Universidade Federal do Ceará (UFC)
Geossintéticos
Professor: Anderson Borghetti Soares
Curso: Pós Graduação em Recursos Hídricos/Geotecnia
(DEHA)
Bibliografia utilizada: Palmeira, E.M. & Fonseca, E.C. Manual Brasileiro de
Geossintéticos. Capítulo 8: Aplicações em separação de materiais. Editor.
Vertematti, J. C. Editora Edgar Blucher, 2004.
Fortaleza, 2021
Aplicação em separação
✓ Geossintético como elemento separador: Consiste na interposição de um
geossintético entre materiais distintos, de forma a manter a integridade e
funcionalidade das camadas.
✓ Exemplos: Uso de camada de geotêxtil em camadas drenantes de fundação
(impedir a penetração de finos nos vazios da camada drenante)
Geossintético com função de separação Solicitação do geotêxtil como elemento separador
Aplicação em separação
✓ Separação com atuação temporária
Atua durante um pequeno período de tempo. Ex.: geomembrana de baixa densidade
lançada sobre um colchão drenante em subsolo de edifício antes da concretagem,
visando impedir a penetração do concreto nos vazios do dreno.
Separação com atuação permanente
Atua com a função principal de elemento separador ao longo da vida útil da obra. Ex:
geotêxtil de alta gramatura aplicado entre o subleito e o lastro ferroviário com a
função de impedir a penetração pedra/solo pelo efeito dinâmico do tráfego,
preservando a característica de ambos os materiais
Propriedades relevantes e produtos
➢ Propriedades
✓ Retenção de finos
✓ Resistir aos esforços durante a vida útil
➢ Produtos utilizados
✓ Geotêxteis
✓ Geomembranas de baixa densidade e espessura
✓ Geocompostos
➢ Aplicações
✓ Entre material drenante e solo selante de reaterro, entre o subleito e material
drenante, entre o material drenante e o concreto lançado, etc.
Dimensionamento/especificação
Exemplo
Geotêxteis como elemento separador entre o subleito e a camada de aterro
granular em estradas de acesso
Propriedades que devem ser avaliadas
✓ Geossintético com boa capacidade de retenção de finos
✓ Boa permeabilidade à água
✓ Boa resistência a estouro e rasgos
✓ Boa resistência a perfurações (esforços dinâmicos/estáticos)
✓ Boa resistência à tração localizada
✓ Classe de geossintéticos que mais atende: geotêxteis
Dimensionamento/especificação
Dimensionamento da retenção de finos
Critério de Christopher & Holtz (1985)
1) Condições permanentes de fluxo
O95 Bd85
O95 Abertura aparente de filtração;
B coeficiente adimensional (0,5 a 2,0):
- Areias, pedregulhos, areias siltosas e areias argilosas
CNU 2 ou CNU 8 → B=1
2<CNU 4 → B=0,5.CNU
4<CNU<8 → B=8,0/CNU
- Siltes e argilas
Geotêxteis tecidos B=1,0 ou O95 0,3 mm
Geotêxteis não tecidos B=1,8 ou O95 0,3 mm
d85 → diâmetro das partículas do solo em contato com geotêxtil correspondente a
