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Cura Gay

O documento discute a controvérsia em torno da 'cura gay' e da 'ideologia de gênero' no Brasil, destacando a condenação da terapia de reversão sexual pelo código de ética da psicologia e o impacto de debates políticos sobre a sexualidade. A pesquisa analisa a relação entre sexualidade, direitos humanos e a posição da psicologia, enfatizando a necessidade de uma formação acadêmica que aborde essas questões. Através de uma análise crítica, o texto propõe que a psicologia deve se posicionar em defesa dos direitos e da dignidade das pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

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Cura Gay

O documento discute a controvérsia em torno da 'cura gay' e da 'ideologia de gênero' no Brasil, destacando a condenação da terapia de reversão sexual pelo código de ética da psicologia e o impacto de debates políticos sobre a sexualidade. A pesquisa analisa a relação entre sexualidade, direitos humanos e a posição da psicologia, enfatizando a necessidade de uma formação acadêmica que aborde essas questões. Através de uma análise crítica, o texto propõe que a psicologia deve se posicionar em defesa dos direitos e da dignidade das pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

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III CONGRESSO DE PSICOLOGIA: as diversas faces do cuidar.

De 26 a 28 de abril de 2018. Belém – PA/


HANGAR – Centro de Convenções da Amazônia
Volume 03 – ISSN: 2526-527X
CADERNO DE TRABALHOS COMPLETOS
http://revistas.unama.br/index.php/anaispsicologia/index

CURA GAY? IDEOLOGIA DE GÊNERO? PSICOLOGIA, PARA QUÊ E PARA


QUEM?
SORDI, Bárbara Araújo
[email protected]
VALENTE, Márcio
LIMA, Maria Lúcia

INTRODUÇÃO
Muito se fala de cura gay, de ideologia de gênero, às vezes, sem compreender
de que tais assuntos se tratam e quais suas origens. A terapia de “reversão sexual”
seria um tratamento ofertado para curar e reorientar uma identidade ou orientação
sexual, tida como nociva ao sujeito, isto é, patológica, por se enquadrar fora do padrão
normativo.
Embora a “reversão sexual”, popularmente intitulada de “cura gay”, seja,
atualmente, uma prática condenada pelo código de ética de psicologia, eventualmente
torna-se pauta de debate no cenário brasileiro. Dentre os mais recentes, em 2009,
houve caso público de uma psicóloga que, amparada por uma instituição religiosa,
realizava e defendia o tratamento curativo para gays e lésbicas; em 2011, um projeto
de Lei (Projeto 234/11) de autoria do Deputado João Campos (PSDB) que visava vetar
a aplicação do parágrafo único do art. 3º e 4º, da Resolução do Conselho Federal de
Psicologia que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à
questão da orientação sexual, o qual foi arquivado; e, mais recente, em 2017, quando
o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho concedeu uma liminar que deliberava que o
Conselho Federal de Psicologia não podia impedir de promover estudos, pesquisas
ou atendimentos sobre reorientação sexual, acreditando que a resolução do Conselho
seria um ato de censura que impedia os psicólogos a atuar diante da questão da
homossexualidade.
Não distante, atualmente tem se disseminado o termo “ideologia de gênero”,
desta vez, relacionado a uma suposta proposta pedagógica que busca impor uma
desconstrução de valores e associações que envolvem o feminino e masculino, sendo
acusados de causar uma confusão na cabeça das crianças e jovens, influenciando-os
a homossexualidade. Desta forma, projetos de lei em vários municípios tem tramitado
proibindo a veiculação de materiais que abordem sexualidade e diversidade sexual

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em escolas, bem como discute-se que a temática da sexualidade estaria relacionada


a determinados polos políticos, criando-se uma proposta de Escola Sem Partido.
Obviamente tais debates estão envoltos em relações de poder, o que faz
importante pontuar que o cenário político brasileiro, após impeachment da presidenta
democraticamente eleita, encontra-se fragilizado diante de medidas que afetam
diretamente a vida dos trabalhadores, como a reforma trabalhista e previdenciária, a
proposta de desmonte do SUS, como da retirada de disciplinas de Filosofia e
Sociologia das Universidades públicas, além de contar com uma bancada, de
deputados e senadores, composta por representantes conservadores religiosos, os
quais realizam propostas que vão de encontro com laicidade da Constituição Nacional,
embora tenha apelo popular para uma determinada parcela da sociedade.
É diante deste cenário que psicólogos e estudantes de psicologia são
chamados a se posicionar, sendo, portanto, necessário um aparato acadêmico que
problematize tais questões, relacionando-as com as diretrizes do Conselho de Ética
de Psicologia, da Constituição Federal, bem como de Direitos Humanos, contribuindo
de forma teórica e prática à formação de psicologia.

