O LIVRO DO LAR: A ECONOMIA DOMÉSTICA COMO PROPOSTA DE
EDUCAÇÃO PARA AS MULHERES BRASILEIRAS, EM MEADOS DO
SÉCULO XX
Camila Parente da Costa∗
Resumo: Este resumo expandido possui como principal objetivo perceber o vínculo
estabelecido entre a mulher e a Economia Doméstica, no Brasil, em meados do século
XX, a partir da revista O Livro do Lar, em meados do século XX, na sociedade
brasileira. As discussões atendem aos objetivos específicos: atentar para o entendimento
sobre a Economia Doméstica no Brasil de meados do século XX; analisar como a
revista O Livro do Lar constrói a relação entre a mulher a e Economia Doméstica. É
interessante ter em mente a necessidade de questionar as bases que fizeram com que a
Economia Doméstica fosse associada, preferencialmente, ao sexo feminino; e
problematizar o vínculo construído envolvendo a mulher e as atividades domésticas.
Palavras-chave: Economia Doméstica. Mulheres. Século XX.
Introdução
Conforme Amaral Júnior (2013) há duas abordagens principais acerca do
entendimento sobre Economia Doméstica. A primeira relaciona a mencionada área de
estudo à economia do lar. Segundo essa linha de pensamento, no Brasil, a introdução
dos conceitos de Economia Doméstica data do início do século XX, durante a
industrialização tardia do País, e é relacionada ao anseio de manter as bases da família
nuclear por intermédio da propagação, em bases científicas, de ensinamentos acerca de
como reger o cotidiano familiar e alcançar qualidade de vida. “Esta nova conformação
de vida social trouxe impactos importantes para a família, que teve que mandar
mulheres e crianças para a produção fabril.” (AMARAL, 2003, p. 277).
A segunda abordagem compreende a Economia Doméstica como espaço
para atuação profissional – o economista doméstico trabalharia em parceria com
médicos veterinários e agrônomos. Neste momento, vale ressaltar que durante o século
XX, a Economia Doméstica dos Estados Unidos exercia grande influência na Economia
Doméstica propagada no Brasil. Segundo o conceito de Economia Doméstica
estadunidense, “[havia] a necessidade da mulher se preparar “profissionalmente” para
∗
Mestranda no Mestrado Acadêmico em História da Universidade Estadual do Ceará. Bolsista do
Programa de Demanda Social/CAPES/UECE.
2
cuidar do lar. O conceito de vocação difundido pelos protestantes e a valorização moral
do trabalho fundamentavam a idéia da preservação da vida doméstica.”(AMARAL,
2000, p. 8). Salienta-se, contudo, que essas duas abordagens não diferem totalmente
entre si – a segunda é inspirada nos pensamentos defendidos pelos idealizadores da
primeira.
De acordo com Amaral (2000, p. 8), a mencionada influência ganhava
contornos consideráveis porque, “Após a segunda guerra mundial, os Estados Unidos
difundem esta ideologia através de acordos políticos de educação e fomento agrícola
com países da América Latina.”. Dessa forma, foram as áreas rurais do Brasil as
primeiras a receber, profissionalmente, a Economia Doméstica.
[No Brasil] o governo, através de uma política econômica centralizada,
procurava desenvolver as condições necessárias para a implantação do que
veio a se tornar “direitos sociais” tais como, saúde, habitação, previdência,
educação, transportes e empregos. (AMARAL, 2000, p. 32).
Não é objetivo1 desta pesquisa, entretanto, discorrer acerca da atuação dos
primeiros profissionais de Economia Doméstica no Brasil nas áreas rurais, e tampouco
explanar sobre as razões que proporcionaram o surgimento de tal relação. O intento aqui
é perceber o vínculo estabelecido entre a mulher e a Economia Doméstica, no Brasil, em
meados do século XX, e sua disseminação via revista O Livro do Lar.
Portanto, é interessante entender, que no mencionado período, “[...] a visão
da Economia Doméstica se identificava com a “funcionalidade do lar” e as relações
familiares eram marcadas pelo desempenho de papéis diferenciados, assimétricos e
complementares pelos membros da família.” (AMARAL, 2000, p. 10).
