Apostila FIS-46
Apostila FIS-46
11 de Dezembro de 2014
2
Sumário
1 Corrente Alternada 5
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Análise de circuitos de c.a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.1 Diagrama de fasores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2.2 Tensão Eficaz e Corrente Eficaz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2.3 Exercícios de fixação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Resistência e reatância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3.1 Resistor em circuito de corrente alternada . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3.2 Indutor em um circuito de c.a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3.3 Capacitor em um circuito c.a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3.4 Circuito RLC em série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4 Associação da funções v(t) e i(t) a números complexos ou fasores represen-
tativos; parâmetros de rede utilizados em circuitos elétricos; definição de
impedância complexa e impedância dos parâmetros de rede: . . . . . . . . 22
1.5 Leis de Kirchhoff no Domínio Complexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.5.1 Lei das malhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.5.2 Lei dos nós . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.6 Admitância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.7 Associação de Impedâncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.7.1 Associação em série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.7.2 Associação em paralelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.8 Exercícios de Aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.8.1 Exercício 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.8.2 Exercício 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.8.3 Exercício 3: circuito RLC em série no domínio complexo . . . . . . 41
3
4 SUMÁRIO
3 Interferência e Difração 97
3.1 Interferência de ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
3.1.1 Análise do experimento de Young . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
3.2 Coerência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
3.3 Difração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
3.3.1 O conceito de difração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
3.3.2 O princípio de Huygens-Fresnel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
3.3.3 Difração de Fraunhofer: fenda única . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
3.3.4 Difração de Fraunhofer: fenda dupla . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
Corrente Alternada
1.1 Introdução
Nicola Tesla (1856-1943) e George Westinghouse (1846-1914) ajudaram a estabelecer a
corrente alternada como o principal modo para transmissão e distribuição de eletricidade.
No curso de FIS-32, analisamos alguns circuitos de corrente contínua (c.c.): circuitos
excitados por fontes que não mudam a polaridade com o tempo, em especial, fontes
constantes. Historicamente, as fontes c.c. foram o principal meio de fornecimento de
energia elétrica até o final dos anos 1800. No final daquele século, iniciou-se uma batalha
entre a corrente contínua e a corrente alternada. Qual seria a melhor opção c.c. ou c.a.
era motivo de calorosos debates e possuia defensores extremamente categóricos de ambos
os lados. A ala da c.c. era liderada por Thomas Edison, que havia ganhado muito respeito
por causa de seus vários inventos. A geração de energia usando c.a. começou realmente a
ser construída após as bem-sucedidas construções de Tesla. O verdadeiro sucesso comercial
veio com Westinghouse e a extraordinária equipe que ele formou.
Como a c.a. é mais eficiente e econômica para transmissão por longas distâncias, os
sistemas c.a. acabaram vencendo a batalha. Para entendermos isso basta lembrarmos que:
• transformadores não funcionam com c.c. só c.a., o que nos dá uma facilidade para
elevar ou reduzir a voltagem.
• baixas voltagens são mais seguras para os consumidores, mas é necessário usar
uma voltagem muito elevada com baixa corrente correspondente para minimizar as
perdas Ri2 nos cabos de transmissão que conduzem a corrente elétrica para grandes
distâncias.
7
8 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
Desta forma, agora iniciaremos a análise de circuitos nos quais a fonte de tensão ou
de corrente varia com o tempo invertendo a sua polaridade. Particularmente, estamos
interessados na variação com o tempo senoidal, ou simplesmente excitação por uma senóide.
onde
V= amplitude da senóide ou tensão de pico
ω = frequência angular em radianos/s
ϕ = fase inicial da tensão alternada, medida em graus ou radianos
1.2. ANÁLISE DE CIRCUITOS DE C.A. 9
ω = 2πf
De modo análogo podemos escrever uma equação fundamental para a corrente alternada:
Considere
ˆ
1 T
i(t) = Icos(ωt) ⇒< i(t) >= Icos(ωt)dt = 0 (1.3)
T 0
ˆ
1 T
I2
i = I cos (ωt) ⇒< i(t) >=
2 2 2 2
I 2 cos(ωt)2 dt = (1.4)
T 0 2
I2
< p >= R < i >2 = R (1.5)
2
I2
< p >= Ri2ef = R (1.6)
2
Sabendo que a potência média dissipada é dada pela equação 1.5 quanto pela equação
1.6, temos que:
I
ief = (1.7)
2
Da mesma forma, temos:
V
Vef = (1.8)
2
De forma geral, o valor eficaz de um sinal periódico é a raiz do valor quadrático médio
(rms)
ˆ
v
u1 T
u
Xrms = Xef = t
x2 dt
T 0
√
v(t) = 2Vef cosωt + ϕ (1.9)
√
i(t) = 2Ief cosωt + ϕ (1.10)
Solução
Assim, temos:
Para obtenção do gráfico em ms basta observar que 360º correspondem a 16,67 ms.
√
2. Dada a tensão alternada v(t) = 100 2sen314t + 135ž pede-se:
1.2. ANÁLISE DE CIRCUITOS DE C.A. 13
Solução
√
v(t) = 100 2cos(314t + 135ž − 90ž)
√
v(t) = 100 2cos(314t + 45ž)
√
• Tensão de pico = 100 2 volts
3. Sendo fornecido o gráfico abaixo da tensão alternada v(t), pede-se determinar a sua
expressão fundamental.
Solução
√
v(t) = Vef 2cos(ωt + ϕ)
√ 200
Vef 2 = 200V ⇒ Vef = √ = 141V
2
Em t=0 temos:
1
v(0) = 100V ⇒ 200cos(ϕ) = 100 ⇒ cosϕ = ⇒ ϕ = ±60ž
2
14 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
√
v(t) = 141 2 cos(628t − 60ž)
Tendo em vista que ω é sempre dado em rad/s, o ângulo ϕ deveria ser determinado
em rad; entretanto, pode-se tolerar o mesmo em graus, dependendo do tipo de
operação a ser realizada entre ϕ e ωt
i(t) = I cos(ωt + ϕ)
vR = Ri(t) = RI cos(ωt + ϕ)
vR = VR cos(ωt + ϕ)
i(t) = Icos(ωt + ϕ)
Indutor ideal ⇒ Rl = 0
16 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
di(t) d
vL (t) = L = L (I cos(ωt + ϕ)) = −LIω sen(ωt + ϕ)
dt dt
Usando a identidade cos(A + 90ž) = − senA, obtemos o seguinte resultado:
π
vL (t) = ILω cos(ωt + ϕ + ) (1.11)
2
1
A voltagem e a corrente estão do ciclo fora de fase. A voltagem está adiantada de
4
90º em relação à corrente. Isso é intuitivo, pois o indutor age como uma inércia à mudança
da corrente ⇒ corrente "vem atrasada"
Se num circuito i(t) = I cos(ωt), v(t) = cos(ωt) e ϕ= ângulo de fase = fase da voltagem
em relação à arrente.
VL = IωL (1.12)
VL = XL (1.13)
[XL ] = Ω (ohm)
Diagrama de fasor
i(t) = I cos(ωt)
18 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
ˆ
Q 1
vc = = i(t)dt
C C
ˆ
I
vc (t) = cos(ωt)dt
C
I
vc (t) = sen(ωt)
ωt
I π
vc (t) = cos(ωt − )
ωC 2
1
A tensão no capacitor está defasada em de ciclo de corrente. Ou seja, a tensão se
4
π
atrasa de em relação à corrente.
2
Ângulo de fase = -90º
Diagrama de fasor
π
vC = Vc ∗ cos(ωt − ) (1.14)
2
I
onde Vc =
ωC
Definimos a reatância capacitiva pela equação 1.15 e a relação entre as amplitudes pela
equação 1.16:
1
Xc = (1.15)
ωC
Vc = Xc I (1.16)
1.3. RESISTÊNCIA E REATÂNCIA 19
[Xc ] = Ω (ohm)
Analisando o equação 1.15 obtemos as seguintes observações:
• usados como dispositivos que deixam passar preferencialmente sinais com frequências
elevadas = filtro passa-alta
1 1
Capacitor Vc = I Xc = atrasada 90º em relação a i(t)
ωC ωC
i(t) = I cos(ωt)
Fasor que representa a tensão total é dado pela soma vetorial dos fasores de 3 voltagens
individuais. Para cada instante de tempo as Leis de Kirchhoff são válidas.
• 1ª Lei (lei dos nós): a soma das correntes que entram em um nó é zero
• 2ª Lei (Lei das malhas): a soma algébrica de todas as tensões no laço ou caminho
fechado é zero
Os elementos estão ligado em série, desta forma a cada instante a corrente é a mesma
em todos os pontos do circuito. Logo, temos um único fasor I que representa a corrente
que passa em todos os elementos do circuito.
A cada instante temos:
que é a soma das projeções dos fasores VR VL e VC e que é também a projeção da soma
vetorial dos fasores.
V
Z=
I
1.3. RESISTÊNCIA E REATÂNCIA 21
Observação 2. As expressões para circuitos RLC são válidas para os outros semelhantes:
LC, RL e RC em série:
• Não há resistor =⇒ R = 0
• Não há indutor =⇒ L = 0
Q 1
• Não há capacitor =⇒ C = ∞ =⇒ VC = = 0 ou XC = =0
C ωC
Todas as relações entre tensão e corrente continuam válidas para grandezas descritas
pelo valor eficaz:
V = ZI
V I
√ =Z√
2 2
Vef = ZIef
V V π V π
i(t) = cos(ωt) i(t) = cos(ωt − ) i(t) = cos(ωt + )
R Z 2 Z 2
V V V V V
V=RI → tensão e cor- = = =I = = V ωC
Z XL ωL Z XL
rente em fase
1
XL = ωL ou Xc = ou
ωC
π π
v(t) = V cos(ωt) v(t) = XL I cos(ωt − ) v(t) = Xc I cos(ωt + )
2 2
π I π
v(t) = ωLI cos(ωt − ) v(t) = cos(ωt + )
2 ωC 2
q
Z= R2 + (XL − Xc )2
i(t) = I cos(ωt)
v(t) = V cos(ωt + ϕ)
v(t) = ZI cos(ωt + ϕ)
q XL − X c
v(t) = R2 + (XL − Xc )2 I cos[ωt + tg−4 ( )]
R
e para a corrente
√ √
i(t) = 2Ief cos(ωt + β) = 2Ief cos(ωt + φ − Φ)
Sendo
√
v(t) = 2Vef cos(ωt + φ
notamos que
v(t) = <e(v̂(t))
onde
√
v̂(t) = 2Vef ej(ωt+φ) ; j 2 = −1
Da mesma forma se
√
i(t) = 2Ief cos(ωt)
1.4. ASSOCIAÇÃO DA FUNÇÕES V(T) E I(T) A NÚMEROS COMPLEXOS OU FASORES REPRES
notamos que
i(t) = <e(î(t))
onde
√
î(t) = 2Ief ejωt
É comum expressar v̂(t) e î(t) na representação fasorial, na qual fornece-se seu valor
eficaz e sua fase. Por exemplo:
√
î(t) = 2Ief ejωt =⇒ î = Ief 0
√
v̂(t) = 2Vef ejωt+φ =⇒ v̂ = Vef φ
v̂
ẑ =
î
A expressão acima será denominada de "lei de Ohm em corrente alternada"por analogia
à expressa da lei de Ohm aplicada num resistor em c.c. ou seja:
2. Apesar de a impedância complexa não ter nenhum significado físico, o seu módulo
possui significado físico:
26 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
|v̂|
|ẑ| =
|î|
Vef volt
|ẑ| = =⇒ = ohm(Ω)
Ief ampere
v̂
3. Note que a definição ẑ = é válida para qualquer bipolo e seu módulo é sempre
v̂
dado em ohm(Ω)
d jωt d
Ae = jω(Aejωt ) ∴ ⇔ .jω
dt dt
ˆ ˆ
Aejωt
Ae jωt
dt = ∴ ⇔ ÷jω
jω
1. Resistor
√
v(t) = 2Vef cos(ωt + φ)
v̂(t) = Vef φ
1.4. ASSOCIAÇÃO DA FUNÇÕES V(T) E I(T) A NÚMEROS COMPLEXOS OU FASORES REPRES
î(t) = Ief φ
Vef
Onde Ief = pois v(t) = Ri(t).Note que a transofmrção é feita definindo-se o
R
módulo do número complexo como sendo o valor eficaz.
v̂ Vef φ
ẑ = = =R 0
î Ief φ
Daqui por diante não utilizaremos mais um resistor de valor R no domínio t, mas
sim uma impedância resistiva de valor ẑR = R 0 no domínio complexo, ou seja:
vˆR
ẑR = =R 0
iˆR
2. Indutor:
Já sabemos que
di(t)
v(t) = L
dt
28 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
Seja
√
i(t) = 2Ief cos(ωt + φ)
î(t) = Ief φ
√ π
v(t) = Lω 2Ief cos(ωt + φ + )
2
√ π
v̂ = Lω 2Ief ej(ωt+φ+ 2 )
v̂ Ief ωL (φ + π2 ) π
∴ ẑL = = = ωL ( )
î Ief φ 2
Dessa forma, não utilizaremos mais um indutor de valor L no domínio t, mas sim
uma impedância indutiva de valor ωL 90 no domínio complexo, ou seja:
vˆL
ẑL = = R 90ž
iˆL
3. Capacitor
Sabemos que ˆ
q(t) 1
v(t) = = i(t)dt
C C
sendo
√
i(t) = 2Ief cos(ωt + φ)
temos
√
î(t) = 2Ief ej(ωt+φ)
îC = Ief φ
1.4. ASSOCIAÇÃO DA FUNÇÕES V(T) E I(T) A NÚMEROS COMPLEXOS OU FASORES REPRES
1 −j π
Lembrando que a operação de integração aqui se resume a multiplicar por e 2
ω
obtemos: √ π
2Ief ej(ωt+φ− 2 )
v̂(t) =
ωC
Ief π
v̂C = (φ − )
ωC 2
v̂C Ief (φ − π2 ) 1 π
∴ ẑC = = = (− )
îC ωCIef φ ωC 2
vˆC
ẑC = = R −90ž
iˆC
Resumo básico
Todas as leis e conceitos vistos em c.c. são válidos em c.a. desde que utilizados no
domínio dos números complexos.
n
vm = 0 (1.17)
X
m=1
√ √ √
2V1ef cos(ωt + ϕ1 ) + 2V2ef cos(ωt + ϕ2 ) + 2V3ef cos(ωt + ϕ3 ) = 0
√
Re[ 2(V1ef ej(ωt+ϕ1 ) + V2ef ej(ωt+ϕ2 ) + V3ef ej(ωt+ϕ3 ) )] = 0
n
v̂m = 0 (1.18)
X
m=1
m=1
1.6 Admitância
A admitância Ŷ é definida como o inverso da impedância:
î
Ŷ = (1.20)
v̂
[|Ŷ |] = S (1.21)
Ŷ = G + jB (1.22)
1
G + jB = (1.23)
R + jX
R X
⇒G= e B= (1.24)
R2 + X 2 R 2 + x2
1
Para circuitos resistivos, X = 0 ⇒ B = 0 e G = .
R
32 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
n
ẑeq = (1.25)
X
ẑm
m=1
v̂ = ẑeq î, v̂1 = ẑ1 î, v̂2 = ẑ2 î, e v̂3 = ẑ3 î
v̂ = ẑeq î
1.8. EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 33
3
⇒ ẑeq = ẑ1 + ẑ2 + ẑ3 = (1.26)
X
ẑm
m=1
1 1 1 1 3
1
= + + = (1.28)
X
ẑeq ẑ1 ẑ2 ẑ3 m=1 ẑm
1.8.1 Exercício 1
Para o circuito da Figura 4, pede-se para determinar:
A)O equivalente circuito complexo.
B)O valor eficaz da corrente i(t).
C)O valor instantâneo da corrente i(t), bem como o seu gráfico plotado no tempo.
Dados :
v(t) = 141,42 cos(400t + 30 ◦ )
R1 = 3Ω
L1 = 10mH
C1 = 625µF C2 = 1250µF
34 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
Item A
141,42 √ √
v(t) = √ 2 cos(400t + 30 ◦ ) = 100 2 cos(400t + 30 ◦ )
2
v̂ = 100/ 30 ◦
ẑR = R/ 0 ◦ ⇒ ẑR = 3/ 0 ◦
1 1
ẑC = /−90 ◦ ⇒ ẑC1 = /−90 ◦ = 4/−90 ◦
ωC 400.625.10−6
1
⇒ ẑC2 = /−90 ◦ = 2/−90 ◦
400.1250.10−6
Item B
4/ 90 ◦ .2/ 90 ◦ 8/ 0 ◦ 8/ 0 ◦
ẑeq2 = = = = 4/ 90 ◦
4/−90 ◦ + 2/ 90 ◦ −4j + 2j 2/−90 ◦
Note então que agora temos duas impedâcias em série. Portanto, a impedância equivalente
final é dada por:
q
ẑeq = 3/ 0 ◦ + 4/ 90 ◦ = 3 + 4j = 32 + 42 /φ = 5/φ
4
φ = arctan = 53,13 ◦ ⇒ ẑeq = 5/ 53,13 ◦
3
36 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
Item C
√
î = 20/−23,13 ◦ ⇒ i(t) = 20 2 cos(ωt − 23,13 ◦ )
√
i(t) = 20 2 cos(400t − 23,13 ◦ )
Esboço do gráfico:
1.8.2 Exercício 2
Para o circuito a seguir, determine:
A)O circuito complexo equivalente.
1.8. EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 37
Item A
282 √ √
v(t) = 282 sen(500t + 120 ◦ ) = √ 2 cos(500t + 120 ◦ − 90 ◦ ) = 200 2 cos(500t + 30 ◦ )
2
⇒ v̂ = 200/ 30 ◦
ẑR1 = R1 / 0 ◦ = 2/ 0 ◦
ẑR2 = R2 / 0 ◦ = 8/ 0 ◦
1 1
ẑC2 = /−90 ◦ = /−90 ◦ = 8/−90 ◦
ωC2 500.250.10 −6
1 1
ẑC3 = /−90 ◦ = /−90 ◦ = 4/−90 ◦
ωC3 500.500.10 −6
Item B
√
ẑs1 = 2/ 0 ◦ + 4/ 90 ◦ = 2 + 4j = 20/φ
4
φ = arctan = 63,43 ◦ ⇒ ẑs1 = 4,47/ 63,43 ◦
2
√
ẑs2 = 8/ 0 ◦ + 8/−90 ◦ = 8 − 8j = 2j = 8 2/−45 ◦ = 11,31/−45 ◦
Figura 1.39: Circuito complexo equivalente após as duas primeiras associações em série.
√ √
20/ 63,43 ◦ .4/−90 ◦ 4 20/−26,57 ◦ 17,88/−26,57 ◦
ẑp1 = √ = = = 8,94/−26,57 ◦ = 8−4j
20/ 63,43 ◦ + 4/−90 ◦ 2 + 4j − 4j 2/ 0 ◦
Figura 1.40: Circuito complexo equivalente após as duas primeiras associações em paralelo.
Dessa forma, reduzimos o circuito a uma única malha, com pode ser observado na Figura
15. Assim, determinamos a corrente complexa:
v̂ 200/ 30 ◦
î = = = 20/−6,86 ◦
ẑ 10/ 36,87 ◦
Figura 1.42: Primeiro passo para a obtenção das correntes e das tensões complexas.
Figura 1.43: Segundo passo para a obtenção das correntes e das tensões complexas
Figura 1.44: Terceiro passo para a obtenção das correntes e das tensões complexas.
