Planejamento Ambiental Beberibe
Planejamento Ambiental Beberibe
Resumo: O objeto de estudo deste trabalho é o Monumento Natural das Falésias de Beberibe, localizado nas praias de * Professora Assistente da
Morro Branco e das Fontes no município de Beberibe - Ceará. Escolheu-se a área do Monumento para estudo devido as Universidade Regional do Cariri
suas unidades geoambientais possuírem um grande valor paisagístico, apresentando importância para o litoral, uma vez (URCA)
que são dotadas de fragilidades ambientais. O objetivo principal é uma proposta de planejamento ambiental para a área do
Monumento e entorno através de um zoneamento ambiental. O trabalho foi desenvolvido tendo como base metodológica a **Professor Titular da Universidade
Teoria Geossistêmica. As técnicas envolveram a coleta de dados em órgãos, interpretação de imagens do satélite Quickbird Federal do Ceará
(2004), levantamentos de campo e a elaboração de mapas temáticos no software livre Gvsig 1.9. Como resultados delimitaram-
se uma zona de amortecimento para o Monumento Natural incluindo a faixa de praia e pós-praia, dunas, lagoa do Tracuá e
Tabuleiro Pré-litorâneo. Foi proposta a criação da APA da Praia das Fontes e para finalizar um zoneamento ambiental para a
área do Monumento Natural abrangendo a sua zona de amortecimento, tendo como seguinte zonas: Intangível, Primitiva, Uso
Extensivo e Uso Especial, para a APA da praia das Fontes, as zonas propostas foram: Preservação Ambiental, Conservação
Ambiental, Ocorrência Ambiental, Recuperação Ambiental, Ocupação Urbana, Ocupação Especial, Ocupação Residencial e
Hoteleira e Expansão Urbana. Este zoneamento poderá ser discutido juntamente com os setores que se encontram envolvidos
na área de estudo.
Palavras- chave:
Monumento natural;
Planejamento; Zoneamento
Mapping applied to environmental planning in a storage unit ambiental.
in Beberibe- Ceará
Key-Words: Natural
Monument; Planning;
Abstract: The object of this paper is the Cliffs National Monument of Beberibe, located on the beaches of Morro Branco and
Fontes in Beberibe - Ceará. We chose the area of the Monument for study due to its geo-environmental units have a great Zoning; Environmental
landscape value, giving importance to the coast, since they are equipped with environmental weaknesses. The main objective
is a proposal for environmental planning for the area around the Monument, and through an environmental zoning. The work
was based on methodological Geossistêmica Theory. The techniques involved in data collection agencies, interpretation of
Quickbird satellite imagery (2004), field surveys and preparation of thematic maps in open source gvSIG 1.9. As a result
delimited to a buffer zone to the Monument including the strip of beach and backshore, dunes, lagoon and Tracuá Tray Pre-
coast. It was suggested that the APA of Praia das Fontes and to finalize an environmental zoning for the area of the Monument
covering its buffer zone, with the following areas: Intangible, Early, Extensive Use and Special Use for the APA from the beach
sources, the areas proposed were: Environmental Conservation, Environmental Conservation, Environmental Occurrence,
Environmental Restoration, Urban Occupation, Occupation Special Residential and Hotel Occupancy and Urban Expansion.
This zoning will be discussed along with the sectors that are involved in the study area.
A Geografia é uma ciência voltada ao estudo do espaço e neste, insere-se o homem. Ressalta-
se que o espaço é dinâmico, seja por causas naturais ou sociais. Sua dinâmica é particularizada
em cada lugar e, consequentemente, as paisagens produzidas e reproduzidas nestes lugares são
específicas (FALCÃO-SOBRINHO e FALCÃO, 2008).
A Cartografia e o Sensoriamento Remoto são instrumentos técnicos utilizados pela Geografia
Física que permitem uma melhor interpretação e representação dos fenômenos que atingem o
espaço geográfico. Em unidades de conservação a cartografia vem contribuindo para a organização
da área através do zoneamento ambiental que está previsto nos planos de manejo. Segundo o
SNUC (2000), o zoneamento é a definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação,
com objetivos de manejo e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as
condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e
eficaz.
