Apostila ES601 Camino
Apostila ES601 Camino
J. F. Camino
1 Introdução 3
3 Transformada de Laplace 41
3.1 Transformada de funções básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2 Propriedades da transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.3 A inversa da transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.4 Resolução de equações diferenciais usando a transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.5 Resposta a uma excitação arbitrária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.6 Função de transferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
3.7 Conceitos de estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.8 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
5 Transformada Z 81
5.1 Transformada de funções básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
5.2 Propriedades da transformada Z . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.3 A inversa da transformada Z . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5.4 Resolução de equações de diferenças usando a transformada Z . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
5.5 Resposta a uma excitação arbitrária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
5.6 Função de transferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.7 Conceitos de estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
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Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 2
Introdução
Este material foi elaborado para servir como base introdutória ao estudo de análise linear de sistemas nos cursos
de graduação em Engenharia de Controle e Automação, Mecânica e Mecatrônica, e tem o objetivo é apresentar
de forma clara, concisa e acessível os conceitos fundamentais da análise linear de sistemas dinâmicos, utilizando
a terminologia adotada nessa área. Embora influenciado pelos grandes avanços e extensa literatura no campo,
este material não pretende abranger toda a complexidade do assunto. A intenção é proporcionar ao leitor uma
compreensão sólida dos princípios essenciais.
Os fundamentos da análise linear de sistemas remontam ao século XVIII, quando pioneiros como Pierre-
Simon Laplace e Jean-Baptiste Joseph Fourier lançaram as bases da disciplina com suas contribuições matemá-
ticas. Laplace introduziu os fundamentos da transformada integral que agora leva o seu nome e que se tornou
uma ferramenta matemática poderosa na análise linear de sistemas. A análise de Fourier também foi um marco
decisivo, permitindo a análise no domínio da frequência de sinais e sistemas. Esses avanços evoluíram ao longo
dos séculos subsequentes, trazendo à cena nomes notáveis, a exemplo de Aleksandr Mikhailovich Lyapunov,
cujos métodos revolucionários trouxeram contribuições significativas para a análise de estabilidade de sistemas
dinâmicos. Já no século XX, engenheiros visionários, como Harry Nyquist e Hendrik Bode, impulsionaram a
área a novos horizontes, especialmente na eletrônica e na engenharia de controle.
Na engenharia moderna, a análise linear de sistemas desempenha um papel crucial, permitindo a compreen-
são aprofundada de uma variedade de sistemas físicos em campos que abrangem eletrônica, telecomunicações,
controle de processos industriais, robótica, veículos autônomos e muitos outros. Ela possibilita a compreensão e
o aprimoramento do comportamento desses sistemas. Através da modelagem matemática, engenheiros e cientis-
tas podem capturar complexidades, transformando observações do mundo real em linguagem matemática. Isso
permite prever e otimizar o desempenho antes da fabricação de um produto, economizando tempo e recursos.
A análise de sistemas é uma abordagem inestimável para melhorar sistemas de engenharia, sendo fundamental
para as aplicações modernas. Tais sistemas, constituídos pela interconexão de componentes, dispositivos ou
subsistemas, operam em conjunto para atingir um objetivo comum, e podem servir a uma ampla gama de
aplicações, incluindo processamento de sinais, sistemas de comunicação, motores, veículos e processos químicos.
Nessa perspectiva, um sistema é entendido como um conjunto de elementos interligados que recebem sinais de
entrada e, com base em sua dinâmica específica, produzem sinais de saída.
Dependendo de como essas variáveis mudam com o tempo, os sistemas podem ser classificados como:
• Sistemas Contínuos: Nesses sistemas, as variáveis (entrada, saída, estado) mudam de maneira contínua
em relação ao tempo. Ou seja, elas podem assumir qualquer valor ao longo do tempo. Normalmente, tanto
o tempo (t, geralmente um número real) quanto os sinais de entrada e saída são tratados como variáveis
contínuas. É o que ocorre na maioria dos sistemas físicos, como circuitos elétricos, sistemas mecânicos e
térmicos, entre outros. Por exemplo, imagine um termômetro de mercúrio. À medida que a temperatura
ao redor muda, o nível de mercúrio no termômetro sobe ou desce de forma contínua. Não há “saltos”
discretos no nível do mercúrio; ele se move suavemente em resposta às variações de temperatura.
• Sistemas Discretos: Em sistemas discretos, as variáveis (entrada, saída, estado) mudam em instantes
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Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 4
discretos de tempo. O tempo é representado como uma sequência discreta de valores (k, um número
inteiro, geralmente) e os sinais de entrada e saída são discretos, definidos apenas nesses instantes discretos
de tempo. Exemplos de sistemas discretos incluem sistemas digitais e sistemas que são analisados em
instantes de tempo discretos (como no caso de amostragem de dados). Por exemplo, o preço de fechamento
de uma ação da bolsa de valores ocorre em momentos discretos. Um relógio digital é um exemplo clássico.
A cada minuto, a leitura do tempo muda, mas entre essas mudanças, o display permanece constante.
Não há variação contínua no tempo como em um relógio analógico, onde o movimento do ponteiro dos
segundos é contínuo.
• Sistemas Digitais: Subcategoria dos sistemas discretos, em que tanto o tempo quanto a amplitude das
variáveis (entrada, saída, estado) são discretas. Isso implica que os sinais nestes sistemas não apenas
mudam em momentos específicos, mas também estão limitados a um conjunto finito e pré-definido de
valores. A quantização dessas amplitudes é frequentemente representada por números binários. Considere-
se, por exemplo, um termômetro digital. Ele não apenas atualiza sua leitura em instantes discretos de
tempo (como a cada segundo), mas também exibe as temperaturas quantizadas, como 20.5◦ C ou 21.0◦ C,
sem representar os valores de forma contínua como observadas em termômetros de mercúrio analógicos.
Um exemplo clássico adicional de sistema digital é o computador, no qual os dados são armazenado e
processados na forma de bits (0s e 1s).
Os sinais de entrada e saída são elementos fundamentais que influenciam o comportamento de qualquer
sistema. Os sinais de entrada atuam como estímulos que afetam e direcionam o funcionamento do sistema. Já
os sinais de saída compõem a resposta ou reação resultante do sistema a um determinado sinal de entrada.
Esses sinais de entrada e saída estão intrinsecamente ligados ao tipo do sistema em questão, desempenhando
um papel crucial na forma como o sistema responde e interage com o seu ambiente:
• Sinais de Entrada: Influenciam o comportamento do sistema. Eles podem assumir várias formas, depen-
dendo do contexto do sistema. Por exemplo, em um sistema de controle, os sinais de entrada podem ser
comandos de controle, como direção e velocidade que um veículo autônomo deve seguir, ou perturbações,
como mudanças imprevistas na estrada ou no clima que o veículo precisa considerar. Em um sistema de
processamento de sinais, o sinal de entrada pode ser uma forma de onda de áudio ou um sinal de vídeo
para ser processado.
• Sinais de Saída: Refletem a resposta do sistema ao comportamento ditado pelos sinais de entrada. No
exemplo do veículo autônomo, os sinais de saída poderiam ser a velocidade real e o ângulo de direção ou
curso que o veículo está tomando. Em um sistema de processamento de sinais, a saída poderia ser a forma
de onda de áudio ou o sinal de vídeo processados.
É oportuno reafirmar que a análise linear de sistemas lida com problemas centrais como modelagem dinâmica,
análise de estabilidade, projeto de controladores, estimação de estados e parâmetros, otimização de desempe-
nho e rejeição de distúrbios. O domínio dessas técnicas é crucial para caracterizar, controlar e aprimorar o
comportamento de sistemas lineares em diversos campos da engenharia. A análise linear de sistemas é vital em
áreas emergentes como robótica, veículos autônomos, redes elétricas inteligentes e manufatura avançada. Com
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o avanço computacional e a crescente conectividade no século XXI, surgem aplicações inovadoras, como cidades
digitais, geração distribuída de energia e realidade virtual. Além disso, a análise linear de sistemas fornece o
alicerce para a integração de técnicas avançadas, como machine learning e big data, em tais contextos. Sua
relevância só aumenta, em um mundo crescentemente interconectado.
O conteúdo desta apostila está organizado da seguinte forma: No Capítulo 2, aborda-se a modelagem de
sistemas lineares, que consiste em representar entidades físicas por meio de relações matemáticas lineares. O
Capítulo 3 apresenta a transformada de Laplace, ferramenta para resolver equações diferenciais lineares de
maneira eficiente. Introduz também a função de transferência, conceito fundamental em análise de sistemas.
O Capítulo 4 trata dos sistemas e sinais discretos, suas definições e propriedades. O Capítulo 5 aprofunda os
sistemas discretos, introduzindo a transformada Z e suas aplicações. O Capítulo 6 abrange a análise de Fourier
para sinais periódicos e não periódicos. O Capítulo 7 discute a análise no espaço de estado para sistemas
lineares. Por fim, o Apêndice traz uma revisão de tópicos matemáticos relacionados.
Para melhor aproveitamento do conteúdo, os pré-requisitos sugeridos para este curso são: álgebra linear
(matrizes, transformações lineares, determinantes, inversas, autovalores e autovetores); cálculo diferencial e
integral (limites, continuidade, derivadas, integrais, sequências e séries); e noções básicas de análise complexa.
Nos cursos de engenharia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), esses tópicos são geralmente
cobertos nas disciplinas de Cálculo I, Cálculo III, Geometria Analítica e Álgebra Linear. Conhecimentos básicos
de equações diferenciais ordinárias e de equações de diferenças são úteis.
Em suma, este material busca prover uma base sólida em análise linear de sistemas, destinando-se a estu-
dantes e profissionais que buscam aprofundar-se na área. Ao final deste conteúdo, o leitor estará equipado com
ferramentas e técnicas avançadas para modelar, analisar e resolver problemas complexos em engenharia e áreas
relacionadas.
Capítulo 2
Figura 2.1: Componentes passivos: resistor (R), indutor (L) e capacitor (C).
A seguir, é apresentado um resumo das relações entre a tensão [V] e a corrente [A], para o resistor, o indutor
e o capacitor, assumindo que esses componentes tenham um comportamento ideal.
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di
v=L
dt
Integrando essa equação, obtém-se Z
1
i= v dt
L
dv 1 dq 1
= = i
dt C dt C
Portanto, a corrente pode ser determinada através da expressão
dv
i=C
dt
Lei dos nós. A lei dos nós (ou lei das correntes) estabelece que a soma algébrica das correntes que entram
num nó é nula, ou seja
X
in = 0
n
Como regra geral, admite-se que a corrente, em qualquer porção do circuito, pode ser indicada a priori
sem necessidade de saber se a corrente circula verdadeiramente no sentido indicado. Como convenção,
uma corrente indicada como entrando num nó será positiva. No caso contrário, será negativa.
Lei das malhas. A lei das malhas (ou lei das tensões) estabelece que a soma algébrica das tensões ao
longo de um circuito fechado, ou numa malha fechada, é nula, ou seja
X
vn = 0
n
Da mesma forma que a lei dos nós, deve-se começar por estabelecer a priori as tensões nos terminais de
cada componente e o sentido do percurso do cálculo em cada malha. Por convenção, as tensões definidas de
modo que o sentido do percurso entre pelo terminal positivo e saia pelo terminal negativo serão contadas
positivamente. No caso contrário, serão contadas negativamente.
Para ilustrar esse método de análise, será utilizado o circuito apresentado na Figura 2.2 abaixo.
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i1 A i3
+ − + −
R1 i2 + R3 +
+
v R2 R4
−
− −
Para aplicar a lei dos nós, seleciona-se um nó, por exemplo, o ponto A, e denota-se por vA a tensão desse
nó com relação a um nó de referência. O nó de referência nesse caso é escolhido como sendo o terra, o ponto
B. A corrente que entra no nó A tem sentido positivo e a que sai negativo. Assim, aplicando a lei dos nós no
ponto A, obtém-se
(2.1) i1 − i2 − i3 = 0 =⇒ i1 = i2 + i3
em que vRj é a tensão através do resistor Rj . Como a corrente através do resistor R1 é i1 e a diferença de
potencial através do resistor R2 é vA , tem-se de imediato que
v − vA
v = i1 R 1 + v A =⇒ i1 =
R1
Aplicando agora a lei das malha na segunda malha (a malha da direita), que fornece
v − vA vA vA
= +
R1 R2 R3 + R4
R2 (R3 + R4 )
vA = v
R2 (R3 + R4 ) + R1 (R2 + R3 + R4 )
Observação 2.1.1 Observe que também é possível aplicar a lei das malhas na malha externa, fornecendo
Porém, essa equação nada acrescenta, já que nada mais é do que a combinação linear de (2.2) com (2.3).
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R1 R3
+
v i1 R2 i2 R4
−
Assim, é necessário aplicar a lei das malhas para cada uma das malhas acima. Para a primeira malha com
corrente i1 , tem-se que a corrente fluindo através de R1 é i1 e a corrente através de R2 é i1 − i2 , portanto
v = i1 R1 + (i1 − i2 )R2
0 = i2 R3 + i2 R4 + (i2 − i1 )R2
Dessa forma, obtêm-se duas equações algébricas em i1 e i2 , que podem ser resolvidas simultaneamente. Uma
vez obtidas as correntes, a tensão nos resistores é prontamente determinada.
R
i
+
vE C vC
−
em que vR (t) é a diferença de potencial através do resistor R, dada por vR (t) = i(t)R. Veja que a corrente i(t) é
a mesma através de todos os componentes do circuito. Usando a relação entre corrente e tensão num capacitor,
dada por
dvC (t)
i(t) = C
dt
tem-se que
dvC (t)
RC + vC (t) = vE (t)
dt
que pode ser colocada na forma padrão, com o coeficiente da derivada de maior ordem sendo 1, ou seja:
com y(t) = vC (t), τ = RC, a1 = 1/τ , x(t) = vE (t)/τ . Essa equação descreve a relação entre a tensão da fonte
vE (t) e a tensão do capacitor vC (t). Trata-se de uma equação diferencial ordinária2 , que estabelece uma relação
entre uma variável e suas derivadas. No contexto acima, essa equação ilustra como a tensão no capacitor varia
com o tempo. Uma equação diferencial é chamada de “ordinária” quando envolve derivadas em relação a uma
única variável independente, que, neste caso, é o tempo.
Na equação diferencial acima, a variável t é denominada de varável independente. Por outro lado, a variável
y, que é a solução (incógnita) da equação diferencial, é a variável dependente. A ordem da equação diferencial
é a ordem da mais alta derivada de y com relação a t. Nessa equação, o termo x(t) é chamado de termo
forçante, simbolizando a entrada ou excitação do sistema. Se x(t) = 0, tem-se uma equação diferencial
homogênea, por outro lado, se x(t) 6= 0, tem-se uma equação diferencial não homogênea. Assim, (2.4) é
uma equação diferencial não homogênea de primeira ordem. É oportuno ainda enfatizar que uma equação dife-
rencial juntamente com as condições iniciais constitui um problema de valor inicial. Na equação diferencial
(2.4), a condição inicial vC (0) = vC0 indica a carga do capacitor no instante de tempo t = 0.
A solução da equação (2.4) depende do termo forçante x(t). Considerar-se-á inicialmente que a entrada x(t) é
nula, ou seja, que a equação diferencial é homogênea, dada por
y(t) = est
com s uma constante a ser determinada. Derivando essa solução e substituindo-a na equação (2.4), obtém-se
Portanto
s + a1 = 0
fornecendo s = −a1 . Assim, a solução geral da equação diferencial de primeira ordem homogênea (2.5) é dada
por
em que A é uma constante arbitrária a ser determinada pela condição inicial. Note que a solução geral (2.6)
parametriza o conjunto de todas as infinitas soluções de (2.5). Usando-se a condição inicial y(0) = y0 , tem-se
y0 = Ae0 = A
y(t) = y0 e−a1 t
Essa solução homogênea, devido apenas às condições iniciais, é comumente chamada de solução livre ou
ainda de solução não forçada.
É oportuno enfatizar que o parâmetro τ no sistema resistor-capacitor, dado por τ = RC [s], representa a
constante de tempo do circuito em segundos. Claramente, esse parâmetro determina a velocidade de descarga
do capacitor, já que vC (t) = vC0 e−t/τ com vC0 a diferença de potencial no capacitor no instante t = 0. Note
que decorrido uma constante de tempo τ , o capacitor terá perdido aproximadamente 63.2% de sua carga.
2 Alguns fundamentos básicos sobre equações diferenciais ordinárias estão apresentados na Seção A.2
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Exemplo 2.1.1 Considere o circuito da Figura 2.4, em que o valor da resistência R é 2 [kΩ] e o valor do
capacitor C é 0.1 [mF]. No instante t = 0, a diferença de potencial no capacitor é vC0 = 0.6 [V]. Assim, para
esses valores numéricos, τ = RC = 2 × 103 × 0.1 × 10−3 = 0.2 [s] e a tensão no capacitor é dada por
O gráfico da solução vC (t) está apresentado na Figura 2.5. Como esperado, transcorrido t = τ = 0.2 [s], a
tensão no capacitor será de apenas 36.8% do valor inicial vC0 .
0.6 vC0
vC (t) [V]
0.4
0.2 0.368vC0
0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
Tempo t [s]
Na seção anterior, a solução da equação diferencial homogênea foi calculada considerando-se que o termo forçante
era nulo. Esta seção determina a solução do problema de valor inicial dado pela equação diferencial não
homogênea
juntamente com a condição inicial y(0) = y0 . É comum denominar a solução desse problema de valor inicial (que
é única) de solução completa ou ainda de solução total. Por outro lado, uma solução particular (também
chamada de integral particular) da equação diferencial não homogênea (2.7) é qualquer solução específica que
satisfaz a equação e não envolve constantes arbitrárias. Note que essa solução não necessariamente satisfará as
condições iniciais.
A solução da equação não homogênea (2.7) pode ser obtida3 a partir de uma solução particular qualquer
de (2.7) adicionando-se todas as possíveis soluções da equação homogênea associada (2.5). Portanto, a solução
y(t) da equação diferencial não homogênea (2.7) é dada por
em que yp (t) é uma solução particular qualquer de (2.7) e yh (t) é a solução geral da equação homogênea
associada (2.5), contendo as constantes arbitrárias. Essa solução geral da equação não homogênea é
frequentemente denominada de função complementar da equação diferencial não homogênea (2.7).
Como a solução geral da equação diferencial homogênea associada já foi determinada na seção anterior, tendo
sido dada por (2.6), deve-se agora determinar uma solução particular para a entrada x(t). Note, no entanto,
que a solução particular não é única. Por exemplo, considerando-se que a entrada vE (t) é uma tensão constante
de amplitude E, ou seja
x(t) = E/τ = a1 E
uma solução particular de (2.7) pode ser obtida como
yp (t) = αE
3 Como demonstrado no Exercício 2.5.2, se y (t) e y (t) forem duas soluções da equação diferencial não homogênea (2.7), então
1 2
a diferença y1 (t) − y2 (t) também satisfará a equação diferencial homogênea associada (2.5).
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a1 αE = a1 E
o que fornece α = 1 e portanto yp (t) = E é uma solução particular válida4 . Assim, usando essa solução
particular, a solução geral da equação diferencial não homogênea (2.7) passa a ser
em que a constante arbitrária A é determinada usando-se a condição inicial. Considerando-se que a tensão y(t)
no instante t = 0 é y(0) = y0 e substituindo essa condição inicial na equação (2.8), tem-se
y0 = A + E =⇒ A = y0 − E
Consequentemente, a solução completa da equação diferencial linear não de primeira ordem não homogênea
(2.7) para a entrada constante x(t) = a1 E fica sendo
Exemplo 2.1.2 Considere novamente o circuito da Figura 2.4, em que o valor da resistência R é 2 [kΩ] e o
valor do capacitor C é 0.1 [mF]. Considere ainda que no instante t = 0 a diferença de potencial no capacitor é
vC0 = 0.6 [V] e a tensão da fonte é vE (t) = 2 [V]. Assim, notando que para τ = RC = 0.2, a1 = 1/τ = 5 e a
tensão no capacitor fica sendo
2
vC (t) [V]
1.5
vC0
0.5
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Tempo t [s]
Figura 2.6: Tensão vC no capacitor para vC0 = 0.6 [V] e vE (t) = 2 [V].
Multiplicando ambos os lados dessa equação pelo fator integrante ea1 t , obtém-se
d a1 t
e y(t) = ea1 t ẏ(t) + ea1 t a1 y(t)
dt
tem-se diretamente que (2.12) pode ser reescrita como
d a1 t
(2.13) e y(t) = ea1 t x(t)
dt
Integrando ambos os lados dessa expressão, obtém-se
t Z t
ea1 t y(t) = ea1 η x(η) dη
0 0
ou seja
Z t
a1 t
e y(t) = y(0) + ea1 η x(η) dη
0
Portanto, a solução completa da equação diferencial de primeira ordem não homogênea (2.11) é dada por
Z t
(2.14) y(t) = y0 e−a1 t + e−a1 (t−η) x(η) dη
0
Note que essa derivação é uma prova da existência e unicidade da solução da equação diferencial linear de
primeira ordem não homogênea. Claramente, essa solução pode ser particionada como
yh (t) = y0 e−a1 t
Observação 2.1.2 A operação de integração que aparece na expressão da solução forçada acima tem a forma
de uma convolução; uma operação matemática (com inúmeras aplicações práticas) que expressa a quantidade
de sobreposição de uma função g(t) à medida que ela se desloca sobre uma segunda função f (t). A convolução
entre as funções f (t) e g(t), denotada por f (t) ∗ g(t), é dada por
Z ∞ Z ∞
f (t) ∗ g(t) = f (t − η)g(η) dη = f (η)g(t − η) dη = g(t) ∗ f (t)
−∞ −∞
Exemplo 2.1.3 Sejam os sinais f (t) = et µ(t) e g(t) = tµ(t), em que µ(t) é a função Heaviside (o degrau
unitário) definida como sendo µ(t) = 1 para t ≥ 0 e µ(t) = 0 para t < 0. Assim, a convolução de f (t) com g(t)
é dada por
Z ∞ Z ∞ Z t
f ∗g = f (t − η)g(η) dη = e(t−η) µ(t − η)ηµ(η) dη = ηe(t−η) dη = et − t − 1
−∞ −∞ 0
Do exposto na Observação 2.1.2 acima, percebe-se que a resposta forçada yf (t) nada mais é do que a
convolução, no intervalo [0, t], da entrada x(t) com a função5 h(t) = e−a1 t , ou seja:
Z t Z t
yf (t) = h(t − η)x(η) dη = e−a1 (t−η) x(η) dη
0 0
5 Será visto no Exemplo 3.4.3 do Capítulo 3 que h(t) = e−a1 t representa a resposta ao impulso do sistema.
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É importante salientar ainda que, dependendo da função forçante x(t), a integral de convolução pode ser de
difícil resolução. Por outro lado, para o exemplo do circuito elétrico em que a entrada de tensão é constante,
dada por vE (t) = E, a solução completa (2.14) acima com x(t) = E/τ e a1 = 1/τ fica sendo
Z t
E
y(t) = y0 e−t/τ + e−(t−η)/τ dη = y0 e−t/τ + E(1 − e−t/τ )
τ 0
Exemplo 2.1.4 Considere o caso específico do Exemplo 2.1.2, em que τ = 1/5, vE (t) = 2 [V] e vC0 = 0.6 [V].
Nesse caso, a tensão vC (t) será dada por
Z t t
2 −t/τ
vC (t) = 0.6e−t/τ + e eη/τ dη = 0.6e−t/τ + 2e−t/τ eη/τ
τ 0 0
−5t −5t
= 0.6e + 2(1 − e )
Decomposição da solução
A solução da equação diferencial não homogênea (2.11), que é composta pela soma das soluções homogênea e
forçada6 , também pode ser particionada em um termo relacionado ao regime transiente e um termo relacionado
ao regime estacionário (permanente).
Observe que para o problema de valor inicial, dado pela equação diferencial de primeira ordem não homogênea
(2.11) e sua condição inicial
ẏ(t) + a1 y(t) = x(t), y(0) = y0
Agora, considerando que o termo forçante seja x(t) = a1 E, uma constante de amplitude a1 E, tem-se
que pode ainda ser decomposta como a soma dos regimes transiente e permanente, como segue
Observação 2.1.3 Note que para o exemplo do circuito resistor-capacitor, o regime permanente vC (t) = E
implica que o capacitor estará plenamente carregado. Na prática, transcorrido t = 3τ [s], o termo transiente
terá diminuído 95% e para t = 5τ [s], terá diminuído 99%.
Exemplo 2.1.5 A Figura 2.7 apresenta as respostas homogênea vh , forçada vf , transiente vt , permanente vp
e completa, para o exemplo do circuito resistor-capacitor, em que R = 2 [kΩ], C = 0.1 [mF], vC0 = 0.6 [V] e
vE (t) = 2 [V].
6 É importante enfatizar que os resultados obtidos nesta seção são válidos apenas para uma equação diferencial não homogênea
tendo a forma (2.11), em que a entrada não contem termos derivativos. O caso mais geral é discutido no Exercício 2.5.3.
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2
vh
vf
1 vt
Tensão [V]
vp
completa
0
−1
Considere o sistema apresentado na Figura 2.8 abaixo, composto de um resistor, um indutor e um capacitor
ligados em série.
R L
i
+
vE (t) C vC (t)
−
vE (t) = vR + vL + vC
di
vE (t) = iR + L + vC
dt
obtém-se
dvC d2 v C
vE (t) = RC + LC + vC
dt dt2
Essa equação pode ser equivalentemente reescrita como
que é uma equação diferencial linear de segunda ordem não homogênea7 . A solução desse tipo de equação é
apresentada na Seção 2.2.
7 Alguns fundamentos básicos sobre equações diferenciais ordinárias estão apresentados na Seção A.2
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 16
Esta seção descreve os passos para determinar o modelo matemático de alguns sistemas mecânicos básicos,
utilizando equações diferenciais ordinárias (EDOs). O modelo matemático em forma de EDOs facilita a análise,
as simulações computacionais e o projeto desses sistemas mecânicos. Serão tratados sistemas mecânicos trans-
lacionais e rotacionais, que podem ser descritos pelas três leis básicas da física Newtoniana, as leis de Newton.
Uma abordagem mais completa pode ser encontrada nos livros citados nas referências bibliográficas.
Inicialmente, são estudados os sistemas mecânicos translacionais e suas respectivas representações matemáti-
cas. Em seguida, é realizada a análise da deflexão estática de uma mola sob uma carga determinada. O primeiro
exemplo de um sistema mecânico envolve uma massa acoplada a uma mola ideal, resultando na derivação de sua
equação de movimento de segunda ordem. Logo após, incorpora-se o efeito do amortecimento viscoso ao sistema
massa-mola. Posteriormente, a análise é estendida para abranger sistemas com múltiplos graus de liberdade.
Finalmente, a representação matemática de sistemas mecânicos rotacionais é derivada.
1. Mola de rigidez k. Pela lei de Hooke, tem-se que a força F exercida pela mola é proporcional ao desloca-
mento x com sentido oposto.
F = kx
x
Figura 2.9: Mola ideal.
dx
F = cv = c = cẋ
dt
v
Figura 2.10: Amortecedor ideal.
dv d( dx/dt ) d2 x
F = ma = m =m = m 2 = mẍ
dt dt dt
força aceleração
massa
Imagine uma mola no seu estado de equilíbrio natural. Ao se colocar uma massa m, a mola se deflete devido à
ação da gravidade de um valor ∆, como apresentado na Figura 2.12.
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k
Posição da mola k∆
sem carga ∆ Posição de
m m equilíbrio estático
mg
Para determinar a deflexão da mola, aplica-se o balanço de forças ao corpo na posição de equilíbrio estático.
Pelo diagrama de corpo livre, verifica-se que as forças atuantes sobre a massa m são: a força peso mg e a reação
da mola k∆. Portanto, o balanço de forças, levando em conta o sinal, fornece:
mg
k∆ = mg =⇒ ∆=
k
Observe que o valor positivo de ∆ está de acordo com o fato da mola ter se alongado, como demonstra o sentido
do vetor ∆ na figura.
m y(t)
r(t)
Para uma primeira modelagem, o perfil da rua será negligenciado, assim r(t) = 0, e o sistema passa a ter
a configuração apresentada na Figura 2.14, em que m é a massa do corpo, k a rigidez elástica da mola, g a
aceleração da gravidade e y(t) o deslocamento da massa.
g m y(t) m y(t)
k fg fk
A Figura 2.15 apresenta o diagrama de corpo livre (DCL), considerando que a posição y = 0 representa a
posição de equilíbrio natural da mola, antes da deflexão devido à ação da gravidade. Nesse diagrama, fk e fg
são, respectivamente, a força elástica de restituição da mola e a força gravitacional, dadas por:
fk = ky e fg = mg
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Observe que esta equação diferencial é não homogênea devido ao termo forçante resultante da ação da
gravidade. Esse fato era esperado, já que o deslocamento y(t) da massa representa a deflexão da mola a partir
do seu estado de equilíbrio natural. No entanto, é possível reescrever a equação de movimento em torno da
posição de equilíbrio estático da mola ∆, que é dada por
k∆ = −mg =⇒ ∆ = −mg/k
Note que o sinal negativo está em consonância com o fato da mola sofrer uma contração devido ao efeito da
gravidade. Finalmente, aplicando a mudança de variável
Para resolver a equação diferencial (2.17), considera-se que a solução x(t) possui a seguinte forma:
• ωn : frequência natural;
• φ: ângulo de fase.
O método consiste em diferenciar a solução (2.18) e substituir o resultado na equação diferencial (2.17).
Aplicando a regra da cadeia, obtêm-se as derivadas primeira e segunda de x(t) como segue:
x(t) = Z cos(ωn t + φ)
(2.20) = Z cos(ωn t) cos(φ) − sin(ωn t) sin(φ)
ẋ0
= x0 cos(ωn t) + sin(ωn t)
ωn
Observação 2.2.1 O ângulo de fase φ e a amplitude Z são facilmente determinados como segue. Lembrando
que tan(φ) = sin(φ)/ cos(φ), tem-se
−ẋ0
(2.21) φ = tan−1
x 0 ωn
Embora a amplitude Z possa ser retirada diretamente das expressões acima para o cos(φ) e o sin(φ), uma
fórmula que não inclui relações trigonométricas pode ser obtida notando que sin2 (φ) + cos2 (φ) = 1, ou seja,
s
x20 ẋ20 ẋ2
(2.22) 2
+ 2 2 =⇒ Z = x20 + 02
Z Z ωn ωn
x(t) = Z cos(ωn t + φ)
x(t) = Zeλt
com λ e Z constantes a serem determinadas. Nessa derivação, tanto Z como λ podem ser números complexos8 .
8 Uma revisão sucinta de números complexos e funções de variáveis complexa encontra-se na Seção A.1.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 20
obtém-se
Nesse caso, obtêm-se duas soluções λ1 = +jωn e λ2 = −jωn . Portanto a forma da solução x(t) fica sendo
x(t) = (A1 + jB1 )[cos(ωn t) + j sin(ωn t)] + (A2 + jB2 )[cos(ωn t) − j sin(ωn t)]
x(t) = (A1 + A2 ) cos(ωn t) + (B2 − B1 ) sin(ωn t) + j [(B1 + B2 ) cos(ωn t) + (A1 − A2 ) sin(ωn t)]
Sabendo-se que o deslocamento físico do sistema é real, não contendo parte imaginária, sua representação
matemática x(t) também deve ser. Portanto, deve-se anular a parte imaginária de x(t), ou seja
Exemplo 2.2.1 Desconsiderando a ação da gravidade no sistema massa-mola da Figura 2.16, determine sua
frequência natural ωn , a amplitude das oscilações e o deslocamento da massa devido às condições iniciais x(0) =
x0 = 0.2 [m] e ẋ(0) = ẋ0 = −0.6 [m/s]. Suponha que a massa seja dada por m = 1 [Kg] e a rigidez por k = 9
[N/m].
m x(t)
A resposta homogênea desse sistema às condições iniciais x0 = 0.2 [m] e ẋ0 = −0.6 [m/s] está apresentada
na Figura 2.17.