Item C
Serão feitas três verificações analíticas: verificação das correntes, das tensões e verifica-
ções vetoriais. Note que, devido às aproximações numéricas efetuadas, os resultados das
verificações analíticas poderão apresentar ligeiras diferenças. Na prática, diferenças da
ordem de até 1% são aceitáveis.
1.8. EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 41
Figura 1.45: Quarto passo para a obtenção das correntes e das tensões complexas.
Figura 1.46: Último passo para a obtenção das correntes e das tensões complexas.
Nó A:
28,3/−51,87 ◦ + 31,6/ 101,6 ◦ = 11,12 + 8,89j = 14,11/ 38,02 ◦
Nó F:
14,15/ 38,13 ◦ + 14,15/−51,87 ◦ = 19,87 + 2,39j = 20,01/−6,87 ◦
Nó E:
20/−96,87 ◦ + 14,15/ 38,13 ◦ = 8,74 + 11,12j = 14,14/−51,84 ◦
Nó C:
Pela lei das malhas, sabe-se que a soma das tensões em uma malha deve ser zero. Malha
A-B-C-A:
Malha A-C-F-A:
Malha F-C-E-F
Malha E-C-D-E
Note que números complexos não são vetores, mas sim fasores. Em termos de soma e
subtração, entretanto, possuem propriedades vetoriais. A verificação vetorial (também
denominada verificação pelo diagrama de Fresnell) consiste na aplicação das leis de Kir-
chhoff na forma vetorial ou fasorial. Comecemos então pelas correntes nos nós.
Note então que nos diagramas da Figura 21 é mostrado que no nó A, por exemplo, a soma
vetorial de 28,3/−51,87 ◦ com 31,6/ 101,6 ◦ fornece como resultante o fasor 14,11/ 38,02 ◦ .
Ainda, no nó F, é mostrado que a soma vetorial de 14,15/ 38,13 ◦ com 14,15/−51,87 ◦
fornece como resultante o fasor 20,01/−6,87 ◦ , resultados já comprovados de forma analítica.
pode-se observar na Figura 23 que a soma das tensões a malha A-C-F-A é igual a zero.
1.9. ANÁLISE DE MALHAS EM CORRENTE ALTERNADA 43
Figura 1.49: Verificação das lei das malhas na malha A-C-F-A pelo método da soma
poligonal.
1 1
ẑeq = R/ 0 ◦ + ωL/ 90 ◦ + /−90 ◦ = R + j(ωL − )
ωC ωC
Re(ẑeq ) = R (1.29)
1
XL − XC = ωL − (1.30)
ωC
s
1 2
|ẑeq | = Z = R2 + (ωL − ) (1.31)
ωC
A representação no plano complexo é a seguinte:
v̂1 − ẑ1 î1 − ẑ2 î1 − ẑ3 î3 − v̂2 = 0
v̂1 − ẑ1 î1 − ẑ2 î1 − ẑ3 î1 + ẑ3 î2 − v̂2 = 0
v̂2 + ẑ3 î1 − ẑ4 î2 − v̂3 = 0 ⇒
v̂2 + ẑ3 î1 − ẑ3 î2 − ẑ4 î2 − v̂3 = 0
î = î − î
3 1 2
(ẑ1 + ẑ2 + ẑ3 )î1 − ẑ3 î2 = v̂1 − v̂2 = ve1
⇒
−ẑ3 î1 + (ẑ3 + ẑ4 )î2 = v̂2 − v̂3 = ve2
Assim, sendo:
ẑkk a soma das impedâncias da malha k;
ẑkl = ẑlk a soma das impedâncias entre as malhas l e k com o sinal trocado;
vek a tensão total da malha k e;
ei
k a corrente que passa na malha k.
O sistema de equações anterior toma a seguinte forma:
ẑ11 ẑ12 i1 ve1
e
= (1.32)
ẑ21 ẑ22 ei2 ve2
ẑ
11
ẑ12 ... ẑ1n ei1 ve
1
ẑ21 ẑ22 ... ẑ2n ei2 v
e2
= (1.33)
... ... ... ...
... ...
ẑn1 ẑn2 ... ẑnn ein ven
1.10. POTÊNCIA MÉDIA 45
ˆ
VI T
Pmed = cos(ωt) cos(ωt + ϕ)dt
T 0
ˆ
VI T
Pmed = cos(ωt)[cos(ωt) cos(ϕ) − sen(ωt) sen(ϕ)]dt
T 0
ˆ ˆ
1 T 1 T1
Lembrando que cos(ωt) sen(ωt) = sen(2ωt)dt = 0, temos:
T 0 T 0 2
V I cos(ϕ)
Pmed = (1.36)
2
√ √
Lembrando que V = 2Vef e I = 2Ief , a potência média de um circuito C.A. genérico é:
R
cos(ϕ) = (1.38)
|ẑeq |
Figura 1.53: Gráfico da potência, corrente e tensão para um resistor em circuito AC.
Figura 1.54: Gráfico da potência, corrente e tensão para um capacior em circuito AC.
Quando a potência é positiva, energia está sendo fornecida para carregar o capacitor.
Quando é negativa, está sendo restituida à fonte, ou seja, o capacitor está descarregando.
Isso implica que a energia num ciclo é nula.
1.11. RESSONÂNCIA EM CIRCUITOS DE CORRENTE ALTERNADA 47
Muitas aplicações práticas dos circuitos RLC em série se devem ao modo pelo qual tais
circuitos respondem a diferentes fontes de frequência angular ω. Por exemplo, um circuito
de sintonia típico em um receptor de rádio é simplesmente um circuito RLC em série. Um
sinal de rádio em qualquer frequência produz uma corrente com a mesma frequência no
circuito do receptor, porém a amplitude da corrente atinge seu valor máximo quando a
frequência do sinal é igual a uma frequência particular para a qual o circuito receptor se
encontra sintonizado.
Esse efeito é chamado de ressonância. Ressonância é uma condição em um circuito RLC
na qual as reatâncias indutiva e capacitiva são iguais em módulo, resultando em uma
impedância puramente resistiva.
Ou seja, a condição de ressonância é dada por:
Im(ẑeq ) = 0 (1.39)
1
Im(ẑeq ) = 0 ⇒ XL − XC = 0 ⇒ ω0 C =
ω0 L
48 CAPÍTULO 1. CORRENTE ALTERNADA
1
ω0 = √ (1.40)
LC
Vimos que num circuito RLC em série:
V V V
I= =q =q (1.41)
Z R2 + (XL − XC )2 R2 + (ωL − ωC )
1 2
ω0 1
f0 = ⇒ f0 = √ (1.42)
2π 2π LC
Note pelo gráfico acima que para ω < ω0 , XC é dominante, logo a tensão está atrasada
em relação à corrente. Já para ω > ω0 , XL é dominante, logo a tensão está adiantada em
relação à corrente.
Convém saber o que ocorre com as voltagens em um circuito RLC em série durante a
π
ressonância. Sabemos que a voltagem no indutor está adiantada de e que no capacitor
2
π
está atrasada de . Logo, elas possuem sinais contrários todo o tempo. Na frequência de
2
ressonância, a reatância capacitiva é igual a reatância indutiva. Assim, como XL = XC e
a corrente é a mesma, temos que as tensões do indutor e do capacitor se cancelam a cada
instante:
IXL = IXC ⇒ vL = −vC (1.43)
1.11. RESSONÂNCIA EM CIRCUITOS DE CORRENTE ALTERNADA 49
vR = vf onte (1.44)
ωC /−90 + ωLR/ 90 + ωC / 0◦
◦ ◦
1 1 1 1 R ωL
= + + =
ẑeq ωL/ 90 ◦ 1
ωC /−90
◦ R/ 0 ◦ ωL
ωC R
1 1 1 1 1
= /−90 ◦ + ωC/ 90 ◦ + / 0 ◦ = + j(ωC − )
ẑeq ωL R R ωC
Então, tomando-se:
1
ωC − ωL
φ = arctan( 1 )
R
1
ωC − ωL
ϕ = −φ ⇒ ϕ = arctan(− 1 ) (1.45)
R
1 1 2 1
ẑeq = [ + (ωC − ) ] 2 /ϕ (1.46)
R2 ωL
1.11. RESSONÂNCIA EM CIRCUITOS DE CORRENTE ALTERNADA 51
1 1 1
= + j(ωC − )
ẑeq R ωC
R − j(ωC − ωL )
1 1
⇒ ẑeq = (1.47)
( R1 )2 + (ωC − ωL )
1 2
2.1 Introdução
Foram vistas no semestre passado as equações de Maxwell e que estas culminavam
nas equações de onda. Vimos também que no vácuo e na ausência de fontes, a velocidade
de propagação eletromagnéticas era igual a velocidade de propagação da luz no vácuo.
O que é fantástico, dado que o valor de c era conhecido em épocas passadas através de
experiências com observações astronômicas, bem como por medições feitas na terra por
Fizeau1 (usando uma roda dentada em rotação rápida e um espelho) e de estudos de
Focault.
Já os valores de 0 e µ0 tinham sido determinadas por experiências puramente eletromag-
néticas.
Em seu trabalho "Um tratado sobre Eletricidade e Magnetismo" Maxwell escreveu:
53
54 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
Mais adiante Maxwell mostra uma tabela na qual se evidencia a igualdade dos valores
de velocidades obtidos de forma totalmente independentes. Ou seja, conclui-se que a luz é
uma onda eletromagnética.
Esse foi um dos grandes momentos da Física. Eletricidade e Magnetismo tinham
evoluído independentemente até Orsted2 e Faraday. Mas com Maxwell, a óptica, até então
uma disciplina inteiramente separada, passava a ser um ramo do Eletromagnetismo.
Com a introdução do termo correspondente à corrente de deslocamento, foi possível
obter a equação de onda e mostrar que a onda se propaga através da variação do campo
magnético no tempo produzindo um campo elétrico também variável no tempo, e assim
por diante.
• Ondas Longitudinais
• Ondas Transversais
2
Hans Christian Ørsted foi um físico e químico dinamarquês. É conhecido sobretudo por ter descoberto
que as correntes elétricas podem criar campos magnéticos que são parte importante do Electromagnetismo
2.3. ONDAS EM UMA DIMENSÃO 55
Ondas Longitudinais
A perturbação transmitida pela onda tem lugar ao longo da direção de propagação da
onda. Um exemplo clássico é o de compressão da extremidade uma mola em equilíbrio
(figura 2.1). As ondas sonoras são também exemplos de ondas longitudinais – quando
falamos, o nosso diafragma produz pertubações que geram compressões e rarefações no ar,
produzindo então nossa voz (som).
Ondas Transversais
A pertubação transmitida pela onda é na direção perpendicular a de propagação. Um
exemplo é a pertubação causada pelo impulso em uma das extremidades de uma corda
com uma extremidade fixa e outra livre, sacudindo-a de cima para baixo. As ondas
eletromagnéticas são outro exemplo de ondas transversais, como será visto logo mais.
Nesse caso, os campos elétricos e magnéticos oscilam mantendo-se sempre perpendiculares
a direção de propagação (figura 2.2). Vale lembrar que tais ondas não precisam de um
meio material para propagarem-se (podemos ter vácuo).
onda progressiva que se desloca como um todo para a direita, sem mudar de forma no
tempo e com velocidade v.
Considerando um novo referencial y 0 que se move em relação a y também com velocidade
constante v, verificamos que o perfil da onda não muda com o tempo. Assim, nesse novo
referencial, temos:
y 0 (x,t) = y(x0 ,0) = f (x0 )
x = x0 + vt ⇒ x0 = x − vt
Substituindo temos:
y 0 (x,t) = f (x0 ) = f (x − vt) (2.1)
A equação acima descreve uma onda progressiva que se move para direita com velocidade
v. Da mesma forma podemos descrever uma onda progressiva que se propaga para a
esquerda com velocidade v:
1
Mais adiante vamos deduzir uma forma diferencial que define a onda em uma dimensão. Chama-se de
equação da onda a EDP mostrada na seção 2.6)
2.4. ONDAS HARMÔNICAS 57
f (x) = Acos(kx + δ)
- A: Amplitude da onda
- δ: Fase da onda
- kv = ω: Frequência angular
2π
- k= : Número de onda
λ
Usando as convenções acima podemos finalmente escrever a expressão da onda senoidal
de número de onda k e frequência angular ω viajando para a direita:
2.5 Polarização
O vetor de polarização n̂ define o plano de vibração. Como as ondas eletromagnéticas
são transversais, n̂ é perpendicular a direção de propagação. Então , se k̂ é o vetor que
define a direção de propagação, temos:
Figura 2.4: n̂ = x̂
Figura 2.5: n̂ = ŷ
Dizemos que uma onda está polarizada linearmente quando sua direção n̂ é fixa
com o tempo. Além disso, podemos também escrever a expressão para a onda y(x,t) =
Acos(kx − ωt + δ) da sua forma complexa:
Sendo Ae = Aeiδ chamada de amplitude complexa. Observe que ela "carrega"a informação
da diferença de fase. Futuramente isso facilitará as contas, tão logo essa é a forma de onda
que mais iremos trabalhar.
y(x,t) = f (x0 )
x0 = x − vt
2.6. FORMA DIFERENCIAL DA ONDA UNIDIMENSIONAL 59
∂ 2y ∂ ∂y ∂ ∂f ∂x0 ∂ ∂f ∂x0 2
2∂ f
= = = −v = v (2.7)
∂t2 ∂t ∂t ∂t ∂x0 |{z}
∂t ∂x0 ∂x0 |{z}
∂t ∂x02
−v −v
∂ 2f
Vamos reescrever em função de derivadas de y, sabendo que:
∂x02
∂x0 ∂
= x − vt = 1
∂x ∂x
Assim, temos:
∂y ∂f ∂x0 ∂f ∂ 2y ∂ 2f
= 0 = 0 ⇒ 2 = 02 (2.8)
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x
Substituindo em 2.7, teremos a equação de onda unidimensional (EDP linear de 2ª
ordem):
∂ 2y 2
2∂ y
= v
∂t2 ∂x2
Por vezes escrita como:
∂ 2 y(x,t) 1 ∂ 2 y(x,t)
= (2.9)
∂x2 v 2 ∂t2
Podemos deduzir a mesma fórmula partindo da solução de um caso específico. Vejamos
que ondas as ondas transversais causadas em uma corda vibrante são governadas pela
equação 2.32, mostrada acima.
Consideremos uma onda que se propaga com um perfil y(x). Vamos assumir que dois
pontos muito próximos, distantes ∆x , possuem o mesmo valor de tração "interna"T . Dado
isso, vamos aplicar a segunda lei de Newton para uma porção de massa ∆m, considerando
que a densidade linear de massa da corda é de µ (kg/m). Observe a figura abaixo:
Fazendo o somatório de forças na vertical (eixo y), temos:
∂y ∂y ∂ 2y
Fresultante = T (x + ∆x,t) − T (x,t) = T 2 (x,t)∆x
∂x ∂x ∂ x
60 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
Sendo que:
∂ 2y
Fresultante = ∆m.a = µ∆x (x,t)
∂ 2t
Substituindo na equação anterior, teremos:
∂ 2y ∂ 2y ∂ 2y µ ∂ 2y
T (x,t)∆x = µ∆x (x,t) ⇒ (x,t) = (x,t) (2.10)
∂ 2x ∂ 2t ∂ 2x T ∂ 2t
µ
Mas temos que em uma corda a velocidade de propagação é dada por v 2 =
. Assim ,
T
substituindo na equação 2.33, vamos encontrar a mesma EDP deduzida anteriormente,
expressa na equação 2.32.
Uma observação que é relevante para nossos estudos, é que a EDP que define a equação
da onda é linear de segunda ordem. Sendo assim, a soma de quaisquer duas soluções, ou
mais, também é solução.
1 ∂ 2ψ
∇2 ψ(x,y,z,t) = (2.11)
v 2 ∂t2
Como estamos considerando uma onda plana, então temos um distúrbio de fase
constante que forma uma série de planos perpendiculares à direção de propagação. A
figura 2.8 abaixo será útil para visualizar que equação de um plano que é perpendicular a
um dado vetor contante ~k é dada por < ~k,~r >= constante, uma vez que o plano é o lugar
geométrico em que todos contém pontos para os quais o vetor posição ~r tem a mesma
projeção na direção de ~k 3 .
Fica fácil agora observarmos que o equivalente a kx, usado na equação 7.4, é ~k.~r. Ou
seja, o produto escalar da direção de propagação com o vetor posição da frente de onda.
Dessa forma, uma onda plana tridimensional pode ser escrita como:
1 ∂ 2 ∂ψ 1 ∂ 2ψ
2
r = (2.13)
|r ∂r {z ∂r } v 2 ∂r2
A
Desenvolvendo A, obtemos:
2 ∂ψ ∂ 2 ψ
A= +
r ∂r ∂r2
Por outro lado, temos que:
1 ∂ 2 (rψ) 1 ∂ψ 1 ∂ψ 1 ∂ψ ∂ 2 ψ
= ψ+r = + + =A
r ∂r2 r ∂r r ∂r r ∂r ∂r2
1 ∂ 2ψ 1 ∂ 2ψ ∂ 2 (rψ) 1 ∂ 2 (rψ)
= ⇒ = (2.14)
r ∂r2 v 2 ∂t2 ∂r2 v 2 ∂t2
Note que a expressão acima é exatamente a equação diferencial para uma onda
unidimensional em que a variável é r e a função de onda é (rψ). A solução da equação
2.37 é simplesmente:
1
rψ(r,t) = f (r − vt) ⇒ ψ(r,t) = f (r − vt)
r
A equação acima representa uma onda esférica radialmente progressiva que parte da
origem com uma velocidade constante v e que possui uma forma arbitrária f . Um caso
especial é o da onda esférica harmônica, dada por5 :
A
ψ(r,t) = cos(kr − ωt + δ) (2.15)
r
Cada frente de onda, ou superfície de fase, é dada por ~k.~r = constante. Note que a
1
amplitude de qualquer onda esférica é uma função de r, em que o termo representa um
r
o fator de atenuação. Esse fator de atenuação é uma consequência direta da conservação
de energia da onda (que será visto mais adiante). A figura 2.9 mostra o comportamento
da amplitude da onda com o aumento da distância r da fonte.
Conforme a frente de onda se propaga seu raio aumenta de forma que distante da fonte,
em uma pequena área observada da frente de onda , esta parecerá a frente de onda de
5
Observe que o termo ~k~r = k~kk.k~rk = kr, pois a direção de propagação ~k é paralela ao vetor posição ~r.
2.8. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO VÁCUO 63
uma região que não temos cargas nem correntes (ρ=0 e J~ = 0). Temos então:
~ E
∇. ~ =0 (2.16)
~
~ = − ∂B
~ ×E
∇ (2.17)
∂t
~ B
∇. ~ =0 (2.18)
~
~ = µ0 0 ∂ E
~ ×B
∇ (2.19)
∂t
Se calcularmos o rotacional da equação 2.17 temos:
~
~ × (∇
∇ ~ × E) ~ × (− ∂ B ) ⇒ ∇(
~ =∇ ~ ∇.