A geografia física tem por objetivo segundo Ross (2006) investigar os fenômenos naturais,
sempre inter-relacionados, que se caracterizam por processos dinâmicos de fluxos de energia e
matéria entre partes de um todo. Neste sentido, a geografia possui um aparato técnico-metodológico
para a elaboração de zoneamentos, já que o mesmo exige o conhecimento de como funciona a
dinâmica ambiental para que se possam propor medidas adequadas na área.
Com a cartografia temática é possível obter informações específicas sobre determinado
tema ou fenômeno, mostrando sua localização e respectiva distribuição no espaço geográfico. O
uso do sensoriamento remoto com base na análise de imagens de satélites é um dos meios que
se dispõem hoje para acelerar e reduzir custos dos mapeamentos e da detecção de mudanças
geoambientais (CAMARGO e SOARES, 2007).
A questão de unidades de conservação vem sendo bastante trabalhada por geógrafos, que
estão fornecendo diagnósticos ambientais atualizados e propostas de gestão para as UC’s através
de zoneamentos que poderão subsidiar a elaboração de planos de manejo. Oliveira e Marques
(2003) comentam que a temática é recente, estando longe de se esgotar. É necessário que os
geógrafos também se insiram neste estudo, pois tais profissionais podem realizar uma conexão
entre “físico” e “humano” de forma ímpar. É necessário que nos façamos mais presentes neste
campo que carece de informações, sobretudo no tocante à distribuição espacial.
Os campos de conhecimento da Geografia Física como a geomorfologia, hidrologia e
biogeografia em muito contribuem para os estudos em unidades de conservação. Guerra e
Marçal (2006) explicam que os conhecimentos geomorfológicos estão beneficiando as UC’s no
Brasil, atuando na recuperação de áreas degradas, definição de trilhas e de áreas a serem melhor
aproveitadas, através do estabelecimento das suas capacidades de suporte.
O objeto de estudo deste trabalho, o Monumento Natural das Falésias de Beberibe, localiza-
se no município de Beberibe (figura 01), litoral leste do Estado do Ceará, entre as praias de Morro
Branco e das Fontes, possuindo uma área de 31,2 hectares e um perímetro 5.709 metros. Criado
em junho de 2004 devido a sua beleza cênica que atrai muitos visitantes, o Monumento Natural tem
por objetivo a sua proteção contra os impactos ambientais que ocorriam anteriormente nas falésias,
antes do decreto de sua instituição como unidade de conservação. A unidade de conservação do
tipo Monumento Natural (objeto deste trabalho) é integrante do grupo de Proteção Integral, tendo
Geografia Ensino & Pesquisa, v. 16, n.2 por objetivo preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.
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As falésias do Monumento Natural são as únicas que estão protegidas e não possuem
ocupações, enquanto que as outras como as da Praia das Fontes são ocupadas por hotéis e
Planejamento ambiental em
uma unidade de conservação no casas de veraneio, é como se o Monumento Natural fosse um “ilha” em meio a tantas ocupações
município de Beberibe – Ceará presentes ao seu redor. Todo o entorno geográfico que abrange as falésias de Beberibe necessita
de um ordenamento de uso e ocupação do solo adequado aos seus limites (SILVA, 2008). Por
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conseguinte, achou-se interessante incluir na pesquisa não só as falésias locais, mas outras
unidades geoambientais (praia, campos de dunas, planícies lacustres e as falésias que estão fora
da delimitação do Monumento Natural e que são ocupadas na Praia das Fontes) que formam o
conjunto do entorno geográfico da área estudada. O objetivo principal deste trabalho é uma proposta
de planejamento ambiental para a área do Monumento e entorno através de um zoneamento
ambiental.
Material e Métodos
O destaque feito à geomorfologia como fator básico de integração é devido tanto ao seu
grau de “estabilidade” como pela maior facilidade de se identificar, delimitar e interpretar
os comportamentos topográficos e as funções de modelado nele contido e conduzir a
uma condição parcial de integração através das condições morfo-estruturais, morfo-
pedológicos, morfo-climáticos e hidro-morfológicos.
