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TCC Missilene AV2

O projeto de pesquisa explora a relação entre religiosidade e saúde mental, destacando como comunidades religiosas podem influenciar a percepção e o tratamento de doenças mentais, tanto positivamente quanto negativamente. O estudo enfatiza a importância de desmistificar tabus e promover uma abordagem integrada que respeite as crenças religiosas, ao mesmo tempo em que incentiva a busca por tratamento médico adequado. A colaboração entre líderes religiosos e profissionais de saúde mental é essencial para melhorar o cuidado e reduzir a estigmatização associada às condições psiquiátricas.
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O projeto de pesquisa explora a relação entre religiosidade e saúde mental, destacando como comunidades religiosas podem influenciar a percepção e o tratamento de doenças mentais, tanto positivamente quanto negativamente. O estudo enfatiza a importância de desmistificar tabus e promover uma abordagem integrada que respeite as crenças religiosas, ao mesmo tempo em que incentiva a busca por tratamento médico adequado. A colaboração entre líderes religiosos e profissionais de saúde mental é essencial para melhorar o cuidado e reduzir a estigmatização associada às condições psiquiátricas.
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GRUPO SER EDUCACIONAL

UNIFAEL

GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

Missilene Aguiar Pinto

PROJETO DE PESQUISA

RELIGIÃO E SAÚDE MENTAL: DESFAZENDO TABUS, "NÃO É FALTA DE FÉ"

UNIÃO/PI
2024
2

Missilene Aguiar Pinto

RELIGIÃO E SAÚDE MENTAL: DESFAZENDO TABUS, "NÃO É FALTA DE FÉ"

Projeto de Pesquisa apresentado como


critério avaliativo para aprovação na
disciplina TCC 1 – Trabalho de Conclusão
de Curso 1, na graduação em Teologia

UNIÃO/PI

2024
3

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 4
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................ 6
2.1 Impacto da Religiosidade na Percepção e Tratamento de Doenças
Mentais ...................................... 6
2.2 Papel das Comunidades Religiosas no Apoio ou Estigmatização de Pacientes
com Condições Psiquiátricas............................................................................... 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 12
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 13
4

RELIGIÃO E SAÚDE MENTAL: DESFAZENDO TABUS, "NÃO É FALTA DE FÉ"

Missilene Aguiar Pinto


Robson Mauricio Ghedini

RESUMO

Este estudo explorou a complexa interseção entre religiosidade e saúde mental,


destacando os impactos que as comunidades religiosas podem ter na percepção e
tratamento de doenças mentais. A religiosidade pode atuar como um fator de
proteção, oferecendo apoio emocional e espiritual, e promovendo o bem-estar
psicológico. No entanto, também pode representar um obstáculo significativo quando
associada à estigmatização e à visão de que problemas mentais são resultado de
fraqueza espiritual ou influência demoníaca. Essa perspectiva muitas vezes
desencoraja a busca por tratamento médico adequado, contribuindo para o
agravamento dos sintomas e para uma adesão inconsistente ao tratamento. Este
trabalho enfatiza a necessidade de uma abordagem integrada que respeite as
crenças religiosas dos indivíduos, ao mesmo tempo em que promove intervenções
baseadas em evidências. A colaboração entre líderes religiosos e profissionais de
saúde mental é crucial para desmistificar doenças mentais dentro das comunidades
religiosas e para incentivar uma compreensão mais ampla e compassiva dessas
condições. A formação contínua de profissionais de saúde e a educação das
comunidades religiosas são elementos chave para a construção de um ambiente
que apoie tanto o cuidado espiritual quanto o tratamento médico. As considerações
finais apontam para a importância de continuar as pesquisas nesta área, com o
objetivo de desenvolver práticas que possam ser adaptadas a diferentes contextos
culturais e religiosos, garantindo que todos os indivíduos tenham acesso a um
cuidado de saúde mental de qualidade, livre de estigmas e preconceitos.

Palavras-chave: Estigmatização. Religiosidade. Saúde.

