Fotojornalismo
As agências fotográficas e a valorização do fotojornalismo
autoral
Apresentação
Nesta aula, abordaremos o surgimento das agências fotográficas no século XIX e sua consolidação como ferramenta de
produção de Fotojornalismo a partir dos anos 1930.
Estudaremos a relação entre as agências fotográficas, o Fotojornalismo diário e o Fotojornalismo de autor, isto é, a criação
de imagens jornalísticas em que o fotógrafo imprime sua marca, seu estilo e seus pontos de vista. Entre as agências mais
relevantes, destaca-se a Agência Magnum, por seu caráter humanista, esteticamente diferenciado, e a preocupação em
valorizar os direitos do profissional.
Identificaremos também alguns fotógrafos marcantes que ajudaram a registrar fatos sociais, políticos e culturais ao longo
da história e conhecer algumas agências fotográficas brasileiras de reconhecida relevância.
Objetivos
Descrever o processo de surgimento das agências fotográficas;
Examinar a importância da Agência Magnum e de nomes de destaque do Fotojornalismo de autor;
Enumerar agências fotográficas brasileiras de destaque.
O surgimento das agências
fotográficas
A impossibilidade de os veículos de comunicação
impressos, notadamente jornais e revistas, deslocarem seus
próprios fotógrafos para cobrir todos os fatos pautados
diariamente, em todos os lugares em que eles acontecem,
gerou a necessidade do surgimento de agências
fotográficas.
As agências são iniciativas que agrupam um conjunto de
fotógrafos, geralmente independentes, para produzir
imagens fotojornalísticas que podem ser utilizadas pelos
diversos veículos de comunicação. A disseminação destas,
ao longo do século XX, fez com que praticamente todos os
fatos jornalisticamente relevantes pudessem ser
fotografados, pois sempre haveria uma agência próxima
que enviaria um profissional para a cobertura.
Fotografia de soldados na Guerra da Secessão atribuída a Matthew Brady (Fonte:
Daily Mail).
Historicamente, as primeiras − e algumas das mais
importantes ainda ativas − foram criadas por fotógrafos,
mas a partir da metade do século XX os próprios veículos
de comunicação passaram a operar também como
agências, criando um banco de imagens, a partir de pautas
diárias, disponível para utilização por outros veículos.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
O primeiro trabalho cujas características eram semelhantes às de uma agência fotográfica foi a cobertura da Guerra da
Secessão (1861-1865), feita por Matthew Brady e uma equipe de colaboradores, como Alexander Gardner, Timothy O’Sullivan e
George N. Barnard.
Liderada por Brady, fotógrafo oficial do candidato Abraham Lincoln, a equipe constituiu uma associação que produzia as
imagens e as disponibilizava para a imprensa.
Saiba mais
A colaboração entre os fotógrafos se encerrou quando a equipe começou a se incomodar pelo fato de Brady assinar como suas
todas as fotos produzidas, inclusive as dos demais colegas. A atitude fez surgir o debate sobre os direitos de autor, que iria se
intensificar no século XX.
A demanda por agências fotográficas
A consolidação do Fotojornalismo diário, especialmente a partir dos anos 1920 e 1930, gerou na imprensa a necessidade de ter
acesso constante a fotografias, o que impulsionou fotógrafos do mundo inteiro a produzirem imagens para suprir a demanda
dos veículos. Dessa forma, surgiram diversas agências fotográficas. A primeira delas com esse propósito foi a Dephot, criada
por Erich Salomon, em 1930.
Vale ressaltar que algumas agências fotográficas criadas a partir de
então eram parte de agências noticiosas já existentes, empresas que
passaram a incluir o serviço de distribuição de fotografias junto ao
serviço regular de notícias.
Para Sousa (1998), essa medida contribuiu para aumentar o fluxo de imagens em nível global, gerando transnacionalização e
transculturação da imagem jornalística – a foto se pasteuriza e passa a ser produzida da mesma forma em agências e veículos
de imprensa de localidades e contextos diferentes.
