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Lista de Atividades de Interpretação de Texto

O documento apresenta uma lista de atividades para desenvolver habilidades de interpretação de texto, incluindo dicas práticas como ler com um objetivo, dividir o texto em partes e fazer perguntas. Além disso, inclui duas histórias, uma lenda e um conto, que ilustram lições sobre responsabilidade e generosidade. Por fim, um relatório científico explora o impacto da luz na germinação de sementes, demonstrando a importância desse fator no crescimento das plantas.

Enviado por

Jéssica Martins
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Lista de Atividades de Interpretação de Texto

O documento apresenta uma lista de atividades para desenvolver habilidades de interpretação de texto, incluindo dicas práticas como ler com um objetivo, dividir o texto em partes e fazer perguntas. Além disso, inclui duas histórias, uma lenda e um conto, que ilustram lições sobre responsabilidade e generosidade. Por fim, um relatório científico explora o impacto da luz na germinação de sementes, demonstrando a importância desse fator no crescimento das plantas.

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Lista de Atividades de Interpretação de Texto

A interpretação de textos é uma habilidade essencial para compreender informações e se


comunicar bem. No entanto, alguns textos exigem um olhar mais atento, especialmente quando
apresentam significados implícitos. Esta lista de atividades foi preparada para ajudar no
desenvolvimento da leitura e da interpretação, tornando mais fácil identificar pistas no texto e fazer
inferências. Com paciência e prática, a compreensão melhora, e a leitura se torna cada vez mais
prazerosa!

Aqui estão cinco dicas para te ajudar a interpretar textos de forma mais eficaz e desenvolver
suas habilidades de inferência:

Leia com um objetivo


Antes de começar a leitura, pense no que você precisa descobrir. Você está lendo para entender uma
história? Para responder perguntas? Ter um objetivo vai te ajudar a focar no que é mais importante.
Divida o texto em partes menores
Ler tudo de uma vez pode ser cansativo. Experimente ler um pedaço do texto e parar para pensar: O
que aconteceu até aqui? Resumir com suas próprias palavras ajuda a entender melhor.

Faça perguntas enquanto lê


Perguntar para si mesmo pode ajudar muito! Pense em questões como: O que está acontecendo? Por
que esse personagem fez isso? O que pode acontecer depois? Isso vai te ajudar a encontrar respostas
no texto.

Procure pistas escondidas


Nem sempre o texto diz tudo de forma direta. Preste atenção em palavras e expressões que dão dicas
sobre o que está acontecendo. Se um personagem está "tremendo de frio", por exemplo, podemos
imaginar que está muito frio, mesmo que o texto não diga isso claramente.

Use imagens e anotações


Se tiver imagens no texto, observe bem, pois elas ajudam a entender a história. Fazer anotações ou
desenhos sobre o que você leu também pode ser uma ótima forma de organizar as ideias.

Lembre-se: interpretar um texto é como montar um quebra-cabeça. Com treino e paciência, você vai
ficando cada vez melhor nisso!
Lista 1

GÊNERO TEXTUAL: LENDA

A PEDRA NO CAMINHO

Conta-se a lenda de um rei que viveu num país além-mar há muitos anos. Ele era muito sábio
e não poupava esforços para ensinar bons hábitos a seu povo. Frequentemente fazia coisas que
pareciam estranhas e inúteis; mas tudo que fazia era para ensinar o povo a ser trabalhador e
cauteloso.
– Nada de bom pode vir de uma nação – dizia ele – cujo povo reclama e espera que outros
resolvam seus problemas. Deus dá as coisas boas da vida a quem lida com os problemas por conta
própria.
Uma noite, enquanto todos dormiam, ele pôs uma enorme pedra na estrada que passava pelo
palácio. Depois foi se esconder atrás de uma cerca, e esperou para ver o que acontecia.
Primeiro veio um fazendeiro com uma carroça carregada de sementes que ele levava para
moagem na usina.
– Quem já viu tamanho descuido? – disse ele contrariadamente, enquanto desviava sua parelha
e contornava a pedra. – Por que esses preguiçosos não mandam retirar essa pedra da estrada? – E
continuou reclamando da inutilidade dos outros, mas sem ao menos tocar, ele próprio, na pedra.
Logo depois, um jovem soldado veio cantando pela estrada. A longa pluma do seu quepe
ondulava na brisa, e uma espada reluzente pendia à sua cintura. Ele pensava na maravilhosa coragem
que mostraria na guerra.
O soldado não viu a pedra, mas tropeçou nela e se estatelou no chão poeirento. Ergueu-se,
sacudiu a poeira da roupa, pegou a espada e enfureceu-se com os preguiçosos que insensatamente
haviam largado uma pedra imensa na estrada. Então, ele também se afastou, sem pensar uma única
vez que ele próprio poderia retirar a pedra.
Assim correu o dia. Todos que por ali passavam reclamavam e resmungavam por causa da
pedra colocada na estrada, mas ninguém a tocava.
Finalmente, ao cair da noite, a filha do moleiro por lá passou. Era muito trabalhadora, e estava
cansada, pois desde cedo andava ocupada no moinho.
Mas disse a si mesma: “Já está quase escurecendo, alguém pode tropeçar nesta pedra à noite
e se ferir gravemente. Vou tirá-la do caminho.”
E tentou arrastar dali a pedra. Era muito pesada, mas a moça a empurrou, e empurrou, e puxou,
e inclinou, até que conseguiu retirá-la do lugar. Para sua surpresa, encontrou uma caixa debaixo da
pedra.
Ergueu a caixa. Era pesada, pois estava cheia de alguma coisa. Havia na tampa os seguintes
dizeres: “Esta caixa pertence a quem retirar a pedra.”
Ela abriu a caixa e descobriu que estava cheia de ouro.
A filha do moleiro foi para casa com o coração feliz. Quando o fazendeiro e o soldado e todos
os outros ouviram o que havia ocorrido, juntaram-se em torno do local na estrada onde a pedra estava.
Revolveram o pó da estrada com os pés, na esperança de encontrar um pedaço de ouro.
– Meus amigos – disse o rei –, com frequência encontramos obstáculos e fardos no caminho.
Podemos reclamar em alto e bom som enquanto nos desviamos deles se assim preferirmos, ou
podemos erguê-los e descobrir o que eles significam. A decepção é normalmente o preço da preguiça.
Então o sábio rei montou em seu cavalo e com um delicado boa-noite retirou-se.

