FACULDADE REGIONAL DE RIACHÃO DO JACUÍPE
CAMILLA VELOSO DE MORAIS PAIXÃO
RELATÓRIO PARCIAL DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE PLANTÃO
PSICOLÓGICO
RIACHÃO DO JACUÍPE-BA
2024
CAMILLA VELOSO DE MORAIS PAIXÃO
RELATÓRIO PARCIAL DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE PLANTÃO
PSICOLÓGICO
Relatório de Estágio Supervisionado de Plantão
Psicológico, realizado no Colégio João Campos em
Riachão do Jacuípe, apresentado ao curso de
Psicologia da Faculdade Regional de Riachão do
Jacuípe.
Professora supervisora: MSc Lorena de Matos
Barreto.
RIACHÃO DO JACUÍPE-BA
2024
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 4
2 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4
2.1 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO............................................................................... 5
2.2 BASES TEÓRICAS ........................................................................................... 5
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 7
4 REFERÊNCIAS........................................................................................................ 8
5 ANEXOS ................................................................................................................ 10
5.1 CASO CLÍNICO 1 ............................................................................................ 10
5.2 CASO CLÍNICO 2 ............................................................................................ 11
5.3 CASO CLÍNICO 3 ............................................................................................ 12
5.4 CASO CLÍNICO 4 ............................................................................................ 12
5.5 CASO CLÍNICO 5 ............................................................................................ 13
5.6 CASO CLÍNICO 6 ............................................................................................ 14
5.7 CASO CLÍNICO 7 ............................................................................................ 14
4
1 APRESENTAÇÃO
Este relatório tem por objetivo registrar as atividades práticas realizada durante
o período de estágio Supervisionado I com ênfase em Plantão Psicológico,
supervisionado pela Professora MSc. Lorena Barreto, do curso de Psicologia da
Faculdade Regional de Riachão do Jacuípe (FARJ).
O “Parecer a Respeito da Prática das Profissionais de Psicologia no Contexto
do Plantão Psicológico” do Conselho Regional de Psicologia da 11ª Região (2020),
conceitua o Plantão Psicológico como uma modalidade de atendimento clínico com
bastante procura na atualidade, que rompe com o modelo tradicional de psicoterapia
continuada. “Sem a necessidade de um agendamento prévio, possui caráter diretivo
e focal, tendo por principal objetivo proporcionar espaço de escuta onde serão
trabalhadas as emergências trazidas pelo sujeito”.
O estágio realizado visava realizar Plantão Psicológico de 4 horas semanais
como atividade prática e supervisão semanal de 2 horas visando contribuir na
formação profissional, desenvolvendo o comportamento ético junto aos colegas e
supervisora, com o debate de textos relacionados à função prática dos atendimentos
em Plantão Psicológico e das demandas que eram trazidas e discutidas à luz da teoria
e experiência profissional da supervisora.
Ainda neste relatório será possível contemplar os relatos dos casos clínicos e
atividades extras realizadas dentro do ambiente escolar onde o Plantão Psicológico
foi ofertado.
2 INTRODUÇÃO
O plantão psicológico surge como um dos serviços oferecidos da psicologia
com o propósito de proporcionar a melhoria da saúde dos indivíduos que o procuram,
a partir de um atendimento psicológico acolhedor em momentos de crise, sem se
limitar apenas em problemas psicológicos, mas também olhando o indivíduo como um
todo, onde as questões tratadas na conversa não versam de questões e temas
selecionados, mas sim do que o indivíduo achar importante ser abordado.
Tassinari (1999) descreve a prática do plantão psicológico com um serviço
composto por um ou mais atendimentos sem limitação de tempo, realizado por
profissionais que estão ao dispor de todos os indivíduos que precisem, no tempo de
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sua necessidade para dar auxílio e compreensão de uma devida emergência e realizar
o encaminhamento para redes de apoio em ocasiões necessárias.
2.1. DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO
O objetivo do estágio é dispor para atendimento com locais, datas e horários
pré-determinados, a fim de simplificar um maior entendimento da pessoa e da sua
situação presente mesmo diante do inesperado, com experiências levadas no exato
momento que ocorre o atendimento.