OBJETIVO
Para tal problematização, questionou-se: afinal, o que é cura gay? o que é
ideologia de gênero? Qual o papel da psicologia neste debate? Queremos que a
Psicologia esteja a serviço do quê e de quem?

METODOLOGIA:
Com fim de discorrer sobre tais perguntas, inicialmente será apresentada
breves considerações sobre sexualidade e direitos humanos, em seguida, irá se
problematizar o conceito de ideologia de gênero e suas implicações no cenário
brasileiro, posteriormente será apresentada a posição do Conselho de Psicologia em
relação a cura gay, para, por fim, refletir sobre a Psicologia enquanto ciência e
profissão e seu papel no debate de gênero.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Sexualidade e Direitos Humanos

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É sabido que há uma gama de abordagens que discorrem sobre a temática da


sexualidade, seja ela jurídica, religiosa, ou de áreas do saber, como a psicologia,
psicanálise, medicina e ética. Neste tópico, entretanto, será abordado sobre a
concepção de direito democrático à sexualidade e, para tal, faz-se necessário uma
breve explanação sobre a noção de normal e patológico quanto à sexualidade sob a
ótica de Michael Foucault.
Ao longo da história, é notória a existência de sexualidades – seja pela
identidade e sua expressão, seja por suas práticas e orientação sexual – as quais
serão expurgadas ou identificadas como um desvio à norma, uma patologia, uma
perversão. Foucault, em seu estudo sobre a sexualidade, mostra o quanto a partir de
XIX, houve uma incitação de discursos que fazem com que o sexo passe a ter uma
importância excessiva e se tornasse um lugar de conhecimento e poder, no qual
ciências como a medicina, a psicologia, bem como as leis e políticas do estado,
passaram a uma análise minuciosa e exaustiva de seu papel, criando-se uma ciência
do sexo.
Para o autor, o controle e a disciplina passam a estar associados à gestão dos
corpos, em que organizar e gerir a vida são aspectos fundamentais, e a função
biológica, leia-se o sexo, se torna um elemento ímpar para mecanismos de poder.
Desta forma, a sexualidade infantil e o corpo da mulher passam ser vigiados por
diversas instâncias, além de se iniciar um processo de psiquiatrização do prazer
considerado perverso, isto é, àquele que fugia as normas sociais da reprodução.
Masturbação, sodomia, entre outras práticas passam a ser categorizadas como
desviantes e improdutivas, surgindo um modelo de sexualidade patológica, dentre
elas, surge à criação do conceito de homossexualismo como uma categoria científica.
É importante ressaltar que os padrões de masculinidade e feminilidade,
associados a biologia, também são uma construção social e política que nascem no
século XVIII e se edificam no século XIX. Características como docilidade, fragilidade,
passividade e cuidado foram associadas ao sexo feminino, relegando com que as
mulheres ficassem restritas ao espaço privado, ao passo que virilidade, objetividade,
inteligência e espaço social foram destinadas ao sexo masculino, utilizando-se do
determinismo biológico para manutenção do poder político e social aos moldes
patriarcais (Laqueur, 1999).

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O advento da pílula anticoncepcional e a organização dos movimentos sociais


