Mediterrâneo e Médio Oriente Na Antiguidade
Mediterrâneo e Médio Oriente Na Antiguidade
E MÉDIO ORIENTE
NA ANTIGUIDADE
PRÉ-HISTÓRIA EUROPEIA
EGITO
MESOPOTÂMIA
PRÉ-HISTÓRIA.
Pré-história, mas nem sempre esta visão foi tão clara. Imagine um mundo
com 5 mil anos de existência, com toda sua história conhecida, e onde
todo o universo, a vida e o homem surgissem em apenas uma semana, e
um livro registrasse esses fatos, que são inquestionáveis. Este mundo
existiu: estamos falando do mundo ocidental do início do século XIX,
quando a Bíblia exercia grande influência no pensamento científico.
A noção da Pré-história é o resultado de diversas mudanças nos
conceitos de Tempo, de Vida e de Universo, alterações estas que
remodelaram a visão do mundo.
Em primeiro lugar, houve uma mudança na noção do Tempo: os
geólogos começaram a demonstrar que a Terra tinha bem mais que 3 mil
anos, provavelmente centenas de milhões de anos1.
Em segundo lugar, os avanços nos estudos dos fósseis mostraram
que os animais e as plantas que existiam antes não eram como os de
hoje. Em vez de um mundo criado pronto, começaram a surgir
evidências de um mundo mutável. Muitos dos cientistas da época tentaram
enquadrar essas evidências com o que já era conhecido acerca do mundo:
fósseis eram de animais que morreram em um antiso cataclismo, do qual
o Dilúvio de Noé era o melhor documentado. Portanto, tais fósseis seriam de
animais e de plantas antediluvianas (pré-históricas). Entretanto, esses mesmos
fósseis mostravam faunas e floras diferentes em distintos períodos de tempo,
permanecendo a questão: houve diversos cataclismos? Em todo o caso, o
: : :; :e : ::...:: homem só foi criado por ocasião do último cataclismo,
mantendo, portanto, a condição de filho dileto da criação.
Porém, entre 1830 e 1860, esse modelo teórico ruiu diante de três eventos:
1836 - A criação do Sistema das 3 Idades: C.J. Thomsen, intelectual
dinamarquês, propôs um sistema para classificar objetos por épocas ou
por Idades (Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro). Com isto,
ele estabeleceu o princípio de estudar e classificar objetos antediluvianos
em uma ordem cronolósica.
1841 - A Antiguidade do Homem: nesse ano, na França, Jacques Boucher
de Perthes descobriu ferramentas de pedra lascada associadas a ossos de
animais fósseis extintos. Esta descoberta levou à conclusão de que o homem
não era tão novo como se pensava.
1859 - O Conceito de Evolução: publicou-se o livro A Orisem das
Espécies, de Charles Darwin. Embora esta não tenha sido a primeira teoria
evolucionista, Darwin demonstrou, e de modo convincente, como as
mudanças teriam ocorrido na história da vida a partir da Seleção Natural e
da Adaptação. As implicações eram claras: a espécie humana emersiu a
partir do mesmo processo.
Partindo desses três conceitos, sursiu um novo passado a ser estudado,
baseado em questões que poderiam ser testadas cientificamente. Este foi o
nascimento da Arqueolosia Moderna e da Pré-história.
OS HOMENS DA PRÉ-HISTÓRIA
Como pudemos observar, a evolução do Homem foi acompanhada, em certa medida, por uma evolução
cultural/tecnológica, cuja principal evidência se encontra nos vestígios da fabricação de instrumentos de
pedra lascada, ou nas Indústrias Líticas.
A humanidade utilizou a pedra lascada entre 2,6 milhões e 10 mil anos, período conhecido como a Idade da Pedra
ou Paleolítico, subdividido em Paleolítico Inferior (Olduvaiense e Acheulense), Médio (Mousteriense) e Superior.
Neolítico
Paleolítico Superior
| P Paleolítico Médio
Paleolítico Inferior
Homo erectus
Homo habilis
Anos
Podemos distinguir duas tendências no desenvolvimento destas
indústrias líticas:
1) O melhor aproveitamento da matéria-prima nas culturas do Paleolítico
Inferior: um seixo de 500 s, aP°s levar alguns golpes feitos com outra pedra, era
transformado em uma ferramenta com bordo cortante (gume). Na tabela abaixo e
na fig. 2 podemos apreciar a diferença entre o Olduvaiense (H. habilis) e o
- : • • : . - : • M- - erectus). Esta diferença se acentua nas culturas do Paleolítico
Médio, quando a Humanidade passada utilizar e a modificar as lascas de modo
sistemático, ou seja, quando, a partir de um seixo, várias ferramentas podem ser
feitas. Finalmente, no Paleolítico Superior, o Homo sapiens sapiens desenvolve o
íascamento laminar, e maximiza o aproveitamento das rochas.
Paleolítico Inferior
Chopper Olduvaiense
Machado Bifacial
Acheulense
Paleolítico Médio
fc"" "
Nas cavernas da Europa Ocidental — especialmente na França — encontra-se o que foi reconhecido, pela
primeira vez, como uma manifestação da Arte pré-histórica. No Paleolítico Superior da Europa, foram
identificadas cinco srandes culturas pré-históricas, abaixo apresentadas:
Magdaleniense
Solutreense
Auriqnacience
Chatelperroniense
a.C.
Na verdade hoje se estima que a terra tem cerca de 4 Bilhões de anos e o Universo mais de 15 bilhões.
