LÍNGUA PORTUGUESA II
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 3
2 NEUROPSICOPEDAGOGIA ..................................................................... 4
2.1 Surgimento da neuropsicopedagogia ..................................................... 4
2.2 O que é neuropsicopedagogia? .............................................................. 5
2.3 História da neuropsicopedagogia.......................................................... 10
3 A DIFERENÇA ENTRE A NEUROPSICOPEDAGOGIA DA
PSICOPEDAGOGIA? ....................................................................................... 13
4 A NEUROPSICOPEDAGOGIA NO BRASIL ........................................... 19
4.1 Sobre a sociedade brasileira de neuropsicopedagogia: avanços e
perspectivas ...................................................................................................... 20
5 A ATUAÇÃO DO NEUROPSICOPEDAGOGO ....................................... 22
5.1 A atuação do neuropsicopedagogo institucional ................................... 23
5.2 As atividades do neuropsicopedagogo institucional .............................. 24
5.3 A atuação do neuropsicopedagogo clínico ........................................... 25
5.4 As atividades do neuropsicopedagogo clínico ...................................... 25
5.5 A atuação do neuropsicopedagogo pesquisador .................................. 27
6 NEUROPSICOPEDAGOGIA: A INTERAÇÃO DE UMA EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR ........................................................................................ 28
6.1 As competências de cada área ............................................................. 28
6.2 Interação entre os profissionais ............................................................ 34
6.3 E o neuropsicopedagogo? .................................................................... 36
6.4 O neuropsicopedagogo e a educação inclusiva.................................... 38
7 FORMAÇÃO MULTIPROFISSIONAL DO NEUROPSICOPEDAGOGO . 39
7.1 O profissional da neuropsicopedagogia ................................................ 39
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 45
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para
que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça
a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual,
é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida
e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
3
2 NEUROPSICOPEDAGOGIA
2.1 Surgimento da neuropsicopedagogia
O mundo está em constante transformação, e a educação deve acompanhar
essas mudanças para estar alinhada com as novas demandas educacionais. Uma
dessas demandas é reconhecer que cada indivíduo tem sua própria maneira de
aprender e que há casos especiais dentro dos ambientes escolares, apresentando
desafios contínuos para todos os educadores. Por isso, a educação passou a se
conectar com áreas específicas, como a psicopedagogia, a neurociência e a
neuroeducação. Essas ciências oferecem novas ferramentas para entender e aplicar os
processos de aprendizagem. Nesta aula, vamos aprender como essas ciências se
integraram à educação e quais são seus principais objetivos.
Vamos pensar um pouco sobre o cenário educacional atual: há novas exigências
metodológicas e organizacionais dentro das escolas; novas atitudes dos alunos e de
suas famílias, resultantes de diferentes composições familiares; e novos estímulos
constantes, como as tecnologias. Todos esses fatores fazem com que a sociedade
esteja sempre mudando, alterando também as relações humanas e a forma como
aprendemos. A aprendizagem se torna cada vez mais independente, pois o acesso às
informações é mais fácil e frequente. Em outras palavras, aprender não depende mais
apenas de um professor ou mediador; o conhecimento está disponível para ser
explorado a qualquer momento e de diversas maneiras. (CHUPIL; SOUZA; SCHNEIDE,
2018).
Portanto, é importante buscar formas de atender adequadamente todos os alunos
nos ambientes de aprendizagem, seja na escola ou em outros locais. Devemos usar
métodos de ensino que se ajustem a cada pessoa, respeitando os diferentes estilos de
aprendizagem, para que o ensino seja justo para todos. A ideia é combinar o fácil acesso
ao conhecimento com práticas educativas que transformem esse conhecimento em
aprendizado real e eficaz.
Nesse contexto, dentro do ambiente escolar, o educador precisa entender que os
conteúdos são os mesmos para todos, mas as metodologias devem ser adaptadas para
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reconhecer cada aluno como um ser único, capaz de aprender, independentemente de
suas limitações. Essa abordagem é diferenciada e alinhada com as demandas atuais.
Não só o professor, mas toda a educação precisa estar sempre atenta às
mudanças, reorganizações e novas formas de ver o mundo. Assim como o mundo está
em constante transformação, a educação também está sempre buscando se atualizar e
se alinhar com a sociedade moderna. Por causa dessa necessidade, os cursos na área
da educação têm mostrado grandes avanços, principalmente porque os profissionais da
área procuram se atualizar constantemente.
Entre essas atualizações, surge um novo campo de apoio chamado
neuropsicopedagogia, que traz um olhar sensível e novas perspectivas. Esse campo
ajuda a entender melhor a aprendizagem humana, combinando diferentes ciências e
pontos de vista. Ele atende à necessidade de ver cada pessoa como um ser único, com
conhecimentos prévios e diferentes capacidades de aprender. (CHUPIL; SOUZA;
SCHNEIDE, 2018).
Vamos, então, aprender um pouco mais sobre o surgimento desse novo olhar e
das novas contribuições para a educação. Vamos também entender como essas
mudanças influenciam o ensino e a aprendizagem.
2.2 O que é neuropsicopedagogia?
A neuropsicopedagogia é uma ciência que investiga o sistema nervoso e seu
papel nas diferentes formas de aprendizagem. Em termos mais amplos, ela combina
conhecimentos da neurociência, da psicologia cognitiva e da pedagogia. Primeiro,
vamos entender cada uma dessas ciências para, em seguida, chegarmos a uma
definição mais específica de neuropsicopedagogia.
A neurociência é o campo de estudo que investiga o sistema nervoso e suas
funções. É uma ciência desenvolvida no século XX, que surgiu da união de várias
disciplinas que antes estudavam o sistema nervoso de forma separada, como a
neuroanatomia, a neurofisiologia, a neurologia, a psiquiatria e a psicologia, entre outras.
(DRESCH, 2018).
Segundo Cosenza e Guerra (2011), as neurociências estudam os neurônios e
suas moléculas constituintes, os órgãos do sistema nervoso e suas funções específicas,
5
e também as funções cognitivas e o comportamento que são resultantes das atividades
dessas estruturas. Isso significa que a neurociência é uma ciência ampla, que precisa
de diferentes áreas de pesquisa para entender melhor como o sistema nervoso funciona.
Por isso, ela inclui várias vertentes, como a neurociência cognitiva, a neurociência
comportamental, a neuroanatomia, a neurofisiologia e a neuropsicologia.
É necessário conhecermos as características específicas de cada área da
neurociência. A neurociência cognitiva foca nas capacidades cognitivas do indivíduo,
como raciocínio, memória e aprendizagem. A neurociência comportamental concentra-
se na relação entre fatores internos, como emoções, e o comportamento humano em
diferentes situações. A neuroanatomia examina toda a estrutura do sistema nervoso,
identificando suas partes e funções detalhadamente. A neurofisiologia estuda como os
estímulos são processados nas diversas áreas do sistema nervoso. Por fim, a
neuropsicologia investiga a conexão entre os nervos e as funções psíquicas.
É importante entendermos que há dois tipos de neurocientistas: os clínicos e os
experimentais, como explicam Bear, Connors e Paradiso:
A pesquisa em Neurociências (e os neurocientistas) pode ser dividida em dois
tipos: clínicas e experimentais. Pesquisa clínica é basicamente conduzida por
médicos. As principais especialidades dedicadas ao sistema nervoso humano
são a neurologia, a psiquiatria, a neurocirurgia e a neuropatologia [...] Muitos
dos que conduzem as pesquisas clínicas continuam a tradição de Broca,
tentando deduzir as funções das várias regiões do encéfalo a partir dos efeitos
comportamentais das lesões. Outros conduzem estudos para verificar os riscos
e os benefícios de novos tipos de tratamento. (2008, p. 14)
Quadro 1 – Especialidades médicas associadas ao sistema nervoso
Fonte: Dresch, 2018.
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Além do Quadro 1, que descreve as especialidades da neurociência, Bear,
Connors e Paradiso (2008) apresentam outro quadro que destaca os profissionais da
área experimental da neurociência, à qual a neuropsicopedagogia pertence.
Quadro 2 – Tipos de neurocientistas experimentais
Fonte: Dresch, 2018.
Compreendendo isso, podemos avançar para o conceito de psicologia cognitiva,
que tem grande influência na neuropsicopedagogia. Ela nos ensina como os indivíduos
percebem, aprendem, como funciona sua memória e como a utilizam para seu
desenvolvimento. Neisser definiu a psicologia cognitiva como o estudo de como as
pessoas aprendem, organizam, armazenam e utilizam o conhecimento.
Já a pedagogia estuda a educação e o processo de ensino-aprendizagem, ou
seja, técnicas de ensino, didática, metodologias para atender às aprendizagens no
contexto escolar e acadêmico. Segundo Libâneo (2001), a Pedagogia é o campo do
conhecimento que se dedica ao estudo sistemático da educação. Ela analisa o ato
educativo e a prática educativa como partes fundamentais da atividade humana e da
vida social. Não existe sociedade sem práticas educativas. A Pedagogia envolve uma
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reflexão sistemática sobre o fenômeno educativo e as práticas educativas, para orientar
o trabalho educativo. Isso significa que a Pedagogia não se limita apenas às práticas
escolares, mas abrange um grande conjunto de outras práticas educativas.
Como podemos ver, essas três áreas juntas atendem a uma necessidade atual:
compreender como a aprendizagem funciona, entender os comportamentos e aplicar
diferentes práticas pedagógicas para melhorar o aprendizado das pessoas.
Se observarmos, com a neurociência, a psicologia cognitiva e a pedagogia, temos
as ferramentas necessárias para compreender como a aprendizagem acontece e,
assim, melhorar a qualidade do ensino. Isso significa não deixar de lado nenhum estilo
de aprendizagem, mas entender como cada um funciona. Isso ajuda qualquer pessoa a
aprender. (DRESCH, 2018).
Agora, com o conhecimento de cada uma das áreas que fundamentam a
neuropsicopedagogia, vamos compreender que essa ciência não é simplesmente uma
especialização da neuropsicologia e da psicopedagogia. Embora ela se baseie no
estudo do funcionamento do cérebro e do comportamento humano, suas práticas têm
raízes nas teorias da aprendizagem humana e nas estratégias para ensinar e aprender.
A neuropsicopedagogia abrange dois campos de atuação: o clínico e o
institucional. Os profissionais desse campo devem obedecer às diretrizes estabelecidas
pela Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp), conforme estabelecido:
Art 30º. Ao Neuropsicopedagogo com formação clínica, conforme descrito no
capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos
neuropsicopedagógicos individualizados em setting adequado, como
consultório particular, espaço de atendimento, posto de saúde, terceiro setor.