trouxeram um grande avanço para mulheres cis e homossexuais. Apesar da
estigmatização decorrente da concepção de grupo de risco na epidemia da aids, que
disseminou a ideia de “peste gay” e de sexo transgressor, fora do casamento, como
um sexo nocivo associado às mulheres perigosas (as prostitutas), o que se observa é
maior organização social a fim de lutar contra preconceitos e pelas conquistas de
direitos (Áran, 2001).
No Brasil, o movimento de Reforma Sanitária, Luta Antimanicomial e Diretas já,
foram essenciais para o estabelecimento de um sistema democrático. A Constituição
do Brasil, promulgada em 1988 e chamada de “Constituição Cidadã”, tem suas
diretrizes fundamentadas nos tratados e documentos internacionais que preconizam
e defendem os Direitos Humanos. Neste documento, já se encontra no primeiro artigo
o fundamento da República Federativa: “a dignidade da pessoa humana”. Há o
destaque para o Art.5, que legisla sobre os Direitos Fundamentais, que afirma a
igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, e que, além de
ser livre a manifestação de pensamento, ninguém poderá ser submetido à tortura, nem
a tratamento desumano ou degradante.
Cabe ressaltar que democracia e cidadania, além de pautas comuns aos
movimentos sociais contemporâneos, não são restritas ao status jurídico, mas a
compreensão de que estão diretamente relacionadas a inclusão social, econômica,
política e cultural (Rios, 2006).
A psiquiatrização/patologização ultrapassaram o século XIX e, embora tenham
ocorrido inúmeras mudanças, verifica-se a permanência de diagnósticos de desvios
relacionados a sexualidade, especialmente àqueles que desviam da norma esperada.
Judith Butler, filósofa americana, influenciada por autores como Foucault,
problematiza ao que chama de coerência entre sexo anatômico, desejo sexual e
identidade de gênero, que – segundo ela – é inscrito compulsoriamente e
constantemente nos corpos, anterior mesmo ao nascimento. Para a autora, tudo que
se afasta da coerência é afastado e tido como abjeto, ficando além de direitos e
sofrendo preconceitos.
Se somente em 1992 a homossexualidade deixou de ser considerada como
transtorno pelos manuais psiquiátricos, atualmente há um intenso debate sobre a
identidade das pessoas trans, ainda classificadas como com disforia de gênero ou

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transtorno de personalidade. Tais classificações, vistas como práticas discursivas, são


dispositivos que se somam a uma rede capilar, cujo resultado ainda é observado hoje
na violência, seja homofobica ou transfobica, geram, além de sofrimento psíquico, a
materialidade da violência.
Diante das constantes violações à diversos grupos sociais, em 2006, na
Indonésia, 29 especialistas se reuniram para pensar em uma declaração que trata, de
forma internacional, as diretrizes dos Direitos Humanos em relação à orientação
sexual e identidade de gênero. Apesar de não serem princípios novos, eles buscam
enfatizar e evidenciar àqueles já con na Declaração Universal de Direitos Humanos,
porém demarcando aspectos relacionados à sexualidade e gênero, dentre eles: 1)
Direito à igualdade, que rechaça formas de exclusão, distinção, restrição ou
preferência baseados nas questões de gênero; 2) Direito à liberdade de Opinião e
Expressão; 3) Direito de constituir família.
Quando se aborda a sexualidade como um direito democrático, tenta-se
ampliar que todo/a e qualquer cidadão/ã poderiam vivenciar relações amorosas e
identitárias, sem exclusões de espaços sociais, políticos e profissionais, com direito
de expressão e com a possibilidade de formar uma instituição familiar. Defende-se a
noção de que o direito à sexualidade é tão importante quanto o direito à vida, sendo
fundamental para garantia da qualidade de vida e de uma sociedade mais justa.
Entretanto, o cenário brasileiro evidencia uma realidade controversa aos
postulados legais preconizados pela constituição: segundo a Transgender Europe,
uma organização não governamental, entre 2008 e 2014, o Brasil liderou o número de
assassinatos, com mais de 600 mortos; já segundo Grupo Gay da Bahia (GGB), um
homossexual morre a cada 25 horas no Brasil, sendo o Nordeste a liderança nestes
assassinatos. Estes dados só evidenciam a necessidade do debate e de ações que
pensem em políticas públicas que envolvam raça, classe, gênero e sexualidade. Além
disso, muito se debate sobre as notificações de violência de gênero, posto que, além
de pouco noticiadas pela mídia, a motivação do crime, muitas vezes, é ocultada, o que
repercute diretamente no pouco investimento de políticas públicas e na pouca
visibilidade para tais realidades.
É neste sentido que os debates internacionais primam pela efetuação e
garantia dos Direitos Humanos e têm se debruçado sobre violências e opressões em
torno de sexo, sexualidade e gênero. Órgãos como a Organização das Nações Unidas

