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Artigo David

O trabalho analisa a importância da aliança entre família e escola na aprendizagem das crianças, destacando como essa relação pode ser fortalecida para garantir um ensino eficaz. A pesquisa enfatiza que a estrutura familiar influencia diretamente o desempenho escolar e propõe que a colaboração entre educadores e familiares é essencial para o desenvolvimento integral do aluno. A metodologia utilizada é bibliográfica e qualitativa, abordando a relevância da educação como um fenômeno social que deve ser promovido em conjunto por ambas as instituições.

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Artigo David

O trabalho analisa a importância da aliança entre família e escola na aprendizagem das crianças, destacando como essa relação pode ser fortalecida para garantir um ensino eficaz. A pesquisa enfatiza que a estrutura familiar influencia diretamente o desempenho escolar e propõe que a colaboração entre educadores e familiares é essencial para o desenvolvimento integral do aluno. A metodologia utilizada é bibliográfica e qualitativa, abordando a relevância da educação como um fenômeno social que deve ser promovido em conjunto por ambas as instituições.

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A ALIANÇA ENTRE A FAMÍLIA E A ESCOLA COMO UM

DIFERENCIAL NA APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS

OLIVEIRA, David Wanderson dos Santos


Curso de pós graduação em
Psicopedagogia e Gestão Escolar

RESUMO: Este trabalho apresenta uma análise sobre a importância da aliança


entre a família como um diferencial na aprendizagem das crianças, com o
objetivo de compreender de que maneira essa relação pode ser estreitada
pelas partes envolvidas para a garantia de um ensino sólido e com frutos
positivos. O principal objetivo do estudo se concentra em analisar de que
maneira a estrutura familiar pode influenciar diretamente no êxito da criança no
ambiente escolar, buscando apresentar meios pelos quais essa relação pode
ser efetivamente estabelecida. O tema possui uma considerável relevância,
considerando que a base familiar é um dos pilares que compõem uma
educação qualitativa. A família se configura como a instituição social em que a
criança terá os seus primeiros contatos, apreendendo trejeitos, a linguagem a
fim de moldar o seu comportamento através dos aprendizados com os quais se
depara. Esses momentos são de suma importância para que a criança inicie o
seu processo de desenvolvimento, tanto intelectual quanto físico. Ao adentrar
na escola, o aluno traz consigo o seu conhecimento de mundo, e esse
conhecimento tem como base as relações promovidas pelo seio familiar.

PALAVRAS-CHAVE: Família. Aprendizagem. Crianças.

1 INTRODUÇÃO

A família é considerada como uma das maiores bases para que a


criança seja devidamente acompanhada no ambiente escolar, no sentido de
que a educação recebida em casa fará todo o diferencial nas relações
estabelecidas na escola, assim como, o incentivo dos pais ou responsáveis é
sentida diariamente pelo aluno, refletindo diretamente em sua aprendizagem.
O ensino-aprendizagem é um constructo que deve ser realizado pelos
pilares compostos pela família, escola e sociedade, isto é, o aluno necessita
sentir-se integrante desse espaço para que consiga desenvolver as suas
habilidades cognitivas e conceituais. Desse modo, o problema de pesquisa se
concentra em responder ao seguinte questionamento: O apoio da família para
o desenvolvimento da aprendizagem da criança pode ser refletido diretamente
em seu desempenho escolar?
Vale ressaltar que em muitos casos os pais não conseguem efetivar um
acompanhamento mais assertivo por não terem tido as mesmas oportunidades
de estudos que os filhos possuem na atualidade. Nesse quesito, cabe ao
professor o estímulo para que os pais possam buscar alternativas que
consigam driblar as possíveis deficiências que encontram ao auxiliar seus
filhos, como por exemplo, a ajuda de algum parente ou amigo próximo que
possa acompanhar o desenvolvimento das atividades que são repassadas para
serem realizadas em casa.
O objetivo geral do trabalho consiste em compreender de que maneira
apoio familiar impacta diretamente no processo de ensino-aprendizagem da
criança. Os objetivos específicos pretendem analisar as características da
relação familiar saudável para a aprendizagem; discorrer sobre a relação entre
os educadores e as famílias dos alunos e apresentar um panorama sobre a
escolarização no Brasil.
O trabalho é de grande relevância para a comunidade científica e social,
pois entende-se que a escola também possui um papel diferenciador no
estreitamento das relações com os familiares dos alunos, por meio de
encontros constantes para que possam avaliar conjuntamente a trajetória do
aluno, buscando assim, os meios pelos quais ambas as instituições possam
trabalhar para consertar as possíveis falhas diagnosticadas.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa é de cunho
bibliográfico e qualitativo. O trabalho está organizado com introdução,
desenvolvimento – em que foram subdivididos os tópicos que atendem aos
objetivos apresentados; conclusão e referências bibliográficas dos autores
consultados para a sua construção.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A família e o processo de aprendizagem

