AO JUIZO DA 3ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE CACHOEIRO DE
ITAPEMIRIM - ES
Distribuído por dependência Proc nº 5002150-02.2021.8.08.0011
PEDRO VALERIO, brasileiro, portador do CPF sob nº 758.857.517-49,
residente e domiciliada no endereço na Rua Antônio Singui, n° 9, CEP
29307-130, Cachoeiro de Itapemirim - ES, vem, por seu advogado conforme
procuração em anexo, propor
EMBARGOS À EXECUÇÃO
Em face da DACASA FINANCEIRA S.A. – SOCIEDADE DE CRÉDITO,
FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO – EM LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL,
com endereço na Avenida Princesa Isabel, nº 478, 3º andar, Centro, Cidade
de Vitória, Estado do Espírito Santo, Cep.: 29.010-364, com endereço
eletrônico
[email protected], inscrita no CNPJ/MF sob nº
27.406.222/0001-65, pelos fatos e fundamentos a seguir apresentados:
DA TEMPESTIVIDADE
O Embargante fora citado, por mandado, a pagar o débito, perseguido na
ação executiva, no prazo de 3(três) dias, nos moldes do art. 829, do Código
de Processo Civil.
Referido mandado citatório, registre-se, fora juntado aos autos da ação de
execução na data de 06/05/2022, o que se constata pela cópia ora
acostada.
Dessa maneira, visto que a presente demanda é ajuizada em 27/05/2022,
temos que é tempestivamente apresentada. (CPC/2015, art. 915 c/c art.
231, inc. II)
DOS FATOS
O embargante e a embargada celebraram contrato bancário, na
modalidade crédito pessoal, na data de 08 de junho de 2017. O valor do
crédito concedido foi de R$ 2.200,00, já inclusos impostos e taxas
administrativas.
O pagamento deveria ser realizado em 18 parcelas fixas, mensais e
sucessivas, cada uma no valor R$ 389,90 totalizando um Custo Efetivo Total
da operação no valor de R$ 7.018,20.
O instrumento particular de crédito firmado entre as partes apresenta, a
taxa nominal de juros de 16,61% a.m. e 532,16 % a.a.
Com o não pagamento dos valores a embargada executou o título
extrajudicial.
Ocorre que a ação de execução por título extrajudicial é fundada em
contrato abusivo, pois determinada taxa de juros remuneratórios imposta
pelo embargado é consideravelmente discrepante com a taxa média do
mercado financeiro, segundo o Bacen, para a mesma operação de crédito,
à época da celebração do instrumento particular.
A época da celebração do contrato de crédito entre as partes, 08 de junho
de 2017, a taxa média do mercado financeiro, segundo o Bacen, para a
respectiva operação de crédito era de 6,99 % ao mês e 124,97 % ao ano, ou
seja, valor bem menor do que o pactuado.
Para fins de comprovação da taxa média de juros remuneratórios para
respectiva operação de crédito, segundo o Banco Central, basta uma
consulta simples no portal eletrônico
(https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?meth
od=prepararTelaLocalizarSeries), utilizando-se dos seguintes códigos de
pesquisa: 25464 para taxa média mensal, ou ainda 20742 para taxa média
anual.
Logo, por simples cálculo matemático, é possível auferir que a taxa de juros
remuneratórios celebrada ao ano entre as partes está 137,63 % acima da
taxa média do mercado financeiro, conforme o BACEN. Determinada
discrepância em relação a taxa média configura ABUSIVIDADE por parte do
embargado.
Desta maneira, conforme entendimento jurisprudencial pacífico, além da
limitação da taxa de juros remuneratórios, deve ser reconhecida a
abusividade do contrato que por sua vez invalida o título executivo.
A planilha de cálculo em anexo permite que seja visualizado os valores que
acabam onerando excessivamente o embargante, em decorrência da
respectiva taxa de juros remuneratórios abusivos e muito acima da média
do mercado financeiro.
Tornando assim o título extrajudicial nulo, pois o Termo de Adesão é
baseado em contrato extremamente abusivo, sendo assim, a execução
deve ser indeferida.
