AO JUÍZO DA 1ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE PORTO
SEGURO/BA
Brutus, brasileiro, solteiro, carteira de identidade número xxx, residente e
domiciliado na cidade de Porto Seguro/BA, vem por meio deste, por seu advogado
que esta subscreve, em conforme instrumento de mandato em anexo, com fulcro no
artigo 406 do CPP, apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO, pelas razões de fatos e
fundamentos a seguir expostas:
1. DOS FATOS
Na audiência de custódia, realizada dentro do prazo legal, o acusado
mencionou que os policiais militares entraram em sua residência sem o seu
consentimento, tendo ainda espancado e asfixiado ele, de forma a confessar o
crime, o que fora comprovado pelo exame de corpo de delito. Não obstante, o
membro do Ministério Público, tendo visto que Brutus tinha uma extensa ficha
criminal, bem como pelos crimes que foram flagrados no momento de sua prisão em
flagrante, requereu a conversão em prisão preventiva, uma vez que o acusado teria
praticado crime hediondo, consistente no delito do art. 121, §2º, II (motivo fútil) e VIII
(emprego de arma de fogo de uso restrito), do Código Penal, por duas vezes (duas
vítimas), combinado com o crime do art. 16, caput (porte ilegal de arma de fogo de
uso restrito), da Lei nº 10.826/03, por duas vezes (fuzil e pistola 9 mm), e art. 33,
caput (tráfico de drogas), da Lei nº 11.343/06, todos em concurso material de
crimes, na forma do art. 69 do Código Penal, destacando que não era possível a
concessão de liberdade provisória com fiança, pois a Lei nº 8.072/90, art. 2º, II, veda
tal benefício legal.
Ademais, o Promotor de Justiça não acreditou que os policiais teriam
espancado e asfixiado o acusado, bem como que os crimes praticados foram
comprovados pela entrada em sua residência, sendo dispensável o consentimento
do morador nessas situações de permanência do delito. A Defesa requereu o
relaxamento da prisão ilegal, tendo em vista que a prisão foi ilícita e ilegal, eis que
os policiais militares praticaram crime de tortura e violaram o domicílio do acusado,
apontando, ainda, que os requisitos da prisão preventiva não estavam presentes.
Todavia, o Magistrado com atuação na audiência de custódia entendeu
por bem decretar a prisão preventiva com base nos seguintes fundamentos:
“Decido que o crime de tortura não foi claramente comprovado,
devendo ser investigado em via própria; a invasão de domicílio feita
pelos policiais é justificável, pois estava ali sendo praticado um crime
hediondo, constituindo a ausência de consentimento mera
irregularidade. Por isso, decreto a prisão preventiva com base na
garantia da ordem pública, bem como pela hediondez dos delitos”.
Além disso, observa-se que até o presente momento, não foi feito exame
de corpo de delito no corpo da vítima, pois ela fora sepultada sem essa análise
pericial, o que impediu aferir, tecnicamente, a causa da sua morte, mas a Polícia e o
Ministério Público entenderam que isso era dispensável, pois era óbvio que foi por
meio de disparo de arma de fogo.
Dessa forma, o réu foi preso preventivamente na cidade de Porto
Seguro/BA, mais precisamente por ordem da 1ª Vara do Tribunal do Júri da
Comarca de Porto Seguro/BA. A defesa impetrou pedido de revogação de prisão
preventiva, mas ele foi negado pelo Magistrado, tendo os autos retornado ao
Ministério Público para oferecimento de denúncia.
Na sequência, o Ministério Público ofertou a peça acusatória, na forma
seguinte:
“Trata-se de denúncia criminal ofertada em razão de o acusado ter
praticado os delitos previstos no art. 121, §2º, II (motivo fútil) e VIII
(emprego de arma de fogo de uso restrito), do Código Penal, por
duas vezes (duas vítimas), combinado com o crime do art. 16, caput
(porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), da Lei nº 10.826/03,
por duas vezes (fuzil e pistola 9 mm), e art. 33, caput (tráfico de
drogas), da Lei nº 11.343/06, todos em concurso material de crimes,
na forma do art. 69 do Código Penal. A materialidade dos delitos de
porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas pode ser aferida ao
longo do processo, sendo dispensável o exame de corpo de delito
nesse momento processual. Quanto ao crime de homicídio,
entende-se que ele ocorrera por meio de disparo de arma de fogo,
não sendo necessária a sua comprovação pericial. Por fim, quanto
ao concurso material de crime previsto no art. 69 do CP, ele deve ser
aplicado, pois o princípio da consunção não possui aplicação no
presente caso, pois os bens jurídicos tutelados são diversos, pelo
que pede o Ministério Público a sua condenação em todos os crimes
narrados”
Por fim, o Magistrado, antes de decidir sobre o processamento ou não do
fato, deu vista à defesa, razão que se passa a expor pelos seguintes fundamentos.
2 - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
2.1 - DO CABIMENTO DA PEÇA DEFENSIVA - Art. 406 CPP
O presente incidente processual é possível com fundamentos no art. 406
do Código de Processo Penal, veja-se:
“Art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a
citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo
de 10 (dez) dias”.
2.2 - DA INEXISTÊNCIA DE LAUDO PERICIAL. AUSÊNCIA DE PROVA DA
MATERIALIDADE QUANTO AO CRIME DE TRÁFICO DE DOGAS E PORTE
ILEGAL DE ARMAS Arts. 158 CPP/ 395 CPP/ 163 CPP/ 50 §§ 1º e 2º LEI
11.343/06.
