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A EVOLUÇÃO DO ESPÍRITOl

O artigo analisa a intersecção entre racismo e a religião espírita codificada por Allan Kardec, destacando como suas ideias de evolucionismo racial influenciaram o espiritismo. A pesquisa qualitativa explora os escritos de Kardec e a continuidade de suas concepções raciais nos cultos espíritas contemporâneos. O autor, inserido no contexto espírita brasileiro, reflete sobre a relação entre ciência, religião e filosofia na obra de Kardec.

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A EVOLUÇÃO DO ESPÍRITOl

O artigo analisa a intersecção entre racismo e a religião espírita codificada por Allan Kardec, destacando como suas ideias de evolucionismo racial influenciaram o espiritismo. A pesquisa qualitativa explora os escritos de Kardec e a continuidade de suas concepções raciais nos cultos espíritas contemporâneos. O autor, inserido no contexto espírita brasileiro, reflete sobre a relação entre ciência, religião e filosofia na obra de Kardec.

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THE EVOLUTION OF THE SPIRIT: Allan Kardec’s “Evolutionism”


Heron Volpi

https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049

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A EVOLUÇÃO DO ESPÍRITO: O “Evolucionismo” de Allan Kardec.

THE EVOLUTION OF THE SPIRIT: Allan Kardec’s “Evolutionism”.

Heron Cristiano M. VOLPI 1

Resumo
Acreditamos que em um quadro paradigmático, uma religião é representativa da face social de
seus seguidores. Neste artigo ensejamos pensar a questão racial no seio dos primórdios da
religião espírita, codificada por Allan Kardec. O espiritismo, na sua concepção, pensava em
interseccionar perfeitamente a ciência, a religião e a filosofia. Contudo, nessa fricção perigosa
de maneiras de olhar o mundo, Kardec foi por diversas vezes, e, reiteradamente, racista. No afã
de ser aceito pela comunidade científica do século XIX, Kardec alocou o evolucionismo racial
em seu discurso, e assim, terminou por conduzir a religião espírita à um lugar paratópico. Dessa
forma, o espiritismo como qualquer outra religião, se mostra estar baseado muito mais no
discurso, do que na ciência empírica. Tentaremos enquadrar Allan Kardec enquanto um homem
de seu tempo, e mais especificamente, um cientista de seu tempo. Se trata de uma pesquisa
qualitativa que tenta fazer um escaneamento geral de escritos de Allan Kardec. Juntamente com
relatos do próprio autor deste artigo, que está inserido no contexto espírita brasileiro ao longo
de muitos anos. Essa pesquisa só poderia ser feita dessa forma, pois, o racismo nem sempre se
apresenta nos cultos religiosos todos os dias e, nem sempre de forma clara. Devemos lembrar
que falas soltas nos cultos religiosos, que se não alocadas dentro do discurso acadêmico do
racismo, parecem não ser de grande contrariedade. Dessa forma, pensamos que os cultos
religiosos espíritas de hoje, ainda refletem à suas maneiras aprofundadas ou não, o propagado
evolucionismo racial de Allan Kardec.

Palavras-chave: Espiritismo. Allan Kardec. Racismo Religioso. Evolucionismo.

Abstract

We believe that in a paradigmatic framework, a religion is representative of the social face of


its followers. In this article we aim to think about the racial issue within the beginnings of the
spiritist religion, codified by Allan Kardec. Spiritism, in its conception, was thought to perfectly

1
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (PPGA-
UFF). E-mail: [email protected]. https://orcid.org/0000-0002-8140-1804
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intersect science, religion and philosophy. However, in this dangerous friction of ways of
looking at the world, Kardec was several times, and repeatedly, racist. To be accepted by the
scientific community of the 19th century, Kardec included racial evolutionism in his speech,
and thus ended up leading the spiritist religion to a paratopic place. In this way, spiritism, like
any other religion, appears to be based much more on discourse than on empirical science. This
is a qualitative research that attempts to carry out a general scan of Allan Kardec's writings. We
will try to frame Allan Kardec as a man of his time, and more specifically, a scientist of his
time. This is qualitative research that attempts to carry out a general scan of Allan Kardec's
writings. Along with reports from the author of this article, who has been part of the Brazilian
spiritist context for many years. This research could only be done in this way, as racism does
not always present itself in religious services every day, and not always clearly. We must
remember that loose speeches in religious services, which if not allocated within the academic
discourse of racism, do not seem to be of great contradiction. In this way, we think that today's
spiritualist religious cults still reflect, in their in-depth ways or not, the propagated racial
evolutionism of Allan Kardec.

Keywords: Spiritism. Allan Kardec. Religious Racism. Evolutionism.

