COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E TECNOLOGIA ASSISTIVA
1
Sumário
1. Introdução as tecnologias assistivas ............................................................... 2
2. Considerações sobre a paralisia cerebral ........................................................ 3
1. Caracterização clínica ...................................................................................................... 3
2. Classificações diagnósticas .............................................................................................. 5
3. O processo de escolarização de alunos com paralisia cerebral .................... 6
1. Pensando nas barreiras à aprendizagem ........................................................................ 9
4. Explorando contextos e fazeres: a busca pelas relações entre as tecnologias
assistivas, a comunicação aumentativa e alternativa e a sala de aula .............. 27
5. Referências ....................................................................................................... 34
1. Introdução as tecnologias assistivas
O tema da apostila é baseado nas das tecnologias assistivas e a comunicação
aumentativa e alternativa no contexto escolar. A motivação e a escolha por este
recorte deram-se pelo trabalho pedagógico que foi realizo com uma aluna, que
apresenta um quadro de paralisia cerebral. Mesmo sendo um Direito Constitucional
(artigo 205 da Constituição Federal de 1988) e incluído em mais duas leis que
complementam e regulamentam o direito à educação: o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA/ 1990) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB/1996), entre outras Resoluções e Decretos, a sociedade ainda conta com a
ineficiência dos órgãos fiscalizadores, aliada a falta de informação da população a
esse respeito, gerando grandes perdas e lançando-as nas estradas da desigualdade
social. E para a sociedade de hoje, O grande desafio é, portanto, identificar o modo
mais seguro de evitar que, apesar dos direitos constarem solenemente dos discursos,
não continuem a ser, tão lamentavelmente, violados na prática. A violação de direitos
é, sem dúvida, um dos mais significativos entraves à democracia e à paz.
(CARVALHO, 2007, p. 21).
O grande desafio, sem dúvida, é lidar, também, com a falta de informação da
população no que diz respeito ao exercício de seus direitos. Tal fato tem reforçado
seus pré-conceitos entendidos como um julgamento de valor diante de algo que não
conhecem, desencadeando atitudes discriminatórias e, por isso, passando a depreciar
e subjugar pessoas que estejam em uma posição de desvantagem momentânea,
vistos como sujeitos de menor valia. Essa, portanto, é uma das muitas barreiras a
serem enfrentadas, tanto quanto a barreira física/ arquitetônica e que nos limita o
convívio e as oportunidades de interagir com o mundo a nossa volta. Temos
presenciado uma rejeição à deficiência e ao diferente manifestando variadas formas
de exclusão. Embora, seja um tema pouco comentado nas literaturas que discutem
sobre inclusão, as barreiras atitudinais são as mais difíceis de serem trabalhadas e
transpostas, mas aceitas socialmente, pois muitas vezes as pessoas não percebem
seus próprios preconceitos. Em uma manifestação de tolerância nem sempre existe
um desejo real de aproximação e de troca com o outro que é considerado diferente.
Assim, não basta a presença de pessoas com deficiência nas
escolas se estas continuam isoladas pelas barreiras impostas pelas atitudes, pelos
discursos, pelo preconceito.
O presente trabalho busca colaborar com a construção de um outro olhar
sobre a escolarização de alunos com paralisia cerebral. Para tanto, pergunta-se pelas
barreiras à aprendizagem; pelos recursos, caminhos e estratégias a serem
construídas nas salas de aula; pelo uso pedagógico das tecnologias assistivas e da
comunicação aumentativa e alternativa. Um assunto fundamental, porém, ainda pouco
abordado e conhecido na área da educação.
2. Considerações sobre a paralisia cerebral
Para o melhor entendimento dos processos de escolarização dos alunos com
paralisia cerebral (PC), o presente capítulo apresentará, inicialmente, algumas
considerações sobre a caracterização clínica, as etiologias, e as diferentes
classificações. Posteriormente, tratar-se-á de compreender as especificidades da
escolarização destes sujeitos.
1. Caracterização clínica
A paralisia cerebral é uma categoria da deficiência física caracterizada por
alterações na motricidade ou perda do controle motor devido a lesões encefálicas
ocorridas no período pré-natal ou durante a primeira infância. O termo vem do grego
(paralysis) que significa fraqueza - perda ou diminuição da função motora e, cerebral,
porque é relativo ao cérebro. A carência de informações sobre esse quadro nos leva
a pensar que a paralisia cerebral é um problema no cérebro que o impede de funcionar
normalmente, o que é um grande engano. Para autores como Brandão (1992), o termo
mais apropriado a ser utilizado seria Dismotria Cerebral Ontogênica (D.C.O), evitando-
se, assim, um entendimento equivocado que nos induziria a idéia de incapacidade
física e mental. Poderemos encontrar algumas variações desse termo como
Incapacidade Motora Cerebral (I.M.C).
Porém, quando ocorre na área relacionada à aprendizagem, esta pode ser
afetada, causando danos na capacidade de raciocínio da pessoa, então, podemos
falar em Deficiências Múltiplas. A paralisia cerebral não é uma lesão degenerativa e
nem progressiva. É provocada na maioria das vezes por falta de oxigenação das
células cerebrais, e, segundo Brasil (2004), a paralisia cerebral não é uma doença,
mas um estado ou quadro patológico. Por isso, não poderia ser curada, uma vez que
a lesão, devido o local onde ocorre, tornaria o quadro irreversível.
A pessoa com PC pode apresentar desde pequenas alterações que dificultam
a sua motricidade até uma perda total de seus movimentos, impedindo-a de
locomover-se sozinha, alimentar-se, falar, enfim, viver de uma forma independente.
Pode ou não estar associada a deficiência mental, a epilepsia ou a outros distúrbios
de ordem sensorial.
De acordo com o Decreto n° 3.298 de 20 de dezembro de 1999, artigo número
3, que versa sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, considera-se:
I - deficiência - toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de
atividade, dentro do
padrão considerado normal para o ser humano;
II - deficiência permanente - aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um
período detempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que
se altere, apesar de novos tratamentos; e
III - incapacidade - uma redução efetiva e acentuada da capacidade de
integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos
especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir
informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou
atividade a ser exercida (BRASIL, 1999, p.1).
Etiologias
A paralisia cerebral pode advir de alguns aspectos determinantes ocorridos durante o
período pré-natal, peri-natal ou no pós-parto. As causas, segundo Baroni (2001),
podem ser variadas. Dentre as mais frequentes temos: Causas Pré-Natais: decorrem
de infecções congênitas, toxoplasmose, além de outras doenças infecciosas da mãe
que contribuam para amalformação do cérebro no período embrionário. A anemia
grave, infecções renais, problemas metabólicos graves, entre outros. Também pode
decorrer da falta de oxigenação fetal, incompatibilidade de RH ou a exposição da mãe
a radiação, álcool ou medicações nos primeiros meses de gestação (60% dos casos).
Causas Peri-Natais/ ou Natais: advém de uma lesão no tecido neural durante o
nascimento, por decorrência de obstruções pélvicas que induzem ao sofrimento fetal,
anóxia e hipóxia, distúrbios circulatórios fetais, traumatismos e infecções que atinjam
a mãe (rubéola), icterícia grave, prematuridade, acidente ou erro médico (30% dos
casos). Causas Pós-Natais: vão do nascimento até o final da primeira infância. São
asfixia, fraturas e ferimentos profundos na cabeça que venham a atingir o cérebro, em
acidentes automobilísticos ou infecções que possam atingir o sistema nervoso central
como a meningite (10% dos casos).
2. Classificações diagnósticas
Dependendo do local onde ocorreu a lesão, há três tipos mais comuns de PC.
Segundo descrição apresentada pelo Ministério da Educação (BRASIL, 2006), tem-
se:
Espástico (face piramidal): ocorre quando a lesão localiza-se na área
responsável pelo início dos movimentos voluntários, que são diminuídos e o tônus
muscular é aumentado fazendo com que os músculos fiquem tensos, enrijecidos.
Discinética ou Atetóide (face extrapiramidal): há um comprometimento do
sistema extrapiramidal e ocorre a presença dos movimentos involuntários. Ou seja,
uma anormalidade dos gânglios de base resultando em uma distonia que é a variação
da tonicidade muscular.
Atáxica: o cerebelo é a parte do cérebro onde são enviadas mensagens para
o controle e a coordenação dos movimentos, da postura e o equilíbrio do nosso corpo.