A Associated Press, fundada em 1846, inaugurou sua
agência fotográfica em 1935. Também em 1935 foi fundada
a Black Star, porém somente como agência fotográfica.
A Associated Press distribuía suas fotografias por telefoto,
um mecanismo de transmissão de fotos via linha telefônica.
A agência lançou esse serviço na cobertura do acidente
aéreo nas montanhas de Adirondack, em Nova Iorque, em
1º de janeiro de 1935. As telefotos, no entanto, reduziam a
qualidade das imagens, que precisavam ser retocadas para
a publicação.
Fotografias do acidente aéreo em Adirondack (1935) distribuídas por telefoto (Fonte:
Wordpress).
Disputa entre agências
A Agência Reuters, criada em 1851, passou a incluir os serviços de agência
fotográfica em 1946. A partir dos anos 1950, acirra-se a concorrência entre
as agências, principalmente Reuters, Associated Press e United Press
International (criada como agência noticiosa em 1907), na busca pelas
melhores fotos, por mais clientes, mais publicações e maior velocidade de
disseminação das imagens.
Segundo Sousa (1998), os temas mais solicitados eram crimes, conflitos, desastres, acidentes, atos das figuras públicas,
cerimônia e esportes.
A candid photography criada por Erich Salomon (fotografias não posadas, que mostram a naturalidade da cena) passou a ser
padrão nos serviços das agências fotográficas e no próprio Fotojornalismo.
Uma hipótese apontada por Sousa (1998) é que a baixa velocidade de transmissão das telefotos tornava difícil o envio de mais
de uma imagem por assunto, então as produzidas mais rapidamente eram prioritárias.
Os clientes das agências, inclusive, em vez de várias imagens de má qualidade que demorariam mais tempo para chegar,
preferiam uma única foto nítida por assunto.
A importância da Agência Magnum
A Agência Magnum foi criada em 1947, especificamente como agência fotográfica, a partir dos trabalhos dos fotógrafos
Robert Capa, David Seymour (que assinava Chim), Henri Cartier-Bresson e George Rodger.
Enquanto a maioria das agências produzia fotografias diárias de caráter informativo, seguindo a rotina das redações e a
velocidade que se impunha ao jornalismo objetivo, a Magnum tinha características diferenciadas, com imagens mais reflexivas,
elaboradas com senso estético apurado.
Atenção
Após a Segunda Guerra Mundial, as agências fotográficas tiveram seu trabalho ainda mais consolidado. Em primeiro lugar, devido
à rotinização da presença da imagem nas páginas dos jornais diários. Depois, justamente por conta dessa banalização, pelo
desenvolvimento de um Fotojornalismo mais autoral, como forma de expressão do fotógrafo.
Sousa (1998) considera que essas duas linhas de evolução, aparentemente contraditórias, coexistem no jornalismo
contemporâneo desde então. A cobertura diária, dos hard news, passou a conviver com trabalhos menos apressados,
visualmente diferenciados e impressos com o estilo do autor, como as fotorreportagens aprofundadas e os ensaios
fotográficos.
A linha de evolução do Fotojornalismo objetivo das agências fotográficas (o da rotina do dia a dia, da cobertura de notícias e
pautas factuais) pode ser caracterizada pelos seguintes fatores:
Necessidade da imagem como comprovação do fato, na cobertura das pautas diárias do cotidiano;
Convencionalização do padrão visual jornalístico, na adoção de matérias com título, subtítulos, textos, fotos e legendas;
Visão do Jornalismo como parte da indústria cultural, com sua necessidade de apresentar atrativos visuais para chamar
mais atenção e vender mais;
Massificação da produção fotográfica, pela maior quantidade de profissionais independentes e de agências fotográficas
disponíveis;
Evolução das técnicas de impressão, que facilitou a publicação de mais fotos e com mais qualidade;
A liberdade de atuação das agências noticiosas e fotográficas, que sofreram cerceamentos durante as duas Grandes
Guerras Mundiais.