1
x(t) [m]
0.8
v(t) [m/s]
0.6
0.4
Amplitude
0.2
0
−0.2
−0.4
−0.6
−0.8
−1
0 1 2 3 4 5 6
Tempo t [s]
Figura 2.17: Resposta às condições iniciais x0 = 0.2 [m] e ẋ0 = −0.6 [m/s].
y(t)
c
k m p(t)
que é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem não homogênea, devido ao termo forçante p(t). Essa
equação diferencial descreve completamente o movimento do sistema massa-mola-amortecedor, relacionando
aceleração, velocidade e posição com a força externa aplicada. No entanto, para análise e projeto de sistemas
vibratórios, é conveniente reescrever de forma equivalente essa equação movimento na chamada forma padrão
de segunda ordem:
Considerando que o termo forçante p(t) é nulo, ou seja, g(t) = 0, a equação torna-se homogênea e sua solução
deverá satisfazer as duas condições iniciais y(0) = y0 e ẏ(0) = ẏ0 , tendo em vista que o sistema tem ordem dois.
Para determinar a solução geral da equação diferencial homogênea12 , considera-se que ela tem a forma
y(t) = eλt
λ2 + 2ζωn λ + ωn2 = 0
Para os casos ζ > 1 e ζ < 1, as raízes são distintas, e a solução geral da equação diferencial homogênea é
dada por
y(t) = Aeλ1 t + Beλ2 t
12 Alguns fundamentos básicos sobre equações diferenciais ordinárias estão apresentados na Seção A.2
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 23
cuja derivada é
ẏ(t) = Aλ1 eλ1 t + Bλ2 eλ2 t
que resulta em
ẏ0 − λ2 y0 −ẏ0 + λ1 y0
(2.27) A= e B=
λ1 − λ2 λ1 − λ2
Para o caso ζ < 1, as raízes (2.26) são complexas conjugadas e assim podem ser reescritas como
λ1 = −ζωn + jωd
λ2 = −ζωn − jωd
p
com ωd = ωn 1 − ζ 2 . Essas raízes fornecem as constantes (2.27) dadas por
Usando a identidade
eθt − e−θt eθt + e−θt
sinh θt = e cosh θt =
2 2
a solução final y(t) pode ser reescrita como
" #
−ζωn t ẏ0 p ζω n y 0
p p
y(t) = e p sinh ωn ζ 2 − 1t + p sinh ωn ζ 2 − 1t + y0 cosh ωn ζ 2 − 1t
ωn ζ 2 − 1 ωn ζ 2 − 1
(2.29) " #
−ζωn t ẏ0 + ζy0 ωn
p p
=e p 2 2
sinh ωn ζ − 1t + y0 cosh ωn ζ − 1t
ωn ζ 2 − 1
Para o caso ζ = 1, as raízes (2.26), que agora são reais e repetidas, se reduzem a
λ = λ1 = λ2 = −ζωn = −ωn
y(0) = y0 = A
ẏ(0) = ẏ0 = −Aωn + B =⇒ B = ẏ0 + ωn y0
Observação 2.2.2 Note que a solução para o caso ζ = 1, dada por (2.30), pode ser obtida de (2.28) fazendo-se
o limite quando ζ → 1. Para ver esse fato, reescreva y(t), dada por (2.28), como segue:
sin ωd t
y(t) = e−ζωn t (ẏ0 + ζωn y0 ) t + y0 cos ωd t
ωd t
Em seguida, aplique o limite com ζ → 1, notando que ωd → 0 e lim (sin z)/z = 1, para fornecer:
z→0
sin ωd t
lim e−ζωn t (ẏ0 + ζωn y0 ) t + y0 cos ωd t = e−ωn t [(ẏ0 + ωn y0 ) t + y0 ]
ζ→1 ωd t
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 25
Considere a equação diferencial não homogênea (2.25), em que a entrada agora é uma força constante p(t) = k
[N], ou seja, a equação diferencial de segunda ordem fica sendo
em que a1 = 2ζωn e a2 = ωn2 . Claramente, uma solução particular dessa equação é dada por
yp (t) = 1
Como discutido na Seção 2.2.4, a forma da solução geral da homogênea associada depende do valor do
coeficiente ζ. Se ζ = 1, as duas raízes do polinômio característico são idênticas13 , dadas por λ1 = λ2 = −ωn , e
assim a solução geral da homogênea associada tem a forma
Considerando as condições iniciais y(0) = y0 e ẏ(0) = ẏ0 , a solução completa fica sendo
Por outro lado, se ζ 6= 1, as raízes λ1 e λ2 são distintas e a solução geral da homogênea associada tem a forma
p
yh (t) = Aeλ1 t + Beλ2 t , com λ1,2 = −ζωn ± ωn ζ2 − 1
Assumindo o caso particular14 em que ζ = 0, as raízes passam a ser λ1,2 = ±jωn e, assim, a solução geral da
equação diferencial não homogênea tem a forma
ẏ0 sin(ωn t)
y(t) = 1 + (y0 − 1) cos(ωn t) +
ωn
Para o sistema mecânico massa-mola-amortecedor (2.25), sob ação de uma força constante p(t) = k [N] e
condições iniciais mulas, a Figura 2.19 apresenta a resposta para diferentes valores de ξ com ωn = 7 rad/s e a
Figura 2.20 apresenta a resposta do sistema para diferentes valores de ωn com ξ = 0.3.
y(t) y(t)
ξ = .1
ξ = .3
ωn = 3
1 ξ = 1 1 ωn = 15
ξ = 5
t t
Figura 2.19: Diferentes valores de ξ com ωn = 7. Figura 2.20: Diferentes valores de ωn com ξ = .3.
13 O Exemplo A.5 demonstra como tratar o caso em que o polinômio característico apresenta raízes repetidas.
14 O Exercício 2.5.12 apresenta a solução para o caso geral em que ζ ≥ 0.
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x1 x2 x3
k1 k2
f (t)
m1 m2 m3
c1 c2
Os procedimentos para obter a equação diferencial que governa esse sistema são idênticos aos executados
anteriormente, usando-se a segunda lei de Newton. O diagrama de corpo livre para esse sistema está apresentado
na Figura 2.22.
x1 x2 x3
Fk 1 Fk 2 f (t)
m1 m2 m3
Fc 1 Fc 2
Considerando o sinal das forças representado nesse diagrama de corpo livre, tem-se
Aplicando o balanço das forças para cada uma das massas mi , i = 1, 2, 3, dado por
+
X
→ Fkj + Fcj = mi ẍi
j
Equivalentemente, tem-se
Essa equação diferencial pode ser reescrita na forma matricial, como segue
m1 0 0 ẍ1 c1 −c1 0 ẋ1 k1 −k1 0 x1 0
(2.31) 0 m2 0 ẍ2 + −c1 c1 + c2 −c2 ẋ2 + −k1 k1 + k2
−k2 x2 = 0 f (t)
0 0 m3 ẍ3 0 −c2 c2 ẋ3 0 −k2 k2 x3 1
ou seja
M ẍ + C ẋ + Kx = F f (t)
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em que M é a matriz de massa, C a matriz de amortecimento, K a matriz de rigidez e F a matrix que posiciona
a entrada f (t), obtidas diretamente da forma matricial (2.31) acima. Note que essas matrizes são simétricas.
O vetor x nesse caso representa os deslocamentos x = [ x1 x2 x3 ]T . Se a matriz de massa M for inversível, a
equação de movimento tem a forma
ẍ + M −1 C ẋ + M −1 Kx = M −1 F f (t)
A figura abaixo apresenta um sistema mecânico torcional consistindo de uma massa, com momento de inércia
I, acoplada à extremidade de uma barra de torção de rigidez k e coeficiente de amortecimento c, sob ação de
um torque TE (t).
barra TE (t)
I
O diagrama de corpo livre15 para esse sistema está apresentado na Figura 2.23.
Tc Tk θ TE (t)
Nesse diagrama, a massa com momento de inércia I sofre uma rotação θ sob ação de um torque externo
TE (t) e dos torques de reação Tk = kθ e Tc = cθ̇ provenientes da rigidez k e do amortecimento c. O balanço de
torques, usando a segunda lei de Newton
X
+ T = TE − Tc − Tk = I θ̈
fornece
I θ̈(t) + cθ̇(t) + kθ(t) = TE (t)
que pode ainda ser reescrita na forma padrão de segunda ordem
θ̈(t) + 2ζωn θ̇(t) + ωn2 θ(t) = g(t)
√ p
em que ζ = c/(2 kI), ωn = k/I e g(t) = TE (t)/I.
15 Note-se que as forças e os torques estão representados nos diagramas de corpo livre com seus sentidos corretos, portanto devem
agora é óbvia. Além disso, a equação do sistema elétrico (2.32) pode ser reescrita na forma padrão de segunda
ordem
q̈(t) + 2ζωn q̇(t) + ωn2 q(t) = g(t)
q p
com ωn = Ĉ/L, ζ = R/cc , cc = 2 ĈL e g(t) = vE (t)/L. Essa equação é idêntica à equação do sistema
mecânico de segunda ordem na forma padrão, dada por (2.25). Claramente, ambas equações possuem a mesma
solução em termos de ζ e ωn .
1. Linearidade: sejam y1 (t) e y2 (t) as saídas para as entrada x1 (t) e x2 (t), respectivamente. Então, o
sistema será linear se a saída para a entrada
x(t) = αx1 (t) + βx2 (t) for y(t) = αy1 (t) + βy2 (t)
é linear, já que
Z t Z t Z t Z t
y(t) = x(τ ) dτ = αx1 (τ ) dτ + βx2 (τ ) dτ = α x1 (τ ) dτ + β x2 (τ ) dτ = αy1 (t) + βy2 (t)
0 0 0 0
não é linear. Note que para uma entrada constante qualquer x(t) = c, a saída é dada por
√ √
y(t) = c tanh( c t)
que claramente é uma relação não linear, já que para x(t) = c1 + c2 , tem-se
√ √ √ √ √ √
y(t) = c1 + c2 tanh( c1 + c2 t) 6= y1 (t) + y2 (t) = c1 tanh( c1 t) + c2 tanh( c2 t)
Observação 2.4.1 A linearidade também é conhecida como princípio da superposição, que pode ser
definido pelas seguintes duas propriedades:
2. Causalidade: um sistema é dito causal (não antecipativo), se a saída num instante de tempo t = τ
depender apenas de valores da entrada em t ≤ τ .
3. Invariância no tempo: se y(t) for a saída de um sistema invariante no tempo quando x(t) for a entrada,
então y(t − τ ) será a saída quando x(t − τ ) for a entrada.
y(t) = sin(x(t))
y(t) = tx(t)
2.5 Exercícios
Considerações iniciais: é vedado o uso da Transformada de Laplace para todos os exercícios desta seção.
Exercício 2.5.1 Mostre que a solução homogênea para a equação diferencial de primeira ordem
ẏ(t) + a1 y(t) = 0
com condições iniciais y(t0 ) = y0 , que ocorre num instante de tempo t0 não necessariamente nulo, é
Exercício 2.5.2 Mostre que se y1 (t) e y2 (t) forem duas soluções da equação diferencial não homogênea
Então a diferença y1 (t) − y2 (t) também satisfará a equação diferencial homogênea associada
ẏ(t) + a1 y(t) = 0
Exercício 2.5.3 Considere a seguinte equação diferencial não homogênea com um termo derivativo na entrada:
em que x̄(t) = (b1 − a1 b0 )x(t) e a condição inicial é dada por z(0) = y(0) − b0 x(0). Assim, mostre que:
e−βt − e−a1 t
yf (t) = b0 γ e−βt − e−a1 t + γ(b1 − a1 b0 )
a1 − β
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1 − e−a1 t
y(t) = b0 γ + (y0 − b0 γ)e−a1 t + γ(b1 − a1 b0 )
a1
Exercício 2.5.4 Considere o circuito abaixo, composto por resistências R1 , R2 , R3 e R4 e pela fonte de tensão
v. Usando o método das correntes de malha, determine a tensão nos pontos A e C. No mais, determine as
correntes de malha i1 e i2 .
R1 A R3 C
+
v i1 R2 i2 R4
−
Exercício 2.5.5 Considere o circuito da figura abaixo, em que C1 e C2 são capacitores, R1 e R2 são resistores
e Ve é uma fonte de tensão. A tensão vc (t) de interesse é a tensão no capacitor C2 .
Ve
R1
Ve
C1 R2 C2
Exercício 2.5.6 Repita a questão anterior 2.5.5, considerando agora que ve (t) = 12e−2t [V].
Exercício 2.5.7 Para o circuito da questão 2.5.5, determine a resposta forçada para uma tensão de entrada
alternada ve (t) dada por:
1. ve (t) = 3 sin(5t);
R
i
+
vE C vC
−
em que a tensão de entrada vE (t) é dada por uma rampa de amplitude unitária e duração T segundos, descrita
pela função contínua por partes (
t/T , se 0 ≤ t ≤ T
vE (t) =
0 , se t > T
Para esse circuito, mostre que a tensão no capacitor é vC (t) = vf (t) + vic (t) com
1
vf (t) = (t + τ (e−t/τ − 1)), 0 ≤ t ≤ T
T
1
vic (t) = (e−t/τ (τ + eT /τ (T − τ ))), t > T
T
em que o termo vf (t) corresponde à solução forçada no intervalo de tempo t ∈ [0, T ] e o termo vic (t) corresponde
à solução para o intervalo de tempo t > T , dada pela condição inicial v0 = vf (T ), que inicia-se no instante de
tempo t0 = T .
Exercício 2.5.9 Sabendo que o circuito RC é um sistema linear invariante no tempo, use o resultado do
Exercício 2.5.8 para esboçar o gráfico da tensão no capacitor para a entrada de tensão dada pela função periódica
dente de serra da figura abaixo. Use os seguintes valores numéricos: τ = 0.2 e T = 1.
p(t)
1
0 t
Exercício 2.5.10 Considere o circuito RL abaixo, composto por resistores R1 , R2 e R3 , um indutor L e uma
fonte de tensão Ve .
R1 L
Ve R2 R3
i(t)
1. Para esse circuito, determine a equação diferencial em termos da corrente i(t) que flui através do indutor.
Exercício 2.5.11 Seja o circuito abaixo, composto por dois resistores R1 e R2 , por um capacitor C, duas fontes
de tensão vi e ve , e duas chaves k1 e k2 .
R1 R2
k1 + k2
+ +
vi vc C ve
− −
− ic
1. Suponha que o circuito encontra-se em regime permanente, com a chave k1 aberta e a k2 fechada. Deter-
mine a tensão em que o capacitor está submetido. Chame essa tensão inicial de vc (0) = vc0 .
2. Suponha agora que o circuito, que encontrava-se em regime permanente, é chaveado (num instante de
tempo qualquer que podemos denominar de t = 0), fazendo com que a chave k1 feche e a k2 abra. Assim:
Exercício 2.5.12 Determine a solução da equação diferencial linear de segunda ordem não homogênea
Exercício 2.5.13 Considere o circuito abaixo, composto de dois resistores R1 e R2 , um indutor L, um capacitor
C e a fonte de tensão Ve .
R1
R2
+
+
ve vc C
−
−
L
1. Para esse sistema, determine a equação diferencial em termos da tensão vc (t) do capacitor.
3. Para os valores R1 = 4 [Ω], C = 0.25 [F] e L = 1 [H], determine o intervalo de valores para R2 > 0 de
forma que o sistema seja: a) subamortecido; b) criticamente amortecido; c) superamortecido.
4. Determine 03 equações diferenciais; uma em termos da diferença de potencial (a tensão) entre os terminais
de R1 ; outra em termos da tensão entre os terminais de R2 e a terceira em termos da tensão entre os
terminais de L.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 34
5. Determine 02 equações diferenciais; uma em termos da corrente que flui através do indutor e a outra em
termos da corrente que flui através do capacitor.
6. Considerando os dados numéricos usados em (3) para o caso criticamente amortecido, calcule a tensão
vc (t) no capacitor assumindo que a tensão inicial do capacitor seja 1V, a corrente inicial no indutor seja
2A e a tensão da bateria seja 5 V.
7. Decomponha a resposta anterior (6) em termos de reposta homogênea, resposta forçada, regime transiente
e permanente.
Exercício 2.5.14 Considere o circuito RLC abaixo, composto de um resistor R, um indutor L, um capacitor
C e uma fonte de tensão vE (t).
R L
i
+
vE (t) C vC (t)
−
1. Para esse sistema, determine a equação diferencial em termos da tensão no resistor e em termos da tensão
no indutor.
2. Escreva a equação diferencial em termos da corrente i que flui no circuito, colocando-a na forma padrão
de segunda ordem
d2 i(t) di(t)
2
+ 2ζωn + ωn2 i(t) = f (t)
dt dt
determinando assim o fator de amortecimento ζ, a frequência natural ωn e a excitação f (t).
Exercício 2.5.15 Considere o sistema de polias apresentado na figura abaixo, em que a mola possui uma rigidez
elástica k [N/m]. Assuma que a gravidade é dada por g = 9, 81 [m/s2 ] e que uma deflexão positiva represente
um alongamento da mola e uma deflexão negativa uma compressão da mola. Determine a deflexão estática da
mola quando a polia estiver sujeita a uma carga de massa m [kg].
k
y
m
Exercício 2.5.16 Considere o sistema da figura abaixo, constituído de uma polia de momento polar de inércia
J e raio R, uma mola de rigidez elástica k e uma massa m. A polia está sujeita a um torque externo T .
T
θ
g
. R
J y
k m
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 35
2. Considerando que y(t) representa o deslocamento referente ao equilíbrio estático, determine a equação
diferencial de movimento em termos do deslocamento y(t).
3. Reescreva essa equação diferencial de movimento em termos do ângulo θ(t), na forma padrão
determinando ζ, ωn e f (t).
4. Determine a solução homogênea para as seguintes condições iniciais y(0) = −1 e ẏ(0) = 1. Considere os
seguintes valores numéricos k = 10, J = 2, R = 3 e m = 1.
5. Determine uma solução particular θp (t) para uma entrada de torque constante T = 3.
Exercício 2.5.17 Considere o sistema da figura abaixo, em que o momento polar de inércia das engrenagens
1 e 2 são respectivamente J1 [m4 ] e J2 [m4 ], o raio das engrenagens 1 e 2 são respectivamente R1 [m] e R2
[m], os deslocamentos angulares das engrenagens 1 e 2 são respectivamente θ1 [rad] e θ2 [rad]. A engrenagem
2 está sujeita a um torque externo T [N.m]. A mola possui rigidez k [N/m] e o amortecedor coeficiente de
amortecimento c [N.s/m]. Nesse sistema, o torque T é aplicado na coroa (a maior engrenagem) que aciona o
pinhão (a menor engrenagem). No ponto de contato, ambas engrenagem possuem a mesma velocidade tangencial.
k
θ2 T
J1 , R1 J2 , R2
determinando ζ, ωn e f (t).
Exercício 2.5.18 Seja o sistema mecânico da figura abaixo, constituído por dois volantes de momento polar de
inércia J1 e J2 [m4 ], ligados através de um amortecedor torcional B1 [N.s.m]. O volante J1 é conectado à parede
por uma mola k [N.m] e sua rotação angular é θ1 (t). O volante J2 está ligado a um amortecedor B2 [N.s.m] e
sua rotação angular é θ2 (t). O volante J1 está sujeito a um torque externo T [N.m] no sentido horário.
θ1 θ2
k B1
J1 J2
B2
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Para esse sistema mecânico, derive a equação diferencial de movimento em termos de θ1 (t) e θ2 (t). Coloque-a
na forma matricial " #
θ1
M ẍ(t) + C ẋ(t) + Kx(t) = F (t), x=
θ2
determinando as matrizes de massa M , amortecimento C, rigidez K e o vetor de excitação F (t).
Exercício 2.5.19 Considere o sistema pêndulo-mola-amortecedor apresentado na figura abaixo, em que uma
massa pontual m está conectada na extremidade de uma haste de comprimento l. Considere ainda que tanto
a mola, de rigidez elástica k [N/m], como o amortecedor, com coeficiente de amortecimento c [N.s/m], estão
conectados no meio da haste em l/2. O deslocamento angular do pêndulo no sentido anti-horário é denotado
por θ [rad].
g
l/2
θ c
l/2
2. Linearize em torno da origem a equação obtida no item acima, considerando pequenas oscilações, ou seja,
assumindo que sin(θ) ≈ θ e cos(θ) ≈ 1.
4. Calcule θ(t) para as condições iniciais θ0 = 1 e θ̇0 = −1 e valores numéricos g = 10, m = 1, l = 10,
c = 40, k = 96.
Exercício 2.5.20 Considere o pêndulo apresentado na figura abaixo, constituído de uma massa m [kg], uma
mola de rigidez elástica k [N/m] e uma haste de comprimento l [m]. O deslocamento angular do pêndulo no
sentido anti-horário é θ [rad]. O pêndulo está sujeito a um torque externo T , no sentido horário. Considere o
efeito da gravidade.
l
θ
m
k
2. Linearize em torno da origem a equação obtida no item anterior, considerando pequenas oscilações, ou
seja, assumido que sin(θ) ≈ θ e cos(θ) ≈ 1.
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4. Considerando f (t) = A cos ωt, mostre que a expressão abaixo é uma solução particular:
θp (t) = A cos(ωt)/(ωn2 − ω 2 )
Exercício 2.5.21 A figura abaixo apresenta um sistema mecânico constituído de uma massa m [kg] conectada
a uma parede através de um amortecedor c [N.s/m]. O deslocamento da massa é denotado por x(t) [m]. O
sistema está sujeito a uma força externa p(t) [N].
x
c
m p
2. Mostre que essa equação pode ser rescrita como uma equação de primeira ordem em termos da velocidade
v(t) = ẋ(t).
Exercício 2.5.22 Considere o sistema mecânico da figura abaixo, constituído de uma massa m [kg] conectada
a uma parede por meio de uma mola de rigidez elástica k [N/m]. A outra extremidade da massa está conectada
a um amortecedor c [N.s/m]. Devido a uma excitação externa p(t), a massa sofre um deslocamento x(t) [m].
x
p
k
m
c
1. Assumindo que p(t) tem unidade de velocidade, derive a equação diferencial de movimento.
Exercício 2.5.23 Considere o sistema massa-mola-amortecedor da figura abaixo, com os seguintes valores nu-
méricos: m = 1, k = 100 e c = 10.
c x
p
m
k
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 38
1. Determine o deslocamento x(t) da massa para uma entrada constante p(t) = 5 e condições iniciais x(0) = 1
e ẋ(0) = −1.
Exercício 2.5.24 Considere a equação diferencial de segunda ordem não homogênea dada por
ẍ(t) + 2ζωn ẋ(t) + ωn2 x(t) = f (t), 0≤ζ<1
2. Assim, mostre que a solução completa para a entrada constante f (t) = A é dada por
A √ 2 √ 2
x(t) = 2 + e−ζωn t c1 e−ωn t ζ −1 + c2 eωn t ζ −1
ωn
com c1 e c2 constantes a serem determinadas pelas condições iniciais.
3. Assumindo ωn = 1 e ζ = 1/2, mostre que a solução completa para a entrada constante f (t) = 3 e condições
iniciais x(0) = 1 e ẋ(0) = 1 é dada por
√ !
3t
x(t) = 3 − 2e−t/2 cos
2
4. Mostre que uma solução particular para a entrada f (t) = sin(ωt) é dada por
(ωn2 − ω 2 ) sin(ωt) − 2ζωn ω cos(ωt)
xp (t) =
ω 4 + 2ω 2 (2ζ 2 − 1)ωn2 + ωn4
5. Assumindo ωn = 1 e ζ = 1/2, mostre que a solução completa para a entrada harmônica f (t) = sin(t) e
condições iniciais x(0) = 1 e ẋ(0) = −1 é dada por
√ !
−t/2 3t
x(t) = 2e cos − cos(t)
2
6. Decomponha a solução completa, obtida no item anterior 5, nas seguintes parcelas: solução homogênea,
solução forçada, regime transiente e regime permanente.
Exercício 2.5.26 Considere o sistema da figura abaixo, constituído de uma massa principal m [kg], um amor-
tecedor c [N.s/m], uma mola de rigidez elástica k [N/m]. Em cima da massa principal, corre uma massa ma
[kg], ligada à massa m por meio de um amortecedor ca [N.s/m] e de uma mola ka [N/m]. O deslocamento da
massa m é denotado por x(t) e o da massa ma por w(t). Uma força externa p(t), com sentido positivo na
direção x, é aplicada no carro de massa m.
x
w
ka
k
ca ma
c m
Derive a equação de movimento em termos dos deslocamentos x(t) e w(t) na forma matricial
" #
x
M z̈(t) + C ż(t) + Kz(t) = F (t), z=
w
Exercício 2.5.27 Considere o sistema mecânico com dois graus de liberdade ilustrado na figura abaixo, com-
posto de duas massas m1 [kg] e m2 [kg] e três molas k1 , k2 e k3 [N/m]. Os deslocamentos das massas m1 e m2
são respectivamente x1 (t) [m] e x2 (t) [m]. A massa m2 está sujeita a uma excitação externa p(t).
x1 x2
k1 k2 k3
m1 m2
1. Derive a equação de movimento desse sistema em termos de x1 (t) e x2 (t) na forma matricial
" #
x1
M ẍ(t) + Kx(t) = Hp(t), x(0) = x0 , x =
x2
3. Usando a mudança de variável q = U T x, mostre que a equação de movimento pode ser reescrita na forma
(diagonal) desacoplada " #
1 1
q̈(t) + Λq(t) = Bp(t), q(0) = q0 , B = √
2 1
4. Considere que a entrada seja uma constante de amplitude p(t) = 2(k12 + 2k2 k1 ) e que as condições iniciais
√ √
sejam x1 (0) = −1, ẋ1 (0) = k1 , x2 (0) = 1 e ẋ2 (0) = k1 . Determine primeiro a resposta na coordenada
q(t) e em seguida na coordenada x(t).
5. Determine a resposta q(t) para a entrada p(t) = sin ωt e condições iniciais nulas.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 40
Exercício 2.5.28 Considere um sistema S cuja a saída y(t) e a entrada x(t) estão relacionados por
1. y(t) = tx(t);
2. y(t) = x2 (t + 1);
3. y(t) = x(t) sin(t + 1);
4. y(t) = x(sin(t)).
Determine se o sistema S é ou não é: (i) linear; (ii) invariante no tempo; (iii) causal.
Capítulo 3
Transformada de Laplace
A transformada unilateral de Laplace1 é uma poderosa ferramenta capaz de converter equações diferenciais
no domínio do tempo em equações algébricas em termos de uma variável complexa s2 . Assim, operações de
diferenciação e integração são transformadas em operações algébricas, facilitando a resolução das equações
diferenciais. É importante salientar que a transformada de Laplace também permite analisar o comportamento
dinâmico de um sistema linear sem a necessidade de se resolver a equação diferencial. Uma abordagem completa
e mais detalhada pode ser encontrada nos livros citados nas referências bibliográficas.
|f (t)|e−σt → 0 com t → ∞.
Se esse limite for a zero para σ > σc e divergir para σ < σc , então σc será chamado de abcissa de convergência.
Note que essa integral converge se α + σ > 0, ou seja, σ > −α. Assim, a abcissa de convergência é
σc = −α. Portanto, a região de convergência ROC3 , apresentada na Figura 3.1, é o semiplano direito
delimitado pela reta s = −α + jω, com ω ∈ R.
1 A transformada bilateral de Laplace, sua relação com a versão unilateral, bem como as implicações sobre causalidade são
41
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 42
jω
−α
σ
δn (t)
n2
1/n2
n1
1/n1
n0
1/n0
t
t0
cuja representação gráfica encontra-se na Figura 3.2. Note que à medida que a largura 1/n do pulso δn (t)
diminui, sua altura n aumenta proporcionalmente de forma a manter a área unitária. Assim, a função
delta de Dirac4 pode ser definida (informalmente) como sendo
Observação 3.1.1 A integral indefinida de δ(t) fornece a função Heaviside que é igual a 0 para t < 0 e
1 para t > 0, porém como distribuição, ela é definida apenas dentro de uma integral. Assim, tem-se que
R
δ(t − t0 ) dt = µ(t − t0 ) e µ′ (t − t0 ) = δ(t − t0 ). Nesta apostila, será usada indistintamente a notação
µ(t) para denotar tanto o degrau unitário como a função Heaviside.
Observação 3.1.2 A função δn (t) acima não é a única função que pode ser usada para expressar o
impulso. Por exemplo, a função gaussiana δn (t) apresentada na Figura 3.3 pode ser usada para definir o
impulso5 (informalmente) como sendo δ(t) = limn→∞ δn (t).
n 2
δn (t) = √ e−(nt)
π
n=1
n=2
n=3
conceito de função que permite manipular singularidades. Note que limite limn→∞ δn (t) propriamente dito não existe, a sequência
R∞
δn pode ser interpretada como a sequência de funções normalizadas −∞ δn (t) dt = 1 tal que a sequência de integrais tem o limite
R∞
limn→∞ −∞ δn (t)f (t) dt = f (0).
5 Veja a nota de rodapé 4.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 44
f (t)
α t
Exemplo 3.2.1 Considere a função pulso retangular apresentada na Figura 3.5. Percebe-se que essa
função pode ser escrita como a diferença de dois degraus, ou seja, f (t) = µ(t) − µ(t − t0 ).
f (t)
1
t
t0
-1
Portanto
f (0) 1 d
F (s) = + L[ f (t)]
s s dt
Exemplo 3.2.4 Considere a função f (t) = cos(ωt), para t ≥ 0. A transformada dessa função pode ser
facilmente calculada como segue:
d sin(ωt) 1 1
L[cos(ωt)] = L[ ] = sL[sin(ωt)] − sin(ωt) t=0
dt ω ω
s ω s
= =
ω s2 + ω 2 s2 + ω 2
tem-se
d 1 1
L[t e−t µ(t)] = − =
ds (s + 1) (s + 1)2
Aplicando, novamente a propriedade, obtém-se
d 1 2
L[t(t e−t µ(t))] = − =
ds (s + 1)2 (s + 1)3
Consequentemente,
f (t) = t2 e−t , t≥0
Observe que a propriedade da translação na frequência poderia também ter sido utilizada.
7. Integral de convolução. A convolução f (t) ∗ g(t), entre os sinais f (t) e g(t), é definida como sendo
Z ∞ Z ∞
f (t) ∗ g(t) = f (t − τ )g(τ ) dτ = f (τ )g(t − τ ) dτ = g(t) ∗ f (t)
−∞ −∞
Assim, assumindo que f (t) = g(t) = 0 para t < 0 e aplicando a transformada de Laplace, obtém-se
Observação 3.2.1 Note que um sinal contínuo qualquer pode sempre ser escrito como sendo a convolução
dele próprio com o impulso, ou seja,
Z ∞
x(t) = x(τ )δ(t − τ ) dτ
−∞
8. Teorema do valor final. Se f (t) = 0 para t < 0, e limt→∞ f (t) for finito, então
9. Teorema do valor inicial. Se f (t) = 0 para t < 0, e f (t) não contiver impulsos em t = 0, então,
f (t) := L−1 [F (s)] = L−1 [F1 (s)] + L−1 [F2 (s)] + · · · + L−1 [Fn (s)]
Observação 3.3.1 Note que a primeira hipótese implicará que os polos complexos de F (s), caso existam, só
podem aparecer em pares complexos conjugados. A segunda hipótese não é restritiva, pois caso F (s) possua
fatores comuns, por exemplo (s − z1 ) = (s − p2 ), então, esses fatores se cancelam e efetua-se a decomposição
de uma nova F (s) sem esses termos. A última hipótese também não apresenta perda de generalidade, já que
uma função racional F (s) = P (s)/Q(s) com n = m pode ser reescrita como F (s) = D + P̄ (s)/Q̄(s), em que D
é uma constante e o grau de P̄ (s) é estritamente menor do que o grau de Q̄(s).
Dependendo das raízes de Q(s), dois casos podem ocorrer. Primeiro, será tratado o caso em que os polos de
F (s) são raízes simples de Q(s), ou seja, todos os polos são distintos. Em seguida, será apresentado o caso em
que os polos de F (s) contêm raízes múltiplas de Q(s).