DO DIREITO
PRELIMINAR – AUSÊNCIA DE LIQUIDEZ DO TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL
Como é cediço, toda e qualquer execução deve estar fundada em título
executivo que preencha os requisitos elencados no art. 783. do CPC,
segundo o qual a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre
em título líquido, certo e exigível, in verbis:
"Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á
sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. "
Não basta que a demanda executiva esteja embasada em documento
elencado no rol constante do art. 784 do CPC. É imprescindível que o
documento, além de ser qualificado em lei como título executivo
extrajudicial, preencha os requisitos elencados no referido art. 783 do CPC.
No caso dos autos, o Banco Embargado está cobrando importância
infinitamente superior àquela efetivamente devida, uma vez que, para
chegar ao suposto valor total da dívida, referida instituição financeira valeu-
se de taxas exorbitantes e muito além das que seriam as utilizadas para
aquele período, tornando os encargos flagrantemente abusivos em seus
cálculos.
O erro quanto à indicação do quantum devido desvirtua a liquidez do título
executivo. Apenas o título executivo judicial poderá ser ilíquido e, como tal,
passível de liquidação para determinação do valor da condenação ou
individuação de seu objeto, nos exatos termos do que preceitua o art. 509
do CPC1.
Em se tratando de título executivo extrajudicial, tal qual a situação dos
autos, o título deve, necessariamente, ser líquido. Se não for líquido, não é
título executivo extrajudicial, devendo ser extinta a demanda executiva.
É o que desde já se requer, tendo-se em vista ser esta a situação dos títulos
exequendos, como se verá no decorrer desta peça.
DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Trata-se de uma relação de consumo, em que fica evidente a incidência do
Código de Defesa do Consumidor, havendo inclusive Súmula do STJ que
concretiza este entendimento. A relação de consumo pode ser observada
na origem dos débitos, ao analisarmos as operações de crédito que
configuram.
STJ - Súmula 297 O Código de Defesa do Consumidor é aplicável as
instituições financeiras.
Assim, estão presentes os elementos que formam a relação jurídica
consumerista, quais sejam a presença do consumidor, do fornecedor, da
prestação de um serviço e da vulnerabilidade do embargante perante a
embargada, incidindo a Lei nº 8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor.
1
Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação,
a requerimento do credor ou do devedor:
“Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final.
(...)
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.
(...)”
Sabe-se que sendo o consumidor, ora Requerente, parte mais fraca e
vulnerável nesta relação jurídica, o ônus da prova inverte-se, cabendo este
à parte que detém o maior poder.
Assim é a previsão do artigo 6º, inciso VIII, do CDC, onde define que é um
direito básico do consumidor, a inversão do ônus da prova, cabendo ao
fornecedor apresentar as provas que se fizerem necessárias.
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências;”
Logo, o ônus da prova deve recair sobre a parte embargada, em
conformidade com o texto legal do Código de Defesa do Consumidor.
Segundo o artigo 51, § 1º, inciso III, a cláusula que se mostra
excessivamente onerosa para o consumidor é nula de pleno direito, uma
vez que se enquadra como abusiva.
“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
(...)
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,
considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das
partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.”
Destaca-se ainda que a limitação existente à fixação dos juros
remuneratórios é referente à média das taxas de juros das principais
instituições financeiras da época de celebração do negócio jurídico,
conforme dados divulgados regularmente pelo Banco Central.
DA RELATIVIZAÇÃO DO PRÍNCIPIO “PACTA SUN SERVANDA”
O Código Civil de 2002 trouxe importantes inovações acerca do
ordenamento jurídico brasileiro. Introduziu novos princípios dentro da
teoria geral dos contratos, como o princípio da função social e da boa-fé
objetiva, que foram inseridos pelos artigos 421 e 422 respectivamente.
Vejamos:
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé.
Pode se dizer que o princípio do “pacta sun servanda” acabou por sofrer
certa relativização, ao ponto que o mesmo ainda é válido para que se faça
cumprir as obrigações contratuais entre as partes, entretanto, não é mais
completamente absoluto, devendo ser colocado em segundo plano quando
houver clara violação da boa-fé contratual. Determinado entendimento já
restou consagrado na I Jornada de Direito Civil, através do enunciado n° 23
que preceitua:
A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo
Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual,
mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando
presentes interesses metaindividuais ou interesse individual
relativo à dignidade da pessoa humana.
