A Educação No Tempo da Revolução (1974-1976)
A revolução de 25 de abril de 1974, que derrubou o regime ditatorial do Estado Novo,
abriu um período de profundas transformações políticas, sociais e culturais em Portugal.
Uma das áreas mais afetadas por essas mudanças foi a educação, que passou por um
processo de democratização, expansão e diversificação.
A educação no tempo da revolução pode ser dividida em três fases:
A primeira, que vai do 25 de abril até o final de 1974, foi marcada pela euforia, pela
libertação e pela participação popular. Nessa fase, houve uma grande mobilização dos
estudantes, dos professores e dos trabalhadores da educação, que reivindicaram
melhores condições de ensino e aprendizagem, maior autonomia pedagógica e
administrativa, e uma maior integração entre a escola e a sociedade. Foram criados os
movimentos de professores democráticos, os conselhos escolares e as comissões de
gestão democrática, que buscavam uma maior participação dos diversos agentes
educativos na gestão das escolas. Também foram realizadas experiências de ensino
alternativo, como as escolas populares, as escolas livres e as escolas autogestionárias,
que propunham uma educação mais crítica, criativa e emancipadora.
A segunda fase, que vai de janeiro de 1975 até novembro de 1975, foi marcada pela
radicalização, pela polarização e pela instabilidade política. Nessa fase, houve uma
intensificação da luta de classes e da disputa entre as forças políticas que defendiam
diferentes projetos para o país. A educação tornou-se um campo de confronto
ideológico entre os setores mais progressistas e os mais conservadores da sociedade. Os
movimentos de professores democráticos entraram em conflito com os sindicatos de
professores, que eram controlados pelo Partido Comunista Português (PCP). Os
conselhos escolares e as comissões de gestão democrática entraram em choque com os
órgãos do Ministério da Educação e Cultura (MEC), que tentavam impor uma maior
centralização e uniformização do sistema educativo. As experiências de ensino
alternativo enfrentaram a resistência das famílias, das igrejas e das forças políticas mais
à direita, que as acusavam de serem subversivas, anárquicas e antinacionais.
A terceira fase, que vai de dezembro de 1975 até o final de 1976, foi marcada pela
normalização, pela institucionalização e pela consolidação democrática. Nessa fase,
houve uma pacificação do país, com a vitória das forças moderadas nas eleições para a
Assembleia Constituinte e para a Presidência da República. A educação passou por um
processo de reforma legislativa, que visava criar as bases para um sistema educativo
democrático, universal e diversificado. Foram aprovados a Constituição da República
Portuguesa (1976), que consagrou o direito à educação como um direito fundamental
dos cidadãos; a Lei de Bases do Sistema Educativo (1976), que definiu os princípios, os
objetivos e a estrutura do sistema educativo; e o Estatuto da Carreira Docente (1976),
que regulamentou a situação profissional dos professores. Também foram
implementadas medidas para ampliar o acesso à educação, como a criação do ensino
pré-escolar público, a extensão da escolaridade obrigatória para nove anos, a criação do
ensino recorrente para adultos e a criação do ensino profissionalizante.
Em conclusão, pode-se afirmar que a educação no tempo da revolução foi um período
rico em experiências, em debates e em conflitos, que refletiram as tensões e as
transformações da sociedade portuguesa nesse momento histórico. A educação foi um
instrumento e um palco da luta pela democratização do país, mas também um espaço de
resistência e de contestação dos diferentes projetos políticos em disputa. A educação foi
um campo dinâmico e complexo, que revelou as potencialidades e os limites da
revolução portuguesa.