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Adventista - A Igreja de Vidro

O livro 'Igreja de Vidro' de Ubaldo Torres de Araújo critica a Igreja Adventista do Sétimo Dia, denunciando plágios nos escritos de Ellen White e a dificuldade que os fiéis têm em abandonar a seita. O autor, um ex-pastor adventista, compartilha suas experiências e reflexões sobre a fé e a verdade, buscando libertar aqueles que se sentem enganados. A obra é recomendada para quem deseja ajudar amigos adventistas a questionar suas crenças.

Enviado por

Wegton Almeida
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Adventista - A Igreja de Vidro

O livro 'Igreja de Vidro' de Ubaldo Torres de Araújo critica a Igreja Adventista do Sétimo Dia, denunciando plágios nos escritos de Ellen White e a dificuldade que os fiéis têm em abandonar a seita. O autor, um ex-pastor adventista, compartilha suas experiências e reflexões sobre a fé e a verdade, buscando libertar aqueles que se sentem enganados. A obra é recomendada para quem deseja ajudar amigos adventistas a questionar suas crenças.

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Ubaldo Torres de Araújo

IGREJA
DE
VIDRO
O homem que se libertou do
medo e da culpa não vive a vida
de ninguém. Basta-lhe a sua. Não
é a ele que este livro é dedicado.
Mas aquele que vive a vida de
outrem por empréstimo.
IGREJA DE VIDRO
Ubaldo Torres de Araújo

Copyright © 2008

Capa e Diagramação
Wegton Almeida dos Santos

Diagramação
Nova Almeida Comunicação
[email protected]
Ubaldo Torres de Araújo

IGREJA DE VIDRO

O homem que se libertou do medo e da culpa não vive a vida de ninguém. Basta-lhe
a sua. Não é a ele que este livro é dedicado. Mas aquele que vive a vida de outrem
por empréstimo.
SOBRE O LIVRO

Esta obra foi escrita por um ex-pastor adventista o Dr. Ubaldo


Torres de Araújo. Embora seja de autoria de um protestante e
que faz uma outra ou crítica à Igreja Católica, ainda sim recomen-
damos este livro aos nossos leitores por causa do espírito sincero
e pelas preciosas informações que ele traz.

Neste livro o autor denuncia o plágio de diversos autores pre-


sente nos escritos que a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD)
atribui a Sra. Ellen White, afirmando serem inspirados por Deus.
A tática de aliciamento da IASD também é revelado, além de ex-
plicar porque é tão penoso a um fiel adventista deixar a seita.

Prezado leitor, este livro é recomendado a você que deseja


ajudar um amigo seu que é adventista a deixar de ser enganado
pela IASD. Leia esta obra e a recomende a seu amigo. Com efei-
to, as linhas que aqui estão serão de grande valida para libertar
muitas almas sinceras das garraras de homens aproveitadores da
boa fé alheia.
INDICE

1. O Porquê Deste Livro-------------------------- 22


2. Dois Acontecimentos Marcantes-------------- 24
3. Foi Assim Que Nasceu Este Trabalho--------- 26
4. Os Empréstimos------------------------------- 28
5. Ainda Os Empréstimos------------------------ 35
6. Uma Historia Que Nem Todos Conhecem ---- 37
7. “Most Schocking In All”------------------------ 40
8. Uma Figura Preeminente---------------------- 42
9. Correligionários Contemporaneos------------- 44
10. Estas Profecias Não Se Cumpriram --------- 48
11. Eventos Bíblicos ----------------------------- 52
12. O Dízimo E A Benevolência Sistemática---- 54
13. A Carne De Porco---------------------------- 56
14. O Dia Em Que Eu Tive Muita Raiva---------- 58
15. Quando O Dinheiro É Importante----------- 60
16. Isto A Igreja Não Pode Dizer
Nem Explicar --------------------------------- 65
17. Ela Não Morreu------------------------------- 67
18. Os “Inimigos” Da Verdade------------------- 71
19. O Véu, O Grande Empecilho----------------- 74
20. Introdução À Segunda Parte----------------- 76
21. As Sete Igrejas Do Apocalipse
Como Arma----------------------------------- 79
22. O Testemunho De Jesus--------------------- 92
23. E Ele Não Veio...----------------------------- 96
24. A Neurose Da Perseguição------------------ 104
25. Historietas Que Ajudam--------------------- 108
26. A Prisão Perpétua--------------------------- 110

27. Palavras Finais------------------------------- 113


11
1 O Porquê Deste Livro
A partir do momento em que O ADVENTISMO passou a ser
exposto nas livrarias evangélicas do país, comecei a receber inú-
meras cartas de irmãos adventistas, pedindo esclarecimentos e
publicações a respeito de Ellen White. E como, ultimamente, car-
tas têm chegado com mais insistência, achei por bem publicar
estes comentários, na expectativa de que eles venham a dirimir
as dúvidas que incomodam a muitos.
Tendo eu vivido muitos anos entre os adventistas, pude, como
era natural, constatar que nem todos os crentes com os quais
mantive relações de amizade criam na inspiração divina dos es-
critos de Ellen White. Eu, de minha parte, não me incluía nesse
rol. Muito ao contrário, desde cedo aprendi a colocar os livros
dela no mesmo pé de igualdade com os de escritores bíblicos.
Os meus mestres me haviam falado da sua infalibilidade doutri-
nária.
Veja só a que ponto chegava a minha submissão. Logo que
O ADVENTISMO foi publicado, recebi uma carta de um amigo
nordestino. Ele me fez recordar um fato curioso e até mesmo
estranho na minha trajetória religiosa. Lembrou-me que me viu,
certo sábado, subir ao púlpito, levando comigo a Bíblia e vários
livros de Ellen White. Ao final do meu sermão, ele perguntou a si
mesmo:
– Para que esse homem conduziu a Bíblia para o púlpito?
A pergunta era lógica e tinha sentido. É que eu li, na ocasião,
vários trechos da Srª. White, enquanto que a Bíblia era simples-
mente olvidada, e permaneceu intocável durante todo o sermão.
Não a abri sequer.
Meu amigo não mentiu. Disse de fato a verdade. Não fiz isto
apenas uma vez, tão doentia era a dedicação que emprestava
aos escritos de Ellen White.
Mas chegou o dia em que tudo mudou. E que aliviadora mu-
dança ! Uma percepção clara dos fatos que me cercavam tomou
conta do meu ser. E agora, dentro da minha nova dimensão, sei

12
13
situar Ellen White no lugar adequado. E essa colocação, segundo
a minha concepção, está esboçada nos dezenove primeiros capí-
tulos deste volume. Eles são a resposta mais clara, mais farta, às
constantes perguntas que me têm feitos os leitores adventistas.
Utilizando-me dos oitos capítulos da segunda parte deste li-
vro, procuro responder a uma pergunta que evangélicos me têm
feito:
– Por que é tão difícil fazer com que um adventista abandone
sua convicção religiosa?

14
15
2 Dois Acontecimentos
Marcantes
No tocante às coisas religiosas, duas decepções marcaram mi-
nha vida. A segunda, de maneira mais forte do que a primeira. A
primeira aconteceu em 1954, quando eu me tornei adventista do
sétimo dia. Esperava encontrar no meu novo habitat o mar de ro-
sas que minh´alma ansiava. Mas foi um engano. Encontrei lutas,
interesses em choque, egoísmo, desejo de supremacia, etc.
A cicatriz formada, no entanto, desapareceu a partir do mo-
mento em que tomei consciência de que eu mesmo estava im-
buído do mesmo estado de imperfeição. Se eu era imperfeito,
se em mim não havia qualquer brilho, que direito teria eu de me
chocar com as falhas alheias? Acabei compreendendo que a igre-
ja não era o fim da caminhada, mas o caminho por onde ainda
estava viajando. E assim desapareceu a primeira cicatriz. A se-
gunda decepção veio quase trinta anos depois. Esta sim,deixou
uma marca profunda. Felizmente, agora, só a cicatriz permanece,
porque a ferida já está sarada.
A casca caiu. Mas que decepção? Quando eu descobri que
estava equivocado, depois de três décadas de convivência com
um povo que orgulhosamente diz ser, com toda exclusividade, o
povo de Deus, não me foi nada fácil suportar o tranco. Senti-me
como um homem enganado e quase traído em seus propósitos.
Não entrei, porém, em pânico. Eu já sabia que todas as coisas
contribuem para o bem daqueles que amam a Deus. Havia apren-
dido este ensinamento do apóstolo Paulo.
Os meus mestres me haviam ensinado, entre outras coisas,
que os escritos de Ellen White eram inspirados na mesma medida
em que são os dos escritores bíblicos. E a minha docilidade de
discípulo sequioso de conhecer a verdade aceitou a “dádiva” com
o suspiro de contentamento.
Por mais que meus bondosos mestres tentassem esconder os
fatos (o que certamente fazem para não magoar as ovelhas do
rebanho), chegou o dia em que, esfregando as mãos nos olhos, as

16
remelas foram caindo pouco a pouco. E eu comecei a VER.
Imagine, leitor, que na escuridão da noite, você chega a uma
mansão desconhecida. Transpões a porta de entrada, com difi-
culdade, e nada vê, até que seus dedos vão de encontro ao inter-
ruptor, e você acende a primeira lâmpada da sala. Agora, já lhe
é fácil encontrar e acionar os interruptores dos outros comparti-
mentos, aproveitando a projeção da luz. Finalmente, com todas
as lâmpadas acesas você tem a visão completa da bela mansão.
Assim aconteceu comigo. Devagar, mas com firmeza, fui fa-
zendo o reconhecimento do terreno teológico em que estava pi-
sando. E vi que não era firme.

Se você permitir que a Verdade


o procure, Ela o achará.

17
3 Foi Assim Que
Nasceu Este Trabalho
Um dia estava em minha casa, quando recebi a visita de um
amigo, homem culto e de educação primorosa. Eu já estava desli-
gado da comunidade. Ele viera apelar (e o fez com toda seriedade)
para que eu retornasse ao redil. Por esses tempos, minha mente
era um verdadeiro redemoinho de dúvidas, certezas e incertezas.
Um estudo minucioso de Romanos 14:5 e 6 me levava a crer que
a Igreja Adventista estava equivocada quanto à sua inter-
pretação. Em seguida, minha curiosidade me induziu a fazer um
estudo comparativo entre os dois grande concertos.
Também aqui minhas conclusões não casaram com o pensa-
mento da Igreja. E assim, continuei examinando tudo, desprovi-
do de preconceitos, e descondicionado. Sá assim poderia colher
vantagens do meus estudo. Foi neste estado que meu amigo me
encontrou.
Pois bem. Eis que o visitante, em meio aos meus apelos, falou-
me a respeito de recentes acusações feitas a Ellen White, em jor-
nais dos Estados Unidos.Até hoje estou sem saber que motivos o
levaram a abordar o assunto que, para mim, era completamente
desconhecido. É provável que ele estivesse convicto de que mi-
nha recusa e em retornar à Igreja se ligasse a fatos que cerca-
vam a vida de Ellen White, e que imaginava já serem do meu
conhecimento. Mas não eram. Houve, provavelmente, um erro
de avaliação da parte dele. A partir daquele momento, eu dava o
primeiro passo para chegar ao conhecimento do segredo de uma
questão que (vim a saber depois) vinha sendo abafada há mais
de um século.
A vinda do amigo à minha casa não foi obra do acaso, que
não existe. Havia um propósito divino em tudo aquilo. As coisas
acontecem porque precisam acontecer. Há uma lei de causa e
efeito da qual ninguém consegue escapar, nem mesmo o mágico
mais esperto.
Digo que a notícia que acabava de receber foi para mim uma

18
“chave mágica”, pois a partir dela é que cheguei às minhas con-
clusões finais. Como assim? A doutrina Adventista se fundamen-
ta praticamente nos ensinamentos da Srª. White. E a credibilida-
de dela estava em jogo. E o que aconteceria se as suspeitas que
em mim acabavam de ser despertadas fossem confirmadas? O
edifício simplesmente ruiria. É o que sempre acontece quando as
bases são falsas.
E hoje estou absolutamente convicto de que o edifício espiri-
tual da igreja dos meus sonhos de outrora está comprometido.
Sei, agora, que a igreja que me abrigou por três décadas é de vi-
dro. Suas vidraças estão partidas. Posso vislumbrar o seu interior.
E devo isto, em parte, ao meu amigo visitante que, sem saber, foi
um instrumento divino para me ajudar no tempo certo.
As coisas acontecem porque precisam acontecer.Foi assim
que nasceu este volume.

“Não há juíz mais justo e severo


do que o tempo”.
(Adágio popular).

19
4 Os Empréstimos

Quando meu visitante me falou de uma entrevista de Walter


Rea, ministro adventista descredenciado, e publicada no Los An-
geles Times, minha curiosidade despertou. E alguns dias depois
eu já estava escrevendo para o jornal de Los Angeles, pedindo
uma cópia da entrevista. Quinze dias mais tarde, o xerox estava
em minhas mãos. Pouco depois, recebia também uma carta do
próprio Walter Rea que, por sua vez, me enviava igualmente uma
cópia, embora eu não lhe tivesse encaminhado qualquer pedido
nesse sentido. A publicação aborda fatos relacionados com a lite-
ratura plagiada de Ellen White.
Meses se passaram, até que um dia o livro “101 RESPOSTAS AS
PERGUNTAS DO DR.FORD”, impresso pela Casa Publicadora Bra-
sileira, caiu em minhas mãos. E à página 84 pude ler: “É fato que
Ellen White verdadeiramente usou obras de outros autores até
certo ponto, enquanto empenhada em seus escritos, mas não há
nenhuma evidência de intenção de fraude por parte dela, nem
há evidência de que qualquer outro autor fosse alguma vez pri-
vado de seus legítimos benefícios por causa das atividades dela.
Nenhum editor ou autor em qualquer terra já processou ou ame-
açou processar Ellen White sob a alegação de que direitos auto-
rais ou editoriais houvessem sido infringidos.”
Como se vê, admiti-se que “Ellen White verdadeiramente usou
obras de outros autores até certo ponto...”. Só que esse “até cer-
to ponto” não representa toda a verdade. Quem desejar sentir a
proporção dos plágios de Ellen White basta ler o livro THE WHITE
LIE (A MENTIRA BRANCA) de Walter Rea, recentemente publica-
dos nos Estados Unidos. O que apresento neste capítulo é apenas
uma mostra da realidade. Mas é o suficiente para inteirar o leitor
dos principais pontos da questão.
Quero destacar, em prosseguimento, o fato de se firmar que
“não há nenhuma evidência de intenção de fraude por parte de
Ellen White.” Esta é uma conjectura por demais leviana. Quem
pratica plágio na proporção desenvolvida por Ellen White não o

20
faz por equívoco, mas conscientemente, a não ser que queiramos
admitir a hipótese absurda e inaceitável de que o que houve não
passou de mera coincidência. Houve fraude, sem dúvida. Os fa-
tos e
investigações o dizem.
É– nos dito, também, que “nenhum editor ou autor em qual-
quer terra já processou ou ameaçou processar Ellen White sob a
alegação de que direitos autorais ou editoriais houvessem sido
infringidos.”. Essa alegação não é digna de um bom advogado.
Sim, porque o fato de não ter sido indiciada por apropriação in-
débita não a isenta de culpa, assim como não está livre de res-
ponsabilidade o faltoso cujo delito está encoberto.
Ellen White continua culpada, ainda que não tenha sido con-
siderada como tal pelo advogado contratado para defende-la.
Plágio é engano, é uso indevido de literatura pertencente a ou-
trem. E justifica-lo não é menos do que defende-lo. A defesa de
Ellen White não pára por aí. Os seus teimosos seguidores têm
procurado inocentar seu procedimento, citando outros autores
que igualmente foram excelentes peritos na arte de plagiar. Mas
é o caso de se perguntar: desde quando o erro justifica o erro?
Nenhum réu culpado até hoje se tornou livre de culpa pela exis-
tência de outros em igualdade de condições.
Ellen White era, aos próprios olhos, profetisa e mensageira do
Senhor. Atribuía a Deus a origem de seus escritos. Mas ela en-
cheu seus livros de escritos de vários escritores, entre os quais
posso destacar: John Harris, William Hanna, Alfred Ederrsheim,
Daniel march, Cunningham Geikie, James Aitken Wyllie, William
Miller, Hannah Smith, Almou Underwood, Eduard Kirk, William
M.Tayllor.
Nem mesmo Uriah Smith escapou das garras de Ellen e James
White e das assistentes editoriais dela. Como assistentes empe-
nhadas em plagiar em nome de Deus e dos anjos, podemos des-
tcar: Fannie Bolton, Mirian Davis, Sarah Peck, Mary Steward e
Mary H.Crisler.
A seguir, o leitor vai defrontar-se com alguns exemplos de có-
pias. É pena que o tamanho deste livro não me tenha permitido

21
uma inclusão abundante, como era de se desejar.
De O Grande Professor, John Harris:

“... Ele veio e estabeleceu Seu tabernáculo no meio do acam-


pamento humano, armou Sua tenda lado a lado com as nossas
tendas, para atestar a presença de Deus, para nos tornar familia-
res ao Seu caráter e sensíveis ao Seu amor.”

De O Desejado de Todas as Nações, 1898, da Srª. White:


“Assim Cristo estabeleceu Seu tabernáculo no meio do acam-
pamento humano. Ele armou Sua tenda ao lado das dos homens,
morou entre nós e nos familiarizou com seu divino caráter e
vida”.

De um anônimo, conforme edição de Rewiew and Herald,


1871:
“A maior necessidade desta época são homens, homens que
não se vendem, homens que sejam honestos, homens sãos de
dentro para fora, verdadeiros de coração, homens que condenam
o erro no amigo ou no inimigo, em si como nos outros, homens
cujas consciências são tão fiéis como a bússola o é ao pólo.”

Em education, edição de 1903, o trecho, parece como obra


prima da pena “inspirada” de Ellen White:
“ A maior necessidade do mundo é de homens, homens que
não se compram nem se vendem, homens que em sua vidas se-
jam verdadeiros e honestos, e que não tenham medo de chamar
o pecado pelo seu próprio nome, homens cuja consciência seja
tão leal para com o dever como a bússola o é ao pólo.”
Da Casa de Nosso Pai, 1871, de Daniel March:
“ A águia dos Alpes é às vezes abaixada pela tempestade para
dentro do desfiladeiro estreito das montanhas. As nuvens escu-
ras e massas tormentosas passam entre a ave poderosa e as altu-
ras ensolaradas onde ela constrói seu ninho e descansa em pleno
dia. Por um tempo, ela corre para lá e para cá batendo a tempes-
tade com as suas asas fortes e provocando os ecos da montanha

22
com seu grito selvagem, procurando em vão alguma saída de sua
prisão escura e de paredes altas.”

De Education de Ellen White:


“ A águia dos Alpes é às vezes abaixada pela tempestade para
os desfiladeiros estreitos das montanhas. Nuvens tempestuosas
fecham essa ave poderosa da floresta em sua massas escuras,
separando-a das alturas ensoladas onde ela faz seu lar. Seus es-
forços para escapar parecem infrutíferos. Ela corre para lá e para
cá, batendo o ar com suas asas fortes e provocando os ecos mon-
tanhosos com seus gritos.”

