Aulas Práticas – TGDC
Formação do negócio jurídico e os seus vícios
CONCEITOS ESSENCIAIS:
Facto jurídico:Acontecimentos reais ou sociais aos quais o direito associa a produção de efeitos jurídicos, ou seja,
que constituiem, modificam ou extingue relações jurídicas.
Facto jurídico stricto senso: Acontecimentos reais/sociais aos quais o direito associa a produção de efeitos
jurídicos mas cuja verificação não estádependente de uma manifestação de vontade humana.
Ato jurídico: um facto jurídico cujo elemento característico da sua ocorrência depende de uma manifestação
humana.
o Ato jurídico stricto senso – a intenção de quem se manifesta é irrelevante – há liberdade de celebração
o Negócio jurídico – a intenção é relevante, temos de estar perante uma conduta voluntária que visa
produzir efeitos - há liberdade de celebração e estipulação (esta parte é uma distinção da doutrina
minuritária defendida pelo regente)
A maioria da doutrina diz que é ato jurídico basta a conduta ser voluntária/a vontade de conduta. Se for
necessário que também tenha querido a conduta e os efeitos então já é negócio.
Doutrina maior: se a conduta for voluntária é ato jurídico e é negócio quando quis a conduta e os efeitos. O casamento é um NJ
porque para haver casamento é preciso que as pessoas o queiram e que ao fazê-lo estejam a pensar que querem os efeitos
jurídicos do casamento
MC: não basta querer os efeitos, tem de os decidir, ou seja, tem de haver liberdade de estipulação – se o conteúdo já estiver
determinado por lei não é negócio e sim ato jurídico – só são negócios os atos de conteúdo indeterminado (não determinado por
lei)
VÍCIOS DO NEGÓCIO JURÍDICO:
Um negócio jurídico por vezes não cumpre os requisitos legais – neste caso a sanção mais lógica é a de privar
o negócio de efeitos – ineficácia
Há no entanto negócios que são válidos e eficazes mesmo que violem a lei – anulabilidade
As modalidades mais comuns da invalidade são as da nulidade e anulabilidade
A lei pode estabelecer um regime especial, mas quando não há usamos os regimes gerais da anulabilidade e da
nulidade.
Quando existe uma invalidade:
Nulidade – ineficácia originária (porque o negócio não chega a produzir efeitos logo à partida);
Anulabilidade – produz efeito de início até ser decretado pelo tribunal a anulabilidade (apesar de inválido
ele é eficaz apesar de ser anulável – se nunca vier a ser anulável ele será eficaz, se for decretada a sentença
então terá um efeito retroativa e portanto são anulados todos os efeitos produzidos entre a data do negócio
e a data da sentença–ex: num negócio de compra e venda há transmissão de propriedade que só é destruída se
houver uma sentença de anulação
Aproveitamento do negocio nulo e anulabilidade
Quando um negócio é declarado nulo ou anulável pode haver certas formas de redução e conversão do
aproveitamento do mesmo– art 292º e 293º
Exemplos de negócios nulos:
Vício de forma = negócio nulo
O negócio jurídico não tem de ser necessariamente por escritura pública (art 219º), mas sempre que a lei exige
uma forma especial o negócio tem de a respeitar porque se não é nulo (art283º).
Venda de bens alheios
Doação de bens alheios
Se houver uma venda de bens alheios sem legitimidade o art 892º diz que a venda de bens alheios é nula, se for
uma doação de bens alheios também é nula (art 956º)
Vício da simulação
Há negócios que são simulados e são nulos art240º a 243º (MATÉRIA MAIS COMPLICADA DO SEMESTRE)
Ex: uma pessoa compra um imóvel, quando alguém o faz tem de pagaro IMT que é um imposto proporcional ao
preço da casa, mesmo o vendedor se teve lucro paga imposto de mais valias no IRS, portanto é uma situação que
aborrece o comprador e o vendedor portanto isto torna frequentes fraudes, A e B declaram na escritura pública
um preço mais baixo e depois pagam “por trás” o resto do valor- neste imposto ambas as partes têm vontade de
enganar o Estado – isto é uma simulação de dinheiro.
