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Psicologia Da Educação 3

O documento explora a teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo, destacando sua visão construtivista da aprendizagem e os estágios do desenvolvimento infantil. Piaget enfatiza que a inteligência é uma capacidade em constante evolução, moldada pelas interações com o ambiente, e apresenta um método clínico inovador para investigar o pensamento infantil. Seus estágios de desenvolvimento cognitivo, que vão desde a inteligência sensório-motora até a inteligência formal, são fundamentais para a prática pedagógica e a compreensão do aprendizado infantil.

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Psicologia Da Educação 3

O documento explora a teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo, destacando sua visão construtivista da aprendizagem e os estágios do desenvolvimento infantil. Piaget enfatiza que a inteligência é uma capacidade em constante evolução, moldada pelas interações com o ambiente, e apresenta um método clínico inovador para investigar o pensamento infantil. Seus estágios de desenvolvimento cognitivo, que vão desde a inteligência sensório-motora até a inteligência formal, são fundamentais para a prática pedagógica e a compreensão do aprendizado infantil.

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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

AULA 3

Prof.ª Genoveva Ribas Claro


CONVERSA INICIAL

Jean Piaget é uma das figuras mais proeminentes na psicologia do


desenvolvimento, conhecido por sua contribuição revolucionária para a
compreensão de como o ser humano constrói o conhecimento ao longo da vida.
Em função disso, vamos explorar os aspectos centrais de sua teoria,
mergulhando nos estágios do desenvolvimento cognitivo e nos processos de
assimilação e acomodação que fundamentam sua visão construtivista da
aprendizagem.
Piaget acreditava que a inteligência humana não é algo fixo, mas uma
capacidade em constante evolução, moldada pelas interações do indivíduo com
o ambiente. Ele descreveu o desenvolvimento como uma jornada ativa, na qual
a criança desempenha o papel principal na construção de sua própria
compreensão do mundo. Sua teoria oferece uma perspectiva rica para
educadores, permitindo uma abordagem mais sensível e eficaz no ensino,
especialmente no que diz respeito à forma como as crianças aprendem em
diferentes idades e contextos.
Este conteúdo busca instigar a curiosidade e o interesse do leitor para
compreender como os conceitos piagetianos podem ser aplicados na prática
pedagógica. Ao refletirmos sobre as etapas do desenvolvimento cognitivo,
perceberemos como é possível adaptar estratégias educacionais que respeitem
o ritmo e as características únicas de cada aprendiz.
Estudar Piaget é mais do que compreender teorias; é adentrar um
universo que conecta desenvolvimento humano, aprendizagem e transformação.
A partir da leitura deste material, convidamos você a explorar essas ideias e a
refletir sobre como podem impactar sua prática e visão de mundo. Vamos lá?

TEMA 1 – QUEM FOI PIAGET?

Jean Piaget foi um renomado biólogo, epistemólogo e psicólogo suíço,


reconhecido mundialmente por suas contribuições às teorias do
desenvolvimento humano e da evolução cognitiva das crianças. Nascido em 9
de agosto de 1896, em Genebra, na Suíça, Piaget era filho de Arthur Piaget, um
historiador, e Rebecca Jackson, que incentivou o interesse do filho pela leitura e
pelo aprendizado.

2
Créditos: Mei Zendra/Shutterstock.

Desde cedo, Jean demonstrou uma curiosidade notável e um interesse


profundo pela natureza e pela ciência, especialmente pela biologia. Esse fascínio
o levou a publicar, aos 11 anos de idade, seu primeiro artigo científico sobre um
pardal albino que havia observado, marcando o início de uma carreira acadêmica
brilhante e precoce.
Durante a adolescência, Piaget estudou na Universidade de Neuchâtel,
onde se formou em Ciências Naturais. Mais tarde, concluiu seu doutorado em
1918, com uma tese sobre moluscos, evidenciando sua habilidade investigativa
e seu olhar detalhista para a biologia.
Após a conclusão de seus estudos em biologia, Piaget começou a se
interessar pela epistemologia, a área que estuda a origem e a estrutura do
conhecimento humano. Essa transição foi impulsionada por suas experiências
no Instituto Rousseau, em Genebra, onde trabalhou como professor e
pesquisador.
Em 1921, Piaget iniciou uma série de estudos sobre o desenvolvimento
cognitivo de crianças, que se tornariam o alicerce de sua carreira e de sua fama.
Trabalhando inicialmente com testes de inteligência, ele percebeu que as
respostas incorretas das crianças não eram aleatórias, mas seguiam padrões
consistentes. Isso o levou a questionar como as crianças pensam e a investigar
as etapas de desenvolvimento do raciocínio humano.