Mudanças importantes no Fotojornalismo
Sousa (1998) assevera que a emergência das agências fotográficas na linha do jornalismo objetivo contribuiu para uma
despersonalização estilística, à medida que fotógrafos de diversos lugares produziam imagens com características
semelhantes.
Já a linha evolutiva do Fotojornalismo criativo encontrou sua maior expressão na Agência Magnum. Havia não somente a
crítica ao padrão imposto pela rotinização do trabalho fotojornalístico – a foto objetiva e sem ir além da escolha do objeto, do
lugar e do acontecimento.
A Guerra Fria também impôs interferências ideológicas na postura dos fotógrafos. Susan Sontag (1986) afirma que as
fotografias da Guerra da Coreia que humanizavam o rosto do inimigo não eram publicadas pelos jornais norte-americanos.
Alguns fotógrafos passaram a mostrar descontentamento pelo descompasso que havia entre suas fotos e o que viam
publicado nos jornais e revistas.
Saiba mais
Eugene Smith deixou a revista Life em 1955 alegando que a publicação alterava o sentido de suas imagens na edição dos títulos e
legendas. Cartier-Bresson escrevia as legendas das próprias fotos e carimbava nos versos do papel fotográfico revelado um texto
de proibição à alteração da redação dessas legendas.
Pioneirismo
Nesse sentido, os fotógrafos Robert Capa, David Seymour, Henri Cartier-Bresson e George Rodger fundaram a Agência
Magnum, no intuito de ultrapassar as rotinas e as convenções do Fotojornalismo diário e de desenvolver maior sentido de
proteção aos direitos dos profissionais da fotografia enquanto autores.
A iniciativa ia de encontro ao padrão geral. Como agência, a Magnum era minoria no estilo que fez surgir. Por isso, Ana
Nascimento (2016) afirma que a agência se tornou pioneira em foto documental no mundo.
Fotografia de Robert Capa para a Agência Magnum dos refugiados de Israel, em
1950 (Fonte: Magnum Photos).
A Agência Magnum lutava por quatro princípios básicos:
Os fotógrafos O direito do A propriedade As fotos
deveriam ter fotógrafo de ter dos negativos publicadas
mais tempo controle sobre a tinha que ser do deveriam ter o
para trabalhar edição de seu fotógrafo, não crédito do
nos projetos trabalho; do contratante; fotógrafo.
fotográficos;
Mas não foi somente na questão dos direitos que a Agência
Magnum se diferenciou das demais.
Seus fotógrafos colaboradores praticavam um jornalismo
independente, apostando na liberdade criativa e na
expressão mais profunda das fotografias.
De certa forma, a Magnum estimulou não apenas o
Fotojornalismo autoral, e sim a própria elevação do
Fotojornalismo ao nível da arte.
Imagem de David Seymour pela Agência Magnum (Grécia, 1951). (Fonte: Magnum
Photos).
Sousa (1998) afirma que A Magnum é, talvez, a mais mítica das
agências fotográficas, pela qualidade fotográfica, pela fotografia de
autor, pela integridade moral e humanista dos seus fotógrafos e
fotografias e pelo espírito que roça a anarquia.
Rotina de produção
A rotina de produção da Agência Magnum seguia as orientações dos próprios fotógrafos cooperados. Segundo Ana
Nascimento (2016), eles decidiam quem iria cobrir determinada pauta, como seria feita a cobertura e que valores cobrar dos
contratantes.
Havia também um sentido de antecipação. Em vez de esperar as solicitações de revistas e jornais, a agência cobria os fatos
por conta própria e vendia o material para os periódicos.
Saiba mais
Esse sistema abriu caminho para que outros fotógrafos tomassem a mesma iniciativa, aumentando o poder dos profissionais na
imposição de pautas no jornalismo diário.
Conquistas da Magnum
A luta da Agência Magnum não foi em vão. Em 1948, a
Convenção de Berna-Bruxelas, no seu artigo 6, reconheceu
formalmente os direitos autorais dos fotógrafos, ao
estabelecer que a imagem fotográfica não pode ser alterada
sem o consentimento do autor. A fotografia como objeto de
direitos de autor passou a ser praxe nas legislações sobre o
tema ao redor do mundo.