Os atendimentos em local escolar ou hospitalar devem acontecer de forma
individual e em local adequado.
§1º Entende-se que a sua atuação na área clínica ou de atendimento
multiprofissional deve contemplar:
a) Observação, identificação e análise do ambiente escolar nas questões
relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras,
cognitivas e comportamentais;
b) Avaliação, intervenção e acompanhamento do indivíduo com dificuldades de
aprendizagem, transtornos, síndromes ou altas habilidades que causam
prejuízo na aprendizagem escolar e social;
c) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem do aluno;
d) Utilização de protocolos e instrumentos de avaliação e reabilitação
devidamente validados, respeitando sua formação de graduação;
e) Elaboração de relatórios e pareceres técnicos-profissionais;
f) Encaminhamento a outros profissionais quando o caso for de outra área de
atuação/especialização. (SBNPQ, 2018)
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No campo institucional, o especialista em neuropsicopedagogia trabalhará em
escolas, centros e organizações educacionais, instituições de ensino superior e
organizações sem fins lucrativos, como ONGs e associações comunitárias. No entanto,
nesse contexto, o trabalho é realizado em equipe.
O Artigo 29 da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp)
estabelece as diretrizes para atuação no campo institucional, que são as seguintes:
Art. 29º. Ao Neuropsicopedagogo com formação na área Institucional, conforme
descrito no capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos
neuropsicopedagógicos exclusivamente em ambientes escolares e/ou
instituições de atendimento coletivo.
§1º Entende-se que sua atuação na área Institucional, ou de educação especial,
de educação inclusiva escolar deve contemplar:
Observação, identificação e análise do ambiente escolar nas questões
relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras,
cognitivas e comportamentais;
a) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo
ensino-aprendizagem do aluno;
b) Encaminhamento do aluno a outros profissionais quando o caso for de outra
área de atuação/especialização. (SBNPP, 2018)
O neuropsicopedagogo possui um conhecimento mais aprofundado e habilidades
específicas para trabalhar dentro de uma escola, compreendendo os processos de
aprendizagem, os comportamentos dos alunos e como ajudá-los a ter uma
aprendizagem de qualidade. Entender como o cérebro funciona, como ocorre a
aprendizagem, compreender diferentes comportamentos e ajustar as práticas
educativas contribuem para melhorar a qualidade do ensino. Dessa forma, unem-se três
áreas de conhecimento fundamentais para entender o ser humano.
Podemos afirmar, então, que a neuropsicopedagogia concentra-se na conexão
entre o funcionamento do sistema nervoso e o processo de aprendizagem humana. Ela
se conecta com a neurociência aplicada à educação, a psicologia cognitiva e a
pedagogia, ajudando na identificação, encaminhamento, diagnóstico e reabilitação.
A Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia, em seu conjunto de regras
éticas para os profissionais da área, apresenta no Artigo 10º:
A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos
conhecimentos da Neurociência aplicada à educação, com interfaces da
Psicologia e Pedagogia que tem como objeto formal de estudo a relação entre
o funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana numa
perspectiva de reintegração pessoal, social e escolar. (SBNPP, 2018)
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Atualmente, reconhecemos a neuropsicopedagogia como importante para o bom
progresso da sociedade. Com o conhecimento desses processos, podemos ver que a
ciência agora contribui de forma mais direta para a educação. Isso ajuda os profissionais
a compreenderem as pessoas e a ajudá-las a lidar com seus desafios, reduzindo o
insucesso na escola e na vida social. (DRESCH, 2018).
2.3 História da neuropsicopedagogia
Para entendermos a história da neuropsicopedagogia, é essencial primeiro refletir
e considerar as contribuições de outras áreas. Em um mundo que está em constante
mudança e que apresenta novos desafios, onde as diferenças são valorizadas e vistas
como importantes para serem compreendidas e integradas em todos os contextos, é
fundamental que os educadores tenham um conhecimento mais profundo sobre as
questões específicas do desenvolvimento e da aprendizagem humana. Isso significa
entender como as pessoas aprendem.
Quando os professores entenderem isso, eles certamente conseguirão melhores
resultados. Isso não só ajudará na formação dos alunos, mas também daqueles que
convivem com as diferenças, fazendo com que as considerem algo natural, o que é
muito importante para a sociedade. Dessa forma, as reflexões iniciais se tornam mais
amplas. Com esse conhecimento, percebemos que, embora os conteúdos escolares
sejam os mesmos, as estratégias de ensino devem ser ajustadas para atender às
diferenças individuais e promover a aprendizagem e o conhecimento de cada pessoa,
independentemente de como ela aprende.
Compreender o desenvolvimento do cérebro é extremamente importante. Ao
entender como tudo funciona internamente, descobrimos como aprendemos e como as
conexões entre os neurônios nos ajudam a adquirir novos conhecimentos. No entanto,
a educação só começou a dar muita atenção a isso recentemente. Houve uma época
em que o foco principal estava apenas nos conteúdos e nos métodos de ensino, que
eram sempre os mesmos para todos e seguiam um ritmo único de formação e
desenvolvimento. (CHUPIL; SOUZA; SCHNEIDE, 2018).
No entanto, apesar de esses estudos serem recentes na área da educação, eles
já existem há bastante tempo. Os frenologistas Franz Joseph Gall e J. G. Spurzheim,
10
entre 1810 e 1819, e o neurologista John Hughlings Jackson, com suas descobertas,
abriram caminho para que Paul Broca e Carl Wernicke encontrassem as localizações
das chamadas área de Broca e área de Wernicke. Essas áreas são responsáveis pela
compreensão da linguagem escrita e falada, pela interpretação e associação de
informações, e isso deu início a essas investigações. Essas descobertas ocorreram em
1861 e 1874.
Refletir sobre a linguagem, a interpretação e a conexão de informações estão
diretamente relacionadas ao processo de aprendizagem e como ele ocorre. Portanto, é
algo que não podemos ignorar. No entanto, foi apenas durante a Segunda Guerra
Mundial que Alexander Romanovich Luria (1901-1978) estudou e mapeou o
desenvolvimento de pessoas com lesões cerebrais, observando mudanças de
comportamento ligadas às bases neurológicas. Isso mostra que o desenvolvimento do
cérebro está intimamente relacionado às atividades e à forma como as pessoas
aprendem. Podemos afirmar que esses estudos foram a primeira ligação entre a
psicologia e a neurociência, formando o que chamamos de neuropsicologia.
Combinando o que aprendemos dessas áreas, fica claro que cada pessoa possui
conexões cerebrais únicas, ou seja, diferentes maneiras de aprender. E ao juntar os
conhecimentos dessas áreas, entendemos melhor como esses processos funcionam.
Nesse contexto, não são apenas a neurociência e a psicologia que são importantes,
mas também outras disciplinas que tornam a aprendizagem um tema de reflexões,
estudos e novas abordagens. (CHUPIL; SOUZA; SCHNEIDE, 2018).
Essa combinação de diversas áreas pode ser visualizada como mostrado na
Figura 1 a seguir:
Figura 1 – Junção das ciências
11
Fonte: Chupil; Souza; Schneide, 2018.
Assim, entendemos que a neurociência (que vem do grego neurosque (= nervos,
ou seja, o estudo do sistema nervoso) e a psicologia (que explora os processos mentais
e o comportamento humano) trazem uma nova forma de pensar sobre a aprendizagem
e a educação, conhecida como neuropsicologia e neuroeducação.
Além da ajuda dessas duas áreas na neuroeducação, a pedagogia se junta a elas
como um terceiro elemento, criando um ciclo de novas oportunidades e expandindo a
visão sobre educação. Essa ciência, como seu nome sugere (paidos = criança e gogia
= guiar ou acompanhar), investiga a educação e as técnicas de ensino juntas para
promover a aprendizagem.
Surge assim a neuropsicopedagogia, que combina o que sabemos da
neurociência, da psicologia e da pedagogia para melhorar a educação e explorar novas
maneiras de aprender. (CHUPIL; SOUZA; SCHNEIDE, 2018).
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3 A DIFERENÇA ENTRE A NEUROPSICOPEDAGOGIA DA PSICOPEDAGOGIA?
Agora que entendemos o que é a neuropsicopedagogia e quais são seus campos
de atuação, podemos nos perguntar: qual é a diferença entre neuropsicopedagogia e
psicopedagogia? Afinal, já ouvimos falar sobre psicopedagogia há bastante tempo.
Os primeiros centros psicopedagógicos foram estabelecidos na Europa, em 1946,
por J. Boutonier e George Mauco, sob direção médica e pedagógica. Esses centros
integravam conhecimentos das áreas de psicologia, psicanálise e pedagogia para ajudar
a readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou em
casa, além de apoiar aquelas com dificuldades de aprendizagem, mesmo sendo
inteligentes. (DRESCH, 2018).
Na década de 1970, surgiram em Buenos Aires os Centros de Saúde Mental,
onde equipes de psicopedagogos realizavam diagnósticos e tratamentos. Esses
psicopedagogos observaram que, após um ano de tratamento, os pacientes resolviam
seus problemas de aprendizagem, mas desenvolviam distúrbios de personalidade como
um efeito colateral. Decidiram, então, incluir uma abordagem clínica psicanalítica, perfil
atual do psicopedagogo argentino, que é diferente da neuropsicopedagogia.
Enquanto a neuropsicopedagogia se baseia na neurociência, na psicologia
cognitiva e na pedagogia, a psicopedagogia foca na psicologia, psicanálise e pedagogia,
abordando as dificuldades de aprendizagem e suas causas, que podem ser orgânicas,
cognitivas, emocionais, sociais ou pedagógicas.
A principal diferença entre essas duas áreas está na linha de investigação: a
neuropsicopedagogia baseia-se na neurociência, enquanto a psicopedagogia se apoia
na psicologia. A neuropsicopedagogia segue uma linha de pesquisa cognitivo-
comportamental, e a psicopedagogia segue a psicanálise.
Então, surge sempre uma pergunta: qual é a melhor? Se considerarmos os
aspectos abordados e a literatura disponível, não existe uma “melhor”, mas sim
diferentes abordagens para investigação e intervenção. A neuropsicopedagogia estuda
as funções cerebrais, como as informações são processadas, como a memória é
utilizada e desenvolvida em cada criança, e quais áreas do cérebro precisam de mais
estímulos em determinados transtornos. Em outras palavras, a neuropsicopedagogia é
mais focada nas patologias que afetam o desenvolvimento escolar e social do indivíduo.
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De acordo com Hennemann (2012), os especialistas em neuropsicopedagogia
clínica são treinados para:
• Entender o papel do cérebro humano nos processos neurocognitivos ao aplicar
estratégias de ensino em diferentes ambientes escolares, cuja eficácia é
comprovada por estudos científicos, vai melhorar muito o processo de
aprendizagem.