3
No campo pessoal, Jean Piaget casou-se com Valentine Châtenay, em
1923, e teve três filhos. Suas observações do comportamento de seus próprios
filhos desempenharam um papel crucial na formulação de suas teorias, pois ele
os estudou detalhadamente para entender como as crianças aprendem e
processam informações em diferentes idades.
Ao longo de sua vida, Piaget foi professor em diversas instituições de
renome, como a Universidade de Lausanne, a Universidade de Sorbonne em
Paris, e, mais tarde, a Universidade de Genebra, onde permaneceu como diretor
do Centro Internacional de Epistemologia Genética até sua morte, em 16 de
setembro de 1980.
Piaget publicou uma vasta quantidade de obras científicas, com mais de
60 livros e centenas de artigos que consolidaram sua posição como um dos
maiores pensadores do século XX. Suas contribuições transcenderam as
fronteiras da psicologia, influenciando áreas como pedagogia, filosofia,
linguística e até mesmo inteligência artificial. Ele recebeu diversos prêmios e
honrarias ao longo de sua carreira, incluindo o Prêmio Erasmus, em 1972.
Sua vida foi marcada pela dedicação ao estudo e pela busca incessante
por compreender os processos do pensamento humano, especialmente durante
a infância.
Piaget não apenas revolucionou o campo da psicologia do
desenvolvimento, mas também abriu novos caminhos para a educação,
enfatizando a importância de respeitar as etapas do aprendizado infantil.
Seu legado permanece vivo, não apenas em suas teorias, mas também
em sua visão de que o conhecimento é construído ativamente pelo indivíduo em
interação com o mundo.

TEMA 2 – MÉTODO CLÍNICO DE PIAGET

O método clínico desenvolvido por Jean Piaget é um marco na história da


psicologia e da epistemologia, caracterizando-se como uma abordagem
inovadora que combina observação e indagação para desvendar o pensamento
infantil.
Nós, ao nos aprofundarmos nesse método, percebemos que ele não
apenas integra as vantagens dos testes padronizados e da observação pura,
mas também cria um caminho único para compreender como as crianças
constroem e organizam seu conhecimento. Esse método nos convida a ir além
4
do simples "certo ou errado", explorando as justificativas e a lógica subjacente
às respostas das crianças (Castro, 2011).
Piaget começou a estruturar o método clínico na década de 1920, em
Paris, enquanto trabalhava com Theodore Simon na padronização de testes de
raciocínio. Durante essas atividades, observou que os erros das crianças não
eram aleatórios, mas sistemáticos e, muitas vezes, revelavam padrões
característicos de faixas etárias específicas (Castro, 2011).
Questionar por que as crianças erravam e quais justificativas ofereciam
tornou-se um ponto central em suas investigações. Foi nesse contexto que seu
interesse pela epistemologia, especialmente pelo processo de aquisição de
conhecimento, começou a se consolidar (Castro, 2011).
O método clínico busca compreender os caminhos do pensamento que,
muitas vezes, permanecem inconscientes para o sujeito. Para isso, combina
observações detalhadas e questionamentos flexíveis, que variam conforme as
respostas fornecidas pelas crianças. Como afirmou Delval (2002), o
experimentador intervém constantemente, adaptando-se ao pensamento do
sujeito para descobrir suas estruturas cognitivas (Castro, 2011).
Essa flexibilidade é essencial, pois permite que o método se ajuste às
particularidades de cada indivíduo e contexto, ampliando significativamente o
alcance e a profundidade das análises (Castro, 2011).
A dinâmica do método foi se aperfeiçoando ao longo do tempo, passando
por quatro etapas descritas por Delval (2002). A primeira, na década de 1920,
focou na representação do mundo infantil. A segunda, nos anos 1930, reformulou
o método para investigar o estágio sensório-motor, adaptando-se à ausência de
linguagem verbal nas crianças pequenas (Castro, 2011).
Já na terceira etapa, entre 1940 e 1955, o método foi formalizado,
incluindo a manipulação de materiais para estudar as operações concretas e
formais. Finalmente, a quarta etapa, posterior a 1955, ampliou as possibilidades
de aplicação, mantendo a flexibilidade que o caracteriza (Castro, 2011).
O método clínico apresenta vantagens significativas. Ele nos permite
investigar não apenas o que a criança pensa, mas como ela pensa, oferecendo
uma visão mais rica e detalhada de sua cognição. A lógica por trás das respostas
torna-se o foco, em vez de sua correção ou incorreção. Além disso, a flexibilidade
do método favorece uma condução mais adaptativa, permitindo ao pesquisador
aprofundar questões específicas conforme necessário (Castro, 2011).

