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Materiais Elétricos - Capítulo2

O Capítulo 2 do documento aborda a estrutura da matéria, destacando que todas as substâncias são compostas por átomos e que suas propriedades estão relacionadas à estrutura atômica. O texto explora conceitos como o efeito fotoelétrico, o modelo atômico de Rutherford-Bohr e a dualidade onda-partícula, enfatizando a importância da mecânica quântica na compreensão das propriedades dos materiais. Além disso, menciona experimentos e teorias que fundamentam o entendimento atual da física atômica e suas aplicações práticas.

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Materiais Elétricos - Capítulo2

O Capítulo 2 do documento aborda a estrutura da matéria, destacando que todas as substâncias são compostas por átomos e que suas propriedades estão relacionadas à estrutura atômica. O texto explora conceitos como o efeito fotoelétrico, o modelo atômico de Rutherford-Bohr e a dualidade onda-partícula, enfatizando a importância da mecânica quântica na compreensão das propriedades dos materiais. Além disso, menciona experimentos e teorias que fundamentam o entendimento atual da física atômica e suas aplicações práticas.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA
LABORATÓRIO DE ALTA TENSÃO

Materiais Elétricos

Capítulo 2 – Estrutura da Matéria

Washington Neves

Julho, 2002
Capítulo 2

Estrutura da Matéria

2.1 Introdução
Talvez a informação mais importante que se conhece a respeito dos materiais é que todas
as substâncias são constituídas de átomos. As propriedades das substâncias estão intimamente
relacionadas com a estrutura atômica de cada material. Isto foi reconhecido por Mendeleyev
no final do século XIX quando realizou um trabalho meticuloso que resultou numa proposta
de agrupamento de elementos químicos em uma tabela periódica de elementos. Mendeleyev
ordenou cerca de 60 elementos conhecidos na época, verificou que elementos diferentes
podem apresentar propriedades químicas semelhantes e concluiu que muitas propriedades
físicas e químicas dos elementos variam periodicamente na sequência de suas massas
atômicas (Lei de Periodicidade de Mendeleyev).
Em 1913, com a introdução do conceito de número atômico por Henry G. J. Moseley, se
verificou que a classificação periódica seria mais satisfatória se, na tabela periódica, os
elementos químicos estivessem dispostos na ordem crescente de seus números atômicos.
Assim, muitas propriedades físicas e químicas dos elementos variam periodicamente na
sequência de seus números atômicos (Lei de Periodicidade de Moseley).
O desenvolvimento da ciência tem se baseado muito na identificação de padrões. Por
exemplo, é interessante notar que somente o ferro, o níquel e o cobalto apresentam a
propriedade conhecida como ferromagnetismo (Gadolínio foi o quarto material
ferromagnético descoberto depois). Os cristais apresentam periodicidade no seu reticulado.
Como isto pode ser explicado? Por que os metais são duros enquanto as rochas apresentam
estrutura quebradiça? Por que os metais conduzem eletricidade e os materiais isolantes não?
Todas essas perguntas estão intimamente relacionadas com as propriedades dos átomos e de
agregados de átomos. Uma teoria satisfatória do átomo deve explicar esses fenômenos. O
entendimento do átomo deve ser seguido do entendimento de como os átomos interagem na
formação de moléculas e compostos químicos, o que constitui os fundamentos das
propriedades dos materiais.
Nas seções que se seguem, procura-se apresentar de maneira simples as teorias que
conduzem a um entendimento das propriedades dos materiais.

2.2 O Efeito Fotoelétrico


Considere o circuito mostrado na Figura 2.1 para o estudo do efeito fotoelétrico. Um tubo
de ar atmosférico a baixa pressão, com dois eletrodos metálicos é conectado a uma fonte de
tensão V. Considere um feixe de luz de frequência f incidindo no catodo. Se a frequência da
luz for maior do que um valor crítico f0, o microamperímetro registrará uma corrente I.
Quanto mais positiva for a tensão no anodo mais elétrons serão coletados pelo anodo,
proporcionando um crescimento da corrente até que o nível de saturação seja atingido, quando
todos os elétrons emitidos pelo catodo serão coletados pelo anodo(Figura 2.2). Se a tensão do
anodo for reduzida a zero e em seguida se tornar negativa, alguns dos elétrons não alcançarão
o anodo e a corrente diminuirá. Um valor de corrente nula é alcançado para uma tensão –V0.
Um fato que intrigou os cientistas foi o de que a distribuição de energia dos elétrons emitidos
pelo catodo (fotoelétrons) é independente da intensidade da luz incidente. Um raio luminoso

19
de alta intensidade libera mais fotoelétrons que um raio de baixa intensidade de mesma
frequência, mas em média a energia do elétron é a mesma. Também não era esperado que a
energia dos fotoelétrons fosse dependente da frequência. A dependência da corrente com a
tensão do anodo, mantendo-se a intensidade de luz que incide no catodo e variando-se a
frequência é mostrada na Figura 2.3. Para um limiar de frequência abaixo de um valor crítico
para um metal em particular, não há emissão fotoelétrica.
luz

Elétrons

catodo anodo
nA

V
- +

Figura 2.1 – O efeito fotoelétrico.