~ E)
~ −∇ ~ = − ∂ (∇
~2E ~ ×B~)
∂t | {z } ∂t | {z }
0 eq2.19
~k = kx î + ky ĵ + kz k̂
~r = xî + y ĵ + z k̂
Então:
ψ(x,y,z,t) = ψ0 cos(kx x + ky y + kz z − ωt + δ)
∂ 2ψ
= −kx2 ψ
∂x2
∂ 2ψ
= −ky2 ψ
∂y 2
2.8. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO VÁCUO 65
∂ 2ψ
= −kz2 ψ
∂z 2
2
Como definimos que: k~kk = kx2 + ky2 + kz2 , temos:
∂ 2ψ ∂ 2ψ ∂ 2ψ k2 ∂ 2ψ
+ + = −k ψ = 2 2
2
∂x2 ∂y 2 ∂z 2 ω ∂t
k2 1
Portanto, reescrevendo 2
= 2 , chegamos na equação da onda:
ω v
1 ∂ 2ψ
∇2 ψ = (2.21)
v 2 ∂t2
Embora a função senoidal seja um formato de onda muito específico, o fato é que
qualquer onda pode ser expressa como uma combinação linear de ondas senoidais. Basta
usarmos a seguinte expansão matemática para uma função f (x,t):
ˆ ∞
f (x,t) = λ(k)ei(kx−ωt) dk
−∞
Dessa forma, se sabemos como uma onda senoidal se comporta, saberemos como
qualquer onda se comporta (em princípio), seja uni ou tridimensionalmente – pois qualquer
66 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
onda tridimensional pode ser escrita como uma combinação de ondas planas, cada uma
com amplitude e direção de propagação definida. Sendo assim, a partir de agora vamos
limitar a nossa atenção ao estudo de ondas senoidais.
Além disso, vamos estudar ondas que possuem uma única frequência na sua compo-
sição, chamadas ondas monocromáticas. Nesse ponto é interessante lembrar o espectro
eletromagnético, mostrado de forma simplificada na próxima página.
E(~ ~ 0 ei(~k.~r−ωt)
~ r,t) = E (2.22)
B(~ ~ 0 ei(~k.~r−ωt)
~ r,t) = B (2.23)
~0 e B
E ~ 0 são as amplitudes complexas (que carregam a informação vetorial dos campos)
e os campos físicos são as partes reais de E
~ 0 (~r,t) e B
~ 0 (~r,t), ou seja:
~ = <(E)
E ~
~ = <(B)
B ~
~
∂E ∂ ~ i(~k·~r−ωt)
= (Ẽ e ) = −iω E
~
∂t ∂t
∂
⇒ ⇔ −iω (2.24)
∂t
~ = ∂ [Ẽ0x ei(kx x+ky y+kz z−ωt) ] + ∂ [Ẽ0y ei(kx x+ky y+kz z−ωt) ] + ∂ [Ẽ0z ei(kx x+ky y+kz z−ωt) ] =
~ ·E
∇
∂x ∂y ∂z
= ikx Ẽ0x ei(kx x+ky y+kz z−ωt) + iky Ẽ0y ei(kx x+ky y+kz z−ωt) + ikz Ẽ0z ei(kx x+ky y+kz z−ωt) =
= i~k · E
~ (2.25)
î ĵ k̂
~ = ∂ ∂ ∂ ∂Ez ∂Ey ∂Ex ∂Ez ∂Ey ∂Ex
~ ×E
∇ = î( − ) + ĵ( − ) + k̂( − )=
∂x ∂y ∂z ∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
Ex Ey Ez
~ ⇔ ik̂
∇ (2.26)
68 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
~ ⇒ i~k · E
~ ·E
∇ ~ =0 (2.27)
~
~ = − ∂ B ⇒ i~k × E
~ ×E
∇ ~ = iwB
~ (2.28)
∂t
~ = 0 ⇒ i~k · B
~ ·B
∇ ~ =0 (2.29)
~
~ = µ0 0 ∂ E ⇒ i~k × B
~ ×B
∇ ~ = −µ0 0 iω E
~ (2.30)
∂t
Das equações (7.4) e (2.29) concluímos que E
~ eB
~ não podem ter componentes paralelas
à direção de propagação, o que significa que as ondas eletromagnéticas no espaço livre são
transversais. Além disso, as equações (2.28) e (2.30) mostram que os três vetores E, ~ e ~k
~ B
são perpendiculares entre si, e obedecem nesta ordem a regra da mão direita, ou seja,
~ ×B
E ~ nos dá a direção de propagação da onda.
~ = Ẽ0 ei(~k·~r−ωt) n̂, onde n̂ = vetor de polarização,
No caso de ondas progressivas temos: se E
então temos pela equação de Maxwell:
~
i~k × E
~ = iω B ~ = k ×E
~ ⇒ B ~ = E0 ei(~k·~r−ωtk̂×n̂) , em que ω = v
ω c k
~ = E0 cos(kz − ωt + ϕ)ŷ
B
c
Exercício 9.9 (Griffiths) Escreva os campos elétrico e magnético (reais) para uma
onda plana monocromática E0 , de frequência ω, e ângulo de fase zero que estejam:
(a) Viajando no sentido de x negativo e polarizados na direção z;
2.8. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO VÁCUO 69
1.jpg 1.jpg
(b) Viajando a partir da origem para o ponto (1,1,1), compolarização paralela ao plano xz.
Em cada caso, desenhe a onda e dê os componentes cartesianos explícitos de k e n̂
(a) Resolução:
~ = E0 cos(−kx − ωt)ẑ
E
~ = E0 cos(−kx − ωt)ŷ, com k = ω
B
c c
ω
~k = (−x̂), n̂ = ẑ
c
ω
~
E(x,t) = E0 cos( x + ωt)ẑ
c
E 0 ω
~
B(x,t) = cos( x + ωt)ŷ
c c
(b) Resolução:
70 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
4.jpg 4.jpg
x̂ + ŷ + ẑ
k̂ = √
3
~k = √k (x̂ + ŷ + ẑ) = √ω (x̂ + ŷ + ẑ)
3 3c
αx̂ + β ẑ
n̂ = q n̂ · k̂ = 0
α2 + β 2
ω 1
√ q (α + β) = 0 ⇒ α = −β
3c α2 + β 2
x̂ − ẑ
n̂ = √
2
~ = E0 cos(~k · ~r + ωt)n̂ = E0 cos[ √ω (x + y + z) + ωt]( x̂√ − ẑ
E )
3c 2
B~ = E0 cos(~k · ~r + ωt)k̂ × n̂ =
c
E0 ω (−x̂ + 2ŷ − ẑ)
= cos( √ (x + y + z) + ωt) √
c 3c 6
Vamos examinar a situação na qual temos duas ondas eletromagnéticas planas senoidais,
uma propagando na direção +x com:
5.png 5.png
2.8. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO VÁCUO 71
6.png 6.png
ˆ
E~2 (x,t) = −E2y (x,t)ŷ = E2 0 cos(k2 x − ω2 t)−y
B~2 (x,t) = B2z (x,t)ẑ = B2 0 cos(k2 x − ω2 t)ẑ
Por simplicidade, vamos assumir que estas ondas eletromagnéticas possuem as mesmas
amplitudes (E1 0 = E2 0 = E0 , B1 0 = B2 0 = B0 ) e comprimentos de onda (k1 = k2 = k,w1 =
w2 = w). Usando o princípio da superposição, o campo elétrico e magnético são dados por:
anti-nodais de E.
~
Para o campo magnético, de maneira análoga:
n 1
cos(kx) = 0 ⇒ x = ( + )λ, n = 0,1,2... (planos nodais)
2 4
nλ
cos(kx) = ±1 ⇒ x = , n = 0,1,2... (planos anti − nodais)
2
Plano nodal de E
~ corresponde a um plano anti-nodal de B ~ e vice-versa.
nπ nπ nπ
Para a dependência temporal para o campo elétrico: sen(ωt) = 0 ∴ t = = 2π = n=
ω T
2
1 2π
0,1,2... T = = é o período. Note que esta condição é exatamente a condição de
f ω
máximo para o campo magnético. Então, ao contrário das ondas progressivas, para as
ondas eletromagnéticas estacionárias, os campos estão defasados de 90 graus.
7.png 7.png
Em FIS32, vimos que campos elétricos e magnéticos armazenam energia. Então, energia
também pode ser transportada por ondas eletromagnéticas, as quais são compostas de
ambos os campos.
Vimos que a densidade volumétrica de energia é dada por:
0 ~ 2 B~2
u= E + (2.33)
2 2µ0
0 ~ 2 B~2
Onde o termo E é a densidade de energia associada com o campo elétrico e éa
2 2µ0
densidade de energia associada com o campo magnético.
Lembrando que E ~2 = E
~ ·E ~2 = B
~ eB ~ em que E
~ · B, ~ = E(~ ~ = B(~
~ r,t) e B ~ r,t).
2.8. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO VÁCUO 73
∂u 0 ∂ ~ ~ 1 ∂ ~ ~
= (E · E) + (B · B) (2.34)
∂t 2 ∂t 2µ0 ∂t
~ = Ex2 + Ey2 + e2z e B
~ ·E
onde E ~ = Bx2 + By2 + Bz2
~ ·B
~ =0
~ ·E
∇ (2.36)
~ =0
~ ·B
∇ (2.37)
~
~ ×E
∇ ~ = − ∂B (2.38)
∂t
~
~ ×B
∇ ~ = µ0 0 ∂ E (2.39)
∂t
~· 1 ∇
∂u ~
= 0 E ~ + B · (−∇
~ ×B ~ × B)
~
∂t µ0 0 µ0
Como ∇
~ · (E ~ =B
~ × B) ~ · (∇
~ × E) ~ · (−∇
~ −E ~ temos:
~ × E),
~ ~
∂u ~ · (E × B )
= −∇
∂t µ0
Portanto:
~ + ∂u = 0
~ ·S
∇ (2.40)
∂t
~ ×B
E ~
~=
onde S é definido com o vetor de Poynting (2.41)
µ0
~ + ∂ρ = 0, que expressa
A equação 2.40 nos lembra a equação da continuidade da carga ∇
∂t
74 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
∂u 0 ∂ ~ ~ 1 ∂ ~ ~
= (E · E) + (B · B)
∂t 2 ∂t 2µ0 ∂t
~ · ∂E + 1 B
∂u ~ ~
= 0 E ~ · ∂B
∂t ∂t µ0 ∂t
~=1
~ ·E
∇
~ =0
~ ·B
∇
~
~ = − ∂B
~ ×E
∇
∂t
~
~ ×B
∇ ~ = µ0 J~ + µ0 0 ∂ E
∂t
~ ·[ 1 ∇ ~ − J ]+ 1 B
∂u ~
⇒ = 0 E ~ ×B ~ · (−∇
~ × E)
~
∂t µ0 0 0 µ0
~ ~
∴
∂u
= −∇~ · (E × B ) − E ~ · J~ Teorema de Poynting
∂t µ0
J~ =
X
ni qi v~i
i
Assim, a taxa segundo a qual o trabalho pelo campo magnético é realizado por unidade
2.8. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO VÁCUO 75
de volume é:
ni F~ ·~v = ~ · v~i = E
~· ni qi v~i = E
~ · J~
X X X
ni q i E
i i i
ˆ
dw
= ~ = trabalho por unidade de tempo realizado pelo campo eletromagnético
~ · Jdv
E
dt V
sobre as cargas contidas em V.
Na forma integral escrevemos o Teorema de Poynting como:
ˆ ˛ ˆ
d 1 B2 1
(0 E 2 + )dv = − (E
~ × B)
~ · d~s − ~ · Jdv
E ~
dt V 2 µ0 µ0 S V
O 1º termo do lado esquerdo é a energia total armazenada nos campos, o 1º termo do lado
direito é a taxa com que a energia é retirada de V pelos campos através da superfície de
contorno, o 2º termo do lado direito é o trabalho total por unidade de tempo realizado
pelo campo eletromagnético sobre todas as cargas contidas em V.
O teorema de Poynting exprime a conservação da energia associada a uma onda eletro-
magnética.
Interpretação do Teorema de Poynting:
8.png 8.png
∂u ~ ·S
∇ ~
=− ~ · J~
−E
∂t µ0
76 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
9.png 9.png
~ · J~ = EJ = V J
E
d
P ot V J
=
V ol d
V ol
pot = V J = V JA = V I = potdissipada, onde A é a área
d
(2.42)
10.png 10.png
~ ·S
∇ ~ = − ∂u
ˆ ∂t
ˆ
∂u
(∇ · S)dv = −
~ ~ dv
∂t
V ˛ V
⇒ S ~ · d~a = − dU
S dt
~ ~ ~ ~ ~ 2
~ = E × B = E × ( −k × E ) = E k k̂
S
µ0 µ0 ω µ0 ω
k 1 1
kv = ω ⇒ = =
ω v c
2
~ = E k̂ = c0 E 2 k̂ = cuk̂, em que u é a densidade de energia
S
µ0 c
~= 1E
S ~ = 1 E0 B0 cos2 (kx − ωt)î
~ ×B
µ0 µ0
Sendo Eef e Bef o campo elétrico e magnético eficaz, respectivamente, e < cos2 (kx−ωt) >=
78 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
1
. Temos:
2
ˆ
~ >= 1
T
E0 B0 2
I =< |S| cos (kx − ωt)dt =
T 0 µ0
2 2
E0 B0 E02 cB02 Eef cBef
= = = = =
2µ0 2cµ0 2µ0 cµ0 µ0
E02 I
< u >==< uE + uB >= 0 < E 2 >= 0 = 0 cµ0 I =
2 c
I =< |S|
~ >= c < u >
~ ei(~k·~r−ωt)
~ = Ẽ
E 0
~
Ẽ
B ~ ei(~k·~r−ωt) ou H
~ = B̃ ~ =
0 i(~k·~r−ωt)
e
0
cµ
e calcula-se:
~ >= 1 Re(E
<S ~ × H∗)em
~ que H∗
~ é o complexo conjugado de H
~
2
Uv
p= (2.43)
c2
vU cU U
p= 2
= 2 =
c c c
dp u
= , em que u=densidade de energia (2.44)
dV c
Mas nós vimos que o vetor de Poynting para uma onda plana linearmente polarizada é:
~
S ~ = cu ⇒ u = |S|
~ = cuk̂ ⇒ |S| (2.45)
c
dp ~
|S|
= 2 (2.46)
dV c
recipiente.
Consideramos primeiro um caso simples. Suponhamos que uma onda eletromagnética
plana incida perpendicularmente sobre uma superfície perfeitamente absorvente, para qual
o momento incidente será igual ao absorvido.
*******Figura***************
A pressão instantânea exercida pela onda é:
11.png 11.png
F dp cdp dp ~
|S| ~
|S|
Pre = = = =c =c 2 =
A Adt cAdt dV c c
~
|S|(~r,t)
∴ Pre (~r,t) = (2.47)
c
Então a pressão instantânea, Pre (~r,t), exercida numa superfície com absorção total está
relacionada ao módulo do vetor de Poynting.
Ao considerarmos o seu valor médio, temos:
ˆ
1 T
hPre i = Pre (~r, t) dt
T 0
ˆ ~ (~r, t)
1 T S
hPre i = dt
T 0 c
I
hPre i =
c
Ua Ur
p= +2
c c
2.9. POLARIZAÇÃO 81
2.9 Polarização
Se o campo elétrico mantiver a sua direção fixa temos uma polarização linear.
Consideremos agora duas ondas eletromagnéticas, linearmente polarizadas, propagando-se
no sentido positivo do eixo z.
E~1 , B~1 = campos da onda 1
E~2 , B~2 = campos da onda 2
Como as equações de Maxwell são lineares, se E~2 , B~2 e E~2 , B~2 satisfazem separada-
mente as equações de Maxwell, a sua soma também satisfará, ou seja, E, ~ , tal que
~ B
~ = E~1 + E~2 e B
E ~ = B~1 + B~2
Consideremos que as ondas possuem a mesma frequência e:
E~1 = Ex x̂
E~2 = Ey ŷ
Esta é a equação de uma elipse inscrita num retângulo de lados 2Eox e 2Eoy .
Conclui-se que da sobreposição de duas ondas senoidais com a mesma frequência e com
direções de polarização ortogonais, resulta uma onda eletromagnética cujo campo E ~
descreve uma elipse no plano z = cte.
Vejamos alguns casos especiais da equação anterior.
Se φ = 0
Ex Ey
=
Eox Eoy
Eox
Ex = Ey
Eoy
e a polarização é linear.
Esse caso é similar ao caso em que φ = ±π
Eox
Ex = − Ey
Eoy
2.9. POLARIZAÇÃO 83
π 3π
Se φ = ou φ =
2 2 !2
2
Ex Ey
+ =1
Eox Eoy
que representa a equação de uma elipse referida aos eixos.
A extremidade do vetor campo elétrico descreve uma elipse no sentido anti-horário
π
(se φ = , e no sentido horário caso contrário) para um observador que olhe para o
2
plano z = cte a partir de um ponto do eixo z com z > cte. ⇒ Polarização elíptica.
π
Caso em que Eox = Eoy e φ = A elipse degenera numa circunferência e a polariza-
2
ção diz-se circular; a onda é dita circularmente polarizada para a esquerda.
3π
Caso em que Eox = Eoy e φ = A elipse degenera numa circunferência e a polari-
2
zação diz-se circular; a onda é dita circularmente polarizada para a direita
84 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
~ D
∇· ~ = ρl
~ B
∇· ~ =0
~
~ = − ∂B
~ ×E
∇
∂t
~
~ = J~l + ∂ D
~ ×H
∇
∂t
Se o meio é linear
~ = εE
D ~
~
~ =B
H
µ
e homogêneo
~ E
∇· ~=ρ
ε
~ B
∇· ~ =0
~
~ = − ∂B
~ ×E
∇
∂t
~
~ = µJ~l + µε ∂ E
~ ×B
∇
∂t
~ =−∂ ∇
~× ∇
∇ ~ ×E ~ ×B
~
∂t
∂ ∂ ~
E
~ ∇·
∇ ~ E
~ −∇ E 2 ~ = − µJ~l + µε
∂t ∂t
~
∇ρ ~ 2~
~ = µ ∂ Jl − µε ∂ E
− ∇2 E
ε ∂t ∂t2
Assim, chegamos a
~
∂ 2E ∂ J~l ∇ρ
~
~ − µε
∇2 E = µ + (2.48a)
∂t2 ∂t ε
2.10. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NA MATÉRIA 85
Analogamente
2~
~ × J~l − µε ∂ B
~× ∇
∇ ~ ×B~ =µ ∇
∂t2
2~
~ × J~l − µε ∂ B
~ ∇·
∇ ~ B
~ − ∇2 B ~ =µ ∇
∂t2
~ ∇·
∇ ~ =0
~ B
Assim, chegamos a
~
∂ 2B
~ − µε
∇2 B = −µ ~ × J~l
∇ (2.48b)
∂t2
No caso da condutividade σ ser constante, temos:
~
∂ 2E ∂E~ ~
∇ρ
~ − µε
∇2 E − σµ =
∂t2 ∂t ε
∂ ~
2B ∂ ~
B
~ − µε
∇2 B − σµ =0
∂t2 ∂t
1 ∂ 2E~
~−
∇2 E =0
v 2 ∂t2
~− 1 ∂ B =0
2~
∇2 B
v 2 ∂t2
1
onde v = √ é a velocidade de propagação e admite solução do tipo ondas planas senoidais
µε
ω
com k = .
v
É habitual definir uma outra propriedade do meio, que é o índice de refração (n) como
razão entre a velocidade de fase da onda eletromagnética no vácuo e nesse meio:
s
c µε
n= =
v µ 0 ε0
86 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
√
s
ε
n= = k
ε0
~
S ~×B =E
~ =E ~ ×H
~
µ
~ B0 , é igual a E0 e a
Para ondas planas monocromáticas, ω = kv, a amplitude de B,
v
intensidade é
1
I = εvE02
2
Ao considerarmos as condições de contorno estudadas anteriormente:
~1 · n̂ = σl
~2 − D
D
E~2 − E~1 × n̂ = 0
B~2 − B~1 · n̂ = 0
~1 × n̂ = κl
~2 − H
H
P~2 − P~1 · n̂ = −σp
~ 1 × n̂ = κm
~2 − M
M
~1 · n̂ = 0 ⇒ ε2 E2⊥ = ε1 E1⊥
~2 − D
D
00 00
E~2 − E~1 × n̂ = 0 ⇒ E2 = E1
B~2 − B~1 · n̂ = 0 ⇒ B2⊥ = B1⊥
00 00
~1 × n̂ = κl = 0 (neste caso) ⇒ B2 = B1
~2 − H
H
µ2 µ1
2.10.1 Exercícios
t
I(t) = I0
τ
Resolução:
para z < R
~ = µ0 nI(t)ẑ
B
para z > R
~ =0
B
88 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
d
2πrE = − µ0 nI(t)πr2
dt
~ = nrI0 θ̂
E
µ 0
2τ
~ ~
~ = E ×B
S
µ0
2 2
~ = µ0 n I0 rt (−r̂)
S
2τ 2
Fora do solenoide, S
~ = 0 pois B
~ = 0.