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Essa abordagem rompe com as limitações dos testes padronizados, que
frequentemente reduzem o pensamento infantil a classificações binárias, e
também complementa as observações puras, que, isoladas, podem carecer de
questionamentos diretos.
Por outro lado, o método clínico apresenta desafios. Como Piaget
enfatizou, dominar sua aplicação requer prática intensiva e constante. Aprender
a ouvir, questionar sem influenciar, e explorar tópicos de forma aprofundada
exige não apenas habilidade técnica, mas também sensibilidade e experiência
(Castro, 2011).
A formação de um bom entrevistador pode levar anos de prática diária, o
que restringe o uso do método a pesquisadores altamente treinados. Além disso,
sua aplicação é trabalhosa e pode ser limitada em estudos com grandes
amostras.
Ainda assim, o método clínico permanece uma ferramenta poderosa para
investigar o pensamento infantil, fornecendo insights valiosos sobre o
desenvolvimento cognitivo. Ele não apenas transformou nossa compreensão do
aprendizado infantil, mas também continua inspirando novas pesquisas e
práticas pedagógicas (Castro, 2011).
Ao explorarmos e praticarmos esse método, compreendemos que ele é
mais do que uma técnica: é uma filosofia de investigação que valoriza a criança
como um agente ativo na construção de seu conhecimento.

TEMA 3 – ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO

Piaget nos deixou inúmeras teorias que corroboram com o processo


educativo. A primeira delas versa sobre os conceitos de organização e
adaptação, onde segundo ele, o desenvolvimento cognitivo perpassa pelo
mesmo aspecto dos conceitos de desenvolvimento biológico, em que os
aspectos biológicos buscam adaptar-se ao meio físico e ambiente, logo, os
aspectos intelectuais perpassam pela mesma ótica, na qual a adaptação busca
dar conforto e acomodar aquilo que é aprendido e a organização busca dar
sentido àquilo que foi aprendido de maneira estruturada e funcional.
Outra perspectiva primordial são os estágios do desenvolvimento
propostos por Piaget. Esses estágios demonstram o desenvolvimento cognitivo
da criança. De acordo com Cavicchia (2010), esses estágios:

6
Trata-se de uma ordem sucessiva e não apenas cronológica, que
depende da experiência do sujeito e não apenas de sua maturação ou
do meio social. Além desse critério, Piaget propõe outras exigências
básicas para caracterizar estádios no desenvolvimento cognitivo: 1o )
todo estágio tem de ser integrador, ou seja, as estruturas elaboradas
em determina- todo estágio tem de ser integrador, ou seja, as
estruturas elaboradas em determinada etapa devem tornar-se parte
integrante das estruturas das etapas seguintes; 2o ) um estágio
corresponde a uma estrutura de conjunto que se caracteriza por suas
leis de totalidade e não pela justaposição de propriedades estranhas
umas às outras; 3o ) um estágio compreende, ao mesmo tempo, um
nível de preparação e um nível de acabamento; 4o ) é preciso
distinguir, em uma sequência de estádios, o processo de formação ou
génese e as formas de equilíbrio final. (p. 3)

Partindo destes critérios e pressupostos, Piaget desenvolveu alguns


períodos do desenvolvimento cognitivo, ou estágios da inteligência, sendo
estágio da inteligência sensório-motora (até 2 anos); estágio da inteligência
simbólica ou pré-operatória (2 a 7-8 anos); estágio da inteligência operatória
concreta (7-8 a 11-12 anos); e estágio da inteligência formal (a partir,
aproximadamente, dos 12 anos) (Cavicchia, 2010, p. 3).
Vamos observar a seguir a divisão dos estágios, de acordo com Piaget.