(Autor desconhecido. O Livro das Virtudes. Ed. Nova Fronteira, 1996)


1. Releia o trecho abaixo, retirado do texto em análise:

“Uma noite, enquanto todos dormiam, ele pôs uma enorme pedra na estrada que passava pelo
palácio. Depois foi se esconder atrás de uma cerca, e esperou para ver o que acontecia.”.

Com base nessa passagem, explique qual era o objetivo do rei.


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2. No início na história em análise, um fazendeiro com uma carroça carregada de sementes ficou
contrariado. Explique o motivo de sua contrariedade.
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3. A partir da análise da lenda em estudo, apresente três características do rei.
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4. As alternativas abaixo apresentam sentimentos das pessoas ao encontrarem a pedra na história
lida, exceto em:

a) impaciência.
b) contrariedade.
c) satisfação.
d) fúria.
e) solidariedade.
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5. Explique, com suas palavras, o significado da “pedra no meio do caminho” colocada pelo rei da
lenda em estudo.
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6. No trecho “Podemos reclamar em alto e bom som, enquanto desviamos deles se assim preferirmos
...”, retirado do texto I, a palavra em destaque, pode significar no contexto:

a) amigos.
b) empecilhos.
c) moleiros.
d) soldados.
e) fazendeiros.
7. Releia o trecho abaixo, retirado do texto em estudo:

“– Meus amigos – disse o rei –, com frequência encontramos obstáculos e fardos no caminho.
Podemos reclamar em alto e bom som enquanto nos desviamos deles se assim preferirmos, ou
podemos erguê-los e descobrir o que eles significam. A decepção é normalmente o preço da
preguiça.”.

Baseando-se no conselho do rei, redija um pequeno texto, explicando a fala do rei e exemplificando
com alguma situação do dia a dia em que este conselho poderia ser aplicado.
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Lista 2
GÊNERO TEXTUAL: CONTO

OS GNOMOS E O SAPATEIRO

Era uma vez um sapateiro tão pobre, tão pobre, que só lhe restava couro para um único
par de sapatos. Certa noite, quando ia começar a fazê-lo, sentiu-se cansado. Apenas recortou uma
tira de couro e deixou para terminar o serviço no dia seguinte.
De manhã, quando voltou para a mesa de sua oficina, encontrou o par de sapatos
prontinho. Apanhou cada um dos sapatos e examinou-os, tentando descobrir quem os havia
confeccionado, mas não conseguiu: era um verdadeiro mistério. Intrigava-o ainda mais o fato de que
aquele par de sapatos era o mais perfeito que ele já tinha visto.
O sapateiro ainda estava parado, pensando, com o par de sapatos na mão, quando um
freguês entrou em sua oficina. O homem apaixonou-se pelos sapatos e fez questão de comprá-los
imediatamente. Peter, o sapateiro, não desejava vendê-los; queria primeiro descobrir como haviam
aparecido em sua mesa. Mas o freguês lhe ofereceu tanto dinheiro pelos sapatos que ele terminou
concordando em vendê-los.
Peter usou o dinheiro para comprar mais couro. À noite, cortou o material e foi se deitar.
No dia seguinte, aconteceu a mesma coisa: os sapatos apareceram prontos e em seguida
veio um freguês que os comprou por um preço altíssimo.
E, assim, os dias se passavam e o sapateiro se tornava cada vez mais rico. Até que Heidi,
sua mulher, sugeriu:
─ Precisamos descobrir o que está acontecendo! Em vez de ir dormir, vamos nos esconder
atrás da porta e espiar.
À meia-noite em ponto surgiram dois graciosos gnomos. Sentaram-se na mesa de Peter
com tanta rapidez que ele e sua mulher não conseguiam enxergar os movimentos de suas mãos.
Heidi ficou encantada com os gnomos:
─ Eles nos ajudaram, agora estamos ricos! ─ disse. ─ Mas os dois homenzinhos estão
com frio! Isso não é justo! Vou costurar roupinhas lindas para eles.
E assim o fizeram. Naquela noite colocaram as roupinhas ao lado do couro, e se
esconderam. Os homenzinhos adoraram o presente.
Desse dia em diante, os dois gnomos nunca mais voltaram, mas mesmo assim Peter, Heidi
e os filhos viveram felizes para sempre.

Contos de Grimm: Jacob e Wilhelm


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1. No texto aparecem fatos que fogem a realidade e nos levam ao mundo do fantástico. Que elementos
são esses?

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2. Que fato, acontece no conto que modifica o rumo da história?
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3. Aponte a alternativa a seguir que apresenta corretamente o foco narrativo do texto em estudo:

a) 1ª pessoa, pois o narrador é personagem.


b) 3º pessoa, já que o narrador conta a história e participa dela.
c) 3ª pessoa, pois o narrador é observador.
d) 1ª pessoa, por se tratar de um narrador onisciente.
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4. O que aconteceu na noite em que o sapateiro cansado cortou uma tira do couro e em seguida foi
dormir?
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5. Qual foi a reação do sapateiro quando viu o sapato pronto?
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6. Discorra a seguir qual é o clímax da história e qual é o desfecho.
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7. Use a sua criatividade e elabore abaixo um parágrafo com um novo desfecho para a história lida.
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Lista 3
GÊNERO TEXTUAL: RELATÓRIO DE EXPERIÊNCIA CIENTÍFICA

O Poder da Luz na Germinação de Sementes

Introdução

Você já se perguntou como a luz pode influenciar o crescimento das plantas? Neste relatório,
vamos explorar uma experiência simples que demonstra o efeito da luz na germinação de sementes.
A germinação é o processo em que uma semente começa a crescer e se transformar em uma planta.
Nossa curiosidade é entender se a quantidade de luz que as sementes recebem afeta sua germinação.

