Resumo da Carta Encíclica Lumen Fidei1
Os cristãos chamam a Cristo “verdadeiro sol” pelo vasto
horizonte que lhes abria – uma luz que ilumina todo o percurso da
estrada. Face aos avanços modernos, a fé foi causa de objecções,
sobretudo no que se refere ao saber – uma oposição entre o indagar e
o crer, e a fé é vista como ilusória, pois a sua luz empecilha o futuro
da humanidade. A luz da fé torna-se assim, associada a escuridão,
cujo o espaço abria-se nas circunstâncias em que a razão não poderia
iluminar ou quando o homem já não poderia ter certezas – salto no
vazio. Por conseguinte o homem foi se contentando em buscar
pequenas e instantâneas luzes, sem jamais conseguir discernir o bem
do mal – prendeu-se num círculo ininterrupto e sem direção – quando
falta a luz, tudo torna-se confuso.
Por isso, urge a necessidade de recuperar o carácter de luz
próprio da fé que dirige os caminhos da humanidade cuja a fonte é o
próprio Deus. Nasce no encontro com Deus vivo que nos chama e
revela o seu amor, que é anterior a nós e que nos guia. Remete-nos a
vida de Jesus, cujo o amor se manifestou plenamente fiável, capaz de
vencer a cruz – abri-nos grandes horizontes e abre-nos à amplitude
da comunhão, num tempo marcado pela carência de luz. A fé impacta
grandemente na vida da Igreja, pois nela tem o seu vigor. Como dom
de Deus e virtude sobrenatural por Ele infundida, reconhecemos que
um grande Amor foi oferecido, um Palavra foi dirigida: é Jesus Cristo –
Palavra encarnada. A fé, juntamente com a esperança e a caridade
constituem interligadamente o dinamismo da vida cristã rumo à plena
comunhão com Deus.
Acreditamos no amor – a fé possui um carácter pessoal: de um
lado Deus que dirige a sua Palavra, revela-se e chama, e por outro, o
homem que responde a essa Palavra pessoalmente. Permeada por
uma promessa, assim a fé torna-se enquanto memória do futuro está
ligada a esperança. A fé ´emûnah = ´amàn = sustento, quer
significar tanto a fidelidade de Deus como a fé do homem, com a qual
torna-se forte na medida em que confia a Deus, fonte de bondade
pela qual originam-se todas as coisas. A luz de Deus trazida pela fé
está intimamente ligada a narração da sua revelação, iluminando-nos
e recordando-nos os seus benefícios e o cumprimento das suas
promessas.
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**** luz (de um Rosto) = Cristo; luz do amor= Fé.
À fé opõe-se a idolatria, enquanto impedimento ao desabrochar-
se a Deus – fonte da luz – nosso eterno guia, pois, por essa o homem
torna-se o centro de tudo. Deixa de confiar-se a um amor
misericordioso que perdoa, sustenta e conduz – que endireita os
desvios da história. O acto de fé é essencialmente comunitário, pois,
no encontro com os outros – como mediação – adquire o
conhecimento do amor, com o qual vê-se o caminho luminoso entre
Deus e os homens – a história da salvação. A plenitude da fé está em
Cristo, porque em sua história manifesta-se a fiabilidade de Deus –
lugar da sua intervenção definitiva – e a manifestação suprema do
seu amor, uma vez que a fé identifica no amor de Deus manifestado
em Jesus, o fundamento sob o qual assenta a realidade e o seu
destino último. Por outro lado, Jesus concede-nos a fiabilidade do Seu
amor, apontando-nos a morte como prova: é um momento
culminante da fé, no qual resplandece o amor divino em toda a sua
sublimidade e amplitude, onde a fé é reforçada e fulgurada no Seu
amor inabalável e vencedor da morte, cuja a plenitude é o próprio
Cristo.
