ARQUITETURA E URBANISMO
Teoria da Arquitetura, urbanismo e
Paisagismo.
AULA 2
Vitrúvio por Leonardo Da Vinci
Unidades de Medidas
Renascimento
• A Influência de Vitrúvio no Renascimento Ainda que tenha sido escrito
na Antiguidade, o tratado de Vitrúvio exerceu limitada influência em seu
tempo.
• Apenas no século XV é que o documento será revisitado e traduzido por
teóricos e, portanto, constituirá o plano de fundo da teoria da
arquitetura italiana durante o Renascimento.
Leonardo da Vinci
• Com a difusão dos escritos de Vitrúvio, entre os séculos XV e XVI, a
discussão se cristaliza tendo como foco a proporção na figura vitruviana,
interpretada por di Giorgio, num primeiro momento, e, posteriormente,
por Leonardo da Vinci, que, tendo acesso ao manuscrito de di Giorgio,
realiza o seu famoso desenho da figura vitruviana.
• Essa ideia expressa por Da Vinci está baseada em um dos textos do
antigo arquiteto romano Vitrúvio (80-70 a. C.-15 a. C), que relacionou as
medidas e o desenho do corpo humano com a arquitetura.
• Em seu tratado de arquitetura, Vitrúvio expôs suas teorias sobre as
proporções humanas, que afirma que a proporção ideal de uma figura
humana deve entrar em um círculo e em um quadrado.
• A história e a teoria da arquitetura se sobrepõem em diversos momentos ao longo dos tempos.
• Dessa maneira, o arquiteto-teórico explora soluções tanto conceituais, em que se nutre da filosofia para
enriquecer o seu discurso, como físicas, em que explora a materialidade da construção.
O arquiteto da Antiguidade,
• Vitrúvio, versa nas primeiras páginas de seu tratado a importância da teoria na formação do arquiteto ao
estabelecer um paralelo com a prática. Ele esclarece que a ciência do arquiteto é fruto de várias disciplinas e
saberes, e que, portanto, a arquitetura nasce da prática e da teoria.
O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio
• O termo “tratado” possui algumas conotações. Significa um acordo formal entre dois
ou mais governantes; algo que foi combinado; um tópico de discussão. A definição
que mais se torna relevante para a discussão da arquitetura é “obra que demonstra
didática e detalhadamente um ou muitos assuntos”.
• O primeiro grande tratado de arquitetura que se tem notícia, ou que minimamente
sobrevive aos tempos até os dias atuais são os Dez livros sobre arquitetura [De
architectura libri de cem] de Vitrúvio.
• Ainda que Vitrúvio não tenha sido o primeiro que escreveu sobre a disciplina, o seu
tratado representa a única documentação da arquitetura da Antiguidade que não se
perdeu.
Vitrúvio
• Antes de abordar o tratado, é importante
revelar alguns traços biográficos do autor.
Assume-se que Vitrúvio tenha nascido no ano
de 84 a.C. Durante o império de César, serve ao
exército romano e constrói armas de combate
como catapultas e equipamentos de
infraestrutura como pontes. Com o falecimento
de César em 44 a.C., Vitrúvio participa da
construção do aqueduto romano a serviço de
Otávio. Aposenta-se em 33 a.C. obtendo uma
indenização financeira por intercessão de
Otávia, irmã do imperador. Nessa época,
aposentado aos 51 anos, Vitrúvio começa a se
dedicar a seu tratado de teoria da arquitetura.
A hipótese é que os livros tenham sido escritos
entre os anos de 33 e 14 a.C., de modo que não
se sabe ao certo a sua ordem.
O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio
• O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio
é composto por dez livros, com
informações sobre arquitetura,
planejamento urbano, ordens gregas,
técnicas, edifícios públicos e
privados, materiais de construção,
descrição de mecanismos de
aplicação civil e militar, relógios e
máquinas hidráulicas. Existem
registros de que desenhos
• Marco Vitrúvio Polião, que viveu no final do
século 1 aC, escreveu "Da Arquitetura", um
tratado que combina a história da arquitetura
e engenharia antigas com a experiência
pessoal do autor
• Compreende-se que o tratado de arquitetura de Vitrúvio é de grande relevância histórica “já que os escritos
sobre teoria da arquitetura desde o Renascimento remontam a Vitrúvio.