Objetivo

O objetivo desta experiência é observar como diferentes condições de luz influenciam a


germinação de sementes. Queremos descobrir se sementes expostas à luz germinam mais
rapidamente e crescem melhor do que aquelas que ficam em total escuridão.

Materiais
Para realizar esta experiência, você vai precisar dos seguintes materiais:

• 20 sementes de feijão (ou qualquer outra semente semelhante)


• 2 pequenos recipientes ou vasos
• Algodão
• Água
• 2 caixas de sapato ou sacos opacos
• Uma lâmpada ou fonte de luz natural
• Papel e caneta para anotações

Procedimento

1. Preparação: Coloque um pedaço de algodão no fundo de cada recipiente. Este algodão vai
manter as sementes úmidas durante a experiência.
2. Distribuição das Sementes: Coloque 10 sementes em cada recipiente sobre o algodão.
3. Adição de Água: Regue as sementes com um pouco de água, apenas o suficiente para manter
o algodão úmido.

Condicionamento das Amostras:

Recipiente 1: Coloque este recipiente em um local iluminado, sob a luz de uma lâmpada ou perto de
uma janela onde receba luz natural.

Recipiente 2: Coloque este recipiente dentro de uma caixa opaca ou saco fechado, garantindo que
fique em total escuridão.

Observação: Verifique os recipientes diariamente e anote qualquer mudança que você veja, como a
presença de brotos e a rapidez com que eles aparecem.

Medidas: Após uma semana, meça o comprimento dos brotos em cada recipiente e compare os
resultados.

Conclusão

Depois de uma semana, observamos que as sementes expostas à luz germinaram mais
rapidamente e cresceram mais do que as sementes mantidas na escuridão. As sementes no recipiente
iluminado começaram a brotar no terceiro dia e tinham brotos mais longos, enquanto as sementes na
escuridão levaram mais tempo para germinar e cresceram menos.
Esta experiência mostra que a luz é um fator importante para a germinação das sementes. A
luz ajuda as sementes a crescerem mais saudáveis e rapidamente. Esse resultado nos ensina que,
em condições naturais, as plantas precisam de luz para se desenvolver bem. Agora, sabemos que a
luz tem um papel fundamental na vida das plantas, começando já na germinação!

Explorando a Germinação das Sementes: O Impacto da Luz no Crescimento Vegetal." Revista Jovem
Cientista, vol. 12, n.º 3, 2024, pp. 45-50.
1. Explique por que o texto sobre o efeito da luz na germinação de sementes é considerado um
relatório de experiência científica. Escreva um pequeno parágrafo abordando os elementos que
caracterizam o texto como um relatório científico.

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2. O objetivo da experiência descrita no texto foi comprovar o efeito da luz na germinação das
sementes. Escreva um pequeno parágrafo confirmando essa afirmação e descreva como a
experiência buscou alcançar esse objetivo.
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3. Apresente um argumento que confirme a importância do experimento realizado, conforme descrito
no texto. Explique por que entender o efeito da luz na germinação das sementes é relevante para o
estudo das plantas.
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4. Qual dos seguintes materiais não foi usado na experiência descrita no texto?
a) Sementes de feijão
b) Lâmpada ou fonte de luz natural
c) Solo fértil
d) Algodão
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5. De acordo com o texto, como as sementes foram mantidas em total escuridão durante a
experiência?

a) Em um recipiente exposto diretamente ao sol.


b) Dentro de uma caixa opaca ou saco fechado.
c) Em um ambiente com luz fraca.
d) No fundo de um recipiente cheio de água.
6. Analise a estrutura do texto e identifique os principais tópicos apresentados. Como a organização
dos tópicos ajuda a entender a experiência científica realizada?

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7. Qual foi a principal conclusão da experiência sobre o efeito da luz na germinação das sementes?
a) As sementes em total escuridão germinaram mais rapidamente.
b) As sementes expostas à luz germinaram mais rapidamente e cresceram mais.
c) A luz não teve efeito na germinação das sementes.
d) As sementes expostas à luz cresceram mais lentamente.
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Lista 4
GÊNERO TEXTUAL: CRÔNICA

