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Mudanças Socioeconômicas

O texto de Antônio Cabral Neto analisa as mudanças socioeconômicas e políticas que influenciam a política educacional, destacando a crise do modelo keynesiano e a ascensão do neoliberalismo. Ele argumenta que o neoliberalismo, como resposta à crise, reconfigura as políticas educacionais e a gestão escolar, promovendo a desregulamentação e a privatização. O autor enfatiza que essas transformações são parte de um movimento mais amplo de reestruturação do capitalismo e que impactam diretamente a forma como a educação é concebida e administrada.

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Mudanças Socioeconômicas

O texto de Antônio Cabral Neto analisa as mudanças socioeconômicas e políticas que influenciam a política educacional, destacando a crise do modelo keynesiano e a ascensão do neoliberalismo. Ele argumenta que o neoliberalismo, como resposta à crise, reconfigura as políticas educacionais e a gestão escolar, promovendo a desregulamentação e a privatização. O autor enfatiza que essas transformações são parte de um movimento mais amplo de reestruturação do capitalismo e que impactam diretamente a forma como a educação é concebida e administrada.

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PROF. DR.

ANTÔNIO CABRAL NETO

TEXTO BASE PARA CONFERÊNCIA

MUDANÇAS SOCIOECONÔMICAS E POLÍTICAS E SUAS


REPERCUSSÕES NO CAMPO DA POLÍTICA
EDUCACIONAL

NATAL, JANEIRO DE 2012


Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

ANTÔNIO CABRAL NETO

MUDANÇAS SOCIOECONÔMICAS E POLÍTICAS E SUAS


REPERCUSSÕES NO CAMPO DA POLÍTICA
EDUCACIONAL

Texto apresentado à Universidade Federal do


Rio Grande do Norte, como parte das
exigências do concurso público para
provimento do cargo de Professor de 3° grau,
classe Titular, do Centro de Educação –
Departamento de Fundamentos e Políticas da
Educação – Área de Fundamentos Sócio-
históricos e Políticos da Educação – (Edital
nº 17/2011).

Natal, janeiro de 2012


1
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

1 NOTAS INTRODUTÓRIAS

A discussão realizada neste texto parte do pressuposto de que para compreender o


redesenho das políticas educacionais nas últimas décadas precisa-se, necessariamente, situá-
las no contexto socioeconômico e político no qual elas são concebidas e ganham
materialidade. Esse é o percurso metodológico que, a nosso ver, permite o entendimento
adequado da configuração assumida pela política educacional no atual momento. Para atender
a esse pressuposto, o texto organiza-se em duas partes. Na primeira, faz-se uma incursão mais
geral na literatura, procurando delinear as principais mudanças econômicas e políticas
(neoliberalismo, globalização e reestruturação produtiva) que se operam no padrão de
acumulação capitalista nas últimas décadas do século XX e seus desdobramentos na primeira
década do século XXI. Na segunda parte, discute-se como as mudanças ocorridas nesse
cenário (re)configuram as bases da política educacional e lhes dão novos significados;
também se reporta a gestão escolar como uma das diretrizes marcantes dessa política.
Na construção do texto, tem-se, ainda, como pressuposto o fato de que esse novo
cenário, configurado a partir das mudanças ocorridas nas últimas décadas, estabelece-se em
função da crise do padrão anterior fundado nas teses do keynesianismo/fordismo 1. A crise,
segundo a argumentação do campo conservador, decorria, notadamente, porque esse padrão
de organização estatal havia criado uma gama expressiva de expectativas e ampliado, de
forma extensiva, os direitos sociais que haviam onerado, de forma expressiva, as contas
públicas2.

1
A crise do padrão de acumulação capitalista engloba as dimensões econômica, social e a organização do estado.
Na dimensão econômica, a crise incluía recessão, baixa taxa de crescimento, altas taxas de inflação e excessivos
gastos sociais. No âmbito da interpretação neoliberal da crise, o fator preponderante para a sua instauração teria
sido a organização do movimento operário que, em função de seu poder político, havia acumulado ganhos
econômicos que estavam corroendo as bases do sistema capitalista Na dimensão social, configura-se uma crise
do Estado de bem-estar social (Welfare State), modelo que havia sido edificado particularmente nos países do
capitalismo avançado e que pressupunha a produção de políticas públicas universalistas para suprir as
necessidades básicas da população (educação, saúde, previdência, e habitação, por exemplo). Em relação à
organização do Estado, terceira dimensão, constatava-se o esgotamento do Estado intervencionista que
propugnava a ativa intervenção estatal na economia, o pleno emprego e o investimento em ações estratégicas
para o desenvolvimento (telecomunicações e petróleo, por exemplo). Esse modelo de Estado, para os
neoconservadores, havia chegado a uma situação de plena ingovernabilidade, significando, portanto, o fracasso
da estratégia de recomposição do capitalismo engendrada, principalmente, a partir da Segunda Guerra Mundial.
Esse diagnóstico era consensual no espectro das discussões desenvolvidas pelos teóricos do neoliberalismo, que
apontavam a necessidade urgente de reformas para a superação da crise (ANTUNES, 2007; HARVY, 2009;
ANDERSON, 1995; OFFE, 1984).
2
As argumentações formuladas nesse contexto de crise sustentavam que o governo apresentava-se incapaz de
continuar a responder às expectativas e às exigências criadas com essa política. O Estado, em função de sua
insuficiência para enfrentar a carga de expectativas e de exigências que se expressava na diferença entre o
2
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

Os encaminhamentos delineados nesse momento tinham como propósito resolver não


só a crise fiscal do Estado (endividamento decorrente de gastos superiores às receitas) como
também a crise de governabilidade-ingovernabilidade (os governos apresentavam-se
incapazes de resolver os seus problemas); e, ainda, intensificar o processo de globalização e
as transformações tecnológicas (redução do poder dos Estados nacionais para formular
políticas macroeconômicas). O neoliberalismo, a globalização e a reestruturação produtiva
constituem-se, portanto, em dinâmicas de um mesmo movimento com o objetivo de superar a
crise do capitalismo e edificar um novo padrão de acumulação.

2 O NEOLIBERALISMO COMO TERAPIA PARA A CRISE

O neoliberalismo 3 apresenta-se como uma estratégia política e administrativa (OFFE,


2004) para intervir na situação de crise configurada nesse momento. A defesa fulcral situava-
se no sentido de prover reformas em todas as áreas, redimensionar o papel do Estado e reduzir
os gastos públicos na área social. O neoliberalismo 4, apesar de seus pressupostos e de suas
práticas estarem bem delineados no âmbito da vida política, econômica, social, cultural,
apresenta-se sob a aparente forma de neutralidade ideológica. Para atender a essa diretriz,

volume de exigência e a sua capacidade de direção para a concretização, criou uma situação de frustrações para
os setores envolvidos com essas políticas. Essa dinâmica desencadeou uma situação em que os sistemas se
tornam cada vez mais ingovernáveis, resultando em uma quase total dissolução do poder de organização do
Estado, caso não se tomassem medidas urgentes para alterar esse quadro de crise (OFFE, 1984).
3
As primeiras formulações do que se convencionou denominar neoliberalismo datam do período da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), tendo as suas raízes históricas na Áustria. O neoliberalismo parte da idéia de
recuperação e renovação do liberalismo, do livre mercado e da derrota do socialismo. A partir desses
pressupostos, mostra-se contrário à intervenção do Estado na economia e à adoção de políticas amplas de cunho
social, tal como o faz o Estado de bem-estar social. Nesse campo, destacam-se os estudos de Viena (Áustria),
Frankfurt (Alemanha), Chicago (Estados Unidos da América do Norte). Embora essas ideias tenham sido
debatidas nessa conjuntura, é na década de 1940 que elas vão assumir maior visibilidade. Retoma-se com mais
ênfase o argumento que reforça a necessidade de criar as bases de outro tipo de capitalismo marcadamente livre
das regras estabelecidas pelo Estado. Nessas duas conjunturas, entretanto, as condições para a implementação
dessas ideias/estratégias não eram de todo favoráveis, uma vez que o capitalismo avançado estava entrando
numa longa fase de auge sem precedentes – sua idade de ouro –, apresentando o crescimento mais rápido da
história, durante as décadas de 1950 e 1960. Por essa razão, não pareciam muito verossímeis os avisos
neoliberais dos perigos que representavam qualquer regulação do mercado por parte do Estado (HILARY, 1998;
ANDERSON, 1995).
4
Na prática, o neoliberalismo vai se consolidar no contexto das transformações econômicas em escala mundial,
durante o final dos anos 1970 e anos 1980, períodos marcados por uma aguda crise econômica no mundo
capitalista avançado e pela crise do socialismo real (na Alemanha e na União Soviética). O colapso das
economias socialistas que se desenvolveram sob uma forte intervenção do Estado, e também a crise das
economias de países de orientação social-democrata, que, no período pós-segunda guerra mundial, defenderam
maior controle do Estado sobre o mercado, contribuíram, de forma marcante, para o fortalecimento das teses que
santificavam o mercado como o regulador das relações econômicas e sociais. Nessa dinâmica, constrói-se a base
intelectual do liberalismo, fornecendo uma justificativa ideológica do mercado como uma preciosa forma de
ordem social (ANDERSON, 1995; HILARY, 1998; HARVEY, 2008).