Poderia prosseguir indefinidamente, citando tantos textos


quantos desejasse, para provar a não autenticidade da maior
parte dos escritos atribuídos a Ellen White. O espaço, porém, não
me permite faze-lo. Agora, leitor, quero chamar sua atenção para
um incidente curioso e até irônico. Há anos atrás, fui convidado
a participar de um debate, em uma capital nordestina, com uma
fcção dos chamados grupos “reformistas”. Pretendia-se esclare-
cer a quem Ellen White havia legado as “suas” mensagens: se aos
adventistas do sétimo dia ou se a facção reformista, também do
sétimo dia. O debate prolongou-se até horas avançadas da noite,
e não se chegou a nenhuma conclusão.
Felizmente, naquela ocasião, os ânimos não se exaltaram, ao
contrário do que havia acontecido, no passado, em uma reunião
da antiga Liga das Nações, quando os participantes quebraram
as cadeiras nas cabeças uns dos outros, em uma reunião onde
se discutia a paz mundial. Na nossa reunião não houve violên-
cia física, mas não levamos para casa além de ilusões, cansaço
e sentimento de animosidade. Veja só, como, às vezes andamos
por caminhos esquisitos, e não nos damos conta disto. É que es-
távamos discutindo os nossos direitos sobre a literatura de Ellen
White, e não sabíamos (nem a outra parte) que brigávamos por
escritos atribuídos a ela, mas que, em grande parte, tinham sido
subtraídos de outros escritores.
A vida é assim. Muitas vezes somos traídos pelo nosso fervor e

23
ignorância juntos. Continuando, quero informar aos leitores que
as cópias de Ellen “White e de seus assistentes não se limitaram
a material literário propriamente dito. Até mesmo títulos de capí-
tulos foram usados como empréstimo compulsório.
Atente para os exemplos abaixo:

• Patriarcas e Profetas, edição em inglês, 1958


• The Creation
• The Flood
• The Call of Abraham
• Destruction of Sodom
• The Marriage of Isac
• The Death of Saul
• The Fall of Jericho
• The Anointing of David
• História da Bíblia de Alfred Edermeim, 1876-1880
• Criation
• The Flood
• The Calling of Abram
• Destruction of Sodom
• The Mariage of Isac
• The Miraculous Fall of Jericho

24
O desejo de copiar parecia, cada vez mais, obedecer à lei do
menor esforço. É incomparavelmente mais difícil criar do que co-
piar o que os outros já escreveram. Mas, convenhamos, copiar
até mesmo títulos de capítulos, ipsis litteris,nem seria necessário.
A ordem, entretanto, era escrever cada vez mais, e só plagiando
seria possível atingir rapidamente a meta prevista. Era sem limi-
tes a ânsia da família White para fazer dinheiro. E não é só. A obra
precisava ser completa.
E assim é que até mesmo figuras foram fraudulentamente
subtraídas do livro A História do Protestantismo de J. A. Wylie e
inseridas em O Grande Conflito, edição em inglês, impressa em
Oakland, Califórnia, 1886. Em alguns casos, as iniciais dos autores
dos desenhos foram simplesmente apagadas. Em outro, raspa-
das e, em seu lugar, colocadas estas palavras: Press, Oakland, Cal.
Certifique-se deste fato lendo The White Lie.
Irmão adventista, não sei se você percebeu que, por vezes, so-
mos muito preguiçosos e relutantes em encarar a realidade dos
fatos, com a seriedade que Deus deseja de nós. Eu espero que
você não seja um desses. Você não pode permanecer imóvel e
indiferente diante do engano. E não pode porque não é um ir-
racional. Você tem o dever de se insurgir contra as suas próprias
conveniências, ainda que isto signifique a perda daquilo que lhe
possa parecer um privilégio ou uma vantagem. E não é privilégio
coisa nenhuma. O que se consegue às expensas do amesquinha-
mento da verdade não tem qualquer valor. É, antes, prejuízo.
Igreja, não tendo como fugir à realidade dos fatos, acabou por
reconhecer os plágios de sua mensageira. Ela, não obstante, pro-
cura desviar a atenção do fiel do ponto crucial da questão para
outro de nenhuma importância: o aspecto jurídico.
Como ela (Ellen White) não foi processada por utilização in-
débita de material1iterário alheio, então está tudo muito bem.
Que maravilha! A nossa profetisa está salva! É o que certamente
dizem ou pensam.
Para mim, não seria nenhuma surpresa se os seus defensores,
diante da grande “vitória” alcançada por um advogado contrata-
do, movessem um processo contra os autores lesados em seus

25
escritos. É que a razão desaparece quando a paixão e a intransi-
gência são as forças que comandam a mente.
Juridicamente, a Igreja absolveu Ellen White. Mas moralmen-
te? Bem, tudo, até o inesperado pode acontecer, em se tratando
de homens que agem e falam em nome de Deus.

“O homem recorre à verdade


somente quando lhe faltam As
mentiras”
(M. Lenoir).

26
5 Ainda Os Empréstimos

Quero, neste capítulo, referir-me novamente ao livro 101 RES-


POSTAS A PERGUNTAS DO DR. FORO, publicado pelos adventis-
tas.
O livro chega ao exagero de afirmar que “não há nenhuma evi-
dência de fraude por parte” de Ellen White, no que diz respeito
às acusações que lhe têm sido feitas no passado e, mormente,
nestes dois últimos anos. Walter Rea, em seu livro The White lie
(A Mentira Branca) diz, com sobejas e irrefutáveis provas, que o
material utilizado nos escritos de Ellen White foi recolhido de inú-
meros autores, adventistas e não adventistas, não somente por
ela, mas ainda por um razoável número de pessoas, como James
White e várias secretárias, sem falar de ministros, que também
davam a sua colaboração. E tudo foi feito, compilado, pilhado e
publicado em nome de Deus e dos anjos.
E nada havia que não fosse inspirado. Dá-nos pena ver os de-
fensores de Ellen White empenhados na tentativa de inocentar o
seu procedimento, citando outros autores que igualmente foram
excelentes peritos na arte de plagiar. Mas o que tem a ver uma
coisa com a outra? Desde quando o erro justifica o erro?
Nenhum réu confesso se tornou isento de culpa pela existên-
cia de outros nas mesmas condições. Quero transcrever o que
consta a partir da página 101 do mesmo livro:
“O uso dos escritos de Smith por Ellen White é típico do modo
como ela, usava outros autores ou há exemplos de cópia mais
próxima, palavra por palavra, possivelmente sentenças por sen-
tenças inteiras? O uso dos escritos de Smith por Ellen White era
bem típico do seu modo de fazer empréstimos literários. Há con-
tudo alguns casos de cópia ou dependência muito próxima.”
As expressões que você acabou de ler, vasadas de certo cinis-
mo, não são minhas. Elas constam do livro citado. A expressão:
“era bem típico do seu modo de fazer empréstimo” não passa de
uma tentativa cavilosa de camuflar os fatos.
Ela era a profetisa comissionada pelo Céu. Logo, podia apro-

27
priar-se de literatura (‘ que não era sua. É o que certamente pen-
sam. Chamo ainda sua atenção, leitor, para o uso incorreto da
palavra “empréstimo”, quando se trata de defender Ellen White.
Esta colocação me parece imprópria, pois o termo “empréstimo”
envolve o consentimento da outra parte.
E no caso presente, os inúmeros escritores plagiados e subtra-
ídos nos seus direitos; não foram consultados. Nem sequer lhes
foi dirigido um “muito obrigado.”
Com um marido experiente no comando, com várias secretá-
rias a plagiar dezenas de escritores, quem não consegue deixar
para a posteridade uma “vasta e inspiradora obra”?
Fica, assim, respondida a pergunta da página 27.

“Nada há mais suave que a luz


da verdade”
(Cícero).

28
6 Uma Historia Que Nem
Todos Conhecem
Em 1953, engenheiro que era dos Correios e Telégrafos, fui
designado para inspecionar obras em Campo Grande (MS).
Àquele tempo já eram constantes os meus contatos com os
adventistas. E eu estava gostando imenso deles. Um dia, um ir-
mão da cidade ofereceu-me um exemplar de O Grande Conflito:
E como o lugar não tinha pontos turísticos onde pudesse usar um
pouco do meu tempo, e como também quase nada tinha a fazer,
larguei-me a ler o livro, o que fiz de capa a capa, em curto espaço
de tempo.
O seu conteúdo impressionou-me sobremaneira, e foi a partir
daí que começou a aparecer em mim um certo espírito de animo-
sidade para com todos os católicos. É que eles são aí duramente
atacados como em nenhum outro livro de Ellen White. Hoje, pos-
so verificar que O Grande Conflito é o livro apropriado para des-
pertar no leitor desavisado e inocente um espírito de intolerância
contra católicos e protestantes.
Enquanto lia, não podia imaginar, nem de leve, que mais tarde
viria a conhecer a verdadeira história daquele que é o mais ba-
dalado livro do adventista É que a verdade, apesar de ter pernas
curtas, acabou me alcançando. Que quero dizer com isto? Ape-
nas o que você vai ler a seguir.
Em 1853 Sylvester Bliss havia escrito um livro intitulado Me-
moirs of:
William Miller. Mais tarde, James White, marido de Ellen, pu-
blicou quatro livros.
Dois deles foram; Life Incidents in Connection with the Gre-
at Advent Movement as mustrated by the Three Angels of Re-
velation XIV e Sketches of the Cristian life and Public Labors of
Wllliam Miller; Gathered from his Memoirs by the Late Sylvester
Bliss, and from Other Sources. O primeiro foi publicado em 1868,
e segundo, em 1875. Segundo Walter Rea estes dois livros foram
copiados, na sua quase totalidade, de Sylvester Bliss (Memoirs of

29
William Miller), J. N. Andrews e, Uriah Smith.
Mas agora veja o que aconteceu. Poucos anos depois da mor-
te de James White, o que ocorreu em 1881, os referidos livros
foram reimpressos, não sob o nome dele, mas com a autoria de
Ellen White, e sob o título de The Great Controversy (O Grande
Conflito), fato que aconteceu em 1884. E assim, iniciava-se mais
um ato da grande peça inaugurada em 1844, sob a direção de
James White, Ellen G. Harmon, Miller, Uriah Smith e outros. 0
famoso livro continua sendo o best-seller da Igreja, e é sempre
lembrado como a obraprima da pena: “inspirada” de Ellen White
J.
Como é difícil livrarmo-nos dos enganos e artimanhas que ho-
mens vestidos com a toga da religião, mas nem sempre dignos
de fé, nos impingem de qualquer forma em nome de Deus e dos
anjos.
Durante um quarto de século, eu li, reli, usei e abusei de O
Grande Conflito, na ilusão de que estava lendo um livro da pena
de Ellen White. Mas eu estava enganado, porque o que eu ti-
nha diante de mim, era, na sua quase totalidade, de autoria de
Sylvester Bliss, J. N. Andrews e Uriah Smith. Longe estava eu de
imaginar que pontos básicos da Igreja, tais como a doutrina do
santuário, as 2.300 tardes e manhãs e outras questões apareciam
então em O Grande Conflito como material de segunda mão. A
verdade tem pernas curtas, mas acabou me alcançando. E eu me
lembrei de um provérbio árabe que diz:
“ A primeira vez que tu me enganares, a culpa é tua; mas a
segunda vez, a, culpa será minha.”

Se daqui para a frente, leitor adventista, você continuar en-


ganado, a culpa é sua. É você que estará enganando a você mes-
mo.
A que extremos chegam as pessoas! O que está aí é dose que
só leão pode suportar .É suficiente para adoecer qualquer ho-
mem sério dotado de um mínimo, de sensibilidade. Você não
pode continuar indiferente a mais este acinte à sua boa fé!
Que a vida literária da Sra. Ellen White foi um equívoco, nin-

30
guém mais de bom senso tem dúvida; que as suas “visões” eram
fruto de uma mente vulnerável à fantasia, também é fato con-
sumado; que as suas profecias não se cumpriram, é certeza que
se não contesta; e que seus testemunhos pessoais visavam tirar
: proveito próprio da consciência alheia, também já se sabe. Sua
conduta religiosa,, todavia, continua sendo defendida pelos que
precisam dela para sobreviver.
E você, leitor? Nunca lhe ocorreu o pensamento de que al-
guém possa estar vivendo sua vida por você? Você pode estar
vivendo de acordo com opiniões e pontos de vista de outros. Isto
pode estar ocorrendo se você vive a repetir o que os outros 1 lhe
transmitiram.
E se vários ou mesmo só alguns desses comportamento ou
opiniões forem falsos, irreais? Você terá que pagar o preço, mais
cedo ou mais tarde.
Desfaça-se, portanto, deles com a mesma presteza com que
se desfaria de um sapato que lhe aperta o pé E comece nova
vida, sem pressões, sem compulsão! Em liberdade! Liberdade em
Jesus Cristo!

A verdade tem pernas curtas, e


pode até parecer capenga, mas
acaba chegando.

31
7 “Most Schocking In All”

O título supra aparece na seção RELIGIÃO do Time de Agosto


de 1982, onde podemos ler:
“O mais chocante de tudo: ela usava as palavras de autores an-
teriores como se fossem as palavras que ela escutava quando em
visão. Em alguns casos, ela usa as palavras de autores do século
dezenove como se fossem de Cristo ou de umguia celestial.”

Esta citação que você acaba de ler, o Time a recolheu da revis-


ta Ministry/7, um órgão oficial da Igreja Adventista para os seus
ministros.
Creio, leitor, que poderia encerrar este livro com este capítulo.
Eu o faria, não tivesse alguma coisa a mais para dizer. Expresso-
me assim porque isto que aí está é quase inacreditável, e já dá a
certeza da grandeza da fraude que envolvia a vida de Ellen Whi-
te.
Palavra por palavra, copiava-as, e dizia que as havia recebido
em visão. Por que precisaria ela praticar ato tão leviano?
Pare para pensar, irmão adventista! E se posso dar-lhe uma
sugestão, aqui vai ela: tenha por Ellen White o mesmo carinho
que você deve dedicar a qualquer ser humano. Ela foi alguém
por quem Jesus deu também Sua vida. E já não é o suficiente?
Não lhe tribute, porém, as qualidades de profetisa e mensageira
do Senhor. Ela não foi nem uma coisa nem outra. Os seus líderes
religiosos sabem disto. Transfira o crédito para quem de direito:
os profetas do livro de Deus.
Repetindo: os homens cultos do adventismo, e os há muitos,
os mesmos que sobem ao púlpito para exaltar a pessoa da Srª.
White sabem que a sua vida como mensageira do Senhor foi um
equívoco. Mas não podem dizê-lo. Primeiramente, porque já con-
seguiram amansar o burro bravo que se encontra dentro deles,
que é a consciência, e em segundo lugar, porque precisam dela
para poderem sobreviver.

32
“É próprio de todo homem er-
rar, mas só do homem estulto
perseverar no erro”
(Cícero)

33
8 Uma Figura
Preeminente
Durante todo o meu tempo de adventismo, James White, ma-
rido de Ellen, dava-me a impressão de ser uma figura sem ex-
pressão dentro da Organização.
Via nele uma espécie de acompanhante e protetor de sua mu-
lher. Todas as honras, todas as qualidades, todos os dotes eu os
atribuía a ela, e não a ele. Esta é também a impressão acalentada
por todos os membros leigos da Igreja. A fixação, dessa impres-
são faz parte de um plano para projetar a pessoa de Ellen no ce-
nário da Igreja. Essa falsa impressão visa colocá-la em um plano
para destacá-la como “Mensageira do Senhor.”
Os homens de negócio da Igreja procuram, naturalmente, ti-
rar todo o proveito possível de sua orientadora, até mesmo das
suas deficiências. Por exemplo, sabe-se que ela era possuidora
de cultura limitada. Até se costuma dar especial destaque a essa
sua condição de deficiência. Mas por trás disso que há não é ou-
tra coisa senão um propósito bem arquitetado, como seja o de
se fazer sobressair sua “qualidade” de mensageira inspirada pelo
Espírito de Deus.
A conclusão “ é óbvia: Ellen White, possuidora de cultura co-
mum, não poderia escrever o que, escreveu se não fosse direta-
mente dirigida pelo Espírito do Senhor.
Por toda a minha vida de adventista, este raciocínio e esta
convicção me acompanharam como se fossem minha própria
sombra. Mas eu estava redondamente enganado. James Whi-
te (compreendo agora) nunca foi uma fIgura de segunda classe.
Muito pelo contrário, enquanto viveu, foi o cérebro do movimen-
to. adventista. As iniciativas assumidas por ele e seus próprios
métodos emprestaram-lhe a condição de chefe e orientador da
Organização.
Ellen White, sua esposa, não ia além de uma espécie de “tes-
ta-de-ferro.” Ela se apresentava, à vista de todos, como a respon-
sável por tudo. Suas “visões” tiveram papel de destaque em toda

34
essa conjuntura. Assim é que ela recebeu, em “visão”, o sinal ver-
de para o plano do marido a respeito do sistema de “benevolên-
cia sistemática.”
Da mesma forma, quando o marido estava empenhado na pre-
paração de folhetos sobre saúde (material também plagiado), ela
teve a sua grande “visão” acerca da reforma da saúde. O Gran-
de Conflito é constituído de literatura plagiada por James White.
Depois da morte de James, o material foi impresso, pela primeira
vez, sob o título The Great Controversy, e levava na capa toda a
“autoridade” do nome de E1len White. James White, enquanto
viveu, foi o supersalesman do Movimento.
Não! James não foi uma figura apagada. Foi ele quem, com a
sagacidade Srª. White fossem larga e abundantemente vendidos
para proveito que lhe era inerente, criou meios para que os li-
vros atribuídos à da familia. Seus métodos continuam em uso até
hoje. Quando James morreu, seu fIlho Willie assumiu o comando,
e quase chega a igualar o pai em seus métodos. Mais tarde, Ar-
thur assume a chefia. E assim, a tocha de fogo comum, acesa em
1844, continua passando de mão para mão. E há de continuar até
o fIm. Só que não se trata de fogo sagrado.

“Quando quero fazer graça digo


sempre a verdade, pois a ver-
dade é sempre a melhor pilheria
do mundo” (B. Shaw).

35
9 Correligionários
Contemporaneos
Quando vivemos enganados com relação a um fato, compor-
tamo-nos como o engano não existisse. Mas a partir do momen-
to em que dele nos inteiramos, e se avoluma dentro de nós, e,
por vezes, nos irritamos. Isto aconteceu comigo. Tive alguns mo-
mentos com a cúpula adventista é extremamente habilidosa e
prudente, e graças a estas qualidades que lhe são peculiares, a
totalidade dos crentes leigos sabe acerca da sua profetisa somen-
te aquilo que a Igreja permite seja conhecido. Com uma sabedo-
ria humana aprimorada, os obstinados supersalesmen do passa-
do conseguiram fazer com que ficasse encoberto, por algumas
gerações, o logro teológico de Ellen White.
A religião organizada tem, muitas vezes, dado as mãos a pro-
cessos escusos, como o de abafar a verdade. Com este artifício
consegue-se, por algum tempo,imprimir vida efêmera à menti-
ra.
Ser enganado é ruim. Mas ser enganado em nome de Deus é
pior. E isto é o que tem sido feito por certos dirigentes denomi-
nacionais. Daí a razão por que eu me sinto na situação daquele
que, por mais de vinte anos, foi alimentado com o soro de um en-
gano pintado com as cores da verdade. Foi somente nestes dois
últimos anos que tomei conhecimento de uma situação de fato.
Situação que já existia desde 1844. Felizmente posso consolar-
me exclamando: antes agora do que nunca!
Neste capítulo, o leitor constatará que a fraude de que falo
não é um fato de divulgação recente. Ela já era denunciada no
passado. Protestos e advertências foram feitos por alguns mais
lúcidos e conscientes líderes da Igreja. Mas os homens de ne-
gócio da Organização, cujo comando pertencia a James White,
estabeleceram as bases para que o engano pudesse sobreviver. E
sobreviveu. E continuará sobrevivente, pois as massas apreciam
ser tapeadas, desde que sejam escovadas e alimentadas como
cavalos de cocheira.