O PASSADO EGÍPCIO: TRÊS MIL ANOS DE HISTÓRIA
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MAR MEDITK.RRÂ.NKO
,mo, Alexandria*
A maior parte dos faraós desse período teve a sua capital em Mênfis, e foi nos desertos ocidentais próximos ao
Nilo que construíram os seus túmulos em forma de pirâmides. A primeira delas, feita pelo faraó Djoser, da III
Dinastia, em Saqqara, foi o monumento pioneiro em todo o mundo a utilizar a rocha como material de construção.
Seus sucessores, pertencentes à IV Dinastia, também foram construtores de pirâmides no platô de Giza,
próximo à atual capital do Esito, Cairo. As mais célebres são as de Queóps, Quefrem — que além de sua
pirâmide construiu também a srande esfinse — e Miquerinos. Ao redor das pirâmides desses srandes faraós
foram construídas as tumbas dos nobres e dos altos funcionários da corte, chamadas mastabas.
Nessa época, o faraó era considerado não só uma encarnação do deus Hórus na Terra, mas passou a ser
chamado de "Filho de Ré", o deus sol, o único proprietário das terras e das riquezas. Todos os domínios da
vida económica e social eram controlados por uma burocracia numerosa, dirisida por altos funcionários da
corte, muitos deles parentes próximos do faraó. O principal desses administradores era o "Vizir", uma espécie
de primeiro ministro, diretor dos tesouros e das obras do faraó. Ele controlava uma rede de escribas e
funcionários espalhados por todo o Esito.
Por fim, estava a srande massa de trabalhadores e camponeses responsável pela riqueza do país. O Antiso
Império foi para os esípcios uma época sloriosa, lembrada sempre pelos seus srandes feitos. Mas o poder
fortemente centralizado dos últimos reis da VI Dinastia terminou por sucumbir às pretensões e aos golpes dos
governadores das províncias.
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I PERÍODO INTERMEDIÁRIO: A QUEDA DO PODER CENTRAL
cerca de 2134-2040 a.C.
Com o fim do Antiso Império, o Egito entrou em um período conturbado. Os faraós que
•: • : i'" •'.". c : . e ; nício da XI Dinastia sucederam-se rapidamente, e nenhum
consesuiu se firmar no poder, sendo praticamente desconhecidos da História. A causa do
declínio pode ser atribuída às mudanças climáticas que trouxeram a seca e a fome ao Egito
:: - - z . . = : 3C ~r-"53oecimentodo Estado Faraónico.
Rapidamente o país se dividiu em principados rivais, situação que durou mais de um século.
A XII Dinastia terminou com o relativo declínio do poder faraónico e uma nova divisão do
país. Pouco se sabe acerca da XIII e XIV Dinastia, apenas que foram paralelas, governadas
por altos funcionários que se auto-intitulavam faraós. O enfraquecimento do poder central
permitiu a instalação, no Baixo Egito, de um povo vindo da Ásia, que lentamente se infiltrou
no Delta.- eram os hicsos, cujo significado pode ser traduzido como "Chefe dos Países
Estrangeiros". Uma invasão que, no início, foi pacífica, transformou-se mais violenta numa
segunda etapa, com a ocupação de Mênfis. As vitórias dos hicsos deram-se, em grande
parte, devido ao uso de carros de guerra puxados por cavalos, desconhecidos dos egípcios
até então. Os hicsos fundaram a capital em Aváris, no Delta oriental, criando as XV e XVI
Dinastias. Enquanto isto, surgia, em Tebas, uma nova dinastia puramente egípcia, que por
meio de sucessivas batalhas, derrotou os hicsos e expulsou-os do Egito.
O faraó Ahmósis expulsou os hicsos, reunificou as Duas Terras e fundou uma nova Dinastia, a
XVIII. Tebas voltou a ser a capital do Egito e iria colher os frutos do período mais rico da história
egípcia. Uma grande atividade arquitetônica teve início, principalmente em Karnak, o grande
centro de culto do deus Amon. A Núbia, que no II Período Intermediário havia se rebelado,
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seria reconquistada. As resiões da Palestina e da Síria passariam a ser submissas ao Egito.
Campanhas militares e comerciais garantiriam que as riquezas do Mediterrâneo Oriental
chegassem ao Egito. Numerosos estrangeiros entrariam no Egito como comerciantes e
soldados, introduzindo novas crenças e influenciando a arte. Em Tebas, à margem esquerda do
Nilo, os reis construiriam as suas tumbas escavadas no Vale dos Reis. No auge da glória da XVIII
Dinastia, surgiria um faraó que modificaria radicalmente o pensamento político e religioso:
Amenhotep IV promoveu o culto de um deus único, Aton, o disco solar. Este faraó mudou o
seu norge para Akhenaton e fundou uma nova capital, hoje conhecida como Amarna. Os
templos de Amon foram abandonados e suas imagens e nomes destruídos. Essas mudanças,
que parecem ser uma primeira tentativa de implantação de uma religião monoteísta da História,
não sobreviveram após a morte de Akhenaton.
Amarna foi abandonada e o seu sucessor, Tutankhamon, restaurou os antigos deuses e
voltou para a capital Tebas. Com a XIX Dinastia surgiram grandes faraós construtores de
grandes templos por todo o Egito, como Séthi l e, principalmente, o seu filho Ramessés II.
