ÉTICA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Profº. Francisco Reis
PARTE 1
INTRODUÇÃO À ÉTICA
Conceitos Elementares
Seja bem-vindo a mais um componente curricular Relações Interpessoais e ética e nesta unidade temos
como objetivo, conhecer os conceitos fundamentais das discussões no campo da ética, tais como: ética,
moral, princípios e valores; normas, regras e leis; senso e consciência moral; responsabilidade; sujeito
consciente; agente moral ativo e agente passivo.
Para começar, eu trouxe uma tirinha do Calvin e Haroldo e quero te convidar a refletir sobre o que está
acontecendo com ele. Posso contar com a sua ajuda???
Quem atribui valor aos princípios é cada indivíduo, por isso questionamos: qual o valor do “êxito” de Kalvin, caso tivesse colado
na prova, se ninguém mais do que ele mesmo saberia ser uma falcatrua?
O que aconteceu com Calvin, pode acontecer com outras pessoas?
Quando ele fica com dúvida em colar ou não, posso dizer que ele tem ética? Vá ao conceito de Senso Moral e Consciência Moral,
tente entender a atitude de Calvin a partir destes dois conceitos que estão logo abaixo.
Qual o fim das ações humanas?
O bem escolhido por um indivíduo e/ou por uma comunidade – sociedade.
Podemos afirmar que o fim almejado por Calvin quando cogitou a possiblidade de colar na sua prova era
um Bem? Era a melhor coisa que ele poderia fazer para ele mesmo?
Vamos refletir juntos sobre o que aconteceu com Calvin, para isso eu trouxe conceitos da filosofia presentes
no cotidiano
ÉTICA
É a dimensão humana formada pelas forças que motivam ou que causam a conduta humana.
• é conjunto de princípios e
valores (motivadores e
Esclarecer causas) que determinam a
ação humana.
• é uma ciência que trata das
Podemos motivações dos seres
humanos para agir de uma
dizer forma e não de outra.
Então, podemos,
também, dizer que a
Ética é a ciência ou
dimensão humana do
BEM para o qual as
ações humanas devem
ser orientadas, e dos
MEIOS pelos quais
devem atingir este fim (O
BEM).
MORAL
É o conjunto de NORMAS que orientam as ações humanas.
Vamos lá!! Esclarecendo:
Ética Moral
• é um conjunto de • é o conjunto de
causas do agir normas, ou seja, a
humano, ou seja, moral se coloca
conjunto de entre os valores e o
princípios e valores indivíduo agente.
• é abstrata • é prática
Lembremos do nosso amiguinho Calvin. Podemos dizer que sua convicção moral é bem fragilizada, isso porque os seus princípios
não são tão fortes. Vejamos, então, ele tem senso moral, sabe o que é certo e o que é errado, mas não aderiu com força aos
princípios. Mas o princípio já aparece para ele, por exemplo, o princípio honestidade intelectual; ele apenas está na dúvida se vale
a pena cumprir a norma moral, prática que é, deve se apresentar na consciência dele da seguinte forma: Calvin, seja honesto, não
cole, assume seu fracasso, seja responsável pela atitude preguiço de não ter se preparado para a prova.
Moral e Ética é a mesma coisa??? Não é, não!!
A Ética é abstrata, enquanto a Moral é prática. Por exemplo, honestidade é um princípio, enquanto – seja
honesto! É uma regra moral, prática, portanto.
Ficou mais claro?
Então, podemos afirmar que a Ética é a causa ou o que contém os motivos das regras morais?
- Sim, exatamente isso. A Ética é a inspiração para a formulação e adesão às regras morais.
PRINCÍPIOS
Ponto de partida e fundamento de um processo qualquer. Veja que temos dois significados, "ponto de
partida" e "fundamento" ou "causa".
Vamos lembrar do conceito de ÉTICA! Reveja se for necessário. Lembre-se de que a ÉTICA é o conjunto de
motivadores, das causas das ações, pois é, esses motivadores e causas são os princípios. OU seja, os
princípios são o ponto de partida e o fundamento das ações humanas. Veja o que podemos dizer dos
Valores.
Para falar dos princípios, vamos pensar, novamente, no Calvin e a sua dúvida cruel!
Se Calvin ficou tão angustiado com a dúvida entre o que fazer, e se a ação dele, colar ou não colar, tinha um
fundamento motivador, ou seja, um princípio, talvez em processo de transformação em valor, poderíamos supor qual
seria esses princípios?