3
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

procura escamotear as estruturas e as práticas políticas que propõe e os processos e as relações


de produção que pretende transformar. Isso se torna claro, como diz Hilary (1998), nas
políticas de desregulamentação do mercado, na privatização, na macroeconomia monetarista e
na legislação antissindicalista.
A disseminação das propostas neoliberais foi facilitada por meio de instituições como
o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que tiveram como função
ideológica, nas últimas décadas, converter o neoliberalismo no senso comum, não apenas de
uma época mas de toda humanidade, tornando-o uma ferramenta de controle político e social;
converter o capitalismo na culminação da história humana, a última e mais elevada forma de
organização econômica e social jamais conhecida. Ele se tornou o “senso comum de nossos
tempos, embora seja verdade que sua penetração e importância prática está distribuída de
maneira sumamente desigual, segundo países e regiões” (BORÓN, 1999, p. 8).
No capitalismo “pós-moderno”, como escreve Zizek (2011), a própria economia
consagra a lógica do mercado e da concorrência e se impõe cada vez mais como ideologia
hegemônica. Em razão disso, argumenta o autor, vivemos numa época pós-política de
naturalização da economia: “em regra, as decisões políticas são apresentadas como questões
de pura necessidade econômica; quando medidas de austeridade se impõem, dizem-nos [...]
que isso é simplesmente o que deve ser feito” (ZIZEK, 2011, p. 13).
De fato, a desqualificação política constitui-se em um dos ingredientes estruturantes da
conjuntura que marca a hegemonia do ideário neoliberal, considerando que a pretendida
onipotência das leis de mercado coloca a política em uma posição secundária no contexto das
relações sociais. A política neoliberal, como diz Bourdieu (2001), recorrendo ao léxico da
liberdade, do liberalismo, da desregulamentação, visa conferir um predomínio fatal aos
determinantes econômicos, liberando-os de todo o controle, e submeter os governos e os
cidadãos às economias assim “liberadas”.
O neoliberalismo configura-se, portanto, como uma superestrutura ideológica e
política que acompanha a transformação histórica do capitalismo moderno. Segundo Zizek
(2011, p. 7), firma-se, nesse contexto, um tipo de Estado de emergência econômica, que
necessita de todos os tipos de medidas de austeridade (corte de benefícios, redução dos
serviços gratuitos de saúde e educação, emprego cada vez mais temporários, etc.), e que está
permanentemente em transformação, e vem tornando-se, cada vez mais, em um modo
de viver.
Na concepção neoliberal, o Estado deve favorecer fortes direitos individuais à
propriedade privada, permitir o regime de direito e favorecer as instituições de mercado de

4
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

livre funcionamento e do livre comércio. O arcabouço legal deve incluir obrigações


contratuais livremente negociadas entre indivíduos juridicamente configurados no âmbito do
mercado. De acordo com Harvey (2008), o Estado, para assegurar essa dinâmica, tem de usar
o monopólio dos meios de violência para preservar a todo custo essas liberdades.
Por extensão, considera-se um bem fundamental a liberdade de negócios e corporações para
operar nesse arcabouço institucional de livres mercados e livre comércio.
Assim, a competição é considerada uma virtude primordial. Defende-se que a
privatização e a desregulação, combinadas com a competição, eliminam os entraves
burocráticos, aumentam a eficiência e a produtividade, melhoram a qualidade e reduzem os
custos – tanto os custos diretos ao consumidor (graças a mercadorias e serviços mais baratos)
quanto, indiretamente, mediante a redução da carga de impostos. O Estado neoliberal deve
“buscar reorganizações internas e novos arranjos institucionais que melhorem sua posição
competitiva como entidade diante de outros Estados no mercado global 5” (HARVEY,
2008, p. 76).
O Estado concebe legislação e estruturas regulatórias que favorecem as corporações6
e, em alguns casos, interesses específicos, como energia, produtos farmacêuticos, agronegócio
etc. Em muitas situações das parcerias público/privadas, em especial no nível dos municípios,
o governo assume boa parte dos riscos enquanto o setor privado fica com a maior parte dos
lucros (HARVEY, 2008).
O Estado neoliberal, contraditoriamente, como afirma o autor, precisa de alguma
espécie de nacionalismo para sobreviver.

Obrigado a operar como agente competitivo no mercado mundial e buscando


estabelecer o clima mais favorável possível aos negócios, ele mobiliza o
nacionalismo em seu esforço de sobrevivência. A competição produz
vencedores e perdedores efêmeros na luta global por uma posição, e isso
pode ser em si uma fonte de orgulho nacional ou de busca da essência
nacional (HARVEY, 2008, p. 95).

5
Harvey (2008) lembra que a liberdade pessoal e individual no mercado deve ser garantida a cada indivíduo, que
é julgado responsável por suas próprias ações e por seu próprio bem-estar, do mesmo modo como deve
responder por eles. Esse princípio é aplicado aos domínios do bem-estar social, da educação, da assistência à
saúde e até aos regimes presidenciais. O sucesso e o fracasso individuais são interpretados em termos de virtudes
empreendedoras ou de falhas pessoais (como não investir em seu próprio capital humano por meio da educação),
em vez de serem atribuídos a alguma propriedade sistêmica (como a exclusão de classe que se costuma
atribuir ao capitalismo).
6
Os Estados neoliberais facilitam a difusão da influência das instituições financeiras por meio da desregulação.
No plano internacional, os Estados neoliberais centrais deram ao FMI e ao Banco Mundial, em 1982, plena
autoridade para negociar o alívio da dívida, o que significou, na verdade, proteger da ameaça de falência as
principais instituições financeiras internacionais (HARVEY, 2008).

5
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

Os acordos internacionais entre países, para garantir o regime de direito e as liberdades


de comércio – como os agora incorporados às normas da Organização Mundial do Comércio
– são, na avaliação de Harvey (2008), vitais para o avanço do projeto neoliberal no novo
cenário global. “A competição internacional é tida como algo saudável, considerando que
melhora a eficiência e a produtividade, reduz os preços e, dessa maneira controla as
tendências inflacionárias” (HARVEY, 2008, p. 76).
Esse conjunto de ideias passa a orientar, a partir dos nos 1980, os governos dos
principais países do capitalismo avançado 7. As experiências vivenciadas, nessa época,
demonstravam a hegemonia alcançada pelo neoliberalismo como ideologia. No início, como
lembra Anderson (1995),

somente governos explicitamente de direita radical se atreveram a pôr em


práticas políticas neoliberais [...]. O neoliberalismo havia começado
tomando a social-democracia como sua inimiga central, em países de
capitalismo avançado [...]. Depois os governos social-democratas se
mostraram os mais resolutos em aplicar políticas neoliberais (ANDERSON,
1995, p. 14).

Em um balanço sobre o neoliberalismo em países de capitalismo avançado, Anderson


(1995) diz que o neoliberalismo, apesar de haver conseguido êxito em quase todos os aspectos
(estabilidade monetária, restauração da taxa natural de desemprego, reformas fiscais, tornar os
estados mais enxutos, porém mais forte), foi muito débil na materialização de sua principal
pretensão: revitalizar o capitalismo avançado. Destaca que, embora todas as condições
institucionais tenham sido criadas em favor do capital, a taxa de acumulação, ou seja, da
efetiva inversão em um parque de equipamentos produtivos, não cresceu durante os anos
oitenta; ao contrário, caiu em relação aos seus níveis já médios dos anos setenta8.

7
Os neoliberais desse período (Thatcher, por exemplo) contraíram a emissão monetária, elevaram as taxas de
juros, baixaram drasticamente os impostos sobre os rendimentos altos, aboliram controles sobre os fluxos
financeiros, criaram níveis de desemprego massivo, reprimiram as greves, impuseram uma nova legislação
antissindical e cortaram gastos sociais. E, finalmente, se lançaram num amplo programa de privatização,
começando por habitação pública e passando, em seguida, à indústria básica como o aço, a eletricidade, o
petróleo, o gás e a água (ANDERSON, 1995).
8
No conjunto dos países do capitalismo avançado, segundo Anderson (1995), as cifras são de um incremento
anual de 5,5% nos anos 60; de 3,6%, nos anos 70; e nada mais do que 2,9% nos anos oitenta. O peso de
operações puramente parasitárias teve um incremento vertiginoso nesses anos 1980. Por outro lado, o peso do
Estado de bem-estar não diminuiu muito, apesar de todas as medidas tomadas para conter os gastos sociais.
Embora o crescimento da proporção do Produto Interno Bruto nacional consumida pelo Estado tenha sido
notavelmente desacelerado, a proporção absoluta não caiu, mas aumentou de 46% para 48% do PNB médio dos
países da OCDE durante a década de 1980. Dois aspectos explicam esse paradoxo: o aumento dos gastos sociais
com o desemprego, que custaram bilhões ao Estado, e o aumento demográfico dos aposentados na população,
que levou o Estado a gastar outros bilhões em pensão. Essa situação é também revelada por King (1998), que,
ao analisar os programas sociais dos governos Thatcher e Regan, constata que esses governos, apesar dos
esforços crescentes para restringir o tamanho agregado do setor público, não conseguiram grandes êxitos, ainda
6
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

Observa-se que a desregulamentação financeira, que foi um elemento importante do


programa neoliberal, criou condições mais propícias para a inversão especulativa do que
produtiva9. Durante os anos oitenta, aconteceu uma verdadeira explosão dos mercados de
câmbio internacionais, cujas transações, puramente monetárias, acabaram por diminuir o
comércio mundial de economias reais. O fracasso econômico do neoliberalismo no
capitalismo avançado 10, como atesta Anderson (1995), não repercute com a mesma ênfase no
seu desenvolvimento ideológico. A agenda política11 prossegue sendo orientada pelos
parâmetros do neoliberalismo, mesmo quando seu momento de atuação econômica parece
enfrentar uma crise com efeitos ainda não previsíveis naquela época.
É evidente que o desenvolvimento de políticas neoliberais criou sociedades mais
desiguais, tanto no capitalismo desenvolvido quanto no periférico, mas foi, nesse último, que
os efeitos foram mais visíveis. As sociedades são mais divididas e mais injustas, e os homens
e as mulheres vivem sob renovadas ameaças econômicas, trabalhistas, sociais e ecológicas
(ANDERSON, 1995, BORÓN, 1995; THERBORN, 1995).
O neoliberalismo não se implanta, todavia, de forma tranquila e sem contestação.
Embora tenha assumido dimensão hegemônica não se implementou sem que houvesse uma
reação de setores da sociedade que, mesmo pouco articulados, em decorrência da sua