Desta maneira resta demonstrado que o princípio da liberdade contratual
entre as partes não é absoluto, devendo respeitar os limites legais impostos
pelo Código Civil de 2002 por meio da boa-fé contratual e da função social
do contrato.
Neste sentido, é a súmula nº 286 do Colendo Superior Tribunal de Justiça,
com o seguinte verbete: “a renegociação de contrato bancário ou a
confissão da dívida não impede a possibilidade de discussão sobre
eventuais ilegalidades dos contratos anteriores”.
Essa possibilidade de revisão do contrato e de modificação de suas cláusulas
implica na relativização do princípio de que “pacta sunt servanda”, mas
apenas com o intuito de afastar as ilegalidades e restabelecer o equilíbrio
entre as partes, mantendo-se, sempre que possível, a relação jurídica
Neste contexto, é possível, no nosso ordenamento jurídico, a revisão de
contratos diante da alegação de existência de abusividades, sobretudo pela
aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor à espécie, nos
termos de seu artigo 6º, inciso V, que dispõe:
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...) V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;”
A referida revisão não importa em violação do ato jurídico perfeito, pois
objetiva extirpar cláusulas ilegais, de modo que a presente ação é adequada
para tal fim.
DA POSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS.
A possibilidade de limitação dos juros remuneratórios, quando há
abusividade comprovada já é assentada na jurisprudência nacional, a partir
do posicionamento do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Resp.
1.061.530/RS, sob o rito dos recursos repetitivos, conforme disposto na
“alínea d”, da orientação do referido julgado sobre juros remuneratórios:
ORIENTAÇÃO 1 - JUROS REMUNERATÓRIOS
É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em
situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de
consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor
em desvantagem exagerada - art. 51, §1º, do CDC) fique
cabalmente demonstrada, ante as peculiaridades do
julgamento em concreto. (...)” (REsp 1061530 RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/10/2008,
DJe 10/03/2009).
A partir da respectiva perspectiva de admissão da revisão da taxa de juros
remuneratórios, em situações de abusividade, têm-se tanto o Superior
Tribunal de Justiça, como os demais Tribunais em território nacional
passaram a valer-se da taxa média divulgada pelo Banco Central (Bacen)
para averiguar possíveis abusos das Instituições Financeiras.
Ou seja, a celebração de taxas de juros remuneratórios em discrepância
com a taxa média do mercado financeiro, segundo dados do Banco Central
do Brasil, configura prática abusiva e enseja a possibilidade de readequação
dos respectivos índices. Conforme manifestação do STJ no julgamento do
Resp. 1.061.530/RS:
1.2. A Revisão dos Juros Remuneratórios Pactuados
Fixada a premissa de que, salvo situações excepcionais, os juros
remuneratórios podem ser livremente pactuados em contratos
de empréstimo no âmbito do Sistema Financeiro Nacional,
questiona-se a possibilidade de o Poder Judiciário exercer o
controle da liberdade de convenção de taxa de juros naquelas
situações que são evidentemente abusivas.
(...)
O Ministro César Asfor Rocha, diante de juros remuneratórios
pactuados à taxa de 34,87% ao mês contra uma taxa média,
apurada por perícia, de 14,19% ao mês, entendeu que, estando
“cabalmente comprovada por perícia, nas instâncias
ordinárias, que a estipulação da taxa de juros remuneratórios
foi aproximadamente 150% maior que a taxa média praticada
no mercado, nula é a cláusula do contrato” (REsp 327.727/SP,
Segunda Seção, DJ de 08.03.2004).
(...)
Assim, a análise da abusividade ganhou muito quando o Banco
Central do Brasil passou, em outubro de 1999, a divulgar as taxas
médias, ponderada segundo o volume de crédito concedido, para
os juros praticados pelas instituições financeiras nas operações
de crédito realizadas com recursos livres (conf. Circular nº 2957,
de 30.12.1999).
(...)