Pelo teorema de Poynting, temos:
~ S
∇· ~ (~r, t) + ∂u (~r, t) = 0
∂t
para r < R
1 ε0 µ0 nrI0 2 1 µ0 nI0 t
2
B2
!
u = uE + uB = ε0 E 2 + = +
2 µ0 2 2τ 2µ0 τ
∂u µ0 n2 I02 t
⇒ =
∂t! τ2
1 (rS ) 1 2 I 2 tr 2 µ0 n2 I02 t
!
~ =− ∂ r ∂ µ 0 n
~ S
∇· =− 0
= −
r ∂r r ∂r 2τ 2 τ2
∂u
⇒ = −∇·
~ S ~
∂t
para r > R
u = uE
∂u
=0
∂t
~ =0
S
∂u
⇒ = −∇·
~ S~
∂t
2.10. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NA MATÉRIA 89
Poderíamos também ter usado a forma integral. Para isso, precisamos definir uma
superfície que delimita um volume, por exemplo, poderia ser a área lateral do solenoide.
Considere um cilindro de raio R e comprimento l e o eixo z coincidindo com o seu eixo
de simetria.
~ = S (−r̂)
S
∂u ~ ~
+ ∇· S = 0
∂t˛ ˆ
d
S· d~a = −
~ udv
dt
a V
˛ 2 2 2 2 2
~ d~a = S2πRl = − µ0 n I0 Rt 2πRl = − µ0 n I0 πR lt
S·
2τ 2 τ2
a
ˆ " ˆ ˆ
d d ε0 1
#
− udv = − E dv +
2
B dv
2
dt dt 2 2µ0
V
ˆ ˆ ˆ ˆ
d d l 2π R µ0 nI0 t 2 µ0 n2 I02 πR2 lt
− udv = − rdrdθdz = −
dt dt 0 0 0 τ τ2
V
˛ ˆ
d
⇒ logo, ~ d~a = −
S· udv ⇒ c.q.d.
dt
a V
Resolução:
90 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
no caso, temos
εA
C=
d
d εA ε
RC = ρ =
A d σ
V = RI0
I0 d
⇒V =
σA
Então
t
εI0 −
Q (t) = 1 − e RC
σ
Sabemos que
~ = Q(t) ẑ
E
Aε
t
~ = I0
−
E 1 − e RC ẑ
σA
Precisamos achar H
~ pois S
~ =E
~ ×H
~
~
∇~ ×H~ = J~ + ∂ D , onde J~ = σ E
~ eD
~ = εE
~
˛ ˆ ∂t ˆ
~ d
H· dl = σ E· d~a + ε E·
~ ~ ~ d~a
dt
Γ S S
σt σt
I0 − I0 2 σ −
H2πr = σ 1 − e ε πr + ε
2
πr e ε
σA σA ε
~ = I0 r θ̂
H
2A
2
σt
~= 0 I −
S e ε r (−r̂)
2σA2
2.10. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NA MATÉRIA 91
!
∂u
Observando o teorema de Poynting = −∇·
~ S ~ J~ , interessa-nos calcular os
~ − E·
∂t
seguintes valores:
σt
~= I02 −
~ S
∇· 1 − e ε
σA2
σt 2
~ J~ = σ E· ~= I02 −
E· ~ E
2 1 − e ε
σA
∂ εE 2 B 2
" #
∂u
= + mas, como B = µH não depende de t
∂t ∂t 2 2µ
σt σt
εE 2 I02
" #
∂u ∂ − −
= = 1 − e ε e ε
∂t ∂t 2 σA 2
~ (r, θ, φ, t) = E0 senθ cos (kr − ωt) − 1 sen (kr − ωt) φ̂ , em coordenadas esféricas, com ω = c
E
r kr k
Resolução:
1 ∂Eφ
i. ∇·
~ E~= =0
r senθ ∂φ
92 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
~
ii. ∇ ~ = − ∂B
~ ×E
∂t
~= 1 ∂ 1 ∂
~ ×E
∇ Eφ senθ r̂ − rEφ θ̂
r senθ ∂θ r ∂r
1 E 1
~= 0
~ ×E
∇ 2 senθ cos θ cos (kr − ωt) − sen (kr − ωt) r̂
r senθ r kr
1 1 1
− E0 senθ −k sen (kr − ωt) + 2 sen (kr − ωt) − cos (kr − ωt) θ̂
r kr r
Integrando em t, temos B ~
iii. ∇·
~ B~ =0
~ = 1 ∂ r2 Br + 1 ∂ (Bθ senθ)
~ B
∇·
r2 ∂r r senθ ∂θ
2E cos θ 1 1
~= 0
~ B
∇· k cos (kr − ωt) − cos (kr − ωt) − sen (kr − ωt)
ωr2 kr2 r
2E0 cos θ 1 1
+ −k cos (kr − ωt) + 2 cos (kr − ωt) + sen (kr − ωt)
ωr2 kr r
~ B
∇· ~ =0
~
iv. ∇ ~ = µ 0 ε0 ∂ E
~ ×B
∂t
~ = 1 ∂ (rBθ ) − ∂Br φ̂
" #
~ ×B
∇
r ∂r ∂θ
~ = 1 E0 senθ k sen (kr − ωt) + 1 cos (kr − ωt) φ̂
~ ×B
∇
c r r
∂E~ 1 ∂E ~
µ 0 ε0 = 2 =
∂t c ∂t
1 E0 senθ 1
= k sen (kr − ωt) + cos (kr − ωt) φ̂ = ∇
~ ×B
~
c r r
Resolução:
~= 1 E
S ~ ×B
~
µ0
2.11. REFLEXÃO E TRANSMISSÃO PARA INCIDÊNCIA NORMAL 93
~ = 2E0 senθ cos θ 1 − 1 sen (kr − ωt) cos (kr − ωt) + 1 cos (2kr − 2ωt) θ̂
2
S
µ0 ωr3 k2 r2 kr
E sen θ
2 2 1 2 1
+ 0 − sen (kr − ωt) cos (kr − ωt) + k cos2
(kr − ωt) − cos (2kr − 2ωt) r̂
µ0 ωr2 k2 r3 r kr2
E 2 senθ k E 2 sen2 θ
!
I= 0 2 senθ = 0
µ0 ωr 2 2µ0 ωcr2
(a) Refletida
(b) Transmitida
Sabemos que
E~˜I + E~˜R = E~˜T
2.11. REFLEXÃO E TRANSMISSÃO PARA INCIDÊNCIA NORMAL 95
Da condição de contorno:
z=0
00 00
E~1 = E~2
⇓
ẼoI ei(k1 ·0−ωt) + ẼoR ei(−k1 ·0−ωt) = ẼoT ei(k2 ·0−ωt)
ẼoI + ẼoR = ẼoT (2.49a)
00 00
B~1 B~2
=
µ1 µ2
⇓
B̃oI B̃oR B̃oT
− =
µ1 µ1 µ2
ẼoI ẼoR ẼoT
− = (2.49b)
v1 µ1 v1 µ1 v2 µ2
v1 µ1
ẼoI − ẼoR = ẼoT (2.49c)
v2 µ2
v1 v1 µ1 n2 µ1 n2
≈ ≡β= ≈ (2.49d)
v2 v2 µ2 n1 µ2 n1
2
2ẼoI = ẼoT (β + 1) ⇒ ẼoT = ẼoI (2.49e)
β +1
1−β
2ẼoR = ẼoT (1 − β) ⇒ ẼoR = ẼoI (2.49f)
β +1
2n1 2n1
ẼoT = ẼoI EoT = EoI
n1 + n2 n1 + n2
⇒ amplitudes reais
n1 − n2 2n1
ẼoR = ẼoI EoR = EoI
n1 + n2 n1 + n2
1
I = εvE02
2
Considerando µ1 ≈ µ2 ≈ µ0 :
IR
R≡ = razão da intensidade refletida em relação à incidente = coeficiente de reflexão
II
IR ε2 v2 EoR 2 ε1 n1 (n1 − n2 )2
R≡ = 2 =
II ε1 v1 EoI ε1 n1 (n1 + n2 )2
(n1 − n2 )2
R=
(n1 + n2 )2
IT
T≡ = coeficiente de transmissão
II
IT 2
ε2 v2 EoT n22 n1 4n21 4n1 n2
T≡ = 2 = 2 2 =
II ε1 v1 EoI n1 n2 (n1 + n2 ) (n1 + n2 )2
(n1 − n2 )2 4n1 n2
R+T = 2 + =1
(n1 + n2 ) (n1 + n2 )2
2.11.1 Exemplo
Resolução:
!2
0,5
R= = 0,04
2,5
4· 1· 1,5
T= = 0,96
(2,5)2
⇒ quase toda a luz é transmitida no processo.
2.12. REFLEXÃO E TRANSMISSÃO PARA INCIDÊNCIA OBLÍQUA 97
v2 n1
ω = kI v1 = kR v1 = kT v2 ⇒ kI = kR = kT = kT
v1 n2
para z = 0
Os fatores das exponenciais devem ser iguais pois as condições de contorno só podem se
verificar para todos os pontos do plano xy e para qualquer valor de t. Com isso, podemos
escrever que:
kIx x + kIy y = kRx x + kRy y = kT x x + kT y y
Para x = 0
kIy = kRy = kT y
98 CAPÍTULO 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E EQUAÇÕES DE MAXWELL
Para y = 0
kIx = kRx = kT x
senθT kR ω v2 n1
= = =
senθR kT v1 ω n2
senθT n1
= (Lei de Snell)
senθR n2
Capítulo 3
Interferência e Difração
99
100 CAPÍTULO 3. INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO
~ o1 cos k~1 · r~1 − ωt + ϕ1
E~1 (~r, t) = E
~ o2 cos k~2 · r~2 − ωt + ϕ2
E~2 (~r, t) = E
I = εvhE T
~ 2 i = hE·
~ 2 i ⇒ I ∝ hE
T
~ Ei
~
T
No caso E
~ = E~1 + E~2
~ E
E· ~ =E ~1 + E
~ 1· E ~ 2 + 2E
~ 2· E ~ 1· E
~2
I ∝ hE ~ 1 i + hE
~ 1· E ~ 2 i + 2hE
~ 2· E ~ 1· E
~ 2i
T T T
3.1. INTERFERÊNCIA DE ONDAS 101
~ ~
~ 2 = E0,1 · E0,2 · (ei(2~k·~r−2ωt+ϕ1 +ϕ2 ) + e−i(2~k·~r−2ωt+ϕ1 +ϕ2 ) + ei(ϕ1 −ϕ2 ) + e−i(ϕ1 −ϕ2 ) )
~1 · E
E
2
~
Chamando ei(2k·~r+ϕ1 +ϕ2 ) de δ, temos:
~ ~ ˆ T ˆ T !
~ 2 i = E0,1 · E0,2
~1 · E
hE
δ −i2ωt
e −i(ϕ1 −ϕ2 )
dt + e +
δ
e
i2ωt
dt
2 T 0 T 0
~ 2i = E
~1 · E
hE ~ 0,2 cos (ϕ1 − ϕ2 ) = E
~ 0,1 · E ~ 0,2 cos (ϕ2 − ϕ1 ) = E
~ 0,1 · E ~ 0,1 cos (∆).
~ 0,2 · E
~1 + E
|E ~ 0,1 · (e−i(~k1 ·~r−ωt+ϕ1 ) + e−i(~k2 ·~r−ωt+ϕ2 ) )(ei(~k1 ·~r−ωt+ϕ1 ) + ei(~k2 ·~r−ωt+ϕ2 ) )
~ 2 |2 = E
= E0,1
2
+ E0,1
2
+ E0,1 E0,1 ei(ϕ2 −ϕ1 ) + E0,1 E0,1 e−i(ϕ2 −ϕ1 )
q
= E0,1
2
+ E0,1
2
+ 2E0,1 E0,1 cos (ϕ2 − ϕ1 ) = I12 + I22 + 2 I1 I2 cos ∆.
Note que se E
~ 0,1 e E
~ 0,2 são perpendiculares, então I1,2 = 0 e I = I1 + I2 .
I1,2 = E0,1 E0,1 cos ∆
2
E0,1
I1 =
22
E0,2
I2 =
.
2
q
I1,2 = 2 I1 I2 cos ∆
q
I = I1 + I2 + 2 I1 I2 cos ∆
Quando 0 < cos ∆ < 1, as ondas estão fora de fase e I1 + I2 < I < Imax → interferência
construtiva.
1
Se ∆ = (n + )π, n = 0, ± 1, ± 2, . . ., então cos ∆ = 0 → I = I1 + I2 → ondas estão 90◦
2
fora de fase.
Se −1 < cos ∆ < 0, então se tem interferência destrutiva. Daí I1 + I2 > I > Imin
Se cos ∆ = −1, então ∆ = (2n + 1)π; n = 0, ± 1, ± 2, . . . e temos interferência destrutiva
total.
Um caso importante é o que as amplitudes das ondas são iguais (E ~ 0,1 = E
~ 0,2 ). Então
∆
I1 = I2 = I0 e I = 2I0 + 2I0 cos ∆ = 2I0 (1 + cos ∆) = 4I0 cos2 ( ), de onde tiramos que
2
Imin = 0 e Imax = 4I0 .
Efeitos de interferência como esses são característicos de ondas e inexplicáveis numa
teoria corpuscular da luz, quando esperaríamos que a intensidade resultante fosse a soma
das intensidades, sem termos de interferência. É impressionante que ”luz mais luz” possa
resultar em escuridão!
3.1. INTERFERÊNCIA DE ONDAS 103
A ikr1 A ikr2
v(P ) = v1 + v2 = e + e
r1 r2
d
r1 ≈ R − senθ
2
d
r2 ≈ R + senθ
2
1
Note que omitimos o fator temporal por razões práticas, pois este não afeta o resultado.
104 CAPÍTULO 3. INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO
Vimos que:
∆
I = 4I0 cos2
2
A
I0 =
R
∆ = ϕ2 − ϕ1 → diferença de caminho percorrido pelas ondas, x, com ∆ = kx
x
tgθ = ≈ senθ → x ≈ d senθ → ∆ = kd senθ
d
x y d
≈ →x=y
d R R
R
y = nλ
d
y λ
θ ≈ senθ ≈ =n
R d
λ
∴ Os espaçamentos entre máximos e mínimos será de
d
1
Se x = (n + )λ, n = 0, ± 1, ± 2, . . ., teremos interferência destrutiva.
2
1 R
y = n+ λ
2 d
I =0
3.2. COERÊNCIA 105
∆ kd senθ
! !
I = 4I0 cos2
= 4I0 cos2
2 2
2π
Mas k =
λ
πd senθ
!
I = 4I0 cos2
λ
Poderia parecer à primeira vista que intensidades duplas das que resultariam da soma
das intensidades devidas a cada abertura isoladamente violariam a conservaçã de energia,
mas há uma compensação entre interferência destrutiva e construtiva.
De fato, se calcularmos a intensidade!média das franjas sobre uma região que contém
∆ 1
várias franjas, o valor médio de cos2 é , o que dá para a intensidade média:
2 2
hIi = 2I0
3.2 Coerência
Vejamos o porquê da observação original de Young; de que é essencial, para observar
efeitos de interferência entre trajetos de luz, que eles se originem da mesma fonte.
Consideremos primeiro um problema de superposição de muitos feixes de luz, todos
monocromáticos e de mesma frequência angular ω, propagando-se na mesma direção, mas
com defasagens relativas distribuídas ao acaso. Isso sucederia, por exemplo, se eles viessem
106 CAPÍTULO 3. INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO
todos de fontes de luz diferentes, cujas fases de oscilação são independentes entre si.
Num dado ponto do espaço, a onda luminosa é da forma:
N
E= Aj eiϕj e−iωt
X
j=1
N
|E|2 = | Aj eiϕj |2
X
j=1
N N N
−iϕj
= Aj e Ak e iϕk
= |Aj |2 + Aj Ak ei(ϕk −ϕj )
X X X XX
j=1 j<k
N
= |Aj |2 + 2 Aj Ak cos (ϕk − ϕj )
X XX
j=1 j<k
N XXq
∴I = Ij + 2 Ij Ik cos (∆jk ), com ∆jk = ϕk − ϕj
X
j=1 j<k
q
Que é uma generalização da lei de interferência de dois feixes: I = I1 + I2 + 2 I1 I2 cos ∆.
Como as fases ϕk estão distribuídas ao acaso, o mesmo vale para as diferenças ∆jk.
Para N grande, os valores de cos ϕk − ϕj tendem a estar equidistribuídos, com valores
positivos e negativos igualmente prováveis. Logo, o termo de interferência vai a zero.
N
I= Ij2
X
j=1
3.3 Difração
Por outro lado, se λ ≈ d ou λ > d, o feixe de luz sofrerá difração. Já em 1665, Francesco
Maria Grimaldi havia observado que se o orifício é muito pequeno, como o produzido por
um alfinete e a distância entre os anteparos, R, for suficientemente grande, a luz penetra
na sombra geométrica, com o aparecimento de franjas claras e escuras na vizinhança do
limite da sombra.
Esses desvios da propagação retilínea da luz foram chamados de difração, nome ligado
à deflexão dos raios luminosos. Nesse sentido, a difração tanto pode aplicar-se à passagem
através de uma abertura como ao espalhamento por um obstáculo.
Os fenômenos de difração, assim como os de interferência, são característicos de uma
teoria ondulatória.
108 CAPÍTULO 3. INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO
• As ondas esféricas secundŕias oriundas dos diferentes potos de uma frente de onda
são coerentes, pois a frente de onda é uma superfície de fase constante.
Nós vamos nos restringir ao caso especial de difração chamado de difração de Fraunhofer.
Nesse caso, todos os raios que emergem de uma fenda são aproximadamente paralelos
entre si.
Para o padrão de difração ser observado num anteparo de observação, uma lente
convexa é colocada entre o anteparos para a convergência dos raios.
Nessa sação, nós vamos considerar a largura da fenda finita e vamos ver como surge a
difração de Fraunhofer.
Seja uma fonte de luz monocromática incidente em um anteparo com uma fenda de
largura d, conforme mostra a figura:
d λ
senθ =
2 2
λ
senθ = (3.1)
d
Logo, interferência destrutiva irá ocorrer em d senθ = nλ, com n = ±1, ±2, ±3, . . ..