Da mesma forma, a partir da Magnum, os negativos
deixaram de pertencer a revistas e jornais que
encomendavam as fotos. Foi possível, então, o surgimento
dos bancos de imagem de fotos ilustrativas, com direitos de
propriedade controlados, mas usos livres, como o site
Pexels.
Foto de Jerôme Sessini, para a Agência Magnum, da cidade de Alepo (Síria)
destruída, em 2013 (Fonte: Magnum Photos).
A Magnum está em atividade até os dias atuais e sempre
contou com nomes históricos da fotografia em seu quadro
de cooperados, além dos quatro fundadores. Podemos citar,
como exemplos: Eugene Smith, Werner Bischof, Ernst Haas,
Gisele Freund, Bruce Davidson e o brasileiro Sebastião
Salgado.
Fotojornalismo de autor
Clique no botão acima.
Fotojornalismo de autor
A denominação Fotojornalismo de autor passou a ser empregada no jornalismo no início do século XX, para designar a
produção fotojornalística que se diferenciava do caráter meramente ilustrativo das imagens (desenhos, ilustrações)
para incluir fotografias cujos autores poderiam ser identificados. Segundo Ana Nascimento (2016), a valorização da
imagem nos jornais e revistas fez surgir a profissão de fotógrafo de imprensa.
A autoria de uma fotografia iria se igualar às autorias em outras atividades humanas, como obras literárias e musicais,
no sentido de ser coberta por diferentes legislações de proteção aos direitos de autor, em várias partes do mundo.
No caso do Fotojornalismo diário, porém, o reconhecimento da obrigatoriedade de citação do crédito do autor na
publicação foi conquistado aos poucos. Da postura de Matthew Brady (1823-1896) em assinar como suas as
fotografias dos demais integrantes de sua associação, no século XIX, até o surgimento da Agência Magnum, que lutou
para que o direito autoral do fotógrafo fosse plenamente respeitado, percorreu-se um longo caminho.
O sentido mais comum da expressão Fotojornalismo de autor, no entanto, é aplicado aos fotógrafos que produzem
imagens que suplantam a ideia da propriedade. A intenção desses profissionais é impor um caráter de fato autoral, ou
seja, imprimir as marcas de sua subjetividade no trabalho e fazer com que sejam identificados seus pontos de vista
em sua obra.
Nesse sentido, o Fotojornalismo de autor se destaca em relação ao Fotojornalismo diário, pois prima por uma
velocidade menor de produção, mais apurada e voltada para a documentação crítica da realidade, enquanto o
Fotojornalismo diário privilegia as coberturas das pautas factuais e do noticiário regular.
Preocupação crítica no Fotojornalismo
Os primeiros fotógrafos com preocupação crítica aparecem no final do século XIX e início do século XX, através dos
trabalhos do jornalista Jacob Riis (1849-1914) e do sociólogo Lewis Hine (1874-1940).
Riis publicou em 1890 o ensaio fotográfico Como vive a outra metade, denunciando a miséria dos trabalhadores e as
condições rudimentares de vida de várias áreas urbanas dos Estados Unidos, por conta dos impactos da Revolução
Industrial.
Por sua vez, Hine implantou a fotografia como instrumento pedagógico na escola e acreditava no poder na imagem
fotográfica não somente como ferramenta de denúncia, mas como fonte de estudo dos problemas socioeconômicos,
entre os quais o trabalho infantil.
Para Erivam Oliveira e Ari Vicentini (2010), os trabalhos de Riis e Hine podem ser considerados instrumentos de
transformação do real. Esses autores foram os primeiros expoentes da fotografia documental. Além deles, destacam-
se nesses primórdios Eugene Atget e August Sander.
Abaixo, fotografia de Jacob Riis no trabalho Como vive a outra metade, de 1890:
Como vive a outra metade, Jacob Riis, 1890. (Fonte: My Modern Met).