O incentivo primário para que a criança tenha contato com a escola cabe
à família, pois os responsáveis legais do aluno possuem a incumbência de
buscar um melhor local de acesso para o início da alfabetização, já que a
criança
não possui idade suficiente para resolver tais questões. Por conta desse tipo de
responsabilidade é que quando há insucesso escolar a culpabilidade recai não
somente na criança, nem tampouco na escola, mas também na família,
principalmente quando as obrigações primárias não são devidamente
cumpridas.
Gervilla (2008) aponta que as discrepâncias ocorridas nas últimas três
décadas entre a família e a escola são fatores que contribuíram para o
aumento de alunos que não conseguem obter êxito em seu aprendizado. Isso
implica dizer que se torna necessário que o papel de ambas as partes
necessita ser revisto e reconsiderado, para que a educação venha a ser
promovida com a conivência das duas instituições, se ajudando mutuamente e
compartilhando experiências que podem facilitar o desenvolvimento do aluno.
De acordo com Libâneo:
A educação é um fenômeno social e universal, sendo uma
atividade humana necessária a existência e funcionamento de
todas as sociedades. Cada sociedade precisa cuidar da formação
dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades
físicas e espirituais, prepará-los para a participação ativa e
transformadora nas várias instâncias da vida social (…) Em
sentido amplo, a educação compreende os processos formativos
que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão
envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de
existirem socialmente. Em sentido estrito, a educação ocorre em
instituições específicas, escolares ou não, com finalidades
explícitas de instrução e ensino mediante uma ação consciente,
deliberada e planificada. (LIBÂNEO, 1994, p. 16).

A educação é um item necessário ao desenvolvimento humano, pois


sem ela o sujeito enfrenta uma série de limitações para conseguir conviver com
o mundo globalizado, levando em conta que atualmente a comunicação evoluiu
através da presença da tecnologia. A participação ativa na sociedade que
resulta no pleno exercício da cidadania, somente é possível através da
educação. Utilizando-se das palavras do autor, o simples fato de existir torna o
homem um ser social, e em algum momento a sua instrução será cobrada.
Para Martínez-Cerón:
Está comprovado que professores que receberam na sua
formação conteúdos e disciplinas, tais como Educação Familiar,
revelam diferenças significativas daqueles que não tiveram contato
com tais matérias quanto a sua disposição a motivar a
participação dos pais na escola, promover reuniões de pais,
expressar menos estereótipos negativos sobre a família atual e
sobre a relação entre pais e filhos. (MARTÍNEZ-CERÓN, 2005, p.
134).
Dessa maneira, também é importante que a escola disponha de
educadores que estejam devidamente preparados para estreitar a convivência
entre os pais e a escola, pois nos encontros em que são debatidas as
dificuldades e avanços dos alunos é necessário que os responsáveis pela
criança encontrem um ambiente acolhedor e disposto a adequar-se à realidade
de cada aluno que recebe.
Sob a ótica de Piaget, a educação pode ser resumida da seguinte forma:
A educação é, por conseguinte, não apenas uma formação, mas
uma condição formadora necessária ao próprio desenvolvimento
natural. Proclamar que toda pessoa humana tem o direito à
educação não é, pois unicamente sugerir, tal como o supõe a
psicologia individualista tributária do senso comum, que todo
indivíduo, garantido por sua natureza psicobiológica ao atingir um
nível de desenvolvimento já elevado, possui, além disso, o direito
de receber da sociedade a iniciação às tradições culturais e
morais; é pelo contrário e muito mais aprofundadamente, afirmar
que o indivíduo não poderia adquirir suas estruturas mentais mais
essenciais sem uma contribuição exterior, a exigir um certo meio
social d formação, e que em todos os níveis (desde o mais
elementares até os mais latos) o fator social ou educativo constitui
uma condição do desenvolvimento. (PIAGET, 1974,p.39).