A taxa média apresenta vantagens porque é calculada segundo
as informações prestadas por diversas instituições financeiras
e, por isso, representa as forças do mercado. Ademais, traz
embutida em si o custo médio das instituições financeiras e seu
lucro médio, ou seja, um 'spread' médio. É certo, ainda, que o
cálculo da taxa média não é completo, na medida em que não
abrange todas as modalidades de concessão de crédito, mas,
sem dúvida, presta-se como parâmetro de tendência das taxas
de juros. Assim, dentro do universo regulatório atual, a taxa
média constitui o melhor parâmetro para a elaboração de um
juízo sobre abusividade.
(...)
A jurisprudência, conforme registrado anteriormente, tem
considerado abusivas taxas superiores a uma vez e meia (voto
proferido pelo Min. Ari Pargendler no REsp 271.214/RS, Rel. p.
Acórdão Min. Menezes Direito, DJ de 04.08.2003), ao dobro
(Resp 1.036.818, Terceira Turma, minha relatoria, DJe de
20.06.2008) ou ao triplo (REsp 971.853/RS, Quarta Turma, Min.
Pádua Ribeiro, DJ de 24.09.2007) da média.” (REsp 1061530 RS,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
22/10/2008, DJe 10/03/2009).
Ou seja, percebe-se que taxas de juros remuneratórios que estejam “uma
vez e meia” acima da taxa média, segundo o Bacen, para a mesma
operação, à época da celebração do contrato, são consideradas abusivas,
ensejando a revisão contratual e, consequentemente, sua limitação ao
índice divulgado pelo Banco Central.
Logo, os demais Tribunais Pátrios vêm adotando o respectivo parâmetro,
qual seja, que taxas de juros que discrepem uma vez e meia em relação à
média do mercado, segundo o Bacen, estão em patamar de abusividade,
sendo hipótese onde são cabíveis a revisão contratual e a consequente
limitação dos juris remuneratórios. Vejamos:.
APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL DE
JUROS. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO PESSOAL. PRETENSÃO REVISIONAL.
ALEGAÇÃO DE ABUSIVIDADES NAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS. PRELIMINAR
CONTRARRECURSAL DE NÃO CONHECIMENTO DO APELO. [...] JUROS
REMUNERATÓRIOS. Mostra-se possível a limitação dos juros
remuneratórios praticados quando esses excederem a uma vez
e meia a taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central
do Brasil. No caso concreto, os percentuais estipulados
ultrapassam um vez e meia às médias de mercado estipuladas
para o mesmo período e modalidade de contrato, devem
readequadas as taxas de juros remuneratórios contratadas, de
acordo com as médias divulgadas pelo Banco Central do Brasil.
[...] DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. Nos termos da Súmula n. 380 do
Superior Tribunal de Justiça, o simples ajuizamento de ação revisional não é
o bastante para impedir a constituição do devedor em mora, havendo a
necessidade de avaliar-se a existência de abusividade nos encargos do
período de normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização dos
juros).Na situação concreta, em decorrência da revisão das
taxas dos juros remuneratórios previstos no contrato
revisando, afasta-se a mora da devedora, não sendo possível a
incidência de encargos moratórios até a apuração dos valores
realmente devidos ao Banco credor. COMPENSAÇÃO E REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. Cabível a compensação dos valores eventualmente
pagos a maior e a repetição simples do que exceder à dívida,
como forma de evitar o enriquecimento indevido da instituição
financeira ré. PRELIMINAR CONTRARRECURSAL AFASTADA. APELO
PARCIALMENTE PROVIDO.(Apelação Cível, Nº 70083411496, Décima Segunda
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Lúcia Carvalho
Pinto Vieira Rebout, Julgado em: 23-07-2020)
AÇÃO REVISIONAL – CONTRATO BANCÁRIO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO
– Sentença de parcial procedência – Insurgências do Autor e Réu –
Aplicação do Código de Defesa do Consumidor que não veda o
princípio da 'pacta sunt servanda' – Capitalização de juros -
Possibilidade da capitalização contratada, já que a avença foi celebrada sob o
crivo de legislação que permite tal prática – Inocorrência de qualquer ofensa
à legislação consumerista – Tabela Price - Licitude na sua aplicação que prevê