Desse modo, Cristo torna-se testemunha da fiabilidade do amor
de Deus e o porto seguro da nossa fé, pois, se o amor de Deus não o
ressuscitasse, vã seria a fiabilidade desse amor. Em Jesus
resplandece a plenitude da vida, na qual se manifesta o carácter real
do amor de Deus e pelo qual os cristãos confessam o seu amor a
Deus. Além disso, Cristo torna-se também Aquele a quem nos unimos
para crer, por ser perito nas coisas de Deus, com quem descobrimos
a grandeza do amor de Deus.
Outra questão é a salvação: pela fé ou pelas obras? Pelas obras
o homem coloca-se no centro e procura ser a fonte de toda a justiça,
pelo que a sua vida torna-se vã. Ao passo que pela fé, reconhece o
primado do dom de Deus – da sua graça que a todos socorre. Por
conseguinte a fé adquire em Cristo uma nova lógica: em Sua vida
abre-se um Amor que nos precede e transforma desde dentro, que
age em nós e junto de nós – um Amor que ilumina o percurso
humano. É essa a grande novidade da fé: além da transformação pela
abertura a esse Amor, o crença dilata-se para além de si próprio –
para um Outro – com quem a vida do crente amplia-se no Amor. Pela
acção do Espírito, o crente configura-se totalmente com Cristo, pois,
participa no Seu Amor.
Por último, destaca-se a forma eclesial da fé pela fé do crente.
Pela união vital de cada um dos crentes com Cristo e dos crentes
entre si que formam um só corpo, sem descurar a individualidade de
cada um, a fé toma uma forma ecblesial. Fora desta unidade, perde a
sua medida ou equilíbrio, pois, em cada cristão, a fé é a resposta do
Cristão à palavra de Cristo. Concluindo: a fé opera no cristão a partir
do dom recebido, do Amor que o atrai a Cristo e torna-o participante
do caminho da Igreja – por tal transformação, em cada crente a fé
torna-se luz aos seus olhos.
Se não acreditares, não compreendereis – No texto grego
entrega=compreensão (acreditar) de Deus; no texto hebraico
sintectiza-se como compreender=subsistir. Sem ser verdadeira, a fé
seria fabulosa = uma projeção dos desejos de felicidade. Ligada a
verdade, oferece uma luz nova, compreende o agir de Deus fiel. Tal
relação é necessária sobretudo nos nossos tempos, face a crise de
verdade = é verdadeiro o que se constrói e se mede pela ciência =
porque funciona. Subsequentemente, a verdade sobre o social ou
sobre a história concreta, ou ainda sobre Deus é relativizada
(eliminação da relação religião- verdade) o que conduz a uma
obnubilação da memória. A busca da verdade é questão de memória
profunda, porque visa algo que nos precede e pode unir-nos para
além do nosso “eu” pequeno e limitado. Refere-se a origem de tudo,
cuja luz mostra a meta e o sentido da estrada comum.
O coração é o lugar onde nos abrimos à verdade e ao amor,
deixando que nos toquem e transformem. E é precisamente daí que a
pessoa abre-se ao amor e a fé desempenha a função de transformá-
la. Com o entrelaçamento fé-amor, compreende-se a capacidade
exclusiva da fé de iluminar os nossos passos como forma de
conhecimento da própria fé, cuja compreensão nasce do acolhimento
do amor de Deus, que nos transforma e nos dá um novo modo de ver
a realidade.
Nos tempos hodiernos o amor é visto como experiência não
ligada à verdade, mas aos sentimentos. É prudente a perspectiva da
sua relação com a verdade, na medida em que não se assujeita à
prova do tempo, isto é, na medida em que se mantém firme. É uma
luz nova que aponta a uma vida grande e plena. Por outro lado,
também a verdade precisa do amor, a fim de não se tornar
impessoal, gravosa e fria. A verdade que dá significado aos nossos
passos, iluminar-nos quando somos tocados pelo amor.