• Atuar no progresso da linguagem, do neuropsicomotor, do psicológico e do
cognitivo da pessoa.
• Entender de forma clara os aspectos políticos e pedagógicos relacionados à
educação e ter a habilidade de influenciar na criação de novas abordagens
neuropsicopedagógicas e direcionamentos no processo de ensino.
• Entender e examinar a ideia de inclusão de uma maneira completa, que inclui
alunos com dificuldades de aprendizagem e pessoas em situação de
vulnerabilidade social.
O neuropsicopedagogo deve compreender o funcionamento da neurociência, que
abrange uma ampla gama de aprendizado. Ele precisa se aprofundar nesse campo,
além de entender sobre neurologia, neuroanatomia e neurofisiologia, para entender
como ocorre o processo de aprendizagem ou como funciona o cérebro de uma pessoa
que tem um certo transtorno - como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH), que não se trata apenas de comportamento, mas também de áreas cerebrais
que precisam de estímulos apropriados. (DRESCH, 2018).
A neuropsicopedagogia tem um grande conhecimento sobre os aspectos neurais,
como o desenvolvimento neuromotor, neuropsíquico, neurológico e neurocognitivo. Ela
se concentra em entender todos os aspectos do sistema nervoso central, as diferentes
partes do cérebro, como ele cresce, como opera, questões relacionadas aos hormônios,
aos neurotransmissores e como eles afetam a aprendizagem, bem como o sistema
límbico e emocional.
De acordo com Sánchez-Cano e Bonals (2008), a área de conhecimento da
psicopedagogia é caracterizada por um pensamento diagnóstico e uma maneira de
intervir que buscam entender o indivíduo em relação ao que está aprendendo; veem o
indivíduo e o que está sendo aprendido como inseparáveis; consideram o indivíduo
dentro de seu contexto social e histórico; aceitam a possibilidade de um conhecimento
14
que atravessa várias áreas, embora tenha sido construído com a colaboração de
diferentes disciplinas; e consideram a clínica das dificuldades de aprendizagem como
um lugar especial para desenvolver a teoria psicopedagógica.
A psicopedagogia usa abordagens que cruzam várias disciplinas e emprega
métodos, ferramentas e recursos próprios para entender como aprendemos, úteis na
ajuda às dificuldades de aprendizagem. A intervenção psicopedagógica foca
principalmente em ajudar a aprender, reconhecendo a ligação inseparável entre o
processo de aprendizagem e os desafios que podem surgir.
De acordo com Russo:
A atividade psicopedagógica tem como objetivo: promover a aprendizagem,
contribuindo para os processos de inclusão escolar e social; compreender e
propor ações frente às dificuldades de aprendizagem; realizar pesquisas
científicas no campo da psicopedagogia; mediar conflitos relacionados aos
processos de aprendizagem. (2015, p. 18)
O neuropsicopedagogo concentra-se mais nos aspectos relacionados ao cérebro
em suas investigações e intervenções, mas também considera as questões abordadas
pela psicologia. De acordo com Russo (2015), o neuropsicopedagogo trabalha com
pessoas que têm ou não problemas de aprendizagem, ajudando na avaliação,
intervenção, acompanhamento, orientação de estudos e ensino de estratégias de
aprendizagem. Eles também mantêm uma comunicação constante com a família, a
escola e outros profissionais envolvidos no caso.
É relevante destacar que o neuropsicopedagogo utiliza jogos que ele mesmo cria
e desenvolve, jogos que podem ou não ter um caráter competitivo e que envolvem a
fala, proporcionando novas oportunidades de aprendizado. (DRESCH, 2018).
Outra diferença importante está nas avaliações. Na psicopedagogia, avalia-se
muito a relação do aluno com a aprendizagem, como ele se percebe como parte do seu
próprio processo de aprendizagem e como se relaciona com ele. Segundo Visca (1987),
na abordagem epistemológica convergente, o diagnóstico começa com uma conversa
inicial com os pais ou com o próprio aluno e termina com a devolução dos resultados.
Visca sugere o seguinte esquema:
Quadro 3 – Ações e procedimentos do entrevistador
15
Fonte: Dresch, 2018.
Na abordagem epistemológica convergente, Visca (1987), sugere começar o
diagnóstico com a Eoca (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem), em vez de
iniciar com a anamnese. Ele afirma que os pais, quase sempre, mesmo que com
intensidades diferentes, durante a anamnese tentam impor sua opinião, sua visão
consciente ou inconscientemente. Isso impede que o avaliador se aproxime
'ingenuamente' do aluno para entendê-lo como ele realmente é e descobri-lo”.
Weiss (2003) apresenta outra abordagem para começar o diagnóstico, seguindo
estes passos: uma entrevista inicial para explorar a situação, seguida pela anamnese,
a Eoca, a realização de provas e testes, e, por fim, a síntese diagnóstica.
Na neuropsicopedagogia, a avaliação é feita de forma diferente, começando com
a anamnese. Isso porque, através dela, entendemos toda a trajetória da criança, desde
antes do nascimento até o presente momento. A anamnese é importante porque,
conforme Russo (2015) explica, seu objetivo é avaliar a situação atual do paciente,
entender como ele progrediu ao longo do tempo e compreender o problema que
enfrenta.
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Na neuropsicopedagogia, a avaliação envolve uma série de testes padrão para
medir habilidades como leitura, escrita, matemática, atenção, memória e habilidades
motoras. Além disso, são usadas escalas respondidas pelos profissionais da escola.
Depois de corrigir todos os testes e fazer observações, é elaborado um relatório.
Durante o feedback, o neuropsicopedagogo precisa explicar ao paciente de forma
detalhada quais habilidades estão preservadas, quais estão com dificuldades e como
essas dificuldades podem afetar sua vida na escola, emocionalmente e socialmente.
Resumidamente, a psicopedagogia se dedica a entender e ajudar no
desenvolvimento cognitivo, social e emocional, com ênfase na interação com o
ambiente. Ela intervém utilizando jogos e materiais pedagógicos, como recorte,
colagem, escrita de textos, e cálculos matemáticos, entre outros. Além disso, possui um
conhecimento mais amplo sobre emoções e comportamento.
A neuropsicopedagogia, além de abordar os mesmos temas da psicopedagogia
- embora com menos foco nos aspectos sociais e ambientais -, dedica-se principalmente
ao estudo do sistema nervoso, analisando suas diferentes funções. Nas intervenções,
utiliza muitas vezes os mesmos instrumentos que a psicopedagogia, porém tem uma
variedade maior de ferramentas que se concentram nas áreas cerebrais. Isso acontece
porque há um entendimento mais profundo sobre quais estímulos são mais adequados
para essas áreas, tornando as atividades mais eficazes.
Por exemplo, legalmente o neuropsicopedagogo também pode usar a Eoca,
porém não é apropriado, uma vez que o foco de estudo é diferente e a compreensão
dos testes também varia. Por isso, é importante ter discernimento e estudar
corretamente para cada área.
O quadro a seguir mostra de forma simples e direta as diferenças entre a
neuropsicopedagogia, a neuropsicologia e a psicopedagogia.
Quadro 4 – Diferenciações e semelhanças entre neuropsicopedagogia,
neuropsicologia e psicopedagogia
17
Fonte: Dresch, 2018.
18
Se observarmos, uma área completa a outra e é importante que elas colaborem
juntas, porque assim a eficácia da investigação e intervenção será maior, beneficiando
aqueles que precisam desses profissionais.
4 A NEUROPSICOPEDAGOGIA NO BRASIL
No Brasil, as discussões sobre neuropsicopedagogia tiveram início em Joinville,
Santa Catarina, em 2008. Um conjunto de professores que fornecia orientação em
cursos de pós-graduação foi convidado pelo Grupo Educacional Censupeg para
conduzir pesquisas que trouxessem novos insights sobre a educação naquele período.
Eles procuravam algo inovador e bem embasado, que pudesse trazer uma mudança
significativa na educação.
O objetivo era ir além do estudo das emoções e comportamentos na psicologia,
não se limitando apenas à estrutura cerebral na neurociência, nem apenas à abordagem
de ensino e métodos na pedagogia. A ideia era aproximar as neurociências e a
psicologia da educação, considerando todos os aspectos das experiências escolares
relacionadas à aprendizagem. Em outras palavras, queríamos combinar esses
conhecimentos e aproveitar o que cada um tem de especial em termos de ideias sobre
aprendizagem, para mudar a maneira como interagimos com o conhecimento.
Ao aceitar esse desafio, os pesquisadores começaram a gerar novas ideias sobre
aprendizagem, dificuldades de aprendizado, inclusão, integração de disciplinas e até
mesmo sobre os métodos utilizados durante esses processos. Eles estavam revisando,
repensando, reformulando e refletindo sobre todos esses aspectos. No entanto, a
preocupação principal era assegurar que essas novas abordagens fossem baseadas
em evidências científicas, buscando compreender completamente como pensamos e
aprendemos. (CHUPIL; SOUZA; SCHNEIDE, 2018).
Nesse momento, também se tornou relevante a psicopedagogia (que une ideias
da pedagogia e da psicologia), para fortalecer essa base teórica e aproximar ainda mais
o pensamento e as emoções. Assim, esse projeto inicial que envolve as neurociências,
a psicopedagogia e a psicologia na educação foi nomeado de neuropsicopedagogia.
Com esse projeto, surgiu a necessidade de preparar um tipo diferente de
educadores, que tivessem uma visão especial e sensível sobre como as pessoas
19
aprendem e suas diferenças. Assim, após os estudos e a criação do projeto, o primeiro
curso de neuropsicopedagogia teve sua primeira turma de educadores inaugurada em
2008, na cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina.
Inicialmente, algumas pessoas com perspectivas mais tradicionais da educação
criticaram a neuropsicopedagogia, considerando-a até mesmo uma ameaça, porque era
um novo campo em desenvolvimento e envolvia áreas que não eram vistas como parte
do processo de aprendizagem. Em 2009, os primeiros alunos dessa turma se formaram
com o título em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva pelo Grupo
Educacional Censupeg. Isso fez com que o curso se tornasse mais popular e as
discussões sobre aprendizagem passaram a ser mais abordadas e valorizadas.
(CHUPIL; SOUZA; SCHNEIDE, 2018).
Atualmente, a SBNPp (Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia), fundada
em 1988 com ênfase inicial na neuropsicologia, está empenhada em promover
atividades que reafirmem o reconhecimento dos neuropsicopedagogos. Isso envolve
estimular a publicação de artigos científicos, teses e outras questões relevantes para os
estudos, que demonstrem os resultados já alcançados com essa formação especial para
os profissionais que lidam com a aprendizagem e suas complexidades.
