DIREITO PENAL
ROGÉRIO SANCHES
AULA 07. DIREITO PENAL.
Data: 11.09.2009
4. Reabilitação
4.1 Previsão
A reabilitação é instituto previsto no art. 93 do CP:
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em
sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos registros
sobre o seu processo e condenação. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da
condenação, previstos no art. 92 deste Código, vedada reintegração
na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Antes da Lei 7.209/84
Depois da Lei 7.209/84
(reforma da parte geral)
A reabilitação passou a ser instituto declaratório
que garante ao condenado:
a) Sigilo dos registros sobre seu processo e
condenação A LEP, no seu art. 202, já
A reabilitação era uma causa
garante a todos que cumpriram pena o
extintiva da punibilidade.
sigilo de processo e condenação, sem exigir
os requisitos trazidos pelo Código Penal.
b) Suspensão de alguns efeitos extrapenais da
condenação.
Pergunta-se: qual foi a causa extintiva da punibilidade retirada pela
reforma de 1984? A reabilitação.
4.2 Funções
É preciso atentar, pois a reabilitação, atualmente, só serve para suspender alguns
efeitos extrapenais da condenação, eis que o sigilo sobre processo e condenação já
consta do art. 202 da LEP:
Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida,
atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por
auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação,
salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou
outros casos expressos em lei.
Por óbvio, conforme dispõe o texto legal, o sigilo trazido pela LEP não é absoluto,
mas relativo. Em concursos públicos, por exemplo, são exigidas certidões penais.
Pergunta-se: quais são os efeitos extrapenais suspensos pela habilitação?
São aqueles previstos no art. 92 do CP, já tratados.
Art. 92 - São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: [...]
II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou
curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos
contra filho, tutelado ou curatelado;
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III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio
para a prática de crime doloso.
Mas é preciso atentar (parágrafo único do art. 93):
Art. 93. Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os
efeitos da condenação, previstos no art. 92 deste Código, vedada
reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do
mesmo artigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
No casos dos incisos I (perda de cargo/função) e II (incapacidade para o
exercício do poder familiar) Mesmo com a reabilitação, é vedada a
reintegração na situação anterior (ex.: o indivíduo pode fazer concurso, mas
não pode ser reintegrado ao cargo que exercia);
No caso do inciso III Com a reabilitação, ocorre a reintegração na
situação anterior.
4.3 Requisitos (art. 94)
Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos
do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua
execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do
livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o
condenado:
I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido;
II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e
constante de bom comportamento público e privado;
III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a
absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba
documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida.
Parágrafo único - Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a
qualquer tempo, desde que o pedido seja instruído com novos
elementos comprobatórios dos requisitos necessários. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Os requisitos da habilitação são os seguintes:
i. Decurso do prazo de 2 anos de cumprimento ou extinção da pena
(computado o período de prova do sursis e do livramento condicional);
ii. Domicílio no país no prazo de 2 anos Atenção (sobretudo para
aspirantes a defensores): Cezar Roberto Bitencourt entende que este
requisito traz uma limitação indevida e desnecessária ao direito à liberdade
(status libertatis) do indivíduo que já cumpriu sua pena.
iii. Apresentar bom comportamento público/privado;
iv. Ressarcimento do dano ou comprovada impossibilidade de fazê-lo ou
novação/renúncia da vítima.
Observações importantes:
Esses requisitos são cumulativos: faltando um deles, será negada a
reabilitação;
Se a reabilitação requerida foi negada, a qualquer tempo é possível requerê-
la novamente, desde que o pedido seja instruído com novos elementos
comprobatórios dos requisitos necessários.
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Prevalece, na doutrina e na jurisprudência, que o pedido de reabilitação deve
aguardar 2 anos do dia em que foi cumprida a última sanção penal,
no caso de o réu ter sido condenado por mais de um delito (não pode ser
feito isoladamente).
4.4 Revogação
A. Legitimados
A reabilitação segue o espírito da cláusula rebus sic stantibus, podendo ser
revogada. São legitimados para tanto:
O juiz, de ofício;
Requerimento do MP.
Muita atenção: a vítima ou seu representante legal, bem como o assistente de
acusação, não são legitimados para requerer a revogação da reabilitação.
B. Requisito (art. 95)
Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do
Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente,
por decisão definitiva, a pena que não seja de multa. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
A revogação da reabilitação depende de condenação definitiva a qualquer crime
em pena que não seja de multa, tendo sido o réu rotulado como reincidente.
Grave: multa não gera a revogação da reabilitação.
Pergunta-se: é possível reabilitação em medida de segurança? SIM.