O amor como fonte de conhecimento, encontra a sua afirmação
na concepção bíblica da fé. Israel saboreia o amor de Deus, quando
compreende a unidade dos seus desígnios. O conhecimento da fé
brota do amor de Deus que estabelece a Aliança e ilumina um
caminho na história (relação verdade-fidelidade) e ilumina o percurso
do mundo criado, desde a sua origem à sua consumação.
A fé é escuta, na medida em que ajuda a identificar bem o nexo
entre amor e conhecimento pessoal como reconhecimento, abertura
e seguimento ao que se ouve – a Palavra de Deus. Atesta a chamada
pessoal a obediência e a verdade que se revela no tempo. Como
visão, permite situar-nos no projecto de Deus, por revelar a plenitude
de todo o percurso. A fé como conhecimento mediante a escuta e a
visão, aparece no Evangelho de São João sintectizada na palavra
“acreditar”. Uma ulterior síntese ocorre na Pessoa de Jesus que se vê
e escuta= Palavra que se fez carne= Luz de um Rosto da qual
procede a luz da fé, no qual vê-se o Pai, o que torna a verdade da fé
centrada no encontro com Cristo, na contemplação da Sua vida e na
percepção da Sua presença, onde o acreditar é penetrar na
profundidade do que se vê.
O conhecimento do amor brota no coração quando sentimos a
presença do amado no nosso interior, permitindo-nos chegar à
compreensão do seu mistério e a acreditarmos n´Ele, que nos toca e
configura, a fim de O vermos melhor com a luz da fé.
A fé cristã tem na sua essência o amor que provém do Pai e é
manifestado em Jesus, ao qual cada homem é chamado a
corresponder para permanecer na luz plena do amor de Jesus
também com amor, a fim de compreender a sua meta: a plenitude da
doação de Jesus por nós, fundando assim um movimento circular,
onde a luz do amor, própria da fé, ilumina a nossa relação com o
Outro e com os outros, alargando as possibilidades de um
testemunho e diálogo, baseados numa verdade do amor, longe
daquelas verdades totalitaristas.
Foi a partir do encontro com o mundo grego que a mensagem
evangélica constituiu a sua passagem decisiva, chegando a todos os
povos e favoreceu uma fecunda sinergia entre fé e razão.
Por outro lado, a luz da fé ilumina também a matéria, pois o
amor vive-se na com o corpo e alma. A ciência tira benefício da fé que
lhe convida a uma abertura à riqueza inesgotável da realidade,
alargando os seus horizontes ao iluminar melhor o mundo, desperta o
sentido crítico, enquanto impede a pesquisa de se deter e ajuda a
compreender que a natureza sempre a ultrapassa.
O caminho da busca por Deus, realiza-se por meio da confissão
de fé, com a qual pode o homem encontra os seus sinais nas
experiências da vida. Por outro lado, é sempre Deus Quem guia o
homem a Si mesmo, propriamente pela luz de Cristo que leva o
Cristão a compreender e acompanhar o caminho de cada homem
para Deus, pela prática do bem rumo à plenitude do amor.
A fé convida-nos a penetrar no horizonte que ilumina, a fim de
conhecer melhor o que amamos. Disso nasce a teologia cristã, que
pela fé, busca compreender a autorrevelação de Deus, culminada no
Mistério de Cristo, onde Deus é Sujeito. A fé recta tem a função de
guiar a razão no amor à verdade para conhecer a Deus
profundamente. A teologia é um busca por uma compreensão da
Palavra que Deus nos dirige. Está a serviço da fé dos cristãos.
Transmito-vos aquilo que recebi – a fé transmite-se mediante o
eixo do tempo sob a forma de contacto, de pessoa a pessoa, de
geração em geração. A transmissão do passado da nossa fé é feita
pela Igreja, como sujeito único e Mãe que ensina a falar a linguagem
da fé; é o Espírito (Amor) que nos faz contemporâneos de Jesus. A fé
é vivida na abertura ao nós, dentro da comunhão da Igreja, onde o
crer é uma resposta a um convite, inserido numa relação de diálogo
“tu a tu”.