Estágio do Exemplos práticos em


Descrição
desenvolvimento crianças
Período da inteligência Anterior ao desenvolvimento 1º estágio dos reflexos, ou
sensório-motora, ou período da linguagem e do mecanismos hereditários,
de latência (até 2 anos) pensamento. das primeiras tendências
instintivas (nutrições) e das
primeiras emoções.
Período do pensamento pré- Período do desenvolvimento 2º estágio dos primeiros
operatório (2 a 7 anos, ou da linguagem e do hábitos motores e das
segunda parte da primeira pensamento. primeiras percepções
infância) organizadas.
Período operatório concreto Período do pensamento 3º estágio da inteligência
(7 a 11-12 anos) lógico, mas ainda ligado ao sensório-motora ou prática
concreto. (anterior à linguagem), das
regulações afetivas
elementares e das primeiras
fixações exteriores da
afetividade.
Período operatório formal (11 Período do pensamento 4º estágio da inteligência
a 15 anos ou mais - abstrato e lógico, capaz de intuitiva, dos sentimentos
adolescência) compreender conceitos interindividuais espontâneos
complexos. e das relações sociais de
submissão ao adulto.

7
5º estágio das operações
intelectuais concretas
(começo da lógica) e dos
sentimentos morais e sociais
de cooperação.
6º estágio das operações
intelectuais abstratas, da
formação da personalidade e
da inserção afetiva e
intelectual na sociedade dos
adultos.

Os estágios do desenvolvimento cognitivo propostos por Jean Piaget


descrevem a forma como as crianças constroem seu conhecimento e como seu
raciocínio evolui ao longo do tempo. Esses estágios são fundamentais para a
compreensão da psicologia do desenvolvimento e ajudam a orientar práticas
pedagógicas.

1. Estágio dos reflexos (Até 2 anos): durante este estágio, os bebês


desenvolvem reflexos automáticos que são as primeiras respostas ao
ambiente. Esses reflexos incluem a sucção, o agarrar e o choro, que são
fundamentais para sua sobrevivência e adaptação. Neste estágio, a
criança ainda não possui uma compreensão do mundo de forma
organizada, sendo guiada principalmente por respostas instintivas. Um
exemplo prático nos dias atuais seria a reação de um bebê que, ao sentir
fome, começa a chorar e procurar pelo seio materno, demonstrando os
reflexos de sucção.
2. Estágio dos primeiros hábitos motores (De 0 a 2 anos): neste período, as
crianças começam a formar os primeiros hábitos motores e a organizar as
percepções de forma mais estruturada. A criança começa a perceber a
relação entre seus movimentos e o ambiente. Por exemplo, ela pode
começar a rolar ou engatinhar, explorando o mundo ao seu redor com
mais controle. Hoje, esse estágio é evidente quando uma criança começa
a pegar objetos, explorar diferentes texturas e demonstrar interesse por
brinquedos, movimentando-se em busca de novos estímulos.
3. Estágio da inteligência sensório-motora ou prática (2 a 7 anos): aqui, as
crianças desenvolvem o pensamento simbólico e começam a usar a
linguagem. O pensamento ainda é muito ligado às suas experiências
8
sensoriais e motoras, mas já conseguem formar representações mentais
mais complexas. Elas também começam a demonstrar sentimentos mais
elaborados, como o apego aos pais ou outros membros da família. Em
tempos atuais, uma criança pode começar a usar brinquedos de forma
mais criativa, como construir torres com blocos e associar palavras a
imagens ou a objetos.
4. Estágio da inteligência intuitiva (7 a 11 anos): neste estágio, as crianças
começam a realizar operações mentais mais lógicas, embora ainda se
baseiem em intuições e não em raciocínios formais. Elas começam a
entender conceitos de causa e efeito, podendo, por exemplo, resolver
problemas simples de lógica ou compreender que uma ação pode ter
consequências. Um exemplo atual seria uma criança entendendo que, ao
empurrar uma bola, ela rolará para frente, ou percebendo que ao pedir
algo com gentileza, as pessoas tendem a atender ao seu pedido.
5. Estágio das operações concretas (11 a 12 anos): as operações mentais
da criança começam a se tornar mais lógicas e sistemáticas, mas ainda
dependem de objetos concretos para a solução de problemas. Elas são
capazes de realizar operações matemáticas simples, resolver problemas
de classificação e hierarquia, além de desenvolver uma maior
compreensão de conceitos de tempo e espaço. No cotidiano, isso pode
ser visto em crianças que começam a entender o conceito de dinheiro,
com habilidades para calcular trocos, ou ao perceberem que uma balança
é usada para medir peso, entendendo a relação entre o peso e a posição
da balança.
6. Estágio das operações formais (11 a 15 anos ou mais): este estágio marca
o início da adolescência, quando as crianças começam a pensar de forma
abstrata e a resolver problemas de maneira lógica, sem a necessidade de
manipular objetos concretos. Elas começam a entender hipóteses, fazer
deduções e refletir sobre conceitos filosóficos ou hipotéticos. Um exemplo
moderno seria um adolescente resolvendo problemas matemáticos
complexos que envolvem álgebra ou geometria, ou até mesmo discutindo
questões abstratas como ética ou moral.