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(ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) destacam a importância do


combate à violência e discriminação quanto à orientação sexual e identidade de
gênero, inclusive em práticas educativas (ONU, 2008; OEA, 2008).
No Brasil, pode-se observar que tais preconizações são pautas que envolvem
o Plano da Educação. As Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos,
homologada em 2012, afirma que independente de sexo, orientação sexual e
identidade de gênero, todas as pessoas devem usufruir uma educação não
discriminatória e democrática. Considerando obrigatória uma Educação pautada nos
Direitos Humanos, o projeto político-pedagógico do ensino médio precisaria conter
temas relativos a gênero, identidade de gênero, raça, etc, orientação sexual, pessoas
com deficiência, entre outros. Estas diretrizes também coadunariam com o Estatuto
da Juventude, que afirma o dever de garantia do poder público ao Direito à
Diversidade e à Igualdade.
O Plano Nacional de Educação que determina diretrizes, metas e estratégias
para a política educacional a cada dez anos, em 2014 não foi bem recebido por uma
parcela da população. Liberado por políticos fundamentalistas religiosos, surgiu um
movimento contra a inclusão do que eles nomearam “ideologia de gênero”, o qual
vetou que temas importantes em relação ao respeito à diversidade e não
patologização da homo e transexualidade fosse vetados dos currículos acadêmicos.

Afinal, o que é ideologia de gênero?


Não há um significado para abordar o conceito de ideologia. De acordo com
Abbagnano (2003), ideologia é uma doutrina destituída de verdade objetiva, pois é
mantida por interesses específicos, evidentes ou ocultos, daqueles que a utilizam. Já
Marilene Chauí (2016), a noção de ideologia pode ser pensada como um corpus de
representações e normas que irão fixar e prescrever o que e como se deve pensar,
agir e sentir, produzindo uma universalidade imaginária. Seu objetivo estaria em impor
interesses particulares de uma classe dominante e sua eficácia dependeria da
capacidade de produzir um imaginário coletivo que permita com os indivíduos possam
se localizar, se identificar, se autoreconhecer, legitimar espaços e a divisão social. Ao
mesmo tempo, para a autora, ela seria uma lógica dissimulada e de ocultação, pois
negaria a existência de privilégios, isto é, da existência de classes contraditórias,
como da gênese da divisão social.

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Portanto, de acordo com Chauí, tal termo comumente é utilizado como um


ideário, ou seja, um acúmulo de ideias compartilhado socialmente, porém não um
ideário qualquer, mas um produto político e social, circunscrito historicamente, e que
teria como fim manter desigualdade exploração, ocultando um debate crítico acerca
de uma realidade assimétrica, portanto, fruto de uma alienação. Porém, abre um
parêntese, não representaria o poder absoluto, podendo ser quebrado diante de uma
organização social, e não à toa, o policiamento existente diante de demandas sociais.
Segundo com Weeks (1993) os setores conservadores têm conhecimento do
caráter político contido nas relações de gênero e sexuais, não sendo à toa o cenário
de disputa pelo conteúdo e condução da educação sexual nas escolas. As políticas
curriculares se tornam um meio de regulação e controle para manutenção de crianças
e jovens em um modelo normativo, tido como padrão, no qual, muitas vezes, sexo é
relacionado a perigo e não a oportunidade. Por outro lado, conforme Louro (200), há
grupos – feministas, por exemplo – que propõem intervir na formulação das políticas
curriculares, buscando problematizar os conceitos universais do determinismo
biológico e refletir sobre cultura, relações de poder e protagonismo.
O termo ‘Ideologia de gênero” foi criado por Joseph Ratizinger em 1997, que
ao tornar-se Papa Bento XVI passou contra o feminismo e ideologia de gênero,
considerando ataques a vontade de Deus, pois tais propostas tenderiam a anular a
diferença natural chamada sexo, insiste na importância da diferença sexual e afirma
que homem e mulher estão convocados a viverem próximos, completando-se nas
suas diferenças. Segundo o documento:
Esta antropologia que pretendia dar igualdade à mulher,
liberando-a de todo determinismo biológico, inspirou ideologias
que põem em interdição a família natural composta por um pai e
uma mãe, comparam a homossexualidade à heterossexualidade
e defendem um novo modelo de sexualidade polimorfa
(RATIZINGER, 2015 APUD LIMA, 2015).