Este último, também foi um grande guerreiro, tendo lutado contra o Império Hitita que
ameaçava as fronteiras do Egito. O último grande faraó do Novo Império foi Ramessés III, da
XX Dinastia, que evitou que os Povos do Mar, filisteus e líbios, invadissem o Delta do Egito.
Progressivamente, o Egito perdia a sua influência no Oriente Próximo e os faraós
enfrentavam os sacerdotes de Amon na disputa pelo poder.
Sob os últimos Ramessés, uma crise económica e a fragilidade política conduziram a uma
divisão do poder entre os grandes sacerdotes de Amon em Tebas — que governavam o Alto
Egito — e uma dinastia de faraós, que governava a partir de uma nova capital, Tânis. Nas XXII e
XXIII Dinastias uma sucessão de militares líbios tornou-os faraós. Na XXV Dinastia, reis núbios
fizeram-se faraós e puseram fim à invasão assíria, que com Assurbanipal, havia saqueado Tebas,
profanado o Templo de Amon e incendiado a cidade. Sob o reino desses faraós africanos o
Egito buscou, na glória do passado do Antigo e Médio Império, inspiração para sua arte e
literatura. Da cidade de Sais, no Delta, surgiram os fundadores da XXVI Dinastia, que
reconstituíram a unidade do país e consolidaram a aliança com o mundo grego. Em seguida, o
Egito foi ocupado pelos persas, comandados por Cambises e Dario l, que também se fizeram
entronizar como faraós.
O Egito ainda conheceria um último período de independência com a XXX Dinastia, a
última Dinastia, que seria derrotada por uma segunda invasão persa. O libertador do Egito
- Alexandre, o Grande — que derrotou os persas, foi proclamado faraó e reconhecido
como Filho de Amon, e fundou uma nova capital às margens do Mediterrâneo, Alexandria.
Após a morte de Alexandre, um de seus generais, o macedônio Ptolomeu, herdou o Egito
e reivindicou a herança dos faraós. Por 300 anos a Dinastia dos Ptolomeus impôs ao Egito
uma administração baseada no modelo grego, porém sobre uma sociedade e população
egípcias. A língua, a escrita e a religião dos egípcios antigos permaneceram, principalmente
nos templos. A última soberana da Dinastia dos Ptolomeus foi Cleópatra VII que, com seus
encantos, conquistou Júlio César e Marco António. Com a sua morte, o Egito passou a ser
uma província do Império Romano.
Pelas mãos dos romanos o cristianismo chegou ao Egito, já no primeiro século. O
imperador Justiniano, em 543 d.C., ordenou o fechamento dos templos e a perseguição
aos sacerdotes, estabelecendo o cristianismo como a religião oficial do Egito. Em 639 d.C.
os árabes muçulmanos chegam ao Egito e o Islamismo tornou-se a religião oficial. Logo em
seguida foi fundada uma nova capital, o Cairo.
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OS HIERÓGLIFOS
O SISTEMA HIEROGLÍFICO
A escrita hieroglífica possuía 1200 sinais, dos quais 700 eram os mais frequen-
tes, e chegou a atingir mais de 7 mil sinais durante o Período Ptolomaico.
Existiam dois tipos principais de sinais: os que representavam sons
(fonogramas) formado por sinais que representavam de uma a quatro consoantes;
as vogais não eram escritas. A combinação desses sinais formava palavras.
Hieróglifo
Hieróglifo Linear Hierático Demótico
a»
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O segundo grupo era composto por sinais (desenhos) que correspondiam a uma palavra ou ideias completas
(ideogramas), isto é, a palavra era representada diretamente pela imagem do que deveria ser representado: por
exemplo o desenho de uma casa significa casa. Os egípcios antigos combinavam esses dois sistemas de escrita.
>
OS ESCRIBAS
Saber ler e escrever era essencial para a administração faraónica. Os registros de tudo o que era produzido, estocado e
comercializado, bem como acobrança de impostos e o pagamento pelos serviços, eram guardados em arquivos. Sendo
assim, aquele que sabia ler e escrever tinha um grande futuro a serviço do faraó. Nas escolas egípcias, chamadas "Casas da
Vida", os professores ensinavam o sistema hieroglífico e hierático por meio de cópias de textos mais antigos e de cálculos
matemáticos que os alunos deveriam fazer.
Uma vez terminada a formação, o jovem escriba poderia ocupar postos na administração das províncias ou da capital,
ou tornar-se sacerdote, médico, astrónomo ou arquiteto, completando os seus estudos nas escolas dos templos.
DTE 15 SÉCUL'
DESCODHECIDOS, flTÉ QUE €ÍTt 1822, UIT1 JOVEITl FBflnCÊS
CHflíTlflDO jEflíl-fCflnÇOIS CHflfTlPOLLIOn DESCOBBIU fl
CHflVE PflBfl DECIfBfl-LOS, UTILIZflnDO fl CÓPIfl DE UlTlfl
mscBiçflo flCHflDfl Em umfl ESTEIO conHEODfl como
PEDBfl DE BOSETTfl, QU€ POSSUÍfl O mESÍTlO TEXTO
ESCBITO Em EGÍPCIO í GBEGO, E QUE UTILIZflVfl TBES
ESCBITflS: O HlEBÓGLIfO, O DEfTlÓTICO E O GBEGO.
Os EGÍPCIOS ESCBEViflm os nomES DE SEUS FflBflós E
BEIS DEHTBO DE BETflHGULOS COm OS CflílTOS
flBBEDOnDflDOS, QUE CHflmflmOS DE CflBTUCHO.