Importante
Sousa (1998) localiza nos anos 1920 o reconhecimento da fotografia jornalística de caráter autoral, na imprensa, que
se intensifica na cobertura da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A partir
desses episódios, assim como em guerras seguintes (como a da Coreia e a do Vietnã), os fotógrafos se dividiam entre
a cobertura “imparcial” do dia a dia e a impressão de uma visão individual em suas obras fotográficas.
O projeto Farm Security Administration foi um marco na história da fotografia documental, na década de 1930, ao
mostrar as consequências, na agricultura, da crise na Bolsa de Valores em 1929. Entre os fotógrafos do projeto,
destacaram-se Dorothea Lange e Walker Evans.
Nomes importantes do Fotojornalismo
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
O surgimento da Agência Magnum, foi o impulso para que o Fotojornalismo autoral ganhasse fôlego. O espírito libertário da
obra dos colaboradores da Agência fez com que alguns fotógrafos adquirissem status de estrelas, como Henri Cartier-Bresson
e Eugene Smith.
Examinaremos a seguir alguns dos mais destacados fotógrafos do século XX:
Philippe Halsman (1906-1979)
Norte-americano. Destacou-se pelos grandes retratos que
fez de personalidades como Winston Churchill, Albert
Einstein, John Kennedy e Marilyn Monroe.
Marilyn Monroe no ensaio Jumpology, de Phillipe Halsman, em 1959. (Fonte:
Pinterest).
George Rodger (1908-1995)
Inglês. Destacou-se por fotos de guerra, onde buscava
situações mais humanizadas. Depois de afirmar ter ficado
“insensível à morte”, dedicou-se a estudos fotográficos na
África Ocidental.
Foto de George Rodger de um garoto na estrada em Bergen Belsen (Alemanha),
durante a Segunda Guerra Mundial, em 1945. (Fonte: Miep von Sydow).
Henri Cartier-Bresson (1908-2004)
Francês. Considerava que o fotógrafo tinha que esperar o
“instante decisivo” para disparar.
Apostava na força da fotografia única, aliando arte e
informação na mesma imagem. Abandonou o ofício em
1974, para se dedicar ao desenho, sua paixão anterior.
Foto de Cartier-Bresson. (Fonte: Pinterest).
David Seymour (Chim) (1911-1956)
Polonês. Representante da fotografia humanista, destacou-
se nas fotografias de crianças. Morreu na cobertura dos
conflitos pelo controle do Canal de Suez, no Egito.
Foto de Chim durante a Segunda Guerra Mundial. (iPhoto Channel).
Robert Capa (1913-1954)
Húngaro. Começou aos 17 anos na Agência Dephot, de
Erich Salomon. Destacou-se no período pré-Segunda Guerra
Mundial. Tinha como máximas “estar no local certo no
momento certo” e “se sua fotografia não ficou boa, é porque
não estava perto o suficiente”.
Fez parte de uma geração de fotógrafos, como Felix Man e
Salomon, que tiveram que fugir da Alemanha nazista.
Morreu ao pisar em uma mina na Indochina Francesa (atual
Vietnã).
Robert Capa estava a poucos metros de distância dos
soldados americanos em combate no histórico Dia D da
Segunda Guerra Mundial, na Normandia (França), em 1944.
Quando esta foto, causou espanto na corporação, que se
perguntou “o que um fotógrafo faz aqui entre nós?”.
Soldado em combate em Normandia (França), 1944. Foto de Cartier-Bresson. (Fonte:
Time 100 Photos).
Werner Bischof (1916-1954)
Suíço. Cobriu de forma humanista o rastro de destruição da
Segunda Guerra. Sua fotografia conseguia tornar o horrível
suportável, por conta de sua sensibilidade. Morreu durante
uma cobertura nos Andes, no Peru.
Foto de Bischof de uma vítima japonesa da Segunda Guerra, tirada em Tóquio, em
1951. (Fonte: Arts Mia).
David Douglas Duncan (1916-2018)
Norte-americano. Produziu fotografias humanistas de
guerra, enfatizando a dura rotina dos soldados. Destemido,
fotografava missões aéreas e avanços das tropas.
