
tenha tingido apenas um simples fio branco, é punido com chicotadas.
Aquele cujo sexo for indeterminado (hermafrodita) ou que tiver os sinais de ambos os sexos
não pode se vestir com vestes de mulher, nem cortar o cabelo à moda dos homens; mas se
assim fizer, não será punido com chicotadas.
11. A tatuagem, mencionada na Torá (Lv 19:28), consiste no corte da carne [Ou punção
com agulhas para tatuar, ou marcas rituais a fogo ou navalha, ou outras semelhantes.] e o
preenchimento de tal corte com pigmento, tinta ou matéria impressora que deixa uma
marca indelével.
Este era o costume dos ateus que costumavam marcar a si próprios para a idolatria, e dizer
que o tatuado era um escravo vendido ao ídolo e marcado para o seu serviço. Assim que o
indivíduo imprimir na pele qualquer material que deixe uma marca indelével, tendo
previamente feito uma incisão em qualquer parte do corpo, seja homem ou mulher,
incorrerá na pena de chicotadas.
Se ele escreveu na carne [Por incisão.] sem tinta ou marcou com tinta e não cortou a carne,
está isento de punição; ele só é punido quando tatua com tinta e corta a carne, como está
escrito: "Não fareis incisões no corpo... e não fareis nenhuma tatuagem" (Lv 19:28).
Esta regra se aplica ao tatuador; a pessoa cuja carne seja tatuada não é responsável, a
menos que tenha participado, direta ou indiretamente do ato.
Se ele não fez nada, ele não é punido com chicotadas.
12. Quem fizer uma simples incisão na própria carne pelos mortos, é punido com
chicotadas, como está escrito: "Tu não farás incisões no corpo por algum morto" (Lv
19:28).
A lei é a mesma para qualquer judeu que faça isso, seja um sacerdote ou não.
Se o indivíduo fez uma simples incisão por cinco pessoas mortas, ou cinco incisões por uma
pessoa morta, ele é punido com chicotadas cinco vezes, contanto que ela tenha recebido um
aviso separado para cada caso.
13. Os termos guediá [Corte.] e shehitá [Ato de realizar incisões.] equivalem-se. Assim
como os idólatras costumavam fazer incisões na pele pelos seus mortos — como uma
expressão de angústia —, da mesma forma costumavam ferir-se pelo bem da idolatria,
como está escrito: "Fizeram incisões no seu próprio corpo"(I Rs 18:28). Este procedimento
também é proibido pela Torá, como está escrito: "Nunca vos marcareis com uma incisão"
(Dt 14:1).
Há uma ressalva porém. Se a incisão foi feita em nome dos mortos, quer tenha sido feita
com a mão ou com um instrumento, o ofensor é punido com chicotadas.
Mas se foi feita em nome da idolatria, ele só é considerado responsável no caso de se ter
cortado com um instrumento; se ele assim o fez com a mão, está isento de punição.
14. Incluída nesta proibição está a regra de que em uma cidade não haverá dois tribunais
de justiça que sigam procedimentos diferentes, pois tal curso levaria ao confronto, como
está escrito: "Vós não vos cortareis" (Lv 19:28), que foi interpretado como: "Vós não vos
dividireis em facções".
15. Aquele que fizer uma tonsura em sua cabeça por uma pessoa morta será punido com
chicotadas, como está escrito: "Não vos marcareis... com uma tonsura entre os vossos
olhos por causa de um morto" (Dt 14:1).
Quer a pessoa que tenha feito uma tonsura pelos mortos seja um sacerdote ou não, ela só é
punida com chicotadas uma vez.
Se um indivíduo fizer quatro ou cinco tonsuras para uma pessoa morta, ele é punido com o
número regulamentar de chicotadas, segundo o número de tonsuras, contanto que tenha
recebido aviso separado para cada uma.
Se tiver feito a tonsura com a mão ou com a pomada ou introduzindo os seus dedos em
uma pomada e os passando em cinco pontos diferentes do cabelo, ele é punido com
chicotadas cinco vezes, porque fez cinco tonsuras, mesmo que tivesse apenas recebido um
aviso.
Ele é responsabilizado por fazer uma tonsura em qualquer parte de sua cabeça, que é
mesmo como uma linha na parte entre os olhos, corno está escrito: "Não farão tonsura na
cabeça" (Lv 21:5).
Qual deve ser o tamanho da tonsura?
Um espaço na cabeça que se pareça com uma ervilha e seja livre de todos os pêlos. 16.
Quem fizer uma tonsura na cabeça ou um corte na própria carne por sua casa ter ruído ou
porque seu navio naufragou estará isento de punição.
Essa pessoa só é responsabilizada se fizer essas coisas pelos mortos ou pela idolatria.
No caso de alguém fazer uma tonsura sobre a cabeça de uma outra pessoa, um corte na
carne ou uma tatuagem, ou ajudar tais operações, se ambos (operador e operado) agirem
com o conhecimento de que isso é ilegal, ambos são punidos com chicotadas.
Se um deles agiu involuntariamente, enquanto o outro tinha conhecimento da proibição,
apenas o segundo é punido com chicotadas; o primeiro está isento de punição.
Abençoado seja o Todo-Poderoso que nos ajudou!

Continua
Mishné Torá – Parte Final

Leis Sobre o Arrependimento

Estas estão compreendidas em um preceito positivo, o de que o pecador se arrependerá de


seu pecado diante do Senhor e fará a confissão.
A exposição deste preceito e dos princípios que lhe são relacionados estão discutidos nos
capítulos seguintes.

Capítulo I.
1. Com relação a todos os preceitos da Torá, positivos ou negativos, se uma pessoa .
transgrediu qualquer um deles, quer propositalmente ou por negligência, e arrependeu-se,
querendo se afastar do pecado, ela tem o dever de confessar diante de D..S, louvado seja
Ele, como está escrito: "Se um homem ou mulher cometer algum dos pecados que os
homems cometem contra o Senhor, essa pessoa é culpada. Confessará o pecado cometido"
(Mn 5:6, 7) — isto significa confessar em palavras, e esta confissão é um preceito positivo.
Como o indivíduo confessa?
O penitente diz: "Eu te imploro, ó Senhor, eu pequei, eu agi com perversidade, eu
transgredi diante de Ti e fiz isto e aquilo e eis que eu me arrependo e estou envergonhado
de meus atos, e nunca mais farei isto." [Isto deve ser dito em silêncio, isto é, pronunciado
através dos lábios sem que nenhum outro ser humano possa ouvi-lo.]
Isto constitui a essência da Confissão.[E não, como as pessoas pensam, que o
arrependimento se dá através de jejuns ou aflições; o principal é se arrepender, sentir-se
constrangido, e decidir nunca mais repetir o erro, fazendo, a partir de então, somente o
certo e consertando o erro que foi cometido, tanto nos Mandamentos entre ele e o próximo,
como nos Mandamentos entre ele e o Eterno.] Quanto mais completa e mais detalhada for a
confissão do indivíduo, mas fidedigna ela é.
Assim, aqueles que têm obrigação de trazer oferendas de pecado e oferendas de
transgressão, quando trazem seus sacrifícios por pecados cometidos em erro ou
conscientemente, não são perdoados através de tais oferendas até que tenham se
arrependido e feito a confissão em palavras, como está escrito: "...ele confessará o pecado
cometido" (Lv 5:5).
Assim também, aqueles que incorrerem na pena judicial de morte ou punição por
chicotadas, não obtêm perdão ao sofrer morte ou receber chicotadas, a menos que se
arrependam e confessem.
Similarmente, aquele que causou um ferimento noutra pessoa, ou lhe proporcionou dano
monetário, muito embora pague o que é devido à parte lesada, não obtêm perdão até que
confesse e resolva penitentemente nunca mais cometer a mesma ofensa novamente, como
está escrito: "Se um homem ou mulher cometer algum dos pecados que os homens
cometem... então eles confessarão" (Nm 5:6,7).
2. Já que o bode expiatório foi um arrependimento para todo o povo judeu, o sumo-
sacerdote fazia confissão sobre ele em nome de todo Israel, como está escrito: "e
confessará sobre ele todas as iniqüidades dos filhos de Israel" (Lv 16:21).
O bode expiatório expiava todas as transgressões mencionadas na Torá, não só as leves,
mas também as sérias, quer cometidas propositadamente, quer por negligência, quer o
pecador tenha sabido de sua transgressão depois, quer não tenha sabido que seu ato era
uma transgressão; todos os pecados o bode expiatório purgava, desde que o ofensor
tivesse se arrependido.
Mas se ele não tivesse se arrependido, então o bode expiatório assegurava o perdão apenas
para as transgressões leves.
Quais as transgressões leves e quais as sérias?
As transgressões sérias são aquelas que tornam o ofensor responsável por uma sentença
judicial de morte ou de excisão.
Similarmente, os juramentos tomados em vão ou para apoiar uma falsidade, embora não
envolvendo a pena de excisão, são classificados entre as transgressões graves. As violações
de outras proibições e de preceitos positivos cuja negligência não é punida com excisão
constituem as transgressões leves.
3. Presentemente, como não temos mais o Templo e não temos o Altar para a expiação,
temos somente o sentimento de arrependimento.
O arrependimento expia todas as transgressões.
Mesmo que um judeu tenha sido mau em todos os dias de sua vida e tenha se arrependido
no final, nada de suas transgressões lhe será relembrado, como está escrito: "a
inclemência do ímpio não o arruinará no dia em que se arrepender de sua impiedade" (Ez
33:12).
O próprio jejum do Iom Quipur expia o penitente, como está escrito: "porque nesse dia se
fará o rito de expiação por vós, para vos purificar" (Lv 16:30).
4. Embora o arrependimento expie todas as ofensas e o jejum de Iom Quipur expie os
pecados, ainda assim há algumas transgressões que são perdoadas imediatamente,
enquanto outras só são perdoadas após algum tempo.
Por exemplo, se uma pessoa transgrediu um preceito positivo, cuja negligência não é
punida com a excisão, e se arrependeu, ela é perdoada imediatamente; sobre aqueles que
cometeram esta classe de ofensas está escrito: "Voltai, filhos rebeldes, e eu vos curarei de
vossas rebeldias!" (Jr 3:22).
Uma pessoa que violou um preceito proibitivo cuja pena não é a excisão ou sentença
judicial de morte, e se arrependeu, a punição fica pendente e o jejum do Iom Quipur
completa a expiação.
Sobre isto está escrito: "porque nesse dia se fará expiação por vós" (Lv 16:30); mas se ele
violou um mandamento cuja punição é a morte ou excisão e se arrependeu, o
arrependimento e o jejum do lom Quipur suspendem a punição, somente os sofrimentos
completam a expiação.
Sobre esta classe de ofensas está escrito: "Então Eu punirei com o açoite suas
transgressões, e com pragas suas iniqüidades" (Sl 89:33).
Isto só se dá se na ocasião em que transgrediu ele não profanou o Nome de D..S. Mas se o
indivíduo profanar o Nome de D..S, mesmo que se arrependa, que venha o lom Quipur e ele
ainda continue penitente, mesmo que ele sofra com remorsos, a sua expiação não estará
completa até que ele morra.
O arrependimento, o lom Quipur e o sofrimento — todos eles juntos — servem para impedir
a punição, e só a morte assegurará o perdão, como está escrito: "Certamente esta
perversidade não vos será perdoada até a vossa morte" (Is 22:14).

