Instituto de Educação à Distância
O papel da sociedade Civil na Promoção da Boa Governação
Victor Agostinho- Código: 708238850
Curso: Administração Publica
Cadeira: Gestão G. Participativa
Ano de Frequência: 3º ano
Turma: I
Nampula, Maio de 2025
1
Índice
Introdução…………………………………………………………………………………….3
Objectiva pesquisa……………………………………………………………………………3
Metodologia da pesquisa……………………………………………………………………..3
Marco Teórico………………………………………………………………………………...4
Governação…………………………………………………………………………………...4
Boa Governação………………………………………………………………………………5
Princípios da Boa Governação………………………………………………………………5
Monitoria……………………………………………………………………………………...9
As Organizações da Sociedade Civil em Moçambique…………………………………….9
Relação entre as Organizações da Sociedade Civil e o Estado…………………………...10
Acção da Sociedade Civil no Processo da Governação Local……………………………11
O Papel dos Actores Envolvidos no Processo de Monitoria da Acção Governativa……12
Considerações finais………………………………………………………………………...13
Referências Bibliográficas………………………………………………………………….14
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Introdução
A pesquisa que doravante é apresentada insere-se no âmbito de um trabalho avaliativo da
Cadeira de Gestão e Governação Participativa do Curso de Licenciatura em Administração
Pública na Universidade Católica Moçambique. Atrelado ao tema “O papel da da sociedade
Civil na Promoção da Boa Governação: Um Olhar Analítico sobre a intervenção da Liga das
ONG’s em Moçambique”, este estudo procura fazer uma análise do papel das Organizações
da Sociedade Civil na luta pela monitoria da acção governativa no âmbito da democracia
deliberativa em Moçambique.
Este trabalho é o precursor. Existem diversos artigos e teses sobre temas relacionados papel
da sociedade Civil na Promoção da Boa Governação, tais como Governação, Boa
Governação, Princípios da Boa Governação, etc.
Objectiva pesquisa:
Geral
O papel da sociedade Civil na Promoção da Boa Governação.
Específicos
Falar do papel da sociedade Civil na Promoção da Boa Governação;
Descrever a boa Governação;
Princípios da Boa Governação.
Metodologia da pesquisa:
O presente trabalho trata de uma revisão integrativa da literatura um meio de pesquisa que
permite sintetizar estudos na intenção de aumentar o entendimento sobre um fenómeno
específico, através de um método sistemático na busca e análises, de modo a proporcionar
uma interpretação e investigação crítica dos conteúdos.
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Marco Teórico
Conceptualização
Esta secção apresenta os principais conceitos-chave para a percepção e o desenvolvimento da
pesquisa.
Governação
Governação é geralmente entendida como um sistema de valores, políticas e instituições,
através dos quais uma sociedade gere os seus negócios públicos, económicos e sociais, por
via da interacção entre o Estado, a SC e o mercado/sector privado. Dito de outra forma, a
Governação é o processo de tomada de decisões e o meio através do qual as decisões são ou
não implementadas. Nestes termos, as instituições públicas conduzem os assuntos públicos,
gerem os recursos públicos e garantem a realização dos direitos humanos. Por sua vez, a Boa
Governação materializa esse fim de uma forma que é essencialmente livre de abuso de poder
e de corrupção, obedecendo devidamente às normas de direito estabelecidas.
Para MASC (2010, p. 15), governação é o exercício da autoridade económica, política e
administrativa para gerir os interesses do país a nível nacional, provincial, distrital e
municipal.
Alcántra (1998, p. 8) utiliza o termo Governance para se referir à Governação. Para este autor
a Governance é um instrumento para conceber um sistema mais efectivo de autoridade e
regulação no quadro da economia global, o que aventa ser a precondição para a sobrevivência
da democracia nos Países em vias de Desenvolvimento (PvDs). Esta autora concebe
governação como a reinterpretação da agenda neoliberal para as instituições internacionais
apoiarem o investimento público-privado nos PvDs.
Por sua vez, Pereira (1998, p. 40) defende Governação como um Estado, quando seu governo
tem as condições financeiras e administrativas para transformar em realidade as decisões que
toma.
Já para Gonçalves (2011, p. 2), a Governação evidencia-se como meio e processo capaz de
produzir resultados eficazes. Noutras palavras, a governação refere-se ao modus operandi das
políticas governamentais - que inclui, dentre outras, questões ligadas ao formato político-
institucional do processo decisório, a definição do Mix apropriado de financiamento de
políticas e ao alcance geral dos programas.