Posteriormente, o argentino Jorge Scala publica o livro “La ideologia de


genéro”, traduzido para o português. O autor afirma que tal ideologia ao negar a
importância da biologia permitiria que os sujeitos vivessem da forma que quisessem,
mesmo que mundana. Isto ocasionaria, então, a quebra da família tradicional, o direito

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ao aborto, entre outros aspectos considerados por ele como negativos que fariam uma
lavagem cerebral global.
O termo “Ideologia de gênero” tem repercutido sobre os atuais Planos de
Educação, desdobrando-se também em debates calóricos nas redes sociais e na
comunidade. Atualmente, assiste- se dois grupos que aparentam propostas
antagônicas: um conservador, que combate a ideia de ações, estudos e
problematizações da temática “gênero” com crianças e adolescentes, afirmando que
a imaturidade infantil, devido a fase do desenvolvimento, seria terreno fértil para o
incentivo da homossexualidade, pois as crianças seriam influenciáveis e isto
ocasionaria não apenas a prejuízos e desvio das suas sexualidades, como seria um
ataque ao modelo tradicional de família (aquela composta por mãe, pai e filhos), outra
corrente de pensamento, defende a ideia da educação para todas e todos como uma
diretriz dos direitos humanos, visando combater toda forma de discriminação e romper
com rótulos estigmatizantes que contribuem para uma sociedade assimétrica e
segregadora. Esta última vertente reconhece os impactos que assolam homens,
mulheres, homossexuais e as pessoas trans, e defende que, por meio da politização
e pensamento crítico, poder-se-ia melhorar índices estatísticos de violência e
sofrimento psíquico.
De acordo com Reis e Egget (2017, p.20), apoiada em discurso fundamentalista
conservador religioso, a falsa disseminação da “ideologia de gênero” como uma
doutrina que seria imposta nas escolas contra valores morais e da família, tem
causado “pânico, retrocesso e demonização do inimigo”, em contraponto ao seu
objetivo que seria promover uma superação de desigualdades, e que são frutos de
debates democráticos que se consolidaram ao longo de debates, acordos e políticas
públicas.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que será aprovada em novembro
de 2017, novamente está sofrendo resistências. Conforme definido na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), a Base tem o
intuito de nortear os currículos educacionais e as propostas pedagógicas das escolas
públicas e privadas de Educação Infantil e Ensino Médio no Brasil. Verifica-se que no
subtópico de arte, propõe-se refletir sobre as experiências teatrais desenvolvidas em
aula, de modo a problematizar as questões de gênero, corpo e sexualidade, alegando
também a possibilidade de extensão do conteúdo para os materiais didáticos. Este

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fato mobilizou uma petição pela exclusão da “Ideologia de gênero”, com os


argumentos de incentivo a pornografia e de constrangimento devido conteúdos
inadequados à idade.
Em suma, associada a libertinagem, indução a homossexualidade e confusão
dos papéis sociais, muitos brasileiros acreditam estarem em frente de uma grande
ameaça, que destrói princípios religiosos e científicos. Afinal, estes ensinamentos
“subversivos” também teriam consequências sociais: mulheres ocupando lugares de
homens, homens afeminados, casais não-reprodutivos e um sexo profano, fora da
lógica binária pênis-vagina, desafiando a natureza e a biologia dos corpos ditos
normais.
Porém, a própria argumento dos contra a “Ideologia de gênero” parece ser
conflituoso em si: se heterossexualidade é dada, é a norma, meninos são
naturalmente fortes, viris, gostam de azul, de guerra, luta e carrinhos, ao passo que
meninas são em sua essência frágeis, dóceis, cuidadoras, gostam do rosa, princesas,
de dança, bonecas e objetos delicados, e se os homossexuais são aqueles que fogem
ao normal, o medo em falar sobre diversidade sexual não denunciaria uma
heterossexualidade frágil? A heteronormatividade, levando em consideração o
conceito de Chauí, não seria uma forma de ideologia?