110 CAPÍTULO 3. INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO
Antes de continuarmos, vamos responder uma pergunta que talvez você esteja se
fazendo: qual é a diferença entre interferência e difração? A resposta é: não há uma
distinção física significativa entre interferência e difração. No entanto, se costumava chamar
de interferência a superposição de poucas ondas e de difação de um grande número de
ondas.
Da série geométrica:
N
1 − rN +1
rn =
X
n=0 1−r
1 − eiδ(N −1+1) eiN δ − 1
= = iδ
1 − eiδ e −1
112 CAPÍTULO 3. INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO
Daí:
eiN δ − 1
Ẽ(~r) = E0 (~r)ei(kr1 −ωt)
eiδ − 1
iN δ −iN δ
i(kr1 −ωt) i(N −1) 2δ e 2 −e 2
= E0 (~r)e e iδ −iδ
e 2 −e 2
sen Nδ
= E0 (~r)ei(kr1 −ωt) e( kr1 +(N −1) 2δ −ωt ) 2
sen 2δ
(N − 1)δ
Seja + R o comprimento do raio central:
2
(N − 1)δ
= k(R − r1 )
2
sen
Nδ
2
Ẽ(~r) = E0 (~r)ei(kR−ωt)
sen 2δ
EE ∗ E (~r)
2 sen 2 Nδ
2
I= = 0
2 2
sen2 2δ
2 N k∆y senθ
E02 sen 2 I0 sen
2 Nδ
2
I= =
2 sen2 δ
N 2 sen2 k∆y senθ
2 2
N =0→I =0
N = 1 → I = I0
!
δ
N = 2 → I = I0 cos
2
2
I0 ∆y 2 sen I0 sen2 ka senθ
2 ka senθ k∆y senθ
2 2
I= = 2
ka senθ 2
a2 sen2 k∆y senθ sen k∆y senθ
2 2 2
3.3. DIFRAÇÃO 113
No limite ∆y → 0:
I0 sen2 ka senθ
2
I =
ka senθ 2
2
sen2 πa λsenθ
I = I0
πa senθ 2
λ
πa senθ
!
Condição de mínimo: sen =0
λ
πa senθ
= mπ m = ±1, ±2, . . .
λ
mλ
senθ = m = ±1, ±2, . . .
a
R − r(y) = y senθ
r(y) = R − y senθ
i(kr−wt)
dE = e dy
R
ˆ a/2
i(kr(y)−wt)
E= e dy
−a/2 R
ˆ a/2 a/2
i(kR−ky senθ−wt) ei(kR−ky senθ−wt)
= e dy =
−a/2 R R ik senθ a/2
(−2i) sen ka senθ
= ei(kR−wt) 2
R (−i)k senθ
a i(kR−wt) sen ka senθ
2
= e
ka senθ
R
2
ka senθ
ka senθ 2 a2 sin2 2
Chamando de β e sabendo que I =< E
~ 2 >T , temos I = =
2 2R2 ka senθ 2
2
2 a2 sin2 β sin2 β sen2 β
. Daí, se θ = 0, = 1, pois lim = 1. Logo, temos o máximo principal
2R2 β 2 β2 β→0 β 2
em θ = 0. A intensidade resultante de uma fonte coerente na aproximação de Fraunhofer
!2
senβ
para a difração de uma única fenda é I(θ) = I(0) .
β
3.3. DIFRAÇÃO 115
ka senθ πa senθ
Analisando as intensidades em função de β, temos β = = :
2 λ
I(θ) deve ter um máximo nestes valores de β : (±1.4303π, ±2.459π, ±3.47π, . . .). Pegue-
πa senθ
mos, por exemplo, β = 3.47π. Como β = e β é constante, se aumentarmos a fenda,
λ
θ deve ser menor, assim como se diminuirmos λ. Então, se a fonte emitir luz branca, as
ordens superiores de máximos vão existir numa sucessão de cores terminando no vermelho.
116 CAPÍTULO 3. INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO
Agora, temos 2 fendas, cada uma com largura a e separados por uma distância d. O
padrão de interferência da fenda dupla também incluirá o padrão de difração de cada fenda
individual, de forma que a intensidade total será simplesmente o produto das intensidades.
sen2 πa senθ
πd senθ
!
λ
I = I0,1 I0,2 cos 2
πa senθ 2 2
λ
d senθ λ d
= m → m = → a m-ésima franja não é vista
a senθ λ a
A Física Quântica
4.1 Introdução
1
Numa reunião da sociedade Alemã de Física, em 14 de dezembro de 1900, Max Planck
apresentou um artigo sobre "A Teoria da Lei de Distribuição de Energia do Espectro
Normal". Esse artigo, que a princípio atraiu pouca atenção, foi o início de uma revolução
na Física. A data de sua apresentação é considerada como a data do nascimento da Física
Quântica, embora só um quarto de século mais tarde a mecânica quântica moderna, base
de nossa concepção atual da natureza, tenha sido desenvolvida por Schrödinger e outros.
Assim como a teoria da relatividade, a física quântica representa uma generalização da
física clássica, que inclui as leis clássicas como casos especiais. Assim como a relatividade
estende o campo de aplicação das leis físicas para a região de grandes velocidades, a física
quântica estende esse campo à região de pequenas dimensões e, assim como uma constante
universal de significado fundamental, a velocidade da luz, caracteriza a relatividade,
também uma constante universal de significado fundamental, a chamada constante de
Planck h, caracteriza a física quântica.
A física quântica constitui uma alteração profunda e muito mais radical das ideias
fundamentais da física do que a relatividade. Toda a nossa intuição construída com a
mecânica clássica pode ser esquecida. Richard Feynman costumava dizer que "ninguém
entende Mecânica Quântica". Dessa forma, vocês podem se sentir um pouco mais "tran-
quilos", pois daqui a algumas aulas vocês também não entenderão a Mecânica Quântica
e nós poderemos, juntos, espalhar a nossa ignorância. Com isso, podemos dizer que o
1
As referências bibliográficas utilizadas nesse capítulo são: Eisberg (E), Shankar (S) e Oswaldo Pessoas
(OP).
119
120 CAPÍTULO 4. A FÍSICA QUÂNTICA
2. Pode-se também argumentar que a maior novidade da teoria quântica é o papel que
a probabilidade nela desempenha, descrevendo um mundo essencialmente "indeter-
minista".
4. Outros, com espírito mais filosófico, salientam que o que essa teoria tem de funda-
mental é que o observador não pode ser separado do objeto que está sendo observado.
6. Aqueles com viés mais matemático afirmam que o essencial na mecânica quântica é
o uso de grandezas que não comutam, ou o papel insubstituível desempenhado pelos
números complexos.
7. Mais recentemente, o Teorema de Bell fez muitos concluírem que a grande novidade
da teoria quântica é sua peculiar não-localidade.
8. Alguns acham que a mais marcante é que a constante de Planck h fixa uma "escala"na
natureza, separando o mundo microscópico do macroscópico.
9. Todas essas afirmações são pertinentes. No entanto, adotaremos como o nosso ponto
de partida a dualidade onda-partícula.
4.3. A CONTRADIÇÃO ENTRE ONDA E PARTÍCULA 121
Em outras palavras, o que caracteriza a teoria quântica de maneira essencial é que ela
é a teoria que atribui para qualquer partícula individual, aspectos ondulatórios, e para
qualquer forma de radiação, aspectos corpusculares.
E = hν (4.1)
h
p = (4.2)
λ
E = h̄ω (4.3)
p = h̄k (4.4)
2π
sendo que k = é o número de onda e ω = 2πν é a velocidade angular. A constante
λ
h é chamada constante de Planck e lê-se h̄ como h cortado.
Nós dizemos que, a cada instante, um fóton atinge o filme. Então, a luz parece ser
feita de partículas chamadas fótons, com energia E = h̄ω = h̄ck = cp, tal como partículas
sem massa. (Lembre: E 2 = c2 p2 + m2 c4 . Se m = 0 → E = cp)
Poderíamos então pensar, tudo bem, a luz é feita de fótons como a água é feita de
moléculas e átomos e a interferência ocorre, então o fato de a luz ser composta de partículas
não seria um problema para a nossa intuição. Mas como justificamos a formação ponto a
ponto? Lembre-se: a onda não é localizada!
Bom, mas como não bastasse o fato da localização ponto a ponto, o mais impressionante
é que essa formação ponto a ponto do padrão de interferência ocorre mesmo que apenas
um fóton ou elétron incida por vez, por exemplo a cada segundo!
Conforme ressaltou Paul Dirac em 1930: "Cada fóton, portanto, só interfere consigo
mesmo". Na hora de detectarmos, a detecção se dá através de uma troca pontual de
um pacote mínimo de energia. Os fótons, quando são detectados, aparecem de maneira
indivisível e pontual.
4.5. DE BROGLIE 123
4.5 De Broglie
Em sua tese de doutorado, Louis De Broglie postulou o seguinte: "Se a luz, que nós
tínhamos certeza de ser uma onda, possui propriedade de partículas (feita de fótons),
então partículas como elétrons, as quais nós temos certeza serem partículas, devem ter
propriedade de ondas". A ideia essecial é estender a todas as partículas a noção de que a
elas está associada uma onda de comprimento de onda dado por
2πh̄
λ= (4.5)
p
2π 2π
(E = h̄ω = h̄kc = pc = h̄ c ⇒ p = h̄ )
λ λ
Quando a interferência das duas fendas foi feita com elétrons de momento p, um padrão
2πh̄
de interferência relativo a uma onda de comprimento de onda λ = foi observado.
p
Com a luz, o padrão de interferência não foi um choque, mas na natureza corpuscular
dos fóton foi. Aqui, os elétrons, considerados partículas, atingirem a tela fosforescente
ponto a ponto era esperado, mas não o padrão de interferência novamente. A experiência
mostra que o mesmo ocorre se for emitido um elétron por vez!
Vamos pensar mais um pouco sobre isso. Considere duas fendas F1 e F2 . Se os elétrons
fossem partículas no sentido clássico, teríamos basicamente uma reprodução das fendas na
124 CAPÍTULO 4. A FÍSICA QUÂNTICA
tela e o resultado seria o mesmo se somássemos o resultado de cada fenda aberta, ou seja:
I1+2 = I1 + I2 (4.6)
Figura 4.1: Resultado previsto classicamente para a fenda dupla com elétrons
Não haveria como, abrindo uma segunda fenda, diminuirmos a quantidade de partículas
chegando à tela. Uma partícula newtoniana não tem como saber que há outra fenda aberta
distante da que está passando. Alguém poderia argumentar que as partículas poderiam
colidir umas com as outras de modo a formar o padrão de interferência. É difícil acreditar
que a chance de isso acontecer seja significativa. Mas, de qualquer forma, esse argumento
não seria válido no caso de uma única partícula passando, pois não é possível ela colidir
com ela mesma.
Enquanto que I1+2 6= I1 + I2 é muito estranho do ponto de vista das partículas, é muito
natural do ponto de vista das ondas. Uma onda "sabe"quantas fendas há, uma vez que ela
é espalhada, e uma onda de outra fenda pode cancelar a primeira.
O experimento da fenda dupla mostra:
2πh̄
1. partículas de momento p associado à um comprimento de onda dado por λ =
p
2. ondas de comprimento de onda λ que descrevem uma partícula de momento p dado
2πh̄
por p =
λ
Usando essa onda, podemos prever o padrão de interferência através da teoria clássica
e predizer com isso a probabilidade de cada partícula estar numa determinada posição.
4.5. DE BROGLIE 125
Note que, a princípio, se um elétron (ou fóton, etc...) for emitido, nós não sabemos em
qual posição da tela fosforescente aparecerá um ponto, só sabemos a probabilidade de este
aparecer ali! Temos então uma teoria estatística e não determinista! Esta era a grande
crítica de Einstein, que refutou com: "Deus não joga dados!".
Desse modo, se consideramos um conjunto de detectores na tela fosforescente, cada
elétron é absorvido "inteiro"pelo detector, isto é, transmite uma carga e uma massa, nunca
em partes, e assim ele é considerado uma partícula. O caso da luz desafia mais a nossa
intuição, mas ela também é absorvida em pacotes mínimos de energia hν. Como a luz é
sempre detectada como fótons individuais, temos a tendência de inferir que esses fótons
mantêm a sua individualidade enquanto não são observados. Porém, se seguirmos essa
intuição, teremos que admitir que o elétron passa ou pela fenda 1 ou pela fenda 2. Temos
alguma maneira de verificar isso?
Feynman propôs que tentássemos medir a posição do elétron, quando este passasse
pelas fendas, por meio de uma fonte de luz colocada entre as fendas logo após o anteparo.
Um detecto de luz DA é colocado de forma a detectar se um elétron passou pela fenda FA
e um detector de luz DB é colocado simetricamente de forma a detectar se o elétron passou
pela fenda FB . O que se observa é que o padrão de interferência desaparece! Conclusão:
quando medimos por qual fenda os elétrons passam, eles se comportam como balas de
revólver ou bolinhas, ou seja, partículas no sentido clássico. Se, por exemplo, 10% dos
elétrons não fossem detectados, estes iriam formar um padrão de interferência, o qual iria
se somar com o observado.
A explicação dada por Feynman é que cada fóton espalhado provoca um distúrbio no
movimento do elétron, introduzindo uma incerteza em sua posição e que acaba borrando o
padrão de interferência.
126 CAPÍTULO 4. A FÍSICA QUÂNTICA
Em outras palavras, podemos pensar da seguinte forma: para ver um elétron com
resolução comparável à dimensão da fenda d, temos de usar uma luz com λ < d. Mas,
2πh̄ h
a luz é feita de fótons, cada um com momento p = . Então, temos: p > . Esse
λ d
momento pode parecer pequeno para você ou para mim, mas para o elétron é significativo
e pode mudar o resultado do experimento. Então, medir a posição do elétron introduz
um distúrbio em seu momento. Essa é a origem do princípio da incerteza, o qual diz
que a tentativa de localizar o elétron muito precisamente causa uma grande incerteza no
momento do elétron.
Vamos analisar um pouco mais o princípio da incerteza. Vejamos uma forma de localizar
o elétron. Considere uma fenda com dimensão ∆y (essa é a precisão na localização do
elétron).
Agora suponha uma fonte que emite elétrons com um momento bem definido p. Como,
2πh̄
associada ao elétron, há uma onda com λ = , se ∆y for pequeno, então haverá difração,
p
e se olharmos o anteparo haverá uma dispersão, sendo que a posição do primeiro mínimo
é dada por ∆y senθ = λ (estudo de ondas). Então, para que isso ocorra, os elétrons que
acabaram de passar pela fenda devem ter um momento dentro de um intervalo dado por
∆p = p senθ. Assim, temos:
Ou seja, quanto mais tentamos localizar o elétron diminuindo ∆y, maior será a incerteza
em ∆p.
Esse é o Princípio da Incerteza de Heisenberg. Ele nos diz que não é possível produzir
uma partícula de momento e posição com precisões arbitrárias. Se nós definimos a incerteza
usando as ideias da Estatística, como o desvio quadrático médio em torno da média, o
princípio toma a forma:
h̄
∆x∆px ≥ (4.8)
2
Segue do princípio da incerteza que uma partícula com momento bem definido terá
uma posição da qual não sabemos nada, ou seja, ela possui a mesma probabilidade de
estar em qualquer lugar!
Vamos refletir um pouco mais sobre o princípio da incerteza.
Na física clássica de ondas, pode-se definir uma onda contínua de comprimento de onda
2π
λ bem definido, ou, para facilitar, número de onda k = bem definido, mas nesse caso
λ
não se pode associar nenhuma posição x à onda.
Por outro lado, é possível descrever um pulso mais ou menos bem localizado superpondo-
se ondas contínuas de números de onda próximos, formando um "pacote de onda"no espaço
de posições.
Nota-se que no pulso existe ao mesmo tempo uma resolução espacial ∆x e uma largura
de banda ∆k apreciáveis.
É possível tornar o pulso cada vez mais bem localizado em torno de um valor bem
definido de x, superpondo-se ondas contínuas de uma faixa cada vez mais larga de valores
de k.
5.1 Introdução
∞
EP (E)
P
n=0 hν
hEi = ∞ = hν (5.1)
P (E) e −1
P kt
n=0
Planck, em seu trabalho original, considerou que apenas a energia da partícula oscilante
da parede é que era quantizada. Somente mais tarde foi que ele aceitou a ideia de que as
próprias ondas eletromagnéticas eram quantizadas e o postulado foi ampliado de forma a
incluir qualquer ente cuja coordenada oscilasse senoidalmente.
Em princípio, Planck não estava certo se sua introdução da constante h era apenas um
artifício matemático ou algo de significado físico mais profundo. Por mais de uma década,
Planck tentou encaixar a ideia quântica dentro da teoria clássica. Em cada tentativa, ela
parecia recuar de sua ousadia original, mas sempre gerava novas ideias e técnicas que a
teoria quântica mais tarde adotaria. Aparentemente, o que finalmente o convenceu da
correção e do profundo significado de sua hipótese quântica foi o fato de essa hipótese levar
a uma formulação mais exata da terceira lei da termodinâmica e do conceito estatístico de
entropia.
131
132CAPÍTULO 5. FÍSICA QUÂNTICA - PROPRIEDADES CORPUSCULARES DA RADIAÇÃO
Foi durante esse período de dúvida que Planck foi o editor do jornal alemão de pesquisa
Annalen der Physik. Em 1905, ele recebeu o primeiro artigo de Einstein. Einstein viu
como resultado do trabalho de Planck a necessidade de uma reformulação completa da
estatística clássica e do eletromagnetismo clássico.
Ele formulou previsões e interpretações de muitos fenômenos físicos que foram mais tarde
notavelmente confirmados pelas experiências. Nessa aula, veremos um desses fenômenos:
o efeito fotoelétrico.
2. Situação (b): Para V < V0 , sendo V0 o potencial limite ou de corte, elétrons ainda
conseguirão atingir a placa B. Nesse caso, elétrons são emitidos com uma energia
cinética. Se, por outro lado, V > V0 , a corrente fotoelétrica é nula.
cin
Emax = eV0 (5.2)
É verificado que:
1. Emax
cin
é independente da intensidade da luz incidente.
2. Emax
cin
varia linearmente com a frequência da luz incidente.
Figura 5.3: Variação da corrente com a voltagem para 2 valores de intensidade luminosa
A corrente I2 está relacionada com uma intensidade de luz incidente maior, enquanto
a corrente I1 está relacionada a uma intensidade de luz incidente menor.
Teríamos algo análogo à Mecânica Clássica. Para tirar um corpo do fundo de um poço,
devemos fornecer a energia E = mgh.
5.2. O EFEITO FOTOELÉTRICO 135
2. Não deveria haver dependência nenhuma com a frequência, pois o efeito fotoelétrico
deveria ocorrer para qualquer frequência da luz, desde que essa fosse intensa o
bastante para dar a energia necessária à ejeção. Entretanto, existe um limiar de
frequência ν0 característico. Para frequências menores que ν0 , o efeito fotoelétrico
não ocorre, qualquer que seja a intensidade da iluminação.
Em 1905, Einstein colocou em questão a teoria clássica da luz. Propôs uma nova
teoria e citou o efeito fotoelétrco como uma aplicação que poderia testar qual teoria estava
correta.
Einstein propôs que a energia radiante está quantizada em pacotes concentrados, que
mais tarde vieram a ser chamados fótons.
Einstein argumentou que as experiências óticas bem conhecidas de interferência e
difração da radiação eletromagnética haviam sido feitas apenas em situações que envolviam
um número muito grande de fótons. Essas experiências forneciam resultados que eram
médias do comportamento dos fótons individuais.