36
Mas vamos aos fatos
1) W.W.Prescott foi professor de Bíblia, editor e colaborador
de Ellen White. Note o que ele disse:
“Parece-me que uma grande responsabilidade repousa sobre
aqueles que sabem que há sérios erros em nossos livros autoriza-
dos, e todavia não fazem nenhum esforço especial para corrigi-
los” (Willian W.Prescott para W.C.White, 06.04.1915).

2) Willard A.Colcord foi ministro, editor e secretário de liber-


dade religiosa da Conferência Geral. Veja só o que ele disse:
“O uso de abundante material escrito por outros nos escri-
tos da irmã White, sem referências e créditos, tem trazido para
ela e seus escritos uma série de dificuldades” (Carta de Willard
A.Colcord, 23.02.1912).

3) Camden Lacey, professor de Bíblia, ministro e amigo pesso-


al da família

White assim se expressou, certa ocasião:


“Miriam Davis estava encarregada da preparação de O Dese-
jado de todas as Nações... e ela juntava o seu material de várias
fontes disponíveis...Ela estava grandemente preocupada em en-
contrar material apropriado dar” (H. Camden to Leroy E. Froom,
11.08.1945; H. Camden Lacey to Arthur

V. Spalding, 03.06.1947).

4) John H.Kellog, escritor, professor, amigo pessoal da família


White falou assim:
“Eu não acredito e nunca acreditei na sua infalibilidade. Eu lhe
disse oito anos atrás que algumas das coisas que ela me enviou
como testemunhos não eram verdadeiras, não estavam em har-
monia com os fatos, e ela mesma o constatou.
..Eu conheço pessoas que vão à irmã White com algum plano
ou esquema que eles desejam executar com o seu endosso, e ela

37
se levanta e diz: ‘0 Senhor tem falado.’ e eu sei que se trata de
fraude, e que está tirando vantagem do espírito e da consciência
do povo. ..eu não simpatizo com isso, e o disse a W. C. White, no
passado” (An Authentic Interview, 07.10.1907).

5)Arthur G. Daniels foi presidente da Conferência Geral de


1912 até 1922.
São suas as palavras abaixo, acerca do livro A Vida de Paulo,
atribuído a Ellen White:
“ Agora você conhece alguma coisa a respeito do pequeno li-
vro A Vida de Paulo. ..Nunca podemos reivindicar inspiração em
todo o pensamento e composição do livro. ..Não foram dados os
créditos aos próprios autores.
..Pessoalmente, isto nunca abalou minha fé, mas há pessoas
que têm sido grandemente prejudicadas por isto. ..” (Spectrum
10, nº.1, Maio 1979).

Aqui estão, leitor amigo, alguns testemunhos irrefutáveis de


contemporâneos e amigos da Sª.White. Todos eles preocupados
com os rumos que ela e seus colaboradores estavam seguindo.
Já àquele tempo, a fraude que envolvia os seus escritos era do
conhecimento de alguns. 1?: impressionante, porém, que, decor-
ridos tantos anos, o membro leigo, aqui no Brasil, tenha estado
tão ignorante com relação a esses fatos. Os supersalesmen brasi-
leiros, sagazes como seus colegas americanos, conseguiram fazer
com que o engano chegasse até os nossos dias, vestido com as
roupas da verdade.
Agora, o que mais será necessário acrescentar? Nada! Mas a
“mensageira” do Senhor está, hoje, mais viva do que nunca, na
mente destas duas classes de pessoas: os seus defensores inte-
resseiros e a grande massa ignorante e tola.
Para mim, Ellen White morreu, e com ela os “seus;’ escritos.
Para mim, sua vida foi um engano. Um engano calculado. Aban-
donei a fé na sua “inspiração” com a mesma satisfação com que
o convalescente abandona a bengala, por já não precisar mais
dela. Mas ela não pode ser apontada como a única responsável

38
pelo caos teológico do adventismo.
Igualmente responsáveis são seu marido James, seu filho
Willie, o neto Arthur, suas secretárias e inúmeros ministros que
acobertaram os seus erros, no passado. E quanto aos seus cola-
boradores e advogados, nos dias de hoje, a lista é grande demais.
Não caberia em um livro de proporções reduzidas como este.

“Confessar um erro é demon-


strar, com modéstia, que se fez
progresso na arte de raciocinar”
(Murilo mendes).

39
10 Estas Profecias
Não Se Cumpriram
Desde os sete anos fui um católico praticante. O lar de meus
pais, numa cidadezinha escondida no sertão do Piauí, era, às
vezes, hospedaria de padres. De modo que era natural que se
desenvolvesse em meu espírito juvenil um crescente sentimen-
to místico. Acresce a isto o fato de eu haver também estudado
em colégio de orientação religiosa até os dezesseis. Assim é que,
mais tarde, quando a BÍblia caiu em minhas mãos exerceu um
verdadeiro fascínio em minha vida. Tudo nela me impressionava.
E não o posso deixar de dizer que as profecias me atingiram em
cheio. Daniel tornou-se o meu profeta predileto.
E tanto isto é verdade, que eu tinha na ponta da língua tudo
que a Igreja me havia ensinado a respeito. Assim, era natural
também que Ellen White, apontada e respeitada como a inigua-
lável e única profetisa dos tempos modernos, exercesse, por sua
vez, uma grande atração sobre a minha pessoa. E exerceu. Tal,
porém, não se fez em virtude de fatos concretos, mas por meio
de coisas mais ou menos corriqueiras estabeleci das para tornar
enfeitiçante a sua personalidade. As lavagens cerebrais suaves,
mas repetidas, tiveram grande influência na complementação :
da minha vida religiosa.
Conhecedor do funcionamento do meu subconsciente, hoje
mais do que há trinta anos, posso compreender porque a Srª.
White me pareceu ser a profetisa !enviada pelo Céu para instruir
as pobres e atrasadas criaturas, nestes dias modernos. Embora
não sintamos, concretamente, a presença do subconsciente, é
ele que tudo dirige. Quando dormimos, ele permanece acorda-
do e vigilante, e no comando. Age, entretanto, cegamente, sem
exercer qualquer triagem ou seleção sobre os pensamentos ou
impressões recebidos via consciente. É um automático e fiel exe-
cutor. É por isso que nós nos condicionamos facilmente. E sem o
percebermos. A lavagem cerebral, que é sugestão, se faz sentir
através da ação programada e repetida. Foi assim que Ellen Whi-

40
te se tornou, para mim, a profetisa dos últimos dias, a dádiva de
Deus para mostrar aos pecadores os caminhos eternos. Eu não
percebia que o meu apego à Lei, à obediência como veículo de
salvação, ao sábado e aos escritos da Srª.White estavam, ainda
que eu não desejasse, nem percebesse, substituindo Cristo em
minha vida. O legalismo, que é tudo isto ; e mais alguma coisa,
acaba desempenhando, na vida do crente, um papel danoso e
substitutivo.
E hoje, o que dizer? Chegou o dia em que compreendi que
precisava estabelecer um contato comigo mesmo. Mas logo de
início pude perceber que nada poderia fazer, nesse sentido, se
não desprogramasse o meu subconsciente. Pus mãos à obra, e
os louros da vitória foram aparecendo, pouco a pouco. A mente
já podia ver com mais clareza. Ela, devagar, desanuviava-se. O
medo já não me incomodava tanto. E parti para a investigação,
com desassombro. Eu me tomei um investigador que queria sa-
ber, a todo custo. E acabei compreendendo que Ellen White não
foi uma profetisa. Ela foi alguém por quem Jesus deu Sua vida. E
precisaria mais?
Vamos aos fatos. A Srª.Ellen White havia mostrado que a por-
ta da graça estava, para sempre, fechada para aqueles que não
tinham aceito a mensagem de 1844. Esta situação perdurou por
algum tempo, quando então, por meio de processos vários, ade-
quados para desviar a atenção, a situação foi se restabelecendo.
Ela havia declarado:

“Por algum tempo, depois da decepção de 1844, mantive, jun-


tamente com o corpo do advento que a porta da ~a estava para
sempre fechada para o mundo”
(Mensagens Escolhidas I, primeira edição, página 63).

Muitos creram, como era de se esperar, que ela tinha sido ilu-
minada pelo Espírito de Deus ao fazer o seu estranho prognósti-
co. Mas houve discordâncias. E o mesmo “espírito” voltou, mais
tarde, para informar que ele mesmo havia cometido um engano.
E assim, a porta era novamente aberta para alegria dos pecado-

41
res.
A grande “revelação” não se cumprira. Mas o poder de sub-
missão que os escritos atribuídos à Srª.White ainda hoje exercem
sobre leigos e assalariados é alguma coisa que escapa à imagina-
ção. É tão grande tal influência, que chega a truncar completa-
mente o raciocínio das pessoas. Não foi por acaso que um conhe-
cido líder da Igreja, ministro, escritor, redator, chegou a classificar
de levianas as acusações que têm sido feitas a Ellen White, nesta
questão. E não é só. A ignorância a respeito dos deslises dela é
fato tão notório que, há poucos dias, quando eu dizia a um dos
seus admiradores que a porta da graça continuava aberta, em
que pese ter a Srª.White se encarregado de fechá-la por conta
própria de– pois da decepção de 1844, ele exclamou com aquela
expressão de coitado:
– E ela disse isso? A surpresa justifica-se: o incidente não tem
trânsito livre na Igreja. Aos tolos engana-se com qualquer tolice.
Pessoas há que se esquecem de que, a nível humano, o seu eu
verdadeiro é a única e legítima autoridade terrena, psicologica-
mente falando. Por isso, não[o param de cometer erros desse
tipo. E o pior é que, como disse Cícero, é próprio “do homem
estultoperseverar no erro.”
Em outra ocasião, referindo-se a um conflito armado entre os
Estados Unidos e a Inglaterra, a Srª.White disse :
“Se a Inglaterra pensa que poderá fazê-lo, não hesitará um só
momento em alargar suas oportunidades de exercer seu poderio
e humilhar nossa nação.
Quando a Inglaterra declarar guerra, todas as nações terão o
seu próprio interesse em acudir, e haverá guerra geral” (Teste-
monies, vol. I).
Para o bem e felicidade de todos, a profecia não se cumpriu. E
tudo indica que as chances de um choque armado entre as duas
nações são cada vez mais remotas. Há quem diga que a Srª.White
não quis dizer exatamente o que disse.

Que o “haverá” dela – é condicional. Mas por enquanto os


gramáticos continuam sustentando que quando o verbo está no

42
tempo futuro (como HAVERA), não pode ser confundido com o
“condicional.” Quanto a mim, continuo desejando que os dois pa-
íses permaneçam como bons amigos. Um conflito entre eles seria
desastroso para o mundo.
Comentemos mais um furo profético de Ellen White. Retiro do
livro Primeiros Escritos, primeira edição, página 15:
“Logo ouvimos a voz de Deus, semelhante a muitas águas, a
qual nos anunciou o dia e a hora da volta de Jesus.”
Jesus havia dito que quanto àquele dia e hora ninguém sabia,
nem Ele nem os anjos, senão somente o Pai (Mt. 24:36). Mas a Sr.
White sabia.
Alguns, decepcionados com a predição de caráter puramen-
te anti-bíblico, pressionaram sua profetisa para esclarecimentos.
Foi quando ela se saiu muito bem. Esclareceu que havia esqueci-
do aparte da visão concernente ao dia e a hora. O assunto ficou
encerrado per omnia saecula saeculorum. É muito fácil distrair os
incautos. Algumas palavras bastam.
Nem mesmo um em dez mil adventistas tem conhecimento
desta fantasiosa previsão da Srª. White. Esta, também, não tem
trânsito livre na Igreja. É nem poderia ser diferente, já se vê.

Poucos estão interessados


naverdade. A maioria prefere a
mentira disfarçada.

43
11 Eventos Bíblicos

A desculpa e a evasiva sempre foram as armas preferidas pe-


los que não têm coragem. Coragem para aceitar uma mudança
de ponto de vista, quando a alteração tende a remover o homem
do seu estado cômodo, seja no campo social, cultural, financeiro
ou religioso, é quase impossível.
O livro publicado pelos adventistas, intitulado 101 RESPOSTAS
A PERGUNTAS DO DR. FORD é um exemplo patente desse tipo de
fraqueza humana. E provo-o. Segundo Desmond Ford, homem
estudioso e respeitado teólogo, Ellen White cometeu vários er-
ros na apresentação de eventos bíblicocos, (1) quando mencio-
nou o número dos aliados de Abraão, (2) quando afirmou que foi
Deus quem ordenou a Adão e Eva que não tocassem no fruto, e
posteriomente disse que as palavras partiram de Eva, (3) quando
em um lugar disse que foram oito as pessoas que receberam a
mensagem de Noé, e, em outra oportunidade, disse que outros
creram na pregação de Noé. Vejamos, agora, como a Igreja se
defende, conforme consta da página 68 do livro em foco:
“Nem sempre Ellen White narrava eventos bíblicos com abso-
luta precisão, demonstrando, dessa forma, que ela não é infalí-
vel. A esse respeito tinha ela muito em comum com os profetas
bíblicos, que também não eram infalíveis.”
Às vezes, os homens escrevem coisas sutis como se todos os
leitores não passassem de uns boçaloides. No caso presente, eles
sabem que estão dando à palavra “infalível” uma aplicação in-
correta, pois consideram El1en White (como os profetas bíblicos)
falível em seu procedimento, mas nunca em seus escritos. E aqui
se trata de coisas que ela escreveu. Logo, o termo “infalível” é
usado com o propósito de confundir .
Para muitos ministros adventistas, tão elevado é o conceito
que têm da Srª. White, como profetisa e mensageira do Senhor,
que se chega a vasculhar a Bíblia, na tentativa de nela encontrar
falhas, a fim de que possam ser justificadas as que ela cometeu.
Que pena! O livro termina por apoiar os enganos de Ellen Whi-

44
te quanto a eventos bíblicos, desta maneira curiosa:
(“A Bíblia é um guia infalível para o Céu, e contudo foi escrita
por seres humanos a quem foi permitido, na providência de Deus,
cometer erros em seus escritos em assuntos que não afetassem a
salvação de ninguém” (página 69).
Quero crer que o autor não foi muito feliz ao emitir o pensa-
mento acima. Deus não induz ninguém ao erro, seja ele pequeno
ou grande. Erro é sempre erro não deixa de sê-lo só porque ao
homem possa parecer grande ou pequeno.
Ele sempre afeta a nossa salvação. Erro que comete é o ho-
mem falível, mas nunca com respaldo divino, como quer o autor
do livro. Se amanhã alguém acusar Ellen White em pontos rela-
cionados diretamente com a nossa salvação.
Procurar-se-á encontrar (e se encontrará) na Bíblia, semelhan-
te situação, para Que a dela possa ser justificada e desculpada.
Os homens continuam os mesmos. Não mudaram. Só os méto-
dos é que diferem um pouco, uns dos
outros, quando se compara o homem primitivo com o de
hoje.

“A verdade é o alicerce da auto-


ridade”
(Catão).

45
12 O Dízimo E A
Benevolência
Sistemática
O Dr. Desmond Ford, em documento de 991 páginas, que pu-
blicou nos Estados Unidos, diz que Ellen White caiu em contradi-
ção doutrinária ao defender o plano de “benevolência sistemáti-
ca” e, posteriormente, o sistema do dízimo do Antigo Concerto.
A Igreja, porém, nega que tenha havido mudança doutrinária.
Para ela, “benevolência sistemática” e dízimos eram virtualmen-
te a,mesma coisa. Mas, por mais que queiramos colaborar com
a Srª.White, é impossível ver a coisa sob este ângulo. A “benevo-
lência sistemática” significa 1% do valor patrimonial, enquanto
que o dízimo alcançava 10% daquilo que a propriedade produ-
zia. São valores diferentes. Basta dizer que 1% do valor real da
propriedade representa, quase sempre, um valor superior a 10%
do rendimento do patrimônio. Só para esclarecer, vamos dar um
exemplo.
Seja uma residência avaliada em 10 milhões de cruzeiros. O
valor de seu aluguel seria aproximadamente 60 mil cruzeiros, o
equivalente a 0,6% sobre 10 milhões. Ora 1% sobre o valor pa-
trimonial redundaria em 100 mil cruzeiros. Logo, o valor repre-
sentado por 1% do total do patrimônio é mais elevado do que o
número que representa 10% sobre o rendimento proveniente do
patrimônio. A diferença gira em torno de 30%. Para outros tipos
patrimoniais, os resultados não se afastam muito das proporções
estabelecidas.
Nestas condições, não seria correto, como não é, dizer que o
plano de “benevolência sistemática” e o sistema do dízimo eram
virtualmente a mesma coisa.
Além do mais, o que o Antigo Testamento estabeleceu foi o
sistema dizimal, e não outro. O que pode ter ocorrido é que o pla-
no de “benevolência sistemática” tenha parecido bastante extor-
sivo aos membros da Igreja, vindo a provocar uma mudança de
posição. O curioso é que Ellen White tenha escrito em 1859 que

46
o plano de “benevolência sistemática” era do “agrado de Deus”.
W, contudo, ela mudou de opinião.
A título de elucidação, quero dizer ao leitor que a idéia da
“benevolência sistemática” partiu do cérebro de James White. A
participação de Ellen foi no sentido de obter a “aprovação” divina
através de mais uma “visão”. O assunto parece como sendo de
autoria de Srª. White, e não de seu esposo, porque tudo obede-
cia a um plano pré-estabelecido. James era um homem que sabia
o que queria. Mas não era vaidoso. Contentava-se em projetar a
imagem de sua mulher.

47
13 A Carne De Porco

Ellen White, escrevendo a um adventista que se opunha ao


uso de carne de porco, disse:
“Vi que vossos pontos de vista concernentes à carne de porco
não causarão dano se o retiverdes para vós mesmos; mas em
vosso julgamento e opinião fizestes desta questão um teste, e
vossas ações têm mostrado claramente vossa fé neste assunto.
Se Deus requer que Seu povo se abstenha da carne de porco,
Ele o convencerá sobre isso. Ele está justamente tão disposto a
mostrar a Seus Filhos sinceros o dever, como a mostrar o dever
a indivíduos sobre quem Ele não colocou o encargo da Sua obra.
Se for dever da igreja abster-se da carne de porco, Deus revelará
isso a mais de dois ou três. Ele ensinará à Sua igreja o dever” (Tes-
temonies, vol.1, páginas 206 e 207).
Tudo o que aqui transcrevo é muito estranho, sem nexo e con-
traditório.
Quero, porém, destacar estas palavras:
“Se Deus requer que Seu povo se abstenha da carne de porco,
Ele o convencerá sobre isso...Se for dever da igreja abster-se da
carne de porco, Deus revelará isto a mais de dois ou três.”
Ora, a abstenção da carne de porco não era uma ordenação
da lei mosaica referente à saúde, que os adventistas defendem
com todas as suas forças? Por que Ellen White se expressou desta
maneira? Por quê?
Mas agora veja o que aconteceu cinco anos mais tarde, isto é,
em 1863. Ela escreveu:
“NUNCA foi desígnio de Deus que o porco servisse de alimen-
to sob quaisquer circunstâncias” (Spiritual Gifts, vol.4).
“Nunca foi desígnio de Deus que o porco servisse de alimento
sob quaisquer circunstâncias”, disse a Srª. White, e no entanto
ela mesma repreende um irmão que condenava esse tipo de ali-
mento? Há total falta de lógica e coerência em tudo isso.
Os defensores de Ellen White são extremamente corajosos,
pois chegam ao ponto de dizer, sem nenhuma cerimônia, que

48
“não há conflito algum entre” as sua declarações.
O Sr.Robert Olson, secretário patrimonial de Ellen White atri-
bui à sua “memória fotográfica” sua mania de plagiar. Mas, no
caso presente, sua memória falhou redondamente, pois cinco
anos foram suficientes para que ela se esquecesse, por completo,
do que Deus lhe havia “revelado” acerca da carne de porco.

“Com erros não se argumenta”


(Osório).