A Religião Espírita

Conforme o Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010


havia no Brasil 3.8 milhões de espíritas declarados no país. O que indica que o Espiritismo
cresceu 65% entre os brasileiros em relação ao Censo realizado em 2003, passando de 1.3% da
população para 2%. Segundo a Revista Veja (edição de 23 de junho de 2010) por volta de 18
milhões de brasileiros eram simpatizantes do Espiritismo, isto é, apesar de não serem
frequentadores assíduos de centros espíritas, se ligam de alguma forma à filosofia espírita.
Podendo estes brasileiros serem ou não participantes de outras religiões, como a católica
(BRUNELLI e SILVA, 2019, p. 02).
Para começar devo esclarecer que eu, pessoalmente, tenho circulação por diversos
centros espíritas do Brasil. Portanto, venho falar um pouco, até mesmo em primeira pessoa,
rememorando ou trazendo fatos de passagens mais versadas a experiências pessoais. Desta
forma, escrevo esse texto tentando compreender os espaços, os quais, eu mesmo faço parte e
frequento. Gilson José Rodrigues Junior (2016), no artigo: “Quando “outros” corpos e
“outras” epistemologias adentram espaços da modernidade: Apontamentos a partir de uma
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pesquisa entre Brasil e Senegal”, estudou sua própria religião, enquanto etnografou
missionários evangélicos originários do Sul e Sudeste do Brasil, enquanto estes faziam
“trabalhos voluntários” no nordeste brasileiro.

Mitologia Espírita: A Fé Face-A-Face Com A Ciência

O trabalho mais icônico e importante dentro dos estudos de religiões ocidentais, com
certeza é o do sociólogo, jurista e economista alemão Max Weber em: “A Ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo”. Livro originalmente publicado em 1905, Weber vincula o
crescimento das ideias capitalistas, principalmente, às filosofias propagadas pela nova igreja
europeia: a protestante. De forma que uma nova maneira de encarar a vida surgia com os
ensinamentos cristãos reformados. O racionalismo weberiano se transformou em um novo
paradigma em como conceber as sociedades capitalistas, tendo a sociedade norte-americana
como exemplo de Estado-nacional mais importante.

[...] por que o racionalismo econômico, embora dependa da técnica e do direito


racional, é determinado pela capacidade e pela disposição dos homens em adotar
certos tipos de conduta racional. Onde estes tipos foram obstruídos por obstáculos
espirituais, o desenvolvimento de uma conduta econômica também tem encontrado
uma séria resistência interna. As forças mágicas e religiosas e os ideais éticos de dever
decorrentes sempre estiveram no passado entre os mais importantes (WEBER, 1999,
p.14).

No dia 18 de abril de 1857, foi publicado o primeiro livro de Allan Kardec O livro dos
Espíritos. Hippolyte Léon Denizard Rivail – verdadeiro nome de Kardec – se impressionou
com acontecimentos mediúnicos que pipocavam por toda cidade de Paris. Esses eventos
“sobrenaturais”, também tomavam as páginas de vários jornais da Europa e das Américas. As
ciências até então não podiam dar conta daqueles acontecimentos que não encontravam
explicações empíricas.
Kardec, então, entra em um estudo com intento acadêmico e, depois, espiritual, para
entender aqueles acontecimentos. Tudo isso está retratado no filme brasileiro “Kardec” (2019),
dirigido por Wagner de Assis para a Conspiração Filmes, com roteiro dele e L. G. Bayão.
Baseado no livro Kardec - A Biografia, escrito por Marcel Souto Maior (2019). É importante
ressaltar que Hippolyte Léon Denizard Rivail, o Kardec, é um intelectual de sua época, que já
havia publicado diversos livros antes de publicar “O Livro dos Espíritos” em 1857,
principalmente, livros sobre pedagogia.
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Kardec decidiu ir até os médiuns da época, admirado pelas coisas que leu ou ouviu,
como: mesas que saíam do chão e giravam (levitação de objetos), aparição de pessoas mortas,
psicografia de pessoas conhecidas à parentes próximos. O pedagogo, então, se aprofunda em
uma empreitada para entender esses acontecimentos “inexplicáveis”.
Kardec, contudo, não foi o único intelectual de sua época que se impressionou com
esses fenômenos. O infame psiquiatra Cesare Lombroso também versou grande parte de seus
escritos sobre o espiritismo (SANTOS e PEIXOTO, p. 527, 2020). Voltaremos mais à frente a
falar de Lombroso.
Todo esse interesse intelectual europeu pode ser explicado pelo que Max Weber (1999)
chamou de ascetismo, evocado principalmente pelo protestantismo. Esse movimento que
penetrou inclusive o catolicismo, consistiu em tirar a magia da religião. O que tornou o humano
europeu em isolacionista e individualista. O indivíduo e Deus seriam suficientes para o culto
espiritual. Assim, os fenômenos vistos por Kardec na segunda metade do século XIX eram tidos
como novidades. Esse movimento, apesar de acelerado pelo protestantismo, também era uma
prática da igreja católica. Por exemplo, na Idade Média houve repressão às práticas mágicas,
como a bruxaria. Assim, podemos considerar as práticas mágicas que impressionaram Kardec
como fenômenos desconhecidos e negados pelo protestantismo. Já que a magia foi retirada do
culto cristão, como explica Max Weber.
Uma das passagens bíblicas mais utilizadas para garantir que os cultos cristãos podem
ser feitos através de um grupo muito pequeno, é com certeza a seguinte: “Pois, onde dois ou
três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei ali, no meio deles” (Evangelho de Mateus,
18,15-20).
Em uma das minhas idas à Sociedade Espírita Fraternidade – SEF de Niterói-RJ, o
palestrante do dia usou essa passagem para dizer que mesmo sozinho, um ser humano não
estaria sozinho, pois os espíritos desencarnados ali fariam companhia, formando o grupo de três
ou mais. Ou seja, a noção isolacionista do protestantismo também é parte das noções espíritas.