A doutrina admite, principalmente no caso do semi-imputável, que é condenado.
4.5 Competência
É preciso não errar isso em provas de concurso: a competência para decidir sobre a
reabilitação é do juiz, mais especificamente, o juiz da condenação (e não da
execução, já que um dos requisitos do instituto é o decurso de 2 anos do
cumprimento ou extinção da pena). Cf. art. 743 do CPP:
Art. 743. A reabilitação será requerida ao juiz da condenação, após o
decurso de quatro ou oito anos, pelo menos, conforme se trate de
condenado ou reincidente, contados do dia em que houver terminado
a execução da pena principal ou da medida de segurança detentiva,
devendo o requerente indicar as comarcas em que haja residido
durante aquele tempo.
4.6 Recurso
Da decisão que nega reabilitação cabe recurso de apelação
Da decisão que concede reabilitação cabe apelação e também recurso de
ofício. Cf. art. 746 do CPP:
Art. 746. Da decisão que conceder a reabilitação haverá recurso de
ofício.
V. Crimes contra a vida
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1. Homicídio
1.1 Conceito
Diz NELSON HUNGRIA, em conceito que deve ser utilizado em provas: “homicídio é o
tipo central dos crimes contra a vida; ponto culminante na orografia dos
crimes; é o crime por excelência”.
1.2 Topografia no CP
Art. 121, caput Traz o homicídio doloso simples;
§1º Homicídio doloso privilegiado;
§2º Homicídio qualificado;
§3º Homicídio culposo;
§4º Majorantes;
§5 Perdão judicial.
Observações importantes:
Existe um projeto de lei que via a acrescentar o §6º ao 121, majorando a
pena do homicídio quando se tratar de prática de grupo de extermínio;
O homicídio preterdoloso está previsto no art. 129, §3º (lesão corporal
seguida de morte). Veja, pois, que nosso legislador não colocou o
homicídio perintencional entre os crimes contra a vida, encaixando-o
no capítulo das lesões corporais.
1.3 Homicídio simples (art. 121, caput)
A. Sujeito ativo
Cuida-se de crime comum, o que implica em dizer que qualquer pessoa poderá
praticá-lo, não se exigindo uma característica especial do agente.
Questão: dois irmãos, acima de 18 anos, vão juntos ao clube. Vendo
o outro se afogar, um deles permanece inerte, ainda que sabendo
nadar. Como responderá este indivíduo? Responderá por omissão de
socorro, vez que IRMÃO NÃO É GARANTIDOR.
Pergunta-se: como tratar o homicídio praticado por irmãos xifópagos
(siameses)?
Xifópagos são também denominados irmãos siameses, cuja situação já caiu em
prova do MP de Paraná. Imaginemos uma situação em que apenas um deles quer
praticar o crime, matando alguém, contrariando a vontade do outro. Neste caso,
dois interesses estão em jogo: o interesse de punir um dos irmãos e o status
libertatis/inocência do outro. As seguintes correntes tratam do tema:
1ª corrente (Euclides Custódio da Silveira) Nenhum dos dois deve ser
condenado, prevalecendo o status libertatis daquele que não quis praticar o delito.
2ª corrente (Flávio Monteiro de Barros) Para essa corrente, aquele que
praticou a conduta deve ser condenado, porém sua pena deve ser SUSPENSA até
que ocorra a prescrição ou que o outro irmão pratique um delito. No conflito entre o
direito de punir e o direito de liberdade, também prevalece o último (prevalece
também a intransmissibilidade da pena).
Imaginemos, agora, que os dois irmãos têm em comum órgãos vitais. Um indivíduo
que quer matar apenas um deles e atira, produzindo a morte dos dois, responderá
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por dois crimes de homicídio. Em concurso material, formal ou crime continuado?
Responderá por dois delitos de homicídio em concurso formal impróprio, já que
possuía desígnios autônomos
B. Sujeito passivo
É o ser vivo nascido de mulher. Para MAGALHÃES NORONHA, o Estado é tão vítima
quanto o homem que morreu, pois a conservação da vida humana é condição de
existência do próprio Estado.
Grave: se a vítima for Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF, o
crime será o do art. 29 da Lei dos Crimes Contra a Segurança Nacional (Lei
7170/83), desde que praticado com motivação política. Mas veja: a exigência de
motivação política está no art. 2º desta Lei.
C. Bem jurídico tutelado
O crime praticado consiste em tirar a vida de alguém. Evidentemente, no
homicídio tutela-se a vida (diferentemente do genocídio, v.g, que tutela a existência
de grupo nacional, étnico ou religioso STF, RE 351487). Sabe-se que a vida
subdivide-se em vida intra-uterina e extra-uterina, com tutela diversa:
Vida intra-uterina Vida extra-uterina
Aborto1 Homicídio
Infanticídio
A vida intra-uterina surge a partir da NIDAÇÃO, que consiste na fixação do óvulo no
útero, ocorrendo, em regra, 14 dias após a fecundação.
