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Sobre A Noção de Natureza No Pensamento Psicosocial

O ensaio discute a crise da natureza no contexto da sociedade moderna, especialmente sob a influência do capitalismo e da ciência. Propõe uma nova metafísica socioecológica, inspirada na ecosofia de Félix Guattari, que busca reestabelecer a relação entre o ser humano e o meio ambiente. Através dessa abordagem, sugere-se uma reestruturação do pensamento ambiental, enfatizando a interconexão entre os seres humanos e a natureza.

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Sobre A Noção de Natureza No Pensamento Psicosocial

O ensaio discute a crise da natureza no contexto da sociedade moderna, especialmente sob a influência do capitalismo e da ciência. Propõe uma nova metafísica socioecológica, inspirada na ecosofia de Félix Guattari, que busca reestabelecer a relação entre o ser humano e o meio ambiente. Através dessa abordagem, sugere-se uma reestruturação do pensamento ambiental, enfatizando a interconexão entre os seres humanos e a natureza.

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SOBRE A NOÇÃO DE NATUREZA NO PENSAMENTO PSICOSOCIAL

Guilherme Rodrigues Tozo

Poder-se-ia iniciar este ensaio afirmando que há um problema social a ser investigado,
um problema de crise sobre a natureza. Todavia, essa afirmação é demasiado ambígua, e
desconsidera certo sentido em sua afirmação. Pois, nos questionamos: sobre que Natureza?
Onde há crise? O que é uma crise da Natureza? E, porquê é um problema da sociedade?
Ao alegar uma crise social da natureza, visiona-se, de modo nada distante, uma crise da
própria vida; da mãe-natureza, sua identidade na sociedade humana, sobretudo, a capitalista1:
uma crise entre a vida terrena e a sociedade moderna 2. É possível pensar em exemplos
elementares ao longo da história, que seriam capazes de comprovar esse diagnóstico, que tem
“seu envolvimento com nossos coletivos e com os sujeitos. Não estamos falando do pensamento
instrumental, mas sim da própria matéria de nossas sociedades.” (Latour, 2019, p. 12).
A motivação para este ensaio é “formar uma molécula”; um pensamento para cada
leitor; sobre como é estruturada a problemática ambiental contemporânea, que não se limita,
somente, a vida humana; mas, a todo organismo biótico que subsiste, entre a sociedade e a
subjetividade. E estruturar uma - possível - solução para, usando de vocabulário latourniano,
esse nó górdio3; sob vias de uma metafísica socioecológica. Adentro do conflito entre a
perspectiva de um meio ambiente ecologicamente equilibrado em uma sociedade de
neoliberalismo violento4.
Partindo do olhar desatento, puramente contemplativo, sobre a natureza, direcionado ao
encontro do entendimento de sua imensidão cosmogônica das florestas, das árvores e plantas e
seus frutos, juntamente, aos frutos-vivos da Terra – os animais e o homo sapiens –, que se
desintegra com a ciência e indústria modernas. Uma vez que, a partir de seu surgimento, passa-
se do plano da contemplação ao plano da experimentação.
Ora, o indivíduo ‘humano’, antes de seu autorreconhecimento como tal, é um fruto-vivo
que se nutre e subsiste do ambiente onde se encontra, logo, pensa-se, em que ponto há uma
fragmentação entre o sujeito-homem e o objeto-natureza? Do homo sapiens para o homo
extiguens?
Sobre a necessidade de demarcar essa ruptura, a francesa Bernadette Bensaude-Vicent
(2013) elabora o caminho dessa correnteza histórica que desaguaria na época das revoluções