À família cabe, portanto, o papel de internalizar na mente da criança que


um futuro promissor em que esta possa escolher exercer uma profissão com a
qual possua maior afinidade, somente será possível através dos estudos, bem
como, ressaltar a importância da educação para que a criança venha a se
tornar um adulto promissor, que saiba se expressar, ler, fazer contas, ter senso
crítico, etc.
As ideias dos autores Paula e Naves (2010), Marcelo & Vaillant (2009) e
Oliveira (2004), convergem para: “O papel do professor também se transformou
e ele se viu submetido, tendo que responder a maiores exigências e a lidar com
responsabilidades educativas mais complexas, as quais lhe são delegadas pela
família”. O educador do mundo contemporâneo lida diariamente com situações
em que a família do aluno deixa a desejar em termos de acompanhamento,
como por exemplo, quando retorna à aula sem realizar as atividades
repassadas para serem feitas com a família. Vale lembrar que a educação que
o aluno recebe da família reflete-se em seu comportamento na escola.
Alvim aponta que:
O conceito de educação que deve ser utilizado é aquele que seja
o mais completo em relação ao desenvolvimento de todas as
potencialidades do homem. Não há que se restringir somente ao
aspecto do desenvolvimento cognitivo ou apenas ao preparo para
o mercado de trabalho. Ao contrário, é precípuo contemplar o
desenvolvimento do ser humano de modo integral. A educação
deve possibilitar ao homem desenvolver suas habilidades
cognitiva, emocional e social, bem como as competências nas
mais diversas áreas do conhecimento. Essa foi a posição adotada
pelo constituinte de 1988, quando afirma que a educação visa ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (ALVIM, 2011, p. 135).

A educação deve contemplar não somente a transferência de conteúdos


e saberes, mas sim a formação individual e coletiva, promovendo debates
acerca das problemáticas que circundam a sociedade, com o propósito de
formar cidadãos críticos e capazes de emitirem opiniões próprias sobre os mais
variados assuntos, fugindo de estereótipos bitolados a determinados ideais e
que não tenham a mente aberta para novos conhecimentos e transformações.

2.2 Os educadores e sua relação com a família dos alunos

Barrera (2008, p. 13) defende que existem algumas tensões que podem
ser observadas durante o desenvolvimento do ofício de alguns educadores:
“Esta tensão se revela no trabalho cotidiano, quando os docentes têm atitudes
contraditórias: algumas vezes reclamam a participação das famílias, em outras
as evitam”. Esse fator ocorre em muitos casos pelo sentimento de abandono
que o professor sente em relação à família do aluno, porém, o ideal é que este
busque conhecer a realidade do aluno e da família, para que possa
compreender o porquê do déficit no acompanhamento.
No ambiente escolar brasileiro é bastante comum que se ouçam relatos
de educadores que lidam diariamente com a indisciplina dos discentes, na qual
estão inclusos comportamentos como falta de atenção aos conteúdos
repassados, falta de compromisso na resolução das atividades ministradas
tanto em sala de aula quanto as que são repassadas para serem realizadas em
casa, desrespeito com o professor e os colegas, dentre outros.
De acordo com Oliveira e Marinho-Araújo:
A relação entre a educação e classe social mostra um certo
conflito entre as finalidades socializadoras da escola (valores
coletivos) e a educação doméstica (valores individuais), ou seja,
entre a organização da família e os objetivos da escola. As
famílias que não se enquadram no suposto modelo desejado pela
escola são consideradas as grandes responsáveis pelas
disparidades escolares. (OLIVEIRA E MARINHO- ARAÚJO, 2010,
p. 102).
Dessa forma, a problemática da indisciplina possui relação direta com a
forma como os valores morais e éticos são transmitidos à criança, bem como,
com a organização familiar, pois se o aluno convive em um ambiente em que
não há diálogo acerca da realidade que o mundo tem a lhe oferecer, a
tendência é que aprenda sozinho, sem orientação e aja conforme julgar que
seja correto.
Para Oliveira:
[...] Para os estudos do cotidiano, os diferentes conhecimentos e
sua articulação em rede, complexa e imprevisível, envolvendo as
experiências cotidianas, os conteúdos escolares em muitas outras
dimensões da existência dos sujeitos sociais precisam ser
considerados nos estudos sobre a escola, lócus de transmissão de
conhecimentos, sim, mas não apenas. Espaço vivo, no qual
sujeitos de conhecimentos, de desejos, de crenças, de convicções
e de ideias vivem plenamente, aprendendo e ensinando
conteúdos, certamente, mas também aprendendo o que não é
ensinado, mas circula no espaço tempo escolar. (OLIVEIRA, 2007,
p. 109).