Iluminismo & Espiritismo

O espiritismo tem grande ligação com o iluminismo. Ambas filosofias são nascedouras
de um grande intento de intelectuais europeus de levar “luzes” a todos os povos, principalmente
durante o século XIX.
Associadas por Fénelon ao final do século XVII, as noções de liberdade, igualdade e
fraternidade são amplamente difundidas no século das Luzes. Durante a Revolução
Francesa, "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" faz parte dos inúmeros lemas
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invocados. No discurso sobre a organização das guardas nacionais, Robespierre


preconiza, em dezembro de 1790, que as palavras "O Povo Francês" e "Liberdade,
Igualdade, Fraternidade" sejam inscritos nos uniformes e nas bandeiras, porém seu
projeto não é adotado. A partir de 1793, os parisienses, rapidamente imitados pelos
habitantes das outras cidades, pintam nas fachadas de suas casas as seguintes palavras:
"unidade, indivisibilidade da República; liberdade, igualdade ou a morte". Mas logo
são convidados a apagar a última parte da fórmula, demasiadamente associada ao
"Terror". Como muitos dos símbolos revolucionários, o lema cai em desuso durante
o Império. Ele ressurge durante a Revolução de 1848, marcado por uma dimensão
religiosa, quando os padres celebram o Cristo-Fraternidade e abençoam as árvores da
liberdade que são plantadas nessa ocasião. Quando é redigida a constituição de 1848,
o lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", é definido como um "princípio" da
República. Desprezado pelo Segundo Império, ele acaba se impondo na IIIª
República. Ainda são observadas, no entanto, algumas resistências, inclusive entre os
partidários da República: algumas vezes dá-se preferência à solidariedade ao invés da
igualdade, que pressupõe um nivelamento social, e a conotação cristã de fraternidade
não é aceita por unanimidade. O lema volta a ser inscrito no alto das fachadas dos
edifícios públicos durante a celebração do 14 de julho de 1880. Ele consta das
constituições de 1946 e de 1958 e hoje é parte integrante de nosso patrimônio
nacional. (Site Oficial da Embaixada da França no Brasil)

Kardec, em seu intento primevo, reforça a ideia de que procura lançar luzes sobre
aquilo que antes era tomado como demoníaco e/ou bruxaria. Contudo, mais do que se vincular
à citação anterior (cujo foco é na liberdade, igualdade e fraternidade), a passagem de Kardec a
seguir reforça mais uma outra dimensão do iluminismo: a racionalidade.

A força do Espiritismo consiste precisamente no apelo que ele faz à razão, nos
critérios lógicos com os quais ele alicerça uma visão geral do mundo, oferecendo a
chave racional, a partir da dedução do princípio espiritual presente em a Natureza,
para a compreensão dos problemas existenciais. Após o atrativo dos fenômenos
mediúnicos, quando a atenção se volta para o raciocínio e a reflexão, então a força
viva do Espiritismo começa a resplandecer diante dos olhares perscrutadores, porque
verificam que sua essência é antes filosófica, e sua importância está nas explicações
que pode oferecer dos problemas existenciais, do ser, do destino e da dor. Com efeito,
se não passasse de mero passatempo com fenômenos divertidos e estranhos, a
curiosidade haveria de acabar e o esquecimento seria seu fim. Contudo, o Espiritismo
se propaga precisamente porque superou o período, por assim dizer, fenomênico, e
adentrou no período filosófico onde se discuti e investiga, com base em seus
princípios, as mais graves questões da existência humana. Desse modo, sua força, sua
pujança, está naturalmente na filosofia que apresenta aos homens. Portanto, seu
campo de batalha é nas ideias, sua revolução é conceptual e, consequentemente,
cultural. Vem renovar, com base na razão e na Natureza, a noção do futuro espiritual,
tão caro a toda consciência, mesmo que se manifeste incrédula e indiferente, porque
sua realidade é independente das opiniões e desejos particulares2. (KARDEC, online,
apud BRUNELLI e SILVA, 2019, p. 12 e 13)