I I
Alta intensidade
luminosa

baixa intensidade
luminosa
f1 > f2 > f3
f1 f2 f3

-V01 –V02 –V03


-V0 V V

Figura 2.2 – O efeito do aumento da Figura 2.3 – O efeito do aumento da


intensidade da radiação frequência da radiação
no efeito fotoelétrico. no efeito fotoelétrico.
Lembre-se que quando um elétron atravessa uma diferença de potencial V, sua energia
potencial muda de eV. Quando a tensão aplicada ao anodo for negativa, o elétron tem que
realizar trabalho para atingi-lo. Assim, quando a tensão negativa do anodo tiver valor absoluto
V0 , a energia potencial adquirida pelo elétron é igual a energia cinética ganha pelo elétron ao
sair do catodo:
1
eV0 = mv 2 = EC
2
em que v é a velocidade, m a massa e EC a energia cinética do elétron após a fotoemissão. O
gráfico da máxima energia cinética de fotoelétrons versus frequência da luz incidente no

20
catodo é mostrado na Figura 2.4 para vários metais. A relação entre a energia máxima e a
frequência envolve uma proporcionalidade que pode ser expressa na forma:
EC = hf − hf 0 , (2.1)
em que h é a inclinação da reta e é independente do tipo de metal dos eletrodos. f0 depende do
material do catodo. A constante universal h é conhecida como constante de Planck e
h=6.626x10-34 J.s.

EC

Metal 1 Metal 2

f02 f02
f

Figura 2.4 – O efeito da variação da frequência da luz e do material do catodo na


energia dos fotoelétrons.

O efeito fotoelétrico já havia sido observado por Heinrich Hertz o final do século passado
mas Einstein foi quem primeiro forneceu uma explicação convincente fenômeno em 1905 e
por isso recebeu o prêmio Nobel de Física. Ele se baseou na hipótese de Planck chamada de
teoria quântica em que:
• A menor quantidade de energia que pode ser transferida em um processo físico é chamada
de um quantum.Em particular a luz é uma forma de energia e um quantum de luz é
chamado de um fóton.
• A energia E de um fóton é proporcional a freqüência
c
E = hf = h
λ
em que c é a velocidade da luz no vácuo e λ o comprimento de onda da luz emitida.

Einstein explicou que os elétrons não saem do catodo espontaneamente. Existe uma barreira
de energia que precisa ser transposta. A quantidade mínima de energia que o elétron precisa
para ultrapassar essa barreira é conhecida como função trabalho W do metal e, de acordo com
a equação 2.1, corresponde a
W = hf 0 .
O efeito fotoelétrico é utilizado em diversas aplicações práticas em dispositivos para portas
automáticas, alarme anti-furto, detetores de luz, etc.

21
Exercicio
O Sódio é iluminado com luz de comprimento de onda de 300nm. A função trabalho do
sódio é 2.46 eV. Encontre a energia cinética dos elétrons ejetados. Qual a frequência mínima
necessária para se arrancar um elétron do sódio?

2.3 O Efeito Compton


Quando um fóton de raios x atinge um elétron, o elétron recebe um impulso, muda sua
energia cinética e o fóton é desviado de sua trajetória original como mostrado na Figura 2.5.
Na colisão, a perda de energia do fóton é igual ao ganho de energia cinética do elétron
EC = hf − hf ' .
Diz-se que o fóton possui momento e ao colidir com o elétron se comporta como se fosse uma
partícula, ou seja, a luz tem propriedade de partícula.

Elétron após
o choque

Fóton de raio x Elétron antes


do choque

f
f’’
Fóton desviado

Figura 2.5 – Espalhamento de um fóton de raio x por um elétron.

2.4 O Átomo de Hidrogênio de Acordo com a Mecânica Quântica


Existem evidências experimentais de que o átomo consiste de um núcleo carregado
positivamente e de um número de cargas negativas (elétrons) circulando em torno do núcleo,
modelo proposto por Ernest Rutherford em 1911. Ele demonstrou experimentalmente que o
átomo poderia ser considerado como um sistema solar em miniatura, com um núcleo
contendo cargas positivas (prótons) circundado por elétrons de cargas negativas. O núcleo
também contem partículas neutras (neutrons) com massas aproximadamente iguais a de cada
próton. Em um átomo neutro, o número de elétrons é igual ao número de prótons Z do núcleo,
sendo a carga de cada elétron igual a e=1.6x10-19 C. A massa do elétron é m=9.107 x 10-31 kg,
e é aproximadamente 1836 vezes menor que a massa do próton ou do nêutron. Assim,
praticamente toda a massa do átomo está concentrada no núcleo.
O tamanho do átomo não é uma quantidade bem definida, mas pode ser estimado como
sendo da ordem de 1 ângstrom=10-10 m. Por outro lado, o raio clássico do núcleo é da ordem
de 10-15 m. Assim, pode-se imaginar que em termos da representação clássica dos elétrons, os
átomos são essencialmente vazios.
Segundo o modelo de Rutherford, um elétron que se move numa órbita circular de raio r,
com velocidade linear constante v, estará sujeito a duas forças: uma força de atração

22
coulombiana agindo no sentido do núcleo e uma força centrífuga dada por mv2/r como
mostradas na Figura 2.6.
-e
mv2/r

F
+e

Figura 2.6 – Modelo atômico de Rutherford

A órbita do elétron estará numa posição estável quando essas duas forças forem iguais.
Assim, para o átomo de hidrogênio,
e2 mv 2
= .
4π ε 0 r 2 r
Porém o modelo de Rutherford apresenta uma falha grave. De acordo com a teoria
eletromagnética, cargas aceleradas irradiam energia na forma de ondas eletromagnéticas.
Portanto os elétrons perderiam energia no processo giratório. A energia cinética de um elétron
em sua órbita é proporcional ao quadrado da velocidade e, se ele perde energia, sua
velocidade diminui. A força centrífuga também diminui não compensando mais a força de
atração eletrostática entre o núcleo e o elétron fazendo com que o elétron se aproxime do
núcleo do átomo numa trajetoria em forma de espiral, conforme ilustra a Figura 2.7.

-e
mv2/r

Figura 2.7 – Trajetória do elétron ao irradiar energia.