Resultados e discusões
A unidade geoambiental compreende uma unidade de paisagem que tem feições mais ou
menos homogêneas, ocupando uma determinada porção da superfície terrestre, e revelando um
conjunto de características físicas e bióticas próprias (SILVA et al, 2004).
As unidades geoambientais encontradas na área de estudo foram o mar litorâneo, planície
litorânea (faixa de praia, pós-praia, campos de dunas e planícies lacustres) e tabuleiro pré-litorâneo
Geografia Ensino & Pesquisa, v. 16, n.2 (falésias) e podem ser visualizadas na figura 01.
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Mar Litorâneo
Planejamento ambiental em
uma unidade de conservação no
O mar litorâneo é uma área do oceano que está junto ao continente e na área de estudo
município de Beberibe – Ceará o mar litorâneo encontra-se ao Norte. A flora presente nesta unidade é composta basicamente de
fitoplanctons que servem de alimentos para a fauna presente como os peixes, moluscos e crustáceos.
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Planície Litorânea
Faixa de praia e pós-praia
A faixa de praia da área estudada (figura 02) é recoberta por sedimentos constituídos por
areias quartzozas, com grande acumulação e depositados pelo mar. As ondas atacam obliquamente
à praia com direção SE-NW, originando assim o transporte longitudinal de areia, principalmente na
zona de surf. A fonte de sedimentos são as areias vindas do continente transportados pelos rios e
da ação erosiva das ondas nas falésias.
Campos de Dunas
Na área de estudo, as dunas (figura 03) dispõem-se à retaguarda das falésias sendo formadas
por areias quartzozas esbranquiçadas, amareladas e alaranjadas, de granulação média a fina. A
fonte destes sedimentos são as areias depositadas na faixa de praia e da erosão das falésias.
Em relação ao grau de consolidação, as dunas móveis e fixas se destacam na paisagem. As
móveis se localizam depois das falésias, com vegetação em processo de consolidação, mas sua
disposição favorece a migração dos sedimentos. Ocorrendo mais no interior após as dunas móveis,
podem-se encontrar as dunas fixas.
Outra feição presente na área são os corredores de deflação, que são áreas planas e
deprimidas que separam as dunas presentes na praia das que se situam mais no interior. Estas
formas permitem a passagem de sedimentos para alimentar outras dunas.
Geografia Ensino & Pesquisa, v. 16, n.2
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Planície Flúvio-Lacustre
As planícies flúvio-lacustre são áreas que se desenvolvem às margens de lagoas e ocorrem
por todo o litoral com dimensões variadas.
Na área de estudo identifica-se duas lagoas sendo perenes (Lagoa do Tracuá e Uberaba)
e outras intermitentes. A lagoa do Tracuá (figura 04) possui uma área em torno de 24 hectares e a
Uberaba (figura 05) 60 hectares.
Figura 04- Lagoa do Tracuá – Praia de Morro Branco Figura 05- Lagoa da Uberaba
A Gruta da Mãe d’água expõe uma bela estrutura, mas não podemos deixar de mencionar o
risco de desabamento, pois a parte escavada está suportando o material sobrejacente que existe Silva, J. M. O.; Silva, E. V.
até que um dia pela força da gravidade o material desabará. Outra nota importante é que a gruta
não está inserida na delimitação do Monumento Natural, ficando sujeita à degradação. ISSN 2236-4994 I 135
No contato da camada argilosa com a arenosa surgem as famosas fontes de águas.
Encontram-se pelos menos 16 ressurgências, sendo algumas de grande expressão e outros filetes
de águas que escorrem constantemente das falésias. As mais famosas são a Bica das Virgens
(no Morro Branco), a Fonte Raimundo Fagner (na praia das Fontes), Sangradouro das Fontes
(praia das Fontes), e outras duas (sem denominação), são as mais aproveitadas por possuírem um
volume maior de despejo de água.
