A escuta como prática cotidiana de cuidado
Vivemos em um tempo de vozes altas, opiniões rápidas e respostas prontas. Em meio
ao barulho constante das redes, dos compromissos e da vida agitada, algo essencial
tem se perdido: a escuta. Escutar verdadeiramente — com presença, silêncio e
abertura — é uma prática rara, mas profundamente transformadora. E não apenas no
consultório ou em espaços terapêuticos: a escuta é um gesto de cuidado que pode e
deve habitar o cotidiano.
Escutar não é o mesmo que esperar a vez de falar. É um movimento ativo de atenção
ao outro, um reconhecimento de sua existência e de sua dor. Em uma conversa
comum, estamos frequentemente mais preocupados com o que vamos dizer a seguir
do que com o que está sendo dito. Mas quando alguém é escutado de verdade, algo
muda. Há um relaxamento sutil no corpo, um olhar que se suaviza, uma sensação de
que "minha experiência importa". Isso já é terapêutico — mesmo fora da terapia.
Na educação, na família, nos relacionamentos e nas equipes de trabalho, a escuta
pode ser o que impede rupturas, conflitos desnecessários ou solidões profundas.
Crianças que são escutadas aprendem a confiar; adultos que são ouvidos tendem a
se responsabilizar com mais facilidade; idosos que encontram ouvidos atentos
mantêm viva a dignidade de suas histórias. Escutar é reconhecer o outro como
alguém legítimo no mundo.
Isso, no entanto, exige esforço. É preciso silenciar os próprios julgamentos,
desacelerar o pensamento, suportar o desconforto de não saber o que dizer. Mas o
ganho é imenso: vínculos mais profundos, relações mais respeitosas e uma
convivência mais ética. Escutar não é perder tempo — é criar espaço para que o
tempo se torne mais significativo.
Na prática, todos nós podemos cultivar a escuta: desligar o celular em uma conversa
importante, manter contato visual, não interromper, validar a fala do outro sem pressa
de corrigir. Não é uma técnica, mas uma postura. A escuta, quando autêntica, é um
modo de amar.