Uma lesão nesta parte pode ocasionar comprometimento da parte do cérebro
responsável pelos movimentos e pelo equilíbrio, gerando falta de coordenação em
atividades musculares voluntárias. Aparecem, também, movimentos trêmulos das
mãos e a fala fica comprometida. A ataxia nunca aparece sozinha, geralmente
associa-se à atetose. A paralisia cerebral é classificada também de acordo com a
distribuição corporal ou topografia
corporal, devido a localização da área mais atingida (BRASIL, 2006). Temos então:
Paraplegia: comprometimento dos movimentos dos membros inferiores (nas
duas pernas);
Monoplegia: comprometimento de apenas um membro ou extremidade do
corpo;
Diplegia: os membros inferiores e superiores são atingidos. Diferentemente
da tetraplegia os membros inferiores podem estar mais comprometidos que os
superiores;
Triplegia: comprometimento das três extremidades;
Hemiplegia: comprometimento de um hemicorpo, ou seja, são afetados
apenas os membros superiores e inferiores de um mesmo lado do corpo;
Quadriplegia ou Tetraplegia: comprometimento dos quatro membros.
As definições, categorizações e classificações relativas ao quadro de paralisia
cerebral são importantes, porém devem ser contextualizadas. Acredita-se que as
possibilidades escolares são construídas a partir das relações entre os sujeitos e
as instituições, não emanando exclusivamente das características físicas, sociais,
subjetivas dos alunos (BAPTISTA, 2006; VASQUES, 2009). Na busca destas
construções possíveis, optou-se por tematizar a inclusão escolar de alunos com
paralisia cerebral apartir do conceito de barreiras à aprendizagem. Trata-se de
analisar os inúmeros determinantes de uma situação, sem negar-lhes a complexidade
e a dinamicidade.
3. O processo de escolarização de alunos com paralisia
cerebral
(...) é necessário que os professores conheçam a diversidade e a complexidade dos
diferentes tipos de deficiência física, para definir estratégias de ensino que
desenvolvam o potencial do aluno. De acordo com a limitação física apresentada é
necessário utilizar recursos didáticos e equipamentos especiais para a sua educação
buscando viabilizar a participação do aluno nas situações práticas vivenciadas no
cotidiano escolar, para que o mesmo, com autonomia, possa otimizar suas
potencialidades e transformar o ambiente em busca de uma melhor qualidade de
vida. (BRASIL, 2006, p.29)
A escolarização das pessoas com paralisia cerebral pode ser considerada um
pouco tardia uma vez que, em decorrência das limitações motoras, não conseguiam
permanecer durante muito tempo sentadas sobre os bancos escolares, além de outros
impedimentos, como por exemplo, os de ordem social. Por ser um quadro complexo,
os sujeitos com esse tipo de deficiência possuem alterações de ordem muscular,
ortopédica, articular ou neurológica que podem comprometer seu desenvolvimento
educativo. A paralisia cerebral tem por característica sintomatologias muito diversas e
variáveis, assim como os prognósticos. Pode apresentar em seu quadro desde
perturbações motoras discretas até alterações motoras que acabam por impedir que
se realize qualquer tipo de movimento voluntário.
Porém, tais pessoas poderão apresentar um desenvolvimento normal ou até
mesmo superior; uma deficiência mental grave, associada a transtornos sensoriais de
visão, audição, entre outros (BRASIL, 2006).
As alterações decorrentes deste quadro podem dificultar ou não seu processo
de aprendizagem. Sendo necessário, muitas vezes, a utilização de recursos didáticos
adaptados e equipamentos que auxiliem no alinhamento e na estabilidade postural,
atenuando o comprometimento e/ou melhorando a qualidade de seus movimentos
(locomoção, manipulação e apreensão dos objetos), promovendo e potencializado
seu processo de aquisição e construção do conhecimento, logo, contribuindo para sua
aprendizagem.
É possível obter-se alguns progressos e melhoras consideráveis, quando a
criança é assistida desde os primeiros meses de vida (estimulação precoce) e
acompanhada por profissionais devidamente capacitados como médico,
fisioterapeuta, ortopedista, pedagogo, assistente social, fonoaudiólogo, terapeuta
ocupacional, enfim, uma equipe multidisciplinar.
Quando o desempenho intelectual é avaliado, são aplicados testes (principalmente na
escola) para averiguação do desenvolvimento cognitivo que, geralmente, implicam na
obtenção de respostas imediatas e verbalizadas ou que possam ser gesticuladas.
Esse é um meio difícil de avaliação, considerando-se o caso de comprometimento da
criança, e por não poder, muitas vezes, responder utilizando-se da linguagem verbal
ou gestual, sendo erroneamente julgada e tachada de deficiente mental devido as
impressões iniciais (BRASIL, 2006).
O que o profissional deve ter em mente é que a linguagem compreensiva da
criança pode estar intacta apesar de sua linguagem expressiva não contar com
instrumentos eficientes para a expressão de seu pensamento. As pessoas que
apresentaram disartria, por exemplo, que é uma dificuldade de articular as palavras,
bem como de pronunciá-las, quando puderam dispor de meios alternativos para
comunicarem-se foram consideradas intelectualmente mais capazes do que se
poderia supor. Assim, é preciso lembrar que o descrédito no potencial intelectual
dessas pessoas vem, muitas vezes, da
maneira como avaliamos e em que bases se apoiam nossas experiências avaliativas.
Segundo Carvalho (2007, p.26):
A questão do “estar” deficiente nos permite pensar no grande número de
crianças tornadas deficientes, porque foram assim consideradas pelos seus
professores e, assim, passaram a considerar-se. Lembremo-nos de que, como
decorrência das relações interpessoais, se desenvolvem sentimentos de auto-estima,
tão mais positivos e de autoconfiança, quanto menores forem as pressões e/ou os
sinais de piedade ou de tolerância, por humanitarismo.
Perante a complexidade das questões relacionadas aos processos de
inclusão escolar de crianças com paralisia cerebral, acredita-se na importância de
uma avaliação não linear e simplista. A pergunta pelos limites impostos pela
deficiência física é importante, porém é imprescindível perguntar pelas possibilidades,
pelos recursos, estratégias e contextos que serão capazes de potencializar
aprendizagens e percursos escolares. Para tanto, optamos pelo conceito de remoção
das barreiras à aprendizagem. Questão a ser tratada a seguir.
1. Pensando nas barreiras à aprendizagem
Para garantir o sucesso na concretização desta intencionalidade educativa,
há que superar as barreiras existentes em suas múltiplas origens e intensidade, para
o que se faz necessário: (a) libertar o aluno da condição de solitário responsável por
seu insucesso na escola, (b) identificar todos os obstáculos que lhe impedem ou
dificultam seu sucesso no processo de aprendizagem, (c) analisar o contexto em que
a aprendizagem se realiza, e (d) abandonar, definitivamente, os rótulos, quaisquer que
sejam... (CARVALHO, 2007, p.53).
As barreiras ou obstáculos à aprendizagem são inúmeros. Algumas vezes,
fazem-se visíveis e noutras invisíveis. Internos aos sujeitos, outras vezes, externos.
Porém, esses obstáculos não se fazem exclusivos a uma pequena parcela da
população que apresenta alguma deficiência mais visível como no caso da surdez, da
cegueira, da deficiência física e mental ou das pessoas da camada popular ou em
situação de desvantagem, mas atingem todas as pessoas que de alguma forma
venham a depender de algum recurso humano ou material para atender às suas
necessidades. Essas podem ser permanentes ou temporárias e fazem parte do
cotidiano das pessoas ditas normais ou não e refletem-se na escola mediante o
fracasso escolar.
Se as barreiras e as dificuldades são inevitáveis devem, contudo, ser
identificadas e transpostas de modo a não reforçar a exclusão escolar e social.
Segundo Carvalho (2007), todos nós já experimentamos algum tipo de dificuldade ou
enfrentamos alguma barreira quando na posição de aprendizes, mas o importante é
lembrar que: [...] as dificuldades se transformam em problemas na medida em que
não sabemos, não queremos ou não dispomos de meios para enfrentá-las. Neste caso
formam-se as barreiras, os entraves; alguns tornando-se crônicos e de mais difícil
superação. (p. 60).