A área de estudo possui muitas particularidades locais, no que se refere ao seu grau de
conservação dos recursos naturais e localização dos problemas ambientais como as ocupações
desordenadas. Pensando nisto, se propôs múltiplos usos para a área estudada.
Inicialmente delimitou-se uma Zona de Amortecimento para o Monumento Natural,
identificando-se a sua área e a importância de cada setor para a zona de amortecimento da
unidade de conservação. O SNUC (2000) definiu a zona de amortecimento como sendo o entorno
de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições
específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade. Para a praia das
Fontes se propuseram medidas diferenciadas da Unidade de Conservação estudada, uma vez que
essa praia não está incluída totalmente na delimitação do Monumento Natural. Posterior à proposta
de APA da Praia das Fontes, um zoneamento ambiental foi traçado para o Monumento Natural e sua
respectiva zona de amortecimento, de acordo com os critérios para as unidades de proteção integral e
um zoneamento para a APA de acordo com a metodologia proposta pelo IBAMA (2002) para as APA’s.
As falésias da praia das Fontes não podem se tornar uma ampliação do Monumento Natural,
porque as mesmas já se encontram parcialmente ocupadas e a categoria de Monumento Natural
como Proteção Integral não pode conter ocupações em sua área. Somente uma parte das falésias
da Praia das Fontes não está ocupada: no começo da praia (estas pertencem ao Monumento
Natural – indicam o final do Monumento) e a Gruta da Mãe D’água (no meio da praia).
Diante deste panorama, propõe-se a criação de uma Área de Proteção Ambiental da Praia
das Fontes. A APA poderá ser administrada pela Prefeitura Municipal de Beberibe. Com a criação e
gerenciamento da APA, a comunidade ficará mais protegida do avanço da especulação imobiliária,
já que a APA impõe restrições de uso e ocupação do solo. Segundo a definição do SNUC (2000),
no Capítulo 03, artigo XV, a APA é:
“Uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos
abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de
vida e o bem-estar das populações humanas (SNUC, 2000: 07) “.
A APA foi a categoria de unidade de conservação que mais se enquadrou para a Praia
das Fontes, devido principalmente aos seus objetivos de disciplinar o processo de ocupação, e
providencial para a praia das Fontes. A APA (a sua área de abrangência pode ser visualizada na
figura 08) incluiu a comunidade, seus recursos naturais como a faixa de praia, falésias, dunas,
lagoas e o tabuleiro pré-litorâneo, onde está localizada a comunidade do Onofre.
Planejamento ambiental em Figura 08- Delimitação da zona de amortecimento do Monumento Natural e da APA da Praia das Fontes
uma unidade de conservação no
município de Beberibe – Ceará
Para o Zoneamento Ambiental da APA utilizaram-se os critérios adotados pelo IBAMA (2001)
em seu “Roteiro Metodológico para Gestão de Áreas de Proteção Ambiental” e trabalhos de Cardoso
(2002) e Vidal (2006).
Importante ressaltar é que no contato das unidades geoambientais pertencentes a APA e das
unidades que integram a zona de amortecimento do Monumento Natural, o tipo de uso delas são
iguais, de proteção máxima. Como na praia das Fontes há a presença maciça de hotéis e casas
de veraneio, neste setor haverá uma zona específica dentro do zoneamento que será discutido do
decorrer da proposta de zoneamento.
As zonas estabelecidas para a APA da Praia das Fontes são:
Zona de Preservação Ambiental (ZPA): As unidades da faixa de praia, pós-praia, dunas
móveis e as falésias sem ocupação estão incluídas nesta zona. O objetivo da ZPA é a preservação
integral da biodiversidade, da estabilidade geomorfológica e dos aspectos paisagísticos.
Nestas zonas de proteção adota-se postura de controle muito rigorosa para os espaços
ambientais com níveis elevados de conservação ou fragilidade e para territórios considerados
fundamentais para expansão ou conservação da biodiversidade (IBAMA, 2001).
