REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
O conceito de Internet of Things (IoT) se refere à integração de dispositivos
inteligentes que se comunicam entre si e com a internet, possibilitando o acesso a
informações em tempo real (Krotov, 2017). A capacidade do IoT de conectar
componentes diversos de um sistema permite a geração massiva de dados e a
otimização de processos, ampliando significativamente a eficiência operacional.
No setor energético, a utilização do IoT tem como principal objetivo tornar os
sistemas elétricos mais dinâmicos e responsivos. A interconectividade entre
equipamentos como transformadores, chaves seccionadoras, religadores
automáticos e medidores inteligentes cria redes mais eficientes e "vivas", elevando a
qualidade dos serviços prestados (Lucena, 2020). Esse cenário é um precursor
essencial para a implementação de redes inteligentes ou smart grids.
A estruturação tradicional dos sistemas elétricos foi baseada em um modelo
centralizado com fluxo unidirecional de energia. Contudo, avanços tecnológicos e o
crescimento da geração distribuída, especialmente a partir de fontes renováveis,
estão transformando o consumidor em "prosumidor", ou seja, um agente ativo que
também pode vender a energia que gera (Lucena, 2020).
Essa transição exige redes mais flexíveis e adaptáveis, dando lugar às smart
grids. As redes inteligentes empregam tecnologias avançadas de informação e
comunicação para monitorar, controlar e gerenciar o sistema elétrico em tempo real.
Essa evolução proporciona benefícios como maior flexibilidade, confiabilidade,
disponibilidade e segurança no fornecimento de energia. Políticas públicas de
incentivo e regulações adequadas são fundamentais para viabilizar essa transição,
tanto do ponto de vista operacional quanto ambiental (Lucena, 2020).
As fontes renováveis de energia são caracterizadas por sua reposição natural
e imediata pela natureza. Exemplos incluem recursos como energia solar, eólica,
geotérmica, das marés e biomassa. Além disso, essas fontes podem ser
classificadas em convencionais, como grandes usinas hidrelétricas, e novas
tecnologias, como turbinas eólicas e painéis solares fotovoltaicos, que começam a
competir comercialmente (Goldemberg; Lucon, 2007).
A expansão do uso de energias renováveis é impulsionada tanto pela busca
por soluções sustentáveis quanto pela necessidade de mitigar problemas
associados a fontes não renováveis, como os limites das reservas e os impactos
ambientais das mudanças climáticas (Goldemberg; Lucon, 2007). Nesse contexto,
as tecnologias de IoT desempenham um papel crucial, pois permitem o
monitoramento e a otimização da geração de energia em tempo real, reduzindo
perdas técnicas, otimizando a integração entre sistemas e possibilitando um melhor
balanceamento entre geração e consumo.
Apesar de suas inúmeras vantagens, a implementação de IoT em sistemas
energéticos renováveis enfrenta desafios significativos. A dependência de
conectividade é uma das principais barreiras, especialmente em regiões remotas,
onde muitas instalações de energia renovável estão localizadas. Uma possível
solução para esse problema é o uso de redes de comunicação híbridas, que
combinam tecnologias como satélites, redes móveis e comunicação via rádio
frequência para superar limitações de infraestrutura.
Além disso, a segurança cibernética é uma preocupação crescente, já que
sistemas conectados estão expostos a riscos de ataques que podem comprometer a
integridade da rede elétrica. Para mitigar esse risco, é essencial adotar protocolos
avançados de criptografia, sistemas de monitoramento de ameaças em tempo real e
programas de conscientização e capacitação para profissionais que operam esses
sistemas.
Outro desafio importante está relacionado aos custos iniciais de implantação
e à necessidade de capacitação técnica. A superação dessa barreira exige
investimentos estratégicos em infraestrutura tecnológica e programas de
treinamento, além de parcerias público-privadas que possam viabilizar a adoção
dessas tecnologias em larga escala. Projetos piloto e incentivos financeiros, como
linhas de crédito específicas para modernização de sistemas energéticos, também
podem desempenhar um papel importante na ampliação do uso de IoT no setor.
