A EVOLUÇÃO DO ESPÍRITOl
A EVOLUÇÃO DO ESPÍRITOl
https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
Resumo
Acreditamos que em um quadro paradigmático, uma religião é representativa da face social de
seus seguidores. Neste artigo ensejamos pensar a questão racial no seio dos primórdios da
religião espírita, codificada por Allan Kardec. O espiritismo, na sua concepção, pensava em
interseccionar perfeitamente a ciência, a religião e a filosofia. Contudo, nessa fricção perigosa
de maneiras de olhar o mundo, Kardec foi por diversas vezes, e, reiteradamente, racista. No afã
de ser aceito pela comunidade científica do século XIX, Kardec alocou o evolucionismo racial
em seu discurso, e assim, terminou por conduzir a religião espírita à um lugar paratópico. Dessa
forma, o espiritismo como qualquer outra religião, se mostra estar baseado muito mais no
discurso, do que na ciência empírica. Tentaremos enquadrar Allan Kardec enquanto um homem
de seu tempo, e mais especificamente, um cientista de seu tempo. Se trata de uma pesquisa
qualitativa que tenta fazer um escaneamento geral de escritos de Allan Kardec. Juntamente com
relatos do próprio autor deste artigo, que está inserido no contexto espírita brasileiro ao longo
de muitos anos. Essa pesquisa só poderia ser feita dessa forma, pois, o racismo nem sempre se
apresenta nos cultos religiosos todos os dias e, nem sempre de forma clara. Devemos lembrar
que falas soltas nos cultos religiosos, que se não alocadas dentro do discurso acadêmico do
racismo, parecem não ser de grande contrariedade. Dessa forma, pensamos que os cultos
religiosos espíritas de hoje, ainda refletem à suas maneiras aprofundadas ou não, o propagado
evolucionismo racial de Allan Kardec.
Abstract
1
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (PPGA-
UFF). E-mail: [email protected]. https://orcid.org/0000-0002-8140-1804
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
intersect science, religion and philosophy. However, in this dangerous friction of ways of
looking at the world, Kardec was several times, and repeatedly, racist. To be accepted by the
scientific community of the 19th century, Kardec included racial evolutionism in his speech,
and thus ended up leading the spiritist religion to a paratopic place. In this way, spiritism, like
any other religion, appears to be based much more on discourse than on empirical science. This
is a qualitative research that attempts to carry out a general scan of Allan Kardec's writings. We
will try to frame Allan Kardec as a man of his time, and more specifically, a scientist of his
time. This is qualitative research that attempts to carry out a general scan of Allan Kardec's
writings. Along with reports from the author of this article, who has been part of the Brazilian
spiritist context for many years. This research could only be done in this way, as racism does
not always present itself in religious services every day, and not always clearly. We must
remember that loose speeches in religious services, which if not allocated within the academic
discourse of racism, do not seem to be of great contradiction. In this way, we think that today's
spiritualist religious cults still reflect, in their in-depth ways or not, the propagated racial
evolutionism of Allan Kardec.
A Religião Espírita
pesquisa entre Brasil e Senegal”, estudou sua própria religião, enquanto etnografou
missionários evangélicos originários do Sul e Sudeste do Brasil, enquanto estes faziam
“trabalhos voluntários” no nordeste brasileiro.
O trabalho mais icônico e importante dentro dos estudos de religiões ocidentais, com
certeza é o do sociólogo, jurista e economista alemão Max Weber em: “A Ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo”. Livro originalmente publicado em 1905, Weber vincula o
crescimento das ideias capitalistas, principalmente, às filosofias propagadas pela nova igreja
europeia: a protestante. De forma que uma nova maneira de encarar a vida surgia com os
ensinamentos cristãos reformados. O racionalismo weberiano se transformou em um novo
paradigma em como conceber as sociedades capitalistas, tendo a sociedade norte-americana
como exemplo de Estado-nacional mais importante.