Capítulo II
1. O que é arrependimento perfeito?
É o que se dá quando se apresenta uma oportunidade para a repetição de uma ofensa
cometida uma vez, e o ofensor, apto a cometer a ofensa, se abstém de assim proceder por
ser penitente, e não por omissão de vigor.
Por exemplo, se um homem teve relações pecaminosas com uma mulher e, após um certo
tempo, estando sozinho com ela e sua paixão por ela persistindo, e se seus poderes físicos
não se abalaram e ele está no mesmo local onde pecara, e se mesmo assim ele se absteve
e não transgrediu, ele é um penitente sincero.
Assim disse Salomão: "Lembra-te do Criador na tua juventude, antes que cheguem os dias
de achaques e se aproximem os anos, dos quais dirás 'Não tenho prazer neles'" (Ec 12:1).
Se, porém, uma pessoa só se arrependeu na velhice, em uma ocasião em que não mais é
capaz de fazer o que fizera — embora este não seja um modo excelente de arrependimento
— isto, não obstante, o beneficia, e ele é aceito como um penitente.
Mesmo que o indivíduo haja transgredido durante toda a sua vida e só se tenha arrependido
no dia de sua morte, todas as suas transgressões lhe são perdoadas, como está escrito:
"antes que se obscureça a luz do sol, a lua e as estrelas, e voltem as nuvens depois da
chuva" (Ec 12:2) — que é uma alusão ao dia da morte.
Daí a inferência de que se o indivíduo se lembrar de seu Criador e se arrepender antes da
morte, ele será perdoado. [Os sábios explicam que todo judeu, independente do seu nível e
estado, sempre se arrepende nos últimos instantes de sua vida.]
2. O que é arrependimento?
Consiste em que o pecador abandone o seu pecado, retire-o de seus pensamentos e decida
em seu coração nunca mais repeti-lo, como está escrito: "Abandone o ímpio o seu caminho,
e o homem mau os seus pensamentos" (Is 55:7); que ele lastime o passado, como está
escrito: "porque, depois de me afastar, eu me arrependi, depois que compreendi, bati no
peito" (Jr 31:19); e que aquele que sabe todos os segredos possa testemunhar que ele
nunca retornará a este pecado novamente, como está escrito: "e não chamaremos mais de
'nosso deus' a obra de nossas mãos" (Os 14:4).
Também é necessário que ele faça a confissão oral e pronuncie as resoluções que fez em
seu coração.
3. Aquele que confessar em palavras e não resolver em seu coração abandonar o seu
pecado e: como aquele que imergiu para se purificar mantendo em sua mão uma coisa
impura; a menos que ele a atire longe, a imersão terá sido inútil.
E assim está escrito: "Quem esconde as suas falhas jamais tem sucesso, mas quem as
confessa e as abandona obtém compaixão" (Pv 28:13).
Além disto, é necessário especificar o pecado, como está escrito: "Este povo cometeu um
grave pecado ao fabricar um deus de ouro" (Êx 32:31).
4. Os procedimentos de arrependimento são que o penitente grite continuamente diante do
Senhor com lágrimas e súplicas; que faça caridade segundo as suas posses; que se
mantenha afastado daquilo que em pecou; que mude o seu nome, tanto quanto dizer: "Eu
sou uma outra pessoa e não aquela que realizou aqueles atos"; que mude todas as suas
atividades para um curso melhor, no caminho dos virtuosos; que mude de seu antigo lugar
de residência, já que o exílio expia pela transgressão, induzindo à humildade, mansidão e
modéstia de espírito.
5. É altamente louvável um penitente fazer uma confissão pública, abertamente
reconhecendo as suas transgressões e revelando aos outros os seus pecados contra os seus
companheiros; ele deve lhes dizer: "Em verdade, eu pequei contra este e aquele, e lhe fiz
assim e assim; e eis que neste dia eu me arrependo e sinto remorso."
Aquele, porém, que é vaidoso e não revela as suas transgressões mas as oculta, não atingiu
o arrependimento completo, como está escrito: "Aquele que acobertou as suas
transgressões não prosperará" (Pv 28:13).
Isto só se aplica às transgressões em assuntos entre ele e o próximo.
Os pecados cometidos entre ele e D..S, o penitente não necessita revelar. É até um sinal de
atrevimento de sua parte agir assim; ele deve se arrepender de suas faltas diante do Todo-
Poderoso, abençoado seja Ele, declarando em detalhes os seus pecados diante dEle, e
tornando a confissão pública em termos gerais.
É bom para ele que sua transgressão não se torne conhecida, como está escrito: "Feliz
aquele cuja ofensa é absolvida, cujo pecado fica oculto" (S132:1).
6. Embora o arrependimento e a súplica sejam sempre bons, o são particularmente e são
imediatamente aceitos durante os dez dias existentes entre o Roshe Ha-shaná e o Iom
Quipur, como está escrito: "Procurai o Senhor enquanto Ele pode ser achado" (Is 55:6).
Isto se aplica, porém, ao indivíduo.
Mas para uma congregação, sempre que seus membros se arrependerem e oferecerem
súplicas com corações sinceros eles serão respondidos, como está escrito: "Pois, que grande
nação há cujos deuses estejam tão perto de si, como o Senhor, nosso D..S, todas as vezes
que O invocamos" (Dt 4:7).
7. O Dia do Quipur é o momento de arrependimento para todos — não só para o indivíduo,
como também para a comunidade.
É o ponto alto do período de penitência, designado para o povo judeu para o perdão.
Por isso todos terem a obrigação de se arrepender e fazer confissão no Iom Quipur.
O dever de confissão no Iom Quipur exige que uma pessoa comece a se confessar já no dia
anterior, antes de fazer a sua refeição, com medo de que talvez ele se sufoque enquanto
estiver comendo, sem ter confessado.
E apesar de já ter feito uma confissão, ele confessa novamente na noite do Iom Quipur [A
noite do Iom Quipur (Dia do Perdão) é a noite da véspera, a noite de Cal Nidrei], durante o
serviço de Arvit [Arvit: serviço religioso do anoitecer. Os serviços religiosos sinagogais são
realizados em três momentos: pela manhã, ao entardecer e à noite. Os dois últimos, por
comodidade de trabalho, são realizados concomitantemente. No sábado e dias festivos, ao
Serviço da Manhã é acrescentado um Serviço Suplementar (Mussaf), e no Iom Quipur mais
um, de Encerramento (Neilá).], e uma vez mais nos serviços de Shaharit, Mussaf, Min'há e
Neilá. [Shaharit (Serviço da Manhã), Mussaf (Serviço Complementar), Min'há (Serviço do
Entardecer, Vésperas), Neilá (Serviço do Encerramento).]
Em que parte do serviço é feita a confissão?
Ela é recitada pelo indivíduo após a Amidá [Amidá: principal oração dos serviços sinagogais,
composta de dezoito bênçãos, rezada de pés juntos e em silêncio. Também chamada de
Shemonê Esrê (Dezoito).], e pelo hazan [Cantor sinagogal, condutor dos serviços
religiosos.] durante a Amidá, em sua quarta bênção.
8. A fórmula da confissão adotada por todo o povo judeu é a sentença "verdadeiramente
nós pecamos".
Esta é a essência da confissão.
As transgressões confessadas no lom Quipur são novamente confessadas no Dia do Quipur
do ano seguinte, mesmo que o indivíduo tenha continuado penitente, como está escrito:
"Pois reconheço as minhas transgressões e diante de mim está sempre o meu pecado" (Sl
51:5).
9. O arrependimento e o Iom Quipur somente asseguram o perdão para as transgressões
contra D..S,. como por exemplo, quando o indivíduo comeu alimento proibido ou praticou
relação sexual ilícita, e assim por diante.
Mas as transgressões contra um companheiro, tal como, se o indivíduo fere, amaldiçoa ou
rouba o seu próximo ou comete erros similares, nunca são perdoadas até que a parte
prejudicada tenha recebido a compensação que lhe é devida e tenha sido conciliada.
Embora tenha sido feita a compensação, quem agiu errado deve apaziguar aquele que foi
ofendido e pedir o seu perdão.
Mesmo que uma pessoa tenha apenas aborrecido uma outra com palavras, ela tem que
apaziguar a segunda e implorar-lhe até que obtenha o seu perdão.
Se, porém, a parte ofendida estiver indisposta a perdoar, ele deve trazer três de seus
amigos de uma vez e eles devem implorar à pessoa ofendida e solicitar o seu perdão.
Se eles falharem, ele deve tomar um segundo e até mesmo um terceiro grupo.
Se a pessoa ofendida continuar obstinada, ele a deixa só e vai embora.
Aquele que se recusou a perdoar é agora o pecador.
Mas se a pessoa ofendida foi o mestre do ofensor, o discípulo tem que ir a ele uma vez e
mais uma vez, até mesmo mil vezes, até que o perdão lhe seja concedido.
10. É proibido ser cruel e não se deixar apaziguar. [A não ser que isso seja feito em
benefício ao pecador; neste caso, o ofendido se faz, na aparência, cruel.]
Ao contrário, o indivíduo deve ser facilmente conciliável e achar difícil se tomar zangado.
E, quando lhe é solicitado o perdão pelo ofensor, o indivíduo deve perdoar com a mente
sincera e espírito disposto.
Mesmo que o indivíduo tenha sido muito vexado e afrontado, ele não deve se vingar, nem
guardar rancor.
O perdão é natural aos descendentes do povo judeu, característica do seu coração virtuoso.
Assim não são os não judeus que são de coração duro. [Maimônides diz que entre os não-
judeus também existem alguns que são virtuo-sos, mas em nível inferior, e que não
conseguem perdoar totalmente.]
"E conservou o seu furor eternamente" (Am 1:11).
Assim, dos guibeonitas que não perdoavam e recusavam-se a se reconciliar, está escrito:
"esses guibeonitas não eram filhos de Israel" (II Sm 21:2).
11. Se uma pessoa pecou contra outra e a esta morreu antes que o perdão fosse procurado,
o pecador deve trazer dez homens, colocá-los ao lado da tumba do finado e em sua
presença fazer a declaração: "Eu pequei contra o Senhor, D..S, de Israel, e contra este
indivíduo, tendo cometido tal e tal erro contra ele."
Se ele deve dinheiro ao finado, deve pagá-lo aos seus herdeiros.
Se ele não souber de nenhum dos herdeiros, deve depositar a quantia em tribunal e fazer a
confissão.