O Conselho de Psicologia e a o debate sobre a cura gay


Em 22 de março de 1999, o código de ética de Psicologia se posicionou em
relação o papel da psicologia diante da homossexualidade, elegendo três pontos
centrais: 1) A homossexualidade não é doença; 2) Na sociedade há uma constante
inquietação sobre práticas sexuais que desviam do padrão considerado “normal” em
determinado momento sociohistórico e 3) A psicologia pode e deve contribuir com
conhecimento para esclarecimento sobre as questões de sexualidade, permitindo a
superação de discriminações e preconceitos.
Desta forma, o psicólogo deveria atuar de acordo com os princípios éticos da
profissão, primando pelo bem-estar dos sujeitos, longe de qualquer forma de
discriminação. Sua atuação, portanto, deveria estar na reflexão sobre preconceito, na
luta pelo fim do preconceito, devendo evitar todo e qualquer comportamento que
favoreça a patologização de comportamentos, práticas ou ações coercitivas de
orientar homossexuais para tratamentos não solicitados. Além disto, o/a profissional

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de psicologia fica vetado de dar pronunciamentos públicos que reforcem o preconceito


de que a homossexualidade está relacionada a uma desordem psíquica, isto é, uma
doença. Estas normas serviam para direcionar o atendimento clínico em psicologia,
uma vez que pesquisas acadêmicas são submetidas a comitês de ética de acordo
com os órgãos as quais estão vinculadas.
Compreendida pelo juiz Waldemar Cláudio de Carvalho como um impedimento
de pesquisas e uma proibição de atendimentos clínicos, uma liminar que deliberava
que o Conselho Federal de Psicologia não podia impedir estudos científicos e
tratamentos sobre reorientação sexual foi lançada em 2017, afirmando a existência
de censura na atuação do psicólogo em relação a questão da homossexualidade.
Com o apoio dos movimentos sociais e da Organização de Advogados do Brasil
(OAB), o Conselho de Psicologia recorreu a liminar, apresentando argumentos
jurídicos, técnicos e científicos a fim de manter sua posição ética na luta de garantia
pelos Direitos Humanos. Dentre seus argumentos, foi apresentado o consenso
internacional, preconizado pela Organização Mundial de Sáude (OMS), que a
homossexualidade não pode ser considerada como uma patologia, isto é, não é um
desvio do saudável, portanto não teria um tratamento de reversão.
Por não ter uma causalidade orgânica que a determine como uma disfunção
biológica, que pode ser localizada e tratada, ou características genéticas que
determinem seu desenvolvimento, as terapias de reversão sexual estariam assoladas
em uma diretriz pautada unicamente na moralidade de um determinado contexto
sociohistórico. Portanto, o tratamento estaria voltado a uma higienização e adaptação
de normas sociais e não preocupado com a ética do desejo e com a subjetividade
humana.
Foi nesta linha argumentativa que o Conselho Federal de Psicologia (2017)
defendeu seu posicionamento teórico e ético, respaldando-se em um acervo de
estudos nacionais e internacionais que apontam a ineficácia do tratamento, bem como
seus efeitos negativos, que causam agravos sequelas e sofrimento psíquico as
pessoas homossexuais.
Além disto, afirmou o CFP, a Resolução 01/99 auxiliou no processo de
enfrentamento de discriminação e preconceito à população LGBTI, posto que a
realidade brasileira possui altos índices de violência de todas as esferas – sejam elas
de pouco acesso a determinados espaços, como assassinatos.

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Outro fator questionável foi quanto a prerrogativa do não atendimento à