Nesta matéria, pretendemos chamar a atenção do leitor espírita para uma característica
que só o Espiritismo possui: o caráter duplo de uma revelação. O Espiritismo é o único
conhecimento humano que possui os caracteres divino e o científico de uma revelação.
E é isso que garante que nenhuma doutrina, teoria ou prática espiritualista tem o
mesmo grau de confiança que o Espiritismo tem![...] A origem do Espiritismo é
divina, isto é, ele foi revelado pelos Espíritos que não agem sem aprovação do Criador,
o que o torna uma revelação divina. Mas, como meio de elaboração, usando as
próprias palavras de Kardec [...] “o Espiritismo procede exatamente da mesma forma
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que as ciências positivas, aplicando o método experimental”. Assim, como


enfatizamos em [...], esse duplo caráter faz do Espiritismo uma doutrina inédita e
única na humanidade! Em pleno século 21, nenhuma teoria da Ciência e nenhuma
doutrina religiosa possuem, ao mesmo tempo, o duplo caráter de uma revelação, acima
destacado! “É a combinação de ambos que fornece autenticidade e solidez únicas à
Doutrina Espírita, levando-nos ao reforço de nossa fé na certeza de que ao mesmo
tempo em que ela surgiu dos ensinos dos Espíritos, ela foi fruto de um esforço
elaborado de observação e análise como se faz nas ciências. Em outras palavras, o
melhor em matéria de revelação religiosa se uniu ao melhor em matéria de revelação
científica para que o Espiritismo pudesse chegar à humanidade!” [...]. É isso que
garante não somente a veracidade do conteúdo do Espiritismo, mas também a
consideração do Espiritismo como a terceira das grandes revelações. [...]. Em outras
palavras, nenhuma obra de natureza mediúnica ou de encarnado pode ser considerada
uma revelação acima do Espiritismo, mesmo que se considere científica 3. (KARDEC,
online, apud BRUNELLI e SILVA, 2019, p. 12 e 13)

Assim, podemos dizer que Allan Kardec está para o espiritismo assim como Martin
Lutero4 está para o protestantismo. Contudo, ao contrário da figura de Lutero, que foi
praticamente abandonada por seus atuais seguidores, a figura de Kardec é bastante retomada
nos ritos e, principalmente, seus livros. Entretanto, penso que podemos dizer que Kardec é para
os espíritas uma figura praticamente não revista e não contextualizada, ou seja, os espíritas
brasileiros não estão dispostos a repensar seu líder “moderno”. Falo isso a partir da minha
própria vivência entre vários espaços espíritas brasileiros.

A Paratopia do Discurso Espírita Kardecista

No artigo “Ciência, Religião E Filosofia: A Paratopia Do Discurso Espírita


Kardecista” (2019) Anna Flora Brunelli e Tamiris Vianna da Silva sugerem que a religião
espírita é paratópica. Essa conceituação se dá, principalmente, pela marcação feita por Kardec
de que a religião que ele estava codificando, ou seja, trazendo ao mundo naquele momento, se
dava na perfeita intersecção entre a ciência e a religião. As autoras supracitadas veem essa
localização de forma problemática e adotam a perspectiva da análise do discurso de linha
francesa, com ênfase nas reflexões de Maingueneau (2006a, 2006b, 2010, 2015) sobre a noção
de discurso constituinte da religião espírita kardecista.