1 INTRODUÇÃO

A relação entre religião e saúde mental tem sido objeto de estudo e debate ao
longo dos anos, especialmente em sociedades onde a religiosidade é um
componente central da vida dos indivíduos. Em muitas denominações religiosas,
ainda persiste o tabu de que os problemas mentais são exclusivamente resultantes
de forças espirituais malignas ou uma demonstração de falta de fé. Essa visão é
particularmente prevalente entre cristãos que acreditam que doenças mentais
podem ser curadas apenas pela fé e pela intervenção divina, ignorando a
importância do tratamento médico especializado. No entanto, a compreensão
moderna da saúde mental, apoiada por uma vasta literatura científica, destaca a
5

necessidade de integrar a fé com abordagens terapêuticas baseadas em evidências,


desmistificando a ideia de que buscar ajuda médica contradiz a fé religiosa.
Estudos1 mostram que a religiosidade pode ter um impacto significativo na
saúde mental, tanto positivo quanto negativo. A fé pode proporcionar um sentido de
propósito, conforto e apoio emocional, funcionando como um mecanismo de
enfrentamento para muitos indivíduos em situações de estresse ou doença
No entanto, quando a fé é interpretada de maneira rígida ou quando a
comunidade religiosa estigmatiza as condições mentais, pode levar à negação da
necessidade de tratamento e ao agravamento dos sintomas. Nesse contexto, a
religiosidade pode se tornar um fator de risco, especialmente quando os indivíduos
são desencorajados a buscar ajuda médica sob a crença de que isso indica uma
falha espiritual, a questão do tabu em torno da saúde mental nas comunidades
religiosas é um desafio significativo. Os cristãos sofrem em silêncio, temendo ser
julgados por sua congregação ou líderes religiosos se admitirem que estão lutando
com depressão, ansiedade ou outras condições psiquiátricas.
A crença de que essas condições são resultado de possessão demoníaca ou
falta de fé pode levar ao isolamento social e à deterioração da saúde mental, criando
um ciclo de sofrimento que poderia ser interrompido com o acesso ao tratamento
adequado. Por outro lado, há uma crescente conscientização entre alguns líderes
religiosos sobre a importância de reconhecer e tratar as doenças mentais,
reconhecendo que a fé e a medicina podem e devem coexistir.
A integração entre saúde mental e religiosidade é fundamental para desfazer
os tabus existentes e promover uma abordagem mais holística do cuidado à saúde.
Profissionais de saúde mental que compreendem a importância da fé para seus
pacientes são mais capazes de oferecer um tratamento que respeita suas crenças e,
ao mesmo tempo, aborda suas necessidades clínicas, isso não apenas melhora a
adesão ao tratamento, mas também fortalece o papel do apoio social e espiritual na
recuperação do pacientes, é importante que os profissionais da saúde avaliem,
entendam e respeitem as crenças religiosas dos pacientes.
A problemática central deste estudo reside na persistente resistência ao
tratamento médico para doenças mentais em certas comunidades religiosas, devido

1
Koenig, HG, McCullough, ME, & Larson, DB (2001). Manual de religião e saúde. Oxford:
Oxford University Press. https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780195118667.001.0001
6

ao temor de estigmatização e à interpretação errônea de doutrinas religiosas. Este


fenômeno impede que muitos indivíduos recebam o cuidado de que necessitam,
perpetuando o sofrimento e a marginalização. Entender como a fé pode ser um
recurso em vez de um obstáculo no tratamento de problemas mentais é essencial
para desenvolver estratégias que facilitem o diálogo entre profissionais de saúde e
comunidades religiosas.
A justificativa para este estudo é clara: a necessidade urgente de promover
uma visão integrada de saúde mental e religiosidade que respeite as crenças
individuais, mas que também incentive a busca por tratamento adequado. Com a
crescente evidência de que o apoio espiritual pode ser um componente importante
no processo de cura, é imperativo que se desconstrua a noção de que fé e ciência
são incompatíveis. Este trabalho busca contribuir para a superação desse tabu,
oferecendo uma análise baseada em evidências e experiências clínicas.
A metodologia adotada neste estudo será a revisão bibliográfica, com foco em
artigos científicos, livros e teses que abordem a intersecção entre religião e saúde
mental. Serão revisados estudos que explorem tanto os aspectos positivos quanto
negativos da religiosidade no tratamento de doenças mentais, com o objetivo de
fornecer uma visão abrangente e equilibrada do tema. A análise incluirá uma revisão
crítica das literaturas sobre o papel das comunidades religiosas no apoio ou na
estigmatização de indivíduos com doenças mentais e como os profissionais de
saúde podem interagir com essas comunidades de maneira eficaz.
Os objetivos deste estudo incluem: (1) analisar a influência da religiosidade na
percepção e no tratamento de doenças mentais; (2) identificar os fatores que
contribuem para o tabu em torno da saúde mental nas comunidades religiosas; (3)
explorar estratégias para integrar a fé e o tratamento médico de maneira que
respeite as crenças dos pacientes; e (4) propor recomendações para profissionais
de saúde que trabalham com pacientes religiosos, visando melhorar os resultados
do tratamento e reduzir a estigmatização associada às doenças mentais.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Impacto da Religiosidade na Percepção e Tratamento de Doenças Mentais