Portanto,
c3 = (s + 1)3 F (s) s=−1
Para se determinar os outros coeficientes, deriva-se a equação (3.3), que fornece
d
(s + 1)3 F (s) = c2 + 2c1 (s + 1)
ds
Portanto,
d
c2 = (s + 1)3 F (s) s=−1
ds
De forma similar, determina-se o termo c1 :
d2
(s + 1)3 F (s) s=−1 = 2c1
ds2
Para o exemplo, em que
s2 + 2s + 3
F (s) = =⇒ (s + 1)3 F (s) = s2 + 2s + 3
(s + 1)3
tem-se
Observe que o segundo termo foi obtido usando o teorema da derivação complexa
d
L[tf (t)µ(t)] = − F (s)
ds
1
Para a função F (s) = , cuja inversa é f (t) = e−at µ(t), tem-se
s+a
d 1 1
L[te−at µ(t)] = − =
ds s + a (s + a)2
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 50
Portanto, se F (s) = 1/(s + a)2 , sua inversa será f (t) = te−at para t ≥ 0. De forma análoga, para F (s) =
2/(s + 1)3 , tem-se f (t) = t2 e−t para t ≥ 0.
Considerando que F (s) possui um polo de multiplicidade ℓ, ou seja, p1 = p2 = · · · = pℓ , e os n − ℓ polos
restantes são todos distintos, sua decomposição em frações parciais é dada por
c1 c2 cℓ cℓ+1 cn
F (s) = + 2
+ ··· + ℓ
+ + ··· +
s − p1 (s − p1 ) (s − p1 ) s − pℓ+1 s − pn
s3 + s2 − 16s + 20 (s − 2)2 (s + 5)
F (s) = =
s6 − 2s5 − 8s4 + 14s3 + 11s2 − 28s + 12 (s − 1)3 (s + 2)2 (s − 3)
em que os resíduos
11 2 1 248 16 1
c1 = − , c2 = , c3 = − , c4 = , c5 = , c6 =
27 3 3 675 45 25
foram calculados como segue:
1 d2 3
16(3s3 − 33s2 + 97s − 100) 11
1. c1 = F (s)(s − 1) = − =−
2 ds2 s=1 (s − 3)3 (s + 2)4 s=1 27
(s − 2)2 (s + 5) 1
3. c3 = F (s)(s − 1)3 = =−
s=1 (s + 2)2 (s − 3) s=1 3
(s − 2)2 (s + 5) 16
5. c5 = F (s)(s + 2)2 = =
s=−2 (s − 1)3 (s − 3) s=−2 45
(s − 2)2 (s + 5) 1
6. c6 = F (s)(s − 3) = =
s=3 (s − 1)3 (s + 2)2 s=3 25
Exemplo 3.4.1 Determine a solução da seguinte equação diferencial de primeira ordem não homogênea:
Equivalentemente, tem-se
τ v0 E τ v0 1 τ
V (s) = + = +E −
τ s + 1 s(τ s + 1) τs + 1 s τs + 1
Portanto
s 1
Y (s) = y0 + ẏ0 2 , ωn2 = k/m
s2 2
+ ωn s + ωn2
cuja inversa da transformada de Laplace fornece
ẏ0
(3.4) y(t) = y0 cos(ωn t) + sin(ωn t), t≥0
ωn
1
(s + a1 )Y (s) = 1 =⇒ Y (s) =
s + a1
1
y(t) = L−1 [Y (s)] = sin(ωn t), t≥0
mωn
Definição 3.4.1 A resposta ao impulso de um sistema, geralmente denominada por h(t), é de grande impor-
tância na análise linear de sistemas. A resposta ao impulso h(t) é calculada com condições iniciais nulas, para
um impulso aplicado no instante de tempo t = 0.
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Embora não seja mandatório, é útil reescrever a equação acima na forma padrão
Portanto,
ωn2
Y (s) = X(s)
s2 + 2ζωn s + ωn2
Considerando que a entrada é um impulso x(t) = δ(t), ou seja, X(s) = 1, tem-se que
Y (s) ωn2
H(s) := = 2
X(s) s + 2ζωn s + ωn2
Observação 3.4.1 Não é adequado calcular numericamente (de forma computacional) a resposta ao impulso
usando diretamente a sua definição, uma vez que o impulso tem amplitude infinita. Porém, pode-se mostrar
(ver Exercício 3.8.27) que é possível calcular numericamente a resposta ao impulso usando a equação diferencial
homogênea com uma condição inicial apropriada.
Exemplo 3.4.6 Para o sistema massa-mola do Exemplo 3.4.4, a resposta ao impulso pode ser obtida usando-se
a equação diferencial homogênea mÿ(t) + ky(t) = 0, com condição inicial y(0) = 0 e ẏ(0) = 1/m.
No mais, se a entrada for nula para t < 0, ou seja x(t) = 0 para t < 0, então a solução forçada será
Z t Z t
y(t) = h(t − τ )x(τ ) dτ = h(τ )x(t − τ ) dτ
0 0
Sabe-se (do Exemplo 3.4.4) que a resposta ao impulso h(t) desse sistema é
1 p
h(t) = sin(ωn t) µ(t), ωn = k/m
mωn
Assim, pela integral de convolução, tem-se que a solução forçada yf (t) é dado por
Z ∞
yf (t) = h(t) ∗ x(t) = h(t − τ )x(τ ) dτ
−∞
Z ∞ Z t
1 X0
= sin(ωn (t − τ ))µ(t − τ )X0 µ(τ ) dτ = sin(ωn (t − τ )) dτ
−∞ mωn mωn 0
fornecendo finalmente
X0
(3.5) yf (t) = (1 − cos(ωn t)), t≥0
k
(n−1)
em que n é a ordem da equação diferencial e y0 , ẏ0 , . . . , y0 são suas n condições iniciais.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 54
Exemplo 3.5.2 Suponha que o sistema do Exemplo 3.5.1 esteja sujeito às condições iniciais y(0) = y0 e
ẏ(0) = ẏ0 . Assim, somando-se a solução homogênea (3.4) e a solução forçada (3.5), a resposta completa fica
sendo
ẏ0 X0
y(t) = y0 cos(ωn t) + sin(ωn t) + (1 − cos(ωn t)), t ≥ 0
ωn k
Comparando essa expressão com (3.6), tem-se
sin(ωn t)
g0 (t) = cos(ωn t) e g1 (t) =
ωn
obtém-se
Y (s) = H(s)X(s)
Essa relação está expressa na Figura 3.6 abaixo.
A função H(s) = Y (s)/X(s), que relaciona a transformada de Laplace do sinal de saída y(t) com a trans-
formada de Laplace do sinal de entrada x(t), é denominada de função transferência. Perceba que para uma
entrada impulsiva X(s) = 1, a saída é Y (s) = H(s). Portanto, H(s) é transformada de Laplace da resposta ao
impulso h(t), ou seja Z ∞
H(s) = h(t)e−st dt
0−
A função de transferência também pode ser obtida diretamente da equação diferencial, considerando as
condições iniciais nulas. Assim, aplicando a transformada de Laplace em ambos os lados da equação diferencial
Portanto,
Y (s) b0 sm + b1 sm−1 + · · · + bm−1 s + bm
H(s) = =
X(s) sn + a1 sn−1 + · · · + an−1 s + an
Observação 3.6.2 O ganho estático é dado por H(0) = bm /an . Assim, se a entrada for x(t) = X0 µ(t),
um degrau de amplitude X0 , e o sistema for assintoticamente estável, a saída atingirá o regime estacionário
y∞ = H(0)X0 .
Para esse sistema, a transformada de Laplace da resposta ao impulso h(t) e da entrada x(t) são respectivamente
dadas por
1 X0
H(s) = 2
e X(s) =
ms + k s
Assim
X0 X0 /m X0 1 s
Y (s) = H(s)X(s) = = = − , ωn2 = k/m
s(ms2 + k) s(s2 + ωn2 ) mωn2 s s2 + ωn2
cuja inversa da transformada de Laplace fornece a solução forçada
X0
yf (t) = (1 − cos(ωn t)), t≥0
k
yh (t) = Ceλt , λ = σ + jω
e, assim, a convergência dessa expressão depende essencialmente do valor da raiz λ. Usando a fórmula de Euler,
essa raiz pode ser reescrita como
eλt = eσt (cos(ωt) + j sin(ωt))
Portanto, esse termo convergira a zero sempre que σ < 0, ou seja, sempre que a raiz λ esteja localizada no
semiplano esquerdo do plano complexo.
Observação 3.7.1 Caso as raízes não sejam todas distintas e exista uma raiz de multiplicidade ℓ, então apa-
recerá termos da forma tℓ−1 eλt e a análise não se alterará, já que se σ < 0 o termo eσt decresce numa taxa
mais rápida do que o termo tℓ−1 cresce.
(s − z1 )(s − z2 ) · · · (s − zm )
H(s) = K
(s − p1 )(s − p2 ) · · · (s − pn )
tℓ−1 p1 t
(3.7) h(t) = c1 ep1 t + c2 tep1 t + · · · + cℓ e + cℓ+1 epℓ+1 t + · · · + cn epn t , t≥0
(ℓ − 1)!
Portanto, para que h(t) convirja a zero, com t → ∞, é necessário que Re(pi ) < 0, para i = 1, . . . , n. Isso
implica que todos os polos da função de transferência devem pertencer ao semiplano esquerdo aberto do plano
complexo s, como apresentado na Figura 3.7.
Im
0 Re
Definição 3.7.1 Um sistema linear invariante no tempo será assintoticamente estável se os polos pi da função
de transferência H(s) satisfizerem Re(pi ) < 0, para i = 1, . . . , n.
Observação 3.7.2 Note que, de acordo com a definição 3.7.1, se um sistema linear invariante no tempo for
assintoticamente estável, então sua resposta ao impulso dada por (3.7) convergirá a zero com t → ∞.
Observação 3.7.3 De acordo com a observação 3.3.1, se a função de transferência H(s) for própria, ou seja
n = m, ela poderá ser reescrita como H(s) = P̄ (s)/Q̄(s) + D, com D constante e o grau de P̄ (s) estritamente
menor do que o grau de Q̄(s). Assim, as condições de estabilidade assintótica requerem que a parte real dos
polos de Q̄(s) seja estritamente menor que zero.
Lema 3.7.1 Um sistema linear invariante no tempo é BIBO estável, se e somente se,
Z ∞
kh(t)k1 = |h(t)| dt < ∞
−∞
Portanto, a saída y(t) é limitada sempre que h(t) for absolutamente integrável.
Lema 3.7.2 Um sistema linear causal invariante no tempo é BIBO estável se, e somente se, for assintotica-
mente estável.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 57
Exemplo 3.7.1 Mostre que o sistema abaixo não é BIBO estável e determine uma entrada x(t) limitada tal
que a saída y(t) não seja limitada:
ÿ(t) + 4y(t) = x(t)
A função de transferência, que relaciona a transformada de Laplace da saída y(t) com a transformada de
Laplace da entrada x(t) é dada por
Y (s) 1
H(s) = = 2
X(s) s +4
Note que esse sistema não é assintoticamente estável, já que os polos de H(s), dados por s = ±2j, estão no
eixo imaginário.
A resposta ao impulso para esse sistema é obtida aplicando-se um impulso na entrada, ou seja, x(t) = δ(t)
e X(s) = 1. Nesse caso, tem-se que a saída é dada por
1
Y (s) =
s2 +4
Aplicando a inversa da transformada de Laplace, obtém-se
Como kh(t)k1 não é finita, conclui-se que o sistema não é BIBO estável. Portanto, existe uma entrada x(t)
limitada tal que y(t) não seja limitada.
Considere a seguinte entrada:
x(t) = 2 cos(2t), t≥0
cuja transformada de Laplace é
2s
X(s) =
s2 + 4
Nesse caso, a saída Y (s) é dada por
2s
Y (s) = H(s)X(s) =
(s2 + 4)2
A função Y (s) possui polos múltiplos em p1 = 2j e p2 = −2j. Sua decomposição em frações parciais é dada por
c1 c2 c3 c4
Y (s) = + + +
(s − p1 ) (s − p1 )2 (s − p2 ) (s − p2 )2
3.8 Exercícios
Exercício 3.8.1 Apenas para este exercício, use a definição “bilateral” da transformada de Laplace dada por
Z ∞
F (s) = f (t)e−st dt
−∞
2. Calcule F (s).
Exercício 3.8.3 Considere a definição padrão (“unilateral”) da transformada de Laplace F (s) de um sinal f (t)
dada por Z ∞
F (s) = L[f (t)] = f (t)e−st dt
0−
Prove as seguintes propriedades:
1 s
6. L [f (αt)] = F
α α
−αt
7. L e f (t) = F (s + α)
Exercício 3.8.4 Usando a transformada de Laplace, calcule y(t) = x(t) ∗ h(t), em que x(t) e h(t) são
Exercício 3.8.8 Usando o teorema do valor inicial, determine f (0) e f˙(0) para
Exercício 3.8.9 Usando o teorema do valor final, determine f (∞) sabendo que F (s) é dada por
F (s) = 10/(s2 + s)
(s + α)
2. L e−αt cos(ωt)µ(t) =
(s + α)2 + ω 2
Exercício 3.8.12 Usando o método apresentado na Seção 3.3, determine a decomposição em frações parciais
da função Y (s) dada por
X0 /m
Y (s) = , ωn2 = k/m
s(s2 + ωn2 )
Em seguida, calcule y(t) e compare com o resultado obtido no Exemplo 3.6.1.
Exercício 3.8.13 Seguindo os passos ilustrados na Seção 3.3, realize a expansão em frações parciais da função
H(s) dada por
ωn2
H(s) = 2
s + 2ζωn s + ωn2
e determine a respectiva função h(t). Em seguida, compare com a resposta obtida no Exemplo 3.4.5.
Exercício 3.8.14 Seguindo os passos ilustrados na Seção 3.3, realize a expansão em frações parciais de
s6 − 3s4 + 3s2 − 1
F1 (s) =
s6 + 2s4 + s2
e determine a respectiva função f1 (t). Em seguida, mostre que F1 (s) pode ainda ser decomposta como
1 4 8
F2 (s) = 1 − 2
− 2 + 2
s s + 1 (s + 1)2
Assim, determine a respectiva função f2 (t) e mostre que ela é idêntica a f1 (t).
1. F (s) = s2 /(s2 + s + 1)
2. F (s) = 1/(s(s2 + αs + ω))
3. F (s) = 1/(s2 (s2 + ω 2 ))
4. F (s) = 1/(s2 + 1)2
5. F (s) = (s2 − ω 2 )/(s2 + ω 2 )2
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6. F (s) = ω/(s2 − ω 2 )
7. F (s) = (s + e−αs )/s
1. ẋ + αx = δ(t), x(0) = 0
2. ẋ + x = β sin(ωt), x(0) = x0
3. ẍ + ωn2 x = β sin(ωt), x(0) = x0 , ẋ(0) = ẋ0
4. ẍ + 2ζωn ẋ + ωn2 x = 0, x(0) = x0 , ẋ(0) = ẋ0
5. ẍ + 2ζωn ẋ + ωn2 x = µ(t), x(0) = 0, ẋ(0) = 0
6. ẍ + 2ζωn ẋ + ωn2 x = δ(t), x(0) = 0, ẋ(0) = 0
7. 2ẍ + 10ẋ + 24x = 50e−2t cos(3t), x(0) = 4, ẋ(0) = 1
Exercício 3.8.17 Prove que se f (t) for uma função periódica de período T tal que f (t) = 0, para t < 0, e
f (t + nT ) = f (t), para t ≥ 0, então
Z T
1
F (s) := L[f (t)] = f (t)e−st dt
1 − e−T s 0
Dicas:
Z ∞ ∞ Z
X (n+1)T
1. ··· = ···
0 n=0 nT
∞
X ∞
X
2. e−nT s = 1 + e−T s e−nT s
n=0 n=0
p(t)
0 t
f (t)
A
···
τ T t
Exercício 3.8.20 Note que a função P (s) do Exercício 3.8.18 e a função F (s) do Exercício 3.8.19 não são
funções racionais. Porém, é possível realizar uma aproximação racional usando a fórmula de Padé (ver Se-
ção A.4 do Apêndice A). Usando a aproximação de Padé de primeira ordem, determine uma aproximação
racional F̂ (s). Calcule a inversa de F̂ (s) e compare o gráfico de fˆ(t) com o trem de pulsos. Repita a análise
usando aproximações de ordens 3 e 15.
Exercício 3.8.21 Mostre que a transformada de Laplace do trem de impulsos, de período T , é dada por:
∞
X 1
p(t) = δ(t − nT ) ⇐⇒ P (s) =
n=0
1 − e−T s
Exercício 3.8.22 Mostre que a convolução de uma função g(t) qualquer, para t ≥ 0, com o trem de impulsos
do Exercício 3.8.21 é dada por
∞
X
x(t) = p(t) ∗ g(t) = g(t − nT )
n=0
Assim
G(s)
X(s) = , G(s) = L[g(t)µ(t)]
1 − e−T s
Exercício 3.8.23 Mostre que se um sistema linear invariante no tempo de segunda ordem for assintoticamente
estável, então sua resposta homogênea (devido a uma condição inicial arbitrária) convergirá a zero, com t → ∞.
Exercício 3.8.25 Um sistema é dito estável no sentido “bounded input, bounded output” (BIBO), se qualquer
entrada limitada x(t) implicar uma saída limitada y(t). Prove para um sistema linear invariante no tempo, que
estabilidade BIBO é equivalente às seguintes condições:
Exercício 3.8.26 Mostre que a resposta de um sistema a uma entrada do tipo rampa pode ser obtida como a
integral da resposta ao degrau, e que a resposta ao degrau pode ser obtida como a integral da resposta ao impulso.
Exercício 3.8.27 Mostre que a resposta ao impulso h(t) pode ser calculada numericamente, de forma conve-
niente, usando a equação diferencial homogênea com uma condição inicial apropriada.
R
+
p(t) R C v(t)
−
R
1. Determine a equação diferencial em termos da tensão v, considerando que R = 620 [KΩ] e C = 4.7 [µF];
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3. Usando a integral de convolução, determine a tensão v(t) para a entrada p(t) = 3µ(t) [V];
4. Usando a transformada de Laplace, encontre a tensão de saída v(t) para a entrada p(t) = 3µ(t) [V] e
condição inicial v(0) = 0.7 [V].
Exercício 3.8.29 Determine a resposta ao impulso do circuito elétrico resistor-capacitor, apresentado na Fi-
gura 3.11, cuja equação diferencial foi derivada em (2.4).
R
i
+
p(t) C v(t)
−
Exercício 3.8.30 Considere o circuito resistor-capacitor do Exercício 3.8.29. Usando a integral de convolução,
mostre que a tensão v(t) no capacitor para uma entrada em degrau de amplitude E e condição inicial nula é
dada por
v(t) = E 1 − e−t/τ , t ≥ 0
1. Suponha que a entrada p(t) seja a função periódica dente de serra apresentada na Figura 3.8 do Exercí-
cio 3.8.18. Mostre8 que a resposta V (s), no domínio da frequência, é dada por
G(s) 1 1 τ τ −T s 1 τ
V (s) = , G(s) = − + 1−e − − e−T s
(1 − e−T s ) T s 2 s s + 1/τ s τs + 1
∞
X
v(t) = g(t − nT )
n=0
1 1
g(t) = t − τ + τ e−t/τ µ(t) − t − T − τ + τ e−(t−T )/τ µ(t − T ) − 1 − e−(t−T )/τ µ(t − T )
T T
3. Calcule a resposta, usando os valores numéricos T = 3 e τ = 1/2. Mostre que o gráfico da tensão v(t),
para a entrada dente de serra, tem a forma da figura abaixo.
8 Este mesmo problema pode ser resolvido usando a série de Fourier, como demonstra o Exercício 6.1.3.
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1
p(t)
0.8 v(t)
Amplitude
0.6
0.4
0.2
0 t[s]
0 2 4 6 8 10 12
Figura 3.12: a) Onda dente de serra p(t) (linha vermelha); b) resposta do sistema v(t) (linha azul).
x(t)
c
k m f (t)
3. Considerando 0 ≤ ζ < 1, mostre que a resposta X(s), no domínio da frequência, para a entrada em degrau
f (t) = µ(t) tem a seguinte decomposição:
1 1
X(s) =
ms s2 + 2ζωn s + ωn2
c1 c 2 ωd c3 (s + ζωn )
= − 2 −
s 2
(s + ζωn ) + ωd (s + ζωn )2 + ωd2
com
1 ζ 1
c1 = , c2 = , c3 =
mωn2 mωd ωn mωn2
4. Assim, mostre que o deslocamento x(t), no domínio do tempo, para a entrada f (t) = µ(t) é dada por
1. Mostre que a resposta X(s), no domínio da frequência, para o pulso retangular de largura τ (Figura 3.5
do Exemplo 3.2.1) é dada por
1 1
X(s) = L(s) 1 − e−τ s , L(s) =
ms (s + 2ζωn s + ωn2 )
2
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com
l(t) = c1 − e−ζωn t (c2 sin ωd t + c3 cos ωd t)
e os coeficientes c1 , c2 e c3 dados no item 3 do Exercício 3.8.32.
1. Suponha que a entrada f (t) seja o trem de pulsos, de amplitude A, largura τ e período T , apresentado na
Figura 3.9 do Exercício 3.8.19. Mostre que a resposta X(s), no domínio da frequência, é dada por
A 1 (1 − e−τ s )
X(s) =
ms (s + 2ζωn s + ωn ) (1 − e−T s )
2 2
G(s) 1 1
X(s) = A , G(s) = L(s) 1 − e−τ s , L(s) =
(1 − e−T s ) ms (s + 2ζωn s + ωn2 )
2
3. Considerando os valores numéricos dados no Exercício 3.8.32 para o sistema mecânico e considerando que
o trem de pulsos tem amplitude A = mωn2 , largura τ = 3/5 e período T = 1, mostre que o gráfico de x(t)
tem a forma abaixo.
1.5
f
x
xp
1
Amplitude
0.5
−0.5
0 1 2 3 4
t [s]
Figura 3.14: a) Trem de pulsos f (t) de amplitude unitária (linha preta); b) resposta x(t) ao trem de pulsos
(linha azul); c) resposta xp (t) a um único pulso (linha vermelha).
Capítulo 4
Dispositivos digitais são amplamente usados para o processamento e controle de informações em praticamente
todas as áreas tecnológicas, já que a maioria dos dispositivos fabricados nas últimas décadas usam micropro-
cessadores e, portanto, processam sinais digitais.
Para as aplicações em que são usados dispositivos digitais, é razoável modelar o sistema físico em questão, ou
parte dele, como sendo um sistema a tempo discreto. É oportuno enfatizar que existem vários sistemas físicos
cuja dinâmica por natureza pode ser diretamente modelada como um sistema a tempo discreto, tais como os
sistemas econométricos, sistemas de negócios, sistemas biológicos, entre outros. Assim, é fundamental conhecer
as técnicas de análise que podem ser aplicadas aos sistemas discretos.
Porém, também será usada a notação x(k) para também denotar a sequência {x(k)} e não apenas o ponto
específico x(k), calculado no instante de tempo k. Isso não causará conflito, já que ficará claro através do
contexto se x(k) está denotando um ponto especifico ou a sequência inteira.
A seguir são definidos os principais sinais discretos encontrados na análise de sistemas dinâmicos discretos.
1. Impulso unitário.
( δ(k)
1 , se k = 0 1
δ(k) =
0 , se k 6= 0 k
−3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
2. Degrau unitário.
( µ(k)
1 , se k ≥ 0 1
µ(k) =
0 , se k < 0 k
−3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
65
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ak
2
k
−1 1 2 3 4 5 6
−1
Exemplo 4.1.1 Considere o sinal x(t) = sin(ωt), com ω = 1 rad/s, apresentado na Figura 4.2.
x(t), x(k)
1 x(t)
x(k)
0 t, k
1.57 3.14 4.71 6.28
−1
A frequência f [Hertz] de um sinal está relacionada com a frequência angular ω [rad/s] e o período T [s]
através da relação ω = 2π/T = 2πf .
Discretizando esse sinal com uma taxa de amostragem Ta = π/2 [s], tem-se
kπ
t = k Ta =
2
Assim, a frequência de amostragem é
1 2
fa = =
Ta π
Portanto
x(k) := x(t) t=kTa
= x(kTa ) = sin(ωkTa )
Para esse exemplo, em que ω = 1 e Ta = π/2, tem-se
Note que ω0 /(2π) é racional, já que ω0 /(2π) = 1/4. Portanto, o período P do sinal discretizado é dado
por P = 2π/ω0 = 4. Fato esse facilmente percebível através de sua sequência
n o
x(k) = sin(kπ/2) = · · · 1 0 −1 0 1 0 −1 0 1 0 −1 0 1 0 · · ·
Esse mesmo resultado poderia ter sido obtido observando que se x(k) é um sinal periódico de período P ,
então a expressão x(k) = x(k + P ) deve ser satisfeita. Assim, para x(k) = sin(kπ/2), tem-se
π π π
x(k + P ) = sin (k + P ) = sin k+ P
2 2 2
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x(t), x(k)
x(t)
1
x(k)
0 t, k
1 2 3 4 5 6 7 8
−1
Exemplo 4.2.1 A convolução entre os sinais y(k) = µ(k + 2) e x(k) = δ(k − 3) é dada por
∞
X
y(k) ∗ x(k) = µ(k − n + 2)δ(n − 3) = µ(k − 1)
n=−∞
Note que δ(m) = 0 para m 6= 0; assim, a somatória acima se reduz a um único ponto dado por n − 3 = 0,
ou seja, n = 3.
Exemplo 4.2.2 A convolução entre os sinais x(k) = δ(k − 1) e y(k) = µ(k − 2) + cos(k + 1) é dada por
∞
X ∞
X
x(k) ∗ y(k) = x(k − n)y(n) = δ(k − n − 1) [µ(n − 2) + cos(n + 1)]
n=−∞ n=−∞
2. Um sinal x(k) qualquer pode sempre ser reescrito como sendo sua convolução com o impulso, ou seja,
∞
X
x(k) = x(n)δ(k − n)
n=−∞
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Exemplo 4.2.3 Considere o sinal x(k) = 2 cos 4(k+3) µ(k + 3) − µ(k − 4) , visto na Figura 4.4.
2.0
1.6
1.1
0.8
k
−5 −4 −3 −2 −1 0 −0.1
1 2 3 4 5
−1.3
−1.9
Figura 4.4: Sinal discreto x(k) = 2 cos 4(k+3) µ(k + 3) − µ(k − 4) .
Exemplo 4.2.4 A energia contida no sinal x(k) = 2 cos 4(k+3) µ(k + 3) − µ(k − 4) é portanto
em que f : Z × R → R é uma função qualquer. Essa equação será linear se a função f (·, y) for linear em y. Uma
solução dessa equação é uma sequência de números y(0), y(1), y(2), . . . que satisfaz (4.1) para cada k.
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em que C é uma constante arbitrária a ser determinada pela condição inicial. Sabendo que y(0) = y0 , tem-se
que C = y0 e a solução da equação de diferenças de primeira ordem homogênea é dada por
y(k) = ak y0 , k≥0
Portanto, a origem y = 0 é assintoticamente estável se e somente se |a| < 1. Note que se a = −1, a solução
é a sequência periódica dada por y(k) = {y0 , −y0 , y0 , −y0 , y0 , . . . }, que claramente possui duas subsequências
convergentes; uma que converge para y0 e outra para −y0 .
De forma similar ao caso contínuo, a solução y(k) dessa equação de diferenças não homogênea é
em que yh (k) é a solução geral da equação homogênea associada (4.2) e yp (k) é uma solução particular qualquer
de (4.3).
Assuma que a solução particular de (4.3) para uma entrada constante tenha a forma
yp (k) = α, k≥0
α = aα + b
Por outro lado, para tratar o caso a = 1, considera-se que a solução particular tem a forma
(k + 1)α = kα + b
Agora, para determinar a solução completa da equação de diferenças não homogênea, é necessário levar em
consideração a solução geral da equação homogênea associada, que foi deduzida na Seção 4.3.1 anterior como
sendo yh (k) = Cak . Assim, para a 6= 1, tem-se
b b
y(0) = y0 = yh (0) + yp (0) = Ca0 + =⇒ C = y0 −
1−a 1−a
Já para a = 1, tem-se
y(0) = y0 = yh (0) + yp (0) = Ca0 =⇒ C = y0
Observe que a solução completa da equação de diferenças de primeira ordem não homogênea (4.3) pode
também ser obtida por recursão, como segue. Sabendo que y(0) = y0 e fazendo k = 0 na equação
com x(k) = b, tem-se y(1) = ay0 + b. Assim, de forma análoga, para k = 1, 2, 3, . . . , obtém-se a sequência
Assim, se a = 1, tem-se
y(k) = y0 + kb
Por outro lado, se a 6= 1, a expressão acima pode ser simplificada (ver Exercício 4.5.7) percebendo que
k−1
X 1 − ak
an = 1 + a + · · · + ak−2 + ak−1 =
n=0
1−a
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Portanto, a solução (completa) da equação de diferenças de primeira ordem (4.3), para a entrada constante
x(k) = b, é dada por
y0 + kb , se a = 1
(4.5) y(k) = k
y0 ak + 1 − a b , se a 6= 1
1−a
que é exatamente a mesma solução obtida anteriormente.
1 − ak
Observação 4.3.1 É oportuno enfatizar1 que lim = k. Assim, a solução acima pode ser expressa
a→1 1 − a
usando-se apenas a fórmula
1 − ak
y(k) = y0 ak +
b
1−a
já que para a → 1, essa expressão se reduz a y(k) = y0 + kb.
Observação 4.3.2 Embora ainda não tenha sido mencionado, está sendo considerado de forma implícita que
a 6= 0, já que para a = 0 a equação equação de diferenças não homogênea (4.3) se reduz a y(k + 1) = x(k), com
y(0) = y0 , cuja solução é simplesmente a sequência y(k) = {y0 , x(0), x(1), x(2), . . . }.
para uma entrada x(k) arbitrária e condição inicial y(0) é dada por
k−1
X
(4.6) y(k) = ak y(0) + ak−n−1 x(n), k≥0
n=0
= ay(k) + x(k)
Observação 4.3.3 Assumindo que x(k) = 0 para k < 0 e lembrando que a resposta ao impulso do sistema
(4.3) é dada2 por
h(k) = ak−1 µ(k − 1)
observa-se que o termo
k−1
X
ak−n−1 x(n)
n=0
que aparece na expressão (4.6) representa a convolução de h(k) com a entrada x(k).
1 Esse resultado segue diretamente da regra de L’Hôpital.
2 Ver Exercício 4.5.10.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 72
Exemplo 4.3.1 A solução forçada de (4.3) para a entrada x(k) = bµ(k) pode ser determinada pela convolução
da resposta ao impulso h(k) com a entrada x(k) como segue:
∞
X ∞
X k−1
X k−1
X
y(k) = h(k − n)x(n) = ak−n−1 µ(k − n − 1)bµ(n) = b ak−n−1 = bak−1 a−n
n=−∞ n=−∞ n=0 n=0
Exemplo 4.3.2 Suponha que se deseje determinar a solução da equação de diferenças de primeira ordem
y(k + 1) = ay(k) + x(k), y(0) = y0 , k≥0
em que o termo forçante é o pulso, de largura γ > 0, dado por
x(k) = µ(k) − µ(k − γ)
A solução homogênea já foi determinada, como sendo
yh (k) = y0 ak µ(k)
Assim, é preciso agora encontrar a solução forçada para a entrada x(k). Para se obter essa solução, pode-se
calcular separadamente a solução para cada um dos termos, x1 (k) = µ(k) e x2 (k) = µ(k − γ), da entrada
x(k) = x1 (k) − x2 (k) e, em seguida, somar os resultados obtidos.
A resposta forçada y1 (k) para o primeiro termo x1 (k) = µ(k) foi obtida no Exemplo 4.3.1 acima como sendo
1 − ak
µ(k)
y1 (k) =
1−a
Considerando agora a segunda componente da entrada, x2 (k) = µ(k − γ), a resposta forçada devido a x2 (k) =
µ(k − γ) corresponde a um atraso3 γ aplicado à resposta forçada para a primeira entrada x1 (k) = µ(k), ou seja
1 − ak−γ
y2 (k) = y1 (k − γ) = µ(k − γ)
1−a
Portanto a solução completa é dada por
1 − ak 1 − ak−γ
y(k) = yh (k) + y1 (k) − y2 (k) = y0 ak µ(k) + µ(k) − µ(k − γ)
1−a 1−a
Decomposição da solução
A solução da equação de diferenças não homogênea, que é composta pela soma das soluções homogênea e
forçada, também pode ser particionada em um termo relacionado ao regime transiente e um termo relacionado
ao regime estacionário (permanente).