4.1 Sobre a sociedade brasileira de neuropsicopedagogia: avanços e
perspectivas
A SBNPp (Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia) é uma organização
privada e sem fins lucrativos, conforme estabelecido no artigo 44, inciso I e artigo 53 da
Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002 do Código Civil. O presidente é o Prof. Dr. Luiz
Antônio Corrêa, que declarou na primeira edição do Boletim Informativo (2014) da
Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia:
A SBNPp - Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia foi estabelecida para
representar todos os aspectos relacionados à Neuropsicopedagogia, incluindo
aprendizado, pesquisa científica e prática profissional. É relevante destacar que
estamos em um processo contínuo e estamos empenhados em obter uma
representação política para validar, legitimar e reconhecer nossa profissão. Para
avançarmos rapidamente com o reconhecimento profissional, é essencial termos essa
20
representação, com um grupo de membros associados envolvidos na formação
neuropsicopedagógica e por meio de ações embasadas na ciência das áreas, que são
conduzidas por grupos de pesquisa apoiados ou associados à SBNPp.
Além disso, é responsabilidade desse profissional, se necessário, encaminhar o
aluno para outros especialistas e promover uma abordagem multidisciplinar. Ele
também trabalha na área de Educação Especial, Inclusiva e em organizações não
governamentais, desenvolvendo projetos, workshops e métodos de ensino distintos,
além de contribuir para o treinamento de pais e professores, sempre consciente de seus
limites de atuação. Por outro lado, o Neuropsicopedagogo clínico oferece atendimento
personalizado em consultório e cria planos de intervenção específicos para pessoas
com dificuldades de aprendizagem, transtornos, síndromes ou habilidades
excepcionais.
Ao longo de quase vinte anos, a Neuropsicopedagogia no Brasil cresceu
significativamente no campo da neuroeducação, tanto como área de estudo quanto
como profissão (com cerca de 3060 membros na SBNPp). Essa expansão é
fundamental para a sociedade, pois lida com mudanças no cérebro por meio de práticas
embasadas na ciência, utilizando estratégias cognitivas e metacognitivas. Foi essa
associação que conseguiu o reconhecimento das profissões de Neuropsicopedagogo
Institucional e Neuropsicopedagogo Clínico em março de 2018, oficializadas por uma
portaria ministerial em julho de 2019.
O LIEENP (Laboratório de Inovações Educacionais e Estudos
Neuropsicopedagógicos da Faculdade Censupeg) é o primeiro Laboratório Nacional de
Pesquisas da Neuropsicopedagogia. Por muito tempo, esteve sediado na Faculdade
São Fidélis/RJ, mas atualmente está localizado em Joinville/SC, dentro da Faculdade
Censupeg. Ele serve como referência para novas pesquisas brasileiras, padronização
de instrumentos de avaliação e criação de testes específicos que contribuem para a
formação contínua e qualificada dos neuropsicopedagogos. Isso é feito por meio de
palestras, seminários e congressos, que ajudam a divulgar de forma ética os objetivos
da Neuropsicopedagogia, visando a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem.
Devido às suas bases teóricas e práticas, o trabalho do neuropsicopedagogo
envolve diversas áreas, sendo multidisciplinar e voltado para objetivos educacionais.
Para desempenhar suas funções com eficiência, é fundamental que o
21
neuropsicopedagogo compreenda o funcionamento do cérebro, a neuroplasticidade (a
capacidade do cérebro de se adaptar e mudar ao longo do tempo), os transtornos e
síndromes que podem afetar a aprendizagem, bem como as diferentes metodologias de
ensino e aprendizagem. Esses conhecimentos são essenciais para o seu trabalho
profissional.
5 A ATUAÇÃO DO NEUROPSICOPEDAGOGO
O neuropsicopedagogo trabalha com questões relacionadas à aprendizagem e
ao desenvolvimento cognitivo, motor e comportamental das pessoas, usando os
princípios da neurociência aplicada à Educação, em conjunto com a pedagogia e a
psicologia. É essencial entender que o trabalho desse profissional não consiste apenas
em combinar a neuropsicologia e a psicopedagogia.
A Neuropsicologia é uma área que explora as conexões entre o cérebro e o
comportamento humano. Ela investiga como as lesões cerebrais afetam as habilidades
cognitivas e o comportamento das pessoas. Para fazer isso, utiliza conhecimentos de
disciplinas como neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica, psicometria, psicologia
clínica, psicologia experimental, psicopatologia e psicologia cognitiva. Em resumo, a
Neuropsicologia estuda como o funcionamento do cérebro influencia nossas ações e
pensamentos. As duas principais atividades da Neuropsicologia são avaliar e reabilitar
as funções mentais. Ela estuda habilidades cognitivas, como memória, atenção,
linguagem, raciocínio, movimento e percepção, além de examinar mudanças
emocionais e de personalidade. (HAMDAN; PEREIRA; RIECHE, 2011)
De acordo com a Associação Brasileira de Psicopedagogia:
Art.1º A psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se
ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola,
a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios,
fundamentados em diferentes referenciais teóricos.
$1ºA intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento,
relacionada com a aprendizagem, considerando o caráter indissociável ente os
processos de aprendizagem e as suas dificuldades.
$2º A intervenção psicopedagógica na Educação e na Saúde se dá em
diferentes âmbitos da aprendizagem, considerando o caráter indissociável entre
o institucional e o clínico.
Art. 2º À Psicopedagogia é de natureza inter e transdisciplinar, utiliza métodos,
instrumentos e recursos próprios para compreensão do processo de
aprendizagem, cabíveis na intervenção.
22
Art.3º A atividade psicopedagógica tem como objetivos: a) promover a
aprendizagem, contribuindo para os processos de inclusão escolar e social; b)
compreender e propor ações frente às dificuldades de aprendizagem; c) realizar
pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia; d) mediar conflitos
relacionados aos processos de aprendizagem.
Art.4º O psicopedagogo deve, com autoridades competentes, refletir e elaborar
a organização, a implantação e a execução de projetos de Educação e Saúde
no que concede às questões psicopedagógicas (ABPp, 2011).
Russo (2015) destaca que, embora a neuropsicopedagogia explore o cérebro e
o processo de aprendizagem humana, baseando-se nos fundamentos da neurociência
e da educação, ela “se apoia nas teorias de aprendizagem e nas estratégias de ensino-
aprendizagem” em sua prática. A autora ressalta que a neuropsicopedagogia
compartilha semelhanças com a neuropsicologia e a psicopedagogia no que diz respeito
à “abordagem multiprofissional, inter e transdisciplinar, e ao estudo do desenvolvimento
humano e dos processos de ensino-aprendizagem”.
5.1 A atuação do neuropsicopedagogo institucional
O neuropsicopedagogo institucional trabalha em ambientes educacionais e/ou
instituições que atendem a grupos, como escolas públicas e privadas, centros
educacionais, instituições de ensino superior e organizações sociais que desenvolvem
projetos relacionados a dificuldades de aprendizagem.
De acordo com o art. 30 da Nota Técnica da SBNPp nº. 1 de 16 de março de
2016:
São bases da atuação institucional os fundamentos da Educação Especial da
Educação Inclusiva, com embasamento legal e de práticas sociais, que deverão
ser pensadas através da aplicação das neurociências ao ambiente educacional.
a) Observação, identificação e análise dos ambientes e dos grupos de pessoas
atendidas, focando nas questões relacionadas a aprendizagem e ao
desenvolvimento humano nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais,
considerando os preceitos da Neurociência aplicada a Educação, em interface
com a Pedagogia e Psicologia. b) Criação de estratégias que viabilizem o
desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem dos que são atendidos nos
espaços coletivos c) Encaminhamento de pessoas atendidas a outros
profissionais quando o caso for de outra área de ativação/especialização
contribuir com aspectos específicos. Que influenciam na aprendizagem e no
desenvolvimento humano (SENPP, 2016).
23
5.2 As atividades do neuropsicopedagogo institucional
Baseamos as informações a seguir sobre a atuação do neuropsicopedagogo
institucional, estão de acordo com a Nota Técnica da SBNPp n. 1/2016 (SBNPp, 2016).
No contexto institucional, as preocupações específicas serão encaminhadas ao
neuropsicopedagogo por uma equipe técnica. Ele investigará as dificuldades por meio
de observações direcionadas aos indivíduos com problemas, e para uma avaliação
inicial, utilizará instrumentos adequados.
O responsável pela avaliação precisa garantir que o instrumento utilizado seja
embasado em teorias sólidas e validado para a população brasileira, considerando
idade, escolaridade e a adequação para o uso pretendido. Os testes e escalas utilizados
devem estar alinhados com os objetivos da avaliação neuropsicopedagógica,
concentrando-se na compreensão das habilidades de aprendizagem do indivíduo.
Assim, a avaliação visa identificar suas habilidades cognitivas, concentração, memória,
linguagem, habilidades matemáticas, coordenação motora, interações sociais e
capacidades de planejamento e organização.
Após examinar cuidadosamente o processo, será possível criar um plano de
intervenção com metas claras. O neuropsicopedagogo usará projetos e oficinas
específicos para abordar as necessidades identificadas, visando desenvolver e
fortalecer as habilidades individuais, promovendo assim a inclusão da pessoa avaliada.
Além disso, como parte de seu plano de ação, o neuropsicopedagogo pode fornecer
orientações à equipe pedagógica e à família do aluno sobre os princípios teóricos e
práticos do processo de aprendizagem, bem como sobre as dificuldades identificadas.
Depois de concluído o processo de identificação, análise e investigação, o
neuropsicopedagogo deve elaborar um parecer neuropsicopedagógico, fundamentado
nas diretrizes da instituição, para a equipe técnica. Esse parecer abordará as
necessidades coletivas e destacará as questões individuais, visando garantir uma
inclusão efetiva. Quando necessário, o caso será encaminhado para profissionais de
outras áreas específicas.
24
5.3 A atuação do neuropsicopedagogo clínico
Os direcionamentos a seguir, referentes à atuação do neuropsicopedagogo
clínico, estão alinhados com a Nota Técnica SBNPp n. 1/2016 (SBNPp, 2016). O
atendimento neuropsicológico clínico é feito individualmente, em um ambiente
reservado, como consultório particular, escola, hospital, posto de saúde ou instituição
do terceiro setor. O neuropsicopedagogo clínico também pode trabalhar em conjunto
com uma equipe de diferentes profissionais. A abordagem do trabalho do
neuropsicopedagogo clínico está centrada na aprendizagem, seja durante a avaliação,
a intervenção ou o acompanhamento.