49
14 O Dia Em Que Eu Tive
Muita Raiva
Um dia, faz anos, tive muita raiva. Em conseqüência, a adre-
nalina foi derramada com tal intensidade na minha corrente san-
guínea que, por alguns instantes, todo o meu ser permaneceu em
desordem. A raiva é desnecessária e inútil, todos o sabemos. Mas
ocasiões há em que se torna penoso evita-la. Foi o que, àquele
tempo, aconteceu comigo. Havia lido em um livro de autor pro-
testante a informação de que Ellen White era às vezes, acometi-
da de ataques de epilepsia, e que estes coincidiam com o apare-
cimento das suas “visões”.
Confesso que fechei o livro e fi-lo voltar à estante. Só alguns
anos depois, e com muito medo, voltei ao assunto. Como era na-
tural, as informações do autor soaram aos meus ouvidos como a
mais lavada das mentiras. E mandei-o para
“o raio que o parta”.
As coisas, porém,acontecem porque precisam acontecer. E
tudo chega no tempo determinado. Pode ser que o seu “tempo”,
leitor adventista, não tenha ainda chegado. Se assim for, não fi-
carei aborrecido se me mandar, pelo correio,os xingamentos que
julgar convenientes. Digo-o porque talvez esteja passando diante
de seus olhos a última coisa que você gostaria de ler.
Walter Rea, em seu livro The White Lie dedica um capítulo in-
teiro ao estudo do assunto que relaciona a saúde de Ellen White
com as sua “visões”. Ele apanha o testemunho do médico William
S.Sadler, amigo da família White, o qual esclareceu vários pontos
da questão:
1) O Dr.Sadler informa que é comum às pessoas em transe
catalético se imaginarem em excursões por outros mundos, e
que as suas visões estão sempre de acordo com a crença que
adotam.
2) Outro detalhe que o mesmo médico observou é que, na
maioria dos casos, esses transes acontecem geralmente com
pessoas do sexo feminino.

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3) O Dr.Willian Sadler observou também que os transes que
dão origem às visões aparecem depois da consolidação da ado-
lescência, e que normalmente não sobrevivem após a menopau-
sa.
Quero crer que o leitor tenha compreendido as observações
do médico, isto é, de que as pessoas em transe catalético têm
visões sempre de acordo com a crença que abraçaram. Se Ellen
White sofria de alguma doença semelhante à catalepsia, era de
se esperar que tivesse visões que a ajudassem a propalar sua fé.
Note, também, que em suas “visões”, ela costumava passe-
ar por terras distantes. Esteve em outros mundos. Em Saturno
ela diz que viu Enoch. Agora, leitor, tire as suas conclusões como
achar conveniente. O que disse o médico foi justo o que aconte-
ceu com a Srª.White. Segundo Walter Rea, ela deixou de ter as
suas “Visões” por volta do tempo em que ocorreu a menopau-
sa.
Veja, a seguir, o que foi publicado nos Estados Unidos em
Maio de 1981, e até mesmo noticiado na Revista Planeta, de
Outubro/82; “Uma pedra que foi atirada contra a testa de uma
fundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Ellen Gould Whi-
te, quando ela tinha nove anos, certamente explica satisfatoria-
mente as suas visões, que são fundamentos da Igreja, dizem dois
médico. A pedra causou uma forma de epilepsia, disseram em
uma entrevista os doutores Delbert Hodder e Gregory Holmes
de Connecticut.”
Um dos médicos, o Dr.Delbert Hodder, é adventista. O que li
do autor protestante acerca de Ellen White não me trouxe nada,
naquela ocasião, a não ser desapontamento. Quanto a você,
leitor adventista, não sei o que estará acontecendo em face da
apresentação deste assunto. Espero que não seja acometido de
nenhum acesso de raiva, como aconteceu comigo, no passado.
Antes, alegre-se por estar conhecendo mais alguns fatos, talvez
até agora desconhecidos por você, acerca de Ellen White!

51
15 Quando O Dinheiro É
Importante
Para que uma seita possa crescer não precisa ter princípios
verdadeiros. Basta, para começar, contar com dólares america-
nos, ter ministros que digam coisas que o povo gosta de ouvir e
que eles mesmos durmam em berço esplêndido, na certeza de
que também não ouvirão o que não desejam ouvir.
È o que está acontecendo com a controvérsia acerca de Ellen
White. A sua defesa, feita por uma empresa americana é, com
certeza, o que ministros e leigos acomodados querem ouvir.
Ellen White é extremamente importante para a Igreja. A so-
brevivência desta se firma na medida em que cresce o conceito
dos fiéis acerca dela. Ela é tão necessária à Igreja, que chega a
ser indispensável. Por isso, o adventismo não mede nem sonega
recursos para defende-la. Ninguém parece estar interessado em
apurar os fatos. O importante é a “defesa”. A defesa a todo custo.
E ela veio.
A solução seria contratar a fira Diller, Ramik & Wigt Ltda., es-
pecialista em patentes, marcas registradas e direitos autorais,
com sede em Washington, Estados Unidos. E assim foi feito, o
Dr.Ramik começou sua difícil missão. Mas como se trata de um
advogado hábil, ele procurou, desde logo, talvez por sugestão
dos contratantes, focalizar a questão sob o ponto de vista legal,
que interessa, em detrimento do aspecto moral, que é o que re-
almente importa para os membros da Igreja. Se eu faço parte da
Igreja Adventista, e descubro que
Ellen White plagiou uma série de autores que a antecedem,
eu me decepciono,e passo a ter sobre ela um conceito diferente.
O fato de um advogado ser bem pago para dizer que, pelas leis
americanas, ela não seria condenada por haver usado material
de outros, não tem o poder de mudar o meu ponto de vista. Im-
porta-me olhar a questão sob o aspecto divino, e não do ponto
de vista legal.
Vamos pensar um pouco. Eu pratico uma pequena falcatrua, e

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nem por isso a justiça me condena. Eu engano o meu semelhante
em uma transação comercial, e não me levam para a cadeia. Coi-
sas assim podem acontecer. Mas isto não significa que eu esteja
em paz com a minha consciência. Pois bem. O relatório do Dr.
Ramik pode acomodar a consciência de incautos e interesseiros,
mas não a daquele que vê as coisas com clareza.
O Dr.Ramik, segundo entrevista publicada na Revista Adven-
tista confessa-se católico romano. E afirma que de Ellen White o
único livro que leu, de capa a capa, foi o Grande Conflito. Vê-se
logo que o defensor da Srª. White não está em condições de ana-
lisar o assunto do ponto de vista moral, mas apenas sob o aspecto
legal. Quem lê apenas um dentre vários livros de um autor, não
pode dizer que conhece a sua obra. E o curioso é que o Dr. Ramik
se, de capa a capa, leu apenas o Grande Conflito, não pode dizer
que leu alguma coisa de Ellen White, pois este livro foi, em quase
sua totalidade, escrito por James White, seu marido, utilizando-
se de material apanhado de outros autores, o que tive ensejo de
esclarecer no capítulo seis.
Não posso deixar de mencionar, aqui, o fato de que todos te-
mos o direito de defesa. È um princípio universal. Até o mais reles
dos criminosos faz jus a um advogado para defende-lo. O Dr. Ra-
mik foi contratado pela Igreja para fazer a defesa da Srª. White.
E a fez. Quando se contrata um advogado, faz-se um negócio,
efetua-se uma troca de interesses. È tudo muito simples. Onde já
se viu alguém acusar o réu, se foi contratado para defende-lo, a
não ser nos programas cômicos de Jô Soares? Quem é pago para
defender não pode acusar.
Outra coisa. Disse acima que o Dr.Ramik é católico romano.
Digo-o porque ele o disse primeiro. Agora, veja bem, leitor. Em o
Grande Conflito ele leu coisa assim:
“Conforme fora predito pela profecia, o poder papal lançou a
verdade por terra.”
“A ordenança escriturística da ceia do Senhor fora suplantada
pelo idolátrico sacrifício da missa”.
Ele não deve ter simpatizado com estes ataques e com outros
até mais pesados. Mas o que poderia fazer se fora contratado

53
para defender Ellen White, e não para acusá-la?
Li no mesmo número da Revista Adventist, mencionando li-
nhas antes, esta afirmação do Dr. Ramik:
“Falemos agora de Walter Rea. Ele leu a obra de Ellen White
e afirmou: encontrei uma frase aqui, um parágrafo ali, que per-
tencem a outros escritores. Bem, isto não prova nada; é apenas
uma suposição.”
Eu digo, porém que se alguém desejar saber se Walter Rea
provou alguma coisa leia The White Lie . Ver-se-á que ele não
encontrou uma frase aqui, outra acolá. O que ele encontrou foi o
plágio no mais alto grau e estilo. O que ele encontrou foi plágio
até de títulos de capítulos. O que ele encontrou foi a apresen-
tação em O Grande Conflito até mesmo de quadros subtraídos,
com dolo, do livro A História do Protestantismo, de Wylie. E tem
mais. Veja o que disse o ex-pastor adventista, em carta que me
enviou, nestes dias: “Eu tenho estado trabalhando em Sketches
from the Life of Paul, mostrando que acima de 90% ele foi copia-
do.” Isto não é uma frase aqui, outra ali, mais uma acolá.
Por outro lado, a Igreja tem dificuldades em explicar como o
Espírito de Deus deixou passar os erros históricos que existem
em O Grande Conflito. O próprio Sr.Robert Olson, secretário pa-
trimonial de Ellen White, disse o seguinte:
“Seguindo Wylie, a Srª.White parece ter feito várias declara-
ções errôneas (a respeito de Huss em O Grande Conflito), as quais
são agora consideradas historicamente inexatas. Eu aceito o fato
de que a Srª. Seguiu Wylie proximamente, muito proximamente,
em O Grande Conflito, das páginas 97 até a página 110. È difícil
para mim acreditar que o Senhor tenha dado a Srª. White uma
visão ou uma série de visões que, em quinze páginas, coincidem
com Wylie, nos mesmos detalhes” (Quenstions and Problems
Pertaining Mrs. White´s Writings on John Huss).
Não obstante a presença de uma situação nitidamente frauda-
tória com a defesa do Dr. Ramik todos podem dormir tranqüila-
mente. Vai tudo bem com a consciência de cada um. O advogado
colocou todas as coisas nos lugares certos.
O Dr. Warren J.Johns, chefe do Departamento Jurídico da As-

54
sociação Geral da IASD, em entrevista à Revista Adventista dis-
se:
“Acima de tudo, queríamos descobrir a verdade, a despeito da
conseqüências. Achávamos que ele (O Dr.Ramik) descerraria os
fatos, aplicaria a lei e resolveria a questão para a Igreja, de uma
vez por todas”.
Os psicólogos não desconhecem o fato de que as pessoas
têm dezenas de maneiras sutis para iludir os seus semelhantes. E
uma delas é procurar valorizar uma atitude que desejam pôr em
destaque, deixando a impressão de estarem pondo em risco a
causa que defendem. Foi, possivelmente, o que aconteceu com
o Dr.Johns, quando usou a expressão: “...a despeito das conseqü-
ências...”
Primeiramente, porque o crente, quase sempre simples, sin-
cero e de boa fé, não percebe as intenções que estão por trás
das palavras, e em segundo lugar, porque o encenador, como
o prestigiador diante do público, está seguro de que não corre
qualquer risco. Ele sabe o que faz. Tudo obedece a condições pré-
estabelecidas. O Departamento Jurídico da Associação Geral, ao
contratar o Dr. Ramik para defender Ellen White, sabia o que
estava fazendo.Sim, sabia o que estava fazendo. A lógica o diz.
Vejamos:se o Dr. Ramik tivesse condenado a Srª. White, por frau-
de, o que faria a Igreja? Daria ordem de despejo aos seus escritos,
isto é, abriria mão da sua “inspiração”? Não acredito que ela o
fizesse, e não creio que possa alguém pensar diferentemente. As-
sim sendo, por que contratar um advogado? Para quê? Para mim,
tudo isso não passa de uma farsa, uma tentativa para continuar
enganando os incautos. A Igreja, como o mágico esperto diante
de uma platéia que se delicia em ver as mágicas, sabia o que es-
tava fazendo quando contratou o advogado de defesa.
Quando se perguntou ao Dr.Johns se o relatório de 27 páginas
do Dr. Ramik poria termo à questão, ele prontamente respon-
deu:
– Totalmente.
Agora sim, o assunto está definitivamente encerrado. Os lei-
gos já podem dormir o sono da inocência. O Dr. Johns disse que

55
“Ao utilizar-se de material literário de outros autores, a Srª.White
agiu inteiramente dentro dos limites da lei”. Conclusão: a lei não
a condenou. Logo, o que ela, seu marido e assistentes apanha-
ram de outros escritores não tem a menor importância. È coisa
corriqueira. E vive lê Roi!
Todas as evasivas são válidas. Até mesmo aquela que partiu de
uma senhora adventista, dirigindo-se a mim:
– Esses escritores é que plagiaram a irmã White.
O ser humano, ao tomar conhecimento do mundo que o cer-
ca, aprende com extrema facilidade, a enganar a dois tipos de
pessoas: aos outros e a si mesmo. Mas onde ele mais se esmera
é em enganar a dois tipos de pessoas: aos outros e a si mesmo.
Mas onde ele mais se esmera é em enganar a si mesmo. Neste
caso, ele não precisa contar com a ignorância, a tolice e a boa fé
da outra parte. Basta a sua própria condição, que ele pode mani-
pular a seu bel-prazer.
O “totalmente” que o leitor leu, linhas acima, partiu de um
homem que está procurando enganar a si mesmo.

“A verdade de nada se enver-


gonha, senão de estar oculta”
(Lope de Veja).

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16 Isto A Igreja Não Pode
Dizer Nem Explicar
O Dr.Ramik concluiu pela inocência total de Ellen White. As
leis americanas não a acusam de fraude de direitos autorais. Está
tudo bem, e em casa.
Agora, leigos e assalariados podem ficar tranqüilos. Os funda-
mentos da Igreja continuarão firmes como nunca. Irremovíveis
como o Pão-de-Açúcar. E ela continuará sua marcha vitoriosa.
Conferencistas, mestres, ministros e professores de escolas de
sabatinas continuarão a dizer, agora com mais ênfase do que
nunca, que os escritos da Srª. White são tão inspirados quanto os
da Bíblia Dt.18:21 e 22 não se aplica a ela.
Isto poderão dizer, e o que mais desejarem acrescentar. Mas
por acaso, estarão os sensatos dispostos a aceitar essas patra-
nhas? Não posso acreditar. Eu já estou sentindo as reações. Que
falem as cartas que tenho recebido de adventistas, alguns deles
preocupados e até angustiados com o estado de incerteza em
que se encontram. São pessoas sinceras que querem explicações
honestas, a todo custo. A estes eu tenho dito que explicações
não, mas “explicações” têm sido fornecidas pelos órgãos publici-
tários da Igreja, notadamente pela Revista Adventista.
Eles, porém, ainda não conseguiram explicar porque o nome
de Ellen White consta na capa de O Grande Conflito, como auto-
ra, quando é sabido que o livro foi preparado por James White,
seu marido, que, por sua vez, plagiou, em grande parte, de Syl-
vester Bliss, Uriah Smith e J.N.Andrews. Igualmente, a Igreja não
pode esclarecer quanto ao Dr.Ramik recebeu para dizer que Ellen
White é inocente das acusações que lhe têm sido feitas.
A rigor, não é a Ellen White que os adventistas devem chamar
de profeta e mensageira do Senhor, mas aqueles de quem os es-
critos a ela atribuídos forma subtraídos, cuja lista não é pequena.
Isto posto, concluí-se que a Igreja, ao contratar um advogado para
fazer a defesa da Srª.White (o que na realidade significa defender
a própria igreja) não fez outra cosia senão investir no falso.

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Todas essas questões, leitor, são fundamentais. Mas sobre elas
a Igreja silencia, porque isto é o que lhe convém, acima de tudo.
Agora, a solução aí está. Eles (o Dr.Ramik e os líderes) chegaram
a bom termo.
O Dr.Ramik concluiu, falou e disse. Francamente, irmão adven-
tista, eu esperava que, dentro de toda essa conjuntura, a Igreja
assumisse uma atitude de mais coerência e seriedade. Mas eu
me decepcionei. E como me decepcionei!

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17 Ela Não Morreu

O ser humano é quase sempre muito sentimental. É por isso


que ele, quando se refere a alguém que já morreu, o faz com visí-
vel respeito. Não importa que tipo de contribuição tenha legado
para a humanidade. A tendência é levar as virtudes do falecido
para um patamar elevado. Hitler, cerca de quarenta anos depois
de sua morte, já não parece ser o incrível facínora que sempre
foi.
Lampeão está sendo endeusado e respeitado. Possivelmente,
estátuas serão levantadas em homenagem a Arafat, depois de
sua morte. Quem já morreu é sempre melhor do que realmente
foi. Não estou estabelecendo qualquer tipo de comparação entre
Ellen White e aqueles. Os fatos são diferentes, como diferentes
são as pessoas.
O que quero destacar é que sempre há uma aureola de respei-
to em favor de quem já morreu. E Ellen White não fugiria à regra
geral. O seu prestígio como profetisa e mensageira do Senhor
cresceu, depois de sua morte, como era de se esperar. Ela mor-
reu, mas continua viva para milhares e milhares de adventistas
do sétimo dia.
Engana-se aquele que pensa que a sua obra está agonizante.
È ilusão pensar assim. Ela hoje, mais do que no século dezeno-
ve, tem seus incontáveis defensores, que precisam explorar seu
nome, a fim de poderem sobreviver. Os seus promotores não po-
dem permitir que os seus escritos morram. Esses “puxadores” de
palmas e cordões continuarão com a cortina levantada, para que
os assistentes continuem distraídos com a imagem dela. O líder
sabe que não é difícil manter a multidão a seu lado, quando ele
diz coisas que gostam de ouvir. Os membros da Igreja continuarão
a escutar o que apreciam ouvir. Não importa se o que Ellen White
falou a respeito de diversos assuntos não se coaduna mais com a
realidade dos nossos dias. Não importam seus erros doutrinários,
os seus plágios nem mesmo as profecias não cumpridas.
Não importa sequer se a maioria não segue os seus conselhos

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sobre vestimenta, alimentação e outras questões. Muitos líderes
religiosos existem apenas para que suas palavras sejam ouvidas.
Não precisam ser praticadas. O que mais as multidões apreciam
é serem dirigidas.
Nem mesmo tem importância se o líder já morreu. Os anima-
dores teológicos se encarregam de manter a tocha acesa, ainda
que não se trate de fogo sagrado. Só o homem que VÊ faz a di-
ferença. Só o homem esclarecido percebe que ele mesmo é o
próprio líder. E não Ellen White, Joseph Smith, Mary Baker Eddy
ou outro qualquer. Para que quero um líder, ainda que religioso?
Para dizer o que devo fazer? Isto não tem qualquer sentido. O
mais elementar princípio de lógica me diz que somente eu devo
responder pelas minhas próprias decisões.
Eu é que preciso tomá-las, e não outros em meu lugar. Ad-
ventistas e evangélicos têm acusado a Igreja de Roma de haver
dificultado, de todas as formas, a leitura da Bíblia pelos seus fiéis,
tornando-lhes difícil encontrar o caminho da salvação. A acusa-
ção é procedente. Mas os adventistas, de igual modo, fazem da
salvação alguma coisa bastante penosa, facilitada apenas pela
orientação dos escritos da Srª.White. Não dizem eles que esses
escritos são uma luz menor para nos ajudar a compreender a Luz
Maior? Como pode uma luz menor favorecer a Luz Maior? Pode
o discípulo instruir o sábio que o assiste? A Bíblia não precisa de
muleta. Ela é toda auto-suficiente.
É com o auxílio dela mesma que a compreendemos. Há alguns
“anjos” que se oferecem para ajudar. Mas creio que podemos
perfeitamente dispensar a ajuda deles. Um é o Moroni do mor-
monismo, e o outro, o “anjo assistente” de Ellen White só a duras
penas pode ser alcançada.
Meu amigo leitor, precisamos para de assumir atitudes tolas.
O segredo está em libertarmo-nos do medo. Quando isto aconte-
ce deixamos de praticar as tolices. Não cometa o crime de permi-
tir que a sua consciência se cauterize ! Não a drible! Não abone os
erros de ninguém, nem mesmo os de Ellen White, ainda que isto
possa custar-lhe a perda de alguma coisa! O que conseguimos
pelos caminhos do engano é de nenhum valor. Podemos perder.