É válido mencionar que, ainda não se tem o laudo pericial materializando
a natureza e quantidade da droga supostamente encontrada, nem tampouco fora
realizado exame de corpo de delito nas vítimas, sendo sepultadas essa análise
pericial, o que impediu aferir, tecnicamente, a causa da sua morte uma vez que
mera alegação de acusação sozinha não pode ser levada ao extremo, ou seja, não
é suficiente para acarretar na prisão preventiva do acusado, senão vejamos:
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia
judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente,
remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao
órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.
§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e
estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de
constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito
oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.
§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste
artigo não ficará impedido de participar da elaboração do laudo
definitivo.
§ 3º Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo
de 10 (dez) dias, certificará a regularidade formal do laudo de
constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas,
guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo.
(Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de
polícia competente no prazo de 15 (quinze) dias na presença do
Ministério Público e da autoridade sanitária. (Incluído pela Lei nº
12.961, de 2014)
§ 5º O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição
das drogas referida no § 3º, sendo lavrado auto circunstanciado pelo
delegado de polícia, certificando-se neste a destruição total delas.
(Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014).
Resta comprovado que a necessidade do laudo pericial é fundamental,
de forma a comprovar a materialidade do crime, notadamente naqueles em que se
apuram a prisão do réu.
Diante disso, é importante destacar que não há provas concretas nos
autos que condenem o acusado, uma vez que até o presente momento não foi
emitido o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por
perito oficial , e muito menos o exame cadavérico para identificar a causa da morte
das vítimas, não sendo possível a realização da prisão preventiva do acusado,
tendo em vista não haver qualquer materialidade acerca dos eventuais crimes
cometidos.
2.3 - DA PROVA ILÍCITA – Art. 157 CPP/ 1º LEI 9.455/97
Diante do que foi apresentado, é importante ainda destacar a legalidade
das provas obtidas, visto que desobedecem preceitos fundamentais constantes da
Constituição Federal de 1988, vejamos:
“Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em
violação a normas constitucionais ou legais.”
Conforme relato, a Polícia Militar valeu-se de sua autoridade para
adentrar em sua residência e ao se deparar com a cena, sem investigação prévia,
asfixiou o requerente com sacola plástica, a fim de obter a confissão dos homicídios,
além disso o mesmo foi espancado e torturado até não suportar o suplício e
confessar unicamente por pura pressão policial. De início é importante observar que
fora praticado um crime de tortura (Lei nº 9.455/97) a fim de obter informação acerca
dos fatos, conduta tipificada como crime hediondo de acordo com a legislação
brasileira, veja-se:
“Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental: com o fim de obter
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa; para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; em
razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico
ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
caráter preventivo.”
Observa-se ainda que no caso em questão a Polícia Militar adentrou à
residência do acusado de forma totalmente inconstitucional violando Direito
Fundamental, fundado em meras alegações ou suposições que estaria ocorrendo,
quando a isso a CRFB aduz:
"Art. 5º (...)
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial; "
Assim, diante dos fatos apresentados, espera-se o acolhimento da
presente defesa.
2.4 - DO CONCURSO MATERIAL DE CRIMES – Arts. 69 CP/ 73 CP/ 70 CP
É de suma importância analisar que encontra-se eivado de nulidades as
alegações do Ministério público vejamos:
“Trata-se de denúncia criminal ofertada em razão de o acusado ter
praticado os delitos previstos no art. 121, §2º, II (motivo fútil) e VIII
(emprego de arma de fogo de uso restrito), do Código Penal, por
duas vezes (duas vítimas), combinado com o crime do art. 16, caput
(porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), da Lei nº 10.826/03,
por duas vezes (fuzil e pistola 9 mm), e art. 33, caput (tráfico de
drogas), da Lei nº 11.343/06, todos em concurso material de crimes,
na forma do art. 69 do Código Penal. A materialidade dos delitos de
porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas pode ser aferida ao
longo do processo, sendo dispensável o exame de corpo de delito
nesse momento processual. Quanto ao crime de homicídio,
entende-se que ele ocorrera por meio de disparo de arma de fogo,
não sendo necessária a sua comprovação pericial. Por fim, quanto
ao concurso material de crime previsto no art. 69 do CP, ele deve ser
aplicado, pois o princípio da consunção não possui aplicação no
presente caso, pois os bens jurídicos tutelados são diversos, pelo
que pede o Ministério Público a sua condenação em todos os crimes
narrados”
Ocorre excelência, que o Código penal é claro quando destaca que uma
vez que o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de
reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela, em obediência ao instituto da
concussão, veja o que dispõe o Código Penal:
“Artigo 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de
execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia
ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado
o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do CP, art.
20 deste Código”.
“Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais
grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade”.
Assim, uma vez que analisando o não enquadramento de concuso
material, o crime de homicídio qualificado deve absorver o crime de porte ilegal de
arma de uso restrito, haja vista que o segundo fora utilizado como um meio para que
crime “fim” fosse alcançado, assim devendo o acusado responder apenas por um
único crime de homicídio com a pena exasperada.
3 - PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
1. Rejeição da denúncia, em razão da falta de justa causa (ausência de
prova da materialidade), seja em virtude da inexistência dos laudos
periciais que serviriam para atestar a materialidade dos delitos
imputados, seja em razão da ilicitude das provas.
2. Caso entenda pelo regular prosseguimento do feito, requer que se
proceda o regular enquadramento dos delitos imputados, sem concuso
material, devendo o crime de homicídio qualificado absorver o crime de
porte ilegal de arma de uso restrito, bem como responder apenas por
um único crime de homicídio com a pena exasperada.
3. Por fim, requer a produção de todas as provas admitidas em direito,
em especial a oitiva das testemunhas arroladas abaixo:
Testemunhas:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Pede deferimento,
Porto Seguro/BA, 15 de abril de 2024
Advogado
OAB/BA Nº