O autor remete-se ao fato de que em muitos casos a indisciplina ocorre,


não necessariamente, por fatores relacionados exclusivamente à convivência
familiar, mas pode ser desencadeada pelas relações que o aluno estabelece
com outros colegas de escola. É bastante comum que professores relatem a
mudança repentina do comportamento de um aluno observada de um ano para
outro, atribuindo à sua convivência com aluno A ou B.
Corroborando com essas ideias, Pirola (2009, p. 56) aponta que: “Os
processos humanos, entre eles os comportamentos disciplinados ou
indisciplinados, têm gênese nas relações sociais e devem ser compreendidos
em seu caráter histórico-cultural”. A construção dos conceitos que a criança
internaliza como verdades é realizada através das suas relações interpessoais.
Por exemplo, se há um histórico de mal comportamento na escola e não
houver uma intervenção a tempo, seja por parte do educador ou da família, as
incidências serão cada vez mais frequentes.
Dubet e Martuccelli afirmam que:
[...] Ao mesmo tempo em que a escola é um aparato de
distribuição de posições sociais, é um aparato de produção de
atores ajustados a essas posições. [...] A socialização escolar que
não é toda a socialização, se desenvolve em uma organização
escolar caracterizada por uma “forma” escolar, um conjunto de
regras, de exercícios, de programas e de relações pedagógicas
resultantes do encontro de um projeto educativo e de uma
estrutura de “oportunidades” sociais. (DUBET E MARTUCCELLI,
1998, p. 27-28).
Todo esse conjunto formador da escola é responsável pela socialização
estabelecida entre os alunos e o corpo docente. Quanto melhor e mais
agradável for essa troca de experiências, mais fácil será para o educador em
ter o controle sobre a sua sala de aula, principalmente em se tratando de
alunos indisciplinados, pois quando há uma admiração e respeito pelo
professor, a criança não achará abertura e motivos para agir de tal maneira.
Conforme Ferreira, a indisciplina pode ser definida da seguinte forma:
Indisciplina é plural, tanto no conceito quanto em suas causas,
expressões e implicações no universo escolar. Não apresenta uma
causa única, e suas diferentes causas poderiam ser reunidas em
dois grandes grupos gerais: um deles relacionados ao que
denomina causas internas, e um outro associado às causas
externas a escola. (FERREIRA, 2009, p.03).

As causas internas dizem respeito a algum motivo que o aluno vê ou


sente dentro do ambiente escolar, mais propriamente na sala de aula em que
estuda, seja por não gostar particularmente do professor, seja por uma
metodologia aplicada de maneira errada e que não contemple a todos, etc. Já
os fatores externos podem estar relacionados à falta de diálogo em casa, à
criação muito aberta, em que a criança possui liberdade para desrespeitar seus
pais ou responsáveis sem que seja punida com algum castigo ou a falta de
uma figura na qual a criança se veja representada, seja para se espelhar ou
mesmo como elemento norteador de sua trajetória.
Galvão (2004, p. 193) defende que: “[...] “É inevitável que a escola seja
um contexto de sociabilidade em que os conflitos abundem, fazendo parte
necessariamente do cotidiano institucional”. A indisciplina é considerada como
um problema que gera conflito, tanto para o professor que sente dificuldade em
ministrar sua aula por conta do aluno que não presta atenção, quanto para os
colegas no caso em que a criança opte por conversar ou atrapalhar a atenção
dos demais.
De acordo com Garcia:
Deve-se considerar a indisciplina sob a dimensão dos processos
de socialização e relacionamentos que os alunos exercem na
escola, na relação com seus pares e com os profissionais da
educação, no contexto do espaço escolar - com suas atividades
pedagógicas, patrimônio, ambiente, etc. Finalmente, é preciso
pensar a indisciplina no contexto do cognitivo dos estudantes. Sob
esta perspectiva, define- se indisciplina como a incongruência
entre os critérios e expectativas assumidos pela escola (que
supostamente refletem o pensamento da comunidade escolar) em
termos de comportamento, atitudes, socialização, relacionamentos
e desenvolvimento cognitivo, e aquilo que demonstram os
estudantes. (GARCIA, 1999, p. 102)

O autor trata a indisciplina como uma discrepância entre os valores


éticos e morais que formam a prática educacional da escola com a forma como
o aluno reage a estes, ou seja, o indivíduo frustra as expectativas depositadas
tanto pelos professores quando pelos seus familiares ao agir de maneira
contrária aos
princípios considerados como norteadores da educação.