No dia 18 de abril de 1857, foi publicado o primeiro livro de Allan Kardec O livro dos
Espíritos. Hippolyte Léon Denizard Rivail – verdadeiro nome de Kardec – se impressionou
com acontecimentos mediúnicos que pipocavam por toda cidade de Paris. Esses eventos
“sobrenaturais”, também tomavam as páginas de vários jornais da Europa e das Américas. As
ciências até então não podiam dar conta daqueles acontecimentos que não encontravam
explicações empíricas.
Kardec, então, entra em um estudo com intento acadêmico e, depois, espiritual, para
entender aqueles acontecimentos. Tudo isso está retratado no filme brasileiro “Kardec” (2019),
dirigido por Wagner de Assis para a Conspiração Filmes, com roteiro dele e L. G. Bayão.
Baseado no livro Kardec - A Biografia, escrito por Marcel Souto Maior (2019). É importante
ressaltar que Hippolyte Léon Denizard Rivail, o Kardec, é um intelectual de sua época, que já
havia publicado diversos livros antes de publicar “O Livro dos Espíritos” em 1857,
principalmente, livros sobre pedagogia.
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
Kardec decidiu ir até os médiuns da época, admirado pelas coisas que leu ou ouviu,
como: mesas que saíam do chão e giravam (levitação de objetos), aparição de pessoas mortas,
psicografia de pessoas conhecidas à parentes próximos. O pedagogo, então, se aprofunda em
uma empreitada para entender esses acontecimentos “inexplicáveis”.
Kardec, contudo, não foi o único intelectual de sua época que se impressionou com
esses fenômenos. O infame psiquiatra Cesare Lombroso também versou grande parte de seus
escritos sobre o espiritismo (SANTOS e PEIXOTO, p. 527, 2020). Voltaremos mais à frente a
falar de Lombroso.
Todo esse interesse intelectual europeu pode ser explicado pelo que Max Weber (1999)
chamou de ascetismo, evocado principalmente pelo protestantismo. Esse movimento que
penetrou inclusive o catolicismo, consistiu em tirar a magia da religião. O que tornou o humano
europeu em isolacionista e individualista. O indivíduo e Deus seriam suficientes para o culto
espiritual. Assim, os fenômenos vistos por Kardec na segunda metade do século XIX eram tidos
como novidades. Esse movimento, apesar de acelerado pelo protestantismo, também era uma
prática da igreja católica. Por exemplo, na Idade Média houve repressão às práticas mágicas,
como a bruxaria. Assim, podemos considerar as práticas mágicas que impressionaram Kardec
como fenômenos desconhecidos e negados pelo protestantismo. Já que a magia foi retirada do
culto cristão, como explica Max Weber.
Uma das passagens bíblicas mais utilizadas para garantir que os cultos cristãos podem
ser feitos através de um grupo muito pequeno, é com certeza a seguinte: “Pois, onde dois ou
três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei ali, no meio deles” (Evangelho de Mateus,
18,15-20).
Em uma das minhas idas à Sociedade Espírita Fraternidade – SEF de Niterói-RJ, o
palestrante do dia usou essa passagem para dizer que mesmo sozinho, um ser humano não
estaria sozinho, pois os espíritos desencarnados ali fariam companhia, formando o grupo de três
ou mais. Ou seja, a noção isolacionista do protestantismo também é parte das noções espíritas.
O espiritismo tem grande ligação com o iluminismo. Ambas filosofias são nascedouras
de um grande intento de intelectuais europeus de levar “luzes” a todos os povos, principalmente
durante o século XIX.
Associadas por Fénelon ao final do século XVII, as noções de liberdade, igualdade e
fraternidade são amplamente difundidas no século das Luzes. Durante a Revolução
Francesa, "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" faz parte dos inúmeros lemas
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
Kardec, em seu intento primevo, reforça a ideia de que procura lançar luzes sobre
aquilo que antes era tomado como demoníaco e/ou bruxaria. Contudo, mais do que se vincular
à citação anterior (cujo foco é na liberdade, igualdade e fraternidade), a passagem de Kardec a
seguir reforça mais uma outra dimensão do iluminismo: a racionalidade.