CHflmPOLLIOn COmEÇOU IDEmiFICflODO flS LETBflS DE
DtriTRO DOS CflBTUCHOS, COITlPflBflnDO-flS COm OS
RELIGIÃO EGÍPCIA
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flS TIBflS SflO UmEDECIDflS COm flGUfl £ SOBB£
ELflS É COLOCflDO Um PESO. DEPOIS DE SECflS, O
PESO É BEmOVIDO E flS FIBBflS FICflm COLflDflS UÍTlflS
dade e sincretismo, isto é, a capacidade de se associarem
uns com os outros, dessa forma, um deus ou deusa poderia
emprestar o seu nome e os seus atributos a outros deuses,
flS OUTBflS. BTflS FOLHflS EBflfTl COLflDflS EnTBE SI
somando, assim, as forças, e aumentando o seu poder.
FOBITlflnDO BOLOS, UTILIZflDOS PELOS ESCBIBflS QUE Assim, ísis, por exemplo, poderia associar-se a Háthor, e
USfiVflíT) Tinifl PBETfl E VEBITIELHfl. esta com Sekhmet, ou Hórus e Amon associarem-se a Ré.
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A MORTE E OS MORTOS
tânfrtâi
PflBfl os EGÍPCIOS flrrriGOS TUDO o QUE nriHfl VIDÍI EBfl fOcmflDO POB um
COBPO E POB Um ESPÍBITO. €ST£ ESPÍBITO SE DIVIDIfl fíTI DUflS PflBTES PBinCIPflIS:
CflBEÇfl HUmflOfl. €Bfl LIVB£ PflBfl IB flORDE QUISESSE flPÓS fl mOBTE. PODEBIfl
Os esípcios antigos acreditavam em uma outra vida após a morte, mas para que esta outra vida pudesse
existir era necessário manter viva a lembrança de quem foram e de como viveram. Uma das formas
encontradas para manter esta lembrança foi a de se preservar o corpo, evitando a sua decomposição.
Os primeiros egípcios perceberam que os seus mortos enterrados nas areias quentes do deserto secavam e
conservavam a sua aparência. Desta forma, criaram uma técnica que permitia a secagem do corpo e a sua
conservação, cujo nome é conhecido atualmente como mumificação.
Quando uma pessoa morria, a sua família levava o corpo a um grupo de sacerdotes especialistas na arte da
mumificação. Toda a operação era feita em uma tenda chamada de "Tenda da Purificação" ou "Bela Casa", na
qual o corpo era colocado sobre uma mesa grande e estreita. Existiam vários processos de mumificação,
escolhidos conforme os recursos das famílias.
No sistema mais aprimorado e caro, os sacerdotes usavam um instrumento com a forma de gancho para
retirar o cérebro pelo nariz, em pedaços pequenos, que eram jogados fora ou dados para que os gatos
comessem. Em seguida, o interior do crânio era lavado com óleos perfumados e enchido com resina.
Um corte era feito no lado esquerdo do abdómen, perto do umbigo, por onde as vísceras do corpo eram
retiradas, cuidadosamente lavadas, secas e enfaixadas para, finalmente, serem guardadas em quatro vasos
chamados canopos.
O interior do corpo era limpo e preenchido com sal de natrão e resinas perfumadas. Depois, todo o corpo
era coberto de natrão e deixado para secar por aproximadamente quarenta dias. Quando bem seco, o corpo
era limpo e estofado com tecidos ou serragem, e olhos feitos em pedra ou cebolinhas eram colocados nas
órbitas para dar uma aparência viva ao morto. O corpo era, então, todo enrolado com tiras de tecido.
Como era utilizado muito tecido para enrolar o corpo, os familiares levavam frequentemente aos sacerdotes as
roupas do morto ou qualquer outro tecido disponível. Até mesmo velas de barcos eram usadas para esse fim.
Muitos amuletos, de várias formas e materiais, eram colocados entre as faixas, e nelas, encantamentos e
orações eram escritas para proteger a múmia dos maus espíritos em sua viagem ao Mundo dos Mortos.
Durante todo o processo de mumificação um sacerdote, usando uma máscara de chacal representando
Anúbis — o deus condutor das almas dos mortos —, recitava orações.
Após o corpo ter sido todo enfaixado, a cabeça da múmia era coberta por uma máscara que representava
o rosto do morto, e então, ela estava pronta para ser colocada em um caixão, com a forma e a aparência do
morto, e decorado com textos e imagens de deuses.
Dentro do caixão, junto com a múmia, ia um livro escrito em um rolo de papiro com orações e fórmulas
mágicas, chamado de "Livro dos Mortos".
Após todo esse preparo, a múmia, já dentro do caixão, estava pronta para receber as últimas
homenagens de seus parentes e ser colocada dentro de seu sarcófago, em pedra, no interior sua
tumba, lacrada após o funeral.
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mflioc o númEco DE PEOIDOS comETioos E cflso ISTO ncoriTECESSE, o cocflçfio EC« Dfloo fl um monsTco (pflCTE mpopÓTflmo, pflBTE LESO E pflDTE
CDOCODILO) OUE o comifl, TCflnsfocmflnoo fl flLmfl Em um Fflnmsmfl concEnfloo fl nfio Enrcflc nfl OUTM viofl. ÍTlfls SE o cocflçflo FOSSE LEVE, ISTO
E, LIVCE DE CBIÍT1ES, fl flLITlfl ECfl flCEITfl RO CEIRO DO DEUS OSÍCIS E VIVECIfl DE flLEGCIflS Em Umfl ESPÉCIE DE PflCflíSO, FOCmflDO POC CflmPOS VECDES
CHEIOS DE flnimflis E ORDE SE EnconTCflcifl com SEUS flmiGos E pflremEs, VIVEODO JURTO «os DEUSES.