Capítulo III
1. Todo ser humano tem méritos e falhas.
Aquele cujos méritos excedem as faltas é um tsadic [Virtuosos].
Aquele cujas falhas excedem os méritos é um rashá [Mau, impio].
Se os dois extremos se equilibram em um indivíduo, ele pertence à categoria dos beinonin
Assim é também com um país.
Se os méritos de totalidade de seus habitantes excederem as suas falhas, o país é virtuoso.
Se as suas falhas preponderarem, é um país mau.
Tal princípio também se aplica em relação ao universo todo. [Os termos tsadic (virtuoso),
rashá (mau) e beinoni (intermediário) têm dois sentidos: a) o sentido figurado; b) o sentido
próprio. No sentido figurado, as virtudes e as transgressões e o seu equilíbrio se baseiam
nas ações, sem levar em conta o sentimento ou o intelecto da pessoa; somente às vezes se
leva em conta, um pouco, a parte íntima da pessoa. Este tipo de julgamento - o figurado -
ocorre mais aqui em baixo, perante a corte humana. No sentido próprio, as virtudes e as
negligências se baseiam não somente nas ações, mas também nos demais níveis, isto é, na
fala, pensamento, sentimento, intelecto, vontade, prazer e no seu próprio modo de ser,
donde se define se se tende para o bem ou o mal ou se se está em equilíbrio. O julgamento
que define a inclinação para um dos lados é feito segundo as ponderações de cada ação,
pelo Onipotente. Neste capítulo, Maimônides expõe como o julgamento é feito pelo
Onipotente.]
2. Uma pessoa cujas transgressões excedem os méritos sucumbe imediatamente em sua
maldade, como está escrito: "Por causa da gravidade da tua falta" (Os 9:7).
Também um país em que as transgressões de seus habitantes preponderam sucumbe
imediatamente, como está escrito: "O grito contra Sodoma e Gomorra é muito grande: seu
pecado é muito grave" (Gn 18:20).
Desta forma, com o universo inteiro, se as transgressões excederem os méritos ele será
destruído imediatamente, como está escrito; "E o Senhor viu que a maldade do homem era
grande quando sobre a terra" (Gn 6:5).
Esta avaliação leva em conta não o número, mas a magnitude de méritos e de
transgressões.
Pode haver um simples mérito que sobrepuje muitas transgressões, como está escrito:
"pois nele... se achou alguma coisa agradável" (I Rs 14:13).
Pode haver uma transgressão que contrabalance muitos méritos, como está escrito: "Um só
pecado anula muitos bens" (Ec 9:18).
A avaliação é feita pelo Onipotente.
Ele tem o Seu critério de comparação entre os méritos e as transgressões.
3. Todo aquele que tiver se arrependido dos Mandamentos que cumpriu e começado a
duvidar dos seus méritos, dizendo em seu coração "o que ganhei no seu cumprimento,
oxalá eu não os tivesse cumprido", este perdeu tudo e não lhe é consignado nenhum
mérito, como está escrito: "o justo não viverá pela sua justiça no dia em que pecar" (Ez
33:12).
Este versículo está se referindo àquele que começou a duvidar dos mandamentos que
cumpria.
E como se avaliam os méritos e as negligências na hora da morte; assim também, a cada
ano é feita a avaliação das negligências de cada um no universo juntamente com os seus
méritos no dia de Roshe Ha-Shaná.
Quem for considerado virtuoso é consignado para a vida, e quem for considerado mau é
consignado para a morte; e o intermediário fica pendente até o lom Quipur.
Se fez teshuvá [Retomo, arrependimento.], é consignado para a vida; se não, é consignado
para a morte.
4. Até mesmo o toque de shofar em Roshe Ha-Shaná é uma determinação decretada pela
Torá (Nm 29:1), sem dar explicação, mas encontramos alusões num outro versículo:
"Acordem-se os adormecidos de seu sono, e os que estão num sono profundo despertem de
sua hibernação; revejam os seus atos e voltem em teshuvá e lembrem-se do seu Criador."
Isto se refere àquele que esqueceram a Verdade pela futilidade da vida mundana; todos os
anos mergulhados em futilidades e vazio de nada lhes adiantarão e não os salvarão.
Olhai para vossas almas, melhorai vossos caminhos e ações e deixai, cada um de vós, o
caminho do mal e os pensamentos que não são bons.
Por isto o homem deve sempre ver a si mesmo durante o ano inteiro como se fora metade
méritos e metade negligências; também o universo inteiro deve ser visto como tendo
metade méritos e metade negligências.
Se cometeu um pecado, então ajudou a conduzir o universo inteiro para o débito e o
ameaça de destruição; quando pratica uma mitsvá, contribui para que o universo tenda ao
crédito e lhe traz ajuda e salvação, como está escrito: "O justo está firme para sempre" (Pv
10:25) — a passagem se refere àquele que acumulou créditos, estendeu-os ao universo
inteiro e o salvou.
E por causa deste conceito é costume entre o povo judeu aumentar mais ainda a doação de
tsedacá, fazer boas ações e cumprir os Mandamentos entre Roshe Ha-Shaná e o Iom Quipur
mais do que no ano inteiro.
Também é costume levantar-se de madrugada durante esses dez dias para ir às sinagogas,
para recitar selihot [Orações de pedido de perdão.] e deprecações até o clarear do dia.
5. Na hora em que são avaliadas as negligências dos homens juntamente com os seus
méritos, não é levada em conta a primeira vez em que o pecado foi cometido, nem a
segunda; faz-se somente a partir da terceira vez em diante.
Se são encontrados a partir de terceira vez mais pecados que méritos, então as duas
primeiras vezes são acumuladas e o julgamento é sobre o todo.
Se for apurado que os méritos são iguais aos pecados cometidos a partir da terceira vez, as
duas primeiras vezes são anistiadas, pois a terceira vez é considerada como sendo a
primeira.
O mesmo ocorre na quarta vez, pois já foram perdoadas as três primeiras, e assim
sucessivamente.
Isto se aplica quando um indivíduo é julgado, como está escrito: "Tudo isto faz o Eterno
duas ou três vezes ao homem" (Pv 33:29).
Mas a comunidade fica pendente se o pecado foi cometido uma primeira, uma segunda e
uma terceira vez, como está escrito: "Pelos três pecados do povo judeu, pelos quatro não o
perdoarei" (Am 2:6).
Quando se leva em conta desta maneira, começa-se a contar a partir da quarta vez.
Se a metade das ações dos intermediários for considerada como negligências, e se entre
elas estiver a de jamais terem colocado tefilim, então eles serão punidos pela severidade do
seu pecado e depois terão uma parte do mundo vindouro.
O mesmo acontece com todos os negligentes em que os pecados são a maioria — são
julgados e punidos pela severidade dos seus pecados e depois têm parte no mundo
vindouro, porque cada judeu" tem uma parte no mundo vindouro, até mesmo o que pecou,
como está escrito: "O teu povo, constituído todo ele de justos, herdará a terra para sempre"
(Is 60:21).
A terra aqui é um exemplo, pois o termo se refere à terra da vida, que é o mundo vindouro.
O mesmo ocorre com os virtuosos dos outros povos, que também terão uma parte no
mundo vindouro.
6. Os que não terão parte no mundo vindouro, e que serão cortados e julgados pela
magnitude de seus pecados e perdidos eternamente, são os hereges, os ateus, os que
negam a Torá, os que rejeitam a ressurreição dos mortos e a vinda do Redentor, os
renegados, os que conduzem outros ao pecado, os que se isolam da comunidade, os que
cometem pecados arrogante e publicamente, como Iehoaquim, os delatores, os que
atemorizam a comunidade em benefício outro que não do Judaísmo, os derramadores de
sangue, os que falam mal dos outros e os que tentam se desfazer do sinal da circuncisão.
7. Cinco são os denominados hereges: os que falam que não há D..S e que o Universo não
tem um Governante; os que dizem que há quem governa o mundo, mas que são dois ou
mais; os que afirmam que há um Senhor, mas que Ele tem corpo físico; os que sustentam
que Ele não é o Único Primeiro, nem a Força para todos; e os que servem a uma estrela ou
signo, além do Eterno, para que seja uni protetor entre eles e o Senhor do Universo.
Cada um desses cinco citados acima são considerados hereges porque se apartam da
religião.
8. Três são considerados ateus: os quer falam que não há profecia, que não há
conhecimentos que venham do Onipotente aos corações humanos; os que contestam a
profecia de Moisés, Nosso Mestre; e os que dizem que o Eterno não tem conhecimento das
ações dos seres humanos.
Cada um destes três é considerado ateu.
Três são os considerados como renegadores da Torá: o que diz que a Torá não vem do
Eterno — mesmo se disser que um único versículo ou uma só palavra de Moisés foi dita de
si próprio, este é considerado um renegador da Torá; os que renegam as suas
jurisprudências, que são a Torá Oral, e contestam os seus mensageiros (como por exemplo,
Tsadoc e Baitós [São dois judeus que não reconheceram a Torá Oral na época do Segundo
Templo e formaram uma seita dentro do Judaísmo (Saduceísmo).]); os que dizem que o
Todo-Poderoso substituiu este mandamento por outro e que esta Torá já foi revogada,
mesmo sendo verdadeiro que ela fora dada pelo Eterno.
Cada um desses três são considerados renegadores da Torá.
9. Dois são considerados renegados: o que transgride um mandamento e o que transgride
toda a Torá.
O que transgride um mandamento é aquele que costuma cometer um pecado
conscientemente, acostumando-se, de modo que passa a ser conhecido de todos por tal,
mesmo que seja transgressor do mais insignificante dos mandamentos. Por exemplo, este é
o caso daquele que se habitua a vestir uma roupa mesclada de lã e linho, ou o que se
acostuma a aparar o cabelo todo em redondo e que age como se para ele tais
mandamentos tivessem sido revogados, procedendo assim por rebeldia.
O renegador de toda a Torá é o que se volta para outras religiões na hora de perseguições
ao povo judeu, dizendo: "O que me adianta ser parte do povo judeu, que é humilhado e
perseguido! O melhor é me integrar aos que são fortes."
Este é um renegador de toda a Torá.
10. Os que conduzem outros ao pecado, são por exemplo, alguém como Jeroboão (I Rs
17:21), Tsadoc ou Baitós, ou quem provocou um pecado leve, mesmo que seja revogar um
mandamento positivo, ou o que força os outros a transgredirem, como Manassés, que
matava os Judeus se eles não fizessem idolatria, ou os que enganam os outros e os
conduzem ao erro (2 Rs 21:16).
11. Os que se isolam da comunidade, mesmo que não tenham cometido nenhum pecado,
mas somente se afastado do povo judeu, e "não praticam os mandamentos juntos com os
outros, nem participam das desgraças do povo judeu, nem jejuam nos dias próprios juntos
com os outros, apenas seguindo o seu caminho como os não-judeus, como se não fizessem
parte do povo judeu", estes não têm parte no mundo vindouro.
Os que cometem pecados arrogante e publicamente, como Ieohaquim, não importando se
dos mais insignificantes ou dos mais sérios, são "os que interpretam a Torá no avesso do
seu verdadeiro significado", porque se tornam insolentes ao revelar interpretações sem
nenhum respeito às palavras da Torá. 12. Dois são os delatores: aquele que delata o seu
amigo ao não judeu para que o matem ou surrem, aquele que denuncia os bens materiais
do amigo ao não judeu ou ao cobrador de impostos, o qual é como um idólatra. [O cobrador
de impostos (publicano) cobrava mais do que era preciso e injustamente.]
Nenhum dos dois tem parte no mundo vindouro.
13. Os que atemorizam a comunidade em benefício outro que o do Judaísmo são aqueles
que administram com mão forte, e que os demais judeus temem muito, sendo sua intenção
a honra ou a satisfação dos seus anseios e vontades, e não a honra do Todo-Poderoso.
Por exemplo, quem age como os reis dos outros povos.
14. Cada um dentro dessas vinte e quatro categorias que mencionamos acima, mesmo
sendo judeu, não tem parte no mundo vindouro.
Há pecados que são mais leves que esses, mas ainda assim os sábios disseram que os que
se habituam neles não têm parte no mundo vindouro; é preciso se distanciar e se cuidar
deles.
São eles: dar ao outro um apelido de gozação, chamar o outro com o apelido de gozação,
envergonhar o amigo em público, engrandecer-se à custa da vergonha do outro, desprezar
os eruditos, desprezar os seus Mestres, desprezar os Dias Festivos e profanar os sacrifícios.
Quando dizemos que todos os mencionados neste capítulo não têm parte no mundo
vindouro?
Quando eles morrem sem se arrepender; mas se se arrependerem na hora da morte, então
são considerados arrependidos e terão parte no mundo vindouro, pois não haverá nada que
seja obstáculo ao arrependimento; mesmo que eles tenham renegado a existência do
Eterno durante toda a vida e se arrependido só nos últimos instantes, eles têm parte no
mundo vindouro, como está escrito: "Paz ao que está longe e ao que está perto, diz o
Eterno, Eu o curarei" (Is 57:19). Todos os maus, os rebeldes e os renegados ou
semelhantes, quando se arrependerem, abertamente ou às escondidas, são aceitos, como
está escrito: "Voltai, filhos rebeldes" (Jr 3:22), isto é, ainda que rebeldes, mesmo tendo
voltado às escondidas e não publicamente, é aceito o seu arrependimento.