A força do Espiritismo consiste precisamente no apelo que ele faz à razão, nos
critérios lógicos com os quais ele alicerça uma visão geral do mundo, oferecendo a
chave racional, a partir da dedução do princípio espiritual presente em a Natureza,
para a compreensão dos problemas existenciais. Após o atrativo dos fenômenos
mediúnicos, quando a atenção se volta para o raciocínio e a reflexão, então a força
viva do Espiritismo começa a resplandecer diante dos olhares perscrutadores, porque
verificam que sua essência é antes filosófica, e sua importância está nas explicações
que pode oferecer dos problemas existenciais, do ser, do destino e da dor. Com efeito,
se não passasse de mero passatempo com fenômenos divertidos e estranhos, a
curiosidade haveria de acabar e o esquecimento seria seu fim. Contudo, o Espiritismo
se propaga precisamente porque superou o período, por assim dizer, fenomênico, e
adentrou no período filosófico onde se discuti e investiga, com base em seus
princípios, as mais graves questões da existência humana. Desse modo, sua força, sua
pujança, está naturalmente na filosofia que apresenta aos homens. Portanto, seu
campo de batalha é nas ideias, sua revolução é conceptual e, consequentemente,
cultural. Vem renovar, com base na razão e na Natureza, a noção do futuro espiritual,
tão caro a toda consciência, mesmo que se manifeste incrédula e indiferente, porque
sua realidade é independente das opiniões e desejos particulares2. (KARDEC, online,
apud BRUNELLI e SILVA, 2019, p. 12 e 13)
Nesta matéria, pretendemos chamar a atenção do leitor espírita para uma característica
que só o Espiritismo possui: o caráter duplo de uma revelação. O Espiritismo é o único
conhecimento humano que possui os caracteres divino e o científico de uma revelação.
E é isso que garante que nenhuma doutrina, teoria ou prática espiritualista tem o
mesmo grau de confiança que o Espiritismo tem![...] A origem do Espiritismo é
divina, isto é, ele foi revelado pelos Espíritos que não agem sem aprovação do Criador,
o que o torna uma revelação divina. Mas, como meio de elaboração, usando as
próprias palavras de Kardec [...] “o Espiritismo procede exatamente da mesma forma
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
Assim, podemos dizer que Allan Kardec está para o espiritismo assim como Martin
Lutero4 está para o protestantismo. Contudo, ao contrário da figura de Lutero, que foi
praticamente abandonada por seus atuais seguidores, a figura de Kardec é bastante retomada
nos ritos e, principalmente, seus livros. Entretanto, penso que podemos dizer que Kardec é para
os espíritas uma figura praticamente não revista e não contextualizada, ou seja, os espíritas
brasileiros não estão dispostos a repensar seu líder “moderno”. Falo isso a partir da minha
própria vivência entre vários espaços espíritas brasileiros.
3
http://www.oconsolador.com.br/ano5/209/alexandre_fonseca.html/. Acesso em: 15/10/2022.
4
Martinho Lutero (1483-1546) foi um sacerdote católico alemão, o principal personagem da Reforma Protestante
realizada na Europa no século XVI, que contestava o poderio da Igreja Católica, o comércio de cargos eclesiásticos,
a venda de dispensas, de indulgências e de relíquias sagradas. Fonte:
<https://www.ebiografia.com/martinho_lutero/>. Acesso em: 23/11/2022.
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
Nesses termos, podemos dizer que por meio dessa condição paratópica, o discurso
espírita kardecista simula pertencer e, ao mesmo tempo, não se subordinar à lógica de
cada um desses campos, lembrando que é próprio de toda condição paratópica
possibilitar a ascensão a um certo lugar e, ao mesmo tempo, proibir um pertencimento
já estabelecido. Podemos dizer, então, que a paratopia funda um novo lugar sobre
espaços anteriormente ocupados, o que faz recusando ancoragens tradicionais, já
estabelecidas pelas práticas discursivas das quais se vale. (BRUNELLI e SILVA,
2019, p.12).