Para que Piaget chegasse ao estabelecimento dos estágios, foi


necessário o desenvolvimento de provas e testes que pudessem atestar qual o
estágio do pensamento e da inteligência os sujeitos estavam; essas provas

9
ficaram conhecidas como provas piagetianas, sendo utilizadas até hoje em
processo avaliativo psicopedagógico. Neste sentido, de acordo com Silva e
Silverstin (2015, p. 400):

As provas operatórias desenvolvidas por Piaget podem abranger todos


os tipos de conhecimentos para atingir um parâmetro amplo de
avaliação da criança. Através da aplicação das provas é possível
investigar se há uma defasagem no conhecimento da criança e se sua
idade cronológica está de acordo com seus aspectos cognitivos.

As provas do domínio operatório de Piaget podem ser denominadas


partindo de suas classificações, isto é, provas de conservação de massa,
volume, número comprimento, provas de seriação, prova de classificação de
mudança de critério e inclusão de classes.

TEMA 4 – CONCEITOS PRINCIPAIS

O desenvolvimento humano, segundo a teoria cognitiva de Jean Piaget,


é compreendido por meio de três conceitos fundamentais: organização,
adaptação e equilibração. Esses conceitos são essenciais para entender como
a criança constrói seu conhecimento e se adapta ao ambiente ao longo do
tempo, incorporando novos aprendizados (Silva, 2022).
A organização é o processo cognitivo no qual a criança estrutura ou
categoriza as informações que recebe do ambiente. Piaget propôs que a mente
humana organiza o conhecimento de forma sistemática (Silva, 2022).
Por exemplo, uma criança pode criar uma categoria chamada cachorro e,
dentro dela, incluir diferentes raças, como o pastor alemão e o pug. Cada raça
tem características distintas, mas a criança organiza esses conhecimentos sob
um conceito comum – o de cachorro. Esse processo de organização permite que
a criança compreenda e relacione diversos elementos em sua experiência,
contribuindo para o desenvolvimento de um pensamento mais estruturado (Silva,
2022).
A adaptação é o segundo conceito proposto por Piaget e se refere à forma
como o sujeito interage com o mundo, organizando e ajustando seus esquemas
mentais para lidar com novos conteúdos ou experiências. A adaptação é dividida
em dois processos complementares: assimilação e acomodação (Silva, 2022).