Na Escuridão Miserável
Fernando Sabino

“Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me
observava, enquanto punha o motor em movimento. Voltei-me e dei com uns olhos grandes e
parados como os de um bicho, a me espiar, através do vidro da janela, junto ao meio-fio. Eram de
uma menininha mirrada, raquítica, um fiapo de gente, encostada ao poste como um animalzinho,
não teria mais que uns sete anos. Inclinei-me sobre o banco, abaixando o vidro:
– O que foi, minha filha? – perguntei, naturalmente pensando tratar-se de esmola.
– Nada não senhor – respondeu-me, a medo, um fio de voz infantil.
– O que é que você está me olhando aí?
– Nada não senhor – repetiu. – Esperando o bonde…
– Onde é que você mora?
– Na Praia do Remo.
-- Vou para aquele lado. Quer uma carona?
Ela vacilou, intimidada. Insisti, abrindo a porta:
– Entra aí, que eu te levo.
Acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco, e enquanto o carro ganhava velocidade, ia
olhando duro para a frente, não ousava fazer o menor movimento. Tentei puxar conversa:
– Como é o seu nome?
– Teresa.
– Quantos anos você tem, Teresa?
– Dez.
– E o que estava fazendo ali, tão longe de casa?
– A casa da minha patroa é ali.
– Patroa? Que patroa?
Pela sua resposta pude entender que trabalhava na casa de uma família no Jardim Botânico:
lavava, varria a casa, servia a mesa. Entrava às sete da manhã, saía às oito da noite.
– Hoje saí mais cedo. Foi um jantar.
– Você já jantou?
– Não. Eu almocei.
– Você não almoça todo dia?
– Quando tem comida pra levar, eu almoço: mamãe faz um embrulho de comida para mim.
– E quando não tem?
– Quando não tem, não tem – e ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. Na
penumbra do carro, suas feições de criança, esquálidas, encardidas de pobreza, podiam ser as de
uma velha. Eu não me continha mais de aflição, pensando nos meus filhos bem nutridos – um
engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo
burguês.
– Mas não te dão comida lá? – perguntei, revoltado.
– Quando eu peço eles me dão. Mas descontam no ordenado, mamãe disse pra eu não pedir.
– E quanto você ganha?
– Mil cruzeiros.
– Por mês?
Diminuí a marcha, assombrado, quase parei o carro, tomado de indignação. Meu impulso era
voltar, bater na porta da tal mulher e meter-lhe a mão na cara.
– Como é que você foi parar na casa dessa… foi parar nessa casa? – perguntei ainda,
enquanto o carro, ao fim de uma rua do Leblon, se aproximava das vielas da Praia do Pinto. Ela
disparou a falar:
– Eu estava na feira com mamãe e então a madame pediu para eu carregar as compras e aí
noutro dia pediu à mamãe pra eu trabalhar na casa dela então mamãe deixou porque mamãe não
pode ficar com os filhos todos sozinhos e lá em casa é sete meninos fora dois grandes que já são
soldados pode parar que é aqui moço, brigado.
Mal detive o carro, ela abriu a porta e saltou, saiu correndo, perdeu-se logo na escuridão
miserável da Praia do Remo.”

As melhores histórias. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 197-199


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1. Ao ver a menina, o narrador pensou que ela queria esmola: “– O que foi, minha filha? – perguntei,
naturalmente pensando tratar-se de esmola.”. A menina não era uma pedinte: trabalhava, estava à
espera de um ônibus, para voltar para casa. O que leva o narrador a pensar que ela queria esmola?

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2. Observe as comparações:

“... dei com uns olhos grandes e parados como os de um bicho...”.


“... um fiapo de gente, encostada ao poste como um animalzinho...”.

Por que a menina lembra um bicho, um animalzinho?


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3. Compare:
• Impressão do narrador: “... não teria mais que uns sete anos...”
• Resposta da menina ao narrador: “Quantos anos você tem, Teresa?” – “Dez”.
• Como o narrador descreve a aparência da menina: “... suas feições de criança... podiam ser
as de uma velha.”
Se o narrador pensou que a menina tinha sete anos, por que acha que sua aparência podia ser a de
uma velha?
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4. Localize este trecho do diálogo em que o narrador quer saber o que acontece, quando a menina
não tem comida:

“– E quando não tem?


– Quando não tem, não tem – e ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez.”.

Diante da pergunta, a atitude da menina muda: ela parece sorrir, ela olha pela primeira vez para o
narrador. Por que a pergunta desperta na menina essa reação?
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5. Recorde os sentimentos do narrador: “Eu não me continha mais de aflição...”;
“...perguntei revoltado.” Localize esses trechos na crônica e explique cada um desses sentimentos:

a) O que causou aflição?

b) O que causou a revolta?


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6. Recorde a reação do narrador, quando soube quanto a menina ganhava:

“Meu impulso era voltar, bater na porta da tal mulher e meter-lhe a mão na cara.
– Como é que você foi parar na casa dessa… foi parar nessa casa?”
O narrador interrompe a frase: “na casa dessa...”. Por que ele não completa a frase? Que “culpas”
tinha a mulher, para irritar assim o narrador?
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7. A expressão “na escuridão miserável” aparece duas vezes na crônica:
• Na frase final – “... perdeu-se logo na escuridão miserável da Praia do Remo”.
• No título: Na escuridão miserável.
A que se refere a expressão, quando usada como título da crônica?
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Lista 5
GÊNERO TEXTUAL: DIÁRIO DE CAMPO

Visita à Comunidade “São José”

17 de abril de 2024

Hoje, realizamos a visita à comunidade “São José”, situada na periferia de nossa cidade. A
intenção da visita era observar e entender as condições de vida dos moradores, especialmente no
que se refere à falta de saneamento básico. A experiência foi bastante impactante e reveladora.
Ao chegarmos, fomos recebidos pelo líder comunitário, Sr. M., que nos conduziu por uma breve
tour pela área. Desde o início, o cenário era preocupante. As ruas estavam cobertas por lama e
resíduos, e o odor era bastante intenso. Fomos informados que a comunidade enfrenta sérios
problemas com o sistema de esgoto, que está totalmente ausente. Isso resulta em resíduos sendo
despejados a céu aberto, afetando diretamente a saúde dos moradores.
Conversamos com a Sra. A., uma residente de longa data. Ela nos contou que a situação piorou
consideravelmente nos últimos anos. “Não temos para onde escoar o esgoto”, disse ela, com uma
expressão de desânimo. “Às vezes, a água contaminada volta para as nossas casas. É um verdadeiro
pesadelo.” A Sra. A. explicou que as doenças relacionadas à água contaminada, como diarreia e
infecções, são comuns entre as crianças da comunidade.
Em seguida, falamos com o jovem J. S., que nos relatou as dificuldades que enfrentam na
escola devido à falta de saneamento. “O que mais me preocupa é a saúde dos meus amigos”, disse
ele. “A maioria das crianças está frequentemente doente e isso afeta o aprendizado. Muitos dias são
perdidos com idas ao hospital ou consultas médicas.” A sensação de impotência era palpável nas
palavras de J. S.
Observamos também as condições das casas. Muitas delas são precárias, com paredes e
telhados deteriorados. A ausência de um sistema de drenagem adequado fez com que a água da
chuva acumulasse, criando poças que servem como criadouros de mosquitos, potencializando ainda
mais os problemas de saúde.
Durante nossa visita, percebemos a importância da educação e da mobilização comunitária. O
Sr. M. mencionou que a comunidade tem tentado buscar apoio junto ao governo e a ONGs, mas, até
o momento, as respostas têm sido insatisfatórias. “Estamos lutando por melhorias há anos”, contou
ele, “mas o processo é muito lento e, muitas vezes, não conseguimos o suporte necessário.”
A visita nos deixou reflexivos sobre a urgência da situação e a necessidade de soluções
imediatas. A falta de saneamento básico não é apenas uma questão de infraestrutura, mas de
dignidade e saúde para todos os habitantes da comunidade “São José”.
Voltamos para casa com a sensação de que há muito a ser feito e com o compromisso de
divulgar as necessidades urgentes dessa comunidade. A experiência foi um chamado à ação para
todos nós, e esperamos que, com o apoio da sociedade e das autoridades, a situação possa melhorar
em breve.