Em relação à vida extra-uterina, é importante fixar: até o início do parto, o crime
será o de aborto. Depois, homicídio ou infanticídio. A zona cinzenta entre a vida
intra e extra-uterina se caracteriza pelo início do parto.
Pergunta-se: quando se inicia o parto?
1ª corrente Completo e total desprendimento do feto das entranhas maternas;
2ª corrente Desde as dores do parto (início de expulsão);
3ª corrente Dilatação do colo do útero.
Não há corrente que prevaleça.
Registre-se que o homicídio protege a vida, ainda que ela não seja viável
(antecipar a morte é crime).
D. Tipicidade objetiva
O crime é de execução livre, podendo ser praticado por ação/omissão
direta/indireta, através de meios materiais/psicológicos.
E. Tipicidade subjetiva
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São três os delitos que protegem a vida intra-uterina: art. 124 (aborto provocado pela
gestante, ou por ela consentido), art. 125 (abordo provocado por terceiro, sem o
consentimento da gestante), art. 126 (abordo provocado por terceiro, com o consentimento
da gestante).
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O crime é cometido a título de dolo (direto ou eventual). O motivo do crime pode
privilegiar ou qualificar o delito, mas não descaracteriza o dolo.
Questão: uma moça grávida de 8 meses, querendo provocar o
aborto, expulsa o feto, que sobrevive, durante 2 meses – em UTI –, e
depois vem a óbito. Qual o crime praticado?
a) art. 125 (aborto sem consentimento da gestante)
b) art. 121 (homicídio)
c) art. 123 (infanticídio)
d) art. 121, §3º (homicídio culposo)
Resposta: sempre, no direito penal, é necessário perquirir o
elemento subjetivo. Neste caso, trata-se de crime de aborto, letra
A, eis que a intenção é a de extinguir a vida intra-uterina.
F. Consumação e tentativa
O crime se consuma com a morte. O conceito de morte é fornecido pelo art. 3º da
Lei 9.434/97. A morte se dá com a paralisação das atividades cerebrais (cessação
da atividade encefálica). Este diploma legal regula o transplante de órgãos,
exigindo, para a retirada post mortem de tecidos ou órgãos, o diagnóstico de morte
encefálica. Não se exige, portanto, cessação de circulação ou batimentos cardíacos.
Art. 3° A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo
humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida
de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois
médicos não participantes das equipes de remoção e transplante,
mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por
resolução do Conselho Federal de Medicina.
Obs.: prova-se a morte com o exame de corpo de delito que, em regra, é direto. Na
impossibilidade deste, é aceitável o exame indireto, constituído por
testemunhas.
Por óbvio, é plenamente cabível a tentativa, por ser tratar de crime
plurissubsistente.
G. Crime hediondo
Como já visto, o homicídio simples, em regra, não é delito hediondo, salvo se
praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um
só agente (homicídio condicionado).
1.4 Homicídio privilegiado (art. 121, §1º)
Tecnicamente, esta nomenclatura não é correta, eis que, nos crimes privilegiados, a
lei impõe um novo mínimo, enquanto que, nos delitos qualificados, a lei impõe um
novo máximo. Na verdade, o §1º traz uma causa de diminuição de pena, sua real
natureza jurídica.
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante
valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena
de um sexto a um terço.
Vejamos os motivos que dão ensejo a esta diminuição de pena:
A. Motivo de relevante valor social Nesta “privilegiadora”, o agente busca
satisfazer interesse de toda a coletividade. Exemplo: matar traficante.
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B. Motivo de relevante valor moral O agente busca satisfazer interesse
particular, porém um interesse ligado aos sentimentos de compaixão,
misericórdia ou piedade. Ex.: matar estuprador de filha; eutanásia. A própria
exposição de motivos do CP dá como exemplo a eutanásia.
Perceba: o privilégio só ocorre se o motivo for “relevante”. É comum, em
provas objetivas, suprimir essa palavra, levando o concorrente a erro.