Havia a separação da esfera masculina e da esfera feminina. A economicista
doméstica era preparada para atender às famílias na execução de atividades
consideradas femininas, exercidas dentro do âmbito doméstico. Segundo Amaral
(2000), como as práticas de administração e organização das tarefas domésticas
familiares eram associadas ao sexo feminino, esse ponto auxilia o entendimento do
porquê ter sido estabelecida uma relação intrínseca entre a mulher e a Economia
1
Para saber mais a respeito da influência norte-americana na Economia Doméstica no Brasil,e as
mudanças que ocorreram no conceito de Economia Doméstica no Brasil ao longo das décadas de 50 a 90,
do século XX, ler AMARAL, Célia Chaves Gurgel do. Fundamentos da Economia Doméstica:
perspectiva da condição feminina e das relações de gênero. Fortaleza: EUFC, 2000.
3
Doméstica, na qual o estudo era realizado, majoritariamente, por mulheres. “Esse fato
foi suficiente para explicar todo tratamento sexualmente diferenciado nas instituições
onde as profissionais têm atuado, e na instituição escolar.” (AMARAL, 2000, p. 10).
No Brasil, de acordo com Amaral (2000), o primeiro Curso Superior de
Economia Doméstica foi criado na década de 1950, em Viçosa-MG; seu público-alvo
era, preferencialmente, o sexo feminino; e suas bases seguiam, conforme Amaral Junior
(2013, p. 278), os “moldes de uma estrutura familiar nuclear americana e pregando o
status quo de um “lugar feminino” na família e na sociedade”. Ao longo dos anos de
1960 e 1970, foram sendo criados2 outros cursos superiores de Economia Doméstica em
território brasileiro, como Rio de Janeiro, em 1963, São Paulo, em 1967 e Ceará, em
1972. Esses cursos superiores pertenciam tanto a universidades públicas estaduais e
federais quanto a instituições privadas.
Amaral Junior (2013) aponta que as disciplinas do Curso Superior de
Economia Doméstica englobavam temas como nutrição, vestuário, educação,
puericultura, educação, arte e recreação.
[...] [a] “cientificidade do doméstico” é ainda hoje relatada por professoras
que estudaram segundo os moldes da Escola Superior de Ciências
Domésticas e relatam, por exemplo, a tentativa de trazer as contribuições
tayloristas à atividades cotidianas, como o controle cronometrado do preparo
de um bolo. (AMARAL JÚNIOR, 2013, p. 278).
“A Economia Doméstica é uma atividade profissional voltada para o
cotidiano familiar no que diz respeito às necessidades de alimentação, habitação,
higiene e saúde, consumo e vestuário.” (AMARAL, 2000, p. 64). Todavia, é válido
salientar que nem todas as mulheres que estudavam Economia Doméstica se dedicavam,
necessariamente, ao desenvolvimento dessa atividade (em área rural ou urbana) em
termos profissionais. Havia mulheres que aplicavam os ensinamentos aprendidos em
âmbito doméstico.
2
Ressalta-se, entrementes, que “As circunstâncias que demandaram a criação de cursos superiores e até de
cursos de Economia Doméstica em nível médio e nas escolas agrotécnicas revelam o interesse dos
governos da época, nas décadas de 1950 e 1960, em desenvolver políticas de fomento rural e da educação
feminina para a estruturação e funcionalidade da família.” (AMARAL, 2000, p. 32). Para saber mais
acerca dos objetivos da criação dos Cursos Superiores de Economia Doméstica no Brasil lerAMARAL,
Célia Chaves Gurgel do. Fundamentos da Economia Doméstica: perspectiva da condição feminina e
das relações de gênero. Fortaleza: EUFC, 2000.
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Pode-se inferir, a partir da visualização da criação de cursos no ensino
superior de Economia Doméstica, o interesse do governo brasileiro da época, em
organizar uma educação feminina, tendo como objetivo a estruturação e funcionalidade
da família. Além da criação de cursos no ensino superior, o interesse em propagar os
ensinamentos da Economia Doméstica também pode ser percebido por meio da
visualização do quadro “VI – Difusão Bibliográfica”, presente na “Situação Cultural”,
letra “A) Livros editados no País, segundo os assuntos, por Unidade da Federação –
1963. 1. Títulos”, das Estatísticas do Século XX.