85% do material passante
Dimensionamento/especificação
Dimensionamento da retenção de finos:
2) Condições dinâmicas de fluxo
O95 0,5 d85
➢ Dimensionamento da permeabilidade:
1) Situações não críticas e condições pouco severas
kg ksolo
kg coeficiente de permeabilidade do geotêxtil
ksolo coeficiente de permeabilidade do solo
2) Situações críticas e sob condições severas
kg 10. ksolo
3) Situação que há possibilidade de colmatação biológica
kg 100. ksolo
➢ Dimensionamento da permissividade:
0,5 s-1 para d15 < 0,075 mm (menos de 15% de partículas abaixo da #200)
0,2 s-1 para d15 0,075mm d50
0,1 s-1 para d50 > 0,075 (mais de partículas passando pela #200)
Dimensionamento/especificação
➢Resistência a estouros
Geotextil sendo forçado para dentro do vazio devido a ação do
tráfego (Koerner, 2012)
Dimensionamento/especificação
Dimensionamento da sobrevivência
➢ Resistência a estouros
Koerner (2012) - material com pedras ou blocos rochas:
𝑝𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 𝑑𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝐹𝑆𝑒 =
𝐹𝑅𝐺 𝑝´𝑑𝑣
FSe Fator de segurança contra o estouro
pensaio Pressão de ruptura por estouro em ensaio de laboratório
densaio Diâmetro utilizado no ensaio de estouro
FRG Fator de redução global a ser aplicado na resistência à tração do geotêxtil
p´ Tensão normal ao nível do geotêxtil
dv Diâmetro do vazio
Outros valores
dv pode ser estimado como 1/3 do diâmetro médio dos grãos do material de aterro
FRG valor recomendável de 1,5 (função de vários fatores de segurança)
densaio utilizar valor de 30 mm (ASTM D3786)
Dimensionamento/especificação
Dimensionamento da sobrevivência
➢ Resistência à tração localizada:
Ocasionada por blocos vizinhos do material de aterro:
Solicitação por Tração localizada (Koerner, 2012)
Dimensionamento/especificação
➢ Dimensionamento da sobrevivência
➢ Resistência à tração localizada:
Giroud (1984):
𝑇𝑟𝑒𝑞 = 𝑝´𝑑𝑣2 𝑓 𝜀
Treq Resistência a tração requerida do geotêxtil
p´ Tensão vertical ao nível do geotêxtil
dv Diâmetro do vazio
f() Função deformação do geotêxtil deformado
1 2𝑦 𝑏
𝑓 𝜀 = +
4 𝑏 2𝑦
b Largura do vazio entre blocos
y Penetração do geotêxtil no vazios entre blocos
y/b=0,4 (Giroud, 1984)
Dimensionamento/especificação
Dimensionamento da sobrevivência
➢ Resistência à tração localizada:
Deve-se satisfazer:
𝑇𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝑇𝑎𝑑𝑚 = ≥ 𝐹𝑆𝑡𝑙 𝑇𝑟𝑒𝑞
𝐹𝑅𝑡𝑙
Tadm Resistência à tração admissível
Tensaio Resistência à tração obtida em ensaio de laboratório
FRtl Fator de redução da tração localizada (2,5)
FStl Fator de segurança contra a ruptura por tração localizada (2,0)
➢ Solicitação de perfuração estática (Koerner, 1998)
2
𝐹𝑟𝑒𝑞 = 𝑝´𝑑50 𝑆1 𝑆2 𝑆3
Freq Força de perfuração que o geotêxtil deve resistir