Mediante a tradição apostólica, a Igreja transmite fielmente os
conteúdos de sua memória – a luz nova que nasce do encontro com
Deus Vivo, cujo meio especial é o corpo e o espírito, interioridade e
relações – os sacramentos celebrados na Liturgia, pelo que a fé é
sacramento e os sacramentos estão associados à fé, onde a pessoa é
envolvida como membro de sujeito vivo, num tecido de relações
comunitárias.
O despertar da fé desdobra-se no despertar de um recente
sentido sacramental, onde se mostra como o visível e material
abrem-se ao mistério eterno. Disso emerge que na transmissão da fé,
destaca-se primeiramente o Baptismo, pelo qual nos tornamos novas
criaturas e filhos adoptivos de Deus, recordando-nos que a fé deve
ser recebida. É uma forma de vida e de doutrina recebidas, que
envolvem a totalidade da pessoa para o bem – uma nova forma de
ensino designada por São Paulo, cujos os elementos baptismais são:
1) a invocação do nome da Trindade, oferecendo uma síntese do
caminho da fé, desde Abraão a Jesus; 2) imersão na água, símbolo da
morte – conversão do “eu” para maior abertura ao “Eu” maior;
símbolo da vida – do ventre onde renascemos para seguir Cristo, na
Sua nova existência, pela qual o Baptismo fala-nos da estrutura
encarnada da fé, cuja relação é expressa pela confiança do baptizado
à solidez encontrada na “água da vida”, que o resgata da morte, cuja
corrente entra na dinâmica do amor de Jesus, fonte de segurança
para o nosso caminho na vida.
A estrutura do Baptismo – a sua configuração como
renascimento onde recebemos um nome novo e uma vida nova,
ajuda-nos a compreender o sentido e importância do Baptismo das
crianças. A fé vivida comunitariamente é inserida num “nós” comum.
Deste modo, a criança pode ser acolhida na fé dos pais e padrinhos
que a ajudam a confessá-la, sustentando-a. A importância de tal
estrutura reside na sinergia entre a Igreja e a família na transmissão
da fé.
A máxima expressão da natureza sacramental da fé reside na
Eucaristia, encontro com Cristo, cujo o dom de si mesmo gera o amor,
onde ocorre o cruzamento de dois eixos: 1) da história: enquanto acto
de memória, actualização do mistério, em que o passado (morte e
ressurreição), abre-se ao futuro antecipando a sua plenitude final; 2)
da passagem do mundo visível ao invisível: onde se aprende a ver
com profundidade do real, em que o mistério da transubstanciação
introduz-nos no movimento de toda a criação.
Na celebração dos sacramentos a Igreja transmite a sua
memória, particularmente na profissão de fé, pela qual o crente
penetra no mistério que professa e deixa-se transformar por aquilo
que confessa, cujo o sentido é compreendido no conteúdo do Credo
que possui estrutura trinitária: o Pai e o Filho unem-Se no Espírito
Santo, cujo o centro é a comunhão divina. Ademais, contém também
uma confissão cristológica e consequentemente a introdução do
homem no dinamismo da comunhão divina.
Ainda na transmissão da sua memória, destacam-se a Oração
do Senhor – O Pai Nosso, pela qual o cristã a aprende a partilhar a
experiência de Cristo espiritual e começa a ver com os olhos d´Ele; o
Decálogo – que à luz da fé (entrega total a Deus que salva) adquire
uma verdade mais profunda, como um conjuntos de indicações
concretas para entrar em diálogo com Deus, deixando-se abraçar
pela sua misericórdia, experimentando o seu amor – um caminho de
gratidão, da resposta de amor. O tesouro da memória que a Igreja
transmite é constituído pelos quatro elementos: a confissão de Fé, a
celebração dos sacramentos, o caminho de Decálogo e a oração, à
volta deles se estruturou a catequese da Igreja.