• Portanto, pode-se concluir que o conhecimento de Vitrúvio possibilita a compreensão da arquitetura produzida,
sobretudo entre o Renascimento e a modernidade que se estabelece na primeira metade do século XX
Dez livros de Vitrúvio
• “Sábia e utilmente procuraram os nossos maiores, através de escritos, transmitir os seus conhecimentos às
gerações futuras, a fim de que não se perdessem, mas chegassem, no decorrer dos tempos, à máxima sutileza
do entendimento, sendo publicados em livros e progressivamente enriquecidos em cada época. A eles devem ser
prestados não poucos mas muitíssimos agradecimentos, porque não deixaram passar egoisticamente em
silêncio os seus conhecimentos, em todos os campos, mas procuraram transmiti-los por escrito.” (VITRÚVIO,
2007, p. 30 –Introdução).
O Tratado
• O tratado é dividido em dez livros precedidos, cada um, por um prefácio que não
necessariamente sugere o conteúdo do respectivo livro; o prefácio recupera, de
maneira bastante breve, o conteúdo do livro precedente.
• Entende-se, portanto, que “os prefácios devem ser considerados uma unidade e
contêm passagens fundamentais sobre a função do tratado e sobre o entendimento
do autor”
• Os assuntos dos prefácios abordam temas variados que podem ser agrupados em
três conjuntos:
• a) o próprio Vitrúvio,
• b) a função do Tratado
• c) problemas da arquitetura em geral.
Organização dos Livros
• Os livros são organizados da seguinte forma:
• LIVRO 1 a formação do arquiteto; os conceitos fundamentais técnicos e estéticos; áreas da
arquitetura: edifícios, construção de relógios, de máquinas; os prédios públicos e privados; o
planejamento de cidades.
• LIVRO 2 o surgimento da arquitetura; a teoria dos materiais para a construção.
• LIVROS 3 e 4 a construção de templos; os tipos de templos; as ordens arquitetônicas; a teoria
da proporção.
• LIVRO 5 as construções municipais, com especial atenção aos teatros.
• LIVRO 6 edifícios privados.
• LIVRO 7 o emprego de materiais de construção; a pintura de parede.
• LIVRO 8 a água e a construção de aquedutos.
• LIVRO 9 visão de mundo gnômica; a construção de relógios.
• LIVRO 10 a construção de máquinas e mecânica
Livro 1
• No primeiro prefácio, Vitrúvio se revela como um arquiteto de formação
militar e compreende que a arquitetura faz parte da economia social
política e está ligada ao prestígio de quem constrói. No item três, dedica
o texto a Augusto e manifesta o mecenatismo presente na proteção do
próprio imperador e da sua irmã.
Livro 2
• No segundo prefácio, o autor conclui que o arquiteto não possui poder para
conseguir realizar os seus projetos, de modo que esse profissional, bem como o
artista, é apresentado como um instrumento nas mãos do governante com a
finalidade de alcançar os seus objetivos políticos. Ainda assim, sinaliza que o maior
sonho de um arquiteto é a construção de uma cidade.
Livro 3
• No terceiro prefácio, Vitrúvio elucida a importância da arte na vida do homem e contesta o valor que, em muitos
casos, é negado ao artista, de modo que “a arte e seus valores integram-se em um contexto cultural mais vasto, e
seu nível entra em interação com o grau de civilização de uma sociedade”
• De acordo com o autor, o artista se torna conhecido para a posteridade tanto por meio do exercício da arte, mas,
sobretudo, pelo trabalho em grandes cidades, reis ou nobres cidadãos.
• Também conclui que nas artes em geral, bem como na arquitetura, aquilo que é belo e excelente dispensa outros
empenhos
Livro 4
• No quarto prefácio, estão registradas leituras sobre os temas dos estilos dórico, coríntio e toscano, além de o
autor versar sobre os templos circulares, portas dóricas, jônicas e áticas, bem como os altares.
Livro 5
• O quinto prefácio deixa transparecer que, segundo o próprio autor, o tratado deve ser constituído de ciência e
engenho. O vocabulário adotado para revelar um caráter de autoridade em seu texto é sintético, prático e
objetivo.
Livro 6
• No sexto prefácio, Vitrúvio afirma que “o saber e a competência aliados à honestidade são a verdadeira riqueza
do arquiteto, pois são bens imperecíveis” (MACIEL apud VITRÚVIO, 2007, p. 39
Livro 7
• No sétimo prefácio, o arquiteto enaltece a contribuição de seus “mestres” para o desenvolvimento de sua
percepção artística e de seus fundamentos. Atento ao papel de pesquisador, reconhece os seus pares e revela os
nomes de verdadeiros historiadores de arte que contribuíram tanto no campo artístico quanto no campo teórico.