A influência da religiosidade na percepção e tratamento de doenças mentais é


um tema amplamente discutido na literatura científica. A religiosidade, definida como
7

a prática de crenças religiosas e a participação em atividades espirituais, pode afetar


significativamente a forma como os indivíduos percebem e lidam com problemas de
saúde mental. Estudos indicam que a religiosidade pode atuar tanto como um fator
de proteção quanto como um obstáculo ao tratamento, dependendo do contexto e
das crenças específicas dos indivíduos envolvidos (KOENIG, 2012).
Por um lado, a religiosidade pode fornecer um forte sistema de apoio
emocional, oferecendo conforto e um senso de propósito que são cruciais para a
resiliência psicológica. A prática religiosa pode ajudar as pessoas a lidar com o
estresse, a depressão e outras condições mentais, promovendo um senso de
pertencimento e de apoio comunitário (MOREIRA-ALMEIDA; KLOTZ, 2013).
Pesquisas demonstram que indivíduos com alto grau de envolvimento religioso
tendem a apresentar melhores indicadores de saúde mental, como níveis mais
baixos de depressão e ansiedade (PARGAMENT, 1997). Isso se deve, em parte, à
capacidade das práticas religiosas de fornecerem estratégias de enfrentamento que
incluem a oração, a meditação e o apoio social, todas as quais podem contribuir
para a melhora do bem-estar psicológico.
Por outro lado, a religiosidade pode também representar uma barreira ao
tratamento adequado de doenças mentais. Em certas comunidades religiosas, existe
uma tendência a interpretar os problemas mentais como uma falta de fé ou como
uma manifestação de influências espirituais negativas, como a possessão
demoníaca. Essa visão pode levar os indivíduos a evitarem a busca por tratamento
psiquiátrico ou psicológico, optando por intervenções exclusivamente espirituais,
como orações e rituais, em vez de tratamentos baseados em evidências científicas
(CARRERA, 2015). Esse fenômeno é particularmente prevalente em contextos onde
as lideranças religiosas desencorajam a busca por ajuda médica, o que pode
agravar os sintomas e retardar a recuperação dos pacientes.
Além disso, a forma como a religiosidade é vivenciada pode influenciar a
adesão ao tratamento. Alguns pacientes podem ver a busca por ajuda psiquiátrica
como uma traição à sua fé, enquanto outros podem acreditar que somente a
intervenção divina pode resolver seus problemas. Esse conflito interno pode resultar
em uma adesão inconsistente ao tratamento, onde o paciente pode iniciar o
tratamento, mas desistir ao longo do caminho, acreditando que sua fé é suficiente
para a cura (HALL; MEADOR, 2014). A literatura mostra que a resistência ao
8