1. Assimilação: a assimilação ocorre quando a criança tenta encaixar uma


nova experiência ou informação dentro de esquemas mentais já
existentes. Isso significa que, ao encontrar algo novo, ela busca
10
compreender o novo elemento com base no que já sabe. Por exemplo,
um bebê que já sabe como usar um copo para beber pode tentar usar um
novo tipo de copo ou caneca, aplicando a mesma estratégia que já
conhecia. O processo de assimilação está presente em todos nós, não
apenas na infância, mas ao longo de toda a vida, à medida que
assimilamos novas informações, como ao aprender um novo idioma ou
usar novas tecnologias (Silva, 2022).
2. Acomodação: a acomodação, por outro lado, acontece quando o sujeito é
incapaz de assimilar uma nova experiência dentro dos esquemas mentais
já existentes, exigindo a modificação ou criação de um novo esquema.
Esse processo ocorre quando a criança encontra algo que não se encaixa
nas suas estruturas cognitivas e precisa mudar ou criar novas formas de
entender o mundo. Por exemplo, um bebê que inicialmente usa um copo
para beber pode não conseguir usar um canudo de forma eficaz. Nesse
caso, ele modifica seu esquema mental sobre como beber e começa a
aprender a técnica de usar um canudo (Silva, 2022).

Assim, assimilação e acomodação são processos complementares que


permitem que a criança se adapte ao mundo de maneira eficiente, ajustando
seus conhecimentos de forma contínua. No cotidiano, esses processos podem
ser vistos em várias situações. Um exemplo prático é o uso de brinquedos.
Quando uma criança tenta usar uma nova peça de um quebra-cabeça, ela pode
inicialmente aplicar uma solução que já conhece (assimilação), mas, ao perceber
que não encaixa, adapta sua forma de pensar (acomodação) (Silva, 2022).
O último conceito é a equilibração, que descreve o processo de busca de
equilíbrio entre assimilação e acomodação. Piaget acreditava que o
desenvolvimento cognitivo ocorre por meio de desequilíbrios temporários que
provocam uma reorganização cognitiva. Quando a criança encontra uma nova
informação que não pode ser assimilada de imediato, ela experimenta um estado
de desequilíbrio. Esse desequilíbrio a motiva a modificar seus esquemas mentais
(acomodação) até que um novo equilíbrio seja alcançado (Silva, 2022).
Segundo Wadsworth (1997), a equilibração é essencial para o
desenvolvimento cognitivo, pois é o processo autorregulador que mantém o
indivíduo em constante adaptação ao ambiente, equilibrando os processos de
assimilação e acomodação.

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Quando a criança consegue compreender e organizar adequadamente
suas novas experiências dentro de esquemas existentes ou modificados, ela
atinge um estado de equilíbrio. Se, por outro lado, não conseguir integrar uma
nova experiência, ocorrerá um desequilíbrio que exigirá acomodação para
restaurar o equilíbrio (Silva, 2022).
Por exemplo, uma criança pode tentar resolver um problema matemático
com base nos conhecimentos que já possui. Se ela encontrar um problema mais
complexo que não se encaixa diretamente nesses esquemas, experimentará um
desequilíbrio. A criança então modificará suas estratégias (acomodação) até
encontrar uma solução que a permita compreender o novo problema,
restaurando o equilíbrio cognitivo (Silva, 2022).
A compreensão desses processos cognitivos – organização, adaptação e
equilibração – é fundamental para entender como ocorre a gênese do
conhecimento nas crianças (Silva, 2022).
O conhecimento não é algo simplesmente transmitido de forma passiva,
mas é construído ativamente pelo sujeito, com base nas suas interações com o
ambiente e nos estímulos que recebe. A aprendizagem, portanto, envolve um
processo dinâmico e contínuo de ajustes e reorganizações dos esquemas
mentais (Silva, 2022).
No contexto atual, esses processos podem ser observados em diversas
situações cotidianas. Desde a infância até a vida adulta, todos passamos por
processos de assimilação e acomodação, constantemente reorganizando e
ajustando nosso conhecimento à medida que novas experiências são
vivenciadas (Silva, 2022).
Como exemplo, ao aprender a usar uma nova tecnologia, assimilamos
funções semelhantes às de dispositivos anteriores, mas também podemos
precisar modificar nossa forma de interagir com essas tecnologias, criando
novos esquemas mentais (Silva, 2022).
Dessa forma, o desenvolvimento cognitivo descrito por Piaget oferece
uma visão dinâmica do aprendizado, em que a construção do conhecimento se
dá por meio da interação entre o sujeito e o ambiente, e a aprendizagem é um
processo ativo, regulado pela busca constante de equilíbrio entre as novas
informações e as estruturas mentais já existentes.