2.4.1 O Modelo Atômico de Bohr


Niels Bohr, através de experimentos usando luz emitida pelo gás hidrogênio, verificou
que o espectro do hidrogênio é descontínuo. Bohr utilizou um tubo de descarga elétrica
contendo hidrogênio a baixa pressão e uma lente para que os raios emitidos pela lâmpada

23
convergissem para um prisma como mostrados na Figura 2.8a. Uma série de linhas espectrais
foram encontradas na chapa fotográfica como mostradas na Figura 2.8b.

Chapa fotográfica

H2

(a)

656,3 nm 486,1 nm 434,1 nm

(b)

Figura 2.8 – Espectro do Hidrogênio.

Bohr considerou uma teoria proposta por Max Planck em 1900, segundo a qual a energia
não é emitida de forma contínua, mas em blocos denominados quantum e fêz as ponderações:
• os elétrons se movem em um número de órbitas estacionárias bem definidas;
• dentro da mesma órbita, os elétrons nem emitem nem absorvem energia;
• ao saltar de uma órbita para outra, o elétron absorve ou emite um quantum de energia.
Assim, o modelo de Rutherford foi corrigido adicionando-se as ponderações de Bohr e
dado o nome de Modelo Atômico de Rutherford-Bohr. No entanto, com o surgimento da
mecânica ondulatória, estudos mais aprofundados levaram a concluir que é mais adequado
admitir que os elétrons consistem de uma distribuição contínua de cargas. A forma da
distribuição contínua é determinada pelo estado de movimento do elétron. Na seção seguinte,
apresenta-se alguns conceitos básicos da mecânica ondulatória.

2.4.2 Partículas e Ondas


Um dos quebra-cabeças mais intrigantes que emergiu da física experimental foi o
fenômeno de que partículas podem se comportar como ondas e ondas podem se comportar

24
como partículas. Resultados experimentais sugerem que elétrons, que normalmente são
tratados como partículas, podem se comportar como ondas. A luz, que é uma onda
eletromagnética, algumas vezes se comporta como se seus raios fossem um feixe de
partículas.
Façamos uma breve abordagem de duas idéias básicas da física moderna:
• a hipótese quântica de Planck;
• a relação de Einstein para a equivalência massa-energia.
De acordo com a hipótese quântica:
• a energia E de um fóton é proporcional a frequência f da luz emitida, ou
E=hf . (2.2)
Einstein demonstrou que a energia de uma partícula pode ser expressa por
E= mc2 , (2.3)
Onde c é a velocidade da luz. De (2.2) e (2.3) tem-se:
E= mc2 =hf
ou:
mc=hf/c. (2.4)
Para uma onda de frequência f e comprimento de onda λ, a velocidade c é dada pela
multiplicação do número de ciclos que passam um dado ponto em um segundo pelo
comprimento de cada ciclo, ou seja:
fλ=c.
Substituindo a equação acima em (2.3), tem-se:
h
mc = . (2.5)
λ
A equação (2.5) expressa uma idéia profunda de forma simples; ela dá uma relação
qualitativa entre massa - que é uma propriedade de partículas - e comprimento de onda - que é
uma propriedade de ondas. Esta relação aplica-se a um quantum de energia eletromagnética,
que previamente foi definida como fóton. Portanto, pode-se dizer que o fóton tem tanto massa
como comprimento de onda e pode-se descrevê-lo como uma partícula de energia
eletromagnética. O lado esquerdo de (2.5) é o produto da massa pela velocidade do fóton, que
é sua quantidade de movimento (momento) p,
p=mc.
Então de (2.5),

h
p= . (2.6)
λ
A equação (2.5) foi sugerida por De Broglie para representar dualidade onda-partícula. Ela
pode ser aplicada também aos elétrons. Um elétron pode ser interpretado como uma entidade
a qual se associa tanto massa como comprimento de onda de forma similar a (2.5)
h
mv = , (2.7)
λ
onde v é a velocidade do elétron.
Bohr ampliou estas idéias a fim de explicar algumas propriedades do hidrogênio. Ele admitiu
que o átomo de hidrogênio seria composto pelo núcleo e, em redor deste, um elétron circularia
em qualquer órbita de um número infinito de órbitas. Admita que essas órbitas sejam
circulares a fim de simplificar o tratamento matemático (Figura 2.9).

25
-e

r
+e

Figura 2.9: Modelo simplificado do átomo de hidrogênio.

Se o elétron for tratado como uma onda e se desloca numa órbita de raio r, então espera-
se que o raio e o comprimento de onda estejam relacionados,
nλ=2πr n=1,2,3,... (2.8)
Ou seja, um número inteiro n de comprimentos de onda devem existir na circunferência.
Um elétron só pode se deslocar em órbitas cujos raios satisfaçam (2.8). Se isto não
acontecesse, a onda tenderia a se cancelar e a energia seria dissipada depois de um número
suficiente de voltas.
De (2.7) e (2.8),
nh
= 2πr . (2.9)
mv
Para achar a velocidade v, usa-se o fato que a força centrípeta Fc no elétron é igual a força de
atração eletrostática Fe, de acordo com a lei de Coulomb. Assim,
mv 2
Fc = (2.10)
r
e
e2
Fe = . (2.11)
4πε 0 r 2
De (2.10) e (2.11),

e
v= , (2.12)
4πε 0 mr
e de (2.12) em (2.9):
nh 2πre
= , (2.13)
m 4πε 0 mr
de onde
n2h2ε 0
r= .
πme 2
Note que o raio da órbita é uma função de n. O inteiro n que especifica o tamanho da órbita é
chamado de número quântico principal. É conveniente escrever a equação acima na forma

n2h2ε 0
rn = , n = 1,2 ,3,... (2.14)
πme 2
Pode-se usar o resultado acima para se calcular os valores permitidos para a energia total que
o elétron pode ter. Em cada órbita, a energia total é a soma da energia cinética Ec com a
energia potencial Ep:

26
E = Ec + E p ,
1
onde Ec = mv 2
2
e2
e E p = eV = − .
4πε 0 r
Assim,
1 2 e2
E= mv − . (2.15)
2 4πε 0 r
Substituindo (2.12) em (2.15), tem-se
e2 e2 e2
E= − =− . (2.16)
8πε 0 r 4πε 0 r 8πε 0 r
De (2.14) em (2.16) pode-se escrever
me 4
En = − , n = 1,2,3,... (2.17)
8ε 20 h 2 n 2
As energias En dadas pela equação acima são chamadas de níveis de energia do elétron do
átomo de hidrogênio. En aproxima-se de zero para n muito grande e o nível n→∞ é tomado
como referência zero. Substituindo os valores das constantes em (2.17), pode-se mostrar que
para o átomo de hidrogênio,
13,6
E n ≅ − 2 , eV n = 1,2,3,... (2.18)
n
Para o nível fundamental n=1, E 1 ≅ −13,6 eV e a equação acima pode ser reescrita como
E
E n ≅ 21 , eV n = 1,2,3,... (2.19)
n
A Figura 2.10 mostra os níveis de energia para o átomo de hidrogênio. Os níveis
correspondentes a n>5 não estão indicados.
n=∞
n=5 -0,5 eV
n=4 -0,9 eV
n=3 -1,5 eV

n=2 -3,4 eV

n=1 -13,6 eV
Lyman Balmer

Figura 2.10: Níveis de energia para o átomo de hidrogênio.


As setas verticais indicam a transição de um nível mais alto de energia para um nível mais
baixo. O espectro de frequência emitido pela transição de um nível qualquer para o nível
fundamental é conhecido como espectro de Lyman ou série de Lyman. O espectro de

27
frequência emitido pela transição de um nível qualquer para o nível n=2 é conhecido como
espectro de Balmer ou série de Balmer.
Entre duas órbitas quaisquer, a transição de um elétron de um nível energético inicial Ei
para um nível energético final Ef é dado pela equação (2.1) posta na forma:
Ei - Ef =hf . (2.20)
De (2.19) em (2.20),
 1 1
Ei − E f = hf = − E1  2 − 2  (2.21)
 nf ni 
ou
hc  1 1
hf = = − E1  2 − 2  ,
λ  nf ni 
ou ainda
1 E1  1 1
=−  2 − 2 .
λ ch  n f ni 
Em geral, pode-se escrever:
1  1 1
= R 2 − 2  (2.22)
λ  nf ni 
E1
onde R = − = 1.097 × 107 m−1 é a constante de Rydberg.
ch
Para diversas séries, pode-se escrever:

1  1
Lyman nf=1, = R 1 − 2  n = 2,3,4,..
λ  ni 

1  1 1
Balmer nf=2 = R 2 − 2  n = 3,4,5,...
λ 2 ni 

1  1 1
Paschen nf=3 = R 2 − 2  n = 4,5,6,...
λ  3 ni 

1  1 1
Bracket nf=4 = R 2 − 2  n = 5,6,7,...
λ 4 ni 

1  1 1
Pfund nf=5 = R 2 − 2  n = 6,7,8,...
λ 4 ni 

Observações mais cuidadosas mostraram que, cada linha do espectro do hidrogênio e de


outros elementos é na realidade formada por várias linhas mais finas e muito próximas entre sí
(é o chamado espectro fino). Ora, se a raia do espectro é conseqüência do salto de um elétron
de uma órbita para outra, o aparecimento do espectro fino indica que existem também órbitas
eletrônicas de níveis energéticos muito próximos. Isto levou Arnold J. W. Sommerfeld (1916)

28
a imaginar que algumas das órbitas, camadas ou níveis (K,L,M,N,O,P,Q) do átomo de
Rutherford-Bohr seriam formadas por subcamadas ou subníveis. Erwing Schrödinger, em
1926, partindo da idéia da existência de outros subníveis energéticos e devido a dificuldade de
se calcular a posição exata de um elétron na eletrosfera, foi levado a calcular a região onde
haveria maior probabilidade de encontrar o elétron. Essa região do espaço foi denominada
orbital. Foram introduzidos os subníveis s (sharp), p (principal), d (diffuse) e f (fine), g, h, etc.
O número máximo de orbitais e elétrons em cada subnível são:
• subnível s - 1 orbital, 2 elétrons;
• subnível p - 3 orbitais, 6 elétrons;
• subnível d - 5 orbitais, 10 elétrons;
• subnível f - 7 orbitais, 14 elétrons; etc.
Em 1924, os experimentos de Otto Stern e Walter Gerlach levaram a suposição de que o
elétron além do seu movimento de translação ao redor do núcleo, também possui movimento
de rotação sobre si próprio, que foi denominado spin (do inglês to spin, “girar”). Com essa
rotação o elétron cria o seu próprio campo magnético.
A distribuição dos elétrons no átomo de um determinado elemento químico é feita da
seguinte forma:
a) os elétrons vão se encaixando na eletrosfera, partindo dos níveis e subníveis de
menor energia para os de maior energia; só se passa para um subnível superior
quando o inferior já estiver lotado (regra da energia mínima);
b) num mesmo subnível, de início, todos os orbitais devem receber o seu primeiro
elétron e, só depois, cada orbital passará a receber o seu segundo elétron (regra de
Hund);
c) de acordo com o princípio de exclusão de Pauli, dois elétrons não podem ocupar o
mesmo nível energético, a menos que tenham spins contrários. O primeiro elétron
de um orbital é, por convenção, o de spin -1/2 ↑.