Sim, talvez o princípio da honestidade o perturbou tanto, até perder o tempo necessário para colar; talvez o princípio
de parecer bom aluno a qualquer custo, o que podemos denominar isso de oportunismo; pois o Calvin não aceitaria
que seu motivador fosse denominado desonestidade, não é verdade?
Que outros princípios você identifica na ética do Calvin?
Valor é o que
Princípios são o ponto determina a preferência
Ética conjunto
de partida e o e a escolha, é o que
motivadores, das
fundamento das ações importa, é o que se faz,
causas das ações
humanas pela nossa escolha,
importante.
VALORES
Valor indica utilidade e o preço de coisas materiais, e, também a dignidade ou o mérito das pessoas.
Vamos, mais uma vez, pensar no valor da ação do Calvin! Por que era tão importante para o Calvin tirar uma nota boa na prova
que para tanto ele até se arriscaria a colar? Em seguida, cabe também nos perguntarmos: - por que ele não colou antes mesmo
de se submeter às dúvidas quanto à validade de tirar nota boa como fruto desonesto da cola?
Você não acha que no fundo mesmo estava em jogo o mérito e a dignidade das ações e do próprio Calvin? Pois é, eu penso que
sim, e é por isso que podemos afirmar que os valores estavam mexendo com a cabeça do Calvin.
Neste sentido, pense em dois exemplos:
1) alguma coisa da qual muitas pessoas estejam necessitando em um dado momento em que a oferta desta
coisa ou objeto seja escasso; e
2) pense em alguns valores consolidados socialmente, em seguida, pense em quanto mérito ou dignidade e
respeito é atribuído às pessoas que são portadoras destes valores.
Note que no segundo exemplo estamos nos remetendo ao campo da Ética, pois estamos chamando de
VALOR os motivadores de ações humanas próximos do BEM que se busca alcançar pelas ações humanas.
Atente-se ao próximo tópico, continuaremos esta conversa lá.
PRINCÍPIOS E VALORES
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Ética, os princípios se transformam em
Pensemos agora nestes dois conceitos valores no momento em que a gente
como uma única coisa, ou como uma escolhe o princípio para guiar nossas
única realidade. Neste caso, pense em ações, porque no momento da escolha
Princípios e Valores como sendo os de um princípio este passa a importar
dois lados de uma “moeda”. para nós, passa a ser importante, a ter
ou a ser um VALOR
Princípio vira valor porque a gente o
escolhe. Somos nós que damos valor
ao princípio ao elegê-lo para guiar
nosso agir, nosso modo de ser no
mundo.
PARA REFLETIR
Existe algum valor que não depende de nossas necessidades?
Algum valor cuja escolha se dá pelo há nele mesmo e não em quem o escolhe?
Existe algum fundamento fora de nós para escolher algo?
SENSO MORAL
É a capacidade de
identificar critérios (no
sentido de valor, ou
seja, princípios
escolhidos por outras
pessoas para guiarem
suas ações) para
avaliar condutas de
outras pessoas.
Recordemos dois tipos de sentimos gerados a partir das condutas alheias:
1) quando admiramos pessoas por notadamente se manifestarem justas, solidárias, altruístas, grandeza
de espírito, empáticas.
2) quando nos indignamos, nos sentimos aflitos e angustiados diante de chacinas, do problema da fome,
das várias formas de injustiça: pobreza, fome, linchamentos, assassinatos brutais, estupros, genocídio e
torturas.
Então, SENSO MORAL é isso: a partir da identificação de valores e anti-valores visualizar se uma ação foi boa
ou má, se ficou mais próxima ou mais distante do Bem ao qual deve buscar as ações humanas.
CONSCIÊNCIA MORAL
A Consciência Moral Ora, a Consciência
se dá como um passo Moral ultrapassa os
mais firme quanto na sentimentos morais –
identificação e indignação, revolta,
escolha dos princípios aflição e angústia –,
que se tornarão com a Consciência
valores para cada Moral passamos da
indivíduo e para cada dúvida sobre o que
sociedade. fazer e nos impõe a
agir de uma tal forma
a expressar os valores
que escolhemos.