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TEMA 5 – APLICAÇÃO DOS ESTUDOS À EDUCAÇÃO

A teoria de Piaget tem uma relevância fundamental para a educação, pois


fornece uma compreensão profunda dos processos cognitivos e como eles
influenciam o desenvolvimento da aprendizagem nas diferentes fases da infância
e além. Para Piaget, o desenvolvimento humano é visto como um processo
dinâmico e contínuo, no qual os indivíduos interagem com o ambiente,
adaptando-se e reorganizando seus esquemas mentais ao longo do tempo. Isso
destaca a importância de compreender como as crianças constroem o
conhecimento, o que é essencial para que educadores possam planejar e
orientar suas práticas pedagógicas de forma mais eficaz (Silva, 2022).
Piaget apresentou conceitos-chave que têm um impacto direto na prática
educacional, como organização, adaptação e equilibração. A organização refere-
se ao processo de criar e estruturar categorias cognitivas. As crianças, ao longo
de seu desenvolvimento, constroem esquemas mentais, como a categoria
"cachorro", dentro da qual são incluídas várias raças com características
diferentes (Silva, 2022).
Esse processo permite a construção de novos conhecimentos, à medida
que as crianças reorganizam suas experiências para integrá-las em estruturas
cognitivas mais complexas (Silva, 2022).
A adaptação, por sua vez, ocorre quando as crianças aplicam seus
esquemas existentes a novos estímulos ou situações. Isso pode acontecer por
meio de dois processos complementares: a assimilação e a acomodação. A
assimilação envolve o uso de esquemas existentes para interpretar novos
objetos ou situações, enquanto a acomodação implica na modificação dos
esquemas para ajustar-se a novas realidades (Silva, 2022).
Essa adaptação contínua é essencial para o desenvolvimento da
aprendizagem, pois permite que as crianças construam uma compreensão cada
vez mais precisa e sofisticada do mundo ao seu redor (Silva, 2022).
Além disso, Piaget introduziu o conceito de equilibração, que descreve o
processo de manter um equilíbrio entre assimilação e acomodação. Esse
processo é fundamental para a aprendizagem, pois envolve a adaptação de
esquemas mentais de forma a alcançar uma compreensão mais ajustada da
realidade (Silva, 2022).

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A equilibração é vista como uma força motivadora para o desenvolvimento
cognitivo, pois gera um equilíbrio dinâmico que impulsiona o indivíduo a
continuar a explorar e compreender o mundo (Silva, 2022).
Na educação, os estudos de Piaget são essenciais para compreender as
necessidades cognitivas das crianças em diferentes estágios de
desenvolvimento. Ao entender as capacidades cognitivas em cada fase, os
educadores podem planejar atividades de ensino que estejam alinhadas com o
nível de desenvolvimento das crianças (Silva, 2022). Por exemplo, no estágio
sensório-motor, que ocorre nos primeiros anos de vida, as crianças aprendem
por meio da interação direta com o ambiente, desenvolvendo habilidades
motoras e sensoriais (Silva, 2022).
No estágio pré-operacional, elas começam a usar símbolos e palavras
para representar objetos, mas ainda têm dificuldades com conceitos lógicos. Já
no estágio operacional concreto, as crianças começam a desenvolver
habilidades lógicas, como a conservação, e no estágio operacional formal, elas
conseguem pensar abstratamente e lidar com hipóteses complexas (Silva, 2022)
Entender esses estágios e as características cognitivas das crianças em
cada fase é fundamental para os professores, pois possibilita uma abordagem
mais eficaz e adaptada às necessidades dos alunos (Silva, 2022).
Como destacam Paula e Mendonça (2009), o conhecimento das
diferentes fases do desenvolvimento humano permite que os educadores
compreendam melhor as características globais dos alunos, suas capacidades
e limitações, e ofereçam uma intervenção pedagógica mais eficaz. Isso também
auxilia na identificação de dificuldades de aprendizagem, que podem ser
relacionadas a diferentes fatores, como imaturidade cognitiva, ambientais ou
neurológicos.
Além disso, a teoria de Piaget não deve ser vista de forma dogmática, mas
como um modelo de referência que pode ser adaptado e combinado com outras
abordagens. Como enfatizam os autores, as teorias psicológicas, incluindo as de
Piaget, devem ser usadas de forma flexível, considerando as necessidades
específicas de cada aluno e o contexto educacional (Silva, 2022).
A educação deve ser plural e inclusiva, respeitando a diversidade dos
alunos e utilizando as teorias do desenvolvimento como ferramentas para
promover um ensino mais eficaz, que respeite o ritmo e as particularidades de
cada criança.