A pressão pela aceitação “científica” de sua “descoberta”, pode ter custado para
Kardec visões que poderiam ter resistido melhor ao tempo e ao próprio aprimoramento da
ciência, principalmente das ciências biológicas. Algumas de suas asserções resistiram muito
mal às décadas, como quando Kardec fez as seguintes afirmações na Revista Espírita de 1862,
no artigo “Frenologia espiritualista e espírita - Perfectibilidade da raça negra”
Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos. Como Espíritos,
são inquestionavelmente uma raça inferior, isto é, primitiva. São verdadeiras crianças
às quais muito pouco se pode ensinar. Mas, por meio de cuidados inteligentes é sempre
possível modificar certos hábitos, certas tendências, o que já representa um progresso
que levarão para outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um
envoltório de melhores condições. Trabalhando por sua melhoria, trabalha-se menos
pelo seu presente que por seu futuro e, por pouco que se consiga, para eles é sempre
uma aquisição. Cada progresso é um passo à frente que facilita novos progressos.
Nessa passagem, Kardec se revela um homem branco europeu de seu tempo. Anos
depois desse artigo Allan Kardec escreve uma nota no capítulo XI, item 43, do livro A Gênese
de 1868:
sobre o assunto. O mesmo se verificou com a que concerne à origem da raça adâmica.
(A Gênese, cap. XI, item 43, Nota, p. 292.)
Pode parecer que Kardec estava se retratando. Seis anos depois de afirmar que a raça
negra era inferior a raça branca, contudo ele não estava. Ele estava reafirmando sua teoria.
Segundo o ensinamento das Espíritos, é uma dessas grandes imigrações – ou, como
queiram, uma dessas colônias espirituais vindas de uma outra esfera -, que deu
nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão e, por essa razão, denominada Raça
Adâmica. A Raça Adâmica, mais avançada do que aquelas que tinham precedido na
Terra, é a mais inteligente; é ela que conduziu todas as outras ao progresso. (A Gênese,
cap. VIII, item 43, Nota, p. 292.)
A “Evolução” do Espírito
Nas minhas idas à diversos Centros Espíritas por todo o Brasil a “evolução do espírito”
é um padrão discursivo. Ou seja, prega-se que existem humanos mais evoluídos que outros.
Certa vez, um palestrante, que já era um senhor de idade referiu-se à habitantes de “tribos
africanas” como desevoluídos e brutos. Ou seja, valores do século XIX ainda se mantém, mas
com roupagens contemporâneas.
Em outra vez, me lembro de ouvir um grande autor de livros espíritas, que fala sobre
as diversas reencarnações, e, os traumas que levamos de uma vida para a outra, dizer que era
mais fácil reencarnar na Índia. Este autor disse que em países “ocidentais” como o Brasil e
Estados Unidos existe uma espécie de fila para reencarnar, de maneira que, em países como a
Índia é mais fácil reencarnar. Ou seja, podemos admitir que a própria vida em países como a
Índia se torna mais descartável, pois ela é de mais fácil acesso.
Em um controverso artigo “O Espiritismo Sob A Perspectiva Dos Estudos E Da
Conversão Do Médico Cesare Lombroso (1857-1909)” publicado na revista CLIO: Revista de
Pesquisa Histórica em 2020, Elaine Maria Geraldo Dos Santos e José Adelson Lopes Peixoto
contam que o médico italiano Cesare Lombroso também se impressionou com fatos espirituais
e sobre eles versou doze anos de estudos. No final de tais estudos, Lombroso se converteu como
espírita.
Ao converter-se, percebemos que, um dos nomes mais relevantes da ciência forense
duvidou, investigou e comprovou sob a sua ótica, a ―veracidade das manifestações
mediúnicas. Lombroso contribuiu com uma abordagem metafísica sobre o
Espiritismo, ao problematizar cientificamente os fenômenos espirituais, inaugurando
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
um novo olhar sobre a doutrina, que, atualmente, possui uma base científica.
(SANTOS e PEIXOTO, p. 544, 2020).
É espantoso que os autores não tenham conseguido superar Lombroso e sua dita
Criminologia Forense. Mais espantoso ainda é que esse texto foi publicado em 2020. É preciso
superar qualquer noção que atrele comportamentos criminosos aos fenótipos humanos. Com
seus estudos, o que Lombroso fez foi tentar atrelar o corpo negro à comportamentos violentos.