Capítulo IV
1. Vinte e quatro ações impedem que se faça teshuvá.
Quatro delas são grandes pecados, e à pessoa que comete um deles Sagrado — seja Ele
louvado — não dá oportunidade para se arrepender, por causa da magnitude do pecado.
São os seguintes:
1) o que leva os outros a pecar; incluem-se neste aqueles que impedem o público de
cumprir um Mandamento;
2) aquele que desvia o seu amigo do caminho do bem, como o que instiga para o mal;
3) o que vê o seu filho desviar-se para o caminho do mal e não o adverte.
Como o filho está em sua mão, se ele o advertir, o filho não se afastará do caminho do
bem; como ele não o advertiu, é como se o estivesse instigando a pecar.
Inclui-se neste pecado também aquele que, podendo advertir o outro — tanto faz se uma
pessoa ou o público —, não o fez, deixando-o com seus erros;
4) o que fala 'pecarei e me arrependerei'.
Inclui-se aqui aquele que fala 'pecarei e o Iom Quipur me perdoará'.
2. Outros cinco atos que dificultam o arrependimento de quem os pratica são os seguintes:
1) isolar-se do público, porque, quando o pecador se arrepender, o público não estará junto
dele, e não poderá ter parte dos méritos dele;
2) discordar das palavras dos sábios. Como tais pessoas criam polêmicas, tendem ao
isolamento e então não saberão os caminhos de arrependimento;
3) desprezar os Mandamentos.
Como os Mandamentos são rebaixados aos seus olhos, ele não estará atrás deles para
cumpri-los, e, não os cumprindo, que méritos terá?
4) desprezar os seus mestres, pois isto leva o indivíduo a ser expulso, como Gueihazi
[Servo de Isaías.].
Quando a pessoa estiver afastada, não terá ninguém para lhe orientar e ensinar o caminho
da verdade;
5) não admitir ouvir advertências, pois, neste caso, a pessoa nunca alcançará o caminho do
arrependimento, já que a advertência conduz ao mesmo.
Quando se mostra a eles os seus pecados e defeitos e se os constrange, eles então se
arrependem, como está escrito: "Lembra-te! Não esqueças... tu foste rebelde!" (Dt 9:7),
"contudo, até o dia de hoje, o Senhor não te havia dado um coração para compreender" (Dt
2 9:3), "Povo idiota e ignorante" (Dt 32:6).
Assim também, Isaías repreendeu o povo judeu, dizendo: "Ai da nação pecadora..." (Is
1:4), "o boi conhece o seu dono..." (Is 1:3), "porque eu sei que tu és obstinado" (Is 48:4).
De fato, D..S ordenou que ele repreendesse os pecadores, como está escrito: "Grita a
plenos pulmões, não te contenhas" (Is 58:1).
Assim também, todos os profetas repreenderam o povo judeu até que ele se arrependeu.
Por isso, é necessário nomear em toda comunidade um grande erudito, idoso, temente a
D..S desde a sua juventude e amado pelo povo, para repreender a multidão e fazê-la
arrepender-se.
Aquele que odeia a repreensão, no entanto, não irá até o admoestador, nem ouvirá as suas
palavras, e, portanto, persistirá em seus pecados, que parecerão bons aos seus olhos.
3. Entre estas vinte e quatro ações há cinco pecados de tal natureza que aquele que os
comete não pode facilmente retornar em perfeito arrependimento, pois trata-se de pecados
contra o coletivo; o pecador não sabe a quem fazer a restituição, ou a quem deve pedir
perdão.
Os pecadores desta categoria são os seguintes:
1) aquele que amaldiçoa uma multidão, e não sabe a quem possa pedir perdão; 2) aquele
que compartilha do saque de um ladrão, ainda que não saiba quem é o dono da propriedade
roubada; o ladrão rouba de muitas pessoas e traz a ele os artigos roubados, de forma que
este é um receptador; além disto, ele estimula o ladrão e o induz ao pecado;
3) aquele que encontra propriedade perdida e não revela seu paradeiro, a fim de devolvê-la
ao seu dono; depois de um certo tempo, quando ele se arrepender, não saberá a quem
deve devolvê-la;
4) aquele que causa privação aos pobres, órfãos ou viúvas, pois estas pessoas estão em
condição de penúria, são indigentes, migram de uma cidade para outra, onde não têm
amizades, de modo que o pecador não pode definir a quem pertencem os bens retirados e a
quem devem ser devolvidos;
5) aquele que aceita suborno para perverter julgamento; já que ele não sabe até que ponto
o seu julgamento foi pervertido, nem a extensão de suas conseqüências, das quais ele tem
só indícios; além disso, ele estimula o litigante corruptor e faz com que ele peque.
4. Entre aqueles (vinte e quatro pecados) há cinco a respeito dos quais se pode supor que
quem os cometa não necessite se arrepender, por eles serem considerados pela maior parte
das pessoas como triviais; resulta disso que o indivíduo peca crendo que não pecou.
Os pecadores que estão nesta categoria são os seguintes:
1) aquele que partilha de uma refeição que é insuficiente para o seu dono.
Esta é uma forma menor de roubo; ainda assim, o convidado imagina não ter pecado,
dizendo consigo: "Eu comi algo sem o consentimento do dono?";
2) aquele que usa o empenho de um homem pobre.
O empenho de um homem pobre consiste apenas de artigos tais como uma vaca ou um
arado, e o usuário diz para si: "os artigos não foram diminuídos; eu não os roubei";
3) aquele que contempla uma mulher, acha que não há nada errado nisto e diz para si:
"Acaso coabitei com ela?", ou "aproximei-me dela?" — não percebendo que o olhar lascivo é
um grave pecado, pois leva à incastidade real, como está escrito: "jamais sigais os desejos
de vosso coração e dos vossos olhos, que vos têm levado a vos prostituir" (Nm 15:39);
4) aquele que procura obter honra rebaixando uma outra pessoa, pensando consigo que isto
não é pecado, já que a outra pessoa não está presente e não sofreu nenhuma vergonha.
De fato, o infrator não o envergonhou realmente; porém comparou seus próprios bons atos
e a sua sabedoria com os da outra pessoa, de modo que pudesse vir a se estabelecer que
ele mesmo é um homem honrado, enquanto que o outro é uma pessoa desprezível;
5) aquele que suspeita de um inocente e pensa para si que não está cometendo pecado,
dizendo: "o que fiz a ele? Há de minha parte qualquer coisa a mais do que uma suspeita
sobre se essa pessoa fez algo ou não?"
Ele não percebe, entretanto, que é uma injustiça considerar um homem inocente como
possível transgressor.
5. Há no grupo ainda cinco pecados de tal natureza que aquele que os comete será sempre
viciado neles e achará difícil abandoná-los.
Logo, uma pessoa deve estar sempre em guarda para não se tornar habituada neles, vendo
que são hábitos excessivamente perniciosos.
São os seguintes: revelar intrigas e boatos, falar maledicências, ter temperamento colérico,
ter maus pensamentos, manter-se em companhia de uma pessoa má.
Agindo assim o indivíduo adquire as más influências que se tornam impressas no coração.
Assim disse Salomão: "Quem se ajunta aos insensatos torna-se mau" (Pv 13:20). Nas leis
relativas ao comportamento, reunimos as qualidades que todos os homens devem cultivar,
especialmente os que se arrependeram.
6. Todos os pecados enumerados acima e seus afins, embora dificultem o arrependimento,
não o impedem.
Se uma pessoa se arrepender deles, é aceita como penitente e terá uma parte no mundo
vindouro.

Capítulo V
1. A livre e espontânea vontade é concedida a todo ser humano.
Se o indivíduo desejar se voltar ao bom caminho e ser virtuoso, tem o poder de assim fazer.
Se o indivíduo desejar se voltar ao mal e ser cruel, tem a liberdade de agir assim. Assim
está escrito na Torá: "Eis que o homem tem se tornado como um de nós, para saber o bem
e o mal" (Gn 3:22) — o que quer dizer que a espécie humana se tornou única no mundo —
não havendo outras espécies como ela neste sentido.
O homem por si mesmo e pelo exercício de sua própria inteligência e razão sabe o que é
bom e o que é mau, e não há nada que possa evitar que o indivíduo faça aquilo que é bom
ou aquilo que é mau.
Já que isto é assim, "que agora ele não estenda a mão..." (Ibid.)
2. Não deixes que a noção expressa pelos não judeus tolos e pela maioria dos
correligionários insensatos entre os judeus convençam-te de que o Todo-Poderoso tenha
decretado, no início da criação, que uma pessoa deva ser virtuosa ou má. Isto não se dá
assim.
Todo ser humano pode se tornar virtuoso como Moisés Nosso Mestre, ou mau como
Jeroboão.
Sábios ou tolos, piedosos ou cruéis; mesquinhos ou generosos; podem assumir uma ou
outra dentre todas as outras qualidades.
Não há ninguém que decrete que uma pessoa deva agir de uma determinada maneira, ou
que a conduza a qualquer um dos dois caminhos; mas toda pessoa segue o caminho que
desejar, espontaneamente e segundo sua própria vontade. Assim disse Jeremias: "Não é da
boca do Altíssimo que saem os males e a felicidade" (Lm 3:38), ou seja, o Criador não
decreta que um homem deva ser bom ou mau.
Conseqüentemente, segue-se que é o pecador que aplicou dano a si mesmo; e ele deve,
portanto, chorar por isto e lamentar ter feito isto à sua alma.
Isto está expresso no próximo versículo: "Por que se queixa o homem?" (Lam 3:39).
O profeta continua: já que a liberdade de ação está em nossas mãos, de livre e espontânea
vontade cometemos todos estes males, cumpre a nós retornar em espírito de
arrependimento e abandonar a nossa maldade, pois temos a capacidade de fazê-lo.
Este pensamento está expresso no próximo verso: "Examine-mos os nossos caminhos,
exploremo-los e retornemos ao Senhor" (Lm 3:40).
3. Esta doutrina é um princípio importantíssimo, o pilar da Lei da Torá e dos Mandamentos,
como está escrito: "Eis que hoje estou colocando diante de ti a vida e a felicidade, a morte e
a infelicidade" (Dt 30:15), e mais uma vez, está escrito: "Vede, hoje estou colocando a
bênção e a maldição diante de vós" (Dt 11:26).
Isto significa que o poder está em nossas mãos, e o que quer que um homem deseje fazer
entre as coisas que os seres humanos fazem, ele poderá fazer, quer seja uma coisa boa ou
má; sobre esta faculdade, está escrito: "Oxalá o seu coração fosse sempre assim..." (Dt
5:29), o que implica em que o Criador não instiga compulsões aos filhos dos homens, nem
decreta que eles devam fazer o bem ou o mal; tudo é deixado ao livre-arbítrio.
4. Se D..S tivesse decretado que uma pessoa devesse ser virtuosa ou má ou se houvesse
alguma força inerente na natureza dessa pessoa que a impelisse irresistivelmente a um
curso particular, ou a um ramo especial de conhecimento, a visões ou atividades especiais,
como os tolos astrólogos inventam em sua imaginação, para que o Todo-Poderoso nos
admoestaria através dos profetas "faze assim ou não faças assim" se, desde o princípio de
existência do indivíduo, seu destino já estivesse decretado, ou a sua constituição inata o
levasse irresistivelmente àquilo de que ele não poderia se libertar? Que espaço existiria para
a íntegra da Torá?
Por que direito ou justiça poderia D..S punir os maus ou recompensar os virtuosos?
"Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gn 18: 25).
Porém, não ponderes: como pode um homem fazer o que desejar e agir segundo a sua
vontade?
Pode alguma coisa no mundo ser feita sem a vontade e o desejo do mestre?
A própria Escritura diz: "O Senhor faz tudo o que deseja no céu e sobre a terra" (Sl 135:6).
Sabe, então que tudo ocorre segundo o Seu desejo, não obstante os nossos atos estejam
em nosso poder.
De que forma?
Assim como foi o desejo do Criador que o fogo e o ar ascendessem, a terra e a água
descessem, e que a esfera se movimentasse em um círculo e todas as outras coisas no
Universo existissem em seus modos especiais como Ele desejava, assim foi Seu desejo que
o Homem tivesse liberdade de vontade e todos os seus atos devessem ser deixados à
própria vontade; que nada deveria forçá-lo ou levá-lo a alguma coisa, mas que, por si
mesmo e pelo exercício de sua própria mente, dada por D..S, ele fizesse qualquer coisa que
esteja dentro das possibilidades de um homem.
Logo, ele é julgado segundo os seus atos. Se ele faz o bem, o bem é feito e a ele; se ele faz
o mal, o mal lhe é feito. O profeta diz: "Contudo, de vossas mãos vêm estas coisas" (Ml
1:9), "todos eles escolheram os seus próprios caminhos" (Is 66:3). Sobre este tema, disse
Salomão: "Jovem, regozija-te na tua mocidade... mas saibas que por tudo isso D..S te fará
entrar em julgamento" (Ec 11:9), isto é, percebe que o que tu fazes está em teu poder e
que tu deverás prestar contas. 5. Por acaso tu dirás: "O Todo-Poderoso não sabe de tudo
antes que aconteça?" Ou Ele sabe que esta pessoa será virtuosa ou má, ou Ele não sabe. Se
Ele sabe que ela será virtuosa, será impossível que ela não seja virtuosa; e se tu dizes que
Ele sabe que ela será virtuosa e ainda assim é possível que ela seja má, então Ele não
conhece o futuro claramente.
Para a solução deste problema, compreende que "a dimensão é mais longa que a terra e
mais larga que o mar" (Jó 11:9), e muitos princípios importantes e básicos da mais elevada
sublimidade estão relacionados a isto.
Tu, porém precisas saber e compreender o que estou prestes a dizer.
No segundo capítulo das Leis Relacionadas aos Princípios Básicos da Torá já explicamos que
D..S não sabe com conhecimento externo a Ele próprio, como os seres humanos, cujo
conhecimento e ego são entidades separadas; Ele, louvado seja o Seu Nome, e o Seu
conhecimento são Um.
Isto o intelecto humano não pode compreender claramente.
Assim como não está no poder humano compreender ou descobrir a Essência Real do
Criador, como está escrito: "porque nenhum homem pode ver-Me e continuar vivendo" (Êx
33:20), da mesma forma, não está na capacidade humana compreender ou descobrir o
conhecimento do Criador.
E assim disse o profeta: "pois os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e os
vossos caminhos não são os Meus caminhos" (Is 55:8).
Sendo este o caso, nós carecemos da capacidade de saber como D..S conhece todas as
criaturas e suas atividades.
Porém, sabemos sem dúvida nenhuma que as atividades de um ser humano estão em suas
próprias mãos e o Todo-Poderoso não o impele adiante, nem decreta que ele deva agir de
uma maneira ou de outra. [Um exemplo que pode ajudar um pouco a compreender que o
conhecimento do Eterno não influi na escolha do livre-arbítrio do ser humano é o fato de os
pais saberem e sentirem como vai ser a reação do filho quando este receber um presente
ou uma notícia; os pais prevêem como vai ser, sem mencionar qualquer tipo de atitude.]
Não é apenas pela tradição religiosa que isto é sabido.
Também é apoiado por provas claras fornecidas pela ciência.
Está gravado nos escritos proféticos que um homem será julgado por todos os seus atos e
de acordo com as suas ações quer sejam bons ou maus.
E este é o princípio do qual dependem todas as palavras da Profecia.