tratamento por razões religiosas é um desafio comum em ambientes clínicos,


especialmente em populações altamente religiosas (SMITH, 2003).
No entanto, há também evidências de que, quando a religiosidade é integrada
de forma adequada no tratamento, ela pode se tornar um recurso valioso.
Profissionais de saúde mental que respeitam e incorporam as crenças religiosas de
seus pacientes nas intervenções terapêuticas tendem a obter melhores resultados
no tratamento. Isso ocorre porque a integração das crenças religiosas permite que
os pacientes se sintam compreendidos e respeitados, aumentando sua disposição
para seguir as orientações médicas e participar ativamente do processo de
recuperação (KOENIG, 2012). Por exemplo, a utilização de práticas religiosas, como
a oração, dentro de um plano terapêutico pode fortalecer o compromisso do paciente
com o tratamento e promover uma maior sensação de paz e aceitação (MOREIRA-
ALMEIDA; KLOTZ, 2013).
No entanto, é crucial que os profissionais de saúde estejam atentos para não
reforçar crenças que possam ser prejudiciais à saúde mental. É importante equilibrar
o respeito pelas crenças religiosas dos pacientes com a promoção de intervenções
baseadas em evidências. A formação contínua de profissionais de saúde sobre a
relação entre religiosidade e saúde mental é essencial para que eles possam
oferecer cuidados culturalmente competentes e eficazes (PARGAMENT, 1997).
Por fim, a discussão sobre o impacto da religiosidade na saúde mental deve
reconhecer a diversidade de experiências e crenças dentro das comunidades
religiosas. Nem todos os indivíduos experimentam sua fé da mesma maneira, e as
respostas às doenças mentais podem variar amplamente com base em fatores como
o tipo de religião, o nível de envolvimento religioso e as interpretações pessoais das
doutrinas religiosas (HALL; MEADOR, 2014). Portanto, a abordagem do tratamento
deve ser personalizada, levando em consideração tanto os aspectos espirituais
quanto os clínicos da saúde mental.

2.2 O Papel das Comunidades Religiosas no Apoio ou Estigmatização de Pacientes


com Condições Psiquiátricas

As comunidades religiosas desempenham um papel significativo na vida de


muitos indivíduos, influenciando não apenas suas crenças e valores, mas também
suas atitudes em relação à saúde mental. A influência dessas comunidades pode
9

ser tanto positiva quanto negativa, dependendo de como abordam as questões


relacionadas às condições psiquiátricas. Em muitos contextos, as comunidades
religiosas oferecem apoio crucial para indivíduos que enfrentam desafios de saúde
mental, proporcionando um espaço seguro para compartilhar experiências e
encontrar conforto espiritual. No entanto, há também evidências de que, em alguns
casos, essas comunidades podem contribuir para a estigmatização de pessoas com
condições mentais, desencorajando a busca por tratamento adequado e
perpetuando mitos prejudiciais (CUNHA, 2011).
O apoio social fornecido pelas comunidades religiosas pode ser um fator
protetor importante para aqueles que enfrentam problemas de saúde mental.
Estudos mostram que a participação em grupos religiosos pode fortalecer o senso
de pertencimento e fornecer uma rede de apoio emocional que é crucial para a
resiliência psicológica (XAVIER; BARRETO, 2014). Além disso, as práticas
religiosas, como orações comunitárias e aconselhamento pastoral, muitas vezes
oferecem conforto e esperança, ajudando os indivíduos a lidar com o estresse e a
ansiedade (CARVALHO, 2015). Esse apoio é particularmente valioso em culturas
onde o acesso a serviços de saúde mental é limitado, e a comunidade religiosa se
torna uma das poucas fontes de auxílio e orientação.
Entretanto, o papel das comunidades religiosas na vida dos indivíduos com
condições mentais nem sempre é benéfico. Em algumas tradições religiosas, as
doenças mentais são frequentemente associadas a causas espirituais, como
possessão demoníaca ou punição divina, o que pode levar à estigmatização
daqueles que sofrem dessas condições (OLIVEIRA, 2010). Essa visão pode ser
profundamente prejudicial, pois não apenas desencoraja a busca por tratamento
médico, mas também isola socialmente os indivíduos, aumentando sua
vulnerabilidade ao agravamento dos sintomas. A literatura indica que essa
estigmatização é especialmente prevalente em comunidades onde as lideranças
religiosas têm uma influência significativa sobre as crenças e comportamentos dos
membros (LIMA; SILVA, 2016).
A estigmatização dentro das comunidades religiosas pode ter várias
manifestações, desde a marginalização social até a crença de que a fé ou a oração
são as únicas soluções viáveis para as condições mentais (ALMEIDA, 2017). Em
muitos casos, as pessoas são desencorajadas a procurar ajuda médica, sendo
incentivadas a "confiar em Deus" ou a participar de rituais de exorcismo como
10