2.5 Diagrama de Linus Pauling


Para facilitar o entendimento da distribuição de elétrons nos átomos de elementos
químicos, o químico Linus Pauling propôs um diagrama conhecido como diagrama de
Pauling. A montagem do diagrama se inicia na construção de um triângulo isósceles com base
igual a sete níveis e altura composta por quatro níveis como mostrado na Figura 2.11.
A seguir, basta completar os subníveis que ficam no interior do triângulo e preencher
cada subnível seguindo as setas da Figura 2.12. Note que os subníveis 5f e 6d estão fora do
triângulo. Entretanto, mesmo sem a inclusão desses subníveis, já se poderia distribuir os
elétrons em todos os átomos contendo até 84 elétrons (número atômico Z=84). Também,
depois de construído o triângulo, é fácil acrescentar mais uma diagonal, fora do triângulo,
paralela ao último lado do triângulo. É bom lembrar que teoricamente a eletrosfera pode
continuar com a adição de futuros subníveis 7p e 8s, isto certamente irá acontecer quando
novos elementos químicos forem descobertos.
Exemplo: Fazer a distribuição eletrônica para o átomo de ferro (Z=26) no estado
fundamental.
Solução: Seguindo o diagrama de Pauling da Figura 2.12 de cima para baixo, no sentido das
setas, os diversos subníveis são preenchidos na seguinte sequência:
1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d6.

29
1s

2s 2p

3s 3d

4s 4f

5s 5d

6s 6p

7s

Figura 2.11: Triângulo de Linus Pauling.

1s

2s 2p

3s 3p 3d

4s 4p 4d 4f

5s 5p 5d

6s 6p

7s

Figura 2.12: Diagrama de Pauling.

30
A soma dos expoentes é 26. Note que o subnível 3d está incompleto e tem apenas 6 elétrons
assim distribuídos:
↑↓ ↑ ↑ ↑ ↑
Note que no primeiro orbital, há dois elétrons juntos com campos magnéticos opostos se
cancelando. Já os 4 elétrons dos demais orbitais 3d produzem campos magnéticos que se
somam, o que dá ao ferro propriedades magnéticas. O ferro é o elemento químico que possui
magnetismo mais intenso.
A distribuição eletrônica do átomo de ferro por camadas é:
camada 1 (camada K) - 2 elétrons;
camada 2 (camada L) - 8 elétrons;
camada 3 (camada M) - 14 elétrons;
camada 4 (camada N) - 2 elétrons.

A Tabela 2.1 mostra a configuração eletrônica dos primeiros 54 elementos. A tabela


mostra que até o elemento 19 (potássio), o preenchimento dos estados eletrônicos é
perfeitamente regular, ou seja, camadas mais externas não são preenchidas antes do
preenchimento das camadas internas. No entanto, utilizando o diagrama de Pauling, observa-
se que no elemento potássio o nível 4s (camada N), contém um elétron enquanto o subnível
3d (camada M) está vazio. O subnível 3d permanece incompleto do elemento 19 a 28 (níquel).
Os elementos que não possuem suas camadas internas totalmente preenchidas foram
chamados de grupo de elementos de transição. O grupo onde o subnível 3d está incompleto é
chamado de grupo do ferro. As propriedades magnéticas dos materiais estão fortemente
relacionadas com o preenchimento incompleto das camadas internas dos átomos. Porém, as
propriedades químicas dos átomos são determinadas principalmente pela configuração
eletrônica da última camada. Quando um átomo A é colocado próximo a um átomo B, os
elétrons de A estarão sujeitos a forças devido a B. No entanto, os elétrons mais internos em A
estão fortemente ligados ao núcleo de A. Assim, a presença do átomo B perturba mais os
elétrons de A que estão mais próximos de B, que são justamente os elétrons da última
camada. Logo, elementos como os metais alcalinos (Li, Na, K, Rb e Cs) têm um elétron na
última camada e todos se comportam quimicamente da mesma forma.

31
Tabela 2.1 – Configuração eletrônica de elementos
Número K L M N O
Atômico (Z) Elemento n=1 n=2 n=3 n=4 n=5
1s 2s 2p 3s 3p 3d 4s 4p 4d 4f 5s 5p 5d 5f
1 H 1
2 He 2
3 Li 2 1
4 Be 2 2
5 B 2 2 1
6 C 2 2 2
7 N 2 2 3
8 O 2 2 4
9 F 2 2 5
10 Ne 2 2 6
11 Na 2 2 6 1
12 Mg 2 2 6 2
13 Al 2 2 6 2 1
14 Si 2 2 6 2 2
15 P 2 2 6 2 3
16 S 2 2 6 2 4
17 Cl 2 2 6 2 5
18 A 2 2 6 2 6
19 K 2 2 6 2 6 1
20 Ca 2 2 6 2 6 2
21 Sc 2 2 6 2 6 1 2
22 Ti 2 2 6 2 6 2 2
23 V 2 2 6 2 6 3 2
24 Cr 2 2 6 2 6 4 1
25 Mn 2 2 6 2 6 5 2
26 Fe 2 2 6 2 6 6 2
27 Co 2 2 6 2 6 7 2
28 Ni 2 2 6 2 6 8 2
29 Cu 2 2 6 2 6 10 1
30 Zn 2 2 6 2 6 10 2
31 Ga 2 2 6 2 6 10 2 1
32 Ge 2 2 6 2 6 10 2 2
33 As 2 2 6 2 6 10 2 3
34 Se 2 2 6 2 6 10 2 4
35 Br 2 2 6 2 6 10 2 5
36 Kr 2 2 6 2 6 10 2 6
37 Rb 2 2 6 2 6 10 2 6 1
38 Sr 2 2 6 2 6 10 2 6 2
39 Y 2 2 6 2 6 10 2 6 1 2
40 Zr 2 2 6 2 6 10 2 6 2 2
41 Nb 2 2 6 2 6 10 2 6 4 1
42 Mo 2 2 6 2 6 10 2 6 5 1
43 Te 2 2 6 2 6 10 2 6 6 1
44 Ru 2 2 6 2 6 10 2 6 7 1
45 Rh 2 2 6 2 6 10 2 6 8 1
46 Pd 2 2 6 2 6 10 2 6 10
47 Ag 2 2 6 2 6 10 2 6 10 1
48 Cd 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2
49 In 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 1
50 Sn 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 2
51 Sb 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 3
52 Te 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 4
53 I 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 5
54 Xe 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 6