que sua taxa de crescimento tenha sido reduzida. Resende (2002) demonstra que governos de países mais ricos
interferem mais na economia e na sociedade, exercem mais intervenção social e são aqueles que menos se
movimentam na direção do que a literatura internacional convencionou chamar de Estado mínimo. Ressalta,
ainda o referido autor, que, se existe Estado mínimo, ele não está em países mais ricos, mas nos países de renda
menor. HARVEY (2009) chama a atenção para o fato de que esse Estado é mínimo apenas para o social, pois, na
verdade, o Estado é máximo para o capital, uma vez que é chamado a regular as atividades do capital corporativo
no interesse da nação e é forçado, ao mesmo tempo, também, no interesse nacional, a criar um bom clima de
negócios, para atrair o capital financeiro transnacional e global e conter (por meios distintos dos controles de
câmbio) a fuga do capital para regiões mais lucrativas.
9
Chesnais (1995) assinala que esse momento inaugura um novo regime mundial de acumulação, cujo
funcionamento dependeria das prioridades do capital privado altamente concentrado – o capital aplicado na
produção de bens e serviços, mas, também, de forma crescente, do capital financeiro centralizado, mantendo-se
sob a forma de dinheiro e obtendo rendimento como tal. Trata-se, segundo o autor, de acumulação
predominantemente rentista e parasitária, sendo que o seu caráter rentista envolve também o capital produtivo.
10
A crise que se instaura na década de 1990 fez com que todos os índices econômicos se tornassem muito
sombrios nos países da OCDE; naquela época, havia cerca de 38 milhões de desempregados, aproximadamente
duas vezes a população total da Escandinávia. Nessas condições de crise muito aguda, pela lógica, era de se
esperar uma forte reação contra o neoliberalismo nos anos 1990. Isso não correu; ao contrário, ele ganhou um
segundo alento, principalmente na Europa, seu berço natal, expresso nos seguintes fatos: a eleição de Major na
Inglaterra, em 1992; na Suécia, a social democracia, que havia resistido ao avanço neoliberal nos anos 1980, foi
derrotada por uma coalizão unida de direita em 1991; o socialismo francês saiu bastante desgastado na eleição de
1993; na Itália, Berlusconi chega ao poder apoiado por uma frente na qual um dos integrantes era um partido
oficialmente fascista até recentemente; na Alemanha, o governo Kohl continuou no poder (ANDERSON 1995).
11
O neoliberalismo impôs o seu programa em escala mundial, e, inclusive, mudou, para o seu proveito, o sentido
das palavras. O vocábulo “reforma”, que antes da era neoliberal tinha uma conotação positiva e progressista – e
que, fiel a uma concepção iluminista, remetia a transformações sociais e econômicas orientadas para uma
sociedade mais igualitária, democrática e humana – foi apropriado e “reconvertido” pelos ideólogos do
neoliberalismo num significante que alude a processos e transformações sociais de claro sinal involutivo e
antidemocrático (BORÓN, 1999, p. 11).
7
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

desmobilização e despolitização, respondeu às suas investidas. Entretanto, as diversas formas


de resistência social a esse projeto não foram capazes de criar uma alternativa viável que fosse
suficiente para o enfrentamento mais orgânico ao neoliberalismo; nem mesmo de impedir a
implementação de estratégias limitadoras de direitos já conquistados.
O neoliberalismo, embora suponha que os indivíduos sejam livres para escolher, não
supõe que eles escolham organizar instituições coletivas fortes, como sindicatos combativos.
A liberdade é para criar associações voluntárias, politicamente frágeis e dependentes do
Estado. Como diz Harvey (2008), diante de movimentos sociais que buscam intervenções
coletivas, o Estado neoliberal intervém, por vezes, repressivamente, negando assim as
próprias liberdades de que supõe ser o defensor. Nessa situação, ademais, a competição
internacional e a globalização podem ser usadas “para disciplinar os movimentos opostos ao
programa neoliberal em Estados individuais. A liberdade das massas teria de ser restringida
em benefício da liberdade dos poucos” (HARVEY, 2008, p. 80).
O Estado neoliberal, se necessário, como evidencia Harvey (2008), recorre, também, a
legislações coercitivas e táticas de policiamento para dispersar ou reprimir formas coletivas de
oposição ao poder corporativo.
Os acontecimentos que se configuram a partir dos últimos anos da década de 1980 do
século passado, e se aprofundam por toda a década de 1990 (e nos anos subsequentes) se
apresentam como sinais incontestes da insuficiência das estratégias neoliberais para superação
da crise, principalmente, no campo econômico (ANDERSON, 1995; BORÓN, 1999).
Todavia, muitas das estratégias políticas do neoliberalismo, no que se refere ao papel do
Estado, continuam sendo referência para governos, ainda que com outras características. O
debate, hoje, indica que é necessário, diante da crise, rever o papel do Estado; e a defesa no
campo teórico situa-se na direção de delinear o que na literatura se convencionou chamar de
Estado neo-social12.

12
Para uma discussão sobre o estado neo-social, consultar, dentre outros, Silva (2009), para quem as crises
econômico-financeiras, que se instalaram desde o final do ano 2008, impõem uma nova metamorfose ao Estado.
Parte da premissa de que a volta ao Estado social ou mudanças no padrão de Estado regulador neoliberal não
seriam mais plausíveis. Prevê a emergência de um novo padrão estatal que denomina Estado neo-social. Esse
Estado seria repolitizado, de modo que os imperativos econômicos, orientados para o crescimento da riqueza e
para os rendimentos agregados, darão lugar a preocupações centradas numa redistribuição mais equitativa da
riqueza gerada pelo mercado, e a imperativos de legitimidade política ou de legitimação substantiva do regime
democrático. O Estado neo-social distingue-se do Estado regulador pela relativa valorização dos imperativos de
ordem social e política face aos imperativos de estabilidade macroeconômica, embora dele herde características
como: a indispensabilidade do mercado competitivo na geração da riqueza, a rejeição do paternalismo de Estado,
que por vezes acompanhou o modelo social, e a devolução de algumas das responsabilidades pelo bem-estar das
populações para outros níveis que não o estatal.
8
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

3 GLOBALIZAÇÃO EM TEMPOS NEOLIBERAIS

A globalização constitui-se em um fenômeno que vem sendo desenvolvido pelo


capitalismo desde o seu nascedouro. Ela é um traço imanente ao modo de organização e
produção capitalista. Entretanto, ao longo dos anos, ela vem se modificando e assumindo
novas características que estão em articulação com as transformações em curso na sociedade
capitalista. Nesse sentido, consideramos pertinente a análise de Castells (2001), que diferencia
economia mundial de economia global. Para ele, a economia mundial, em que a acumulação
do capital avança por todo o mundo, existe no ocidente, no mínimo desde o século XVI. Uma
economia global13 é algo diferente:

é uma economia com capacidade de funcionar como uma unidade em tempo


real, em escala planetária. Embora o modo capitalista de produção seja
caracterizado por sua expansão contínua, sempre tentando superar limites
temporais e espaciais, foi apenas no final do século XX que a economia
mundial conseguiu tornar-se verdadeiramente global com base na nova infra-
estrutura, propiciada pelas tecnologias da informação e comunicação. Essa
globalidade envolve os principais processos e elementos do sistema
econômico (CASTELLS, 2001, p. 111).

Segundo Jameson (2001b), a globalização, na sua fase atual, postula um novo estágio
multinacional do capitalismo, do qual a globalização, quase sempre associada à assim
chamada pós-modernidade, é uma característica intrínseca. Para esse autor,

a globalização é um conceito comunicacional que ora mascara ora transmite


significados culturais ou econômicos. Sabemos que hoje há, no mundo todo,
redes de comunicação mais intrincadas e extensas que são, por um lado, um
resultado de inovações notáveis na tecnologia de comunicação, e, por outro,
dependem da ampliação tendencial da modernização em todos os países do
mundo, ou pelo menos em suas grandes cidades, o que inclui a
implementação dessa tecnologia. Mas um conceito de globalização que
enfoque apenas as comunicações é essencialmente incompleto. O progresso
nas comunicações em nossos dias não é mais relacionado ao “iluminismo”,

13
Castells (2001) denomina de informacional a nova economia global que surge em larga escala nas últimas
décadas. É Informacional, segundo ele, porque a produtividade ou agentes nessa economia (sejam empresas,
regiões ou nações) dependem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a
informação baseada em conhecimento. É global porque as principais atividades produtivas, o consumo e a
circulação, assim como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação,
tecnologia e mercados) são organizados em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre
agentes econômicos. É informacional e global porque, sob novas condições históricas, a produtividade é gerada,
e a concorrência é feita em uma rede global de interação.

9
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

em todas as conotações do termo, são simplesmente um progresso em novas


tecnologias (JAMESON, 2001b, p. 45).

Em suas análises do processo de globalização, Jameson (2001a) identifica cinco níveis


distintos, mas que se articulam nessa fase de desenvolvimento da sociedade capitalista: o
tecnológico, o político, o cultural, o social e o econômico.
O nível tecnológico refere-se à nova tecnologia de comunicação e da revolução da
informação, inovações essas que não se limitam ao campo da comunicação no sentido restrito,
mas que também têm impacto na produção e na organização industrial, bem como no mercado
de bens de consumo.
Ocorre, nesse momento, a intensificação de transferência financeira e investimentos
por quase todo o mundo; as novas redes começam a se expandir com o comércio do
denominado capitalismo flexibilizado. A nova produção flexível tornou-se possível pela
informatização (o que nos leva de volta ao tecnológico); os próprios computadores e seus
programas e afins estão hoje entre as formas mais frequentes de troca de mercadorias entre as
nações. Desse modo, um conceito ostensivamente comunicacional foi se transformando em
uma visão de mercado mundial e de sua recém-descoberta interdependência, uma divisão
global do trabalho em escala extraordinária e novas rotas eletrônicas de comércio
incansavelmente exploradas, tanto pelo próprio comércio quanto pelas finanças (JAMESON,
2001b, p. 46).
O nível político refere-se ao enfraquecimento do Estado-nação. Na era da globalização,
evidencia-se que o Estado-nação, no geral, perde importância porque novos espaços são
desenhados, novas redes de poder são articuladas, novas racionalizações são elaboradas,
novas dialéticas surgem: o nacional, o regional, o local são colocados a serviço do novo
modelo econômico global transnacional e transcultural.
O Estado nacional tende a se enfraquecer nessa dinâmica para ceder lugar ao que
Gamboa (2001) denomina de Proto-Estado-Global, o qual representa os interesses da nova
divisão de classes da sociedade global. O Grupo G-7, a OTAN, o GATT, o FMI e o BM são
todos eles elementos constitutivos do Proto-Estado-Mundial que tem cumprido funções
normativas e de imposição repressiva dos interesses transnacionais no nível planetário.
Entretanto, Jameson (2001a) diz que permanece, na globalização, um destacado e
crescente poder de influência dos Estados Unidos 14, expressa no poderio econômico e militar,

14
Temos agora o terceiro estágio, no qual os Estados Unidos adotam uma estratégia fundada em três pontos:
armas nucleares somente para os Estados Unidos; direitos humanos e democracia ao estilo americano; limites à
10
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

e que quando nos referirmos ao enfraquecimento dos Estados-nação, estamos, na verdade,


caracterizando a subordinação dos demais Estados-nação ao Estado americano, quer pela via
do consentimento e da colaboração, quer pelo uso da força e da ameaça econômica.
A globalização constrói um sistema, ao qual se encontram submetidos quase todos os
países com desvantagens claras, em relação aos países de economias mais frágeis. Como
assinala Ianni (1995, p. 34), a soberania do Estado-nação “não está sendo simplesmente
limitada, mas abalada pela base. Em função das novas relações estabelecidas, em nível
internacional, as organizações multilaterais passam a exercer as funções de estruturas
mundiais de poder (FMI, BIRD, G-7, OTAN)”.
Os Estados nacionais vêm, de fato, perdendo poder na era da globalização,
notadamente aqueles de menor importância econômica; mas esse ente jurídico não deixou de
cumprir funções essenciais no processo de globalização. Como argumenta Castells (2001,
p. 115), “a tese da globalização, em sua versão simplista, ignora a persistência do Estado-
nação e o papel do governo na definição da estrutura e na dinâmica da nova economia”.
Segundo o autor, os estudos mostram que a regulamentação e as políticas governamentais
afetam as fronteiras internacionais e a estrutura da economia global.