d50 Diâmetro médio dos grãos ou objetos contundentes
S1 Fator de penetração
S2 Fator de equivalência (laboratório/campo)
S3 Fator de ajuste (forma plana do elemento)
Dimensionamento/especificação
Visualização de pedra puncionando um geotêxtil conforme a pressão é
aplicada (Koerner, 2012)
Dimensionamento/especificação
Dimensionamento da sobrevivência
➢ Solicitação de perfuração:
- Fator S1
𝑧𝑝
𝑆1 =
𝑑50
zp Penetração do ponto do elemento contundente
𝑑50 Diâmetro do elemento contundente
- Fator S2
𝑑𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝑆2 =
𝑑50
densaio Diâmetro do elemento contundente em ensaio de laboratório (50mm -
ABNT NBR ISO 12236)
- Fator S3
Koerner (1998):
0,3 para pedregulhos arredondados 0,2 areias grãos arredondados
0,6 para rocha britada
0,7 para rochas oriundas de desmonte
Dimensionamento/especificação
➢ Solicitação de perfuração:
Koerner (2012) recomenda os seguintes valores para os fatores 𝑆1 , 𝑆2 e 𝑆3 :
Dimensionamento/especificação
Dimensionamento da sobrevivência
➢ Solicitação de perfuração:
- Verificação
𝐹𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝐹𝑎𝑑𝑚 = ≥ 𝐹𝑆𝑝𝑒𝑟𝑓 𝐹𝑟𝑒𝑐
𝐹𝑅𝑝𝑒𝑟𝑓
Fadm Resistência à perfuração admissível
Fensaio Resistência à perfuração localizada obtida em ensaio de laboratório
FRperf Fator de redução da resistência a perfuração (2,0)
FSperf Fator de segurança contra a ruptura por puncionamento geotêxtil (2,0)
Dimensionamento/especificação
Dimensionamento da sobrevivência
➢ Resistência ao impacto (dinâmico - queda de objetos):
Energia transferida por um objeto (Gs=2,6) a um geotêxtil, segundo Koerner (2012):
E = 13,35x10−6 𝑑𝑜3 ℎ
E Energia transferida de um objeto cadente ao geotêxtil (joules)
do Diâmetro máximo do objeto (mm)
h Altura de queda (m)
Equação acima foi desenvolvida para geossintético repousando sob uma base
rígida. Levando em conta o efeito de uma base compressível (Koerner, 1998):
𝐸
𝐸𝑟𝑒𝑞 =
𝑓𝑖𝑚𝑝
Ereq Energia de impacto requerida
fimp Fator de minoração (gráfico a seguir, função do CBR)
Dimensionamento/especificação
Fator de minoração da energia de impacto
Dimensionamento/especificação
➢ Dimensionamento da sobrevivência
➢ Resistência ao impacto (queda de objetos):
Deve-se verificar:
𝐸𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝐸𝑎𝑑𝑚 = ≥ 𝐹𝑆𝑖𝑚𝑝 𝐸𝑟𝑒𝑞
𝐹𝑅𝑖𝑚𝑝
Eadm Energia de impacto admissível
Eensaio Resistência ao impacto obtida em ensaio de laboratório
FRimp Fator de redução da resistência ao impacto (2,5)
FSimp Fator de segurança contra a ruptura por impacto (2,0)
Exercício
1) Dimensionar e especificar um geotêxtil para ser utilizado como elemento de
separação entre um aterro e o seu subleito, constituintes de uma estrada de
acesso que será submetida ao tráfego intermitente de veículos, com as
características que seguem (Vertematti, 2004):