Não se trata do caso de um indivíduo, mas de uma condição de possibilidade para o


campo filosófico, literário etc., que não é a ausência de qualquer lugar, mas uma difícil
negociação entre o lugar e o não-lugar, uma localização parasitária, que vive da
própria impossibilidade de se estabilizar. Não que a filosofia ou a literatura tenham
um funcionamento incomensurável em relação a outros domínios de atividade (pode-

3
http://www.oconsolador.com.br/ano5/209/alexandre_fonseca.html/. Acesso em: 15/10/2022.
4
Martinho Lutero (1483-1546) foi um sacerdote católico alemão, o principal personagem da Reforma Protestante
realizada na Europa no século XVI, que contestava o poderio da Igreja Católica, o comércio de cargos eclesiásticos,
a venda de dispensas, de indulgências e de relíquias sagradas. Fonte:
<https://www.ebiografia.com/martinho_lutero/>. Acesso em: 23/11/2022.
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se falar aí também de estratégias de promoção, de carreiras, etc.), mas, se não


quisermos ficar aquém desse excesso que os funda, não podemos considerá-los como
uma atividade qualquer. Sem “localização” não há instituições que permitam legitimar
e gerir a produção e o consumo de obras; mas, sem “des-localização”, não há
verdadeira obra, porque é uma força que excede toda a sociedade que confere sua
legitimidade aos que falam do interior dos discursos constituintes.
(MAINGUENEAU, 2006a, p. 41-2 apud BRUNELLI e SILVA, 2019, p. 04).

Se esvaindo de ocupar lugares clássicos e dicotômicos como ciência e religião, as


autoras sugerem que espiritismo ocupa um lugar paratópico.

Nesses termos, podemos dizer que por meio dessa condição paratópica, o discurso
espírita kardecista simula pertencer e, ao mesmo tempo, não se subordinar à lógica de
cada um desses campos, lembrando que é próprio de toda condição paratópica
possibilitar a ascensão a um certo lugar e, ao mesmo tempo, proibir um pertencimento
já estabelecido. Podemos dizer, então, que a paratopia funda um novo lugar sobre
espaços anteriormente ocupados, o que faz recusando ancoragens tradicionais, já
estabelecidas pelas práticas discursivas das quais se vale. (BRUNELLI e SILVA,
2019, p.12).

A Questão Da Raça Negra Para Kardec

A pressão pela aceitação “científica” de sua “descoberta”, pode ter custado para
Kardec visões que poderiam ter resistido melhor ao tempo e ao próprio aprimoramento da
ciência, principalmente das ciências biológicas. Algumas de suas asserções resistiram muito
mal às décadas, como quando Kardec fez as seguintes afirmações na Revista Espírita de 1862,
no artigo “Frenologia espiritualista e espírita - Perfectibilidade da raça negra”
Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos. Como Espíritos,
são inquestionavelmente uma raça inferior, isto é, primitiva. São verdadeiras crianças
às quais muito pouco se pode ensinar. Mas, por meio de cuidados inteligentes é sempre
possível modificar certos hábitos, certas tendências, o que já representa um progresso
que levarão para outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um
envoltório de melhores condições. Trabalhando por sua melhoria, trabalha-se menos
pelo seu presente que por seu futuro e, por pouco que se consiga, para eles é sempre
uma aquisição. Cada progresso é um passo à frente que facilita novos progressos.

Nessa passagem, Kardec se revela um homem branco europeu de seu tempo. Anos
depois desse artigo Allan Kardec escreve uma nota no capítulo XI, item 43, do livro A Gênese
de 1868:

Quando, na Revista Espírita de janeiro de 1862, publicamos um artigo sobre a


“interpretação da doutrina dos anjos decaídos”, apresentamos essa teoria como
simples hipótese, sem outra autoridade afora a de uma opinião pessoal controversível,
porque nos faltavam então elementos bastantes para uma afirmação peremptória.
Expusemo-la a título de ensaio, tendo em vista provocar o exame da questão decidido,
porém, a abandoná-la ou modificá-la, se fosse preciso. Presentemente, essa teoria já
passou pela prova do controle universal. Não só foi bem aceita pela maioria dos
espíritas, como a mais racional e a mais concorde com a soberana Justiça de Deus,
mas também foi confirmada pela generalidade das instruções que os Espíritos deram
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sobre o assunto. O mesmo se verificou com a que concerne à origem da raça adâmica.
(A Gênese, cap. XI, item 43, Nota, p. 292.)

Pode parecer que Kardec estava se retratando. Seis anos depois de afirmar que a raça
negra era inferior a raça branca, contudo ele não estava. Ele estava reafirmando sua teoria.

Agora devemos tentar entender do que se trata a raça adâmica:

Segundo o ensinamento das Espíritos, é uma dessas grandes imigrações – ou, como
queiram, uma dessas colônias espirituais vindas de uma outra esfera -, que deu
nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão e, por essa razão, denominada Raça
Adâmica. A Raça Adâmica, mais avançada do que aquelas que tinham precedido na
Terra, é a mais inteligente; é ela que conduziu todas as outras ao progresso. (A Gênese,
cap. VIII, item 43, Nota, p. 292.)