A legislação brasileira oferece suporte relevante nesse cenário. A Lei da
Eficiência Energética (Lei nº 10.295/2001) estabelece diretrizes para o
desenvolvimento tecnológico, a preservação ambiental e a introdução de produtos
mais eficientes no mercado, criando um ambiente favorável à inovação.
A Resolução Normativa ANEEL 482/2012, considerada um marco regulatório,
permitiu aos consumidores a troca de energia gerada com a da rede elétrica, criando
regras de compensação que incentivam a geração distribuída. Posteriormente, foi
atualizada pela Resolução Normativa ANEEL 1.059, de 7 de fevereiro de 2023, que,
ao revogar a norma anterior, introduziu novos critérios e ajustes para a
compensação de energia, adaptando as regras às mudanças do setor elétrico. Essa
medida transforma o consumidor em um agente ativo no sistema energético,
promovendo o uso de fontes renováveis e a descentralização da geração de
energia.
Além disso, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia
Elétrica (PROINFA) é um importante mecanismo para fomentar a diversificação da
matriz energética brasileira. O programa, financiado por encargos pagos por todos
os agentes do Sistema Interligado Nacional que comercializam energia elétrica com
o consumidor final, cobre os custos da energia produzida por empreendimentos de
produtores independentes que utilizam fontes como energia eólica, pequenas
centrais hidrelétricas (PCH) e biomassa (ENBPar, s.d.).
O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
(PROINFA) foi responsável pela adição de 131 novos empreendimentos ao Sistema
Interligado Nacional (SIN), totalizando uma capacidade instalada de 2.975,10 MW,
distribuída entre 60 pequenas centrais hidrelétricas (1.159,24 MW), 52 usinas
eólicas (1.282,52 MW) e 19 termelétricas a biomassa (533,34 MW) (ENBPar, s.d.).
Esses números refletem o avanço da matriz energética brasileira em direção à
diversificação e ao uso de fontes renováveis. Embora o PROINFA não esteja
diretamente relacionado ao uso de tecnologias IoT, os empreendimentos
incentivados pelo programa representam sistemas que podem ser integrados a
redes inteligentes no futuro, utilizando IoT para otimizar o monitoramento e a
operação, promovendo maior eficiência e sustentabilidade.
A Lei nº 9.991/2000 também desempenha um papel fundamental ao garantir
ao Procel a continuidade de programas e políticas públicas em eficiência energética,
abrangendo áreas como educação, indústria, saneamento e iluminação pública. Tais
políticas, aliadas à adoção de tecnologias de IoT, podem impulsionar ainda mais a
modernização do setor energético, criando redes mais inteligentes e sustentáveis.
Combinando inovação tecnológica, incentivos econômicos e uma legislação robusta,
o IoT se consolida como um elemento-chave para a transição energética e a
ampliação do uso de fontes renováveis no Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEEL. Resolução Normativa nº 1.059, de 7 de fevereiro de 2023. Atualiza os
critérios e condições aplicáveis à geração distribuída no sistema elétrico
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Acesso em: 18 dez. 2024.
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condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração distribuída
aos sistemas de distribuição de energia elétrica. Disponível em:
https://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf. Acesso em: 18 dez. 2024.
BRASIL. Lei nº 10.295, de 17 de outubro de 2001. Dispõe sobre a Política
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Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10295.htm.
Acesso em: 18 dez. 2024.
BRASIL. Lei nº 9.991, de 24 de julho de 2000. Dispõe sobre realização de
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parte das concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor de energia
elétrica, e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p.
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ENBPar - Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional.
(s.d.). Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
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GOLDEMBERG, José; LUCON, Oswaldo. Energias renováveis: um futuro
sustentável. Revista Usp, n. 72, p. 6-15, 2007.
KROTOV, Vlad (2017). The Internet of Things and new business opportunities.
Business Horizons, 60(6), 831-841.
LUCENA, Manoel Raimundo Mota de. Aplicação de IoT na distribuição de energia
elétrica e sua importância para a transição energética. 2020. 40 f. Monografia
(Especialização em Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência
Energética) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Programa de
Educação Continuada em Engenharia, São Paulo, 2020.