o pagamento dos juros na parcela mensal, não havendo, com sua aplicação,
capitalização de juros – Comissão de permanência que não incidiu no
contrato em questão - Seguro de proteção financeira – Nos contratos
bancários, o consumidor não pode ser compelido a contratar seguro –
Configuração de venda casada – Entendimento do E. STJ consolidado no
julgamento do REsp nº 1.639.259/SP, sob o rito dos recursos repetitivos - Nos
termos da orientação jurisprudencial do STJ, não será
considerada abusiva a taxa dos juros remuneratórios
contratada quando ela for até uma vez e meia superior à taxa
de juros média praticada pelo mercado, divulgada pelo Banco
Central do Brasil, para o tipo específico de contrato, na época
de sua celebração – Autor que comprovou que a taxa
contratada no empréstimo supera em uma vez e meia a taxa
média mercado - Sentença reforma em parte – Apelo do autor
parcialmente provido e desprovido o apelo do réu.(TJSP; Apelação Cível
1005477-95.2019.8.26.0268; Relator (a): Jacob Valente; Órgão Julgador: 12ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Itapecerica da Serra - 3ª Vara; Data do
Julgamento: 12/11/2020; Data de Registro: 12/11/2020)
Apelação cível. Ação revisional de cláusulas contratuais. Empréstimo pessoal
consignado.Apelo interposto pela instituição financeira
condenada a conformar a cobrança dos juros às taxas médias
cobradas pelas instituições financeiras segundo divulgado pelo
BACEN. Cobrança de juros remuneratórios muito acima da taxa
média cobrada em contratos similares. Jurisprudência que
estabeleceu ser abusiva a cobrança de juros que ultrapassem
uma vez e meia a média do mercado. Alteração da base de cálculo
dos honorários advocatícios. Prevalência do critério do proveito econômico.
Inteligência do §2º do art. 85 CPC/15. Precedentes do STJ. Apelo parcialmente
provido.
(Apelação Cível nº: 0015833-64.2016.8.19.0205, Quinta Câmara Cível, TJRJ,
Relator: Des. Cristina Tereza Gaulia, julgado em: 10-03-2020).
APELAÇÃO CÍVEL - REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO - CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR - APLICABILIDADE - JUROS REMUNERATÓRIOS -
ABUSIVIDADE - CONSTATAÇÃO - MÉDIA DE MERCADO - COBRANÇA EM
PERCENTUAL SUPERIOR A UMA VEZ E MEIA - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE
JUROS - VIABILIDADE - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - NÃO INCIDÊNCIA -
REPETIÇÃO DO INDÉBITO - MÁ-FÉ NÃO COMPROVADA. São aplicáveis aos
contratos bancários celebrados com instituições financeiras as
regras do Código de Defesa do Consumidor para afastar as
eventuais cláusulas abusivas. Constatada a cobrança de juros
remuneratórios em percentual que superam em uma vez e
meia a média praticada no mercado à época da celebração do
contrato, impõe-se a sua limitação. É viável a capitalização mensal de
juros nos contratos posteriores a 31/03/2000, desde que haja previsão
expressa, comumente representada pela estipulação da taxa de juros
remuneratórios anual em percentual superior ao duodécuplo da mensal. Não
havendo previsão no contrato de comissão de permanência e não tendo o
autor comprovado a incidência de tal encargo, não há que se falar em
abusividade. A repetição em dobro dos valores efetivamente cobrados a
maior depende de prova da má-fé por parte do credor (Apelação Cível n°
1.0000.20.545236-0/001, 10 Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
Estado de Minas Gerais, Relator: Des.(a) Jaqueline Calábria
Albuquerque, Data do Julgamento: 05/11/2020 Data da Publicação:
18/11/2020)
É importante destacar que a taxa de juros remuneratórios estabelecidos no
contrato celebrado entre as partes é 137,63% maior que a taxa média do
mercado, o que indica, conforme jurisprudência pacificada do Superior
Tribunal de Justiça, bem como nos demais Tribunais Brasileiros a presença
de elemento que justifica a revisão contratual.
Pois bem, o presente contrato celebrado entre as partes apresenta a taxa
nominal de juros estipulada da seguinte forma: 16,61 % ao mês e 532,16 %
ao ano. Uma rápida consulta ao site do Bacen, nos permite auferir que a
taxa média do mercado financeiro, para a mesma operação, a época da
celebração do contrato, era de 6,99 % a.m. e 124,97 % a.a.