Por causa da persistência das nações e governos nacionais e devido ao papel


dos governos que usam a concorrência econômica como ferramenta de
estratégia política, é provável que fronteiras e separações entre as principais
regiões econômicas continuem a existir por muito tempo, estabelecendo uma
diferenciação regional da economia global (CASTELLS, 2001, p. 117).

Há uma contradição essencial na lógica do livre comércio delineada nesse contexto.


Para que se consolide um sistema com características de livre comércio, independente da ação
de governo, é necessária uma enorme “intervenção desses governos e, de fato, uma
concentração de poderes. O livre comércio não se instala naturalmente; precisa ser criado por
uma legislação firme e por outros meios de intervenção 15” (JAMESON, 2001a, p. 144).

imigração e ao fluxo da mão de obra (não tão abertamente). Acrescenta, ainda, a essas uma outra política crucial:
a propagação do livre mercado por todo o globo. Apenas os Estados Unidos assumirão o papel de polícia do
mundo e farão cumprir sua ordem por meio de intervenções selecionadas (principalmente bombardeios
realizados a grande altitude) em várias áreas supostamente perigosas. Os Estados Unidos querem que
consideremos os interesses americanos como universais (JAMESON, 2001a).
15
Todavia, a tendência geral predominante aponta para a crescente interpenetração dos mercados, em particular,
após o razoável sucesso da Rodada do Uruguai do GATT, a criação da Organização Mundial do Comércio, a
unificação europeia, a assinatura do Acordo norte-americano de Livre Comércio, a intensificação dos
intercâmbios econômicos com a Ásia, a incorporação gradual da Europa Oriental e da Rússia na economia global
11
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

Entretanto, reafirma-se que, além dos limites nacionais, se amplia um mercado único e
global e o espaço delimitado das nações tornou-se cada vez mais fragilizado.
No nível cultural, a globalização manifesta-se por um movimento de busca da
padronização da cultura mundial, com a secundarização das culturas16 populares e tradicionais
locais para abrir caminho, na argumentação de Jameson (2001a), à televisão, à música, à
comida, às roupas e aos filmes americanos. Sem sombra de dúvida, esse processo resulta,
inclusive, do domínio econômico capaz de provocar situações de fragilização intensa da
indústria cultural local, favorecendo, sobremaneira, os seus concorrentes americanos.
A globalização procura materializar uma tendência à homogeneização de valores e
com padronizações de formas de pensar e de agir. Porém, as tensões e as complexidades da
era da globalização implicam dimensões tais como: integração e fragmentação, diversidade e
desigualdade. “O cenário global não atua só por inclusão, atua também por exclusão; esta
nova realidade é múltipla: incorpora regionalismos, nacionalismos e fanatismos religiosos”
(NOE, 1997, p. 331).
A dimensão social refere-se à cultura do consumo 17 na medida em que o econômico se
articula com o social. Como parte da vida cotidiana, a “cultura do consumo” é, de fato, parte
integrante do tecido social e dificilmente pode ser isolado dele (JAMESON, 2001a).
A dimensão econômica da globalização articula-se com as demais formas, quer seja no
controle das novas tecnologias, no fortalecimento de interesses geopolíticos, quer seja, nesses

e o papel cada vez mais importante desempenhado pelo comércio e pelo investimento estrangeiro no crescimento
econômico de todos os lugares. Além disso, a integração quase total dos mercados de capital confere a todas as
economias uma interdependência global (CASTELLS, 2001).
16
Nesse temor da aniquilação cultural, surgem, com frequência, respostas que subestimam a força do
imperialismo cultural, tentando fazer crer que o sucesso mundial da cultura de massa norte-americana não é
assim tão grande. Invocam como testemunho, por exemplo, a identidade indiana que resiste tenazmente ao poder
de uma cultura anglo-saxônia importada, cujos efeitos continuam a ser meramente superficiais. Pode até haver
uma cultura europeia intrínseca que jamais chegara a ser americanizada. O que não fica claro é se essa defesa
dita “natural” contra o imperialismo cultural requer ações explícitas de resistência, um programa político-cultural
(JAMESON, 2001a).
17
A produção de bens de consumo é agora um fenômeno cultural: compra-se o produto tanto por sua imagem
quanto por sua utilidade imediata. Esse é o movimento da economia para a cultura; mas há também um
movimento, não menos importante, no sentido da cultura para a economia. Trata-se da indústria do
entretenimento, uma das principais e mais lucrativas fontes de exportação dos Estados Unidos (juntamente com
as de material bélico e de alimentos). A cultura torna-se inquestionavelmente uma questão econômica e esse tipo
de economia, em especial, define claramente o programa político, ditando o que deve ser feito. Tudo indica que
hoje em dia a forma mais evidente de imperialismo pós-moderno – até mesmo de imperialismo cultural é essa
que se exerce por meio do NAFTA, do GATT, do MAI e da OMC. Isso se dá, principalmente, porque essas
instituições se constituem em exemplos didáticos da perda de contornos nacionais, da confluência, em vários
níveis distintos (do econômico, do cultural e do político) que caracterizam a pós-modernidade e oferecem uma
estrutura fundamental à globalização. As corporações transacionais foram o primeiro sinal e sintoma da forma
que o nosso capitalismo assumiu, dando causa a temores políticos da possibilidade de uma nova espécie de
duplicidade de poderes, com a preponderância desses poderes supranacionais sobre os governos nacionais
(JAMESON, 2001a).
12
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

tempos “pós-modernos”, levando a instância cultural a, finalmente, dissolver-se na instância


econômica – e a econômica na cultural.
No contexto da globalização econômica, o sistema de câmbio internacional e o fluxo
de capital financeiro emanciparam-se do controle dos bancos nacionais 18. Não se trata de
importação e exportação de bens de consumo ou investimentos entre diversas economias
nacionais, senão de uma nova divisão do trabalho entre as empresas multinacionais. “A norma
é produzir onde os salários são mais baixos, investir onde as leis são mais generosas e usufruir
lucros onde os impostos são menores” (GAMBOA, 2001, p. 97). Por outro lado, não houve
uma globalização do movimento trabalhista a ponto de poder esboçar uma reação a esse
movimento do capital.
Embora a economia assuma características globais, ela se expressa, também, na
formação de blocos regionais 19. A ideia de uma economia global regionalizada não
representa, em essência, uma contradição conceitual. Como assinala Castells (2001, p. 120),

Há, de fato, uma economia global porque os agentes econômicos operam


em uma rede global de interação que transcende as fronteiras nacionais e
geográficas. Mas essa economia é diferenciada pelas políticas, e os governos
nacionais desempenham um papel importante nos processos econômicos.
No entanto, a unidade da contabilidade econômica é a economia global, pois
é nessa escala global que ocorrem atividades estratégicas produtivas e
comerciais, bem como acumulação de capital, geração de conhecimentos e
gerenciamento da informação.

A diferenciação política desse sistema global define, na interpretação do referido


autor, os processos econômicos e determina as estratégias dos agentes da concorrência. Nesse
sentido, a regionalização interna é um atributo sistemático da economia informacional/global.
Embora a economia internacional afete o mundo inteiro e, nesse sentido, seja global
mesmo, a maior parte das pessoas do planeta não trabalha para a economia

18
Um especulador (megainvestidor) pode operar em dólares ou em euros no Japão ou no México. Uma empresa
japonesa pode obter empréstimos em marcos nos Estados Unidos e as mercadorias podem ser produzidas em
Cingapura ou no Brasil, montada em Hong Kong, exportada por alguma agência situada no Caribe e aparecer
como exportação do México e vendida no Uruguai (GAMBOA, 2001, p. 97).
19
A diversificação interna da economia global é, hoje, representada por três regiões principais de influência:
América do Norte (inclusive Canadá e México, depois do NAFTA); União Europeia; Região do Pacífico
Asiático, concentrada em torno do Japão, mas com peso crescente da Coréia do Sul, da Indonésia, do Taiwan, de
Cingapura, e da China. Esta última região parece ser a mais dinâmica, porém a mais vulnerável devido a sua
dependência da abertura dos mercados das outras regiões. Criou-se em torno de cada uma das regiões
hinterlândia econômica, e, pouco a pouco, alguns países foram incorporados na economia global, geralmente
por intermédio das regiões dominantes que são seus vizinhos geográficos: a América do Norte para a América
latina; a União Européia para a Europa Oriental, Rússia e Sul do Mediterrâneo; o Japão e a região do Pacífico
Asiático para o restante da Ásia, bem como para a Austrália e Nova Zelândia e, talvez, para a região Russa do
Pacífico, Sibéria Oriental e Cazaquistão; a África continua dependente de ex-redes de economias coloniais e
parece cada vez mais marginalizada da economia global; o Oriente Médio, no geral, está integrado nas redes
globais financeiras e de fornecimento de energia, embora altamente dependente dos avatares da geopolítica
mundial (CASTELLS,2001).
13
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

internacional/global nem compra seus produtos20. Entretanto, todos os processos econômicos


e sociais relacionam-se à lógica da estrutura dominante nessa economia.

4 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO


NEOLIBERAL

O padrão de acumulação capitalista fundado no taylorismo/fordismo, como já foi


assinalado, entrou em crise desde o final da década de 1960, tendo-se aprofundado a partir da
década de 1970. Para responder a essa crise, era preciso, pois, rearticular um conjunto de
estratégias para construir um novo padrão de acumulação e de reprodução capitalista em
novas bases: a diretriz central era superar a rigidez do modelo taylorista/fordista pautando-se
na integração e na flexibilização, redesenhando, dessa forma, uma nova engenharia
de produção.
Essa alternativa foi sendo consubstanciada, dentre outras medidas, pelo investimento
maciço na produção de conhecimentos científicos e de sua aplicação tecnológica no sistema
produtivo. Nesse contexto, observa-se o desenvolvimento da microeletrônica, especialmente
da informática (base material das grandes descobertas desse momento), da biotecnologia
(potencializadora da agricultura de forma intensiva) e dos novos materiais (a combinação das
novas fibras sintéticas permite ultrapassar limites impostos pelos recursos naturais).
Essas mudanças propiciam uma reorganização (gestão) do processo de produção e do próprio
trabalho, representando, por conseguinte, uma nova fase do capitalismo, calcado na
flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados dos produtos e dos padrões de consumo.
A acumulação flexível é marcada, segundo Harvey (2009, p. 140),

[...] por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na


flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos
produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores
de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de
serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.