Aterro
• Diâmetro médio dos grãos (d50) = 90 mm
• Diâmetro máximo dos grãos = 190 mm
• Grãos angulares/rocha britada (altura de queda = 1metro)
Solo de fundação
• D85 = 0,242 mm
• D50 = 0,047 mm
• CBR = 5%
• CNU = 19
• Nível de água aflorante
Carga no geotêxtil (peso do aterro+tráfego)
• p´= 95 kPa
Exercício
Capacidade de retenção de finos (Christopher & Holtz), para condições
dinâmicas de fluxo:
O95 0,5 d85
O95 0,5 (0,242 mm)
O95 0,121 mm
Resistência ao estouro
𝒑𝒆𝒏𝒔𝒂𝒊𝒐 𝑑𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝐹𝑆𝑒 =
𝐹𝑅𝐺 𝑝´𝑑𝑣
𝒑𝒆𝒏𝒔𝒂𝒊𝒐 . (0,030𝑚)
2,0 =
1,5 . 95 𝑘𝑃𝑎 . (0,030𝑚)
𝒑𝒆𝒏𝒔𝒂𝒊𝒐 =285 kPa, com:
𝑑 0,090𝑚
𝑑𝑣 = 350 = 3 = 0,030𝑚
𝑑𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 (𝐴𝑆𝑇𝑀 𝐷3786) = 0,030𝑚
Exercício
Resistência à tração localizada:
𝑇𝑟𝑒𝑞 = 𝑝´𝑑𝑣2 𝑓 𝜀
1 2𝑦 𝑏
𝑓 𝜀 = +
4 𝑏 2𝑦
Arbitrando a relação y/b=0,4 (Giroud, 1984), teremos f()=0,51. Assim:
𝑇𝑟𝑒𝑞 = 95𝑘𝑃𝑎 . 0,030 2 . 0,51 = 0,044 𝑘𝑁
𝑇𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝑇𝑎𝑑𝑚 = ≥ 𝐹𝑆𝑡𝑙 𝑇𝑟𝑒𝑞
𝐹𝑅𝑡𝑙
𝑇𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 ≥ 𝐹𝑆𝑡𝑙 𝑇𝑟𝑒𝑞 𝐹𝑅𝑡𝑙
𝑇𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 ≥ 2,5 . 0,044𝑘𝑁 . (2,0)
𝑇𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 ≥ 0,22𝑘𝑁
Exercício
Resistência à perfuração (estática):
2
𝐹𝑟𝑒𝑞 = 𝑝´𝑑50 𝑆1 𝑆2 𝑆3
Sendo:
𝑆1 = 0,33(𝑔𝑟ã𝑜𝑠 𝑎𝑛𝑔𝑢𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠 𝑜𝑢 𝑎𝑟𝑏𝑟𝑖𝑡𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑧𝑝 = 30 𝑚𝑚), 𝑆3 = 0,6 𝑟𝑜𝑐ℎ𝑎 𝑏𝑟𝑖𝑡𝑎𝑑𝑎
𝑑𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 50𝑚𝑚
𝑆2 = = = 0,56
𝑑50 90𝑚𝑚
2
𝐹𝑟𝑒𝑞 = 95𝑘𝑃𝑎 . 0,090 0,33 . 0,56 . 0,6 = 0,085𝑘𝑁 = 85𝑁
𝐹𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝐹𝑎𝑑𝑚 = ≥ 𝐹𝑆𝑝𝑒𝑟𝑓 𝐹𝑟𝑒𝑐
𝐹𝑅𝑝𝑒𝑟𝑓
𝐹𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 ≥ 𝐹𝑅𝑝𝑒𝑟𝑓 . 𝐹𝑆𝑝𝑒𝑟𝑓 𝐹𝑟𝑒𝑐
𝐹𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 ≥ 2,0 . 2,0 . 85N
𝐹𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 ≥ 0,34 𝑘𝑁
Exercício
Resistência aos impactos (dinâmica):
E = 13,35x10−6 𝑑𝑜3 ℎ
𝐸 = 13,35𝑥10−6 (190)3 1𝑚 = 92𝐽
Considerando o CBR do solo (5%), aplica-se a seguinte correção:
𝐸
𝐸𝑟𝑒𝑞 =
𝑓𝑖𝑚𝑝
92𝐽
𝐸𝑟𝑒𝑞 = = 8𝐽
11,5
Com os fatores de segurança:
𝐸𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝐸𝑎𝑑𝑚 = ≥ 𝐹𝑆𝑖𝑚𝑝 𝐸𝑟𝑒𝑞
𝐹𝑅𝑖𝑚𝑝
𝐸𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 ≥ 𝐹𝑆𝑖𝑚𝑝 𝐹𝑅𝑖𝑚𝑝 𝐸𝑟𝑒𝑞
𝐸𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 ≥ 3 . 2 . 8𝐽
𝐸𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜 ≥ 48 𝐽
Exercício
Especificação do geotêxtil:
Propriedade Requisito
Abertura de filtração ≤ 0,121mm
Resistência ao Estouro (ASTM D3786) 285 kPa
Resistência Tração localizada (ASTM D4632) 0,22 kN
Resistência perfuração (NBR ISO 12236) 0,34 kN
Resistência impacto (ASTM A370/ASTM D256) 48 J