No ambiente clínico, é comum que os responsáveis pela criança ou pessoa com
dificuldades busquem o neuropsicopedagogo. Para entender a queixa, são analisados
o histórico de vida, a dinâmica social e familiar, as dificuldades na escola e são feitas
avaliações cognitivas, motoras e comportamentais que possam afetar o aprendizado.
Como mencionado antes, usar os instrumentos de avaliação exige habilidade
profissional, incluindo o direito de uso e validação para a população brasileira, e sua
aplicação deve ser adequada à idade, gênero e nível escolar da pessoa avaliada. O
neuropsicopedagogo deve procurar supervisão de um profissional qualificado se sentir
insegurança durante o processo de avaliação e intervenção.
Após concluir a avaliação, o neuropsicopedagogo precisa redigir um documento
técnico chamado laudo ou parecer. Nele, são descritos os procedimentos realizados, os
resultados obtidos e as sugestões de intervenção. Essas informações são confidenciais
e só podem ser compartilhadas com a escola ou outros profissionais de saúde com a
autorização dos responsáveis. Se o diagnóstico indicar a necessidade de atendimento
por outros profissionais, o neuropsicopedagogo clínico deve encaminhar o caso
adequadamente.
5.4 As atividades do neuropsicopedagogo clínico
O planejamento da avaliação é definido considerando a investigação da queixa
inicial. O profissional deve realizar a anamnese, que consiste em obter informações
25
sobre o histórico clínico e familiar, as quais são relatadas pelos familiares ou pelo próprio
paciente, caso seja adulto.
Esse recurso auxilia na análise da queixa. Nesse momento, é examinado quando
o problema começou e como progrediu, em que situações ocorreu, com que frequência
acontece em casa e na escola. Explora-se a trajetória do paciente durante o seu
crescimento. A anamnese deve conter informações sobre sua história familiar, gestação,
nascimento, desenvolvimento neuropsicomotor, estado de saúde atual, desempenho
escolar, comportamento em casa, na escola e em atividades sociais. Uma anamnese
bem feita fornece informações valiosas.
Estudos mostram que cerca de 80% das possíveis conclusões diagnósticas
podem ser alcançadas ao se obter uma história completa (ROTTA; OHLWEILER;
RIESGO, 2006).
O neuropsicopedagogo clínico utilizará instrumentos (testes e escalas de uso
amplo) padronizados para a população brasileira, levando em consideração áreas
específicas de investigação, sexo, nível de escolaridade e faixa etária apropriada. Além
disso, ele fará uso da observação clínica, de momentos lúdicos e da análise do material
escolar para formular sua hipótese diagnóstica. O profissional deve escolher atividades
para testar essas hipóteses por meio de intervenções direcionadas, seguidas de
análises que podem confirmá-las ou não.
A formação do Neuropsicopedagogo prioriza o estudo e pesquisa sobre à
aprendizagem relacionada ao funcionamento do sistema nervoso, incluindo
estudos acerca do cérebro. De acordo com o Código de Ética Técnico
profissional da Neuropsicopedagogia, não tem habilitação para avaliar a
inteligência, os transtornos de humor e personalidade, bem como fazer uso de
testes projetivos (SENPp, 2014).
Depois de identificarmos as habilidades e dificuldades do avaliado, é hora de
planejar a intervenção. Nesse momento, elaboramos um protocolo de sessões,
utilizando ferramentas, técnicas e materiais adequados às características individuais,
como idade, gênero, nível de escolaridade, entre outros. O profissional define metas a
curto, médio e longo prazo, avaliando continuamente o progresso por meio de registros,
o que permite ajustes ou avanços em cada etapa. Como resultado final, elaboramos um
relatório detalhado dos resultados do processo de intervenção, indicando as
26
necessidades de continuidade, encaminhamento para outros profissionais ou mesmo
encerramento do acompanhamento em situações específicas.
5.5 A atuação do neuropsicopedagogo pesquisador
Como vimos em outras partes, as informações abaixo sobre o papel do
neuropsicopedagogo pesquisador estão de acordo com as diretrizes estabelecidas na
Resolução n.3/2014 da SBNPp (2014).
O profissional de neuropsicopedagogia que se dedica à pesquisa deve conduzir
estudos e publicações com rigor científico, buscando contribuir para o avanço do
conhecimento nessa área e para o aprimoramento das práticas neuropsicopedagógicas.
Além disso, é fundamental que ele esteja atento às questões éticas envolvidas em suas
investigações.
Antes de iniciar o trabalho de pesquisa, o profissional deve conseguir permissão
das pessoas que serão estudadas e das instituições relacionadas. Cada participante
deve concordar livremente, assinando um documento que explica detalhadamente
sobre o que trata a pesquisa e como ela será conduzida. Vale ressaltar que a
participação é opcional e que a identidade de cada pessoa será mantida em sigilo ao
longo da pesquisa, assim como em qualquer material que seja publicado sobre o estudo.
Durante o trabalho de pesquisa, deve-se ter cuidado com os possíveis riscos ou
danos que os participantes possam enfrentar, mesmo que sejam mínimos. Mesmo com
o consentimento dado no início da pesquisa, qualquer pessoa pode optar por parar de
participar a qualquer momento. Se a pesquisa continuar, os resultados obtidos, quer
confirmem ou discordem da hipótese inicial, devem ser explicados de forma sólida e as
discussões devem ser feitas no contexto científico.
Toda pesquisa científica precisa passar por uma avaliação e ser aprovada por
comitês ou conselhos de ética técnico-profissional. É importante citar os autores que
foram usados como base para a pesquisa sempre que se utilizar de informações,
descobertas, imagens, gráficos e dados de outras fontes, para respeitar os direitos
autorais.
A atuação do neuropsicopedagogo, seja na clínica, instituição ou pesquisa, tem
como foco lidar com questões relacionadas à aprendizagem e suas dificuldades. Para
27
isso, ele utiliza conhecimentos da neurociência aplicados à educação, baseando-se na
pedagogia e na psicologia cognitiva.
6 NEUROPSICOPEDAGOGIA: A INTERAÇÃO DE UMA EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR
Compreendendo o papel tanto do neuropsicopedagogo institucional quanto do
clínico, vamos explorar mais a fundo o que cada um faz. É importante entender que o
neuropsicopedagogo raramente trabalha sozinho; ele precisa de uma equipe para
ajudar a identificar e intervir com as pessoas que estão sendo assistidas. Mas por que
é tão importante ter uma equipe? Em que situações cada profissional entra em cena?
E, mais importante ainda, quem são esses profissionais? Nesta aula, além de responder
a essas perguntas, vamos discutir para quem o neuropsicopedagogo deve se dirigir ou
buscar quando perceber que um aluno precisa de atendimento multidisciplinar.
Quando falamos sobre aprendizagem, estamos nos referindo a diferentes partes
do cérebro envolvidas em um processo com o mesmo propósito. Por exemplo, ler e
escrever envolve várias áreas do cérebro de uma pessoa. Quando alguém tem
dificuldade em uma ou ambas as habilidades, ou não atinge o nível esperado para a
idade, isso chama a atenção dos profissionais da escola. Portanto, é necessário fazer
uma avaliação para entender o que pode estar causando essa dificuldade de
aprendizagem e então adaptar os conteúdos para que a pessoa consiga compreender
e aprender. Durante essa investigação, é essencial conhecer os profissionais que lidam
com essas dificuldades, para encaminhar a pessoa e obter apoio de acordo com as
necessidades em cada área.
6.1 As competências de cada área
Quando discutimos sobre educação e saúde, é preciso compreender que um
único profissional pode não ser suficiente para identificar e tratar crianças com diferentes
tipos de deficiência, já que cada dificuldade está associada a diferentes partes do
cérebro. Por isso, é essencial contar com uma equipe de profissionais, cada um com
28
sua área de especialização, para realizar um diagnóstico completo e trabalhar em
conjunto para reabilitar os pacientes.
Atualmente, é comum encontrarmos crianças enfrentando diversas dificuldades,
transtornos e síndromes, deixando as escolas sem saber como lidar com essa situação.
É aí que se torna fundamental a presença de uma equipe multiprofissional, que trabalha
em conjunto para apoiar e melhorar a qualidade de vida desses alunos. Vamos explorar
as principais áreas de atuação dessa equipe na escola, para entendermos o papel de
cada profissional nesse contexto de ensino e aprendizagem.
Inicialmente, vamos falar sobre a fonoaudiologia, que é uma grande aliada das
escolas quando se trata de aprendizagem. Conforme a Lei n. 6.965 (BRASIL, 1981),
que regula a profissão, cabe ao fonoaudiólogo que trabalha nas escolas realizar
atividades de prevenção relacionadas à comunicação oral e escrita, voz e audição. Além
disso, ele também faz parte da equipe de orientação e planejamento escolar, incluindo
aspectos preventivos relacionados a questões fonoaudiológicas. É importante notar que
o trabalho do fonoaudiólogo clínico é diferente do fonoaudiólogo escolar. O primeiro se
concentra na terapia, enquanto o segundo está mais envolvido com a prevenção.
Por que o fonoaudiólogo é tão essencial para a aprendizagem? Quando
discutimos aprendizagem, estamos falando sobre linguagem, porque é por meio dela
que ocorre a aprendizagem, seja de forma auditiva, visual ou tátil. Jacinto compartilha
algumas ideias de outros autores sobre o processo de linguagem.
Cagliari (1995) explica que linguagem é “uma maneira de entender o mundo,
criada usando uma forma de comunicação que as pessoas aceitam”. De acordo com
Garcia (1998), “para aprender linguagem, uma pessoa precisa entender e fazer parte de
muitas coisas no mundo, para que possa mostrar a outra pessoa sobre objetos, ações,
qualidades e como eles estão conectados, mesmo quando essas coisas não estão
presentes”.
Garcia (1998) também diz que a linguagem tem três partes importantes: um
conjunto de símbolos, comunicação e manipulação. Com isso em mente, é possível
compreender a importância do fonoaudiólogo nesse processo. Ele é o profissional mais
qualificado e que entende melhor como a linguagem e a comunicação funcionam. Com
conhecimento sobre como as pessoas aprendem a falar, o fonoaudiólogo pode
identificar e avaliar possíveis atrasos e saber como ajudar a corrigi-los.
29
A presença do fonoaudiólogo nas escolas é algo relativamente recente e está se
tornando mais comum a cada dia. Esse profissional identifica e previne dificuldades de
comunicação e ajuda os professores a lidar com distúrbios de linguagem. O
fonoaudiólogo entende como a linguagem das crianças se desenvolve, tanto no que é
considerado normal quanto nas situações de problema, o que permite aos professores
sentir-se mais seguros ao lidar com diferentes faixas etárias. Lagrotta e César (1997)
destacam que é fundamental a presença do fonoaudiólogo no planejamento escolar,
especialmente quando ele fornece informações sobre o desenvolvimento da linguagem
e da comunicação, que são a base do aprendizado na escola.
