DESENHO
AULA 01 – CONCEITO E
ELEMENTOS FORMAIS DAS
ARTES VISUAIS
Olá!
Nesta aula, nos aprofundaremos nos elementos formais das artes visuais,
abordando uma variedade de temas que enriquecerão nossa compreensão
dessa forma de expressão. Exploraremos a linguagem visual básica,
compreendendo como elementos como linha, forma, cor, textura e espaço se
combinam para criar uma comunicação visual poderosa e significativa.
Além disso, discutiremos a importância da composição na arte,
entendendo como a organização desses elementos pode criar equilíbrio,
harmonia e impacto visual em uma obra de arte. O estudo de teorias científicas,
como a teoria psicológica da Gestalt, nos ajudará a compreender como nosso
cérebro percebe e organiza informações visuais em padrões significativos.
Bons estudos!
1 RECURSOS DA LINGUAGEM VISUAL
Segundo Dondis (1991), durante o processo de alfabetização, aprendemos as
letras como elementos básicos de um código e adquirimos a habilidade de formar
palavras, associando-as a um significado. À medida que progredimos, combinamos
essas palavras em textos coerentes e com propósitos definidos. Também
compreendemos que os textos podem variar em tipos e apresentar uma linguagem
mais formal ou informal, permitindo-nos dominar a linguagem verbal.
Do mesmo modo, é possível analisar a linguagem visual como um conjunto de
elementos distintos. Esses elementos visuais diversos podem ser empregados na
criação e compreensão de mensagens com várias finalidades, desde a funcionalidade
mais simples até a expressão artística mais sofisticada. Com base nessa ideia, surgiu
o conceito de alfabetismo visual, que é um processo de aprendizado para capacitar a
criação e a compreensão eficazes de mensagens visuais. A capacidade de ver é inata,
e o entendimento do que vemos também ocorre em certa medida. Assim, podemos
identificar uma sintaxe visual que estabelece diretrizes e elementos fundamentais para
criar mensagens visuais claras.
Conforme Dondis (1991) afirma, toda criação é composta por unidades
individuais que se unem. Ao pensarmos em uma parede, podemos identificar os
tijolos; da mesma forma, ao considerarmos um texto, podemos identificar as diferentes
letras que formam palavras, que por sua vez formam frases, e assim por diante. O
mesmo princípio se aplica às criações visuais. Os elementos visuais constituem a
essência fundamental do que percebemos, e sua quantidade é restrita: ponto, linha,
forma, direção, tom, cor, textura, dimensão, escala e movimento. Esses elementos
constituem a essência das manifestações visuais, como fotografias, pinturas, capas
de livros e identidades visuais.
Devido à psicologia da gestalt, temos a tendência de reconhecer o todo em vez
das partes interativas, no entanto, é fácil perceber que qualquer alteração em uma
unidade do sistema resultará em uma alteração no todo. Um exemplo simples,
ilustrado na Figura 1, ajuda a entender esse conceito. Uma simples mudança na cor
de um dos tijolos faz com que ele se destaque na parede e modifica nossa percepção
do todo.
Podemos compreender esse processo se considerarmos as teorias
desenvolvidas pela Psicologia da Gestalt. Trata-se, de uma abordagem, de origem
alemã, desenvolvida no final do século XIX e início do século XX, mas ainda muito
contemporânea e fortemente estudada, que enfatiza a experiência perceptual e a
forma como os seres humanos organizam e interpretam as informações sensoriais ao
seu redor.
Na obra "Criatividade e Processos de Criação" de Fayga Ostrower (1977/2014)
e no artigo "Gestalt-Terapia: Refazendo um Caminho" de José Pinto Ribeiro (1985),
encontramos referências que destacam a relevância da psicologia da Gestalt para a
compreensão dos processos criativos e da percepção estética. A percepção gestáltica
permite compreender como os elementos se relacionam e interagem no espaço visual,
proporcionando uma base sólida para a criação de composições harmônicas e
expressivas.