Einstein não concentrou sua atenção na forma ondulatória familiar com que a luz
se propaga, mas sim na maneira corpuscular com que ela é emitida e absorvida. Ele
argumentou que a exigência de Planck de que a energia das ondas eletromagnéticas de
frequência ν irradiadas por uma fonte fosse apenas 0, hν, 2hν, etc. implicava que, no
processo de ida de um estado de energia nhν para um (n − 1)hν, a fonte emitiria um pulso
discreto de radiação eletromagnética com energia hν.
E = hν (5.4)
Ecin = hν − φ (5.5)
1. Ecin
max
não depende da intensidade da luz.
Quanto maior a intensidade, maior o número de fótons, entretanto isso não altera a
energia hν.
2. Limiar de frequência
(a) Um fóton com frequência ν0 tem exatamente a energia necessária para ejetar
os fotoelétrons.
(b) Se ν < ν0 , não importa quantos fótons incidam, eles não terão a energia neces-
sária para ejetar os fotoelétrons.
E = hν − hν0 (5.7)
eV = hν − hν0 (5.8)
hν hν0
V = − (5.9)
e e
138CAPÍTULO 5. FÍSICA QUÂNTICA - PROPRIEDADES CORPUSCULARES DA RADIAÇÃO
3. Se houver luz incidindo com ν > ν0 , haverá pelo menos um fóton que atinge o metal,
e esse fóton será imediatamente absorvido causando a emissão de um fotoelétron.
Através do gráfico, como foi dito, podemos determinar a constante h. Fazendo isso,
obtemos o mesmo valor que Planck.
A concordância numérica das duas determinações de h, usando fenômenos e teorias
completamente diferentes é notável.
Millikan: "O efeito fotoelétrico... fornece uma prova independe da fornecida pela
radiação de corpo negro, da exatidão da hipótese fundamental da teoria quântica, ou seja,
a hipótese da emissão descontínua ou explosiva da energia que é absorvida das ondas pelas
constituintes eletrônicos dos átomos. Ele materializa, por assim dizer, a quantidade h
descoberta por Planck em seu estudo da radiação de corpo negro e, como nenhum outro
fenômeno, nos faz acreditar que o conceito físico básico que está por trás do trabalho de
Planck corresponde à realidade".
Exemplo: Se ν0 = 4,39.10−14 , quanto vale a função trabalho?
Resolução:
Porém, um elétron-volt, que significa a quantidade de energia cinética ganha por um elétron
quando acelerado por uma diferença de potencial de 1 volt no vácuo, vale 1 eV= 1,6.10−19
J.
Portanto, φ = 1,82 eV
Exemplo: Determine a taxa por unidade de área com que os fótons atingem a placa
metálica a 1m de distância de uma fonte luminosa (λ = 5890Å ) de 1 W.
Resolução:
1
R= u 8,0.10−2 J/m2 s = 5.1017 eV/m2 s
4π(1)2
Cada fóton tem energia
hc 6,62.10−34 .3.108
E = hν = = = 3,37.10−19 J = 2,1eV
λ 5890.10−10
Portanto,
5.1017
Taxa = = 2,4.1017 fótons/m2 s
2,1
Agora, observe a seguinte tabela:
Tabela 5.1: Comprimento e energia de alguns tipos de onda
No início do século XX, muito se estudava a respeito das ondas de raio-X (cujos
comprimentos de onda se situam na faixa entre 0.01 to 10 nanômetros) e de suas interações
com a matéria. Múltiplos experimentos mostraram que, quando as ondas de raio-X
interagem com átomos, a onda emergente possuia comprimento de onda λ0 diferente do
comprimento de onda λ inicial, conforme ilustra a Figura 5.9. Tal fato foi recebido com
surpresa pela comunidade científica, dado que, segundo as predições do eletromagnetismo
clássico, o comprimento de onda dos raios emergentes deveria ser igual aos dos iniciais.
140CAPÍTULO 5. FÍSICA QUÂNTICA - PROPRIEDADES CORPUSCULARES DA RADIAÇÃO
h
λ1 − λ0 = (1 − cos θ) (5.10)
me c
Vamos, agora, fazer a demonstração da Equação 5.10, a partir de uma visão relativística
do fenômeno, interpretando a luz como fótons com momento e energia bem definidos.
Como sabemos, a massa de repouso do fóton é nula, de modo que podemos escrever:
q
hν = Ef = p2 c2 + m20,f c4 = pc =⇒ (5.11)
hν h
p= = (5.12)
c λ
A partir desse ponto, a equação do espalhamento de Compton pode ser obtida através
da conservação de energia e da conservação de momento em cada uma das direções. A
Figura 5.10 ilustra o fenômeno completo e os referenciais e índices adotados.
repouso
E0 + Eeletron = E1 + Eeletron =⇒ (5.17)
q
hν0 + me c2 = hν1 + p2e c2 + m2e c4 =⇒ (5.18)
Dividindo a equação 5.21 em ambos os lados por 2hν0 ν1 me c e lembrando que c = λν,
chegamos finalmente relação de Compton:
h
λ1 − λ0 = (1 − cos θ) (5.22)
me c
abaixo.
=⇒ h ≈ 6.73 × 10−34
5.5. O ÁTOMO DE BOHR 143
Primeiramente, recordemos a teoria por trás do átomo de Bohr vista no Ensino Médio,
à luz dos novos conhecimentos.
hν = Ei − Ef (5.23)
Por volta de 1913, o espectro do átomo de hidrogênio já havia sido estudado exausti-
vamente e a série de Balmer fornecia o comprimento de onda das linhas do espectro de
emissão segundo a equação 5.24
1 1 1
=R 2− 2 , (5.24)
λ 2 n
sendo R = 1.097 × 107 m−1 a constante de Rydberg e n = 3,4,5,.... De fato, a equação 5.24
sugere que o átomo de hidrogênio possua uma série de níveis de energia dada por:
hcR
En = (5.25)
n2
Bohr, através de ideias mistas entre o raciocínio clássico e o quântico, verificou, por
meio de uma relação entre a frequência angular da luz emitida e as velocidades angulares
do elétron em níveis de energia altamente excitados, que o módulo do momento angular
é quantizado.
L = nh̄ (5.26)
Bohr assumiu órbitas circulares, de modo que, de acordo com a mecânica clássica:
mvn2 K0 e2
= 2 (5.27)
rn rn
n2 h̄2
rn = (5.29)
K0 me2
h̄2
Para n = 1, temos o raio de Bohr a0 = ≈ 0.5 × 10−10 m.
K0 me2
Substituindo o valor de rn na equação 5.28, temos:
K0 e2 e2
vn = = (5.30)
nh̄ 2ε0 nh
mv 2 K0 e2
En = ECIN + EP OT = − =⇒ (5.31)
2 rn
!2 !2
m K0 e2 m e2
En = − =− =⇒ (5.32)
2 nh̄ 2 2ε0 nh
me4 me4
hcR = 2 2 =⇒ R = 2 3 = 1.097 × 107 m−1 (5.33)
8ε0 h 8ε0 h c
Com esse modelo, podemos calcular, por exemplo, a energia de ionização do átomo de
hidrogênio (energia necessária para remover o elétron).
EI = E∞ − E1 = 13.606eV (5.34)
No início do século XIX, os físicos britânicos John William Strutt (conhecido como Lorde
Rayleigh) e James Hopwood Jeans estudavam o espectro da radiação eletromagnética
dos corpos negros a uma dada temperatura. A teoria de Rayleigh-Jeans baseava-se em
argumentos clássicos, e previa que a radiância espectral do corpo negro B era proporcional
a λ−4 .
A teoria de Rayleigh-Jeans culminava nas equações 5.35 e 5.36, que descreviam a
radiância espectral.
2ckT
Bλ (T ) = , (5.35)
λ4
onde c é a velocidade da luz, k é a constante de Boltzmann, T é a temperatura em Kelin e
λ o coprimento de onda. Para a frequência ν, a radiância espectral segundo a teoria de
Rayleigh-Jeans é dada por:
2ν 2 kT
Bν (T ) = (5.36)
c2
5.6. A RADIAÇÃO DO CORPO NEGRO 147
Como vimos, as ideias clássicas geravam predições errôneas para pequenos comprimentos
de onda. A solução de Planck era embasada no postulado de que a energia eletromagnética
era emitida em pacotes discretos proporcionais à frequência. Planck mostrou que a
radiância espectral dos corpos negros é dada pelas equações 5.37 e 5.38:
2hc2 1
Bλ (λ, T ) = 5 hc . (5.37)
λ e λkT − 1
2hν 3 1
Bν (ν, T ) = 2 hν (5.38)
c e kT − 1
A figura 5.12 mostra a radiância em função do comprimento de onda para diferentes
temperaturas, além de uma comparação com a teoria clássica proposta por Rayleigh-Jeans.
148CAPÍTULO 5. FÍSICA QUÂNTICA - PROPRIEDADES CORPUSCULARES DA RADIAÇÃO
Figura 5.12: A lei da radiação de Planck e a comparação com a teoria clássica de Rayleigh-
Jeans
∂Bλ
=0 (5.39)
∂λ
A partir da equação de Planck, temos:
∂Bλ hc ehc/λkT 1 5
= 2hc2 − =0
(5.40)
∂λ kT λ7 ehc/λkT − 1 2 λ6 ehc/λkT − 1
Simplificando:
hc ehc/λkT
−5 = 0 (5.41)
λkT ehc/λkT − 1
hc
Definindo x ≡ , obtemos a equação 5.42:
λkT
xex
=5 (5.42)
ex − 1
Embora a equação 5.42 não possa ser resolvida analiticamente, é possível encontramos a
solução a partir de métodos numéricos. A solução numérica da equação é x = 4.965114231,
de modo que podemos escrever:
hc 1 b
λmax = = , (5.43)
x kT T
5.6. A RADIAÇÃO DO CORPO NEGRO 149
Da lei da radiação de Planck, temos que Bν (T )AdνdΩ é a potência total irradiada por
frequências entre ν e ν + dν por uma superfície de área A através de um ângulo sólido dΩ.
Integrando ν de 0 a ∞ e Ω em uma semi-esfera, temos:
ˆ ∞ ˆ ˆ ∞ ˆ 2π ˆ π/2
I= Bν (T )dν dΩ = Bν (T ) dν dθ cos φ senφ dφ =⇒ (5.45)
0 0 0 0
ˆ ∞ ˆ ∞
2πh ν3
I =π Bν (T ) dν = 2 hν dν (5.46)
0 c 0 e kT − 1
hν h
Fazendo a substituição de variáveis u = , du = dν, temos:
kT kT
!4 ˆ ∞
2πh kT u3
I= 2 du =⇒ (5.47)
c h 0 eu − 1
2π 5 k 4 4
I= T = σT 4 , (5.48)
15c h
2 3
2π 5 k 4
onde σ = = 5.670373 × 10−8 J s−1 m−2 K−4 é a constante de proporcionalidade de
15c h
2 3
Stefan-Boltzmann, ou, simplesmente, constante de Stefan.
Para corpos reais não-negros, ainda vale a lei de Stefan-Boltzmann, com a adição de um
coeficiente de emissividade ε. Assim, a potência total irradiada é dada pela expressão
5.49:
P = AεσT 4 (5.49)
raio da Terra: RT = 6.37 × 106 m; distância entre a Terra e o Sol: RT S = 1,496 × 1011 m;
temperatura média superficial da Terra: TT = 15◦ . Explicite as hipóteses assumidas.
b) Através da teoria de Wien, utilizando a figura 5.13 como base. Utilize b = 2.897 ×
10−3 mK para a constante de dispersão de Wien.
Resolução:
a) Vamos assumir as seguintes hipótestes:
1) Ambos a Terra e o Sol se comportam como corpos negros ideais e seguem a lei de
Stefan-Boltzmann.
2) A distância entre a Terra e o Sol é muito maior do que o raio da Terra, de modo
que a parcela da energia emitida pelo Sol e absorvida pela Terra é proporcional à área da
seção circular da Terra, ou seja:
πRT2
IST = IS (5.50)
4πRST
2
IST = IT (5.51)
πRT2
IST = 4πRS2 σTS4
4πRST
2
5.6. A RADIAÇÃO DO CORPO NEGRO 151
2RT S
s
=⇒ TS = TT
RS
Substituindo os valores dados, encontramos TS = 5974 K.
b
TS = = 5794 K
λmax
Repare que, utilizando ambas as teorias, chegamos em resultados bem precisos. Cabe
ressaltar que o erro na dedução a partir da teoria de Stefan-Boltzmann é maior devido às
hipóteses simplificadores feitas.
152CAPÍTULO 5. FÍSICA QUÂNTICA - PROPRIEDADES CORPUSCULARES DA RADIAÇÃO
Capítulo 6
A função de onda Ψ
É importante ressaltar que as equações 6.1 e 6.2 podem ser simplificadas em casos
bidimensionais ou unidimensionais. A equação 6.2 é suficiente para determinarmos a
amplitude da função de onda com uma forma conhecida. Se uma função de onda satisfaz
a equação 6.2, dizemos que ela está normalizada. Na mecânica quântica, sempre traba-
lhamos com a função de onda normalizada, a não ser se for explicitamente dito o contrário.
153
154 CAPÍTULO 6. A FUNÇÃO DE ONDA Ψ
ˆ +∞
1
Ψ? (x)Ψ(x)dx = A2 2a = 1 −→ A = √
−∞ 2a
A função de onda normalizada, portanto, é dada por:
1
√ , mod x < a
2a
Ψ(x) =
0, mod x > a
O exemplo acima permite que façamos uma analogia, por exemplo, com um elétron
em uma molécula diatômica, no qual a probabilidade de o elétron estar perto de um dos
núcleos é muito grande. É importante perceber que, no exemplo anterior, apesar de existir
uma distribuição de probabilidades da localização do aluno, em nenhum momento o aluno
6.2. O PAPEL DA PROBABILIDADE NA MQ E O COLAPSO DA FUNÇÃO DE ONDA155
ˆ b
|Ψ(x,t)|2 dx (6.3)
a
Seja S um sistema físico que pode existir tanto num estado de função de onda ψ1
quanto no estado de função de onda ψ2 . A medida de uma quantidade física f dá, por
hipótese, o resultado f1 com probabilidade 1 se o sistema estiver em ψ1 e o resultado f2 ,
também com probabilidade 1, se o sistema estiver em ψ2 . Postula-se, então, que:
Toda função da forma c1 ψ1 + c2 ψ2 , onde c1 e c2 são números complexos, é
também um estado do sistema.
Este postulado é denominado princípio da superposição.
Seja f uma quantidade física que caracteriza o estado de um sistema quântico. Os
valores que uma dada quantidade física pode assumir são chamados de autovalores. O
conjunto dos autovalores é denominado espectro. Vamos supor que o espectro de f seja
discreto. Os autovalores de f são então denotados por fn (n = 0,1,2,3,...). A função de
onda do sistema, no estado em que f tem o valor fn será denotada por ψn . Essas funções
são chamadas de autofunções de f . Para cada uma delas, deve valer:
ˆ
|ψn |2 = 1 (6.4)
Ψ= (6.5)
X
an ψn
n
|an |2 = 1 (6.6)
X
ˆ
1, m = n
ψm ψn? = δmn = (6.7)
0, m 6= n
6.3. O PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO 157
ˆ
an = ψn? (x)Ψ(x)dx (6.8)
2πx
Ψ(x) = A cos
L
1 1
=⇒ Ψ(x) = √ ψ1 (x) + √ ψ−1 (x)
2 2
1
Logo, os coeficientes an são nulos para todo n 6= ±1 e iguais a √ para n = ±1. Assim,
!2
2
1 1
P (n = −1) = P (n = 1) = √ = e P (n = 0) = 0.
2 2
Repare que neste problema nós não tivemos que resolver nenhuma integral para
determinar os coeficientes an , pois a função fornecida já estava na forma de uma soma de
auto-funções (lembrando que a expansão por auto-funções é única). Em um caso mais
genérico, os coeficientes devem ser determinados a partir da equação 6.8.
158 CAPÍTULO 6. A FUNÇÃO DE ONDA Ψ
j=0
Expandindo a equação 6.10, podemos chegar em uma expressão mais simples para o
desvio padrão, como segue:
j j
j j j
ˆ +∞
hxi = xP (x)dx (6.16)
−∞
ˆ +∞
hf (x)i = f (x)P (x)dx (6.17)
−∞
Para prosseguirmos, consideremos que Ψ está expandida em uma base de ondas planas,
de modo que: ˆ
1
Ψ(x,t) = Φ(p)ei(px−Et)/h̄ dp (6.22)
2πh̄
Derivando ambos os lados em relação ao tempo, temos:
ˆ
∂Ψ 1 −iE i(px−Et)/h̄
= Φ(p) e dp (6.23)
∂t 2πh̄ h̄
160 CAPÍTULO 6. A FUNÇÃO DE ONDA Ψ
ˆ ˆ
1 p2 1 −h̄2 ∂ 2 i(px−Et)/h̄
! !
∂Ψ
ih̄ = Φ(p) ei(px−Et)/h̄
dp = Φ(p) e dp (6.24)
∂t 2πh̄ 2m 2πh̄ 2m ∂x2
ˆ
h̄2 ∂ 2 1
" #
∂Ψ
ih̄ =− Φ(p)ei(px−Et)/h̄ dp (6.25)
∂t 2m ∂x2 2πh̄
∂Ψ h̄2 ∂ 2 Ψ
ih̄ =− (6.26)
∂t 2m ∂x2
∂Ψ ih̄ ∂ 2 Ψ
= (6.27)
∂t 2m ∂x2
∂Ψ? ih̄ ∂ 2 Ψ?
=− (6.28)
∂t 2m ∂x2
Como o primeiro termo do lado direito é nulo, pois a função de onda se anula no
infinito, temos: ˆ
∂Ψ?
!
d ih̄ ? ∂Ψ
hxi = − Ψ − Ψ dx (6.32)
dt 2m R ∂x ∂x
ˆ
d ih̄ ∂Ψ
hxi = − Ψ? dx (6.33)
dt m R ∂x
∂
Em resumo, o operador −ih̄ representa o momento, enquanto o operador x representa
∂x
a posição.
ˆ
∂
hQ(x,p)i = Ψ? Q(x, − ih̄ )Ψdx (6.36)
∂x
O valor esperado da energia cinética, por exemplo, pode ser calculado por:
ˆ
h̄2 ∂2
hT i = − Ψ? Ψdx (6.37)
2m ∂x2
mx2
Ψ(x,t) = Ae−a[ h̄ +it] ,
a) Encontre A.
Resolução:
ˆ ∞ ˆ ∞
s
−2amx2 πh̄
|Ψ(x)| dx =
2 2
A e h̄ dx = A 2
=1
−∞ −∞ 2am
s
2am
=⇒ A = 4
πh̄
b) ˆ ∞
−2amx2
hxi = xA2 e h̄ dx = 0,
−∞
−2amx2
pois f (x) = xA2 e h̄ é ímpar.
ˆ ∞ √
−2amx2 A2 π h̄
hx i =
2 2
x A e2 h̄ dx = =
−∞ 2 2am 2
3
4am
h̄
162 CAPÍTULO 6. A FUNÇÃO DE ONDA Ψ
ˆ ∞ ! ˆ ∞
∂ mx2 −2amx −a[ mx2 +it]
hpi = Ψ ?
−ih̄ Ψdx = Ae−a[ h̄ −it] −ih̄A e h̄ dx
−∞ ∂x −∞ h̄
ˆ ∞
−2amx2
hpi = iA2 2amxe h̄ dx = 0,
−∞
−2amx2
pois f (x) = iA2 2amxe h̄ é ímpar. Ainda, temos:
Portanto:
ˆ ∞ 2Ψ
! ˆ ∞ 2
ˆ ∞
2∂ 2amx2
2 − 2amx
hp i =
2
Ψ ?
