Aula 4
Questão indígena no Brasil – Conversa Inicial
uma perspectiva histórica
Prof. Marcio Marchioro
Monumento ao Marquês de Mudanças na política indigenista
Pombal em Lisboa – Portugal portuguesa no século XVIII
“Em meados do século XVIII, o ministro
Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro
Marquês de Pombal, elaborou uma série de
medidas visando integrar as populações
indígenas da América à sociedade colonial
portuguesa. Estas medidas foram sistematizadas
no Diretório que se deve observar nas povoações
dos índios do Pará e do Maranhão enquanto sua
majestade não mandar o contrário, publicado
em 3 de maio de 1757 e transformado em
lei por meio do alvará de 17 de agosto de 1758”
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(Garcia, 2017, p. 24)
Mudanças na política
indigenista no século XVIII
Guerra Guaranítica
Aldeamentos fluminenses Fundação e estabelecimento
dos aldeamentos fluminenses
Guerra de fronteira na Amazônia
e participação dos índios
Aldeamentos na Amazônia
Análise do Diretório –
legislação indigenista pombalina
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Metamorfoses indígenas
“Os europeus entravam na história dos índios
e eram por eles inseridos em suas relações (...) para aqueles índios que as vivenciavam,
intertribais como outros que, conforme sua dando-lhes significados próprios, a partir dos
tradição, viriam incluir-se em suas relações de referenciais de suas tradições, que por sua vez
aliança ou inimizade. A história, afinal, como iam se modificando de acordo com suas
destacou Peter Gow, não se coloca para os povos experiências de vida e de contato”
indígenas como uma força externa que vem (Almeida, 2001, p. 53)
desorganizar uma estrutura atemporal de
deveres e obrigações consanguíneas. A conquista
e colonização constituíam também histórias (...)
Rio de Janeiro setecentista e os indígenas Líderes indígenas
Resistência adaptativa
“Na tradição tupi, os líderes não
Tupiniquim e tupinambá necessariamente transmitiam o cargo
Tapuias aos seus filhos, pois, como visto, este
era baseado nas qualidades e mérito dos
Descimentos pretendentes que deviam conquistar
Disputa de terra nos aldeamentos a confiança e admiração do grupo para
exercê-lo. Nos aldeamentos coloniais,
Procurados dos índios – acesso
o cargo tornou-se hereditário e provido pelo
dos nativos à Justiça colonial governador, às vezes com salário, outras não.
Chefia indígena nos aldeamentos [...] Tal como na América espanhola, (...)
Índios Kamayurá pertencentes ao
tronco linguístico tupi-guarani
(...) o processo de transformação dos índios
em súditos cristãos concentrou esforços nas
lideranças, cobrindo-as de honras e regalias
que, não resta dúvida, foram por elas bastante
apreciadas” (Almeida, 2001, p. 156-161)
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Escravidão indígena no Rio de Janeiro
“No decorrer do século XVIII e início do XIX,
a escravização indígena não desapareceu, mas
Mão de obra indígena deve ter recuado bastante [...]. A partir de 1755,
no Rio de Janeiro deve ter se tornado bem mais rarefeita, dada
sua total proibição pelas reformas pombalinas.
O trabalho compulsório dos índios, no entanto,
permanecia presente, conforme a documentação,
até o Império, em diferentes modalidades e
mediado pelas lutas dos agentes envolvidos”
(Almeida, 2001, p. 195)
Mão de obra indígena no Rio de Janeiro Relação de padres e índios aldeados
Século XVI e XVII – elite sem liquidez
Índios aldeados reagiam “A participação intensa dos padres nos
ao abuso dos colonos conflitos e negociações envolvendo as terras
Tinha roça para seu próprio sustento dos índios pode suscitar a ideia de que seus
rendimentos favoreciam principalmente
Coesão por meio das terras
a eles e suas igrejas. [...] Provia-se em
Etnônimos nas aldeias foram primeiro lugar a Igreja, os ofícios divinos
desaparecendo na documentação
e os párocos e depois as necessidades
Até o Diretório, a maioria das aldeias dos índios [...]” (Almeida, 2001, p. 242)
era administrada pelos jesuítas
Povos das Missões
“Em meados do século XVIII estavam os índios,
em sua maioria Guarani, organizados em
30 povos com cerca de 100 mil habitantes.
Tratado de Madri e os índios Os índios missioneiros eram praticamente
autossuficientes, só importando mercadorias
beneficiadas via Rio da Prata – principal via de
comércio da região. As missões ultrapassavam
as fronteiras dos atuais países da Argentina,
Uruguai, Paraguai e Brasil. [...], no total eram 23
povos localizados na margem direita do Rio (...)