Logo, um simples cálculo matemático nos permite auferir que a taxa
celebrada entre as partes, excede a tolerância de 50% acima da taxa média,
estabelecida pelo Superior Tribunal de Justiça, como parâmetro para
determinar a abusividade da taxa de juros remuneratórios.
Portanto, o embargado impôs ao embargante uma taxa de juros
remuneratória em patamar abusivo, incorrendo em flagrante ilegalidade,
conforme entendimento já consolidado na jurisprudência das mais variadas
Cortes Jurídicas do país.
DO EXCESSO DE EXECUÇÃO
Conforme demonstrado, o Embargado está cobrando dos Embargantes
valores acima do que os devidos, motivo pelo qual deverá ser analisado o
excesso de execução no caso concreto nos termos do art. 917, III, §2° I do
CPC.
Com base na redação da Súmula 121, do Supremo Tribunal Federal, com a
seguinte redação:
"Súmula 121 do STF: É vedada a capitalização de juros, ainda
que expressamente convencionada."
Nesse sentido:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO DE CONTRATO. LAUDO
PERICIAL. EXCESSO NA COBRANÇA. O caso em questão versa
sobre pedido de cobrança excessiva de juros no contrato
celebrado entre as partes. O laudo pericial demonstra que
valores mínimos frente ao montante devido, a prática de
anatocismo, devendo ser acolhida a pretensão parcialmente
apenas para expurgar dos valores cobrados os que foram
encontrados e indicados na conclusão da perícia. Desprovimento
ao recurso. (TJ-RJ - APL: 03491880320088190001 RIO DE
JANEIRO CAPITAL 29 VARA CÍVEL, Relator: ANDREA FORTUNA
TEIXEIRA, Data de Julgamento: 30/11/2016, VIGÉSIMA QUARTA
CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR, Data de Publicação: 06/12/2016)
O cálculo, deduzido pelo embargante para a atualização do valor da dívida,
está espelhado na planilha anexa, no valor de R$ 3.084,30, que entendem
o embargante ser o valor correto para pagamento.
A pretensão do embargado se evidencia claramente pelo EXCESSO DE
EXECUÇÃO, devendo o juízo impedir que a execução se faça, sob pena, de
representar ao enriquecimento ilícito e a prejuízos irreparáveis ao
patrimônio do embargante.
Assim, requer a improcedência da presente Ação de Execução,
determinando seu arquivamento.
DA DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA
A possibilidade de descaracterização da mora, quando há abusividade
contratual comprovada é assentada e pacificada na jurisprudência nacional,
a partir do posicionamento do Superior Tribunal de Justiça no julgamento
do Resp. 1.061.530/RS, sob o rito dos recursos repetitivos, conforme
disposto na “alínea a”, da orientação do referido julgado sobre mora,
vejamos:
ORIENTAÇÃO 2 - CONFIGURAÇÃO DA MORA
a) O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no
período da normalidade contratual (juros remuneratórios e
capitalização) descarateriza a mora; [...] (REsp 1061530 RS, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
22/10/2008, DJe 10/03/2009).
Ademais, com o passar dos últimos anos a jurisprudência dos Tribunais
reconheceu que a descaracterização da mora implica na impossibilidade de
que qualquer um dos seus efeitos incidam sobre o devedor, sejam eles: a
cobrança de multa contratual, a incidência de juros moratórios e até
mesmo a inclusão do nome do mesmo em cadastro de inadimplentes.
Ou seja, caso comprovado mediante os autos a existência de clausula
contratual abusiva, em decorrência da taxa de juros remuneratórios em
patamar ilegal, ou de capitalização de juros não expressamente pactuada,
têm-se que a mora e seus efeitos legais serão completamente afastados
pelo juízo.
Nesse caso, a jurisprudência dos principais Tribunais é pacífica no
respectivo sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE CRÉDITO. AÇÃO
REVISIONAL. JUROS REMUNERATÓRIOS. MORA
DESCARACTERIZADA. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. Juros
remuneratórios. Possível a revisão contratual na hipótese de os
juros remuneratórios exorbitarem a taxa média de mercado.