Devido às próprias condições sócio-econômicas do local, fica difícil proibir a retirada de
barracas na pós-praia, pois as mesmas pertencem aos moradores, tornando-se um meio de
sustento das famílias locais. Segundo o IBAMA (2001) nos setores já alterados nesta zona poderão
se admitir um nível de utilização, mas com normas bastante rigorosas.
As dunas móveis que ainda não se encontram ocupadas estão localizadas atrás de áreas
urbanizadas em dunas móveis. Com a proteção ambiental, estas unidades não serão ocupadas
futuramente. É importante que os loteamentos feitos nas dunas sejam retirados, pois não se sabe
como conseguiram os terrenos para as construções.
As falésias sem ocupações antrópicas ocorrem em pequenas proporções, geralmente são
as falésias onde as fontes de água se localizam, se encontram mais no final da praia das Fontes.
Dentre as atividades que podem ser realizadas na área estão a pesquisa científica, lazer,
monitoramento e educação ambiental. A ZPA tem uma área de 163,4 hectares.
Zona de Conservação Ambiental (ZCA): O objetivo desta zona é o manejo correto dos
atributos naturais, podendo conter ocupações, desde que sejam respeitadas as condições naturais
do terreno. Pertencem a ZCA, a lagoa da Uberaba, os pequenos córregos e as dunas fixas.
A lagoa da Uberaba é mais usada para o abastecimento feito pela CAGECE, além de
propiciar o lazer para a população local. O que se recomenda é um programa de monitoramento da Geografia Ensino & Pesquisa, v. 16, n.2
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qualidade da água, evitando-se os riscos de poluição.
As dunas fixas contêm espécies arbóreas que servem de alimentos para a população como Silva, J. M. O.; Silva, E. V.
o Anacardium occidentale (caju), Byrsonima spp (murici), dentre outros. Recomenda-se o uso
sustentável destas espécies, para que se continue garantir a manutenção das dunas como também ISSN 2236-4994 I 141
dos frutos que a vegetação oferece. De acordo com Cardoso (2002) a implantação das dunas fixas
na zona de conservação ambiental servirá para atividades de Ecoturismo e estudos científicos
por escolas e universidades feitos em grupos pequenos de visitantes, transformando-a em um
laboratório natural. A ZCA tem uma área de 92,1 hectares.
Área de Ocorrência Ambiental (AOA): Esta área foi adotada aqui por causa da Gruta da Mãe
D’água. A gruta apresenta características que se enquadram nesta categoria. De acordo com IBAMA
(2001) a Área de Ocorrência Ambiental são áreas de pequena dimensão territorial que apresentam
situações físicas e bióticas particulares, ocorrendo de forma dispersa e generalizada em quaisquer
das zonas ambientais estabelecidas. São passíveis de enquadramento nesta categoria as Áreas de
Preservação Permanente (APP) e Áreas de Proteção Especial (APE).
A gruta da Mãe D’água é considerada uma APP por constituir-se de bordas de escarpas, de
acordo com as categorias de APP do CONAMA. A gruta possui uma pequena dimensão, situação
física bem particular (é a única “caverna” escavada pela ação do mar nas falésias no litoral de
Beberibe). Está em uma das zonas estabelecidas (Zona de Preservação, pois está no contato da
faixa de praia e das falésias – esta unidade geomorfológica se enquadra na Zona de Recuperação
Ambiental). A AOA tem uma área de 0,5 hectares. Deve-se monitorar a gruta, evitando degradações
semelhantes às existentes no Labirinto (inscrições nas paredes), antes do decreto do Monumento
Natural. As atividades permitidas são as pesquisas científicas, lazer, visitas, educação ambiental.
Zona de Recuperação Ambiental (ZRA): Destina-se a recuperação de áreas que foram
degradadas. Incluem-se nesta zona as falésias que foram ocupadas e que ainda permitem a
visualização destas estruturas, assim como as dunas móveis que foram aterradas para a ocupação
e as que comportam o Parque Eólico.
Nas falésias mortas que perderam a sua vegetação para as construções, percebe-se em
alguns pontos a presença de lixo e marcas de vossorocamento. É importante que se faça um
trabalho de replantio da vegetação natural e coleta adequada do lixo.