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Boa Governação
Boa Governação refere-se à um conjunto de normas de condutas ou de gestão de uma
determinada organização ou instituição.
A Boa Governação é também considerada a habilidade de: garantir a transparência e
participação, providenciar a eficácia e eficiência na prestação de serviços ao público,
promover o bem-estar e de criar um clima favorável para o crescimento económico.
Analisadas as definições acima, pode-se concluir que as várias definições apresentadas
reflectem elementos que nos permitem descrever a Governação como sendo um conjunto de
políticas, regras, e estruturas que são utilizadas para dirigir e controlar as actividades de
uma organização, alcançar os seus objectivos e monitorar as suas actividades, de modo a
proteger os interesses dos seus membros de uma forma consistente, ética e legal.
Princípios da Boa Governação
A Boa Governação é um sistema cuja adopção resulta na aplicação de vários princípios,
sendo, entre eles, os mais importantes para este estudo, os seguintes:
Princípio da Legalidade
Se por um lado a Governação está ligada à ideia de uma gestão transparente para o alcance
dos objectivos da associação, por outro, a Boa Governação opta por um sistema de gestão que
privilegia o uso de instrumentos legais (lei, Estatutos e regulamentos), para compatibilizar os
interesses da organização, dos seus membros e da comunidade que a associação serve.
De acordo com o princípio da legalidade, a associação deve seguir e cumprir as regras
definidas nos instrumentos legais relativos à sua constituição, à sua estrutura e ao seu
funcionamento, para que seja possível implementar um sistema de gestão que aplique uma
Boa Governação (Lewis, 2002).
Moçambique possui um conjunto de Leis e Decretos que regulam a constituição e o
funcionamento das associações:
A Lei nº 8/91, de 18 de Julho - regula o direito à livre associação, também designado
Lei das Associações (“LA”);
O Decreto 55/98, de 13 de Outubro cria o quadro legal que define os critérios da
autorização, objectivos a atingir e mecanismos da actuação das ONG’s Estrangeiras;
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O Código Civil (“CC ”); e
O Decreto 37/2000, de 17 de Outubro estabelece os requisitos e procedimentos para a
declaração de utilidade pública das associações.
Princípio da Equidade
O que significa a equidade? Que todos os membros, trabalhadores, doadores e beneficiários
das intervenções de uma determinada associação devem ser tratados de forma justa e
imparcial, o que significa que não devem existir dentro da associação atitudes ou práticas de
discriminação e que a mesma deve obedecer e seguir práticas de gestão de recursos humanos
que permitam tratar a todos de forma igual (MMM,2010,p.243).
Princípio da Prestação de Contas e Responsabilização
Este princípio implica que todos aqueles que possuem responsabilidades dentro da
associação, e todos aqueles que tenham sido nomeados para realizar alguma tarefa devem
responder e prestar contas em relação a todas as suas acções, principalmente àqueles que os
elegeram.
Princípio da Ética
A ética compreende um conjunto de regras e princípios que procuram estimular e criar
valores comuns aos membros de um grupo. No caso de uma associação, a ética representa a
forma pela qual, as normas morais de cada um se aplicam às actividades e aos objectivos da
associação e reflecte as escolhas que os membros da mesma fazem no que diz respeito às suas
próprias actividades e às dos restantes elementos da associação (Arraujo,2014).
Porque é que a ética é importante na gestão de qualquer associação? Porque através dela se
pode evitar a prática de qualquer forma de acções consideradas ilícitas, tais como a
corrupção, o suborno, e até mesmo as situações em que algum membro ou funcionário da
associação pretenda utilizar os recursos da associação para o seu benefício próprio.
É importante referir que, por um lado, a Boa Governação só é autêntica numa associação que
adopta e dissemina os princípios éticos, e, por outro, para que uma associação seja ética, ela
deverá seguir os caminhos da Boa Governação (CCD,2014,p.25).
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Princípio da Transparência
A transparência é um mecanismo que implica que as decisões dentro de uma associação
sejam tomadas e colocadas em prática de acordo com as regras definidas e que a informação
esteja disponível e directamente acessível para aqueles que sejam directamente afectados por
tais decisões (Nuvunga,2013).
Lado a lado com a ética, é um pilar para a gestão da organização a todos os níveis de
funcionamento e de relações que existem dentro dela. Este princípio valoriza a uniformidade
e a transparência na divulgação de todas as informações internas e externas da associação, de
modo completo, preciso, oportuno e que seja compreensível para todos os seus membros e
trabalhadores.