Nele, há a indicação de que foram contabilizadas a edição na categoria
referente à “Economia Doméstica etc.” de 13 livros em todo o Brasil, tendo sido
editados na Amazônia (1), Minas Gerais (1), Guanabara (3), São Paulo (7) e Rio Grande
do Sul (1). Desse número, a parte “2. Tiragem”, do quadro citado no parágrafo acima,
aponta que houve a tiragem de 126 040 exemplares ao todo, tendo suas saídas a partir
das regiões do Amazonas (500), Minas Gerais (200), Guanabara (17 000), São Paulo
(104 040) e Rio Grande do Sul (2 500). Em relação à concentração editorial no eixo Rio
de Janeiro-São Paulo:
A atividade editorial [além dos empreendimentos editorias mais lucrativos e
inovadores] também se concentrou no eixo Rio de Janeiro-São Paulo,
conforme demonstra a expressiva quantidade de livros publicados por
editores paulistas e cariocas, alcançando o elevado coeficiente de 81% dos
títulos em 1963, e chegando a 95% em termos de tiragem, num mercado
fortemente dependente de obras didáticas (28% do total de exemplares), de
manuais de auto-ajuda, de obras em medicina e áreas afins, de textos
literários, de obras religiosas e de proselitismo [...] (ESTATÍSCAS DO
SÉCULO XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2006, p. 330)
É válido ter em mente, entretanto, que os assuntos concernentes ao estudo
da Economia Doméstica poderiam ocorrer, porventura, em outras categorias de livros,
como o de Manuais Escolares (29 livros editados, com tiragem de 359 050 em todo o
país), Ensino e Educação (638 livros editados, com tiragem de 15 050 697 em todo o
país) e Ciências Médicas e Higiene Pública (171 livros editados, com tiragem de 10 840
051 em todo o país).
O Livro do Lar
“O Livro do Lar foi preparado pela equipe da Revista Cláudia e é uma
Edição da Editôra Abril” (O Livro do Lar, p.3), de 1965, a pedido de RINSO – uma
5
marca de sabão em pó – produzido pelas Indústrias Gessy Lever S.A. A Revista Cláudia
e a Editôra Abril foram escolhidas porque eram “altamente especializadas em assuntos
femininos”. (O Livro do Lar, p. 3). Os assuntos femininos encontrados nas páginas da
referida revista – que apresentava medidas de largura e comprimento reduzido se
comparada às dimensões de uma revista como a Claudia – englobam os temas:
administração do lar, conselhos psicológicos, cuidados com alimentação, filhos,
etiqueta, moda, beleza e decoração da casa.
Figura 1 – Capa do Livro do Lar
Fonte: O Livro do Lar, 1965.
6
Buitoni (1981) salienta que, a despeito da aparente neutralidade, “a relação
imprensa feminina/mulher implica questões mais abrangentes, como, por exemplo, o
papel social da mulher ou sua participação política”. (BUITONI, 1981, p. 1). Questionar
as formas como a mulher era apresentada por tal imprensa e perceber seus
desdobramentos faz-se necessário, a fim de buscar compreender quais eram os modelos
de mulher que estavam sendo estabelecidos, por que os referidos modelos precisavam
ser feitos, qual era o posicionamento adotado pela imprensa feminina e pela própria
mulher.
De acordo com Luca (2012), a imprensa qualificada como feminina, mesmo
que não fosse necessariamente produzida por mulheres, volta-se ao público feminino.
As matérias expostas nessa imprensa caracterizam-se por abordarem temas que não
precisavam ser da ordem do dia, e que poderiam ser usados novamente, como é o caso
de assuntos como moda, beleza, casa, culinária, cuidado com os filhos, conselhos de
comportamento (esses temas não perdem a atualidade); o que assinala ligações
temporais fracas (BUITONI, 1981) entre atualidade e imprensa feminina – “’Atual’ aqui
[na imprensa feminina] é apenas sinônimo de novo, mediador de novidades e não de
momento situado no tempo” (BUITONI, 1990, p. 13-14). A periodicidade da
publicação da imprensa feminina poderia ser semanal, quinzenal, mensal, por tempos
mais longos.
A imprensa feminina procurava despertar o interesse das leitoras por
intermédio, além das matérias, da disponibilização de um material leve, atraente,
diversificado, o qual priorizava o tom coloquial na linguagem estabelecida com o
público leitor – que sugeria a aproximação de uma amiga para aconselhar em todos os
momentos.
Além disso, ela auxiliava a divulgar o que era válido ou não no que diz
respeito às representações em torno das mulheres. O casamento, a maternidade e os
afazeres domésticos eram entendidos como a fonte da felicidade para o sexo feminino, e
elas eram representadas como criaturas frágeis, ingênuas.
Desse modo, as revistas mostram-se como fontes significativas para a
compreensão, entre outros pontos, de quais valores eram esperados para as mulheres da
sociedade da época, qual era o perfil de beleza divulgado etc.