Capítulo VI
1. Há muitos versículos no Pentateuco e nos Profetas que parecem contradizer esta doutrina
fundamental.
Eles desorientam muitas pessoas e fazem-nas pensar que D..S decreta que uma pessoa
deva fazer o bem ou o mal, e que o coração de um homem não está sob o seu controle,
para incliná-lo em qualquer direção que lhe aprouver.
Portanto, eu exporei um princípio importante pelo qual tu aprenderás o significado destes
versículos.
Quando um indivíduo ou os habitantes de um país pecam, e o pecador comete uma
violação, consciente e voluntariamente, como descrito acima, é próprio que seja punido.
D..S conhece o modo pelo qual a punição deve ser aplicada.
No caso de alguns pecados, a justiça exige que o pecador seja punido por seu pecado neste
mundo, física ou financeiramente, ou através de seus filhos pequenos; os filhos pequenos
de um homem, pois que ainda não tem compreensão e não atingiram ainda a maioridade
religiosa [Treze anos para os meninos e doze para as meninas.], são como propriedade de
seu pai, e o texto "cada um será executado por seu próprio crime" (Dt 24:16) implica que o
indivíduo não é pessoalmente responsável, até que seja um adulto [Acima da idade referida
na nota anterior.].
Novamente, há pecados onde a justiça exige que a punição seja aplicada no mundo
vindouro, e o transgressor não sofra penitência aqui na terra.
Uma vez mais, há pecados para os quais a pena é aplicada aqui e no mundo vindouro.
[Pecados cuja punição é aplicada aqui e lá são a idolatria, superstição, pecados morais e os
atentados propositais e conscientes à educação judaica tradicional.]
2. O que está estabelecido anteriormente só se aplica no caso de o pecador não se
arrepender.
Mas se ele o fez, o arrependimento serve de escudo contra a punição.
Assim como o indivíduo peca impelido por sua própria mente e por sua livre vontade, da
mesma forma deve se arrepender, impelido por sua mente e vontade.
3. Um homem pode cometer, por sua livre e espontânea vontade, um pecado tão grande ou
pecados tão numerosos que a justiça venha a exigir do Juiz Verdadeiro como pena que seja
dificultado o seu arrependimento, e que a liberdade para ele se corrigir de sua maldade lhe
seja dificultada, de forma que ele venha a morrer e sucumbir nos pecados que cometeu.
Assim disse D..S através de Isaías: "Embora o coração deste povo, torna pesados os seus
ouvidos, tapa-lhe os olhos, para que não veja com os seus olhos e não ouça com os seus
ouvidos, e não suceda que o seu coração venha a compreender, nem que ele se converta e
consiga a cura" (Is 6:10); e ainda: "Mas eles zombavam dos enviados de D..S,
desprezavam suas palavras, escarneciam dos profetas, até que a ira do Senhor contra o seu
povo chegou a tal ponto que já não havia mais remédio" (2 Is 36:16).
Isto significa que eles pecaram por espontânea vontade, e multiplicaram as transgressões a
um tal ponto que incorreram na pena que dificulta o arrependimento, fazendo com que a
redenção do pecado se torne difícil.
Por isso, também, está escrito no Pentateuco: "E Eu endurecerei o coração do faraó" (Êx
4:21), porque o faraó pecou por seu próprio impulso e maltratou os judeus que viviam na
terra dele, como está escrito: "Vinde e lidemos astuciosamente com eles..." (Êx 1:10), a
justiça exigiu que o arrependimento devia ser dificultado, até que a punição lhe fosse
aplicada.
O Sagrado, abençoado seja Ele, consequentemente, endureceu o seu coração. Mas por que
Ele lhe enviou uma mensagem através de Moisés, solicitando-lhe que libertasse os judeus e
se arrependesse, quando Ele já lhe havia dito "tu não os libertarás", como está escrito,
"Quanto a ti, porém, e aos teus servos, Eu sei que ainda não temeis ao Senhor teu D..S"
(Êx 9:30), e "Entretanto, foi precisamente por isto que te conservei de pé, para fazer-te ver
o Meu poder e para que o Meu Nome seja proclamado em toda a terra" (Êx: 16)?
O propósito era o de instruir os habitantes do mundo, pois, quando o Todo-Poderoso
dificulta o arrependimento do pecador, este não pode se arrepender, e morre na sua
maldade que originalmente cometera, por sua livre e espontânea vontade.
Assim, Seon, devido às suas injustiças, incorreu na pena de ter o seu arrependimento
dificultado, como está escrito: "porque o Senhor teu D..S tornou o seu espírito obstinado e
endureceu o seu coração, a fim de entregá-lo em tua mão, como hoje se vê" (Dt 2:30).
Assim, também, devido às abominações dos cananeus, D..S dificultou-lhes o
arrependimento, até que declarassem guerra contra o judeus, como está escrito: "O Senhor
havia pois decidido endurecer o coração desses povos para que com-batessem Israel, para
que fossem anátemas, e para que não houvesse para eles remissão, mas que fossem
extirpados" (Js 11:20).
Assim como aos judeus nos dias de Elias, por terem transgredido muito, D..S dificultou o
arrependimento àqueles que multiplicaram suas transgres-sões, como está escrito: "Tu não
voltaste o teu coração para trás" (1 Rs 18:37); isto significa,' tu dificultaste o
arrependimento deles'.
Para resumir, D..S. não decretou que o faraó maltratasse os judeus, ou que Seon pecasse
em sua terra, ou que os cananeus cometessem abomina-ções, ou que os judeus adorassem
ídolos.
Todos eles pecaram por sua própria vontade; e todos, conseqüentemente, incorreram na
pena em que o arrependimento lhes deveria ser obstado.
4. E assim, os profetas e os virtuosos imploram ao Todo-Poderoso, em suas preces, para
ajudá-los no caminho de verdade, como Davi disse: "Ensina-me o Teu caminho, Senhor" (Si
27:11), isto é, que os meus pecados não ocultem de mim o caminho da verdade, que eu
possa deles aprender o Teu caminho e a Unidade do Teu Nome.
Assim, ainda, em sua prece: "Deixe que um espírito generoso me sustente" (S1 51:14), que
significa, 'sofra o meu espírito para realizar o Teu desejo, e não possam os meus pecados
fazer com que o arrependimento me seja obstado, mas deixa-me ter liberdade, até que eu
retome e compreenda o caminho da verdade'. Todo texto similar é explicado, da mesma
maneira.
5. O que significa o pronunciamento de Davi: "O Senhor é bondade e retidão, e aponta o
caminho aos pecadores" (Sl 25:8)?
Refere-se ao fato de que D..S lhes enviou os profetas para ensinar-lhes os caminhos do
Senhor e trazê-los de volta em arrependimento; além do mais, que Ele lhes concedeu a
capacidade de aprender e compreender.
Pois é característica de todo ser humano que, quando o seu interesse está vinculado aos
caminhos da sabedoria e da virtude, ele anseia por eles e fica ávido por segui-los.
Assim dizem os sábios: "Todo aquele vier se purificar, recebe auxílio", isto é, se verá
ajudado em seu esforço. Mas, não está escrito na Torá, "Eles serão escravos, serão
oprimidos" (Gn 15:13)?
Então o Todo-Poderoso não decretou que os egípcios deveriam fazer o mal? Também está
escrito: "E este povo se levantará para se prostituir com os deuses da terra estrangeira" (Dt
31:16).
Não decretou Ele que o povo judeu deveria adorar ídolos?
Por que, então, Ele os puniu?
Ele não decretou a nenhum indivíduo particular que devesse ser aquele que se perderia.
Qualquer um dos que se perderam e adoraram ídolos, se não desejasse cometer idolatria,
poderia não tê-lo feito.
O Criador só instruiu a Moisés sobre qual seria o curso futuro da história, pela natureza,
como se poderia dizer, 'Este povo terá entre si pessoas virtuosas e más'.
Um homem mau não tem direito, neste aspecto, de dizer que estava escrito que ele seria
mau, porque o Todo-Poderoso informara a Moisés que entre o povo judeu haveria homens
maus; tampouco o texto: "Nunca deixará de haver pobres na terra" (Dt 15:11) não implica
que qualquer indivíduo em particular esteja fadado a ser pobre.
É assim também com relação aos egípcios; todos aqueles que oprimiram e maltrataram os
judeus poderiam ter se abstido de assim proceder se não desejassem feri-los, pois D..S não
estabeleceu um decreto a qualquer indivíduo específico, mas apenas informou a Abraão que
a sua prole seria sujeita à servidão numa terra que não era a sua.
Nós já afirmamos que está além da capacidade humana compreender o modo pelo qual
D..S tem conhecimento de futuros eventos.

Capítulo VII
1. Já que todo ser humano [Conforme os sábios explicaram, não existe homem que não
tenha pecado; por isto, todo ser humano deve sempre fazer penitências, diariamente.],
conforme já explicamos, tem livre vontade, um homem deve se esforçar para se arrepender
[Fazer confissão verbal de seus pecados.] e renunciar aos seus pecados, de forma que
possa morrer penitente e assim ser digno de vida no mundo vindouro.
2. Um homem deve sempre se considerar como se a sua morte fosse iminente, e pensar
que pode morrer nesta mesma hora, enquanto ainda em estado de pecado.
Ele deve, portanto, se arrepender de seus pecados imediatamente, e não cogitar: 'quando
eu envelhecer eu me arrependerei', pois pode morrer antes disso. Salomão disse, em sua
sabedoria: "Em todo tempo sejam brancas as tuas vestes, e não falte o perfume em tua
cabeça" (Ec 9:8).
3. Não digas que o indivíduo só precisa se arrepender de feitos pecaminosos, tais como
libertinagem, roubo e furto; assim como um homem precisa se arrepender destes pecados
envolvendo os atos, da mesma forma precisa investigar e se arrepender de qualquer
disposição maléfica que possa ter, tais como temperamento explosivo, ódio, inveja e
propensão à discussão, escárnio, ambição ávida de riqueza ou honras, gula, etc.
De todas estas faltas o indivíduo deverá se arrepender.
Elas são mais graves que os atos pecaminosos, pois quando o indivíduo está viciado nelas,
torna-se difícil extirpá-las.
Está escrito: "Abandone o ímpio o seu caminho, e o homem mau os seus pensamentos" (Is
55:7).
4. Não deixe que o penitente suponha que ele é mantido longe do grau alcançado pelo
virtuoso devido às injustiças e pecados que ele cometeu.
Isto não é verdade.
Ele é amado pelo Criador, desejado por Ele, como se nunca houvesse pecado. Além disto, a
sua recompensa é grande, já que, embora tenha provado o pecado, ele renunciou a ele e
superou suas paixões maléficas.
Os sábios dizem: "Onde os penitentes chegam, os sempre virtuosos não podem alcançar!"
Isto significa que o grau alcançado pelos penitentes é mais alto que o daqueles que nunca
pecaram, sendo a razão a de que os primeiros tiveram de despender um esforço maior para
abjurar as suas paixões do que os segundos.
5. Todos os profetas instruíram as pessoas com relação ao arrependimento. Somente
através do arrependimento é que o povo judeu se redimirá; a Torá já ofereceu a certeza de
que o povo judeu, no período fmal do seu exílio, finalmente se arrependerá, e então será
imediatamente redimido, como está escrito: "Quando se cumprirem em ti todas estas
palavras — a bênção e a maldição que Eu te propus —, se as ponderares em teu coração,
em meio a todas as nações para onde o Senhor teu D..S te houver expulsado, e quando te
converteres ao Senhor teu D..S, obedecendo à Sua voz conforme tudo o que hoje te
ordeno, tu e teus filhos, com todo o teu coração e com toda a tua alma, então o Senhor teu
D.. S mudará a tua sorte para melhor e se compadecerá de ti; o Senhor teu D..S voltará
atrás e te reunirá de todos os povos entre os quais te havias dispersado" (Dt 30:1-3)
6. Grande é o arrependimento, pois ele traz os homens para perto da Presença Divina,
como está escrito: "Volta, Israel, ao Senhor teu D..S" (Os 14:2).
E ainda: "Mas tu não voltaste a Mim, disse o Senhor" (Am 4:6).
Além disto, "Se tu te arrependeres, Israel, se retornares para Mim..." (Jr 4:1), o que
significa, 'se tu retomares em arrependimento, tu te unirás Comigo'.
O arrependimento aproxima aqueles que estão longe.
Ontem uma pessoa mostrava-se odiosa diante de D..S, alienara-se em abominação.
Hoje, ele é amado, desejável, está perto de D..S, é amigo.
Assim, tu encontras aquela mesma expressão com a qual D..S afasta de Si os pecadores;
Ele a emprega para aproximar de Si o penitente, sejam indivíduos ou comunidades, como
está escrito: "No mesmo lugar onde se dizia: Vos não sois o Meu povo', se lhes dirá: Vós
sois filhos do D..S vivo" (Os 2:1).
De Jeconias, enquanto era mau, foi escrito: "Escrevei que esse homem sem filhos não
prosperará em seus dias" (Jr 22:30), "ainda que Jeconias, filho de Jeoiaquim, rei de Judá,
fosse um sinete sobre a Minha mão direita, Eu te arrancaria de lá" (Jr 22:24).
Mas depois que ele se arrependeu em seu exílio, está escrito de seu filho Zerubavel:
"Naquele dia, disse o Senhor dos Exércitos, Eu tomarei Zerubavel, filho de Salatiel, meu
servo, e farei de ti como um sinete, disse o Senhor do Exércitos" (Ag 2:23).
7. Até que ponto é exaltado o grau de arrependimento?
Na noite passada, um certo indivíduo foi separado do Senhor D..S de Israel, como está
escrito: "As vossas iniqüidades criaram um abismo entre vós e o vosso D..S" (Is 59:2).
Ele grita em voz alta e não é respondido, como está escrito: "Mesmo que multipliqueis as
vossas orações, não vos ouvirei" (Is 1:15).
Ele cumpre os preceitos religiosos e eles são lançados de volta à sua face, como está
escrito: "Quem vos pediu que pisásseis em Meus átrios?" (Is 1:12); "Quem dentre vós, pois,
fechará as portas para que não acendam o Meu altar em vão? Não tenho prazer algum em
vós, disse o Senhor dos Exércitos, e não me agrada a oferenda de vossas mãos" (Ml 1:10);
"Acrescentai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios e comei a carne" (Jr 7:21).
Hoje, o mesmo indivíduo tendo se arrependido está intimamente ligado à Presença Divina,
como está escrito: "Quanto a vós, porém, permanecestes apegados ao Senhor vosso D..S"
(St 4:4).
Ele grita e é imediatamente respondido, como está escrito: "Acontecerá então que antes
que me invocarem, já Eu lhes terei respondido" (Jr 65:24).
Ele cumpre os preceitos religiosos e é aceito com prazer e alegria, como está escrito: "D..S
aprecia tuas obras" (Ec 9:7).
Ainda mais, eles são avidamente desejados, como está escrito: "A oferenda de Judá e de
Jerusalém será, então, agradável ao Senhor, como nos dias antigos, como nos anos
passados" (Ml 3:4).
8. O caminho certo para os penitentes é serem extremamente humildes e desprezados.
Se os tolos os censurarem com seus feitos anteriores e lhes disserem: 'Mas na noite
passada tu fizeste tal ato; na noite passáda tu disseste aquilo', eles não devem ser
desagradavelmente atingidos por eles, mas devem escutar e se alegrar, percebendo que
isto será considerado um mérito para eles. Quando eles estão envergonhados de seus atos
passados e humilhados por causa deles, o seu mérito é aumentado e sua dignidade
realçada. É, porém, um pecado angustiante dizer a um penitente: lembra-te dos atos
passados', de modo a envergonhá-lo ou referir-se a incidentes ou constrangimentos
similares, a fim de fazer com que se recorde daquilo que fez.
Tudo isto é proibido, e vem sob a categoria de constranger o outro com palavras, contra o
que a Torá nos alerta: "Ninguém dentre vós oprima o seu próximo" (Lv 25:17).