Registro de campo realizada pelos alunos do Colégio Fagundes Lopes, Rio de Janeiro, em 17 de abril
de 2024.
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1. Descreva, com base na observação dos alunos, as principais condições de vida enfrentadas pelos
moradores da comunidade “São José”. Inclua aspectos relacionados à infraestrutura e à saúde.

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2. No texto, os alunos enfatizam a falta de saneamento básico como um dos principais problemas da
comunidade “São José”. Discuta como essa ênfase ajuda a compreender a situação enfrentada pelos
moradores e quais são as implicações dessa ausência para a qualidade de vida na comunidade.

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3. Qual das seguintes afirmações sobre a comunidade “São José” é verdadeira de acordo com o texto?

a) O sistema de esgoto da comunidade está em pleno funcionamento e em boas condições.


b) As crianças da comunidade enfrentam dificuldades na escola devido à falta de infraestrutura.
c) A água contaminada não representa um problema significativo para a saúde dos moradores.
d) O líder comunitário relatou que a situação de saneamento básico foi completamente resolvida.
4. Qual foi o impacto mais significativo da pesquisa feita pelos alunos sobre eles mesmos, conforme
descrito no texto?

a) A descoberta de soluções imediatas para o problema de saneamento básico.


b) A sensação de urgência e o compromisso com a divulgação das necessidades da comunidade.
c) A melhoria nas condições de saúde dos moradores após a visita.
d) O aumento do apoio financeiro da comunidade à escola.
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5. Analise a fala da Sra. A., que descreve a falta de saneamento e suas consequências para a
comunidade. Como as palavras dela refletem a gravidade da situação enfrentada pelos moradores?

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6. O texto menciona que a água contaminada volta para as casas dos moradores da comunidade “São
José”. Discuta as implicações dessa situação para a saúde pública da comunidade e para as crianças
em particular.

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7. Qual é uma característica essencial do gênero textual “diário de campo” conforme exemplificado no
texto?

a) O uso de uma linguagem técnica e científica para descrever os dados coletados.


b) A inclusão de dados estatísticos detalhados sobre o problema observado.
c) A descrição subjetiva e pessoal das observações e experiências vivenciadas durante o campo.
d) A apresentação de entrevistas formais com especialistas na área estudada.
Lista 7
GÊNERO TEXTUAL: CRÔNICA

Blecaute

“Sabia que a luz elétrica, no Brasil, existe apenas de uns 100 anos pra cá?”

Essa foi a pergunta que meu professor de violão clássico me fez no meio de um blecaute
demorado – culpa de um gerador queimado por algum raio – que fez com que a aula tomasse outro
andamento, totalmente improvisado, mas não menos proveitoso.
Não. Eu nunca tinha pensado nisso. Assim como as crianças do século XXI não sabem o
que é viver sem computador, eu também já nasci dependendo da luz elétrica para tudo o que faço.
Não me imagino sem o banho quentinho, o refrigerante gelado, o computador, o abajur e tantos outros
vícios de conforto que nem percebemos que só existem por causa da eletricidade.
É certo que, em tempos de racionamento, lembramos o tempo todo de reduzir seu
consumo, mas, ficar totalmente sem ela, jamais. Duvido que algum torcedor fanático deixe de
acompanhar o Brasileirão no rádio ou na televisão. Duvido também que no friozinho matinal alguém
se atreva a tomar um banho gelado. E eu, confesso, não deixo de ligar meu secador de cabelo nem
de usar a internet, e me recuso a sair com a roupa amarrotada… A energia elétrica, realmente, é
essencial.
Mas, além dos benefícios da luz, a pergunta do meu professor me fez pensar em como as
pessoas de 100 anos atrás viviam. Aposto que o que parece impossível para nós elas tiravam de letra.
A paciência e o tempo eram muito maiores. E o romantismo também.
Para se mandar uma carta, era preciso escrever à mão, levar ao correio, esperar, esperar,
esperar até o destinatário receber, resolver responder, ir ao correio, esperar outro tanto e, aí sim,
descobrir o que ele pensou do que você quis dizer. Hoje em dia, o assunto já estaria ultrapassado
depois de toda essa espera. E a falta de paciência e o excesso de ansiedade não mais permitem esse
luxo. Agora tudo é feito por e-mail, e, assim que ele é enviado, já queremos receber a resposta.
Para se enxergar à noite, era necessário usar velas e lampiões. As pessoas se recolhiam
mais cedo, conversavam mais e passeavam sob a luz da lua, sem medo da violência, que deve ter
nascido na mesma época da eletricidade.
Para se ouvir música, só se fosse ao vivo. Serenatas, saraus, bandas na praça…Talvez
por isso as pessoas de antigamente tinham mais aptidão musical. Desde cedo eram incentivadas a
“fabricar a música”, ao contrário de hoje, em que já a encontramos pronta em qualquer estação de
rádio.
Tudo é costume. Até alguns anos atrás, eu vivia perfeitamente sem computador e celular.
Agora, se passo um dia sem, me sinto assim. As pessoas começaram a usar e se esqueceram da
tranquilidade de uma noite realmente escura.
Quando a luz finalmente voltou, minha aula já tinha acabado. Reacostumar com a
claridade foi bem mais difícil do que me adaptar à falta dela. Os olhos arderam, as pessoas deixaram
de ser espontâneas, o romantismo das velas sumiu.
Talvez esses 100 anos de claridade noturna não tenham sido tão pouco assim, já que
foram suficientes para esquecermos o bem que a ausência dela faz. O melhor é usar a desculpa do
racionamento, apagar todas as luzes e mudar o andamento da vida, antes que um clarão mais forte
ofusque, irreversivelmente, a nossa visão. E nos faça esquecer que o improviso de uma vela pode
iluminar bem mais…