Por exemplo, para a equação de diferenças não homogênea de primeira ordem dada por (4.3), foi visto que
a solução completa pode ser particionada numa parte homogênea e numa parte forçada dadas por
1 − ak
y(k) = y0 ak + b
|{z} 1−a
homogênea
| {z }
forçada
Porém, observe que ela pode ainda ser decomposta numa parte transiente e numa parte estacionária (perma-
nente) como segue
b b
y(k) = y0 − ak +
1−a 1−a
| {z } | {z }
transiente permanente
Note que se |a| < 1, a parte transiente (y0 − b/(1 − a)) a converge para zero e a solução converge para o regime
k
com condições iniciais y(0) = y0 e y(1) = y1 . Propondo-se a solução y(k) = λk e substituindo-a na equação
acima, obtém-se
λk+2 + a1 λk+1 + a2 λk = 0 =⇒ λk (λ2 + a1 λ + a2 ) = 0
Portanto, se λ satisfaz a equação característica
λ2 + a1 λ + a2 = 0
então λk é uma solução da equação de diferenças homogênea (4.7). Considerando que as duas raízes λ1 e λ2
são distintas, a solução tem a forma
É possível provar que essa solução é geral, mostrando que se pode escolher C1 e C2 de forma a satisfazer
qualquer condição inicial y(0) = y0 e y(1) = y1 . Substituindo as condições iniciais em (4.8), tem-se
" # " #" #
y0 = C1 + C2 y0 1 1 C1
=⇒ =
y1 = C1 λ1 + C2 λ2 y 1 λ 1 λ 2 C2
Por outro lado, se as duas raízes da equação característica forem iguais, ou seja λ = λ1 = λ2 , pode-se sugerir
como segunda solução
y(k) = kλk
fazendo com que a solução geral tenha a forma
y(k) = C1 λk + C2 kλk
Note que se as raízes repetidas forem nulas, λ1 = λ2 = 0, o que ocorre unicamente se a1 = a2 = 0, a equação
de diferenças se reduz a
y(k + 2) = 0, y(0) = y0 , y(1) = y1
Nesse caso específico, a solução é claramente dada pela sequência de pontos y(k) = {y0 , y1 , 0, 0, 0, 0, . . . }.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 74
com n condições iniciais dadas por y(0) = y0 , y(1) = y1 , . . . , y(n − 1) = yn−1 . A solução dessa equação é
y(k) = yh (k) + yp (k), em que yh (k) é a solução geral da equação homogênea associada e yp (k) é uma solução
particular qualquer.
A forma da solução geral yh (k) da equação homogênea associada
n
X
ai y(k + n − i) = 0
i=0
dependerá do tipo das n raízes da equação característica associada, como descrito a seguir:
• Se houverem raízes múltiplas, por exemplo λ1 com multiplicidade l, a solução geral terá a forma
l
X n
X
yh (k) = Ci k i−1 λk1 + Ci λki
i=1 i=l+1
A solução particular yp (k), por outro lado, dependerá da expressão para o termo forçante x(k). Soluções
particulares típicas estão apresentadas na Tabela 4.1.
constante α0
k α0 + α1 k
k2 α0 + α1 k + α2 k 2
kN α0 + α1 k + · · · + αN k N
cos(ωk) β1 cos(ωk) + β2 sin(ωk)
sin(ωk) β1 cos(ωk) + β2 sin(ωk)
rk αrk
Recorde que, para uma equação característica contendo uma raiz λ de multiplicidade ℓ, a solução geral da
equação homogênea é formada combinando potências de k com λk . Utilizam-se, portanto, termos do tipo C1 λk ,
C2 kλk , até Cℓ k ℓ−1 λk , em que cada Ci é uma constante a determinar.
No tratamento da solução particular, diante de um termo forçante que também é uma raiz da equação
característica, emprega-se uma abordagem similar. Se o termo forçante for k N e a raiz da equação característica
PN +ℓ
for 1, tendo multiplicidade ℓ, a forma da solução particular será um polinômio expresso por i=0 αi k i , com
coeficientes αi a determinar.
De forma equivalente, caso o termo forçante seja rk , com r representando uma raiz de multiplicidade ℓ, a
solução particular deverá englobar esse termo forçante acrescido por potências de k, isto é, assumirá a forma
αk ℓ rk .
Essas construções asseguram que a solução particular se mantenha diferenciada da solução homogênea,
possibilitando assim a resolução completa da equação de diferenças.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 75
Exemplo 4.3.3 Suponha que se deseje determinar a solução completa da equação de diferenças de segunda
ordem não homogênea dada por
yh (k) = λk
(4.10) λ2 + 2λ + 1 = 0
cujas raízes são repetidas, dadas por λ1 = −1 e λ2 = −1. Dessa forma, a solução geral da homogênea fica sendo
tem-se
rk α(r2 + 2r + 1) = rk
fornecendo
1
α=
(r + 1)2
Portanto, a solução particular fica sendo
rk
yp (k) =
(r + 1)2
Por outro lado, assumindo que r = −1, ou seja, que r é uma raiz da equação característica, a solução
particular para a entrada x(k) = rk tem a forma
yp (k) = αk 2 rk = αk 2 (−1)k
k 2 (−1)k
yp (k) =
2
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 76
Claramente, a solução particular para a entrada x(k) = cos(k), pode ser obtida usando-se o resultado acima
para a entrada x(k) = rk , observando que
e−jk + ejk
x(k) = cos(k) =
2
Assim, fazendo-se r = e−j , tem-se
e−jk
y1 (k) =
(e−j + 1)2
Por outro lado, fazendo-se r = ej , tem-se
ejk
y2 (k) =
(ej + 1)2
Portanto, a solução particular para a entrada x(k) = cos(k), fica sendo
y1 (k) + y2 (k) 1 e−jk ejk
yp (k) = = + = α cos(k) + β sin(k)
2 2 (e−j + 1)2 (ej + 1)2
com
1 1 1 1
α = sec2 cos(1), β = sec2 sin(1)
4 2 4 2
Do exposto acima, a solução particular para a entrada
k 2 (−1)k
y(k) = C1 (−1)k + C2 k(−1)k + 3(α cos(k) + β sin(k)) + 5
2
Usando agora as condições iniciais y(0) = 0 e y(1) = −1, tem-se
3 1
0 = C1 + sec2 cos(1)
4 2
3 1 5
−1 = −C1 − C2 + sec2 −
4 2 2
cuja solução fornece
3 1
C1 = − sec2 cos(1), C2 = 0
4 2
1. Linearidade: sejam y1 (k) e y2 (k) as saídas para as entradas x1 (k) e x2 (k), respectivamente. Então, o
sistema é linear se a saída para a entrada
x(k) = αx1 (k) + βx2 (k) for y(k) = αy1 (k) + βy2 (k)
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 77
é linear, já que
k−1
X k−1
X k−1
X k−1
X
y(k) = x(n) = αx1 (n) + βx2 (n) = α x1 (n) + β x2 (n) = αy1 (k) + βy2 (k)
n=0 n=0 n=0 n=0
não é linear. Note que para uma entrada constante qualquer x(k) = c, a saída é dada por
y(k) = ck
que claramente é uma relação não linear, já que para x(k) = c1 + c2 , tem-se
2. Causalidade: Um sistema é dito causal (não antecipativo), se a saída num instante de tempo τ depender
apenas de valores da entrada em k ≤ τ .
Exemplo 4.4.3 O sistema y(k) = cos(k + 1) x(k)x(k − 3) é causal, já que a saída no instante k = τ
depende da entrada no instante τ e no instante passado τ − 3.
Exemplo 4.4.4 O sistema y(k) = cos(k) x(k + 1) não é causal, já que a saída no instante k = τ depende
da entrada no instante futuro τ + 1.
3. Invariância no tempo: se y(k) for a saída para uma entrada x(k), então, y(k − τ ) será a saída para a
entrada x(k − τ ).
Exemplo 4.4.5 Considere o sistema y(k) = sin(x(k)). Então, para a entrada x1 (k), tem-se
Exemplo 4.4.6 Considere o sistema y(k) = k x(k). Então, para a entrada x1 (k), tem-se
No entanto,
y1 (k − τ ) = (k − τ )x1 (k − τ ) 6= y2 (k)
4.5 Exercícios
Exercício 4.5.1 Prove as seguintes relações entre o impulso unitário δ(k), o degrau unitário µ(k) e a rampa
unitária r(k):
Pk Pk
1. µ(k) = n=−∞ δ(k) 6. r(k) = kδ(k) + n=1 µ(n)
P∞
2. µ(k) = n=0 δ(k − n) 7. µ(k) = r(k + 1) − r(k)
P∞
3. r(k) = n=1 µ(k − n) 8. δ(k) = µ(k) − µ(k − 1)
Pk
4. r(k) = n=−∞ (k − n)δ(n) 9. δ(k) = r(k) − r(k − 1)
Pk
5. r(k) = n=0 nδ(k − n)
Exercício 4.5.4 Calcule a convolução entre os sinais x(k) e y(k) dados por
Exercício 4.5.5 Mostre que a rampa f (k) = kµ(k) pode ser escrita como a convolução de dois degraus, f (k) =
µ(k) ∗ µ(k − 1).
Exercício 4.5.6 Mostre que a resposta ao degrau yd de um sistema linear e invariante no tempo (LTI) é a
soma acumulada (running sum) da resposta ao impulso do sistema:
k
X
yd (k) = h(n)
n=−∞
Exercício 4.5.12 Determine a solução homogênea e, em seguida, a solução completa das seguintes equações
de diferenças para k ≥ 0:
Exercício 4.5.13 Para as equações de diferenças do Exercício 4.5.12, decomponha a solução em termos de
regime transiente, regime permanente e resposta forçada.
Exercício 4.5.14 Usando a convolução, determine a solução forçada das seguintes equações de diferenças:
Exercício 4.5.15 Considere a sequência de Fibonacci {yk } definida pela equação de diferenças
Mostre que
√ !k √ !k
1+ 5 1− 5
y(k) = µ(k) + µ(k)
2 2
Exercício 4.5.16 Determine as condições sobre os coeficientes a1 e a2 para que todas as soluções de
com x(k) uma entrada limitada qualquer convirjam para zero com k → ∞.
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Exercício 4.5.17 Considere um sistema S cuja entrada x(k) e a saída y(k) estão relacionados por
4. y(k) = 3x(k + 1)
Determine se o sistema S é ou não é: (i) linear; (ii) invariante no tempo; (iii) causal.
Discretize com t = kT essa equação usando diferenças finitas, ou seja, assumindo a aproximação
Exercício 4.5.19 Considere o Exercício 4.5.18. Assuma que a = 3 e b = 5. Compare numericamente, através
de gráficos, o sistema contínuo e sua discretização para cada uma das respostas que foram derivadas no exercício,
observando como a precisão da aproximação discreta é afetada pelos diferentes valores de T = {0.01, 0.1, 1, 2}.
Exercício 4.5.20 Considere o Exercício 4.5.18. Determine analiticamente a faixa de valores para a, b e T de
forma que a resposta homogênea, para qualquer condição inicial, sempre convirja a zero.
Capítulo 5
Transformada Z
A transformada Z é uma ferramenta extremamente útil para a análise de sistemas a tempo discreto e proces-
samento digital de sinais. Essa transformada atua de forma análoga à transformada de Laplace para sistemas
contínuos no tempo. Este capítulo apresenta os conceitos e propriedades fundamentais da transformada Z,
incluindo a transformação de funções básicas, propriedades relevantes como linearidade e o teorema da convo-
lução, além da transformada inversa. Também são discutidas aplicações importantes, tais como a resolução de
equações de diferenças e a análise da resposta de um sistema a diversos tipos de entrada. Ademais, o conceito
chave de função de transferência é introduzido no âmbito da transformada Z.
A transformada unilateral Z de um sinal discreto f (k) é definida pela seguinte fórmula1
∞
X
F (z) := Z[f (k)] = f (k)z −k , em que z ∈ C
k=0
É importante ressaltar que essa transformada é específica para sinais discretos. Neste texto, adota-se, com certo
abuso de notação, a expressão Z[f (t)] para representar a transformada Z do sinal discretizado f (k) := f (kT ) =
f (t)|t=kT , em que T é o período de amostragem.
A aplicação da transformada Z em alguns sinais comuns é apresentada a seguir.
2. Degrau unitário (
1 , se k ≥ 0
f (k) = µ(k) =
0 , se k < 0
Portanto, sua transformada Z é dada por
∞
X 1 z
F (z) = Z[µ(k)] = z −k = 1 + z −1 + z −2 + · · · = −1
=
1−z z−1
k=0
Note (ver Exercício 4.5.7) que essa série converge para |z| > 1 (região de convergência).
1 Para cada sinal f (k), existe um valor α tal que a série de potência que define a transformada Z converge para |z| > α,
81
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 82
3. Função polinomial (
ak , se k ≥ 0
f (k) =
0 , se k < 0
Portanto, sua transformada Z é dada por
∞
X ∞
X
F (z) = Z[f (k)] = Z[ak µ(k)] = ak z −k = (a−1 z)−k
k=0 k=0
4. Função exponencial (
e−akT , se k ≥ 0
f (kT ) =
0 , se k < 0
Sua transformada Z é dada por
∞
X ∞
X
F (z) = Z[f (kT )] = e−akT z −k = (eaT z)−k
k=0 k=0
5. Função senoidal (
sin(ωkT ) , se k ≥ 0
f (k) =
0 , se k < 0
Sua transforma Z é dada poe
1 jωkT −jωkT
1
F (z) = Z[sin(ωkT )] = Z e −e = Z[ejωkT ] − Z[e−jωkT ]
2j 2j
1 1 1 1 (ejωT − e−jωT )z −1
= − =
2j 1 − ejωT z −1 1 − e−jωT z −1 2j 1 − (ejωT + e−jωT )z −1 + z −2
z sin(ωT )
= 2
z − 2z cos(ωT ) + 1
Se f (−1), . . . , f (−n) forem todos nulos, então Z[f (k − n)] = z −n F (z). Assim, para f (k) = g(k)µ(k),
tem-se
Z[g(k − n)µ(k − n)] = z −n G(z)
Prova:
∞
X ∞
X
Z[ak f (k)] = ak f (k)z −k = f (k)(a−1 z)−k = F (a−1 z)
k=0 k=0
6. Teorema do valor inicial: Seja F (z) = Z[f (k)] e assuma que limz→∞ F (z) existe, então
(a) Seja F (z) = Z[f (k)], em que f (k) = 0 para k < 0, e assuma que limk→∞ f (k) existe;
(b) Suponha que os polos de F (z) estejam dentro do círculo unitário, com possível exceção de um polo
em |z| = 1 (essa é a condição para que {f (k)} seja finita).
Então
lim f (k) = lim (z − 1)F (z)
k→∞ z→1
Exemplo 5.2.2 Assumindo T > 0 no Exemplo 5.2.1 anterior e lembrando que F (z) é dada por
z (1 − e−T )
F (z) =
(z − 1) (z − e−T )
tem-se
(1 − e−T )
lim f (k) = lim µ(k) − e−kT µ(k) = lim (z − 1)F (z) = lim z =1
k→∞ k→∞ z→1 z→1 (z − e−T )
dF (z)
Z[kf (k)] = −z
dz
Primeiramente, é necessário discretizar esse sinal com um tempo de amostragem T segundos, o que fornece
g(k) := g(t) t=kT = kT µ(k). Portanto, aplicando a transformada Z obtém-se
com f (k) = T µ(k). Notando que Z[f (k)] = T Z[µ(k)] = T z/(z − 1), tem-se
dF (z) T
=−
dz (z − 1)2
dF (z) Tz
G(z) = Z[g(k)] = Z[kf (k)] = Z[kT µ(k)] = −z =
dz (z − 1)2
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 85
t
0 T 2T 3T 4T
As próximas seções apresentam os seguintes métodos para o cálculo da inversa da transformada Z de uma
função F (z) qualquer:
b0 z m + b1 z m−1 + · · · + bm−1 z + bm
F (z) =
z n + a1 z n−1 + · · · + an−1 z + an
(z − z1 )(z − z2 ) · · · (z − zm )
F (z) = K
(z − p1 )(z − p2 ) · · · (z − pn )
em que zi e pi são respectivamente os zeros e os polos de F (z). É importante notar que a função F (z) também
pode ser reescrita na forma
b0 z −(n−m) + b1 z −(n−m+1) + · · · + bm z −n
F (z) =
1 + a1 z −1 + · · · + an z −n
Portanto, é essencial considerar cuidadosamente essas diferentes formas de F (z) para realizar uma análise precisa
de seus polos e zeros, como ilustrado no Exemplo 5.3.1 a seguir.
Exemplo 5.3.1 Suponha que se deseje saber quais são os polos e zeros de
1 + 0.5z −1 1 + 0.5z −1
F (z) = −1 −2
=
1 + 3z + 2z (1 + z −1 )(1 + 2z −1 )
Aparentemente, essa função tem dois polos, em p1 = −1 e p2 = −2, e um zero localizado em z1 = −0.5. No
entanto, existe um outro zero em z = 0, já que
z(z + 0.5)
F (z) =
(z + 1)(z + 2)
Quando os polos de F (z) são distintos e o grau do numerador for estritamente menor que o do denominador, a
expansão em frações parciais tem a seguinte forma:
c1 c2 ck cn
F (z) = + + ··· + + ··· +
z − p1 z − p2 z − pk z − pn
em que ck é o resíduo do polo pk em z = pk . Para determinar o coeficiente ck , com k = 1, . . . , n, procede-se de
forma análoga ao caso contínuo, obtendo-se:
ck = [(z − pk )F (z)]z=pk
Considere, por exemplo, a função F (z) apresentada no Exemplo 5.3.1. Como F (z) é uma função própria,
com um zero em z = 0, pode-se realizar a expansão em frações parciais de P (z) = F (z)/z. Nesse caso, a função
P (z) é estritamente própria. A expansão em frações parciais de P (z) tem a seguinte forma:
z + 0.5 c1 c2
P (z) = = +
(z + 1)(z + 2) z+1 z+2
em que c1 e c2 são dados por
(z + 0.5)
c1 = [(z + 1)P (z)]z=−1 = = −1/2
z+2 z=−1
(z + 0.5)
c2 = [(z + 2)P (z)]z=−2 = = 3/2
z+1 z=−2
(1 − e−aT )z z z 1 1
F (z) = = − = −
(z − 1)(z − e−aT ) z − 1 z − e−aT 1 − z −1 1 − e−aT z −1
A inversa da transformada Z de F (z) resulta em
Na expansão em frações parciais, costuma-se começar dividindo F (z) por z, especialmente quando F (z) é uma
função própria. Isso não apenas assegura que F (z)/z seja estritamente própria, permitindo sua expansão em
frações parciais. Isso também garante que cada termo da expansão de F (z), associado a polos simples, seja
expresso na forma ck z/(z − pk ), com z explicitamente no numerador.
Por exemplo, considere que a expansão em frações parciais de F (z)/z tem a seguinte forma:
F (z) c0 c1 c2 cℓ cℓ+1 cn
= + + + ··· + + + ··· +
z z (z − p1 ) (z − p1 )2 (z − p1 )ℓ z − pℓ+1 (z − pn )
em que z = p1 é um polo de multiplicidade ℓ e o restante são polos distintos. Após realizada a expansão em
frações parciais de F (z)/z, obtém-se
c1 z c2 z cℓ z cℓ+1 z cn z
F (z) = c0 + + 2
+ ··· + ℓ
+ + ··· +
(z − p1 ) (z − p1 ) (z − p1 ) z − pℓ+1 (z − pn )
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 87
3. Comparando F (z) acima com a definição da transformada Z, tem-se f (0) = 0, f (1) = 10, f (2) = 17, . . .
Exemplo 5.3.5 Para F (z) = 1 − 3z −2 , obtém-se diretamente os termos: f (0) = 1, f (1) = 0, f (2) = −3 e
f (k) = 0 para k ≥ 3, ou seja:
f (k) = δ(k) − 3δ(k − 2)
Defina Y (z) = Z[y(k)]. Então, y(k + n) e y(k − n) podem ser reescritos em termos de Y (z) e das condições
iniciais, lembrando2 que
em que a entrada x(k) é o impulso unitário δ(k) e a condição inicial y(0) é nula. Aplicando a transformada Z,
tem-se
1 z
zY (z) − zy(0) − aY (z) = 1 =⇒ Y (z) = = z −1
z−a z−a
Lembrando das seguintes propriedades:
y(0) = y(−2) = a
y(1) = y(−1) = b
y(2) = y(0) = a
y(3) = y(1) = b
..
.
A resposta forçada desse sistema, que descreve a relação entrada-saída ignorando as condições iniciais, é
dada pela seguinte convolução:
∞
X ∞
X
y(k) = h(k) ∗ x(k) = h(k − n)x(n) = h(n)x(k − n)
n=−∞ n=−∞
k
X
y(k) = h(k − n)x(n)
n=−∞
No mais, se a entrada for nula para k < 0, ou seja x(k) = 0 para k < 0, então a solução forçada será
k
X k
X
y(k) = h(k − n)x(n) = h(n)x(k − n)
n=0 n=0
Assim, tem-se pela convolução que a solução forçada yf (k) é dada por
∞
X ∞
X k
X
yf (k) = h(n)x(k − n) = an−1 µ(n − 1) [bµ(k − n)] = b an−1
n=−∞ n=−∞ n=1
yf (k) = kb
Por outro lado, para a 6= 1, a solução pode ser simplificada percebendo-se que
k k−1
X X 1 − ak
an−1 = an =
n=1 n=0
1−a
que corresponde à solução obtida na Secção 4.3.2, com condição inicial nula.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 92
Exemplo 5.5.2 Suponha que o sistema do Exemplo 5.5.1 esteja sujeito à condição inicial y(0) = y0 . Assim,
somando-se a solução homogênea, que é dada por yh (k) = y0 ak , e a solução forçada (5.1), a resposta completa
fica sendo
y0 + bk , se a = 1
y(k) = 1 − a k
y0 ak + b , se a 6= 1
1−a
que é exatamente a expressão (4.4), determinada na Seção 4.3.2.
obtém-se
Y (z) = H(z)X(z)
A função H(z) = Y (z)/X(z), que relaciona a transformada Z do sinal de saída y(k) com a transformada
Z do sinal de entrada x(k), é denominada de função transferência. Perceba que para uma entrada impulsiva
X(z) = 1, a saída é Y (z) = H(z). Portanto, H(z) é a transformada Z da resposta ao impulso h(k), ou seja,
∞
X
H(z) = h(k)z −k
k=−∞
A função de transferência também pode ser obtida da equação de diferenças, considerando as condições
iniciais nulas. Assim, aplicando a transformada Z em ambos os lados da equação de diferenças
obtém-se
[z n + a1 z n−1 + · · · + an−1 z + an ]Y (z) = [b0 z n + b1 z m−1 + · · · + bm−1 z + bm ]X(z)
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 93
Portanto,
Y (z) b0 z m + b1 z m−1 + · · · + bm−1 z + bm
H(z) = =
X(z) z n + a1 z n−1 + · · · + an−1 z + an
Para que o sistema seja realizável, não antecipativo, é preciso que n ≥ m.
Observação 5.6.1 A observação (3.6.1), para o caso contínuo, se aplica de forma análoga ao caso discreto.
Pm Pn
Observação 5.6.2 No caso discreto, o ganho estático é dado por H(1) = 0 bi /(1 + 1 ai ). Assim, se a
entrada for x(k) = X0 µ(k), um degrau de amplitude X0 , e o sistema for assintoticamente estável, a saída
atingirá o regime estacionário y∞ = H(1)X0 .
em que a entrada é x(k) = bµ(k). Para esse sistema, a transformada Z da resposta ao impulso h(k) e da
entrada x(k) são respectivamente dadas por
1 bz
H(z) = e X(z) =
z−a z−1
Assim, a saída é dada por
bz
Y (z) = H(z)X(z) =
(z − a)(z − 1)
Note que para o caso em que a = 1, a saída Y (z) passa a ser
z
Y (z) = b
(z − 1)2
cuja inversa da transformada Z, de acordo com o Exemplo 5.2.3, fornece a solução forçada
yf (k) = kbµ(k)
Por outro lado, para o caso em que a 6= 1, a saída Y (z) possui a seguinte decomposição em frações parciais:
bz bz −1 z z
Y (z) = = a −
(z − a)(z − 1) a−1 z−a z−1
cuja inversa da transformada Z fornece a solução forçada
b 1 − ak
yf (k) = aak−1 µ(k − 1) − µ(k − 1) = b µ(k − 1)
a−1 1−a
Combinando esses dois casos, tem-se exatamente a solução obtida em (5.1).
O equivalente discreto usando o método do impulso invariante é obtido de forma bastante simples através dos
seguintes passos:
Nesse método, assume-se que H(s) é uma função estritamente própria. Se H(s) for própria, então é possível
reescrevê-la como a soma de uma constante e uma função estritamente própria H̄(s), permitindo assim que seja
calculado o equivalente discreto H̄(z) de H̄(s).
É oportuno reforçar que o equivalente discreto pelo método do impulso invariante não produz uma resposta ao
impulso aproximada, mas precisamente os pontos hc (t) com t = kT . A aproximação da integral de convolução
foi utilizada apenas para justificar o termo T na relação hd (k) = T hc (kT ).
O método de discretização através do segurador de ordem zero (SOZ), que é um dispositivo frequentemente
utilizado em conversores digitais-analógicos, está apresentado na Figura 5.3 abaixo.
u(t) y(t)
x(k) SOZ H(s) δT y(k)
Para obter o equivalente discreto usando esse método, é preciso determinar a função de transferência discreta
H(z), entre a entrada amostrada x(k) e a saída y(k) do sistema da Figura 5.3, em que H(s) representa a planta
contínua a ser discretizada e SOZ(s) é a função de transferência do segurador de ordem zero. O Exemplo 5.6.3
abaixo descreve o comportamento ideal e os passos necessários para se obter a função de transferência do
segurador de ordem zero.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 95
Exemplo 5.6.3 O SOZ executa basicamente duas operações: coletar as amostras (“sample”) e mantê-las cons-
tantes (“hold”) durante o período de amostragem. A amostra x(kT ) recebida em t = kT é mantida constante
até o próximo instante t = (k + 1)T . Um exemplo dessa operação é apresentado na Figura 5.4, em que xs (t) é
a saída do segurador de ordem zero para uma entrada senoidal amostrada a cada instante T de tempo.
x(t)
xs (t)
t
0 T 2T 3T 4T
Figura 5.4: Saída xs (t) do SOZ para uma entrada senoidal x(t).
Uma idealização matemática desse processo está apresentada na Figura 5.5, em que o sinal x(t) é primei-
ramente amostrado, usando-se um amostrador ideal δT , de período T , e em seguida é mantido constante pelo
segurador de ordem zero, fornecendo o sinal xs (t).
x∗ (t) xs (t)
x(t)
t t
t 0 T 2T 3T 4T 0 T 2T 3T 4T
em que δ(t) é o impulso unitário. Assim, o sinal amostrado x∗ (t), que representa um trem de impulsos modulado
por x(t), é dado por
∞
X
x∗ (t) = x(t)δ(t − nT )
n=−∞
xs (t)
δ(t) 1
a saída é um pulso
t
t
T
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 96
Prosseguindo, fazendo-se uso do seguinte abuso de notação Z[F (s)] := Z[L−1 [F (s)]t=kT ], tem-se
−T s H(s) H(s) −T s H(s)
H(z) = Z[Y (s)] = Z (1 − e ) =Z −Z e
s s s
Como o termo e−T s representa um puro atraso (um delay) de período T , tem-se
Assim,
H(z) = (1 − z −1 )Z[H(s)/s]
Exemplo 5.6.4 Usando como exemplo a planta contínua H(s) dada por
a
H(s) =
s+a
tem-se
H(s) 1 1
= −
s s s+a
cuja transformada inversa é dada por
−1 H(s)
L = 1 − e−at , t≥0
s
Amostrando esse sinal com t = kT , tem-se
Portanto
H(s) z z z (1 − e−aT )
Z = Z µ(k) − e−akT µ(k) = − =
s z − 1 z − e−aT (z − 1) (z − e−aT )
A função de transferência desejada H(z) fica sendo, no caso,
−1 H(s) 1 − e−aT
H(z) = (1 − z )Z =
s z − e−aT
Foi visto que a solução geral da equação de diferenças homogênea de primeira ordem tem a forma
yh (k) = Cλk
λ = 1.3
λ = 0.7
yh (k)
yh (k)
1
10
0.5
5
0 k 0 k
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9
λ = −0.8 λ = −1.3
yh (k) yh (k)
1 10
0 k 0 k
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9
−1 −10
Figura 5.8: Caso −1 < λ < 0. Figura 5.9: Caso λ < −1.
Assim, nesse caso, yh (k) também convergirá a zero se |λ| < 1. Portanto, a região de estabilidade é o disco
unitário aberto, o interior do círculo unitário dado por |λ| < 1, como apresentado na Figura 5.10.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 98
Im(z)
|z| < 1
Re(z)
-1 1
Observação 5.7.1 Embora essa análise tenha sido baseada numa única raiz, sabe-se que a solução homogênea é
uma combinação linear de termos contendo raízes distintas e raízes múltiplas. As raízes distintas foram tratadas
acima. Se houver uma raiz de multiplicidade ℓ, haverá termos da forma k ℓ−1 λk . Fato esse que não altera a
análise, já que o termo k ℓ−1 λk convergirá a zero se |λ| < 1.
Portanto, para que h(k) convirja para zero com k → ∞, é necessário que
|pi | < 1
Assim, conclui-se que todos os polos de H(z) devem pertencer ao interior do círculo unitário, como apresentado
na Figura 5.11.
Im(z)
|z| < 1
Re(z)
-1 1
Lema 5.7.1 Um sistema discreto linear invariante no tempo é BIBO estável se, e somente se,
∞
X
kh(k)k1 = |h(n)| < ∞
n=−∞
ou seja, se e somente se, sua resposta ao impulso h(k) for absolutamente somável.
|x(k)| < M, ∀k
Então
∞
X ∞
X
|y(k)| = h(n)x(k − n) ≤ |h(n)||x(k − n)|
n=−∞ n=−∞
para k = 0, tem-se
∞ ∞ ∞
X X h(n)2 X
y(0) = h(n)x(−n) = = |h(n)|
n=−∞ n=−∞
|h(n)| n=−∞
Portanto, para que y(0) seja limitada, é necessário que h(k) seja absolutamente somável.
Claramente, essa resposta ao impulso não satisfaz Lema 5.7.1, ou seja, kh(k)k1 não é finito. Portanto, o sistema
não é BIBO estável e, consequentemente, existe uma entrada x(k) limitada tal que a saída y(k) seja ilimitada.
Para ver esse fato, seja x(k) = (−1)k µ(k). Então, a saída é dada por
∞
X k
X
y(k) = h(n)x(k − n) = (−1)n−1 (−1)k−n = k(−1)k−1 µ(k)
n=−∞ n=1
5.8 Exercícios
Exercício 5.8.1 Defina a transformada Z por
∞
X
F (z) = Z[f (k)] = f (k)z −k
k=0
d
1. Z[kf (k)] = −z F (z);
dz
2. Z[f (k) ∗ g(k)] = F (z)G(z);
Exercício 5.8.3 Usando o teorema do valor inicial e o teorema do valor final, calcule f (0) e limk→∞ f (k)
sabendo que sua transformada Z é dada por
z+1
F (z) =
z(z − 1)
é dada por
z
F (z) =
(z − p)ℓ
Exercício 5.8.7 Para as transformadas obtidas no Exercício 5.8.6, calcule sua região de convergência |z| > α
e verifique que o valor de α está associado ao maior módulo dos polos pi de F (z), mais precisamente maxi |pi |.
Exercício 5.8.8 Calcule a Transformada Z do sinal contínuo f (t) abaixo, usando a discretização t = kT .