solução para seus problemas mentais (MORAES, 2012). Isso cria um ambiente em
que as necessidades médicas e psicológicas dos indivíduos são negligenciadas,
resultando em um tratamento inadequado e, em última análise, em resultados de
saúde mais pobres. Estudos demonstram que essa resistência ao tratamento é um
dos principais desafios enfrentados pelos profissionais de saúde mental que
trabalham com populações religiosas (SOUZA, 2019).
No entanto, é importante reconhecer que nem todas as comunidades
religiosas perpetuam a estigmatização das condições mentais. Há muitas que estão
ativamente engajadas na promoção da saúde mental, trabalhando em conjunto com
profissionais de saúde para oferecer apoio holístico aos seus membros (FERREIRA,
2018). Essas comunidades reconhecem a importância de combinar cuidados
espirituais e médicos, e incentivam seus membros a buscar tratamento quando
necessário. Elas desempenham um papel fundamental na desmistificação das
doenças mentais, educando seus membros sobre a importância da saúde mental e
combatendo os preconceitos associados a essas condições (COSTA, 2014).
Além disso, algumas lideranças religiosas estão cada vez mais conscientes
da necessidade de integrar a saúde mental nas práticas religiosas. Por meio de
parcerias com profissionais de saúde, essas comunidades estão promovendo uma
abordagem mais equilibrada e informada, que respeita a fé dos indivíduos, ao
mesmo tempo em que reconhece a importância do tratamento médico
(MENDONÇA, 2020). Esse movimento tem o potencial de reduzir significativamente
a estigmatização das condições mentais e de promover uma cultura de aceitação e
apoio dentro das comunidades religiosas.
Portanto, o papel das comunidades religiosas no apoio ou estigmatização de
pacientes com condições psiquiátricas é complexo e multifacetado. Enquanto
algumas comunidades oferecem um apoio inestimável, outras podem,
inadvertidamente, contribuir para a marginalização e o sofrimento dos indivíduos
com problemas de saúde mental. A chave para um apoio eficaz reside na educação
e na conscientização, tanto entre os líderes religiosos quanto entre os membros da
comunidade, sobre a importância de uma abordagem integrada que valorize tanto o
cuidado espiritual quanto o tratamento médico (NUNES, 2015). O reconhecimento
das condições mentais como problemas legítimos de saúde e não como falhas
espirituais é um passo crucial para melhorar os resultados de saúde mental em
contextos religiosos.
11

A religiosidade, entendida como a prática de crenças e a participação em atividades


espirituais, desempenha um papel significativo na forma como os indivíduos
percebem e lidam com problemas de saúde mental. Por um lado, a religiosidade
pode fornecer um suporte emocional robusto, oferecendo conforto, esperança e um
senso de pertencimento que contribuem para a resiliência psicológica. Alguns
indivíduos encontram nas suas crenças um recurso valioso para enfrentar desafios,
o que é especialmente benéfico em momentos de crise emocional, como episódios
de depressão ou ansiedade.
No entanto, o impacto da religiosidade não é uniformemente positivo. Em
alguns contextos, a interpretação rígida de doutrinas religiosas pode levar à
estigmatização de doenças mentais, perpetuando a visão de que esses problemas
são resultado de fraqueza espiritual ou influência demoníaca. Essa perspectiva
desencoraja a busca por tratamentos médicos e pode agravar os sintomas, uma vez
que os indivíduos optam por soluções exclusivamente espirituais, como orações ou
rituais, ao invés de intervenções baseadas em evidências científicas.
A influência de lideranças religiosas que desencorajam a busca por ajuda
médica é um fator crítico, pois pode resultar em uma adesão inconsistente ao
tratamento ou mesmo na total recusa de tratamentos médicos.
As comunidades religiosas desempenham um papel ambivalente no apoio a
indivíduos com condições psiquiátricas. Em muitos casos, elas oferecem um espaço
de apoio e acolhimento, proporcionando um senso de comunidade que é
fundamental para o bem-estar mental. A participação em grupos religiosos e as
práticas de oração coletiva, por exemplo, podem ser fontes significativas de apoio
social e emocional. Em contextos onde o acesso a serviços de saúde mental é
limitado, essas comunidades muitas vezes se tornam um dos poucos recursos
disponíveis para os indivíduos em sofrimento.