Ou seja, o espiritismo todo se baseia na noção de raças superiores e raças inferiores.


Sendo a raça branca da época de Kardec superior a raça negra.

A “Evolução” do Espírito

Nas minhas idas à diversos Centros Espíritas por todo o Brasil a “evolução do espírito”
é um padrão discursivo. Ou seja, prega-se que existem humanos mais evoluídos que outros.
Certa vez, um palestrante, que já era um senhor de idade referiu-se à habitantes de “tribos
africanas” como desevoluídos e brutos. Ou seja, valores do século XIX ainda se mantém, mas
com roupagens contemporâneas.
Em outra vez, me lembro de ouvir um grande autor de livros espíritas, que fala sobre
as diversas reencarnações, e, os traumas que levamos de uma vida para a outra, dizer que era
mais fácil reencarnar na Índia. Este autor disse que em países “ocidentais” como o Brasil e
Estados Unidos existe uma espécie de fila para reencarnar, de maneira que, em países como a
Índia é mais fácil reencarnar. Ou seja, podemos admitir que a própria vida em países como a
Índia se torna mais descartável, pois ela é de mais fácil acesso.
Em um controverso artigo “O Espiritismo Sob A Perspectiva Dos Estudos E Da
Conversão Do Médico Cesare Lombroso (1857-1909)” publicado na revista CLIO: Revista de
Pesquisa Histórica em 2020, Elaine Maria Geraldo Dos Santos e José Adelson Lopes Peixoto
contam que o médico italiano Cesare Lombroso também se impressionou com fatos espirituais
e sobre eles versou doze anos de estudos. No final de tais estudos, Lombroso se converteu como
espírita.
Ao converter-se, percebemos que, um dos nomes mais relevantes da ciência forense
duvidou, investigou e comprovou sob a sua ótica, a ―veracidade das manifestações
mediúnicas. Lombroso contribuiu com uma abordagem metafísica sobre o
Espiritismo, ao problematizar cientificamente os fenômenos espirituais, inaugurando
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um novo olhar sobre a doutrina, que, atualmente, possui uma base científica.
(SANTOS e PEIXOTO, p. 544, 2020).

Assim, percebemos que Lombroso, segundo os autores, contribuiu para reforçar o


aspecto científico do espiritismo. Contudo, o que realmente impressiona neste artigo é a falta
de debate sobre ter o fenótipo humano como vinculador à violência e outros comportamentos
considerados “incivilizados”. Não pretendemos aqui adentrar nas teorias de Lombroso, contudo
os autores chegam a defender o autor, dizendo que ele deu base a Criminologia Forense.

Esmiuçando a origem do comportamento antissocial, Cesare Lombroso constatou


que, poderia detectar no fenótipo dos indivíduos, a predisposição inata ao desvio de
conduta. Essa teoria conquistou cientistas pelo mundo, dando base a Criminologia
Forense e contribuindo para que construísse uma carreira científica prestigiada.
Entretanto, em decorrência dos seus experimentos com médiuns, ele foi alvo de
críticas pelos seus pares. Ao analisarmos suas obras, verificamos transformações do
seu pensamento quanto à religião, com destaque para o Espiritismo (SANTOS e
PEIXOTO, p. 542, 2020).

É espantoso que os autores não tenham conseguido superar Lombroso e sua dita
Criminologia Forense. Mais espantoso ainda é que esse texto foi publicado em 2020. É preciso
superar qualquer noção que atrele comportamentos criminosos aos fenótipos humanos. Com
seus estudos, o que Lombroso fez foi tentar atrelar o corpo negro à comportamentos violentos.
O que consterna nesse artigo dos autores Santos e Peixoto é o descuido com a palavra.
Quando eles dizem que Lombroso detectava nos fenótipos5 dos indivíduos a predisposição inata
ao desvio de conduta, eles praticamente passam por cima de grande parte da luta antropológica
dentro do contexto político social. Que é o desentrelaçamento entre o fenótipo humano e seu
comportamento.
O artigo O espiritismo sob a perspectiva dos estudos e da conversão do médico Cesare
Lombroso (1857-1909) (2020), vem muito a calhar com a discussão aqui proposta, pois vejam,
os autores estão exaltando justamente a validação científica que o “prestigioso” Lombroso deu
ao espiritismo ao estudá-lo e, “comprová-lo”. Contudo, ao elogiar Lombroso, Santos e Peixoto
(2020) em um jogo de palavras infelizes, acabam por trazer à tona a camada racista do
espiritismo, encontrada tanto nos estudos gerais de Lombroso, quanto nos escritos de Kardec.
Enquanto a questão negra não for assumida pela sociedade brasileira como um todo:
negros, brancos e nós todos juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma
práxis de conscientização da questão da discriminação racial nesse país, vai ser muito
difícil no Brasil, chegar ao ponto de efetivamente ser uma democracia racial
(GONZALES, 2020, p. 223).