EX: A não paga uma dívida a B, neste caso B leva A a tribunal, vai haver um processo civil que é a ação executiva,
o tribunal vai ordenar a penhora (apreensão judicial de bens) de bens do devedor mesmo assim se o devedor
não pagar então os bens do devedor vão ser vendidos, esse dinheiro será dado ao credor e o que restar volta ao
devedor – quando os bens são jóias, quadros, etc o devedor pode esconde-los ou, por exemplo, A tem um
quadro e uma dívida, esse devedor faz um negócio de compra e venda do seu quadro para que o quadro não
pertença a essa pessoa mas este negócio é simulado, ou seja, uma venda simulada, em que não tem o objetivo
de haver mesmo a transmissão de bens.
Também pode haver casamentos simulados – que por acaso têm um regime especial
Artigo 280º há vários vícios, por exemplo, se alguém quiser casar com um animal é nulo, se A contratar alguém
para matar B esse negócio também é nulo, se uma companhia mevender um bilhete de ida e volta para o sol
esse negócio também é nulo.
Artigo 281º– prevê que pode haver um negócio contrário à lei e portanto é nulo
Exemplos de anulabilidades
Atos do menor emancipado – regra geral são anuláveis, apesar das exceções do art 127º
Vício do erro – artigos 247º a 254º
Ex: A compra um quadro a achar que foi pintado por Picasso mas depois descobre que é falsificado – este é um
exemplo de erro sobre o objeto; Ex: é contratada uma pessoa para dar aulas em direito porque achavam que
tinha licenciatura em direito mas afinal é mentira – art251º – erro sobre a pessoa. Ex: professor achava que foi
colocado no Porto, faz um contrato de arrendamento, afinal leu mal e agora quer anular esse contrato porque
afinal foi colocado em Porto Covo – erro sobre os motivos(art 252º); Ex: alguém foi fazer um contrato e
esqueceu-se de um 0 – art 247º- erro na declaração
Coação moral: artigos 255º e 256º- estes artigos prevêem situações em que alguém celebrou um negócio
porque foi ameaçado
Incapacidade acidental – quando o maior acompanhado antes de ser declarada a incapacidade era válido a não
ser que fosse provada delírio, etc – artigo 257º
Usura- artigo 282º e 283º – há uma pessoa que está numa posição vulnerável e a outraparte aproveita se disso
para celebrar um contrato muito vantajoso para a sua parte e muito desvantajoso para a outra
Quanto a saber quem é que pode invocar a nulidade e a anulabilidade há diferenças? Sim:
Na anulabilidade é só quem a leis quis proteger o vício
A nulidade e por qualquer interessado (pessoas com interesse juridicamente relevante da destruição
daquele negócio)ou declarada oficiosamente
Exemplo de um caso excecional em que só o terceiro é que pode pedir a nulidade do negócio – art 887º:
Vendas de pais a filhos ou avós a netos – artigo 877º - A é mãe de B e de C, se A vender algo a B sem o consentimento de C o
negócio é anulável mas quem pode pedir a anulação é o C (terceiros) e só o C.