O estágio foi realizado semanalmente, nas terças-feiras das 13h às 17h, no
Colégio Estadual João Campos (CETEP Bacia do Jacuípe II), localizado na BA-120,
218-222 - Jatobá, Riachão do Jacuípe - BA, 44640-000, com atendimentos realizados
na área da Biblioteca do Colégio, lugar este o único disponível e que conseguia manter
a discrição e sigilo das informações dos atendimentos, já que as atividades da
biblioteca eram suspensas nos dias de plantão.
As atividades realizadas na supervisão ocorriam nas dependências da
Faculdade Regional de Riachão do Jacuípe (FARJ) semanalmente, nas quartas-feiras
das 17h às 19h, com total sigilo das informações e com discussões acerca dos textos
sobre plantão psicológico e dos atendimentos realizados por todos os estagiários e
sob a supervisão da professora Lorena Barreto que trazia correções dos atendimentos
previamente realizados e orientações, direcionamentos para os posteriores
atendimentos.
Apesar dos textos estudados terem como base a teoria da Abordagem
Centrada na Pessoa (ACP), foi preferível utilizar-se de técnicas baseadas na Teoria
da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) por já estar mais bem familiarizada e
dispor de material de apoio que desse maior segurança para manejá-la.
2.2. BASES TEÓRICAS
Como um dos braços da Abordagem Centrada na Pessoa, surge o Plantão
Psicológico, com o propósito de ser “uma atividade exercida por psicólogos ou
estudantes de psicologia com orientação de um profissional capacitado da área”
(SILVA et al, 2019).
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A concepção de Abordagem Centrada na Pessoa é
Basicamente, a expressão mais significativa de sua abordagem e o mais
importante que Rogers tinha a dizer, talvez tenha sido simplesmente, ‘yes’ –
‘sim’ ao crescimento pessoal, a verdadeira aprendizagem, ao comportamento
construtivo, aos relacionamentos nutritivos, ao pensamento honesto, à vida
(WOOD, 2008, p. 247).
Essa modalidade de atendimento para o profissional exige uma disponibilidade
para enfrentar o devir, ou seja, o inesperado, o não planejado e com a possibilidade
de que o encontro seja único para a pessoa que procura o atendimento porque
geralmente parte de uma necessidade momentânea do paciente (MAHFOUD, 1999).
A oferta de uma escuta acolhedora, qualificada do psicólogo/estudante, para
quem se encontra em um momento de angústia, pode e muito diminuir o sofrimento e
contribuir para uma melhor observação de suas necessidades, “possibilitando outros
caminhos, ou seja, uma ressignificação para o sofrimento, desta forma o enfoque não
é voltado para um diagnóstico, mas para compreender o indivíduo com um todo”
(CURY, 1999).
Um Plantão Psicológico deve obedecer a algumas características, onde os
usuários têm um número limitado de possibilidades de retorno, podendo retornar duas
ou até quatro vezes, se distanciando da prática da psicoterapia, que proporciona um
acompanhamento por tempo mais longo. Além disso, a pessoa tem liberdade de
escolher se e quando retornará, já que o retorno não ocorre com um prazo
previamente estabelecido. Outra característica do plantão, é que o retorno não tem a
necessidade de ser com o mesmo plantonista. O tempo de sessão não segue o
mesmo padrão da psicoterapia, podendo levar mais ou menos tempo. Desse modo, o
Plantão se dá em serviços escola, nas universidades, assemelhando-se ao setting
terapêutico, visto que acontece em um consultório, atendendo uma espontânea
demanda. (CARNEIRO, 2017).
A literatura considera algumas características como imperativas para o
estagiário do plantão psicológico, a saber: uma abordagem autêntica, a compreensão
empática, a escuta atenta e acolhedora, assim como, a aceitação incondicional ao
modo de existir do outro, afinal, cabe ao profissional de psicologia o encontro com a
diferença (DOESCHER; HENRIQUES, 2012). O paciente que procura o atendimento
de plantão psicológico, geralmente apresenta demandas referentes a sua vida e aos
sentimentos que a compõem como: abandono, angústia, culpa, desânimo, tédio,
insatisfação, tristeza e incertezas. O encontro psicológico no plantão, precisa ser
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permeado por sentimentos humanos, sendo espaço de acolhimento, do sentir e de
possibilidades de se expressar, através do choro por exemplo (SAPIENZA, 2004).
