Introdução
Nos países subdesenvolvidos, observa-se um envelhecimento populacional
acelerado, com um incremento da população idosa maior do que nos países
desenvolvidos (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, 1994).
Atualmente, os idosos representam 14,3% dos brasileiros, ou seja, 29,3 milhões
de pessoas. E, em 2030, o número de idosos deve superar o de crianças e adolescentes
de zero a quatorze anos. Em sete décadas, a média de vida do brasileiro aumentou 30
anos saindo de 45,4 anos, em 1940, para 75,4 anos, em 2015. O envelhecimento da
população tem impactos importantes na saúde, apontando para a importância de
organização da rede de atenção à saúde para a oferta de cuidados longitudinais.
Diante desta realidade repleta de transformações demográficas iniciadas no
último século e que, nos fazem observar uma população cada vez mais envelhecida,
evidencia-se a importância de garantir aos idosos não só uma sobrevida maior, mas
também uma boa qualidade de vida (FLECK et al, 2003).
Neste contexto, o conceito de qualidade de vida está relacionado à autoestima e
ao bem-estar pessoal e abrange uma série de aspectos como a capacidade funcional, o
nível socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a atividade intelectual, o
autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores culturais, éticos, a
religiosidade e a garantia de direitos (SANTOS et al, 2002).
No Brasil, um dos marcos legais fundamentais no que se refere à garantia do
direito à saúde da pessoa idosa no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) consiste
na publicação da Política Nacional do Idoso (Lei n. 8.842, 1994). Nas diretrizes do
Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão (Ministério da Saúde, 2006a), a saúde
do idoso é estabelecida como uma das seis prioridades. A partir disso, é aprovada a
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), que tem como finalidade
“recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos,
direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância
com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde” (Ministério da Saúde, 2006b,
p.3).
Chama a atenção, neste processo de ratificação dos direitos sociais da pessoa
idosa como política de Estado, no que se refere especialmente às políticas públicas de
saúde, o importante papel que vem sendo atribuído às iniciativas de implementação de
estratégias de promoção à saúde da pessoa idosa. Entretanto, isso não significa a
imediata incorporação de uma perspectiva integral de cuidado (proteção, promoção,
tratamento e reabilitação da saúde), conforme preconizado no SUS, uma vez que as
mudanças socioculturais não dependem tão somente da institucionalização de marcos
legais. Dessa forma, é fundamental manter uma postura crítica e reflexiva tanto na
formação e educação permanente dos profissionais de saúde quanto na reivindicação
dos direitos estabelecidos legalmente na PNSPI.
Neste cenário a universidade é um dos principais agentes sociais empenhados
em propor programas direcionados à população idosa por meio de atividades que
promovam a saúde, o bem-estar psicológico e social e a cidadania (VERAS; CALDAS,
2004).
Dentre estas atividades, destaco os grupos como uma ferramenta importante para
o cuidado à população idosa. As atividades grupais são estratégias de promoção da
saúde que se tornaram populares e sua efetividade vem sendo reconhecida no meio
científico. Elas têm se mostrado capazes de auxiliar no enfrentamento dos desafios do
envelhecimento e na descoberta de suas potencialidades (RABELO; NERI, 2013).
As ferramentas expressivas, verbais, plásticas e corporais utilizadas nos grupos
funcionam como elementos organizadores e estruturadores de um tipo de clínica,
voltada para a produção de subjetividades e de novas possibilidades de existência. A
experiência grupal gera reflexões acerca de valores, direitos e da própria relação com a
coletividade. Os grupos para idosos são espaços que utilizam o diálogo e a comunicação
como a base de suas atividades. São inúmeros os benefícios advindos da participação
neste tipo de proposta de intervenção: trocas sociais, de experiências e dificuldades,
aprendizagens, estímulo das capacidades cognitivas, apoio emocional (RABELO;
NERI, 2013).
Diante deste contexto, o presente projeto tem o intuito de ampliar
conhecimentos, repensar o imaginário social de intolerância e exclusão em relação a
população idosa, possibilitando um melhor entendimento acerca do envelhecimento e
seus impactos na subjetividade do indivíduo, assim como pretende criar um espaço de
fala e partilha de experiências para os idosos dentro da Universidade, favorecendo a
troca de experiências entre acadêmicos e a comunidade externa.
Justificativa
Diante do aumento mundial da população idosa e das estimativas para as
próximas décadas, chegando a 16,4% em 2030 e 21,3% em 2050 (UN, 2017), A
Extensão Universitária é vista como uma alternativa que visa encontrar e sistematizar
ações de promovam tanto a melhoria da saúde como de integração social do idoso,
direito que ainda não tem sido promovido de forma homogênea.
Desta forma a Universidade tem tido um papel fundamental nessa integração,
contribuindo também com a construção tanto do conhecimento como na promoção de
atividades e atendimentos de saúde para a população idosa. A Extensão Universitária
tem sido cada vez mais buscada pela terceira idade, que deseja uma vida mais saudável.
Projetos com atividades grupais, aliados ao conhecimento em gerontologia
mostram-se facilitadores para o estabelecimento de novas relações dos idosos com seu
meio social, pois proporcionam possibilidades de ressignificação de sua experiência de
envelhecimento. (LIMA; SILVEIRA, 2009).
Ressalta-se a importância das atividades em grupo enquanto espaços educativos
para a promoção de saúde e desenvolvimento humano sustentável, ao passo que se
reafirma a atividade educativa enquanto primordial na apropriação de novas formas da
pessoa idosa relacionar-se consigo mesma, com os outros e com o mundo,
possibilitando, pari passu, transformá-los.
A Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU
reconhecem que o desenvolvimento só será possível se for inclusivo para todas as
idades. Diante da necessidade de reduzir as desigualdades sociais, é preciso garantir a
igualdade de oportunidades por meio de medidas para eliminar a discriminação,
capacitar e promover a inclusão social, econômica e política de todos,
independentemente de idade, sexo, deficiência, raça, etnia, origem, religião, status
econômico ou outro.
Desta forma salienta-se que este projeto se adequa aos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável –ODS, preconizados pela Organização das Nações
Unidas (ONU), sequencialmente nos itens 3, 4 e 5 do documento, a saber: bem-estar e
saúde, educação de qualidade e igualdade de gênero. Esses aspectos, segundo
Unic(2015), são os objetivos a serem atingidos por todos os países do mundo até
2030
Assim sendo, este projeto pretende criar espaços de diálogo e de convivência
para a população idosa residente no bairro de Vila Isabel, nos entornos da Faculdade de
Enfermagem da UERJ, aproximando discussões sobre os diferentes aspectos que
envolvem o processo de envelhecimento.