Quanto ao conhecimento oficioso
A fala com B sobre um negócio que fez nulo, não pode um juiz ouvir e ir declarar nulo o negócio, precisa de estar a analizar um
caso em tribunal
Quem intenta uma ação chama-se: autor da ação
Para quem se intenta a ação chama-se: réu
Sanação do vício:
Decurso do tempo e confirmação são as formas de sanar a anulabilidade
A confirmação é um negócio jurídico unilateral – é um facto jurídico que tenciona provocar efeitos jurídicos
1939º/2 e 2309º - Isto são dois exemplos excecionais do negócio nulo ser confirmado
Art 292º e 293º – redução e conversão – são modos de aproveitamento dos negócios inválidos
Modalidades dos negócios juridicos
Negócios unilaterais e negócios plurilaterais:
Contratos são negócios plurilaterais
Um contrato há sempre duas partes, duas declarações e duas vontades– são sempre bilaterais/plurilaterais
Dentro dos contratos podemos distinguir:
Negócios sinalagmáticos - geram obrigações recíprocas para ambas as partes (também se chamam
contratos bilaterais – ex: compra e venda; contrato de trabalho, contrato de arrendamento; o casamento
caso a doutrina considere este como um contrato)
Art 428º: entenda se ”negócios bilaterais” como “contrato silagmático” – o que resulta deste artigo é que se
estivermos perante um contrato sinalagmático ou o próprio contrato diz o momento em que cada das partes
tem de cumprir, ou o contrato nada diz e, então, cada um pode dizer que só cumpre quando o outro cumprir
portanto este artigoestabelece que terão de cumprir ao mesmo tempo. Há casos onde é licíto recusar o
cumprimento do contrato – quando dizem que não cumpriram porque ooutro também não o fez.
Negócios não sinalagmáticos - ex: doação: não há nenhuma obrigação de doar, mas se doou então vai ter de
se entregar a coisa
Os contratos são sempre por definição bi ou plurilaterais portanto mesmo um contrato não silagmático é bi ou
plurilateral.
Doação
A doação é um contrato unilateral porque estamos a falar de haver apenas 1 obrigação, mas é um negócio bilateral
porque é um contrato
Art 1940º CC o legislador diz que a doação é um contrato portanto não podemos dizer que é um negócio jurídico
unilateral, o que significa que para haver a doação não basta a vontade do doador.
Procuração - ato pelo qual alguém dá poderes representativos a outro alguém – é um negócio jurídico unilateral,
portanto não é um contrato - 262º CC – mas é uma conduta voluntária que pretende ter efeitos jurídicos portanto é
um negócio jurídico.
Resulta do art 289º e 290º que as partes teram de restituir uma à outra o que receberam, se o negócio for anulado
Outros artigos com regimes especiais para contratos bilaterais no sentido silagmático: Art 795; 801º/2
*Penhorar – penhora – apreenção judicial feita aos bens do devedor pelo tribunal
Contratos reais Empenhorar – penhor – dar algo temporariamento como garantia
Existem 2 classificações:
1) Quoad Constitocionen: contratos reais quanto à constituição – são contratos que só se formam com a entrega
da res (coisa em latim) – fazem parte de uma classificação que se opõe aos contratos consensuais. Exemplos:
a. Penhor: art 669º, se só produz efeitos apartir da entrega significa que a entrega é o elemento essencial
para o contrato (não confundir com penhora*);
b. Comodato: art 1129º, é um empréstimo de coisas que não são fungíveis, não são dinheiro;
c. Mutuo: art 1142º;
d. Depósito: art 1185º, na própria definição está a ideia da entrega como requisito necessário do contrato;
e. Parceria pecuniária: art 1121º, a entrega aparece como elemento típico do contrato -
A compra e venda não é um negócio destes porque a obrigação de entregar o bem é consequência do
cumprimento do contrato, na compra e venda o contrato não é formado na entrega do bem, apenas se pode
dizer que este sóé cumprido quando houver entrega do bem.
Art 408, nº1 – esta é a regra geral. A compra e venda é consensual. Também se pode usar a expressão consensual
para se opor aos contratos formais
A compra e venda de um automóvel é consensual? Depende do sentido que atribuemos a «consensual» – é
consensual no sentido em que não é real mas não é consensual no sentido de não ser formal, visto que a compra e
venda de uma automóvel exige uma forma especial.