Muito embora tenha nascido no berço da Abordagem Centrada na Pessoa, o
plantão psicológico pode ser realizado sob o enfoque cognitivo comportamental
(TCC). Este enfoque visa possibilitar ao usuário “um novo hábito de pensar, ampliando
sua consciência, auxiliando na interpretação da realidade de modo realista e justa,
colaborando para a reconstrução de seu sistema de crenças”. De tal modo, ao
compreender suas emoções e pensamentos, “acredita-se que o paciente seja capaz
de desenvolver uma atitude mais eficiente para lidar com seus problemas e de
promover mudanças.” (SISDELLI; DONADON, 2020).
A mudança psicológica que se dá nesse novo contexto, deve-se principalmente
a atribuição de novos significados às experiências e sentidos às angústias, através da
abertura de possibilidades e o esclarecimento da demanda de quem o procura,
possibilitando ao paciente a autonomia e a descoberta de novos caminhos para o
enfrentamento das dificuldades da vida (PERCHES, 2009).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, existe uma variedade de problemas em situações emergenciais
onde os indivíduos/usuários buscam ajuda especializada de plantonistas qualificados
para os atendimentos.
Pode-se notar os obstáculos que a população enfrenta para conseguir tempo
para métodos longos, bem como oportunidades de tais atendimentos de modo
gratuito, diante de um cenário de convivência em que a sociedade está promovendo
a prática em que os indivíduos se escutem cada vez menos, ampliando o
individualismo, a falta de apoio e sentimentos negativos como o abandono, angústia,
culpa, desânimo, tédio, insatisfação, tristeza e incertezas.
Pensar em uma oferta de acolhimento que alcança essa realidade é animadora
e o Plantão Psicológico é um modelo de atendimento que consegue oferecer uma
escuta imediata e qualificada, colocando-se à disposição dos indivíduos para que haja
o acolhimento em caso de procura para o serviço, promovendo uma melhoria na
condição de vida e bem-estar dos indivíduos atendidos.
O trabalho conjunto entre supervisão e a prática estagiária foi de extrema
importância para o bom andamento e elaboração dos atendimentos, assim como para
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a compreensão das demandas do paciente. Foi perceptível ver no retorno dos
usuários que o atendimento no plantão psicológico possibilitou a eles a aprendizagem
de habilidades sociais, promovendo insights e mudanças de comportamentos mais
adaptativos e funcionais, apresentando melhora na relação com os pares e consigo
mesmos.
4 REFERÊNCIAS
BECK, Judith S. Terapia cognitivo-comportamental. Artmed Editora, 2013.
CARNEIRO, V. T. Plantão psicológico: uma modalidade clínica no serviço de
psicologia da UFRB. In: AIRES, S.; KURATANI. S. O serviço de psicologia na
universidade. Cruz das Almas: UFRB, 2017. p. 135-152.
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DA 11ª REGIÃO, Parecer a Respeito da
Prática das Profissionais de Psicologia no Contexto do Plantão Psicológico.
Fortaleza, CE: 2020.
CURY, V.E. (1999). Plantão Psicológico em clínica-escola. In M. MAHFOUD (org.).
Plantão Psicológico: novos horizontes. São Paulo: Editora Companhia Ilimitada.
DOESCHER, A. M. L.; HENRIQUES, W. M. Plantão psicológico: um encontro com o
outro na urgência. Psicol. estud. Maringá, v. 17, n. 4, p. 717-723, 2012.
MAHFOUD, Miguel (org.). Plantão Psicológico: Novos Horizontes. São Paulo:
Editora C.I., 1999.
PERCHES, T. H. P. Plantão psicológico: o processo de mudança psicológica sob a
perspectiva da psicologia humanista. 2009. Tese (Doutorado em Psicologia) –
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2009.
SAPIENZA, B. T. Conversa sobre terapia. São Paulo: Educ; Paulus, 2004.
SILVA, Ana Carolina da; JOSÉ, Jéssica Cristina; SILVA, Régis Maliszewski. Estágio
Supervisionado em Psicologia Clínica: Plantão Psicológico. In: 2º Congresso
Internacional de Educação, 2019, Paraná. Anais eletrônicos [...] Paraná: FAG,
2019. Disponível em:
https://www.fag.edu.br/novo/pg/congressoeducacao/arquivos/2019/Estagio-
Supervisionado-em-Psicologia-Clinica-Plantao-Psicologico.pdf. Acesso em: 20 jul.
2024.