Um dos princípios fundamentais da Gestalt é a tendência de perceber o todo
em vez das partes. Isso significa que nossa mente tem uma predisposição natural
para organizar os estímulos em padrões significativos e coerentes, buscando a
totalidade da percepção antes de analisar as partes individuais. Um exemplo simples
ilustrado na Figura 1, ajuda a entender esse princípio. Uma simples mudança na cor
de um dos tijolos faz com que ele se destaque na parede e modifica nossa percepção
do todo.
Figura 1 - Alteração em uma unidade do sistema
Fonte: Adaptado de Dondis (1991).
A visão é um dos cinco sentidos primordiais, sendo os olhos os instrumentos
responsáveis por esse precioso sentido em animais vertebrados. Ela representa um
dos órgãos sensoriais fundamentais, permitindo-nos contemplar o mundo ao nosso
redor com nitidez e clareza. Baseado nesse sentido e sob a ótica da teoria da Gestalt
abordaremos a experiência visual.
Com base nos princípios da Psicologia da Gestalt, abordaremos agora os
aspectos básicos e formadores da experiência visual. A teoria gestáltica destaca que
nossa mente organiza a informação visual de maneira a percebermos a totalidade
antes de identificarmos as partes individuais de uma cena. Essa abordagem oferece
uma compreensão fundamental sobre como percebemos e interpretamos o mundo ao
nosso redor, influenciando a forma como apreciamos a arte e o design.
1.1 Ponto, linha, plano: alicerces do design
Conforme mencionado por Dondis (1991), o ponto representa a unidade mais
elementar e indivisível da comunicação visual, apesar de possuir um forte poder de
atração visual. Quando combinados e sobrepostos, os pontos têm a capacidade de
criar a ilusão de tons ou cores. É com base nesse princípio que os processos de
impressão se fundamentam, como ilustrado na Figura 2. O tom verde-azulado, que
pode ser observado no detalhe à esquerda, é formado no processo de impressão em
quadricromia por pontos justapostos ou sobrepostos nas cores ciano, magenta,
amarelo e preto.
Figura 2 - Pontos sobrepostos
Fonte: Adaptado de Dondis (1991).
A observação desse fenômeno serviu de inspiração para os pintores
pontilhistas, como Georges Seurat, um influente artista francês do final do século XIX.
Seurat foi um dos principais expoentes do movimento pontilhista, que se destacou por
utilizar pequenos pontos coloridos em suas pinturas para criar a ilusão de cores e
formas. Essa técnica permitiu aos artistas explorarem novas possibilidades na
representação visual e produzir obras com uma sensação de luminosidade e
vivacidade singulares. No estilo de pintura pontilhista, o ponto é considerado o traço
mínimo realizado com pincel; já nas imagens bitmap, o pixel desempenha o papel de
ponto básico para formar as imagens. Essa ideia pode ser visualizada na Figura 3:
Figura 3 - Obra pontilhista “Le chahut”, de Georges Seurat, 1889
Fonte: https://abre.ai/gmfx
Nesse contexto, ou seja, da consideração do ponto como elemento estruturante
da experiência visual, Wassily Kandinsky (2008, p. 186) expressou a relação entre o
ponto e a linha ao afirmar: "Uma linha é o rastro deixado pelo movimento do ponto...
Ela surge por meio do movimento — mais especificamente, pela ruptura do estado de
repouso intenso e concentrado do ponto". O registro da trajetória do ponto que se
transforma em linha pode assumir várias formas: imprecisas, como em um esboço,
perfeitamente retas, delicadas e onduladas, entre outras, formando o espaço em que
no mundo visual encontramos formas e direções, experiência e sentido.
1.2 Planos com limites: formas e direções visuais
Conforme explicado por Dondis (2007), o plano representa uma superfície que
se estende em altura e largura. É definido por meio de linhas que, quando se
encontram, formam uma determinada figura.