Soldado norte-americano na Guerra do Vietnã, em 1967, por David Douglas Duncan.
(Fonte: Catawiki).
Eugene Smith (1918-1978)
Norte-americano. Cobriu a Segunda Guerra Mundial, onde
foi ferido. Precursor do ensaio fotográfico, investiu em uma
fotografia moral, tratando os fotografados com dignidade,
por sua formação católica. Foi um dos grandes nomes da
revista Life nos anos 1950. Tal qual um antropólogo, tinha o
hábito da imersão no cotidiano dos fotografados, para
melhor conhecê-los.
Imagem pertencente ao ensaio fotográfico Enfermeira parteira, de Eugene Smith,
publicada pela revista Life, em 1951. (Fonte: Life).
Cornell Capa (1918-2008)
Norte-americano. Irmão de Robert Capa, criou o
International Center of Photography, importante organização
de estudos e premiação na área da fotografia. Suas pautas
principais eram a política e as causas sociais.
Mãos do então candidato John Kennedy em campanha na Califórnia, em 1960, por
Cornell Capa. (Fonte: The New York Times).
Robert Frank (1924-2019)
Suíço. Especializou-se em fotografias de viagem,
autobiográficas e de mundivivências.
Sua obra Les Americains, de 1958, renunciou à objetividade
do olhar, ao destacar instantes singulares dos norte-
americanos, na visão de um europeu.
A obra revolucionou a reportagem e é considerada
precursora do Novo Jornalismo dos anos 1960.
Les Americains, Robert Frank, 1958. (Fonte: Invaluable).
Elliott Erwitt (1928)
Francês. Mostrou a semelhança entre os comportamentos
do homem e dos animais, de forma leve, doce e, por vezes,
divertida.
Foto de Elliott Erwitt, de 1990. (Fonte: Delaware art museum).
William Klein (1928)
Norte-americano. Apostou nas fotografias esteticamente
diferenciadas nos planos, uso de lentes grandes-angulares e
outros recursos de composição pouco usuais à época.
Trabalhou na Vogue como fotógrafo de moda e publicidade.
Fotografia de Willian Klein tirada em Roma, em 1960. (Fonte: Pinterest).
Bruce Davidson (1933)
Norte-americano. Investe no Fotojornalismo social, ao lado
dos desprotegidos, em projetos de longa duração.
Fotografia de Bruce Davidson sobre a luta dos negros pelos direitos civis nos
Estados Unidos, em 1965. (Fonte: Picbabun).
Tony Ray-Jones (1941-1972)
Inglês. Desenvolveu fotografias irônicas, ao estilo do humor
inglês. Seus fotografados pareciam teatrais e excêntricos.
Carnaval de Eastboune, no Reino Unido, em 1967, por Tony Ray-Jones. (Fonte:
Flashbak).
Sebastião Salgado (1944)
Brasileiro. Um dos principais fotodocumentalistas da
atualidade. Investe no olhar para a vida humana, com suas
culturas e ideologias. Recusa a estética do horror; suas
fotos são esteticamente ricas e sensíveis.
Mulheres ianomâmis fotografadas por Sebastião Salgado. (Fonte: Nosso jornal).
Marcas de subjetividade
O Fotojornalismo de autor, ao imprimir marcas estéticas subjetivas e criar diálogos de questionamento sobre a realidade,
insinua-se como fotografia artística. O fotógrafo privilegia a função expressiva da linguagem em detrimento da função
referencial, embora seja impossível perder a função informativa.
As imagens suplantam as páginas dos periódicos para ingressar em museus e casas de arte, como peças de exposição. Ana
Nascimento (2016) enumera alguns elementos que podem conferir ao Fotojornalismo o status de obra de arte:
O fotógrafo deve se O Fotojornalismo
A fotografia deve ser utilizar da linguagem pode ser
original, única e ter fotográfica para aproveitado para
valores estéticos arrow_right expressar arrow_right fins artísticos,
intrínsecos; conhecimento e inclusive em
sentimento; ambientes virtuais.