Situação ocorrida nos autos, em que a taxa aplicada é superior à
taxa média publicada pelo BACEN. Afastamento da mora e
inscrição nos cadastros de devedores. Afastada a mora
contratual não cabe a inscrição em cadastro de inadimplentes,
ou outros atos tendentes à cobrança do débito. Compensação.
Repetição de indébito. Devem ser devolvidos ou compensados,
de forma simples, os valores eventualmente pagos a maior pelo
consumidor. APELAÇÃO PROVIDA.(Apelação Cível, Nº
70083826081, Vigésima Terceira Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Alberto Delgado Neto, Julgado em: 28-04-
2020)
Ação revisional - Cédulas de crédito bancário – Indexador
contratual – Certificado de Depósitos Interbancários (CDI) –
Comissão de abertura de crédito – Comissão de permanência
cumulada com outros encargos – Justiça gratuita – Diferimento
das custas ao final da demanda. [...] 4. Verificada a cobrança de
encargo abusivo no período de normalidade do contrato, resta
descaracterizada a mora. 5. A alegação de abusividade na
cobrança de comissão de permanência e de indevida cumulação
com outros encargos é de ser repelida quando ausente previsão
contratual ou início de prova de cobrança de tal encargo. 6. A
concessão de assistência gratuita ou de diferimento das custas
ao final da demanda à pessoa jurídica é admissível em casos
excepcionalíssimos e quando demonstrada a sua fragilidade
econômica, ainda que momentânea, para suportar as despesas
do processo. Ação parcialmente procedente. Acolhido o pedido
de diferimento do pagamento das custas ao final da demanda.
Recurso da autora parcialmente provido, não provido o do
réu. (TJSP; Apelação Cível 1054195-19.2017.8.26.0002; Relator
(a): Itamar Gaino; Órgão Julgador: 21ª Câmara de Direito
Privado; Foro Central Cível - 39ª Vara Cível; Data do Julgamento:
16/11/2020; Data de Registro: 18/11/2020)
DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO
REVISIONAL. FINANCIAMENTO DE AUTOMÓVEL. JUROS
REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE. CONFIGURAÇÃO. TAXA
CONTRATADA DEMASIADAMENTE ACIMA DA MÉDIA DO
MERCADO. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE
COBRANÇA. AUSÊNCIA DE INTERESSE NO PONTO. REPETIÇÃO
DO INDÉBITO NA FORMA SIMPLES. JURISPRUDÊNCIA
SEDIMENTADA DO TJCE E STJ. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO, NO SENTIDO DE RECONHECER A
ABUSIVIDADE DA TAXA DE JUROS CONTRATADA, COM A
CONSEQUENTE DESCARACTERIZAÇÃO DE EVENTUAL MORA E
REPETIÇÃO DE INDÉBITO SIMPLES. ACÓRDÃO: Vistos, relatados
e discutidos estes autos, acorda a 4ª Câmara Direito Privado do
Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, unanimemente, pelo
conhecimento e parcial provimento do recurso, nos termos do
voto do Relator, que passa a integrar este acórdão. Fortaleza, 17
de novembro de 2020 FRANCISCO BEZERRA CAVALCANTE
Presidente do Órgão Julgador DESEMBARGADOR DURVAL AIRES
FILHO Relator PROCURADOR(A) DE JUSTIÇA
(Relator (a): DURVAL AIRES FILHO; Comarca: Fortaleza; Órgão
julgador: 8ª Vara Cível; Data do julgamento: 17/11/2020; Data
de registro: 17/11/2020).
APELAÇÕES CÍVEIS. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA DE
CRÉDITO BANCÁRIO. TOGADO A QUO QUE JULGOU
PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS DEDUZIDOS NA
PETIÇÃO INICIAL. INCONFORMISMO DE AMBOS OS
CONTENDORES. [...]DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
RESSONÂNCIA JURÍDICA DO RECONHECIMENTO DE
ABUSIVIDADE NO PERÍODO DE NORMALIDADE CONTRATUAL.
ENTENDIMENTO SUFRAGADO NO RECURSO ESPECIAL N.
1.061.530/RS, DE RELATORIA DA MINISTRA NANCY ANDRIGHI.