SISDELLI, Layane Bilória; DONADON, Mariana Fortunata. Plantão psicológico sob
enfoque cognitivo comportamental: um atendimento infantil. Revista Científica
Eletrônica Estácio. Ribeirão Preto, v. 14, ed. 14, p. 139-149, jan/jun. 2020.
Disponível em:
9
http://estacioribeirao.com.br/revistacientifica/arquivos/revista14/11.pdf/. Acesso em:
20 jul. 2024.
TASSINARI, M. A. Plantão psicológico centrado na pessoa como promoção de
saúde no contexto escolar. Rio de Janeiro. UFRJ. Instituto de Psicologia, 1999.
WOOD, J.K. et al. (2008). Abordagem Centrada na Pessoa. Vitória: EDUFES, 4
ed.
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5 ANEXOS
5.1. CASO CLÍNICO 1
T., 16 anos, masculino, 2º ano do Ensino Médio, solteiro, estudante. Atendido
nos dias 02 e 09 de abril, totalizando duas sessões, procura atendimento por queixas
de ansiedade e por ouvir vozes para se matar. T. revela que teve depressão no
período da pandemia e que toma quatro tipos de medicamentos para controle de
alucinações (pois declarou ter visto anjos, demônios e Jesus), além de ouvir vozes
para se matar. O paciente não soube dizer quais medicamentos toma e a finalidade
de cada um deles.
Quanto a questões familiares, tinha uma relação distante do pai até ocorrer um
episódio de surto psicótico acompanhado de convulsões, a partir de então, o pai (ex-
pastor de uma igreja pentecostal), tido como uma referência para o paciente, se
aproximou mais do filho. A relação com a mãe e a irmã não é afetuosa, é distante e
quando há aproximação é conturbada.
No âmbito social, T. tem poucos amigos e tem o maior respeito por autoridades,
de modo preponderante os militares. Apresenta comportamento violento, envolvendo-
se desde a infância em brigas com colegas na escola e na adolescência com pessoas
na rua. Não tolera injustiças e tem o desejo de ser policial militar de modo a assumir
o papel de justiceiro (palavras do paciente).
No segundo atendimento, T. disse ter ficado doente e que achava justo estar
nessa condição, aceitando isso como uma punição divina por seus pecados. O pecado
a que se referia a ira.
Foi notório perceber os sentimentos de abandono, culpa, medo da perda e
raiva, o que resultava num comportamento violento, religioso e autopunição. Foi
elaborado o conceito de raiva como sentimento e não na perspectiva de pecado, para
que o paciente se enxergasse na normalidade e que o comportamento violento diante
da raiva poderia ser ajustado a partir do questionamento dos próprios pensamentos.
Foi trabalhado a técnica de respiração como relaxamento para poder se ajustar em
momentos de raiva.
O paciente que chegou bastante nervoso, saiu mais tranquilo do Plantão.
Hipótese diagnóstica de esquizofrenia por envolver sintomas como delírios,
alucinações e pensamento desorganizado.
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5.2. CASO CLÍNICO 2
C.A.O., 17 anos, masculino, 2º ano do Ensino Médio, solteiro, estudante.
Atendido nos dias 02 e 09 de abril, totalizando duas sessões, procura atendimento por
queixas de ansiedade, diagnosticado com TAG e distimia. Aos um ano de idade seu
pai morreu. Mora com a sua mãe, de 55 anos, com doença cardíaca, tem uma relação
indiferente entre eles. Morou com os avós paternos durante dois anos aos 6 anos de
idade quando a sua mãe adoeceu e precisou ficar em Salvador durante esse tempo.
Esse tempo em que esteve com os seus avós ficou sem estudar. Sempre morou em
área periférica da cidade, onde viu o seu próprio tio ser assassinado. Quando criança
demonstrava comportamento violento.
Tem poucos amigos, não tem redes sociais como Tik Tok e Instagram porque
revela ser uma perda de tempo, mas tem acesso a sites da Deep Web de cunho de
extrema violência. Trouxe questões sobre autorrealização, pois se culpava por ainda
estar no Ensino Médio devido ao atraso de dois anos sem estudar, estava à procura
de emprego e tem o sonho de fazer a graduação em Ciência da Computação, mas
vive o dilema em ter de escolher entre trabalhar e estudar, já que é filho único e as
pessoas do seu convívio dizem que ele precisa ajudá-la financeiramente.