Nesse aspecto, Vitrúvio, ao citar os autores que o antecederam, reconstitui uma trajetória que legitima o seu
trabalho enquanto pesquisador.
Livro 8
• O oitavo prefácio aborda aquilo que Tales de Mileto considerava a arché de todas as coisas: a água. O livro aborda
a hidráulica e a distribuição da água, toda a engenharia que possibilitava a organização de uma infraestrutura que
possibilitava o acesso a essa fonte de vida.
Livro 9
• No nono prefácio, Vitrúvio revela um descontentamento em relação ao enaltecimento aos atletas gregos através
de louros e benesses, enquanto os intelectuais, como os escritores, filósofos, inventores tinham a sua
contribuição ao desenvolvimento da sociedade pouco reconhecida.
Livro 10
• Por fim, o décimo prefácio que antecede o livro mais longo do tratado assume a responsabilidade do arquiteto
perante os orçamentos que prestavam a fim de evitar que pessoas sem formação na área, não devidamente
aptas, sabedoras e experiente do ofício.
A Tríade Vitruviana e a Categoria do Belo
• No primeiro livro, no segundo capítulo, Vitrúvio aborda um dos alicerces do tratado em que são fornecidos os
conceitos estéticos fundamentais da arquitetura e as suas respectivas definições. Esse capítulo torna-se o núcleo
do tratado do ponto de vista da teoria, de modo que esses conceitos irão exercer influência no discurso
arquitetônico até as primeiras décadas do século XX.
Firmitas, Utilitas e Venustas
• •A firmeza (firmitas), a finalidade (utilitas) e a beleza (venustas): Compõem aquilo que passou a ser denominado
de tríade vitruviana. Essas três categorias dizem respeito ao tratamento intelectual da arquitetura, “o
raciocinatio”.
• Na obra de Vitrúvio, definem-se quatro os elementos fundamentais da
arquitetura: a firmitas (que se refere à estabilidade, ao carácter
construtivo da arquitetura/resistência), a utilitas (que originalmente se
refere à comodidade e ao longo da história foi associada à função e ao
utilitarismo), a venustas (associada à beleza e à apreciação estética) e o
decorum (associado à dignidade da arquitetura, à necessidade de
rejeição dos elementos supérfluos e ao respeito das tradições/ordens
arquitetônicas).
Solidez
• O princípio da solidez estará presente quando for feita a escavação dos fundamentos até o chão firme
e se escolherem diligentemente e sem avareza as necessárias quantidades de materiais. O da
funcionalidade, por sua vez, será conseguido se for bem realizada e sem qualquer impedimento a
adequação do uso dos solos, assim como uma repartição apropriada e adaptada ao tipo de exposição
solar de cada um dos gêneros. Finalmente, o princípio da beleza será atingido quando o aspecto da
obra for agradável e elegante e as medidas das partes corresponderem a uma equilibrada lógica de
comensurabilidade. (VITRÚVIO, 2007, p. 82 –Solidez, funcionalidade e beleza, capítulo 3, livro 1)
• Como visto, as categorias abordam a dimensão da edificação desde a sua
estática através das fundações e do sistema estrutural que mantêm a
construção firme e inabalável, até aquilo que garante beleza e harmonia
em sua composição volumétrica e seus aspectos físicos obtidos pelo
emprego de determinados materiais.
Utilidade
• Outro aspecto importante é a equação dos espaços internos adequados à função a qual a edificação se destina.
• Muito além de um levantamento estático de programa de necessidades calcado num momento histórico único, a
flexibilidade da edificação, permitindo alterações a baixo custo para demandas que ainda não existem, é
exigência atual para a longevidade do edifício. Exemplo máximo é o do uso residencial.
• A Utilitas (que originalmente se refere à comodidade e ao longo da história foi associada à função e ao
utilitarismo).
• O decoro aborda a relação dos aspectos formais à organização dos espaços internos da edificação. Nesse sentido,
o conceito do decoro se estabelece além do ornamento, mas na estética atrelada à função do edifício.
• Vitrúvio explicita que o decoro cumpre um princípio, theomatismos, segundo um costume, em alguns casos, mas
em outros exemplos pode ser conseguido naturalmente.