Através dos planos, encontramos as formas básicas que compreendem o
quadrado, o círculo e o triângulo. Embora sejam consideradas simples, cada uma
dessas formas possui a capacidade de transmitir conteúdo expressivo e emocional.
Tomemos como exemplo, o quadrado que está ligado ao tédio, à honestidade e à
dedicação; o triângulo, à ação, ao conflito e à tensão; e o círculo, à ideia de infinitude
e proteção. Na Figura 4, podemos observar como Wassily Kandinsky explorou o
potencial expressivo das formas geométricas.
Figura 4 - “Un centro”, de Wassily Kandinsky, 1924
Fonte: https://abre.ai/gl1e
De acordo com Dondis (1991), também é importante considerar as formas
orgânicas, que são irregulares, complexas e altamente distintas, geralmente
associadas pelo nosso cérebro ao que encontramos na natureza. Embora a geometria
esteja presente na natureza, sua presença é sutil e, por isso, nem sempre a
identificamos facilmente na percepção de uma totalidade irregular. Transmitir uma
mensagem "orgânica" implica, portanto, em reforçar esses aspectos irregulares de
uma forma, mesmo que haja uma geometria subjacente que possa de fato existir.
Além disso, devemos considerar as formas das letras, uma vez que a tipografia
faz parte da maioria das peças de design gráfico. As palavras comunicam para além
do seu significado verbal. Em sua forma visual, cada letra, palavra ou frase pode
transmitir simultaneamente uma mensagem verbal e mensagens simbólicas através
de sua forma, estrutura e associações culturais e psicológicas que podem evocar em
cada indivíduo receptor da mensagem.
O conteúdo expressivo das formas básicas está relacionado com as direções
visuais que cada uma delas manifesta: o quadrado, com suas linhas horizontais e
verticais; o triângulo, com sua diagonal; o círculo, com suas curvas. A referência
horizontal-vertical é fundamental para o ser humano em termos de equilíbrio e
estabilidade. Já a diagonal desestabiliza, transmitindo uma sensação de energia e
instabilidade. Por sua vez, as forças direcionais curvas estão associadas a
significados de abrangência, repetição e calorosidade.
1.3 Atividade de superfície: luz, tom, cor e textura
Em sua análise da experiência visual, Dondis (1991) propõem o seguinte:
Imagine as formas que acabamos de mencionar. Provavelmente você irá visualizar
mentalmente seus contornos. No entanto, podemos distinguir a maior parte do que
vemos pela intensidade de obscuridade ou claridade. Somos capazes de ver graças
à ação da luz no ambiente. Conseguimos perceber o quanto uma informação visual é
complexa por meio das variações de luz ou de tom.
Desconsiderando a cor, por enquanto, as gradações tonais (diversos tons de
cinza) expressam graficamente essas variações de luz. Essas gradações possibilitam
que, em uma representação bidimensional, sejamos capazes de indicar outra
dimensão, criando a ilusão de profundidade e volume, como você pode perceber na
Figura 5.
Figura 5 - Formas bidimensionais
Fonte: Fonte: Adaptado de Dondis (2007).
Segundo Lupton e Phillips (2008), quando a cor entra em cena, passamos a ter
contato com o estímulo visual talvez mais poderoso de todos. Sem materialidade, a
cor é uma sensação provocada pela ação da luz sobre nossos olhos. Para que haja
cor, deve haver, portanto, a luz, que funciona como estímulo, e o olho, que decifra o
fluxo luminoso.
Além desses dois fatores variáveis, nossa percepção de uma cor também é
afetada em função de outras cores próximas a ela. Por exemplo, um objeto claro
parece ainda mais claro sobre um fundo escuro. Como elemento de comunicação, a
cor está impregnada de significados. Além das sensações e associações psicológicas
que podem despertar, também devem ser consideradas as convenções culturais de
cada sociedade. Por exemplo, para as culturas ocidentais, o branco está associado à
pureza, mas, para as culturas orientais, está associado à morte.
