Comunicação e Poder
Introdução
A comunicação e o poder são dois conceitos fundamentais para a compreensão das dinâmicas
sociais contemporâneas. Ambos se apresentam como forças estruturantes da vida em
sociedade, estabelecendo relações profundas entre a capacidade de transmitir mensagens e a
capacidade de influenciar comportamentos, crenças e valores. Com o advento dos media e
das novas tecnologias de comunicação, esta relação tornou-se ainda mais complexa,
envolvendo fenómenos de manipulação simbólica, construção de realidades sociais e reforço
de formas subtis de domínio. Este trabalho visa analisar, de forma crítica, a forma como a
comunicação intervém na constituição, manutenção e transformação do poder.
Objectivo Geral
Analisar a articulação entre comunicação e poder, à luz das principais perspectivas teóricas
contemporâneas.
Objectivos Específicos
Compreender o papel dos media na formação da realidade social.
Reflectir sobre a linguagem como instrumento de dominação e resistência.
Estudar o conceito de mundo da vida e sua relação com a comunicação.
Discutir o fenómeno da reificação e da fabricação de consensos.
Desenvolvimento
1. A Relação entre Comunicação e Poder
Historicamente, a comunicação sempre esteve ligada à capacidade de exercer poder. A
transmissão de mensagens era essencial para alargar a esfera de influência dos soberanos e
para organizar as sociedades em torno de ideologias e valores comuns. Com a modernidade, a
pluralidade dos sentidos e a ambivalência da linguagem tornaram mais complexo o processo
de produção de consensos. O poder passou a depender não apenas da coerção, mas da
capacidade de legitimar-se através da comunicação.
2. Comunicação, Linguagem e Mediação Cultural
Octávio Paz alertou para a ruptura da linguagem unívoca na modernidade, substituída por um
sistema simbólico fragmentado, hoje dominado pela publicidade e pelos media. A
comunicação deixa de ser apenas transmissão de conteúdos e passa a ser mediação cultural,
influenciando a maneira como o mundo é percebido e compreendido.
3. Fenomenologia Social: Mundo da Vida e Reificação
Alfred Schutz introduziu conceitos fundamentais como "atitude natural",
"intersubjectividade" e "zonas de relevância". O "mundo da vida" refere-se à realidade
quotidiana que aceitamos como evidente. A comunicação é essencial para a construção dessa
realidade social. A reificação ocorre quando se cristalizam certas representações, tornando-as
aparentes e incontestáveis.
4. A Tipificação e o Jornalismo
Os jornalistas actuam como agentes da "atitude natural", recorrendo a rotinas e a tipificações
que garantem a inteligibilidade das mensagens. Contudo, essa prática também acarreta riscos:
a estereotipia e o conformismo social. A necessidade de sintonizar com os valores do senso
comum pode levar à reprodução acrítica das estruturas de poder vigentes.
5. Comunicação como Estratégia de Dominação e
Resistência
Inspirando-se em Melville e Canetti, a linguagem é vista como um agenciamento de palavras
de ordem, instrumentos de comando social. Ao mesmo tempo, pensadores como Adorno,
Benjamin e Agamben apontam para a possibilidade de uma linguagem redentora, capaz de
resistir à reificação e à dominação.
6. Informação, Democracia e Participação
Apesar das críticas de Rousseau à corrupção provocada pela divulgação das artes e das
ciências, autores como Toqueville e Serra reconhecem que os media podem favorecer a
transparência e a participação democrática. A circulação de informação, se bem orientada,
pode reforçar a cidadania activa.
7. A Revolução Tecnológica e o Poder
Mark Poster, com inspiração em Foucault, alerta para o perigo das bases de dados enquanto
dispositivos de vigilância e de acumulação de informações sobre os indivíduos. Os novos
media, ao mesmo tempo que abrem espaços de expressão, também criam novas formas de
poder difuso e de controlo social.
Conclusão
A comunicação não é apenas um instrumento de transmissão neutra de informação. Ela é um
campo de disputa simbólica onde se constroem, reproduzem e contestam relações de poder.
Na sociedade contemporânea, os media desempenham um papel crucial na formação de
opiniões, na construção do consenso e também na possibilidade de resistência e emancipação.
A consciência crítica sobre estes processos é essencial para a consolidação da democracia.
Referências
Correia, João Carlos (org.) et al. Comunicação e Poder. Universidade da Beira
Interior, 2002.
Schutz, Alfred. Fenomenologia e Relações Sociais.
Berger, Peter & Luckmann, Thomas. A Construção Social da Realidade.
Paz, Octávio. Pequena Crônica de Grandes Dias.
Heller, Agnes. Una Filosofia de la Historia en Fragmentos.
Poster, Mark. The Mode of Information.
Foucault, Michel. Vigiar e Punir.