Nesse contexto, a autora aponta a importância de reconhecer as barreiras
atitudinais, ou seja, as atitudes, os posicionamentos, as predisposições frente à
diversidade e as crenças que fazem parte do imaginário dos educadores. Estas
barreiras podem intensificar, minimizar ou remover os obstáculos, os entraves
existentes nas situações de interação e de aprendizagem no espaço escolar. Para
Manzini (2008), as barreiras atitudinais referem-se aos processos de exclusão e
discriminação, diferentemente da exclusão decorrente do ambiente físico e estrutural,
que contempla o transporte, a comunicação, os equipamentos, entre outros. O autor
refere que tais atitudes são
punidas pelo artigo número 8 da Lei 7.853 de 24 de outubro de 1989, que definiu
crimes de discriminação nas áreas de educação, trabalho e saúde:
Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa:
I - recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa,
a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público
ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta;
II - obstar, sem justa causa, o acesso de alguém a cargo público, por motivos
derivados de sua deficiência;
III - negar, sem justa causa, a alguém, por motivos derivados de sua
deficiência, emprego ou trabalho;
IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de prestar assistência
médico hospitalar e ambulatorial, quando possível, a pessoa portadora de deficiência;
V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de
ordem judicial expedido na ação civil a que alude esta Lei;
VI- recusar, retardar ou omitir dados técnicos e indispensáveis à propositura
da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público (BRASIL,
1989).
Falar em barreiras remete ao conceito de acessibilidade. Segundo Nunes e
Sobrinho (2008): [...] nesse inicio do século XXI, o conceito de acessibilidade
extrapola as barreiras concretas da sociedade, passando a enfatizar o direito de
ingresso, permanência e utilização de todos os bens e serviços sociais por toda a
população.(p. 270)
No caso de superação das barreiras à aprendizagem para alunos com PC, a
acessibilidade aos processos de comunicação e linguagem são buscados através das
tecnologias assistivas, da ajuda técnica e da comunicação aumentativa e alternativa.
O conhecimento acerca de tais recursos e a capacitação de docentes para a utilização
pedagógica dos mesmos é imprescindível aos processos de inclusão escolar.
Contudo, pesquisas recentes, como as de Manzini (2008), apontam que ainda há um
grande desconhecimento por parte das escolas, das redes e dos professores acerca
deste assunto.
Tal desconhecimento foi vivenciado em minha trajetória profissional a partir da
escolarização e uma aluna. Como poderemos avaliá-la se não se expressa como os
outros (linguagem oral e escrita)? Como ensinar quem não consegue demonstrar
aquilo que aprendeu através dos meios usuais (linguagem oral e escrita)? Como
avaliar a aprendizagem, as dúvidas, se a aluna não consegue expressar seus desejos
de uma forma facilmente compreensível?
Nossas escolas, de uma maneira geral, encontram-se em um processo ainda
muito incipiente em termos de adaptação de mobiliário para alunos com deficiência
física; elaboração, criação e adaptação de recursos didáticos; capacitação para o uso
de tecnologias assistivas e da comunicação aumentativa e alternativa. (MANZINI,
2008; NUNES;SOBRINHO, 2008).
Estes impasses justificam o movimento de reflexão sobre os processos de
inclusão escolar de alunos com paralisia cerebral, a busca e a sistematização do
conhecimento, sobretudo, acerca do uso pedagógico de tais recursos. A linguagem é,
sem dúvida, um importante meio de comunicação, de interação. Porém, para que a
criança com deficiência física possa entrar em contato com o ambiente, com o
conhecimento oferecido pela escola, suas oportunidades em avançar em seu
desenvolvimento cognitivo devem ser as mesmas disponibilizadas para os demais
alunos. Para que isso se torne uma realidade possível existe a temática da
acessibilidade e das tecnologias assistivas tão importantes, como veremos a seguir.
Acessibilidade e tecnologias assistivas
[...] O que é o andar se não podemos traçar nossos próprios caminhos, para buscar o
que desejamos, para explorar o mundo que nos cerca? O que é aprender sem uma
visão crítica, sem viver a aventura fantástica da construção do conhecimento? E criar,
aplicar o que sabemos, sem as amarras dos treinos e dos conhecimentos? Daí a
necessidade de um
encontro da tecnologia com a educação, entre duas áreas que se propõem
a integrar seus propósitos e conhecimentos, buscando complementos uma
na outra. (MANTOAN, s/d apud BERSCH, 2007, p.35).
A educação especial tendo herdado e alimentada pelo modelo médico,
ressalta que as tecnologias deveriam atender e servir aos propósitos da medicina e
da reabilitação. As ações se baseavam no tratamento terapêutico e as deficiências
vistas como doenças a serem curadas. Hoje, a reabilitação ganha um novo sentido
quando direcionada à orientação para que a pessoa viva de maneira o mais
independente possível e para a inclusão.
Conforme Nunes e Sobrinho (2008), a partir do modelo médico que,
tradicionalmente justificou teoricamente o campo e as práticas da
educação especial, as tecnologias davam suporte às intervenções da saúde e da
reabilitação onde buscava-se a minimização dos problemas decorrentes da
incapacidade.
A partir da educação inclusiva tal perspectiva começa a modificar-se,
exigindo a revisão de conceitos, saberes e fazeres. Segundo esses autores, A nova
nomenclatura de tecnologias assistivas ou ajudas técnicas aponta para uma
categorização baseada na abordagem funcional. Algumas modalidades dessas
ajudas técnicas, além das órteses e próteses, favorecem a mobilidade, a adaptação
de veículos, a adequação postural, acessibilidade às tecnologias de informação e a
acessibilidade comunicativa. (NUNES;SOBRINHO, 2008. p, 272).
Por isso, o uso de recursos tecnológicos poderão garantir a acessibilidade
tanto à informação quanto à comunicação, através de equipamentos como teclados e
mouses adaptados, softwares com leitores de telas, além de outros equipamentos
utilizados para operarem o computador mas que, geralmente, são de alto custo.
Quanto ao termo acessibilidade esse vem ganhando espaço nas discussões
realizadas em
diversas áreas, desde a engenharia, arquitetura como, também, na educação. Não é
um conceito novo, mas um conceito que vem sendo ampliado em relação ao seu
significado, principalmente, quando falamos em tecnologias assistivas e inclusão.
As linhas acerca do tema acessibilidade passaram a ser melhor definidas a
partir de 1998, com o projeto de Lei 4.767/98, o qual orientava normas gerais e
critérios básicos para a promoção da acessibilidade de pessoas com deficiência ou
com mobilidade reduzida. E, ao longo desses anos, tal conceito sofreu modificações,
sendo ampliado de modo a alcançar uma abrangência cada vez maior. A primeira
definição sobre acessibilidade, segundo Manzini (2008), procurou esclarecer quanto
as possibilidades de utilização de meios e equipamentos para locomoção e para a
comunicação das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Somente no
Decreto 5.296 de 2 de dezembro de 2004, no artigo n° 8, será redefinido e ampliado
o significado do termo acessibilidade, bem como o termo barreiras.
Artigo 8º Para os fins de acessibilidade, considera-se:
I - acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total
ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos
serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e
informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;
II - barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a
liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas
se comunicarem ou terem acesso à informação, classificadas em: a) barreiras
urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público; b)
barreiras nas edificações: as existentes no entorno e interior das edificações de uso
público e coletivo e no entorno e nas áreas internas de uso comum nas edificações
de uso privado multifamiliar; c) barreiras nos transportes: as existentes nos serviços
de transportes; d) barreiras nas comunicações e informações: qualquer entrave ou
obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens
por intermédio dos dispositivos, meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de
massa, bem como aqueles que dificultem ou impossibilitem o acesso à informação
(BRASIL, 2004).
É necessário ressaltar que as palavras total e assistida (grifadas), as quais
constam na definição de acessibilidade no Decreto 5.296, indicam quanto a
possibilidade de que se construam espaços e equipamentos, os quais poderão ser
utilizados ou manuseados com o auxílio (ou não) de um mediador. Isso quer dizer que
mesmo que um prédio escolar apresente todas as condições de acessibilidade, ainda
assim, algum aluno poderá necessitar de um auxílio (extra) em decorrência da
gravidade de sua limitação motora.
Segundo Manzini (2008), no que diz respeito a palavra barreiras (também grifada)
contida o
inciso seguinte, tal vocábulo aborda a questão das muitas barreiras encontradas no
acesso às informações, seja para o deficiente visual ou deficiente auditivo, os quais
necessitam de um acesso eficiente tanto no envio quanto na recepção das
informações, principalmente, em locais públicos e de grande circulação.