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Devemos perder.
Em que pese serem as provas até agora apresentadas mais do
que suficientes para justificar a perda daquilo que você encara
como ganho, quero dizer-lhe alguma coisa mais, para sua consi-
deração. Em 1867 Ellen White declarou:
“Embora eu seja tão dependente do Espírito do Senhor quan-
do escrevo minhas visões como quando as recebo, as palavras
que eu emprego para descrever o que vejo SÃO MINHAS” (o des-
taque é meu).
Mais tarde, em 1882, ela disse:
“Eu não escrevo um artigo no jornal, expressando meramen-
te minhas próprias idéias. São elas o que Deus tem apresentado
diante de mim em visão– os preciosos raios de luz brilhando do
trono”.
Leitor adventista, permita-me, aqui, levantar uma pergunta
tão dura como mais não poderia ser.
– Por que a Srª. White disse que as palavras eram sempre dela,
quando na Verdade e em grande escala, foram tomadas de ou-
tros autores por ela mesma, pelo seu marido e ainda por uma de-
zena de assistentes? Por que precisaria ela dizer uma inverdade?
Pode acontecer que você que me lê talvez não conheça este
outro detalhe curioso e decepcionante na vida da Srª.White. Em
1898 ela escreveu um artigo que foi publicado em Review and
Herald, onde se podia ler:
“Nas visões da noite, ministros e obreiros pareciam estar em
uma reunião onde as lições da Bíblia estavam sendo ministradas.
Nós dissemos: “Temos o Grande Professor conosco hoje´, e escu-
tamos com grande interesse as suas palavras. Ele disse...”.
O que foi que Ele (o Senhor) disse? Nada, leitor. O Senhor não
disse nada pela boca de Ellen White. A maior parte do que ela
escreveu e publicou no referido artigo, naquela oportunidade, foi
extraída de The Great Teacher
( O Grande Professor) de John Harris. È inacreditável que ela
tenha usado as palavras, pensamentos e idéias de John Harris e
os tenha atribuído ao Espírito de Deus. O que a levou a praticar
tamanha leviandade? Por que havia recebido a mensagem em

61
visão, quando a maior parte do artigo havia sido copiada de O
Grande Professor? Por quê? Para mim, melhor do que fazer qual-
quer especulação é dizer: não sei.
Eis aí, leitor, a senhora que continua viva em sua mente, parti-
cipando de sua vida, influenciando-o, às vezes, em suas decisões.
Não, ela nunca foi uma mensageira do Senhor no sentido que se
costuma imprimir ao termo. Seus plágios, suas profecias que se
não cumpriram, seus erros doutrinários, seus equívocos relacio-
nados com acontecimentos bíblicos, suas constantes mudanças
de posição teológica, suas visões plagiadas, seus testemunhos
irreais dirigidas, em nome de Deus, aos que, de alguma forma,
discordavam dela, não a credenciam como profetisa e mensagei-
ra do Senhor.
Não importa que ela tenha sido boa mãe e boa esposa. Esta
condição é necessária, mas não suficiente. Ninguém é profeta
sem o chamamento divino.E decididamente Deus não chamou El-
len White para esse tipo de missão. E por não ser profetisa e ha-
ver estabelecido bases frágeis para a Igreja que surgia em 1844,
é que ela agora está em dificuldades, como em dificuldade está
também o movimento que ela ajudou a fundar.
Sem dúvida alguma, as vidraças da igreja não estão intactas.
Já podemos ver as impurezas do seu interior. Apesar de tudo,
Ellen White continuará vivendo a vida de leigos e assalariados. Só
um milagre poderá alterar a situação.
Mas quanto a você que me lê, irmão adventista, se as suas
atitudes forem pautadas pelo bom senso, restar-lhe-á uma coisa:
libertar-se do engano e não permitir que pessoa alguma imponha
o nome de quem quer que seja para ocupar, em sua vida, o lugar
só reservado para Cristo. Por que continuará cometendo tama-
nha agressão contra você mesmo?

62
18 Os “Inimigos” Da
Verdade
Seria necessário que Ellen White fosse muito ingênua para
não perceber que chegaria o dia em que os seus equívocos trans-
poriam as fronteiras guarnecidas pelos seus fiéis defensores. Ela
não era inteligente. Se o fosse não precisaria plagiar para produ-
zir literatura. Mas era sagaz. E porque o era em exagero, acabou
sendo prisioneira do próprio laço que armou para os outros. O en-
gano foi denunciado por alguns homens decentes do seu tempo.
Mas estes não chegaram a estabelecer uma mudança de rumos.
Eles eram poucos, enquanto que os outros eram incontáveis. E
porque eram incontáveis, a igreja continuaria, por muitos anos,
com as vidraças intactas. Mas agora, parte da verdade acerca da
Srª. White está aflorando. Digo que não é toda a verdade, porque
o restante, o que falta, está guardado debaixo de sete chaves no
White Estate, em Washington. D.C.
Ninguém pode, ninguém “precisa” tomar conhecimento do
resto. Ainda bem que estas páginas, chegando até você, estão
ajudando-o a tomar ciência de alguns fatos que, de outra forma,
não chegariam ao seu conhecimento.
Ellen White e seu marido James eram sagazes. A prova disto é
que eles, olhando à distância, como quem vê o futuro, percebe-
ram que nem tudo são flores durante todo o tempo. Um dia elas
poderiam murchar. Por isso, era necessário uma saída estratégica
para remediar o que pudesse acontecer em tempos do futuro
longíquo. Qual a solução encontrada? Nada mais, nada menos
do que acusar de “inimigos”da verdade, todos os que viessem
um dia a discordar dos seus escritos ou que contra ela tivessem a
petulância de protestar.
A lição foi bem aprendida, até mesmo pelos membros leigos.
E hoje, quando alguém tem a coragem de erguer a voz contra os
erros doutrinários da Igreja é logo penalizado de todas as formas.
Primeiramente, procede-se a um rosário de
lamentações,seguido de fervorosas orações. Mas se o “rebel-

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de” não retorna ao seio da comunidade, lança-se o veredicto fi-
nal, mais ou menos nestes termos:
“A irmã White já profetizou sobre os que deixarão as nossas
fileiras. Torna-se-ão os nossos maiores inimigos.”
O que acontece hoje era fato comum no tempo de Ellen Whi-
te. Veja o que disse Uriah Smith, em um momento de desabafo
e coragem:
“A idéia que tem sido cuidadosamente instilada na mente do
povo é que questionar as visões é no mínimo tornar-se um após-
tata rebelde e sem esperança; e também muitos (sinto muito em
dize-lo) não têm força de caráter suficiente para se livrarem des-
te conceito; a partir do momento em que faz qualquer coisa para
abalar a fé nas visões, eles perdem a fé em tudo e vão para a
destruição” (Smith to Canright, 06.04.1884).
Enquanto isso, pessoas sinceras estão esfregando os olhos
com as mãos, dando os primeiros sinais de estarem acordando
para o verdadeiro significado da vida.
Oxalá essa obra de libertação não pare! Antes aconteça em
todo recanto, por menor que seja, onde esteja um adventista do
sétimo dia. A luz está chegando para muitos. E você leitor adven-
tista, não pode, por mais tempo, deixar-se enganar por mestres
equivocados, muitos deles conscientes da posição atravessada
que estão assumindo.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia e Ellen White prosseguirão
juntas, apesar dos métodos, dos processos e da fraude. Os cola-
boradores de Ellen White continuarão a dizer que ela é a maravi-
lhosa mensageira dos tempos modernos, comissionada pelo Céu
para ensinar o povo a entender a Bíblia. Mas você só acredita
nisto se quizer. E se for tolo.
Agora, a Igreja está em crise. Crise que se avoluma. As vidra-
ças começam a se partir, o que me permitiu mostrar ao leitor
uma parte do seu interior, a sua outra face. Provavelmente você
a desconhecia.
Você é, com certeza, um dos poucos adventistas a ler e exami-
nar esses depoimento. Muitos não o farão. Uns, por desinteres-
se; outros, por medo.

64
Ainda assim, eu estou satisfeito, pois melhor é uma verdade
aceita por poucos do que uma mentira acalentada por muitos.
Disse que a Igreja está em crise. E está. Os acontecimentos dos
últimos dois anos têm deixado a liderança extremamente pre-
ocupada. Nos Estados Unidos a crise atinge proporções inquie-
tadora. O New York Times de 06.11.82 publicou, com destaque,
um artigo com este título: “7th-Day Adventists Face Change and
Dissent”. Note alguns tópicos inseridos nele:
“Mais de 100 ministros já se demitiram da Igreja, ou têm sido
forçados a fazê-lo.”
“As publicações da Igreja refletem a crise em cada etapa”.
“O foco do fermento dos adventistas é a Universidade de An-
drews.”
“Vários incidentes nos dois últimos anos têm provocado o
aparecimeto de tensões e abaixamento da moral.”
“Evangélica, uma revista não oficial, que foi fundada na An-
drews, há dois anos, como a voz do protesto, promove o mais
estridente ataque á Igreja.”
A Igreja, nestes dias atuais, está passando por “maus-boca-
dos”. Mas ainda assim, podemos dizer, à maneira francesa: A
quelque chose malheur est bon.
Sempre que há infortúnio, alguma coisa boa sobra do meio
dos escombros. Ás vezes a crise é necessária, a fim de que alguns
possam tornar-se mais receptivos à luz da verdade.

“Não importa quantos passos


você deu para trás. Importa quan-
tos passos você vai dar para a
frente”
(Décio Melhem)

65
19 O Véu, O Grande
Empecilho
Sob este título, transcrevo aqui, com permissão
do autor, o EPÍLOGO do livro THE WHITE LIE.

A história de Cristo não termina na Cruz. Vai direto para a Res-


surreição e a nova vida. Ela dá sentido à vida diária e esperança
após a sepultura. Para o indivíduo e para a instituição igualmen-
te, isto significa BOAS-NOVAS, não para um futuro distante, mas
para o aqui e o agora.
Se Deus tinha um plano para Ellen White, este era o mesmo
plano que Ele tem para todos nós, que durante a nossa existência
podemos ser os vasos do Evangelho e início de nova experiência
em Jesus Cristo, e que podemos ser instrumentos para outros.
Esta era a verdadeira inspiração e revelação de Deus para Ellen
White.
É uma fascinante história que a Igreja Adventista ganhou a
existência e ênfase a partir da fé no Segundo Advento trazido
pelos proponentes mileritas.
Mas o adventismo igualmente sucumbiu com a mesma dou-
trina. Sem o cumprimento do advento que haviam predito, eles
se voltaram para dentro de si mesmos e se concentraram em sua
própria experiência. Em vez de colocarem em primeiro lugar um
novo nascimento espiritual para a sua vida diária, eles colocaram
Ellen White na frente como um véu entre eles e Deus, entre eles
e uma experiência de renovação espiritual.
Entre os tempos do Novo e Velho Testamentos permanecia
a Cruz. O véu que ocultou a Cruz dos olhos e coração da nação
judaica foi seu sistema de sacrifícios, exigências e obras. Seu sis-
tema conservou-os com as costas inclinadas e as cabeças abaixa-
das, de modo que não podiam ver a Deus através de Seu Filho.
Seus sistema de leis, teorias e axiomas tinham escravizado o cor-
po, a mente e a alma. Seus líderes eram mais importantes do que
a verdade do Evangelho de Cristo. Enquanto os sacerdotes do
sistema apegavam-se ao pai Abraão, negavam ao povo o acesso
66
ao verdadeiro Pai de todos.
Um sistema torna-se obsoleto quando ele interpõe um véu
de salvação pelas obras, através de algum intermediário, entre o
homem necessitado e Deus. Esse véu impede-lhe a comunicação
direta.
A mesma coisa aconteceu com a Igreja Adventista. Cristo não
veio em 1844. Mas o grupo expectante não foi capaz de con-
fessar o erro, o começo de todos os começos. Enganos foram
chamados de “erros de cálculo”. Extremismos eram rotulados de
zelo. Os escritos de Ellen White tornaram-se “a palavra de Deus”.
Assim, ela se tornou o véu que escondeu Cristo do povo. Tives-
sem os administradores, os clérigos e os homens de negócio do
sistema passado para além do véu que eles próprios criaram (El-
len White), poderiam seguramente ter encontrado o Cristo que
eles professavam estar procurando.
Em tempos passados, Deus havia removido o véu do velho
serviço e abolido todo o sistema de sacrifício. A remoção foi logo
estabelecida pelos sacerdotes para que pudessem continuar seu
controle sobre o povo que eles representavam. A fumaça dos
seus sacrifícios continuou a subir vagarosa e desordenadamente
através do céu. De acordo com um autor:
“E ainda o sumo-sacerdote entrava no Santíssimo uma vez
cada ano e salpicava o sangue sobre o trono da graça. O sangue,
no entanto, apelava para Deus, em vão. Agora Cristo, nosso cor-
deiro pascal foi sacrificado por nós” ( I Co 5:7).
“Finalmente, Deus, em justa cólera, acabou com o velho sis-
tema, na destruição de Jerusalém por Tito, quando o templo foi
incendiado, e os sacrifícios judaicos foram para sempre abando-
nados”.
Pode-se esperar, no entanto, que os administradores e ho-
mens de negócio do sistema adventista do sétimo dia aprende-
rão a lição do passado, que eles serão solícitos em juntar o povo,
passando para além do véu de Ellen White. Se eles tiverem a co-
ragem de fazer isto, podem ainda encontrar o Cristo que escapou
aos mileritas, e cuja demora tanto atormentou os fiéis do prema-
tura advento.

67
20 Introdução À
Segunda Parte
Como tem acontecido com relação aos leitores adventistas, de
idêntica forma, um razoável contingente de cartas tem chegado
às minhas mãos da parte de evangélicos: ministros, missionários
e leigos em geral.
Evangélicos há que querem a razão por que dificilmente um
crente adventista é removido dos seus propósitos doutrinários,
enquanto que o êxodo de protestantes para o lado de lá é geral-
mente acentuado. O Sr.P.R. da Silva, da Grande São Paulo, me faz
esta pergunta: Como conseguiu deixar a Igreja Adventista, coisa
difícil de acontecer?
É preciso que eu diga aos irmãos evangélicos que o povo ad-
ventista tem qualidade que jamais poderemos ocultar, ainda que
queiramos. Eles são ordeiros, amigos entre si, geralmente cor-
retos em sua transações comerciais, avessos ao jogo e a vício.
São temperantes, apesar de alguns exageros. São bons cidadãos,
pacatos e respeitadores. E muitos de seus ministros e obreiros
levam uma vida de trabalho e abnegação em função daquilo que
crêem. É natural que uma situação, assim reinante estabeleça
um clima de fixação do crente em sua comunidade. Estes, toda-
via, não são os elementos decisivos para essa permanência. Fa-
tores outros há que contribuem, de maneira marcante, para esse
estado de coisas.
Especialmente algumas interpretações muito curiosas tiradas
de certos trechos bíblicos determinam, de forma concreta, os pa-
râmetros desse establishment duradouro. Na maioria dos casos,
se não na sua totalidade, tais interpretações foram fruto dos cé-
rebros dos pioneiros,, notadamente James White, sua esposa e
Uriah Smith. Mas foram especialmente James e sua mulher (uma
senhora cuja a saúde mental fora posta em dúvida até mesmo
por autoridades médicas), que traçarm as norma básicas para o
florescimento do movimento religioso que dava os seus passos
decisivos, a partir de 1844. Era a Igreja Adventista que surgia.

68
Um movimento que hoje conta com cerca de três milhões de
adeptos em todo o mundo. Os homens do adventismo sempre
se mostraram extremamente cautelosos e sagazes. Eles, como
ninguém, sabem como arrebanhar almas para o seu lado.
São especialistas em ganhar os que já são cristianizados. E, o
que é mais importante, conhecem o segredo que determina a
fixação do fiel na comunidade. Os processos que usam não me
parecem corretos, já que são baseados, principalmente, em in-
terpretações irreais de certos textos bíblicos.
Esta segunda parte do volume procura mostrar esta outra
faceta da igreja de vidro. Os adventistas dispõem de um consi-
derável número de homens treinados para realizarem séries de
conferências públicas em cidades adredemente escolhidas e pre-
paradas para esse tipo de evangelismo. Ninguém, melhor do que
eles, sabe penetrar nos corações sinceros de jovens, homens e
mulheres. Essas reuniões públicas são a arma mais poderosa de
que se utilizam para encher seus templos nos dias atuais. Dispõe
de bons oradores.
Nas conferências que realizam, as primeiras palestras giram
em torno dos maléficos do fumo e do álcool. Em seguida, abor-
dam temas sobre saúde, higienismo, namoro, noivado, casamen-
to e felicidade conjugal. Estes últimos temas visam impressionar
a juventude. Mas tudo isso é apenas a isca para chegarem à meta
desejada, que é a exaltação da Lei e de Ellen White, o que fazem
no momento psicológico. E isto é justo o que nos deixa contrista-
dos. No final das reuniões, que geralmente duram vários meses,
conseguem arrebanhar para o lado deles um bom número de ca-
tólicos e evangélicos.
Dificilmente conseguem conquistar um jeovista ou um mor-
monista, já que estes são treinados para não caírem em armadi-
lhas teológicas. Jeovistas e Mormonistas simplesmente não vão a
essas reuniões. O mesmo não acontece com evangélicos, que se
deixam apanhar com relativa facilidade.
Esporadicamente os adventistas conseguem alcançar um es
pirita, o que é bom, pois a mudança é, apesar de tudo, vantajosa.
Uma vez conquistado o evangélico, começa o seu trabalho de fi-

69
xação na nova igreja . E como isto é feito está, em parte, relatado
nos capítulos desta segunda parte.
Os ministros protestantes só ganharam em organização e ex-
periência se, de quando em vez, assistissem a essas conferências.
Só que naturalmente, devem ter cuidado de não baixar a guarda,
sob pena de também correrem o mesmo risco, a que é submeti-
do o leigo de sua igreja.
É conveniente anotar, aqui, que os conferencistas da Lei dizem
que usam esse processo “cauteloso” para seguirem o exemplo de
Paulo, que se fazia de judeu para ganhar os judeus e de gentios.
A diferença porém, é que o apóstolo apresentava as Escrituras na
sua verdadeira dimensão. Sem desfiguração.

“É possível enganar parte do


povo, todo tempo; É possível en-
ganar parte do tempo, todo povo;
Jamais se enganará todo povo,
todo tempo.”
(Abraão Lincoln).