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Característica aparente ou observável de um indivíduo, determinada pela interação de sua herança genética
(genótipo) e pelas condições ambientais. Fonte: Dicionário Michaelis. <https://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/fenotipo>. Acesso em: 11/09/2023.
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É importante encarar o racismo de forma contundente. Mesmo que os discursos


racistas estejam em livros clássicos ou sagrados, como é o caso dos escritos de Allan Kardec
para os espíritas.

Incontestabilidade Religiosa

Considero, que para nós humanos, não há verdade maior do que as ditas nos templos
sagrados, pois, espera-se que os profetas ali tenham ligações diretas com Deus. Ou seja, quando
nós, seres humanos, vamos em busca de Deus em um templo sagrado, esperamos nada menos
do que respostas verdadeiras, verdades essas que aprendemos a não contestar.
Assim, quando saímos em busca espiritual, e, vamos a algum templo sagrado, seja ele
uma mesquita, uma igreja, um centro espírita, um terreiro, enfim... qualquer ponto de encontro
com o divino, buscamos respostas para as nossas diversas perguntas.

A estranha opacidade de certos acontecimentos empíricos, a tola falta de sentido de


uma dor intensa e inexorável e a enigmática inexplicabilidade da flagrante iniquidade,
tudo isso levanta a suspeita inconfortável de que talvez o mundo, e portanto, a vida
do homem no mundo, não tenha de fato uma ordem genuína qualquer – nenhuma
regularidade empírica, nenhuma forma emocional, nenhuma coerência moral. A
resposta religiosa a essa suspeita é sempre a mesma: a formulação, por meio de
símbolos, de uma imagem de tal ordem no mundo que dará conta e até celebrará as
ambiguidades percebidas, os enigmas e os paradoxos da experiência humana. O
esforço não é para negar o inegável – que existem acontecimentos inexplicados, que
a vida machuca ou que a chuva cai sobre o injusto – mas para negar que existam
acontecimentos inexplicáveis, que a vida é insuportável e que a justiça é uma miragem
(GEERTZ, 1978, p. 123).

Assim, considero que o humano procura respostas e não novas perguntas ao ir em


algum templo religioso. Assim, tendemos a não fazer contextualizações do que nos é sugerido
por líderes religiosos, como foi, e é, a ideia mitológica, contudo, controversa, de Allan Kardec.
Weber (1999) nos mostra como as religiões são construções histórico-sociais. E o
antropólogo Stanley Jeyaraja Tambiah (1985) faz algumas importantes considerações de como
as religiões ultrapassam os templos religiosos e chegam no convívio social.
Os rituais que são construídos em torno do caráter sagrado de constituições e de
estatutos legais ou de guerras de independência e de libertação, que são devotados à
sua preservação como verdades sacralizadas ou à sua invocação como grandes
eventos, têm (para adotarmos um termo de Moore e Myerhoff) um “papel
tradicionalizante” e, neste sentido, podem partilhar aspectos constitutivos similares
com os rituais devotados aos deuses ou aos ancestrais. Não é de se surpreender que
um sociólogo americano – Bellah – tenha cunhado o termo “religião civil” para
caracterizar algumas cerimônias nacionais americanas. (TAMBIAH, 1985, p. 130,
tradução nossa)

Assim, podemos pensar que o que nos é ensinado nos templos religiosos, tem impacto
direto na sociedade.
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Considero que Kardec fundou uma espécie de racismo calcado no evolucionismo


científico dentro de sua codificação. Pois, como vimos através do exemplo da “raça adâmica”,
há, segundo o espiritismo, entre os humanos, raças superiores e raças inferiores. Contudo,
também podemos usar a ideia de posição paratópica do espiritismo, para concluir que o único
indício de Kardec para afirmar que a raça negra é inferior à raça branca são as palavras dos
“espíritos superiores”. Assim, Kardec usa um recurso malquisto pelas ciências de sua época: o
discurso de um interlocutor e não provas físicas ou testes mais relacionados à própria ideia de
racionalismo e experimentação. De maneira que Kardec posicionou seu discurso racista na
palavra, e, não na prova científica.