32
2.6 Ligações Químicas
Os elementos geralmente se agregam através de ligações químicas para formar
moléculas. As propriedades físicas e químicas das moléculas dependem fundamentalmente da
sua estrutura atômica e eletrônica. Os mecanismos de ligação em uma molécula estão
intimamente relacionados com forças eletrostáticas entre átomos ou íons. Quando dois átomos
estão separados por uma distância r, tendendo para infinito, a força resultante entre eles e a
energia potencial do sistema são nulos. A grandes distâncias, as forças dominantes são de
atração. Se os átomos forem colocados a uma pequena distância, existirão forças de atração e
de repulsão. Para distâncias muito pequenas as forças de repulsão entre cargas iguais são
dominantes. A energia potencial W(r) do sistema pode ser positiva ou negativa, dependendo
da separação entre os átomos, como mostrado na Figura 2.13.

W(r)

r0
r

W(r0)

Figura 2.13: Energia potencial de um sistema com dois átomos como função da
distância entre os núcleos.

Admita que a energia potencial total do sistema possa ser expressa por:
A B
W (r ) = − n
+ m, (2.23)
r r
onde r é a separação entre os núcleos, n e m são números inteiro e, A e B são constantes
associadas com forças atrativa e repulsiva, respectivamente. A energia para grandes distancias
interatômicas é negativa, correspondendo a uma força resultante de atração. Quando os dois
núcleos estão muito próximos a energia potencial é positiva o que corresponde a uma força
resultante de repulsão. Os átomos formarão uma molécula estável, com distância interatômica
r0, se existir um mínimo para a energia potencial W(r) como mostrado na Figura 2.5. A
energia para dissociar a molécula é positiva e igual a -W(r0). Para que W(r) tenha um mínimo,
m>n. Em outras palavras, as forças de atração caem mais lentamente com r do que as forças
de repulsão.
Uma descrição completa dos mecanismos de ligação de moléculas é muito complexa
porque envolve interações mútuas entre muitas partículas (núcleos e elétrons dos diversos
átomos). A seguir apresenta-se os tipos mais comuns de ligações químicas: ligações fortes
denominadas de ligações primárias, onde existe a troca ou compartilhamento de elétrons entre
átomos; e ligações secundárias formadas pela interação entre dipolos.

33
2.6.1 Ligações Primárias
As ligações primárias são classificadas em iônicas, covalentes e metálicas.

2.6.1.1 Ligações Iônicas


As ligações iônicas se devem à atração coulombiana entre íons de cargas opostas. Um
exemplo comum da formação de uma molécula iônica é a combinação de átomos de cloro e
sódio para formar o composto cloreto de sódio (sal de cozinha). O sódio (número atômico
Z=11) tem uma configuração eletrônica 1s22s22p6 3s1, sendo relativamente fácil de ser
ionizado cedendo o elétron de valência 3s1 para formar o íon Na+ . Para ser ionizado, um
átomo isolado de sódio necessita de uma energia de aproximadamente 5.1 eV. O cloro (Z=17)
tem uma configuração eletrônica 1s2 2s2 2p6 3s2 3p5, faltando apenas um elétron na última
camada (3a camada) para formar uma estrutura estável semelhante ao gás nobre Argônio
(Z=18). A configuração eletrônica com camadas completas é energeticamente mais favorável
e o íon Cl- ,formado pela captura de um elétron, é mais estável que o átomo neutro Cl. É fácil
a transferência dos elétrons de valência de cada átomo de sódio para átomos de cloro,
tornando-os ambos estáveis. A energia ganha quando um átomo captura um elétron é
chamada de afinidade eletrônica. Para o cloro a afinidade eletrônica é 3.6 eV. Assim, uma
energia igual a 5.1 - 3.6 = 1.5 eV tem que ser fornecida aos átomos neutros de cloro e de
sódio para transformá-los em íons de Na+ e Cl- separados por uma distância infinita.
Depois da formação de íons Na+ e Cl- existirá atração eletrostática entre eles. A atração
faz com que os átomos fiquem cada vez mais próximos, havendo o entrelaçamento das nuvens
eletrônicas dos dois íons. Naturalmente, no composto sólido há também repulsão eletrostática
entre íons de mesma carga. Porém, a atração de íons de cargas de sinais opostos supera a
repulsão de íons de cargas de mesmo sinal e uma estrutura sólida estável é formada.

2.6.1.2 Ligações Covalentes


Átomos iguais quando se juntam para formar moléculas, permanecem neutros. Isto
porque todos os átomos são equivalentes e não existe razão de ionização de qualquer átomo
em particular. É o caso de cristais como o diamante, silício e germânio. As ligações entre
elementos são formadas por compartilhamento de elétrons e são conhecidas por ligações
covalentes. Mesmo em alguns casos onde moléculas são formadas por átomos diferentes,
como o carboneto de silício (SiC), a ligação entre átomos é predominantemente covalente,
embora tenha caráter levemente iônico, visto que elétrons de um átomo se aproximam ao
átomo vizinho por um curto período de tempo.