70
21 As Sete Igrejas Do
Apocalipse Como Arma
O acentuado gosto pelas datas
Os adventistas, desde os seus primórdios, sempre demons-
tram aprimorado gosto pelas datas. Brincam com elas até mes-
mo em se tratando de assuntos sérios como os que se relacionam
com temas proféticos. Tem sido assim desde a quarta década do
século dezenove, quando marcaram sucessivas datas para a volta
de Cristo à Terra.
Aqui também, nas mensagens enviadas a igrejas da Ásia, en-
contraram um jeito todo especial para incluir as indispensáveis
datas. Por quê? Para quê? Você conhecerá as intenções no de-
correr deste capítulo.
As setes carta que, de Patmos, S.João escreveu, foram dirigi-
das às igrejas de Èfeso, Esmirra, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadél-
fia e Laodicéia.
Lendo-as com cuidado, é fácil selecionar esses detalhes:
1) Cada carta contém uma promessa ao vencedor.
2) As Igrejas em Èfeso, Pérgamo e Tiatira receberam elogios e
reprovações.
3) A carta à igreja de Sardes contém várias reprovações.
4) As igrejas de Esmirna e Filadelfia foram as únicas que não
receberam qualquer repreensão.
5) À igreja de Laodicéia não fez Cristo um só elogio. Há, por
outro lado, reprovações e conselhos.

As cartas de João foram, como dissemos, dirigidas a igrejas


da Ásia. Não parecem ter, como querem alguns, nenhuma rela-
ção com períodos de tempo definidos da História. O conteúdo
delas não autoriza qualquer tipo de interpretação nesse sentido.
Os adventistas, todavia, não querem que assim seja. E como eles
gostam muitos de datas proféticas, o que fazem muito abusiva-
mente, fato que se verifica desde as suas origens, chegaram a
organizar o arbitrário esquema abaixo:

71
a) Carta à igreja de Éfeso: corresponde ao período de tempo
que vai da Ressureição ao ano 100
b) Carta à igreja de Esmirra: do ano de 100 até 323.
c) Carta à igreja de Pérgamo: do ano de 323 até 538.
d) Carta à igreja de Tiatira: do ano de 538 até 1798.
e) Carta à igreja de Sardes: de 1798 até 1833.
f) Carta à igreja de Filadélfia: de 1833 até 1844.
g) Carta à igreja de Laodicéia: de 1844 em diante.
Trata-se de uma esquematização adaptada para um fim es-
pecífico, como veremos. A rigor, eu não precisaria juntar, como
farei, alguns fatos que comprovam que as setes mensagens de
João são realmente cartas dirigidas a igrejas da Ásia, e nunca pe-
ríodos de tempo determinados por datas escolhidas de maneira
mais ou menos arbitrária. Necessitaria alguém provar que João,
ao escrever as sete cartas a igrejas da Àsia, tinha essa intenção,
se ele já o disse?
A linguagem de identificação que ele usa é clara:
“Ao anjo da igreja que está EM ÉFESO. Ao anjo da igreja que
está EM FILADÉLFIA.”

Os que defendem a hipótese (pois trata-se apenas disto mes-


mo) de períodos de tempos definidos, é que devem apresentar
as provas, e não outros. Eles nunca o fizeram convincentemente.
Limitam-se a dizer coisas deste naipe:
“Uma florescente igreja cristã foi fundada por Paulo em Èfeso,
e João ali viveu e ensinou algum tempo. A carta de Cristo dirigida
´ao anjo da igreja que está em Éfeso`, porém, não se relaciona
com a igreja da cidade de Éfeso, mas como vimos, com o primei-
ro período da igreja cristã, a igreja apostólica, que se estendeu
desde o ano 31 até o ano 100, ao morrer João, a última testemu-
nha pessoal de Jesus” (A Verdade Sobre as Profecias do Apoca-
lipse, página 49, edição de 1959, do ministro adventista Araceli
S. Melo).
No mesmo livro, à página 103, encontramos esta outra cita-
ção, de idêntico feitio:
“... a carta apocalítica dirigida à igreja de Laodicéia não tem

72
que ver com aquela igreja, antes assinala a sétima e última etapa
da igreja cristã que, tendo seu início em 1844, irá até ao fim ou
até à segunda vinda de Cristo em poder e glória.”
São as cartas períodos de tempo?
Para os adventistas, as cartas não significam nada mais além
de períodos da igreja cristã ao longo do tempo. E nós, o que di-
remos? Podemos, sem dúvida, alinhavar vários argumentos que
irão de encontro ao desejo daqueles para quem as cartas repre-
sentam apenas períodos de tempo:
1) O próprio endereçamento das cartas é fato elucidativo:
“Ao anjo da igreja que está EM...O que vês escreve em livro e
MANDA às setes igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes,
Filadélfia e Laodicéia” (Apc. 2:1,8,12,1; Apc.3:1,714 e Apc.1:11).

2) Consideremos a carta à igreja de Pérgamo, onde lemos:


“Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Sa-
tanás, e que conservas o Meu nome, e não negaste a Minha fé,
ainda nos dias de Antipas, Minha testemunha, Meu fiel, o qual foi
morto entre vós, onde Santanás habita.” (Apc. 2:13).

Pérgamo se destacou entre outras cidades da Ásia pelos seus


templos pagãos, alguns deles erigidos em homenagem a impe-
radores romanos. Esculápio, o “deus serpente” era ali adorado
com destaque e fanatismo. Daí São João dizer que em Pérgamo
estava o trono de Satanás. Se a carta a Pérgamo significasse sim-
plesmente um período de tempo, não teria qualquer sentido o
pronunciamento do Apóstolo como mencionado linhas acima. O
trono de Satanás, ainda que de maneira simbólica, não poderia
situar-se só no tempo, e sim em algum lugar no decurso de certo
lapso de tempo. Mas a Igreja Adventista, firmada numa interpre-
tação fantasiosa e autoconveniente, diz que João, ao afirmar que
o trono de Satanás estava em Pérgamo, desejou mencionar outra
coisa bem diferente. Quis dizer que o trono do mal estava em
Roma, pensamento que poderá ser levado a sério por pessoas
independentes. Se a carta à Igreja de Pérgamo não dizia respeito
à igreja ali existente ao tempo do apóstolo João, e sim ao período

73
que vai de 323 até 538, como aceitar a idéia caolha que o trono
de Satanás se situaria em Roma, durante esse tempo, se a pró-
pria Igreja admite que Roma só se estabeleceu, definitivamente,
como poder eclesiástico e temporal, a partir de 538? Os fatos nos
levam a crer que a carta à igreja de Pérgamo não tem qualquer
relação com período de tempo ao longo da História.
A carta a Pérgamo é o que de fato ela é: uma carta à igreja que
estava em Pérgamo. E assim é com as demais.

3) Falemos, agora, de Antipas, nome mencionado na carta à


mesma igreja. Hengstemberg e outros teólogos pensam tratar-se
de um nome simbólico.
Outros acham que Antipas foi um personagem real que viveu
em Pérgamo e morreu vítima de perseguições anti-cristãs. Entre
uma opinião e outra, parece-me ser mais razoável acatar esta
última, por ser mais condizente com o próprio relato. Nestas con-
dições, resta-nos raciocinar assim: se Antipas viveu no tempo em
que a carta foi dirigida a Pérgamo, como pode ela representar o
tempo decorrido entre os anos 323 e 538, mais de duzentos anos
depois?

4) Demoremo-nos, em seguida, na mensagem à carta enviada


à igreja de Esmirra, onde lemos:
“Conheço a tua tribulação, a tua pobreza, mas tu és rico, e a
blasfêmia dos que a si mesmos SE DECLARAM JUDEUS, E NÃO
SÃO, sendo antes sinagoga de Satanás” (Apc. 2:9).
Os judeus aos quais São João se refere o eram de nascimen-
to, e não apenas espiritualmente. Segundo vários comentaristas,
entre os quais Jamieson e David Brown, em Esmirra os judeus se
opuseram decididamente ao cristianismo. Juntaram-se aos pa-
gãos na morte de Policarpo, fazendo o possível para que fosse
lançado aos leões. Não o conseguindo, eles mesmos, com as pró-
prias mãos, colocaram lenha na fogueira para que fosse queima-
do vivo.
Perceba, leitor, que na carta à igreja de Filadélfia, que os ad-
ventistas dizem representar o período que vai de 1833 até 1844,

74
há igualmente e referência aos que “SE DECLARAM JUDEUS, E
NÃO O SÃO.” Muito bem. É o caso de se perguntar:
Lá pelos primórdios do século dezenove havia ainda nas igre-
jas cristãs aqueles problemas decorrentes de conversão de ju-
deus ao cristianismo? É claro que não são. Essas dificuldades não
chegaram a ultrapassar o século terceiro, dissipando-se com o
tempo, o que vem demonstrar que a questão dos judeus mencio-
nada nas cartas às igrejas de Esmirra e Filadélfia era puramente
regional. Dizia respeito a problemas locais nas referidas igrejas.
Mas para se saírem dessa dificuldade, algumas pessoas de imagi-
nação fértil têm sua própria explicação:
“Não se trata a profecia aqui de judeus segundo a carne, ou a
nacionalidade”
(A Verdade Sobre as Profecias do Apocalipse, página 100).
Quando há falta de seriedade, há sempre um jeito especial
para iludir.

5) Ligue-se bem, leitor, ao que vou acrescentar-lhe agora. Se-


gundo consta da literatura adventista, a carta à igreja de Éfeso
abrange o período de 31 até o ano 100 depois de Cristo, e a de
Filadélfia corresponde ao espaço de tempo tão bem distanciados
um do outro. O primeiro situa-se no século um, e o segundo, no
século dezenove. A seguir, com o pensamento volta do para o
tempo, pense que Cristo repreendeu a igreja de Éfeso, enquanto
que elogiou a de Filadélfia.
Veja bem: se as cartas significassem períodos de tempo, como
desejam alguns, então teríamos de admitir que a igreja cristã es-
taria em situação melhor, do ponto de vista espiritual, no século
dezenove do que no século um, o que seria um absurdo insupor-
tável. Ninguém, de sã consciência, concordará que tenha havido
menos cristianismo prático na era apostólica do que no século
dezenove, já perto dos nossos dias. Sim, porque na época dos
apóstolos o cristianismo exalava todo o seu perfume. E a sua pu-
reza era contagiante. Com o passar dos anos, os sutis enganos
foram, devagar, sufocando a religião pura. O mal foi tomando
corpo, gradativamente, até, que nos dias atuais, o que temos é

75
um cristianismo pobre, sem colírio e sem vestimentas brancas.
Se lhe retirarmos o véu, veremos apenas o cristianismo cambale-
ante entre erros e acertos. È o que sobrou depois de quase vinte
séculos.

O tipo e o antítipo
Passemos, agora, para outro ponto igualmente importante. É
a preocupção da Igreja em pintar o movimento adventista com
as cores da carta aos laodicenses. Era de toda conveniência que
a carta à Igreja de Laodicéia fosse o tipo da Igreja Adventista.
As características desta precisariam estar evidenciadas na última
das cartas, na ordem cronológica das mesmas.
E o objetivo desse arranjo tendencioso não é outro senão es-
tabelecer na mente do adepto a idéia obtusa de que a Igreja Ad-
ventista é a última como período, profeticamente falando. E se é
a última é também a única que cumpre rigorosamente a profe-
cia. Esta ladainha é afirmada tão a miúdo, tantas vezes, que aca-
ba soando aos ouvidos e sendo gravada na mente como a mais
sublime das verdades. É como se fôssemos submetidos a uma
lavagem cerebral, à moda das ditaduras de esquerda. E o que
acontece? Justo o que é de se esperar. A vítima torna-se, com
o tempo, tão submissa e medrosa que, quando detecta algum
desajuste doutrinário, ou alguma falha administrativa na Igreja,
reage, automaticamente assim:
Há coisas que não estão certas, mas tenho que aceita-las as-
sim mesmo. Esta é a igreja da profecia. È a igreja de Deus. È a
sétima, e não há outra depois dela. É a última. Não tenho para
onde ir.
Afirmações deste teor fiz algumas vezes, até o dia em que
achei força para espanar da minha mente toda poeira que embo-
tava e obstruía. Muitos têm assumido atitude semelhante, sem,
no entanto, encontrarem a via de escape, o que não é nada fácil,
pois a catequese é muito bem arranjada para que possam livrar-
se facilmente dela. Como disse acima, buscou-se uma maneira
de identificar as características da carta aos laodicences com as

76
da Igreja. E assim, em benefício próprio, exploram alguns textos
da sétima carta, como veremos nos tópicos seguintes. Enquanto
isso, o crente simples e sincero é lesado em seus propósitos e na
sua consciência. E tudo é feito em nome de Deus e dos anjos.

A mornidão da Igreja Adventista


Bate-se sempre na mesma tecla: Laodicéia é o tipo. O adventis-
mo é o antítipo. O tipo caracteriza-se pela mornidão. O antítipo é
igualmente morno. Para identificarem o parentesco, utilizam-se
de Apc. 3:15 e 16:
“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem
dera fosses frio ou quente ! Assim, porque és morno, e nem és
quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da Minha boca.”
Este é um ponto bastante visado pelos adventistas, principal-
mente em seus sermões. Costumam dizer que a Igreja está pas-
sando por um período de mornidão acentuada, quase crônica.
Mas, no fundo, não é bem isto o que pensam, pois há entre eles
um número razoavelmente grande de adeptos ativos, que traba-
lham até a fadiga. Há também ministros abnegados.
Os relatórios comprovam que a Igreja, em matéria de conquis-
ta de almas, ocupa um lugar de destaque. Diante destes fatos, é
impossível estabelecer qualquer ligação ou relação entre o que o
apóstolo São João diz e a suposta situação de mornidão da Igreja.
Diga-se aliás, para completar, que são justo as denominações que
mais vivência têm com o engano doutrinário (como o mormonis-
no, o jeovismo e o adventismo) as que se esmeram no trabalho
missionário. É uma espécie de compensação.
A linguagem usada pelo vidente de Patmos, quando emprega
os termos “morno”, “frio” e “quente” tem propósito, e faz alusão
aos famosos mananciais de águas frias e quentes que existiam
em Laodicéia. A ilustração casava muito bem com o estado de
tibieza espiritual dos cristãos laodicenses, não se relacionando,
nem de leve, com o comportamento espiritual da igreja Adven-
tista do Sétimo Dia. A riqueza da Igreja
Examinemos Apc. 3:17:

77
“Pois dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de coisa al-
guma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego
e nu.”
Cabe aqui dizer, a título de um melhor esclarecimento, que
a cidade de Laodicéia ostentava uma posição de destaque na
Ásia, no tocante à suas riquezas materiais. Basta dizer que, ten-
do sido a cidade arrazada por um terremoto no ano 62 depois
de Cristo, fora reconstruída pelos seus próprios cidadãos, sem
qualquer ajuda oficial. A riqueza, proveniente principalmente da
comercialização de tecidos de lã, de excelente qualidade, levou
os laodicenses a um estado de indiferença espiritual de tamanha
grandeza, que só o amor (ouro refinado no fogo), a sabedoria di-
vina (colírio) e a justiça de Cristo (vestiduras brancas) poderiam,
juntos, reconduzi-los ao estado de equilíbrio.
Torna-se fácil constatar que as riquezas de que os laodicen-
ses se gloriavam eram espirituais. Sua auto-suficiência, porém,
era alimentada pelas posses mundanas. A justiça própria é um
estado de espírito comum na vida daquele que se encontra em
abastança e não sente necessidade de coisa alguma.

Assim era a situação dos laodicenses


Agora, tratemos de colocar as coisas nos seus devidos lugares.
Os adventistas se consideram infalíveis em matéria de doutrina.
Propalam, sem nenhuma cerimônia, que são os donos da verda-
de. Aplicam a si mesmos, com a altivez que lhes és inerante, as
palavras:
“Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma” (verso
17)
Esquecem-se, entretanto, que os laodicenses, ao se pronun-
ciarem assim, estavam simplesmente mentindo, pois na realida-
de eram “pobres”, e não ricos.
Eram ainda miseráveis, infelizes, cegos e estavam nus. Ora, se
a Igreja pleiteia para si as cores da carta aos Laodicenses, então
forçoso é admitir que ela, ao se declarar auto-suficiente na ques-
tão doutrinária, está se considerando rica e abastada, quando na
realidade é pobre, miserável, cega e nua.

78
O conselho divino
“Aconselho-te que de Mim compres ouro refinado pelo fogo
para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim
de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para
ungires os teus olhos, a fim de que vejas” (Apc.3:18).
De conformidade com a descrição acima, a igreja de Laodicéia
estava carente de “ouro refinado pelo fogo”, que é o amor pelo
qual devemos estar unidos uns aos outros. Esse,mesmo amor
que, aliado à fé, foi tão fartamente ensinado pelo apóstolo São
João e manifestado em sua própria vida. A mesma igreja necessi-
tava de “vestiduras brancas”, símbolo da justiça de Cristo. Final-
mente um terceiro ingrediente espiritual estava faltando à igreja
de Laodicéia: o colírio para os olhos, que é a sabedoria que vem
do alto para iluminação da consciência.
É de supor que lá por volta do ano 100, ou mesmo antes, a
igreja de Laodicéia estivesse recebendo forte influência do le-
galismo judaico, bem como ensinamentos de falsos doutores,
visando harmonizar certas especulações filosóficas, vigentes na
época, com os princípios do cristianismo, à maneira do que vinha
acontecendo com a igreja de Colossos.
Neste particular, a situação das duas igrejas era praticamente a
mesma. E isto se torna mais do que evidente, quando se sabe que
Paulo recomendou que sua carta enviada aos colossenses fosse
lida também pelos laodicenses (Cl. 4:16). Se a carta era adequada
às duas igrejas é porque ambas as cidades ficavam próximas uma
da outra, de modo que era razoável que pudessem ser mutua-
mente influenciadas. O fato é que a influência de ensinamentos
baseados na justiça humana, no seio da comunidade cristã de
laodicéia, estava impedindo que os crentes pudessem ver, com
clareza e com entendimento, o real valor da justiça imputada de
Cristo, representada, no texto, pelas “vestimentas brancas”. As-
sim é que o laodicense, orgulhoso e vaidoso, vivendo religiosa-
mente sob a influência da herança judaica do Velho Concerto,
arrotando justiça própria, só poderia dizer:
“Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma...”
(Apc.3:17).
79
Torna-se fácil concluir que o conselho divino fora dirigido à
igreja cristã que se encontrava na cidade de laodicéia. Nenhuma
ligação tem com qualquer período de tempo escolhido arbitra-
riamente.

O Vômito
Esclarecido este último ponto, é mister que nos inteiremos de
um fato de importância capital. Por que estava Cristo na iminên-
cia de vomitar os laodicenses de Sua boca? Porque eram mornos.
E a que prática a mornidão os levava? Entre outras, à prática da
mentira, pois sendo pobres, diziam que eram ricos. Eram sim, es-
piritualmente pobres, espiritualmente cegos, e se encontravam
em estado de nudez espiritual, já que desprovidos estavam da
justiça de Cristo. A falta de “vestimentas brancas” tornava-os ar-
rogantes, presunçosos e exclusivistas. O texto de apocalipse 3:16
aplicava-se, perfeitamente, à igreja que estava em Laodicéia.
Mas os homens perspicazes do adventismo, aqui também, fazem
uso incorreto do texto, em benefício próprio.
É curioso verificar que eles vão até o fundo do poço, até as
últimas conseqüências, quando analisam o verso dezenove que
reza:
“Eu reprendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e
arrepende-te”.
É quando aproveitam a oportunidade para fantasiar, de todas
as cores possíveis, os propósitos divinos para com eles, os laodi-
censes, como costumam designar-se. Mas, quando se trata do
verso dezessete, os ministros agem com cautela e parcimônia,
sem qualquer aprofundamento, a fim de que sejam evitas impli-
cações embaraçosas.