SENSO E CONSCIÊNCIA MORAL
Lembra que acima indiquei que você viesse até estes conceitos? Pois é, Calvin demonstrou muito claramente que diante da
exigência da moral para que não colasse, ele ficou perturbado com dúvidas se cumpriria ou não esta norma moral, isso porque
ele tinha senso moral; por outro lado, se ele tivesse a convicção íntima de que não deveria colar, esta possibilidade nem aparecia
para ele, ou seja, ele teria consciência moral.
Em resumo: o Senso Moral nos coloca diante de dúvida quanto ao que fazer; enquanto a Consciência
Moral nos põe em ação em dúvida.
Na sua opinião, a atitude de Calvin foi certa ou errada?
Essa pergunta somente faz sentido, aliás, ela somente existe entre os seres humanos. Para os seres os humanos é possível a
emissão de juízo de fato; e, também é possível a emissão de juízo de valor (veja abaixo que se diz sobre estes tipos de juízos).
JUÍZO DE FATO
O termo “juízo” pode ser substituído por “enunciado”, então, vamos entender o que é um enunciado de
um fato, isto é o que estamos chamando aqui de JUÍZO DE FATO.
é a enunciação de um
acontecimento qualquer
desprovido de qualquer dizem o que as coisas são,
envolvimento subjetivo, ou como são e por que são. Os
seja, sem nenhuma Não é o juízo próprio da
atribuição de VALORM, ou juízos de fato estão
Moral, pois esta se
melhor, desprovido de presentes em nossa vida
fundamenta nos valores,
qualquer valoração. cotidiana, mas também em
como já dissemos.
Exemplos: Está chovendo. áreas de saber e nas
O homem morreu. O rio ciências
transbordou.
JUÍZO DE VALOR
Este é o tipo de enunciado próprio da moral, ou seja, os juízos de valor revelam os motivadores, os princípios
das ações humanas. Estes enunciados assim são classificados porque estão, por sua própria natureza,
marcados pelas subjetividades de quem os emitem. Eles trazem avaliações dos fatos, e ao avalia-los os
associam aos valores escolhidos pelos indivíduos.
Exemplos:
Ao enunciar “Fulano se apropriou de algo que pertence a Beltrano”, revela-se uma avaliação desse fato, uma vez que registra uma
atitude inadequada.
Isso seria diferente, se enunciasse “algo pertence a Beltrano ou a Fulano”, não há avaliação neste enunciado, não há valor
envolvido, apenas descrição de um fato.
Outro enunciado ou juízo de fato seria: “Sicrano é operador de microcomputador”, já o enunciado ou juízo de valor poderia ser:
“Sicrano é um bom operador de microcomputador”.
OS CONSTITUINTES DA EXISTÊNCIA ÉTICA
• Para que haja conduta ética é preciso
que exista o agente consciente, isto é,
aquele que conhece a diferença entre
Agente bem e mal, certo e errado, permitido e
proibido, virtude e vício
consciente • Sem capacidade para conhecer estes
elementos e até mesmo para confirmá-
los, o sujeito não será submetido ao
julgamento ético-moral.
Vamos tomar o exemplo do Calvin!!
Calvin demonstrou muito claramente que tinha consciência dos seus atos, veja que ele levantou vantagens e desvantagens se
agisse de um jeito ou de outro, se colasse ou se não colasse. Então, sim, Calvin pode sim ser julgado ético e moralmente, é um
agente consciente.
Por exemplo: Uma criança não é agente consciente, pois não é capaz de realizar determinadas escolhas, por
isso não poderá ser julgada como infringente moral. Neste caso, trata-se de uma escolha AMORAL.
Diferente disso, se sujeito conhecedor da moral de sua comunidade age contrariamente às normas morais,
este sujeito será responsabilizado pela sua escolha, e, por ter sido um ato contra a moral, esta atitude é
classificada como IMORAL.
•Consciência e responsabilidade são constituintes
Consciência e indispensáveis da vida ética. A consciência moral manifesta-
se na capacidade para deliberar diante de alternativas
responsabilidade possíveis e para avaliar as motivações pessoais, as exigências
feitas pela situação, as consequências de uma ação para si e
moral para os outros, a obrigação de respeitar o estabelecido ou de
transgredi-lo (se o estabelecido for imoral ou injusto).
•A vontade é esse poder deliberativo e decisório do agente
moral. Para que o agente exerça esse poder, ela deve ser
Vontade livre, isto é, não pode estar submetida à vontade de outro
nem aos instintos e às paixões. Ao contrário, ela deve ser
capaz de dominá-los.