Exercício 5.8.9 Calcule a transformada Z da rampa, considerando que ela pode ser escrita como f (k) =
µ(k) ∗ µ(k − 1), conforme demonstrado no Exercício 4.5.5.
Exercício 5.8.10 Use a transformada Z para calcular a sequência de Fibonacci descrita pela equação de dife-
renças do Exercício 4.5.15.
Exercício 5.8.11 Mostre que a transformada Z de um sinal periódico x(k) de período N , isto é, x(k + N ) =
x(k) para todo k ≥ 0, é dada por
N −1
!
1 X
−k
X(z) = x(k)z , para |z| > 1
1 − z −N
k=0
Dicas:
P∞ P
N −1
• Mostre que a série k=0 x(k)z −k pode ser escrita como k=0 x(k)z −k 1 + z −N + z −2N + · · ·
−1
• Use o fato de que a série geométrica 1 + z −N + z −2N + · · · converge, quando |z| > 1, para 1 − z −N
Exercício 5.8.12 Usando o resultado do Exercício 5.8.11, mostre que a transformada Z do sinal periódico, de
período N = 3, dado pela sequência x(k) = {1, −1, 2, 1, −1, 2, . . . } é
z 3 − z 2 + 2z
X(z) = , para |z| > 1
z3 − 1
Exercício 5.8.13 Calcule a inversa da transformada Z da função F (z) do Exemplo 5.3.3 usando a decompo-
sição em frações parciais sem realizar a divisão por z. Em seguida, verifique o resultado calculando os cinco
primeiros pontos tanto da função obtida quanto da expressão de f (k) dada no Exemplo 5.3.3. No mais, usando
manipulações algébricas, mostre que ambos f (k) se reduzem à mesma fórmula.
az 2 + bz z2 z
Y (z) = = Y1 (z) + Y2 (z), Y1 (z) = a , Y2 (z) = b
z2 − 1 z2 − 1 z2 −1
Determine y(k) para as seguintes decomposições de Y (z):
c2 c3
1. Y (z) = c1 + + ;
z−1 z+1
Y (z) c1 c2
2. = + ;
z z−1 z+1
a z z Y2 (z) Y2 (z) c1 c2
3. Y (z) = + + , com = + ;
2 z−1 z+1 z z z−1 z+1
b 1 1 c2 c3
4. Y (z) = Y1 (z) + + , com Y1 (z) = c1 + + ;
2 z−1 z+1 z−1 z+1
Y2 (z) c2 c3 Y2 (z) c1 c2
5. Y (z) = Y1 (z) + , com Y1 (z) = c1 + + e = + ;
z z−1 z+1 z z−1 z+1
Y1 (z) Y2 (z)
6. Y (z) = + .
z2 z
Em seguida, verifique o resultado calculando os cinco primeiros pontos de cada um dos y(k) obtidos acima. No
mais, através de manipulações algébricas, mostre que esses y(k) se reduzem à mesma fórmula.
z 4 − 3z 3 − 12z 2 + 20z + 48
1. F (z) = ;
z4 + z3 − z2 − z
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 102
1 − 0.5z −1 + 0.2z −2
2. F (z) = ;
1 − 0.29z −1 − 1.2z −2
z −1 − 5z −2
3. F (z) = .
(1 − 3z −1 )(1 + 1/5z −1 )
usando:
Em seguida, verifique se as quatro soluções f (k) obtidas acima fornecem a mesma sequência de pontos (use
k = 0, 1, . . . , 4).
Exercício 5.8.16 Usando os dois métodos computacionais apresentados na Seção B.1, determine a inversa
das funções F (z) descritas no Exercício 5.8.15.
Exercício 5.8.17 Usando a transformada Z, determine a solução y(k) da seguinte equação de diferenças:
Exercício 5.8.18 Através de uma mudança de variável e de condições iniciais apropriadas, reescreva a equação
de diferenças do Exercício 5.8.17 como
y(n + 2) + 2y(n) = 0
de forma que ambos os problemas de valor inicial sejam equivalentes. Assim, compare a solução y(n) com a
solução y(k) obtida no Exercício 5.8.17.
Exercício 5.8.19 Use a transformada Z para resolver a seguinte equação de diferenças de primeira ordem:
Exercício 5.8.20 Use a transformada Z para determinar a solução das seguintes equações de diferenças:
2. y(k + 2) − 5y(k + 1) − 0.7y(k) = 0.5x(k + 1) + 1.7x(k − 1), com x(k) = µ(k), y(k) = 0 para k ≤ 0;
Exercício 5.8.21 Para cada uma das equações de diferenças do Exercício 5.8.20, determine:
Exercício 5.8.22 Para as equações de diferenças do Exercício 5.8.20, decomponha a solução completa nas
seguintes parcelas: solução homogênea, solução forçada, regime transiente e regime permanente.
s s−b a s
1. H(s) = ; 2. H(s) = ; 3. H(s) = ; 4. H(s) = .
s+a s+a s(s − a) (s + a)(s − b)
determine o equivalente discreto H1 (z), usando o impulso invariante, e o equivalente discreto H2 (z), usando
o segurador de ordem zero. Assuma os seguintes valores numéricos: a = 3, b = −1/2 e tempo de mostragem
T = 1/5. Compare para cada caso, a resposta ao degrau de H(s), H1 (z) e H2 (z). Em seguida, compare a
resposta ao impulso
Exercício 5.8.24 Para cada uma das funções de transferência, H(s), H1 (z) e H2 (z), do Exercício 5.8.23,
analise a estabilidade a partir da função de transferência e a estabilidade BIBO.
Exercício 5.8.25 Para cada uma das funções de transferência contínuas H(s), do Exercício 5.8.23, determine
a equação diferencial e as equações de diferenças associadas com cada um dos equivalentes discretos H1 (z) e
H2 (z). Assuma que a saída do sistema é denotada por y e a entrada por x.
Exercício 5.8.26 Um sistema discreto é dito estável no sentido “bounded input, bounded output” (BIBO), se
qualquer entrada limitada x(k) implicar uma saída limitada y(k). Prove para um sistema linear invariante no
tempo discreto, que estabilidade BIBO é equivalente às seguintes condições:
Análise de Fourier
A análise de Fourier é uma ferramenta matemática extremamente poderosa para a representação e processamento
de sinais e sistemas. Ela se baseia na decomposição de funções em termos de componentes senoidais, que formam
uma base ortogonal completa. Este capítulo introduz os conceitos fundamentais da análise de Fourier, incluindo
séries e transformadas de Fourier, além de aplicações importantes como a função de resposta em frequência e o
fenômeno de aliasing.
Inicialmente, é apresentada a série de Fourier, que permite representar sinais periódicos como uma soma
ponderada de senos e cossenos. A transformada de Fourier, aplicável a sinais não-periódicos, é abordada em
seguida. Esta transformada revela os espectros de frequência dos sinais, permitindo a análise das intensidades
de cada frequência constituinte. A pseudotransformada de Fourier, aplicada a sinais periódicos, é discutida,
destacando como ela difere da transformada de Fourier regular. Outros tópicos abordados são a função de
resposta em frequência, que caracteriza a dinâmica de sistemas LTI, e o aliasing, um fenômeno indesejado que
pode ocorrer na discretização de sinais.
Essa série pode ser reescrita em termos da função exponencial. Para isso, basta substituir a relação de Euler
104
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 105
a0 1 1
X0 = , Xk = (ak − jbk ) , X−k = (ak + jbk ) , k = 1, . . . , N
2 2 2
para se obter a série em termos da exponencial:
N
X
(6.1) SN = Xk ejkω0 t
k=−N
Z (
1 T /2
jkω0 t 1 , se k = 0
A. e dt =
T −T /2 0 , se k 6= 0
Z T /2
1
B. Xk = SN e−jkω0 t dt
T −T /2
Essa última relação fornecerá a fórmula para calcular os coeficientes da série de Fourier.
Prova. Primeiro, a parte A será provada. Para k = 0, tem-se
Z T /2
1
dt = 1
T −T /2
Para k 6= 0, tem-se
Z T /2
T /2
1 jkω0 t 1 ejkω0 t 1
e dt = = ejkω0 T /2 − e−jkω0 T /2
T −T /2 T jkω0 2kω0 jT /2
−T /2
sin(kω0 T /2) sin(kπ)
= = =0
kω0 T /2 kπ
Para provar a parte B, multiplicam-se ambos os lados de (6.1) por e−jnω0 t e integra-se:
Z Z N
!
T /2 T /2
1 −jnω0 t 1 X
jkω0 t
SN e dt = Xk e e−jnω0 t dt
T −T /2 T −T /2 k=−N
N Z (
X 1 T /2
j(k−n)ω0 t Xn , se k = n
= Xk e dt =
T −T /2 0 , se k 6= n
k=−N
Portanto,
Z T /2
1
(6.2) Xk = SN e−jkω0 t dt
T −T /2
Uma questão importante levantada por Fourier foi a análise de convergência da série trigonométrica SN ,
com N → ∞, de forma a aproximar uma função periódica x(t) qualquer. Basicamente, deseja-se determinar
quais os valores dos coeficientes Xk , de tal forma1 que
∞
X
x(t) ∼ lim SN = Xk ejkω0 t
N →∞
k=−∞
1 Usa-se comumente o sinal ∼ ao invés de = para salientar o fato que sem condições adicionais em x(t), tal como diferenciabilidade,
∞
X
x(t) ∼ Xk ejkω0 t , ω0 = 2π/T
k=−∞
(6.3) Z T /2
1
Xk = x(t)e−jkω0 t dt
T −T /2
A série de Fourier pode ser aplicada a uma classe ampla de funções. De uma forma geral, se as seguintes
condições forem satisfeitas:
R T /2
1. a integral −T /2
|x(t)| dt converge;
então é possível mostrar que a série de Fourier converge para a função x̄(t), que é igual à função x(t) nos pontos
de continuidade e igual à média dos limites num ponto de descontinuidade t0 , ou seja:
" #
1 lim x(t) + lim x(t)
, para − T2 < t0 < T
2
2 t→t−
0 t→t+
0
x̄(t) = " #
1
2 lim + x(t) + lim− x(t) , para t0 = ± T2
t→− T2 t→ T2
Note que é imaterial como o sinal x(t) está definido num ponto de descontinuidade. No mais, sabendo que
x̄(t) difere de x(t) apenas nos pontos de descontinuidade, como exposto acima, a série de Fourier de x(t) será
denotada simplesmente por x(t), daqui em diante.
Exemplo 6.1.1 Considere a onda quadrada, de amplitude A e período T , apresentada na figura Figura 6.1.
x(t)
A
t
0
2 Dada
RT
a periodicidade, a integral pode ser calculada sobre qualquer intervalo de comprimento T , tal como 0 ou, de uma forma
mais geral, por bb+T , com b um número real.
R
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Para obter a sua série de Fourier, basta calcular os coeficientes Xk usando (6.3) como segue:
Z T /2
1
Xk = x(t)e−jkω0 t dt
T −T /2
Z Z
1 0 1 T /2 −jk2πt/T
=− Ae−jk2πt/T dt + Ae dt
T −T /2 T 0
A T A T
=− 1 − ejkπ + e−jkπ − 1
T −j2πk T −j2πk
A
= 2 − ejkπ − e−jkπ
j2πk
A
= [2 − 2 cos(πk)]
j2πk
(
Aj 0 , se k for par
= [cos(πk) − 1] = 2Aj
πk − , se k for ímpar
πk
Perceba que os coeficientes Xk são números complexos, podem, portanto, ser representados na forma Xk =
jθ
re , com r e θ respectivamente dados por
(
0 , se k for par
r = |Xk | = 2A
π|k| , se k for ímpar
(
indefinido , se k for par
θ = ∠Xk =
− sinal(k) π2 , se k for ímpar
em que a função sinal(x) será -1 se x for negativo e +1 se x for positivo. A Figura 6.2 abaixo apresenta o valor
absoluto |Xk | e a fase ∠Xk do coeficiente complexo Xk .
|Xk | ∠Xk
A π
2
k
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
− π2
k
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
Figura 6.2: Diagrama do valor absoluto e da fase de Xk .
A Figura 6.3 apresenta a onda quadra, de amplitude A e período T , e sua série de Fourier com apenas o
primeiro termo (vermelho), que representa a componente fundamental, e com os onze primeiros termos (azul).
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 108
x(t)
A
t
0
Figura 6.3: Onda quadrada de amplitude A e período T , sua primeira fundamental (vermelho) e sua série de
Fourier contendo os onze primeiros termos (azul).
Definição 6.1.2 (Efeito de Gibbs) Como pode ser visto na Figura 6.3, existe uma oscilação próxima a pon-
tos de descontinuidade da função. Nesses pontos, a série de Fourier não converge uniformemente. Gibbs
observou que o valor da oscilação próximo a um ponto de descontinuidade não se aproxima do valor da função,
por maior que seja o número de termos utilizados para calcular a série de Fourier. A amplitude máxima da
oscilação é dada por: Z
1 π sin x 1
dx − ≈ 8.95%
π 0 x 2
com
Z T /2
2
ak = x(t) cos(kω0 t) dt, k = 0, 1, 2, 3, . . .
T −T /2
Z T /2
2
bk = x(t) sin(kω0 t) dt, k = 1, 2, 3, . . .
T −T /2
Os coeficientes ak e bk dessa série estão relacionados aos coeficientes Xk da série exponencial, como descrito no
Exercício 6.6.1, através da relação ak = Xk + X−k , para k ≥ 0, e bk = j (Xk − X−k ) para k ≥ 1.
Perceba que qualquer função pode ser expressa como a soma de uma função fp (t) par, tal que fp (t) = fp (−t),
e uma função fi (t) ímpar, tal que fi (t) = −fi (−t), como ilustrado no Exemplo 6.1.2 abaixo.
Essa função pode ser escrita como a soma da função par fp (t) e a função ímpar fi (t), respectivamente dadas
por
1 −t 1 −t
2 e , se t > 0 2e
, se t > 0
fp (t) = 1 , se t = 0 e fi (t) = 0 , se t = 0
1 et , se t < 0 1 t
− e , se t < 0
2 2
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A figura abaixo apresenta a função f (t) = fp (t) + fi (t) e suas componentes par fp (t) e ímpar fi (t).
f (t)
1
t
0
fp (t)
1
1
2
t
0
fi (t)
1
2
t
0
− 21
Se a função x(t) for par, a série de Fourier dependerá apenas da função cosseno e se reduzirá a
∞
a0 X 2π
x(t) = + ak cos(kω0 t), ω0 =
2 T
k=1
Z
4 T /2
ak = x(t) cos(kω0 t) dt
T 0
Essa simplificação decorre diretamente do fato de que fp (t) := x(t) cos(kω0 t) será par e fi (t) := x(t) sin(kω0 t)
será ímpar. Assim:
Z T /2 Z T /2 Z T /2
fp (t) dt = 2 fp (t) dt e fi (t) dt = 0, fi (0) = 0
−T /2 0 −T /2
Por outro lado, se a função x(t) for ímpar, a série de Fourier dependerá apenas da função seno e se reduzirá a
∞
X 2π
x(t) = bk sin(kω0 t), ω0 =
T
k=1
Z T /2
4
bk = x(t) sin(kω0 t) dt
T 0
Exemplo 6.1.3 Considere o circuito resistor-capacitor da Figura 6.4. Para esse sistema, determine a tensão
de saída v(t) para uma tensão de entrada p(t) dada pela função dente de serra apresentada na Figura 6.5.
3 Este mesmo problema pode ser resolvido usando a transformada de Laplace, como demonstra o Exercício 3.8.31.
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R p(t)
i
1
+
p(t) C v(t)
− T
t
0
Sabe-se que a solução forçada v(t) para uma entrada p(t) qualquer é dada pela integral de convolução
Z ∞
v(t) = h(t) ∗ p(t) = h(σ)p(t − σ) dσ
−∞
em que h(t) é a resposta ao impulso do sistema. Lembrando que a equação diferencial que governa esse sistema
é dada por
τ v̇(t) + v(t) = p(t), τ = RC
sua resposta ao impulso é facilmente determinada (ver Exercício 3.8.29) como sendo
1 −t/τ
h(t) = e µ(t)
τ
com µ(t) o degrau unitário.
Para calcular a convolução acima de uma forma eficaz, pode-se recorrer à série de Fourier. Porém, como
a função p(t) da Figura 6.5 acima não é periódica, já que p(t) = 0 para t < 0, é preciso usar sua extensão
periódica g(t), que tem a forma apresentada na Figura 6.26 do Exercício 6.6.7. A série de Fourier dessa função
é dada por
∞
1 1 X gk (t) 2π
g(t) = − , gk (t) = sin(ωk t), ωk = kω0 , ω0 =
2 π k T
k=1
Note que a função original do problema é simplesmente p(t) = g(t)µ(t). Desta forma, a solução forçada4 fica
sendo
Z ∞ Z ∞ ∞
!
1 1 X gk (t)
v(t) = h(σ)g(t − σ)µ(t − σ) dσ = v(t) = h(σ)µ(t − σ) − , dσ
−∞ −∞ 2 π k
k=1
Z ∞ Z ∞ ∞
1 1 X gk (t − σ)
= h(σ)µ(t − σ) dσ − h(σ)µ(t − σ) , dσ
−∞ 2 −∞ π k
k=1
Z ∞ Z
1 ∞ 1X ∞ gk (t − σ)
= h(σ)µ(t − σ) dσ − h(σ)µ(t − σ) , dσ
2 −∞ π −∞ k
k=1
Assim, a resposta do sistema ao termo constante g0 = 1/2µ(t) (veja o Exercício 3.8.30) é dada por
1
v g0 = 1 − e−t/τ , t≥0
2
e a resposta a cada um dos termos gk (t) = sin(ωk t)µ(t) é dada pela convolução
Z ∞ Z
1 −σ/τ 1 t −σ/τ
vgk (t) = e µ(σ) sin(ωk (t − σ))µ(t − σ) dσ = e sin(ωk (t − σ)) dσ
−∞ τ τ 0
1
τ −t/τ
= ω k e − cos(ω k t) + sin(ωk t) , t ≥ 0
1 + τ 2 ωk2 τ
4 Como a resposta de um sistema dinâmico linear invariante no tempo é obtida através da integral de convolução e, sendo a
integral uma operação naturalmente linear em seus argumentos, isso fundamenta e garante o princípio da superposição. Essa
propriedade permitiu separar a integral em duas partes e mover a somatória para fora da integral.
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Portanto, a solução forçada do circuito elétrico para a entrada p(t) da Figura 6.5 fica sendo
∞
1 1X vgk (t)
v(t) = 1 − e−t/τ − , t≥0
2 π k
k=1
A tensão de saída v(t) juntamente com a tensão de entrada p(t) estão apresentadas na Figura 6.6 abaixo.
1 p(t)
v(t)
t
T
Observe que no Exemplo 6.1.3, se o sinal de entrada p(t) não tivesse sido expandido em série de Fourier,
seria necessário calcular diretamente a integral de convolução
Z t
1
v(t) = e−t/τ eσ/τ p(σ) dσ
τ 0
que requer um processo sistemático trabalhoso, pois o intervalo de integração precisaria ser particionado de
acordo com os períodos do sinal p(t). Esse processo é complexo pois envolve definir de forma apropriada
subintervalos de integração e em cada um deles, calcular a integral do produto de uma exponencial com uma
função rampa.
A seguir é apresentado um teorema, conhecido como Teorema da Energia de Rayleigh ou Teorema de
Parseval, que relaciona os coeficientes da série de Fourier com uma certa integral da função periódica x(t), que
pode ser interpretada como a energia ou potência do sinal.
A última relação é chamada de transformada inversa de Fourier. O par de transformadas de Fourier5 pode
ainda ser descrito em termos da frequência angular ω = 2πf rad/s como segue:
Z ∞
X(ω) = x(t)e−jωt dt
−∞
Z ∞
1
x(t) = X(ω)ejωt dω
2π −∞
5 Fatores de normalização podem ser aplicados nas expressões para a transformada de Fourier. Na versão em termos da frequência
em Hertz, as expressões modificadas são X(f ) = α x(t)e−j2πf t dt e x(t) = β ej2πf t df , com αβ = 1. Similarmente, na formulação
R R
em termos da frequência angular, as expressões ficam sendo X(ω) = α x(t)e−jωt dt e x(t) = β X(ω)ejωt dω, com αβ = 1/(2π).
R R
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As condições para a existência da transformada de Fourier e sua inversa são em geral complicadas e não
serão aqui tratadas.
Exemplo 6.2.1 Seja a função pulso de amplitude A e largura τ , apresentada na Figura 6.7.
x(t)
A
τ t
em que atan2 é a função arco-tangente6 que considera todos os quatro quadrantes do plano imaginário. A
Figura 6.8 apresenta o gráfico de |X(f )| e ∠X(f ). Observe que X(−f ) = X ∗ (f ), assim, a função |X(f )| é par
e a função ∠X(f ) é ímpar.
6 Ver Seção A.1
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 113
∠X(f )
|X(f )|
π
Aτ
1 2 3 4
τ τ τ τ
f
− τ4 − τ3 − τ2 − τ1
f
− τ4 − τ3 − τ2 − τ1 1
τ
2
τ
3
τ
4
τ −π
F
f (t) ⇐⇒ F (f )
1. Linearidade:
F
af (t) + bg(t) ⇐⇒ aF (f ) + bG(f )
2. Convolução no tempo:
F
f (t) ∗ g(t) ⇐⇒ F (f )G(f )
3. Convolução na frequência:
F
f (t)g(t) ⇐⇒ F (f ) ∗ G(f )
4. Conjugado:
F
f (t) ⇐⇒ F (−f )
6. Translação no tempo:
F
f (t − t0 ) ⇐⇒ e−j2πf t0 F (f )
7. Teorema de Parseval: Z Z
∞ ∞
f (t)g(t) dt = F (f )G(f ) df
−∞ −∞
8. Teorema de Plancharel: Z Z
∞ ∞
2
|f (t)| dt = |F (f )|2 df
−∞ −∞
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 114
A partir dessas propriedades, pode-se obter uma pseudotransformada de Fourier para sinais periódicos. Se
x(t) é um sinal periódico, de período T , então pode-se escrever x(t), usando a série de Fourier, como
∞
X
x(t) = Xk ej2πkt/T
k=−∞
Essa expressão indica que o espectro de x(t) é composto de impulsos de amplitude Xk na frequência fk , ou seja,
localizados em frequências múltiplas de 1/T .
Exemplo 6.3.1 Considere a função periódica x(t) = sin(w0 t) com w0 = 2πf0 = 2π/T . Pode-se reescrever essa
função como
1 j2πf0 t j −j2πf0 t
x(t) = e − e−j2πf0 t = e − ej2πf0 t
2j 2
Portanto a sua pseudotransformada é dada por
j
X(f ) = [δ(f + f0 ) − δ(f − f0 )]
2
A sua representação gráfica está apresentada na figura abaixo.
7 Veja a definição da função delta de Dirac dada por (3.1) na Seção 3.1.
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∠X(f )
|X(f )| π
2
f
f −f0 f0
−f0 f0
− π2
Exemplo 6.3.2 Considere a função periódica x(t) = cos(w0 t) com w0 = 2πf0 = 2π/T . Pode-se reescrever
essa função como
1 −j2πf0 t
x(t) = e + ej2πf0 t
2
Portanto, a sua pseudotransformada é dada por
1
X(f ) = [δ(f − f0 ) + δ(f + f0 )]
2
A sua representação gráfica está apresentada na figura abaixo
|X(f )| ∠X(f )
f f
−f0 f0 −f0 f0
Exemplo 6.3.3 Considere a onda quadrada do exemplo 6.1.1. Sua série de Fourier é dada por
∞
X 4A
x(t) = sin(kω0 t)
kπ
k=1,3,5,7,...
com fk = kf0 .
Uma relação fundamental entre a série de Fourier e a transformada de Fourier reside em como ambas
relacionam funções no domínio do tempo ao seu conteúdo de frequência. Enquanto a série de Fourier decompõe
funções periódicas através de uma combinação infinita de senos e cossenos, expondo a contribuição de cada
componente de frequência da função original, a transformada de Fourier converte funções, sejam elas periódicas
ou não periódicas, do domínio do tempo para o da frequência, revelando assim seus espectros e a intensidade
das frequências presentes. Para uma função periódica, a transformada de Fourier gera uma série de impulsos
ponderados pelos coeficientes de Fourier de sua série, conforme apresentado em (6.7).
A função de resposta em frequência (FRF) para sistemas contínuos é definida como a transformada de
Fourier8,9 da resposta ao impulso h(t), ou seja:
Z ∞
H(jω) = h(t)e−jωt dt
−∞
Para uma entrada harmônica da forma x(t) = ejωt , para t ∈ (−∞, ∞), a FRF estabelece a seguinte relação
importante em regime permanente:
Para provar essa expressão, pode-se usar a convolução entre resposta ao impulso h(t) e a entrada em regime
permanente x(t) = ejωt , a qual fornece
Z ∞ Z ∞ Z ∞
y(t) = h(τ )x(t − τ ) dτ = h(τ )ejω(t−τ ) dτ = ejωt h(τ )e−jωτ dτ = ejωt H(jω)
−∞ −∞ −∞
x(t) = e−jωt
resulta em
y(t) = H(−jω)e−jωt
ejωt − e−jωt
x(t) = sin ωt =
2j
fica sendo
1
y(t) = H(jω)ejωt − H(−jω)e−jωt
2j
Como H(jω) é um número complexo, ele pode ser escrito como
H(jω) = |H(jω)|ejφ
em que |H(jω)| é sua magnitude e φ = ∠H(jω) é o ângulo de fase. Assim, a resposta em regime permanente
para a entrada senoidal fica sendo
1 ej(ωt+φ) − e−j(ωt+φ)
y(t) = |H(jω)|ejφ ejωt − |H(jω)|e−jφ e−jωt = |H(jω)|
(6.9) 2j 2j
= |H(jω)| sin(ωt + φ)
A função de resposta em frequência, expressa em (6.9), apresenta a relação de amplitude e ângulo em regime
permanente entre a saída senoidal e a entrada senoidal dada por
|Y (jω)| Y (jω)
|H(jω)| = e ∠H(jω) = ∠
|X(jω)| X(jω)
8 Uma abordagem alternativa via função de transferência e decomposição em frações parciais é apresentada na Seção B.4.
9 Se o sistema for causal sua resposta ao impulso será zero para t < 0 e essa integral fica sendo
Z ∞
H(jω) = h(t)e−jωt dt
0
que é justamente a função de transferência H(s), definida através da transformada de Laplace de h(t), para valores de s restritos
ao eixo imaginário s = jω.
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Exemplo 6.4.1 Para ilustrar uma aplicação prática da FRF, considere o sistema mecânico apresentado na
Figura 6.9, cuja função de transferência tem a forma
Y (s) ωn2
H(s) = = 2
X(s) s + 2ζωn s + ωn2
y(t)
c
k
x(t)
m
A Figura 6.10 apresenta o gráfico de magnitude e fase da FRF desse sistema, ou seja de H(jω), em que
foram assumidos fator de amortecimento ζ = 0.2 e frequência natural ωn = 1 rad/s. Esse gráfico é conhecido
como diagrama de Bode.
10 0
0
Magnitude (dB)
Fase (graus)
−10 ← −9.85 dB
−90
−20
−30
← −165◦
−40 −180
10−1 100 101
ω
Figura 6.10: Diagrama de magnitude e fase da FRF de H(jω).
Suponha que seja aplicada nesse sistema uma entrada senoidal x(t) = 5 sin(2t), então a saída é determinada
através da FRF apresentada na Figura 6.10. De acordo com o gráfico, na frequência ω = 2 rad/s, tem-se
Tanto a função de transferência H(s) como a função de resposta em frequência H(jω) relacionam a saída
de um sistema com sua entrada. Para um sistema contínuo linear invariante no tempo e causal, se a entrada
for dada por
x(t) = Xk esk t , para t ∈ (−∞, ∞) com sk ∈ C
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então sua saída y(t), assumindo que sk não é um polo de H(s), será
Para ver esse fato, calcula-se a resposta forçada pela convolução que resulta em
Z ∞ Z ∞
y(t) = h(t) ∗ x(t) = h(τ )Xk esk (t−τ ) dτ = Xk esk t h(τ )e−sk τ dτ
−∞ 0
em que foi utilizado que h(τ ) = 0 para τ < 0 devido à causalidade do sistema.
Considere agora que o sinal de entrada seja periódico, descrito pela seguinte série de Fourier:
∞
X
x(t) = Xk ejkω0 t , ω0 = 2πf
k=−∞
Portanto, y(t) também é um sinal periódico, tendo a mesma frequência fundamental de x(t). Ademais, observe
que se {Xk } for o conjunto de coeficientes de Fourier de x(t), então {Xk H(jkω0 )} será o conjunto de coeficientes
de Fourier de y(t).
Para determinar a FRF desse sistema, observa-se que, para uma entrada p(t) = ejωt , obtém-se a saída v(t) =
H(jω)ejωt . Substituindo essas expressões na equação diferencial, tem-se
d
τ H(jω)ejωt + H(jω)ejωt = ejωt
dt
que fornece
1 1 ωτ
H(jω) = = −j
1 + jωτ 1 + (ωτ )2 1 + (ωτ )2
−1/2
Para essa FRF, a magnitude |H(jω)| = 1 + (ωτ )2 e a fase ∠H(jω) = − tan−1 (ωτ ) estão apresentados na
Figura 6.11. Percebe-se que as componentes de alta frequência são praticamente filtradas. Esse é o princípio
dos filtros passa-baixa.
∠H(jω)
|H(jω)|
π/2
ω/τ
0
ω/τ
0
−π/2
Figura 6.11: Função de resposta em frequência para o circuito RC em que a saída é a tensão do capacitor.
Exemplo 6.4.3 Suponha que a tensão de entrada p(t) no Exemplo 6.4.2 seja a onda quadrada do Exemplo 6.1.1,
de amplitude A e período T , cujos coeficientes de Fourier foram determinados como sendo
Aj
Xk = (cos(πk) − 1)
πk
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Aj 1 2π
Vk = Xk H(jkω0 ) = (cos(πk) − 1) , ω0 =
πk 1 + jkω0 τ T
e a respectiva tensão de saída (a tensão no capacitor) será dada por (6.10), ou seja:
∞ ∞
X X AT (cos(πk) − 1) j2πkt/T
v(t) = Vk ej2πkt/T = e
kπ(2kπτ − jT )
k=−∞ k=−∞
A figura abaixo apresenta a tensão de entrada p(t) e a tensão de saída v(t), obtidos com a série de Fourier
calculada usando apenas os trinta primeiros coeficientes da série. Os dados numéricos usados na simulação
foram A = 3, τ = 0.1 e T = 1.5.
4
p(t)
v(t)
3
1
Amplitude [V]
-1
-2
-3
-4
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5
Tempo [s]
Figura 6.12: Sinais p(t) e v(t) calculados usando os trinta primeiros coeficientes da série de Fourier.
Exemplo 6.4.4 Considere agora que a saída do circuito do Exemplo 6.4.2 é a tensão do resistor. Então, a
equação diferencial que governa o sistema é dada por
Usando passos análogos aos usados no exemplo anterior, a FRF é facilmente determinada:
jωτ (ωτ )2 ωτ
H(jω) = = +j
1 + jωτ 1 + (ωτ )2 1 + (ωτ )2
e a fase
π
∠H(jω) = sinal(ωτ ) − tan−1 (ωτ )
2
estão apresentados na Figura 6.13. Ao contrário do exemplo anterior, essa FRF permite a passagem de compo-
nentes de alta frequência e praticamente filtra as de baixa frequência. Esse é o princípio dos filtros passa-alta.
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∠H(jω)
|H(jω)|
π/2
1
ωτ
0
ωτ
0
−π/2
Figura 6.13: Função de resposta em frequência para o circuito RC em que a saída é a tensão do resistor.
Perceba a semelhança da FRF com a definição da transformada Z com z = ejω . Para essa escolha de z, tem-se
que |z| = 1, ou seja, z está restrito ao círculo unitário.