Mais do que a obrigação de informar, a associação deve cultivar o desejo de informar, pois é
através da boa comunicação interna e externa, particularmente quando é espontânea, franca e
rápida, que nasce um bom clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações da
associação com o Estado, com a comunidade, com os doadores, e com outras partes
interessadas (CCD,2003,p.34).
Por exemplo, se ao fim de um ano de actividades, a associação publicar um relatório que
indique:
a quantidade de recursos/meios que entrou na associação;
a quantidade de recursos/meios que foi utilizada;
como esses recursos foram utilizados; e
as actividades que foram realizadas.
Os trabalhadores são obrigados a tornar-se mais responsáveis no seu trabalho, mas,
principalmente, afasta qualquer suspeita de a associação estar a utilizar os recursos e meios
recebidos para alcançar outros objectivos diferentes daqueles indicados ou para realizar
actividades diferentes daquelas que foram planificadas. A transparência é muito importante,
porque permite que os outros princípios de Boa Governação ganhem mais força e peso.
Organizações da Sociedade Civil
A Sociedade Civil pode ser entendida, em primeira instância, como o conjunto das
organizações e instituições que aparecem de forma voluntária com os mesmos objectivos.
Assim, entende-se por SC a arena da sociedade da família, do mercado e do Estado, onde as
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pessoas se associam para realizar interesses, não só interesses comuns, mas também
aspirações e interesses particulares ou mesmo privados.
Porém, de acordo com Serra (2001), quando se fala de SC faz-se alusão a um conjunto de
instituições e actores vivendo à margem de um Estado definido como privador por uns e
como redistribuidor por outros.
Entretanto, outros autores não olham para a SC como Serra (2001) a par do Estado, mas, sim,
veêm-na como parte do Estado que se preocupa com a elaboração do consentimento, não com
a coerção ou com o domínio formal. São consideradas como instituições da SC as igrejas, as
escolas, os sindicatos e outras organizações através das quais a classe dominante exerce a sua
hegemonia sobre a sociedade (Gramsci, 2004).
Houtart (1998) é um desses autores. Este define a SC sob três perspectivas: não-analítica ou
angélica, pré-analítica burguesa e a analítica popular.
Na perspectiva não-analítica, a SC seria composta por organizações geradas pelos grupos
sociais geralmente fragilizados, por ONG’s, pelo sector não mercantil da economia e pelas
instituições de interesse comum, educativas e de saúde; este tipo de SC é vista como uma
espécie de terceiro sector, ao lado do Estado, autónomo e susceptível de fazer oposição.
No que concerne à perspectiva burguesa, a SC é vista como um elemento essencial da sua
estratégia de classe, sendo o lugar de desenvolvimento das potencialidades do indivíduo e o
espaço de desenvolvimento das liberdades, a principal das quais é a liberdade de empresa.
Por fim, na perspectiva analítica popular, a SC é o espaço das lutas sociais, da resistência e da
construção de alternativas, exigindo uma perspectiva de democratização da sociedade, da
construção de novas relações económicas, sociais, políticas e estruturais na sociedade,
passando por um elevado nível de negociação entre os elementos estruturantes da sociedade.
Esta perspectiva destaca a ideia de que a SC enquadra-se na manifestação de uma
participação democrática que renova e coadjuva a acção do Estado na promoção do
desenvolvimento e protecção da sociedade.
De uma forma geral, Houtart (1998) vê a SC como uma entidade intermédia entre a esfera
privada e o Estado; a SC distingue-se igualmente da sociedade no geral, dado que ela envolve
cidadãos que, organizados colectivamente na esfera pública, expressam os seus interesses,
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paixões, ideias, trocando informação, fazendo pressão ao Estado e exigindo a prestação de
contas aos funcionários públicos.
Monitoria
Para Sousa (2013, p. 6), a origem etimológica da palavra monitoria vem do latim monitum e
significa aquele que dá conselho, que faz pensar, que adverte, que lembra. Segundo MASC
(2010, p. 81), monitoria é um processo que ocorre em simultâneo com a execução das
actividades do projecto.
Mais do que recolher dados, a monitoria constitui um instrumento através do qual se
desenvolve um processo sistemático de acompanhamento, recolha, registo e análise de factos
e informações sobre o processo de concepção, planificação e implementação de certos
programas ou projectos políticos, económicos e sociais (Canhanga, 2009, p. 84).