PIMENTA, Paula. “Apaixonada por palavras”.


Belo Horizonte: Ed. Gutenberg, 2015.
Vocabulário:
Blecaute: interrupção noturna no fornecimento de eletricidade que gera obscurecimento total de uma
área (bairro, cidade, região etc.).
Aptidão: série de requisitos necessários ao exercício de determinada atividade, função etc.
Ofusque: ensombre, enturve, escureça, turve.
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1. Ao longo das aulas, estudou-se que textos pertencentes ao gênero crônica buscam no cotidiano
inspiração para seus temas. Aponte qual foi o fato que motivou a construção da narrativa em análise.
Em seguida, explique qual é a reflexão gerada a partir deste fato.
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2. No texto I, é possível identificar que quem narra a crônica também é personagem da história. Retire
uma passagem do texto que comprova esta afirmação.
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3. A partir da leitura do texto em análise, pode-se concluir que a autora escreveu o texto para
apresentar informações ao leitor ou para fazê-lo refletir? Justifique sua resposta.
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4. A autora do texto I expõe uma opinião no fragmento:
a) “[…] culpa de um gerador queimado por algum raio […]”
b) “Assim como as crianças do século XXI não sabem o que é viver sem computador […]”
c) “A energia elétrica, realmente, é essencial.”
d) “Para se enxergar à noite, era necessário usar velas e lampiões.”
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5. Leia o fragmento a seguir, retirado do texto I:

“Talvez por isso as pessoas de antigamente tinham mais aptidão musical”.

No trecho acima, a autora faz referência a qual fato?


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6. No trecho “[…] mas, ficar totalmente sem ela, jamais.”, retirado do texto I, o pronome “ela” substitui:

a) “a eletricidade”
b) “a televisão”
c) “a internet”
d) “a roupa amarrotada”
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7. Você consegue imaginar seu dia a dia sem energia elétrica? Conforme a autora do texto I explicita,
seria muito difícil para nós, que estamos acostumados aos confortos proporcionados pela eletricidade,
realizarmos nossas tarefas normais sem ela. Por isso é importante praticarmos o consumo consciente,
evitando gastos desnecessários que demandam mais energia e podem, combinados com outros
fatores, desencadear crises energéticas. A partir dessa ideia, elabora um parágrafo, posicionando-se
criticamente sobre o consumo consciente de energia elétrica. Em seguida, elabore uma dica a respeito
de como evitar o desperdício desta energia.
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Lista 8
CONTO FANTÁSTICO

A Moça Tecelã

A moça tecelã acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas
da noite. E logo sentava-se a tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios
estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca
acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira
grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens,
escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha
cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros,
bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para
frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o
peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que
entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira
vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida,
começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo
foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava
justamente acabando de entremear o último fio do ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando
em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar
ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu.
Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele
poderia lhe dar.
– Uma casa melhor é necessária – disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois.
Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a
casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio?
– perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em
prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e
salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela
não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes
acompanhando o ritmo da lançadeira. Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido
escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
– É para que ninguém saiba do tapete – ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu:
– Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres
de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com
todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências.
E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-
a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens,
as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha.
E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em
volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus
pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito
aprumado, o emplumado chapéu. Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma
linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha
do horizonte.

Vocabulário:
Pender: inclinar-se; estar pendurado
Lançadeira: peça de tear por onde passa o fio da tecelagem
Penumbra: sombra incompleta; meia-luz
Pente: peça onde se encaixam as balas de uma arma; peça onde passam os fios de um tecido
Entremear: misturar; intercalar
Emplumado: enfeitado com plumas ou penas
Aprumado: alinhado
Batente: rebaixo onde janela e porta se encaixam ao fechar
Estrebaria: lugar onde se recolhem cavalos e arreios
1. Aponte por qual tipo de narrador o conto em estudo é narrado. Em seguida, retire do texto um trecho
que comprove sua resposta.
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2. No conto “A Moça Tecelã”, protagonista e antagonista não têm nomes próprios; eles são
identificados por suas características. De acordo com a leitura que você fez do texto, descreva-os com
suas palavras.
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3. Quanto à duração da história, é possível saber quanto tempo se passou desde o início dos
acontecimentos até o fim? Justifique sua resposta.
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4. Nos contos fantásticos, embora o espaço em que se passa a história seja, geralmente, surreal,
fantástico, ele representa um ambiente real. Esse aspecto colabora com a intencionalidade presente
no texto: falar de coisas reais a partir do simbólico, do figurado. Explique de que modo essa oposição
entre o real e o fantástico se estabelece na história “A Moça Tecelã” por meio do espaço.
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5. Identifique as partes do enredo que compõem a narrativa do conto “A Moça Tecelã”.

a) Situação inicial
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b) Complicação ou desenvolvimento
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c) Clímax
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d) Desfecho

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6. O conto inicia descrevendo a protagonista (personagem principal) em sua ação de tear. Os
elementos que ela tecia no começo da história mostram que:

( ) O que ela tecia a tornava uma moça rica e bem dotada.