Um fato relevante trazido pelo estudante foi a sua experiência com os
conteúdos de extrema violência, de pessoas tirando a vida de outras pessoas. Quando
está triste, ele se coloca no lugar da vítima e assume que a vida é sem sentido e que
teve sorte de morrer. Quando está com raiva, coloca-se no lugar do criminoso que fez
um favor para a vítima. Quando assiste tais vídeos, fisiologicamente fica vidrado, sem
piscar, o coração acalma, sente o ar nos pulmões, como algo relaxante e muito
prazeroso. Perguntei como se sentia após assistir, ele disse que se sentia culpado por
ter perdido tempo.
Pode-se perceber sentimentos de autocobrança, abandono, culpa,
desesperança, tristeza, indecisão, raiva, comparação com os outros com isso nota-se
crenças nucleares de desamparo e a utilização de estratégias compensatórias, com o
intuito de dar sentido a vida, como a realização profissional, assistir aos vídeos que
para ele dão sentido a vida, se dedica aos estudos, apresenta bom repertório
linguístico pois sente a necessidade de se destacar entre os demais.
Contestei o C. sobre o sentimento de estar perdendo tempo e chegamos à
conclusão de que estava relacionado ao fato de sua mãe tê-lo “abandonado” e não
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ter tido a oportunidade de estudar, o que o faz se sentir atrasado com relação aos
demais da sua idade. Isso também aponta para uma relação afetivamente fria com a
sua mãe, já que ele a culpa por isso. Trabalhamos a ideia do controle das
circunstâncias, já que algumas são inesperadas e que desajustarão alguns processos
da vida. C. ficou reflexivo quanto a isso e decidiu elaborar melhor essa ideia para que
não pudesse se culpar também pelas circunstâncias.
5.3. CASO CLÍNICO 3
J.R.C, 16 anos, masculino, 2º ano do Ensino Médio, solteiro, estudante.
Atendido nos dias 02 e 09 de abril, totalizando duas sessões, procura atendimento por
queixas de bullying sofrido desde a infância. Sente muita tristeza, a vida sem rumo e
o desejo de mutilação.
Filho de pai alcoolista, ex-dependente de entorpecentes, violento com a mãe e
com relação afetivamente fria/distante com o paciente. Tem boa relação com a mãe,
mas não compartilha com a mãe os seus sofrimentos, pois quer poupá-la de mais
sofrimento já que ela trabalha muito e sofre com o comportamento violento do esposo.
Tem uma irmã com boa relação, mas que teve que sair de casa por brigas com o pai.
Socialmente, tem dificuldade de se relacionar, sente-se rejeitado, queixa-se do
isolamento, mas se isola quando está deprimido. Gosta de músicas Heavy Metal e
está resistindo ouvir músicas Black Metal, de mensagem anticristo e racista.
Sentimentos de abandono, rejeição e tristeza somado ao desejo de mutilação, revela
ideação suicida. A mãe do paciente foi acionada pela escola mediante a
comportamentos de isolamento na escola e baixa no rendimento escolar para possível
encaminhamento ao CAPS.
5.4. CASO CLÍNICO 4
H.E.P., 18 anos, feminino, 2º ano do Ensino Médio, solteira, estudante.
Atendida no dia 16 de abril, totalizando uma sessão, procura atendimento por queixas
de dores no corpo, episódios frequentes de raiva e estresse, perda de apetite,
indisposição, dificuldade para dormir e insônia e ruminação de pensamentos.
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Não falou nada sobre a sua família, apenas mencionou que mora com a sua
mãe. Se declara pansexual e falou de um sentimento de vazio por não saber identificar
seus sentimentos e nem como demonstrá-los dentro de suas relações afetivas. Além
disso se importa muito com os pensamentos dos outros sobre si, tem medo do
abandono e tem relevante dependência emocional. Considera-se uma pessoa retraída
e impulsiva.
Nota-se pensamentos automáticos do tipo tudo ou nada e leitura mental,
acreditando que sabe o que os outros estão pensando, não levando em consideração
outras possibilidades muito mais prováveis. “Embora um pensamento automático
possa ser verdadeiro, o significado poderá ser inválido ou pelo menos não
completamente válido”, segundo Beck (2013). Com isso, trabalhamos no caminho de
questionar os pensamentos, a partir de algumas perguntas, como por exemplo “Quais
são as evidências que apoiam a ideia de que não sabe demonstrar seus sentimentos?”
e ela trouxe uma situação de um amigo que estava com amizade com outras pessoas,
ela sentiu ciúmes e tristeza, o seu comportamento foi o agir com impulsividade,
grosseria e de ignorar o seu amigo, após o episódio sentiu-se abandonada. Chegou o
horário da paciente ir embora devido ao transporte e não houve retorno.