Segundo Canhanga (2009, p. 84), o processo de monitoria garante a eficiência e a eficácia do
processo governativo, baseando-se nas metas definidas durante o processo de planificação de
um projecto ou programa e ajuda a controlar os níveis de perfeição ou imperfeição no
decurso de implementação dos planos ou acções predefinidos.
As Organizações da Sociedade Civil em Moçambique
Sob o anterior regime monopartidário da Frelimo, não havia nenhuma tradição de uma SC
independente em Moçambique. As OSC’s eram satélites do Partido. Esta situação está a
começar a mudar, mas as OSC’s tendem a não adoptar um papel de forte advocacia e a sua
contribuição para o debate político também não é nem aceite pelo Governo (a menos que
esteja conforme a linha política do Partido Frelimo) nem forte. A Sociedade Civil permanece
em grande medida orientada para/e dependente dos doadores (DFID, 2007, p. 67).
As OSC’s moçambicanas constituem um complexo mosaico. Apesar de sua expansão nos
últimos anos, elas não estão, contudo, isentas de problemas. De acordo com os dados
publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, existiam, no ano de 2004, 4.853 instituições
sem fins lucrativos não-estatais legalmente reconhecidas em Moçambique, que se distribuíam
pelas diversas províncias do País.
No entender de Francisco (2010, p. 62), não é possível reconstruir estatisticamente a evolução
histórica de longo prazo, mas a representação ilustrada pelos Gráficos 1 e 2, na Figura 1,
capta parte significativa da evolução da SC formal, representada pelas Organizações sem Fins
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Lucrativos. Cerca de um quarto das organizações recenseadas em 2004/05 nasceram antes da
independência, com destaque para as associações religiosas.
Após a independência observa-se uma quebra drástica das associações religiosas e a
inexistência de ONG’s nacionais ou estrangeiras. Mais de 40% das associações nasceram
após o início da 2.ª República, sobretudo depois do Acordo Geral de Paz de 1992 e das
primeiras eleições gerais multipartidárias em 1994.
Relativamente à distribuição das OSC’s no território, o emprego por elas gerado e os fundos
por elas recebidos era bastante irregular e desigual. Também, a capital do país, onde se
localizavam 13% do total dessas organizações, concentrava mais da metade dos empregados
do sector ao nível nacional (52% dos trabalhadores), sendo que as organizações estabelecidas
na cidade recebiam cerca de 52% dos fundos destinados ao sector (Open Society Initiative for
Southern Africa, 2009, p. 77).
Para exemplificar, podem ser citadas algumas OSC’s que mais se destacam em Moçambique:
Centro de Integridade Pública;
Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH);
Parlamento Juvenil (PJ);
Grupo Moçambicano da Dívida (GMD);
Associação Moçambicana para o Desenvolvimento e Democracia (AMODE).
Relação entre as Organizações da Sociedade Civil e o Estado
Na tentativa de analisar a relação entre a SC e o Estado partimos da questão: que tipo de
Estado existe em Moçambique? Segundo Francisco (2010, p.75), o actual Estado
Moçambicano poder-se-ia caracterizar, resumidamente, como um Estado Falido, mas não um
Estado Falhado. Depois da guerra civil, nas duas últimas décadas, o Estado Moçambicano
tem sido capaz de evitar o Estado Falhado, pois a autoridade política e administrativa tem
perdurado, foram criadas algumas instituições mais ou menos democráticas, o Governo tem
conseguido mobilizar recursos financeiros, principalmente da comunidade internacional e
como membro de organismos internacionais, tais como as Nações Unidas e as Instituições de
Bretton Woods, entre outras.
Não obstante, a relativa estabilidade alcançada, Moçambique continua a ser um país em risco
potencial de conflitos ou perturbações sociais e políticas, visto possuir instituições bastante
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fracas. O actual Estado Moçambicano não é nem um Estado Liberal, nem um Estado de Bem-
estar Social. Não é um Estado Liberal, porque é demasiado intervencionista, centralizador,
dirigista e controlador de áreas ou activos cruciais na edificação de uma sociedade livre, no
sentido liberal do termo (Francisco, 2010, p. 75).
O actual Estado é demasiado descontrolado, informalizado, irresponsável e incapaz de
proporcionar segurança pública mínima e protecção social básica. O actual Estado carece de
serviços públicos adequados e com cobertura regional e social satisfatória. Grande parte dos
serviços públicos disponíveis mantêm-se graças ao financiamento proporcionado pelos
doadores, incluindo o financiamento directo ao Orçamento de Estado, ou orientado para
sectores sociais específicos (saúde, educação e infra-estruturas) Francisco (2009, pp.75,76).