2.6.1.3 Ligações Metálicas


Nos metais, os elétrons de valência se libertam facilmente de seus átomos de origem e se
deslocam livremente entre os íons do reticulado cristalino. Em outras palavras, os elétrons de
valência em um metal não podem ser associados com átomos em particular: eles pertencem a
todos os átomos. A ligação metálica é uma espécie de ligação iônica em que o elétron livre é
doado a todos os átomos do sólido.1

1
Embora esta provavelmente seja a maneira mais simples de entender a ligação metálica, alguém poderia dizer
também que a ligação metálica é uma espécie de ligação covalente em que os elétrons formam ligações
covalentes temporárias entre pares de átomos e, em seguida, se movem para outro par.

34
2.6.2 Ligações Secundárias
As ligações primárias são classificadas em Ligações de Van der Waals e Ligações por
pontes de Hidrogênio.

2.6.2.1 Ligações de Van der Waals


Os gases nobres como o hélio, neônio e argônio são quimicamente inativos; eles não
formam compostos com outros átomos. No entanto, em baixas temperaturas eles se
condensam para formar sólidos. Similarmente, gases como o metano, dióxido de carbono e
hidrogênio (CH4, CO2, H2) também são quimicamente inativos por compartilhamento de
todos os elétrons de valência. No entanto eles também podem se solidificar. Existe então um
tipo de ligação diferente da iônica, covalente e metálica, que não causa grandes modificações
na estrutura eletrônica dos átomos. Pode-se imaginar que a força de atração entre moléculas
quimicamente estáveis se deve à presença de dipolos elétricos. Um elétron girando em redor
do núcleo, pode ser considerado como um dipolo elétrico girante. Tal dipolo induzirá um
dipolo em um átomo vizinho resultando numa atração entre átomos. A ligação entre átomos é
fraca e as forças que os une são conhecidas como forças de Van der Waals.

2.6.2.2 Ligações por Pontes de Hidrogênio


Existe um outro tipo de ligação secundária que pode ser feita entre átomos que não
possuem elétrons para compartilhar. Ela é similar à ligação de Van der Waals, ou seja, se deve
à atração entre dipolos, mas ocorre somente quando um átomo de hidrogênio está presente.
Considere uma molécula iônica formada por um átomo de hidrogênio e algum outro
átomo ou grupo de átomos X. Admita que a estrutura atômica seja descrita pelo símbolo X-
_____H+ (os sinais + e - indicam a carga dos íons). Esta molécula é um pequeno dipolo. A
carga positiva do íon hidrogênio pode atrair a carga negativa de um terceiro íon ou grupo de
átomos Y, que podem até mesmo ser uma parte de uma outra molécula. Como resultado, têm-
se uma fraca atração dipolo-dipolo exatamente como na ligação de Van der Waals. Porém o
íon de hidrogênio é muito pequeno e o terceiro grupo iônico Y pode se aproximar muito
formando uma ligação ligeiramente mais forte que a ligação de Van der Waals. A estrutura é
denotada simbolicamente por:
X- _____H+ ____________Y-.
A ligação entre Y e H é fraca, contudo, a estrutura:
X- ____________H+ _____Y-,
onde a ligação X__H é mais fraca, também é possível. Na prática, o átomo de hidrogênio fica
se deslocando continuamente entre as duas posições possíveis (próximo a X e próximo a Y).
A ligação por pontes de hidrogênio ocorre frequentemente em materiais orgânicos em
que o hidrogênio exerce papel importante. Ela contribui para o agrupamento dos átomos dos
plásticos (polímeros). Ela também aparece na estrutura da água e gelo.

2.7 Níveis de Energia de Elétrons em Moléculas


Para o estudo dos mecanismos de condução em sólidos é necessário o entendimento do
comportamento dos elétrons em cristais (sólidos de estrutura regular). Se o elétron for
considerado como uma partícula, descreverá uma trajetória em zigzag visto que ele muda de
direção a cada colisão com os átomos do cristal. Com um grande número de átomos no
reticulado cristalino vibrando devido a energia térmica, é praticamente impossível se calcular
a trajetória dos elétrons. Porém, não é necessário informações detalhadas do movimento

35
eletrônico no cristal para se fazer previsões de suas propriedades. É suficiente se conhecer os
possíveis níveis de energia dos elétrons no cristal, o que já é uma tarefa complexa.
Nas seções anteriores foi mostrado como obter os níveis de energia de um elétron num
átomo de hidrogênio utilizando o modelo de Bohr. No entanto, os postulados de Bohr não se
aplicam a sistemas mais complicados que o átomo de hidrogênio. Mesmo para a molécula de
hidrogênio é complicado se determinar o comportamento dos elétrons. Porém, pode-se obter
informações importantes através da combinação de princípios fundamentais e da intuição.
Considere inicialmente dois átomos de hidrogênio cujos núcleos estejam separados por
uma distância R, como mostrado na Figura 2.14 e cujos elétrons estejam ambos nas órbitas de
menor energia.
-e -e

R
+e +e

Figura 2.14- Par de átomos de hidrogênio.