Profissionalização da fotografia no Brasil
As agências fotográficas foram criadas, como vimos, para atender a demanda por imagens por parte dos veículos de
comunicação. Além disso, contribuíram para dar mais autonomia aos fotojornalistas, que puderam se organizar de forma
independente e ter mais controle sobre seu trabalho.
Nas agências fotográficas, a produção pode ser realizada tanto para a
cobertura de fatos diários como para grandes projetos fotográficos,
com tempo mais esparso e maior profundidade no olhar sobre a
realidade.
1960 1970
Foi na década de 1960 que o Nos anos 1970, a expansão das
trabalho de fotógrafo no Brasil revistas semanais, como Veja e
esboçou um processo de IstoÉ, seguindo o rastro de
profissionalização, a partir do publicações bem-sucedidas das
surgimento de cursos de fotografia décadas anteriores, como O
em faculdades de comunicação, Cruzeiro, Manchete, Realidade e
arquitetura e artes, conforme Revista do Globo, aumentou a
afirma Nadja Peregrino (1991). demanda por fotografias na
imprensa.
Dessa forma, houve duas consequências:
1 2
A primeira foi a contratação de fotógrafos por parte das A segunda foi a necessidade de contratar serviços de
próprias editoras para integrar os quadros de funcionários das fotógrafos freelancers, principalmente em localidades fora do
revistas; eixo Rio-São Paulo, sede da maioria das publicações.
Agências fotográficas brasileiras de destaque
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Nesse contexto, são criadas as primeiras agências fotojornalísticas brasileiras. Paralelamente ao trabalho fotográfico dos
profissionais vinculados às editoras, agências como Ágil, Focontexto, F4, Fotograma, Imagem Terra, Angular e N Imagens
abastecem a imprensa de informação diária e de produção fotodocumental.
Vale ressaltar que as agências se estabelecem como alternativa de mercado para os fotógrafos. Ao longo dos anos 1970 e
1980, a criação de agências fomentaria a produção de livros fotográficos e uma maior divulgação de trabalhos em exposições.
Ana Nascimento (2016) estabelece ainda uma relação entre o surgimento das agências de fotojornalismo no Brasil e a
liberdade de atuação do fotógrafo. No período militar (1964-1985), com boa parte da imprensa sufocada pela censura, a
informação diferenciada e baseada nos movimentos populares muitas vezes só poderia ser obtida pelas agências
independentes.
No Brasil, deve-se enfatizar que, diferentemente de outros países, em que
as maiores agências de notícias não pertencem a conglomerados de mídia
(por exemplo, France Press, Reuters e Associated Press), os principais
veículos de comunicação criaram suas próprias agências noticiosas, que
também abastecem com fotografias demais órgãos de imprensa,
especialmente os dos menores centros. Nesse sentido, destacam-se as
agências Estado, O Globo e Folha.
Foto das manifestações de 2013, em Brasília, tirada por André Coelho, da Agência O Globo:
Foto das manifestações de 2013, em Brasília, tirada por André Coelho. (Fonte: O
Globo).
Entre as principais agências fotográficas especializadas em
Fotojornalismo, no Brasil, podemos citar:
Agência F4
Criada em São Paulo, em 1970. Inspirada nos ideais da
Agência Magnum, prezava pela liberdade de criação, a
defesa dos direitos patrimoniais do autor e a produção de
pautas independentes. Entre os profissionais que fizeram
parte da F4, destacam-se Juca Martins, Nair Benedicto,
Ricardo Malta, Ricardo Azoury, Cynthia Brito, Delfin Martins,
entre outros.
(Fonte: Itaú Cultural).
Ágil Fotojornalismo
Criada em Brasília, no início da década de 1980. Produziu
Fotojornalismo ativo, valorizando o jornalismo investigativo
e a liberdade de imprensa na luta pela redemocratização do
país. Além dos fundadores Milton Guran e Kim-Ir-Ser, nomes
como André Dusek, Beth Cruz, Rolnan Pimenta e Salomon
Cytrynowicz fizeram parte da Ágil.