De forma análoga ao caso contínuo, para um sistema discreto linear invariante no tempo, se a entrada for
dada por
x(k) = X̄ejωk , k ∈ (−∞, ∞)
A prova é análoga ao do caso contínuo, basta calcular a resposta forçada pela convolução como segue:
∞
X ∞
X
y(k) = h(k) ∗ x(k) = h(n)x(k − n) = h(n)X̄ejω(k−n)
n=−∞ n=−∞
∞
X
= X̄ejωk h(n)e−jωn = X̄ejωk H(ejω )
n=−∞
Para determinar a FRF desse sistema, observa-se que para uma entrada xk = ejωk , obtém-se a saída yk =
H(ejω )ejωk . Portanto,
H(ejω )ejωk − aH(ejω )ejω(k−1) = ejωk
h(k) = ak , k ≥ 0
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Para a FRF (6.11), o valor absoluto e a fase estão apresentados na Figura 6.14 para a = 0, 5 e na Figura 6.15
para a = −0, 5. Perceba que essa FRF é periódica de período 2π.
|H(ejω )|
ω
−3π −π 0 π 3π
∠H(ejω )
ω
−3π −π 0 π 3π
Figura 6.14: Diagrama de magnitude e de fase da função de resposta em frequência H(ejω ) com a = 0, 5.
|H(ejω )|
ω
−3π −π 0 π 3π
∠H(ejω )
ω
−3π −π 0 π 3π
Figura 6.15: Diagrama de magnitude e de fase da função de resposta em frequência H(ejω ) com a = −0, 5.
2yk = xk − xk−1
Para essa FRF, o valor absoluto e a fase estão apresentados na Figura 6.16
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|H(ejω )|
ω
−3π −π 0 π 3π
∠H(ejω )
π/2
ω
−3π −π 0 π 3π
−π/2
x∗ (t)
x(t)
x(t) x∗ (t)
δT
t
t 0 T 2T 3T 4T
O modulador ideal δT produz um trem de impulsos como apresentado na figura abaixo, em que δ(t − nT ) é
o impulso unitário aplicado no instante de tempo t = nT .
∞
X ··· ···
δT (t) = δ(t − nT )
n=−∞ t
−T 0 T 2T 3T
A saída desse modulador fornece o sinal amostrado x∗ (t), que representa um trem de impulsos ponderado
(modulado) pela amplitude do sinal de entrada x(t), ou seja,
∞
X ∞
X
(6.12) x∗ (t) = x(t)δ(t − nT ) = x(t) δ(t − nT )
n=−∞ n=−∞
P∞
Claramente, o trem de impulsos δT (t) = n=−∞ δ(t − nT ) é uma função periódica, de período T , e como
tal, pode ser expandida em série de Fourier, ou seja,
∞
X ∞
X
(6.13) δ(t − nT ) = Xk ejk(2πt/T )
n=−∞ k=−∞
Sabendo que no intervalo [−T /2, T /2] a função pente se reduz a um único impulso em t = 0, ou seja,
∞
X T T
δ(t − nT ) = δ(t), − ≤t≤
n=−∞
2 2
a integral se reduz a
Z T /2
1 1
Xk = δ(t)e−jk(2πt/T ) dt =
T −T /2 T
Substituindo Xk em (6.13), obtém-se
∞ ∞
X 1 X jk(2πt/T )
δ(t − nT ) = e
n=−∞
T
k=−∞
Usando (6.12), o sinal amostrado x (t) pode agora ser reescrito como
∗
∞
!
1 X jk(2πt/T )
x∗ (t) = x(t) e
T
k=−∞
Dessa forma, foi obtida uma representação analógica para um sinal amostrado (discreto).
Como o sinal x∗ (t) é contínuo, é possível calcular a sua transformada de Fourier, que nesse caso é dada por
Z ∞ ∞
! ∞ Z ∞
∗ 1 X
jk(2πt/T ) −j2πf t 1 X
X (f ) = x(t) e e dt = x(t)ejk(2πt/T ) e−j2πf t dt
−∞ T T −∞
k=−∞ k=−∞
∞ Z ∞ ∞
1 X 1 X k
= x(t)e−j2πt(f −k/T ) dt = X f−
T −∞ T T
k=−∞ k=−∞
em que X(f ) é a transformada de Fourier de x(t). Portanto, a transformada do sinal amostrado x∗ (t) é obtida
como um trem de espectros em múltiplos de fa = 1/T .
A Figura 6.18 apresenta os espectros de X(f ) e X ∗ (f ). Note que a magnitude do espectro de X ∗ (f ), na
frequência f = 1/(2T ) recebe uma contribuição (alias) do espectro centrado em fa . Assim, a magnitude de
X ∗ (f ) depende das contribuições de magnitude dos demais espectros em fa + k/T .
|X(f )| |X ∗ (f )| |Y ∗ (f )|
1 1
1 T T
X ∗ (f )
Aliasing
X(f )
1
− 2T 0 1 f − T1 0 1 1 f 1
− 2T 0 1 f
2T 2T T 2T
Filtro anti-aliasing
Figura 6.18: Espectro X(f ) do sinal x(t), em azul, espectro X ∗ (f ) do sinal amostrado x∗ (t), em vermelho, e o
efeito de aliasing que ocorre devido à periodicidade de X ∗ (f ).
Uma forma de atenuar o efeito do aliasing é processar o sinal x(t) através de um filtro anti-aliasing (passa-
baixo) com frequência de corte inferior a 1/(2T ), produzindo um sinal y ∗ (t) cujo espectro não possuirá compo-
nentes de frequência acima de 1/(2T ), como apresentado na Figura 6.18.
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Teorema 6.5.1 (Nyquist) Se X(f ) = 0 para |f | > 1/(2T ), então é possível recuperar X(f ) (respectivamente
x(t)) a partir de X ∗ (f ) se a frequência de amostragem fa = 1/T for no mínimo duas vezes maior do que a
maior frequência contida no sinal x(t).
|L(f )|
f
1 1
−
2T 2T
Figura 6.19: Magnitude |L(f )| do espectro do filtro ideal (a fase de L(f ) é nula).
Usando esse filtro, o espectro de X(f ) é dado por X(f ) = L(f )X ∗ (f ) e o sinal x(t) pode em seguida ser
determinado calculando-se a convolução x(t) = l(t) ∗ x∗ (t), em que x∗ (t) é o sinal amostrado e l(t) é a resposta
ao impulso do filtro ideal L(f ). Para se determinar l(t), basta calcular a transformada inversa de Fourier de
L(f ), como segue:
Z ∞ Z 1/(2T )
l(t) = L(f )ej2πf t df = T ej2πf t df
−∞ −1/(2T )
T h j2πt/(2T ) i T
= e − e−j2πt/(2T ) = sin(πt/T ) = sinc(πt/T )
j2πt πt
em que a função sinc foi definida em (6.5).
A Figura 6.20 apresenta a resposta impulsiva l(t) do filtro ideal L(f ). Note que o filtro ideal é não-causal,
já que sua resposta impulsiva l(t) 6= 0 para t < 0.
l(t)
1
t/T
0
Para determinar o sinal x(t), basta agora calcular a convolução x(t) = l(t) ∗ x∗ (t), ou seja
Z ∞ Z ∞ ∞
X
∗
x(t) = x (τ )l(t − τ ) dτ = x(τ ) δ(τ − kT ) sinc((t − τ )π/T ) dτ
−∞ −∞ k=−∞
∞
X Z ∞
= x(τ ) sinc((t − τ )π/T )δ(τ − kT ) dτ
k=−∞ −∞
X∞
= x(kT ) sinc((t − kT )π/T )
k=−∞
Assim, o sinal x(t) é reconstruído através da interpolação das amostras x(kT ) usando a função sinc, que, por
ser proveniente do filtro L(f ), não contém componentes de frequência acima de 1/(2T ).
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A maior frequência desse sinal é 1.5Hz. Suponha que esse sinal seja amostrado com uma frequência de amos-
tragem de 4Hz, que satisfaz o critério de Nyquist. A Figura 6.21 apresenta o sinal x(t) e o respectivo sinal
amostrado x(k) := x(kT ).
2
1.5 x(k)
x(t)
1
Amplitude
0.5
0
−0.5
−1
−1.5
−2
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4
Tempo (sec)
Figura 6.21: Sinal senoidal x(t) e sua amostragem x(k) obtida com uma frequência de amostragem de 4Hz.
Para verificar o efeito da interpolação baseada na função sinc, a aproximação x̂(t) dada por
N
X
x̂(t) = x(kT ) sinc((t − kT )π/T )
k=−N
será calculada para alguns valores de N . A Figura 6.22 apresenta essa aproximação para os casos N = 2, 10, 16.
N =2 N = 10
2 2
1.5 x(t) 1.5 x(t)
x̂(t) x̂(t)
1 1
Amplitude
Amplitude
0.5 0.5
0 0
−0.5 −0.5
−1 −1
−1.5 −1.5
−2 −2
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4
Tempo (sec) Tempo (sec)
N = 16
2
1.5 x(t)
x̂(t)
1
Amplitude
0.5
0
−0.5
−1
−1.5
−2
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4
Tempo (sec)
Figura 6.22: Sinal reconstruído x̂(t) usando diferentes ordens de aproximação (N = 2, 10, 16).
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6.6 Exercícios
Exercício 6.6.1 Sejam Xk e X−k os coeficientes da série exponencial de Fourier, dada por (6.3). Mostre que
ak = Xk + X−k e bk = j (Xk − X−k ), para k ≥ 0.
Exercício 6.6.2 Calcule a série exponencial de Fourier da função trem de pulsos da Figura 6.23. Observe que
nos pontos de descontinuidade a série fornecerá A/2.
x(t)
A
t
0 τ
T
Exercício 6.6.3 Calcule a série exponencial de Fourier da função periódica trem de pulsos apresentada na
Figura 6.24 e, em seguida, esboce o seu espectro de frequência.
f (t)
A
t
0 τ T
Exercício 6.6.4 Usando a expressão (6.4), calcule a série trigonométrica de Fourier da onda quadrada do
Exemplo 6.1.1, reproduzida na Figura 6.25 abaixo por conveniência. Em seguida, usando a relação apresentada
no Exercício 6.6.1, calcule os coeficientes Xk e X−k da série exponencial de Fourier.
x(t)
A
t
0
Exercício 6.6.5 Usando a série trigonométrica de Fourier para funções ímpares, calcule a série de Fourier da
onda quadrada do Exercício 6.6.4.
Exercício 6.6.6 Usando a série trigonométrica de Fourier para funções pares, calcule a série de Fourier de
x(t − T /4), em que x(t) é a onda quadrada do Exercício 6.6.4.
Exercício 6.6.7 Calcule a série exponencial de Fourier da função dente de serra da Figura 6.26. Em seguida
mostre que a solução na forma trigonométrica é dada por
∞
1 1 X sin (2πkt/T )
g(t) = −
2 π k
k=1
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x(t)
t
0
Exercício 6.6.8 Encontre a série trigonométrica de Fourier da função apresentada na Figura 6.27 abaixo.
Dica: use a série de Fourier da função g(t) = f (t) − 1/2.
f (t)
1
t
−T 0 T
Exercício 6.6.9 Encontre a série trigonométrica de Fourier da função triangular periódica abaixo.
f (t)
1
T
2
t
0 T
−1
Note que essa função pode ser descrita, no intervalo [−T /2, T /2], por:
4t T
1 + T , − 2 ≤ t ≤ 0
f (t) =
1 − 4t , 0 ≤ t ≤ T
T 2
Exercício 6.6.10 Determine a série trigonométrica de Fourier da função triangular da Figura 6.29 abaixo.
Use a extensão periódica ímpar.
f (t)
t
0 l/2 l
Exercício 6.6.11 Repita o Exercício 6.6.10 anterior, usando a extensão periódica par.
Exercício 6.6.12 Gere o gráfico do espectro de frequência dos resultados dos itens anteriores.
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Exercício 6.6.13 Determine a tensão vC (t) do circuito da Figura 6.30 abaixo para a entrada vE (t) dada pelo
trem de pulsos do Exercíco 6.6.3.
R
i
+
vE (t) C vC (t)
−
Exercício 6.6.14 Prove as propriedades abaixo, em que F (f ) denota a transformada de Fourier de f (t).
F
1. Linearidade: af (t) + bg(t) ⇐⇒ aF (f ) + bG(f )
F
2. Convolução no tempo: f (t) ∗ g(t) ⇐⇒ F (f )G(f )
F
3. Convolução na frequência: f (t)g(t) ⇐⇒ F (f ) ∗ G(f )
F
4. Conjugado: f (t) ⇐⇒ F (−f )
F 1
5. Escala no tempo com α ∈ R: f (αt) ⇐⇒ |α| F (f /α)
F
6. Translação no tempo: f (t − t0 ) ⇐⇒ e−j2πf t0 F (f )
R∞ R∞
7. Teorema de Parseval: −∞ f (t)g(t) dt = −∞ F (f )G(f ) df
R∞ R∞
8. Teorema de Plancharel: −∞ |f (t)|2 dt = −∞ |F (f )|2 df
1. x(t) = 1
2. x(t) = δ(t)
f (t)
t
0 l/2 l
f (t)
A
t
−d/2 d/2
Exercício 6.6.20 Derive a FRF do sistema massa-mola-amortecedor cuja equação de movimento é dada por
20
Magnitude (dB)
−20
−40
0
ζ = 0.1
−45 ζ = 0.5
ζ = 0.707
Fase (o )
−90 ζ =1
−135
−180
10−1 100 101
Frequência (ω/ωn )
A representação no espaço de estado emerge como uma ferramenta fundamental para a análise de sistemas
dinâmicos, proporcionando uma perspectiva algebricamente abrangente que transcende as técnicas tradicionais
focadas na relação entrada-saída no domínio da frequência. Essa abordagem se destaca pela sua habilidade em
captar integralmente o comportamento de um sistema dinâmico através do conceito de estados. As variáveis de
estado descrevem o comportamento interno do sistema em qualquer instante, oferecendo uma base sólida para
entender sua evolução temporal. Essas variáveis capturam a essência do sistema, enquanto as entradas e saídas
são integradas para formar um panorama completo da dinâmica do sistema. Esta abordagem é particularmente
vantajosa para análise de sistemas complexos, incluindo aqueles com múltiplas entradas e saídas. Seu uso
encontra aplicação em uma vasta gama de campos da engenharia e das ciências aplicadas.
131
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 132
com as matrizes A e B dadas acima. Essa representação é largamente adotada em teoria de controle.
Uma vez definido o vetor de saída do sistema como uma combinação linear dos estados x(t) e do sinal de
entrada u(t), ou seja,
y(t) = Cx(t) + Du(t)
em que x(t) ∈ Rn é o vetor de variáveis de estado, u(t) ∈ Rr é o vetor de entradas, y(t) ∈ Rp é o vetor contendo
as saídas, e as matrizes do sistema têm dimensões A ∈ Rn×n , B ∈ Rn×r , C ∈ Rp×n e D ∈ Rp×r .
Observação 7.1.1 No exemplo anterior, é essencial frisar que, se a maior ordem da derivada da variável w(t)
fosse três, seriam necessários três estados para representá-la. Assim, o sistema completo necessitaria de cinco
variáveis de estado: três para w(t) e duas para q(t). Dessa observação, infere-se que a quantidade total de
variáveis de estado necessárias para representar um sistema de equações diferenciais corresponde à soma das
ordens máximas das derivadas de cada variável envolvida.
x1 = v C e x2 = v̇C
Derivando-se x1 e x2 , obtém-se
ẋ1 = v̇C = x2
1 1 R
ẋ2 = v̈C = vE − x1 − x2
LC LC L
Exemplo 7.1.2 Considere o sistema carro-pêndulo da Figura 7.1, em que M é a massa do carro, l é o compri-
mento do pêndulo, m é a massa do pêndulo, u(t) é uma força externa, k é a rigidez da mola, c é o coeficiente
de amortecimento e g é a aceleração da gravidade.
c
g
k M f (t)
θ
m, l, Ic
x1 = q, x2 = θ, x3 = q̇, x4 = θ̇
k 3mg c 1
ẋ1 = q̇ = x3 , ẋ3 = q̈ = − x1 + x2 − x3 + u(t)
M̂ 4M̂ M̂ M̂
3k 3M̄ g 3c 3
ẋ2 = θ̇ = x4 , ẋ4 = θ̈ = x1 − x2 + x3 − u(t)
2M̂ l 2M̂ l 2M̂ l 2M̂ l
Na forma matricial, tem-se
ẋ(t) = Ax(t) + Bu(t)
com
0 0 1 0 0
0 0 0 1 1 0
A=
− k 3mg c
− M̂ 0 ,
B=
M̂ 4M̂ M̂ l l
3k
− 32M̄ g 3c
0 − 23
2M̂ l M̂ l 2M̂ l
Suponha que a saída desejada seja o deslocamento do carro q(t) e a velocidade angular θ̇(t). Então o vetor
de saída y(t) passa a ser " # " # " #
y1 1 0 0 0 0
y(t) = = x(t) + u(t)
y2 0 0 0 1 0
ou seja, as matrizes C e D serão " # " #
1 0 0 0 0
C= , D=
0 0 0 1 0
Exemplo 7.1.3 Considere o sistema mecânico de três graus de liberdade levantado na Seção 2.2.5. A equação
de movimento desse sistema foi determinada como sendo
M q̈ + C q̇ + Kq = 0
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 134
Supondo agora que a saída y(t) desejada seja o vetor de velocidade q̇(t) das três masas, tem-se
h i
y(t) = Cx(t), C= 0 I
Dada uma condição inicial x0 , será possível determinar sua solução homogênea, como será visto na Seção 7.2.
7.1.1 Desacoplamento
Em certas situações, é necessário “desacoplar” o sistema de equações diferenciais para representá-lo adequada-
mente no espaço de estado. Considere, por exemplo, o sistema descrito pelas seguintes equações
Note que esse sistema de equações é de segunda ordem nas varáveis q(t) e w(t), e que tanto q̈(t) como ẅ(t)
aparecem numa mesma equação. Por essa razão, a representação direta desse sistema no espaço de estado não é
possível. Contudo, é possível efetuar um desacoplamento de maneira que cada equação inclua apenas a derivada
de maior ordem de uma única variável.
Tal procedimento consiste em isolar o termo q̈(t) da primeira equação e substituí-lo na segunda equação.
Em seguida, faz-se o processo similar com ẅ(t), ou seja, isola-se o termo ẅ(t) da segunda equação e o substitui
na primeira equação, como segue:
substituindo em (7.3)
q̈(t) = −ẅ(t) + ẇ(t) + u(t) −−−−−−−−−−−−−→ −ẅ(t) + ẇ(t) + u(t) − ẅ(t) + q(t) = u(t)
substituindo em (7.2)
ẅ(t) = q̈(t) + q(t) − u(t) −−−−−−−−−−−−−→ q̈(t) + q̈(t) + q(t) − u(t) − ẇ(t) = u(t)
É importante enfatizar que a ordem na escolha da equação ou da variável a ser inicialmente isolada é
irrelevante. No mais, é oportuno perceber que este processo de desacoplamento pode ser realizado de forma
bastante simples reescrevendo o sistema de equações (7.2)-(7.3) na forma matricial como segue:
" #" # " # " # " #" #
1 1 q̈(t) u(t) + ẇ(t) q̈(t) 1 1 1 u(t) + ẇ(t)
= =⇒ =
1 −1 ẅ(t) u(t) − q(t) ẅ(t) 2 1 −1 u(t) − q(t)
em que a matriz Φ(t, t0 ), também conhecida como matriz de transição de estado, possui a seguinte expansão
em série
∞
X Aℓ (t − t0 )ℓ
Φ(t, t0 ) =
ℓ!
ℓ=0
Prova. Essa expressão é demonstrada assumindo-se que a solução x(t) de (7.5), com condição inicial no instante
t0 (não necessariamente nulo), ou seja x(t0 ) = x0 , tem a seguinte expansão em série:
∞
X
(7.7) x(t) = zℓ (t − t0 )ℓ = z0 + z1 (t − t0 ) + z2 (t − t0 )2 + z3 (t − t0 )3 + · · ·
ℓ=0
x(t0 ) = z0 = x0
Derivando-se a solução (7.7) em relação a t, tem-se
Assim, em t = t0 , tem-se
ẋ(t0 ) = z1 = Ax0
Derivando-se novamente a solução x(t) em relação a t, tem-se
Assim, em t = t0 , tem-se
A2
x0 z2 =
2
Prosseguindo com as derivadas subsequentes, percebe-se que
Aℓ
zℓ = x0
ℓ!
Portanto, a solução da equação homogênea (7.5) é dada por
∞ ∞
X X Aℓ (t − t0 )ℓ
x(t) = zℓ (t − t0 )ℓ = x0
ℓ!
ℓ=0 ℓ=0
1A Seção A.2.1 apresenta alguns conceitos fundamentais sobre equações diferenciais lineares homogêneas no espaço de estado.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 136
Assim
∞
X Aℓ (t − t0 )ℓ
x(t) = Φ(t, t0 )x0 , com Φ(t, t0 ) =
ℓ!
ℓ=0
Observação 7.2.1 A matriz de transição de estado Φ(t, t0 ) é comumente denominada de matriz exponencial:
∞
X Aℓ (t − t0 )ℓ
eA(t−t0 ) = Φ(t, t0 ) =
ℓ!
ℓ=0
Observação 7.2.2 No caso de sistemas lineares invariantes no tempo, pode-se assumir sem perda de gene-
ralidade que a condição inicial ocorre no tempo t0 = 0. Assim, a matriz de transição de estado fica sendo
eAt .
A matriz exponencial possui propriedades similares às da exponencial escalar, justificando sua denominação,
como será discutido na próxima Seção 7.2.1.
O cálculo de eAt é necessário não apenas para obter soluções analíticas explícitas, mas também para realizar
simulações numéricas do sistema. Para esse cálculo, podem ser utilizadas várias propriedades da matriz de
transição de estado apresentadas no Exercício 7.8.11. Devido à sua importância, a próxima seção apresenta
diferentes métodos para o cálculo da matriz de transição de estado.
2A solução forçada será discutida posteriormente na Seção 7.3.
3 Ver propriedade 2 do Exercício 7.8.11.
4 Ver propriedade 4 do Exercício 7.8.11.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 137
Portanto,
L eAt = (sI − A)−1 ⇐⇒ eAt = L−1 (sI − A)−1 , t≥0
2. eAt = ΣeΛt Σ−1 , usando a forma diagonal A = ΣΛΣ−1 . Essa fórmula é obtida diretamente da propriedade 7
da matriz de transição de estado, apresentada no Exercício 7.8.11. Note que essa expressão é obtida através
da decomposição em autovalores e autovetores da matriz A, como apresentado na Seção A.3.1. O método
assume que a matriz de autovetores Σ é inversível, o que nem sempre é o caso.
n−1
X
3. eAt = αℓ (t)Aℓ , usando o método polinomial. Para esse método, os coeficientes αℓ (t) são obtidos da
ℓ=0
Pn−1
expressão ℓ=0 αℓ (t)λℓi = eλi t , com i = 1, . . . , n, ou seja, do seguinte sistema de equações:
λ t
1 λ1 λ21 · · · λ1n−1 α0 (t) e 1
n−1
1 λ
2 λ2 · · · λ2 α1 (t) eλ2 t
2
1 λ3 λ23 · · · λ3n−1 α2 (t) = eλ3 t
.. .. .. . . .. .. ..
. . . . . . .
1 λn λ2n · · · λnn−1 αn−1 (t) eλ n t
em que λi são os autovalores da matriz A. A matriz acima (contendo os termos 1, λi , λ2i , . . . , λin−1 ) é
conhecida como matriz de Vandermonde. Essa matriz só será inversível se todos os autovalores λi da
matriz A forem distintos. Uma derivação do método polinomial encontra-se na Seção A.3.1.
Exemplo 7.2.1 Para ilustrar os três métodos, calcule eAt para a seguinte matriz:
" #
0 1
A=
−3 −4
1. Usando a transformada de Laplace, ou seja, usando a expressão eAt = L−1 [(sI − A)−1 ]:
As matrizes (sI − A) e (sI − A)−1 são respectivamente dadas por
" # " #
s −1 1 (s + 4) 1
(sI − A) = , (sI − A)−1 =
3 s+4 (s + 1)(s + 3) −3 s
# " # "
−1 −1
Os autovetores, associados aos autovalores λ1 e λ2 são respectivamente v1 = e v2 = . Portanto,
1 3
" # " #
−1 −1 −1 1 −3 −1
Σ= , Σ =
1 3 2 1 1
n−1
X
3. Usando o método polinomial, ou seja, usando a expressão eAt = αℓ (t)Aℓ :
ℓ=0
1
3e−t − e−3t
" #" # " #
1 −1 α0 e−t α0 =
= −3t =⇒ 2
1 −3 α1 e 1 −t
α1 = e − e−3t
2
h iT
para a condição inicial x0 = 1 −1 . Do Exemplo 7.2.1, sabe-se que
" #
1 3e−t − e−3t e−t − e−3t
eAt = , t≥0
2 3(e−3t − e−t ) 3e−3t − e−t
Assim,
" #
e−t
At
x(t) = e x0 = =⇒ y(t) = 0
−e−t
5O Exemplo A.3.4 da Seção A.3.2 apresenta o cômputo da matriz de autovalor e de autovetor, em que foi usado α = β = 1.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 139
Observe que essa resposta nada mais é do que a soma da solução homogênea
CeA(t−t0 ) x0
2e
Esse mesmo resultado pode ser obtido aplicando-se a transformada de Laplace nas equação de estado e de
saída, dada por
Observação 7.3.1 A resposta completa do sistema y(t), descrita por (7.11), é a soma da resposta homogênea:
yh = CeA(t−t0 ) x0 , t ≥ t0
com a resposta forçada, dada pela convolução da resposta ao impulso h(t) com a entrada u(t):
Z t
yf = h(t) ∗ u(t) = CeA(t−τ ) Bu(τ ) dτ + Du(t), t ≥ t0
t0
Lembrando que a transformada de Laplace da convolução y(t) = h(t) ∗ u(t) nada mais é do que o produto na
frequência, ou seja Y (s) = H(s)U (s), obtém-se diretamente a expressão (7.12). A representação por diagrama
de blocos da relação entrada-saída encontra-se na Figura 7.2 abaixo.
para k ≥ 0 e condições iniciais w(0) = w0 , w(1) = w1 , q(0) = q0 e q(1) = q1 . Primeiramente, define-se um novo
conjunto de variáveis de estado x(k) por
x1 (k + 1) = x2 (k)
x2 (k + 1) = −5x1 (k) − 3x4 (k) + u1 (k)
x3 (k + 1) = x4 (k)
x4 (k + 1) = −3x2 (k) − 2x4 (k) − u2 (k)
7.4.1 Desacoplamento
Quando as equações de diferenças estão acopladas, o processo de desacoplamento é realizado de maneira similar
ao caso contínuo. Considere, por exemplo, a seguinte equação de diferenças:
com condição inicial x(0) = x0 . A solução homogênea, obtida diretamente por recursão, é dada por
x(k) = Ak x0 , k≥0
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 142
É possível mostrar (ver Exercício 7.8.26) que a solução para a condição inicial x(k0 ) = x0 , num tempo k0
não necessariamente nulo, é dada por
em que a matriz Φ(k, k0 ) é conhecida como matriz de transição de estado (discreta). Essa matriz possui as
seguintes propriedades7 :
Φ(k, k) = I, k ≥ k0
Φ(k + 1, k0 ) = AΦ(k, k0 ), k ≥ k0
Φ(k, k0 ) = Φ(k, k1 )Φ(k1 , k0 ), k ≥ k1 ≥ k0
Note que a matriz de transição de estado se reduz a Ak se k0 = 0. É importante enfatizar que ao contrário
do caso contínuo, a matriz de transição de estado discreta pode não ser inversível, pois a matriz A pode ser
singular.
A transformada Z da matriz de transição de estado Ak pode ser obtida como segue. Aplicando a transfor-
mada Z em (7.13), tem-se
zX(z) − zx(0) = AX(z)
Assim,
X(z) = (zI − A)−1 zx(0)
cuja transformada inversa fornece
x(k) = Z −1 z(zI − A)−1 x(0), k≥0
conclui-se que
Ak µ(k) = Z −1 z(zI − A)−1
Portanto, tem-se
(7.14) Z Ak µ(k) = z(zI − A)−1
para uma entrada u(k) qualquer e condição inicial x(0) é dada por
k−1
X
(7.15) x(k) = Ak x(0) + Ak−l−1 Bu(l), k≥0
l=0
em que o somatório que vai até k foi dividido em um somatório até l = k − 1 mais o termo l = k, já que
Ak−l se torna a identidade I para l = k, resultando em Bu(k). Fatorando A nos dois primeiros termos,
obtém-se " #
k−1
X
k k−l−1
x(k + 1) = A A x(0) + A Bu(l) + Bu(k)
l=0
A expressão acima (7.15) é uma solução de estado, pois não considera a saída do sistema. Definindo a saída
do sistema por
y(k) = Cx(k) + Du(k)
tem-se
k−1
X
(7.16) y(k) = Cx(k) + Du(k) = CAk x(0) + CAk−l−1 Bu(l) + Du(k), k≥0
l=0
Observação 7.4.2 Perceba que a solução (7.16) obtida acima é composta de uma componente homogênea
É possível mostrar (ver Exercício 7.8.23) que a solução forçada yf (k) é dada pela convolução da resposta ao
impulso h(k) com a entrada u(k).
Os termos CAn B, para n ≥ 0, são conhecidos como parâmetros de Markov do modelo no espaço de estado.
Esses parâmetros são amplamente utilizados na área de identificação de sistemas dinâmicos.
8 Parak = 0, a somatória se reduz a −1 −l−1 Bu(l). Dado que o limite superior é menor que o limite inferior, convencional-
P
l=0 A
mente considera-se essa soma como zero.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 144
A função de transferência H(z) é obtida aplicando-se a transformada Z na resposta ao impulso h(k) dada
por (7.17). Primeiramente, perceba da expressão (7.14) que
Z Ak−1 µ(k − 1) = (zI − A)−1
Assim, tem-se
H(z) = Z[h(k)] = C(zI − A)−1 B + D
2. Ak = ΣΛk Σ−1 , usando a forma diagonal10 A = ΣΛΣ−1 . O método assume que a matriz de autovetores Σ
é inversível, o que nem sempre é o caso. Para demonstrar essa fórmula, basta expandir Ak como segue:
n−1
X
3. Ak = αℓ (k)Aℓ , usando o método polinomial. Para esse método, os coeficientes αℓ (k) são obtidos
ℓ=0
Pn−1
através da expressão ℓ=0 αℓ (k)λℓi = λki , com i = 1, . . . , n, ou seja, do seguinte sistema11 de equações:
k
1 λ1 λ21 ··· λ1n−1 α0 (k) λ1
1 λ
2 λ22 ··· λ2n−1 α (k) λk
1 2
λ3n−1 α2 (k) = λk3
1 λ3 λ23 ···
.. .. .. .. .. ..
..
. . . . . . .
1 λn λ2n ··· n−1
λn αn−1 (k) λkn
obtém-se " #
k 1 −(−3)k + 3(−1)k −(−3)k + (−1)k
A = , k≥0
2 3(−3)k − 3(−1)k −(−1)k + 3(−3)k
Note que essa é a mesma expressão obtida no item anterior.
n−1
X
3. Usando o método polinomial, ou seja, usando a expressão Ak = αℓ (k)Aℓ :
ℓ=0
Para usar o método polinomial, é necessário determinar os coeficientes αℓ (k) resolvendo o sistema:
1
3(−1)k − (−3)k
" #" # " #
1 −1 α0 (−1)k α0 =
= =⇒ 2
1 −3 α1 (−3)k 1
α1 = (−1)k − (−3)k
2
com x ∈ Rn , y ∈ Rp , u ∈ Rr , A ∈ Rn×n , B ∈ Rn×r , C ∈ Rp×n , D ∈ Rp×r . Como visto na Seção 7.3.1, aplicando
a transformada de Laplace nesse sistema, obtém-se
Será neste momento demonstrado que uma função de transferência possui inúmeras representações no espaço
de estado. Para isso, defina uma nova variável de estado
q(t) = T x(t)
em que a matriz T é inversível (não singular). Assim, derivando q(t) e usando a equação (7.18), obtém-se
com  = T AT −1 , B̂ = T B, Ĉ = CT −1 e D̂ = D.