Beleza
• Vitrúvio compreende a categoria da beleza por aspectos objetivos de modo que elenca seis conceitos
fundamentais a fim de evitar qualquer percepção subjetiva.
• •1. Ordenação (ordinatio);
• •2. Disposição (dispositivo);
• •3. Euritmia (eurythmia);
• •4. Comensurabilidade (symmetria);
• •5. Decoro (decor);
• •6. Distribuição (distributio).
• A ordenação refere-se à proporção de uma construção. Estrutura-se a partir de um módulo básico e a relação que
se estabelece entre si e com o todo. Logo, a repetição desse módulo implica em uma quantidade, quantitas, e a
harmonia entre os elementos.
• A disposição implica no posicionamento adequado dos elementos compositivos da arquitetura, desde a sua
concepção até a sua execução, com o intuito de se obter a harmonia através da qualidade. A disposição está
fundamentada em três outros conceitos: icnografia (ichnographia), ortografia (orthographia) e cenografia
(scaenographia)
• Em suma, a icnografia refere-se à concepção da edificação no plano horizontal, planta, a ortografia pode ser
compreendida como a representação da fachada e a cenografia, a imagem perspectivada da edificação. Essas
derivações do conceito de disposição “nascem da reflexão (cogitatio), dedicação plena ao estudo e ao trabalho e
da invenção (inventio), explicação das questões obscuras e o conhecimento de uma nova realidade” (VITRÚVIO,
2007, p. 75).
• A euritmia diz respeito à forma exterior elegante estabelecida pela relação de proporção entre a altura, a largura
e o comprimento da edificação. Esse conceito se assemelha à ideia moderna de harmonia.
• A euritmia está relacionada à comensurabilidade que estabelece um equilíbrio conveniente das partes da
construção tendo como princípio o modulus. A comensurabilidade, ou a relação das partes com o todo, pode ser
compreendida como a simetria, cujos fundamentos se equiparam ao conceito atual de proporção.
• Por fim, a distribuição aborda a repartição apropriada dos meios e do solo. A logística empregada na obra para a
execução de uma determinada edificação se faz necessária com o intuito de gerar um equilíbrio econômico nas
despesas. A distribuição está atrelada fundamentalmente ao investimento necessário para a construção. Outro
ponto é a relação da capacidade financeira do proprietário ou a dignidade oratória e o tipo de edificação que se
pretende construir. De acordo com Vitrúvio, as disposições dos edifícios deverão ser adequadas a cada tipo de
pessoa (VITRÚVIO, 2007, p. 80).
• Os seis conceitos fundamentais de Vitrúvio podem ser organizados em três grupos:
• 1. ordenação, euritmia e comensurabilidade designam os diversos aspectos das proporções de uma construção. A
ordenação designa o princípio, a comensurabilidade, o resultado e a euritmia o efeito;
• 2. disposição diz respeito ao projeto estético para os quais são necessários a reflexão e a invenção;
• 3. decoro e distribuição referem-se à adequação no emprego das ordens arquitetônicas e à relação entre a
construção e o morador.
• Ainda que apareça com frequência nas explanações sobre o conceito de belo, Vitrúvio compreende que a
proporção não é um conceito estético fundamental, de modo que ela se estabelece como mera relação numérica
definida de três maneiras:
• 1. como relação das partes entre si;
• 2. como referência de todas as medidas a um modulus que está em sua base;
• 3. como analogia das proporções do homem.
• Por mais relevante que sejam as percepções de Vitrúvio acerca da teoria e do ofício da arquitetura, o seu tratado
recebeu pouco prestígio na Antiguidade, não tendo exercido qualquer influência sobre as construções e o
pensamento da época. O resgate ao seu pensamento se dá séculos mais tarde. Um interesse por Vitrúviose
mostra a partir do período carolíngio, cresce na Alta Idade Média e, durante o Renascimento, tem as suas ideias
amplamente revisitadas e difundidas.
• Arquitetura e Filosofia PULS, M. Arquitetura e filosofia. São Paulo: Annablume, 2006.
• •Estética e Filosofia DUFRENNE, M. Estética e filosofia. São Paulo: Perspectiva, 2015.
• •MACIEL, M. Justino. Introdução. In: VITRÚVIO. Tratado de Arquitetura. Tradução: M. Justino Maciel. São Paulo:
Martins Fontes, 2007. p. 29-49.