Concepção de Governação
Banco Mundial (1992) define governação como "o conjunto de tradições e instituições pelas
quais a autoridade em um país é exercida". Esta definição destaca a importância das
instituições na organização e funcionamento do Estado.
Banco Mundial (1994): a governação é definida como o modo pelo qual o poder é exercido
na administração dos recursos económicos e sociais de um país, visando o desenvolvimento.
Comissão Europeia (2001): a governação refere-se à forma como as regras, normas e acções
são estruturadas, sustentadas, reguladas e responsabilizadas, abrangendo os processos de
interação e tomada de decisão entre os actores envolvidos em um problema colectivo.
Dahl (1999) conceitua governação como "a tomada de decisões e a formação de políticas em
sistemas políticos". Ele destaca a natureza processual da governação, enfatizando a interação
entre diferentes atores na formulação e implementação de políticas.
Fukuyama (2013) argumenta que governação "refere-se ao modo como as sociedades
organizam e regulam a vida em comum". Ele destaca a importância das instituições na
promoção da ordem, da justiça e do desenvolvimento económico e social.
Graham, Amos e Plumptre (2003): a governação compreende as interações entre estruturas,
processos e tradições que determinam como o poder é exercido, como os cidadãos são
ouvidos e como as decisões são tomadas nas questões de interesse público.
Graham, Amos e Plumptre (2003): a governação diz respeito aos processos de tomada de
decisão e ao processo pelo qual decisões são implementadas (ou não implementadas).
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) (2009): a governação corporativa é o
sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitorizadas e incentivadas, envolvendo os
relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, direcção e órgãos de
controlo.
Kjaer (2004): a governação é o termo usado para descrever a mudança no significado de
governo, referindo-se a um novo processo de governar; ou um novo método pelo qual a
sociedade é governada.
Kooiman (2003): a governação é o conjunto de interações, processos e estruturas que
determinam como o poder é exercido, como as decisões são tomadas e como os cidadãos ou
outras partes são ouvidos."
Para Rosenau e Czempiel (1992), governação como "a forma como diferentes atores sociais
interagem na produção de normas que regulam a vida coletiva". Eles enfatizam a
multiplicidade de atores envolvidos no processo de governação e a complexidade das
relações entre eles.
Rhodes (1996): a governação refere-se a auto-organização, interorganizacional de redes
caracterizadas pela interdependência, recursos compartilhados, regras de jogo e autonomia
significativa das redes em relação ao Estado.
Stiglitz (1998) define governação como "as tradições e instituições pelas quais o poder é
exercido em um país". Ele enfatiza a importância das instituições e processos que moldam o
exercício do poder e influenciam as políticas públicas.
Weiss e Steiner (2006): a boa governação caracteriza-se por oito características principais:
estado de direito, transparência, responsabilidade, orientação por consenso, equidade,
inclusão, efectividade e eficiência, e prestação de contas.
a) Pontos de Convergência
1. Importância das Instituições: Banco Mundial (1992, 1994), Fukuyama (2013) e
Stiglitz (1998) destacam o papel das instituições na organização e funcionamento do
Estado. O IBGC (2009) também enfatiza o papel das estruturas organizacionais,
aplicando o conceito ao setor corporativo.
2. Processo de Tomada de Decisão e Implementação de Políticas: Dahl (1999), Graham,
Amos e Plumptre (2003), Kooiman (2003) e Rhodes (1996) ressaltam que governação
envolve processos de decisão, interação entre atores e a implementação de políticas
públicas. Por outro lado, a Comissão Europeia (2001) reforça essa ideia ao enfatizar
as regras, normas e ações reguladoras.
3. Multiplicidade de Atores e Interação: Rosenau e Czempiel (1992), Rhodes (1996) e
Graham, Amos e Plumptre (2003) apontam que governação não é exclusiva do
Estado, mas inclui diversos atores, como empresas, sociedade civil e redes
interorganizacionais. Kjaer (2004) também aborda a mudança na forma como a
sociedade é governada, ampliando o papel de diferentes atores no processo.
4. Objectivo de Desenvolvimento e Ordem Social: Banco Mundial (1994) e Fukuyama
(2013) associam a governação à promoção do desenvolvimento social e económico.
Weiss e Steiner (2006) reforçam a necessidade de uma “boa governação” baseada em
princípios como transparência, equidade e eficiência.
b) Pontos de Divergência
1. Enfoque no Estado vs. Governança em Rede: algumas definições, como as do Banco
Mundial (1992, 1994) e Stiglitz (1998), enfatizam a governação no âmbito do Estado
e suas instituições. Por outro lado, Rhodes (1996), Rosenau e Czempiel (1992) e
Kooiman (2003) destacam uma abordagem mais descentralizada e baseada em redes
interdependentes.
2. Governação como Estrutura vs. Processo Dinâmico: Banco Mundial (1992, 1994) e
Stiglitz (1998) tratam a governação como um conjunto de instituições que moldam o
exercício do poder. Já Dahl (1999), Kooiman (2003) e Graham, Amos e Plumptre
(2003) enfatizam o caráter processual, ressaltando a dinâmica da tomada de decisão e
da interação entre atores.
3. Governação Pública vs. Corporativa: a maioria das definições foca na governação
como um conceito aplicado ao Estado e à sociedade. O IBGC (2009) expande o
conceito para a governação corporativa, aplicando os princípios ao funcionamento das
empresas.
4. Ênfase na Qualidade da Governação: Weiss e Steiner (2006) introduzem a ideia de
“boa governação”, algo que não está explicitamente presente nas outras definições,
mas se relaciona com temas como transparência e prestação de contas.
Embora haja diferenças nas abordagens, a maioria dos autores concorda que governação
envolve a estruturação do poder, a tomada de decisões e a participação de múltiplos atores,
sejam eles estatais ou não estatais. As divergências surgem quanto ao foco na governação
estatal ou em redes interorganizacionais, além da ênfase na estrutura institucional versus a
dinâmica do processo decisório.
Referências
Banco Mundial. (1992). Governância e desenvolvimento. Washington, DC: Banco Mundial
Banco Mundial. (1994). Governança: A gestão do desenvolvimento. Washington, DC: Banco
Mundial.
Banco Mundial. (1994). Governança: A gestão dos recursos econômicos e sociais para o
desenvolvimento. Washington, DC: Banco Mundial.
Comissão Europeia. (2001). Governance in the European Union: A White Paper. Bruxelas:
Comissão Europeia.
Dahl, R. A. (1999). O conceito de governação. Governance, 12(2), 119-122.
Fukuyama, F. (2013). O que é governação? Governance, 26(3), 347-368.
Graham, J., Amos, B., & Plumptre, T. (2003). Principles for Good Governance in the 21st
Century. Ottawa: Institute on Governance.
Graham, J., Amos, B., & Plumptre, T. (2003). Principles for good governance in the 21st
century. Ottawa: Institute on Governance.
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). (2009). Código das Melhores
Práticas de Governança Corporativa. São Paulo: IBGC.
Kjaer, A. M. (2004). Governance. Cambridge: Polity Press.
Kooiman, J. (2003). Governing as governance. Londres: SAGE Publications.
Rhodes, R. A. W. (1996). The new governance: governing without government. Political
Studies, 44(4), 652-667.
Stiglitz, J. (1998). Rumo a um novo paradigma para o desenvolvimento: Estratégias, políticas
e processos.
Weiss, F., & Steiner, S. (2006). Transparency as an Element of Good Governance in the
Practice of the EU and the WTO: Overview and Comparison. Fordham International Law
Journal, 30(5), 1545-1586.