Nesse contexto, a produção em larga escala foi substituída pela produção em pequenos
lotes, sem estoques, com uma acentuada variedade de produtos, de maneira que atendessem às

20
A economia global não abarca todos os processos econômicos do planeta, não abrange todos os territórios e
não inclui todas as atividades das pessoas, embora afete, direta ou indiretamente, a vida de toda a humanidade. O
novo sistema econômico global é muito dinâmico e, ao mesmo tempo, mantém alta dose de exclusão e fronteiras
muito instáveis. Embora os segmentos predominantes de todas as economias nacionais estejam ligados à rede
global, segmentos de países, regiões, setores econômicos e sociedades locais estão desconectados dos processos
de acumulação e consumo que caracterizam a economia informacional/global (CASTELLS, 2001).
14
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

necessidades do mercado. Essa mudança permitiu, como assinala Harvey (2009), uma
aceleração no ritmo de inovação e no tempo de vida de um produto 21. Antes, não havia uma
diversificação tão grande nos modelos e nos preços dos produtos tal como existe atualmente.
São colocadas cotidianamente no mercado inovações tecnológicas que produzem, por sua vez,
novos padrões de consumo.
A redução da vida útil dos produtos está em plena articulação com o propósito de
aumentar a velocidade do ciclo reprodutivo do capital. Isso atende ao pressuposto de que os
produtos tenham cada vez menos duração, de modo que possam ser repostos de forma rápida
no mercado. Cria-se, nesse processo, conforme o autor, um constante incentivo por parte das
empresas para que haja uma tendência restritiva do valor de uso das mercadorias com o
propósito de se manterem no ranking competitivo presente em seu ramo produtivo. Isso
ocasiona uma crescente produção do supérfluo, do descartável e o consumo exacerbado sem
relação direta com as reais necessidades dos indivíduos.
A acumulação flexível22 é fundada em um padrão produtivo avançado organizacional
e tecnologicamente, e estruturado a partir da introdução de técnicas de gestão da força de
trabalho referente à fase informacional (utilização de computadores no processo produtivo e
de serviços) do desenvolvimento do capitalismo.
Esse modo de organização do processo produtivo exige um novo perfil de trabalhador,
o qual se insere em um cenário de desespecialização operária, uma vez que o processo de
organização do trabalho substituiu o operário parcelar pelo polivalente, de modo que ele passa
a realizar diferentes e múltiplas tarefas. Em algumas empresas, há constante troca de
funcionários nos diferentes setores com o objetivo de que eles conheçam as diversas
atividades desenvolvidas, o que contribui também para reduzir gastos com seleção, novas
contratações e treinamento de pessoal (ANTUNES, 2007).
Em qualquer área de atuação profissional, exige-se que o trabalhador seja um
“excelente” técnico; mas, acima de tudo, ele deve ser um profissional empreendedor

21
A meia vida de um produto fordista típico, por exemplo, era de cinco a sete anos, mas a acumulação flexível
diminuiu isso em mais da metade em certos setores (como o têxtil e o do vestuário), enquanto em outros, tais
como as chamadas indústrias de “thoughtware” (por exemplo, videogames e programas de computador), a meia
vida está caindo para menos de dezoito meses. A acumulação flexível foi acompanhada na ponta do consumo,
portanto, por uma atenção muito maior às modas fugazes e pela mobilização de todos os artifícios de indução de
necessidades e de transformação cultural que isso implica (HARVEY, 2008, p. 148).
22
Para Antunes (2007), a produção flexível está essencialmente vinculada à demanda, objetivando atender as
necessidades mais individualizadas do mercado consumidor; tem como base o trabalho operário em equipe, com
multivariedade de funções; é organizada de forma que o trabalhador opera simultaneamente em várias máquinas;
busca a melhoria do aproveitamento do tempo, utilizando o princípio just in time; utiliza o sistema de kanban,
placas ou senhas de comando para repor peças e produtos do estoque; adota uma estrutura horizontalizada nas
empresas, inclusive nas terceirizadas; é organizada em Círculos de Controle de Qualidade (CCQs) nos quais os
trabalhadores, em grupo, são estimulados pelo capital a discutir seu trabalho e desempenho, como estratégia de
melhorar a produtividade da empresa.
15
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

(dinâmico, criativo), que tenha habilidade para trabalhar em grupo e esteja, permanentemente,
empenhado em buscar soluções flexíveis, rápidas e eficazes para as diversas situações
enfrentadas no local de trabalho. Incentiva-se uma organização do trabalho baseada na
cooperação, assim como no incentivo à participação dos trabalhadores no delineamento de
projetos e ações que promovam o aperfeiçoamento do processo de produção. São
desenvolvidas funções de diagnosticar e resolver problemas, manutenção e controle de
qualidade nos próprios postos de trabalho.
Esse incentivo à participação dos trabalhadores tem sido utilizado, pelos detentores do
capital, como uma estratégia para aumentar os níveis de motivação dos funcionários no
sentido de que eles se sintam comprometidos com os objetivos traçados e resultados atingidos
pela empresa. A participação e o comprometimento do trabalhador com os objetivos da
empresa representam, no entanto, uma nova forma de exploração, que se revela de maneira
mais sutil no contexto de reordenamento do capital. A subjetividade do trabalhador passa a ser
objeto de exploração do capital na medida em que se exige um maior comprometimento do
sujeito na produção capitalista.
Os paradigmas produtivos centrados na acumulação flexível criam novos mecanismos
de expansão do capital, assim como propiciam a intensificação das condições de exploração
da força de trabalho.
Em relação ao mercado de trabalho, observa-se que ele tem passado por uma
reestruturação intensa resultante de fatores tais como: excessiva volatilidade do mercado,
aumento da competição e do estreitamento das margens de lucro, enfraquecimento do poder
sindical e quantidade excessiva de mão de obra excedente composta por desempregados ou
subempregados (HARVEY, 2009).
Ao se apropriarem das vantagens advindas desse cenário, os empresários passaram a
impor contratos de trabalho mais flexíveis de modo que as necessidades específicas de cada
empresa sejam atendidas. Uma das estratégias que tem sido comum em determinadas
empresas é fazer com que o empregado trabalhe “bem mais em períodos de pico de demanda,
compensando com menos horas em períodos de redução da demanda” (HARVEY,
2009, p. 143).
Harvey (2009), ao discutir a estrutura do mercado de trabalho no contexto da
acumulação flexível, subdivide a classe trabalhadora em dois grupos: um do centro e outro da
periferia, este último está subdividido em dois subgrupos bem distintos.
O centro é constituído pelo grupo que tem diminuído progressivamente. É formado
por empregados em tempo integral que gozam de boas perspectivas de promoção, de
16
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

formação, de uma pensão, um seguro, dentre outras vantagens. Para isso, deve atender às
exigências de ser adaptável e flexível e, caso haja necessidade da empresa, geograficamente
móvel.
A periferia, que é composta de dois subgrupos, possui características bem distintas do
anterior. O primeiro subgrupo é constituído por empregados em tempo integral, que possuem
habilidades fáceis de ser encontradas no mercado de trabalho. Dentre eles encontram-se o
pessoal do setor financeiro, as secretarias, e o pessoal que atua nas áreas de trabalho rotineiro
e manual menos especializado (HARVEY, 2009).
O segundo subgrupo periférico tem crescido significativamente nos últimos anos e é
composto por empregados que dispõem de uma flexibilidade numérica maior e,
consequentemente, de menos segurança no emprego. Dentre os empregados que compõem
esse subgrupo estão: empregados em tempo parcial, empregados casuais, pessoal com
contrato por tempo determinado, temporários, subcontratados e treinados com subsídio
público (HARVEY, 2009).
Essa reestruturação do mercado de trabalho, no geral, coloca em segundo plano os
direitos dos trabalhadores: os direitos de pensão, coberturas de seguro, níveis salariais dignos
e estabilidade no emprego têm sido rebaixados ao segundo plano no quadro geral de
reestruturação do mercado de trabalho, intensificando ainda mais a precarização e a
exploração da classe trabalhadora pelo capital. Nesse cenário, acelera-se a tendência do
mercado de trabalho em “reduzir o número de trabalhadores centrais e empregar cada vez
mais uma força de trabalho que entra facilmente e é demitida sem custos quando as coisas
ficam ruins” (HARVEY, 2009, p. 144).
Essa lógica atinge de forma acentuada a classe trabalhadora e tem contribuído para o
aumento no número de trabalhadores que compõem o quadro do desemprego estrutural23.
Também estabelece novas relações entre capital e trabalho expressas no âmbito da nova
configuração do capitalismo, que, fundado no processo de reestruturação produtiva, tem
utilizado estratégias que visam intensificar novos tipos de controle e de exploração do

23
Frigotto (2005) chama a atenção para o aspecto de que as políticas neoliberais e a hegemonia do capital
especulativo, assim como o desenvolvimento produtivo focalizado na incorporação da ciência e tecnologia
contribuíram para a propagação do desemprego estrutural e do trabalho precarizado. O autor destaca três
tendências que compõem o quadro de desemprego nos últimos anos: a) desestabilização dos trabalhadores
estáveis (eles constituem aproximadamente um terço da população economicamente ativa do mundo), fenômeno
provocado pela desestabilização, que se dá pela crescente incorporação de novas tecnologias ao processo de
produção e a consequente intensidade do trabalho e da exploração e pela permanente ameaça de perda do
emprego; b) instalação da precariedade do emprego, mediante a flexibilização do trabalho, trabalho temporário,
terceirização etc.; c) aumento crescente de sobrantes (trata-se de contingentes não integrados e não integráveis ao
mundo imediato da produção).
17
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

trabalhador, garantindo a obtenção de lucros e a autorreprodução do capital (ANTUNES,


2007; KUENZER, 2002; FRIGOTTO, 2005).
Embora a acumulação flexível represente a edificação de um novo patamar de
organização do processo produtivo com um amplo interesse do capital, a sua materialização
está circunscrita às condições e às particularidades de cada país (condições econômicas,
sociais, políticas e ideológicas), bem como sua inserção na divisão internacional do trabalho,
existência dos movimentos sindicais, dentre outros (ANTUNES, 2007; HARVEY, 2009).
As mudanças operadas nessa fase do capitalismo flexível trouxeram novas demandas
para os trabalhadores, no sentido de que eles sejam qualificados, multifuncionais e adequados
aos novos métodos de trabalho. O argumento central pressupõe que, atualmente, diante da
permanente mutação do mercado, é mais importante o trabalhador tornar-se empregável e
manter-se competitivo do que simplesmente obter um emprego. Nessa lógica, a educação é
considerada um fator determinante do ingresso do trabalhador no mercado de trabalho e ainda
transfere para ele toda a responsabilidade pelo seu engajamento no mercado de trabalho.