população LGBTI no espaço clínico, fato considerado equivocado pelo Conselho, uma
vez que nunca se impediu o atendimento clínico a qualquer cidadão,
independentemente de sua orientação e/ou identidade sexual. Porém há uma
diferença entre atender um sujeito com sofrimento psíquico diante de qualquer
questão que envolva sua sexualidade – entre elas, a questão da identidade e/ou da
orientação – e possibilitar um espaço de acolhimento e análise de suas
individualidades, e em propor uma cura para algo que seria tido como um pressuposto
de algo errado, que necessita de cura.
O código de ética de psicologia pressupõe que os profissionais devem auxiliar
toda e qualquer pessoa que apresente conflito e sofrimento psíquico. Caso a
motivação seja o sofrimento pela identidade de gênero ou orientação sexual isto não
se torna um empecilho para o atendimento, contudo o atendimento, como para todo e
qualquer sujeito, correrá no sentido de olhar a singularidade e história de vida, fazendo
com que este reflita sobre seus aspectos pessoais e também sobre quais motivações
e determinantes incidem sobre seu sofrimento, possibilitando reflexão para sua
autonomia.
Em outras palavras, o psicólogo não deve levar juízos de valores pessoais
para clínica; dentro do possível, deve se afastar de suas crenças espirituais e morais
particulares e suspender a escuta para garantir um acolhimento genuíno implicado
nos conflitos individuais do paciente, como também não deve inferir nas decisões e
escolhas pessoais de vida do sujeito, uma vez que somente este é responsável por
sua trajetória, sendo o profissional em psicologia aquele que irá ocupar uma função
peculiar de manejo terapêutico, que permite um espaço único de ressignificação e
encontro com sentimentos, pensamentos e ações conflitivas . O psicólogo, portanto,
pode propiciar um momento de acolhimento e análise pessoal para que o próprio
sujeito ressignifique suas vivências e se torne protagonista de seus desejos e de suas
relações.
Não à toa é recomendável que os psicólogos em atendimento clínico possam
contar com auxílio de um supervisor e que façam sua terapia pessoal, uma vez que
na condição de seres humanos são atravessados por suas questões subjetivas e
ideológicas. Além disto, diante de situações em que o profissional perceba sua
dificuldade e/ou limitação em garantir escuta e se sinta afetado diante de um caso

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III CONGRESSO DE PSICOLOGIA: as diversas faces do cuidar.
De 26 a 28 de abril de 2018. Belém – PA/
HANGAR – Centro de Convenções da Amazônia
Volume 03 – ISSN: 2526-527X
CADERNO DE TRABALHOS COMPLETOS
http://revistas.unama.br/index.php/anaispsicologia/index

e/ou situação, é recomendável que este encaminhe a outro profissional, garantindo,


desta forma, a ética clínica.
É preciso também ressaltar que há uma diretriz ética que embasa a resolução
01/99, que considera existir outras formas de orientação e identidade sexual que
ultrapassam a norma heterossexual, sem com isso segregar, culpabilizar, criminalizar
e/ou patologizar, uma vez que toma a singularidade como ponto de partida e que não
exclui a cidadania e direito à liberdade dos cidadãos/ãs.
Em contrapartida, defender práticas relacionadas à reorientação sexual podem
se tornar facilmente um instrumento de controle ideológico que acaba por reafirmar
práticas de discriminação, pois determinam que qualquer padrão que se afaste da
norma heterossexual pode ser questionado ou afastado, podendo reforçar exclusão
social em espaços públicos, sejam eles profissionais, políticos e/ou sociais.
Em relação as pessoas trans, Berenice Bento (2006) reitera a existência de um
movimento pautado na moralidade para classificar pessoas com transtorno de
identidade, posto que não existe sequer um argumento científico biológico que
confirme a existência de alguma “anomalia”, alteração genética ou fisiológica. Esta
autora, comentando a filósofa Judith Butler, aponta a existência de uma matriz
heterossexual que garante a divisão social e os espaços a serem circulados pelas
pessoas tidas como “normais”, os homens e mulheres. Uma série de prática discursiva
que tem seus efeitos passando pelas cores de enxoval de bebês ao modo de se vestir
e de determinar a essência do que se deve ser e como se deve se comportar, se
relacionar, se identificar, naturalizam corpos generificados, pois são tidas como algo
intrínseco dos sujeitos.
Tais cristalizações causariam sofrimento psíquico àqueles que não se
enquadram nesta lógica binária e causam alguma forma de deslocamento, ocupando
a posição de abjeção, justamente por denunciar o caráter instável da coerência entre
corpo biológico, identidade de gênero e desejo sexual. Tais pessoas, afetadas pela
moralidade heterossexual normativa, teriam menor acesso à saúde, profissões,
espaços, bem como seriam as principais vítimas de preconceito. Não à toa, o
Conselho Federal de Psicologia aderiu ao movimento de Despatologização de gênero,
que visa garantir o acesso ao nome social, a não obrigatoriedade da terapia
compulsória pelo mínimo de dois anos e a retirada dos Manuais de Psiquiatria, os
quais são caracterizados como “transtorno” ou “disforia” de gênero. Além disto, tem-

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se problematizado sobre as categorias identitárias e uma certa obrigatoriedade de


adequação corporal e/ou cirúrgica diante de uma imposição cultural de adaptação:
seria possível que algumas/alguns queiram utilizar seu corpo fora da lógica binária?
Se sim, isto precisa ser lido por meio de um diagnóstico patologizante?