−h̄ dx = −4a m A2 2 2
x e h̄ + 2amA h̄
2
e− h̄
−∞ ∂x2 −∞ −∞
s s
1 πh̄3 1 πh̄
hp2 i = −4a2 m2 A2 + 2amA2 h̄ = −amh̄ + 2amh̄ = amh̄
2 8a m
3 3 2 2am
h̄
Resumindo: hxi = hpi = 0, hx2 i = e hp2 i = amh̄.
4am
b)
s
q 1 h̄
σx = hx2 i − hxi2 =
2 am
q √
σp = hp2 i − hpi2 = amh̄
Logo: s
1 h̄ √ h̄
σx σp = amh̄ =
2 am 2
h̄
Portanto, σx σp ≥ , como queríamos. De fato, essa desigualdade é válida para toda e
2
qualquer função Ψ! Esse fato se chama princípio da incerteza de Heisenberg, e será
estudado em maiores detalhes na seção seguinte.
6.6. O PRINCÍPIO DA INCERTEZA DE HEISENBERG 163
ˆ ∞ ˆ ∞ !2
σx2 = hx i − hxi =
2 2 2
x · |ψ(x)| dx − 2 2
x · |ψ(x)| dx (6.38)
−∞ −∞
ˆ ∞ ˆ ∞ !2
∂2
! !
∂
σp2 = hp i − hpi =
2 2
Ψ ?
−h̄ 2
Ψdx − Ψ?
−ih̄ Ψdx) (6.39)
−∞ ∂x2 −∞ ∂x
Em perda de generalidade, podemos deslocar nosso sistema de coordenadas de modo que
os termos hxi e hxi sejam nulos, de modo que:
ˆ ∞
σx2 = x2 · |ψ(x)|2 dx (6.40)
−∞
ˆ ∞
∂2
!
σp2 = Ψ ?
−h̄ 2
Ψdx (6.41)
−∞ ∂x2
Note que, com o produto escalar entre duas funções u e v definido como:
ˆ ∞
hu, vi = u∗ (x)v(x)dx, (6.44)
−∞
segue que
σx2 = hf, f i (6.45)
z − z∗
2 2 2 2
|z| = Re(z)
2
+ Im(z) ≥ Im(z) = (6.48)
2i
ˆ ∞ ! ˆ ∞ !
∗ d ∗ d
hf,gi − hg,f i = Ψ (x) x −ih̄ Ψ(x) dx − Ψ (x) −ih̄ x Ψ(x)dx (6.50)
−∞ dx −∞ dx
ˆ ∞ " ! #
dΨ(x) d(xΨ(x))
= ih̄ Ψ∗ (x) −x + dx (6.51)
−∞ dx dx
ˆ ∞ " ! !#
∗ dΨ(x) dΨ(x)
= ih̄ Ψ (x) −x + Ψ(x) + x dx (6.52)
−∞ dx dx
ˆ ∞
= ih̄ Ψ∗ (x)Ψ(x) dx (6.53)
ˆ−∞
∞
= ih̄ |Ψ(x)|2 dx (6.54)
−∞
= ih̄ (6.55)
Portanto, temos:
!2 !2
hf,gi − hg,f i ih̄ h̄2
σx2 σp2 2
≥ |hf, gi| ≥ = = (6.56)
2i 2i 4
Por fim, tirando a raiz quadrada de ambos os lados, chegamos ao famoso princípio da
incerteza de Heisenberg:
h̄
σx σp ≥ (6.57)
2
Uma interpretação para o princípio da incerteza de Heisenberg comumente abordada em
cursos básicos de física é de que as informações da posição e momento existem com precisão
6.6. O PRINCÍPIO DA INCERTEZA DE HEISENBERG 165
tão grande quanto se queira, e que nós apenas não temos meios de conseguir medi-las
com pequenas incertezas (tal como afirmaria o princípio). Contudo, esta interpretação é
errônea. Demonstramos matematicamente que essas informações não existem de fato:
podemos apenas inferir, com precisões delimitadas pelo princípio da incerteza, intervalos
nos quais, em um dado instante de tempo, se situam o momento e posição. Este fato
independe de eventuais medições que estejam sendo realizadas.
166 CAPÍTULO 6. A FUNÇÃO DE ONDA Ψ
Capítulo 7
Equação de Shroedinger
−h̄ ∂
Eop =
i ∂t
Em uma dimensão:
−h̄2 ∂ 2
Top =
2m ∂x2
Vop = V (x)
Em três dimensões:
167
168 CAPÍTULO 7. EQUAÇÃO DE SHROEDINGER
−h̄2 2
Top = ∇
2m
Vop = V (~r)
−h̄2 ∂ 2 Ψ −h̄ ∂Ψ
+ V (x)Ψ =
2m ∂x2 i ∂t
Ou em três dimensões:
−h̄2 2 ∂Ψ(~r,t)
∇ Ψ(~r,t) + V (~r,t)Ψ(~r,t) = h̄i
2m ∂t
Que são equações diferenciais de derivadas parciais que para cada V possui infinitas
soluções. As soluções para cada problema são limitadas pelas condições de contorno que
∂Ψ
Ψe devem obedecer, bem como pela normalização.
∂x
Outra característica importante é que a equação de Shroedinger é linear, o que implica
que a superposição de uma ou mais soluçoes também é solução.
Exemplos:
p2
E=
2m
∂ ∂2
p̂ = −ih̄ ⇒ p̂2 = −h̄2 2
∂x ∂x
−h̄2 ∂ 2
ĤΨ =
2m ∂x2
1 2
E= (p + p2y + p2z )
2m x
−h̄2 ∂ 2 ∂2 ∂2
ĤΨ = [ 2 + 2 + 2]
2m ∂x ∂y ∂z
7.2. A EQUAÇÃO DE SHROEDINGER INDEPENDENTE DO TEMPO 169
−h̄2 ∂ 2 ψ(x)
+ V (x)ψ(x)] = Eψ(x) (7.3)
2m ∂x2
−h̄ ∂φ(t)
= Eφ(t) (7.4)
i ∂t
A separação de variáveis transformou uma equação diferencial parcial em duas equações
diferenciais ordinárias.
170 CAPÍTULO 7. EQUAÇÃO DE SHROEDINGER
−Ei
φ(t) = e h̄ t
E
(função oscilante no tempo com ω = → E = ωh̄ = energia do estado) A constante
h̄
será absorvida em ψ, pois o que importa é o produto de ψφ = Ψ.
A equação 7.3 é chamada de equação de Shroedinger independente do tempo. A seguir
resolveremos a equação de Shroedinger para uma variedade de potenciais simples.
Pergunta: por que considerar esse tipo de solução ψφ = Ψ ? Respostas:
−Ei
Ψ = ψ(x)e h̄ t
|Ψ(x,t)|2 = Ψ? Ψ = ψ ? ψ = |ψ|2
Ĥψ = Eψ
−h̄2 ∂ 2
Ĥ = + V (x)
2m ∂x2
O valor esperado da energia total é dado por:
ˆ ˆ
< H >= ψ Ĥψdx = E
?
ψ ? ψdx
Ĥ 2 ψ = Ĥ(Ĥψ) = Ĥ(Eψ) = E 2 ψ
< Ĥ 2 >= E 2
7.2. A EQUAÇÃO DE SHROEDINGER INDEPENDENTE DO TEMPO 171
−E1 i
Ψ1 (x,t) = ψ1 e h̄ t
−E2 i
Ψ2 (x,t) = ψ2 e h̄ t
−En i
Ψn (x,t) = ψn e h̄ t
∞ −En i
Ψ(x,t) = cn ψn (x)e h̄ t
X
n=1
Toda solução para a equação de Shroedinger dependente do tempo pode ser escrita
dessa forma. É simplesmente uma questão de encontrar as constantes corretas
(c1 , c2 , ..., cn ) para que ela se encaixem às condições iniciais do problema.
∞
Ψ(x,0) = cn ψn (x)
X
n=1
∞ −En i
Ψ(x,t) = h̄ t
X
cn ψn e
n=1
quantização da energia.
Capítulo 8
8.1 Estado
Na Mecânica Clássica conhece-se o estado de um sistema quando são conhecidas todas
as posições e todas as velocidades dos pontos do sistema, em um determinado instante.
A partir desses dados é possível predizer todo o futuro e reconstruir todo o passado do
sistema.
Conhece-se o estado quando se pode prever o futuro do sistema com a maior precisão
possível. No caso da Mecânica Clássica essa precisão é total.
Na Mecânica Quântica tal descrição é impossível, uma vez que as coordenadas e
as velocidades não podem existir simultaneamente. Assim, a descrição de um estado
na Mecânica Quântica é feita em termos de menos quantidades do que na Mecânica
Clássica. Além disso, a Mecânica Quântica não pode fazer previsões exatas. Para um
dado estado inicial do elétron, uma medida subsequente pode dar vários resultados. O
problema típico da Mecânica Quântica é determinar a probabilidade de se obter cada um
dos resultados possíveis ao realizar uma medição. Ocasionalmente a probabilidade de se
obter um determinado valor pode ser 1 e a de todos os outros ser zero.
Os processos de medida podem ser divididos em duas classes:
a) Que contém a maioria das medições,estão aquelas que, para qualquer estado do
sistema, conduzem apenas a resultados mais ou menos prováveis.
b) Contém medições tais que, dado qualquer um dos resultados possíveis dessa medição,
173
174CAPÍTULO 8. O CONCEITO DE ESTADO, SUPERPOSIÇÃO E OPERADORES
existe um estado do sistema no qual a medição dá, com certeza, aquele valor. Essas
medições são ditas previsíveis, e desempenham um papel importante na formulação
da Mecânica Quântica. As propriedades físicas do sistema que são determinadas por
medições desse tipo são chamadas quantidades físicas, ou observáveis do sistema.
Veremos adiante que, dado um conjunto de observáveis, nem sempre é possível que
todos tenham valores definidos ao mesmo tempo. Vimos que este é o caso da posição e do
momento, por exemplo.
Um papel fundamental é desempenhado por conjuntos de quantidades físicas com a
seguinte propriedade: elas podem ser medidas simultaneamente, sendo que se elas têm
valores determinados ao mesmo tempo, então nenhuma outra grandeza física (que não seja
função daquelas) pode ter um valor definido nesse estado. Tais conjuntos de quantidades
físicas são denominados conjuntos completos de observáveis. Um conjunto completo de
observáveis fornece uma descrição máxima do sistema e, portanto, caracteriza um estado
do sistema.
O elemento básico do formalismo matemático da Mecânica Quântica consiste em que o
estado do sistema pode ser descrito por uma determinada função das coordenadas (em
geral complexa), sendo que o quadrado do módulo desta função define a distribuição das
probabilidades dos valores das coordenadas.
ˆ
|Ψ| dV = |Ψ| dq →
2 2
|Ψ|2 dq = 1
ˆ
dqΨ?(q)Φ(q)Ψ(q)
Com o decorrer do tempo o estado de um sistema, e com este a função de onda, muda,
em geral. Neste sentido, pode-se considerar a função de onda como uma função também
8.2. PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO 175
8.3 Operadores
Os valores que uma grandeza física pode tomar, denominam-se na Mecânica Quântica
de autovalores e o conjunto desse de espectro de autovalores da grandeza em questão. Na
Mecânica Clássica as grandezas assumem geralmente uma sucessão contínua de valores. Na
Mecânica Quântica existem também grandezas físicas (por exemplo, as coordenadas), cujos
autovalores formam uma sucessão contínua, nestes casos diz-se de um espectro contínuo
de autovalores.Porém, além destas grandezas, na Mecânica Quântica há também outras,
cujos autovalores forma uma sucessão discreta, neste caso diz-se de um espectro discreto.
176CAPÍTULO 8. O CONCEITO DE ESTADO, SUPERPOSIÇÃO E OPERADORES
∞
Ψ= an Ψn
X
n=1
Então concluímos que qualquer função de onda pode ser decomposta em uma série de
autofunções de uma grandeza física qualquer. De um sistema de funções, que faça possível
efetuar esta decomposição, diz-se que constitui um sistema completo de funções.
n=1
∞
|an |2 = 1
X
n=1
Já que ˆ
Ψ? Ψdq = 1
∞ ˆ
|an | =
2
Ψ? Ψdq = 1
X
n=1
8.3. OPERADORES 177
Se ˆ ˆ
∞
Ψ Ψdq = 1 =
?
a?n Ψ? Ψdq
X
n=1
Então ˆ
∞ ∞
an a?n = a?n Ψ? Ψdq
X X
n=1 n=1
ˆ
an = Ψ? Ψdq
∞
Substituindo Ψ = am Ψm obtemos:
X
m=1
∞ ˆ ˆ
an = Ψ?n Ψm dq Ψ?n Ψm dq = δmn
X
am ⇔
m=1
∞
|an |2 fn
X
< f >=
n=1
Queremos encontrar uma expressão para <f> em termos da função de onda do estado
considerado. Para isso, vamos associar à quantidade física f um operador linear fˆ que atua
sobre as funções de onda.
Seja fˆΨ a função obtida quando fˆ atua sobre Ψ. Definiremos fˆ de tal modo que a
integral do produto de (fˆΨ) pela função conjugada complexa Ψ? seja igual ao valor médio
< f >. ˆ
< f >= Ψ? (fˆΨ)dq
Como
∞
an a?n fn
X
< f >=
n=1
e ˆ
a?n = Ψn Ψ?
temos ˆ
∞
Ψ?n an Ψ?n dq
X
< f >=
n=1
178CAPÍTULO 8. O CONCEITO DE ESTADO, SUPERPOSIÇÃO E OPERADORES
∞
fˆΨ = fn an Ψn
X
n=1
∞
Lembrando que Ψ = an Ψn concluimos que
X
n=1
fˆΨn = fn Ψn
fˆΨ = f Ψ
Tanto os autovalores, como os valores médios, de uma grandeza física real são reais em
qualquer estado, logo ˆ ˆ
< f >= Ψ (fˆΨ)dq =
?
Ψ(fˆ? Ψ? )
onde fˆ? é o operador complexo conjugado de fˆ. Isso implica certas limitações para fˆ.
Vamos definir o operador transposto fˆt do operador fˆ. Sejam Ψ e Φ funções arbitrárias.
Então fˆt é tal que: ˆ ˆ
Ψ (f )Φdq = ΦfˆΨ? dq
? ˆt
Portanto
fˆ = (fˆt )?
fˆΨn = fn Ψn
fˆΨm = fm Ψm
8.4. ADIÇÃO E MULTIPLICAÇÃO DE OPERADORES 179
Como fn 6= fm temos: ˆ
Ψ?m Ψn dq = 0
fˆĝ − ĝ fˆ = 0
De tais dois operadores fˆ e ĝ, se diz que eles comutam entre si.
Se duas grandezas f e g podem ter valores determinados simultaneamente, então seus
180CAPÍTULO 8. O CONCEITO DE ESTADO, SUPERPOSIÇÃO E OPERADORES
iS
Ψ = ae h̄
dφ
ih̄ = Eφ ⇒ φ = e−iEt/h̄ (8.1)
dt
A constante será absorvida em ψ, pois o que interessa é o produto Ψ = ψφ.
Exercício:
∂Ψ
ih̄ = ĤΨ (8.2)
∂t
Ψ(x,t) = Ψ(x,t = 0)e−iĤt/h̄ (8.3)
Observações:
1. Ψ(~r,t) = ψ(~r)e−iEt/h̄ são estados estacionários, o que significa que embora Ψ dependa
8.6. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER INDEPENDENTE DO TEMPO 183
ˆ ˆ
∗
hQ(x,t)i = Ψ (~r,t)Qop Ψ(~r,t)d r =
3
ψ ∗ Qop ψd3 r
ˆ ˆ
∗
hEi = Ψ ĤΨdq = E Ψ∗ Ψdq = E
ˆ ˆ
∗
hE i =
2
Ψ Ĥ Ψdq = E2 2
Ψ∗ Ψdq = E 2
A variância = hE 2 i − hEi2 = E 2 − E 2 = 0.
Resolver esta equação significa determinar o par (E, ψ(~r)) onde E = autovalor
associado à autofunção ψ(~r).
Exercícios:
h̄2 d2
− ψ(x) = Eψ(x) (8.6)
2m dx2
d2 2m
− 2 ψ(x) = 2 Eψ(x) (8.7)
dx h̄
2m
Introduzindo k 2 = E, temos como solução da equação acima
h̄2
h̄2 π 2
En+1 − En = (2n + 1) (8.11)
2ma2
Espectros discretos para a energia estão sempre ligados ao fato de o sistema ser
localizado, isto é, ter localização restrita a uma parte finita do espaço. Sistemas que
podem estar em toda parte, como partículas livres, têm espectro contínuo.
ˆ a
ψn∗ (x)ψm
∗
(x)dx = δnm (8.12)
0
A função de onda completa para estes estados estacionários é então dada por:
s
2 nπx −iEn t/h̄
ψn (x,t) = sen e (8.13)
a a
Estados não estacionários, na realidade estados quaisquer, podem ser obtidos por
combinação lineares de Ψn (x,t).
Uma partícula de massa m se move sob ação de um campo de forças que confere à
partícula uma energia potencial V (x) tal que
h̄2 d2
− φ + V (x)φ = Eφ (8.14)
2m dx2
s
2m|E|
que para x < −a e x > a tem V (x) = 0. Definindo k = as soluções são da
h̄2
forma
Para x > a, ψII (x) = Ae−kx pois Bekx daria uma probabilidade de localização da
partícula tendendo a infinito para x → ∞, logo B = 0.
h̄2 d2
− ψII − V0 ψII = EψII (8.16)
2m dx2
2m
s
definindo q = (V0 + |E|) temos a solução geral dada por:
h̄2
0 0
e também ψII (x = a) = ψIII (x = a) que gera
8.6. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER INDEPENDENTE DO TEMPO 187
A C tgqa + C 0 C 0 tgqa − C
= = (8.22)
B −C tgqa + C 0 C + C 0 tgqa
∂Ψ
ih̄ = HΨ (9.1)
∂t
o operador Hamiltoniano H é obtido pela energia clássica
1 2 1 2
mv + V = (px + p2y + p2z ) + V (9.2)
2 2m
Escrevendo p’s em termos de seus operadores:
∂ ∂ ∂
px → −ih̄ , py → −ih̄ , pz → −ih̄ ⇒ p~ → ~
−ih̄∇ (9.3)
∂x ∂y ∂z
∂Ψ h̄2 2
ih̄ =− ∇ Ψ+V Ψ (9.4)
∂t 2m
∂2 ∂2 ∂2
onde ∇2 = + + = Laplaciano.
∂ 2 x2 ∂ 2 y 2 ∂ 2 z 2
ˆ
Com a condição de normalização = |Ψ(~r,t)|2 d3 r = 1, onde d3 r = dxdydz.
189
190CAPÍTULO 9. MECÂNICA QUÂNTICA EM TRÊS DIMENSÕES: O ÁTOMO DE HIDROGÊNIO
h̄2 2
− ∇ ψ + V ψ = Eψ (9.6)
2m
A solução geral para a eq. de Schrödinger dependente do tempo é
e2 1
V (~r) = − (9.8)
4πε r
Para resolvermos a eq. de Schrödinger devemos considerar coord. esféricas.
O Laplaciano em coordenadas esféricas é dado por:
1 ∂ 1 ∂2 1
! !