Capitulo VIII
1. O bem reservado para o virtuoso é a vida no mundo vindouro — uma vida que é imortal,
um bem sem mal.
Assim está escrito na Torá: "para que tudo corra bem contigo e prolongues os teus dias" (Dt
22:7); a jurisprudência tradicional disto é a seguinte: "pode ser bom contigo", num mundo
totalmente bom; e "tu podes prolongar os teus dias", é um mundo interminável, isto é, o
mundo vindouro.
A recompensa dos virtuosos é que eles obterão esta dádiva e habitarão em estado de
alegria; a punição dos maus é que eles não obterão a vida, mas serão detidos e morrerão.
Aquele que não obtiver esta vida estará morto, no sentido de que ele nunca mais viverá
novamente, mas será detido em sua maldade e sucumbirá como um animal. Esta é a pena
de excisão, citada na Torá: "Esta alma será eliminada, pois a sua culpa está nela mesma"
(Nm 15:31), a qual foi tradicionalmente jurisprudenciada da seguinte maneira: "eliminado",
neste mundo; "completamente eliminado", no mundo vindouro.
Isto significa que a alma, após a separação do corpo — no fim da sua existência — não
obterá a vida no mundo vindouro, mas também será interrompida nesta vida.
2. No mundo vindouro não há nada corpóreo e não há substância material; há apenas almas
dos virtuosos sem corpos [Aqui há uma divergência entre Maimônides (Rambam) e
Nahmânides (Ramban). Maimônides diz que no mundo vindouro haverá almas sem corpos
na época da ressurreição dos mortos. Nahmânides diz que na época da ressurreição dos
mortos as almas estarão revestidas pelos mesmos corpos que tinham em vida, Prevalece a
opinião Rambam; também, segundo a opinião de Nahmânides, não haverá as atividades
físicas e materiais que Rambam ensina neste parágrafo.] — como os anjos.
Já que em tal mundo não há corpos, não há tampouco comida nem bebida, nem coisa
alguma de que os seres humanos necessitam na terra.
Nenhuma das condições que lá ocorrem coincidem com as dos corpos físicos neste mundo,
como sentar, ficar em pé, dormir, a morte, a angústia, a alegria, etc.
Assim disseram os sábios: "No mundo vindouro não há alimentação, não há bebida, não há
intercurso matrimonial, mas os virtuosos se sentam com as coroas sobre as suas cabeças e
desfrutam a radiação da Shehiná." [Revelação divina.]
Esta passagem indica claramente que não há alimento nem bebida lá, já que não há corpo
físico no mundo vindouro.
A frase "os virtuosos se sentam" é alegórica e significa que as almas dos virtuosos lá não se
submetem a trabalho ou fadiga.
A frase "coroas sobre as suas cabeças" refere-se ao conhecimento que elas adquiriram, e
através do qual elas atingiram a vida no mundo vindouro.
Esta é a sua coroa, no mesmo sentido em que Salomão disse: "com a coroa que lhe pôs sua
mãe" (Ct 3:11).
Logo, no texto: "Alegria permanente estará sobre suas cabeças" (Is 35:10), o termo alegria
não deve ser entendido como uma substância material que realmente pousa sobre a
cabeça, de modo que 'a coroa' da qual os sábios aqui falam não deve ser considerada
literalmente; refere-se ao conhecimento.
Qual é o significado da declaração dos sábios: "Eles desfrutam o brilho da Shehiná"?
Significa que os virtuosos alcançam um conhecimento e realização da Verdade, com relação
a D..S, que não tinham alcançado enquanto estavam no corpo sombrio e vil. 3. A alma,
sempre que mencionada nesta associação, não é o elemento vital necessário para a
existência do corpo, mas é a "forma" da inteligência superior apreendida do Criador, e que
apreende outros conceitos abstratos e outras coisas.
É a forma que expusemos no quarto capítulo das leis relativas aos princípios fundamentais
da Torá.
É a isto que se chama Nefeshe.
Esta vida, que é imortal — sendo a morte apenas incidental ao corpo, pois a alma não tem
corpo — é considerada como vida eterna, —como está escrito: "a vida do meu senhor está
guardada no Elo da Vida Eterna. . mas a vida dos teus inimigos, ele a lançará fora como a
pedra de uma funda" (I Sm 25:29).
Isto é uma recompensa acima da qual não há nada; um galardão acima do qual não há
nenhum melhor.
Todos os profetas ansiavam por isso. [Esta alma imortal foi soprada em Adão e Eva antes
que eles pecassem, e a princípio, o Todo-Poderoso queria que fosse transmitida a todos os
seus descend entes; mas eles pecaram, e também os seus descendentes. Entretanto, como
Adão e Eva se arrependeram, ainda lhes restou a alma imortal. As gerações anteriores ao
nosso patriarca Abraão, com exceção de algumas pessoas, não se arrependeram dos seus
pecados - somente lhes restou a alma que é necessária à existência corporal, portanto
sujeita ao perecimento. Todavia, quando veio o nosso patriarca Abraão, iniciou-se com ele o
processo de recuperação da alma imortal, que foi concluído no monte Sinai. O Onipotente
deixou assim uma porta aberta para os outros povos também obterem esta alma imortal,
através do processo de conversão, que está expresso na Torá. Isto é o que faz a diferença
entre um judeu e um não-judeu, mas um não-judeu, como já mencionamos, quando
cumpre os sete mandamentos de Noé, também obtém uma parte dessa vida eterna, mas
num nível inferior.]
4. Quantos nomes foram metaforicamente aplicados a isso?
"A montanha do Senhor", "Seu lugar sagrado", "o caminho sagrado", "os pátios sagrados",
"a tenda do Senhor", "a beleza do Senhor", "o templo do Senhor", "a casa do Senhor", "o
portão do Senhor".
Os sábios metaforicamente chamam a isto "galardão", destinado aos virtuosos, "o
Banquete".
Seu nome geral é "o Mundo Vindouro".
5. O castigo mais severo, além do qual nenhuma punição pode exceder, consiste em a alma
ser cortada e não atingir a vida eterna, como está escrito: "Esta alma será totalmente
aniquilada; a sua injustiça recairá sobre ela" (Nm 15:31).
É a essa destruição que os profetas aplicam metaforicamente os termos "a cova da
destruição", avadon, toftê, aluca; todas as outras expressões que conotam cessação e
destruição são aplicadas a ela, porque é uma ruína irreparável e uma perda irrecuperável.
6. Talvez tu possas dar pouco valor a esta dádiva, imaginando que a única recompensa para
o cumprimento dos preceitos religiosos e por se percorrer coerentemente as sendas da
verdade seja desfrutar de boa comida e bebida, ter intercurso com "formas belas" [Ter
relações sexuais com mulheres bonitas.], usar tecidos finos e brocados, habitar em palácios
de mármore, ser servido de ouro e prata ou desfrutar coisas similares, como de fato
imaginam aqueles tolos e fúteis árabes [Maimônides se refere aqui a árabes, porque ele
vivia em meio a eles (Egito) e por causa das "recompensas" luxuriosas que o Corão promete
aos Muçulmanos. A inferência, porém se estende a qualquer ser humano dissoluto, amante
dos prazeres da vida.], que levam vidas dissolutas.
Porém, os sábios e inteligentes sabem que todos esses prazeres são exagerados e fúteis, e
que não há proveito neles.
Eles são considerados por nós como uma grande coisa porque nós somos seres físicos e
formas materiais que têm necessidade de todas estas coisas.
A alma somente deseja tais prazeres porque são necessários ao corpo, e capacitam-no para
alcançar as necessidades e manter a saúde; e quando o corpo cessa de existir, todas essas
coisas se tornam nulas e vazias.
Para o estado de galardão da alma no mundo vindouro, não há modo na terra pelo qual
possamos compreender isso, pois na existência terrena só temos conhecimento do prazer
físico, e é por isso que ansiamos.
Mas o galardão da vida eterna é excessivamente grandioso, e só pode ser comparado aos
prazeres terrenos metaforicamente.
Na realidade, porém, não há comparação entre o galardão da alma na vida vindoura e a
gratificação propiciada ao corpo na terra pelo alimento e pela bebida.
Esse galardão espiritual é ilocalizável e está além das comparações.
Disse Davi: "Como é grande a tua bondade! Tu a reservas para os que temem a Ti" (Si
31:20).
7. Como Davi ansiou e esperou pela vida no mundo vindouro, como está escrito: "Eu creio
que verei a bondade do Senhor na terra dos vivos" (Si 27:13), os sábios antigos nos
ensinaram que uma clara compreensão do galardão da vida vindoura é inatingível para
qualquer homem.
Ninguém, a não ser D..S, conhece a sua grandeza, beleza e poder.
Todas as dádivas que os profetas anunciavam ao povo judeu se referem apenas às coisas
materiais que este desfrutará nos dias do Rei Messias, quando a soberania do povo judeu
será restaurada.
Mas quanto ao galardão no mundo vindouro, nada pode ser comparado ou igualado a ele.
Os profetas não o definiram, visando a não depreciá-lo com um retrato imaginário. Assim
disse Isaías: "Nunca se ouviu, nunca se havia sabido, o olho não tinha visto o que o Senhor
preparou para os que esperam nEle..." (Is 64:3); isto é, o galardão que nem o olho do
profeta nem ninguém, com a exceção de Deus, viu, Ele preparou para o homem que espera
por Ele.
Os sábios dizem: "Todos os profetas revelaram profecias sobre os dias do Messias, mas o
mundo vindouro "nenhum olho vislumbrou, a não ser Tu, ó D..S."
8. A razão pela qual os sábios classificaram-no de "O Mundo Vindouro" não é porque ele não
esteja existindo agora e só venha a haver quando este mundo passar; o mundo vindouro
existe agora, como está escrito: "Tu a reservas para os que temem a Ti, e a concedes para
os que em Ti se abrigam diante dos filhos do homem"
(Sl 31:20).
Ele é chamado de Mundo Vindouro porque os seres humanos somente penetrarão nele
numa ocasião subseqüente à vida no mundo presente, no qual agora existimos como corpo
e alma — esta existência vem em primeiro lugar. [Maimônides explica-nos aqui que esta
vida que chamamos de terrena e mortal, é uma vida passageira, material, um preparatório
para a vida neste mesmo mundo, num segundo plano, espiritual, que é a chamada vida do
mundo vindouro.]
Capítulo IX
1. É sabido que a recompensa para o cumprimento dos mandamentos e o bem que
alcançaremos se nos mantivermos no caminho do Senhor, como recomendado na Torá, é a
vida no Mundo Vindouro, como está escrito: "para que tudo corra bem para ti e prolongues
teus dias " (Dt 22:7), enquanto que o castigo aplicado aos maus que abandonaram os
caminhos da virtude recomendados na Torá é a excisão, como está escrito: "Esta alma
deverá ser eliminada, pois a sua culpa está nela mesma" (Nm 15:31).
Qual é então o significado da declaração encontrada em todos os lugares da Torá de que:
"se tu obedeceres acontecerá assim a ti; se não obedeceres, será de outra maneira", e que
todos esses acontecimentos ocorrerão neste mundo, como guerra e paz, soberania e
sujeição, residência na Terra Prometida e exílio, prosperidade e fracasso, e todas as outras
coisas previstas nas palavras do Convênio (Lv cap. 26, Dt. cap. 28)?
Todas estas promessas foram uma vez verdadeiramente cumpridas, e serão uma vez mais.
Quando nós cumprirmos todos os mandamentos da Torá, todas as coisas boas deste mundo
virão a nós.
Se, porém, transgredirmos os preceitos, os males que estão escritos na Torá cairão sobre
nós.
Mas, apesar disto, estas coisas boas não são a recompensa final para o cumprimento dos
mandamentos, nem são estes inales a última pena aplicada àquele que transgredir todos os
mandamentos.
Este conceito deve ser compreendido da seguinte maneira: O Sagrado — seja Ele louvado —
nos deu esta Lei, uma árvore de vida.
Quem cumprir o que lá está escrito e o conhecer completa e corretamente alcançará, por
este meio, a vida no Mundo Vindouro.
A grandeza de seus atos e a abundância de seu conhecimento, será a dimensão pela qual
ele alcançará essa vida.
Ele nos prometeu, além disto, na Torá, que se observarmos Suas ordens alegremente, e
meditarmos sobre a Sua sabedoria continuamente, Ele removerá de nós os obstáculos que
nos atrapalham sua observância, como a doença, a guerra, a fome e outras calamidades;
nos concederá todos os benefícios materiais para que fortaleçam a nossa habilidade em
cumprir a Lei, com a abundância, paz, fartura de prata e ouro.
Assim, não estaremos engajados durante todos os nossos dias em prover nossas
necessidades físicas, mas teremos lazer para estudar a sabedoria e cumprir o mandamento,
e assim alcançar a vida no Mundo Vindouro.
Portanto, depois da segurança dos benefícios materiais, está escrito na Torá: "Esta será a
nossa virtude, se cuidarmos de pôr em prática todos estes mandamentos diante do Senhor
nosso D..S, conforme Ele nos ordenou" (Dt 6:25).
Também Ele nos ensinou na Torá que se O abandonarmos deliberadamente e ocupar-mo-
nos com as tolices temporais, como diz o texto: "Jessurum engordou e deu coices" (Dt
32:25), o Juiz Verdadeiro privará os desobedientes de todos aqueles benefícios materiais
que apenas serviram para encorajá-los a serem recalcitrantes e enviará sobre eles todas as
calamidades, que evitarão que alcancem a vida vindoura, de forma que sucumbirão em sua
maldade.
Isto é expresso pela Torá, no texto: "porque não serviste ao Senhor, teu D..S, com alegria e
generosidade quando estavas na abundân-cia, servirás então o inimigo que o Senhor
enviará contra ti" (Dt 28: 47, 48).
Todas estas bênçãos e maldições devem ser explicadas da seguinte maneira: Se tu serviste
a D..S com alegria e observaste o Seu caminho, Ele concederá sobre ti as bênçãos e
desviará de ti as maldições, de forma que terás lazer para te tomares sábio na Torá e
ocupar-te-ás de seu estudo, assim alcançando a vida vindoura.
Então estarás bem contigo no mundo, que é inteiramente bom, e desfrutarás a integridade
dos dias numa existência permanente.
Assim, tu desfrutarás de ambos os mundos — uma vida alegre na terra, que conduz à vida
no Mundo Vindouro —, pois se a sabedoria não é adquirida e os bons atos não são
realizados aqui, não haverá nada merecedor de uma recompensa vindoura, como está
escrito: "pois não há trabalho, nem se planeja, nem conhecimento, nem sabedoria na cova"
(Ec 9:10).
Mas se abandonaste o Senhor e erraste ao comer ou beber, se praticaste libertinagem e
abominações similares, Ele trará sobre ti todas as maldições e afastará de ti todas as
bênçãos, até que os teus dias terminem em confusão e terror, e tu não tenhas nem a mente
livre, nem o coração sadio necessários para o cumprimento dos mandamentos; de formas
que tu sofrerás perdição na vida vindoura e assim terás perdido ambos os mundos — pois
quando o indivíduo é afligido aqui na terra com doenças, guerra ou fome, não se ocupa com
a aquisição de sabedoria ou com a realização de preceitos religiosos pelos quais é alcançada
a vida vindoura.
2. Todos os judeus, seus profetas e sábios, anseiam pelo advento dos Tempos Messiânicos,
para que possam ter alívio da tirania cruel que não permite o estudo a Torá e cumprimento
dos mandamentos, para que possam ter tranqiilidade para se devotar à aquisição da
sabedoria e assim alcançar a vida no Mundo Vindouro, pois, naqueles dias, o conhecimento,
a sabedoria e a verdade aumentarão e se expandirão, como está escrito: "a terra ficará
cheia do conhecimento do Senhor" (Is 11:9), e: "Eles não terão mais que instruir o seu
próximo ou o seu irmão" (Jr 31:33), e adiante: "removerei do vosso peito o coração de
pedra" (Ez 36:26), porque o Rei que se levantará da semente de Davi terá mais sabedoria
que Salomão e será grande profeta.
Aproximando-se de Moisés, nosso Mestre, ele ensinará a todo o povo judeu e o instruirá no
caminho de D..S, e todas as nações virão ouvi-Lo", como está escrito: "E acontecerá, no fim
dos dias, que a montanha da casa do Senhor estará estabelecida no cume das montanhas"
(Mq 4:1; Is 2:2).
A recompensa final e perfeita, o galardão final que não sofrerá interrupção ou redução, é a
vida no mundo vindouro.
A Era Messiânica, por outro lado, será realizada neste mundo, o qual continuará em seu
curso normal; apenas a soberania independente será restaurada ao povo judeu. Os sábios
antigos já diziam: "A única diferença entre o presente e a Era Messiânica é que a opressão
das nações então cessará."