Como podemos notar, o fonoaudiólogo é fundamental na equipe que trabalha de
forma integrada, tanto na escola quanto na clínica. Souza (1998) destaca as
responsabilidades desse profissional na escola, que incluem a prevenção, a
identificação e a redução de problemas. Ao cumprir essas funções, o fonoaudiólogo
consegue ajudar de forma efetiva em todo o processo de aprendizagem das crianças na
escola.
No contexto clínico, o fonoaudiólogo se concentra mais na terapia de alunos que
apresentam dificuldades e são encaminhados ao consultório. Este profissional possui
habilidade para avaliar usando testes, exames específicos e análises detalhadas, além
de descrever parâmetros e comportamentos.
Agora que compreendemos a função do fonoaudiólogo nesse processo de
ensino-aprendizagem e suas responsabilidades, vamos explorar a importância da
psicologia na equipe multidisciplinar.
A psicologia é primordial no campo da aprendizagem, pois se dedica ao estudo
do desenvolvimento humano. Com várias abordagens, concentramo-nos aqui na
atuação desses profissionais na identificação e intervenção de comportamentos que
fogem ao esperado para cada faixa etária, tanto na escola quanto na clínica. É
fundamental compreendermos essa área, pois, como destacam Bock, Futado e Teixeira
(2008), a psicologia investiga cientificamente o processo de aprendizagem. Na escola,
o psicólogo colabora com os professores ao procurar materiais e informações úteis,
identificar aspectos positivos e negativos no ambiente escolar, desenvolver estratégias
de intervenção com alunos e equipe pedagógica, além de avaliar dados de alunos com
necessidades especiais.
30
Dentro da escola, o psicólogo contribui ao oferecer orientações aos professores
sobre como compreender os alunos e adaptar-se aos processos humanos. Ele se
concentra em lidar com dificuldades de aprendizagem, possíveis transtornos e fornece
apoio tanto aos professores quanto à equipe pedagógica, além de oferecer suporte aos
pais e familiares. Ferreira e Pacheco (2010), destacam a relevância da psicologia na
educação, enfatizando que, por meio de intervenções psicopedagógicas, ela pode
contribuir significativamente para o desenvolvimento não apenas educacional, mas para
o crescimento integral do indivíduo, utilizando técnicas e parcerias em prol do bem-estar
dos alunos. É essencial reconhecer que cada pessoa possui sua própria história de vida,
contexto social e cultural. O Conselho Federal de Psicologia destaca a importância da
ética e do trabalho em prol do próximo.
De acordo com suas diretrizes o psicólogo escolar:
• Colabora com a adequação, por parte dos educadores, de conhecimentos
da Psicologia que lhes sejam úteis na consecução crítica e reflexiva de seus
papéis.
• Desenvolve trabalhos com educadores e alunos, visando a explicitação e a
superação de entraves institucionais ao funcionamento produtivo das
equipes e ao crescimento individual de seus integrantes.
• Desenvolve, com os participantes do trabalho escolar (pais, alunos,
diretores, professores, técnicos, pessoal administrativo), atividades visando
a prevenir, identificar e resolver problemas psicossociais que possam
bloquear, na escola, o desenvolvimento de potencialidades, a
autorrealização e o exercício da cidadania consciente.
• Elabora e executa procedimentos destinados ao conhecimento da relação
professor-aluno, em situações escolares específicas, visando, através de
uma ação coletiva e interdisciplinar a implementação de uma metodologia de
ensino que favoreça a aprendizagem e o desenvolvimento.
• Planeja, executa e/ou participa de pesquisas relacionadas à compreensão
de processo ensino-aprendizagem e conhecimento das características
Psicossociais da clientela, visando a atualização e reconstrução do projeto
pedagógico da escola, relevante para o ensino, bem como suas condições
de desenvolvimento e aprendizagem, com a finalidade de fundamentar a
atuação crítica do Psicólogo, dos professores e usuários e de criar
programas educacionais completos, alternativos ou complementares.
• Participa do trabalho das equipes de planejamento pedagógico, currículo e
políticas educacionais, concentrando sua ação naqueles aspectos que
digam respeito aos processos de desenvolvimento humano, de
aprendizagem e das relações interpessoais, bem como participa da
constante avaliação e do redirecionamento dos planos, e práticas
educacionais implementados.
• Desenvolve programas de orientação profissional, visando um melhor
aproveitamento e desenvolvimento do potencial humano, fundamentados no
conhecimento psicológico e numa visão crítica do trabalho e das relações do
mercado de trabalho.
• Diagnostica as dificuldades dos alunos dentro do sistema educacional e
encaminha, aos serviços de atendimento da comunidade, aqueles que
requeiram diagnóstico e tratamento de problemas psicológicos específicos,
31
cuja natureza transcenda a possibilidade de solução na escola, buscando
sempre a atuação integrada entre escola e a comunidade.
• Supervisiona, orienta e executa trabalhos na área de Psicologia Educacional.
(CFP, 2018)
Quando o psicólogo identifica algo fora do esperado, ele encaminha o paciente
para avaliações clínicas. Compete ao psicólogo clínico, no que se refere à investigação
de aprendizagem, transtornos ou síndromes, analisar por meio de testes e observações
o que pode estar ocasionando as dificuldades apresentadas, redigir laudos e discutir
casos com outros profissionais envolvidos.
Segundo o Conselho Federal de Psicologia, e levando em consideração somente
em caso de equipe multidisciplinar focada na aprendizagem, o psicólogo clínico:
Realiza avaliação e diagnóstico psicológicos de entrevistas, observação, testes
e dinâmica de grupo, com vistas à prevenção e tratamento de problemas
psíquicos.
Realiza atendimento psicoterapêutico individual ou em grupo, adequado às
diversas faixas etárias, em instituições de prestação de serviços de saúde, em
consultórios particulares e em instituições formais e informais.
Realiza atendimento a crianças com problemas emocionais, psicomotores e
psicopedagógicos.
[...]
Atua junto à equipe de multiprofissionais no sentido de levá-la a identificar e
compreender os fatores emocionais que intervêm na saúde geral do indivíduo,
em unidades básicas, ambulatórios de especialidades, hospitais gerais,
prontos-socorros e demais instituições.
Atua como facilitador no processo de integração e adaptação do indivíduo à
instituição. Orientação e acompanhamento a clientela, familiares, técnicos e
demais agentes que participam, diretamente ou indiretamente dos
atendimentos.
Participa dos planejamentos e realiza atividades culturais, terapêuticas e de
lazer com o objetivo de propiciar a reinserção social da clientela egressa de
instituições.
[...]
Participa da elaboração, execução e análise da instituição, realizando
programas, projetos e planos de atendimentos, em equipes multiprofissionais,
com o objetivo de detectar necessidades, perceber limitações, desenvolver
potencialidades do pessoal envolvido no trabalho da instituição, tanto nas
atividades fim, quanto nas atividades meio. (CFP, 2018)
Por fim, vamos discutir sobre a neurologia. Os profissionais mencionados
anteriormente conduzem investigações e, se necessário, encaminham o aluno para o
neurologista, que é o especialista capacitado para fornecer um diagnóstico ao paciente.
Conforme explicado por Reed (2018), “a neurologia é uma área da Medicina que
se dedica ao estudo das doenças que afetam o Sistema Nervoso Central (composto
pelo cérebro e pela medula espinhal) e o Sistema Nervoso Periférico (formado pelos
32
nervos e músculos), bem como de suas estruturas de suporte, conhecidas como
meninges”. Assim sendo, o neurologista possui amplo conhecimento sobre diversas
alterações que podem ocorrer no sistema nervoso, desde lesões físicas até
desequilíbrios bioquímicos que influenciam o comportamento.
Quando se chega a um diagnóstico conclusivo, seja ele elaborado por um
psicólogo, neuropsicopedagogo ou fonoaudiólogo, é feito um prognóstico. Nesse ponto,
o neurologista entra em cena para avaliar e compreender o que está ocorrendo, a fim
de fornecer um laudo ao paciente.
De acordo com Reed, o neurologista possui conhecimento sobre:
• Doenças vasculares: acidente vascular cerebral, popularmente conhecido como
derrame.
• Doenças desmielinizantes: esclerose múltipla e outras.
• Doenças infecciosas: meningites, encefalites.
• Tumores do Sistema Nervoso Central ou Periférico.
• Traumatismos cranianos: afetam o cérebro.
• Traumatismos raquianos: afetam a medula espinal.
• Doenças inflamatórias: polirradiculoneurite, polimiosite.
• Alterações do desenvolvimento: deficiência mental, paralisia cerebral, déficit de
atenção e hiperatividade, dislexia e outras. (2018)
Quando há encaminhamento dos profissionais mencionados, focamos no último
aspecto destacado por Reed (2018), que trata das alterações de desenvolvimento. O
neurologista, após realizar uma avaliação completa, emitirá um laudo. Esse laudo será
enviado aos profissionais envolvidos para que possam planejar a reabilitação do
paciente, conforme o 'DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais)
e a CID (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde).
Integrando a equipe multidisciplinar, também encontramos pedagogos,
terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, arteterapeutas, entre outros. No entanto,
destacamos aqueles mais diretamente envolvidos na avaliação diagnóstica. Quando
consideramos a quantidade de informações obtidas após uma avaliação multidisciplinar,
percebemos que a precisão do diagnóstico é significativamente maior do que se o
indivíduo fosse avaliado por apenas um profissional.
33
6.2 Interação entre os profissionais
Ao longo dos anos, observamos que surgem cada vez mais especializações,
motivadas pela necessidade de compreender e aprofundar o estudo das patologias
recentemente descobertas. Na Antiguidade, uma pessoa podia ser filósofa, matemática,
astrônoma, entre outras coisas, demonstrando habilidades em diversas áreas. Veloso
(2005) argumenta que, nos dias de hoje, seria completamente inviável para um único
profissional atender com qualidade em várias áreas, destacando assim a importância da
multidisciplinaridade.
Com o avanço da medicina, percebemos a necessidade de diversas áreas
trabalharem juntas para aumentar a eficácia do atendimento. Por exemplo, quando uma
criança apresenta sintomas como dificuldades escolares, atraso motor, linguagem
pouco desenvolvida, muitas dores de cabeça e falta de apetite, um único médico pode
fornecer um diagnóstico, mas ele pode ser incompleto, pois algumas características
requerem uma investigação mais aprofundada. Se uma equipe multidisciplinar estiver
envolvida, a chance de erro no diagnóstico é significativamente reduzida. Nesse caso,
seria necessária a avaliação de um nutricionista, um fisioterapeuta ou terapeuta
ocupacional, um neuropsicopedagogo, um fonoaudiólogo e um neurologista para que o
diagnóstico seja completo e eficaz.