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O Livro do Lar e a Economia Doméstica
Além das responsabilidades relacionadas ao cumprimento dos afazeres
domésticos, a dona de casa ideal também deveria estudar a fim de melhorar seu
rendimento nas atividades a serem realizadas no reduto do lar. O desenvolvimento
econômico do Brasil apresentava novas possibilidades de escolarização. No caso das
mulheres, as oportunidades se relacionavam com um aumento no nível de escolaridade
e de participação no mercado de trabalho.
Entretanto, isso não significava a defesa de uma educação igual para
homens e mulheres e menos ainda o fim da discriminação de gênero neste aspecto. A
crescente demanda por mão de obra nos serviços burocrático, financeiro e educacional,
nos setor público e privado, ajudou a incentivar a educação de níveis médio e superior.
Mas, apesar dos obstáculos sociais à instrução feminina (que crescem
conforme aumenta o nível de escolaridade), esta contribui para mudanças
significativas no status familiar e social das mulheres e, em última instância,
para questionamentos e transformações importantes nas relações homem
mulher. (BASSANEZI, 1996, p.225)
Bassanezi (1996) aponta que, com o acesso das mulheres aos saberes antes
entendidos como privilégio dos homens, passou-se a propagar a idéia de que o estudo
para as mulheres poderia contribuir para a sua “condição moral”. Entretanto, era
enfatizado que o sexo feminino continuasse ocupando o seu lugar – primordial,
essencial – de dona-de-casa, esposa e mãe. A mulher muito culta, muito instruída,
poderia oferecer perigo ao casamento, ao poder masculino, ao modelo estabelecido de
família. Assim, apesar das novas possibilidades educacionais para as mulheres, elas
deveriam continuar seguindo o modelo de mulher ideal, ser a esposa perfeita, ser
responsável pela harmonia do lar.
O estudo de Economia Doméstica era estimulado, por exemplo, por guias
direcionados, preferencialmente, às mulheres (abordando os cuidados que essas
deveriam ter com a casa, a família e o casamento), nos anos1960 e primeira metade dos
de 1970, já que
[...] a dona de casa deve[ria] ser tanto consumidora como administradora da
casa. Fica[ria] portanto com a responsabilidade de controlar o consumo, que
se torna uma actividade a organizar e planificar rigorosamente, incluindo
compras a prestações e projectos de longa duração. (PASSERINI, 1991, p.
387).
8
A boa dona de casa deveria ser econômica, criativa, planejar o orçamento
doméstico, proporcionar um bom lazer para os filhos e marido, não aborrecer o homem
e garantir para ele um espaço agradável e sereno. Essas observações estão nos guias e
revistas femininas que buscavam difundir para suas leitoras modos de agir, maneiras de
se comportar, jeitos de pensar, que estivessem em consonância com o proposto por eles.
N’O Livro do Lar é possível visualizar os princípios da Economia
Doméstica, no momento em que ele aborda questões relacionadas à administração do
ambiente doméstico, organização do orçamento doméstico, cuidado com a alimentação,
e outros temas (já citados), que também constituíam as disciplinas da referida área de
estudo. O mencionado livro afirma que, para administrar uma casa, a mulher precisaria
de(O Livro do Lar, p. 3)“espírito de organização”, “bom senso”, “ser enérgica sem ser
áspera”, “ser econômica sem ser avarenta”; e, o mais importante: não deveria esquecer
que o chefe da casa (o homem) é quem detinha poder, e, portanto, deveria ser respeitado
e era o responsável por ditar o modo de vida da família.
Também é tratada, n’O Livro do Lar, a organização do orçamento
doméstico para as despesas da casa. Afirma-se que é importante saber gastar o dinheiro,
e não querer ultrapassar o valor estabelecido para os gastos. Aconselha-se que o
dinheiro economizado, ao final de cada mês, seja depositado em um banco, para que se
faça uma reserva de dinheiro. Além disso, é indicada uma proporção para a organização
do salário do marido: a mulher não deveria gastar mais de 50% do salário do marido
com aluguel e alimentação, pois tinha que considerar também outras despesas, como
água, luz, gás, consultas médicas, medicamento, lazer, transporte, empregada
doméstica, roupa etc. Uma “dona de casa muito equilibrada” conseguiria gastar 30%
“nessas coisas” e economizar 20% (O LIVRO DO LAR, p. 6).