Para culminar esse capítulo, o Papa aborda a unidade e
integridade da fé. A unidade da Igreja está ligada à unidade da fé.
Longe das distensões aquando da unanimidade, o amor verdadeiro,
exige a verdade num olhar comum da verdade que é Jesus Cristo. A
alegria da fé sobressai-se pela unidade de visão num só corpo e num
só Espírito. O segredo da unidade da fé advém da unidade de Deus
conhecido e confessado que nos enriquece porque se comunica a nós
e nos torna um; a fé é una porque se dirige ao único Senhor, à vida e
à história concreta de Jesus, conosco partilhada. Deste modo
contrapõe-se aos gnósticos que sustentavam dois tipos de fé: uma
rude, imperfeita, dos simples ao nível da carne de Cristo e da
contemplação dos Seus mistérios; outra mais profunda e perfeita – a
fé verdadeira – reservada a um círculo de iniciados, orientada além
da carne de Jesus, rumo aos mistérios de sua divindade
desconhecida. A fé é verdadeira porque parte sempre da encarnação
(Santo Irineu); em último lugar, a fé é una porque é partilhada na
Igreja, que é um só Corpo e um só Espírito.
Da unidade da fé advém a sua integridade, unida à imagem da
Igreja Virgem, com o seu esponsal à Cristo. Danificar a fé, é danificar
a verdade da comunhão com Deus.
Ao serviço da unidade da fé e à sua transmissão, está a
sucessão apostólica, como garantia da continuidade da memória da
Igreja. A garantia da ligação é-nos dada por pessoas vivas, disto
emerge que a fé transmita é viva, assente nas suas testemunhas.
Também o magistério desempenha como testemunha a tarefa de
anunciar toda a vontade divina.
Deus prepara para eles uma cidade – a fé à luz da Carta aos
Hebreus, além de ser um caminho, é também edificação, preparação
de um lugar onde os homens possam habitar uns com os outros. A fé
revela o quão firmes os vínculos entre os homens podem tornar-se,
quando Deus está presente no meio deles. Nesse sentido, a fé ilumina
também as relações entre os homens, porque nasce do amor e segue
a dinâmica do amor de Deus. Deus que é fiável, concede aos homens
uma cidade fiável.
Ligada ao amor, a fé está ao serviço concreto da justiça, do
direito e da paz. Valoriza as relações humanas, fazendo-as
perdurarem, serem fiáveis e de enriquecerem a vida em comum.
Sem um amor fiável, a relações humanas estariam fundadas sobre a
utilidade, como conjugação de interesses. Contrariamente, a fé ajuda
a compreender a arquitetura das relações humanas, porque identifica
o seu fundamento último e destino definitivo em Deus, no Seu amor,
iluminando a arte da construção das relações humanas, tornando-se
assim um serviço ao bem comum, pois a sua luz não serve somente
para a construção da cidade eterna no além, mas ajuda na
construção das nossas sociedades de modo que caminhem num
futuro de esperança. As mãos da fé elevam ao Céu uma cidade
construída sob relações alicerçadas no amor de Deus, edificando-a na
caridade.
O primeiro âmbito que a fé ilumina na cidade dos homens (na
relações entre os homens) é a família, onde ajuda na individuação,
em toda a sua profundidade e riqueza, a geração dos filhos, fazendo
reconhecer nela o amor criador que nos dá e nos entrega o mistério
de uma nova pessoa. A fé acompanha todas as idades da vida, por
isso importa o acompanhamento dos pais. Na infância, pela confiança
no amor dos pais e na juventude pelo compromisso de viver uma fé
mais sólida e a generosa, onde o encontro com Cristo dá-lhe uma
esperança que não se desilude. A fé não é um refúgio, mas a
dilatação da vida: faz descobrir a vocação ao amor, assegurando a
sua fiabilidade (o seu valor), cujo o fundamento é a fidelidade de
Deus, mais forte do que a nossa fragilidade.