Segundo Francisco (2010, p. 76), uma nota merece ser feita sobre a diferença estrutural entre
as infra-estruturas e forma organizacional entre as OSC’s e o actual Estado Moçambicano.
Este último possui infra-estruturas organizacionais e administrativas, hierarquizadas
verticalmente e sustentadas por um Orçamento Público, com direito legal de uso da força
(coerção, especialmente legal).
Em contrapartida, a SC possui infra-estruturas organizacionais dispersas e horizontais,
dependentes de redes sociais estruturadas horizontalmente, de um orçamento doado por
entidades estrangeiras ou pelo mercado e famílias, numa base voluntária. Convém ainda
referir que, ao nível do senso comum, o activismo das OSC’s mais proeminentes tem gerado
uma ideia deturpada sobre a configuração efectiva da SCM.
Acção da Sociedade Civil no Processo da Governação Local
A nível internacional a SC passa a cumprir um papel relevante a nível distrital, seja
participando directamente das decisões políticas; seja através de criação de grupos de pressão
e influência, em busca de novas reivindicações e de significação do espaço no processo
decisório governamental (Ckagnazaroff e Abreu, 2009, p. 43).
No contexto da governação local, a integração da sociedade civil requer mecanismos
políticos democratizados, baseados numa descentralização administrativa e na participação
activa dos cidadãos na gestão (Borja e Castells, 1997, p. 76).
Por se tratar de um poder mais próximo do cidadão, a descentralização potencia uma maior
participação e responsabilização dos cidadãos na resolução dos problemas e no
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desenvolvimento local, reforçando a democracia ou pelo menos aproximando os cidadãos do
centro da decisão político-administrativa. Alguns doadores partilham desta visão e objectivo
da descentralização, enquanto processo potenciador de uma contínua democratização do país,
de uma partilha de poder com a oposição interna e de uma maior participação e envolvimento
da sociedade civil na gestão pública local (Faria e Chichava, 1999, p. 9).
As actuações da SC a nível local em Moçambique são coroadas de várias limitações que
concorrem para a falta de eficácia e eficiência das suas actividades, nomeadamente
(Cambrão, 2018).
Fraca capacidade da SC de monitorar a aplicação dos fundos distritais;
Fraca coordenação das OSC’s;
Deficientes mecanismos de produção de evidências pelas OSC’s;
Inexistência de mecanismos/acções coordenadas de advocacia.
O Papel dos Actores Envolvidos no Processo de Monitoria da Acção Governativa
As entrevistas com o coordenador executivo da JOINT confirmaram a importância da
participação da SC na monitoria da acção governativa. Nos seus depoimentos, este afirma
que:
A população, em geral, reconhece o processo de representação e seu papel como canal de
informação. A colaboração, no entanto, nem sempre é considerada fácil e as autoridades
distritais queixam-se de falta de informação por parte das OSC’s sobre planos e realização de
actividades.
Muitas vezes, as autoridades governamentais locais consideram que o papel de OSC’s é
sobretudo o de agentes implementadores de planos de desenvolvivimento local e que as
iniciativas de advocacia resultam de as OSC’s não compreenderem o seu papel no
desenvolvimento local.
Neste contexto, é importante realçar que o diálogo sobre políticas como processo interactivo
e recíproco não tem se notado ao longo da monitoria da acção governativa, pois o trabalho
das OSC’s com a administração local tem sido um diagnóstico unívoco dos problemas da SC
e não um diálogo.
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Considerações finais
Por fim, o funcionamento das OSC’s em Moçambique tem sido fadado por certos factores
estruturais ameaçados por um meio político relativamente desfavorável e hostil com a
predominância de uma estrutura económica dominada pelas elites políticas e partidárias que
desencoraja o espírito de participação activa e crítica na monitoria da acção governativa pelas
OSC’s.
Tendo em conta as adversidades enfrentadas pelas OSC’s na monitoria da acção governativa,
concluímos que existem alguns casos de sucesso das OSC’s na monitoria da acção
governativa, pois, elas enfrentam o Governo através de organizações que participam no
diálogo sobre a acção governativa a nível nacional, caracterizadas por possuirem lideranças
com formação académica, visíveis e reconhecidas pelo trabalho de documentação factual
baseada em pesquisa e plataformas ou fóruns de OSC’s a nível provincial e distrital.
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Referências Bibliográficas
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Elaboração do Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARP) – 2010- 2014. Maputo.
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BOBBIO, Norberto (2000). Teoria geral da Política: A filosofia política e as lições dos
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