Capítulo X
1. Não deixes que alguém diga: 'eu observei os preceitos da Torá e me ocupei com a sua
sabedoria, a fim de que pudesse obter todas as bênçãos escritas na Torá, ou alcançar a vida
no mundo vindouro; eu me absterei das transgressões contra as quais a Torá avisa, de
forma que eu possa ser salvo das maldições escritas na Torá, ou que a vida no mundo
vindouro não me seja privada'. Não é certo servir a D..S dessa maneira, pois quem assim o
fizer, servi-Lo-á só por temor.
Este não é o padrão estabelecido pelos profetas e sábios.
Só servem a D..S dessa maneira os ignorantes, as mulheres ou crianças a quem se treina
para servir por temor; mesmo assim, isso só se dá até que o seu conhecimento tenha sido
aumentado, quando então servirão por amor.
2. Quem serve a D.. S por amor, ocupa-se com o estudo da Torá e com o cumprimento dos
mandamentos e caminha nas trilhas da sabedoria, não por um motivo deste mundo, nem
movido por temor de calamidade, ou pelo desejo de obter benefícios [Quer sejam benefícios
materiais, quer espirituais.]; tal pessoa faz o que é verdadeiramente certo por ser isto o
verdadeiramente certo, e em última instância, o galardão vem a ela como o resultado de
sua conduta.
Este padrão é de fato muito elevado; nem todos os sábios o alcançaram.
Foi o padrão do Patriarca Abraão, a quem D..S chamou Seu adorador, porque ele serviu
apenas movido pelo amor.
É o padrão que D..S, através de Moisés, nos manda alcançar, como está escrito: "E tu
amarás o Senhor teu D..S (Dt 6:4). Quando o indivíduo ama a D..S com o amor correto,
imediatamente observa todos os mandamenos com puro amor.
3. Como é o amor a D..S?
É amar o Eterno com um amor grande e excedente, tão forte que a alma do indivíduo será
mantida por este amor e o indivíduo estará continuamente fascinado por ele [Pelo amor.],
como alguém cuja doença é amar, cuja mente em nenhum momento está livre da paixão
por uma mulher em particular, com a imagem dela preenchendo o coração durante todo o
tempo, ao sentar-se ou ao levantar-se, ao comer ou beber. Ainda mais intenso deve ser o
amor a D..S nos corações daqueles que O amam.
Este amor deverá continuamente possuí-los, assim como Ele nos ordenou, na frase: "Com
todo o teu coração e com toda a tua alma" (Dt 6:5).
Salomão expressou tal sentimento alegoricamente, na sentença: "pois estou doente de
amor" (Ct 2:5)
O Cântico dos Cânticos inteiro é de fato uma alegoria descritiva deste amor.
4. Os sábios antigos diziam: "Por acaso tu dirás 'Eu estudarei a Torá a fim de que possa
tornar-me rico, para que eu possa ser chamado rabino, para que eu possa receber uma
recompensa no mundo vindouro?'"
Está escrito, portanto, "Amando o vosso D..S" (Dt 11:13).
O que quer que tu faças, fá-lo apenas por amor.
O texto, "Feliz é o homem que teme o Senhor e se compraz com os mandamentos" (Si
112:1), foi assim explicado pelos sábios: "Em Seus mandamentos — não em recompensas
por Seus mandamentos."
Assim também, os maiores sábios estavam acostumados especificamente a exaltar aqueles
dentre os seus discípulos que eram compreensivos e inteligentes, dizendo-lhes: "Não sejais
como os servos que atendem seu senhor sob a condição de receber uma recompensa"
(Ética dos Pais 1:3).
É próprio ser como os servos que prestam serviço a seu senhor não em troca de receber
alguma coisa, mas apenas porque ele é o senhor; é certo servi-lo, isto é, servi-lo com puro
amor.
5. Todo aquele que se engajar no estudo da Torá a fim de poder receber uma recompensa
ou evitar calamidades não está estudando a Torá por ela mesma.
Quem se ocupa com a Torá não por temor, nem com o objetivo de recompensa, mas
unicamente impulsionado pelo amor ao Senhor da terra inteira, que nos ordenou agir assim,
está ocupado com a Torá por ela mesma.
Porém, os sábios disseram: "O indivíduo deverá sempre se engajar no estudo da Torá,
mesmo que não seja por ela mesma, pois aquele que começar assim terminará estudando-a
por ela mesma."
Ao instruir as crianças, as mulheres ou os ignorantes em geral, nós os ensinamos a servir a
D..S por temor e para receber recompensa, até que o seu conhecimento aumente e que
alcancem uma dimensão grande de sabedoria.
Então revelamos a eles a verdade mística, pouco a pouco, e os treinamos por estapas
fáceis, até que tenham aprendido, compreendido e sirvam a D..S por puro amor.
6. É sabido e certo que o amor a D..S não se torna intimamente introjetado no coração de
uma pessoa até que ela seja contínua e completamente possuída por ele e abandone tudo o
mais no mundo por ele, como D..S ordenou, "com todo o teu coração e com toda a tua
alma" (Dt 6:5).
O indivíduo só ama a D..S na medida em que se aprofunda em Seu conhecimento.
O amor é proporcional à sabedoria.
Se esta for pouca ou muita, também aquele será pouco ou muito.
Uma pessoa deve, portanto, dedicar-se à compreensão e ao entendimento das ciências e
estudos que a informarão sobre seu Mestre, enquanto tiver as faculdades humanas de
compreender e entender — como de fato explicamos nas Leis dos Fundamentos da Torá.
Louvado seja o Todo-Misericordioso que nos ajudou!

O primeiro livro está completo com a ajuda do Todo-Poderoso.


O número de capítulos neste livro é de quarenta e seis; as Leis dos Princípios Fundamentais
da Torá, dez capítulos; as Leis do Comportamento, sete capítulos; as Leis do Estudo da
Torá, sete capítulos; as Leis da Idolatria, doze capítulos; as Leis do Arrependimento, dez
capítulos.

Louvado seja o Todo-Misericordioso que nos ajudou!

Por: Maimônides e Yaacov Israel Blumenfeld


Mishné Torá – Apêndice

"Juízes" — Leis dos Reis (de Israel)


[As Leis dos Reis constituem os XI e XII capítulos do livro "Juizes", isto é, o 14º volume da
"Mishné Torá", não sendo, portanto, parte integrante do 1º volume, que é o Livro da
Sabedoria.]