Ao lonso de sua história os esípcios antisos construíram uma srande variedade de túmulos,
desde simples covas no deserto — onde os corpos não mumificados das pessoas humildes eram
enterrados com poucos objetos pessoais — até as sisantescas pirâmides feitas para os faraós.
Todas as tumbas tinham em comum a função de proteser o corpo ou a múmia do morto,
Suardar seus bens valiosos e queridos e servir de local de culto, onde os familiares faziam as suas
orações e traziam oferendas para o espírito do morto (/Cá).
As tumbas ou "Casas da Eternidade", como eram chamadas, sempre foram construídas na
resião desértica, fora dos campos férteis, e preferencialmente na marsem esquerda do Rio Nilo,
isto é, a oeste, onde o sol se põe todas as tardes, resião esta considerada "A Terra Sasrada", a
entrada para o Mundo dos Mortos, uma vez que os esípcios antisos acreditavam que o deus sol
viajava pelo céu em um barco e com ele iam os espíritos dos mortos até o poente.
Os esípcios antisos tiveram muitos tipos de túmulos. Durante o Antiso Império a forma mais
usada para o sepultamento dos reis e dos nobres era uma tumba de formato retansular, seme-
lhante a um srande caixote feita de blocos de pedra, conhecida como mastaba. No seu interior
havia salas decoradas e estátuas do morto, além de um poço que levava a uma sala subterrânea
onde ficava o sarcófaso, com a múmia e os bens pessoais. O poço era lacrado após os funerais,
deixando-se abertas somente as salas superiores para as ocasionais visitas dos parentes do morto.
O arquiteto Imhotep baseou-se na forma da mastaba para idealizar a construção da
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primeira pirâmide, feita para o faraó Djoser da III Dinastia. Partindo inicialmente de uma grande mastaba
ele acrescentou mais cinco, uma sobre a outra, de tamanhos decrescentes, formando um tipo de esca-
daria que levaria o espírito do faraó morto ao .céu. Sob a pirâmide ficavam os poços e as salas para a
múmia do rei e seus pertences.
A ideia de uma pirâmide como túmulo real foi aperfeiçoada pelo faraó Snefru da IV Dinastia, pai do futuro
faraó Queóps. Snefru ordenou que as faces da sua pirâmide fossem lisas, substituindo a ideia de uma escada-
ria gigantesca pela representação dos raios do sol que iluminavam os quatro cantos do mundo, formando uma
pirâmide. Assim, foi construída a primeira pirâmide "verdadeira".
A forma da pirâmide foi mantida pelos faraós seguintes na construção de seus túmulos e também no de
suas rainhas. As mais famosas de todas são as que se encontram no platô de Giza, construídas para servirem
de túmulos para os faraós Queóps, Quefrem e Miquerinos.
As pirâmides tinham um grande incoveniente: elas atraíam 05 ladrões de túmulos que sabiam que, em seu
interior, haviam sido enterradas as riquezas do faraó. Desse modo, após construírem mais de 90 pirâmides, os
faraós abandonaram-nas e passaram a fazer seus túmulos escavados no interior da montanha, em um vale no
deserto de Tebas (atual Luxor) conhecido como "Vale dos Reis".
Cada faraó mandava seus trabalhadores escavarem corredores e câmaras na rocha. Ao contrário das salas e
corredores das pirâmides — que não eram decorados —, estes novos túmulos tinham as suas paredes deco-
radas com cenas religiosas, mostrando o faraó sendo recebido no Mundo dos Mortos. Junto às cenas eram
escritos textos religiosos.
Aproximadamente foram escavados no "Vale dos Reis" aproximadamente 60 túmulos reais. Embora o local
tenha sido escolhido para proteger as tumbas dos ladrões, somente o túmulo do faraó Tutankhamon foi
encontrado selado, guardando ainda os seus tesouros e a sua múmia por mais de 3 mil anos.
ÊSFIÍ1GÉ 'DRÕÉSDÉTUÍTIULO:
Jumo fls piBflmiDES, no pifliô DE O BOUBO D€ TÚmULOS TEVE IDÍdO Jfl
COmO flLVO PflBfl EXEBCÍCIOS DE TIBOS UlTlfl LISTfl DOS PBOVflVEIS LOCflIS OnDE
à
A TERRA ENTRE RIOS
k
A aridez e a falta de água foram decisivas para o tipo de povoamento da
região, marcado por grupos nómades que transitavam pelos desertos. Mas
na Mesopotâmia, a fertilidade trazida pelas cheias dos rios permitiu e
estimulou uma concentração mais duradoura no território, baseada numa
Ho OBIEPITE Pcóximo c
economia de produção, na criação de animais e na agricultura.
no ÉGITO siTUflm-sf.
Tanto o Eufrates quanto o Tigre nascem nas terras altas da Arménia (atual
VflBIOS BIOS QU€
Turquia) e correm para o sul, até se juntarem e desaguarem no Golfo Pérsico
FOBÍTlflíTl VflLES f.
(na Antiguidade, o mar avançava bem mais para o norte e os rios
GflBflnTÉfn fl flGUfl € fl
desembocavam separadamente no Golfo).