O presidente José Sarney entre os ministros militares, em
1988. Foto de André Dusek:
O presidente José Sarney entre os ministros militares, em 1988. Foto de André
Dusek. (Fonte: O Estadão).
Agência Tyba
Criada no Rio de Janeiro, em 1991. Reconhecida pela
intensa atividade fotodocumental. Transformou-se em um
dos principais bancos de imagens nacionais. Seus
fundadores foram Claus Meyer, Ricardo Azoury e Rogério
Reis.
Foto de incêndio na Floresta Amazônica, por J. L. Bulcão,
pela Agência Tyba:
Foto de incêndio na Floresta Amazônica, por J. L. Bulcão. (Fonte: Images Visions).
Agência AGIF
Criada no Rio de Janeiro. Especializada em fotografias de
Esportes.
Foto da Agência AGIF, pelo fotógrafo Thiago Ribeiro.
Foto de Thiago Ribeiro da agência AGIF. (Fonte: UOL).
Brazil Photo Press
Fundada em 2007. Especializada em pautas do cotidiano,
nas áreas de política, economia, cultura, moda, cotidiano e
esportes.
Explosão de agência bancária em São Paulo, em 2015. Foto
de Amauri Nehn, pela Agência Brazil Photo Press:
Explosão de agência bancária em São Paulo, em 2015. Foto de Amauri Nehn. (Fonte:
Brazil Photo Press)
Atividade
1. Na cobertura da Guerra da Secessão, Matthew Brady criou uma associação de fotógrafos. No entanto, seus colaboradores
ficaram insatisfeitos. Aponte o motivo:
a) Brady não deixava os colegas se aproximarem das áreas de conflito.
b) Brady assinava todas as fotos como se fossem suas.
c) Brady não remunerava os demais fotógrafos.
d) Brady cobrava aluguel das câmeras dos demais colegas.
e) Brady utilizava os melhores equipamentos.
2. Entre as causas pelas quais lutava a Agência Magnum, no momento de sua criação, está:
a) O direito de o fotógrafo ter a propriedade dos negativos.
b) A necessidade de a agência ter as câmeras mais modernas.
c) A proibição de fotografias não jornalísticas em jornais.
d) A criação de uma legislação sobre ética na fotografia.
e) O fim dos direitos autorais, em nome da democratização da fotografia.
3. Defendia os mesmos princípios de independência e liberdade da Agência Magnum, tornando-se assim uma das principais
agências fotográficas brasileiras criadas na década de 1970:
a) Dephot.
b) Black Star.
c) AGIF.
d) Folha.
e) F4.
Notas
Título modal 1
Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográfica e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente
uma simulação de texto da indústria tipográfica e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da
indústria tipográfica e de impressos.
Título modal 1
Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográfica e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente
uma simulação de texto da indústria tipográfica e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da
indústria tipográfica e de impressos.
Referências
NASCIMENTO, A. C. Fotojornalismo. Rio de Janeiro: Seses, 2016.
OLIVEIRA, E. M.; VICENTINI, A. Fotojornalismo: Uma viagem entre o analógico e o digital. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
PEREGRINO, N. A revolução da fotorreportagem. Rio de Janeiro: Dazibao, 1991.
SONTAG, S. Ensaios sobre fotografia. Lisboa: Quetzal, 1986.
SOUSA, J. P. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Porto: Argos, 1998.
Próxima aula
O Fotojornalismo no contexto do jornalismo especializado;
As particularidades do uso da fotografia no jornalismo de esportes, cultura e cotidiano;
As particularidades do uso da fotografia no jornalismo de polícia, economia e política.
Explore mais
Visite o portal de imagens da Agência Magnum. Disponível em: Magnum Photos. Acesso em: 15 Jan. 2020;
Veja as composições fotográficas de Cartier-Bresson (em inglês). Disponível em: Mit Photo. Acesso em: 15 Jan. 2020.