Figura 6 - Textura e padrão
Fonte: Adaptado de Dondis (1991).
1.4 Dentro do espaço: escala, dimensão e movimento
Segundo Dondis (1991), a escala, ou seja, a noção de tamanho de uma forma
em uma representação visual, só é percebida em comparação a outras formas no
mesmo espaço de representação: “o grande não pode existir sem o pequeno”.
Considerando a estruturação de uma mensagem visual, é essencial aprender a indicar
o tamanho de acordo com o objetivo e o significado pretendido.
Além das pistas visuais possíveis para determinar o que é grande e o que é
pequeno na comparação entre objetos, a escala também pode ser determinada pelas
relações entre um objeto e o espaço que ele ocupa na representação. Essa estratégia
simples, mas poderosa, foi utilizada na elaboração do famoso anúncio publicitário do
lançamento do Fusca nos Estados Unidos, em 1959 (Figura 7).
Figura 7 - Anúncio publicitário de lançamento do Fusca
Fonte: Adaptado de Dondis (1991).
O veículo era menor do que os carros com que os americanos estavam
acostumados, mas justamente esse fator, que seria um aspecto negativo do produto,
foi o diferencial que a agência DDB encontrou para explorar com criatividade. O mote
é Think small (pense pequeno), e a ênfase visual para a mensagem foi deixar quase
todo o espaço vazio, com a imagem do carro ocupando uma pequena porção do
anúncio. Nesse caso, a escala foi utilizada para destacar as dimensões pequenas do
carro. A representação visual acontece em um plano bidimensional, mas alguns
recursos estão à disposição do designer para organizar as formas em um espaço
dimensional ilusório, onde se transmita a sensação de profundidade.
O principal artifício criado para simular a profundidade é a convenção técnica
da perspectiva. Com esse princípio, se estabelece a linha do horizonte e um ou mais
pontos de fuga, referências no horizonte para as quais convergem linhas traçadas a
partir do objeto no primeiro plano. Veja um exemplo na Figura 8.
Figura 8 - Perspectiva
Fonte: Adaptado de Dondis (1991).
1.5 Composição visual
De acordo com Dondis (1991), para arranjar os elementos visuais em uma
superfície, papel ou tela, o designer dispõe de alguns princípios. Embora não existam
regras rígidas, a linguagem visual supõe uma sintaxe, alguns fundamentos que
decorrem essencialmente da compreensão da percepção humana.
O universo da comunicação visual é complexo, repleto de elementos que são
unidades de informação. Para lidar com essa complexidade, nossa mente tem a
tendência de agrupar esses elementos. Nesse princípio se fundamenta a psicologia
da percepção visual, chamada gestalt. Ela explica que nosso cérebro se orienta por
algumas leis de organização perceptual, como unidade, segregação, unificação,
fechamento, continuidade, proximidade, semelhança e pregnância da forma (GOMES
FILHO, 2008).
Esses princípios coincidem com as preocupações e práticas do design em
relação à configuração de produtos gráficos que contemplem ordenação, equilíbrio,
clareza e harmonia visual, fatores desejáveis para a comunicação visual efetiva.
Muitas marcas famosas utilizam os princípios da gestalt de maneira evidente e se
beneficiam com ele para transmitirem seu conceito. Observe o exemplo na Figura 10.
Figura 10 - Gestalt em símbolos de marcas
Fonte: Adaptado de Dondis (2007).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DONDIS, D.A. A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto. Sistema de leitura visual da forma. São
Paulo: Escrituras, 2009.
LUPTON, Ellen; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos fundamentos do Design. São
Paulo: Cosac Naify, 2008.
OSTROWER, F. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis: Vozes, /2014.
RIBEIRO, J. P. Gestalt-Terapia: Refazendo um Caminho. São Paulo: Summus
Editorial, 1985.