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Sistema de poder – cabildo –
conselho de chefes de família
(...) Uruguai (abrangendo atuais Argentina Diversificação do trabalho – criação de gado,
e Paraguai) e 7 povos na margem esquerda produção de alimentos, olarias, extração
de pedras, produção de erva-mate
(em território dos atuais países do Brasil e
e extração de madeira
Uruguai). A área das missões ultrapassava em
O Tratado de Madri (1750) – uti possidetis –
muito os limites das cidades propriamente permitiu que Portugal incorporasse em seu
ditas, pois havia um enorme sistema de território a Amazônia, enquanto
abastecimento criado em torno delas” que a Espanha, o Rio da Prata
(Marchioro, 2018, p. 135) Troca da Colônia de Sacramento
pelos territórios dos Sete Povos das Missões
Jesuítas passaram a questionar a troca
Povos da região que também se envolveram
no conflito: minuanos, charruas, guenoas,
1756 – Batalha de Caiboaté – manobra de
guaranis e caingangues
Cannes – utilizada na guerra de Roma contra
Ordens religiosas e o Rio da Cartago. Índios foram massacrados.
Prata – questões mercantis Antes da Batalha, Sepé Tiaraju foi morto,
Sepé Tiaraju – panteão dos o que provocou desorganização das tropas
heróis da pátria em 2009 pelo sentimento de vingança existente
Formação da população gaúcha
Monumento em montevidéu:
Guerra Guaranítica
os últimos charruas
“Em fevereiro de 1753, as Primeiras Partidas
Demarcadoras chegaram a Santa Tecla, estância
do povo de São Miguel localizada em território
que hoje corresponde ao município de Bagé,
no Rio Grande do Sul, e foram impedidas
de prosseguir pela milícia indígena. Seus
comissários, o coronel Francisco Antônio
Cardoso (Portugal) e Juan de Echevarria
(Espanha), iniciaram tratativa para convencer
os missioneiros a levantar os levantamentos
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além das cabeceiras do rio Negro. (...)
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(...) Frustravam-se os projetos de demarcações
[...] As equipes teriam que aguardar a Amazônia indígena
passagem dos tempos de conflito que se no século XVIII
anunciavam. O trabalho demarcatório daria
lugar à guerra” (Golin, 2014, p. 70-71)
Holandeses e portugueses
no trato com os índios
Nomes étnicos variavam de
“Na articulação desse comércio com os índios
acordo com o observador
reside o dado fundamental para a compreensão
da política indigenista holandesa que aqui nos Índios homens eram utilizados na coleta de
interessa de perto. Os holandeses, com efeito, drogas do sertão, como remeiros, caçadores,
nunca buscaram converter ou aldear os índios,
carregadores, guias, enquanto as mulheres
ao contrário, investiam basicamente nesse
escambo para a construção de sua rede de serviam como amas de leite
influência junto aos povos indígenas na colônia: e farinheiras, principalmente
tratados de paz e comércio entre holandeses
Guerra justa, resgate e descimentos
e índios são registrados desde, pelo menos,
1672” (Farage, 1991, p. 89)
Aldeamentos na Amazônia
“Os aldeamentos missionários obedeciam
a uma certa tipologia, que pode ser assim (...) e finalmente as missões afastadas dos
descrita: aldeias do serviço das ordens núcleos urbanos que, embora sofressem
religiosas, cuja renda revertia para as
desfalque de população devido à demanda das
mesmas ordens como complementação da
expedições, eram unidades autônomas de
doação que lhes fornecia o Estado; aldeias do
Serviço Real, onde os índios aldeados eram produção” (Farage, 1991, p. 31)
utilizados estritamente para o serviço do
Estado; aldeias de repartição, cuja mão de
obra era destinada aos moradores; (...)
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Guerra contra os holandeses
Holandeses armavam os índios manaos
Os manaos entravam nos aldeamentos
e levavam os índios como escravos,
para serem vendidos para o Caribe holandês
Aldeamentos pluriétnicos
O Diretório dos índios
Militares portugueses que organizavam
os aldeamentos tornavam os boatos
de fuga em motivo de prisões
Roça coletiva – aldeamento
impunha roça individual
Aldeamentos muralhas do sertão
Alterações principais do Diretório na
legislação indigenista portuguesa
Aldeias se tornam vilas ou freguesias
Uso obrigatório da língua portuguesa Na Prática
Proibição do uso do termo “negro” para índios
Uso de nomes e sobrenomes portugueses
Moradias e terras dos aldeamentos
Casamentos inter-raciais
Assista ao documentário Terra sem males
O documentário revisita os lugares em que
Finalizando
a Guerra Guaranítica aconteceu, lidando
com questões de memória do combate na
sociedade gaúcha e entre os guaranis
atuais
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Aldeamentos no Rio de Janeiro e chefia indígena
Coesão por terras
Desaparecimento de
etnônimos na documentação
Guerra Guaranítica e estrutura das missões
Embate entre holandeses e portugueses na
Amazônia
Aldeamentos como muralhas do sertão
Diretório e o incentivo à mestiçagem
entre índios e colonos