1 “O que está em questão é a maneira de viver daqui em diante sobre esse planeta [...]” (Guattari, 1990, p. 7).
2
“O navio está sem rumo: à esquerda, o conhecimento das coisas; à direita, o interesse, o poder e a política dos
homens.” (Latour, 2019, p. 11).
3
Cf. Latour, 2019, p. 10 – 11.
4
“Novamente, chefes de Estado, químicos, biólogos, pacientes desesperados e industriais encontram-se envolvidos
em uma mesma história incerta.” (Latour, 2019, p. 9).
científicas modernas5. Onde, no século cartesiano 6, a técnica aparece “não mais como imitação
da natureza, mas como seu prolongamento ou como uma atividade finalizada que passa pela
mediação das causas eficientes naturais [...], a natureza e o artificio não são mais
ontologicamente diferentes [...]” (Bensaude-Vicent, 2013, p. 129).
A modernidade abstrai o pensamento. Postulando uma digna revolução da estrutura
científica e social, ela foi decisiva para a fabricação; a montagem; a invenção de um novo
homem, sobre uma velha terra de uma sociedade teológica que passa para uma sociedade de
produção. A experiência científica materializa uma nova ideia sobre a natureza, e o que ela
desempenha em relação à civilização, isto é, “ela põe a natureza para trabalhar, a
instrumentaliza a serviço do ser humano. Bacon, Descartes e Boyle não cessavam de enumerar
razões boas e justas que conduzem o ser humano a se colocar como “senhor e dono” da
natureza7: aliviar as penas, reduzir os sofrimentos, aumentar o bem-estar. Para eles, a mecânica
é um humanismo.” (cf. Bensaude-Vicent, 2013, p. 131).
Torna-se possível dimensionar essa crise, no momento em que é possível identificar a
sua gênese. Assim, ela nasce a partir da modernidade, consagrando-se, em potência, com o
nascimento da indústria e da ideia de uma produção quantificada. O juízo estético de uma vida
digna é pautado no progresso da sociedade em que está imerso, quanto mais desenvolvido é o
sistema social, melhor é a desenvolvimento do homo extiguens. Entende-se o desenvolvimento
social, também, como um desenvolvimento de mercado, de inovações, por fim, o pensamento
do conforto proporcionado pela rotatividade constante do mercado capitalista contemporâneo
sobre a tecnologia.
Torna-se emergente pensar a natureza, através de uma nova metafísica, que implica em
penetrar, de maneira profunda, no tecido intelectual, já tão facilmente permeável, da sociedade
e da subjetividade; para encontrar um espaço, uma terra fértil, que funcione para o pensamento
e, claro, para a práxis.
Essa reestruturação ou, melhor, a busca de uma nova filosofia, capaz de proliferar no
solo da subjetividade e da sociedade, foi muito bem postulada na França do século XX, sob o
que o filósofo e psicanalista francês Félix Guattari, chamará de ecosofia: “É a relação da
subjetividade com sua exterioridade - seja ela social, animal, vegetal, cósmica — que se