Portanto, o conceito de acessibilidade vai muito além da simples identificação
e da superação das barreiras arquitetônicas é, também, a superação de preconceitos
e de estigmas.
No entanto, faz-se necessário uma breve distinção entre os dois termos:
acesso e
acessibilidade, uma vez que se tem gerado algumas confusões quanto ao seu uso
nos textos direcionados aos profissionais da educação especial. Para Manzini (2008)
o termo acesso traz embutida a ideia de sair de um lugar para outro ou de uma
situação para outra, diferente das anteriores. Em se tratando de status social, pode-
se dizer que uma pessoa passou de uma condição inferior para uma outra de maior
destaque ou, ainda, que teve
acesso a uma situação que almejava, como por exemplo, acesso ao ensino superior.
Para que uma pessoa cega tenha acesso ao currículo, por exemplo, faz-se necessário
que algumas condições de acessibilidade sejam oferecidas. Equipamentos como
lupas, ampliadores de tela são bons exemplos de condições de acessibilidade.
Assim, quando utilizamos a palavra acesso com sentido de ocupar um espaço físico
(ter acesso a um prédio) não significa que foi oferecida condições de acessibilidade.
Conforme Manzini (2008):
(...) a palavra acesso parece estar relacionada a criar condições legais e de
direitos igualitários, encerra a busca de algo que discrimina, encerra a necessidade
de luta, encerra movimentação social e legal para garantir direitos. (p.284).
Em contrapartida, acessibilidade implicaria na resolução de questões
concretas (associadas a produtos concretos) e que estivessem relacionadas ao
cotidiano e, a palavra acesso estaria relacionada a processos de busca e de mudança
(associados a questões legais e de direitos). Assim, para que a sociedade torne-se,
realmente, inclusiva é necessário a implementação de políticas públicas que garantam
acessibilidade à todas as dimensões da sociedade, e que esta corresponda e
expresse, portanto, às necessidades de seus cidadãos.
Alguns autores como Nunes e Sobrinho (2008) destacam, ainda, a utilização
de um termo pouco conhecido na área da educação, desenho universal, conceito o
qual a Lei n° 10.098/00 procurou basear seus princípios de adequação às condições
do ambiente.O desenho universal representa, desse modo, uma superação da
arquitetura dirigida a um
ideal de homem, o homem padrão, comprometendo-se assim com a diversidade
humana. Na concepção de desenho universal, está embutida a ideia de não somente
eliminar as barreiras, mas essencialmente de garantir o acesso (NUNES; SOBRINHO,
2008, p. 270).
Ao analisar as variadas condições do ambiente faz-se necessário que se
construa uma parceria entre os profissionais da educação, da arquitetura, da
engenharia, avaliando condições específicas de cada tipo de deficiência ou dificuldade,
a fim de ampliar as perspectivas de inclusão dessas pessoas.
Em vista do exposto, a implementação das tecnologias assistivas e da
comunicação aumentativa e alternativa, as quais oferecerão suporte à aprendizagem
do aluno que pela utilização de recursos e serviços atenuarão as dificuldades
encontradas em seu dia a dia, estão intimamente ligadas à acessibilidade. As
tecnologias assistivas, inclusive, servirão como instrumento à acessibilidade e
deverão caminhar juntas, pois dentro da escola estaremos necessitando
constantemente de um aporte tecnológico (MANZINI, 2008).
A implementação dessas tecnologias está apoiada no Decreto n° 3.298/99
que regulamenta a Lei n° 7.853/89, o qual estabelece uma Política Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência que compreende um conjunto de
orientações normativas que objetiva assegurar o pleno direito da pessoa com
deficiência e no Decreto n° 5.296/04 (mais recente) que regulamenta as Leis 10.048
e 10.098, o qual estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da
acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
É importante ressaltar que a legislação brasileira garante ao cidadão brasileiro
com deficiência ajudas técnicas, portanto o professor especializado, sabendo desse
direito do
aluno, deve ajudá-lo a identificar quais são os recursos necessários para a sua
educação, a fim de que ele possa recorrer ao poder público e obter esse benefício
(BERSCH, 2007, p.
33).
Ainda no artigo 19 do Decreto n° 3.298 de 20 de dezembro de 1999,
encontraremos citados os recursos que serão garantidos às pessoas com deficiência
utilizando para tanto a nomenclatura ajudas técnicas a qual inclui aportes tecnológicos
e serviços, portanto, tecnologias assistivas:
Consideram-se ajudas técnicas, para os efeitos deste Decreto, os elementos
que permitem compensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou
mentais da pessoa portadora de deficiência, com o objetivo de permitir-lhe superar as
barreiras da
comunicação e da mobilidade e de possibilitar sua plena inclusão social. Parágrafo
único. São ajudas técnicas:
I - próteses auditivas, visuais e físicas;
II - órteses que favoreçam a adequação funcional;
III - equipamentos e elementos necessários à terapia e reabilitação da pessoa
portadora de deficiência;
IV - equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho especialmente
desenhados ou adaptados para uso por pessoa portadora de deficiência;
V - elementos de mobilidade, cuidado e higiene pessoal necessários para
facilitar a
autonomia e a segurança da pessoa portadora de deficiência;
VI - elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a
sinalização para pessoa portadora de deficiência;
VII - equipamentos e material pedagógico especial para educação,
capacitação e recreação da pessoa portadora de deficiência;
VIII - adaptações ambientais e outras que garantam o acesso, a melhoria
funcional e a autonomia pessoal; e IX - bolsas coletoras para os portadores de ostomia
(BRASIL, 1999).
Assim, a tecnologia assistiva ou ajudas técnicas (conforme mencionado no
artigo 19 do Decreto n° 3.298) poderá tornar-se um recurso direcionado à vida escolar
do deficiente físico quando visa promover a sua inclusão. É uma variedade de
recursos, serviços e equipamentos que são usados como suporte, auxiliando a pessoa
com deficiência para o desempenho em uma atividade oral ou escrita.
Assim, em linhas gerais, a tecnologia assistiva tem por objetivo auxiliar as
pessoas que possuem limitações funcionais (permanente ou temporária) e que
necessitam utilizar-se de dispositivos tecnológicos de baixa ou alta tecnologia e de
baixo ou alto custo. É qualquer
equipamento ou peça de equipamento que sejam produzidos e oferecidos
especialmente ou que tenham sofrido algum tipo de adaptação ou modificação para
que pudessem ser utilizados para aumentar, manter ou melhorar o desempenho das
atividades do sujeito com limitações,proporcionando uma melhoria na qualidade de
vida dessas pessoas. Porém, esses equipamentos modificados ou adaptados podem
perder com o tempo a sua eficácia (devido ao crescimento ou outras alterações
biológicas), sendo necessário de tempos em tempos serem avaliados quanto a sua
eficiência, e ajustados conforme a necessidade do usuário. Vale ressaltar que a
tecnologia assistiva (TA) é considerada também uma oferta de serviços que possam
auxiliar na vida diária, no desenvolvimento de habilidades, na solução de problemas
funcionais no intuito de promover uma vida mais independente.
Conforme Bersch (2007):
Tecnologia assistiva é uma expressão utilizada para identificar todo o arsenal
de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades
funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida
independente e inclusão. (p.31). O uso das tecnologias se estende aos seguintes
recursos: Comunicação Alternativa e Ampliada; Adaptações de acesso ao computador;
Equipamentos de auxílio para visão e audição; Controle do meio ambiente; Adaptação
de jogos e brincadeiras; Adaptações da postura sentada; Mobilidade alternativa;
Próteses e a integração dessa tecnologia nos diferentes ambientes como a casa, a
escola, a comunidade e o local de trabalho. Algumas tecnologias podem ser
encontradas e adquiridas em lojas especializadas ou pela
Internet; outras podem ser adaptadas à pessoa com deficiência de acordo com a
intenção de uso.
A TA procurará encontrar soluções para os problemas funcionais do aluno,
encontrando alternativas para que possa atuar na escola participando, senão de todas
as atividades propostas, mas que possa ser incluído em uma maior parte dessas.