∂ ∂ ∂
∇ = 2
2
r2 + 2 + 2 senθ (9.9)
r ∂r ∂r r sen θ ∂φ
2 2 r senθ ∂θ ∂θ
Vamos supor que a massa do próton é muito maior que a do elétron. Isto corresponde
a dizer que o elétron se movimenta ao redor do núcleo sem que este se movimente, o que
reduz o problema de duas partículas para uma partícula. Podemos, então, desprezar a
9.2. O ELÉTRON NO ÁTOMO DE HIDROGÊNIO 191
energia cinética do próton, o que não seria possível se a sua massa não fosse tão grande
(comparada à do elétron).
Começamos procurando soluções que sejam separáveis em produtos.
Substituindo em:
h̄2 2
− ∇ Ψ + V Ψ = EΨ (9.11)
2m
temos:
h̄2 1 ∂ 1 1 ∂2
! " # !
2 ∂ ∂ ∂
− r (RΘΦ) + senθ (RΘΦ) + (RΘΦ) +V (r)RΘΦ = ERΘΦ
2m r2 ∂r ∂r r2 senθ ∂θ ∂θ r2 sen2 θ ∂φ2
(9.12)
h̄2 ΘΦ d RΘ d2
! " # !
2 d RΦ d d
− r R + senθ Θ + Φ + V (r)RΘΦ = ERΘΦ
2m r2 dr dr r2 senθ dθ dθ r2 sen2 θ dφ2
(9.13)
Note que substituímos o símbolo da derivada parcial pelo da derivada total, pois as
funções dependem apenas de uma variável.
−2mr2 sen2 θ
Multiplicando por e isolando o termo em φ:
RΘΦh̄2
Como o lado esquerdo não depende nem de r nem de θ, enquanto o lado direito não
depende de φ então ambos devem ser iguais a uma constante que vamos chamar de −m2`
(sem perda de generalidade).
Assim obtemos 2 equações:
d2 Φ
= − m2` Φ (9.15)
dφ2
senθ d Θ sen2 θ d 2mr2 sen2 θ
! !
2 dR
− senθ − r − [E − V (r)] = −m2` (9.16)
Θ dθ θ R dr dr h̄2
192CAPÍTULO 9. MECÂNICA QUÂNTICA EM TRÊS DIMENSÕES: O ÁTOMO DE HIDROGÊNIO
1 d 2 2mr2 1 m2`
!
d dΘ
(r R) + 2 [E − V (r)] = − senθ + (9.17)
R dr h̄ Θ senθ dθ dθ sen2 θ
Usando como constante de separação `(` + 1) (sem perda de generalidade, pois ` até
este momento pode ser qualquer nº complexo) obtemos as equações nas variáveis r e θ:
1 d Θ m2`
!
− senθ + = `(` + 1)Θ (9.18)
senθ dθ θ sen2 θ
1 d 2m
!
2 dR R
2
r + 2 [E − V (r)]R = `(` + 1) 2 (9.19)
r dr dr h̄ r
Agora todas as equações são independentes uma das outras e podem ser resolvidas
separadamente.
Vamos inicialmente considerar a equação para Φφ.
d2 Φ
= −m2` Φ ⇒ Φ = eim` φ (9.20)
dφ2
!|m` |
d
P`m` (x) = (1 − x2 )|m` |/2 P` (x) (9.23)
dx
!`
1 d
P` (x) = ` (x2 − 1)` (9.24)
2 `! dx
` é um inteiro não negativo, além disso |m` | ≤ `, pois se |m` | > `, P`m` (x) = 0. Para
qualquer ` dado existem (2` + 1) possíveis valores de m.
Obs: Pelo fato de ser uma eq. dif. de 2º ordem teríamos 2 soluções linearmente
independentes para quaisquer valores de ` e m, mas a outra solução é fisicamente inaceitável,
pois diverge para θ = 0 e θ = π.
Y = Θ(θ)Φ(φ) (9.26)
ˆ ˆ
|Ψ| d r =
2 3
|Ψ|2 r2 senθdθdφdr = 1 (9.27)
ˆ ∞
|R|2 r2 dr = 1 (9.28)
0
ˆ 0ˆ
0π|Y |2 senθdθdφ = 1 (9.29)
2π
v
u (2` + 1)(` − |m` |)!
u
Y (θ,φ) = εt
m
l eim` φ P m` (cos θ) (9.30)
4π(` + |m` |)! `
2mr2
!
d dR
r2 − 2 [V (r) − E]R = `(` + 1)R (9.31)
dr dr h̄
2mr 2 e2
! " #
d 2 dR
r − 2 − − E R = `(` + 1)R (9.32)
dr dr h̄ 4πε0 r
dR [r(du/dr) − u] d2 u
!
u d dR
R= , = , r2 =r 2 (9.33)
r dr r2 dr dr dr
Assim,
h̄2 `(` + 1)
Vef f =V + (9.35)
2m r2
Onde o termo que soma com V é chamado termo centrífugo que tende a jogar a
partícula para longe da origem. √
−2mE
Estamos procurando por estados ligados E < 0. Definindo k = , k∈R e
h̄
dividindo a eq. por E temos:
1 d2 u me2 1 `(` + 1)
" #
= 1 − + u (9.36)
k 2 dr2 2πε0 h̄ k (kr)
2 (kr)2
me2
O que sugere que façamos ρ = kr e ρ0 = , assim:
2πεh̄2 k
d2 u ρ0 `(` + 1)
" #
2
= 1− + u (9.37)
dρ ρ ρ2
d2 u
Que quando ρ → ∞, = u e assim u(ρ) = Ae−ρ + Be+ρ que tem a exponencial
dρ2
positiva eliminada para garantir a convergência no infinito, B = 0. De tal forma que
u(ρ) ≈ Ae−ρ para grandes valores de ρ. Quando ρ → 0 o termo centrífugo domina:
d2 u `(` + 1)u
= ⇒ u(ρ) = Cρ`+1 + Dρ−` (9.38)
dρ2 ρ2
Que diverge ρ → 0, assim temos que garantir que D = 0. Resultando em u(ρ) ≈ Ce`+1
9.2. O ELÉTRON NO ÁTOMO DE HIDROGÊNIO 195
d2 v dv
ρ 2
+ 2(` + 1 − ρ) + [ρ0 − 2(` + 1)]v = 0 (9.39)
dρ dρ
!p
d
Lpq−p (x) = (−1)p Lq (x) (9.40)
dx
e
!q
d
Lq (x) = e x
(e−x xq ) (9.41)
dx
é o q-ésimo polinômio de Laguerre.
L0 = 1 (9.42)
L1 = −x1 (9.43)
L2 = x2 − 4x + 2 (9.44)
L3 = −x3 + 9x2 − 18x + 6 (9.45)
1
Então Rn` (r) = ρ`+1 e−ρ v(ρ). v(ρ) também pode ser escrito na forma:
r
∞
v(ρ) = cj ρ j (9.46)
X
j=−∞
2(j + ` + 1) − ρ0
" #
onde cj+1 = cl .
(j + 1)(j + 2` + 2)
Agora, vejamos quais são os coeficientes para grandes valores de j (isso corresponde
a grandes ρ, em que as maiores potências dominam). Nesse regime a fórmula de recursão
diz que
2j 2
cj+1 = cj = cj (9.47)
j(j + 1) j +1
196CAPÍTULO 9. MECÂNICA QUÂNTICA EM TRÊS DIMENSÕES: O ÁTOMO DE HIDROGÊNIO
2j
Supondo que isso fosse exato. cj = c0 implica em:
j!
∞ j
2
v(ρ) = c0 = c0 e2ρ (9.48)
X
j=0 j!
E assim:
!2
h̄2 k 2 h̄2 me2
E=− =− (9.50)
2m 2m 2πε0 h̄2 ρ0
Ou seja:
−h̄2 m2 e4 me4 1 E1
En = − = − = (9.51)
2m 4π 2 ε0 h̄ 4n2
2 4
2h̄ (4πε0 )2 n
2 2 n2
com n = 1, 2, 3... e E1 = −13,5eV . n também é um número inteiro que satisfaz a relação
0 ≤ ` ≤ n−1 (9.52)
me2 1
A fórmula para En é a famosa fórmula de Bohr. Vimos que k = = , onde
2πε0 h̄ 2n an
2
Figura 9.1: Representação das energias em função do número quântico principal e distância
ao núcleo
A solução da eq. de Schrödinger para a parte espacial é dada pelo produto das 3
funções r, θ e φ:
Onde Φm` = eim` φ , Θ`mell (θ) = sen|m` | θ · (polinômio em cos θ) e Rn` (r) = eCr/n r` ·
(polinômio em r). Embora os autovalores de energia do elétron no átomo com o potencial
Coulombiano só dependam do número quântico n, as funções de onda dependem também
de ` e m` .
ˆ ∞ ˆ ∞
|c0 |2 a 2 1
(R10 ) r dr = 2
2 2
e−2r/a r2 dr = |c0 |2 = 1 ⇒ c0 = √ e Y00 = √
0 a 0 4 a 4π
(9.54)
1
Resultando em Y00 (r,θ,φ) = √ e−r/a .
πa3
Para um núcleo de carga Ze (Z = nº atômico) e apenas 1 elétron Ψ100 = estado
fundamental fica escrito como:
1 Z
3/2
Ψ100 = √ e−Zr/a0 (9.55)
π a0
Note que Ψ200 , Ψ210 e Ψ21±1 têm a mesma auto-energia apesar de serem diferentes
entre si. Estados com diferentes funções de onda que têm a mesma energia são chamados
degenerados.
Vamos calcular a função densidade de probabilidade radial P (r) = probabilidade de
encontrar o elétron com coord. radial entre r e r + dr
∗
Pn` (r) = r2 Rn` (r)Rn` (r) (9.56)
198CAPÍTULO 9. MECÂNICA QUÂNTICA EM TRÊS DIMENSÕES: O ÁTOMO DE HIDROGÊNIO
r 4πε0 h̄2
O máximo da função é 2re−2r/a0 1 − = 0 ⇒ r = a0 = ≈ 0.53 Å que é
a0 me2
o raio de Bohr, raio de máxima probabilidade de encontrar o elétron no estado de menor
energia.
A variação angular da densidade de probabilidade pode ser representada de várias
maneiras diferentes. Uma delas é através do gráfico polar no qual a amplitude da densidade
de probabilidade de encontrar o elétron na posição (x,y,z) é representada pela distância
do ponto (x,y,z) à origem.
Além da massa e da carga, o elétron tem um spin que aparece na mecânica Quântica
Relativística, nº quântico ms = ±1/2 e pode ser tratado em mecânica Quântica não
relativística através da Teoria de Perturbação.
Transições entre níveis ocorrem com a absorção ou emissão de fótons definidas pelas
regras de seleção.
∆` = ±1 para estados finais e iniciais.
Campo linearmente polarizado → ∆m` = 0. E no caso de circularmente polarizado
∆m` = ±1.
Para átomos com muitos elétrons é aplicada a Teoria do Campo Médio. Mas, ao serem
obtidos os orbitais, como os elétrons vão se distribuir? Seguindo o Princípio da Exclusão
de Paulo.
9.2. O ELÉTRON NO ÁTOMO DE HIDROGÊNIO 199
Dois ou mais átomos podem se ligar formando uma molécula estável. As ligações entre
átomos são favorecidas quando a energia do conjunto se torna menor que a soma das
energias de cada átomo isolado.
Quando uma molécula é formada a partir de átomos com vários elétrons, aqueles mais
fortemente ligados aos núcleos originais são pouco afetados. Contudo, os elétrons mais
externos, denominados elétrons de valência, que se encontram mais fracamente ligados ao
núcleo atômico têm as funções de onda distorcidas à medida que os átomos se aproximam.
Os elétrons de valência são os responsáveis pelas ligações químicas. Com isso, a molécula
passa a ter novos níveis de energia associados aos elétrons da molécula responsáveis pelas
ligações químicas e a modos vibracionais e/ou rotacionais.
No caso de um sólido, as múltiplas interações entre os átomos distorcem os níveis de
discretos dos átomos individuais, dando origem a faixas de energia (ou bandas), separadas
por bandas proibidas, mais conhecidas como gaps.
O cálculo quântico dos estados eletrônicos e das energias num sólido é bastante complexo
e só pode ser feito com várias aproximações no problema. A área da física que trata
deste assunto é denominada Física da Matéria Condensada. Neste curso vamos apenas
considerar os conceitos principais, mas para ilustrar o modelo de bandas de energia, vamos
considerar um modelo simples, chamado modelo de Kronig-Penney.
201
202 CAPÍTULO 10. MECÂNICA QUÂNTICA - ELÉTRONS EM CRISTAIS
V (x + a) = V (x) (10.1)
−h̄ d2
Uma vez que o operador energia cinética é inalterado pela mudança x → x + a,
2m dx2
a hamiltoniana como um todo é invariante pelo deslocamento a. Para o caso de um
h̄2 q 2
potencial nulo, a solução corresponde a uma dada energia E = é:
2m
e portanto
Ψ(x + a) = eiqx eiqa ⇒ Ψ(x + a) = eiqa Ψ(x) ⇒ |Ψ(x + a)|2 = |Ψ(x)|2 (10.3)
Observe que a solução original Ψ(x) fica multiplicada por um fator de fase eiqa tal que
os observáveis serão os mesmos em (x + a) e x.1
∞
h̄2 λ X
V (x) = δ(x − na) (10.4)
2m a n=0
Para pontos tais que x 6= na, a solução será igual à da partícula livre, isto é, uma
combinação de eikx e e−ikx ou senkx e cos (kx). Vamos assumir a região Rn definida por
(n − 1)a ≤ x ≤ na, e então teremos:
~
1
Teorema de Bloch: Ψk (~r,t) = e±ik·~r uk (~r,t) onde uk (~r,t) é uma função com mesma periodicidade do
cristal (potencial). Elétrons são caracterizados por um vetor de onda ~k e energia Ek .
204 CAPÍTULO 10. MECÂNICA QUÂNTICA - ELÉTRONS EM CRISTAIS
ˆ
2m na+
2m
! !
d d
Ψ − Ψ = 2 V0 δ(x − na)Ψ(x)dx = V0 Ψ(na) (10.8)
dx na+ dx na− h̄ na− h̄2
h̄2 λ
No nosso caso, V0 = e portanto
2m a
λ
An+1 k cos (ka) + Bn+1 k sen(ka) − An k = Bn (10.9)
a
De 10.7, temos:
1
Bn+1 = (Bn + An+1 sen(ka)) (10.10)
cos (ka)
k sen(ka) λ
An+1 k cos (ka) + (Bn + An+a sen(ka)) − An k = Bn
cos (ka) a
!
λ
An+1 (cos (ka) + sen (ka)) = An cos (ka) + Bn
2 2
cos (ka) − sen(ka)
ak
!
λ
An+1 = An cos (ka) + Bn cos (ka) − sen(ka) (10.11)
ak
sen(ka)
!
Bn λ
Bn+1 = + An cos (ka) + Bn cos (ka) − Bn sen(ka)
cos (ka) cos (ka) ak
1 − sen2 (ka)
!
λ
Bn+1 = An sen(ka) + Bn sen(ka) + Bn
ak cos (ka)
!
λ
Bn+1 = An sen(ka) + Bn sen(ka) + cos (ka) (10.12)
ak
An+1 = eiφ An
Bn+1 = eiφ Bn
!
λ
eiφ An = An cos (ka) + Bn cos (ka) − sen(ka)
ak !
λ
eiφ Bn = An sen(ka) + Bn sen(ka) + cos (ka)
ak
!
An λ
= cos (ka) − sen(ka) (eiφ − cos (ka))−1
Bn ak
⇒ !
λ An
e =
iφ
sen(ka) + cos (ka) + sen(ka)
ak Bn
206 CAPÍTULO 10. MECÂNICA QUÂNTICA - ELÉTRONS EM CRISTAIS
! !
λ λ
⇒e =iφ
sen(ka) + cos (ka) + sen(ka) cos (ka) − sen(ka) (eiφ − cos (ka))−1
ak ak
! !
λ λ
e − cos (ka) e −
iφ iφ
sen(ka) − cos (ka) = cos (ka) − sen(ka) sen(ka)
ak ak
!
λ
2iφ
e −e iφ
2 cos (ka) + sen(ka) + 1 = 0
ak
λ
eiφ + e−iφ = 2 cos (ka) + sen(ka)
ak
λ
cos (φ) = cos (ka) + sen(ka) (10.14)
2ka
eiN Φ = 1 ⇒ N Φ = 2πm
2πm
⇒Φ= m = 0, ±1, ±2, · · ·
N
1 λ
cos (qa) = cos (ka) + sen(ka) (10.15)
2 ak
h̄2 k 2
Relação de dispersão: E =
2m
Começo do gap
⇒ cos (qa) = ±1
1 λ
⇒ cos (ka) + sen(ka) = ±1
2 ak
λ
⇒ sen(ka) = ±1 + cos (ka)
2ak
⇒ ka = mπ, m = 0, ±1, ±2, · · ·
Os elétrons só podem ocupar estados cuja energia está em uma das bandas. Note que
1 λ
como a amplitude da função cos (ka) + sen(ka) vai diminuindo, as regiões de gap de
2 2ak
energia também diminuem, até que chega um contínuo.
Lembrando da rede recíproca de uma rede unidimensional nós tínhamos:
Existe outra forma mais útil de representar as bandas de energia que é o chamado
esquema de zona reduzida.
π 2π
Um elétron com vetor de onda ≤ q0 ≤ na 2ª zona de Brillouin tem energia em
a a
outra banda. Entretanto se subtrairmos um vetor da rede recíproca de q 0 ⇒ q e q 0 são
equivalentes.
208 CAPÍTULO 10. MECÂNICA QUÂNTICA - ELÉTRONS EM CRISTAIS
Um ponto importante a se ressaltar é que num cristal tridimensional ~q não pode estar
em qualquer direção, desta forma,em geral representa-se a variação de Eq com q para as
direções de maior simetria nos cristais.
210 CAPÍTULO 10. MECÂNICA QUÂNTICA - ELÉTRONS EM CRISTAIS
(a) Estrutura cúbica de corpo centrado (b) Estrutura cúbica de face centrada
−h̄2 d2
A equação de onda é Ψ + V (x)Ψ = Ψ na região 0 < x < a para a qual
2m dx2
V (x) = 0 a autofunção é uma continuação linear de ondas planas:
h̄2 κ2
Ψ(x) = Aeiκx + Be−iκx , com energia E = (10.16)
2m
Na região −b < x < 0 dentro da barreira a solução é da forma:
h̄2 Q2
Ψ(x) = CeQx + De−Qx , com V0 − = (10.17)
2m
10.2. O MODELO DE KRONIG-PENNEY 211
Lembrando que no caso periódico a função de onda muda por uma fase Ψ(x + a) =
eika Ψ(x). Então a solução na região a < x < a + b deve estar relacionada com a solução
10.17 da forma:
A+B = C +D
x=0⇒
iκ(A − B) = Q(C − D)
Aeiκa + Be−iκa = (Ce−Qb + DeQb )eik(a+b)
x = a ⇒ Ψ(a) = Ψ(−b)eik(a+b) ⇒
iκ(Aeiκa − Be−iκa ) = Q(Ce−Qb + DeQb )eik(a+b)
(Q2 − k 2 )
sinh (Qb) sen(κa) + cosh (Qb) cos (κa) = cos (k(a + b))
2Qκ
Vamos simplificar representando o potencial por uma função delta. b → 0 e V0 → inf
Q2 ba
de forma que p = é uma quantidade finita.
2
Qκ e Qb 1