O porquê no número 7
Por que exatamente sete cartas, se havia outras igrejas na
Ásia? Diremos que as comunidades cristâs daquelas cidades re-
ceberam as mensagens de que necessitavam. Foram palavras de
advertência, reprovação, conselhos e estímulos.
Devemos, contudo, levar em conta que o número 7 indica um
80
todo, o que é pleno, completo. Quero crer que as mensagens às
sete igrejas eram de tal modo abrangentes, que não podiam dei-
xar de ser, de certo modo, válidas para todas as igrejas da Ásia,
como são para cada um de nós, individualmente, nos dias de hoje.
Podemos e devemos mesmo extrair delas aplicações pessoais,
como temos feito com relação às cartas de Paulo, Pedro e outros.
Não nós convém passar por cima de conselhos como este:
“Aconselho-te que de Mim compres ouro refinado pelo
fogo...”
Ou de uma promessa como esta:
“Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida,
que se encontra no paraíso de Deus.”
O que, todavia, não se pode aceitar, sem contestação, é que se
mutile a Palavra de Deus, tirando dela conclusões egoístas para
benefício próprio, como fazem alguns.
A promessa é individual
Alegro-me em saber que as promessas contidas nas mensa-
gens às sete cartas são individuais. E nem poderia deixar de ser
assim. Por isso, leitor, não faz nenhum sentido uma pergunta
como esta: Para onde irei?
Há um lugar para onde cada um deve ir, antes de tudo. E esse
lugar é o Nosso interior, onde está a nossa mais pura essência. É
aí que Cristo gosta de se encontrar conosco. E ele mesmo disse:
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e
abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele Comigo”
(Apc. 3:20).
Experimente ler novamente a passagem, mas agora substi-
tuindo alguém por o que quiser, casa por mente e cearem com
ele e ele Comigo por comungaremos um com o outro, para se
certificar mais ainda como é pessoal o convite que nos vem da
parte de Cristo. Veja como fica:
“Eis que estou à porta, e bato; o que quiser ouvir a Minha voz,
e abrir a porta, entrarei em sua mente e comungaremos um com
o outro.”
De tudo quanto foi dito nas considerações apresentadas, fica

81
mais uma certeza: pertençamos a esta ou àquela teologia, as
mensagens das Sete Cartas são como dádivas oferecidas a todos
quantos estiverem preparados para recebe-las, pois são, antes de
tudo, pessoais. E não perderam sua validade, apesar do tempo.

Conclusão
Finalmente, quero destacar o ponto nevrálgico de toda esta
questão:
Porque os adventistas criaram uma tão fantasiosa interpre-
tação para as Sete cartas do Apocalipse, baseda em função de
tempos proféticos?
A razão é uma só: Ganhar e segurar o fiel para todo o sempre.
E de que Maneira? Fazendo-o crer que a Igreja Adventista é a
igreja de Laodicéia dos nossos dias. E como esta é a sétima e úl-
tim, dentro da visão de João, da mesma forma o adventismo é o
último e único movimento ao qual o pecador pode agarrar-se se
desejar salvar-se para a eternidade. È assim que eles constroem
uma prisão qual cerca de arame farpado, tecida com fios invisí-
veis, em torno de cada membro, da qual só por um milagre ele
consegue escapar.
No passado, quando me contrariava com alguma coisa que
não me parecia correta, dentro da Igreja, usava um sedativo, em
forma de palavras, para me acalmar:
Esta é a última igreja. Não tenho para onde ir.
O método é quase infalível. Por isso, os irmãos adventistas,
sinceros e de boa fé dificilmente, deixam a sua comunidade. Eles
pensam que esta “última” igreja lhes dará o almejado passaporte
para o céu.
E assim, enquanto são muitos os evangélicos que se juntam
aos adventistas, poucos são estes que se aliam àqueles.
A doutrina do adventismo, frágil como nenhuma, é todavia en-
volvente. A princípio o evangélico “convertido” à Lei não aceita
os escritos de Ellen White como divinamente inspirados. Mas, a
partir do instante em que a sua resistência é vencida, torna-se
um legalista igualzinho aos outros, com todos os indispensáveis
adjetivos.

82
A verdade é como a cama em
noites de muito frio. Só incomo-
da nos primeiros momentos.

83
22 O Testemunho
De Jesus
Ensinaram-me, no passado, que o verso 10 do capítulo 19 de
Apocalipse, para ser bem entendido, devia ser comparado com
Apc.12:17, o que é verdade.E é o que faremos.

Apc.12:17 reza:
“Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restan-
tes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de
Deus e sustentam o TESTEMUNHO DE JESUS” (destaque meu).
Que testemunho é esse? Trata-se, evidentemente, do teste-
munho dado pelos profetas do Antigo Testamento a respeito de
Jesus, Seu nascimento, vida, morte e ressureição.
Vejamos, a seguir, Apc. 19:10, última parte:
“...pois o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.”
Vamos examinar a expressão “espírito de profecia”. Quem es-
tava por trás de Isaías, Miquéias e outros, quando testemunha-
ram ou testificaram acerca de Jesus? Quem? O Espírito de Deus.
Os que testificaram a respeito dele, o fizeram movidos pelo espí-
rito que inspira aqueles que profetizam. É o espírito de profecia.
Mas como procedem os adventistas em face desses fatos? Eles
procuram estabelecer uma íntima ligação entre os textos conside-
rados e os escritos atribuídos à Srª.White. Para ele, “testemunho
de Jesus” envolve ou encerra a obra literária dela. Para facilitar
a relação ou o parentesco ilusório, deram aos seus escritos a al-
cunha de “espírito de profecia”. E para que as coisas fiquem mais
bem acomodadas para todos, a expressão “testemunhos da irmã
White” é também muito usada. O propósito é sempre o mesmo:
identificar a obra atribuída a ela com os textos em apreço. Essas
designações naturalmente “casam” muito bem com o conteúdo
dos textos. Não estou propalando nenhuma leviandade. E provo
que não, citando as palavras do professor Arnaldo Cristianini, cra-
vadas em seu livro Sutilezas do Erro, primeira edição, página 30,
onde posso ler:

84
“O espírito de profecia é o que, segundo as Escrituras, a par
com a guarda dos mandamentos de Deus, seria o característico
da igreja remanescente.
Compara-se Apc. 12:17 e 19:10, última parte. Este dom con-
siste precipuamente em dar ao povo de Deus mensagens diretas
e específicas, traçando-lhe normas e diretrizes,, dando-lhe orien-
tação e instruções especiais. Esclarece o sentido das Escrituras e
confirma a fé. Não substitui a Bíblia nem ensina nenhuma dou-
trina nova. Os testemunhos orais ou escritos da Srª White pre-
enchem plenamente este requisito, no fundo e na forma” (grifos
meus).
Só para deixar tudo claro: os adventistas são aos próprios
olhos o povo de Deus, a nação eleita, a igreja remanescente. Nin-
guém mais o é. Para eles, a obra da Srª.White, não passa de um
engano dos mais grosseiros, um arranjo feio, cujo objetivo é en-
curralar o neófito de tal maneira que jamais possa tornar-se um
crente livre. Visa-se, também, com tudo isso, papinizar a pessoa
de Ellen White.
Os escritos dos profetas do Antigo Testamento é que são o
“testemunho de Jesus”. Todo mundo conhece esta verdade, ne-
gada, em parte, pela teologia adventista.
Ainda que queiramos, não podemos fugir da realidade. Jesus,
referindo-se à Lei e aos profetas do Antigo Concerto, disse:
“Examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna,
e são elas que testificam (testemunham) de Mim.” (S.João 5:39).
Por acaso, quando Paulo em Rm 3:21 diz “Mas agora, sem a Lei
se manifestou a justiça de deus, testemunhada pela Lei e pelos
Profetas”, estava incluindo aí outros escritos, além daqueles dei-
xados pelos profetas da Antida Dispensação?
Nunca. Jesus mesmo disse, conforme Lc.16:16.
“A Lei e os PROFETAS (isto é, os que profetizaram a respeito
dele) vigoraram até João” (destaque e parêntesis meus).
Em outras palavras, o que era necessário dizer acerca dELE
estava concluído. Nestas condições, incluir os escritos atribuídos
à Srª.White na expressão “O testemunho de Jesus é o espírito de
profecia” só não é uma leviandade porque, antes de tudo, é uma

85
desonestidade teológica.
Agora, leitor adventista, é possível que você esteja na mes-
ma situação em que permaneci por muitos anos. Eu não tinha a
menor idéia porque se cometia mais esse desaforo à Palavra de
Deus. Só hoje, porque penso sem pressões externas, posso ver
o engano em todo o seu tamanho. É que era necessário fazer
uma ligação mãos íntima entre Ellen White e a Bíblia. E o texto
de Apc.19:10 era indicado, tanto quanto o de Is.8:20. Mas para
que o parentesco se tornasse mais próximo, passaram a chamar
a obra de Ellen White de “espírito de profecia”. A palavra “profe-
cia” da expressão considerada precisava estar associada à pessoa
dela, a fim de que se estabelecesse o entrelaçamento. E assim, e
por causa disso, ela é vista pelo adventismo como a única profe-
tisa dos tempos modernos, comissionada pelo Céu para ensinar
as verdades eternas aos pobres pecadores da Terra.
E por fim, vem a pergunta mais importante de toda essa con-
juntura: Por que todo esse empenho em vestir o equívoco com a
roupagem da verdade?
O objetivo é sempre o mesmo: manter o adepto sob controle.
De fato, ele pode até ter certos atritos com a liderança da Igreja,
pode protestar contra atitudes de outrem, mas nada pode fazer
além de baixar a crista, conformar-se e finalmente dizer:
Não tenho para onde ir. Esta é a igreja verdadeira. A única que
tem uma profetisa. Todas as outras são igrejas caídas.
Confesso que algumas vezes desabafei assim. Hoje, porém,
posso admitir que eu era um prisioneiro que, no íntimo, talvez
desejasse acordar. Mas na havia quem me desse um empurrão
no sentido do departamento. Foi necessário que o Senhor, com a
sua infinita misericórdia, me desse uma estranha e curiosa sacu-
didela. E eu acordei. Um verdadeiro milagre!

86
“Buscai não a felicidade, mas a
sabedoria, e a felicidade vos será
acrescentada”
(Shelton).

87
23 E Ele Não Veio ...

Pessoas há que preferem ser tapeadas com um engano colo-


rido com as cores do arco-íris do que serem instruídas por uma
verdade em preto e branco. È que as aparências sempre enga-
nam.
Neste capítulo eu desejo abordar um desses equívocos colo-
ridos, para que o leitor possa ter uma idéia de como é feita a
camuflagem.
Guilherme Miller, baseado em estudos feitos no livro do pro-
feta Daniel, estava convencido da volta de Jesus. Ele conseguiu
juntar em torno de si um grande número de seguidores. E entre
eles havia nomes de certo destaque, como Josué V.Himes, Josias
Litch, ministro metodista-episcopal, Carlos Fitch, pastor congre-
gacionalista, e outros. Juntaram-se também ao grupo James Whi-
te e Ellen G.Harmon. Estava formado o movimento adventista,
que mais tarde se tornaria do sétimo dia.
Em dezembro de 1842, os adventistas, liderados por Miller,
determinaram que Jesus voltaria entre 21 de março de 1843 e
21 de março de 1844. Chegou o 21 de março/44, e ele não veio.
Fizeram outra tentativa. Agora tudo iria dar certo, pois descobri-
ram que haviam cometido um erro de avaliação. A data corre-
ta, segundo novos cálculos, seria 22 de outubro do mesmo ano.
Haviam chegado à conclusão de que as 2.300 tardes e manhãs
apontavam para o décimo dia do sétimo mês (tempo judaico),
que corresponderia a 22 de outubro. Era iminente a chegada do
Filho de Deus. Ele viria finalmente busca-los. Só a eles. Todos os
outros seriam alvos do amor de Deus. Mas o dia chegou, e Cristo
não apareceu.
Que pena! Quanto fervor estampado nos rostos de todos !
Quanta decepção! Muitos, porém, não desanimaram. Continua-
ram marcando datas. Sim, novas datas. No livro O Grande Movi-
mento Adventista, publicado pela Casa Publicadora Brasileira, de
propriedade dos adventistas, em seu capítulo O
Grande Desapontamento de 1844, podemos ler:

88
“Havia muitos entre os primeiros CRENTES ADVENTISTAS que
ainda criam ter havido algum erro nos cálculos da profecia dos
2.300 dias. Estes fixaram OUTRAS DATAS para a vinda de Cristo”
(os destaques são meus).
Em traços gerais, nesta base é que foi estabelecido o movi-
mento adventista. Como se vê, em bases falsas. Primeiramente,
porque contrariava frontalmente postulados bíblicos, como Mt.
24:36, e em segundo lugar porque partia de uma contagem sim-
bólica para as 2.300 tardes e manhãs.
A lição do desapontamento não parece ter trazido qualquer
mudança na conduta ou maneira de pensar dos dirigentes do
Movimento. Tudo indica que não havia ficado nenhuma lição de
humildade. Senão vejamos: um homem chamado Hiram Edson,
na manhã seguinte ao segundo desapontamento, recebia uma
“inspiração” do alto, avisando-lhe que o santuário referido na
profecia de Daniel 8 estava no Céu. A sua purificação dar-se-ia lá,
asseverou o novo “profeta”. E assim aparecia a primeira desculpa
para justificar o fracasso. Era necessário que “explicações” fos-
sem logo encontradas, para que não houvesse uma debandada
geral. A “visão” de Hiram Edson já era um bom começo. Bem
mais tarde, aparecia em O Grande Conflito esta evasiva:
“Pela providência divina o povo foi provado em relação ao
tempo definido, a fim de que lhe fosse manifesto o que estava
em seu coração.”
Como se vê em decorrência da leitura, Deus havia providen-
ciado todo aquele drama para provar as pessoas envolvidas em
um engano. E eu pensava que Deus não se utilizava desse tipo de
método. È pena que pessoas há que dão crédito a sutilezas dessa
natureza.
Mas ainda não era o fim. Outras justificativas apareceriam.
Seria, por exemplo, bom que se providenciasse uma que envol-
vesse até mesmo a pessoa de Guilherme Miller. Ele teria que ser
descartado. E o foi. Assim é que, quando alguém acusa os adven-
tistas de terem marcado seguidas datas para a volta de Jesus,
eles transferem a responsabilidade para Miller. Sobre este, sim,
é que recai toda a culpa. Mas eles se esquecem que Ellen G. Har-

89
mon, James White e outros, considerados pais da fé adventista,
foram não só colaboradores, como até os herdeiros legítimos do
acervo doutrinário de Miller sobre a profecia das 2.300 tardes e
manhãs.
Ocorre ainda que seria indispensável um argumento mais
forte e convincente para liquidar a questão. Foi quando se re-
correu ao trunfo máximo: uma grande descoberta. Ela não seria
apenas uma explicação ou justificativa. Seria, antes a razão de
ser do próprio fracasso. Seria, pois, de toda conveniência que se
encontrasse no Livro Sagrado a previsão do equívoco. Em outras
palavras, a própria Bíblia teria que dizer que tudo já tinha sido
previsto, com antecedência.
E o capítulo 10 de Apocalipse prestava-se muito bem para esta
finalidade. E desta forma foi feito. Só não sei dizer, com precisão,
de quem partiu a idéia fascinante:se da Srª.White, James, Uriah
Smith ou outro qualquer. Mas isto agora não é o essencial. O fato
é que os adventistas interpretam os versos 9,10 e 11 de maneira
tão engenhosa e cavilosa, que conseguem convencer até os mais
espertos e cultos estudiosos da Bíblia.
O texto reza:
“Fui, pois, ao anjo, dizendo-lhe que me desse o livrinho. Ele
então me falou:
Toma-o e devora-o, certamente ele será amargo ao teu estô-
mago, mas na tua boca, doce como mel. Tomei o livrinho da mão
do anjo e o devorei, e na minha boca era doce como mel, quan-
do, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo. Então me dis-
seram: É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos
povos, nações, línguas e reis”.
Está vendo, leitor? O texto presta-se maravilhosamente bem
para “ajustar” definitivamente as coisas. A mensagem equivo-
cada que marcava sucessivas datas para a volta de Cristo, estava
prevista netas palavras:
“... e na minha boca foi doce como mel.”
A decepção, por sua vez, calhou bem na expressão:
“...quando, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo.”
Durante quase trinta anos aceitei toda esta dissimulada san-

90
gria à Palavra de Deus, como se fosse a mais fina flor da Teolo-
gia. Que grave erro cometemos quando aceitamos, sem exame
prévio, aquilo que alguns religiosos espertos nos impingem como
verdade ! Sobre eles há o peso de uma grande culpa.
Infelizmente vive-se em uma sociedade onde se engana a
quem pode se enganar, torce-se tudo, mutila-se tudo, e tudo se
faz em favor do estrabismo religioso de homens sagazes, falando
em nome de Deus e dos anjos.
Meu irmão adventista, leve em, conta que o olhar divino está
voltado para você. Não se deixe enganar por mais tempo ! Há
muito é chegada a hora de acordar. Será que não dá para notar
que tudo isso que você acabou de ver não passa de uma interpre-
tação para inglês ver?
Eu o convido para, juntos, examinarmos, embora suscinta-
mente, parte do capítulo 10. Veja que o vidente de Patmos pre-
senciava esta cena: um anjo descendo do Céu tinha na mão um
livrinho aberto. O Profeta ouve uma voz que diz:
“ Vai, e toma o livro que se acha aberto na mão do anjo em pé
sobre o mar e a terra.”
Em visão, o Profeta tomou o livro e o comeu. Na boca doce
como mel, mas no estômago tornou-se amargo.
Esta mesma descrição que você acabou de ouvir se encontra
também em Ez. 2:8-10 e 3:1-3, como aqui transcrevo:
“Tu, ó filho do homem, ouve o que te digo, não te insurjas
como a casa rebelde, abre a boca, e come o que te dou. Então
vi, e eis que certa mão se estendia para mim, e nela se achava o
rolo de um livro. Estendeu-o diante de mim, e estava escrito por
dentro e por fora; nele estavam escritos lamentações, suspiros e
ais. Então me disse: Filho do homem, come o que achares, como
este rolo, vai e fala à casa de Israel. Então abri a boca, e ele me
deu a comer o rolo. E me disse: Filho do homem, dá de comer ao
teu ventre, e enche as tuas entranhas deste rolo, que eu te dou.
Eu o comi, e na boca me era doce como mel.”
O que significa o fato de haver Ezequiel comido o livro? Ape-
nas isto: o início de uma vida como profeta de Deus. É evidente
que não se engole um rolo de pergaminho. Em João, também,

91
iniciava-se uma nova fase de sua missão profética. Por isso, ele
ouviu estas palavras:
“É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos,
nações, línguas e reis” (Verso 11).
Como em Ezequiel, o rolo que João figuradamente comeu não
continha em si uma mensagem, embora estivesse escrito por
dentro e por fora. Não é apresentada qualquer mensagem espe-
cífica. Era apenas um convite para que continuasse sua missão
profética, o que realmente ocorreu.
E por que o livro era doce na boca e amargo no estômago?
Assim como o mel, sempre doce na boca, pode provocar mal-
estar no estômago, fermentando e segregando bílis amarga, de
idêntica maneira, as mensagens que o vidente receberia de Deus
seriam aceitas por ele com regozijo, como se tivessem o sabor
do mel. O seu conteúdo, todavia, poderia acarretar “tristezas, la-
mentações e ais” (Ez. 2:10, última parte), tornandoamarga a vida
daqueles sobre os quais recairia o desagrado divino. Daí a com-
paração. O que passar disto é acréscimo desnecessário.
Quero, prosseguindo, chamar a atenção do leitor para o ver-
so 11 já citado: “É necessário que AINDA profetizes...” (destaque
meu).
Quando os doutores da Lei me instruíram a respeito des-
te versículo disseram que ele se cumpriu após a decepção de
1844, quando os adventistas continuaram anunciando a volta
de Jesus, sem todavia marcarem datas. Mas onde está a verdade
desta afirmativa? A quem fora dada a ordem para continuar sua
missão profética? A Ellen White? É evidente que não. A João tão
somente. E o que profetizaria a partir de então nenhuma relação
ou ligação teria com os fatos ocorridos em 1843 e 1844. Este
ficaram por conta e risco dos participantes do Movimento. Mas
veja agora um subterfúgio que a liderança preparou para que o
Movimento pudesse sobreviver: João era o símbolo da nova ar-
rancada do Movimento, a partir do último desapontamento. Ele
era o tipo. O Movimento, o antítipo.Isso é tão absurdo e anti-
bíblico como desejar provar que a água e o vinho são a mesma
coisa porque têm um ponto em comum: tomam a forme de vaso

92
que os contêm. Como poderia João representar qualquer movi-
mento religioso se não era um anjo e não fora visto voando pelo
céu, tendo nas mãos o evangelho eterno?
O capítulo 10 de Apocalipse nenhuma relação tem com os er-
ros cometidos a partir de 1843. O que Miller proclamou não se
cumpriu. Logo, o que houve foi um falso vaticínio. Neste caso, a
expressão: “É necessário que ainda profetizes...” não pode ser
aplicada, nem de leve, ao movimento que se esboçava nos pri-
mórdios do século dezenove. Tratava-se de um movimento es-
púrio. Guilherme Miller, em que pese ter sido um homem bem
intencionado e até diligente estudioso das Escrituras, foi um falso
profeta. A ele aplica-se Dt. 18:21 e 22. Miller foi falso profeta
porque sua profecia era era de feitio anti-bíblico, e, por isso mes-
mo, não poderia cumprir-se. Ele, porém, teve um grande mérito:
reconheceu o erro, e voltou para a sua igreja de origem, enquan-
to que os seus seguidores continuaram e continuam, até os dias
de hoje, entregando aos tolos de todo o mundo uma mensagem
desprovida de sentido.
Estão sempre prontos a dizer que nunca marcaram data para
a volta de Cristo. Uma autoridade da Igreja chegou a fazer5 esta
defesa em um de seus livros:
“Fica esclarecido que os adventistas do sétimo dia jamais fi-
xaram data para a volta do Senhor. Quem o fez, na época, foi
G.Miller, e era batista. Outros grupos espúrios, procedentes do
milerismo, talvez o tenham feito também. Nunca, porém, os ad-
ventistas do sétimo dia.”
Por uma espécie de decreto-lei o autor determinou que os ad-
ventistas jamais marcaram datas para a volta de Cristo. Mas isto
não representa a verdade, como provaremos com a transcrição
de alguns trechos do livro O Grande Movimento Adventista. Va-
mos ao primeiro. No capítulo intitulado A Primeira Mensagem
Angélica posso ler:
“Pelo ano de 1840, uma porção de ministros de preeminên-
cia abraçaram a causa adventista, entre os quais se achava Josué
V.Himes, que se demonstrava ser justamente o auxiliar de que se
necessitava.”