( ) O que ela tecia deixava sua casa mais bonita e aconchegante.
( ) O que ela tecia eram elementos da natureza e aqueles essenciais a sua sobrevivência apenas.
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7. Nos contos fantásticos, uma das características principais é a presença de elementos mágicos, que
fogem aos da vida real. Nesse conto de Marina Colasanti, quais são os elementos mágicos que podem
caracterizá-lo como um conto fantástico?
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Lista 9

GÊNERO TEXTUAL: CONTO

A CARTEIRA
Machado de Assis

...De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la
foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que,
sem o conhecer, lhe disse rindo:
- Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
- É verdade, concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã
uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece
grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou
pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos,
a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile
daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o
futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos
a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a
comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem.
- Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C. advogado e familiar da casa.
- Agora vou, mentiu o Honório.
A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por
desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu
pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam
mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava
nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o
Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e
quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e
que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.
Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos
molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
- Nada, nada.
Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam
com facilidade. A ideia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta. Estava
com, trinta e quatro anos; era o princípio da carreira: todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar,
a esperar, a gastar, pedir fiado ou: emprestado, para pagar mal, e a más horas.
A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca
demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca
aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje
mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir
nada. Ao enfiar pela Rua da Assembleia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e
foi andando.
Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o
Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, - enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou
logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco
de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede,
olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor
para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe
se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas
antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a
dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à
polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e
puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse
ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lhe; insinuação que lhe deu ânimo.
Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às
escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas
de duzentos mil-réis, algumas de cinquenta e vinte; calculou uns setecentos mil-réis ou mais; quando
menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve
tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de pagar a dívida, adeus; reconciliar-
se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.
Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para
quê? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis. Honório teve um calafrio.
Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve
pena de não crer nos anjos... Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava,
passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem?
Tratou de ver se havia na carteira algum sinal.
"Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro," pensou ele.
Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que
não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira? ... Examinou-
a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dois cartões, mais
três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele.
A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e,
naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado
esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar que estava frio. Saiu,
e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe
deu uns dois empurrões, mas ele resistiu.
"Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer."
Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D. Amélia o parecia
também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa.
- Nada.
- Nada?
- Por quê?
- Mete a mão no bolso; não te falta nada?
- Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou?
- Achei-a eu, disse Honório entregando-lhe.
Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para
Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio.
Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas.
- Mas conheceste-a?
- Não; achei os teus bilhetes de visita.
Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente
a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e
estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de
amor.
Machado de Assis.
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1. Observe que, o narrador de "A CARTEIRA" apresenta várias características das personagens, em
especial de Honório. Primeiro, liste as personagens deste conto. Em seguida, diga o que ficamos
sabendo a respeito de Honório.
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2. Qual é o incidente que move o enredo do conto? Por quê?
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3. O narrador nos diz que Gustavo, ao pegar a carteira, "olhou desconfiado para o amigo". E que este
olhar "foi para Honório como um golpe de estilete; (...) era um triste prêmio". Com o desfecho do conto,
percebemos que Honório estava interpretando a desconfiança de modo muito equivocado. Por quê?
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4. A que se refere o narrador quando diz: "Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dois
empurrões, mas ele resistiu"?
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5. A tensão em torno da qual a narrativa se desenvolve é de âmbito

a) ético.
b) familiar.
c) profissional.
d) sociológico.
e) jurídico.
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6. De acordo com o narrador do conto:
a) uma pessoa empenhada em seu trabalho está destinada a alcançar uma boa situação financeira.

b) uma carteira cheia de dinheiro encontrada por acaso pode representar sorte ou azar, a depender
das circunstâncias que envolvem o fato.

c) uma certa quantia em dinheiro pode significar muito ou pouco, a depender das necessidades de
quem a encontra.

d) uma determinada quantidade de dinheiro equivale à qualidade de vida daquele que a possui.

e) uma lei universal de compensações faz surgirem surpresas positivas exatamente na presença de
grandes necessidades.
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7. Quanto ao tempo, observe que o conto começa num "hoje" ("...Honório tem de pagar amanhã uma
dívida..."), volta um pouco para o passado e retorna para o presente (os eventos que vão do encontro
da carteira até o desfecho). Por que o narrador teve de voltar ao passado?
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Lista 10