F€BTILIDflD€ DO SOLO
As cheias decorriam do derretimento da neve nas montanhas e das
Pflfifl flS POPULflÇÕB
chuvas no norte, e chegavam ao ponto mais alto entre abril e maio, deixan-
LOCflIS. ÉSTflS BEGIÕfJ, fl
do em seu caminho um aluvião rico em fertilizantes naturais. No entanto,
B€IBfl DOS BIOS TlGB€ £
este regime de cheias se caracterizava pelo descompasso com o calendá-
EufBflTes, OBonrts,
rio agrícola: no momento das cheias, as sementes já tinham sido plantadas
JOBDflO € ÍIlLO, SflO
e estavam em pleno desenvolvimento. Por este motivo, era preciso
conHEciDfls como
proteger as plantações através da construção de diques, além de também
'CBF.scF.nTf. FF.BTIL'.
ser necessário armazenar a água para o período de seca, quando se tinha
de preparar o solo para o plantio. Assim, o importante sistema de irrigação
sempre foi uma das características básicas da paisagem económica
mesopotâmica. Os trabalhos hidráulicos eram feitos, desde muito cedo,
pelas próprias famílias ou pelas comunidades das aldeias. Mais tarde, os
templos e palácios também atuaram de modo a organizar as pessoas e os
materiais necessários à abertura e à limpeza dos canais, à construção de
barragens etc. Os rios também foram um importante fator de comunicação
entre as várias regiões, sevindo como vias de transporte.
21
O povoamento e as transformações sociais
A ocupação humana do território mesopotâmico remonta à Pré-história, em que grupos nómades de caçadores
e coletores transitavam. A presença mais fixa e constante do homem no norte da região, local onde era possível
realizar o cultivo sem irrigação, usando apenas a água das chuvas. Por volta de 6.500 a.C, algumas comunidades já
plantavam e colhiam o seu próprio alimento. O povoamento do sul demorou mais, possível apenas a partir da
utilização de técnicas de irrigação para o controle das águas, há cerca de 5.000 a.C.
A passagem para a vida agrícola.foi lenta, gradual e nunca totalmente completa, pois os antigos meios de
garantir a sobrevivência através da'caça e da coleta persistiram. Muitas vezes, o processo foi interrompido e
comunidades inteiras voltaram ao antigo modo de vida. De qualquer maneira, a agricultura significou que uma
parcela da humanidade deixou de se sustentar apenas com o que a natureza oferecia, passando a interagir
de modo produtivo com o meio ambiente. A base da agricultura mesopotâmica estava no plantio de grãos,
especialmente cevada, cereal resistente à salinização, problema constante na região. A cevada servia à
fabricação do pão — base da alimentação — e da cerveja, principal bebida alcoolizada. O sésamo também
teve lugar de destaque, sendo utilizado na produção de óleo. Das culturas especializadas, as tamareiras
foram predominantes na paisagem.
A domesticação dos animais — iniciada na região por volta de 7.500 a.C. — foi um passo igualmente
importante para a consolidação das sociedades mesopotâmicas. A criação de ovelhas, cabras e porcos
forneceu carne, leite, lã, couro, além de auxílio à agricultura, pois o gado miúdo era usado para pisotear e
enterrar as sementes. O boi foi usado sobretudo como animal de tração, puxando arados e carroças. O
onagro, o asno e a mula foram os principais animais de transporte. O dromedário e o cavalo difundiram-se
mais tarde, sobretudo no primeiro milénio a.C.. O cachorro foi um dos primeiros animais a ser domesticado e
esteve intimamente ligado ao pastoreio de rebanhos.
Várias alterações na cultura material mesopotâmica no final da Pré-história estão ligadas à transição para a
agricultura, como a invenção e difusão da cerâmica. Com a abundante argila da beira dos rios, os homens
começaram a produzir vasos, jarros, urnas funerárias e estatuetas de seus deuses. Desde cerca de 6.500 a.C., a
cerâmica aparece na forma de recipientes toscos, moldados à mão e mal cozidos. Mais tarde, por volta de
4.500 a.C., a cerâmica já era moldada em um torno, e o cozimento passou a ser mais apurado. Os objetos de
cerâmica foram usados abundantemente na vida cotidiana tanto para armazenar e transportar água e alimen-
tos quanto para o cozimento.
lomflDismo
USO DO COBBE
flGBICULTUBfl POB IBBIGflÇflO
PBIfTlEIBOS TEÍT1PLOS
OCUPflÇflO DO SUL
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.BECimEriTO Dfl ESCBITfl
A metalursia também alterou profundamente a base material da civilização mesopotâmica, até então
limitada ao uso da pedra, madeira, fibras, ossos e couro. A partir do sexto milénio a.C. o cobre já era
utilizado para a fabricação de utensílios e armas, sendo 1030 aprimorado com o acréscimo de estanho, que
formava uma lisa de bronze, bem mais resistente. O ferro só se difundiria mais tarde, por volta de 1.300 a.C..
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ÍTlESfl D€ OfEBEnDflS.
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Se, no início, os templos agiram como organizadores dos interesses da comunidade, com o tempo
transformaram-se em organizações que centralizavam grande parte do poder, a tal ponto que alguns autores
sugeriram que, durante o terceiro milénio, as cidades sumérias foram dominadas pela estrutura do Templo-
Estado, que controlava grande parte das terras, da mão-de:obra e dos recursos naturais — em particular a
água —, tendo igualmente uma enorme influência política e cultural.