Desdobramentos mais recentes

Em 2006, o Ministério Público Federal da Bahia recebeu uma reclamação contra o


racismo dentro das obras de Kardec. À época, o MP costurou junto a Federação Espírita
Brasileira um Ajustamento de Conduta (TAC) para incluir notas explicativas sobre o assunto
nos livros.
Contudo, várias dessas notas vinham ao final do livro, ou nos pequenos espaços ao fim
das páginas. E sabemos que isso é problemático, pois, dependendo da pressa em que lemos um
texto, não lemos as pequenas notas de rodapé.
Em maio de 2023 o grupo Espíritas à Esquerda laçaram o e-book Evangelho Segundo
o Espíritismo, Edição Antiracista (2023). Mariela Bier, uma das organizadoras do livro, em
entrevista à Chico Alves do site UOL pondera que:
Agora as observações estão no meio do texto, em um quadro com proposta de
interpretação, não há como não ver... A doutrina espírita é progressista na essência,
mas há uma ala que pensa que essas obras são intocáveis. Não vamos adulterar, mas
fazer a discussão mostrando que esses textos têm problemas e nós precisamos, sim,
avançar sobre eles... Não estamos alterando o que ele diz, mas a forma como diz.

Considerações Finais

Considero não ser acurado para a pesquisa de fôlego curto, como é este artigo, trazer
relatos que possam ser colhidos pessoalmente com espíritas no Brasil. Justamente por não ser
uma pesquisa estendida, devo ter bastante cuidado com asserções mais generalistas.
Contudo, o que podemos averiguar é que o espiritismo tem discursos racistas, quando
evoca por exemplo, o conceito de evolução e diz que povos africanos tem o espírito menos
evoluído.
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Assim, pretendi fazer reflexões de memórias e falas às quais eu mesmo estive inserido,
enquanto ouvinte. De maneira que, dentro do contexto socio-cultural, o espiritismo é mais uma
religião que esteve em construção durante os séculos e, relaciona-se diretamente e
desejosamente, com ideias europeias evolucionistas. Ou seja, o espiritismo é uma religião filha
de um ocidentalismo racionalista.
Sendo o evolucionismo espiritual uma requentada ideia para fazer diferença entre seres
humanos. A ideia de reencarnação não é nada nova para a humanidade, encontrada há muito
tempo em países orientais.
Assim, confrontada com outras teorias, a maioria aqui acadêmicas, a própria filosofia
espírita apresenta rachaduras. De maneira que ela mesma pode ser enquadrada como uma
construção, e, não como uma boa nova absoluta, como Kardec considerou diversas vezes em
seus escritos. De maneira geral, desnaturalização e problematização não são temas caros à
religião, chaves de análises essas, principalmente acadêmicas.
Considero a questão racial pouco discutida dentro dos Centros Espíritas e dos livros
espiritas, sendo a racionalidade, talvez, o problema mais pujante da tão propagada filosofia da
“evolução espiritual”. É importante que haja reflexões discursivas de como abordar tais
assuntos sem ser etnocêntrico e racista.
Kardec, em seus escritos, disse que sempre que houver confrontos entre a ciência e a
religião, os espíritas deveriam seguir a ciência. Assim, podemos concluir que, em teoria, o
espiritismo está disposto a fazer reflexões sobre seus posicionamentos discursivos.

Referências

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2023. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2023/03/05/grupo-
espirita-lanca-versao-antirracista-das-obras-de-allan-kardec.htm>. Acesso em: 12/09/2023.

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BRUNELLI, A. F., & da Silva, T. V. (2018). Ciência, Religião E Filosofia: A Paratopia Do


Discurso Espírita Kardecista. Cadernos De Linguagem E Sociedade, 20(1), 2–18.
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EMBAIXADA DA FRANÇA NO BRASIL. Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Herança


do século das Luzes, o lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" é invocado pela
primeira vez durante a Revolução Francesa... Embaixada Da França No Brasil (2017).
Disponível em: https://br.ambafrance.org/Liberdade-Igualdade-Fraternidade.

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FRAZÃO. Dilva. Martinho Lutero: Sacerdote católico alemão. EBIOGRAFIA, 2011.


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GEERTZ, Clifford. “Religião como Sistema Cultural”. In: A Interpretação das Culturas – 1ª
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WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1999.

Obras Consultadas

KARDEC, A. O livro dos médiuns. Trad. Herculano Pieres. 2 ed. São Paulo: LAKE, 1973.

KARDEC, A. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.

KARDEC, A. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 53 ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013a.

KARDEC, A. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 131. ed. 1. imp.
Brasília: FEB, 2013b.

Filmes

KARDEC. Direção: Wagner de Assis. Produtores: Eliana Soárez; Gustavo Baldoni: Maria
Amélia M. P. Leão Teixeira; Leonardo M. Barros; Renata Brandão. Rio de Janeiro:
Conspiração Filmes, 2019.

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