O mundo ético é, assim, constituído pelos valores e pelas obrigações que formam o conteúdo das condutas
morais, isto é, as virtudes. Estas são realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte da existência
ética.
AGENTE MORAL
Veja as quatro características do agente moral e as relacione com o nosso colaborador Calvin. Releia a tirinha e identifique os
quatro definidores do agente moral no personagem Calvin. Certifique-se de que ele é, com toda certeza, um agente moral.
O sujeito ético ou moral – ou seja, a pessoa moral – só pode existir se for:
◆◆ consciente de si e dos outros, isto é, capaz de refletir e de reconhecer a existência dos outros como
sujeitos éticos iguais a si;
◆◆dotado de vontade, isto é, capaz de controlar e orientar desejos, impulsos, tendências e sentimentos, e
também de deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
◆◆ responsável, isto é, capaz de se reconhecer como autor da ação e avaliar os efeitos e as consequências
dela sobre si e sobre os outros;
◆◆ livre, isto é, capaz de compreender que é a causa interna de seus sentimentos, atitudes, decisões e
ações, não ficando submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer
alguma coisa.
EXIGÊNCIA ÉTICA AO SUJEITO MORAL
Escolher entre a PASSIVIDADE e a ATIVIDADE.
• é quem se deixa governar por seus impulsos, inclinações
e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má sorte,
pela opinião alheia, pelo medo dos outros, não
exercendo sua própria consciência, vontade, liberdade e
Passivo responsabilidade.
• aquele que controla seus impulsos, suas inclinações e
suas paixões, discute consigo mesmo e com os outros o
sentido dos valores e dos fins estabelecidos, indaga se
Ativo ou devem e como devem ser respeitados ou transgredidos
virtuoso por outros valores e fins superiores aos existentes.
FINS ÉTICOS – MEIOS MORAIS
Concordamos que tirar boas notas em avaliações da aprendizagem é um fim bom, legítimo, desde que a nota desejada
corresponda às aprendizagens adquiridas. Portanto, podemos afirmar que Calvin tinha finalidade antiética, uma vez que o meio
escolhido para alcançar este fim era colar, ou seja, uma ação imoral, contra a moral.
As ações humanas têm finalidades, agimos com objetivos em vista para alcançá-los. Então, pensemos:
teremos que agir, neste caso, a nossa ação é um meio, para agir pode ser que necessitemos de outras
ferramentas ou mesmo de um conjunto de ações, que juntas nos permitirão alcançar o fim planejado. Temos
ações-meios em vista de um fim.
Pensemos que o fim seja muito bom, sem dúvida alguma, digamos que seja um fim que podemos chamar
de um bem a ser alcançado. Pois bem, aqui cabe o questionamento ético: se o fim é sem dúvidas algo bom,
posso utilizar de quaisquer MEIOS?
Não, a ética não valida como bons o fins para os quais o ser humano tenha que fazer uso de meios imorais,
contrários à moral.
Os fins não justificam os meios. Não fazemos qualquer negócio.
ÉTICA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Profº. Francisco Reis
PARTE 2
INTRODUÇÃO À ÉTICA - Conceitos fundamentais - ênfase no estudo dos valores.
Nesta segunda unidade vamos retomar alguns elementos já apresentados na UNIDADE 1. O elemento
fundamental a desta unidade são os VALORES. Iniciemos retomando os conceitos de Ética e Moral, o que vai
dar sentido para o estudo dos VALORES.
Ética e Moral
Uma explicação simples, até certo ponto, é a diferença entre ética e moral. Esta explicação é mais
didática, ou seja, apenas para entendimento das diferenças e das semelhanças entre uma e outra. Então,
ética e moral não é a mesma coisa? Não, não é mesma coisa, mas elas se relacionam bem de pertinho, uma
tem muito a ver com a outra.
Relembre a diferença entre Ética e Moral apresentada na UNIDADE 1.
Ética é a ciência ou dimensão humana do BEM para o qual as ações humanas devem ser orientadas, e dos
MEIOS pelos quais devem atingir este fim (O BEM).
Moral é o conjunto de NORMAS que orientam as ações humanas.
Enquanto a Ética é um conjunto de causas do agir humano, ou seja, conjunto de princípios e valores; a Moral
é o conjunto de normas, ou seja, a moral se coloca entre os valores e o indivíduo agente.