Psicologia para quê e para quem?


Enfim, chegamos as considerações finais com o intuito de responder os seguintes
questionamentos: a psicologia que queremos é para quê e para quem? Para buscar
responder estas perguntas, se faz importante pensar na psicologia como ciência e
profissão. De acordo com Bock (2004), a própria trajetória histórica da psicologia já
nos traz subsídios importantes para refletir sobre alguns cenários que reverberam na
atualidade.
Segundo a autora, a ciência psicológica surgiu para atender interesses políticos
da elite brasileira no seu projeto de industrialização e urbanização. Tal fato, fez com
que a psicologia construísse práticas segregadoras – como o consultório clínico,
geralmente, voltado à classe média e alta –, ahistóricas e apolíticas, comumente
desatreladas de compromissos com a responsabilidade social, isto é, pouco
comprometidas com transformações das condições de vidas das populações,
marcadas por desigualdades.
Devido o caráter universal dado aos fenômenos psicológicos nas abordagens,
questões históricas e sociais foram ignoradas, e importantes análises como classe,
gênero e raça passaram a ter pouca ou nenhuma visibilidade nestas áreas. Contudo,
atualmente a psicologia tem sido convocada a pensar em sua teoria e prática, e a
atuação tradicional tem sido questionada em relação a área hospitalar, jurídica,
escolar e social. Não apenas a transposição do consultório clínico para os demais
espaços, mas a escassez de pesquisas científicas e a formação curricular têm sido
pontos de estrangulamento, e, cada vez mais, é fortalecido o debate da importância
da psicologia poder ofertar, de acordo com a necessidade da população, um trabalho
mais próximo das demandas reais e sociais.
De acordo com Louro (2001), as minorias sexuais estão mais visíveis, fato que
torna mais explícitos e acirradas as lutas com os grupos conservadores, no entanto,
minorias não significa uma inferioridade numérica, mas maiorias silenciadas, que tem
seus direitos básicos afetados. A autora também afirma, em outro trabalho (2003), a

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inexistência de neutralidade na ciência, afirmando que é preciso analisar os aspectos


e interesses políticos no entorno das profissões e publicações acadêmicas.
Portanto, problematizar, desconstruir a psicologia tradicional, como ciência e
profissão, é mais do que necessário, além disto, refletir em qual diretriz queremos nos
amparar? Seria um projeto baseado na moralidade, mas que exclui cidadãos por
torná-los sujeitos patológicos- mesmo sem nenhum respaldo médico que garanta a
existência de uma patologia? Ou seria apoiada na Constituição brasileira, que
apresenta um projeto de lei os quais todas e todos devem ser tratados com dignidade
e ter direito a liberdade? Seremos aqueles que acolhem o sofrimento ou aqueles que
contribuem para exclusão? A psicologia estaria ao serviço de grupos de classes
dominantes, sejam elas baseadas em fundamentalismos religiosos e/ou com
interesses econômicos e/ou políticos ou a favor do sujeito, enquanto pessoa –
independente de raça, gênero, classe, geração e/ou credo?
Apesar das abordagens psicológicas, a questão sobre a ética da psicologia precisa
ser sempre reiterada e comum aos psicólogos: uma terapêutica voltada para garantir
a singularidade, primando pelo respeito à subjetividade e a garantia dos direitos
humanos.

REFERÊNCIAS
BENTO, B. A reinvenção do corpo. Sexualidade na experiência transexual. Rio de
Janeiro: Garamond, 2006.

Brasil (2008a). Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional


promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas
Constitucionais nºs 1/92 a 56/2007 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nºs
1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas.

Brasil (2012a, 30 maio). Conselho Nacional de Educação. Parecer nº 8, de 6 de


março de 2012. Aprova as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos
Humanos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF.
Recuperado em 20 de outubro de 2017, de
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1038
9-pcp008 -12-pdf&category_slug=marco-2012-pdf&Itemid=30192>.

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