Paralelamente, o palácio surgiu como um centro de poder e, durante o terceiro milénio, caracterizou-se
como uma estrutura autónoma com relação aos templos. A figura do rei consolidou-se como chefe político
legitimado pelos deuses e seus sacerdotes. A monarquia — de origem divina, na qual o poder era transmitido
por via dinástica — foi a forma corrçnte do poder mesopotâmico.
Ao contrário do Egito, cuja unificação se processou bastante cedo, as cidades-reinos mesopotâmicas
formavam um quadro fragmentado, cada qual com seu próprio território e seu soberano. Muitos movimentos
de expansão levaram a tentativas de unificação de regiões mais vastas, mas elas foram efémeras e a
pulverização foi a regra.
O aparecimento da escrita
As sociedades mesopotâmicas — que conheceram alguns processos dos primordiais da história da huma-
nidade, como a agricultura e a urbanização — foram também as primeiras a desenvolverem um sistema de
escrita, isto é, a de notação da língua falada. Mas a escrita não foi um invento instantâneo. Pelo contrário, foi o
resultado de um longo processo em que se buscava uma forma de registrar e comunicar informações.
As transformações sociais na fase final da Pré-história
fizeram com que as tarefas cotidianas se tornassem mais
complexas: as relações sociais, que antes eram mais
diretas e simples, passaram a ser mais ramificadas,- as
formas de contato social tornaram-se mais diversificadas
e nem sempre se realizavam face a face, implicando a
existência de agentes intermediários. Por outro lado, as
grandes organizações complexas que surgiram, como os
templos e os palácios, tinham necessidade de controlar
a produção, o emprego da mão-de-obra, a circulação
de bens e os contatos com a sociedade. Em seus
primórdios, os sistemas gráficos que surgiram no Oriente
Próximo procuravam responder àquelas exigências
resultantes de um novo contexto social; visavam, sobre-
tudo, fornecer um mecanismo eficiente de controle das
Tokens, cerca de 3.200 a.C. informações que pudesse ser compartilhado socialmen-
(Museu Nacional de Alepe) te. Nesta fase, não havia nem mesmo uma relação ime-
diata e imutável entre um sistema gráfico e uma língua
específica. A produção de textos propriamente ditos só
se daria numa fase mais tardia desse longo processo de
aquisição de instrumentos de comunicação.
Nas últimas décadas, muitos pesquisadores propuseram
uma relação genética entre a escrita cuneiforme e alguns
sistemas pré-históricos de registro e contagem. Numa
primeira etapa, desde 8.000 a.C., vários pequenos objetos
modelados em argila ou, mais raramente, confeccionados
em pedra, podem ter sido usados como dispositivos de
registro e de transmissão de informação. Durante milénios,
estes pequenos objetos (chamados tokens) conservaram
formas simples e lisas, em gera geométricas (cones,
esferas, discos, cilindros etc). No quarto milénio a.C.,
Bullae com impressões na superfície, cerca observamos uma grande diversificação das formas e um
de 3.200 a.C. (Museu Nacional de Alepe) acréscimo de detalhes (incisões, perfurações), que deram
origem aos tokens com plexos. Pretendia-se que esses objetos
servissem de sistema de controle e de cômputo, representando, por
exemplo, bens em circulação. Ainda durante o quarto milénio, os
tokens passaram a ser envelopados em recipientes esféricos de
argila, conhecidos como 'bullae, o que permitia um maior controle
físico das peças, facilitando a contagem e o armazenamento de
informações representadas por um conjunto de tokens.
Um passo decisivo em direção à escrita foi dado quando a
superfície das bullae passqu a ser impressa com os tokens que ela
continha: os pequenos objetos eram, pressionados na argila ainda
fresca, deixando sua marca. Este procedimento permitiu, mais tarde,
que os próprios tokens fossem dispensados e que se desenvolvesse
um sistema em que o registro fosse feito pelo desenho de imagens
na superfície da argila, agora já na forma de tabletes. As primeiras
notações misturaram sinais numéricos e desenhos de bens (grãos,
cabeças de gado, jarros de óleo ou cerveja, etc), formando um
sistema de contabilidade.
A escrita cuneiforme
A palavra latina cuneus significa "cunha". A escrita cuneiforme foi assim chamada devido ao aspecto dos
sinais em forma de cunha que a compõe. No início, o sistema era fundamentalmente pictográfico e os sinais
procuravam representara aparência daquilo que se desejava representar: o desenho de uma mão significava
"mão"; de um galho de cereal significava "cereal" ou "grão". Mas, mesmo nesta fase, muitos sinais eram
bastante abstratos, como, por exemplo, uma cruz dentro de um círculo, que indicava "ovelha". Após esta
etapa ideográfica, os sinais passaram a indicar ideias mais abstraías: o sinal da mão poderia indicar também
"força", ou compor a forma verbal "receber".
Mais tarde, durante o III milénio a.C., os sinais foram se tornando cada vez mais esquemáticos, adquirindo
um aspecto propriamente cuneiforme e ganhando valores fonéticos (ba, ab, bab). Assim, a mão, que em
sumério se lia "shu", deu origem a sinais que poderiam ser lidos como o fonema "shu", mas também "qaf ou
"qad". A escrita passava a se tornar predominantemente fonética, mas os ideogramas continuaram sendo
usados. Por exemplo, a palavra "sharrum", que indica "rei" podia ser escrita foneticamente:
Mas o título "rei" também pode ser representado por um ideograma formado por '7/7' (homem) e "gaf (grande):
= homem
A cultura material mesopotâmica teve como matéria-prima essencial a argila, abundante nos vales. Ela foi a
base das construções arquitetônicas, templos, palácios, zigurates, residências, e serviu para fabricar o
principal suporte para a escrita: o tablete. Existiam também gravações em pedra e metal, mas o tablete de
argila gravado com a ajuda de um cálamo foi o veículo essencial da escrita cuneiforme.