GÊNERO TEXTUAL: CONTO


O Fantasma de Canterville
Quando o Senhor Hiram B. Otis, o embaixador americano, adquiriu o Castelo de Canterville,
muitas pessoas o advertiram de que estava cometendo uma loucura, pois não havia dúvidas de que
aquele lugar era assombrado. [...]
A tempestade foi violenta durante toda a noite, mas nada de extraordinário ocorreu. Na manhã
seguinte, entretanto, quando a família Otis desceu para o café, eles encontraram a terrível mancha de
sangue mais uma vez no chão.
“Não acredito que seja culpa do Detergente Paragon”, disse Washington, “porque já o
experimentei com tudo. Deve ter sido o fantasma”. E o rapaz apagou a mancha uma segunda vez,
mas, na manhã seguinte, ela reapareceu. Na terceira manhã, estava lá novamente, embora a
biblioteca tivesse sido trancada à noite, e o Sr. Otis tivesse levado a chave para seu quarto no andar
de cima.
A família inteira estava agora interessadíssima, o Sr. Otis começou a suspeitar de que fora
excessivamente dogmático ao negar a existência de fantasmas, a Senhora Otis manifestou sua
intenção de aderir à Sociedade Paranormal e Washington preparou uma longa carta aos Srs. Myers
e Podmore sobre a permanência de manchas sanguíneas ligadas a crimes. Naquela noite, todas as
dúvidas sobre a existência de fantasmas desapareceram.
O dia tinha sido quente e ensolarado e, no frescor do anoitecer, toda a família saiu para um
passeio. Só voltaram para casa às nove horas, quando fizeram uma rápida ceia. A conversa não girou
em torno de fantasmas, então não havia nem mesmo a condição de expectativa e autossugestão que
muitas vezes precede o acontecimento de fenômenos sobrenaturais.
[...]
Às onze horas, a família se recolheu e em meia hora todas as luzes estavam apagadas. Pouco
tempo depois, Sr. Otis foi despertado por um ruído curioso no corredor, fora do seu quarto. Parecia o
barulho de metal e era como se estivesse chegando cada vez mais perto. Levantou-se imediatamente,
acendeu um fósforo e olhou as horas. Era exatamente uma hora. Ele estava muito calmo e sentiu seu
pulso, constatou que não era febre. O ruído estranho continuou, e Sr. Otis ouviu distintamente o som
de passos. Colocou seus chinelos, tirou um pequeno frasco de sua maleta e abriu a porta. Bem na
sua frente viu, à pálida luz do luar, um homem velho de aspecto terrível. Seus olhos eram vermelhos
como brasas de carvão; longos cabelos grisalhos caíam sobre seus ombros; suas vestes, que eram
de corte antigo, estavam sujas e esfarrapadas e de seus pulsos e tornozelos pendiam pesadas
algemas e grilhões enferrujados.
“Meu caro senhor”, disse o Sr. Otis, “eu realmente devo insistir que o senhor lubrifique essas
correntes e, para isso, eu lhe trouxe uma pequena garrafa do Lubrificante Sol Nascente Tammany.
Diz-se ser completamente eficaz em apenas uma aplicação, qualidade atestada no rótulo, onde se
podem ler depoimentos de eminentes sábios de meu país. Vou 24eixa-lo aqui para você, perto das
velas do quarto, e ficarei feliz em lhe fornecer mais se assim desejar”. Com essas palavras, o
embaixador dos Estados Unidos colocou a garrafa sobre uma mesa de mármore e, fechando a porta,
recolheu-se para descansar.
Por um instante, o fantasma de Canterville ficou completamente imóvel, em natural indignação;
então, arremessou o frasco violentamente sobre o chão polido e fugiu do corredor emitindo gemidos
roucos e projetando uma luz verde medonha. Porém, ao chegar ao alto da grande escadaria de
carvalho, uma porta se abriu de repente, duas pequenas figuras vestidas de branco apareceram e um
grande travesseiro passou-lhe rapidamente zumbindo, rente à cabeça! Não havia, evidentemente,
tempo a perder; assim, às pressas, adotando a quarta dimensão do espaço como meio de escape,
ele desapareceu pela parede, e a casa voltou à tranquilidade.
Ao chegar a um pequeno aposento secreto na ala esquerda da casa, ele inclinou-se contra um
raio de Lua para recuperar o fôlego e começou a refletir sobre a sua situação. Nunca, em uma carreira
brilhante e ininterrupta de trezentos anos, ele havia sido tão grosseiramente insultado.
[...]
WILDE, Oscar. O fantasma de Canterville. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011. (adaptado)

Vocabulário:
Dogmático: que tem muita certeza do que pensa.
Eminente: notável, pessoa muito importante.
Preceder: que ocorre antes de outra coisa.
1. O conto em estudo apresenta um momento em que a tranquilidade inicial é quebrada para dar início
à ação das personagens. Releia o trecho: "A tempestade foi violenta durante toda a noite, mas nada
de extraordinário ocorreu. Na manhã seguinte, entretanto [...]". O que a palavra “entretanto” anuncia?

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2. No trecho da história que você leu, não está explicado quem é Washington: ele é filho do Sr. Otis.
O rapaz faz a seguinte afirmação: "Não acredito que seja culpa do Detergente Paragon [...]". Que
motivo o leva a afirmar isso e a procurar um argumento, uma razão para justificar essa afirmativa?
Qual é o argumento? Que palavra introduz esse argumento?

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3. Ao se deparar com o fantasma, o Sr. Otis teve uma reação diferente da esperada. Qual seria a
reação esperada? E qual foi a reação do Sr. Otis?

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4. O clima predominante na narrativa de "O Fantasma de Canterville" pode ser descrito como:
(A) Sombrio e aterrorizante, com foco no medo gerado pelo fantasma.
(B) Leve e humorístico, com uma abordagem irônica sobre o sobrenatural.
(C) Melancólico e reflexivo, explorando a solidão do fantasma.
(D) Romântico e sentimental, destacando relações familiares.
(E) Trágico e pessimista, enfatizando a impossibilidade de redenção do fantasma.
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5. Com base na leitura do texto I, o desfecho da cena em que o fantasma aparece para a família Otis
pode ser interpretado como:

(A) Cômico, pois o fantasma é ridicularizado e expulso de maneira inusitada.


(B) Trágico, porque o fantasma é capturado e destruído pelos moradores.
(C) Surpreendente, já que a família Otis se mostra assustada e foge do castelo.
(D) Assustador, pois o fantasma consegue causar pânico entre os personagens.
(E) Misterioso, pois a aparição do fantasma continua inexplicável.
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6. O trecho de "O Fantasma de Canterville" apresenta características que permitem classificá-lo como
um conto. Explique por que esse texto pertence a esse gênero narrativo, mencionando elementos
como estrutura, personagens e desenvolvimento da trama.

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7. Qual é o tipo de narrador predominante no trecho de "O Fantasma de Canterville"?

(A) Narrador-personagem, pois o fantasma conta sua própria história.


(B) Narrador onisciente, pois conhece os pensamentos e sentimentos das personagens.
(C) Narrador observador, que apenas descreve as ações sem se envolver.
(D) Narrador em primeira pessoa, pois um dos membros da família Otis narra os fatos.
(E) Narrador testemunha, que participa indiretamente dos acontecimentos.
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