Essa tecnologia busca com criatividade uma alternativa aos problemas encontrados
pelo aluno em seu percurso escolar. É como uma estratégia para que ele encontre um
meio de fazer, valorizando seu jeito próprio de interagir com o meio a partir de suas
habilidades, as quais poderão ser potencializadas através desse uso. Trata-se, ainda,
de oferecer outros meios para que o aluno se comunique, escreva, locomova-se,
movimente-se, brinque, promovendo um envolvimento maior em suas atividades
diárias, desafiando-o a experimentar e conhecer seu potencial ao estimulá-lo em sua
construção individual e coletiva de conhecimento sobre o mundo que o cerca. O uso
das tecnologias, na atualidade, orienta a pessoa com deficiência para uma vida o mais
independente possível, valorizando e estimulando a própria pessoa vista agora não
mais como paciente (passivo), mas um ser que é “ator da própria (re) habilitação”
(NUNES; SOBRINHO, 2008, p, 272).
O computador, por exemplo, é o instrumento (porém não é o único) que
deverá fazer parte do cotidiano escolar daqui para frente. Cada vez mais utilizado nas
escolas, seus professores deverão estar capacitados para lidar com tal recurso, pois
ainda existe um grande desconhecimento e algumas resistências em relação aos
programas específicos a serem utilizados com as pessoas que têm deficiência.
(MANZINI, 2008).
Alguns recursos e adaptações
As figuras1 a seguir são alguns dos exemplos de adaptações realizadas para
que a pessoa com deficiência tenha a oportunidade de demonstrar seu potencial, suas
habilidades. É uma forma de estimular seu “potencial funcional” para que possa
alcançar uma maior acessibilidade no manuseio de recursos como o computador, o
qual auxiliará com programas direcionados à sua escrita, a leitura, entre outras tarefas
que antes não seriam possíveis de serem realizadas.
Figura 1- Estabilizador de punho e abdutor de polegar (Foto: Programa InfoEsp).
Esse estabilizador de punho e abdutor de polegar é também utilizado para
apontar as imagens a serem trabalhadas nas pranchas de comunicação (CAA)
facilitando a indicação ao servir como apoio da mão e cumprir a função dos dedos.
Disponíveis nos
sites:http://intervox.nce.ufrj.br;www.terraeletronica.com.br;www.aacd.org.br/ortopedia;www.cl
ik.com.br;www.lumenequipterapeuticos.com.br(acesso em out/2008).
Figura 2- Capacete com Ponteira e ponteira de borracha.
A ponteira é uma haste que, fixada à cabeça, visa facilitar a digitação para
pessoas com comprometimento de membros superiores. As outras figuras
apresentadas a seguir são de uso específico para o computador e visam uma
adaptação através do teclado e do mouse facilitando o manuseio do usuário.
Figura 3 - Switch Mouse: substitui as funções do mouse.
Mouse ++: subst. funções (três teclas): clique, clique duplo e arrastar.
Figura 4 -Teclado Adaptado: (7 lâminas) substitui a função do mouse; auxilia alfabetização;
navegação pela Internet; facilita o uso de duas teclas.
Figura 5 - Máscara de teclado (Colméia): placa de plástico perfurada; impede que os
movimentos involuntários acionem uma tecla indesejada.
Outras adaptações, mais simples, poderão ser realizadas pelo próprio
educador na sala de aula como colocar uma fita crepe na mesa para segurar o papel,
enrolar o lápis em um pedaço de espuma (engrossador de lápis) para que o educando
possa segurar com mais firmeza e melhor escrever ou desenhar. Enfim, desde os
recursos mais simples e de baixo custo e que não necessitam de muitos aparatos, até
recursos mais sofisticados e de alto custo como, por exemplo, o do computador,
embora esse recurso careça de uma maior acessibilidade nas escolas públicas
(BERSCH, 2007).
Os recursos da informática, além de oferecerem uma grande contribuição para
que se alcance inúmeros objetivos em relação ao atendimento das pessoas com
deficiências e/ou necessidades especiais, na escola regular, podem garantir o acesso
a informação com uma maior rapidez. As chamadas tecnologias da informação
oferecem a pessoa com limitações motoras tipos de teclados como demonstrado nas
figuras 4 e 5 ; mouses adaptados como nas figuras 2 e 3.
Assim, como existem recursos de alto custo como os leitores de telas para
deficientes visuais, existem outros como o Dox Vox que poderá ser baixado da Internet
sem nenhum custo. (NUNES; SOBRINHO, 2008).
Dentre as TA encontra-se a comunicação alternativa e aumentativa (CAA) ou
simplesmente comunicação alternativa (CA), seguida pelo uso das tecnologias
utilizadas para a construção do conhecimento e auxílio para os problemas de
aprendizagem e da comunicação. É um importante recurso para avaliar e analisar as
dificuldades cognitivas e intelectuais.
Através desse instrumento busca-se explorar as possibilidades de atenuar as
dificuldades e/ou potencializar as habilidades já existentes. Assim, quando a criança
não consegue comunicar-se de maneira eficiente sua interação com o ambiente e com
o outro é prejudicada. Por isso, o uso de um tipo de comunicação que venha a oferecer
outras possibilidades é importante para que a pessoa tenha a oportunidade de se
fazer entender e de expressar seu pensamento de forma o mais independente
possível. Trata-se dos recursos da CAA: Comunicação suplementar alternativa é uma
área de atuação clínica
educacional e de pesquisa que objetiva compensar e facilitar (temporária ou
permanentemente) os prejuízos ouin capacidade de indivíduos com severos distúrbios
da comunicação expressiva e/ou distúrbios da compreensão (ASHA Apud,
MEC/SEESP, 2004, p. 47-48).
É considerada comunicação alternativa quando o indivíduo não apresenta outra
forma de comunicação e, considerada ampliada quando o indivíduo possui alguma
comunicação, mas que não é suficiente para suas trocas sociais.
No Brasil a CAA vem sendo traduzida de diferentes maneiras: Comunicação
Alternativa e Aumentativa; Comunicação Alternativa e Suplementar; Comunicação
Alternativa e Ampliada A comunicação alternativa (CA) é um recurso utilizado para
aquelas crianças que não possuem condições para expressão da linguagem falada.
Visa atender as necessidades dos educandos com comprometimento da fala e da
escrita. Envolve diferentes formas de expressar a linguagem falada com materiais que
possam dar suporte, facilitando o processo de comunicação da criança com seu meio.
A família tem participação ativa no processo de implantação da comunicação
alternativa sendo utilizado tanto na sala de aula como, também, em outros espaços e
situações de vida da criança. (BRESCH, 2007).
Podem ser considerados recursos de baixa tecnologia: Prancha de
comunicação: podem ser construídas utilizando-se objetos ou símbolos, letras, sílabas,
palavras, frases ou números. Devem ser personalizadas considerando-se as
possibilidades cognitivas, visuais e motoras de seu usuário.
Figura 6 - Prancha de comunicação sequencial.
Esta prancha poderá estar solta ou agrupada; poderá ser organizada em um
álbum de imagens, de fotografias, de figuras ou mesmo em um caderno, por exemplo,
para acompanhar o usuário cotidianamente. Os símbolos serão aplicados
gradativamente considerando-se que é um processo no qual o usuário necessitará
adaptar-se a uma nova maneira de comunicar-se. Deverá ser estabelecido em
conjunto com o usuário, partindo de significados mais reais para que possam ser
colocados em uso. As adaptações ao material variam caso a caso. A prancha de
comunicação deverá estar organizada de modo que o usuário possa manipulá-la e
transportá-la facilmente. O usuário irá apontar o símbolo contendo a informação
desejada ou contará com o apoio de seu interlocutor quando houver um impedimento
motor.
No uso dessa tecnologia é necessário considerar não só os símbolos que a
criança considerar como sendo de maior significação, mas todos os sinais corporais
que ela manifestar intencionalmente a fim de comunicar algo. São considerados
símbolos as representações visuais, auditivas ou táteis de um conceito e na CAA são
utilizados vários símbolos que ajudam na organização da mensagem.
Na CAA os vários símbolos na composição de uma mensagem (objetos, a fala,
os gestos, a linguagem de sinais, as fotografias, os desenhos e a escrita) e os vários
tipos de símbolos (objetos reais, miniaturas, objetos parciais, fotografias, símbolos
gráficos) podem ser divididos em símbolos que não necessitam de recursos externos
(utiliza-se o corpo para comunicar-se) e símbolos que necessitam de recursos
externos (utilizam-se equipamentos e instrumentos além do corpo para produzir uma
mensagem). Inicialmente trabalha-se com um número reduzido de símbolos para
verificar se a criança/usuário se adapta e está pronta para o entendimento e a devida
aplicação.