5
A physis aristotélica, principal corrente do pensamento clássico até então, ressaltava que o movimento, inerente
à evolução ontológica dos seres, ocorre de acordo com um princípio de mudança interno a eles mesmos; não se
distanciando do ser humano, o qual está incluso sobre esse conceito. O homem é um ser partilhante do universo
tal qual é a pluralidade de outros organismos que nele existem e que, devido a sua alma intelectiva, se insere como
objeto de conhecimento através de um logos, isto é, a própria natureza oferece as bases da instrumentalização
humana. Os projetos técnicos dizem respeito às causas, tendo o ser humano como seu autor. Na medida em que,
“Um leito, um punhal, uma estátua, ou uma casa não nascem de um leito, de um punhal, de uma estátua, ou de
uma casa, e sim de um projeto humano.”. Após a censura da arte como um modo de criação na Idade Média, dado
que “a imitação é, com efeito, considerada como uma tentativa de fraude, de simulação. A conotação de falso
associada à vontade de enganar, roubar, abusar da confiança suscita ataques, normalmente, contra a técnica.” (cf.
Bensaude-Vicent, 2013, p. 128 – 129)
6
O dualismo cartesiano empreendeu os primeiros passos direcionados ao rompimento entre as raízes que ligavam
a espécie humana em sua – antiga – Natureza. Conjuntamente a proposta de história natural de Bacon, prevendo
uma reforma do conhecimento, ao mesmo tempo que carrega consigo a mudança social com a instauração das
universidades a partir do século XVII, o corpo-máquina se manifesta como o projeto ontológico decisivo, a
reificação da espécie-homem por meio de sua abstração da cosmogonia. Essa nova idealização se deve, sobretudo,
a nomes ilustres como Descartes, Bacon, Galileu e a sua nova ciência, denunciando a imobilização da Natureza e
despindo-a de seu antigo sentido, ela não possui mais o seu aspecto intrínseco; a arte agora não é mais uma simples
mimesis, mas uma ferramenta. (cf. Bensaude-Vicent, 2013, p. 130).
7
Sobre essa afirmação, considero interessante expor a posição de Georges Canguilhem, ao tratar do projeto de
Descartes. (cf. Canguilhem, 2012, Máquina e organismo. Em O conhecimento da vida, p. 118 – 119).
encontra assim comprometida numa espécie de movimento geral de implosão e infantilização
regressiva.” (Guattari, 1990, p. 7).
Através de Guattari, é possível elaborar uma ontogênese do sujeito ambiental, imerso
em uma práxis ecológica; para ser capaz de resolver o problema das ações antrópicas de
destruição, sobre o ambiente molar e molecular8. (cf. Cavalcante, 2017, p. 73; cf. Maeso, 2020,
p. 12).
Ao partir da ecosofia de Guattari, há como engendrar um mundo possível, baseado em
sua formulação tripartite de ecologia 9. Um mundo onde seus sujeitos se compreendem como
parte fundamental do meio ambiente. Como espécie que tem origem na natureza, em suas
esferas moleculares e molares; subjetivas e companheiras.

8 A apropriação dos conceitos de “molar” e “molecular”, por Deleuze & Guattari, torna-se melhor expressa nesta

nota do professor Benito Maeso (2020): “Molar – relativo a Mol, a unidade de medida que assinala a quantidade
de átomos ou moléculas em determinada substância. Um Mol de qualquer elemento terá sempre a quantidade de
6,02 X 1023 átomos ou moléculas deste elemento e será equivalente à sua massa atômica. Por analogia, Deleuze
a usa como indicativo de totalidade, ou como referência a um padrão majoritário ao qual os indivíduos (moléculas)
se adaptariam. Molecular – relativo à molécula, associação de átomos, iguais ou diferentes, que se unem por
ligações covalentes. Por analogia os autores pensam no molecular como a liberdade de associação, pensamento e
ação de indivíduos e grupos para além das ligações “molares”, onde todos os átomos e moléculas são da mesma
natureza.” (Maeso, 2020, nota 2, p. 12).
9
“[...] a ecologia ambiental tem como características a possibilidade de ocorrência naturalmente. A ecologia mental
(ou subjetiva) está relacionada aos conceitos de desempenho e benefício humano como ser ambiental consciente.
Dessa forma, a ecologia social tem como princípio o convívio humano em sociedade e a busca pela solução coletiva
dos problemas ambientais tanto na esfera local como global.” (Cavalcante, 2017, p. 77).
Bibliografia:

BENSAUDE-VICENT, Bernadette. As vertigens da tecnociência: moldar o mundo átomo por


átomo. Tradução José Luiz Cazarotto. São Paulo: Ideias & Letras, 2013.

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Tradução Carlos
Irineu da Costa; revisão técnica Stelio Marras. São Paulo: Editora 34, 2019.

GUATTARI, Félix. As três ecologias. Tradução Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas:


Papirus, 1990. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5290521/mod_resource/content/1/guattari-as-tres-
ecologias.pdf

MAESO, Benito. Química social e a meia-vida das revoluções moleculares. Revista PET
Filosofia UFPR, vol. 18, nº 2, agosto, 2020. Disponível em:
https://revistas.ufpr.br/petfilo/article/view/68041

CAVALCANTE, K. L. A ecosofia de Félix Guattari: uma análise da filosofia para as questões


ambientais. Cadernos Cajuína, vol. 2, nº2, 2017. Disponível em:
https://cadernoscajuina.pro.br/revistas/index.php/cadcajuina/article/view/150

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