2.3 A escolarização das crianças no Brasil

Para Marília Sposito (1998, p. 71): “No Brasil, grande parte do


significado simbólico atribuído à escolarização [...] esteve ligado às
possibilidades – efetivas ou apenas imaginadas – de mobilidade social”. Isso
implica dizer que a forma como a própria sociedade menos abastada visualiza
o processo educacional precisa ser revisto, tendo em vista que somente incutir
na mente do aluno que a educação será a responsável pela sua ascensão
social não é suficiente.
É necessário que a família se conscientize sobre o verdadeiro papel da
educação, que é formar cidadãos aptos a exercerem a sua cidadania, e isso vai
muito além de simplesmente apreender conteúdos, ser aprovado ao final do
ano, ou mesmo aprender a ler, já que a educação é a responsável pela
condução dos seus comportamentos na sociedade.
Vasconcellos aborda que:
A indisciplina é um processo que agrega muitos fatores: o
desinteresse do aluno proveniente, por exemplo, da influência
midiática externa ao ambiente escolar geralmente mais atrativa
que a escola; a família que não cumpre com o papel de educar
para os limites; a escola que não apoia o professor
pedagogicamente e a influência da desorganização da sociedade.
(VASCONCELLOS, 1995, p.03).

A influência midiática é um dos fatores preponderantes na questão da


indisciplina, visto que é bastante comum que se vejam relatos de professores
que verificam que o aluno deixa de prestar atenção à aula para utilizar o
aparelho celular. Para combater esse tipo de prática, é necessário que a escola
estabeleça regras claras e objetivas quanto à utilização do utensílio.
Quando não há um aparato pedagógico suficiente para o educador
torna-
se ainda mais complicado combater a indisciplina, pois não há condições de
paralisar a todo momento a aula, prejudicando o cumprimento da carga horária
da disciplina, para chamar a atenção do aluno. O ideal é que o supervisor
pedagógico tenha ciência acerca dos alunos que geralmente se comportam
com indisciplina, para que possa fazer um acompanhamento semanal e auxiliá-
lo a corrigir sua postura.
Os problemas identificados nas escolas brasileiras resultantes da
indisciplina são variados e possuem características muito similares, tanto em
escolas públicas quanto particulares, levando-se em consideração que cada
problemática encontrada na educação é resultado das transformações sociais,
culturais e econômicas pelas quais o país passou, e que molda a configuração
educacional em cada espaço de tempo.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico – OCDE:
Ao menos a metade dos professores na maioria dos países dedica
80% do tempo de classe ao ensino e à aprendizagem. Entretanto,
em alguns casos se perde tempo porque os alunos perturbam ou
porque os professores devem ocupar-se de tarefas
administrativas. Um em cada quatro professores da maior parte
dos países perde pelo menos 30% do tempo de classe por estas
duas razões e alguns professores chegam a perder mais da
metade do mesmo. (OCDE, 2009, p. 15).

Esse é um dos sérios problemas que pode ser apontado como resultante
da indisciplina, pois a cada 30% de tempo perdido, ao ser multiplicado ao final
de cada mês, é um período considerável em que o educador, além de não
prejudicar o cumprimento da sua carga horária, poderia aproveitar para o
esclarecimento de dúvidas, ou mesmo para elaborar alguma atividade que
auxiliasse a reforçar o conhecimento repassado.
Garcia reforça a problemática da indisciplina:
O fato é que este aluno contestador, membro de uma sociedade
que está em processo de superação de uma cultura de repressão,
não se conforma a aulas que considera “enfadonhas’,
“desatualizadas”, “teóricas”, ou a relações “autoritárias”,
“desumanas” ou “frias”, e manifesta seu descontentamento, o qual
precisa ser analisado para além do rótulo de indisciplina, e ser
pensado como expressão de uma consciência social em
formação. (GARCIA, 1999. p. 103).
A cultura de repressão é caracterizada pela ditadura de padrões de
comportamento que vão desde a forma como os indivíduos se vestem, à
maneira que organizam as suas redes sociais, por exemplo. Dessa forma, o
aluno indisciplinado vê na escola a extensão das regras às quais está sujeito
todos os dias na sociedade e decide enfrentá-las ao agir da maneira contrária
ao que é esperado.
Para Cunha e Costa:
[...] As relações pedagógicas e administrativas, as atitudes dos
alunos e da equipe pedagógica em relação à escola, o conjunto de
relações estabelecidas, assim como as percepções de todos os
seus integrantes acerca do trabalho pedagógico realizado pela
instituição de ensino e sobre a participação que possuem nestes
processos. (CUNHA E COSTA, 2009, p. 01).