Ambas se ligam por meio dos valores. Sigamos, mas não esqueça de que nesta seção iremos tratar
dos valores.
Comecemos pela ética, e, de início, vamos reconhecer que a palavra ética nos remete a dois sentidos
ou dois significados: 1) Ética é uma ciência prática que estuda o comportamento humano dentro dos limites
da moral de determinado grupo social.
Opa!! A ética é uma ciência? E esta ciência estuda a Moral?
– Sim, a ética é uma ciência que estuda a moral, na verdade, ela estuda as várias morais.
O que a moral tem para ser estudado pela ciência ética? Excelente pergunta, e já apontamos a
resposta logo acima, a ciência Ética estuda os princípios e valores que sustentam as morais estudadas.
Guarde esse nome, hein, v a l o r e s .
E existe mais de uma moral? Não são todas uma coisa só?
A resposta você mostra que já sabe.
Isso mesmo que você está pensando, existem várias morais, podemos dizer que existem tantas morais
quantos são os grupos sociais, cada grupo social, cada sociedade formula, constrói a sua moral, a partir dos
seus valores.
Você está entendo?
Ah!! apareceu algo novo aqui, Moral.
Moral? O que é a moral? Você já sabe que a ética estuda a moral, mas antes de falarmos do que vem
a ser a moral, vamos, primeiro, falar do outro significado da ética. Nesse sentido da ética ela é também
conhecida com o nome de Filosofia Moral. Deixemos por aqui esse sentido da ética, ele não nos interessa
daqui para frente. 2) Ética é o conjunto de princípios e valores de um indivíduo ou de um grupo. Princípios e
Valores? – Sim, falaremos deles mais adiante.
Seguiremos com a moral, aí você pergunta:
- O que é a moral?
A moral é um conjunto de regras, atente-se bem, “regras”.
É um conjunto de regras que orientam o agir humano em sociedade.
As regras que formam a moral de um grupo decorrem da inspiração nos v a l o r e s do grupo, isso
mesmo, sem grupo não há moral, a moral existe, lembre-se, para orientar a ação do indivíduos no grupo.
O indivíduo sozinho não precisa da moral, a menos que sua ação atinja outros indivíduos, aí já é grupo,
correto?
Então, chamamos ética o conjunto de princípios e valores e, inspirados neles, as regras são
elaboradas para vincular os princípios e valores às ações dos indivíduos.
Por exemplo: “seja honesto”; “aja com honestidade”; “seja gentil com os clientes” etc etc. Cada grupo tem
sua moral, quero dizer, a moral de cada grupo é diferente das morais dos outros grupos, pois tem como
base a hierarquia de valores do grupo.
Então, peraí, existe uma hierarquia entre os valores?
Sim, há uma hierarquia entre os valores, e, mais importante: - cada indivíduo e cada grupo organiza esta
hierarquia do seu “jeito”.
Como assim do seu “jeito”?
Quero dizer que: - o que importa e o quanto importa para um indivíduo não é a mesma coisa e da mesma
forma para todos. Cada um escolhe com o que se importar e o quanto isso ou aquilo vai importar para si.
Entendeu?
Você entendeu porque cada um organiza e decide qual valor vale mais para si?
Então, agora sim, você certamente entendeu, também, porque a ética, enquanto ciência, estuda o que está
no fundamento de cada moral, ou seja, investiga quais princípios e valores fundamentam determinada
moral.
Princípios e Valores
Por fim, o elemento mais importante desta unidade, vamos falar de valores. Não conseguiremos falar
de valores sem trazer para ajudar-nos o irmão gêmeo dos valores, ou seja, os princípios. É isso mesmo,
vamos falar destes dois elementos indissociáveis, inseparáveis.
Na verdade, temos aqui duas faces, dois momentos de uma mesma coisa.
Isso mesmo: – princípios e valores são a mesma coisa que se apresenta com status diferentes, em momentos
diferentes, portanto, a aparição em um momento ou em outro é que determina que nome você vai usar
para chamá-lo – princípio ou valor.
Posso tentar explicar melhor.
Imagine que você sabe o que é a honestidade e, mais ainda, imagine que você tenha bastante apreço pela
honestidade, e, para terminar, imagine que você sempre age guiado, ou, até mesmo, determinado, pela
honestidade. Três momentos diferentes, portanto.