Os objetos da vida diária têm um valor muito significativo e, por isso, é
importante que a pessoa que trabalha com os símbolos escolhidos pela criança
expresse a ideia completa da mensagem, utilizando a estrutura gramatical correta.
Paulatinamente, poderão ser agregados outros símbolos ao considerar que a criança
adquiriu maior segurança em sua comunicação adicionando gestos, maneiras de olhar,
de apontar, de se movimentar. Deverá ser sempre estimulada a opinar, a manifestar
seu desejo, sua opinião em todas as situações, bem como deverá ser oferecida
alternativas e variadas opções no uso dos materiais. (BRESCH, 2007). É importante
que a prancha de comunicação sequencial (Figura 7) esteja sempre ao alcance da
criança e contenha símbolos da vida diária como higiene, alimentação, brinquedos,
lugares de sua preferência, entre outros e, principalmente, objetos para o uso em sala
de aula e relacionados a conteúdos pedagógicos, bem como regras de convivências
trabalhadas pelo grupo. Novos símbolos serão agregados de acordo com a
necessidade de comunicação e de adaptação ao mesmo. (BRESCH, 2007)
Eye-gaze - pranchas de apontar com os olhos que podem ser dispostas sobre
a mesa ou apoiada em um suporte de acrílico ou plástico colocado na vertical. O
indivíduo também pode apontar com o auxílio de uma lanterna com foco convergente,
fixada ao lado de sua cabeça, iluminando a resposta desejada.
Figura 7 - Prancha de comunicação com os olhos (eyegaze).
Avental - é confeccionado em um tipo de tecido que facilite a fixação de
símbolos ou de letras com velcro, que é utilizado pelo parceiro. No seu avental o
parceiro de comunicação prende as letras ou as palavras e a criança respondem
através do olhar.
Figura 8- Avental de comunicação
Comunicador em forma de relógio - esse recurso possibilita ao indivíduo uma
resposta com autonomia, mesmo que apresente uma dificuldade motora severa. Seu
princípio é parecido ao do relógio. A pessoa é quem comanda o movimento do
ponteiro apertando um acionador. Podem ser considerados recursos de alta
tecnologia: Comunicadores com voz gravada - são comunicadores onde as
mensagens podem ser gravadas pelo parceiro de comunicação.
Figura 09 - Vocalizador (GO TALK)
Comunicadores com voz sintetizada - no comunicador com voz sintetizada o texto é
transformado eletronicamente em voz ( Figura 9).
Figura 10 - Lightwriter - Comunicador de voz sintetizada da empresa Zygo.
Computadores - com o avanço da tecnologia novos sistemas de CA têm surgido para
facilitar a comunicação das pessoas com necessidades especiais como o Comunique,
o IntelliPics Studio, o OverlayMaker, o Escrita com Símbolos, o Boardmaker
(programa específico para a criação de pranchas de comunicação contendo mais de
3.000 símbolos PCS), entre outros.
Figura 11 - Boardmaker (banco de dados gráficos para uso dos símbolos PCS)
Como toda criança, a criança com paralisia cerebral é chamada à interagir em
seu meio através da linguagem, assim, é importante perceber seu potencial
comunicativo, desde os movimentos corporais bruscos (movimentos, distensões e
agitação) até os mais sutis como sons vocalizados, direcionamento e fixação do olhar,
manifestações de sentimentos e expressões faciais, das atividades e brincadeiras que
gosta ou não de participar, porque poderão servir ao manuseio da comunicação
alternativa que substituirá a comunicação formal ou potencializar alguma habilidade
existente.
O uso dessas tecnologias proporcionará maior qualidade de vida escolar e
acessibilidade, bem como, certa independência para a realização das tarefas, pois
serão ampliadas a sua movimentação e mobilidade, bem como a sua possibilidade
comunicativa, ampliando suas habilidades para a aprendizagem dentro e fora do
ambiente escolar.
Porém, tanto ou mais importante do que disponibilizar recursos diferenciados
para a comunicação é ter disponível um interlocutor disposto a interagir com a pessoa
não falante. São imprescindíveis, portanto, a aceitação e o incentivo do grupo do qual
a pessoa faz parte, no emprego de novas formas de comunicação que não as
convencionais.
Assim, o uso dos recursos tecnológicos na educação abrem caminhos para
tornar possível o diálogo entre escola e aluno. Ao reinventar formas de construir o
conhecimento, bem como novas formas de nos relacionarmos com nossos
preconceitos, valores e concepções sobre o outro, sobre o diferente, o estranho,
investimos em novas formas de pensar esse aluno, de ensiná-lo, de escutá-lo e avaliá-
lo. Se a utilização das tecnologias e dos recursos auxiliam-nos como professores e
alunos em nosso estar na escola, nos fazem por outro lado, repensar nossas atitudes
frente ao novo, ao inusitado, o ser aluno, o ser professor que implica estar aberto a
novas experiências de aprendizado.
São desafios, interrogações que nos convidam a reflexão e a construção de
possibilidades.
4. Explorando contextos e fazeres: a busca pelas relações
entre as tecnologias assistivas, a comunicação
aumentativa e alternativa e a sala de aula
O aluno com paralisia cerebral pode apresentar diferentes alterações que
dificultam a
motricidade, a comunicação, o desenvolvimento social, cognitivo, entre outros. No
âmbito da sala de aula, tais alterações demandam diferentes estratégias pedagógicas
a fim de remover as barreiras à aprendizagem. Nesse sentido, se a pergunta pela
deficiência física é importante (suas causas, classificações, entre outros), torna-se
imprescindível perguntar pelas possibilidades, pelos recursos e estratégias capazes
de potencializar percursos escolares significativos.
Faz-se necessário, portanto, interrogar, questionar, conhecer diferentes ações
e reflexões de profissionais da educação e saúde perante os impasses colocados pela
escolarização de tais alunos.
Nesse contexto, e conforme revisão bibliográfica, potencializar a linguagem e
os processos comunicativos é fundamental. A acessibilidade aos processos de
comunicação e linguagem é construída, principalmente, através das tecnologias
assistivas, da comunicação aumentativa e alternativa. O conhecimento acerca de tais
recursos e a capacitação de docentes para a utilização pedagógica dos mesmos
torna-se, então, imprescindível para os processos de inclusão escolar. Apesar da
importância deste tema, pesquisas recentes, como as de Manzini (2008), apontam
que ainda há um grande desconhecimento por parte das escolas, das redes e dos
professores acerca do uso pedagógico das tecnologias assistivas, da comunicação
aumentativa e alternativa.
Frente a tal desconhecimento, optou-se por uma pesquisa exploratória que
focasse o uso pedagógico das tecnologias assistivas e da comunicação aumentativa
e alternativa. Como tais recursos podem colaborar com a prática pedagógica? Quais
os possíveis usos pedagógicos das tecnologias assistivas e da comunicação
aumentativa e alternativa no contexto da inclusão escolar de alunos com paralisia
cerebral? Perguntas que nos levaram em direção a professores, escolas, alunos,
fonoaudiólogos e, sobretudo, a tantas outras perguntas. Avaliando o percurso e o
trabalho até então realizado, afirma: “Por que o [Leo] está evoluindo? Porque ele tem
toda uma equipe por trás dele. Se ele
morasse numa família que só levasse ele para a escola, como é que seria essa
educação? Imagina se ele estaria se comunicando da maneira como ele se comunica.
Ele só tem tudo isso porque ele tem uma equipe que está produzindo isso.” Quanto
às dificuldades na introdução das tecnologias para o aluno e para o atendimento em
sala de aula, para esta profissional, a falta de recurso da família e da escola são
importantes entraves: “Muitas vezes, as próprias famílias não têm esse conhecimento;
não buscam e dependem unicamente da escola.
Falta preparar melhor os professores, essas pessoas que trabalham nas salas
de recursos. Fornecer todos os materiais que têm porque são muitos. Que a escola e
o pessoal voltado à educação especial consiga se unir e mudar isso. Essa é a maior
barreira: a falta de recurso e de conhecimento; alguém ou uma equipe que se
disponibilize a ensinar para conhecer os materiais e seu uso (aplicabilidade).