Vasconcelos, Grillo e Soares (2009) argumentam que não é suficiente que os
profissionais de saúde possuam conhecimento e apliquem isoladamente suas
habilidades específicas. É necessário integrar esses conhecimentos para fornecer
respostas eficazes e eficientes aos problemas complexos, garantindo a qualidade,
inclusive no ambiente de trabalho.
Dessa forma, para encontrar soluções criativas e eficazes para as necessidades
de saúde identificadas, formam-se as equipes multidisciplinares. Essas equipes
combinam as especialidades de diversos profissionais com áreas de conhecimento
compartilhadas, fundamentadas em práticas e saberes comuns a todos.
A importância da equipe multidisciplinar reside na combinação de diferentes
áreas de estudo com um objetivo comum. A ideia de equipes multiprofissionais na
educação, defendida por Garcia (1994), baseia-se no trabalho colaborativo que envolve
profissionais de diversas formações. Esses profissionais, atuando juntos e considerando
34
o contexto específico, compartilham diversas possibilidades por meio da ação, reflexão
e intervenção em vários níveis. Eles abordam pessoas, contextos, situações, além de
conhecimentos teóricos e práticos, para enfrentar os diversos problemas encontrados
na escola.
Acreditamos que a equipe multidisciplinar ainda tem muito a ser desenvolvida. No
entanto, já podemos observar que combinar os conhecimentos de diversos profissionais
e trocar informações resulta em um desfecho mais eficaz, tanto para o indivíduo quanto
para a escola e a sociedade. A equipe deve sempre ter em mente que o egoísmo pode
ser prejudicial ao paciente, pois pode colocá-lo em situações muitas vezes irreversíveis,
especialmente quando envolve intervenção medicamentosa.
Além de beneficiar o paciente em termos de eficácia, o trabalho em equipe
também oferece muitos benefícios aos profissionais, através de discussões e uma
ampla compreensão das possíveis doenças que podem afetar o paciente. Dessa forma,
ao trocar informações e chegar a conclusões, uma equipe amplia seu potencial de
compreensão e investigação. Portanto, tanto o paciente quanto a equipe se beneficiam
dessa interação.
Para que a atuação da equipe seja efetiva, Preisler, Borba e Battirola (2002)
enumeram algumas habilidades essenciais:
• Colaborar: contribuir voluntariamente, respaldar as decisões do time, cumprir
com as responsabilidades atribuídas;
• Trocar informações: garantir que todos estejam atualizados e informados sobre
o progresso e os acontecimentos do grupo;
• Expressar esperanças positivas: manter uma perspectiva otimista sobre as
habilidades dos demais integrantes do grupo, elogiando-os perante os outros.
Abordar situações conflitantes de maneira racional e evitar tomar partido nessas
circunstâncias;
• Demonstrar vontade de aprender com os colegas: reconhecer a expertise dos
outros, solicitar informações e interagir, valorizando suas ideias;
• Incentivar e motivar os colegas: reconhecer o bom desempenho dos colegas
tanto dentro quanto fora do grupo;
35
• Fomentar o espírito de equipe: adotar comportamentos que promovam um
ambiente amistoso e colaborativo entre os membros, compartilhando
responsabilidades;
• Resolver conflitos: promover ou facilitar soluções construtivas para os problemas
da equipe. Não ignorar ou evitar o conflito, mas buscar maneiras de resolvê-lo de
maneira benéfica.
6.3 E o neuropsicopedagogo?
Chegamos a entender a relevância do trabalho em equipe de diferentes áreas e
as habilidades específicas de algumas delas, especialmente no contexto da
aprendizagem e saúde mental, como a fonoaudiologia, psicologia e neurologia.
Contudo, e quanto ao neuropsicopedagogo? Quais são suas competências nesse
processo e por que sua presença é tão crucial na equipe multidisciplinar?
Vamos abordar isso passo a passo. Primeiramente, é fundamental compreender
a área específica de atuação do neuropsicopedagogo. Este profissional está capacitado
para investigar e intervir em crianças, adolescentes ou adultos que enfrentam desafios
relacionados à aprendizagem. No entanto, não é responsabilidade do
neuropsicopedagogo avaliar transtornos de humor e psicóticos, nem realizar testes de
inteligência, pois essa função é desempenhada pela psicologia. O papel do
neuropsicopedagogo é identificar e avaliar questões que estejam impactando o
processo de aprendizagem do indivíduo, para então desenvolver intervenções
específicas com base nas informações obtidas. Esse especialista avalia, conforme
descrito por Russo (2015), diferentes áreas, como leitura, escrita, compreensão de texto,
habilidades matemáticas, atenção e funções executivas. Além disso, ele também realiza
observações psicomotoras e utiliza instrumentos específicos para investigar os pré-
requisitos relacionados à alfabetização.
Utilizando testes padronizados e escalas, o neuropsicopedagogo realiza
avaliações em conjunto com o sujeito, sua família e a escola. Em seguida, ele analisa
os resultados e elabora uma hipótese diagnóstica. Com a colaboração dos diversos
profissionais envolvidos, o neuropsicopedagogo passa a intervir diretamente na
reabilitação da aprendizagem. Conforme destacado por Russo (2015), uma das
36
responsabilidades cruciais desse profissional é implementar uma variedade de
estratégias de aprendizagem, identificando atividades ou processos mentais que podem
auxiliar e aprimorar o processo de aprendizagem do sujeito.
Após compreender as dificuldades apresentadas pelo sujeito, dá-se início à
reabilitação. É recomendável que esse processo ocorra somente após a conclusão de
um diagnóstico elaborado por uma equipe multidisciplinar. Dessa forma, cada
profissional poderá atuar na reabilitação do sujeito dentro de sua área de especialização.
Ao receber o laudo elaborado pelos demais profissionais, o neuropsicopedagogo
desenvolve um plano de ação que inclui metas a serem alcançadas em diferentes
etapas do acompanhamento do sujeito, com o intuito de melhorar os aspectos que
apresentaram dificuldades. De acordo com Beltrán (1993), um plano de ação deve
definir as metas da intervenção com base nas funções preservadas do sujeito. Em casos
de lesões, é essencial o parecer neurológico para identificar áreas afetadas ou as
principais dificuldades, permitindo que o neuropsicopedagogo selecione materiais,
técnicas e estratégias de intervenção direcionadas à aprendizagem (RUSSO, 2015).
Após compreender o quadro inicial, avança-se para as estratégias intermediárias,
conforme explicado por Russo, (2015): Na etapa intermediária, entre outras abordagens,
são empregadas estratégias que estão diretamente ligadas aos processos de
compreensão e retenção, bem como de recuperação e aplicação do conhecimento.
Durante essa fase, trabalham-se as metas secundárias estabelecidas na fase inicial, as
quais são organizadas conforme necessário, à medida que os objetivos são alcançados
ou quando surgem outras demandas que exigem revisão.
De acordo com o Código de Ética Técnico Profissional de 2014, descrito pela
Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia, em seu art. 11º:
Artigo 11º. O Neuropsicopedagogo fundamentará todo o seu trabalho levando
em consideração: respeito, liberdade, dignidade, igualdade e a integridade do
ser humano apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, na Constituição do Brasil e nos preceitos éticos deste
Código. Toda pessoa, seja profissional, estudante, ainda que docente da
Neuropsicopedagogia não deve fazer discriminação de pessoas em relação de
raça, gênero, cor, nacionalidade, idade, orientação sexual, classe social,
doenças, deficiências, sequelas e necessidades especiais. (SBNPP, 2018)
Outro ponto relevante mencionado no Código de Ética refere-se à atuação do
neuropsicopedagogo, conforme estabelecido no Artigo 12º: "O Neuropsicopedagogo
37
deve exercer somente as funções para as quais ele está qualificado e habilitado pessoal
e tecnicamente" (SBNPP, 2018).
Dessa forma, fica evidente que o neuropsicopedagogo deve concentrar-se
exclusivamente em aspectos relacionados à aprendizagem, abstendo-se de exercer
atividades para as quais não esteja devidamente qualificado, como aquelas pertinentes
às áreas específicas da psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, entre outras. Por meio
desse Artigo 12º, compreende-se a importância da equipe multidisciplinar, pois cada
profissional atua em sua área de especialidade, contribuindo para a qualidade de vida
do indivíduo e da sociedade.
6.4 O neuropsicopedagogo e a educação inclusiva
Quando falamos sobre educação inclusiva, estamos falando sobre mudar a
maneira como toda uma sociedade enxerga e reconhece os direitos de todas as crianças
e adolescentes que possuem necessidades especiais. Nesse contexto, a escola
desempenha um papel crucial, buscando aumentar a participação de todos os alunos
dentro do ambiente escolar (ROSARIO et al., 2018).
De acordo com o Ministério da Educação - MEC (2004, p. 26), a educação é
fundamental nesse cenário, sendo a escola o lugar onde todos os cidadãos devem ter
acesso ao conhecimento e desenvolver habilidades. Isso significa ter a oportunidade de
aprender o conhecimento produzido ao longo da história pela humanidade e utilizá-lo
plenamente para exercer a cidadania (BRASIL, 2004, p. 14).
E continua explicando que uma Escola inclusiva é aquela que assegura uma
educação de qualidade para cada um dos seus alunos, reconhecendo e respeitando a
diversidade, e atendendo a cada um conforme suas habilidades e necessidades
individuais.
Neste cenário de educação inclusiva, que busca atender a todas as pessoas com
diferentes necessidades especiais, o neuropsicopedagogo desempenha um papel
crucial. Ele deve planejar suas intervenções pedagógicas e avaliações com cuidado,
observando atentamente as necessidades específicas de cada aluno. Isso pode
abranger questões físicas, sensoriais, mentais ou transtornos comportamentais que
possam influenciar seu desenvolvimento social e acadêmico (ROSARIO et al., 2018).
38
De acordo com Sahb (2004), a escola inclusiva “pressupõe uma nova escola,
comum em sua organização e funcionamento, pois adota os princípios democráticos da
educação de igualdade, equidade, liberdade e respeito à dignidade que fortalecem a
tendência de manter na escola regular os alunos”.
Assim, ao desempenhar suas funções, o neuropsicopedagogo precisa garantir
que as crianças e adolescentes com necessidades especiais sejam integrados de forma
inclusiva nas escolas, sem enfrentar discriminação. Seu objetivo é ajudar os pais e
professores a proporcionar um ambiente positivo que favoreça o desenvolvimento
desses alunos. (ROSARIO et. al, 2018).