Contudo, em outros casos, as comunidades religiosas podem contribuir para


a estigmatização e marginalização dos indivíduos com doenças mentais. A
associação entre condições psiquiátricas e causas espirituais, como possessão
demoníaca ou punição divina, ainda é prevalente em diversas tradições religiosas.
Essa visão não só desencoraja a busca por tratamento adequado, mas também
reforça o isolamento social dos pacientes, que temem o julgamento de seus pares.
Esse estigma pode criar um ciclo de sofrimento prolongado, onde os indivíduos se
12

sentem obrigados a esconder seus problemas de saúde mental ou a lidar com eles
de forma inadequada.

Os resultados deste estudo apontam para a necessidade de uma abordagem


integrada, que respeite as crenças religiosas dos indivíduos e, ao mesmo tempo,
promova intervenções baseadas em evidências. A formação contínua de
profissionais de saúde mental sobre a relação entre religiosidade e saúde mental é
essencial para que possam oferecer cuidados culturalmente competentes. Essa
formação deve incluir a compreensão dos contextos religiosos e das possíveis
barreiras que as crenças podem representar no tratamento de condições
psiquiátricas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante reconhecer que a relação entre religião e saúde mental é complexa e


multifacetada. A religiosidade pode atuar tanto como um fator de proteção quanto
como um desafio no tratamento de doenças mentais, dependendo de como é
integrada na vida do indivíduo e de como é abordada dentro das comunidades
religiosas. Enquanto algumas comunidades religiosas oferecem apoio emocional e
social vital, outras podem, inadvertidamente, perpetuar estigmas e desencorajar a
busca por tratamento médico adequado, o que pode resultar em um agravamento
das condições de saúde mental.
Os estudos discutidos ao longo deste trabalho indicam que, para promover
uma abordagem eficaz e sensível às questões de saúde mental em contextos
religiosos, é necessário um esforço conjunto entre líderes religiosos, profissionais de
saúde e as próprias comunidades. A educação e a conscientização sobre a
importância de um tratamento integrado, que valorize tanto a fé quanto as
intervenções médicas, são essenciais para superar os tabus e mitos associados às
condições psiquiátricas.
Portanto, as intervenções futuras devem focar na construção de pontes entre
a fé e a medicina, promovendo uma compreensão mútua e respeitosa que permita
aos indivíduos usufruir dos benefícios de ambos os mundos. Ao integrar essas duas
esferas de maneira harmoniosa, podemos avançar na direção de um cuidado mais
completo e humanizado, que respeite as crenças religiosas e, ao mesmo tempo,
13

assegure que as necessidades médicas dos indivíduos sejam plenamente


atendidas.
A continuidade das pesquisas nessa área é fundamental para aprofundar o
entendimento das dinâmicas entre religião e saúde mental, bem como para
desenvolver práticas que possam ser adaptadas a diferentes contextos culturais e
religiosos. O objetivo final é garantir que todos, independentemente de suas
crenças, tenham acesso a um cuidado de saúde mental de qualidade e livre de
estigmas.
Conclui-se que a religiosidade, quando vivida de forma aberta e inclusiva, pode ser
um recurso poderoso no tratamento de doenças mentais. Porém, é crucial que as
comunidades religiosas sejam educadas sobre a importância da saúde mental e que
se esforcem para eliminar tabus e estigmas associados a essas condições. Somente
com uma abordagem integrada, que valorize tanto o cuidado espiritual quanto o
tratamento médico, será possível criar um ambiente de apoio onde todos os
indivíduos possam buscar a ajuda necessária sem medo de julgamento ou exclusão.
A colaboração entre líderes religiosos e profissionais de saúde mental emerge
como um elemento fundamental para a desmistificação das doenças mentais nas
comunidades religiosas. A construção de um diálogo contínuo e respeitoso pode
resultar em práticas mais inclusivas e eficazes, capazes de atender às necessidades
dos pacientes de maneira holística. A superação dos tabus em torno da saúde
mental não é apenas uma questão de saúde pública, mas também um imperativo
ético que visa garantir que todos tenham acesso a um tratamento digno e livre de
preconceitos,
alinhando fé e ciência em prol do bem-estar coletivo.

REFERÊNCIAS

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