Assim, tendoo professor capacitado, caberá a escola adquirir os recursos e
começar a usar com seus alunos (...) Os professores precisam saber que existem
recursos para serem aplicados em casos específicos. É preciso ter essa formação
para poder usar esses equipamentos (...). Não adianta ter o material e os profissionais
não saberem como utilizar. É um somatório tanto do aperfeiçoamento, preparo dos
profissionais, quanto os recursos para utilizar”. No contexto da inclusão escolar, as
tecnologias devem estar à serviço dos processos de aprendizagem do aluno. Para
tanto, o professor precisa apropriar-se de diferentes conhecimentos, estratégias.
No que diz respeito as tecnologias, a fisioterapeuta Sue ressalta o engano de
se pensar que tecnologia é unicamente uma ferramenta, um instrumento, ou seja,
para muitos educadores o computador é o único recurso tecnológico disponível. “(..)
quando a gente fala em tecnologia assistiva, muitas pessoas acham que é um
instrumento, uma ferramenta.(...). Fala em tecnologia, fala em acesso ao computador,
porque tecnologia é computador. Se a gente descobrir uma estratégia com o [Leo],
que é esse menino que a gente conhece, para que ele se comunique através de uma
afirmação piscando o olho (...) e aí, junto com os colegas a gente trabalha para que
eles façam perguntas, que possa dizer sim ou não, concorde ou discorde com o
procedimento que está acontecendo no trabalho de grupo, que ele consiga sinalizar
através de fotografias o que ele quer em detrimento daquilo que ele disse que não
quer, se ele conseguir argumentar e utilizando essa técnica, aponta para cartões,
enfim, está fazendo tecnologia assistiva.”
Acrescenta, ainda, que a capacitação, a formação de professores para a
utilização dos recursos tecnológicos possibilitaria a construção de caminhos para que
a escola venha a alcançar seu objetivo, que é a aprendizagem do aluno. “Esse
processo da introdução de tecnologia é o processo pedagógico. Ele tem que envolver
a formação de todos. Para uma competência operacional, quer dizer, saber usufruir
daquela tecnologia, e para uma competência funcional. Aquela tecnologia está aí para
atender um objetivo. Ela está ou não atendendo esse objetivo? E na escola o objetivo
é o de aprendizagem. (...) A educação está se apropriando disso, para fazer educação,
para ajudar o ser humano a evoluir dentro desse contexto em cima daqueles objetivos
que são da educação.”
A busca por soluções para problemas reais de alunos que apresentam
deficiências deveria estimular a construção de metodologias, de estratégias de
trabalho. Conforme comenta a fisioterapeuta Sue: “Se o professor aprender esse
caminho de identificar, de aprofundar o conhecimento sobre a situação, de buscar
referencial teórico que atenda aquela situação e de construir ativamente solução para
aquele problema; se ele se exercitar nesse percurso ele vai ser capaz de fazer isso
para tantas outras situações reais. Diversificar. Ele trabalha dentro do caminho para
construir conhecimento sobre um menino com paralisia cerebral, amanhã ele faz um
caminho para construir conhecimento sobre um aluno cego. (...)Acho que depende
muito dessa disposição pessoal das pessoas. As pessoas, muitas vezes, congelam
diante dos problemas, ao contrário de se sacudir e crescer.” E, ainda: “(...) não é que
o professor vai ter que se formar, mas ele vai buscar conhecimento e formar redes
com outros profissionais que possam fazer o ajuste da cadeira e a prescrição de um
determinado apoio. A idéia é isso, mostrar um caminho de uma construção (mesmo!)
de conhecimento para esses professores que fazem a intervenção no atendimento
educacional especializado.” Contextualizando as relações entre TA, educação e
formação de professores, a fisioterapeuta Sue afirma que a tecnologia assistiva
sempre esteve presente. E ressalta que: “Tecnologia assistiva é um recurso ou uma
prática ou uma metodologia que favorece uma habilidade em uma pessoa com
deficiência que em função da deficiência não tem acesso a; e à medida que utiliza
desse recurso ou dessa prática vence e consegue atuar e participar sempre de uma
questão de interesse.
Então, esse tema dos recursos, os recursos para os alunos cegos, os recursos
para os surdos ou alguma coisa dentro da área da deficiência sempre existiu, e
existem. O que acontece agora é que esse tema se organiza dentro de um conceito,
o conceito da tecnologia assistiva, e a tecnologia assistiva é recurso e é serviço. E é
um serviço na área clínica, é um serviço na área educacional, cada um dentro de uma
perspectiva diferente”. Para esta profissional, considerada uma das referências
nacionais no campo da educação
especial e tecnologias, o professor que está tendo pela primeira vez um contato com
o tema das tecnologias assistivas, os livros darão uma formação inicial que,
posteriormente, deverá ser ampliada e aprofundada por cursos de formação, mas que
o importante é colocar-se como “eterno pesquisador” e não temer tanto a prática da
sala de aula.
“(...) o professor deve se colocar numa atitude de eterno pesquisador. Ele vai, sim,
aprender a observar uma situação, identificar uma necessidade para que ela se torne
o objetivo de intervenção e essa intervenção ser fundamentada. Precisa buscar
referencial e uma rede de parceiros. Isso vai fazer com que esse professor cresça. No
momento que ele
estiver com o aluno surdo ou ele estiver a frente de um trabalho, ele vai buscar
formação específica e ele vai se aprimorar em libras, mas ele sabe que essa formação
existe e que da
mesma forma a comunicação alternativa existe. Existe a oportunidade de
aprofundamento teórico, técnico e prático, dentro disso, e os livroseles te dão essa
formação de um
conhecimento inicial , mas que deve ser aprofundado no momento, também, em que
se começa a fazer a aplicação. Acho que a gente não deve temer tanto, né. (...) A
gente não
tem que ter medo de enfrentar, de olhar as publicações que já existem, experimentar
e avaliar resultados. Não existe regras. Cada criança é diferente uma da outra.”
Para Manzini (2008) é necessário capacitar os professores do Ensino
Fundamental para o uso do computador, de recursos e equipamentos do âmbito da
tecnologia assitiva. Estes, oferecerão apoio ao professor e ao aluno na construção
dos processos educacionais, considerando a aprendizagem, a acessibilidade à
comunicação e à informação.
Falar em tecnologia, no campo da educação especial e dos processos inclusivos,
conduz à questões de acessibilidade. Manzini (2008) ressalta a necessidade de que
a sociedade incorpore atitudes e valores para que se crie uma cultura de
acessibilidade. Ao introjetar tais valores nas várias dimensões da sociedade, as
condições de acessibilidade oferecidas pela escola, por exemplo, serão fundamentais
para efetivação dos processos de inclusão escolar.
Utilização das TA e da CAA nos processos de ensino e aprendizagem
Para a professora Léa o uso da TA e da CAA para alunos que apresentam
limitações de movimentos e da fala contribui para a sua expressão e interação. No
caso de Leo, a tecnologia “possibilita que ocorra a comunicação”. Porém, afirma a
professora Léa que consegue entender os gestos e expressões faciais sendo que a
tecnologia auxiliaria ainda mais neste processo de interação aluno e professor. A
professora salienta que procura avaliar-se cotidianamente, pensando em como
poderia atuar para mediar as aprendizagens do aluno. Dentre as flexibilizações
propostas, enfatiza o maior tempode realização das atividades.
No que se refere às dificuldades, a avaliação é sempre um desafio. Avaliar o
aluno em questões relacionadas à leitura, pela falta de verbalização, e ao recorte e
colagem, pelas limitações motoras, exige reflexão constante. Até o momento, o aluno
progrediu normalmente, sem retenção. Ainda no que se refere à avaliação e
progressão, a estagiária Lia afirma: “(...) a professora, até agora, utilizou os mesmos
instrumentos de avaliação que aplicou aos demais alunos: construção de texto, ditado,
desenho, prova de matemática, de acordo com a metodologia utilizada por ela. (...) A
progressão é realizada a partir dos mesmos instrumentos avaliativos utilizados pelos
outros alunos, porém com uma exigência
diferenciada no que se refere à escrita e a leitura”.
Leo apresenta dificuldades em matemática, em assuntos relacionados à
quantificação. Segundo a estagiária: “(...) a professora tem buscado trabalhar sempre
dentro do que os demais estão trabalhando, mas ela utiliza bastante materiais
concretos e flexibiliza o registro. É fundamental, quando se trata de inclusão de alunos
com PC, além de um apoio pedagógico, proporcionar meios de autonomia e interação
para esse aluno”.