Vamos refazer o caminho, você age com honestidade porque colocou a si mesmo, primeiramente,
uma regra, qual seja: “agir honestamente sempre”, essa é a sua regra que foi imposta por você mesmo;
continuemos, a honestidade importa para você, ou seja, podemos dizer isso de outro jeito: a honestidade
importa, ou, é importante para você.
Podemos ser ainda mais claros: a honestidade é um VALOR, você atribui valor à honestidade.
Opa!! Parece que algo ficou complicado.
Explico: a honestidade só é um valor porque você atribui valor a ela, ela se transforma em valor
quando você a escolhe como algo que importa para você.
Algo que não importa para você poderá ser um valor para outra pessoa, mas não para você.
Acho que você está entendendo, não está?
Nada tem valor em si mesmo, são os seres humanos que valoram, que dão valor, que atribuem valor às
coisas.
Chegamos no ponto do qual partimos, qual seja, aquele ponto em que as coisas eram conhecidas mas não
eram valoradas. Lembre-se do início desse parágrafo, começamos pedindo para você imaginar que sabe o
que é a honestidade, no entanto, apenas sabe que existe essa coisa, ou, esse algo. Nesse ponto em que a
honestidade encontrava-se para você, ela não era valor ainda, ela era apenas um princípio.
Creio que você chegou na conclusão: foi você que elegeu a honestidade para ser um valor. Está claro a minha
afirmação de que “temos aqui duas instâncias, dois momentos de uma mesma coisa. Isso mesmo: –
princípios e valores são a mesma coisa que se apresenta com status diferentes, em momentos diferentes,
portanto, a aparição em um momento ou em outro é que determina que nome você vai usar para chamá-
lo”.
Então, é isso mesmo, os princípios se transformam nos valores.
Você pode elencar vários exemplos de princípios que por mais ou por menos pessoas foram
escolhidos como valores, isso, como espero ter deixado claro, ocorre no momento que estes princípios
começam a importar para as pessoas que os escolheram.
Necessidade como Fundamento da Criação e Escolha dos Valores
Você pode fazer uma pergunta muito relevante para a nossa exposição aqui, qual seja,
o que faz uma pessoa iniciar um processo de escolha de um princípio para valorá-lo, em outras palavras, o
que determina a transformação de um princípio em valor?
– Para responder a essa pergunta não há dificuldade, resposta simples, até certo ponto, pois bem, o que faz
um sujeito eleger um princípio para valorá-lo é a NECESSIDADE.
Penso que concordamos que aquilo que importa para a nossa vida também pode ser entendida como
uma necessidade, não é mesmo?
Ah, e para não nos deixar dúvidas sobre isso, Paulo Nader é ainda mais claro:
A ideia de valor está vinculada às necessidades humanas. Só se atribui valor a algo, na medida em que este
pode atender a alguma necessidade. Assim, necessidade gera o valor; este coloca o homem em ação, que
por sua vez vai produzir algum resultado prático: a obtenção de algum objeto natural ou cultural, ou a
mentalização e vivência espiritual de objeto ideal ou metafísico. (NADER, 2011, p.66, grifo nosso).
Agora sim, ficou ainda mais claro, não ficou? Não esqueça: no nosso curso, o nosso foco é a ética no
mundo do exercício profissional, a ética nas relações interpessoais no âmbito dos negócios, na prestação de
serviços etc.
Para esse autor, valor situa-se na dimensão abstrata, digamos que, localizamos o valor em algum
lugar um pouquinho antes da concretização de uma ação nossa, claro, estará ali, determinando a ação, mas
vem antes da ação.
Valor e a escolha pelo Bem, pelo Bom – e rejeição ao Mal.
Esse autor, defende, ainda, que os valores estão em diálogo constante com a noção que temos de bem e de
mal, ou seja, eles se definem entre o que constroem o homem e o que o destroem. Aderindo-se ao que
favorece e evitando-se o que, ao contrário, desfavorece. (NADER, 2011, p.66).
Valores e os Conflitos das Escolhas Diferentes
Você deve estar dizendo que se for assim, devem existir muitos conflitos por causa da variedade na
escolha de diferentes valores pelos indivíduos.
Você tem razão se estiver pensando assim.