Além dos sumérios, babilónios e assírios, várias outras populações utilizaram o sistema cuneiforme para
registrar suas línguas: hititas, hurritas, elamitas, persas etc.
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As sociedades mesopotâmicas foram as primeiras a utilizar
amplamente a escrita, embora o domínio da técnica de ler e de escrever
tenha permanecido extremamente limitado. Para todos os efeitos,
estamos face a uma situação em que os escribas eram os detentores de
um saber de elite, muitas vezes quase esotérico, colocado sob a
proteção de um deus, Nabu, filho de Marduk. Normalmente, os escribas
CflBECfl momflnHfl
sinflL fl&cflico )J
c. 3.500 fl.C
5UÍT1EPIO
c. 2.500 fl.C.
BflBILÔniCO flnilGO
c. 1.800 fl.C.
mÉDio-flssÍBio
c. 1.100 fl.C
nEO-flssieio
c. 750 fl.C.
Um OUTPO TIPO DE OBJETO 5UPGIDO EÍT1 ÍDEIO fl ESSE ÍTIESmO PBOCESSO DE flUÍTlEriTO Dfl COITlPL€XIDflDE SOCIflL
fOI O SiriETE, USflDO PflPfl ESTflíTlPflP IfTlflGEnS Em SUPEPFICIE5 ÍTIflLEflVEIS. FEITOS, Em GEPflL, EIT1 PEDPfl, E GPflVflDOS
com imflGEns, os smETES supcipflm no sÉrimo miLÊnio fl.C.. PosTEPiopmEnTE, no ouflcro milénio, SEU
DESEnVOLVimEHTO DEU OUIGEÍTI fl Um SELO TIPICflíTlEnTE mESOPOTflíTIlCO, no FOPÍTlflTO DE CILinDPO. OS SELOS-
ciiínDcicos conHECECflm umfl LflCGfl pcoEusflo E SEU uso ESTEVE inTimflmEnTE flssocmoo flos TOBLETES
cunEiEocmEs: ELES ECflm coLfloos SOBPE fl flcciLfl Pflcfl DEixflp sufl impcEssflo, SEJfl POC cimfl Dfl pcópcm
ESCPITUCfl, SEJfl 5OBBE ESPflÇOS CESEDVflDOS PflCfl fl SELflGEITl nO TflBLETE. €m GECflL, O SELO SEPVIfl PflCfl COnFECIE
LEGiTimiDflDE fl umfl Tuflnsflçflo, Pflcfl confi&mflB um TESTEmunno Em PDOCESSOS ou conT&flros, ou Pflcfl Ficmflc
um compromisso (o pflGflmEnro DE umfl oíviofl ou fl CEflLizflÇflo DE umfl flLiflnçfl DE cflSflmEnTO, POP
EXEmPLO). (TlflS fl SELflGEm TflfTlBÉm EPfl USflDfl PflCfl LflCBflD CECIPIEnTES OU LOCflIS: OS SELOS EBflm imPCESSOS E(T1
ETIQUETflS DE flBGILfl QUE DEVECIflm GflDflnTIP fl IHVIOLflBILIDflDE DE Um CESTO OU DE UíTlfl POPTfl, POC EXEPTIPLO.
Os SELOs-ciLÍnoeicos pooiflm conTEC imflGEns ou insccições (nocmflLmEnTE, nfl focmfl: X FILHO DE y,
SEPVIDOB DO DEUS 1) OU flíTlBflS. Um SELO-CILÍnDBICO EM IGUflLfnEnTE Um OBJETO DE PPESTÍGIO, POIS OS ÍTlflTEPIfllS
USflDOS EPflm CflPOS (HEmflTITfl, LflPIS-LflZÚLl) E fl COnFECÇflO PODIfl SEU ÍDUITO DEFinflDfl, EXIGIHDO Um flPTESflO
HflBILIDOSO. flLGUnS SELOS COnTinHflm PPECES DE PPOTEÇflO flO SEU DOnO, flOQUIDinDO O VflLOP DE UÍT) TflLISmfl.
ílflO ECfl PflCO Um SELO-CILÍnDPICO SED PflSSflDO Em HEPflnÇfl D£ Pfll PflCfl FILHO, USflDO POP ESTE PflPfl SELflP SEUS
PPÓPPIOS DOCUITlEnTOS. OUTPOS FOPflm EnCOnTCflDOS Em TUITlBflS, flO LflDO DO mOBTO.
Foto: Wagner de Souza e Silva MAE/USP
Homem
portando selo.
Fonte: Mesopotâmia e
o Antigo Médio
Selo-cilíndrico. Na imagernj o herói aparece Oriente, Vol. l.
Michael Roaf, Edições
combatendo uma fera. (Acervo MAE/USP) dei Prado, pa$. 71.
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Universidade de São Paulo
Texto Científico:
Levy Figuti (Pré-história Europeia)
António Brancaglion Júnior (Egito)
Marcelo Aparecido Rede (Mesopotâmia)
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