14
A partir dessa compreensão, a teoria de Piaget não se limita a um modelo
de ensino, mas se torna uma ferramenta crucial para a formação de cidadãos
conscientes e preparados para a vida em sociedade, já que é por meio da
educação que as crianças adquirem as ferramentas cognitivas e sociais
necessárias para participar ativamente do mundo (Silva, 2022).

NA PRÁTICA

No quadro a seguir, estão apresentados os estágios do desenvolvimento


cognitivo segundo Jean Piaget. Em cada linha, há uma breve descrição dos
principais aspectos de cada estágio. Sua tarefa é preencher a coluna "Exemplos
Práticos" com situações ou exemplos reais que demonstrem como as crianças
agem ou pensam em cada etapa.

Idade
Estágio Descrição Exemplos Práticos
Aproximada
Sensório-Motor 0 a 2 anos A criança explora o mundo
através dos sentidos e ações
(como tocar, olhar, segurar);
desenvolvimento da
permanência do objeto.
Pré-Operatório 2 a 7 anos A criança começa a usar
símbolos, como palavras e
imagens, para representar
objetos, mas ainda apresenta
pensamento egocêntrico e
dificuldade de ver o ponto de
vista dos outros.
Operatório 7 a 11 anos A criança desenvolve
Concreto habilidades de lógica para
resolver problemas
concretos, mas ainda tem
dificuldade com conceitos
abstratos.
Operatório 12 anos em Surge o pensamento abstrato
Formal diante e hipotético, permitindo à
criança planejar, refletir e
resolver problemas
complexos.

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Instruções:

1. Analise as descrições de cada estágio.


2. Pense em situações práticas do dia a dia que correspondam às
características descritas (como brincadeiras, respostas dadas por
crianças ou comportamentos observados).
3. Escreva seus exemplos na coluna "Exemplos Práticos".

FINALIZANDO

Jean Piaget foi um psicólogo suíço que revolucionou o estudo do


desenvolvimento cognitivo infantil. Inicialmente interessado pela biologia, Piaget
expandiu seus estudos para a epistemologia e investigou como as crianças
constroem seu conhecimento.
Desenvolveu o "método clínico", que combinava observação e
questionamentos flexíveis, permitindo entender o raciocínio infantil de maneira
mais profunda. Piaget identificou quatro estágios do desenvolvimento cognitivo:
sensório-motor, pré-operacional, operacional concreto e operacional formal,
cada um com formas distintas de pensar e entender o mundo.
Sua teoria destacou o papel ativo da criança na construção do
conhecimento e influenciou profundamente áreas como a educação e a
psicologia, deixando um legado duradouro nas práticas pedagógicas e no
entendimento do pensamento infantil.

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REFERÊNCIAS

Silva, G. T. F. Desenvolvimento humano nas diferentes faixas geracionais:


abordagens psicopedagógicas e psicológicas. Curitiba: Intersaberes, 2022
(Série Panoramas da Psicopedagogia).

Castro, F. M. P. Método Clínico: Teoria ou Prática? 2011. Trabalho de


Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Instituto de Psicologia, Porto Alegre, 2011.

Delval, J. Introdução à prática do método clínico. Porto Alegre: Artmed, 2002.

CAVICCHIA, D. de C. O Desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida.


In: Universidade Estadual Paulista [UNESP]; Universidade Virtual do Estado de
São Paulo [UNIVESP]. Caderno de Formação: Formação de Professores:
Educação Infantil: princípios e fundamentos. São Paulo: Cultura Acadêmica,
Unesp - Pró-Reitoria de Graduação, Univesp, 2010. v. 1. p. 13-27. Disponível
em: <https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/224/1/01d11t01.pdf>.
Acesso em: 5 fev. 2025.

PAULA, E. M. A. T. de; MENDONÇA, F. W. Psicologia do desenvolvimento.


3. ed. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009.

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