A professora Lou, da SIR, diz que a avaliação é realizada diariamente, não
existindo um momento específico de testagem, pois é necessário em cada
atendimento “observarmos e avançarmos no que [Leo] nos mostra em suas condições
e potencialidades e, ele nos diz por onde nós devemos seguir”. Nesse contexto, as
tecnologias são pensadas como estratégias facilitadoras para os processos de
comunicação e aprendizagem.
Na avaliação dos docentes, o aluno conseguiu um grande avanço a partir do uso do
computador, pois dessa forma ele precisou e pôde mostrar o que realmente sabe,
adquirindo autonomia na realização de suas tarefas. “Contudo, ainda apresenta
lentidão e pouco domínio do recurso/ferramenta”. Professora e estagiária
compartilham da mesma opinião ao que se refere ao uso do computador. Diante dessa
constatação a professora afirma que: “[...] com a utilização do computador, em sala
de aula, o aluno passou a ter mais
autonomia e a entender-se mais responsável do seu trabalho na sala de aula.
Também foi um avanço o trabalho nos grupos, onde ele passou a interagir melhor.
Mas os avanços
ainda estão lentos, pois ainda estamos buscando outras formas de TA e CA para
utilizar na sala de aula.
Depois que passamos a utilizar o notebook em sala, além de um recurso para
o avanço do aluno, dispomos de uma ferramenta efetiva para a avaliação mais
consistente e uma forma, também, de tornar mais independentes as suas produções”.
De acordo com a fonoaudióloga Soni já é possível avaliar os avanços conquistados
pelo uso
desses recursos: “Antes [Leo] era uma criança que só se comunicava com o olhar
como que pedindo coisas, querendo dizer coisas que não se entendia, não se sabia
ao certo o que ele queria. Às vezes era fome ou vontade de fazer alguma coisa e não
havia como entender de outra maneira. Hoje ele se expressa perfeitamente. Ele pode
dizer tudo o que quer, porque se não tem na prancha, tem no alfabeto que ele vai
mostrando, por ser uma criança alfabetizada, e alguém vai escrevendo e descobrindo
o que ele quer. Ele diz perfeitamente quando não gosta de alguém. Ele sabe nos dizer
ou quando não gosta de alguma coisa ou quando ele quer muito alguma coisa. Foi um
avanço enorme e um progresso muito grande do que era para hoje”.
Apesar desses aspectos, refere-se às dificuldades no uso das tecnologias nos
diferentes contextos por onde o menino circula: “Tem que ter uma conscientização
muito grande tanto na escola quanto na Casa que ele precisa usar aquela prancha,
então, é muitas vezes... é deixada de lado. A gente pede muito, está sempre pedindo
- deixa a prancha com ele, para ele conseguir pedir, senão não adianta. Então, acho
que o que mais a gente está dando prioridade é pra comunicação. Para ele mostrar o
que ele quer, o que ele necessita, o que ele deseja”. Abordando o tema da resistência
e abandono da TA e da CAA no contexto escolar, Sue comenta o complexo e delicado
processo que envolve alunos, professores e tecnologias na sala de aula. Muitos
abandonos acontecem pela impossibilidade de avaliar, escutar as diferentes
instâncias constitutivas deste processo. Escutar o aluno, em todos os momentos, é
primordial.
Segundo a profissional: “Raramente é da iniciativa dele buscar um apoio
tecnológico para vencer uma dificuldade pessoal porque ele identificou que uma
situação real podia ser melhor. (...) Então o que eu quero dizer é que uma das
questões e, talvez a mais relevante para que as coisas dêem certo é que a nossa
intervenção aconteça nas coisas que façam sentido para essa pessoa. Que seja dela
a iniciativa. (...) esse é o grande cuidado que a gente tem que ter para que as coisas
dê em certo. Considerar esse sujeito protagonista desseprocesso. Identificar tantas
necessidades, que a gente vai precisar eleger algumas. E aí se deve eleger aquelas
que fazem mais sentido e em que momento faz mais sentido. (...) aí a gente vai
fazendo as intervenções.”
Parece evidente a existência de barreiras no cotidiano da sala de aula, que
dificultam o processo de interação e de aprendizagem dos diferentes alunos. Essas
barreiras são
pedagógicas quando se referem às condições para a construção do conhecimento no
âmbito da escola e atitudinais quando são relativas às interações sociais e se
relacionam diretamente com os aspectos pedagógicos, influenciando-se mutuamente.
(MIRANDA,2008,p.292).
Para refletir sobre o processo de inclusão escolar de alunos com paralisia
cerebral, enfatizou-se a importância das tecnologias assistivas e da comunicação
aumentativa e alternativa. A fim de compreender o uso pedagógico destes recursos,
a presente pesquisa procurou conhecer autores, teorias e perspectivas e
interpretações sobre o tema. Diferentes estratégias metodológicas foram utilizadas.
Sujeitos e contextos envolvidos em uma rede que age, pergunta, faz e refaz as longas
e delicadas tramas que sustentam os processos de inclusão escolar. A falta de
estudos, recursos e informações sobre as TA e CAA no atendimento de aluno com
paralisia cerebral é comentada por diferentes autores (MANZINI, 2008: NUNES;
SOBRINHO, 2008).
5. Referências
BAPTISTA, C.R. Educação especial e o medo do outro: attento ai segnalati! In:
BAPTISTA, C.R. (org.) Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. Porto Alegre:
Mediação, 2006, p.1729.
BARONI, Alexandre Carvalho. A importância da família no processo de escolarização
de filhos com paralisia cerebral. In: Teoria e prática da educação. Maringá, PR Vol. 2,
n. 4. jun.2001.
BASIL, Carmen. Os alunos com paralisia cerebral e outras alterações motoras. In:
COLL, César. Desenvolvimento psicológico e educação. 2 ed. Porto Alegre: Artmed.
2004. v. 3
BRANDÃO, J. S. Bases do tratamento por estimulação precoce da paralisia cerebral
ou dismotria cerebral ontogênica. São Paulo: Ed. Memnon, 1992.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Decreto n° 3298, de 20 de dezembro de 1999.
BRASIL. Decreto n° 5296, de 2 de dezembro de 2004.
BRASIL. MEC/SEESP. Ministério da Educação. A inclusão escolar de alunos com
necessidades educacionais especiais: deficiência física. Brasília. 2006.
BRASIL.MEC/SEESP. Saberes e práticas da inclusão: dificuldades de comunicação
e sinalização: deficiência física. Brasília. 2004.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996.
BUENO, José Geraldo S. As políticas de inclusão escolar: uma prerrogativa da
educação especial? In: Deficiência e escolarização : novas perspectivas de análise.
São Paulo: CAPES. 2008. p. 43-63.
CARVALHO, R.. Removendo barreiras para a aprendizagem. Porto Alegre: Mediação.
2007.
MANZINI, Eduardo José. Acessibilidade: um aporte na legislação para o
aprofundamento do tema na área de educação. In: BAPTISTA, Cláudio Roberto;
CAIADO, Katia R. M.; JESUS,
Denise M de. (Org.). Educação Especial: diálogo e pluralidade. Porto Alegre: Editora
Mediação, 2008. p. 281- 289.
MIRANDA, Therezinha Guimarães. Acessibilidade da pessoa com deficiência para a
construção de uma escola inclusiva: o currículo e a interação. In: BAPTISTA, Cláudio
Roberto; CAIADO, Katia R. M.; JESUS, Denise M. de. (Org.). Educação Especial:
diálogo e pluralidade. Porto Alegre:Editora Mediação, 2008.
NUNES, Leila R. de Paula; SOBRINHO, Francisco de P. N. Acessibilidade. In:
BAPTISTA, Cláudio Roberto; CAIADO, Katia R. M.; JESUS, Denise M de. (Org.).
Educação Especial: diálogo e pluralidade. Porto Alegre: Editora Mediação, 2008. p.
269- 279.
RESTREPO, Luís Carlos. O direito à ternura. trad. De Lúcia M. E. Orth. Petrópolis, RJ:
Vozes. 1998.
SCHIRMER, Carolina R. [et al]. Deficiência Física. São Paulo. MEC/SEESP. 2007.
VASQUES, Carla K. . Branco sobre o branco: psicanálise, educação especial e
inclusão. Revista Educação Especial (UFSM), v. 22, p. 29-40, 2009.