Os autores defendem que a forma como toda a conjuntura da escola é


formada pode refletir diretamente no comportamento dos alunos. Por exemplo,
se o indivíduo percebe que diariamente age da maneira como deseja e não
existe ninguém que o freie ou chame a sua atenção, naturalmente tenderá a
continuar se comportando igualmente. O aluno mesmo que indiretamente,
observa tudo o que acontece à sua volta dentro do ambiente escolar,
principalmente as reações dos demais colegas e do educador diante da sua
postura indisciplinada.
Vasconcellos (1999) aponta que o professor pode evitar a indisciplina
programando aulas que prendam a atenção do aluno. Para isso, é necessária
uma constante avaliação da sua postura em sala de aula, a fim de verificar até
que ponto os alunos sentem-se aprazíveis ou incomodados quando o educador
inicia a sua aula. É importante salientar a mudança de metodologias quando
necessário, principalmente em se tratando de indisciplina. O autor Martin
Carnoy realizou um estudo em que fez comparações entre o ensino no Brasil,
Chile e Cuba, e chegou às seguintes conclusões:
Às vezes, as salas de aula brasileiras eram bastante caóticas,
principalmente em comparação com as salas de aula cubanas e
as das escolas particulares chilenas. As salas de aula brasileiras
também se distinguiam por um alto grau de liberdade, medido
pelos casos de alunos que se aproximavam fisicamente do
professor para formular perguntas ou até para interromper o
professor para formular perguntas. (CARNOY, 2009, p. 178).

A questão levantada pelo autor relaciona-se muito mais ao fator cultural.


Essa liberdade citada é reflexo da forma como se condensou a educação ao
longo de sua formação na sociedade brasileira e, há de se considerar, que
existem muitas práticas que necessitam de toda uma reformulação social para
a promoção de, inicialmente, uma conscientização coletiva sobre a
necessidade de rever a relação entre professor e aluno. Garcia (1999, p. 101)
aponta que: “A indisciplina tem sido intensamente vivenciada nas escolas,
apresentando-se como uma fonte de estresse nas relações interpessoais,
particularmente quando associada a situações de conflito em sala de aula”.
Esses conflitos podem ser gerados tanto entre o aluno indisciplinado e o
professor, quanto com os demais colegas de sala, já que aquela criança que
segue as normas e princípios morais e éticos estabelecidos pela escola, pode
sentir-se incomodada ao presenciar situações em que o sossego da sala de
aula é afetado, incidindo diretamente no seu aprendizado.
Eccheli contribui que:
É provável que a indisciplina observada nas escolas esteja
diretamente relacionada à falta de motivação dos alunos diante do
fato de se verem obrigados a estar numa sala de aula sem
entender o porquê e para quê daquilo, considerando os conteúdos
inúteis ou, mesmo que sejam úteis, não compreendendo bem para
que servem. (ECCHELI, 2008, p.210).