7 FORMAÇÃO MULTIPROFISSIONAL DO NEUROPSICOPEDAGOGO
7.1 O profissional da neuropsicopedagogia
A neuropsicopedagogia é regulamentada pela Sociedade Brasileira de
Neuropsicopedagogia (SBNPp), estabelecida em 2014 com o objetivo de promover a
profissão e incentivar a pesquisa na área. A SBNPp organiza eventos como debates,
seminários, conferências, e cursos relacionados às neurociências e áreas afins. A
sociedade é sustentada por membros de diversos campos de conhecimento, incluindo
neuropsicopedagogos, psicopedagogos, pedagogos, psicólogos, professores,
estudantes, pesquisadores, e profissionais das áreas de saúde e educação, abrangendo
tanto indivíduos quanto entidades jurídicas.
O neuropsicopedagogo pode atuar tanto em contextos clínicos quanto
institucionais. Em ambientes clínicos, seu trabalho pode ser realizado em consultórios e
locais que demandem uma intervenção profissional constante, fundamentada em um
diagnóstico prévio ao processo de intervenção. A prática clínica deve ser conduzida de
forma colaborativa, envolvendo a família, a escola, os professores e outros profissionais
que estejam também atendendo o indivíduo.
O neuropsicopedagogo institucional pode atuar em hospitais, escolas e outros
ambientes de atendimento coletivo. Suas atividades incluem diagnósticos e
intervenções coletivas com foco na prevenção. Esse profissional deve estar consciente
de sua identidade profissional e de suas práticas, limitando sua atuação ao seu campo
39
de conhecimento. Quando necessário, deve encaminhar o indivíduo para outros
especialistas.
A SBNPp estabeleceu o Código de Ética Técnico Profissional da
Neuropsicopedagogia, através da Resolução n. 03/2014 (SBNPp, 2016), que aborda a
postura ética dos profissionais dessa área. Esse documento visa regular a conduta dos
neuropsicopedagogos, baseando-se em valores e princípios éticos.
A ética profissional se refere à conduta e postura que um profissional adota em
seu dia a dia, refletindo seus valores e como ele se relaciona com sua equipe de
trabalho. Stukart (2003) explica que a palavra ética vem do grego ETHOS, significando
o estudo do caráter humano e reflexão sobre as situações vividas. Para ele, “A ética não
analisa o que o homem faz, como a psicologia e a sociologia, mas o que ele deveria
fazer. É um juízo de valores, como virtude, justiça, felicidade, e não um julgamento da
realidade”. Segundo esse ponto de vista, a ética é um conjunto de valores que guiam o
comportamento do indivíduo, tanto em sua vida pessoal quanto profissional, cuidando
assim de sua reputação. (FERREIRA; SILVA, 2021).
O Código de Ética, em seu artigo 3º, descreve o neuropsicopedagogo como um
profissional que, por meio de sua formação pessoal, educacional e profissional, bem
como pela aplicação das práticas da Neuropsicopedagogia, busca atender às demandas
sociais. Esse profissional é orientado por padrões técnicos e normas éticas que
asseguram uma relação adequada tanto com seus colegas quanto com a sociedade em
geral, respeitando as especificidades de suas funções. (SBNPP, 2016)
Portanto, o neuropsicopedagogo é o profissional que integra conhecimentos das
neurociências, psicologia e pedagogia para realizar seu trabalho. Este trabalho inclui
diagnóstico, estudo de caso, prevenção e intervenção, utilizando métodos e estratégias
específicas para gerenciar o processo de aprendizagem tanto em ambientes escolares
quanto em contextos clínicos. A investigação abrange o indivíduo que aprende, sua
família, a escola e o ambiente em que está inserido.
O profissional deve reconhecer que ainda há muito a ser explorado e
compreendido, devendo manter-se em constante investigação, mesmo durante a fase
de intervenção, após concluído o diagnóstico. É crucial considerar todas as
potencialidades, fragilidades, progressos e retrocessos ao longo de seu trabalho.
40
O neuropsicopedagogo deve realizar uma autoavaliação constante, recuando e
recomeçando com novas abordagens quando necessário. É essencial que ele seja
criativo o suficiente para adaptar e personalizar metodologias que atendam às
necessidades específicas do sujeito avaliado. O profissional é responsável pelos
resultados de seu trabalho e será reconhecido pela sociedade com base na sua conduta.
É fundamental compreender que toda criança pode aprender a ler e a escrever, mas as
condições para que isso ocorra variam conforme o contexto e o período de formação de
cada indivíduo. O processo de aprendizagem deve estar sempre alinhado com a história
pessoal de cada aluno. (LIMA, 2002)
O Código de Ética (SBNPP, 2016) enfatiza que o neuropsicopedagogo deve tratar
todas as pessoas com respeito, garantindo que seu trabalho também seja respeitado
pela sociedade. O profissional não deve discriminar ou demonstrar preconceito com
base em gênero, raça, etnia, nacionalidade, orientação sexual, classe social, deficiência
ou qualquer tipo de sequela. Sua prática deve estar alinhada com os preceitos e valores
estabelecidos pela legislação nacional de educação, pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição
Federal.
O neuropsicopedagogo deve empregar apenas o conhecimento específico de sua
área em sua prática, reconhecendo as restrições de sua atuação e respeitando o
ambiente em que trabalha, além de colaborar com profissionais de outras áreas
envolvidos no processo de diagnóstico e intervenção, já que se trata de um trabalho
multidisciplinar. Ele também deve considerar suas próprias limitações pessoais em
termos de saúde física, mental e emocional. É essencial que esse profissional evite que
problemas pessoais interfiram em seu desempenho, pois não será tolerada qualquer
forma de violência, agressão, negligência, omissão ou exploração, seja ela de natureza
financeira ou emocional.
O trabalho do neuropsicopedagogo deve se fundamentar na transparência,
responsabilidade e integridade, podendo ser remunerado, exceto em casos de acordos
estabelecidos com organizações filantrópicas e sem fins lucrativos. Conforme
estabelecido pelo Código de Ética da SBNPp, são deveres e responsabilidades
essenciais do neuropsicopedagogo:
Art. 34. Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este código.
41
[...]
Art. 35. Esforçar-se por obter eficiência máxima em seus serviços, mantendo-
se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos, necessários ao
pleno desenvolvimento da atividade.
Art. 36. Assumir, por responsabilidade, somente as tarefas para as quais esteja
habilitado e capacitado pessoal, teórica e tecnicamente.
Art. 37. Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos
da aprendizagem humana que contribuam para o aperfeiçoamento da
Neuropsicopedagogia.
Art. 38. Responsabilizar-se pelas intervenções feitas, fornecer definições claras
do seu parecer ao usuário ou beneficiário e/ou aos seus responsáveis por meio
de discussões feitas a título de exemplos e estudos de casos.
Art. 39. Recorrer a outros especialistas, sempre que for necessário,
desenvolvendo e mantendo relações profissionais pautadas pelo respeito, pela
atitude crítica e pela cooperação com os demais, considerando princípios de
atuação em equipe multiprofissional.
Art. 40. Ter, para com o trabalho de outros neuropsicopedagogos e de outros
profissionais, respeito, consideração e solidariedade, e, quando solicitado,
colaborar com estes em prol dos avanços da Neuropsicopedagogia. (SBNPP,
2016, p. 6)
O profissional da neuropsicopedagogia deve ter o zelo de, caso não consiga
atender ou prosseguir com um atendimento já iniciado, encaminhar o indivíduo a outro
profissional da mesma área que tenha, por sua competência, habilidades éticas e
garantia de excelência para dar sequência ao atendimento. Por outro lado, se receber
um indivíduo para dar continuidade ao trabalho, precisa estar plenamente consciente de
sua capacidade de assumir a responsabilidade desse atendimento com honestidade e
integridade. Caso contrário, deve recusar o atendimento.
No que diz respeito à redação de relatórios externos, quando isso for requerido,
é essencial que as informações fornecidas se limitem estritamente ao que é necessário
para beneficiar o indivíduo, uma vez que os dados são confidenciais e devem proteger
a privacidade daqueles que estão em atendimento. Todos os relatórios elaborados para
estudos de caso devem garantir o anonimato do indivíduo em questão. Conforme
preconizado pelo Código de Ética do neuropsicopedagogo, este profissional não deve
(SBNPP, 2016):
• assumir cargos para os quais não possui qualificação adequada;
• compactuar com comportamentos que violem este código;
• empregar quaisquer formas de coação (como violência, punição, exploração,
ameaças etc.);
• impor tratamento a qualquer indivíduo;
42
• elaborar relatórios e pareceres de pessoas não assistidas ou revelar os daqueles
sob tratamento;
• estender a prestação de serviços com o intuito de ganho financeiro ou outros
benefícios;
• promover serviços divulgando métodos infalíveis sem embasamento adequado;
• ser substituído por pessoa sem qualificação;
• desvalorizar colegas de profissão ou outros profissionais envolvidos na
assistência;
• utilizar a prestação de serviços para autopromoção em mídias sociais ou meios
de comunicação.
Segundo Beauclair (2014), são responsabilidades do neuropsicopedagogo:
• intervir no progresso do indivíduo em aprendizagem, abrangendo os aspectos
psicológicos, neurológicos, motores, linguísticos e cognitivos;
• demonstrar proficiência em todos os aspectos da neuropsicopedagogia:
conceitual, teórica e prática, em relação às diversas problemáticas educacionais
encontradas nos ambientes escolares;
• buscar continuamente novas abordagens educacionais e alternativas inovadoras
para suas práticas profissionais;
• atuar com um conhecimento abrangente sobre educação inclusiva.
Chedid (2007) destaca a importância de ampliar a perspectiva na educação
contemporânea, apontando para a significativa contribuição que o neuropsicopedagogo
pode oferecer nesse campo.
Os estudantes de hoje merecem uma educação exemplar embasada nas mais
recentes descobertas sobre o funcionamento do cérebro. Isso não implica em
desqualificar o trabalho dos professores e das escolas até então, mas sim reconhecer
que novas informações, fundamentadas na biologia da aprendizagem cerebral, podem
aprimorar o processo educacional.
Como o cérebro interpreta os dados que recebe, como ocorre o armazenamento
sensorial, como a memória opera e como os ritmos biológicos influenciam a
aprendizagem e o ensino são algumas das questões que surgem e que estão
começando a ter suas respostas delineadas pela Neurociência. Aqueles que entendem
43
o processo de aprendizagem como uma atividade devem considerar os elementos
cruciais para otimizá-la.
44
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