5 NOVOS DELINEAMENTOS DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA


RESPONDER ÀS MUDANÇAS CONTEXTUAIS

As mudanças socioeconômicas, políticas e culturais decorrentes da organização no


novo padrão de acumulação capitalista, que se edificam nessas últimas décadas, têm
impactado, sobremaneira, as políticas e as reformas no campo da educação. Elas tendem a
promover e a reforçar uma perspectiva de mudanças mais global sobre as políticas sociais em
geral e sobre as políticas educacionais em particular.
A globalização neoliberal e a reestruturação produtiva têm criado as condições
propícias para a elaboração de uma agenda global para a educação, sob a coordenação de
organizações bilaterais e multilaterais de desenvolvimento, tendo como premissa a
necessidade de formular diretrizes para orientar a definição da política educacional no que
concerne, particularmente, ao currículo, às práticas pedagógicas, ao financiamento, aos
padrões organizacionais (gestão), à formação docente, e à avaliação.
Nesse cenário, são definidas novas bases conceituais para orientar a formulação das
políticas educacionais associadas ao paradigma econômico centrado no novo sistema
tecnológico (base microeletrônica), que cria as bases para um novo tipo de organização
socioprodutiva. Os organismos internacionais, ao defenderem que o conhecimento situa-se, na
atualidade, como um dos eixos fundantes da atividade produtiva, colocam a educação como

18
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

uma das condições indispensáveis para que os países se integrem favoravelmente no processo
de competitividade, característico da economia global.
As mudanças verificadas nessa dinâmica, guardadas as suas particularidades, têm
produzido alterações substanciais nos sistemas educacionais em todos os países que buscam
adequar a educação às novas demandas contextuais edificadas nessa nova fase de
desenvolvimento capitalista.

5.1 A política educacional sob a égide da globalização neoliberal e da reestruturação


produtiva

Os desdobramentos das mudanças contextuais, operadas nesse momento para o campo


das políticas educacionais, podem ser analisadas considerando os aspectos econômicos,
políticos e culturais (MORROW; TORRES, 2004). O nível econômico, considerando que a
globalização afeta a estrutura do emprego, exerce, por sua vez, influência marcante sobre o
campo da educação, notadamente porque implica a redefinição em um de seus objetivos: a
preparação para o trabalho. As escolas, nesse novo cenário, têm de cumprir essa tarefa
levando em consideração, prioritariamente, as demandas de mercados de trabalhos instáveis;
as novas habilidades e a flexibilidade para adaptar-se às novas demandas do trabalho e,
portanto, mudar de emprego durante o decorrer da vida; e a capacidade de lidar com uma mão
de obra internacional cada vez mais competitiva. Além do mais, como assinalam Burbules e
Torres (2004), cada vez mais, as escolas ajudam a moldar as atitudes e as práticas do
consumidor, encorajadas pelos patrocínios empresariais para instituições educacionais e para
produtos curriculares e extracurriculares que confrontam os estudantes em seu cotidiano na
sala de aula.
Os efeitos econômicos mais amplos da globalização tendem a forçar
políticas educacionais em uma estrutura neoliberal que enfatiza a redução do
setor estatal “fazer mais com menos”; aproximação das abordagens de
mercado às escolhas escolares (particularmente por meio de vales);
administração racional de organizações escolares; avaliação de desempenho
(testes); e desregulamentação para encorajar novos provedores (incluindo
provedores on-line) de serviços educacionais (BURBULES; TORRES,
2004, p. 22-23).

A nova economia global pós-fordista requer novos tipos de trabalhadores que sejam
adaptados a regimes de trabalho flexíveis e a empregos inseguros, situação que traz
implicações medulares para as funções até então exercidas pelas instituições educacionais.
Nesse contexto, desenvolve-se (ou melhor, reestrutura-se) uma concepção de educação
voltada, notadamente, para atender às novas exigências impostas pelo mundo do trabalho que
19
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

têm como fulcro legitimar interesses e necessidades do capital e para operacionalizar novas
formas de exploração dos trabalhadores. A educação deve centrar-se no desenvolvimento de
habilidades cognitivas e comportamentais que sejam adequadas ao modelo de acumulação
flexível. O trabalhador (ou trabalhador em potencial) deve ser detentor de uma escolaridade
mais elevada, ter capacidade de interpretar a realidade, expressar-se de forma adequada em
diferentes contextos sociais, ser capaz de trabalhar em grupo, resolver problemas no próprio
contexto do trabalho, utilizar adequadamente tecnologias da informação e comunicação, além
de ter disponibilidade para realizar constantes aprendizados que tragam obtenção de lucros e
concretizem resultados satisfatórios para a empresa. Defende-se, ademais, que a escola se
organize no sentido de criar as condições para que os alunos aprendam a gerir e a relacionar
informações para transformá-las em conhecimento.
A imagem do novo aluno/trabalhador que deve ser formado parece atraente.
Argumenta-se que a produção flexível exige trabalhadores capazes de níveis elevados de
autonomia e participação no grupo, o que sugere o desenvolvimento de capacidades amplas
como resultado do seu processo formativo. Entretanto, Morrow e Torres (2004), recorrendo às
formulações de Soucek (1999), assinalam que esse autor demonstrou, de forma enfática, que
uma participação mais democrática dos trabalhadores do modelo industrial pós-fordista é
limitada por três aspectos: a introdução de novos conceitos de produção (na prática, envolve
apenas uma pequena minoria de trabalhadores); as continuidades com o fordismo, nesse
contexto, permanecem centrais à lógica da produção; os trabalhadores que estão envolvidos
na produção pós-fordista confrontam-se com uma nova economia de tempo e controle que põe
em dúvida muitos dos supostos benefícios da autonomia e da participação, pelo menos para o
trabalhador individual24.
A educação escolar, na atualidade, tende a se organizar, cada vez mais, a partir de
posicionamentos defendidos por representantes de setores da política e da economia que
buscam subordinar a atuação da instituição educacional às exigências do capital. Isso traz
implicações medulares porque, ao se reformar os sistemas educacionais tomando como
referência, predominantemente, as demandas de mercado e as novas características do
trabalho, se atende majoritariamente aos interesses particulares e imediatos dos empregadores,
sem, contudo, ficar claro se esse procedimento irá servir, de maneira eficaz, aos interesses

24
A flexibilização pós-fordista, [...] por um lado, promete ao trabalhador autonomia e participação democrática;
por outro lado, ela tende a cumprir essas promessas em pacotes, cujo conteúdo não corresponde a seus rótulos.
A autonomia do trabalhador “então se torna disposição de trabalhar mais; a participação democrática significa
pensar em novas maneiras de intensificar o esforço de trabalho; e o treinamento passa a significar aprender
menos sobre mais coisas” (SOUCEK, 1999, apud MORROW; TORRES, 2004 p. 39).

20
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

mais amplos da sociedade, ou mesmo dos trabalhadores em geral. Agir desse modo “é voltar a
educação para as capacidades em competências, às custas das formas mais fundamentais de
competências críticas exigidas para um aprendizado autônomo e uma cidadania ativa”
(MORROW; TORRES, 2004, p. 39).
No nível político, evidencia-se a intensificação (ou a criação) de instituições e fóruns
internacionais que procuram formular diretrizes políticas para orientar (ou impor) aos Estados
nacionais concepções e práticas educativas que estejam em articulação com os interesses
globais. Segue-se uma trilha que procura limitar o papel dos Estados nacionais na formação
de políticas e estratégias para o campo da educação, mais voltadas para o atendimento das
características e particularidades internas dos países.
Essa redefinição do papel do Estado em relação à educação está ocorrendo no contexto
de novas relações e arranjos entre nações, caracterizado por uma “nova divisão global do
trabalho, uma integração econômica de economias nacionais (mercados comuns de livre-
comércio), a crescente concentração do poder em organizações supranacionais (como o Banco
Mundial, o FMI, a ONU, a União Européia e o G-7), aquilo que chamamos de
‘internacionalização’ do Estado” (BURBULES; TORRES, 2004, p. 15).
Verifica-se, inclusive, o fato de que os debates realizados no âmbito do Acordo Geral
sobre serviços – GATS – incluem uma discussão sobre a concepção de educação que deve
orientar os sistemas educacionais. Nas negociações do GATS, a educação é considerada como
um serviço que pode ser comercializado de acordo com as leis de mercado; ao assumir essa
feição, perde, por conseguinte, a sua dimensão de direito humano que lhe é imanente. Nessas
circunstâncias, reforça-se, no campo conservador, o entendimento de que o setor público é
ineficiente para enfrentar as demandas da sociedade no campo da educação e as diretrizes
políticas traçadas pela OMC e por outros organismos internacionais buscam legitimar a
crescente mercantilização de serviços educacionais.
Nessa dinâmica, como assinala Montaño (2003), estabelece-se um processo de
mercantilização dos direitos sociais, em que a esfera pública forja-se como privada em várias
áreas do Estado; por sua vez, o setor privado ganha ares de público quando assume para si os
direitos (mercantilizados) como se fossem uma democracia de mercado (MONTÃNO, 2003).
O papel dos Estados nacionais na concepção dos sistemas educacionais vem se
modificando. Nesse processo, embora eles não deixem de exercer uma função nacional,
perdem importância diante das investidas das organizações internacionais que procuram

21
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

orientar os novos destinos da política educacional 25. Como advertem Morrow e Torres
(2004), o Estado manteve historicamente uma considerável autonomia 26 para construir
sistemas públicos de educação em massa e fiscalizar empreendimentos privados orientados
para o lucro de forma ampla, mas, nesses últimos anos, vem se enfraquecendo nessa função.
Esse é um processo que não se opera sem contradições. Como assinalam Burbules e
Torres (2004), existe um movimento de reação a essas novas dinâmicas impressas pelos
organismos internacionais, conduzidas principalmente pelos sindicatos de professores, pelos
novos movimentos sociais e por intelectuais críticos, expressadas com frequência em
oposição a iniciativas em educação, tais como os vales, ou subsídios públicos para escolas
privadas e paroquiais, a redução de gastos públicos com a educação pública, os modelos
formativos de docentes centrados em competências de inspiração empresarial, a formação do
aluno voltada apenas para as demandas de mercado, dentre outros.
No campo cultural, as mudanças operadas na era da globalização afetam
profundamente as políticas, as práticas e as instituições educacionais. O contexto global
apresenta demandas para a educação diferentes daquelas exigidas no contexto do período
iluminista. Enquanto a educação fundada nos princípios do iluminismo concentrava-se
predominantemente nas necessidades do indivíduo, com o objetivo de contribuir para que ele
se integrasse em uma comunidade definida por uma relativa proximidade, homogeneidade e
familiaridade, a educação no mundo global amplia os limites da “comunidade” para além da
família, da região, ou da nação 27 (BURBULES; TORRE, 2004).