O que consterna nesse artigo dos autores Santos e Peixoto é o descuido com a palavra.
Quando eles dizem que Lombroso detectava nos fenótipos5 dos indivíduos a predisposição inata
ao desvio de conduta, eles praticamente passam por cima de grande parte da luta antropológica
dentro do contexto político social. Que é o desentrelaçamento entre o fenótipo humano e seu
comportamento.
O artigo O espiritismo sob a perspectiva dos estudos e da conversão do médico Cesare
Lombroso (1857-1909) (2020), vem muito a calhar com a discussão aqui proposta, pois vejam,
os autores estão exaltando justamente a validação científica que o “prestigioso” Lombroso deu
ao espiritismo ao estudá-lo e, “comprová-lo”. Contudo, ao elogiar Lombroso, Santos e Peixoto
(2020) em um jogo de palavras infelizes, acabam por trazer à tona a camada racista do
espiritismo, encontrada tanto nos estudos gerais de Lombroso, quanto nos escritos de Kardec.
Enquanto a questão negra não for assumida pela sociedade brasileira como um todo:
negros, brancos e nós todos juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma
práxis de conscientização da questão da discriminação racial nesse país, vai ser muito
difícil no Brasil, chegar ao ponto de efetivamente ser uma democracia racial
(GONZALES, 2020, p. 223).
5
Característica aparente ou observável de um indivíduo, determinada pela interação de sua herança genética
(genótipo) e pelas condições ambientais. Fonte: Dicionário Michaelis. <https://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/fenotipo>. Acesso em: 11/09/2023.
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
Incontestabilidade Religiosa
Considero, que para nós humanos, não há verdade maior do que as ditas nos templos
sagrados, pois, espera-se que os profetas ali tenham ligações diretas com Deus. Ou seja, quando
nós, seres humanos, vamos em busca de Deus em um templo sagrado, esperamos nada menos
do que respostas verdadeiras, verdades essas que aprendemos a não contestar.
Assim, quando saímos em busca espiritual, e, vamos a algum templo sagrado, seja ele
uma mesquita, uma igreja, um centro espírita, um terreiro, enfim... qualquer ponto de encontro
com o divino, buscamos respostas para as nossas diversas perguntas.
Assim, podemos pensar que o que nos é ensinado nos templos religiosos, tem impacto
direto na sociedade.
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
Considerações Finais
Considero não ser acurado para a pesquisa de fôlego curto, como é este artigo, trazer
relatos que possam ser colhidos pessoalmente com espíritas no Brasil. Justamente por não ser
uma pesquisa estendida, devo ter bastante cuidado com asserções mais generalistas.
Contudo, o que podemos averiguar é que o espiritismo tem discursos racistas, quando
evoca por exemplo, o conceito de evolução e diz que povos africanos tem o espírito menos
evoluído.
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
Assim, pretendi fazer reflexões de memórias e falas às quais eu mesmo estive inserido,
enquanto ouvinte. De maneira que, dentro do contexto socio-cultural, o espiritismo é mais uma
religião que esteve em construção durante os séculos e, relaciona-se diretamente e
desejosamente, com ideias europeias evolucionistas. Ou seja, o espiritismo é uma religião filha
de um ocidentalismo racionalista.
Sendo o evolucionismo espiritual uma requentada ideia para fazer diferença entre seres
humanos. A ideia de reencarnação não é nada nova para a humanidade, encontrada há muito
tempo em países orientais.
Assim, confrontada com outras teorias, a maioria aqui acadêmicas, a própria filosofia
espírita apresenta rachaduras. De maneira que ela mesma pode ser enquadrada como uma
construção, e, não como uma boa nova absoluta, como Kardec considerou diversas vezes em
seus escritos. De maneira geral, desnaturalização e problematização não são temas caros à
religião, chaves de análises essas, principalmente acadêmicas.
Considero a questão racial pouco discutida dentro dos Centros Espíritas e dos livros
espiritas, sendo a racionalidade, talvez, o problema mais pujante da tão propagada filosofia da
“evolução espiritual”. É importante que haja reflexões discursivas de como abordar tais
assuntos sem ser etnocêntrico e racista.