Por outro lado, a fé ilumina também as relações sociais, como
experiência da paternidade e misericórdia de Deus, dilata-se depois
em caminho fraterno. A fraternidade universal, mesmo que baseada
na igualmente, não subiste caso estiver privada do referimento a um
Pai comum como seu fundamento último, pois, também a história da
salvação é uma história da fraternidade onde o homem à medida que
avança descobre que Deus quer fazer a todos participar como irmãos
de uma única benção, cujo a plenitude está em Cristo. A fé ilumina
também a compreensão da dignidade de cada pessoa – é esse um
dos seus benefícios. No centro da fé bíblica, está o amor de Deus,
manifestado na realidade da Encarnação, Morte e Ressurreição de
Cristo, cujo o obscurecimento empecilha o critério que serve para a
individualização do que torna preciosa e única a vida do homem.
Ao revelar o amor de Deus, a fé faz-nos: olhar com maior
respeito para a natureza, reconhecendo nela uma gramática escrita
por Ele e uma habitação que nos foi confiada para ser cultivada e
guardada; ensina-nos a individuar formas justas de governo,
reconhecendo que a autoridade vem de Deus para estar ao serviço do
bem comum; afirma a possibilidade de um perdão possível quando se
descobre que o bem é sempre mais forte e originário que o mal, a
unidade é superior ao conflito (do ponto de antropológico).
Por outro lado, com o esmorecimento da fé, esmorece também
os fundamentos do viver. Se retirarmos a fé das nossas comunidades,
enfraquecer-se-á a confiança entre nós, apenas nos manterá unidos o
medo, e a estabilidade ficará ameaçada. Com a expressão <<não se
envergonha>> se quer afirmar que Deus, com o Seu agir concreto,
confessa publicamente a Sua presença entre nós, o Seu desejo de
tornar firmes as relações entre os homens. A fé ilumina a vida social:
possui uma luz criadora, porque coloca todos os acontecimentos em
relação com a origem e destino de tudo no Pai que nos ama – é uma
luz para a vida em sociedade.
Falar da fé como uma força consoladora no sofrimento,
comporta falar de provas dolorosas, nas quais S. Paulo vê o anúncio
mais convincente do Evangelho, pois é na fraqueza e no sofrimento
que sobressai e se descobre o poder de Deus que supera a nossa
fraqueza e o nosso sofrimento – na hora da prova, a fé ilumina-nos. O
cristão sabe que o sofrimento não pode ser eliminado, mas pode
adquirir um sentido: pode tornar-se uma acto de amor – entrega nas
mãos de Deus que não nos abandona – e, deste modo, uma etapa de
crescimento na fé e no amor. Contemplando a união de Cristo com o
Pai no momento de maior sofrimento na Cruz, o cristão aprende a
participar no olhar de Cristo, onde até a própria morte é uma última
chamada da fé.
A luz da fé não nos faz esquecer os sofrimentos do mundo. A fé
não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas lâmpada que guia
os nossos passos na noite, e isto nos basta no caminho – o que quer
dizer que Deus não concede um raciocínio que explique tudo ao
homem que sofre, mas oferece a sua resposta sob forma de presença
que o acompanha, de uma história de bem que se une a uma história
de sofrimento para abrir nela uma brecha de luz.
O sofrimento recorda-nos que o serviço da fé ao bem comum é
sempre serviço de esperança que nos faz olhar em frente, sabendo
que do futuro que vem de Jesus ressuscitado poderá a nossa
sociedade encontrar alicerces sólidos e duradouros. A fé, neste
sentido, une-se à esperança, enquanto há uma habitação eterna que
Cristo já inaugurou no Seu Corpo. Assim o dinamismo de fé,
esperança e caridade faz-nos abraçar as preocupações dos homens,
no caminho rumo àquela cidade construída por Deus.
Nesse sentido, a esperança conduz a um futuro certo, diferente
àquele dos ídolos deste mundo, que dá novo impulso e nova força à
vida de todos os dias.