25
A agenda de reforma educacional e resposta à globalização vem sendo dominada pela direita neoliberal, que
exalta a força da integração de novas tecnologias da informática para transformar a transmissão da educação.
Alguns contextos de transformações específicos de globalização na educação podem ser identificados: os novos
avanços em educação intercultural (por exemplo, a educação internacional e a educação global a distância); o
impacto de políticas de ajuste estrutural impostos por órgãos internacionais em países em desenvolvimento, em
nome da criação de uma economia global; a ascensão de universidades empresariais, em resposta às pressões de
globalização; e as tentativas de reformar os currículos primário e secundário e a formação do professor em nome
da globalização, enfatizando os imperativos da produção flexível, que são exigidos pela competitividade
internacional (MORROW; TORRES, 2004).
26
Quando a escola foi moldada como instituição pública, permaneceu a noção de responsabilidade local e
familiar pela formação. A ideia de que as escolas agiam in loco parentis, reforçada por estruturas políticas que
sustentavam o controle da comunidade sobre o processo escolar, situou o aprendiz em uma relação com
necessidades imediatas e familiares de aprendizagem: necessidades de identidade, afiliação, cidadania e papéis
de trabalho que respondiam a um contexto próximo. Mesmo em sistemas escolares públicos centralizados e
nacionalizados, a mesma dinâmica pode ser encontrada, invocada em um nível diferente: as políticas impõem
conformidade e identificação com uma tradição nacional, uma comunidade maior e um contexto mais amplo de
cidadania e responsabilidade social; mas, ainda assim, as condições de afiliação baseiam-se na proximidade e
homogeneidade relativa (embora, nesse caso, brechas entre o local e o nacional possam se abrir, e ainda o
fazem). Os sistemas organizados da educação operam sob a égide do Estado-nação que controla, regula,
coordena, comanda, financia e certifica o processo de ensino e aprendizagem (BURBULES; TORRES, 2004).
27
Nesse contexto, os debates sobre o bilinguismo nos Estados Unidos são surpreendentemente limitados em seu
conteúdo teórico e em sua visão política. No mundo globalizado, não faz sentido lutar contra o ensino e o
22
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

As comunidades de afiliação potencial na atualidade são múltiplas, deslocadas,


provisórias e mutáveis. A família, o trabalho e a cidadania - as principais fontes de
identificação na educação do iluminismo - continuam tendo importância, mas “estão se
tornando mais efêmeras, comprometidas pela mobilidade e a competição com outras fontes de
afiliação, inclusive ampla variedade daquilo que pode ser chamado de ‘comunidades
imaginadas’ ” (BURBULES; TORRE, 2004, p. 24).
Por fim, destaca-se que o impacto mais acentuado da globalização sobre a educação
está relacionado às exigências de operar políticas de ajuste estrutural para adequar as
sociedades às novas demandas do capital.
Nesse contexto de ajuste estrutural, segundo Carnoy (1995), as reformas educacionais
apresentam-se em três direções: a) reformas impulsionadas por motivo de competitividade,
para atender às demandas de qualificação do mercado nacional e mundial (elas compreendem
descentralização, centralização, melhoria na gestão de recursos educativos e melhoria nas
práticas de contratação e formação docente); b) reformas impulsionadas por motivos
financeiros, compreendendo a transferência dos gastos públicos do ensino superior para os
níveis inferiores do ensino, privatização do ensino secundário e superior e redução dos gastos
por aluno em todos os níveis de ensino; c) reformas impulsionadas por critério de equidade,
enfatizando o importante papel da educação como estratégia de mobilidade e igualdade social.
A América Latina e a África, segundo Carnoy (1995), em decorrência da crise fiscal
vivenciada pela maioria dos seus países, têm privilegiado, quase que exclusivamente, as
reformas impulsionadas por motivos financeiros, enquanto que os países desenvolvidos têm
centrado as suas reformas no eixo da competitividade. Especificamente em relação à América
Latina e ao Caribe, a preocupação da maioria dos países dessa região foi prover meios para
reduzir gastos públicos – sobretudo os gastos públicos do governo central – com a educação e
a formação e, concomitantemente, procurar aumentar a escolarização.
As reformas nesse continente, segundo o referido autor, pretendiam, também,
organizar de modo novo e mais produtivo o sistema escolar e as qualificações profissionais,
tendo em vista, sobretudo, produzir capital humano de melhor qualidade a fim de tornar os
países da América Latina e do Caribe mais competitivos na economia mundial.

aprendizado de diversas línguas; na verdade, os estudantes necessitam desenvolver ainda mais proficiência do
que o simples bilinguismo. A experiência europeia com jovens que são proficientes em várias línguas indica que
essas habilidades facilitam a comunicação interpessoal, acadêmica e social, expandem horizontes intelectuais e
encorajam a apreciação e a tolerância de culturas diferentes (BURBULES; TORRE, 2004).

23
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

5.2 Um destaque para a gestão

A reforma educacional concebida, a partir dos anos noventa, para a América Latina
privilegia, dentre as suas estratégias, a modernização do modelo de gestão. Argumentava-se
sobre a necessidade de promover mudanças no modelo centralizador da gestão escolar que
predominava nos sistemas educacionais da região, com vistas a buscar a melhoria da
qualidade do ensino. O sucesso e a produtividade do sistema educacional dependiam,
portanto, prioritariamente, da forma como as escolas eram organizadas e geridas.
Essa tendência está claramente expressa em todos os documentos concebidos no
âmbito da Unesco/Cepal e do Banco Mundial para a área da educação. As diretrizes
formuladas no âmbito do Projeto Principal de Educação – PPE – concebido em 1979 e que
vão sendo consolidadas nas Declarações das reuniões do Comitê Regional Intergovernamental
(PROMEDLACs), realizadas entre 1984 e 2002, materializam essa tendência. Isso se
confirma, também, no Projeto Regional de Educação para a América Latina e Caribe
(PRELAC), concebido em 2002, para o horizonte de 15 anos, como sucedâneo do PPE. Essas
posições vêm sendo reafirmadas em documentos mais recentes como “Invertir mejor para
invertir más: financiamiento y gestión de La educación em América Latina y El Caribe”
(CEPAL/ UNESCO, 2005); Compendio Mundial de la educación 2007: comparación de las
estadísticas de educación en el mundo (2007); Educação para todos em 2015: alcançaremos a
meta? (2008)28.
O novo modelo proposto busca romper com as abordagens burocráticas de
gerenciamento que tradicionalmente predominaram na gestão dos sistemas educacionais.
A crítica a esse modelo de gerenciamento, fortemente construída nesse momento, inclui a
compreensão da necessidade de se adotar uma forma de gerenciamento 29 construído em outras
bases e que estava sendo implementado no setor privado – o modelo gerencial30. Esse modelo
centra-se na busca da eficiência e da produtividade e, posteriormente, incorpora a qualidade,

28
Para uma compreensão aprofundada sobre as particularidades e os pressupostos do modelo de gestão que se
configura no âmbito desses documentos, consultar, dentre outros: CABRAL NETO; CASTRO (2007);
CABRAL NETO (2009); GAJARDO (1999).
29
Essa dinâmica contempla estratégias que configuram um novo entendimento de gestão e, dentre as principais
medidas, destacam a necessidade de implementar políticas descentralizadas e de investir na formação de
diretores, considerados como o profissionais importantes para garantir a eficácia do atendimento escolar e para
neutralizar o centralismo burocrático. O planejamento estratégico é indicado como um instrumento capaz de
propiciar a participação de todos os atores escolares que devem se tornar protagonistas das atividades da escola e
de otimizar os recursos escolares.
30
O fulcro central da reforma gerencial é a busca da eficiência pela redução e controle dos gastos públicos, pela
demanda de melhor qualidade dos serviços públicos, pela descentralização administrativa, concedendo maior
autonomia às agências e departamentos. Há preocupação, portanto, com o produto em detrimento dos processos.
Para uma análise mais detalhada sobre o modelo gerencial, consultar: BRESSER PERIRA (1998); ABRUCIO
(2003); LUSTOSA DA COSTA (2010). Sobre os desdobramentos desse modelo no campo da educação, recorrer
a: CABRAL NETO (2009); CABRAL NETO; CASTRO (2011).
24
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

entendida pela ótica do consumidor, características essas presentes nas orientações da


globalização neoliberal.
A gestão educacional, em nível da região 31, em atendimento a esses novos
requerimentos, passou a ser organizada de modo a otimizar os recursos e a garantir a
produtividade da escola, utilizando, para isso, um discurso de participação e de autonomia.
Exigem-se dos gestores habilidades e criatividade para encontrar novas soluções, sobretudo no
nível local, para aumentar a eficiência e a eficácia do sistema (CABRAL NETO;
CASTRO, 2011).
A defesa da descentralização, no âmbito do modelo gerencial, pauta-se no
entendimento de que é, preferencialmente, no âmbito local, que é possível promover a gestão
da escola e do processo educacional para a produção de melhores resultados. No entanto,
torna-se necessário reconhecer que a descentralização, na área da educação, tem sido
utilizada não apenas como estratégia de democratização, mas, sobretudo, como mecanismo
para propiciar a melhoria na gestão de processos e recursos e, também, como condição para
aliviar as instâncias centrais do sistema educacional, que se tornam sobrecarregadas com o
crescimento das demandas (OFFE, 2004; BARROSO, 1998).
A autonomia, nesse enfoque, passa a ser entendida como consentimento para construir,
na escola, uma cultura de organização de origem empresarial; a descentralização passa a ser
caracterizada como uma desconcentração de responsabilidades e não como redistribuição de
poder, congruente com a “ordem espontânea” do mercado, respeitadora da liberdade
individual e da garantia da eficiência econômica; a participação é encarada essencialmente
como uma técnica de gestão e, portanto, um fator de coesão e de consenso. Não há, na
instituição escolar, espaço para o conflito, para o debate e para o confronto de ideias.
A reforma gerencial implementada no nível do sistema educacional32, dirigida para a
desestatização do setor público, para a descentralização e para a flexibilização, não contribui,