AFASTAMENTO COGENTE DA MORA DEBENDI. (TJSC, Apelação
n. 0306508-33.2017.8.24.0038, do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina, rel. José Carlos Carstens Kohler, Quarta Câmara de
Direito Comercial, j. 17-11-2020).
Desta maneira, toda e qualquer possível mora a qual o devedor possa ter
incorrido deve ser afastada, em virtude da flagrante prática abusiva da
instituição financeira na cobrança de juros remuneratórios.
Logo, deve ser reconhecido o afastamento da mora sobre a embargante,
bem como impedido o banco réu dos seus efeitos correspondentes, quais
sejam: cobrança de multa contratual, a incidência de juros moratórios e até
mesmo a inclusão do nome da parte autora em cadastro de inadimplentes.
DA PLANILHA DE CÁLCULO E EVOLUÇÃO DA DÍVIDA.
Conforme o laudo e a planilha de cálculo que instruem o presente
embargos, atesta-se que as taxas de juros remuneratórios celebradas entre
as partes, em patamar abusivo, impuseram uma onerosidade excessiva ao
autor no valor total do contrato de R$ 3.084,30 (três mil e oitenta e quatro
reais e vinte e nove centavos).
Isto porque, conforme demonstrado pelo cálculo, se aplicarmos a taxa
média do mercado financeiro, as parcelas fixas deveriam ter o valor de R$
218,55.
Diante da demonstração com a planilha de cálculos, aplicando a taxa média
do BACEN ao contrato abusivo, resta evidente que o contrato cobra valores
muito acima dos permitidos.
Logo, mediante a apresentação dos cálculos elaborados em software
especializado em cálculos financeiros, que permitem a visualização em
números objetivos a abusividade imposta a embargante.
Portanto, não restam dúvidas que a embargada instituiu uma taxa de juros
remuneratórios abusiva em desfavor da parte embargante, de modo que o
título é extremamente abusivo, com a referida limitação dos juros a taxa
média do Bacen, à época da contratação do referido crédito.
DA ASSISTENCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
A parte autora não possui condições de arcar com as custas processuais e
honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio bem como o de
sua família, razão pela qual faz jus ao benefício da gratuidade da justiça,
assegurado pela Constituição Federal, Artigo 5º, LXXIV e pela Lei
13.105/2015 (CPC), artigo 98 e seguintes.
O contracheque da parte embargante com documentos de seus gastos
atesta a condição de hipossuficiência econômica, devendo o Poder
Judiciário acolher o requerimento de gratuidade da justiça.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência:
1- Seja concedido o benefício da Assistência Judiciária Gratuita, uma vez
que o embargante não possui condições de arcar com as despesas
processuais, conforme declaração de hipossuficiência e documentos
em anexo;
2- Seja designada a citação da embargada quanto à presente ação, para
que, querendo, apresente a defesa, sob pena de confissão e revelia;
3- Seja concedida a inversão do ônus da prova, ante a hipossuficiência
da Requerente perante a Requerida, nos termos do artigo 6º, VIII, do
Código de Defesa do Consumidor;
4- Que a presente embargos à execução seja recebida e julgado
totalmente procedente para fim de:
A) Acatar a preliminar de inépcia da Inicial de Execução, ante a
clara inexistência de liquidez do título executivo extrajudicial e
inegável nulidade da execução de origem, requerendo a sua
extinção, sem resolução de mérito, nos termos do art. 485, IV, do
CPC;
B) Não sendo acolhido o pedido anterior, que seja adequado a
taxa de juros remuneratórios do contrato bancário firmado entre
as partes no patamar médio do mercado, qual seja 6,99% ao mês
e 124,97 % ao ano, reconhecendo a planilha de cálculo em anexo;
C) Afastar a caracterização da mora
5- Condenar o embargado ao pagamento das custas processuais e
honorários sucumbenciais em 20%;
6- Seja deferida a produção de provas em todos os meios admitidos em
direito.
Atribui-se a causa o valor de R$9.692,14 (Nove mil, seiscentos e noventa e
dois reais e quatorze centavos).
Nestes termos,
Pede deferimento.
Cachoeiro de Itapemirim, 27 de maio de 2022
MARCOS NATAN ALMEIDA DIAS
ADVOGADO OAB-ES 33.702