A parte das dunas que foi ocupada precisa de cuidado para que as mesmas se recuperem,
já que as mesmas ainda abrigam condições naturais. As dunas do Parque Eólico precisam de um
trabalho de monitoramento que procure estudar a sua dinâmica natural após a implantação do
Parque, evitando futuros problemas. A ZRA tem uma área de 66,9 hectares.
Zona de Ocupação Urbana (ZOU): A ZOU inclui as áreas dentro da APA que estão ocupadas.
Segundo Cardoso (2002) para as áreas presentes na Zona de Ocupação Urbana deve-se melhorar
a qualidade paisagística e sanitária bem como as atividades sócio-econômicas e de lazer. A ZOU
divide-se em duas áreas, por causa das diferentes ocupações na área: a Zona de Ocupação
Especial (ZOE) e a Zona de Ocupação Residencial e Hoteleira (ZORH).
Zona de Ocupação Especial (ZOE): Esta zona abriga a comunidade da Praia das Fontes. Designa-
se especial em virtude da região ter sido habitada pelos antepassados da comunidade local. Deve-se,
portanto dar a posse definitiva da terra, evitando futuros problemas com a especulação imobiliária. Com
a posse, também ficaria proibida a venda da casa, podendo morar no local as pessoas que tenham
parentesco com a comunidade. A Zona de Uso Especial, se colocada em prática, melhorará tanto as
condições sociais como naturais da Praia das Fontes. A ZOE tem uma área de 4 hectares.
Zona de Ocupação Residencial e Hoteleira (ZORH): Esta zona abriga as ocupações das
casas de veraneios e hotéis da área. Como é impossível a retirada destas construções nas dunas
e falésias onde foram instaladas, é necessária uma rigorosa fiscalização para que não se permita
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novas construções. Fazer um levantamento para saber se há um sistema de esgoto que não esteja
poluindo o local e punir os infratores. Os usuários desta zona deverão respeitar os seus limites, não
podendo utilizar de forma incorreta os recursos naturais das outras zonas e nem da sua. A ZORH
Planejamento ambiental em
uma unidade de conservação no não tem um tamanho de área específico, por causa da ocorrência de casas de veraneio e hotéis
município de Beberibe – Ceará acontecer de forma dispersa, não se localizando em um só lugar, como ocorre na comunidade local,
o que torna difícil mensurar a área.
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Conclusões
Este zoneamento, assim como o que foi proposto para o Monumento Natural, poderá ser
discutido juntamente com os setores que se encontram envolvidos na Praia das Fontes. O que se
procurou fazer aqui foi uma contribuição para o processo de planejamento e gestão da área interna
e externa da Unidade de Conservação em estudo, buscando conciliar o meio ambiente com as
atividades sócio-econômicas do local. A Cartografia foi importante, pois auxiliou na delimitação das
unidades geoambientais e para a proposta de zoneamento da área.
Espera-se que este trabalho tenha contribuindo para as pesquisas referentes a temática e
que as sugestões aqui apresentadas possam ser aproveitadas para a melhoria da gestão ambiental
da Unidade de Conservação e do próprio entorno que ela abrange. Desta forma, tanto o Monumento
Natural como o espaço ao redor da UC possam ser administrados de acordo com as potencialidades
geoambientais da área em comunhão com todos os atores envolvidos na questão ambiental das
praias de Morro Branco e das Fontes.
Referências
CAMARGO, A.F; SOARES, R.P. Avaliação temporal do uso da terra com imagens do satélite landsat
sensores tm e etm+, no município de Giruá –RS. In: XII Simpósio Brasileiro de Geografia Física
Aplicada. Natal: Anais do XII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada,
2007.
GUERRA, A.J.T; MARÇAL, M. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
ROSS, J. L. S. Ecogeografia do Brasil. 1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. v. 1. 208 p.
SANTOS, R.F. Planejamento Ambiental: Teoria e Prática. São Paulo: Oficina de textos,
2004.
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