Contratos reais quaod constituiciones – RESUMO:
contratos que só se formam com a entrega da coisa
comodato, depósico, parceria pecuniária, penhor, mútuos, etc
nestes contratos podem os contraentes combinar que “apesar da lei dizer que o contrato se forma com a
entrega da coisa, vamos combianr que o contrato se vai formar antes da entrega”?
o Mota pinto, MC, Carvalho fernantes e Almeida e Costa dizem que pode. Mas isto é discutível porque se
for possível não serve de nada a lei estabelecer o regime legal, de qualquer modo mesmo que existam
autores que acham isso possível, eles concordam que isto não acontece no penhor – porque existe o
princípio dos direitos reais/princípio da tipicidade consagrado no art 1306º: não há liberdade negocial
para inventar novos direitos reais. A doutrina diz: como o caso do penhor também é effectum então já
não seria possível às partes estabelecer isto.
2) Quoad effectum: contratos reais quanto aos efeitos - o contrato tem por efeito a constituição ou transmissão de
um direito real –Sempre que contratos que se opõem aos contratos obrigacionais
a. Ex: A compra e venda é um contrato real quanto aos efeitos porque transmite o direito de propriedade
que é um direito real. Mas não é quanto à constituição, porque pode haver contrato antes de entregar a
coisa.
b. Ex: Há algum contrato que só se forma com a entrega da coisa mas constituiu um direito real? O penhor
(direito real de garantia, quando se constituiu constituiu-se um direito real logo é real quoad effectum) –
mas só se constitui com a entrega da coisa logo também é é quoad constitocione.
Direitos reais: direitos que têm por objeto coisas corpórias mas também têm eficácia erganómicas (são eficazes
contra qualquer pessoa): são direitos absolutos opuníveis erganómicos
Direitos obrigacionais: mesmo quando a conduta do devedor consiste em me entregar uma coisa são direitos
relativos (oponível ao devedor) – se algém se comprometeu a pintar a minha casa só a essa pessoa me posso referir.
Contrato obrigacional - quando constitui ou transmite um direito obrigacional.
Contratos que são reais quanto à constituição mas não quanto aos efeitos: O comodato, o depósitio, a
parceria pecuniária – porque a lei não preveu isso.
Contratos que são reais quanto aos efeitos e não quanto à constituição: ex: compra e venda
Contratos que não são reais nem quanto aos efeitos nem quanto à constituição: direito do locatário (art
1022º) – é obrigacional (se seguirmos a doutrina maioritaria), a lei não diz que só com a entrega das chaves é
que se forma o contrato – e é um contrato consensual.
O contrato de doação é um contrato real quod efecctuo. E quanto é constituição? Em principio não, mas no art
947º/2 há uma exceção - doação de coisa móvel. Tradição da coisa é entrega da coisa. Imaginemos que quero doara
alguém o meu relógio e digo-lhe: “dou-lhe o relógio” e ela: “aceito”, neste caso a doação não está feita – sendo oral
só se forma com a entrega da coisa. Se for por escrito, forma-se contrato antes da entrega da coisa – exemplo da
herança das filhas das jóias: como não foi doado pertencia à mãe aquando da morte
Os contratos reais quaod effectum
são, por regra, consesnsuais (art 408/1) - princípio da consensualidade. Mas há exceções (408º/2):
Por exemplo, a Hipoteca - móveis sujeitos a registo e imóveis – para se constituir uma hipoteca não basta o
acordo entre credor e devedor, isso só seria se se aplica-se o 408º/1 mas há um regime especial que no CC
está no art 687º
Contrato de mutuo*, transmite a propriedade quando se empresta a coisa?
Sim, ex: se eu emprestar 20€ eu não deixo de ser proprietário do dinheiro. Óbvio que ao emprestar dinheiro
o direito de propriedade passa para o outro e quem o tinha passa a ter o direito de crédito sobre o mutuário
*= empréstimo de uma coisa fungível (podem ser substituídas por algo igual, ex: farinha) e dinheiro
Contrato de comodado, transmite a propriedade quando se empresta a coisa?