5.5. CASO CLÍNICO 5
J.D.S., 24 anos, feminino, 2º ano do Ensino Médio, amasiada, estudante.
Atendida no dia 23 de abril, totalizando uma sessão, procura atendimento por queixas
de ansiedade, falta de ar, problemas de aprendizagem, sem motivação para estudar
e que deseja abandonar a escola. A paciente faz acompanhamento pelo CAPS e é
medicada com fluoxetina.
Quanto a família mencionou apenas a relação com o irmão, com quem tem um
apego ansioso, mas que estavam brigados pelo fato dela ter saído de casa para morar
com o namorado, segundo a paciente o irmão está com ciúmes. Se queixou de que
as colegas reclamam porque ela tem faltado muito após ter ido morar com o namorado
e por não participar das atividades/trabalhos escolares, mas ela disse que não tem ido
para a escola por desmotivação porque seu irmão parou de estudar e por medo do
ex-namorado que a perseguia, com isso sentia-se insegura. Além disso se sentia mal
porque os colegas não passam o conteúdo dado na sua ausência.
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A impliquei no processo de se responsabilizar pelo estudo, já que não é
responsabilidade/obrigatoriedade dos colegas em ajudá-la nesse processo, apesar de
ser importante a contribuição deles, então ela poderia pedir esta ajuda e caso não
conseguisse que pudesse falar diretamente com os próprios professores e solicitar o
conteúdo que foi passado.
5.6. CASO CLÍNICO 6
G.S.L., 16 anos, masculino, 2º ano do Ensino Médio, solteiro, estudante.
Atendido nos dias 30 de abril e 28 de maio, totalizando duas sessões, procura
atendimento por queixas de insônia por não ter dado certo um relacionamento com
uma garota por quem é apaixonado.
G., apresenta bom repertório linguístico, tem interesse em leitura e nos estudos,
disse que se sente como no mito de Sísifo, quando punido pelos deuses a rolar uma
pedra montanha acima diariamente, por toda a eternidade, mencionando que sente
rejeitado e que isso faz parte das dores do mundo real. Relacionado a essa afirmação
trouxe a situação de se sentir um babaca por enviar mensagens para a garota que ela
gosta, após o fato de tê-la pedido em namoro de modo bem romântico e ela ter
respondido “não, por enquanto” e ele não ter assimilado o não como resposta. Sugeri
que pudesse conversar com ela para que pudesse ter uma resposta mais assertiva.
No segundo encontro disse ter conversado com a garota para esclarecer a
resposta e que de fato era não, decidiu a partir disso “largar osso”, abrir mão da
tentativa de dar certo, ficou uma semana toda fora da rotina, mas conseguiu se ajustar
e não teve mais episódios de insônia.
5.7. CASO CLÍNICO 7
C.L.O.C, 17 anos, masculino, 3º ano do Ensino Médio, solteira, estudante.
Atendido nos dias 30 de abril, totalizando uma sessão, procura atendimento por se
sentir muito magra, perda de apetite e sono.
Disse ter uma relação instável com a mãe, que sofre de depressão e ansiedade.
Filha de pai adotivo, mas que a abandonou com mãe quando soube que ele não era
o pai biológico.
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Trouxe demandas de sofrimento de um relacionamento onde declara ter muita
dependência emocional, que já foi traída pelo namorado e que se incomoda com o
comportamento dele de seguir nas redes sociais mulheres de biquini e corpos
protuberantes.
Ao ser questionada sobre o seu posicionamento diante do incomodo, ela disse
que sabia que precisava conversar com ele, mas preferia não dizer nada porque ele
iria se vangloriar, dizendo que ela estava com ciúmes porque ele é muito bom para
ela. O sentimento ansioso, de insegurança, indecisão é muito latente. C. se sentia
insegura quanto ao que precisava fazer, que era conversar com o namorado e
combinar limites. Intelectualmente, sabia como resolver o problema, no entanto, ficava
inibida pela sua crença de que não deveria se expor, mas propus que avaliasse as
vantagens e desvantagens de cada opção.