C. Homicídio emocional: são seus requisitos cumulativos:
a. Domínio de violenta emoção “Domínio” não se confunde com
“influência”. O domínio cega (choque emocional), enquanto a
influência confunde, geando mera atenuante de pena.
b. Reação imediata (“logo em seguida a injusta provocação da vítima”)
Discute-se até quando uma reação é imediata. Diz a doutrina:
imediata é a reação sem intervalo; enquanto perdurar o domínio de
violenta emoção, qualquer reação é considerada imediata. A mora na
reação exclui a minorante, transformando-se em vingança.
c. Injusta provocação da vítima Veja: a injusta provocação da vítima
não significa necessariamente uma agressão (que pode ensejar
legítima defesa). Além disso, pode ser indireta, sendo dirigida contra
terceira pessoa ou animal. Ex.: pai que mata estuprador da filha.
Pergunta-se: o privilégio se comunica aos co-autores?
Para responder a esta pergunta, é preciso saber inicialmente se o privilégio é uma
elementar ou circunstância para, depois, saber se é subjetiva ou objetiva. Nos
termos do art. 30 do CP, somente as circunstâncias objetivas é que são
comunicáveis.
Elementares Dados agregados ao tipo, que alteram a tipicidade;
Circunstâncias Dados que, agregados ao tipo, alteram a pena;
o Objetivas: ligadas ao meio/modo de execução;
o Subjetivas: ligadas ao estado anímico/motivo do crime.
Com efeito, todas as privilegiadoras são circunstâncias subjetivas e, portanto,
incomunicáveis, nos termos do art. 30 do CP.
Pergunta-se: qual a natureza jurídica do privilégio: faculdade jurídica do
juiz ou direito subjetivo do réu?
Prevalece hoje que se trata de direito subjetivo do réu. A discricionariedade do
juiz só diz respeito ao quantum da execução.
1.5 Homicídio qualificado (art. 121, §2º)
A. Introdução
O homicídio qualificado é sempre hediondo, não importando a qualificadora (art.
1º, I da Lei 8.072/90). Veja que o §2º traz 3 qualificadoras subjetivas e 2 objetivas:
Objetivas Subjetivas
III - com emprego de veneno, fogo, I - mediante paga ou promessa de
explosivo, asfixia, tortura ou outro meio recompensa, ou por outro motivo torpe;
insidioso ou cruel, ou de que possa
II - por motivo futil;
resultar perigo comum;
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IV - à traição, de emboscada, ou V - para assegurar a execução, a
mediante dissimulação ou outro recurso ocultação, a impunidade ou vantagem
que dificulte ou torne impossível a de outro crime:
defesa do ofendido;
Muita atenção: o STJ decidiu recentemente que as qualificadoras são todas
compatíveis com o dolo eventual, mesmo as subjetivas. É a atual posição do STJ,
que certamente será cobrada em concursos.
B. Vejamos as qualificadoras:
i. Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe
Torpe é o motivo vil, ignóbil, repugnante e abjeto. Observe que o legislador utilizou
(não só neste inciso, mas também em outros), o recurso da interpretação analógica.
Ex.: aquele que mata em troca de recompensa (homicídio mercenário por mandato
remunerado).
O homicídio mercenário necessariamente tem número plural de agentes (delito
plurissubjetivo ou de concurso necessário), informação já cobrada em prova
oral de concursos.
Questão: todo homicídio é unissubjetivo?
Pergunta-se:
a) A qualificadora é só para quem matou ou também para o mandante?
1ª corrente Cuida-se de elementar subjetiva, comunicando-se ao
mandante (prevalece na jurisprudência – Cf. STJ/Informativo 375, que cita
precedentes do STF);
2ª corrente Trata-se de circunstância subjetiva, incomunicável ao mandante
(prevalece na doutrina moderna). Ex.: pai que contrata pistoleiro para matar
estuprador da filha.
b) Qual a natureza da paga?
Prevalece que a paga só pode ser econômica. Todavia, aquele que matou em troca
de favores sexuais, v.g., não deixa de praticar homicídio qualificado (motivo torpe).
c) Vingança e ciúme são motivos torpes?
A vingança ou o ciúme, por si só, não geram torpeza; o motivo de tais sentimentos
é que tem o condão de gerar. Em todo caso, deve-se perquirir o que motivou esse
ciúme ou vingança.
ii. Motivo fútil
Ocorre motivo fútil quando o móvel do crime apresenta real desproporção entre o
delito e sua causa moral (pequeneza do motivo). Ex.: matar por conta de discussão
no trânsito.
Pergunta-se: o homicídio praticado sem motivos qualifica?
1ª corrente (prevalece na jurisprudência) Segundo a maioria da doutrina, se
o motivo fútil qualifica, a ausência de motivos também deve qualificar.
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2ª corrente A ausência de motivos não está abrangida pelo inciso II (exige
motivo). ROGÉRIO GRECO e BITENCOURT entendem que a qualificação por ausência de
motivos consiste em uma analogia in malam partem.
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