Com o passar do tempo a Economia Doméstica vai gerando saberes novos
tais como: a descoberta de que as relações de consumo da família são parte
de um todo inscrito na economia de mercado, ou que determinados nutrientes
atendem aos padrões alimentares básicos da família, que os hábitos
alimentares culturais devem ser considerados na elaboração de cardápio [...]
(AMARAL, 2000, p. 12)
Essas características da Economia Doméstica são perceptíveis tanto em
guias quanto em revistas da imprensa feminina, quando esses abordam o “passo a
passo” de atividades domésticas a serem realizadas de forma mais “eficiente”. A
preocupação com a inserção da mulher em moldes que condiziam com o anseio de
9
relacionar cada vez mais a mulher ao reduto do lar é percebida, mesmo que
indiretamente, n’O Livro do Lar na ocasião em que é informado em quais alimentos se
encontram grande quantidade de calorias, hidratos de carbono, proteínas, sais minerais,
vitaminas; além de ser ressaltada a importância de fazer um cardápio com as refeições
da semana, visando a organizar e distribuir melhor o tempo gasto com cada tarefa e
evitar saídas desnecessárias ao mercado para comprar os alimentos que porventura
viessem a faltar.
É ensinado como fazer um cardápio: a dona de casa deveria atentar para os
gostos de cada membro da família, a estação do ano, e procurar deixar a alimentação da
família bem balanceada, incluindo nela as proteínas, calorias, carboidratos, vitaminas,
sais minerais. Era fundamental também que a dona de casa procurasse ser criativa na
preparação das receitas gastronômicas, que procurasse oferecer variedades de pratos.
Nota-se, assim, o empenho empreendido em transmitir para as mulheres a
importância de uma educação voltada ao ambiente doméstico, à boa relação com o
marido e filhos(as). “Tanto o estudo quanto as profissões devem permitir que uma
mulher realize bem a sua tarefa profissional (menor) e doméstica (primordial).”
(PERROT, 2005, p. 251).
Conclusão
Salienta-se, entretanto, que essas características da Economia Doméstica –
associadas ao sexo feminino e estando em guias e revistas da imprensa feminina –, não
podem ser entendidas como próprias do sexo feminino. Como aponta Amaral (2000, p.
12), é válido ressaltar que “os ensinamentos do universo da casa, os saberes
concernentes à melhoria da qualidade de vida familiar não estão naturalmente
incorporados às mulheres.”.
“A Economia Doméstica é uma atividade profissional voltada para o
cotidiano familiar no que diz respeito às necessidades de alimentação, habitação,
higiene e saúde, consumo e vestuário.” (AMARAL, 2000, p. 64) Todavia, é válido
salientar que nem todas as mulheres que estudavam Economia Doméstica dedicavam-
se, necessariamente, ao desenvolvimento dessa atividade (em área rural ou urbana) em
termos profissionais. Havia mulheres que aplicavam os ensinamentos aprendidos em
âmbito doméstico.
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A despeito de, principalmente nos anos 1960 e começo dos de 1970, a
Economia Doméstica não ter explicitado (AMARAL, 2000, p. 38) grande preocupação
em realizar estudos mais aprofundamentos sobre a “Família, Mulher, Gênero, Consumo
e Desenvolvimento Sustentável”; é interessante pensar na necessidade de questionar as
bases que fizeram com que a Economia Doméstica fosse associada, preferencialmente,
ao sexo feminino; e problematizar o vínculo construído envolvendo a mulher e as
atividades domésticas.
Fontes
O Livro do Lar. São Paulo: Editôra Abril Ltda. 1964.
Referência Bibliográfica
AMARAL, Célia Chaves Gurgel do. Fundamentos da Economia Doméstica:
perspectiva da condição feminina e das relações de gênero. Fortaleza: EUFC, 2000.
BASSANEZI, Carla Beozzo. Virando as páginas, revendo as mulheres: revistas
femininas e relações homem-mulher, 1945-1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1996.
ESTATÍSCAS DO SÉCULO XX. Rio de Janeiro: IBGE, 2006.
JUNIOR, José Carlos do Amaral. Educação para mulheres: análise história dos
ensinamentos de Economia Doméstica no Brasil. Revista HISTEDBR On-line
(Campinas), nº 52, p. 275-285, set. 2013.
PASSERINI, Luisa. Mulheres, consumo e cultura de massas. In: DUBY, Georges;
PERROT, Michelle. História das Mulheres no Ocidente. Porto: Afrontamento, 1991.
5v.
PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Tradução Viviane
Ribeiro. Bauru, SP: EDUSC, 2005.