Não, ex: o carro não deixa de ser meu só porque o emprestei.
Direitos patrimoniais e não patrimoniais
Quando o conteúdo do direito é avaliado em dinheiro é patrimonial, caso contrário é pessoal/não patrimonial.
o Ex de negócio pessoal: adoção, perfilhação
o Ex de negócio patrimonial: convenção nupcial (para definir separação de bens e outros antes do casamento)
Dentro dos patrimonais podemos distinguir entre:
1) Negócios de administração – conservação e fruição
2) Negocios de disposição –oneração e alienação
Negócios onerosos e gratuitos
Nos onerosos há vantagens e sacrifícios patrimoniais para as duas partes, nos gratuitos só há para uma das
partes.
QUESTÃO IMPORTANTE: negócios sinalagmáticos são onerosos e não silagmáticos são gratuitos?
Doação é gratuito e não silagmático
Compra e venda é onoroso e sinalagmático
Art 963º – pode dar se o casodo doador impor um encargo ao donatário
Pode haver mutuo oneroso e mutuos gratuitos – pode haver um empréstimo em que cobra juros ao mutuário e
empréstimos em que não são cobrados juros.
O mutuo oneroso é um contrato não sinalagmático – o mutuo é real quaod consttiutcione, ou seja, só há
contrato mutuo depois de A já ter dado o dinheiro, significa que só o B é que tem dever - porque a entrega do
dinheiro não é uma obrigação contratual, é apenas algo prévio.
O que é um negócio consensual? Há dois sentidos: 1) há liberdade de forma; 2) são contrários aos reais constitucione
Próxima matéria na próx pág
Elementos do negócio jurídico
Declaração de vontade
Vontade: é a intenção de produzir efeitos jurídicos (elemento interno/psicológico/subjetivo do negócio jurídico)
Declaração: mas essa vontade tem de ser exterioridade, tem de haver uma manifestação de vontade (elemento
externo do negócio jurídico)
As declarações dividem-se em expressas e tácitas
Princípio da liberdade declarativa – art 217º: a lei permite declarações expressas e tácitas, não é forçoso que, para
celebrar um negócio, tenha de ser por declaração expressa a não ser que a lei o determine, por exemplo artigos
601º/1, 628º e 413º/1 parte final.
Exemplo do art 2056º/3
Ex: Um herdeiro não disse sim nem não, mas por lei seria herdeiro do testamento. Foi vender um quadro dessa
herança (ato de exposição - alienação) não é um ato de administração que não implicaria aceitação tácida da
herança. Será que neste caso a norma estende-se aos atos de exposição ou apenas apresenta a regra?
O legislador vem dizer que os atos de administração não precisam de aceitação tácida porque há um interesse social
de ter atos de administração, significa que só porque praticou o ato não se considera que seja uma aceitação tácida.
Como a legislação só falou dos atos de administração significam que os de exposição implicam aceitação porque a
conduta só faz sentido se o herdeiro aceita a herança em questão.
O facto de um negócio ser formal é incompatível com as declarações tácitas? Não, art 217º/2.
Ex1: há uma norma que diz que para aceitar uma herança é preciso aceitação por escrito, isso implicaria o contrário
do art 2056º? Não, eu poderia vender o quadro por escrito e assim o meu ato de exposição estaria em consenso com
o art 217º/2.