Capítulo XI
1. O Rei-Messias erguer-se-á, no futuro, e restaurará o reinado de Davi como nos dias de
outrora, e a sua soberania original; reconstruirá o Templo e reunirá os dispersos do povo
judeu.
Voltarão a vigorar então todas as leis, como antigamente.
Realizar-se-ão sacrifícios, comemorações de anos sabáticos e jubileus, de acordo com as
orientações que constam na Torá.
Todo aquele que não acredita nele ou que não espera pela sua vinda, não renega apenas os
outros profetas da Torá, mas a própria Torá e Moshé Rabênu, pois a Torá garantiu a sua
vinda, como está escrito: "...Então o Senhor teu D..S mudará tua sorte para melhor e se
compadecerá de ti... e te reunirá de entre os povos nos quais te havias dispersado" (Dt
30:3-5).
Estas palavras explícitas da Torá já incluem tudo o que foi dito pelos profetas.
Na própria parashá de Bilam (Nm 24:17,18) consta uma profecia sobre os dois Messias,
referindo-se ao primeiro, o rei Davi, que salvou o povo judeu de seus opressores, e ao
último Messias, que será seu descendente e redimirá o povo judeu no final: "Eu o vejo —
mas não agora" (refere-se ao rei Davi); "eu o contemplo — mas não de perto" (refere-se ao
Rei-Messias); "uma estrela procedente de Jacó" (este é Davi); "um cetro erguer-se-á de
Israel" (o Rei-Messias); "e esmaga as cabeças de Moabe": trata-se de Davi, como está
escrito: "Ele venceu os moabitas e os mediu com cordel" (II Sm 8:2); "e dominará todos os
filhos de Set" [Os sábios debatem como será o "dominio sobre os filhos de Set" (terceiro
filho de Adão e Eva, do qual adveio toda a humanidade): uns acham que, após terem
recebido os castigos merecidos, os outros povos serão redimidos, mas num nível inferior ao
do povo judeu; outros sábios acham que eles não terão nenhum destaque, mas ficarão
submetidos aos judeus.]; — trata-se do Rei-Messias, sobre quem está escrito: "O seu
domínio irá de mar a mar" (Zc 9:10); "Edom se toma uma possessão" — tal passagem
refere-se a Davi, como está escrito: "e os idumeus se tornaram súditos de Davi..." (II Sm
8:6); "e Seir será uma herança...": aqui a referência é para o Rei-Messias, como está
escrito: " E os salvadores subirão a montanha de Sião para julgar a montanha de Esaú.
Então este reino pertencerá ao Senhor" (Ab 1:21).
2. Mesmo com relação às cidades de refúgio,4 está escrito: "Quando o Senhor alargar as
tuas fronteiras... acrescentarás ainda mais três cidades..." (Dt 19:8,9); isto ainda não
ocorreu, e D..S não ordenou isto à toa.
Quanto aos profetas, nem é preciso mencioná-los pois suas profecias estão cheias.
3. Não penses que o Rei-Messias precisa fazer sinais e maravilhas, criar algo novo,
ressuscitar os mortos ou realizar algum ato do gênero.
Não é assim: Rabi Akiva, que foi um grande sábio dentre os sábios da Mishná, e também o
arauto do rei Ben Coziva [É o Bar Cohvá, que viveu 52 anos após a destruição do Beit
Hamicdashe, liderando a revolta contra Roma do ano 135 da era comum.], dizia que aquele
rei era o Rei-Messias.
Ele e os sábios de sua geração acreditavam que o mesmo era o Rei-Messias, até que foi
morto pelo pecado.
Quando (Ben Coziva) foi morto, todos souberam que ele não era o Rei-Messias — os sábios
não lhe pediram sinal ou maravilha.
O principal é o seguinte: a Torá, seus estudos e suas leis são eternos, nada se pode
acrescentar ou subtrair deles.
4. Um rei descendente de Davi, que se erga e se aprofunde no estudo da Torá, se ocupe
com os Mandamentos como o seu ancestral Davi, seguindo a Torá Escrita e a Oral, que
induza todo o povo judeu a andar nelas, a reforçar as suas brechas e a guerrear as batalhas
do Senhor: este provavelmente será o Messias.
Se ele fizer tudo, for bem-sucedido e construir o Beit Hamicdashe no seu devido lugar,
reunindo o povo judeu, será o Messias com certeza, e restabelecerá o mundo todo fazendo
todos servirem a D..S, juntos, como está escrito: "Então, darei aos povos lábios puros, para
que todos possam invocar o nome do Senhor e servi-Lo sob um mesmo jugo" (So 3:9).
Se ele não vier a lograr tal êxito ou se for morto, saber-se-á então que não era quem a Torá
nos garantiu, que era apenas um como todos os reis da casa de Davi, íntegros e bons, mas
que faleceram.
D..S só o terá feito existir para testar o povo: "Entre esses homens esclarecidos, alguns
serão prostrados, a fim de que entre eles haja os que sejam acrisolados, purificados e
alvejados, até o tempo do Fim, porque o tempo marcado ainda está por vir" (Dn 11:35).
Mesmo sobre Jesus, de Nazaré, que pensava ser Messias e que foi morto pelo Bet Din, já
fora profetizado: "Muitos dentre o teu povo se insurgirão, erguendo-se como 'profetas' e
fracassarão" (Dn 11:14).
Pode haver fracasso maior?
Todos os profetas falaram que o Messias vem redimir o povo judeu e salvá-lo, reunir os
seus dispersos e fortalecer os Mandamentos: aquele causou a perda do povo judeu pela
espada, dispersou os seus sobreviventes e rebaixou-os, trocou a Torá e iludiu grande parte
do mundo, para servir a outros deuses além de D..S.
Porém, não está ao alcance do homem captar as intenções do Criador, pois, "os Meus
pensamentos não são os vossos pensamentos, e os vossos caminhos não são os meus
caminhos" (Is 55:8), tudo o que fizeram Jesus de Nazaré e o ismaelita [Maomé. Os sábios
explicam que todos os acontecimentos e fatos, individuais ou mundiais, são Providência
Divina, são meios e caminhos, com o objetivo de revelar a Divindade, só que, se o homem
ou pessoa tem mérito, essa Revelação vem pelo lado positivo, e se não, pelo lado
negativo.], que veio depois, é apenas uma forma de preparar o caminho para o Rei-Messias,
moldando o mundo todo para servir a D..S conjuntamente, como está escrito: "Então darei
aos povos lábios puros, para que todos possam invocar o Nome do Senhor e servi-Lo sob o
mesmo jugo" (So 3:9).
De que maneira?
O mundo todo está repleto das idéias do Messias, as palavras da Torá e os Mandamentos
espalharam-se. pelas ilhas mais longínquas e por inúmeros povos de coração duro, eles
discutem todo. esses assuntos e os mandamentos da Torá, dizendo: 'estes preceitos são
verdadeiros, porém não são mais obrigatórios hoje em dia.'
Outros dizem:'há mistérios, e é preciso dar uma interpretação diferente, pois o Messias já
veio e revelou o segredo...'
Quando vier o Messias Verdadeiro, e quando ele triunfar, ele se elevará, então, de imediato,
e todos reconhecerão que herdaram apenas falsidades de seus antepassados, e seus
"profetas" e ancestrais os iludiram.

Capítulo XII
1. Não penses que nos tempos do Messias algo da natureza do mundo será anulado ou que
surgirá alguma inovação na criação — o mundo seguirá o seu rumo normal. Porém, o que
está escrito em Isaías — "Então o lobo morará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com
o cabrito" (11:6) é apenas uma metáfora, uma analogia; significa que o povo judeu poderá
habitar com segurança entre os gentios perversos, que são comparados ao lobo e ao
leopardo: "...um lobo da estepe os fere, a pantera está à espreita em suas cidades" (Jr
5:6), pois todos voltarão à verdadeira fé e não roubarão nem destruirão, mas comerão o
que é permitido, tranqüilamente, junto com o povo judeu: "O leão comerá feno como o boi"
(Is 1 1 :7). [Então, os animais serão dóceis, perderão o seu instinto selvagem.]
Da mesma forma, em relação ao Messias, todas as menções são parábolas, e só nos dias do
Rei-Messias todos ficarão sabendo a que se referia esta parábola e qual era a alusão. [Como
Maimônides explica nas suas "Cartas", como também outros sábios, a chegada do Messias
ocorrerá em várias etapas. Num primeiro momento, o mundo continuará como é agora, e
depois, gradativamente, acontecerão grandes milagres e mudanças no mundo, até que
acontecerá o maior milagre, que é a ressurreição dos mortos.]
2. Disseram os nossos sábios: Não há diferença entre os dias de hoje e a época do Messias,
a não ser no tocante à nossa submissão aos outros povos.
Do ponto de vista dos profetas, parece que no início da Era Messiânica haverá a guerra de
Gog [Gog é um rei.] e Magog [Magog é um país ou o seu povo. O chefe e seu povo lutarão
contra o povo judeu.], e antes dessa guerra erguer-se-á um profeta para endireitar os
judeus e preparar os seus corações para D..S: "Eis que vos enviarei Elias, o profeta..." (Ml
3:23).
Ele não virá para impurificar o puro nem para purificar o impuro [Ele não virá para alterar o
que existe agora.]; não virá para excluir do seu seio aqueles que atualmente são
considerados de "boa linhagem", nem para incluir em seu meio aqueles que até hoje eram
de linhagem inaceitável.
Ele virá trazer a paz ao mundo, como esta escrito: "Ele fará voltar o coração dos pais para
os filhos..." (MI 3:24).
Há alguns dentre os sábios que dizem que antes da vinda do Messias vira Elias. Tudo isso e
todas as coisas do gênero ninguém saberá até que aconteçam, pois são coisas ocultas para
os próprios profetas; os sábios não têm nenhuma tradição sobre isto; tem-se apenas o que
consta na seqüência dos versículos - por isso há divergências a este respeito.
Pelo menos, a seqüência dos fatos e os seus detalhes não são princípios básicos da nossa
fé.
Por isto, nunca se deve aprofundar nestes relatos nem se prolongar nas interpretações
destes temas, nem lhes dar prioridade, pois não levam a pessoa a ter mais amor ou temor a
D..S.
Também não se deve calcular datas para a sua vinda.
Os nossos sábios disseram: "que evole a alma daqueles que calculam o fim dos dias; é
preciso esperar e ter fé nisto, como já foi explicado".
3. Nos dias do Messias, quando se estabelecer seu reinado e todos os judeus se junterem a
ele, então ele - pela Inspiração Divina - estabelecerá a linhagem familiar correta de cada
um, como está escrito: "E se assentará aquele que funde e que purifica" (Ml 3:3); no início
ele purificará a tribo de Levi, dizendo "este é da linhagem de cohen", "este é Levi" e os
demais serão classificados como "Israel", como está escrito: "e o Tirshata" [Neemias.]
proibiu-lhes...[Neemias declarou a todos aqueles que afirmavam serem cohen, mas que não
podiam prová-lo, que eles não seriam considerados sacerdotes até que pudessem atestar
suas linhagens.] até que surgisse o sacerdote dos urim e tumim [Vale dizer, até os dias do
Messias.] (Es 2:63).
Daqui se deduz que é através da Inspiração Divina que se estabelece o status das linhagens
e se determina quem tem qual linhagem.
A linhagem do povo judeu se desenvolveu de acordo com as suas tribos; porém, sobre
aqueles que tiverem linhagem não se dirá "este é mamzer" [Bastardo.], "este é éved"
[Escravo.], pois, por lei, toda família que se integrou no seio do povo judeu permanece
nele.
4. Os sábios e profetas não anseiam pela época do Messias para dominarem o mundo, nem
para submeterem os povos, nem para serem elevados pelas nações; tampouco o fazem
para comer, beber ou alegrarem-se, mas para estarem livres, a fim de que possam dedicar-
se à Tora e sua sabedoria sem que haja opressão que os interrompa.
Com isso serão merecedores da vida no mundo vindouro, como já foi explicado nas Leis do
Arrependimento.
5. Nessa época não haverá fome, nem guerra, nem inveja, nem concorrência - o bem será
abundante e os deleites estarão disponíveis como o pó da terra.
Não haverá outra ocupação no mundo a não ser conhecer a D..S apenas.
Por isso, o povo judeu terá grandes sábios e conhecedores das coisas ocultas, que captarão
o saber do seu Criador de acordo com a capacidade plena do intelecto humano, como está
escrito: "porque a terra ficará plena do conhecimento do Senhor, como as águas enchem o
mar..." (Is. 11:9). [Como no mar há inúmeras coisas, que a água cobre de tal maneira que
não as podemos ver, o mesmo se dará na época do Messias: a Presença Divina será tão
explicitada que somente se verá e se sentirá a Divindade, nada mais.]

Fim
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