Analise inicialmente o que acontece com os níveis de energia dos elétrons quando um
deles é trazido para a vizinhança do outro. Quando dois ou mais átomos estão presentes é
necessário considerar uma outra propriedade que é o spin. Segundo o princípio de exclusão de
Pauli, dois elétrons no mesmo átomo não podem ter a mesma energia a menos que estejam
com seus spins opostos. Ao se juntar dois átomos para formar uma molécula, existem duas
possibilidades para a relação dos spins dos dois elétrons; eles podem ter o mesmo sentido ou
podem ter sentidos opostos. Admitindo que eles tenham o mesmo sentido, então haverá uma
tendência de repulsão entre os elétrons quando a distância interatômica diminuir, devido ao
princípio de exclusão. Assim, em média os dois elétrons tenderão a permanecer afastados.
Imaginando os elétrons que estão em órbita como nuvens eletrônicas, elas podem aparecer
como mostrado na Figura 2.15.

a) spins anti-paralelos b) spins paralelos

Figura 2.15: Molécula de Hidrogênio.

Se os spins forem opostos, os dois elétrons poderão existir na mesma órbita em torno de
cada núcleo, passando boa parte do tempo no espaço entre eles. A nuvem eletrônica serve
para manter os núcleos próximos, unindo os átomos de hidrogênio por ligação covalente.
Verifica-se portanto que se os elétrons tiverem spins anti-paralelos, os átomos da
molécula de hidrogênio estarão mais próximos, a nuvem eletrônica ocupará menos espaço.

36
Neste caso a energia dos elétrons será menor quando comparada à situação em que os elétrons
têm spins paralelos. Assim, a energia potencial é tanto maior quanto mais longe os elétrons
estiverem dos núcleos. Considerando átomos de hidrogênio no estado fundamental separados
por uma distância muito grande, a energia de cada elétron é aproximadamente E1=-13.6 eV.
Para a molécula de hidrogênio tem-se duas possibilidades como mostrado na Figura 2.7.
Existe um aumento da energia E quando os elétrons têm spins paralelos e um decréscimo
quando os elétrons têm spins anti-paralelos (Figura 2.16).

E
Spins paralelos

Ei =-13.6 eV

Spins anti-paralelos

r
Figura 2.16: Niveis de energia possíveis para uma molécula do hidrogênio no estado fundamental.

3.8 Níveis de Energia de Elétrons em Cristais


Juntando-se um grande número de átomos para formar um cristal hipotético de
hidrogênio, teria-se a possibilidade de se encontrar elétrons em um número grande de bandas
de energia. Cada uma dessas bandas se deve à separação dos níveis energéticos de átomos
isolados em N novos níveis, um para cada um dos N átomos que formam o cristal (Figura
2.17). Os dois níveis mais baixos no átomo de hidrogênio isolado são E1=-13,6 eV e E2=-3.4
eV, de modo que a separação é grande comparada às energias envolvidas. Note que na
formação do cristal hipotético de hidrogênio, as diferenças entre os níveis de energia de
elétrons podem ser bem menores. As bandas de N níveis são chamadas de bandas permitidas e
os espaços que as separam de bandas proibidas. Para um cristal formado de um elemento
qualquer, teria-se também a formação de bandas de energia como ilustrado na Figura 2.17,
porém os níveis energéticos dos elétrons seriam diferentes.

37
E
E∞ =0 eV
.
.
.
Ei =-1,5 eV Banda de energias permitidas

Banda de energias proibidas

E2 =-3,4 eV Banda de energias permitidas

Banda de energias proibidas

Ei =-13,6 eV Banda de energias permitidas

a) Níveis de energia de elétrons no cristal b) Terminologia das bandas de energia


Figura 2.17 - Bandas de energia para um cristal hipotético de
hidrogênio.

Exercícios

1. Qual a velocidade máxima dos elétrons produzidos por fotoexcitação do sódio por meio de
luz de comprimento de onda de 3100 x 10-10 m. A função trabalho do sódio é 2,3 eV.

2. A função trabalho do zinco é 4,3 eV.


a) Qual a mínima freqüência necessária para fotoemissão? Qual o máximo comprimento
de onda ?
b) Qual a freqüência que resulta em elétrons com energia cinética de 1,25 eV?

3. Filmes de silício se tornam melhores condutores quando iluminados por fótons de energias
maiores que 1,14 eV (este comportamento é conhecido como fotocondutividade). Qual o
comprimento de onda máximo dos fótons que provocam a condução no silício?

38
4. Uma rádio FM opera em 90.1 MHz com potência de 10 kW. Quantos fótons ela emite por
segundo?

5. Um feixe de luz de comprimento de onda 2480 x 10-10 m atingindo um eletrodo de


tungstênio provoca a emissão de elétrons (Figura 1). Verifica-se que a corrente fotoelétrica é
reduzida a zero quando a polaridade da fonte de tensão é invertida e igual a 0,5 V.
Determine a função trabalho do tungstênio.

Luz

pA

V
Figura 1

6 - Calcule as energias dos três primeiros níveis do átomo de hidrogênio. Quais são as
possíveis frequências de radiação emitidas na transição de um nível para outro (sugestão:
utilizar o modelo atômico de Bohr). Calcule também as faixas de freqüencia para as séries de
Lyman e Balmer.

7 - O que você acha que provavelmente aconteceria se um elétron com energia cinética maior
que 13,6 eV colidisse com um átomo de hidrogênio no estado fundamental ?

8 - Suponha que o espaço em torno do núcleo de hidrogênio seja preenchido por um meio
dielétrico com permissividade relativa εr. Utilize o modelo atômico de Bohr e obtenha uma
nova expressão para os níveis de energia. Encontre a energia do nível n=1 quando εr=11,7.

9 - Faça a distribuição eletrônica para o átomo de ferro (Z=26), cobalto (Z=27) e níquel
(Z=28). Que características magnéticas importantes estes materiais apresentam? Por que ?

___________________________________________________________________________
_______
Constantes Universais
ε0=8,85 x 10-12 F/m; 1eV=1,602 x 10-19 J; h=6,623 x 10-34 J.s; c=3,00x108 m/s; me=9,11x10-31 kg

39

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