Se a lei decide que tem de ser por escrito então todas as declarações negociais do contrato têm de ser escritas
Silêncio: é uma total ausência de comportamento, não é igual à declaração tácita (que implica um comportamento)
Regra geral não podemos atribuir ao silêncio valor jurídico, apenas nas situações do art 218º
Questão do valor jurídico do silêncio:
Art 218º - Há apenas 3 situações onde o silêncio tem valor declarativo:
Quando a lei o diz – artigos 923º/2 CC; 1054º/1; 1163º CC; 1432º/8 CC; 27º/1 do Código do negócio seguro
Quando um uso o diz – de acordo com o disposto no art 3º CC os usos só tem força jurídica quando a lei o
estabelece. O MC levanta a questão sobre o 218º, para ele tem de haver uma norma especial que aquele uso
naquela profissão, naquele sitio é relevante. O 218º é lei e já está a dar força jurídica ao usos - o MC o que diz é
que isto não é suficiente, tem de haver uma norma específica.
Quando as partes convencionam – Ex: A é proprietário de um quadro e escreve uma carta a B que diz “vendo-
te o meu quadro por 2 mil euros e se não disseres nada em 15 dias quer dizer que aceitas. B recebe a carta mas
não responde no prazo. Neste exemplo há uma convenção das partes? Não, é apenas uma estipulação das
partes, uma pessoa não pode atribuir valor declarativo unilateralmente ao silêncio de alguém. É possível uma
convenção de silêncio dar valor declarativo num negócio formal (tem a forma legalmente imposta/não tem
liberdade de forma)? Não, a não ser que a lei dê literalmente valor ao silêncio, mesmo em negócios formais.
O silêncio só por si não pode mostrar que houve aceitação, tem de ser o silêncio mais a convenção.
Forma do Negócio Jurídico /da declaração
Principio geral
Liberdade de forma – art 219º - aplica-se a todos os negócios jurídico (diferente da liberdade contratual que só se
refere a contratos e é um conceito diferente)
Diferença entre forma ad substatione e ad provatione
1. Ad substatione: sempre que a forma é exigida como requisito de validade. O tipo de invalidade prevista é a
nulidade mas o legislação é livre de definir outra. Ex: art 875º, art 1069.
A regra geral desta forma está no art 220º, mas há artigos que resaltam que a violação da forma resultará na
nulidade (apesar de não o dizer expressamente, encontramos no próprio regime da nulidade).
2. Ad provatione: se concluirmos que aquela forma está apenas a ser exigida como prova (tem de resultar
expressamente da lei). Ex: 1069º/2 é uma exceção ao artigo 364º/1
Art 364º/2 – interesse para a forma ad provatione – “apenas para prova”, o normal é como requisito de validade
mas este artigo fala de “apenas exigido para a prova”. Se não for respeitado? É preciso uma confissão – se não se
pudesse provar que existisse seria pior que a nulidade, assim a lei abre uma possibilidade que é provar por
confissão “pode ser substituído por confissão expressa”. Mas isto é dificil, é difícil haver uma confissão do litígio
de uma das partes (quando se vai a tribunal normalmente é porque as partes estão litigiosas e é difícil nesse
caso alguém admitir/confessar).
Exemplos em que a lei exige forma especial:
Doação (art 947º): se for doação de coisa móvel – nº2 do art 987 – há que distinguir doação com entrega e sem
entrega da coisa, se for acompanhada há liberdade de forma senão tem de ser por escrito. Se for oral, então o
contrato só se forma com a entrega da coisa (real quad constitucione).
Contrato mútuo – empréstimo de dinheiro – art 1142º, art 1143º
Casamento – a lei exige forma oral
Tipos de forma
Forma legal – art 221º - a forma é imposta por lei
Forma voluntária – art 222º - a forma não é exigida pela lei mas que na prática as partes obtaram
Forma convencional – art 223º - as partes combinam previamente que só se consideraram vinculadas se se
adotar uma certa forma. Não é possível com recurso a uma forma convencional violar-se uma forma legal. Esta
forma é só para negócios de liberdade de forma? Não, as partes podem convencionar que adotaram uma forma
mais exigente do que aquela que a lei obriga.
PREPARAR PARA AULA PROCESSO DO NEGOCIO JURIDICO, PROPOSTA, ETC