Esse é um ponto interessante a ser ressaltado, tendo em vista que a grande


maioria dos alunos não consegue identificar no seu dia a dia a importância dos
conteúdos que são abordados na escola. Para isso, quanto mais o educador
puder aproximar as suas aulas da realidade em que o aluno vive, maiores são
as possibilidades de interesse na aula.
O autor Rodrigues, cita uma passagem das palavras de Antunes, ao
afirmar que:
Para que o educador possa conduzir a disciplina em sala de aula,
Antunes (2009) do mesmo modo, propõe uma reflexão sobre
habilidades intra e interpessoais que o professor deve exercitar
para que este se aproprie da técnica de gerenciamento da
indisciplina em nossos dias: aceitar com bom humor as diferenças
entre as pessoas; saber distinguir o essencial do supérfluo; saber
ouvir antes de julgar o aluno; ter habilidade de se colocar no lugar
do outro; admitir quando estiver errado; perceber que quando os
alunos são chamados para tratar sobre o comportamento
indisciplinado, geralmente respondem com irritação e insegurança;
compreender que nem todos precisam corroborar com a ideia do
educador; reavaliar os casos de indisciplina e aplicar medida
disciplinar com seriedade, rapidez e justiça. (ANTUNES, 2009,
Apud Rodrigues et. al. 2012. p.3).
Esses apontamentos referem-se a dicas sobre a maneira como o
educador pode facilitar a sua convivência em sala de aula com alunos
indisciplinados, principalmente através da observância do seu próprio
comportamento diante da prática. Ao reavaliar a sua postura, o professor pode
adequar algumas alterações ao seu cotidiano que venham a somar para que a
indisciplina percebida seja em porcentagens cada vez menores.
O Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, localizado na cidade de
Curitiba, organizou junto ao corpo pedagógico da escola, uma pesquisa com
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pais, a fim de verificar a visão de cada um acerca do que consideram
importante
na educação de seus filhos. Abaixo segue o resultado:

Ilustração 1: Respostas de pais de uma escola pública sobre o que consideram importante para
a educação de seus filhos.
Fonte:https://materialparaaescola.blogspot.com/2011/09/pais-na-escola-atendimento-
informacao-e.html
As respostas demonstram que o ensino de conteúdos ainda é
considerado por muitos pais como o item principal a ser extraído da educação
de seus filhos, sendo que, a participação dos pais vem em última posição,
como se não houvesse uma real necessidade de acompanhamento, em que a
escola teria total responsabilidade pela educação. Essa visão é bastante
comum entre os pais de alunos, fazendo com que muitos acreditem que a sua
presença
somente é necessária para assinatura de boletins ou quando a escola solicita a
sua ida.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da apresentação das ideias dos autores, pode-se afirmar que


quanto menos o aluno sente que possui o acompanhamento da família, menos
estímulo ele terá para buscar êxitos, já que não existe alguém que o cobre, que
se interesse em saber como anda o seu desenvolvimento, e isso pode afetar
até mesmo o comportamento em relação aos demais colegas de sala, no
sentido de desrespeito para com as diferenças ou algo do tipo. Quando se tem
uma problemática educacional à frente a melhor alternativa não é fugir, mas
sim, encarar o problema e buscar solucioná-lo ou amenizá-lo, pois como dito
anteriormente, em casos de falta de instrução por parte dos pais, isso pode
deixá-los envergonhados, com receio de serem estigmatizados ao procurar a
escola dos filhos.
A organização do trabalho na atualidade também é um dos fatores
responsáveis pela falta de disciplina na escola, tendo em vista que os pais
geralmente trabalham fora e passam muito mais tempo dedicados ao trabalho
do que aos filhos, e isso dificulta um acompanhamento e a criança acaba por
se
sentir excluída da convivência familiar.
Para que se possa compreender mais profundamente a questão da
indisciplina, torna-se necessário avaliar um conjunto de fatores que, juntos ou
isolados podem ser a causa do problema. O certo é que a família juntamente
com o corpo docente da escola precisa investigar o foco do problema, para
entender qual o principal estopim para o seu afloramento.
Vale ressaltar que é importante que o educador trate todos os alunos de
maneira igualitária, pois em muitos casos, a criança pode vir a tornar-se
indisciplinada como uma maneira de “protestar” contra a postura adotada pelo
professor em dar preferência para os mesmos alunos sempre, por exemplo, no
momento de realização de leituras, de ser chamado para a resolução de
alguma
atividade proposta no quadro, na formação de equipes para a confecção de
trabalhos, etc.
REFERÊNCIAS
ALVIM, Márcia Cristina de Souza. Educação e Multiculturalismo. Revista
Mestrado em Direito do UNIFIEO, Osasco, ano 11, n.2.

BARRERA, P. (2008). Los deberes escolares y tareas em casa: exploración


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Final de Pós-Graduação em Psicologia Educacional (Pós-graduação em
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CARNOY, M.; GOVE, A. K.; MARSHALL, J. H. A vantagem acadêmica de


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ECCHELI. S. D; A MOTIVAÇÃO COMO PREVENÇÃO DA INDISCIPLINA.


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