Falta agora provar que esse modelo de estado na variável q(t) tem a mesma função de transferência que a
representação inicial (7.18). Aplicando a transformada de Laplace em (7.19), obtém-se a expressão
−1
Y (s) = Ĉ sI − Â B̂ + D̂ U (s)
Exemplo 7.5.1 Considere a representação no espaço de estado (7.18) em que as matrizes A, B, C e D são
dadas por " # " #
0 1 1 h i
A= , B= , C= 1 0 , D=1
−3 −4 1
A função de transferência H(s) desse sistema é dada por
−1 s2 + 5s + 8
H(s) = C (sI − A) B+D =
s2 + 4s + 3
Agora, aplicando a transformação de similaridade12
" #
1 −3 −1
T =
2 1 1
12 A matriz T foi escolhida do Exemplo A.3.4 da Seção A.3.2 como T = Σ−1 , com α = β = 1.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 147
q(k) = T x(k), |T | =
6 0
tem-se
q(k + 1) = T x(k + 1) = T (Ax(k) + Bu(k)) = T AT −1 q(k) + Bu(k) = T AT −1 q(k) + T Bu(k)
Agora, seguindo passos idênticos à prova realizada no caso contínuo, obtém-se Ĥ(z) = H(z).
C adj(sI − A)B
H(s) = +D
|sI − A|
Percebe-se, portanto, que os polos de H(s) são as raízes do polinômio caraterístico14 Λ(λ) = |λI − A| da matriz
A, ou seja, os autovalores λi da matriz A. Portanto, o sistema será assintoticamente estável se a parte real dos
autovalores λi da matriz A for negativa, ou seja, Re(λi (A)) < 0.
C adj(zI − A)B
H(z) = +D
|zI − A|
Novamente, os polos de H(z) são os autovalores da matriz A, as raízes do polinômio característico Λ(λ) =
|λI − A|, e o sistema será assintoticamente estável se e somente se os autovalores λi da matriz A em magnitude
forem menor do que um, ou seja, |λi (A)| < 1.
Para representar essa função de transferência por diagrama de blocos na forma canônica controlável, reescreve-se
Y (s) = H(s)U (s) como
b(s)
Y (s) = U (s) = b(s)Q(s)
a(s)
Q(s) 1 1
= = n
U (s) a(s) s + a1 sn−1 + · · · + an−1 s + an
−a1
−a2
−an
que no tempo é
y(t) = b0 q (n) (t) + b1 q (n−1) (t) + · · · + bn−1 q̇(t) + bn q(t)
Como as variáveis q(t), . . . , q (n) , necessárias para construir a saída y(t), já estão disponíveis no diagrama da
Figura 7.3, o diagrama de blocos final é facilmente construído, como apresentado na Figura 7.4.
b0
b1
bn−1
u(t) (n) (n−1) (n−2) y(t)
q R q R q q̇ R q
··· bn
−a1
−a2
−an
Usando esse diagrama de blocos, pode-se levantar o modelo no espaço de estado do sistema na forma canônica
controlável. Para isso, associa-se15 um estado à saída de cada integrador, como segue:
x1 = q ẋ1 = x2
x2 = q̇ ẋ2 = x3
x3 = q̈ =⇒ ẋ3 = x4
.. ..
. .
xn = q (n−1) ẋn = q (n) = u − a1 xn − a2 xn−1 − · · · − an x1
Caso discreto
b0 z n + b1 z n−1 + · · · + bn b(z)
H(z) = =:
z n + a1 z n−1 + · · · + an a(z)
Para representar essa função de transferência na forma canônica controlável, reescreve-se Y (z) = H(z)U (z)
como
U (z)
Y (z) = b(z)Q(z), Q(z) =
a(z)
Assim, primeiro descreve-se a função de transferência Q(z) = U (z)/a(z) e, em seguida, a função de transferência
Y (z) = b(z)Q(z). Portanto, os passos são análogos aos descritos no caso contínuo.
15 Observe que, na ordem adotada, o estado x (t) foi associado à saída do último integrador. No entanto, a associação poderia ter
1
sido a reversa, ou seja, o estado x1 (t) poderia ter sido associado à saída do primeiro integrador. Veja o exemplo do caso discreto.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 151
A representação por diagrama de blocos dessa equação está apresentado na Figura 7.5.
−a1
−a2
−a3
b0
b1
b2
uk qk+3 qk+2 qk+1 qk yk
∆ ∆ ∆ b3
−a1
−a2
−a3
x3 (k + 1) = q(k + 1) = x2 (k)
x2 (k + 1) = q(k + 2) = x1 (k)
x1 (k + 1) = q(k + 3) = u(k) − a1 x1 (k) − a2 x2 (k) − a3 x3 (k)
Definindo o vetor de variáveis de estado como
h iT
x(k) = x1 (k) x2 (k) x3 (k)
16 Note que também é possível utilizar a ordem reversa, ou seja, o estado x (k) poderia ter sido associado à saída do último atraso
1
puro ∆, como adotado no caso contínuo.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 152
com
−a1 −a2 −a3 1
Ac = 1 0 0 , Bc = 0
0 1 0 0
A equação de saída pode ser reescrita como
y(k) = (b1 − a1 b0 )x1 (k) + (b2 − a2 b0 )x2 (k) + (b3 − a3 b0 )x3 (k) + b0 u(k)
O procedimento para determinar essa forma canônica observável será ilustrado para o caso discreto.
Caso discreto
Observe que essa equação no tempo (desconsiderando as condições iniciais) fica sendo
O diagrama de blocos obtido com os passos acima está apresentado na Figura 7.7 abaixo.
U (z)
b3 b2 b1 b0
x3 (k + 1) = b3 u(k) − a3 y(k)
= −a3 x1 (k) + (b3 − b0 a3 )u(k)
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 154
Observação 7.7.1 Uma representação alternativa do diagrama de blocos da forma canônica observável da
Figura 7.7 está apresentada no Exercício 7.8.31.
em que os polos, reais ou complexos, são todos distintos. Note que cada fração parcial
Yi (s) ci
Hi (s) = = , i≥1
U (s) s − pi
U (s) 1 Yi (s)
ci
s
pi
Percebe-se, portanto, que a função de transferência H(s) será a soma (a conexão em paralelo) de cada um
dos blocos Hi (s). Por exemplo, suponha que a função de transferência H(s) seja dada por
s2 + 5s + 8
H(s) =
s2 + 4s + 3
Expandindo essa função de transferência em termos de seus polos (modos), tem-se
2 1
H(s) = 1 + −
s+1 s+3
Assim, sua representação na forma modal é facilmente obtida como a estrutura em paralelo apresentada na
Figura 7.8, que representa a soma das frações parciais.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 155
−1
ẋ2 R x2
−1
−3
O modelo no espaço de estado, obtido diretamente do diagrama da Figura 7.8, é dado por
Observe que os elementos da diagonal da matriz Am correspondem aos polos da função de transferência, o
que possibilita analisar diretamente a estabilidade do sistema, bem como suas demais propriedades dinâmicas
e modais (frequências naturais e fatores de amortecimento). Além disso, nessa forma modal, o sistema de
equações (7.20) está desacoplado, permitindo resolver cada equação de forma independente. Resolvendo esse
sistema, os estados x1 (t) e x2 (t) são respectivamente dados por
Z t
x1 (t) = e−t x1 (0) + e−(t−τ ) u(τ ) dτ, t≥0
0
Z t
−3t
x2 (t) = e x2 (0) + e−3(t−τ ) u(τ ) dτ, t≥0
0
Observação 7.7.2 A forma diagonal (modal) não é única. Para essa mesma função de transferência H(s),
uma diferente representação no espaço de estado modal, com matrizes B e C distintas, é apresentada no
Exemplo 7.5.1.
Observação 7.7.3 Note que a função de transferência H(s) foi manipulada usando diagramas de blocos para
obter a forma modal com a matriz A diagonal dada por (7.21). Esse desenvolvimento é limitado a sistemas SISO.
Alternativamente, como apresentado no Exemplo A.3.4 da Seção A.3.2, pode-se partir de qualquer realização
do sistema no espaço de estado e utilizar a transformação de similaridade dada pela matriz de autovetores para
obter essa mesma estrutura diagonal. Essa segunda abordagem é mais geral e aplica-se a tanto a sistemas SISO
como MIMO, assumindo evidentemente que o sistema tenha uma realização modal.
Suponha que a função de transferência H(s) tenha a seguinte decomposição em frações parciais:
c1 c2 cℓ cℓ+1 cn
H(s) = c0 + + 2
+ ··· + ℓ
+ + ··· +
s − p1 (s − p1 ) (s − p1 ) s − pℓ+1 s − pn
= c0 + H1 (s) + H2 (s) + · · · + Hℓ (s) + Hℓ+1 (s) + · · · + Hn (s)
U (s) 1 1 Yℓ (s)
c2
s s
p1 p1
c2
Figura 7.9: Diagrama de blocos de .
(s − p1 )2
A função de transferência H(s) será então composta pela conexão em paralelo dos blocos Hi (s), incluindo
todas as possíveis multiplicidades. Por exemplo, suponha que a função de transferência H(s) seja dada por
c1 c2 c3
(7.22) H(s) = + 2
+
s − p1 (s − p2 ) s − p3
Sua representação na forma canônica de Jordan está apresentada na Figura 7.10.
ẋ1 R x1
c1
p1
p2 p2
ẋ4 R x4
c3
p3
O modelo no espaço de estado é obtido diretamente do diagrama da Figura 7.10, como segue:
Portanto, para o exemplo acima, as matrizes AJ , BJ , CJ e DJ , na forma canônica de Jordan, são dadas por
p1 0 0 0 1
0 p 1
0 h i
2 0
(7.23)
AJ = , BJ = , CJ = c1 c 2 0 c3 , DJ = [0]
0 0 p2 0 1
0 0 0 p3 1
Quando uma matriz não for diagonalizável, o mais próximo que se pode esperar de uma matriz diagonal é
a forma canônica de Jordan (ver Seção A.3.4), em que o elemento não nulo da diagonal superior terá valor 1.
Perceba que a matriz AJ em (7.23) tem três blocos de Jordan: o primeiro de ordem 1, o segundo de ordem 2 e
o terceiro também de ordem 1, os quais estão apresentados de forma explicita abaixo:
J1 " #
p2 1
AJ = J = diag (J1 , J2 , J3 ) = J2 , J 1 = p1 , J 2 = , J 3 = p3
0 p2
J3
É oportuno enfatizar que nessa representação, a matriz de transição de estado tem a forma
eJ1 t
eJt =
eJ2 t
J3 t
e
em que a exponencial de cada bloco, dada por eJi t , é facilmente calculada, como pode ser vistos pelos Exercí-
cios 7.8.15 e 7.8.18.
A matriz da transformação de similaridade que relaciona essas duas representações é dada por
−2 5 0
T = 0 −2 0
0 0 4
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 158
Caso discreto
Assim como no caso contínuo, o cancelamento de polos e zeros também ocorre no caso discreto. Para ilustrar
isso facilmente, basta supor uma função H(z) tendo mesma forma que o H(s) anterior, ou seja
4z 3 − 12z 2 + 8z
H(z) =
z4 − 6z 3 + 12z 2 − 10z + 3
que, aparentemente, possui ordem quatro. Porém, foi visto que essa função tem a seguinte fatorização:
7.8 Exercícios
Exercício 7.8.1 Represente no espaço de estado o seguinte sistema de equações:
... ...
q (t) + 2 w (t) − ẅ(t) = 0
... ...
q (t) + w (t) + q(t) = u(t)
Assuma que os estados sejam x1 (t) = q(t), x2 (t) = w(t), x3 (t) = q̇(t), x4 (t) = ẇ(t) e assim sucessivamente.
Usando as matrizes (A, B, C, D) assim obtidas, determine a função de transferência H(s).
Exercício 7.8.2 Represente o sistema abaixo nas formas canônicas controlável, observável e de Jordan:
s2
H(s) =
s2 −1
Exercício 7.8.3 Considere uma função de transferência de segunda ordem H(s) com um par de polos complexos
conjugados, p1 = −σ + jω e p2 = −σ − jω, com os correspondentes resíduos c1 = λ + jγ e c2 = λ − jγ, ou seja,
λ + jγ λ − jγ
H(s) = +
s + σ − jω s + σ + jω
Mostre que a representação na forma canônica controlável de H(s) no espaço de estado é dada por
" # " #
0 1 0 h i
Ac = , B c = , C c = 2(λσ − ωγ) 2λ , Dc = [0]
−(σ 2 + ω 2 ) −2σ 1
Exercício 7.8.4 Determine as matrizes do modelo no espaço de estado do sistema do Exercício 7.8.3 anterior
na forma canônica observável.
Exercício 7.8.5 Mostre que a função de transferência do Exercício 7.8.3 anterior também tem a seguinte
representação no espaço de estado:
" # " #
−σ ω 0 h i
A= , B= , C = −2γ 2λ , D = [0]
−ω −σ 1
Exercício 7.8.6 Para os sistemas abaixo, derive o diagrama de blocos nas formas canônicas controlável, ob-
servável e de Jordan. Em seguida, determine as respectivas representações no espaço de estado.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 159
1. ẏ(t) = 2u(t)
10
2. H(s) =
s2 (s2 + 6s + 10)
10
3. H(s) =
(s + 3)2 (s2 + 6s + 10)
Exercício 7.8.7 Dado o diagrama de blocos da Figura 7.11 abaixo, derive a representação no espaço de estado
e a função de transferência correspondente. Em seguida, derive o diagrama de blocos na forma canônica de
Jordan e a respectiva representação no espaço de estado.
2λ
−σ −σ
−ω
Exercício 7.8.8 Considere o modelo simplificado de uma suspensão veicular, apresentado na Figura 7.12, em
que a saída y(t) é o deslocamento da massa m e a entrada w(t) é um sinal de distúrbio proveniente da via. Os
dados numéricos para esse sistema são: m = 10 Kg, c = 200 Ns/m e k = 1000 N/m. Represente esse sistema,
por diagramas de blocos, nas formas canônicas controlável, observável e de Jordan. Em seguida, determine os
respectivos modelos no espaço de estado.
y(t)
m
c k w(t)
Exercício 7.8.9 Usando uma frequência de amostragem fs = 10 Hz, discretize o modelo da suspensão veicular
acima, obtendo a sua função de transferência H(z) = Y (z)/W (z). Em seguida, apresente os diagramas de
blocos de H(z) nas formas canônicas controlável, observável e de Jordan, e determine os respectivos modelos
discretos no espaço de estado.
Exercício 7.8.10 Determine a função de transferência H(s) correspondente ao sistema descrito pelas seguintes
matrizes no espaço de estado:
1 1 0 0 h i
A = 0 1 0 , B = 1 , C= 2 1 3 , D=0
0 0 3 1
1. e0 = I;
deXt
2. = XeXt = eXt X;
dt
3. eX(t1 +t2 ) = eXt1 eXt2 ;
−1
4. eX = e−X ;
T T
5. eX = eX ;
7. Se |Y | 6= 0, então eY XY = Y eX Y −1 ;
−1
ẋ = Ax, x(t0 ) = x0
para uma condição inicial x(t0 ), que ocorre num instante de tempo t0 (não necessariamente nulo), é dada por
Exercício 7.8.13 Considere que α é um escalar e que a matriz A seja dada por
" #
0 α
A=
0 0
Exercício 7.8.14 Considere que λ é um escalar, I é a matriz identidade e X é uma matriz qualquer. Mostre
que
eλI+X = eλ eX
Exercício 7.8.15 Considere que α e λ são escalares e que a matriz A é dada por
" #
λ α
A=
0 λ
Exercício 7.8.16 Considere que λ, α, µ e γ são escalares e que matriz A é dada por
" #
λ α
A=
0 µ
Exercício 7.8.17 Mostre que a matriz de transição de estado eAt do sistema homogêneo ẋ(t) = Ax(t), sendo
A a matriz do Exercício 7.8.5, é dada por
" #
At −σt cos ωt sin ωt
e = e R(t), com R(t) =
− sin ωt cos ωt
A matriz R(t) acima é conhecida como matriz de rotação. É uma matriz que tem vasta aplicação na engenha-
ria, principalmente para representar a rotação de objetos no espaço. Essa matriz tem as seguintes propriedades:
det R = 1, R−1 = RT , Rn (t) = R(nt), entre outras.
−1
mostre que a inversa de (sI − J) é dada por
−1
s−λ −1 (s − λ)−1 (s − λ)−2 ··· (s − λ)−k
..
(s − λ)−1 ··· (s − λ)−k+1
−1
s−λ .
(sI − J) = = .. ..
..
.
.
−1 .
−1
s−λ (s − λ)
em que Fi é a matriz com 1 na i-ésima diagonal superior. Em seguida, mostre que a matriz de transição de
estado é dada por
2
tk−1
1 t t2 · · · (k−1)!
tk−2
1 t · · · (k−2)!
2 k−1
t t t k−3
eJt = eλt I + tF1 + F2 + · · · + Fk−1 = eλt
1 · · · (k−3)!
2 (k − 1)!
..
..
. .
1
Exercício 7.8.19 Usando o resultado do Exercício 7.8.18, mostre que a resposta y(t) do sistema dado no
Exercício 7.8.10 para uma entrada impulsiva e condição inicial x(0) = [ a b c ]T é
y(t) = et 1 + 2a + b + 3(1 + c)e2t + 2t + 2bt
1. A0 = I;
2. Ak+m = Ak Am ;
7. (P AP −1 )k = P Ak P −1 ;
Exercício 7.8.21 Considere que α é um escalar e que a matriz A seja dada por
" #
0 α
A=
0 0
Mostre que
I
, para k = 0
k
A = A , para k = 1
0 , para k ≥ 2
Este exercício mostra que a solução homogênea x(k) pode convergir a zero em tempo finito, o que não ocorre
no caso contínuo.
Exercício 7.8.22 Considere que α e λ são escalares e que a matriz A é dada por
" #
λ α
A=
0 λ
e assim derive as matrizes (A, B, C, D) de sua representação discreta no espaço de estado, tendo a forma:
Assuma que os estados sejam x1 (k) = q(k), x2 (k) = w(k), x3 (k) = q(k + 1), x4 (k) = w(k + 1) e assim
sucessivamente. Usando as matrizes (A, B, C, D) assim obtidas, determine a função de transferência H(z).
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 163
para uma condição inicial x(k0 ) = x0 , que ocorre num instante de tempo k0 (não necessariamente nulo).
para uma entrada u(k), tal que u(k) = 0 para k < k0 , e condição inicial x(k0 ) = x0 .
os autovalores λi da matriz A são os polos de H(z). Determine, assim, as condições sobre λi (A) para que o
sistema seja assintoticamente estável.
Exercício 7.8.30 Mostre que uma representação na forma canônica de Jordan da função transferência
1 1
H(z) = +
z + 1 (z + 1)2
é dada por " # " #
−1 1 0 h i
A= , B= , C= 1 1 e D=0
0 −1 1
Exercício 7.8.31 Mostre que é possível obter a representação equivalente à apresentada no diagrama de blocos
da Figura 7.7 usando como realimentação a saída do último bloco de atraso, ou seja, o estado x1 (k) ao invés
do sinal y(k). No mais, determine as matrizes A, B, C e D do modelo no espaço de estado.
uk
b3 − a 3 b0 b2 − a 2 b0 b1 − a 1 b0 b0
p1 x3 p2 x2 p3 x1
∆ ∆ ∆ yk
Referências Bibliográficas
8.1 Dinâmica, modelagem e vibrações
1. Dean C. Karnopp, Donald L. Margolis and Ronald C. Rosenberg. System Dynamics: Modeling and
Simulation of Mechatronic Systems, 2006.
2. Brown, F. T., Engineering System Dynamics, Marcel-Dekker, 2001.
3. Ogata, K., System Dynamics. New Jersey, Prentice-Hall, 1978.
4. Doebelin, E.O., System Modelling and Response. New York, Wiley, 1980.
5. L. G. Kraige, J. L. Meriam, Mecânica para Engenharia: Dinâmica. 6 Ed., Vol. 2. LTC, 2016.
6. Santos I. F., Dinâmica de Sistemas Mecânicos. Pearson, 2001.
7. Inman, D. J., Engineering Vibration, 2nd Edition, Prentice-Hall, 2001.
8. Thomson, W. T., Teoria da Vibração com Aplicações, Editora Interciência, 1978.
164
Apêndice A
Fundamentos Matemáticos
s = σ + jω
em que a parte real σ e a parte imaginária ω são número reais e j é a unidade imaginária com a propriedade
√
j 2 = −1, i.e. j = −1. A figura abaixo apresenta graficamente um número complexo s em sua forma polar.
Im
ω s
θ Re
σ
O ângulo θ = arg(s) é o argumento (o ângulo de fase em radianos) de s. Esse argumento só está definido
para s 6= 0. Considera-se como sendo positivo o sentido anti-horário do ângulo θ. Observe que o argumento de
um número complexo não é único, já que difere por um múltiplo inteiro de 2π, ou seja, se θ for um argumento
do número complexo s, então θ + 2πk, k ∈ Z, também será. O valor de arg(s) limitado ao intervalo (−π, π] é
denominado de argumento principal. Por outro lado, θ será denominado argumento mínimo positivo, se
for limitado ao intervalo [0, 2π). A Figura A.1 abaixo apresenta o ângulo θ e os argumentos principal e mínimo
positivo de ejθ .
4π
2π
−4π −2π 2π 4π
−2π θ
AP
AMP
−4π
Figura A.1: Ângulo θ e os argumentos principal (AP) e mínimo positivo (AMP) de ejθ .
165
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 166
s̄ = σ − jω
s = rejθ
√
em que r = σ 2 + ω 2 é o valor absoluto (o módulo) de s e θ = arg(s) é o argumento (o ângulo de fase em
radianos) de s.
Note que a expressão mais comum para o cálculo do ângulo, dada por θ = arctan(ω/σ) = tan−1 (ω/σ),
não considera o quadrante em que s se encontra, fornecendo assim −π/2 < θ ≤ π/2. Por outro lado, a
função arcotangente que considera todos os quatro quadrantes, fornecendo o argumento principal, é dada por
θ = atan2(ω, σ). Nesse caso, tem-se −π < θ ≤ π. A função atan2 pode ser definida como:
arctan(ω/σ), se σ > 0
arctan(ω/σ) + π, se σ < 0 e ω ≥ 0
arctan(ω/σ) − π, se σ < 0 e ω < 0
atan2(ω, σ) =
+π/2, se σ = 0 e ω > 0
−π/2, se σ = 0 e ω < 0
indefinido, se σ = 0 e ω = 0
Exemplo A.1.1 Seja o número complexo s = 4 + 3j. Então, o seu complexo conjugado é s = 4 − 3j e o seu
√
valor absoluto |s| = 42 + 32 = 5. Esse número complexo pode ser representado na forma exponencial com
s = 5ejθ e θ = arctan(3/4) ≈ 0.6435.
em que θ = atan2(ω, σ) é o argumento, o ângulo de fase em radianos no intervalo (−π, +π), do número complexo
λ. No mais, para γ = α + βI, tem-se
γ̄λn + γ λ̄n = 2(σ 2 + ω 2 )(n/2) α cos(nθ) + β sin(nθ)
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 167
As funções complexas são funções com valores complexos, definidas num subconjunto D dos números com-
plexos C, ou seja, F : D → C, com D ∈ C. Para um número complexo s = (σ + jω) ∈ D com σ, ω ∈ R, a função
F (s) pode ser escrita na forma
F (σ + jω) = R(σ, ω) + jV (σ, ω)
com R(σ, ω), V (σ, ω) ∈ R. As funções R(σ, ω) e V (σ, ω) são respectivamente denominadas de parte real e parte
imaginária da função F (s).
Considere a função F (s) dada por
(s + 2)(s + 5)
F (s) =
(s + 1)(s + 10)(s + 20)2
Os zeros dessa função são todos os valores de s tais que F (s) = 0. Portanto, s = −2 e s = −5 são os zeros de
F (s). Note que se forem considerados valores de s tais que |s| → ∞, tem-se que F (s) → s2 /s4 = 1/s2 . Assim,
surgem mais dois zeros em |s| → ∞. Por outro lado, os polos de uma função F (s) são os valores de s tais que
F (s) venha a ser indefinida. Para o exemplo acima, os polos são s = −1, s = −10, s = −20 e s = −20 (polo de
multiplicidade 2 em s = ±20).
Uma solução dessa equação diferencial é uma função φ(t) qualquer que satisfaça (A.3), ou seja, tal que
Claramente, se φ1 (t) e φ2 (t) são duas soluções de (A.3), então qualquer combinação linear α1 φ1 (t) + α2 φ2 (t),
com α1 e α2 escalares quaisquer, também será uma solução. Essa propriedade é conhecida como princípio da
superposição. Desta forma, existem infinitas soluções φ(t) que satisfazem (A.3). Porém, a equação diferencial
(A.3) terá no máximo n soluções linearmente independentes. Sempre é possível determinar um conjunto com n
soluções linearmente independentes, chamado de conjunto fundamental.
Suponha que sejam conhecidas n soluções linearmente independentes φi (t), com i = 1, . . . , n. Então, uma
solução qualquer y(t) de (A.3) pode ser descrita como uma combinação linear dessas n soluções linearmente
independentes, ou seja
Sabe-se que a função exponencial pode ser usada para se determinar o conjunto de soluções linearmente
independentes de (A.3). Para isso, assume-se inicialmente que a solução φ(t) tem a forma
φ(t) = eλt
Esse polinômio pn (λ), de grau n na variável λ, é denominado de polinômio característico da equação dife-
rencial linear homogênea (A.3). A equação pn (λ) = 0 é denominada de equação característica.
... d3 y(t)
1A notação y (n) (t) denota a n-ésima derivada de y(t). Por exemplo, para n = 3, tem-se y (3) (t) = y (t) = .
dt3
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 168
Do teorema fundamental da álgebra, consta que um polinômio de grau n possui n raízes λi . Caso todas
as raízes sejam distintas, as funções φi (t) = eλi t , com i = 1, . . . , n, serão linearmente independentes e podem
ser usadas, como enfatizado em (A.4), para formar um conjunto fundamental, ou seja, a base de uma solução
qualquer de (A.3). No entanto, pode ocorrer que as raízes de pn (λ) não sejam todas distintas e que algumas
sejam repetidas. Supondo que apenas r < n raízes sejam distintas, então a função eλt será capaz de fornecer
apenas r soluções linearmente independentes e, assim, será necessário complementar o conjunto determinando-
se outras n − r funções linearmente independentes. Pode-se mostrar que essas n − r funções restantes terão a
forma teλt , t2 eλt , t3 eλt , . . . . O Exemplo A.2.1 abaixo ilustra esse fato.
Exemplo A.2.1 Considere a seguinte equação diferencial de ordem 7 homogênea dada por:
φ1 (t) = e−t , φ2 (t) = te−t , φ3 (t) = t2 e−t , φ4 (t) = e−jt , φ5 (t) = te−jt , φ6 (t) = ejt , φ7 (t) = tejt
Consequentemente, qualquer solução da equação diferencial homogênea (A.5) pode ser expressa como uma com-
binação linear dessas sete soluções linearmente independentes, ou seja
A solução y(t) obtida no Exemplo A.2.1 acima é conhecida como solução geral da equação diferencial
homogênea, pois as constantes αi são arbitrárias, ou seja, é uma solução formada por qualquer combinação
linear de qualquer conjunto fundamental. Essas constantes são determinadas, uma vez que as condições iniciais
forem especificadas. O problema de valor inicial para (A.3) deve levar em consideração as suas n condições
iniciais, dadas por
em que as constantes c0 , c1 , . . . , cn−1 são fornecidas, geralmente provenientes da descrição do problema físico que
está sendo tratado. É oportuno enfatizar que uma vez especificadas as condições iniciais, só existirá uma única
solução y(t) que satisfaça (A.3) e ao mesmo tempo a condição inicial (A.6), como ilustrado no Exemplo A.2.2
abaixo.
Exemplo A.2.2 , Considere que a solução da equação diferencial do Exemplo A.2.1 deva também satisfazer
as seguintes condições iniciais:
1
y(t) = − e−t 2 + t + 3et sin t
2
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 169
limitados. Uma solução de (A.7), é um vetor φ(t) ∈ Rn que satisfaça a equação, ou seja, tal que φ̇(t) = A(t)φ(t).
Se φ1 e φ2 forem duas soluções de (A.7) e c1 e c2 forem dois números (complexos ou reais), então c1 φ1 + c2 φ2
também será uma solução de (A.7). Porém, dada uma condição inicial x0 = x(t0 ) para (A.7), existe apenas
uma única solução φ(t) que satisfaz (A.7) com φ(t0 ) = x0 .
Suponha que os vetores φ1 (t), . . . , φn (t) sejam n soluções linearmente independentes de (A.7). Então, cada
solução φ(t) de (A.7) pode ser expressa unicamente como
φ(t) = c1 φ1 (t) + c2 φ2 (t) + · · · + cn φn (t)
Definição A.2.1 Define-se como equação diferencial matricial associada ao sistema (A.7), o problema de
se determinar uma matriz X(t) de dimensão n × n, cujas colunas sejam soluções de (A.7), ou seja:
(A.8) Ẋ(t) = A(t)X(t)
Definição A.2.2 Se X(t) ∈ Rn×n for uma matriz cujas colunas são soluções linearmente independentes de
(A.7), então a matriz h i
X(t) = φ1 · · · φn
será denominada de matriz fundamental (matriz integral) de (A.7). Essa matriz claramente satisfaz (A.8).
Definição A.2.3 Seja X(t) uma matriz fundamental qualquer de (A.7). Então a matriz
Φ(t, t0 ) = X(t)X −1 (t0 ), para quaisquer t0 e t,
é conhecida como matriz de transição de estado de (A.7). Portanto, a solução de (A.7), para a condição
inicial x(t0 ), é dada por
x(t) = Φ(t, t0 )x(t0 )
Note que a matriz de transição de estado Φ(t, t0 ) é unicamente determinada por A(t) e é independente
da escolha particular da matriz fundamental X(t). No mais, a matriz Φ(t, t0 ) é a solução única da equação
diferencial matricial
d
(A.9) Φ(t, t0 ) = A(t)Φ(t, t0 ), Φ(t0 , t0 ) = I
dt
Se A(t) = A for uma matriz constante, então a matriz de transição de estado Φ(t, t0 ) será dada por
∞
X Ak (t − t0 )k
Φ(t, t0 ) = eA(t−t0 ) =
k!
k=0
(A.10) Ax = λx
O valor de λ tal que essa equação possui uma solução x 6= 0 é denominado de autovalor. A solução correspondente
x 6= 0 é o autovetor. Note que os autovetores não são únicos, pois se x for um autovetor associado ao autovalor
λ, então cx também será um autovetor associado ao mesmo autovalor para qualquer escalar c 6= 0. Portanto,
os autovetores são determinados a menos de um fator multiplicativo.
A equação (A.10) pode ser reescrita como
Portanto, só haverá uma solução não trivial x 6= 0, se a matriz característica λI − A for singular, ou seja, se a
seguinte equação característica for satisfeita:
|λI − A| = 0
Teorema A.3.1 (Cayley-Hamilton) Toda matriz quadrada A satisfaz sua equação característica, ou seja:
Perceba que o teorema de Cayley-Hamilton permite expressar a potência An como uma combinação linear das
potências inferiores: An−1 , An−2 , . . . , I.
A equação característica não é necessariamente a equação polinomial de menor grau que a matriz A satisfaz.
O polinômio de menor grau que tem A como raiz é denominado de polinômio mínimo. Portanto, o polinômio
mínimo µ(λ) de uma matriz A ∈ Rn×n é definido como o polinômio:
Em geral, o polinômio mínimo de uma matriz é o próprio polinômio característico, mas nem sempre esse é o
caso, como apresentado no Exemplo A.3.1.
Ambas matrizes possuem o mesmo polinômio característico, dado por ΛA1 (λ) = ΛA2 (λ) = λ2 + 6λ + 9. Porém,
o polinômio mínimo da matriz A1 é µA1 (λ) = λ + 3, enquanto o polinômio mínimo de A2 é µA2 (λ) = ΛA2 (λ).
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 171
Observação A.3.1 As seguintes afirmações são equivalentes: (i) λ é um autovalor da matriz A; (ii) λ é uma
raiz do polinômio característico Λ(λ); (iii) λ é uma raiz do polinômio mínimo µ(λ).