31
O balanço sobre a adoção de novos modelos de gestão, nos sistemas educacionais da América Latina,
realizado por Gajardo (1999 ), indica um resultado positivo porque foi implantado um novo modelo de gestão do
sistema educacional e da escola por meio da descentralização e da autonomia escolar. Esse modelo está ancorado
na transferência de responsabilidades e atribuições aos estados, províncias e/ou municípios, na delegação (para
as escolas) de responsabilidades de atividades que tradicionalmente seriam desenvolvidas pelo âmbito central e
na inclusão da comunidade local na gestão e no financiamento das unidades escolares. Segundo a autora,
evidenciou-se, do ponto de vista institucional, a existência de uma maior descentralização e uma tendência para
ampliar os espaços de decisão em nível dos estabelecimentos de ensino. Gradualmente, avança-se no
fortalecimento da autonomia administrativa, curricular e pedagógica, mantendo-se, no nível central, entretanto, a
concepção e a supervisão das políticas, a regulação da equidade, a coordenação e a provisão de informação
pública e a avaliação dos resultados.
32
No Brasil, embora a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.
9.394/96) se refiram à gestão democrática, os programas e projetos desenvolvidos pelos últimos governos
25
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

necessariamente, para a democracia. Esse tipo de reforma, como assinala Lustosa da Costa
(2010, p.236), é incapaz de alterar “as relações entre estado e sociedade, valorizando o
interesse do cidadão como titular de direito e consumidor de bens públicos, incorporando a
sua participação, superando a neutralidade burocrática e mudando o sentido de
responsabilidade pública”.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O neoliberalismo, a globalização e a reestruturação produtiva são dimensões de um


mesmo processo e vão configurar um novo estágio do desenvolvimento capitalista. Embora
essas dimensões façam parte do cenário mundial, as formas como elas afetam os diversos
países são variadas. No jogo das relações globalizadas, os países de maior poder econômico e
político exercem uma hegemonia em todos os campos (econômico, político, cultural,
educacional), de modo que os países em desenvolvimento se inserem, de forma subordinada,
nessa nova dinâmica.
Na verdade, ocorre uma tendência do fortalecimento de instâncias supranacionais que
procuram criar os ordenamentos jurídicos e políticos para orientar o desenvolvimento do
capitalismo nessa nova fase. Essas instâncias têm o propósito de reduzir o papel dos estados
nacionais e criar uma nova lógica global para direcionar as decisões políticas e econômicas.
Procura-se construir uma ordem global com vistas à homogeneização de todos os campos.
Essa pretensão, embora seja vitoriosa em muitos dos seus aspectos, não se concretiza sem
enfrentar as contradições que se firmam pelas mediações necessárias entre o global e o
nacional, nos aspectos econômicos, políticos e culturais.
Nessa lógica, o Estado mínimo, com as características apregoadas pelos arautos do
neoliberalismo, não se materializa de forma igual em todos os países, apesar de as reformas
terem sido empreendidas, em quase todos os espaços geográficos, sempre com fulcro nas
ideias de que era necessário reduzir o tamanho desse ente jurídico, para torná-lo mais eficiente
e mais ágil. As reformas do aparelho de estado edificadas nos países de capitalismo avançado
guardam características diversas daquelas concebidas no âmbito dos estados de países em
desenvolvimento (América Latina, por exemplo), particularmente porque, nessa região, eles
foram reformados de modo mais radical, no sentido de que perderam o controle sobre áreas

alinham-se, de fato, a uma perspectiva de gestão gerencialista. Dentre eles, podem-se citar o Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), o Plano Estratégico das Secretais (PES) e o Plano de Desenvolvimento da
Escola (PDE-ESCOLA).
26
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

consideradas estratégicas para o desenvolvimento dos países, o que os fragilizou, ainda mais,
no jogo das relações que se estabelecem nesse novo cenário da economia global.
Os agentes multilaterais assumem ares de um “estado supranacional”, o que tem
fragilizado a atuação dos Estados como ator articulador de políticas de caráter nacional,
limitando-se muitas vezes apenas a conceber estratégias para acomodar-se às regras
estabelecidas internacionalmente.
O poder econômico tende a ser transferido, cada vez mais, do Estado Nacional para
centros econômicos transnacionais e deslocalizados, de modo que a ordem econômica não é
mais determinada, necessariamente, pelo Estado nacional; ao contrário, os centros
econômicos transnacionais passam a ser agentes determinantes desse movimento. Constata-se,
todavia, que os estados nacionais, mesmo tendo perdido certa autonomia no âmbito da
economia globalizada, ainda detêm papel importante na definição de sua agenda política e
econômica. Esse nível de autonomia é infinitamente bem superior em países de capitalismo
desenvolvido do que naqueles em via de desenvolvimento.
Em uma visão de síntese, pode-se afirmar que o arcabouço jurídico e as estratégias
neoliberais funcionaram como uma força motriz para intensificar o processo de globalização;
particularmente, no que concerne ao livre mercado. Em nome do livre mercado, a
globalização e o neoliberalismo estão criando uma “nova pobreza”, aumentando as
desigualdades sociais e ampliando a precarização do trabalho. A globalização, nas formas
como vem se materializando na atualidade, exclui grande parte da população mundial. Trata-
se de uma polarização social vinculada à concentração de renda, à desigualdade social e ao
desemprego, e de polarização como desigualdade internacional crescente (JAMESON, 2001a;
HARVEY, 2009; CHESNAIS, 1995). Nessas circunstâncias, parece sensato crer que essa
dinâmica é contrária à realização de uma sociedade em que os avanços da ciência sejam
socializados para a edificação de melhores níveis de vida para o ser humano. Não se deve,
portanto, reforçar a tese do fim da história; é preciso, como lembra Borón (1999, p. 57), evitar
que sejamos esmagados pela ideologia dominante porque “nada na história autoriza a pensar
que o neoliberalismo como fórmula econômico-política de governo alcançou uma hegemonia
total e definitiva”.
Especificamente em relação à educação, pode-se afirmar que a globalização vem
afetando as políticas e práticas educacionais em todo o mundo. Ela tem repercussões sobre a
autonomia e a soberania dos Estados nacionais na organização de seus sistemas educacionais.
É evidente que a forma como esse processo atinge os diversos países é variada, de modo que
os países de menor poder econômico e político se inserem de forma subordinada nessa
dinâmica de reorganização dos sistemas educacionais.
27
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

Procura-se construir o entendimento de que o setor público/estatal não é o único, e


nem o mais forte regulador junto às políticas de provimentos sociais, pois as entidades
supranacionais ou multilaterais preponderam cada vez mais na condução da educação. Essas
organizações dotam as instâncias nacionais de preceitos, diretrizes e políticas de
financiamento e, por conseguinte, ditam, consensualmente ou não, a entrada de práticas
mercantis ou quase mercantis nos países signatários dessas organizações internacionais
(SILVA; GOZALES; BRUGIER, 2008).
Na América Latina, essa tendência se expressa nas reformas educacionais que, como
assinalam Carnoy e Castro (1997), centraram-se, principalmente, no corte dos orçamentos do
setor público do governo central. Na prática, as reformas reduziram o total de recursos
públicos e privados disponíveis para o financiamento da educação e da formação de
professores. Esse tipo de reforma tem por finalidade prover cortes no orçamento do setor
público e criar as condições para ampliação do setor privado no cenário educacional. Esse fato
tem levado à diminuição dos gastos do Estado, principalmente com programas sociais, e ao
aumento da exclusão da população em determinados tipos de serviço, agravando a pobreza e a
marginalidade.
Existem reações a essa política, exercida pelo movimento sindical docente,
principalmente, e por intelectuais que se situam no espectro da esquerda; todavia, cabe
evidenciar que as resistências não têm sido organicamente conduzidas e, por isso, não foram
capazes de reverter o curso dessas políticas que estão em pleno desenvolvimento nos sistemas
educacionais em vários países da América Latina, inclusive no Brasil.
Reforça-se, também, a defesa da educação como fator fundamental para o
desenvolvimento econômico e como estratégia para o enfrentamento da concorrência
mundial. Retomam-se e atualizam-se, para o novo contexto, os pressupostos da “teoria” do
capital humano que defende, como tese central, a existência de uma alta correlação entre
crescimento econômico e nível educacional dos membros de uma sociedade. No âmbito dessa
teoria, defende-se que os investimentos econômicos rentáveis seriam aqueles que se
concentram no aumento quantitativo e qualitativo da educação formal da população ativa; os
investimentos em educação têm um retorno individual e social; e, a longo prazo, com o
fortalecimento da economia, haveria, naturalmente, uma redistribuição de rendas (SCHULTZ,
1973). Acrescentam-se, agora, as noções de sociedade do conhecimento, qualidade total,
pedagogia das competências, empregabilidade e empreendedorismo.
Recorre-se com veemência ao argumento de que a formação deve estar diretamente
vinculada às demandas de mercado. Embora essa vinculação da formação do trabalhador aos
desígnios do mercado seja atualmente uma tendência hegemônica, não se pode abdicar de
uma luta que se encaminha no sentido de reconhecer que a formação do ser humano não se
28
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

deve limitar às demandas do mercado de trabalho. Isso exige que, em qualquer processo
formativo, se articule adequadamente a aquisição de conhecimentos científicos e tecnológicos
com a formação para a cidadania, ou seja, uma formação que contemple, de forma
consistente, a competência técnica e a atuação política.
No campo da gestão escolar, considerada como uma das principais diretrizes da
política educacional, em consonância com as demandas decorrentes da reorganização do
Estado, sobressai-se a defesa do modelo gerencial, como estratégia para gerir os sistemas
escolares. O fulcro central da reforma gerencial é a busca da eficiência, traduzida pela
redução e controle dos gastos públicos e pela descentralização administrativa que propicie
uma maior autonomia às agências e aos departamentos das instituições (inclusive as
escolares).
As diretrizes sobre a gestão escolar formuladas, nesse momento, em atendimento a
esses novos requerimentos, incluem a defesa de que a escola deva ser organizada de modo a
otimizar os recursos e garantir a sua produtividade. Embora essas orientações gerencialistas
venham influenciando, sobremaneira, a organização dos sistemas escolares, setores da
academia vêm submetendo-as à crítica e reafirmado a necessidade de uma defesa mais
enfática da gestão democrática alinhada à busca pela efetivação da educação como direito
social. A gestão democrática, nessa ótica, pode ser entendida como prática político-
pedagógica, que procura estabelecer mecanismos institucionais capazes de promover a
participação qualificada dos agentes educacionais e demais setores interessados na ação
educativa, o que requer um engajamento coletivo na formulação das diretrizes escolares, no
planejamento das ações, assim como na sua execução e avaliação.

29
Mudanças socioeconômicas e políticas e suas repercussões no campo da política educacional
Antônio Cabral Neto

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