Pois, realmente, cada indivíduo faz sua escolha por quais princípios valorar, transformar em valores. Isso já
seria suficiente para a existência dos conflitos; e para completar, imagine o seguinte, cada indivíduo constrói
uma hierarquia dos valores que escolhe, ou seja, algum princípio será tão valorado que será colocado no
topo da hierarquia, outros mais abaixo, e, outros, lá no pé da pirâmide.
Ora, isso depende da intensidade com que cada indivíduo valora cada princípio, ou, de outra maneira,
podemos dizer que dependerá do quanto um e outro princípio importa na vida e visão do indivíduo.
Ah... você quer um exemplo!!
Vamos lá!!
Um indivíduo valora tanto a honestidade que a coloca no topo de sua pirâmide de valores, esse valor ficará
acima da família, por exemplo, disso decorre que, se um familiar for desonesto sofrerá desprezo desse
indivíduo, que preferirá está junto de pessoas fora de sua relação familiar, mas que tenham reputação de
serem honestas.
Entendeu, né?
Ocorre que outro indivíduo pode ter escolhido outro princípio para valorar com a máxima
intensidade, talvez o princípio família, nesse caso, um familiar seu pode até ser desonesto, mas jamais será
desprezado por esse indivíduo, pois para ele, a família estará sempre no topo da pirâmide dos seus valores.
Veja que esse indivíduo pode, também, valorar o princípio da honestidade, no entanto, o coloca em posição
inferior em intensidade, abaixo da família.
Que tal o entendimento sobre isso?
Se você não entendeu, aconselho que releia seguindo as orientações para reproduzir em sua imaginação as
situações da sua própria experiência de vida.
E os conflitos?
Ora, os conflitos se acirram, pois um indivíduo pretende que o outro escolha para si os seus mesmo
princípios, o que não vai ocorrer; além disso, o indivíduo quer que o outro organize a pirâmide de seus
valores na mesma ordem hierárquica que ele organiza; aí você já consegue imaginar a confusão.
Essa confusão tem nome, chama-se i n t o l e r â n c i a , em outras palavras, dificuldade de conviver
com o diferente. O seu contrário é um valor muito defendido atualmente, a t o l e r â n c i a . A
tolerância é um valor dos mais propagados hoje em dia, exatamente porque a sociedade contemporânea
necessita que esse princípio se torne um valor, e, infelizmente, estamos longe de alcançá-lo, mas o primeiro
passo está sendo dado, é falar dele para torná-lo conhecido, aos poucos vamos percebendo a sua
necessidade e elegendo-o.
E quando formamos um grupo, por exemplo, uma associação de produtores familiares, uma
associação de moradores, sindicato dos trabalhadores de uma categoria ou empresa etc etc, como se
resolvem os conflitos? Isso não tem resolução fácil, é necessário grande esforço para entender que o grupo
precisa sobreviver aos conflitos individuais, isso mesmo, se nos reunimos em grupo é porque percebemos
que o grupo vai favorecer a sobrevivência individual, ou seja, o grupo vai ajudar cada indivíduo a vencer as
dificuldade impostas pela concorrência geral. Nesse caso, vale a pena sacrificar algumas preferências
individuais para receber os benefícios que o grupo favorece.
Isso quer dizer o que, na prática?
– Isso significa, principalmente, que o grupo vai ter uma hierarquia de valores diferente da hierarquia dos
valores dos indivíduos que formam o grupo. Isso ficou claro? Não? Vou tentar esclarecer. Pense que o valor
que ocupa o topo da sua pirâmide é a família, mas o grupo entrou em consenso que o valor honestidade
será o valor que ficará no topo da pirâmide do grupo; aparentemente surge um conflito, mas apenas
aparentemente, pois você vai abrir mão da sua pirâmide e vai adotar, em razão dos benefícios que o grupo
favorece, a hierarquia do grupo. Claro que será assim todas as vezes que as suas atitudes e ações abrangerem
o grupo.
Isso é muito claro, pois o grupo o protege, especialmente, se falamos no mercado, onde quem tem
mais meios de produção, escoação e comercialização, destrói quem não tem.
Está vendo como vale a pena esse sacrifício?
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5ªed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
CHAUÍ, Marilena. A existência ética. In. CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 14ª. São Paulo: Ática. 2016. P. 312-319.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 9ªed. São Paulo: Civilização Brasileira, c1969. Tradução João Dell’Anna.
Título original: Ética.