O teorema de Cayley-Hamilton pode ser usado para reduzir o grau de p(A), em que a matriz A tem dimensão
n × n e p(γ) é um polinômio qualquer de grau m ≥ n, descrito por
m
X
p(γ) = βℓ γ ℓ
ℓ=0
Pelo algoritmo da divisão polinomial, o polinômio p(γ) de grau m ≥ n pode ser decomposto como
em que Λ(γ) é o polinômio característico de grau n da matriz A, q(γ) é o quociente da divisão e r(γ) é o resíduo
da divisão, que tem grau máximo n − 1. Assim, define-se r(γ) por
n−1
X
r(γ) = αℓ γ ℓ
ℓ=0
ou seja
n−1
X
(A.11) p(A) = αℓ Aℓ
ℓ=0
Exemplo A.3.2 Suponha que se deseje reduzir a expressão p(A) = 2A3 − 3A2 + A − I em que a matriz A é
dada por " # " #
0 1 5 14
A= , que fornece p(A) =
2 3 28 47
Para usar a expressão (A.11), é preciso primeiro calcular o polinômio característico da matriz A, que nesse
caso é dado por
Λ(γ) = |γI − A| = γ 2 − 3γ − 2
Notando que p(γ) é dado por p(γ) = 2γ 3 − 3γ 2 + γ − 1, a divisão polinomial tem a forma
Consequentemente " #
5 14
p(A) = r(A) = 14A + 5I =
28 47
O teorema de Cayley-Hamilton também pode ser usado para demonstrar o método polinomial:
n−1
X
eAt = αℓ (t)Aℓ
ℓ=0
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 172
em que os coeficientes αℓ (t) são obtidos do sistema de equações lineares dado por
λ t
1 λ1 λ21 · · · λ1n−1 α0 (t) e 1
n−1
1 λ
2 λ2 · · · λ2 α1 (t) eλ2 t
2
λ23 · · · λ3n−1 α2 (t) = eλ3 t
(A.12) 1 λ3
.. .. .. . . .. .. ..
. . . . . . .
1 λn λ2n · · · λnn−1 αn−1 (t) eλ n t
Assim,
n−1
X
eAt = αℓ Aℓ
ℓ=0
Para obter o sistema de equações lineares (A.12), que fornece os coeficientes αℓ , basta agora perceber que se γ
for escolhido como sendo um autovalor da matriz A, ou seja, se γ = λi (A), então Λ(λi ) = 0, e consequentemente
n−1
X
(A.14) p(λi ) = αℓ λℓi
ℓ=0
Por outro lado, sabe-se que a função exponencial tem a seguinte expansão em termos de uma série infinita:
∞
X xℓ
ex =
ℓ!
ℓ=0
Ax = λx
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 173
Ax1 = λ1 x1
Ax2 = λ2 x2
.. ..
. .
Axn = λn xn
AΣ = ΣΛ
Se a matriz de autovetores Σ for inversível, então será possível diagonalizar a matriz A, já que
Λ = Σ−1 AΣ
Nesse caso, as matrizes A e Λ são ditas similares. Por outro lado, uma matriz A ∈ Rn×n que não for
diagonalizável, ou seja, cuja matriz de autovetores Σ não for inversível, é denominada de defectiva.
Exemplo A.3.3 Considere as matrizes A1 e A2 do Exemplo A.3.1. Como a matriz A1 já é diagonal, sua
matriz de autovetores é ΣA1 = I e, portanto, inversível. Já a matriz de autovetores da matriz A2 , dada por
" #
1 1
ΣA2 =
0 0
claramente não é inversível. Assim, não é possível diagonalizar a matriz A2 . A matriz A2 está na forma
canônica de Jordan, que é a representação “mais próxima” da forma diagonal possível de se obter, caso a matriz
não seja diagonalizável (seja defectiva).
Observação A.3.2 É importante lembrar, como já enfatizado no início desta seção, que os autovetores não são
únicos; qualquer autovetor pode ser multiplicado por um escalar não nulo para obter outro autovetor associado
ao mesmo autovalor. Assim, a decomposição em autovalores e autovetores também não é única, pois ela depende
da escolha específica dos autovetores utilizados na matriz Σ.
|λI − A| = 3 + 4λ + λ2 = (λ + 1)(λ + 3) = 0
com α e β números (complexos) não nulos. Desta forma, as respectivas matrizes de autovalores Λ e de autove-
tores Σ são dadas por
" # " # " #
−1 0 −α −β −1 1 −3/α −1/α
(A.17) Λ= e Σ= =⇒ Σ =
0 −3 α 3β 2 1/β 1/β
Observação A.3.3 Caso a matriz A tenha pares de autovalores complexos conjugados, eles aparecerão na
diagonal da matriz Λ. Isso implicará que a matriz de autovetores Σ também será complexa. Porém, é possível
obter uma decomposição real em que cada par complexo conjugado transforma-se num bloco-2×2 real na diagonal,
como mostra o Exemplo A.3.5.
Note que tanto Σ como Λ são matrizes complexas. Porém, é possível obter uma decomposição real, AΣ̄ = Σ̄Λ̄,
em que a diagonal principal de Λ̄ conterá a parte real do autovalor e a diagonal secundária a parte imaginária.
Para isso, basta realizar a seguinte transformação:
" # " #
−1 5 0 −1 −12 4
Σ̄ = ΣQ = , Λ̄ = QΛQ =
2 4 −4 −12
T = Σ−1
na forma modal
em que  = Σ−1 AΣ é uma matriz diagonal, B̂ = Σ−1 B, Ĉ = CΣ, D̂ = D e q(t) = Σ−1 x(t).
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 175
Observação A.3.4 Note que a Seção 7.7.3 apresenta uma abordagem alternativa para a obtenção da forma
modal (diagonal), que envolve essencialmente a manipulação da função de transferência H(s) por meio de
diagramas de blocos. Porém, essa abordagem é limitada a sistemas SISO.
Para essa matriz A, a matriz de autovetores Σ, obtida do Exemplo A.3.4 com α = −2 e β = 1, é dada por
" # " #
2 −1 −1 1 3 1
Σ= =⇒ Σ =
−2 3 4 2 2
Portanto, usando a matriz Σ−1 como transformação de similaridade, a nova representação no espaço de estado
fica sendo2
" # " #
−1 0 1 h i
−1 −1
 = Σ AΣ = , B̂ = Σ B = , Ĉ = CΣ = 2 −1 , D̂ = D = 1
0 −3 1
De acordo com o resultado do Exemplo A.3.5, as matrizes Σ e Λ são complexas. Assim, a forma diagonal usando
essas matrizes também será complexa. No entanto, foi demonstrado que é possível obter uma decomposição real
(porém não mais diagonal), na forma:
" # " #
−12 4 1 4 h i
−1 −1
 = Σ̄ AΣ̄ = , B̂ = Σ̄ B = , Ĉ = C Σ̄ = 23 −4 , D̂ = D = 7
−4 −12 20 −17
T −1 AT = J = diag (J1 , J2 , . . . , Jq )
em que a exponencial de cada bloco eJi t é facilmente calculada (ver Exercícios 7.8.15 e 7.8.18).
2 Note que as matrizes Â, B̂, Ĉ e D̂ coincidem com aquelas apresentadas em (7.21) na Seção 7.7.3.
3É oportuno enfatizar que os métodos para calcular a forma canônica de Jordan são numericamente mal condicionados. Porém,
do ponto de vista teórico, essa decomposição ilustra conceitos fundamentais.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 176
Observação A.3.5 Seja A ∈ Cn×n uma matriz complexa. Então, existe uma matriz não singular T ∈ Cn×n
tal que A = T JT −1 . Se A for real, com autovalores reais, então T pode ser escolhido real.
Observação A.3.6 Note que é possível ter múltiplos blocos de Jordan com os mesmos autovalores. Por exem-
plo, a matriz dada por
λ 0 0 0
0 λ 1 0
J =
0 0 λ 0
0 0 0 λ
possui três blocos de Jordan, todos tendo o mesmo autovalor λ; o primeiro de ordem 1, o segundo de ordem 2
e o terceiro também de ordem 1.
ATi = Ti Ji
verifica-se que
Avi1 = λi vi1 =⇒ (A − λi I)vi1 = 0
Portanto, a primeira coluna de Ti é um autovetor associado ao autovalor λi . Para os outros vetores vij com
j = 2, . . . , ni , tem-se
Os vetores vi1 , . . . , vini são denominados de autovetores generalizados. Esses vetores podem ser usados como
uma base para uma solução geral do sistema homogêneo
ẋ(t) = Ax(t)
Para isso, basta notar que para cada cadeia de Jordan de ordem ni , corresponderá ni soluções linearmente
independentes, tendo a forma
Observa-se que as trajetórias se desenvolvem na extensão linear (ou span) dos autovetores generalizados.
Os coeficientes dessa solução têm a forma p(t)eλi t , em que p(t) é um polinômio qualquer. Tais soluções são
chamadas de modos generalizados do sistema. Note que uma matriz fundamental X(t), do sistema homogêneo
ẋ(t) = Ax(t), pode ser composta pelas ni soluções correspondentes a cada um dos q blocos de Jordan, ou seja,
h i
X(t) = x11 · · · x1n1 x21 · · · x2n2 · · · xq1 · · · xqnq
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 177
Como visto na Seção A.2.1, uma solução x(t) qualquer do sistema homogêneo ẋ(t) = Ax(t) pode ser ex-
pressa pela combinação linear de n soluções linearmente independentes. Para esse fim, pode-se usar os modos
generalizados, mais precisamente, as colunas da matriz fundamental X(t), ou seja, x(t) = X(t)c, com o vetor c
a ser determinado pela condição inicial. Fazendo t = 0, tem-se x(0) = X(0)c e, assim, c = X −1 (0)x0 . Por fim,
a matriz de transição de estado pode ser calculada usando-se a expressão
Portanto,
x(t) = eAt x0 = X(t)X −1 (0)x0 = X(t)c, c = X −1 (0)x0
Exemplo A.3.8 Seja a matriz A, sua forma de Jordan J e a matriz de similaridade T , tal que AT = T J,
dadas por
4 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 −1
0 3 0 0 0 0 3 1 0 0 0 0 0 1 0
h i
A = −1 0 2 0 0 , J = 0 0 3 1 0 e T = T1 T2 T3 = 0 −1 0 0 1
−1 1 −1 3 0 0 0 0 3 0 0 −1 1 0 0
0 2 0 0 1 0 0 0 0 3 1 0 0 1 0
Assim, uma matriz fundamental X(t), tal que Ẋ(t) = AX(t), é dada por
t2
0 e3t e3t (t + 1) e3t 2 + t −e3t
3t
i 0 0 0 e 0
h
X(t) = x11 x21 x22 x23 x31 = 0 −e3t
t2 e3t
−te3t −
2 2 e3t
0 −e3t e3t (1 − t)
e3t t − t2 0
et 0 0 e3t 0
ẋ(t) = Ax(t)
pode ser descrita pela combinação linear das colunas da matriz X(t), ou seja,
x(t) = c11 x11 (t) + c21 x21 (t) + c22 x22 (t) + c23 x23 (t) + c31 x31 (t) = X(t)c
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Uma vez fornecida a condição inicial, o vetor c é diretamente obtido da expressão c = X −1 (0)x0 .
Para esse exemplo, a matriz de transição de estado, do sistema na forma de Jordan q̇ = Jq, é dada por
et 0 0 0 0
t2 e3t
0
e3t te3t 2 0
eJt
= 0 0 e3t te 3t
0
0 0 0 e3t 0
0 0 0 0 e3t
que fornece a matriz de transição de estado do sistema homogêneo ẋ = Ax, dada por
te3t (t+2)
e3t (t + 1) 2 te3t 0 0
0 e3t 0 0 0
2 3t
eAt = T eJt T −1 =
−te
3t
− t 2e −e3t (t − 1) 0 0
3t
− te (t−2)
−te3t 2 −te 3t
e 3t
0
0 e3t − et 0 0 et
Ambos sistemas estão relacionados pela mudança de variável x = T q. Note que a matriz de transição de estado
também pode ser calculada usando-se a matriz fundamental via a expressão eAt = X(t)X −1 (0).
RN (−T s)
e−T s ≈
RN (T s)
com
N
X (2N − k)!N !
RN (x) = xk
(2N )!k!(N − k)!
k=0
A Tabela A.1 apresenta essa aproximação para alguns valores de N e a Figura A.2 apresenta a resposta ao
degrau para as aproximações de Padé de ordem 2 (G2 ), de ordem 5 (G5 ) e de ordem 30 (G30 ), com T = 1.
2 − sT
1
2 + sT
12 − 6sT + (sT )2
2
12 + 6sT + (sT )2
120 − 60sT + 12(sT )2 − (sT )3
3
120 + 60sT + 12(sT )2 + (sT )3
1680 − 840sT + 180(sT )2 − 20(sT )3 + (sT )4
4
1680 + 840sT + 180(sT )2 + 20(sT )3 + (sT )4
30240 − 15120sT + 3360(sT )2 − 420(sT )3 + 30(sT )4 − (sT )5
5
30240 + 15120sT + 3360(sT )2 + 420(sT )3 + 30(sT )4 + (sT )5
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 179
1.5
Amplitude
0.5
0 e−s
G2
G5
−0.5 G30
−1
0 0.5 1 1.5 2
Tempo (s)
Figura A.2: Resposta ao degrau para as aproximações de Padé de ordem 2, 5 e 30, com T = 1.
em que y(t) denota o conjugado de y(t). Pode-se mostrar que o produto interno satisfaz as seguintes proprie-
dades:
4. hx(t), x(t)i ≥ 0
O produto interno é utilizado para definir ortogonalidade entre sinais. A função x(t) será ortogonal à função
y(t) se o produto interno for nulo, ou seja, se
hx(t), y(t)i = 0
Seja um sinal x(t) contínuo por partes. Sua norma deve satisfazer:
1. kx(t)k ≥ 0
2. kx(t)k = 0 ⇐⇒ x(t) = 0
O produto escalar pode ser usado para definir uma norma. A norma induzida pelo produto interno é dada
por Z
p ∞
2
kx(t)k = hx(t), x(t)i =⇒ kx(t)k = |x(t)|2 dt
−∞
Exemplo A.5.1 Suponha que o sinal x(t) é a corrente através de um resistor de 1Ω. Então, a potência
2
instantânea é dada por |x(t)|2 e a energia total é a integral dessa potência, ou seja, kx(t)k2 .
Exemplo A.5.2 Seja x(t) = (1 − e−t ) para t ≥ 0 e x(t) = 0 para t < 0. Então
Se esse valor for finito, então o valor rms do sinal será definido como
Z !1/2
T /2
1
pow(x) = rms(x) = lim |x(t)|2 dt
T →∞ T −T /2
Observe que o valor rms não é uma norma, já que um sinal x(t) 6= 0 pode ter valor pow(x) = 0.
Exemplo A.5.3 Se kx(t)k2 < ∞, então x(t) será um sinal de potência nula, ou seja, pow(x) = 0.
Prova. Note que
Z T /2 Z ∞
1 1 1 2
|x(t)|2 dt ≤ |x(t)|2 dt = kx(t)k2
T −T /2 T −∞ T
Assim, como kx(t)k2 < ∞ por hipótese, o lado direito tende a zero com T → ∞ e portanto conclui-se que
pow(x) = 0.
∞
!1/2
X
kx(k)k2 = |x(k)|2
k=−∞
Uma forma de se aproximar numericamente essa integral é dividir o intervalo de integração [a, b] em N subin-
tervalos de mesma largura T = (b − a)/N . Dessa forma, uma aproximação para a integral é obtida como a soma
de áreas de retângulos dada por
Z b N
X −1
f (t) dt ≈ f (ti )T
a i=0
Observação A.6.1 Note que apesar da presença do termo T multiplicando a somatória, quando T → 0 a
aproximação não tende a zero. Isso ocorre pois T = (b − a)/N e, portanto, cada termo da soma fica sendo
f (ti )(b − a)/N . Agora, somando N desses termos, tem-se N f (ti )(b − a)/N = f (ti )(b − a). No mais, quando
T → 0 o número de termos N → ∞. Nesse caso, os retângulos f (ti )(b − a)/N ficam cada vez mais finos.
Consequentemente, f (ti ) se aproxima cada vez mais do valor real de f (t) em cada subintervalo de largura T .
De fato, pode-se provar que essa aproximação converge para a integral (a área) exata quando T → 0.
Exemplo A.6.1 Suponha que se deseje aproximar a seguinte integral de convolução num intervalo [a, b]:
Z b
h(τ )x(t − τ ) dτ
a
Primeiro, é preciso perceber que essa expressão fornece uma área que depende da variável t. Assim, a aproxi-
mação dessa integral resultará numa expressão que também dependerá de t.
Para obter a aproximação, escolhe-se o número de subintervalos N de largura T = (b − a)/N . Seja f (τ ) =
h(τ )x(t − τ ) e defina τi = a + iT . Assim, tem-se
Z b N
X −1 N
X −1 N
X −1
h(τ )x(t − τ ) dτ ≈ f (τi )T = h(τi )x(t − τi )T = T h(a + iT )x(t − (a + iT ))
a i=0 i=0 i=0
Y (z) = F (z)X(z)
Lembrando agora que a transformada Z do impulso unitário x(k) = δ(k) é X(z) = 1, tem-se
Percebe-se, portanto, que para calcular f (k) basta calcular a resposta ao impulso da função F (z).
Por exemplo, suponha que F (z) seja dada por
2z + 3
(B.1) F (z) =
z2 + 1.4z + 0.5
182
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 183
y(0) = 0, y(1) = 2.0, y(2) = 0.2, y(3) = −1.28, y(4) = 1.6920, y(5) = −1.7288, . . .
k
0 5 10 15 20
−1
Y (z) = F (z)X(z)
Para simplificar a exposição do método em consideração, será usada a função (B.1) da seção anterior, dada por
b1 z + b 2
F (z) = , b1 = 2, b2 = 3, a1 = 1.4, a2 = 0.5
z 2 + a1 z + a2
Dessa forma, tem-se
Note que essa equação é composta pela soma de duas parcelas: uma função de Z[·] e a outra função das condições
iniciais. Portanto, a equação de diferenças a ser resolvida é dada por
Como essa equação deve ser satisfeita para todas as potências de z, de forma independente, tem-se
em que foi usado o fato de que x(0) = 1, já que x(k) é um impulso. Observe que a condição inicial é escolhida
de tal forma que sua contribuição seja nula, já que f (k) = y(k) é dada apenas pela resposta ao impulso.
Resumindo, a equação de diferenças a ser resolvida é dada por
com x(k) = δ(k). Essa equação pode agora ser resolvida facilmente através de um algoritmo numérico recursivo,
como, por exemplo, o descrito abaixo:
N = 20;
y = [0 2 zeros (1 ,N -2) ];
for i = 1: N ,
y ( i +2) = -1.4* y ( i +1) -0.5* y ( i ) + 3*( i ==1) ;
end
Observação B.1.1 Os dois métodos computacionais apresentados acima fornecem apenas a sequência {f (k)}.
Para se obter uma solução analítica, pode-se calcular a inversa de F (z) usando a expansão em frações parciais
ou ainda calcular uma solução de forma fechada da respectiva equação de diferenças. Por exemplo, a solução
da equação de diferenças de segunda ordem não homogênea (B.3) é dada pela soma das soluções homogênea e
forçada. A solução homogênea (como descrito na Seção 4.3.4) é dada por
com λ1 = (−7 + j)/10, λ2 = (−7 − j)/10 e θ = π − tan−1 (1/7). Já a solução forçada para o impulso é dada por
cujo gráfico está apresentado na Figura B.2. Sua transformada bilateral F̂ (s) é dada por
2
(B.5) F̂ (s) = −
s2 −1
cuja região de convergência é −1 < Re(s) < 1. Por outro lado, a transformada unilateral de (B.4), está definida
apenas para t ≥ 0 e considera apenas o termo e−t µ(t). Ela é expressa por
1
F (s) = L[f (t)] = L[e−t µ(t)] =
s+1
tendo como região de convergência Re(s) > −1.
f (t) h(t)
1
t
0.8 −4 −2 2 4
0.6 −20
0.4
−40
0.2
t −60
−6 −4 −2 2 4 6
Figura B.2: Gráfico da função f (t) = e−|t| . Figura B.3: Gráfico da função h(t) = −2 sinh(t).
cujo gráfico está apresentado na Figura B.3. Sua transformada unilateral, na região de convergência Re(s) > 1,
fornece:
2
L[h(t)] = L[(e−t − et )µ(t)] = − 2
s −1
que é idêntica à expressão (B.5), obtida como sendo a transformada bilateral de (B.4).
Um outro exemplo é a expressão na frequência F (s) = 1/(s + α) que corresponde à transformada bilateral
de f (t) = e−αt µ(t), na região de convergência Re(s) > −α, ou à transformada bilateral de f (t) = −e−αt µ(−t),
na região de convergência Re(s) < −α. Esse exemplo demonstra a importância de se considerar a região de
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 187
convergência quando se utiliza a transformada bilateral, já que duas funções distintas podem ter a mesma F (s),
porém a região de convergência necessariamente será diferente.
Quando a função for zero para t < 0, a transformada bilateral e a unilateral coincidem, tendo a mesma região
de convergência. As transformadas divergem apenas se a função não for zero para t < 0. Assim, é essencial
determinar se a transformada usada foi unilateral ou bilateral, e nesse caso sua região de convergência, pois isso
influencia diretamente a análise dos resultados.
A transformada bilateral é necessária para análises que envolvam funções definidas em todo o eixo do tempo,
em especial para a análise de sistemas não causais. No entanto, em sistemas físicos causais, a transformada
unilateral é frequentemente preferida quando os sinais envolvidos são zero para t < 0, já que o cálculo de
sua transformada inversa é direto. A escolha entre as transformadas depende, portanto, das características do
sistema e das necessidades específicas da análise em questão.
Assumindo que todos os polos pi são estáveis, ou seja, que Re[pi ] < 0, a resposta em regime permanente
passa a ser
yss (t) = lim y(t) = ae−jωt + āejωt
t→∞
em que os resíduos a e ā são obtidos de
ω −H(−jω)
a = Y (s)(s + jω) = H(s) (s + jω) =
s=−jω s2 + ω 2 s=−jω 2j
ω H(jω)
ā = Y (s)(s − jω) = H(s) 2 (s − jω) =
s=jω s + ω2 s=jω 2j
Notando que
H(jω) = |H(jω)|ejφ e H(−jω) = |H(jω)|e−jφ
tem-se
−H(−jω) −jωt H(jω) jωt ej(ωt+φ) − e−j(ωt+φ)
yss (t) = e + e = |H(jω)| = |H(jω)| sin(ωt + φ)
2j 2j 2j
que é exatamente o resultado obtido em (6.9).
1 A hipótese de polos distintos é feita por simplicidade na exposição. O resultado final em regime permanente é o mesmo, pois
todos os termos associados a polos estáveis decaem a zero, quando t → ∞, independente de serem distintos ou múltiplos.
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 188
H1 (s)
X(s) Y (s) X(s) Y (s)
=⇒ H(s)
H2 (s)
Y = H1 X + H2 X = (H1 + H2 )X
H = H1 + H 2
2. Considere agora o diagrama que representa a conexão em série de duas funções de transferência H1 e H2 .
Y = H2 Z e Z = H1 X
Y = H2 H1 X
H = H2 H 1
3. Considere agora um caso mais complexo, que representa uma malha de realimentação (ou retroalimenta-
ção), também denominada de feedback.
Para determinar a função de transferência equivalente H, basta seguir o fluxo do sinal através do diagrama.
Assim, tem-se que os sinais E e Y são respectivamente dados por
E = X − H2 Y e Y = H1 E
No Matlab, as conexões acima podem ser facilmente realizadas. Por exemplo, para H1 e H2 dados por
2 5s2 − 2
H1 (s) = e H2 (s) =
s+3 2s2 + 3s
as conexões em paralelo, em série e em feedback podem ser obtidas através dos seguintes comandos:
n1 = [0 2]; % Define o numerador de H1
d1 = [1 3]; % Define o denominador de H1
% Define a função de transferência H1
H1 = tf ( n1 , d1 ) ;
% Define o numerador e denominador de H2
n2 = [5 0 -2];
d2 = [2 3 0];
% Define a função de transferência H2
H2 = tf ( n2 , d2 ) ;
% Realiza a conexão em paralelo de H1 e H2
Hp = parallel ( H1 , H2 ) ;
% Realiza a conexão em série de H1 e H2
Hs = series ( H1 , H2 ) ;
% Realiza a conexão em feedback de H1 e H2
Hf = feedback ( H1 , H2 ) ;
em que y(0) é a condição inicial, que deverá ser fornecida no momento da simulação numérica do bloco.
Como a equação diferencial é de 2ª ordem, serão necessários dois integradores, como ilustrado abaixo.
Notando agora que a equação diferencial (B.6) pode ser equivalentemente escrita como
1
ÿ(t) = u(t) − cẏ(t) − ky(t)
m
é fácil perceber que sua representação por diagrama de blocos tem a forma apresentada na Figura B.5.
Figura B.5: Representação por diagrama de blocos de mÿ(t) + cẏ(t) + ky(t) = u(t).
É oportuno enfatizar que é possível simular esse diagrama de blocos usando o Simulink do Matlab, que é
um ambiente para construção e simulação de sistemas dinâmicos multi-domínio. A Figura B.6 apresenta um
printscreen do diagrama de blocos acima editado no ambiente Simulink.
yk+2 yk+1 yk
∆ ∆
Notando agora que a equação a diferenças (B.7) pode ser reescrita de forma equivalente como
é fácil perceber que sua representação por diagrama de blocos tem a forma apresentada na Figura B.8.
yk+2 yk+1
uk ∆ ∆ yk
− −
a1
a2
Figura B.8: Representação por diagrama de blocos de y(k + 2) + a1 y(k + 1) + a2 y(k) = u(k).
Y (s) 1
(B.8) H(s) = =
U (s) ms2 + cs + k
não é necessário usar o ambiente Simulink, pode-se usar diretamente a linha de comando do Matlab, como
apresentado no código abaixo:
% Define os dados numéricos
m = 1/2; c = 1; k = 50;
% Define a função de transferência H ( s )
H = tf ([1] ,[ m c k ])
% Obtém a resposta ao impulso (6 segundos )
[ y1 , t1 ] = impulse (H ,6) ;
% Obtém a resposta ao degrau (6 segundos )
[ y2 , t2 ] = step (H ,6) ;
% Obtém a resposta ao seno com w =10 rad / s
t = 0:0.05:6; % gera o vetor de tempo (6 segundos )
u = sin (10* t ) ; % gera a entrada u ( t )
% Obtém a resposta ao seno (6 segundos )
[ y3 , t3 ] = lsim (H ,u , t ) ;
% Gera um gráfico com as três respostas
plot ( t1 , y1 , 'b - ' ,t2 , y2 , 'k - - ' ,t3 , y3 , 'r -. ') , grid
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 192
legend ( ' Impulso ' , ' Degrau ' , ' Seno ')
xlabel ( ' Tempo ( segundos ) ')
ylabel ( ' Amplitude ')
title ( ' Sistema massa - mola amortecido ')
A figura abaixo, apresenta a resposta ao impulso, ao degrau e ao seno, da função de transferência (B.8), do
sistema mecânico massa-mola-amortecedor.
0.1
Amplitude
0.05
-0.05
-0.1
-0.15
0 1 2 3 4 5 6
Tempo (segundos)
k c 1
ÿ(t) = − y(t) − ẏ(t) + u(t)
m m m
é necessário representá-la como um sistema de equações de primeira ordem, definindo as variáveis x1 = y e
x2 = ẏ, como segue:
ẋ1 = ẏ = x2 x1 x2
k c 1
ẋ2 = ÿ = − y − ẏ + u
m m m
function dx = sistema1glode (t , x )
% Define os dados numéricos
m = 1; c = 1; k = 1;
% Gera a entrada u ( t )
u = sin (10* t ) ;
% Define o sistema de equações de primeira ordem
dx (1) = x (2) ;
dx (2) = -k / m * x (1) -c / m * x (2) + u / m ;
end
1
sin(t)
0.8 x1
x2
0.6
0.4
Amplitude
0.2
-0.2
-0.4
-0.6
-0.8
-1
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Tempo (sec)
ẋ = Ax + Bu
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 194
function dx = sistema1glode (t , x )
m = 1; c = 1; k = 1;
u = sin ( t ) ;
A = [ 0 1
-k / m -c / m ];
B = [0 1/ m ] ';
dx = A * x + B * u ;
end
Evidentemente, nada muda em relação ao comando que deve ser executado na linha de comando do Matlab
para integrar esse sistema:
ẋ = Ax + Bu
y = Cx + Du
Para isso, é preciso definir a saída y do sistema. Suponha que se deseje medir o deslocamento da massa x1 e o
sinal cx2 − u, ou seja: " # " # " #" # " #
y1 x1 1 0 x1 0
y= = = + u
y2 cx2 − u 0 c x2 −1
Assim, as matrizes C e D são dadas por
" # "#
1 0 0
C= e D=
0 c −1
Agora, a resposta (de 0 a 10 segundos) para a condição inicial x1 (0) = 1 e x2 (0) = −1, para o impulso e para a
entrada em degrau são obtidos como segue:
É oportuno enfatizar que é possível utilizar todos os comandos mencionados anteriormente: step, impulse,
lsim, etc.. Por exemplo, para obter a resposta completa para a entrada u(t) = cos(5 sin2 (t)) e condição inicial
x(0) = [1 − 1]T , basta usar o comando lsim() como segue:
t = 0:0.01:10;
u = cos (5* sin ( t ) .^2) ;
[y ,t , x ] = lsim (H ,u ,t ,[1 -1] ') ;
1 1.2
x1
0.8 x2 1
0.6 0.8
Amplitude
Amplitude
0.4 0.6
x1
x2
0.2 0.4
0 0.2
-0.2 0
-0.4 -0.2
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10
Tempo (sec) Tempo (sec)
h i′
As figuras abaixo apresentam, respectivamente, a resposta à condição inicial x0 = 1 −1 e a resposta
completa à entrada u(t) = cos(5 sin2 (t)) e condição inicial x0 .
1 1
x1 u
x2 x1
x2
0.5 0.5
Amplitude
Amplitude
0 0
-0.5 -0.5
-1 -1
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10
Tempo (sec) Tempo (sec)
A seguir é apresentada uma descrição sucinta do método de integração de Euler para a resolução de uma equação
diferencial ordinária.
O método de integração de Euler para a equação diferencial de 1ª ordem
dx(t)
x(t) = x(t0 ) + ∆t = x(t0 ) + f (x(t0 ), t0 )∆t
dt t=t0
com ∆t o passo de integração. Essa equação pode ser rescrita numa notação mais compacta como
Como exemplo de aplicação do método de integração de Euler, suponha que se deseje integrar a equação
diferencial do circuito RC dada por
Assumindo que a escala de tempo está sendo discretizada usando-se o período ∆t = t − t0 , o método de
Euler fornece a seguinte recursão:
0.15 0.15
xAnalítico xAnalítico
0.1 xEuler 0.1 xEuler
v(t)
v(t)
0.05 0.05
0 0
−0.05 −0.05
0 5 10 15 0 5 10 15
t t
É possível aplicar o método apresentado para um sistema de ordem superior. Basta descrevê-lo no espaço
de estado. Por exemplo, para o sistema de 2ª ordem
x = y, v = ẏ
Prof. Camino, J. F. Análise Linear de Sistemas 197
ẋ = f1 (x, v, t) := v
v̇ = f2 (x, v, t) := −ωn2 x − 2ζωn v + ωn2 g(t)
A figura abaixo apresenta o estado x(t), a solução y(t) do sistema (B.11), para ζ = 0.3, ωn = 10, g(t) =
cos(2t) e condições iniciais y0 = −2 e ẏ0 = −35. A linha vermelha representa a solução analítica e a linha azul
a solução numérica dada usando-se a recursão (B.12), com ∆t = 0.03 (gráfico da esquerda) e ∆t = 0.01 (gráfico
da direita).
4 3
2
2
1
x(t)
x(t)
0
0
−1
−2
−2
xAnalítico xAnalítico
−3
xEuler xEuler
−4 −4
0 2 4 6 0 2 4 6
t t