Kardec, em seus escritos, disse que sempre que houver confrontos entre a ciência e a
religião, os espíritas deveriam seguir a ciência. Assim, podemos concluir que, em teoria, o
espiritismo está disposto a fazer reflexões sobre seus posicionamentos discursivos.
Referências
ALVES, Chico. Grupo espírita lança versão antirracista das obras de Allan Kardec. UOL,
2023. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2023/03/05/grupo-
espirita-lanca-versao-antirracista-das-obras-de-allan-kardec.htm>. Acesso em: 12/09/2023.
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de Padre Antônio Pereira de Figueredo. Rio de
Janeiro: Encyclopaedia Britannica, 1980. Edição Ecumênica.
RODRIGUES Jr, Gilson José. Imagens humanitárias do Sertão e da África: a atuação dos
“braços sociais” do Caminho da Graça em Tuparetama e Dakar. Revista de estudos e
investigações antropológicas, v. 3, p. 119-153, 2016.
SANTOS, Elaine Maria Geraldo dos; PEIXOTO, José Adelson Lopes. O espiritismo sob a
perspectiva dos estudos e da conversão do médico Cesare Lombroso (1857-1909). Recife,
PE. CLIO: Revista Pesquisa Histórica, Vol. 38, Nº. 1 (Jan-Jun.), 2020. págs. 526-547.
TAMBIAH, Stanley. “A Performative Approach to Ritual” In: Culture, Though and Social
Action: An Anthropological Perspective. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1985.
SciELO Preprints - This document is a preprint and its current status is available at: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.8049
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1999.
Obras Consultadas
KARDEC, A. O livro dos médiuns. Trad. Herculano Pieres. 2 ed. São Paulo: LAKE, 1973.
KARDEC, A. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
KARDEC, A. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 53 ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013a.
KARDEC, A. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 131. ed. 1. imp.
Brasília: FEB, 2013b.
Filmes
KARDEC. Direção: Wagner de Assis. Produtores: Eliana Soárez; Gustavo Baldoni: Maria
Amélia M. P. Leão Teixeira; Leonardo M. Barros; Renata Brandão. Rio de Janeiro:
Conspiração Filmes, 2019.
The Ethics Committee Approval Statement & The conflict of interests statement
The authors whose names are listed immediately below certify that they have NO affiliations
with or involvement in any organization or entity with any financial interest (such as honoraria;
educational grants; participation in speakers’ bureaus; membership, employment,
consultancies, stock ownership, or other equity interest; and expert testimony or patent-
licensing arrangements), or non-financial interest (such as personal or professional
relationships, affiliations, knowledge or beliefs) in the subject matter or materials discussed in
this manuscript.
The authors declare that they are aware that they are solely responsible for the content of the preprint and
that the deposit in SciELO Preprints does not mean any commitment on the part of SciELO, except its
preservation and dissemination.
The authors declare that the necessary Terms of Free and Informed Consent of participants or patients in
the research were obtained and are described in the manuscript, when applicable.
The authors declare that the preparation of the manuscript followed the ethical norms of scientific
communication.
The authors declare that the data, applications, and other content underlying the manuscript are
referenced.
The authors declare that the research that originated the manuscript followed good ethical practices and
that the necessary approvals from research ethics committees, when applicable, are described in the
manuscript.
The authors declare that once a manuscript is posted on the SciELO Preprints server, it can only be taken
down on request to the SciELO Preprints server Editorial Secretariat, who will post a retraction notice in its
place.
The authors agree that the approved manuscript will be made available under a Creative Commons CC-BY
license.
The submitting author declares that the contributions of all authors and conflict of interest statement are
included explicitly and in specific sections of the manuscript.
The authors declare that the manuscript was not deposited and/or previously made available on another
preprint server or published by a journal.
If the manuscript is being reviewed or being prepared for publishing but not yet published by a journal, the
authors declare that they have received authorization from the journal to make this deposit.
The submitting author declares that all authors of the manuscript agree with the submission to SciELO
Preprints.