93
“Josias Litch, ministro metodista-episcopal, leu em 1838 as
conferências de Miller publicadas em livro. Convencido de sua
verdade, tornou-se hábil defensor da causa do advento”.
“Carlos Fitch, pastor de uma igreja congregacionalista de Bos-
ton, foi também convencido das crenças adventistas pela leitura
das conferências impressas de Miller, no ano de 1838.”
“O grande desapontamento de 1844 foi-lhe (a James White)
um golpe cruel, mas apegou-se a sua fé em Deus.”
Não são estes homens considerados pais da Igreja? Não pro-
palaram eles a volta de Cristo para 1844? Não eram todos eles
adventistas, como se deduz da
Leitura dos textos? E como se diz que os adventistas nunca
marcaram data para a volta do Senhor? É verdade que só mais
tarde eles se organizaram como igreja, mas não se pode negar
que em 1844 já construíam um grupo em ação.
Quanto a Miller, reconheceu o erro, ao contrário dos outros,
que continuaram loborando no engano. Mas nem por isso pode-
mos negar que o Movimento Adventista nasceu das idéias de um
falso profeta. Esta é uma verdade insconteste. E uma idéia falsa
não pode gerar senão um movimento igualmente falso.
Mas agora, leitor, é chegado o momento certo para fazermos
a pergunta correta:
Por que a Igreja arranjou toda essa frágil interpretação para
Apocalipse 10?
Por duas razões que passo a enumerar. Primeiramente, a
Igreja precisava justificar o fracasso. Como não eram cegos nem
ignorantes, perceberam que estavam tão loucos quanto Miller
quando concordaram com a idéia dele de marcar datas para a
volta de Cristo. Mas para eles era bastante duro reconhecer, pu-
blicamente, o erro cometido. Era necessário encontrar uma solu-
ção estratégica.
Assim é que elaboraram a falsa interpretação de Apocalipse
10, de que já falamos. Em resumo: apanharam as palavras do
anjo transmitidas a João, e as transferiram para eles, os legíti-
mos representantes do Movimento. Em segundo lugar, homens
espertos de movimentos como este sabem que tão importante

94
como ganhar a vítima é mantê-la segura, sob controle. E como
conseguir isto? Beatificando, santificando e abençoando os pró-
prios erros de maneira velada.
Achava encantador quando professores e ministros diziam
coisas assim, no passado:
Como Deus é maravilhoso ! Ele já havia profetizado tudo
quanto aconteceu em 1844. Seu povo não seria abandonado. Era
necessário que acontecesse exatamente assim. O remanescen-
te teria que passar por tão dura experiência. O povo de Deus é
como ouro. Tem que ser provado no fogo.
Isto é o que eles dizem. E assim, a Igreja consegue segurar
os seus fiéis, como em uma prisão. Por isso, são poucos os que
conseguem escapar. Neste particular, os adventistas levam uma
visível vantagem sobre os evangélicos que, pelo que sei, não cos-
tumam usar esse tipo de desonestidade teológica.
Quer parecer-me, leitor, que falta mais grave do que marcar
datas sucessivas para a volta de Cristo é reivindicar a aprovação
divina para semelhante leviandade. Mas tudo se faz para fixar o
crente na Igreja, como um verdadeiro escravo dela e de si mes-
mo. E tudo é feito em nome de deus e dos anjos.
Parece que aos homens importantes do adventismo o que
conta é a vantagem, e não a verdade, contrariamente ao pen-
samento huxleyano expresso nestas palavras: “A verdade é mais
importante do que o proveito.”

“Buscai não a saúde, mas a ver-


dade, e a saúde vos será acres-
centada”
(Shelton)

95
24 A Neurose Da
Perseguição
Para muitos, todos os processos são válidos, quando se trata
de salvaguardar os interesses próprios. Entre subjugar a consci-
ência para ganhar vantagens, ou deixa-la livre para receber só o
que a vida oferece, eles preferem a primeira situação. É como o
pecador consciente que vê o prazer momentâneo, sem avaliar as
conseqüências posteriores.
Os líderes do adventismo difundem entre os pobres e indefe-
sos membros leigos a neurose da perseguição, que é uma manei-
ra de tirar vantagens imediatas para a Igreja. Falam de uma per-
seguição de que serão vítimas, e que, há anos, está se esboçando
no cenário mundial. Afirmam que tudo já está em andamento
nos Estados Unidos. Ensinam que a propalada perseguição será
desencadeada contra eles, justo por serem o povo de Deus, a
nação eleita, o sacerdócio real.
Conheço irmãos que desejam ardentemente a sua chegada.
Em alguns, o desejo chega a ser sádico. Uma verdadeira obses-
são. Conheci, no nordeste, um moço crente fervoroso, que me
disse, certa ocasião, que estava orando para que logo chegasse
a “perseguição”. Certamente, ele gostaria de provar que estava
pronto para as suas conseqüências. Chegou a ler um trecho de O
Grande Conflito para defender sua esdrúxula tese.
A “doutrina da perseguição” é baseada em Sl. 91:7, II Tm.3:12,
Mt 5:10-12 e Apc. 12:17, mas, antes de tudo, apóia-se nos ensina-
mentos da Srª.White.
O objetivo é sempre o mesmo: fixar o crente na Igreja, apro-
fundando nela as suas raízes pelo medo. Se o leitor tiver o cuida-
do de examinar os textos citados, verificará que eles não fazem
referência a nenhum movimento específico. Em Sl.91:7 há uma
promessa de proteção individual. Em II Tm. 3:12 Paulo fala da-
quele que escolheu “viver piedosamente”. Em Mt. 5:10-12 Jesus
chama de bem-aventurado aquele que é alvo de afrontas por
causa do nome dEle. E em Apc.12:17 fala-se dos que guardam os

96
mandamentos de Deus, que os adventistas determinaram ser o
Decálogo do Antigo Concerto, removido e substituído na Cruz.
O quadro geral apresenta-se desta forma: os adventistas do
sétimo dia serãos o alvo de uma perseguição mortal, em um mo-
vimento específico e generalizado, porque são os únicos filhos de
Deus. E em toda essa conjuntura o sábado é o ponto nevrálgico.
Todos os outros (o que sobra) serão impiedosos carrascos.
O verso-chave deles é o de Apc. 12:17. Veja como eles o equa-
cionam, de maneira arbitrária, conforme está no livro Preparação
Para a Crise Final, página 79, primeira edição:
“O dragão (o diabo) irou-se contra a mulher (a igreja) e foi fa-
zer guerra ao resto da sua semente ( o povo adventista do sétimo
dia), os que guardam os mandamentos de Deus e t~em o teste-
munho de Jesus.”
Leve me conta, leitor, que os parênteses não são meus. Ago-
ra, perceba a sutileza: o neófito é doutrinado de tal forma que
entre não ser perseguido, mas não fazer parte da nação eleita,
e ser perseguido, mas a neurose começa a se incrustar em sua
vida. É um a mais que, como cordeiro, permite seja tosquiado. E
um homem assim “trabalhado”, só por milagre pode aceitar uma
mudança em sua vida, ainda que para melhor.
A “doutrina da perseguição” não tem apoio bíblico. Ela faz
parte da bagagem doutrinária de Ellen White. E tem o mérito de
fixar o fiel na Igreja, peromnia saecula saeculorum, com as armas
do medo. Os evangélicos conquistados para as hostes adventis-
tas enquadram-se facilmente nessa linha de conduta. E passam a
sofrer do mesmo mal: a neurose da perseguição.

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“Corremos descuidadamente
para o precipício após havermos
colocado algo à nossa frente que
nos impeça de vê-lo”
(Pascal).

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25 Historietas Que Ajudam

O amor devia ser a única arma (se é que posso expressar-me


assim) para consolidar a posição do filho de Deus no seio da co-
munidade religiosa. Se ele existisse, na sua plenitude, tornar-se-
ia desnecessário o uso de certas astúcias para se fazer aquilo que
só o amor consegue fazer.
Na teologia legalista vive-se sempre tão preocupado com os
preceitos da Lei, que não sobra tempo para dedicar amor ao se-
melhante. Era o que acontecia com os judeus. O envolvimento
do sacerdote e do levita com as coisas da Lei não lhes permitiu
ver o homem ferido à margem da estrada que dava para Jerusa-
lém para Jericó. Eles guardavam a Lei, inclusive o Decálogo, mas
não os mandamentos de Deus.
No adventismo não é a lei de Cristo que serve de padrão para
orientar e guiar o crente, mas o Decálogo que se insere na lei de
Moisés. Por isso, a igreja é carente daquilo que mais necessita:o
amor. Na falta deste, faz-se indispensável o uso de certos pro-
cessos para fixação do crente na congregação, como os que te-
nho descrito nas páginas deste pequeno volume. Mas há outros
meios. E quero chamar a atenção do leitor para outra maneira
sui generis de manter o crente em prisão psicológica. Trata-se
de historietas especiais exportadas pelos americanos, excelen-
tes para o fim a que se destinam. Elas chegam até nós como se
fossem a mais pura das verdades. E aqui desejo referir-me a duas
delas.
A primeira fala de um jovem adventista convocado para a
guerra como soldado-padioleiro. Não posso precisar se se trata
do primeiro ou segundo conflito mundial. O fato é que, em um
combate violento, o padioleiro é vitimado por uma bala dispara-
da na direção do coração, sobre o qual repousava a sua Bíblia.
O projétil atinge a capa e acaba se alojando ao lado do verso 7
do Salmo 91. A segunda é igualmente curiosa. Falaram-se dela
quando eu estava me preparando para o batismo, em 1954. Foi
muito bem encaixada no estudo que me ministraram sobre a vol-

99
ta de Cristo. Esta também foi importada dos Estados Unidos, e
refere-se a dois jovens que viajavam de carro por uma rodovia na
América do Norte. Inesperadamente, alguém à beira da estrada
faz sinal com o braço, como quem está pedindo uma “carona”. O
automóvel pára, e o homem, vestido de branco (este detalhe era
mencionado para dar realce), senta-se no banco traseiro.
Os dois rapazes falavam da volta de Cristo, quando o desco-
nhecido os aparteou para dizer:
A volta de Cristo está mais próxima do que vocês podem ima-
ginar. E no exato momento em que o desconhecido terminava
seu prognóstico, os moços adventistas olharam para trás, numa
atitude de espanto, e constataram que o banco estava vazio. O
passageiro havia desaparecido.Foram-se muitos anos, e Jesus
ainda não voltou.
Nas décadas de 50 e 60 utilizava-se deste segundo relato para
ajudar alguns evangélicos a fazerem sua decisão ao meu lado.
Mas quanto à segunda historieta não a usei uma vez sequer. Ela
me parecia um pouco “cabeluda”.
Há outras historietas fantásticas, algumas delas made in Bra-
zil. O objetivo é sempre o mesmo: fazer com que o crente sinta
que está no movimento certo, e do qual não pode afastar-se em
hipótese alguma.

“A verdade é a filha do tempo”


(A.Gellio).

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26 A Prisão Perpétua

Se ao fiel leigo é difícil, quase impossível, libertar-se da car-


ga constante e do bombardeio persistente de doutrinas falsas e
informações arranjadas a que é submetido anos corridos, pode
fazer-se uma idéia da prisão em que se encontra o ministro as-
salariado. Este, além de receber o mesmo tipo de pressão, e até
com maior intensidade, é alvo de um tratamento que o deixa,
para sempre, prisioneiro de uma estrutura, com a qual nem sem-
pre ele se harmoniza, a não ser exteriormente.
Quando os governos ditatoriais desejam perpetuar-se no po-
der, costumam tomar, como medida básica e prioritária, provi-
dências que beneficiem diretamente a classe militar, entre as
quais os constantes aumentos salariais.
Assim, eles conseguem governar por mais tempo, sem serem
incomodados. O mesmo princípio é aplicado pela teologia adven-
tista. Os ministros, sobejamente recompensados pelos seus pa-
trões, estão, com algumas boas e raras exceções, sempre dispos-
tos a bater palmas a tudo quanto se faz, se reafirma e se ratifica,
à maneira das ditaduras de direita e de esquerda.
Nas décadas de 50 e 60 era muito fácil saber quanto ganha-
va um ministro do evangelho. Não se necessitava de nenhuma
indagação a respeito. Como ganhavam pouco, eles mesmos pro-
palavam, entre os fiéis, o valor de seu salário. Interessava-lhes
dar àqueles a quem comandavam a impressão de abnegação. E
muitos deles de fato o eram. Hoje, porém, a situação se nos afi-
gura totalmente oposta.
Ninguém sabe quanto eles ganham. Até porque quando lhes
fazemos qualquer pergunta nesse sentido, eles dão uns giros em
torno da questão, e acabam não dizendo nada, dando-nos a im-
pressão de que eles mesmos, os empregados, não sabem quanto
percebem. O assunto passou a ser segredo de Estado. O que se
sabe, no entanto, é que eles são agraciados com uma exuberante
e farta mordomia: verba para educação dos filhos, verba para
medicamentos e hospitalização de toda a família, verba para alu-

101
guel de casa, verba para gasolina e álcool e ainda seguro baratís-
simo para os seus veículos. Constantemente, aos mais aplicados
e submissos são oferecidos cursos de especialização nos Estados
Unidos, com férias extensivas aos membros da família. Esses mi-
nistros, ao retornarem, geralmente são peritos em ganhar para
o seu lado os cristãos de outras denominações. Na Andrews Uni-
versity recebem sempre “novos” estudos a respeito de Daniel 8.
E reafirmam sua fidelidade incondicional a Ellen White.
Aos obreiros mais ligados ao esquema, e que dispõem de “pis-
tolões”, além do curso de aperfeiçoamento ministrado por mes-
tres americanos, são oferecidos, também, passeios à Terra Santa
para que, ao voltarem ao Brasil, possam dizer aos seus pares e
aos fiéis em geral que pisaram na terra por onde Jesus andou
e que tomaram banho nas águas do rio Jordão. Para provarem
o feito exibem chapinhas comprobatórias. Todos se alegram, e
após a reunião, levam para a casa a impressão de que também
estiveram nas terras por onde Jesus andou. E tudo é feito com o
dinheiro das ofertas do povo.
Um homem com todos esses privilégios dificilmente pode li-
bertar-se. Submissão é o que lhe está determinado para o resto
da vida. Há, contudo, exceções.
Alguns têm soltado seu grito de independência. Outros aguar-
dam uma melhor oportunidade.
Há tempo para tudo.

“Há um limite onde a tolerân-


cia deixa de ser uma virtude”
(Burke).

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103
27
Palavras Finais

A você, irmão evangélico, quero encaminhar uma sugestão.


Lembre-se da imensurável riqueza de que você dispõe: a graça
salvadora baseada na fé em Jesus Cristo, e não em preceitos de
um concerto que caducou na Cruz. Não seja tolo a ponto de efe-
tivar uma troca desastrosa. Este seria o pior negócio em toda a
sua vida.
Mas é principalmente a você, irmão adventista que encami-
nhei os capítulos deste pequeno volume. É a você que eu busco,
com a ânsia de lhe proporcionar um novo despertar. O que estou
tentando é, entre outras coisas, fazer com que você tome consci-
ência de sua real situação.
Nada precisamos fazer, a não ser descobrir a inutilidade da-
quilo que fazemos. Este é um dos segredos da vida. Na realidade,
não precisamos buscar o que é verdadeiro, mas ter a percepção
do que é falso.
Consideramos, juntos, alguns temas bíblicos, e você pode ter
notado, pela dissertação que apresentei, que por detrás dos en-
sinamentos que mestres e doutores lhe transmitiram, há uma in-
tenção pré-estabelecida, um desejo a se cumprir, um lugar a atin-
gir. Mas em tudo isso há um estado do que é falso a perceber.
E a percepção é o começo da jornada que nos conduzirá à li-
bertação. E para ser livre você tem que, em primeiro lugar rebe-
lar-se contra as coisas e fatos que não correspondem à realidade
que está dentro de sua essência.

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Liberte-se, pois, da idéia de que pessoas interesseiras têm algo
de bom para lhe proporcionar!
Liberte-se da prisão a nível humano ! Do ponto de vista psi-
cológica você não precisa depender de ninguém. Abandonando
toda forma de submissão, você começará a sentir as vantagens
de ser livre.
Liberte-se da falsa teologia que procura conduzi-lo para o abis-
mo do medo, da incerteza, da infelicidade! Como disse alguém,
“a vida feliz é a alegria na verdade.” Só esta deve interessar-nos.
Ela nos parece ríspida, mas não o é. Vê-mo-la assim por causa da
nossa ignorância.
Reexaminar as “verdades” que lhe transmitiram, no passado, é
obra indispensável, irmão adventista.
Se não somos capazes de correr o risco de perder amigos privi-
légios em troca desprezíveis.
Viver para raciocinar, viver para descobrir, viver para corrigir,
viver para compreender é vida abundante. Vivendo assim, só se
engana quem quer.

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E aqui, despeço-me de você,
leitor amigo, com estas palavras
finais: Feci quod potui, faciant
meliora potentes (Fiz o que pude,
façam melhor os que puderem).

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